conhecimento CANAL ABERTO As empresas juniores são uma boa alternativa ao apagão de talentos Novas seccionais colocarão o CRA-SP mais próximo dos administradores Saída para a qualificação Rumo ao interior Maio/2011 Ano 34 - nº 299 responsabilidade Atenção aos detalhes é uma das essências da boa Administração Carta ao Leitor Marca permanente dade de se acompanharem as mudanças exigidas pelo mercado e pela sociedade e de conceituar o administrador dentro dos princípios éticos. Até porque não se pode esquecer que o administrador é um profissional eclético, que busca continuamente diversas competências e se baseia em informações múltiplas para a tomada de decisões. Ser norteado, portanto, por um conjunto de dispositivos que ampliam –e até protegem– a sua responsabilidade é uma forma de garantir o exercício pleno de sua carreira. Mais do que isso, desempenhá-la com honra e dignidade. Boa leitura! “Ser um administrador responsável é mais do que pagar pelos erros praticados. É abraçar a ética e transformá-la na principal ciência para o desenvolvimento da profissão.” Zanone Fraissat A responsabilidade é uma das marcas que devem acompanhar qualquer profissional comprometido com o bom desempenho de suas atividades. No caso do administrador, mais ainda, pois é inimaginável admitir que, na execução de seu papel de condutor de áreas e até mesmo de organizações, essa característica não se constitua na essência da relação que deva ter com suas tarefas. É claro que, diante das mudanças econômicas, sociais e tecnológicas impostas quase que diariamente ao mundo corporativo, é preciso ter competência para saber lidar com problemas cada vez mais complexos, quando não para romper com modelos burocráticos e ineficientes que barram a modernização das empresas. Mas, em que pese saber gerir o conhecimento para fazer frente a essas transformações, nada terá valor se não for feito com responsabilidade. É esse ato que vai gerar objetividade, confiabilidade, profissionalismo, transparência. Ser um administrador responsável é muito mais do que pagar pelos erros praticados. Enfim, é abraçar a ética e transformá-la na principal ciência para o desenvolvimento da profissão. Em outras palavras: utilizá-la como parâmetro na ampliação da capacidade de pensar e na árdua tarefa de se tornar mais eficaz para a sociedade. Essa é a estratégia que leva à liderança e, por conseguinte, a inspirar seguidores. Quando se fala que a responsabilidade é uma característica inerente ao administrador, logo se pensa que não faz sentido para a categoria a publicação de códigos de conduta e de legislações que impõem obrigações maiores aos seus atos profissionais. Muitos dizem que basta ao profissional ser diligente –aplicado na execução das tarefas– e leal –que respeita os princípios que norteiam a honra e a probidade. Em tese, isso é verdade, mas o estabelecimento de regras, mais do que uma convenção, serve como guia para a condução da profissão. Na prática, são elas que despertam a consciência para a necessi- Adm. Walter Sigollo Presidente do Conselho Regional de Administração de São Paulo - CRA-SP 3 Sumário Editor Conselho Regional de Administração de São Paulo Presidente Administrador Walter Sigollo Diretores Adm. José Alfredo Machado de Assis Vice-presidente Administrativo Adm. Milton Luiz Milioni Vice-presidente de Relações Externas Adm. Alberto Emmanuel de Carvalho Whitaker Vice-presidente de Planejamento Adm. Hamilton Luiz Corrêa Vice-presidente para Assuntos Acadêmicos Adm. Teresinha Covas Lisboa 1º Secretário Adm. Roberta de Carvalho Cardoso 2º Secretário Adm. Antonio Geraldo Wolff 1º Tesoureiro Adm. Homero Luís Santos 2º Tesoureiro Conselheiros Alexandre Uriel Ortega Duarte, Álvaro Augusto Araújo Mello, Arlindo Vicente Junior, Carlos Antônio Monteiro, Edgar Kanemoto, Luiz Carlos Vendramini, Marcio Gonçalves Moreira e Nelson Reinaldo Pratti Conselho Editorial para RAP 20011/2012 Coordenador: José Alfredo Machado de Assis. Alberto Emmanuel C. Whitaker, Hamilton Luiz Corrêa, Luiz Carlos Vendramini, Marcio Gonçalves Moreira, Milton Luiz Milioni, Roberta de Carvalho Cardoso, Teresinha Covas Lisboa e Maria Cecilia Stroka. Produção Conselho Regional de Administração de São Paulo Departamento de Desenvolvimento Institucional Coordenação Editorial e Gráfica Entrelinhas Comunicação Ltda. Editor-responsável Luiz Gallo (MTb 14.576) Publicidade Publicidade Nominal Representações Impressão Plural Editora e Gráfica Ltda. Tiragem 50.000 exemplares Rua Estados Unidos, 889 - Jardim América - São Paulo - SP CEP 01427-001 - Telefone: (11) 3087-3200 [email protected] - www.crasp.gov.br 3 . Carta ao Leitor 6 . Panorama Delegacias Para servir de apoio aos profissionais no interior e, em muitos casos, ser a extensão da própria entidade, o CRA-SP está presente, por meio de delegacias, em oito regiões do Estado.: • Região de Bauru Delegado: Adm. Helson José B. Fagundes Rua Joaquim da Silva Martha, 23 Complemento 11 – 17012.225 - Bauru - SP Tel: (14) 3226-5004 E-mail: [email protected] Atendimento: das 9h30 às 17h Eventos promovidos pelo CRA-SP e informações de interesse do administrador Uma saída para a qualificação em Conhecimento 10 . Conhecimento Empresas juniores Para os alunos, conhecimento; para as empresas, opção de mão de obra qualificada • Região de Campinas Delegado: Adm. João B. Pereira Júnior Rua Barão de Paranapanema, nº146 conj. 44 A – 13026-010 - Campinas - SP Tel: (19) 3251-9688/3251-9660 E-mail: [email protected] Atendimento: 8h30 às 17h30 • Região de Jundiaí Delegado: Adm. Eric Jacques L. Winandy Avenida Dr. Sebastião Mendes Silva, 901 13208-090 - Jundiaí - SP Tel: (11) 4586-7299 E-mail: [email protected] Atendimento: 9h às 17h Interiorização do CRA-SP em Canal Aberto • Região de Piracicaba Delegado: Adm. Roberto Tayar Rua Alferes José Caetano, 720 - Sala 25 13400-120 - Piracicaba - SP Tel: (19) 3402-4841 E-mail: [email protected] Atendimento: 9h às 17h • Região de São José do Rio Preto Delegado: Adm. José Carlos Simões Rua Luiz Antônio da Silveira, 89 15025-020 - São José do Rio Preto - SP Tel: (17) 3234-1676 E-mail: [email protected] Atendimento: 8h às 18h Ética Empresas investem em códigos de conduta para melhorar posição no mercado 18 . Capa Diligência e lealdade A responsabilidade do administrador passa pela transformação da ética em ferramenta para o desenvolvimento da profissão • Região de Ribeirão Preto Delegado: Adm. Marcos Silveira Aguiar Coord. Regional: Adm. Marcelo Torres Avenida Braz Oláia Acosta, 727 – conj. 109 14026-040 - Ribeirão Preto – SP Tel: (16) 3621-1061 – Fax (16) 3621-3827 E-mail: [email protected] Atendimento: 8h30 às 17h30 • Região de Santos Delegado: Adm. Itamar Revoredo Kunert Rua Leonardo Roitman, 27 – conj. 43 11015-550 – Santos - SP Tel: (13) 3223-2629 E-mail: [email protected] Atendimento: 13h às 19h 14 . Na Prática Administrador, profissão responsabilidade em Capa 24 . Perfil Administrador Sidney Beraldo “O ser humano é o maior capital das corporações e dos governos” 28 . Estilo Teletrabalho Com o avanço dos recursos tecnológicos, trabalhar em casa está se tornando comum • Região de Sorocaba Delegado: Adm. Gilberto Dilela Filho Rua Padre Luiz, 17 – 12º andar - sala 128 18035-010 - Sorocaba - SP Tel: (15) 3211-0987 E-mail: [email protected] Atendimento: 9h30 às 16h 32 . Canal Aberto A RAP é uma publicação mensal do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP), sob a responsabilidade de seu Conselho Editorial. As reportagens não refletem necessariamente a opinião do CRA-SP. 34 . Opinião Rumo ao interior Seccionais colocam o CRA-SP mais próximo do administrador Adm. José Carlos Fonseca Ferreira Panorama Público indicará concorrentes ao Administrador Emérito Novidade marca os 30 anos da láurea e representa outro passo do CRA-SP para ficar mais próximo da sociedade A 30ª edição do título de “Administrador Emérito”, láurea entregue aos profissionais que sobressaem no desempenho de suas atividades e, dessa forma, contribuem para a dignificação da profissão com exemplos de elevada qualificação, traz uma novidade: a indicação dos concorrentes foi aberta ao público em geral não ficando limitada aos administradores registrados no CRA-SP, como vinha acontecendo desde sua instituição, em 1982. Em breve, será disponibilizado no site do Conselho (www.crasp.gov.br) um link para essa finalidade. As indicações poderão ser feitas até o final de julho. Os nomes sugeridos serão analisados por uma comis- 6 são formada especialmente para essa finalidade, que encaminhará uma lista tríplice para o plenário do Conselho, responsável pela decisão de quem será o contemplado. De acordo com o artigo 2.º da Resolução 53/06, o título de “Administrador Emérito” será outorgado a um administrador de ilibada reputação profissional, desde que tenha contribuído para: a. o aprimoramento das técnicas da Administração, quer na empresa privada, quer no setor público; b. que as técnicas de Administração se projetassem perante a sociedade como instrumento eficaz; c. projeção da classe profissional dos Administrador mediante atos efetivos reconhecidos pela sociedade. Conheça os administradores laureados 1982 Olavo Egydio Setúbal 1983 Abílio dos Santos Diniz 1984 Luiz Eulálio de B. Vidigal Filho 1985 Plínio Oswaldo Assman 1986 Guilherme Quintanilha de Almeida 1987 Guilherme Afif Domingos 1988 Wolfgang Sauer 1989 Olacyr Francisco de Moraes 1990 Abraham Kasinsky 1991Eugênio Emílio Staub 1992 José Mindlin 1993 Lázaro de Mello Brandão 1994 Luís Fernando Furlan 1995Hugo Mighel Etchenique 1996Henrique de Campos Meirelles 1997 Benjamin Steinbruch 1998 Alcides Lopes Tápias 1999 Antonio Ermírio de Moraes 2000 Senor Abravanel 2001 Maurício Botelho 2002 Jorge Gerdau Johannpeter 2003 Luiza HelenaTrajano I. Rodrigues 2004Elcio Aníbal de Lucca 2005 Raymundo Magliano Filho 2006 Constantino de Oliveira Júnior 2007 Alberto Weisser 2008 Guilherme Peirão Leal 2009 Alfredo Egydio Setubal 2010 Cledorvino Belini Marcelo Marques por Luiz Gallo Administração deve sofrer com a falta de qualificação profissional por Loraine Calza As grandes sacadas de Marketing Para reconhecer as marcas que, pela inovação, criatividade e resultados obtidos com suas estratégias de marketing, mais se destacaram em 2010, o Centro Nacional de Modernização Empresarial (Cenam) realizou, dia 4 de maio, em São Paulo, a 8ª edição do fórum “As Grandes Sacadas de Marketing do Brasil”. A escolha inicia-se com a divisão do mercado em 34 categorias e a identificação das duas marcas mais influentes em cada uma delas. Após essa etapa, uma pesquisa com cerca de 5.800 formadores de opinião define os vencedores. “O evento é um momento único para as empresas demonstrarem ao mercado as práticas que as diferenciam”, disse Lívio Giosa, presidente do Cenam (foto). Na palestra de abertura, Hiran Castello Branco, presidente do Conselho Nacional de Propaganda, disse que quando se fala em marcas, o pensamento deve estar voltado para as utilizadas por organizações duradouras. Citou a cruz cristã como a marca mais conhecida da humanidade. “Além de um símbolo, é carregada de conteúdo e é isso que a pereniza”, destacou. Ainda utilizando-se do cristianismo como exemplo, disse que a mensagem de Cristo foi longe demais por ser transparente, estratégia que poderia ser utilizada pelas empresas. “Elas deveriam se imaginar como escritórios de vidro, nos quais as pessoas poderiam vê-las por dentro e, melhor, como carregam os seus valores”. Foram contempladas as marcas: Almap BBDO, Chevrolet, Itaipava, Iveco, Kasinski, Nestlé, Old Eight, Porto Seguro, Sony Ericsson e Topper. A falta de mão de obra qualificada deve afetar a área de Administração. Essa é a opinião de 83% dos administradores no levantamento sobre o tema realizado pelo CRASP. Dos 2.776 que participaram da enquete, apenas 17% (ou 471 profissionais) responderam que a área não deve ser afetada pelo problema. “Se por um lado essa percepção é preocupante porque aponta problemas que poderemos ter no futuro, por outro indica que os profissionais estão atentos aos gaps de qualificação e sabem o que precisa ser mudado, o que é sempre o primeiro passo para a transformação desse cenário”, avalia o administrador Walter Sigollo, presidente do CRA-SP. “A qualificação, porém, é uma ação que exige um trabalho conjunto entre o governo, as instituições de ensino, as empresas e suas entidades representativas, além dos próprios profissionais.” Segundo dados da CM Consultoria, que presta serviços para as instituições de ensino superior, o número de cursos de Administração no Brasil aumentou quase quatro vezes entre 2004 e 2009, passando de 1.330 para 4.915 –as vagas abertas saltaram de 354.521 para 558.935. A mesma proporção de crescimento pôde ser percebida no Estado de São Paulo, onde o número de cursos passou de 358 para 1.143 no mesmo período e o de vagas de 116.448 para 131.957. 7 Panorama Indicações de leitura O culto da performance Da aventura empreendedora à depressão nervosa Alain Ehrenberg Editora Idéias & Letras 1ª edição Páginas: 240 Preço: R$ 21,60 Fala sobre a arte de empreender, de assumir riscos e ser obstinado e como tudo isso está ligado à convergência dos discursos esportivo, empresarial e de consumo. Para o autor, todos têm o direito e o dever de serem empreendedores, de se formarem por conta própria por meio do seu desempenho. Alerta o leitor sobre as dolorosas consequências desse regime obstinado de excelência. Cursos Dtcom para junho AD Autodesenvolvimento Os hábitos dos profissionais excelentes – Aulas 1, 2 e 3 Administração eficaz de conflitos Gestão eficaz do tempo Série Profissional: Case – Gestão da carreira na prática (1/5) Série Profissional: Planejamento na carreira – Enfoque na alta performance (2/5) Série Profissional: Gestão de carreira – Uma decisão estratégica (3/5) Série Profissional: Tendências e desafios na administração de carreiras (4/5) Série Profissional: Autogestão da carreira – Tendências e desafios (5/5) Entrevista – Relacionamentos interpessoais e resultados organizacionais GC Gestão Corporativa AO VIVO: Introdução ao módulo Gestão com pessoas, projetos e processos (02/06, 10h e 11h) Série Profissional: Mudanças comportamentais (1/5) Série Profissional: Comunicação interpessoal (2/5) Série Profissional: Motivação pessoal (3/5) Série Profissional: Liderança (4/5) Pessoas nas micro e pequenas empresas: Gestão e Processos Arsênio Firmino de Novaes Netto e Dalila Alves Corrêa (organizadores) Editora Ottoni 1ª edição Páginas: 270 Com dez capítulos, o livro conta com a participação de estudantes do curso de mestrado em Administração da Unimep, docentes do grupo Geopep, alunos e professores da Faculdade Atenas e aborda a realidade das empresas de Paracatu (MG), cujo foco econômico são a pecuária, a agricultura e a mineração. O livro foi adotado como material de estudos pela Faculdade Atenas, daquela cidade. 8 Série Profissional: Trabalho organizacional em equipe (5/5) Gerenciador de e-mails (Microsoft Office Outlook) – Aulas 1, 2, 3, 4 e 5 GP Gestão Pública Entrevista: Cemig – Tendências e desafios para o Século XXI NR10 – Introdução à segurança com eletricidade (4/14) NR10 – Medidas de controle do risco elétrico (5/14) NR10 – Choque elétrico – Riscos e prevenção (6/14) Cyberbullying – O uso ético da internet O crime de peculato (1/4) O crime de corrupção (2/4) Aquecimento global e efeito estufa Série Profissional: Funções basilares da administração pública Série Profissional: Gestão estratégica na área pública Os cursos são transmitidos, por meio de uma TV Corporativa, na sede do Conselho, de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Inscrições pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (11) 3087.3200 – Departamento de Relações Externas. As reservas devem ser feitas com antecedência. A programação completa está em www.crasp.gov.br/dtcom Conhecimento por Daniela Cabral Uma saída para a qualificação As empresas juniores destacam-se como alternativa ao apagão de talentos I nconformismo, espírito de equipe, liderança, ética, comprometimento, profissionalismo, empreendedorismo, foco em resultado. Essas são algumas das premissas constantes das listas de valores das cerca de 1.200 empresas juniores do Brasil, o que faz do País, de acordo com a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, o maior detentor desse tipo de organização em todo o mundo. A carteira de clientes é formada basicamente por micro e pequenas empresas. No mercado atual, especialmente após a crise econômica mundial de 2008, a demanda pelos serviços por elas oferecidos aumentou significativamente. Bom para os alunos que absorvem conheci- mentos que serão úteis na vida profissional. Ótimo para as empresas que contam com uma alternativa para um dos principais males que aflige o País: a falta de mão de obra qualificada. A Federação das Empresas Juniores do Estado de São Paulo (Fejesp) reúne 34 instituições. Os perfis são os mais variados, de acordo com o foco da graduação. Turismo, Marketing, Comunicação, Agronomia, Agricultura, Economia, Engenharia, Direito e Administração. Uma de suas integrantes é a FEA Jr., da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Fundada em 1990, reúne universitários das três áreas de formação. “É a primeira Opção viável A maioria das consultorias empresariais cobra valores altos para projetos personalizados e geralmente atende grandes corporações. Essa realidade abre caminhos para as empresas juniores, em função dos preços mais baixos praticados, o que resulta em opção viável até mesmo para companhias de porte. Por serem associações sem fins lucrativos e terem como objetivo o aprimoramento educacional, a precificação de seus produtos visa apenas a suprir suas necessidades de infraestrutura, que inclui cursos e treinamentos. “Depois da crise econômica de 2008, o perfil dos nossos clientes mudou: desde pessoas físicas até grandes empresas passaram a solicitar projetos de consultoria”, diz Hara. “O nosso tíquete (valor cobrado pelas empresas juniores) aumentou depois da crise, e pode variar de R$ 8 mil até R$ 25 mil, dependendo da complexidade do caso”, esclarece. Na FEA, o preço médio está na casa dos R$ 12 mil. “Temos uma ferramenta de precificação, mas buscamos personalizar os trabalhos, de acordo com o número de pessoas envolvidas e duração do projeto”, explica Colzi. 10 empresa júnior multidisciplinar do Brasil”, explica o seu diretorpresidente, Caio Colzi, de 20 anos, estudante de Administração. Mais do que um estágio, a participação dos alunos exige dedicação e vontade de aprender. Como recompensa, torna-se um diferencial na hora de buscar o primeiro emprego. Com duas frentes de trabalho, Consultoria Empresarial e Eventos Universitários, Colzi começou na área de consultoria, mas deseja atuar em outras frentes para adquirir experiência. “No futuro, quero abrir minha empresa”, afirma. Já Bruno Ribeiro Martins, também de 20 anos, diretor de Marketing, tem intenção de permanecer na área: “Quero continuar em Marketing, mas, se não for possível, sei os segmentos com as quais não quero trabalhar. E isso foi a empresa júnior que me possibilitou descobrir”. Segundo eles, qualquer estabelecimento em dificuldade, principalmente os iniciantes (startups), deveria procurar uma consultoria. “Esse é o nosso foco”, destacam. Thales Hara, presidente da Empresa Júnior Mackenzie Consultoria (EJMC), tem outra visão sobre o foco das juniores: “Não temos nicho específico de mercado, nosso público é diversificado”, diz ele. “O nosso core business (parte central de um negócio) é consultoria empresarial, no qual o objetivo é mensurar o mercado e seus problemas de gestão interna. A parte de eventos entra de maneira complementar”, completa. Segundo pesquisa de 2009 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) sobre empreendedorismo no Brasil, o número de negócios com até três meses de funcionamento cresceu 97% em relação a 2008. E os jovens de 18 a 34 11 Conhecimento Premissas das empresas juniores • Inconformismo • Espírito de equipe • Liderança • Ética • Comprometimento • Profissionalismo • Empreendedorismo • Foco em resultado DIVULGAÇÃO Fonte: Listas de valores das EJs tende nada de gestão”, esclarece Colzi. Coincidência ou não, os maiores clientes da FEA Jr. são da área de tecnologia. Todas juntas Um dos pontos altos que movem as “juniores” é a troca de experiências. A EJMC, por exemplo, que completou 21 anos de atividades em 19 de abril, mantém relações estreitas com as “concorrentes”. Seu presidente, Thales Hara, estudante do quinto ano de Administração, também comanda o Núcleo São Paulo de Empresas Juniores, que reúne as principais organizações do segmento instaladas na capital paulista –EJMC, FEA Jr., PUC Jr., Insper Jr., Júnior Pública FGV, Júnior Trevisan, ESPM Jr., Jr. FAAP. e Empresa Júnior Fundação Getulio Vargas. “A opinião comum dos associados é a colaboração. A concorrência até existe, mas os integrantes sempre buscam a troca de conhecimentos”, enfatizou. Em atividade desde 2008, a Fecap Jr., da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, é uma das mais recentes. Criada por alunos da graduação com a colaboração de professores, não pertence ao Núcleo, mas integra o Movimento Empresa Jr., fundado em 1967 na França. Como legítima representante da Geração Y (nascidos a partir de 1980), usa o Twitter para divulgação de suas atividades. “Tivemos um bate-papo com nosso professor orientador. A equipe está 1000% mais motivada e certamente realizaremos ótimos projetos”, diz uma das mensagens postadas no http://twitter.com/fecapjr. Fidelização No site da júnior do Mackenzie (www.jrmack.com.br) é possível encontrar depoimentos de clientes satisfeitos . “Através dos resultados apresentados, meus sócios e eu ficamos aptos a formular estratégias coerentes à forma eficaz de comunicação com os nossos clientes, assim atingindo nosso objetivo e fidelizando-os”, diz o sócio-diretor de uma empresa patenteadora. A bem da verdade é a materialização da frase que diz: “quem fica satisfeito sempre volta”. Também é fato de que nem sempre a companhia que busca esse tipo de consultoria está mal financeiramente. Muitas vezes deseja apenas se reestruturar. Os empreendedores, por exemplo, procuram as juniores para melhorar seus resultados e não porque não vão bem. “Nesse caso, fazemos planos de negócios”, diz Colzi. Os diagnósticos são feitos após uma reunião com o cliente. Os projetos geralmente abordam duas ou três áreas: comuIntegrantes da FEA Jr, em 2011 (foto) 12 nicação, estrutura e estratégia. Nem sempre o que se configura o problema maior na visão do empresário é o motivo do desequilíbrio. “Uma causa aparentemente menor gera muito mais impacto do que aquele problema maior”, diz Colzi. Projetos de estrutura, por exemplo, acabam revelando falhas na comunicação, apontadas por especialistas como um dos principais fatores do mau funcionamento de uma empresa. Supervisão Os trabalhos das juniores são supervisionados por professores das áreas correspondentes, que os revisam antes de serem entregues aos clientes. Ex-alunos e participantes também são fontes de consulta, o que ajuda a dirimir dúvidas dos envolvidos nos projetos. Todas as atividades, porém, são desenvolvidas pelos universitários, desde as reuniões iniciais em busca do diagnóstico até a apresentação do projeto final. A dedicação é diária, sempre antes ou após as aulas e, muitas vezes, se estendem até outros períodos ou finais de semana, com a realização de cursos e eventos. “A concorrência existe, mas as escolas sempre buscam a troca de conhecimentos” Thales Hara, presidente da Empresa Júnior Mackenzie Consultoria - EJMC (foto) Arquivo Pessoal anos concentram a maior parte desses empreendimentos: 52,5%. Na contramão desses números, dados divulgados pela Agência Sebrae de Notícias em abril sobre as micro e pequenas empresas mostram que o número de falências requeridas vem aumentando mês a mês neste ano. Em março, por exemplo, o índice foi 18% superior ao registrado em fevereiro. “O motivo pode ser falha na gestão ou falta de conhecimento. No caso das empresas de tecnologia, o sócio que começa o negócio tem muito conhecimento técnico, mas não en- Na Prática por Marcos Palhares Quando a ética acompanha o lucro Empresas investem mais em códigos de conduta e princípios para melhorar serviços e posição no mercado brasileiro 14 “A sociedade está mudando a sua percepção sobre qual o papel das empresas e quais os comportamentos esperados no mercado. Hoje, a cobrança por valores como ética, integridade e sustentabilidade está no topo da agenda.” A afirmação, de Gustavo Costa, diretor executivo jurídico da White Martins, resume os motivos da crescente priorização, no mercado brasileiro, dos princípios éticos na administração empresarial. Prova disso é que os resultados da 4ª edição da Pesquisa Código de Ética mostram que, entre as 500 maiores empresas em atuação no País (listadas na Revista Exame Melhores & Maiores), 230 divulgam sua conduta interna de orientações éticas em seus sites na Internet. “Em 2008, eram 148 empresas. Isso representa um aumento muito significativo de mais de 55%”, destaca Douglas Flinto, presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, entidade responsável pela pesquisa recémdivulgada, que é feita em colaboração com empresas de grande expressão no cenário nacional. Flinto observa, ainda, que o mercado está revendo conceitos sobre desempenho e qualidade. “Existe um paradigma no meio empresarial que diz que a ética nos negócios não dá lucro. De fato, a condução dos negócios dessa forma não dá lucro no curto prazo. Entretanto, somente esse procedimento garantirá crescimento e desenvolvimento econômico no médio e longo prazos. Vale a pena os empresários e executivos pagarem pra ver.” Como exemplo disso, Flinto cita o caso da BM&FBovespa (maior bolsa da América Latina), que lançou, em 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Trata-se de uma “carteira sustentável” composta por um seleto grupo de grandes empresas que se comprometem com integridade ética de conduta, socialmente responsável e ecologicamente correta. As empresas que participam da lista estão entre as que emitem as 200 ações mais negociadas. O máximo de participantes é 40 –por isso, todos se esforçam para permanecerem no índice. “Existe um paradigma no meio empresarial que diz que a ética nos negócios não dá lucro” Douglas Flinto, presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios Entre o discurso e a prática Porém, para o presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, o principal problema no mercado contemporâneo é o abismo existente entre o discurso e a prática empresarial. “É a diferença de atitude em relação ao que as empresas falam e pregam e o que, de fato, praticam. É importante destacarmos que ‘a empresa é o que faz e não o que diz’. É por essa razão que há um investimento massivo na construção e manutenção da ‘reputação empresarial’ em detrimento do ‘caráter’ da empresa. Ela pode ter uma reputação altíssima, mas deixar embaixo do tapete ilicitudes é atuação irresponsável e antiética”, adverte Flinto. Por isso, em sua opinião, vale mais observar a relação da companhia com seus públicos de interesse: funcionários, clientes, fornecedores, parceiros, comunidade, ONGs, governo, mídia etc. Uma das empresas preocupadas com isso é a Gol Linhas Aéreas, que reformulou seu Código de Ética e reestruturou os princípios organizacionais no segundo semestre de 2010. “Realizamos uma campanha de comunicação interna para divulgação do novo documento, por meio de cartazes, anúncios, banners, notícias nos veículos de comunicação oficiais, e-mail marketing e um e-learning interativo. Os colaboradores puderam absorver nossas premissas e tomar conhecimento sobre como atuar nos mais diversos cenários”, conta Claudia Pagnano, vice-presidente de Mercado e Novos Negócios da Gol. Segundo ela, todos os colaboradores receberam o Código de Ética impresso, entregue pelos gestores, que foram orientados a apresentar as premissas e esclarecer as dúvidas das equipes. A empresa preocupou-se, também, em manter a fiscalização e o controle sobre seus princípios. “Atualmente, temos um comitê diretamente ligado à presidência da companhia que se reúne periodicamente para avaliar os casos de violação ao Código e debater sobre dúvidas de interpretação de texto”, garante Claudia. O Código de Ética da Gol é dividido em quatro partes: uma sobre como a empresa e seus colaboradores devem agir com os mais diversos públicos com que se relacionam; outra que trata como dever ser a conduta em relação à propaganda e publicidade, recursos corporativos e segurança da informação; a terceira, que detalha as responsabilidades da liderança e dos colaboradores em geral; e a última, que apresenta o funcionamento do Comitê de Ética e os canais de reporte das violações ao código. 15 Na Prática negócios com a administração pública, conduta competitiva e leis de combate à prática de corrupção no exterior”, explica o diretor. A empresa chega a descredenciar fornecedores que não se enquadrem nos seus padrões. Costa é categórico: “Os clientes esperam que nos comportemos de forma ética, e isso é o mesmo que queremos de nossos fornecedores. Trata-se de um círculo virtuoso, pelo qual a sociedade como um todo tem a ganhar. A empresa que não adotar tal conduta enfrentará dificuldade para crescer e se posicionar positivamente no mercado”. O papel do administrador Outro ponto chave na adoção e prática de valores éticos é a formação profissional dos administradores de empresas. Recentemente, o Grupo de Excelência de Governança Corporativa do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP) “A empresa é o que faz e não o que diz”, ressalta Douglas Flinto, presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios “A cobrança por ética, integridade e sustentabilidade está no topo da agenda” divulgação Gustavo Costa, diretor executivo jurídico da White Martins (foto ao lado) 16 debateu a ausência da disciplina “Ética” nas faculdades de Administração. “Muitas áreas de formação possuem essa preocupação, menos a nossa. O futuro administrador só estuda o tema dentro da disciplina de Filosofia”, comenta a administradora Teresinha Covas Lisboa, conselheira e integrante da Comissão de Ética do CRA-SP. “Porém, nós não temos força ou autonomia para impor alterações curriculares. Estamos encaminhando a proposta à presidência do Conselho paulista para que ela seja levada às outras representações estaduais de nossa profissão e também ao Conselho Federal de Administração e, quem sabe, dessa forma, ser acatada pelo Ministério da Educação”, afirma Teresinha. Em seu entendimento, a iniciativa de incluir a disciplina no currículo das faculdades de Administração, além de conscientizar o estudante, serviria para valorizar ainda mais a profissão. Flinto, do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, reforça essa preocupação com a formação profissional: “Não é fácil exercê-la. Somos seres humanos, falhos e imperfeitos, e nos deparamos com uma quantidade cada vez maior de dilemas éticos, em todas as áreas da nossa vida. Por muitas vezes, escolhemos o caminho correto, porém, em outras, mesmo quando queremos acertar, acabamos errando. Entretanto, não pode existir nada mais nobre, louvável e exemplar do que buscar a excelência quando o assunto é a ética, seja como pessoa, como profissional ou como empresa. Sempre digo que as empresas não têm vida própria, são as pessoas, colaboradores e executivos que garantem isso a elas. Se as ações de cada funcionário forem exemplares, a empresa, naturalmente, será ética”, finalizou. “Temos um comitê ligado à presidência que avalia os casos de violação ao Código” Claudia Pagnano, vice-presidente de Mercado e Novos Negócios da Gol Linhas Aéreas (foto) Eduardo de Sousa Quem também reforçou seus principíos éticos recentemente foi a White Martins, maior empresa de gases industriais e medicinais da América do Sul. Em 2007, ela criou o “Dia da Conformidade”, data em que os colaboradores são estimulados a garantir a eficácia das diretrizes e dos valores definidos pela empresa. “O evento estimula ainda os líderes a refletir sobre ética e integridade nos negócios. Cada colaborador que ingressa na empresa passa por um treinamento específico sobre o tema”, acrescenta Costa. ”O programa de conformidade consiste nos Padrões de Integridade Empresarial, em um comitê liderado pelo CEO da empresa e respectivos reportes diretos, em certificações anuais de todos os colaboradores da América do Sul e, ainda, em treinamentos presenciais e on-line sobre temas como divulgação Dia da Conformidade Capa por Daniela Cabral A arma da competência A responsabilidade é inerente a qualquer profissão. No caso do administrador, ela deve ser inata S er administrador sempre foi uma função de grande responsabilidade. E não poderia ser diferente, já que sua missão tem sido a de conduzir –e bem– os destinos das áreas e das próprias organizações. Em que pese tal característica ser inerente a esse profissional, o desempenho de seu papel é norteado por legislações que se, em um primeiro momento, não visam a apenas a ampliação da ética e da competência, impõem, por meio de vários artigos, uma obrigação maior à prática de seus atos. Exemplos dessa realidade passaram a ser reforçados a partir de 2002 com a promulgação do novo Código Civil (Lei 10.406), que estabeleceu diversos dispositivos com a finalidade de ampliar a responsabilidade do administrador, ou, especificamente, da figura de quem ocupa o cargo de direção da pessoa jurídica. Especialista em recuperação de empresas em crise, o administrador e conselheiro do CRA-SP Alexandre Uriel Ortega Duarte explica que, perante o novo código, existem dois tipos de administradores: “O nomeado, por meio do contrato social, e o externo, que não pertence ao quadro de sócios, ou seja, é um profissional especializado contratado para gerir a sociedade”. Ele lembra que a situação mais comum é a de que os próprios sócios assumam o comando das organizações. Diligência e lealdade Tornar-se um profissional cada vez mais responsável não é tarefa fácil. Essa também é uma das preocupações do Conselho Federal de Administração (CFA), que, por meio do “Manual de Responsabilidade Técnica do Administrador”, estabelece regras a serem seguidas na condução da profissão. A ideia é transmitir ao administrador a responsabilidade perante seus atos profissionais, dentro dos princípios éticos (honra e dignidade) e legislação vigente. Diz o documento: “É preciso que 18 o administrador tenha plena consciência das mudanças ocorridas e exigências do mercado para desempenhar um papel com objetividade, competência, ética, probidade, confiabilidade, profissionalismo, diligência, conhecimento do cliente e do mercado, eficiências, conhecimento técnico, zelo, honestidade, transparência, respeito às leis e às normas do Sistema CFA/CRAs e a sociedade”. “A melhor defesa para o administrador é seguir as regras da governança corporativa: diligência (interesse ou cuidado aplicado na execução de uma tarefa) e lealdade (respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e a probidade), sem conflito de interesses”, afirma Richard Blanchet, cocoordenador do Comitê Jurídico do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), entidade que tem como meta a busca pela excelência em governança. Ele destaca que a empresa que adota as regras da boa governança –transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa– minimiza as chances de falhas e irregularidades na gestão. Blanchet explica que, nas áreas tributária, trabalhista, ambiental e do consumidor, a responsabilidade civil varia conforme o campo de atuação. As áreas se cruzam e prevalece o que for melhor para as vítimas de danos, sempre. Nos casos trabalhistas, por exemplo, a responsabilidade deixou de ser subjetiva (deve ser comprovada pela vítima) para ser objetiva, de acordo com a Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal: “Presunção – Culpa do Patrão ou Comitente – Ato Culposo do Empregado ou Preposto. É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”. ”Existem dois tipos de administradores: o nomeado e o externo, que não pertence ao quadro social e é contratado para gerir a sociedade” Adm. Alexandre Uriel Ortega Duarte, especialista em recuperação de empresas em crise e conselheiro do CRA-SP 19 Capa e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios”. Esse dispositivo, copiado do artigo 153 da Lei das S.A., segundo especialistas, reflete a cautela a ser adotada pelos profissionais no exercício de suas funções. utiliza a responsabilidade objetiva (não é necessário provar a culpa para ressarcir o dano ao indivíduo). Essa aplicação decorre da teoria do risco de negócio, que prevê que a empresa fornecedora do produto ou serviço deve arcar com o dano causado, simplesmente por explorar uma atividade econômica. Responsabilidade técnica do administrador O administrador Alexandre Uriel Ortea Duarte (foto acima) diz que a falta de averbação da nomeação do administrador pode levá-lo a responder solidariamente com seus bens pessoais, em caso de prática de atos irregulares pela sociedade 20 Na área tributária, a Súmula 430 do STF dispõe sobre a responsabilidade do sócio nos casos dos pagamentos de impostos: “o inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente”. Isso significa, em um primeiro momento, que ele não terá seus bens confiscados para quitação de dívidas tributárias contraídas pela empresa. O entendimento é que o inadimplemento, apesar de configurar uma infração de lei, é praticado pelo contribuinte e não por seu representante. Nos casos de reparação ao consumidor, o Código de Defesa do Consumidor Nas empresas de capital aberto, além das responsabilidades impostas pelo Código Civil, os administradores estão submissos à Lei 6.404, que regula as sociedades por ações (conhecida por Lei das S.A). A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), criada em 1976 pela Lei 6.385, é responsável pela fiscalização, normatização e disciplina dessas organizações. Diferentemente das companhias fechadas, as de capital aberto funcionam sob a égide de um Conselho de Administração, escolhido pelos acionistas. Este, por sua vez, elege ou destitui os diretores da empresa. “A Lei das S.A não contradiz o Código Civil, mas o rigor é maior porque tem dinheiro de diversos investidores envolvido”, afirma Alfried Plöger, vicepresidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), entidade criada há 40 anos com a missão de defender os interesses dessas empresas. Por conta disso, prossegue, a responsabilidade do administrador é mais rígida. Tanto que todo ato ou fato relevante deve ser comunicado imediatamente à CVM e ao mercado, de maneira ampla e irrestrita. Nos Estados Unidos, explica Plöger, as empresas costumam ser leais aos acionistas. “Em contrapartida, o administrador tem o mesmo dever perante a empresa”, enfatiza. Assim como Blanchet, ele acredita que a boa conduta, a honestidade e a fidelidade aos compromissos assumidos são essenciais para que o administrador cumpra sua função de maneira idônea. Diz o artigo 1.011 do Código Civil: “o administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado A figura do responsável técnico (RT) existe em quase todas as categorias. Em Administração de Empresas, surgiu com a regulamentação da Lei 4.769/95 e com a aprovação do Decreto Federal 61.934 (1967). O artigo 12 deste decreto versa sobre as prerrogativas do RT e diz claramente no 1º parágrafo que o administrador responderá individualmente aos Conselhos pelos atos praticados contra as sociedades que estejam em desacordo com o Código de Deontologia Administrativa (Código de Ética). Claudio Rossi Marcelo Marques Empresas abertas ”A melhor defesa para o administrador é seguir as regras da governança corporativa: diligência e lealdade” Richard Blanchet, cocoordenador do Comitê Jurídico do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (foto) Quatro ocasiões o entendimento é de que a sociedade res- além dos limites impostos pelo contrato. ponda sozinha pelas irregularidades, sem A sociedade (pessoa jurídica) responde direito de regresso contra o administra- perante terceiros pelos atos praticados dor; b. quando pratica um ato regular ou pelo administrador, mas pode cobrar dele irregular de gestão antes da averbação de a ação de regresso (cobrança posterior); A responsabilidade civil do administrador sua nomeação, desde que esta não tenha d. quando o administrador age com culpa (obrigação de reparação de danos causa- sido feita por meio de contrato social. A (sem intenção) ou dolo (com intenção) dos), esclarece Alexandre Uriel, se mani- falta de averbação torna o administrador no desempenho de suas funções. Negli- festa basicamente em quatro ocasiões: a. responsável pelas irregularidades come- gência, imperícia e imprudência podem quando ele pratica um ato regular de ges- tidas pela sociedade, o que poderá levá- originar atos de gestão culposos. O pro- tão, ou seja, cumpre o que objeto social lo a responder solidariamente com seus fissional pode ser responsabilizado pelas determina contratualmente. Nesse caso, bens pessoais; c. prática de ato de gestão práticas que causem dano à sociedade. 21 Divulgação Capa Maioria dos processos do Comitê de Ética do CRA-SP está relacionada aos diplomas falsos Criado no segundo semestre do ano passado, o Comitê de Ética do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP) tem atuado, principalmente, em duas frentes: na detecção de diplomas falsos e no fornecimento do atestado de capacidade técnica para as empresas que desejam participar de licitações e precisam do aval do Conselho para tanto. “A maior parte dos processos, porém, está relacionada aos diplomas falsos, detectados no setor de Registro, que percebe o problema ao “A Lei das S.A. não contradiz o Código Civil, mas o rigor é maior porque tem dinheiro de diversos investidores envolvidos”, afirma Alfried Plöger, vice-presidente da Abrasca verificar os documentos antes de fornecer o registro profissional e encaminha ao setor de Fiscalização”, explica a administradora e conselheira Teresinha Covas Lisboa, membro do Comitê. Uma vez constatada a possível falsificação, o setor de Fiscalização, que integra o Comitê de Ética, entra em contato com a faculdade e o órgão emissor do possível diploma para validação do referido documento. Finalizada a investigação e confirmada a falsificação, o CRA-SP encaminha o processo ao Ministério Público para denunciar o caso. Na maioria das vezes, conta Teresinha, as falsificações são grosseiras e a pessoa quase nunca questiona por que não obteve o registro profissional. Desde 2008, os administradores contam com o novo Código de Ética Profissional –a primeira versão foi criada em 1969. O documento dispõe sobre os deveres, as proibições, os direitos e as infrações disciplinares, entre outros assuntos. Para Teresinha, porém, é preciso ir além da distribuição do Código de Ética aos estudantes e profissionais para evitar problemas desse tipo. “Defendo que a disciplina Ética passe a integrar o currículo dos cursos de Administração, pois é importante trabalhar na formação profissional do indivíduo.” Integrantes O Comitê de Ética do CRA-SP é formado pelos conselheiros Antonio Geraldo Wolff, Edgar Kanemoto e Teresinha Covas Lisboa, Maria Inês Moraes (Fiscalização) e Luciano de Souza (Jurídico). 22 A função desse profissional é exercer atividades administrativas em empresas que exploram serviços de qualquer natureza, seja por meio de contratos ou vínculo empregatício, ou, ainda, sendo sócio/proprietário ou administrador procurador. Como qualquer profissional da área, também se enquadra nas legislações que regem a responsabilidade civil e nesse caso, especialmente, às que versam sobre a Administração e o papel do administrador nas sociedades. De acordo com o documento elaborado pelo CFA, esse profissional está envolvido com as seguintes responsabilidades (aplicase também aos demais administradores): ▪ Responsabilidade civil – Decorre da obrigação de reparar ou indenizar por eventuais danos causados. O profissional que, no exercício de sua atividade, lesa alguém tem a obrigação legal de cobrir os prejuízos. ▪ Responsabilidade contratual – Decorre do contrato firmado entre as partes para a execução de um determinado trabalho, sendo fixado os direitos e obrigações de cada uma. ▪ Responsabilidade administrativa – Resulta das restrições impostas pelos órgãos públicos, através de normais legais, tais como regulamentos, códigos, resoluções, portarias ou outro ato administrativo com cunho normativo que impõem condições e criam responsabilidades ao profissional, cabendo a ele, portanto, o cumprimento das leis específicas à sua atividade, sob pena, inclusive, de suspensão do exercício profissional. ▪ Responsabilidade ética – Resulta de faltas éticas que contrariam a conduta moral na execução da atividade profissional. No sistema CFA/CRAs, essas faltas estão previstas na legislação e no Código de Ética Profissional do Administrador, estabelecido pelo Conselho Federal de Administração. Uma infração à ética coloca o profissional sob julgamento, sujeitando-o a penalidades. Recomenda-se a todo profissional a observação rigorosa às determinações do Código de Ética Profissional do Administrador. ▪ Responsabilidade penal ou criminal – Decorre de fatos considerados crimes, entre eles: apropriação indébita; estelionato; fatura, duplicata ou nota de venda simulada: falsificação de papéis públicos. Empresa viva De acordo com Uriel, um dos méritos da Administração foi o de acompanhar as mudanças impostas à sociedade e, consequentemente, às empresas nas últimas décadas. “Isso somente foi possível porque o administrador consegue enxergar as organizações como seres vivos”, justifica, ao dizer que essa percepção é fundamental para a ampliação da responsabilidade profissional e a diminuição das falhas na gestão. Na prática, as mudanças são o grande laboratório para o desenvolvimento da Administração responsável. No CRA-SP, as transformações são acompanhadas por meio de Grupos de Excelência que estudam as novas exigências de mercado e disseminam conhecimento para a atualização dos profissionais. Perfil por Maria Cecilia Stroka | fotos Marcelo Marques Gosto pela política “O papel dos administradores é crucial para o País. Com visão de futuro aguçada, são eles os primeiros a identificar as oportunidades que surgem todos os dias nas áreas mais distintas” Reunião plenária nº 3.856 que homenageou o secretário-chefe da Casa Civil do Estado de São Paulo, Sidney Beraldo. 24 A tual secretário-chefe da Casa Civil do governo do Estado de São Paulo, o administrador Sidney Beraldo tem uma longa e bem-sucedida carreira na vida pública. Formado em Ciências Biológicas, Administração de Empresas e pós-graduado em Gestão Empresarial, tomou gosto pela política na juventude, durante a ditadura militar. Mais tarde, confirmou o interesse ao eleger-se vereador (1977-82) e prefeito de São João da Boa Vista (1983/88), sua cidade natal. À frente da prefeitura, implantou programas inovadores como o orçamento participativo, o que contribuiu para a ótima avaliação de sua gestão e se refletiu nas quatro eleições para deputado estadual pelo PSDB vencidas por Beraldo (1994, 1998, 2002 e 2006), que foi sempre o candidato mais votado na cidade. Como deputado estadual, foi autor de projetos como o que obriga o Estado a oferecer testes de HIV e Sífilis para gestantes, durante o pré-natal, em toda a rede pública de saúde; o que estabelece o Código de Ética do Servidor Público do Estado de São Paulo; e o projeto de lei que instituiu o Programa Universidade na Comunidade. Beraldo foi ainda presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (2003/2005), eleito por unanimidade. Presidiu o Diretório Estadual do PSDB entre 2005 e 2006. E, em 2007, assumiu a Secretaria Estadual de Gestão Pública, permanecendo no cargo até abril de 2010, quando se afastou para ser o coordenador-geral da campanha de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo. “A Administração teve e tem um papel fundamental em minha vida”, disse Beraldo, durante a entrega do título Administrador Destaque, concedido a ele pelo CRA-SP em abril deste ano. Nesta entrevista à Revista Administrador Profissional, ele fala mais de sua carreira e da experiência como gestor. RAP: Como a sua formação em Administração contribuiu para o exercício da vida pública? Adm. Sidney Beraldo: Venho de uma família de imigrantes italianos cuja principal característica é o amor ao trabalho. Aprendi com meus avós e meus pais a valorizar o tempo e a ser disciplinado. Esse princípio tem sido o meu norte, desde o primeiro emprego como balconista de farmácia, aos 12 anos, até me firmar no ramo industrial. Evidentemente, procurei levar todo esse aprendizado para a esfera pública. No exercício da vereança, passei a valorizar ainda mais o diálogo e a fazer dele o principal instrumento na luta política. Na Associação Comercial, aprendi a trabalhar em grupo, a defender interesses específicos de uma categoria. Em seguida, quando prefeito de São João da Boa Vista, entre 1983 e 1988, pude colocar em prática alguns preceitos administrativos que utilizava na iniciativa privada. RAP: O senhor entrou na política via movimento estudantil na universidade, posteriormente presidiu a Associação Comercial de São João da Boa Vista para então se eleger vereador da cidade. Como surgiu o gosto pela carreira pública? Adm. Sidney Beraldo: O gosto pela política surgiu na juventude, durante a ditadura militar. Como a maioria dos jovens daquela época, eu participava ativamente das discussões que tinham o objetivo primordial de restabelecer a democracia no Brasil. Primeiro na universidade, depois como filiado do antigo MDB (Movi- RAP: Como o senhor avalia a sua gestão como prefeito de São João da Boa Vista? Adm. Sidney Beraldo: Convém lembrar que a conjuntura econômica daquele período por si só era um grande desafio para qualquer administrador, público ou não. Tínhamos um cenário de inflação alta e o regime militar, que estava nos estertores, havia mergulhado o país numa crise sem precedentes. E o que nós modestamente fizemos em São João da Boa Vista? Instituímos, entre outras medidas, o orçamento participativo. Dividimos a cidade em regiões e chamamos a população para decidir como seriam investidos os recursos públicos. mento Democrático Brasileiro). Em 1976, fui eleito vereador com a responsabilidade de ser o líder do prefeito na Câmara. No período mais duro do regime militar, São João da Boa Vista conseguiu desencadear o que classifico, sem qualquer receio, de revolução social. Isso graças à eleição de um grupo de jovens de oposição, do qual tive a sorte de fazer parte. Mas, apesar de já fazer política partidária, como vereador, o primeiro cargo de executivo público que exerci foi o de presidente da Associação Comercial e Industrial de São João da Boa Vista, de 1979 a 1981. 25 Perfil Antes mesmo da aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, nós já a aplicávamos em São João da Boa Vista, seguindo à risca a receita de não gastar mais do que se arrecadava. Praticamos a austeridade fiscal, estabelecendo no orçamento o limite de 60% para folha de pagamento, 30% para custeio e outros 10% para investimentos. Com foco nas prioridades sugeridas pela comunidade e o controle rigoroso dos gastos, conseguimos otimizar o dinheiro dos impostos e fizemos uma administração que ainda hoje é bem avaliada pelo povo de São João da Boa Vista. E esse reconhecimento se refletiu nas quatro eleições que disputei para deputado estadual, sendo sempre o candidato mais votado na cidade. RAP: O que falta para a administração pública alcançar o mesmo patamar de eficiência, qualidade e competência da administração privada? Adm. Sidney Beraldo: Primeiro é preciso trabalhar obstinadamente pelo aperfeiçoamento dos serviços que o Estado presta ao cidadão e zelar pela melhoria da qualidade dos gastos. Criar mecanismos de modo a verificar se as políticas desenvolvidas estão de fato gerando o impacto desejado na sociedade. Em segundo lugar, incorporar cada vez mais à administração pública a gestão por resultados, a meritocracia, a fim de obter o melhor desempenho com relação às ações que o Estado desenvolve. Na Secretaria de Gestão Pública, investimos muito na qualificação dos servidores, na área de tecnologia, de sistemas, de programas, de revisão de processos, para desburocratizar e alcançar as metas. 26 padrões éticos tem consciência da dimensão do seu compromisso para com o cidadão e tende a ser mais eficiente. Aliás, esse princípio permeou todo o nosso trabalho na Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo. RAP: O senhor exerceu muitos cargos de liderança. Quais características um líder deve ter para mobilizar as pessoas que trabalham com ele? Adm. Sidney Beraldo: O líder deve estar sempre disposto a ouvir, valorizar o trabalho em equipe, buscar o consenso e ter em mente que o ser humano é o maior capital de que dispõem as corporações e os governos. Como diz o governador Geraldo Alckmin, é preciso, acima de tudo, gostar de gente. RAP: Uma das atribuições da Casa Civil é articular o trabalho das secretarias estaduais na elaboração e execução das políticas públicas. Como é possível fazer com que as secretarias atuem em conjunto? Adm. Sidney Beraldo: As secretarias de Estado atuam de forma integrada e cada pasta responde pela execução do que foi programado, seguindo as diretrizes traçadas pelo governador Geraldo Alckmin. O papel da Casa Civil consiste em auxiliar direta e indiretamente o governador, bem como acompanhar o andamento das demandas das secretarias com o gabinete governamental. Também está no escopo da Casa Civil a missão de interagir com a Assembleia Legislativa e o Congresso Nacional, em projetos de interesse do Estado de São Paulo que tramitam nas duas Casas legislativas. Outra “O líder deve estar sempre disposto a ouvir, valorizar o trabalho em equipe, buscar o consenso e ter em mente que o ser humano é o maior capital das corporações e dos governos” Registrado no CRA-SP pelo nº 106.129, o administrador Sidney Beraldo exibe a placa que representa o título de Administrador Destaque concedido pela entidade RAP: O que o levou a propor, em um dos seus mandatos como deputado estadual, o projeto de lei que estabelece o Código de Ética do Servidor Público do Estado de São Paulo? Adm. Sidney Beraldo: Apresentei este projeto de lei em 2000, com o objetivo de aprimorar o serviço público, dando ênfase ao componente ético. O servidor que atua dentro de atribuição importante da secretaria é o trabalho em parceria com os municípios. Por isso, temos uma subsecretaria específica voltada exclusivamente ao atendimento a prefeitos e vereadores. A determinação do governador Geraldo Alckmin é de que mantenhamos um canal permanente de diálogo e entendimento com todos os 645 municípios do Estado. RAP: Como despertar nos jovens o interesse pela carreira pública? Adm. Sidney Beraldo: O maior estímulo para o jovem é perceber que o Brasil está caminhando a passos largos na consolidação do seu processo democrático, de liberdade, de fortalecimento das instituições. Neste contexto, o País vai precisar muito das ações e do pensamento inovador da juventude. RAP: O que gostaria de falar aos administradores? Adm. Sidney Beraldo: O papel dos administradores é crucial para o país. Com visão de futuro aguçada, são eles os primeiros a identificar as oportunidades que surgem todos os dias nas áreas mais distintas. É esse olhar diferenciado do gestor eficiente que está tornando o Brasil cada vez mais respeitado no cenário mundial. Minha mensagem é que continuem trabalhando, empreendendo e gerando riquezas com criatividade, respeito às pessoas e ao meio ambiente. Estilo por Daniela Cabral e Luiz Gallo De volta às origens Trabalhar em casa está se tornando atividade cada vez mais comum A ntes da Revolução Industrial (segunda metade do século XVIII), a maioria dos negócios era pequena e funcionava nas casas de seus proprietários, baseados geralmente no comércio e na prestação de serviços. Depois do boom da indústria, os funcionários foram trabalhar em fábricas ou escritórios, impulsionados por um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo. Foi uma época em que as ferramentas foram substituídas pelas máquinas, a energia humana pela força motriz e o modelo de produção doméstico pelo sistema fabril. Com o advento do computador pessoal, 28 a partir da década de 1990, e o surgimento, cada vez mais, de recursos tecnológicos de última geração, a possibilidade de trabalhar em casa voltou à tona e passou a ser uma alternativa saudável aos caos das grandes cidades. No Brasil, de acordo com pesquisa da ONG Market Analys, de 2008, existem aproximadamente 10,6 milhões de teletrabalhadores. São profissionais que exercem parte de suas atividades em casa e parte no escritório da empresa. Esse sistema, que ganhou também o nome de home office, oferece vantagens para os dois lados. Para o empregado, redução do tempo de locomoção até o local de tra- balho, maior proximidade com a família, flexibilidade no horário de trabalho; para a empresa, redução dos custos de infraestrutura, maior concentração do profissional com melhoria de qualidade e produtividade, entre outras. Entre as organizações que mais incentivam o teletrabalho no Brasil está a IBM. De acordo com Natasha Bontempi, analista de Relacionamento com o Funcionário, o programa foi implantado em 2005 em função da própria característica da companhia. “A IBM é uma empresa global, seus funcionários trabalham de forma integrada com diversos países, em diferentes horários e neces- sidades. Assim, a flexibilização do trabalho em relação a tempo, local e forma de realização contribui para alcançar os objetivos de negócios e criar uma vantagem competitiva”, enfatiza. Na empresa desde 2004, na função de “Recruiting Account Manager” , Francisco Ferreira é um dos que se beneficiam desse esquema. “Minha função demanda reuniões e outras responsabilidades que nem sempre estão dentro do horário comercial. Como conciliar, se os participantes estão em diversos pontos do planeta, com fusos horários distintos e muitas vezes opostos? Estando em casa, se torna mais fácil, por exemplo, participar de uma reunião pelo telefone às 7 horas da manhã”, justifica. Ainda com baixa adesão –54 teletrabalhadores (dois em cada Estado), em um universo de 11 mil funcionários–, o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) é exemplo de empresa pública que adotou a modalidade. “A implantação se deu por motivos tecnológicos e pela necessidade de proporcionar mais qualidade de vida aos colaboradores”, destaca Joselma Oliveira Goulart, coordenadora do programa. Joselma diz que não basta querer exercer as atividades profissionais em casa para postular um posto de trabalhador a distância. “No Serpro, a seleção é bastante rigorosa, realizada em etapas eliminatórias. Além da autorização do chefe imediato, o pretendente passa por avaliação psicossocial e a ergonomia de sua residência deve obedecer as normas da ABNT”, ressalta. O programa está voltado para empregados da central de atendi- mento ao cliente e desenvolvedores de software. Um deles é Pedro Paulo Wagner de Azevedo, morador em Niterói, RJ. Na empresa há 30 anos, ele trocou há cinco anos cerca de três horas diárias que perdia para para ir e voltar da unidade do Serpro, no Rio de Janeiro, pelo conforto de sua residência. “Só não acordo em cima do horário porque aproveito o tempo que perdia para caminhar e ir ao supermercado, por exemplo”, enfatiza. Assim como alertam os especialistas, Azevedo diz ser fundamental passar por um processo de mudança de mentalidade. “Se for do tipo que gosta de tomar cerveja com os amigos depois do expediente, não dá certo”, avisa. “É preciso ser gestor e saber distribuir tarefas”, revela. Esses requisitos são referendados pelo seu “colega” da “Só não acordo em cima do horário porque aproveito o tempo que perdia para caminhar” Pedro Paulo Wagner de Azevedo Desenvolvedor de software do Serpro IBM, Ferreira. “Sempre respondo que, para não ficar monótono, uma das primeiras coisas é fazer é uma autoavaliação, além de ter o perfil, ser comprometido e organizado”. Alvo de cobiça Os benefícios colocados à disposição dos teletrabalhadores também são alvo de cobiça de profissionais liberais ou donos de pequenos negócios, que sonham usar a própria casa para Empresas também têm vantagens Estudo da Sobratt mostra que, além de contribuir para melhorar a qualidade de vida dos funcionários, ajudando inclusive na recuperação e no fortalecimento das relações familiares e sociais, empresas que adotam o teletrabalho têm ganhos como: ▪ redução de custos fixos (compartilhamento de espaços e recursos) ▪ redução de custos com faltas de funcionários e com acidentes de trabalho em trânsito ▪ aumento de produtividade do trabalhador (Estudo da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos mostra que a cidade de São Paulo perde R$ 4,1 bilhões por ano com congestionamentos e que o paulistano poderia converter em renda 30% do tempo que perde para se deslocar até o escritório) ▪ redução das taxas de turnover (custos de recrutamento e treinamento) ▪ contratação de trabalhadores em locais distantes ▪ melhoria da imagem e reputação empresarial (empresa inovadora) desenvolver suas funções. No entanto, não é tão simples assim. O administrador e conselheiro do CRA-SP, Álvaro Augusto Araújo Mello, diretor de Relações Internacionais da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), diz que ficar baseado exclusivamente em sua casa exige muita disciplina. “É preciso saber trabalhar com metas, ter autogerenciamento e administrar bem o tempo”, 29 Estilo “Estamos apenas no começo da era do trabalho em casa com conforto”, ressalta o arquiteto Marcos Ferreira Gavião ressalta. “Conversar com quem já adotou a modalidade também ajuda”, ensina. Ele chama a atenção ainda para aspectos que nem sempre são levados em consideração, como o de ter o apoio da família e de verificar se a residência e o arranjo familiar comportam a atividade. Justamente para dirimir problemas dessa natureza e seguir as tendências atuais do trabalho moderno, muitos empreendimentos imobiliários já oferecem versões que abrigam moradia e escritório em um mesmo espaço, ou muito próximos. É o caso do Combinatto, da BKO Engenharia, em Pinheiros (Zona Oeste de São Paulo). De acordo com o arquiteto Marcos Ferreira Gavião, autor do projeto, o imóvel tem acessos separados, que se comunicam entre si se o morador quiser. 30 O arquiteto ressalta que imóveis desse tipo têm se tornado uma necessidade diante da falta de investimentos no setor de transportes coletivos. “É também um novo estilo de vida que, graças às tecnologias de comunicação e informação, resulta em qualidade de vida”, diz. E prossegue: “Estamos apenas no começo da era do trabalho em casa com privacidade e conforto”. Esse tipo de empreendimento, segundo João Crestana, presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP), é comum em cidades planejadas, com áreas autossustentáveis. “Em São Paulo, o formato ainda é mais conceito do que realidade. Na Europa e nos Estados Unidos são bastante comuns e sugiram da necessidade de usar com mais racionalidade os espaços urbanos, principalmente os que passaram por reurbanização”, afirma. A decisão de trabalhar em casa para ganhar qualidade de vida é a principal justificativa dos adeptos do home office. É o caso de Milena Rupiani Bonetto. Advogada, atua como pesquisadora da Unitar (United Nations Institute for Training & Research), braço independente da Organização das Nações Unidas (ONU) que cuida de treinamento e formação de pessoas. “Trabalhava em escritório antes. Pegar trânsito me estressava. Hoje, monto meu horário de acordo com as prioridades e vou me disciplinando”, diz. Outra vantagem é em relação às despesas que diminuem consideravelmente. A ilustradora Fernanda Guedes, autora de diversos trabalhos para revistas, conta que fez a opção por “É preciso saber trabalhar com metas, ter autogerenciamento e administrar o tempo” Adm. Álvaro Augusto Araujo Mello, diretor do Sobratt e conselheiro do CRA-SP praticidade e economia. “Tenho flexibilidade de horários”, conta. Como desvantagem, ela cita a falta de convívio social com outras pessoas. “Para evitar a ‘síndrome do ermitão’, eu ando de bicicleta e converso com amigos sempre que posso, explica. Disciplina O elemento comum e fator de sucesso entre os que trabalham em casa é a disciplina. “A casa oferece muitas distrações e ten- tações, como assistir a televisão, por exemplo. É preciso se disciplinar para não interferir no rendimento profissional”, diz Milena. Fernanda lida de outra maneira, por conta do próprio ritmo de trabalho: “No começo eu abria muitas exceções, principalmente nos finais de semana. Hoje, já não é mais tão necessário. Meus horários não são rígidos, pois gosto de me sentir livre para fazer outras atividades que não estejam relacionadas a trabalho”. “Para evitar a síndrome do ermitão, ando de bicicleta e converso com amigos” Fernanda Guedes, ilustradora (foto) Arquivo pessoal Arquivo pessoal Qualidade de vida Canal Aberto por Maria Cecilia Stroka Mapa das macro-regiões CRA-SP (simplificado) 5. Já instalada 1, 2, 3 e 6. A serem instaladas no 1º semestre 4, 7 e 8. A serem instaladas no 2º semestre Rumo ao interior Instalação de seccionais tem o objetivo de estreitar relação com o administrador 32 P ara dar prosseguimento ao seu processo de interiorização, assim como foi feito em Ribeirão Preto, o CRA-SP retomou o projeto de instalação das Delegacias, agora com a nova nomenclatura de Seccionais. A expectativa é abrir quatro sedes até o final do primeiro semestre: Bauru, Sorocaba, Santos e São José dos Campos (Vale do Paraíba), sendo que as atividades devem ter início a partir de julho deste ano. Até dezembro de 2011, serão construídas as condições para a abertura das Seccionais São José do Rio Preto, Presidente Prudente/Marília e Campinas, que devem iniciar suas atividades a partir de janeiro de 2012. “A montagem das Seccionais esbarra em exigências burocráticas, mas temos certeza de que as venceremos de forma profissional. O sucesso apresentado por Ribeirão Preto nos assegura que estamos no caminho certo”, assinala o gerente executivo do CRA-SP Reinaldo de Oliveira. Segundo ele, os objetivos de estreitar o relacionamento com as Instituições de Ensino Superior, fiscalizar a profissão de forma presente e contínua, promover caminhos para o conhecimento, sanar possíveis insatisfações e criar visibilidade têm sido alcançados por Ribeirão Preto. Tanto é verdade que a Seccional foi eleita como modelo e se tornará multiplicadora das melhores práticas. Expectativas superadas Em seis meses de operação, a Seccional de Ribeirão Preto aumentou em 20% o número de filiados ao Conselho. O desempenho superou as expectativas. Na primeira etapa do trabalho, a “nova casa do administrador” iniciou o Programa de Relacionamento com as 16 Instituições de Ensino Superior (IES) daquela região. Além de reuniões individualizadas com os coordenadores dos cursos de Administração para fomentar ações conjuntas, foram apresentadas 22 palestras sobre o CRA-SP para mais de 3 mil alunos. Recentemente, Ribeirão Preto tornou-se sede de uma macrorregião administrativa, o que significou a incorporação das regiões de Franca, Araraquara e São Carlos sob sua responsabilidade. Com isso, a Seccional passou a trabalhar com 36 Instituições de Ensino Superior, que têm cerca de 7 mil alunos matriculados e formam 2 mil deles por ano. Todas as 36 IES já foram visitadas. Em relação ao trabalho de fiscalização, a Seccional conta com um banco de dados de 3 mil empresas. O processo de fiscalização teve início com as 100 maiores companhias instaladas na região. Para o segundo semestre deste ano, a Seccional pretende promover o Unifórum - Encontro dos Alunos de Administração e implantar uma programação de cursos, palestras e seminários sobre a área para ampliar os benefícios oferecidos aos filiados. Ponto de referência Consideradas extensões do CRA-SP, as seccionais têm como objetivo incentivar a união e valorização da categoria profissional, proporcionar maior visibilidade à entidade diante da sociedade e dos profissionais e, principalmente, oferecer os mesmos serviços prestados e gerados na capital paulista. Por meio delas, serão colocadas em prática todas as ações institucionais desenvolvidas pelo Conselho, como a fiscalização do exercício profissional, o registro e a cobrança de anuidades. A ideia é transformá-las também em pontos de referência para profissionais e empresas de Administração das regiões onde serão instaladas. Opinião Plano de sucessão escrito é imprescindível nas empresas Os diretores de empresas familiares têm por hábito concentrar toda a sua atenção nas áreas tradicionais de gestão: compras e fornecedores, vendas, custos e finanças, impostos, produção, controle da qualidade, informática, satisfação do cliente, marketing, propaganda, promoção e recursos humanos. Deixam completamente de lado a montagem de um plano de sucessão escrito e acordado por todos os acionistas. Adotar essa postura é um erro crasso, cujas consequências gravíssimas somente se tornam visíveis em situações extremas que envolvem o principal comandante, como a morte súbita, enfermidades que implicam afastamentos por tempo indeterminado, acidentes automobilísticos ou aéreos e até mesmo sequestros. Com a ausência do titular, as companhias que não têm plano de sucessão se transformam em palcos de conflitos entre os herdeiros, com direito a desavenças, brigas, rusgas, futrica etc. Como consequência, o patrimônio da empresa é enormemente prejudicado, levando à venda por um preço muito abaixo do valor de mercado, à concordata ou até mesmo à falência. 34 As pesquisas em vários países, inclusive no Brasil, mostram que a grande maioria das empresas familiares não tem planos de sucessão. Entre as 10% que possuem, apenas 1% declara tê-lo por escrito e aprovado por todos os acionistas. A posse desse documento significa aumentar em muito o valor do patrimônio da empresa. O plano de sucessão é uma ferramenta soberana, que reconhece e acomoda as necessidades, metas e os objetivos da empresa e dos membros da família. Essas necessidades, metas e objetivos, na prática, são os alicerces que asseguram o sucesso da organização. “As pesquisas em vários países, inclusive no Brasil, mostram que a grande maioria das empresas familiares não tem planos de sucessão aprovados pelos acionistas” Um caso que ficou famoso envolvendo empresas que não possuíam planos de sucessão aconteceu em 3 de abril de 1996, quando o avião em que estava o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Ron Brown, em visita à Croácia, chocou-se com uma montanha, matando todos os passageiros. Entre eles, estavam 12 CEOs de companhias importantes, que tiveram sérios problemas, a partir de então. Adm. José Carlos Fonseca Ferreira CRA-SP - 00174 Consultor certificado pela International Succession Planning Association - Ispa Colaborações para esta seção podem ser enviadas para o e-mail [email protected] Os textos devem conter no máximo 3.000 caracteres (com espaço), nome completo do autor, foto em alta resolução e o registro no CRA-SP. → Este artigo reflete, exclusivamente, a opinião de seu autor. O CRA-SP não se responsabiliza pelas ideias nele contidas.