A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO E A OPRESSÃO FEMININA
Ivaneide Severo Goiana1
Mestranda-LHEC-UFC
e-mail:[email protected]
Patrícia Helena Carvalho Holanda2
Professora da FACED/UFC
Pesquisadora da LHEC-UFC
e-mail:[email protected]
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo, fazer uma analise e discussão sobre a construção do
masculino e as relações que concretizam a opressão feminina. Pretende dá visibilidade as
discussões acerca das relações de “gênero” e “machismo”, que se caracteriza na desigualdade
de direitos entre homens e mulheres. Como metodologia o estudo valeu-se da pesquisa
qualitativa, utilizando o método historiográfico. Na construção do masculino, historicamente
construiu – se uma conduta opressora do homem contra a mulher denominada por alguns
autores de “machismo”, transformando as diferenças em desigualdades entre homens e
mulheres, caracterizando assim a opressão. Trazer essa discussão para o espaço acadêmico
possibilitou dá continuidade a uma discussão, que certamente contribuirá para dá visibilidade
a história das mulheres, com o intuito de desmistificar, o estereótipo de sexo frágil.
Palavras-Chave: Masculinidade; Gênero; feminino; Opressão.
INTRODUÇÃO
Buscaremos através deste trabalho, iniciar uma discussão acerca da construção do
masculino e as relações que envolvem a opressão feminina, com o intuito de compreender,
explicar e dar visibilidade a esse fenômeno. Inicialmente discutido pelas feministas em suas
pautas de luta, depois por grupos acadêmicos. Dessa analise critica da opressão das mulheres
nasceram as lutas contra o “sexismo”, o “patriarcado” e qualquer tipo de opressão, exploração
1
Aluna do Programa de Pós–Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará/UFC. Email:[email protected]
2
Mestre e Doutora em Educação Brasileira. Professora Associada do programa de Pós-Graduação em Educação
da FACED/UFC, Pesquisadora da Linha de História da Educação Comparada, com Pós-Graduação em
Desenvolvimento profissional docente (UNB). E-mail:[email protected]
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sofridos pelas mulheres, uma luta objetiva ou subjetivas das mulheres e seus aliados que
visam a transformar as relações sociais de sexo, logo a modificar as dominações masculinas.
Uma discussão que certamente será de grande importância e compreensão, tanto para
o mundo acadêmico, quanto para as lutas políticas, sobre os direitos femininos. O interesse
pela temática se deu, nas relações de proximidade de um cenário de violência contra a mulher,
que mesmo com políticas de combate a violência, a mulher ainda é personagem de uma
história que a coloca como objeto de estudo dentro de uma perspectiva da opressão e sujeição
ao masculino. Uma concepção ideológica construída historicamente naturalizando o conceito
de que a mulher é sexo frágil, para justificar a submissão masculina sobre a feminina.
Questionamos, então sobre as relações estabelecidas na sociedade no que diz respeito
ao Masculino e as relações de “poder”, relativo ao Feminino, caracterizando assim o
“machismo”, “atitude ou comportamento de quem não aceita a igualdade de direitos para o
homem e a mulher” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986). Uma realidade que se configura em
pleno século XXI, quando enfrentamos o crescimento da violência acometida por homens
contra as mulheres. Como mulheres - pesquisadoras nos sentimos intrigadas ao observar o
cenário que vem se desenhando, nas relações de “gênero”, não no tocante a figura feminina,
más em relação ao masculino, o nosso objeto de estudo.
São questionamentos que buscaremos discutir através de algumas linhas, utilizando-se
da pesquisa bibliográfica. Sabemos que essa discussão é ampla, e iniciá-la, será o primeiro
passo para desconstruir, a concepção de dominadas, para que assim possamos dá visibilidades
as conquistas femininas, frutos de uma resistência que merece ser lembrada, dando
protagonismo as mulheres sobre a construção histórica do seu papel na sociedade. No entanto,
partimos do pressuposto de que, compreender a figura chave desta discussão será o primeiro
passo para mudarmos a concepção de subjulgada.
Na perspectiva de dialogar com os autores em busca de produzir questionamentos em
relação às possíveis conclusões estabelecidas por eles, utilizamos como embasamento teórico,
autores que discutem sobre o feminino e o masculino e as relações que institui a opressão
feminina.
Engles (1974), e Toledo (2005) definem que a origem da opressão da mulher “ligada
ás transformações ocorridas nas relações humanas, devido a inúmeros fatores, dentre os quais
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os decisivos foram as relações econômicas, que depois determinaram toda a superestrutura
ideológica de sustentação dessa opressão”. Utilizaremos ainda dos estudos de Bourdieu
(2014) acerca da dominação masculina
o mundo social constrói o corpo como realidade sexual e como depósito de
princípios de visão e de divisão sexualizante. Esse programa social de
percepção incorporada aplica-se a todas as coisas do mundo e, antes de tudo,
ao próprio corpo, em sua realidade biológica: é ele que constrói a diferença
entre os sexos biológicos, conformando-a aos princípios de uma visão mítica
do mundo, enraizada na relação arbitrária de dominação dos homens sobre
as mulheres, ela mesma inscrita com a divisão do trabalho na realidade da
ordem social. (BOURDIEU, 2014, p.20)
Entre os autores que trabalham conceitos, tendências e abordagens teóricometodológicas associadas às investigações utilizamos os conceitos de Louro (1997), em seu
livro Gênero, Sexualidade e Educação, Costa (2008), Priore, (2006) Beauvoir (1976) e
Saffioti (2013).
A metodologia utilizada contemplou aspectos da pesquisa de base qualitativa, focando
na pesquisa bibliográfica para a fundamentação do trabalho onde nos foi possível fazer uma
análise documental. Iniciamos por fazer uma triagem sobre o material que nos deu suporte
teórico, seguido de uma análise, descritivo-analítica das fontes selecionadas, para então dá
início a nossa abordagem teórico-metodológica.
Sobre o estudo documental, partimos do pressuposto que, a escolha da utilização de
histórias em livros, revistas, jornais e publicações, para acompanhamento da história da
opressão feminina e do seu papel na sociedade, propõem ao pesquisador trilhar caminhos de
uma forma política e sobre tudo acadêmica.
A construção do masculino e a opressão feminina
A história da humanidade se constitui, na dominação do homem pelo homem, uma
relação de poder, travada por guerras, para se obter conquistas de cidades, países e povos,
com o poder concentrado na figura masculina, o “rei”. Caracterizado historicamente, como
um longo período de dominação que percorreu um imenso caminho da história da
humanidade, instaurando o patriarcado, que reinou por milhares de anos, concentrando o
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poder na figura masculina.
Nessa relação de “poder” a figura feminina, passa a condição de dominada, submissa
ao masculino, traços da violência, forjada por meio da subjugação e da exploração do homem,
transformando as relações de gênero em dispositivos de poder e de submissão: “Quando
falamos relações de Gênero, estamos falando de poder. À medida que as relações existentes
entre masculino e feminino são relações desiguais, assimétricas, mantêm a mulher subjugada
ao homem e ao domínio patriarcal.” (COSTA, 2008, apud SILVA, 2010, p.02).
O autor trata das relações de gênero, não como uma definição biológica, mas como
relações que se desenvolvem, no âmbito, social e nas relações de poder estabelecidas entre os
sujeitos. Assim também para Louro (1997), discutir as relações de gênero, perpassa uma
questão biológica.
É necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais,
mas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma
dada sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o
lugar e as relações de homem e mulheres numa sociedade importa observar
não exatamente seus sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu
sobre os sexos. (LOURO, 1997, p.21).
Louro, torna-se referência ao trabalhar a questão da mulher dentro de uma perspectiva
de gênero pós-estruturalista, analisando a construção de gênero, através das relações histórica
e social, dando ênfase na construção dos “corpos” dentro de uma perspectiva histórica.
Segundo Louro (1997), a sua intenção não seria negar o fator biológico, más, enfatizar a
construção social dos corpos, as influências que o social pode estabelecer sobre o “biológico”,
partindo do pressuposto de Connhel (1995, p.189) apud Louro (2003, p.22), de que no gênero,
a prática social se dirige aos corpos. “O conceito, pretende se referir ao modo como as
características sexuais são compreendidas e representadas ou, então, como são trazidas para a
pratica social e tornadas parte do processo histórico”. (LOURO, 1997, p. 22).
Nesse sentido ao nos reportarmos as relações de gênero, estaremos falando da
subjugação da mulher a figura masculina, nos remetemos a períodos históricos, e sociais, que
são cruciais na construção desta relação. Conhecer como essas características como são
representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas, como são formadas as
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relações de “gênero” na sociedade, nos remete a estudos sobre a figura, na qual está focada
historicamente, a hegemonia do “poder” constituindo as relações de “gênero” há medida em
que se perpetua as desigualdades entre o Masculino e o Feminino.
Assim “no interior desse jogo de poderes” entre homens e mulheres, podem ser
“instituídos e nomeados as diferenças e desigualdades”. Diferenças que podem ser observadas
em “diversos
marcadores sociais”, gênero, classe,
sexualidade, aparência
física,
nacionalidade, etnia. (BRITZMAN, (1996) - APUD LOURO (1997).
Sobre a opressão feminina
Os estudos sobre as relações de “gênero”, em sua maioria abordam sobre, a figura
feminina, ao lado do masculino como coadjuvante, relacionando a mulher como sexo frágil
que necessita de cuidados, masculino para sobreviver na sociedade. Sempre sobre olhares,
atentos, a mulher foi vigiada, castrada na sua sexualidade, reprimida e sufocada, cabendo ao
homem domestica-la.
Uma concepção que se naturalizada, através da história e das relações estabelecidas na
sociedade, entre o poder atribuído ao homem sobre a mulher, o “patriarcado” gerando assim
uma cultura machista, onde o papel da mulher está atrelado “a maternidade e aos afazeres
domésticos”.
Os mitos religiosos também contribuíram para evidenciar a opressão da mulher
quando, discorre sobre a criação da humanidade, colocando a mulher na figura de Eva, onde é
lhes atribuído o pecado, através do mito do Éden, “reafirmado” e sempre presente na história
da humanidade.
Nunca se perdia a oportunidade de lembrar ás mulheres o terrível mito do
Èden, reafirmado e sempre presente na história humana. Não era de
admirar, por exemplo, que o primeiro contato de Eva com as forças do mal,
personificadas na serpente, inoculasse na própria natureza do feminino algo
com um estigma atávico que predispunha fatalmente á transgressão, e esta,
em sua medida extrema, revela-se na prática das feiticeiras, detentoras de
saberes e poderes ensinados e conferidos por Satanás. (ARAUJO, 2006, p.
46).
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A personificação da mulher em Eva, a coloca como um mal a ser controlado, sendo a
figura masculina o sujeito capaz de controlar seu poder que, aos olhos da Igreja eram
concedidos por “Satanás”. Para tanto a mulher deveria dedicar ao seu marido, uma vida de
obediência mutua e cuidados aos seus filhos. A mulher estava condenada a pagar pelo pecado
cometido por Eva.
Para Araujo (2006) na Epistola aos Efésios, não deixa dúvidas, sobre a condenação da
mulher aos olhos da Igreja quando coloca que: “Como a Igreja está sujeita a Cristo estejam às
mulheres em tudo sujeitas aos seus maridos”.
De modo que o macho (marido, pai, irmão, etc.) representava Cristo no lar.
A mulher estava condenada, por definição, a pagar eternamente pelo erro de
Eva, a primeira fêmea, que levou Adão ao pecado e tirou da humanidade
futura a possibilidade de gozar da inocência paradisíaca. Já que a mulher
partilhava da essência de Eva, tinha de ser permanentemente controlada.
(ARAUJO, 2006, p. 46).
Uma “ideologia” que serviu para instituir o patriarcado, que tem repercussão ate os
dias atuais, dada ao poder hegemônico da igreja católica sobre a sociedade junto ao estado
ainda no século XIX.
Uma concepção que nem sempre esteve presente na história da humanidade, assim
coloca Tolledo, (2005) quando em seus estudos sobre a opressão feminina, encontra nas
pesquisas realizadas por antropólogos, sobre as sociedades primordiais, no que diz respeito as
organizações familiares, os diferentes papeis atribuídos a homens e mulheres, no modo de
produção de cada uma delas, sendo cada um de extrema importância para organização nos
modos de produção e “dependo do papel social cumprido pela mulher, o signo do gênero
mudava” em cada sociedade.
[...] o conceito de gênero não especifica a direção do vetor da dominaçãoexploração (gênero feminino=inferior; gênero masculino=superior), deixa
aberta a possibilidade de uma inversão desse fenômeno. Se a inversão entra
no campo das probabilidades, por que não a igualdade?(TOLLEDO, 2005, p.
30).
Para Toledo (2005), os estudos dos antropólogos do século XIX como Leweis
Morgan, nos Estados Unidos e Edward Taylor, na Inglaterra, foram de suma importância para
compreender os modos de organização das famílias primordiais e para dá inicio a uma
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discussão sobre o masculino e o feminino, deixando dúvidas sobre a “concepção de que a
mulher sempre exerceu um papel inferior nos diferentes modos de produção”, constatando
que:
Em todas as partes onde existia o matrimônio por grupos, a descendência só
se reconhecia a filiação feminina. A descoberta de Morgan atribuiu á mulher
um papel preponderante, que posteriormente foi se transformando no sentido
inverso, com a ascendência do direito paterno. (TOLLEDO, 2005, p.26).
Como coloca Toledo, “Morgan” com seus estudos chegou a conclusão de que a
linhagem familiar, nas famílias primordiais, nas famílias por grupos não se podia saber ao
certo quem era o pai da criança, mas a mãe, não tinha como não saber. “Mesmo quando ela
considerava todos como seus filhos e trata todos por igual”. Isso não quer dizer que essa
sociedade pode ser marcada pelo matriarcado, más evidencia a importância do papel da
mulher, no seio familiar.
A abolição do direito materno foi a grande derrota do sexo feminino. O
homem assumiu também o timão da casa; a mulher foi submetida,
domesticada, feita escrava de seu prazer e um simples instrumento de
reprodução. Esta degradada condição da mulher, tal como se manifestou
sobre tudo entre os gregos dos tempos heroicos, e mais ainda nos tempos
clássicos, foi gradativamente retocada e dissimulada, ou mesmo suavizada
em alguns lugares, mas de maneira suprimida. (ENGELS, (1884), apud
TOLLEDO 2005, p. 26).
Nas sociedades primitivas como coloca Engels, a medida que aumentava a riqueza, o
homem assumia uma posição mais importante na família e dai surgia a necessidade de manter
a riqueza no seio familiar. Para isso era necessário romper com a filiação do direito materno e
o matrimônio por grupos e incentivar a ascensão do direito paterno e da monogamia. Para
Engels, a família patriarcal, o casamento por contrato, foi um ápice para a opressão feminina.
Assim também para Beauvoir (1976) em o segundo sexo, quando deixa claro, sobre a
sua visão a cerca do casamento e as formas diferenciadas que se apresenta na sociedade para
ambos os sexos, afirmando que a mulher sempre esteve em desvantagem, no casamento em
relação ao homem. “nunca as mulheres constituíram uma casta estabelecendo permutas e
contratos em pé de igualdade com a casta masculina” (p. 190).
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Integrada como escrava ou vassala nos grupos familiares dominados por pais
e irmãos, a mulher foi sempre dada em casamento a certos homens.
Primitivamente, o clã, a gens paterna dispunham dela mais ou menos como
de uma coisa: faz parte das prestações que dois grupos se outorgam
mutuamente; a sua condição não se modificou profundamente quando o
casamento, na sua evolução, se revestiu de uma forma contratual; dotada ou
recebendo parte da herança, a mulher apresenta-se como uma pessoa civil:
mas dote e herança escravizam-na ainda à sua família; durante muito tempo
os contratos foram assinados entre o sogro e o genro. (BEAUVOIR, 1976,
p.190-191).
A visão desses autores coloca opressão feminina e o “machismo”, nos marcos de uma
contradição a ser analisada. Estes estudos mostram que as relações estabelecidas sobre a
origem da opressão e o papel da mulher não tinha nada de natural, enquanto no século XXI, a
concepção, sobre a mulher se dá em torno de uma ideologia, pautada na fragilidade feminina.
O que nos remete a inúmeras indagações sobre a construção do masculino, na
sociedade. Será o “machismo” apenas um fruto de uma conduta individual? Afinal a liberdade
feminina está condicionada a opressão masculina? Buscaremos através da discussão sobre o
Masculino, respostas para um mal, que em pleno século XXI, acomete as mulheres, oprimidas
pelo medo, pela miséria e pela violência.
A construção do masculino
Discorrer sobre a formação ou construção do masculino, não é tão simples quanto
parece, precisamos escolher o material que irá nos orientar sobre os nossos objetivos
propostos. No entanto, usaremos de autores que juntaram fontes e construíram, teses sobre o
feminino e as relações de gênero.
O que o leitor pode ficar intrigado (a), se queremos saber sobre o masculino, por que
os autores que abordam o feminino? Uma pergunta um tanto, coerente que na busca do nosso
acervo, bibliográfico também esteve presente.
Ao analisarmos a escrita de autores como, Saffioti, Tolledo, Priore, Beauvoir,
Bourdieu, Louro e outros que discorrem sobre o feminino, e o masculino, onde nos
deparamos com a estrita relação do feminino com o masculino, estando um sempre
relacionado ao outro. “A tradição de submissão da mulher ao homem e a desigualdade de
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direitos entre os sexos não podem, contudo, ser vistas isoladamente” (SAFFIOTI, (2013),
p.63).
A figura do masculino, como já foi colocado no inicio deste trabalho, durante um
longo período da história da humanidade esteve atrelado, ao “poder”, nos domínios de terras
com formações de estados, cidades e conquistas de exércitos e de povos, uma dominação do
homem pelo homem, onde predominou o masculino e o seu poder, centrado na figura do rei,
instituindo assim o “patriarcado”.
Caracterizando-se, na dominação masculina sobre a
feminina.
Uma concepção que perpetuou de forma incontestável por muito tempo, mais
especificamente até 1860. Quando autores como Morgan, Engels e outros, passaram a estudar
a forma organizacional das sociedades primitivas. Um estudo realizado pela antropologia que
serviu para se pensar sobre a naturalização do patriarcado.
Engels, em seu livro a origem da família da propriedade privada e do estado,
publicado em 1884, se utiliza dos estudos de Morgan, para compor as suas pesquisas,
rompendo com séculos, da hegemonia do patriarcado, quando coloca que o poder do homem
sobre a família se deu nas relações de produção a medida que aumentava a riqueza, o homem
assumia uma posição mais importante na família, daí, surgia a necessidade de manter a
riqueza no seio familiar.
Para isso era necessário romper com a filiação do direito materno e o matrimônio por
grupos e incentivar a ascensão do direito paterno e da monogamia, caracterizando a origem do
patriarcado como fruto da organização dos modos de produção e das relações familiares,
sendo desenvolvido plenamente durante o feudalismo, “cujo requisto conhecemos até hoje”
TOLLEDO, (2005) p. 32.
Como podemos perceber o patriarcado, nem sempre esteve presente na história da
humanidade, assim para Tolledo foram relações construídas, histórico e culturalmente, através
das relações de poder. Uma forma culturalmente, socialmente e historicamente de se construir
as masculinidades.
Segundo Louro, citando Connell (1995, p. 190) Há uma “narrativa convencional”
“sobre a maneira como as masculinidades são construídas culturalmente, e que se supõe por
essa narrativa, que” as definições sobre o masculino, de conduta e dos sentimentos, definidas
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por cada cultura. “Meninos e rapazes- em sua maioria – aprenderiam tal conduta e
sentimentos e, assim, se afastariam do comportamento das mulheres” (CONNELL, 1995 apud
LOURO, 1997, p. 48).
Quando Robert Connhell discute sobre as políticas de masculinidade, coloca a
“narrativa convencional”
para explicitar como esta ver o “gênero”, onde a formação
masculina é vista de forma linear, “ver o gênero como um molde social” cuja a personalidade
masculina é fabricada em escala. Diferente desta concepção “Connell pensa na construção da
masculinidade como um “projeto” – tanto coletivo como individual” (LOURO, 1997, p. 49).
Na construção desta masculinidade, se manifestam as relações, estabelecidas
socialmente, onde homens e mulheres são constituídos com características próprias, que são
assumidas por pais, familiares, escolas, meios de comunicação e sociedade em geral. A
família assume o papel na construção tanto da figura masculina como dá feminina,
desempenhando papeis esperados, culturalmente, onde espera - se dos meninos que [...]
[...] eles sejam: “fortes, agressivos, competentes e dominantes”, e as meninas
“dependentes, sensíveis, afetuosas e que suprimam seus impulsos agressivos
e sexuais”, de algum modo, formam conjuntos de disposições diferenciais a
serem seguidos. E, conforme a clássica hipótese de Parsons (1964),
orientam-se os meninos de uma forma instrumental, com ênfase na
competência e capacidade para a ação e as meninas para uma dimensão
expressiva, com foco na ternura e no bem-estar dos outros. (NEGREIROS E
CARNEIRO, 2015).
Diante de tais constatações podemos perceber nas palavras de Parsons apud Negreiros,
que a família é um forte elemento, na construção do masculino e do feminino, quando
reproduz, representações culturais na formação dos seus filhos. Estabelecendo assim
diferenças, no ser homem e ser mulher. Podendo influenciar diretamente nas relações de
“gênero” onde a menina educada na sua passividade precisa da figura masculina, o “menino”,
forte, corajoso, para defendê-la, produzindo assim as desigualdades entre os sexos.
Aqui o fator biológico tornasse enfático, quando partimos do pressuposto de que
somos naturalmente diferentes, homes e mulheres por intermédio do destino. “E por tanto, sob
a dominação de manter juntas as totalidades dos lugares e das formas, nas quais se exerce esta
espécie de dominação – que tem a particularidade de poder realizar – se em escalas bem
diferentes, em todos os espaços sociais” (BOURDIEU, 2014, p.126)
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A estrutura da dominação masculina é o princípio ultimo dessas inúmeras
relações de dominação/submissão singulares que, diferentes em sua forma
segundo a posição, no espaço social, dos agentes envolvidos (diferenças às
vezes enormes e visíveis; outras vezes infinitesimais e quase invisíveis, mas
homólogas e unidas, por isso mesmo, por um ar de família) separam e unem,
em cada um dos universos sociais, os homens e as mulheres, mantendo
assim entre eles a “linha de demarcação mística” de que fala Virginia Wolf.
(BOURDIEU, 2014, p.127)
Para Bourdieu, é nas diferentes esferas sociais, através dos mecanismos de reprodução,
que se constituem, as desigualdades de gênero. “As relações estruturais de dominação
sexual”, tornassem visíveis a partir das relações, estabelecidas na sociedade, dando
concretude as desigualdades, nas esferas, política, econômica e social. Acrescenta que a
dominação masculina sobre a feminina pode ser estabelecida não só na família, mais também
no “universo escolar e no mundo do trabalho”. (p.122). Caracterizando assim, o ser homem e
ser mulher, uma construção social, que parte do fator biológico, mas que se constrói através
das relações sociais e culturais. Relações que envolvem tanto a família quanto os órgãos
sociais, assim como as instituições educacionais, a escola.
E o que dizer da escola nesta construção? A escola espaço de práticas culturais, onde a
criança estabelece relações sociais e aprende sobre, os parâmetros de convivência
estabelecidos pela sociedade. Sendo a escola um espaço de construção, de formação, é
também onde a criança se percebe. “É um espaço onde as representações do masculino e
feminino são disseminadas e vão se consolidando dentro do processo educativo”. (ARAÚJO e
ESMERALDO, 2014, p.76).
A escola é o espaço onde as crianças, passam uma maior parte da sua vida, um órgão
institucionalizado, onde a diversidade se encontra, e as relações vão sendo construídas e
formalizadas, envolvendo assim as relações de “gênero”. Devendo ser esta um espaço de
convivência e respeito, ao outro o que perpassa pelo fazer pedagógico, devendo o educador
ter propriedade sobre os conceitos, que possam fundamentar essa prática, no caso em questão
do conceito de “gênero”. “um conceito-chave para ajudar na compreensão de processos
sociais que formam e fortalecem diferenças de valor entre o feminino e o masculino”
(ARAÚJO e ESMERALDO, 2014, p.76), dada a importância do educador para essa
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formação.
Assim como a escola a família também se constitui como órgão formador do ser
homem e mulher, pois assim como coloca Beauvoir (1976), “é o conjunto da civilização que
elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino”
(p. 13). Estando a família neste, contexto, imbuída de conceitos, socialmente construídos
sobre o que é ser homem e mulher. Para Beauvoir, quando a criança nasce seja do sexo
masculino ou feminino, passam pelo mesmo drama, desde o nascimento ao desmame.
Enquanto existe para si, a criança não pode aprender-se como sexualmente
diferençada. Entre rapazes e raparigas, o corpo é, em primeiro lugar, a
irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do
mundo: é através dos olhos, das mãos, e não das partes sexuais, que
apreendem o universo. (BEAVOUIR, 1976, p. 13).
Para Beauvoir, só a mediação do outro pode constituir o indivíduo, ninguém nasce
homem ou mulher, não será o destino “biológico, psíquico, econômico” que definirá o ser.
Em seu livro o segundo sexo, quando discorre sobre a infância, a autora deixa claro a sua
posição sobre a construção do indivíduo, e a importância do outro nessa formação.
A família desempenha um papel importante nesse aspecto, quando perpetuam a
tradição das culturas que dissemina o “machismo”. Requisito do patriarcado, que manteve sua
hegemonia por muito tempo na história da humanidade.
O predomínio do poder na figura masculina se perpetua até os dias atuais, o “pseudo”
desmoronamento do patriarcado é contestável, quando, analisamos as desigualdades
existentes em várias culturas, no tocante ao papel da mulher. Mesmo com a superação, as
conquistas feministas, ainda, somos minoria em uma sociedade que educa os seus filhos,
ainda munidos pelos princípios do patriarcado.
O homem, em meio ao seio familiar sempre foi visto como, forte, destemido, superior.
“Convencem a criança de que é por causa da superioridade dos rapazes que exigem mais dela;
para encorajar no caminho difícil que é o seu, insulflan-lhe o orgulho do seu pequeno sexo
indolente; sente-o através da atitude dos que o cercam” (BEAUVOIR, 1976, p.17).
Segundo Beauvoir (1976) a concepção de virilidade é construída no seio familiar, o
homem aprende desde pequeno que é diferente das meninas, sendo o pênis um objeto que
vem a cumprir esse papel, quando em algumas culturas as mães colocam apelidos, dão nomes
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ao órgão sexual masculino, tornando-o um objeto separado do corpo “apresenta-se como um
pequeno brinquedo natural, uma espécie de boneca. Valorizam por tanto a criança valorizalhe o duplo” (p.17).
Em seus escritos Beauvoir, constata que um pai relatou para ela que o seu filho de três
anos ainda urinava sentado, assim como suas irmãs e primas e indignado o pai, leva a criança
até o banheiro e o ensina a urinar de pé. Desprezando assim o menino os demais que
“mijavam por um buraco”. (p. 17). Para Beavouir, o pênis tornasse antes do que tudo uma
compensação, “inventada pelos adultos e ardorosamente aceita pela criança” (p. 17). O
“menino” “posteriormente encarnará no sexo a sua transcendência e soberania orgulhosa”
(p.17), gerando assim as relações de desigualdades entre os sexos, já que para as meninas é
bem diferente, no tocante as suas partes genitais, onde a ternura, a admiração, não é a mesma,
os órgãos genitais femininos tornam-se secretos, escondidos e até mesmo proibidos de serem
lembrados. Em certo sentido como bem coloca Beauvoir, a mulher não tem sexo, aos olhos da
sociedade, são diferentes e essas diferenças podem se constituir em “inferioridade” (ibidem,
p.17).
Historicamente, essa cultura vem sendo repassada para várias civilizações, seja através
da escola, da família, da literatura, da mitologia, da religião, tudo contribui para confirmar e
reafirmar a hierarquia masculina. Os costumes os hábitos, as crenças, os contos narrativos
onde a exaltação pelo masculino, é evidenciada a cada estrofe, seus feitos, suas conquistas.
A literatura infantil, a mitologia, os contos e as narrativas refletem os mitos
criados pelo orgulho e desejo dos homens: è através e olhos masculinos que
a menina explora o mundo e nele decifra o seu destino. A superioridade
masculina è esmagadora: Perseu, Hercules, David, Aquiles, Lançarote,
Duguesclin, Napoleão – Quantos homens para uma Joana d’Arc; e, por trás
desta, perfila-se a grande figura masculina de São Miguel Arcanjo!
(BEAUVOIR, 1976, p. 35).
Essa noção de homem de quem fala Beauvoir, tão idolatrado pela história, pela
mitologia, ainda prevalece implícito na sociedade “moderna”. A escola, assim como a família
seguem um modelo social e cultural, sempre dentro de cada época. De certo o patriarcado,
reinou por muito tempo, mais foi enfraquecido ao longo da história da humanidade, dada as
relações que foram se estabelecendo, dada as transformações sociais.
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Considerações
De certo este trabalho nos mostrou, através da analise de vários autores, uma
concepção sobre um mal que vem sendo discutido na sociedade, a violência que a mulher
sofre, dentro dos seus lares, do seu trabalho e nos espaços sociais a opressão feminina.
A partir deste estudo pode-se, constatar que a virilidade masculina, a figura que
carrega em sua historia uma legenda de poderes conquistas, foi construída histórica e
culturalmente, sendo alimentado por muito tempo, o que de certa forma gera a inferioridade
de um sexo sobre o outro.
Uma inferioridade alimentada e naturalizada através dos sexos, os estereótipos,
adotado para o feminino de sexo, fez com que a mulher permanecesse por muito tempo, como
subjulgada, sempre com o papel de coadjuvante.
O que não podemos deixar de lembrar e que em uma sociedade onde se percebe novos
arranjos familiares, novas conquistas femininas, uma sociedade onde o advento tecnológico,
se sobre sai. Onde as formas de sobrevivências ganharam novas configurações culturais, o
patriarcado ou até mesmo o matriarcado, já não nos serve mais. A força, a luta pela
sobrevivência, o poder, tornou-se fator comum, entre homens e mulheres, divididos em
classes, que lutam para sobreviver, em meio à modernidade.
Esse estudo nos possibilitou abrir um debate sobre a opressão feminina estudando não
só as “questões femininas” más também as masculinas, dando ao homem o “protagonismo”
das relações de “gênero”, sendo ele o estudado na busca da compreensão sobre o machismo, e
na luta para combatê-lo, corrigi-lo e buscar evitá-lo com todas as nossas forças e armas que
estão ao nosso alcance. Neste trabalho deixamos a nossa indignação e a nossa colaboração
acadêmica na incessante busca pela igualdade.
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A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO E A OPRESSÃO FEMININA