Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos Reunião da Direcção da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) com os Responsáveis de Equipas que se apresentam como praticando este tipo de actividade • Preâmbulo A APCP, entidade reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho mais recente em prol do desenvolvimento de Cuidados Paliativos acessíveis e de Qualidade no nosso pais, tem acompanhado atentamente o trabalho de equipas ditas de Cuidados Paliativos. A APCP, em consonância com organismos internacionais credíveis como a EAPC, o Conselho da Europa e a IAHPC, defende a necessidade imperiosa de acessibilidade alargada a este tipo de cuidados, na medida em que representam um Direito Humano fundamental e correspondem a uma forma imprescindível de promoção de Dignidade de um grupo tão vulnerável de pessoas doentes. É sabido que a área dos cuidados paliativos corresponde a uma área de prestação de verdadeiros cuidados de saúde, dirigidos ao doente e família, prestados de forma interdisciplinar, rigorosa e humanizada, no pressuposto de respeitar a Vida, não a encurtando ou alargando de forma desproporcionada e fútil, assumindo a inevitabilidade da morte. Esta prestação técnica, que corresponde sobretudo a uma atitude, muito mais que a uma estrutura física individualizada, só será possível se, em primeiro lugar, existirem profissionais de saúde verdadeiramente formados e treinados, de forma consistente, para esta tarefa. A APCP vem desde há 2 anos, em documentos públicos que espelham orientações internacionais para a área, chamando a atenção de quais os quesitos mínimos para que uma equipa possa ser denominada de Cuidados Paliativos (vd. Recomendações para Organização de serviços e para formação, APCP 2006). Todos aqueles preocupados em que estes sejam cuidados de Qualidade e não considerados como cuidados menores ou de segunda categoria, estão seguramente interessados em que, a bem das Pessoas doentes e seus familiares, a prestação destes cuidados de saúde se faça tendo em conta esses mesmos standards de Qualidade. Conscientes deste contexto, a Direcção da APCP decidiu promover uma reunião com os responsáveis das equipas que se apresentaram como praticando cuidados paliativos e que gentilmente aceitaram participar neste encontro. Pretendia-se sobretudo conhecer melhor e recolher directamente os aspectos positivos e negativos da realidade de trabalho dessas equipas, tendo em atenção que a prática de Cuidados Paliativos no nosso país vai para além das actividades desenvolvidas no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados. Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 1 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos Com o intuito de apurar que equipas poderiam estar no terreno, foram previamente efectuados contactos com as diferentes ARS, com instituições que publicamente se anunciam como de cuidados paliativos, e enviada com a devida antecedência uma carta convite, com os objectivos da reunião. Esta reunião teve lugar no dia 27 de Janeiro de 2008, no anfiteatro do Hospital da Luz em Lisboa. Estiveram presentes, da parte da direcção da APCP: Isabel Galriça Neto (Presidente da APCP); António Lourenço Marques (Vice-presidente da direcção da APCP); José Miguel Tavares (Secretário Geral da APCP); Ana Paula Sapeta (Vogal da Direcção da APCP); Edna Gonçalves (Vogal da Direcção da APCP); Manuel Luís Capelas (Tesoureiro da APCP). Por parte das equipas convidadas: Serviço de Cuidados Paliativos do IPOFG, Centro Regional do Porto, EPE Edna Gonçalves, Directora, e Lília Costa, Enfermeira Chefe do Serviço Serviço de Medicina Paliativa do Centro Hospitalar da Cova da Beira, Hospital do Fundão - António Lourenço Marques, Director Equipa de Cuidados Paliativos do Hospital do Mar - Ana Bernardo, Médica Responsável e Ana Margarida Faustino, Enfermeira Responsável Unidade de Cuidados Paliativos S.Bento Menni da Casa de Saúde da Idanha -Ana Paula Carneiro, Enfermeira Coordenadora Equipa Intrahospitalar de Cuidados Paliativos do Hospital de Santa Maria, Lisboa - Maria Amélia Matos, Enfermeira Coordenadora Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz - Isabel Galriça Neto, Directora, e Maria Aparício, Enfermeira Responsável Equipa de Cuidados Continuados e Paliativos de Odivelas - Fátima Ferreira, Enfermeira Coordenadora Unidade de Cuidados Paliativos de Nossa Senhora da Paz, Cova da Piedade - Ana Luísa Caixas, Responsável pela Residência de Nossa Senhora da Esperança, Nathalie Graupner, Médica Responsável da Unidade e Ana Martinho, Assistente Social da Unidade Casa de Repouso dos Olivais, Lisboa - Kunka Vasileva, Médica Responsável e uma Assistente Social (nome não registado) Equipa Intrahospitalar do Hospital de Elvas - Aida Cordero, Médica Responsável da Equipa e Joaquina Rosado, Enfermeira Equipa Comunitária de Cuidados Paliativos do Sotavento Algarvio - Fátima Teixeira, Médica Responsável Foram também convidados mas não estiveram presentes: Unidade de Cuidados Paliativos da Rede do IPOFG, Centro Regional do Porto, EPE que não justificaram a ausência; Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 2 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos Unidade de Cuidados Paliativos do IPOFG de Coimbra, cujo médico responsável confirmou a ausência para mail de elemento da direcção; Equipa de Assistência Domiciliária do IPOFG, Lisboa, - que justificaram a sua ausência; Unidade da Misericórdia de Azeitão – cujos responsáveis não justificaram a sua ausência Unidade do Hospital de Cantanhede - cujos responsáveis não justificaram a sua ausência Verificou-se, após confirmação directa com algumas ARS e com os próprios profissionais das instituições visadas, que foi feito um anúncio com actualização das equipas e unidades de Cuidados Paliativos da RNCC, em Despacho (1408/2008) publicado em Diário da República (Janeiro de 2008), que na prática não existem ou não funcionam. É o caso da unidade de CP do Centro Hospitalar Gaia-Espinho, que inclusivamente é nomeada no referido documento duas vezes, pelo nome do centro hospitalar e pelo nome do antigo hospital de Espinho, Senhora da Ajuda, induzindo os leitores em erro. Verificou-se também que a Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital do Mar não integra a referida Rede, como se faz supor no dito despacho, e ainda que não aparece incluída no mesmo despacho a equipa intra-hospitalar do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, supostamente, e de acordo com informação oral posterior à publicação transmitida aos seus responsáveis, a integrar a Rede. Há equipas referidas também no despacho, que se reporta a Julho de 2007, que não iniciaram ainda a sua actividade (caso do Algarve ou do Alentejo) ou que não têm dado qualquer conhecimento público da mesma (caso de Cantanhede). Estas são algumas das inexactidões deste recente despacho assinado pelo Sr. ex-Ministro da Saúde e que consideramos muito graves. Fomos informados de que o Hospital de Faro tem uma equipa intra hospitalar que vai iniciar actividade e que em Fevereiro iniciará funções uma outra equipa de suporte no Hospital do Litoral Alentejano. Importa aqui salientar que há experiências anunciadas pela Rede como piloto que não avançaram e que outras foram prejudicadas no seu funcionamento, continuando 11 dos 17 distritos do continente (Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Évora, Guarda, Leiria, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu) e os 4 das ilhas sem equipas de cuidados paliativos a funcionar no âmbito da Rede. Saliente-se também que as respostas na comunidade, quer ao nível dos centros de saúde, quer ao nível das novas USF’s, são deficitárias no apoio domiciliário aos doentes em fim de vida. • Descrição da reunião Previamente à apresentação dos representantes das equipas, a presidente apresentou os cumprimentos de boas-vindas em nome da APCP, agradeceu a Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 3 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos presença de todos os convidados e reforçou os objectivos da reunião, patentes na carta convite remetida e já aqui mencionados. Foi reforçada preocupação central da APCP com critérios de qualidade defendidos por organismos internacionais congéneres como a Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC) e a Associação Internacional de Hospices and Palliative Care (IAHPC) adoptados pela APCP. A presidente da APCP lembrou que a necessidade de respeitar estes critérios surge da premência de credibilizar esta prática assistencial, e sem o cumprimento destes critérios as equipas não deverão ser consideradas como sendo especializadas em Cuidados Paliativos. Foi reforçado que só fazendo prova do cumprimento desses critérios as equipas representadas poderiam ser consideradas pela APCP como credíveis. Foi ainda relembrado pelo Enfº Manuel Luís Capelas que estes critérios prevêem, na fase de implementação, a necessidade de formação avançada e estágios para pelo menos os responsáveis das equipas, e de formação intermédia e básica para os outros profissionais que as integram, e ainda que os profissionais tenham acesso a um conjunto de fármacos específicos por forma a realizar um adequado controlo de sintomas. Foram alertadas as equipas de que os protocolos para aberturas de unidades ou equipas de cuidados paliativos deveriam antecipadamente prever o circuito de fornecimento de fármacos essenciais. Os diferentes responsáveis procederam sumariamente à caracterização das suas equipas, nomeadamente no que à formação dos seus elementos diz respeito, à tipologia de doentes atendidos, aos principais pontos fortes e problemas sentidos e à forma de referenciação de utentes. Relativamente à formação dos elementos que constituem as equipas, regista-se uma grande diversidade, verificando-se que na maioria – mas não em todas - os responsáveis já são detentores de diplomas de formação avançada ou frequentando os respectivos cursos, alguns fizeram estágios em Unidades nacionais e/ou estrangeiras, constatando-se ainda que há unidades, algumas inseridas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), em que os profissionais não possuem esta formação e/ou estágios. Num dos casos (Lar Casa de repouso dos Olivais) verifica-se que a responsável refere ter formação avançada em cuidados paliativos de que não se reconhece a sua existência. Foi ainda assumido pela Direcção da APCP de que não seria feita divulgação no site da APCP de equipas que não cumpram os critérios defendidos pela APCP e que as equipas que pretendam ser incluídas no referido directório deveriam fazer prova do cumprimento desses mesmos critérios. Relativamente à referenciação de utentes, existe uma grande diversidade, pois há unidades ligadas à RNCCI, unidades privadas e unidades inseridas em instituições do SNS. Foi consensual a dificuldade que existe por parte de outros Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 4 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos profissionais em reconhecer quem são os doentes com necessidade de cuidados paliativos, globalmente ainda restringida aos doentes terminais e sobretudo aos moribundos. Quanto aos pontos fortes, foi consensual a importância e o impacto destes cuidados na Qualidade de vida dos doentes, e o reconhecimento recebido por parte dos mesmos e das famílias. Este trabalho foi referido como muito gratificante, registando-se alguns progressos no que toca ao entendimento desta prática como mais humanizante e dignificante para as pessoas doentes, para os familiares, os profissionais e para o próprio Sistema de Saúde. As equipas vêem resultados – ainda que insuficientes – nalguma mudança de atitude, com maior informação da comunidade científica e da sociedade civil, ainda que essas mudanças estejam aquém das necessidades que as mesmas equipas vão constatando. Dos principais problemas identificados pelas equipas, procede-se ao seguinte resumo, que foi unanimemente aceite por todos os presentes. Saliente-se que a própria Unidade de Missão já se fez eco de algumas destas questões aquando do relatório de progresso elaborado sobre os primeiros 6 meses de actividade da Rede: 1. Dificuldades na referenciação para e pela Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI); Verifica-se uma excessiva burocratização no processo de referenciação de utentes pela RNCCI, que obriga a que o mesmo, entre o seu início e a sua efectiva concretização através do internamento dos utentes, demore muitos dias. Isso pode condicionar que, de acordo com exemplos reais citados, alguns doentes sejam chamados pelas ECL quando já morreram, o que nos parece profundamente indigno. Por outro lado, o processo não está adequado à especificidade desejável para a prática dos cuidados paliativos: frequentemente, são seleccionados doentes moribundos como tendo necessidade de cuidados paliativos, quando poderiam ser integrados doentes paliativos muito antes dos seus últimos dias de vida. Nesse contexto, a apreciação do processo não é suficientemente célere, e ficam por contemplar o estabelecimento de prioridades, baseados por exemplo no grau de complexidade do caso e posterior priorização do internamento. A rigidez de funcionamento e falta de formação específica de vários elementos dentro da estrutura da RNCCI, com circuitos de comunicação que não se adaptam à rápida evolução clínica da maioria dos doentes em causa, dificulta a articulação entre os diferentes intervenientes, gerando erros de comunicação e atrasos graves na referenciação. Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 5 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos 2. Dificuldades no acesso a fármacos essenciais para o controlo sintomático. Verifica-se que as equipas que não estão inseridas em hospitais têm muito mais dificuldade no acesso a fármacos imprescindíveis do que aquelas que podem aceder à farmácia hospitalar. Os protocolos estabelecidos com a Unidade de Missão Para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), e depois de múltiplas chamadas de atenção para a importância deste facto, não acautelam este fornecimento, condicionado nalgumas situações a impossibilidade em admitir utentes (como aconteceu por exemplo, na Unidade de Nossa Senhora da Paz, na Cova da Piedade). São as equipas que, na prática diária, tentam ultrapassar todo um conjunto de obstáculos e de burocracias que a própria Unidade de Missão e as ARS’s se deveria encarregar de resolver. Verifica-se também que, por exemplo na equipa comunitária do Algarve, existem restrições no acesso a fármacos fundamentais (opióides e outros), porque, por desconhecimento, a respectiva Equipa Coordenadora Regional de C.Continuados não entende que sejam necessários, tendo colocado entraves a todo o processo. Saliente-se que, no caso dos doentes com necessidades de cuidados paliativos na comunidade, se continuam a verificar situações de desigualdade no acesso aos opióides, no que toca à sua comparticipação, havendo ainda um número razoável de pessoas que têm que pagar para ter os seus sintomas controlados. 3. Dificuldades em preencher as vagas disponíveis para cuidados paliativos, nas unidades ligadas à RNCCI. Esta situação anacrónica – que faz com que haja vagas disponíveis, quando é sabido da escassez de respostas para as necessidades de cuidados paliativos existentes no nosso país, objectivada pela existência de uma lista de espera para internamento - foi explicada pelos diferentes responsáveis como relacionando-se com a falta de formação efectiva em cuidados paliativos das Equipas Coordenadoras Locais (ECL), Equipas de Gestão de Altas (EGA) e as próprias Equipas Coordenadoras Regionais (ECR) da RNCCI, que não sabem ainda como e que tipo de utentes referenciar para este tipo de unidades. Continua a existir o enorme equívoco de que só vão para as Unidades de Cuidados Paliativos os que estão a morrer, bem como que não é suposto ter-se alta de uma Unidade deste tipo, desconhecendo-se que há muito mais doentes que os moribundos que deveriam ter mais precocemente acesso a estes cuidados e que há diferentes tipologias de doentes em cuidados paliativos. Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 6 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos Foram apresentados testemunhos que referem que utentes falecem antes de dar entrada nas unidades ou no transporte antes de chegar às mesmas, devido à referenciação muito tardia de doentes, que já se encontram então numa fase agónica. 4. Dificuldades em dar alta aos utentes internados em unidades da RNCCI. Aparentemente não foi prevista a possibilidade de dar alta a estes utentes, pelo que o seu retorno para o domicílio está limitado pela dificuldade em assegurar a continuidade de cuidados, relacionado com a falta de equipas comunitárias de cuidados paliativos e de resposta no domicilio por parte dos Centros de Saúde, mas também com a dificuldade em colocar alguns doentes em Unidades de média e longa duração. Esta situação remete para uma solução indesejável de admissão em serviços de urgências aquando de agudizações pós-alta e de internamento em hospitais de agudos, cujos profissionais têm falta de preparação para dar continuidade aos cuidados necessários. Relembrou-se que a continuidade de cuidados é um dos pilares da Rede. Verificou-se ainda que os poucos doentes que tiveram alta de unidades de cuidados paliativos da RNCCI, não têm qualquer tipo de prioridade em futuras re-admissões, em caso de agudização da sua situação clínica, ficando a aguardar a admissão, como se de um novo utente se tratasse. Mais uma vez a continuidade de cuidados está fortemente comprometida. 5. Confusão por parte de muitos responsáveis das ECL e ECR entre cuidados paliativos e cuidados continuados. Este grave equívoco reflecte-se na referenciação de utentes, com prejuízo manifesto para os mesmos. Há utentes colocados nas diferentes respostas da Rede com necessidades de cuidados paliativos que, por via deste erro, são enviados para os serviços de urgência, ou para as outras tipologias de cuidados continuados, verificando-se que, nesses recursos, os profissionais não sabem como responder correctamente e em tempo útil aos problemas clínicos – e outros – que esses doentes apresentam. Compromete-se dessa forma a continuidade de cuidados, um dos pilares referidos como fundamentais na filosofia da Rede e em que deve assentar a qualidade de cuidados a oferecer a estes doentes. Verifica-se também que, por indicação dos responsáveis regionais com desconhecimento do que se passa no terreno, ocorre uma falta de critérios coerentes na selecção para actividades de formação dos elementos das equipas que integram a RNCCI, o que cria uma situação de desadequação e má rentabilização de recursos humanos motivados e formados. Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 7 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos 6. Remuneração inadequada dos elementos das equipas de apoio comunitário. A continuidade de cuidados faz pressupor que na comunidade devem existir mecanismos de resposta que não passem por enviar este tipo de doentes para os serviços de urgência aquando das principais crises sintomáticas. Ao não se prever a remuneração efectiva dos elementos que ficam de chamada em horário alargado, não são dadas condições de trabalho aos profissionais e, dessa forma, prejudicam-se sobretudo os doentes e as suas famílias. Outros problemas identificados têm a ver com a disponibilidade de meios importantes como é , por exemplo, o caso da ECR Algarve, que aparenta entender que a equipa de apoio comunitário não necessita de telemóvel para apoiar os doentes. Estes factos devem ser do conhecimento de todos e constituem forte preocupação para todos os presentes na reunião. Pensamos ainda que devem motivar tomadas de posição concretas por parte dos responsáveis máximos da Saúde em Portugal. Querendo não só apontar o problema mas também fazer parte da solução, foi gerado entre todos os presentes um consenso alargado para as seguintes medidas, consideradas como propostas fundamentais a ter em conta para a melhoria da assistência aos doentes em fim de vida. Foi sublinhado que, enquanto responsável máximo pela qualidade da prestação dos cuidados de saúde no país, compete ao Estado viabilizar medidas concretas (criação de infra estruturas e de postos de trabalho, com prestação de cuidados de qualidade reconhecida) estando a APCP, como sempre afirmou a Direcção, disponível para, na medida das suas responsabilidades e no que por vocação está estatutariamente definido, apoiar as estruturas interessadas no âmbito da Formação e Qualidade assistencial. 1. Formação específica em cuidados paliativos para as EGA, ECL e ECR, que constituem a RNCCI, dada por profissionais especializados e que trabalham e conhecem efectivamente esta realidade em Portugal. 2. Realização de estágios de trabalho com duração mínima razoável (entre 3-4semanas) para os responsáveis das equipas que já possuam formação avançada em cuidados paliativos sem prática demonstrada, existindo equipas nacionais reconhecidas internacionalmente que estão disponíveis para dar prioridade ao cumprimento dessas actividades. Os estágios em Portugal – e não prioritariamente no estrangeiro representarão seguramente uma medida de gestão mais eficaz dos limitados recursos postos aos dispor desta importante área da saúde 3. Criação de um mecanismo específico de referenciação para os cuidados paliativos da RNCCI, com explicitação dos critérios de inclusão e Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 8 Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos 4. 5. 6. 7. 8. referenciação, à imagem do que consta do boletim de referenciação que foi sugerido pela equipa da Idanha. Flexibilidade e agilidade na transferência de utentes dentro da RNCCI, entre as diferentes tipologias de internamento conhecidas e na carência evidente de equipas de apoio comunitário já constituídas. Criação de prioridade para utentes com história de internamentos anteriores em unidades da RNCCI, aquando de episódios de agudização (os utentes perdem a vaga, após 24 horas da alta, passando para o fim da lista de espera, em caso de necessidade de reinternamento). Maior agilização nos contactos dentro da RNCCI, entre as equipas, de forma a priorizar as admissões, privilegiando-se os contactos directos entre os profissionais que cuidam dos doentes. Criação de critérios e standards de qualidade para as estruturas de cuidados paliativos (lembrando que já existem os que a APCP adaptou de organizações congéneres), por forma a garantir critérios rigorosos de funcionamento, que não comprometam a eficácia dos cuidados prestados e a Dignidade das pessoas que os recebem. De acordo com o que foi tratado à parte em assembleia geral de sócios e que será alvo de outro comunicado mais detalhado, entendeu-se que a APCP, enquanto organização de profissionais que se dedicam aos cuidados paliativos, deve ser parceiro formal privilegiado a ser ouvido regularmente no acompanhamento das actividades da Rede, o que lamentavelmente e por omissão grave não tem acontecido, nem está para já previsto. No final da reunião foi sublinhado que a Direcção da APCP não tem nem nunca teve qualquer posição formal contrária à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e que a principal preocupação dos profissionais que integram a APCP se prende com a acessibilidade e efectiva qualidade dos cuidados prestados, por forma a não defraudar os naturais e legítimos direitos das populações, para dar cumprimento aos objectivos consignados nos estatutos da associação e para contribuir para a Dignidade dos que sofrem. No encerramento da reunião, foi solicitada autorização para divulgar os resultados da mesma, tornando público o presente documento, afirmando-se que todos os presentes são co-responsáveis pelas conclusões apresentadas. Agradecendo-se de novo a presença de todos, deu-se por concluído o encontro. Lisboa, 30 de Janeiro de 2008 A Direcção da APCP Reunião de Equipas de Cuidados Paliativos - 2008 9