1 Lívio Lima de Oliveira INDÚSTRIA EDITORIAL E GOVERNO FEDERAL: O CASO DO PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA (PNBE) E SUAS SEIS PRIMEIRAS EDIÇÕES Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, Área de Concentração Interfaces Sociais da Comunicação, Linha de Pesquisa Políticas e Estratégias de Comunicação, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Doutor em Comunicação, sob a orientação da Profa.Dra. Maria Otília Bocchini. São Paulo 2008 2 BANCA EXAMINADORA Profa. Dra.__________________________________________________________________ Instituição ____________________________ Assinatura: ___________________________ Profa. Dra.__________________________________________________________________ Instituição ____________________________ Assinatura: ___________________________ Profa Dra.___________________________________________________________________ Instituição ____________________________ Assinatura: ___________________________ Prof. Dr. ___________________________________________________________________ Instituição ____________________________ Assinatura: ___________________________ Prof. Dr. ___________________________________________________________________ Instituição ____________________________ Assinatura: ___________________________ 3 Dedico este trabalho Aos meus pais, pelo carinho e incentivo Aos meus amigos, pela paciência e força À Maria Otília, pela luz e orientação D(edicação) A(mor) reN(ascimento) 4 Agradeço à professora Alice Mitika Koshyama, por acompanhar minha pesquisa com muita atenção e carinho às queridas professoras Adriana Barroso e Elizabeth Gonçalves, pela confiança e companheirismo 5 ESCOLA JOGA 400 LIVROS NO MEIO DA RUA Moradores da Vila Zelina, na Zona Leste, encontram livros de autores como Machado de Assis e Guimarães Rosa amontoados em sacos de lixo. Eles foram descartados pela Escola Municipal Ruth Lopes. (manchete do Jornal da Tarde, sexta-feira, 01/02/2008). 6 RESUMO Este trabalho pretende analisar os complexos processos de seleção, avaliação e execução nas seis primeiras edições do Programa Nacional Biblioteca da Escola ( PNBE), no qual se entrelaçam como atores principais a Secretaria de Educação de Infantil e Fundamental (SEB) do Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e parcelas da indústria editorial brasileira. A metodologia utilizada nesta pesquisa envolveu um exame detalhado de documentos oficiais, a comparação entre eles e o cotejamento com falas oficiais, a coleta e a apreciação de literatura convergente com o tema provenientes do campo acadêmico, de áreas técnicas de editoração e de setores da indústria editorial. O estudo proposto se justifica, entre outras ações, por tentar desvendar elementos que permitam analisar o uso do dinheiro público, uma vez que a verba para esse programa foi aumentando de edição a edição (de 23,5 milhões em 1998 a mais de 110 milhões em 2003), além de ampliar o campo do conhecimento na área, considerando, sobretudo, a da indústria editorial brasileira e suas relações com o governo federal, seguramente o seu principal cliente. PALAVRAS-CHAVE PNBE, FNDE , MEC -SEB, indústria editorial, políticas públicas 7 ABSTRACT This paper seeks to examine the complex processes of selection, evaluation and implementation in the six first editions of Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Main actors in this process are Secretaria de Educação de Infantil e Fundamental (SEB), Ministério da Educação (MEC ), Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ( FNDE) and part of the Brazilian publishing industry. The methodology used in this study involved a detailed examination of official documents, the comparison among them and in comparison with official speechs, search and valuation of convergent bibliography. The proposed study is justified, among other actions, for trying to find out evidences to examine the use of public money, because the money for this program was increasing edition of the publication (of R$ 23,5 million in 1998 to more than R$ 110 million in 2003), in addition to expanding the field of knowledge in the area, considering particularly to the Brazilian publishing industry and its relations with the federal government, certainly your main client. KEYWORDS PNBE, FNDE , MEC -SEB, publishing industry, publical policies 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1: página do volume Era uma vez um conto, pág. 128. Figura 2: exemplares do livro A arca de Noé, de Vinicius de Moraes, pág. 131. Figura 3: exemplares do livro Odisséia, adaptado por Ruth Rocha, pág. 131. Figura 4: páginas centrais do volume As aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi, pág. 147. Figura 5: exemplar do volume O velho e o mar, de Ernest Hemingway, pág. 147. 9 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ABIGRAF Associação ABNT Associação Brasileira da Indústria Gráfica Brasileira de Normas Técnicas Abrelivros Associação Brasileira de Editores de Livros ABTG Associação Brasileira Tecnologia Gráfica AEILIJ Associação ALB Associação BNDES dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil de Leitura do Brasil Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CBL Câmara Brasileira do Livro CEALE/ FaE Centro CECIP Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita / Faculdade de Educação de Educação e Comunicação para o Desenvolvimento Humano COLE Congresso de Leitura do Brasil COMDIPE Coordenação-Geral CONSED Conselho Nacional de Secretários da Educação CTA Centro DIRAD de Estudos e Avaliação de Materiais dos Trabalhadores da Amazônia Diretoria de Administração e Produção (do FNDE) ECA-USP Escola ECT Empresa de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Brasileira de Correios e Telégrafos EJA Educação de Jovens e Adultos FAE Fundação de Assistência ao Estudante FAENAC Faculdade Editora Nacional FE-USP Faculdade FIA de Educação da Universidade de São Paulo Fundação Instituto de Administração FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNLIJ Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil 10 IDH Índice de Desenvolvimento Humano IEL-UNICAMP INEP Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INL Instituto Nacional do Livro INT Instituto Nacional de Tecnologia IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas ISBN International MEC Ministério da Educação MINC Ministério MOPE Manual Standard Book Number da Cultura de Orientação para Produção Editorial PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PNBE Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE/ESP Programa Nacional Biblioteca da Escola – Educação Especial PNBEM Programa PNLD Programa PNLEM Nacional Biblioteca da Escola – Ensino Médio Nacional do Livro Didático Programa Nacional do Livro Didático – Ensino Médio PNSL/BE Programa Nacional Salas de Leitura/Bibliotecas Escolares PROFA Programa de Formação de Professores Alfabetizadores PROINFO Programa Nacional de Informática na Educação PROMED Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio PROLER Programa Nacional de Incentivo à Leitura PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SNEL Sindicato Nacional dos Editores de Livros SEB Secretaria de Educação Básica 11 SEE Secretaria Estadual de Educação SEED Secretaria de Educação à Distância SEESP Secretaria de Educação Especial SEF Secretaria de Educação Infantil e Fundamental SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SICAF Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores SLL Secretaria do Livro e da Leitura SME Secretaria TCU Tribunal Municipal de Educação de Contas da União 12 LISTA DE TABELAS Evolução histórica do PNBE quanto a alunos beneficiados e recursos aplicados na ação, págs. 24 e 54. Dados estatísticos – Casa da Leitura, pág. 51. Dados estatísticos – Biblioteca do Professor e Biblioteca Escolar, págs. 52 e 162. Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) – Ensino Fundamental, págs. 54 e 115. Produção e vendas do setor editorial brasileiro (1998 a 2006), pág. 69. Programa Nacional do Livro Didático 2008 – Ensino Fundamental e Médio – Valores Negociados, pág. 91. Programa Nacional Biblioteca da Escola – Execução Orçamentária – 1998, pág. 113. Programa Nacional Biblioteca da Escola – Demonstrativo de Execução OrçamentárioFinanceira – 1999, pág. 118. Quantitativos de livros e coleções por editora – PNBE/2003, pág. 161. 13 SUMÁRIO Introdução, 15 Capítulo 1. PNBE : cinco edições do programa (1998-2002), em busca de uma identidade , 23 1.1 PNBE 1998 – acervo de livros e material de apoio para bibliotecas escolares, 25 1.2 PNBE 1999 – acervo de livros infanto-juvenis para bibliotecas escolares, 29 1.3 PNBE 2000 – formação continuada dos professores, 35 1.4 PNBE 2001 – doação de livros diretamente aos alunos: coleção “Literatura em Minha Casa”, para alunos de 4ª e 5ª séries, 38 1.5 PNBE 2002 – doação de livros diretamente aos alunos: coleção “Literatura em Minha Casa”, para alunos da 4ª série, 42 Capítulo 2. As práticas de aquisição de livros no início de nova gestão no governo federal, 47 2.1 Coleções “Literatura em Minha Casa” & “Palavra da Gente”, 48 2.2 Acervos para a “Casa da Leitura”, 51 2.3 Acervos para Bibliotecas do Professor e Escolar, 52 2.4 Conclusões preliminares acerca do PNBE, 53 Capítulo 3. O Programa Nacional Biblioteca da Escola sob o olhar da indústria editorial e de outros campos de interesse, 56 3.1 A visão dos representantes da indústria editorial: CBL e SNEL, 60 3.2 A visão de pesquisas acadêmicas, 73 3.3 A visão dos responsáveis pela criação do “Literatura em Minha Casa”, 87 3.4 A visão do Tribunal de Contas da União, 100 3.5 Segredos, contradições e indicadores de desperdício, 104 14 Capítulo 4, Exigências de projeto gráfico específico para os acervos do PNBE e suas implicações de custo nos livros, 106 4.1 As duas primeiras edições (1998 e 1999), 108 4.2 PNBE 2001: a coleção “Literatura em Minha Casa” formatada para reduzir custos, 120 4.3 PNBE 2002: possíveis melhoras nas exigências de projeto gráfico da coleção “Literatura em Minha Casa” e manutenção dos lucros da indústria editorial, 139 4.4 PNBE 2003, ampliação do público e dos lucros da indústria editorial, 150 Considerações finais, 165 Referências Bibliográficas, 170 Anexos, 176 15 INTRODUÇÃO Este trabalho analisa os processos de compra de livros nas seis primeiras edições (1998-2003) do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), no qual se entrelaçam, como atores principais a Secretaria de Educação de Infantil e Fundamental (SEF )1 do Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e parcelas da indústria editorial brasileira. O objetivo do trabalho é procurar esclarecer as relações entre esses principais atores envolvidos, relacionar a qualidade editorial-gráfica ao custo dos livros adquiridos, delinear o rumo das alterações de edição para edição do PNBE , dialogar com as visões de diferentes campos de interesse sobre o tema, contribuir com a compreensão do objeto a partir do ângulo dos processos editoriais e opinar embasadamente sobre a correção ou não do uso do dinheiro público no programa e sobre as linhas gerais desse programa governamental de compra de livros num cenário de início de internacionalização de setores da indústria editorial. Pretendemos também estabelecer sentidos de análise que permitam estudos comparativos com as edições posteriores e sua avaliação. De 1998 a 2002, o público pretendido pelo programa era formado exclusivamente por alunos ou por professores das escolas públicas, ou seja, os livros adquiridos se destinavam ou ao acervo das bibliotecas escolares ou diretamente aos alunos dessas escolas. Em 2003, o PNBE contemplou simultaneamente esses dois grupos, quando foram adquiridos livros para os alunos e para os professores, além de obras para compor os acervos das bibliotecas escolares2 . 1 A partir de 2005, a SEF passa a se chamar Secretaria de Educação Básica ( SEB). A temática considera a justificativa primeira da área de pesquisa em que está inserida (as interfaces sociais da comunicação), uma vez que “esta área estuda as trocas que a comunicação realiza com a sociedade civil e suas instituições, centrando suas preocupações nas condições econômicas de produção da cultura midiática; nas mediações culturais presentes nos mecanismos de produção da comunicação; nas políticas de comunicação e suas estratégias; na passagem da tradição para a renovação nos gêneros da cultura midiática”.Além disso, inserese também na segunda linha dessa área de pesquisa, intitulada, “Políticas e Estratégias de Comunicação”, já que o trabalho claramente “estuda as políticas e estratégias de comunicação no setor público, privado e nãogovernamental, contemplando estudos aplicados dos processos de comunicação administrativa, interna, 2 16 O Ministério da Educação concentra suas políticas públicas de leitura no Programa Toda Criança na Escola, cujas ações mais importantes expressam-se Programa Nacional Biblioteca da Escola, substituto do Programa Nacional Salas de Leitura (PNSL), que vigorou de 1984 a 1996. O Programa Nacional Biblioteca da Escola foi instituído em 28 de abril de 1997, pela portaria n° 584 do MEC (v. Anexo 1), na gestão do ministro Paulo Renato Souza. As principais atribuições do PNBE, segundo a portaria, partiram da “necessidade de oferecer aos professores e alunos de ensino fundamental um conjunto de obras literárias e textos sobre a formação histórica, econômica e cultural do Brasil, além de obras de referência” e da “importância de apoiar técnica e materialmente os programas de capacitação para docentes que atuam no ensino fundamental”. A importância de um programa desse porte é inquestionável, uma vez que o país é carente de bibliotecas e de livrarias e o nível de renda impede a compra de livros por boa parte da população brasileira. Entre as características principais do PNBE, segundo a portaria que o instituiu, estão incluídas: aquisição de obras de literatura brasileira, textos sobre a formação histórica, econômica e cultural do Brasil, e de dicionários, atlas, enciclopédias e outros materiais de apoio e obras de referência; produção e difusão de materiais destinados a apoiar projetos de capacitação e atualização do professor que atua no ensino fundamental; apoio e difusão de programas destinados a incentivar o hábito de leitura e produção e difusão de materiais audiovisuais e de caráter educacional e científico. Os recursos para a viabilização desse programa estão assegurados pelo MEC nos orçamentos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. E, de fato, a partir de 1998, o PNBE vem distribuindo livros para alunos do ensino fundamental. A partir de 2003, engloba também o módulo “Educação de Jovens e Adultos” (EJA ), passando a distribuir para adultos que estão matriculados em cursos de alfabetização nas escolas públicas brasileiras. O programa está ligado à Coordenação-Geral de Estudos e Avaliação de Materiais (COMDIPE) da Secretaria de Educação Básica (SEB ) anteriormente chamada Secretaria de institucional e mercadológica, analisadas sob a perspectiva de uma filosofia da comunicação integrada e dos princípios da ética e da responsabilidade social e da inclusão social de classes sociais, de gênero e de etnias”. 17 Educação Infantil e Fundamental, departamento que atua na execução e no acompanhamento de dois grandes programas: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)3. Ambos são “desenvolvidos em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)” e é responsabilidade da SEB coordenar o processo de avaliação de livros didáticos, de literatura, de referência e de apoio à pesquisa a serem distribuídos aos alunos e às escolas públicas do ensino fundamental 4 . Os dois programas apresentam características bastante semelhantes no que se refere à relação entre editoras e Ministério para negociação e compra dos livros didáticos e paradidáticos. Todas as edições do programa têm alguns critérios semelhantes e o principal deles é a utilização do Censo Escolar para definir o número de livros a ser adquirido pelo PNBE. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), órgão responsável por tal estatística, o censo escolar coleta anualmente informações sobre a educação básica, abrangendo todas as suas etapas/níveis (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e modalidades (ensino regular, educação especial, educação de jovens e adultos e educação profissional de nível técnico). É uma pesquisa declaratória respondida pelo (a) diretor (a) ou responsável de cada estabelecimento escolar. Normalmente, o formulário é enviado para as escolas de todo o país no mês de março. O Censo coleta um amplo conjunto de informações sobre matrículas, funções docentes, estabelecimentos, turmas, rendimento e movimento dos alunos e transporte escolar. Todos os dados são desagregados por etapa/nível e modalidade de ensino, por dependência administrativa das escolas e por UF. O Censo proporciona um retrato detalhado do sistema de educação básica. As informações primárias geradas pelo Censo e as taxas calculadas a partir delas constituem subsídio indispensável para formulação, implementação e avaliação das políticas educacionais das três instâncias de governo (União, Estados e Municípios). Os dados sobre matrículas servem, ainda, como parâmetro para os programas federais de apoio ao desenvolvimento da educação básica e para o cálculo dos coeficientes de distribuição dos recursos do FUNDEF. (http://www.inep.gov.br/basica/censo/default.asp, acesso em 31/07/2006). O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação é uma autarquia vinculada ao Ministério da Educação, e foi criado pela Lei nº 5.537, em 21 de novembro de 1968. Em seu portal, o FNDE define sua missão e mostra seus valores: [...] tem como missão prover recursos e executar ações para o desenvolvimento da Educação, visando garantir educação de qualidade a todos os brasileiros. O FNDE tem como valores a transparência, a cidadania e o controle social, a inclusão social, a avaliação de resultados, e a excelência na gestão. Entre 3 A SEB coordena também outros programas de livros, como o PNLEM (Programa Nacional do Livro Didático – Ensino Médio, instituído em 2004) e o PNBEM (Programa Nacional Biblioteca da Escola – Ensino Médio, instituído em 2007), ambos distribuem livros didáticos e paradidáticos para alunos do ensino médio. 4 http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=193&Itemid=571, acesso em 31/07/2006. 18 seus principais desafios estão a eficiência na arrecadação e gestão do salário-educação (maior fonte de recursos da educação fundamental), na gestão dos programas finalísticos e nas compras governamentais, além da busca permanente de parcerias estratégicas e do fortalecimento institucional. [...] O FNDE também libera recursos para diversos projetos e ações educacionais, como o Brasil Alfabetizado, a educação de jovens e adultos, a educação especial, o ensino em áreas remanescentes de quilombos e a educação escolar indígena. (http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=/fnde/missao_obj.html, acesso em 26/08/2006). Em seu Relatório de Atividades 1997 (publicação anual da autarquia), Além das atribuições originalmente conferidas ao FNDE quando da sua criação à Autarquia foram transferidas, por força do disposto no art. 18, inciso VIII , aliena “c”, da Medida Provisória nº 1.549-27, de 14 de fevereiro de 1997, as atribuições da Fundação de Assistência ao Estudante – FAE, extinta por força do disposto do art. 19, inciso VIII, aliena “d”, do mesmo diploma legal ( FNDE, 1998: 6). No mesmo portal, o FNDE ainda define que seus recursos são “direcionados aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios e organizações não-governamentais para atendimento às escolas públicas de educação básica”. Além do PNBE, outras ações regulares e periódicas da autarquia são o Programa Dinheiro na Escola, o Programa Nacional de Saúde Escolar, os programas de transporte escolar, o Fundescola, o Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio ( PROMED) e o Escola Aberta. O Brasil já é o oitavo maior produtor de livros no mundo, graças, principalmente aos programas do governo federal de compra e distribuição de livros didáticos e paradidáticos. O interesse de grupos estrangeiros nas áreas editorial e gráfica é crescente e algumas das grandes editoras e das gráficas brasileiras já foram adquiridas por grupos estrangeiros 5 interessados nesse volume de negócios. Esse é um aspecto importante que, por si só, mostra a pertinência do estudo. Ao governo federal, no papel de principal cliente da indústria editorial brasileira, compete forçar para conseguir a melhor qualidade e os menores preços. Os editores, no papel de fornecedores, reclamam de que a negociação não é justa para eles. Embora satisfeitos com os negócios, setores da indústria tendem a pintar como conflituosa sua relação com o governo. 5 No caso das editoras, temos como exemplo a Moderna (que hoje faz parte do grupo espanhol Santillana. No caso das gráficas, temos o Círculo do Livros, a Hamburg (ambas hoje pertencem à norte-americana RR Donnelley) e a Melhoramentos (que hoje é da canadense Quebecor). 19 Classificando o governo como negociador duro, podem estar apenas querendo evitar eventuais interpretações negativas acerca do bom uso do dinheiro público. O estudo proposto se justifica, entre outras ações, por tentar desvendar elementos que permitam analisar objetivamente o uso do dinheiro público em um programa em que os recursos aumentaram significativamente R$ 23,5 milhões, em 1998, a R$ 110,7 milhões, em 2003. A maneira como cada edição do PNBE é apresentada nos editais e como suas coleções são selecionadas, nos dá margem a diversas hipóteses, relacionadas às negociações entre o governo federal e a indústria editorial, à qualidade dos livros adquiridos pelo programa e aos processos de avaliação e seleção dos títulos adquiridos: - o programa parece atender mais os interesses da indústria editorial brasileira (sobretudo as grandes editoras) que os do público a que se destina (professores e alunos), favorecendo, assim, determinada parcela dessa indústria. Os prováveis mecanismos desse favorecimento são: o algumas das exigências dos editais direcionam os prováveis vencedores, uma vez que somente algumas editoras atendem tais exigências; o os critérios para a formação de comissões técnicas de seleção e avaliação são variáveis; o avaliadores seguem critérios de avaliação e seleção pré-construídos; o expressões vagas dos editais e dos pareceres permitem praticamente que qualquer escolha seja feita; - a maioria dos livros selecionados não obedece aos critérios de programação visual considerados apropriados à boa editoração; - exigências técnicas ou omissões dos editais denunciam desconhecimento de pesquisas sobre legibilidade visual e de saberes básicos da produção gráfica; 20 - há uma piora injustificável de qualidade com intuito de baratear os custos de produção dos livros; - uso de critérios estatísticos acabam excluindo as escolas com poucos alunos, ou seja, nem todo o público a quem deveriam ser destinados os livros acaba recebendo as coleções; - o acesso aos pareceres é parcial e - há deficiências relacionadas ao uso efetivo dos livros. Considerando a especificidade do objeto, muito empenho foi dedicado à busca, ordenação e análise de extensa documentação oficial, em busca de compreender, inicialmente, a face pública do PNBE, desde o início do processo até a etapa de exame das contas públicas. Entre os documentos oficiais contam-se os editais de convocação das compras das coleções e as portarias ministeriais que listam (apesar de não haver regra para cada edição) quem selecionará e avaliará os livros, além de apontarem como e para quem serão distribuídos. Foram ainda coletados os relatórios de atividades do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e os relatórios de monitoramento do Tribunal de Contas da União. A documentação sobre o tema deveria incluir ainda exemplares dos livros adquiridos e daqueles rejeitados no processo de avaliação, mas há dificuldades de encontrar tais exemplares nas editoras (não há boa receptividade por parte das empresas para disponibilizar livros que fizeram parte de seleções de programas de governo, sobretudo aqueles que não foram aceitos) e no próprio FNDE . Há, nas dependências da autarquia (no andar térreo), uma biblioteca bastante precária que, surpreendentemente, não tem exemplares de todos os livros que foram selecionados e adquiridos pelo programa. Assim, há também uma dificuldade ainda maior para uma verificação independente de alegados critérios de seleção. Essas dificuldades levaram a abandonar outras possibilidades de análise que pareciam viáveis no início da pesquisa: realização de entrevistas no MEC e consulta aos editais de 21 licitação para levantar os critérios conceituais (subjetivos) e técnicos (objetivos) utilizados para a seleção das obras a serem compradas e distribuídas. Outras dificuldades foram o acesso tardio a certos documentos oficiais como o seminário da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ ) que não está no site da fundação, tampouco do MEC e sim no portal do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). A falta de acesso a certos documentos negociais, por razões obvias, também dificultou o trabalho. A metodologia utilizada nesta pesquisa envolveu um exame detalhado dos documentos obtidos, a comparação entre eles e o cotejamento com falas oficiais, a coleta e a apreciação de literatura convergente com o tema provenientes do campo acadêmico, de áreas técnicas de editoração e de setores da indústria editorial. Também coletamos e apreciamos discursos documentados de atores que fizeram parte de todo o processo de seleção e avaliação das obras do programa, além de nossa apreciação a partir de conhecimentos técnicos específicos6. A partir dessa metodologia propomos verificar as hipóteses citadas anteriormente. Assim, o trabalho que apresentamos agora contempla um histórico preliminar das seis primeiras edições do PNBE (1998, 1999, 2000, 2001, 2002 e 2003). O capítulo 1 contempla as cinco primeiras edições do PNBE (de 1998 a 2002). Esse histórico, que se completa no capítulo 2 (com o PNBE /2003), nos permitiu constatar que nesse início de percurso o programa ainda buscava sua identidade quanto à questão do acervo e de públicos e usos pretendidos. O capítulo 3 traz uma apresentação e apreciação da literatura sobre o tema. O que justifica sua apresentação apenas neste terceiro capítulo é que, por seu perfil bastante técnico, seria melhor compreendida após algum detalhamento das edições do 6 PNBE. O tema deste Tais conhecimentos foram adquiridos ao longo do tempo, começando com a graduação em Produção Editorial na ECA-USP , passando pelo mestrado, defendido em 2002 na mesma instituição e intitulado O livro de preço acessível no Brasil: o caso da “L&PM Pocket”. Além disso, contamos também com a experiência de doze anos como produtor gráfico no mercado editorial brasileiro, como professor nos cursos de Produção Editorial, Publicidade e Propaganda e Letras e como pesquisador da linha de pesquisa “Políticas e Estratégias de Comunicação” do núcleo “Interfaces Sociais da Comunicação”, também da ECA-USP. 22 estudo aborda um processo histórico recente e, em conseqüência, a bibliografia sobre ele ainda é escassa, mas levantamos alguns pontos de vista sobre o PNBE que nos possibilitaram mostrar o posicionamento dos principais atores envolvidos com a questão. No capítulo 4, analisaremos o programa a partir de algumas especificações técnicas mínimas exigidas em seus editais de convocação. Mostraremos que algumas delas são injustificáveis e até inadequadas, considerando o público pretendido pelo programa. Além disso, apresentaremos os custos das editoras e suas respectivas margens de lucro para avaliar se procedem ou não as constantes reclamações da indústria editorial no que diz respeito à negociação com o FNDE. 23 CAPÍTULO 1: PNBE – CINCO EDIÇÕES DO PROGRAMA (1998-2002), EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE Desde 1998, o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) tem selecionado, adquirido e distribuído obras de literatura e de referência, em substituição ao Programa Nacional Salas de Leitura/Bibliotecas Escolares (PNSL/BE)7, que vigorou de 1984 a 1996. Nas três primeiras edições do PNBE (1998, 1999 e 2000), o MEC distribuiu os livros apenas para formação de bibliotecas nas escolas de ensino fundamental ou materiais didáticos e paradidáticos com o intuito de aprimorar a formação pedagógica dos docentes das escolas de ensino fundamental. Nas três edições seguintes (2001, 2002 e 2003), ocorreu uma grande mudança: os livros (em coleções intituladas “Literatura em Minha Casa”) foram distribuídos para os próprios alunos levarem para casa e não para as bibliotecas daquelas escolas. Nessas edições, o Ministério abriu concorrência para a compra desses livros, logo avisando pelo edital que seriam escolhidas algumas coleções de quatro ou cinco livros cada. Ou seja, seriam compradas dezenas de títulos diferentes das editoras que ganhassem a licitação (o número de coleções e de exemplares varia de edição para edição e essa variação será detalhada adiante). Os livros foram distribuídos apenas para alunos do ensino fundamental (para os alunos de 4ª e 5ª séries em 2001, somente para os alunos de 4ª série em 2002 e para os alunos de 4ª e 8ª séries, bem como para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, em 2003). De acordo com a página do programa no portal FNDE, o funcionamento nessas edições foi o seguinte: 7 O PNSL/BE foi criado pela extinta Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), com o objetivo geral de “oferecer uma oportunidade alternativa ao trânsito do livro no circuito escolar através da criação de Salas de Leitura”, para possibilitar o acesso à leitura da literatura infanto-juvenil, de jornais e de revistas aos alunos do 1º grau [...] pretende “apoiar o professor a desenvolver no aluno o hábito da leitura, a intimidade e a relação com o livro”. Também figuram como proposta do programa a promoção e o financiamento da “criação de espaços alternativos para a acomodação desses livros nas escolas que não têm instalações apropriadas para uma biblioteca” e o “treinamento específico para os professores, estimulando-os a tratar a leitura na escola de forma mais criativa.” (Fernandes, 2004: 39-40). 24 FORMA DE EXECUÇÃO. As ações do PNBE são executadas pelo FNDE de forma centralizada, com o apoio logístico das escolas públicas, prefeituras e secretarias estaduais e municipais de Educação. INSCRIÇÃO. O edital estabelecendo as regras para a inscrição e avaliação das coleções de literatura é publicado no Diário Oficial da União e disponibilizado na Internet, determinando um prazo para a apresentação das obras pelas empresas detentoras de direitos autorais. SELEÇÃO DAS OBRAS. A avaliação e a seleção das obras são realizadas por um Colegiado instituído anualmente, com representantes do Conselho Nacional de Secretários da Educação – CONSED, da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, do Programa Nacional de Incentivo à Leitura – PROLER e de técnicos e especialistas na área de leitura, literatura e educação do Ministério da Educação e de universidades. AQUISIÇÃO. Após a definição das coleções e acervos e dos beneficiários da ação, o FNDE inicia o processo de negociação com as editoras. A aquisição é realizada por inexibilidade de licitação, prevista na Lei 8.666/93, tendo em vista os direitos autorais das obras. PRODUÇÃO. Concluída a negociação, o FNDE firma o contrato e informa os quantitativos e as localidades de entrega para as editoras, que dão início à produção dos livros, com supervisão integral dos técnicos do FNDE. QUALIDADE FÍSICA O FNDE firmou parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Esse instituto tem a responsabilidade de coletar amostras e analisar as características físicas dos livros, de acordo com normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas ( ABNT), normas ISO e de manuais de procedimentos de ensaio pré-elaborados. DISTRIBUIÇÃO. Dependendo do tipo de acervo e clientela beneficiária, a distribuição dos livros é feita pelo FNDE ou diretamente pelas editoras às escolas, por meio de um contrato firmado com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Essa etapa do PNBE conta com o acompanhamento de técnicos do FNDE e das secretarias estaduais de Educação. RECEBIMENTO . Os livros chegam às escolas e secretarias no primeiro semestre do ano letivo. Em se tratando de escolas das zonas rurais, são entregues na sede das prefeituras ou das secretarias municipais de Educação, que devem passá-los a essas escolas. (http://www.fnde.gov.br/programas/pnbe/index.html, acesso em 01/07/2006). Em seu Relatório de Atividades 2003 (FNDE: 54), o FNDE mostra a evolução histórica do PNBE entre 1998 e 2003. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PNBE QUANTO A ALUNOS BENEFICIADOS E RECURSOS APLICADOS NA AÇÃO (TABELA 44 – HISTÓRICO DO ATENDIMENTO – PNBE) ANO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 DESTINO DOS LIVROS CRITÉRIOS DE ATENDIMENTO Bibliotecas das escolas da 1ª à 8ª série com mais de 500 alunos Bibliotecas das escolas da 1ª à 4ª série com mais de 150 alunos Bibliotecas das escolas participantes do Programa Parâmetros em Ação Bibliotecas das escolas que oferecem a 4ª e a 5ª séries (quatro acervos completos, por escola) – todos os alunos de 4ª e 5ª séries (uma coleção) Bibliotecas das escolas que oferecem a 4ª série (um acervo completo, por escola) – todos os alunos da 4ª série (uma coleção) Literatura em Minha Casa – 4ª e 8ª séries; Palavra da Gente – 2ª fase do EJA; Casa da Leitura: Prefeituras; Biblioteca das escolas da 5ª à 8ª série; Biblioteca do Professor – Prof. alfabetizadores e da 1ª à 4ª série NÚMERO ESCOLAS 20 mil DE RECURSO 139 mil NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS 16,6 milhões de alunos 10,8 milhões de alunos Diversos profissionais de educação 8,5 milhões de alunos 126 mil 3,8 milhões 19,8 milhões 124,4 mil-4ª série; 35,6 mil - 8ª série; 10,9 mil - EJA; 20 mil - Biblioteca escolar 18,0 milhões alunos e 720 professores 136 mil 30,7 mil de mil 23,5 milhões 17,5 milhões 15,1 milhões 50,3 milhões 110,7 milhões 25 As cinco primeiras edições do PNBE, de 1998 a 2002, e suas principais características como tipos de acervo, público a que são destinados, comissões técnicas formadas para selecionar e avaliar os títulos, são descritas neste capítulo. Em 2003, o programa adotou outra sistemática e adquiriu e distribui mais livros que nos anos anteriores. Por isso, será detalhado no capítulo 2. 1.1. PNBE 1998 – ACERVO DE LIVROS E MATERIAL DE APOIO PARA BIBLIOTECAS ESCOLARES Na primeira edição do programa, em 1998, foram adquiridos livros para formação de acervos de bibliotecas escolares. O PNBE/1998 comprou 123 títulos, totalizando 215 volumes (v. Anexo 2), divididos em ficção (literatura brasileira, prosa e poesia), não-ficção (ensaios das ciências humanas), obras de referência (atlas, dicionários e enciclopédias) e materiais de apoio didático (globos terrestres). Esse acervo foi destinado a escolas que ofereciam, na época, o ensino fundamental completo, e tinham mais de 500 alunos8. Foram beneficiadas 20.000 escolas e 19.247.358 alunos (de 1ª a 8ª séries). O número total de exemplares comprados foi de 3.660.000 a um custo total de R$ 29.830.886,00. Especificações do edital A portaria nº 652, publicada no Diário Oficial da União de 20/05/1997, seção I, páginas 10350 e 10351 e assinada pelo então ministro Paulo Renato Souza, prevê a compra do acervo e o edital é publicado em agosto de 1997 e assinado por José Antonio Carletti, então 8 As escolas que receberam deveriam constar no Censo Escolar de 1996. Em cidades onde as escolas não atendessem a esse critério, foram consideradas as de maior número de alunos. O MEC recomendou ao FNDE que o acervo fosse aberto e disponibilizado à comunidade, mas parece quem em boa parte das escolas nem mesmo os professores e os alunos tinham informação a respeito de sua existência (Fernandes, 2004: 57) 26 secretário-executivo do FNDE. Nesse edital, consta o período de inscrição das obras pelas editoras e as diversas exigências necessárias para tal como, por exemplo, documentação da detenção dos direitos autorais e habilitação jurídica e fiscal. Cada editora detentora dos direitos autorais deveria enviar um exemplar de cada título selecionado à Gerência do Programa Nacional do Livro, do FNDE , para que servisse de base para comparação com os exemplares fornecidos posteriormente. Além do texto principal, o edital apresenta sete anexos. No primeiro, consta a relação de títulos que compõem o acervo e, no segundo, estão as especificações técnicas para a produção dos livros. No terceiro, temos a cópia do Diário Oficial da União, de 20/05/1997, na qual aparece a portaria supracitada. No quarto anexo, consta uma ficha cadastral (cada editora deverá preenchê-la para fazer parte do Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – SICAF). No quinto anexo, há a ficha da obra, com todas as especificações técnicas (título, autor, tipos de papel de miolo e de capa, tipos de acabamento e de impressão, formato e peso). Cada editora deveria preencher uma ficha para cada obra selecionada. O sexto anexo é a declaração, em papel timbrado da editora, de habilitação em contratar com a Administração Pública Federal, e, finalmente, o último anexo é a minuta do contrato desse edital de convocação. Nele aparecem todas as regras para a negociação dos títulos entre as editoras e o FNDE (o objeto, as obrigações, a publicação, os prazos, as condições técnicas, os recursos, o pagamento, as penalidades, a vigência, a cessão e transparência e o foro)9. 9 Essa minuta contempla ainda cinco anexos: - no primeiro, a relação das obras (cada editora deve enviar, confome o modelo do anexo, a lista de obras que fornecerá ao FNDE); - no segundo, temos as especificações técnicas de produção dos livros; - no terceiro, são apresentadas as duas possibilidades de logo do programa que deve constar na capa dos livros (um predominante azul e outro amarelo); - o quarto anexo trata da especificação de embalagem: depois de produzidos, os livros devem ser entregues em um depósito na região do bairro do Jaguaré (na capital paulista) em caixas de papelão fechadas com determinado tipo de fita adesiva, todas essas especificações técnicas acerca da embalagem constam nesse anexo e - no quinto e último anexo, consta a tabela de multas, seguindo padrão da ABNT , prevendo multas de 1 a 100%, dependendo do tipo de irregularidade. O FNDE verifica o cumprimento dessas especificações, “mediante a 27 Então, conforme o segundo anexo do edital, as editoras deveriam fazer algumas alterações de ordem técnica nos livros. Na capa, como de costume, deveria constar um selo (fornecido pelo FNDE, com os dizeres Ministério da Educação, FNDE, PNBE 1998, Venda Proibida) nas cores azul ou amarela. O papel do miolo deveria ser obrigatoriamente o ofsete 75 g/m2. Essas alterações de ordem técnica serão discutidas no capítulo 4. Processo de seleção dos títulos As obras do primeiro acervo não foram inscritas pelas editoras (como acontece no PNLD). Foram selecionadas por Alfredo Bosi, Cândido Mendes, Eduardo Portela, Lygia Fagundes Telles e Sérgio Paulo Rouanet, tendo como secretária-executiva da comissão Heloisa Vilhena de Araújo, da Assessoria Internacional do Gabinete do Ministro da Educação (Fernandes, 2004: 56). Para essa seleção, a comissão considerou obras “que proporcionem uma visão abrangente da sociedade brasileira e de sua formação, sob o ponto de vista histórico, econômico e cultural” (idem: ibidem). Os 215 volumes do acervo selecionados por essa comissão (v. Anexo 2) causaram bastante estranhamento, sobretudo em se tratando de formação de acervo para bibliotecas de escolas públicas de ensino fundamental. É importante notar que “constam do acervo em questão apenas obras de dois autores canônicos da literatura infanto-juvenil: um livro de poesia de Vinicius de Moraes e a coleção infanto-juvenil de Monteiro Lobato” (idem: 56-7) enfatiza que. Os outros autores são também bastante importantes, embora suas obras nada tenham a ver com a literatura infanto-juvenil, tampouco são de fácil leitura para o público em questão (alunos do ensino fundamental). realização de Controle de Qualidade, em qualquer tempo, durante a vigência do Contrato, com base no Plano de Amostragem por Atributos – NBR 5626/1977, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT , Nível de Inspeção 51 da Tabela I do Anexo A, Nível de Qualidade Aceitável=4,0; conforme a tabela 2 da citada Norma.” (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/1998, Anexo VII, Cláusula Sexta, 1997). 28 Há ainda outros pontos conflitantes na seleção desse acervo, a saber: “participam 26 editoras, número que pode ser considerado reduzido em relação à quantidade de títulos; figuram somente autores brasileiros, assegurando e aquecendo o mercado nacional; incluem-se obras de pessoas ligadas ou pertencentes à comissão, como é o caso de Memória e Sociedade de Ecléa Bosi (esposa de Alfredo Bosi), As Razões do Iluminismo de Sérgio Paulo Rouanet (no caso dessa obra, o estranhamento é ainda maior dada a especificidade do assunto e o fato de que não há a disciplina de filosofia no ensino fundamental) e Ciranda de Pedra de Lygia Fagundes Telles (ambos membros da comissão) e várias obras acadêmicas que exigem um elevado grau de entendimento (idem: 57). Nenhuma alteração textual foi solicitada nos livros, embora alguns itens do segundo anexo do edital, intitulado “Especificações Técnicas”, fizessem com que isso ocorresse, conforme mostraremos no capítulo 4 deste trabalho. Ações posteriores Constatou-se após a distribuição e algumas pesquisas que várias escolas não estavam utilizando os livros e os materiais de apoio distribuídos pelo PNBE/1998. Assim, para orientar as escolas e os professores na utilização desse material, a SEF enviou, em 2001, o Guia do livronauta, “com idéias para o melhor aproveitamento e organização dos espaços disponíveis nas bibliotecas escolares e sugestões de uso dos acervos na escola” (http://www.mec.gov.br/ sef/fundamental/avaliv.shtm#2h, acesso em 31/07/2006). Foram impressos 23 mil exemplares desse guia, cujo público-alvo era composto pelas secretarias de educação, professores e diretores de escolas. O curioso é que o guia foi editado e distribuído três anos após a distribuição dos livros. A organização não-governamental CECIP (Centro de Educação e Comunicação para o Desenvolvimento Humano) foi contratada para elaborar o Guia do livronauta. A coordenação ficou a cargo de Madza Nogueira. O desafio maior era “o que fazer para seduzir educadores e fazê-los utilizar aquele acervo em suas práticas pedagógicas?” (FNLIJ, 2002: 19). Assim, “o guia foi pensado para possibilitar escolhas de acordo com necessidades e interesses de um educador: as obras são situadas historicamente e são dados exemplos dos textos que ele 29 encontrará no livro em questão” (idem: ibidem). Uma das soluções encontradas pelo CECIP foi escolher a viagem, como metáfora para a utilização do acervo: A metáfora da viagem foi escolhida como possibilidade de seduzir o professor à uma exploração do material. O acervo começou a ser pensado como um planeta. O professor seria convidado a conhecer os continentes desse planeta: o continente da ficção, da não ficção, da poesia, um continente com as obras de Monteiro Lobato. Cada continente com regiões, com especificidades: histórias de amor, histórias do país, erotismo, humor. Possibilidades de escolha, como um guia turístico. Neste guia, cada livro é como uma cidade e dentro da cidade são dadas coordenadas para que a pessoa possa se localizar. São dados os pontos que podem ser interessantes de visitar e o professor tem a liberdade de escolhê-los. A publicação ganhou ilustrações de Claudius Ceccon, também do CECIP. Este livro pode ser utilizado em processos de formação continuada de docentes. Esta parte fundamental do guia permite que lideranças educacionais promovam oportunidades de diálogo e confronto de informações entre parceiros, momentos de verdadeira aprendizagem entre professores. Ainda há, para cada parte do livro, sugestões metodológicas (idem: 20). Ainda assim, o acervo continuou sendo pouco utilizado: É como um ciclo infinito: livros são enviados e as pessoas não os utilizam. Escreve-se um livro para que os livros sejam utilizados. Onde estará o rompimento do ciclo? Percebeu-se então que, por mais interessante que os materiais pedagógicos possam ser, eles só ganham vida se houver investimento no fator humano. Portanto, o Guia do livronauta sozinho não é nada. Só tem sentido dentro de um processo de capacitação. O professor precisa discutir sobre sua história de leitura, perceber como foi que começou a gostar de ler (ou a não gostar de ler). Este livro propõe oficinas de contato físico com o acervo, de maneira que o professor possa vê-lo e tocá-lo. O nome deste livro é Guia do livronauta: sobrevoando o tesouro da biblioteca e aterrissando na prática. Para uma aterrissagem bem feita, a publicação também inclui idéias de criação de clubes de leitura e de reflexões sobre como melhorar o uso dos acervos. Convida até mesmo a fazer um plano de ação para utilizar o acervo 98 no projeto pedagógico da unidade. Como não correr o risco de que 42 milhões de livros estejam apenas sendo distribuídos? É preciso obter um efeito duradouro e sistemático na melhoria da qualidade das aprendizagens na escola. Para isso, a escola como um todo deve ser uma instituição onde uns aprendem com os outros. (FNLIJ, 2002: 20). Como primeira edição, o PNBE/1998 apresentou acertos de ordem técnica (como exigência de matérias-primas de qualidade, por exemplo), mas deixou a desejar na seleção das obras, consideradas de difícil leitura para o público oficialmente pretendido (alunos do ensino fundamental) e na qualificação de pessoal para sua boa utilização. 1.2. PNBE 1999 – ACERVO DE LIVROS INFANTO-JUVENIS PARA BIBLIOTECAS ESCOLARES O PNBE/1999 é considerado um complemento ao de 1998. Nesse ano, foram adquiridas e distribuídas 109 obras de literatura infanto-juvenil para formação e/ou ampliação de acervos de bibliotecas escolares. Receberam as obras (v. Anexo 4) 36.000 escolas públicas, que 30 ofereciam as quatro séries iniciais do ensino fundamental e tinham, no mínimo, 150 alunos matriculados10. Foram beneficiados 14.112.285 alunos de 1ª a 4 ª séries (ou seja, cerca de 35% a menos de alunos que a edição anterior). O número total de exemplares comprados foi de 3.924.000 a um custo total de R$ 24.727.214,00. Processo de seleção dos títulos A maior parte dos livros, 105 títulos, foi selecionada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil uma vez que o acervo era destinado “ao público infantil e juvenil e ser esta uma conceituada instituição reconhecida nacionalmente nessa área”, segundo o Relatório de Atividades do Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE/99 (2000: 8). As quatro obras restantes eram voltadas às crianças portadoras de necessidades especiais e foram indicadas pela Secretaria de Educação Especial (SEESP ), do MEC. Para a seleção do acervo, a FNLIJ considerou os títulos que já tivessem recebido o selo da fundação chamado “Altamente Recomendadas e Premiadas”. Também foi considerada a variedade de gêneros, temas, escritores e ilustradores. Após a seleção, as obras foram avaliadas e escolhidas por especialistas de literatura infantil e juvenil (todos colaboradores da FNLIJ) que fizeram um parecer para os livros analisados. Há, na página virtual da fundação, a introdução aos pareceres que foram feitos na ocasião da seleção e da avaliação do acervo. Nela, cita-se que esses textos faziam parte de um relatório previsto no contrato de prestação de serviços assinado entre as duas fundações (FNLIJ e o FNDE ), em 15 de dezembro de 1998. 10 Segundo o Censo Escolar de 1999. Em cidades onde as escolas não atendessem a esse critério, foram consideradas as que apresentassem maior número de alunos. Mas é preciso “esclarecer que enquanto as propagandas e os documentos oficiais anunciam que nenhum município foi excluído pelos critérios de atendimento, as escolas com número menor do que o exigido acabam sendo. Ainda passa despercebido um importante critério presente na resolução do MEC /FNDE nº 008, de 23 de março de 1999, que exclui do atendimento as escolas “já contempladas com acervos compostos pelos títulos relacionados na Portaria nº 652, de 16 de maio de 1997”. Ou seja, embora os acervos sejam diferentes, não são cumulativos na mesma escola” (Fernandes, 2004: 57). 31 A seleção deverá ser feita entre as Obras Altamente Recomendadas e Premiadas, sendo que o principal critério de escolha será a qualidade do livro, observando-se, em iguais condições, texto, imagem e projeto gráfico. A escolha deverá ser realizada, de acordo com o estabelecido, abaixo: Ficção: Narrativa Clássica, Narrativa Contemporânea, Poesia, Teatro Não-Ficção: Narrativa Clássica, Narrativa Contemporânea, Poesia, Teatro Livros para Alfabetização (série inicial). O texto de todos os pareceres dos livros selecionados está no portal da fundação, que apresenta, ainda, um texto de apresentação do processo de seleção das obras avaliadas: A seleção dos títulos foi apresentada ao MEC sob a forma de um relatório detalhado do processo apontando os critérios que levaram à escolha dos mesmos. Cada título foi acompanhado de dois pareceres elaborados por especialistas de literatura infantil e juvenil votantes da FNLIJ. Considerando a qualidade e a importância desses pareceres, para que se tornassem de domínio dos professores, a FNLIJ solicitou autorização ao MEC para disponibilizá-los na Internet. No texto que disponibilizamos abaixo, buscamos sintetizar o relatório apresentado. Esperamos que esses pareceres contribuam para a formação leitora dos professores e chegue aos alunos por meio do seu trabalho. Ao utilizar a sua experiência no campo da seleção de livros, a FNLIJ iniciou a sua argumentação para proceder à seleção dos títulos, baseando-se em documentos internacionais e nacionais que defendem os direitos de acesso ao conhecimento da humanidade como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração dos Direitos da Criança, a Constituição Brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente. (http://www. fnlij.org.br/livros2/indice.html, acesso em 02/08/2006). Fernandes (2004: 59) atenta para certas imprecisões nos critérios “embora pareça que estejam todos muito bem explicados, poder-se-ia perguntar: o que seria considerado qualidade de texto, imagem e projeto gráfico pela FNLIJ?”. Aponta também o problema do número de pareceristas conforme aparece abaixo. Há uma predominância clara de especialistas do Rio de Janeiro. E não há pareceristas de todo o Brasil, apenas de alguns estados e do Distrito Federal. O relatório também contém outras informações e reflexões da FNLIJ sobre leitura, literatura infantil e bibliotecas, pois entendemos que esse trabalho não é somente uma seleção de livros, mas parte de um processo social maior e mais ambicioso: o de formar uma sociedade leitora. De cada livro escolhido pela FNLIJ foram elaborados dois pareceres pelos leitores votantes da seleção anual da FNLIJ, colaboradores de longa data. Participaram da elaboração dos pareceres 17 leitores de estados diferentes: Rio de Janeiro São Paulo Distrito Federal Minas Gerais Rio Grande do Sul Goiás Espírito Santo 10 01 01 02 01 01 01 Considerando as categorias dos Prêmios/ FNLIJ que atenderam aos critérios do FNDE a distribuição dos livros pode ser agrupada da seguinte maneira: 32 Total livros Nacionais Livros de Narrativa Livros de Poesia Livros de Imagem (sem texto) Livro Informativo Traduzidos Livros de Ficção e não ficção compreendendo os gêneros acima Total de % 49 15 6 46% 15% 5% 16 15% 20 19% 106 100% Os percentuais correspondem ao peso dos livros recebidos pela FNLIJ, o que por sua vez, reproduz, aproximadamente, a posição das categorias no mercado nacional. A variedade do acervo se expressa por meio dos vários temas tratados, pelas linguagens e estilos característicos de cada autor, pelos tipos de técnicas das ilustrações, dos diferentes projetos gráficos, do formato de cada livro, das várias expressões culturais, nacionais e internacionais, pela variedade de escritores e ilustradores, abarcando os clássicos e contemporâneos brasileiros e estrangeiros, além de várias editoras especializadas. Na presente seleção foram contempladas 41 editoras, 87 escritores nacionais, 19 escritores estrangeiros, 64 ilustradores nacionais, 16 ilustradores estrangeiros e 15 tradutores. Essa variedade visa a atender os interesses das crianças bem como provocar-lhes a curiosidade, democratizando uma pequena mostra da produção editorial brasileira de qualidade. Além disso, contempla os temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os autores dos pareceres analisaram as obras do ponto de vista da qualidade e da sua pertinência para uso nas escolas do ensino fundamental até a 4ª série, objetivando a formação inicial do leitor brasileiro, viabilizada pela escola através da biblioteca. Ao selecionar os livros, a FNLIJ considerou esse acervo como ponto de partida de uma coleção maior e mais completa na perspectiva de que seja ampliado e enriquecido ano a ano. Esperamos que essa coleção suscite na comunidade escolar o desejo de seu crescimento, mobilizando as secretarias de educação estaduais e municipais a investirem, também, na Biblioteca da Escola. (http://www.fnlij.org.br/livros2/pnbe.html, acesso em 02/08/2006). Especificações do edital Como no PNBE/1998, as editoras também deveriam fazer algumas alterações de ordem técnica nos livros. Na capa, era preciso aparecer o selo do programa (fornecido pelo com os dizeres Ministério da Educação, FNDE, PNBE FNDE , 1999, Venda Proibida) nas cores azul ou amarela. Mas os papéis de miolo e de capa deveriam ser idênticos aos da edição de mercado de cada um dos títulos. Nenhuma alteração textual foi solicitada nos livros. Nenhum outro aspecto do edital (ao contrário do que aconteceu anteriormente) pedia alterações que causassem não-conformidades no projeto gráfico dos livros. Assim, todo o seu conteúdo foi mantido integralmente. Se os livros fossem coloridos, deveriam ser produzidos 33 da mesma maneira, no mesmo papel e com o mesmo acabamento. Não houve nenhum tipo de padronização nesse sentido. De acordo com a terceira parte do Relatório de Atividades do Poder Executivo: Na operação de distribuição do segundo acervo, implantou-se um modelo logístico que proporcionou maior agilidade, segurança e confiabilidade na operação e no controle, assim como a embalagem utilizada, para acondicionar os livros que seriam remetidos às escolas beneficiadas – uma caixa-estante que serve tanto para o transporte como para a guarda dos livros na escola, suprindo deficiências constatadas quanto ao local apropriado para mantê-los. (Tesouro Nacional: C-28). Os livros foram entregues para as escolas em uma única embalagem (caixa-estante), “em formato de escola, especialmente desenvolvida por solicitação do FNDE” (FNDE, Relatório de Atividades 1999: 89): Embalagem do Acervo Uma das maiores preocupações do Ministério da Educação/FNDE, desde o início do processo de execução do PNBE /99, estava em como distribuir o acervo adquirido às escolas públicas do ensino fundamental, de forma eficiente, economicamente viável, rápida e confiável. Assim sendo, para garantir que todo o acervo chegasse o mais rápido possível às escolas, optou-se pela entrega em uma única remessa. Além de ser a forma mais barata de distribuição, asseguraria que todos os alunos teriam acesso, logo no princípio do ano letivo de 2000, ao acervo do PNBE/99. O desafia estava, portanto, em como embalar todos os exemplares em um recipiente resistente, com custo baixo e, principalmente, atrativo aos alunos e professores. A solução veio na criação de uma caixa-estante, em formato de escola, feita em papelão ondulado de alta resistência, que, além da função de portar todo o acervo do PNBE /99, facilitaria o deslocamento e a exposição do material nas salas de aula ( FNDE, Relatório de Atividades do Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE/99, 2000: 9). A solução é paliativa, uma vez que o acervo é composto por mais de cem títulos e, por mais que a caixa seja reforçada, o papelão tem durabilidade limitada. O simples manuseio contínuo causa danos à caixa. Outro problema é o peso. Sem dúvida tamanho acervo pesa dezenas de quilos, questionando-se, assim, o deslocamento fácil. O ideal seria que cada uma das escolas tivesse uma sala (que funcionasse como biblioteca) e, pelo menos, um profissional que se responsabilizasse pela administração e empréstimo dos livros. Ações posteriores Segundo o Relatório de Atividades 1999, a Fundação Prefeito Faria Lima, de São Paulo, teria elaborado para o FNDE , um software e dois manuais (um básico e um pedagógico) 34 para orientar quanto à utilização dos acervos pelas escolas. Os manuais (básico e pedagógico) foram produzidos “com o objetivo de complementar e promover a efetiva utilização dos acervos distribuídos pelo PNBE” (idem: 88). O primeiro (básico) era voltado ao responsável pela biblioteca e orientava quanto à organização, administração e utilização do acervo e o segundo (pedagógico) era destinado ao professor e continha “informações sobre os autores, estilos, movimentos literários e atividades a serem desenvolvidas com os alunos” (idem: ibidem), embora contemplasse apenas dados de 25 títulos do acervo. O software de gerenciamento de bibliotecas, em suporte CD -ROM, continha as informações dos manuais acima, divididos em três módulos e foi distribuído “a todas as escolas públicas contempladas no Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO, executado pela Secretaria de Educação à Distância – SEED/ MEC” (idem: 89). Os módulos desse CD-ROM são: módulo informativo: contendo instruções para instalação e informações sobre o acervo distribuído e o conteúdo literário; módulo apoio pedagógico:- com proposta de aulas interativas acerca de 25 títulos do acervo, a serem trabalhadas em sala de aula pelos professores; e módulo registro e gerenciamento de bibliotecas: destinado a auxiliar no gerenciamento da biblioteca e na coleta de dados que permitam a avaliação da eficácia do PNBE (idem: ibidem). Embora conste no Relatório de Atividades 1999 não tivemos acesso a esse material produzido. A Fundação Prefeito Faria Lima não o disponibiliza para consulta em sua sede (no campus da USP, no Butantã), tampouco pudemos consultar na biblioteca do FNDE e na SEF , já que esses órgãos também não dispõem de uma cópia. Em suma, o PNBE/1999 apresentou melhoras, já que disponibilizou obras que são, de fato, indicadas para o público pretendido (os alunos de 1ª a 4ª série). Mas persistem problemas de ordem estrutural, considerando o escasso número de escolas que dispõe de bibliotecas e até de computadores para a utilização do material preparado para o gerenciamento de bibliotecas. 35 1.3. PNBE 2000 – FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES O PNBE/2000 não distribuiu livros para as bibliotecas escolares, como foi feito em 1998 e 1999. A SEF resolveu produzir e distribuir materiais pedagógicos voltados a ações de formação continuada dos docentes das escolas que receberam os acervos de 1998 e 1999. Segundo Fernandes (2004: 59) “foram aplicados R$ 15.179.101,00 na produção e distribuição de 577,4 mil obras pedagógicas que beneficiaram os docentes de 30.718 escolas participantes do Programa Parâmetros em Ação” (Fernandes, 2004: 59). Dentre os materiais adquiridos para o programa, temos: Parâmetros Curriculares Nacionais, Referenciais de Educação Infantil e Proposta Curricular de Educação de Jovens e Adultos, módulos de formação continuada dos Parâmetros em Ação nas modalidades de Alfabetização, Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série) e Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) Volumes I e II; Kit “Ética e Cidadania no Convívio Escolar”; Kit “Índios no Brasil”; Revista Criança e Kit do Programa de Professores Alfabetizadores (Fernandes, 2004: 59)11 . Desse acervo, também fazem parte edições das revistas Nova Escola e Ciência Hoje das Crianças, além do manual de utilização do acervo do PNBE/1999 Histórias e histórias. Distribuição de revistas Os dois periódicos comprados pelo PNBE /2000 foram assim distribuídos: - Nova Escola, da Fundação Victor Civita: 1.532.180 exemplares, em dez edições (153.000 exemplares de cada edição), totalizando R$ 1.976.512,00 (R$ 1,29 por exemplar), considerando a seguinte distribuição: 11 Parte desse material está disponível no portal do mec (em formato pdf), no endereço http://portal.mec.gov.br/ seb index.php?option=content&task=view&id=557, acesso em 30/09/2007. 36 o escolas com número de matrículas entre 50 e 199 alunos: 1 exemplar o escolas com número de matrículas entre 200 e 599 alunos: 2 exemplares o escolas com número de matrículas a partir de 600 alunos: 3 exemplares o SEDUC (Secretarias Estaduais de Educação): 19 exemplares Relatório de Atividades 2000 (FNDE: 109). - Ciência Hoje para as Crianças – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC): 2.034.571 exemplares, em onze edições (185.000 exemplares de cada edição), totalizando R$ 2.136.300,00 (R$ 1,05 por exemplar), considerando a seguinte distribuição: o escolas com número de matrículas entre 100 e 199 alunos: 1 exemplar o escolas com número de matrículas entre 200 e 299 alunos: 2 exemplares o escolas com número de matrículas entre 300 e 499 alunos: 3 exemplares o escolas com número de matrículas entre 500 e 699 alunos: 4 exemplares o escolas com número de matrículas entre 700 e 999 alunos: 5 exemplares o escolas com número de matrículas a partir de 1000 alunos: 6 exemplares o SEDUC (Secretarias Estaduais de Educação): 20 exemplares (idem: ibidem). Manual Histórias e histórias A professora Marisa Lajolo foi convidada pela FNLIJ a elaborar um manual de utilização desse acervo, intitulado Histórias e histórias12. Segundo Luis Camargo, autor e ilustrador de obras infanto-juvenis, que também fez parte da equipe de confecção do manual, explica o estilo escolhido para a confecção do Histórias e histórias: Ao selecionar os livros, a FNLIJ considerou esse acervo como ponto de partida de uma coleção. A autora sugeriu a adoção do estilo de cartas. De caráter ficcional, eram cartas trocadas entre professores, que relatavam experiências com cada um dos livros do acervo. A FNLIJ recomendou que fossem incorporados trechos dos pareceres que serviram anteriormente para a recomendação dos livros. Como na maioria das vezes, a linguagem do parecer não combinava com a da carta, tais trechos foram incorporados como resenhas lidas, palestras assistidas ou cursos freqüentados pelo professor e ali mencionados como enriquecimento à experiência. Os pareceres encontram-se integralmente disponíveis na Internet para complementar a leitura iniciada nos trechos contidos nas cartas. Essas cartas fictícias foram construídas coletivamente por Marisa Lajolo e dez orientandas suas e existe a busca de relacionar o livro com o cotidiano escolar (FNLIJ , 2002: 21). Esse manual foi distribuído, um ano depois, para todas as escolas que receberam o acervo do 12 PNBE /1999, no intuito de auxiliar na utilização do acervo adquirido e distribuído Conforme aparece no item 16 da lista de publicações da professora, em seu currículo Lattes (http://buscatex tual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4783951Y7, acesso em 30/10/2007). 37 pelo programa. Ainda assim, houve críticas no sentido de capacitação de professores e na falta de pessoal para efetivação dessas ações. Ainda assim, Camargo conclui: A questão do acervo é necessária, mas não suficiente. A questão da capacitação e da formação docente é que se torna fundamental. Não basta só um profissional com história de leitura e entusiasmo se ele não tiver ferramentas para trabalhar. A educação é um tipo de arte que envolve também conhecimentos de técnicas, estratégias educacionais, familiaridade com ferramentas de ensino. Atualmente, quem está envolvido com a cultura precisa criar um papel híbrido. Ou melhor, se for cultural que seja também gerencial: administrativo, econômico, financeiro. Em um projeto em que se gasta R$ 20 milhões, não se pode ter uma visão só cultural. A questão administrativa passa a ser muito importante. Ao lado desse gerenciamento administrativo e financeiro é necessário o caráter pedagógico. A capacitação mobiliza o professor por um determinado tempo. Mas é como alimento, é preciso se alimentar periodicamente. Encontros regulares podem ser situações propiciadoras de desequilíbrio, elemento necessário no processo de conhecimento. É preciso desequilibrar e desafiar o educador a fim de que ele atinja um patamar mais amplo e elevado. O grande desafio é pensar como isso pode ser feito: mesclar recursos presenciais e à distância, a fim de dar acompanhamento pedagógico ao trabalho realizado pelo professor (idem: ibidem). Bárbara Heller, uma das orientandas da professora Marisa Lajolo que participou da confecção do manual Histórias e histórias, conta como foi o processo: Dez pesquisadores espalhados pelo Brasil – São Paulo, Porto Alegre, Campinas, Santos, Recife, Rio de Janeiro –, por meio de poucos contatos pessoais, mas muitos virtuais, trocaram suas experiências da leitura dos 111 livros que compõem o corpus de Histórias e histórias. [...] No lugar de exercícios voltados à interpretação, que raramente trabalham a multiplicidade de sentidos de um texto, propôs-se o gênero epistolar, já que este não só favorece um clima de intimidade entre narrador e destinatário, como também permite criar inúmeras situações ficcionais entre textos e leitores. Estabelecemos que, em todas as cartas, haveria a reprodução de trechos dos pareceres, pois eles expõem os critérios por meio dos quais aqueles livros, e não outros, foram selecionados para compor o acervo do PNBE /99. À medida que criávamos em nossos textos epistolares leitores fictícios, que tinham em suas mãos livros reais, comunicávamo-nos por meio do correio eletrônico. Assim, a troca das cartas ficcionais que elaborávamos, anexadas às nossas mensagens eletrônicas, permitiu-nos uma vivência epistolar moderna e contemporânea (Heller, 2002: 12). A maior parte das cartas destinou-se a professores, mas algumas previram diferentes destinatários: editores de material didático, autores de livros para crianças, especialistas de literatura infantil e juvenil. Projetamos, portanto, uma comunidade de leitores que, além de ultrapassar os limites da escola, prevê outros profissionais da leitura. Em outras palavras: o[a] professor[a], principalmente de Português, deixou de ser o único responsável pela divulgação da leitura (idem: 14). A metodologia adotada pela equipe de confecção do manual é bastante questionável, uma vez que constatamos que houve poucas reuniões presenciais, além de o material ter sido repartido entre diversas pessoas. Essa não é a melhor maneira de se editar um manual. Materiais como esse precisam ser confeccionados e editados por uma equipe que trabalhe, de fato, em conjunto. Como os textos foram escritos por diversas pessoas, é preciso que eles sejam preparados editorialmente antes de seu fechamento. Elizabeth D’Angelo Serra (presidente da FNLIJ) critica o material distribuído: 38 [...] Os Parâmetros Curriculares Nacionais, como orientação mínima nacional e não obrigatória, colocaram nas mãos dos professores de todo o país o símbolo da profissão – o estudo e a leitura de livros. A lacuna foi que o Ministério, ao produzir e distribuir as coleções, não considerou que os professores brasileiros não foram formados para ser leitores, estando a maioria despreparada para ler e estudar os PCN (Serra, 2003: 77). Em relatório de monitoramento, realizado em fevereiro de 2003, o Tribunal de Contas da União julga que manuais como o Histórias e histórias não são medidas, por si só, de melhora de utilização do acervo: Entre as providências adotadas, foi relatado o envio às escolas de manuais de apoio à organização dos livros na biblioteca e à sua utilização por professores e alunos, tais como o Guia do Livronauta, o Histórias e histórias e o Livro do Diretor. O conjunto de medidas apresentadas, contudo, não atendeu à recomendação. Assim, essa questão foi considerada pendente de implementação, com relação às seguintes medidas: elaboração de material com orientações específicas sobre a utilização de espaços físicos para atividades pedagógicas e de leitura, bem como formas de incentivo à utilização de livros paradidáticos; reformulação da cartilha desenvolvida em convênio com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; desenvolvimento de trabalho de leitura e fomento da utilização dos guias de apoio ao uso dos acervos em parceria com os programas Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN em Ação e Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – PROFA . Foi estipulado, como prazo para implementação, dezembro/2003. Assim, o PNBE/2000 parece ter se preocupado com as falhas dos de 1998 e 1999, embora Fernandes (2004: 60) apresente ressalvas em relação à adequação do material adquirido para o saber docente e à sua real circulação nas escolas públicas indicadas pelo programa. A autora aponta nas edições anteriores do programa “uma desorganização cronológica, pois o fato de o guia não ter sido distribuído junto com o acervo acarretou sérios prejuízos qualitativos”. 1.4. PNBE 2001 – DOAÇÃO DE LIVROS DIRETAMENTE AOS ALUNOS: COLEÇÃO “LITERATURA EM MINHA CASA”, PARA ALUNOS DE 4ª E 5ª SÉRIES Em 2001, a SEF mudou bastante a sistemática do programa. Ao invés de adquirir, distribuir e montar acervos para bibliotecas escolares, o programa privilegiou a doação de livros diretamente aos alunos. Para o PNBE /2001, foram destinados R$ 55,71 milhões para essa edição na aquisição de 12.184.787 coleções de cinco títulos cada, ou seja, 60.923.935 exemplares. O FNDE , em seu o Relatório de Atividades 2001, relata: 39 O PNBE/2001 veio com um novo enfoque. As coleções destinam-se aos alunos. Entretanto, as escolas também receberam quatro coleções para o seu acervo. O objetivo é estimular o gosto pela leitura visando à formação de bibliotecas domiciliares e, secundariamente, a introdução desses livros nos lares mais carentes, como forma de ampliar a utilização dos mesmos pelas famílias dos estudantes. ( FNDE, Relatório de Atividades 2001: 111). Os livros foram distribuídos para alunos de 4ª e 5ª séries do ensino fundamental (v. Anexo 5), das escolas públicas que ofereceram, no exercício de 2002, essas séries e constantes do Censo Escolar de 2001. Assim, temos um total de 139.119 escolas e 8,56 milhões de alunos beneficiados13. Especificações do edital O edital do PNBE/2001 foi publicado em 29 de agosto de 2001, assinado por Wilson Roberto Trezza (secretário-executivo substituto do FNDE) e Iara Glória Areias Prado (secretária de educação fundamental). Ao contrário dos anos anteriores, as editoras participaram ativamente da seleção das obras, uma vez que a elas foi solicitada uma coleção de cinco volumes, intitulada “Literatura em Minha Casa”, imaginando-se “um conjunto de obras que permitissem chegar à casa da criança e de sua família a representatividade da literatura brasileira” (FNLIJ , 2002: 28). Uma comissão técnica foi instituída pela Portaria nº 1958, de 30 de agosto de 2001, e era composta por Raquel Figueiredo Alessandri Teixeira (representante do Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED), Adeum Hilário Sauer (representante da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME), Elizabeth D’Angelo Serra (representante da FNLIJ ), Luiz Percival Leme Brito (representante da Associação de Leitura do Brasil – 13 ALB) e por técnicos especialistas na área de leitura, literatura e educação: Antonio Convém ressaltar que o montante R$ 55,71 milhões empregados em 2001 ultrapassou a duplicação de 1998/1999 e a triplicação de 2000 dos numerários orçamentários. [...] É interessante observar que, se, por um lado, aumenta o número de escolas beneficiadas, por outro lado, já que o novo critério de atendimento contempla somente alunos de 4ª e 5ª séries, o número de alunos diminui, aumentando-se significativamente os recursos empregados (Fernandes, 2004: 60). 40 Augusto Gomes Batista, Maria da Glória Bordini, Maria José Martins de Nóbrega e Andréa Kluge Pereira. Tal comissão foi presidida por Iara Glória Areias Prado (secretária de educação fundamental à época) e coordenada pela COMDIPE . (Fernandes, 2004: 61). Essa comissão instituiu que a coleção “Literatura em Minha Casa” deveria ser formada por cinco volumes de diferentes categorias (FNLIJ, 2002: 25): - primeiro volume: uma obra de poesias de autor brasileiro ou uma antologia de poetas brasileiros; - segundo volume: uma obra de contos de autor brasileiro ou uma antologia de contistas brasileiros; - terceiro volume: uma novela de autor brasileiro; - quarto volume: uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada e, finalmente, - quinto volume: uma peça teatral ou obra ou antologia de textos de tradição popular. Ainda segundo o edital, era preciso que cada coleção tivesse um total mínimo de 304 e máximo de 320 páginas, sendo que cada volume deveria conter, individualmente, no mínimo, 32 páginas. Ou seja, para participar dessa licitação, as editoras precisavam claramente ter em seu catálogo obras que privilegiassem todas as categorias acima para compor a coleção “Literatura em Minha Casa”. As editoras interessadas em participar dessa licitação deveriam apresentar ao FNDE , para apreciação da comissão técnica, “oito conjuntos de cada um dos cinco exemplares integrantes da coleção, em edição finalizada, devendo cada obra estar concluída com todos os textos em sua forma e paginação finais, de acordo com o Anexo I”14, segundo o edital. 14 Os títulos deveriam ser produzidos obedecendo às especificações técnicas do segundo anexo do edital e entregues em forma de coleções (cinco títulos formando cada uma), direto nas escolas selecionadas (o FNDE fornecia para cada editora a lista física e digital com os dados das escolas que deveriam receber os acervos). 41 Processo de seleção dos títulos Elizabeth D’Angelo Serra, em seminário promovido pela FNLIJ sobre o PNBE, contou alguns detalhes do processo de seleção e de como foi ter feito parte dessa comissão: - Não era escolha de livros do mercado. Tinha que se produzir alguma coisa que ainda não existia. Era defendida a idéia de o livro ser colorido. Mas foi preciso aceitar alguns pressupostos como, por exemplo, ser preto e branco por dentro. Isso incomodou a todos, mas era evidente que alguns fatores em relação ao formato, para uma produção gigantesca de 60 milhões de livros para distribuição, tinha a ver com os recursos. [...] - As representações (60 pessoas) eram mescladas e eram formadas duplas. Cada dupla lia de cinco a seis coleções. Havia uma ficha com um roteiro de fatores que definiriam a avaliação: a temática, o projeto gráfico, a textualidade, a autoria. Nenhuma editora estabeleceu contato ou fez interferências durante este processo. Foram dez dias em um hotel fazenda em Jundiaí, internados, lendo literatura, em função deste projeto. - Na primeira reunião, em São Paulo, foram apresentadas 35 coleções para que seis fossem escolhidas. Certamente outras, além dessas seis coleções, tinham condições de ser publicadas. Foi um ponto de questionar o porquê de não se abrir o processo para mais editoras. Isso foi firmado em um documento. (idem: ibidem). Aparentemente, o processo de seleção foi feito pela comissão técnica descrita no item anterior e essas 60 pessoas que Serra chama de “representações”. Das coleções apresentadas (36, segundo Fernando Coelho A. Silveira, representante da UNDIME na comissão e 35 segundo Elizabeth D’Angelo Serra) foram selecionadas seis (com os devidos cinco volumes cada) das editoras Ática, FTD, Moderna, Objetiva, Nova Fronteira e Companhia das Letrinhas (Fernandes, 2004: 62). Fernandes (2004: 62) aponta que os critérios aqui adotados são bastante parecidos com os adotados pela FNLIJ na edição de 1999 (segundo acervo). Além disso, também discorda dos títulos adotados, sobretudo se tentarmos adequá-los aos critérios de seleção e avaliação, já que temos autores como Vinicius de Moraes, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Angela Lago, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo, Maria Clara Machado, entre outros, ou seja, “os autores de prestígio reinam absolutos, inclusive sobre o critério da diversidade”. Há repetição de títulos em relação a outras edições do programa. É o caso da obra A arca de Noé (de Vinicius de Moraes, do PNBE/1998), além dos livros A formiguinha e a neve, 42 adaptada por João de Barro, Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado e Minhas memórias de Lobato, de Luciana Sandroni, que fizeram parte do PNBE/1999 e novamente foram selecionados como parte das coleções, embora os livros tenham apresentação física bastante diferente de sua versão de mercado, principalmente o formato e o projeto gráfico (Fernandes, 2004: 62). Considerando problemas como a falta de diversidade regional literária e a padronização gráfica dos livros, o programa que, pela primeira vez, distribui livros diretamente aos alunos acaba pecando no que se refere à qualidade literária, editorial e até comercial do livro, conforme detalharemos no capítulo 4 deste trabalho. 1.5. PNBE 2002 – DOAÇÃO DE LIVROS DIRETAMENTE AOS ALUNOS: COLEÇÃO “LITERATURA EM MINHA CASA”, PARA ALUNOS DA 4ª SÉRIE No PNBE/2002, a estrutura do programa foi mantida, continuando a distribuir obras (em coleções) diretamente aos alunos, neste caso somente os da 4ª série do ensino fundamental das escolas públicas que ofereceram, naquele ano, essa série (v. Anexo 6). O PNBE/2002 beneficiou 3.841.268 de alunos, de 126.692 escolas públicas. Foram selecionadas oito coleções (de cinco volumes cada), totalizando 4.216.576 coleções, ou seja, 21.082.880 exemplares de livros a um custo de R$ 19.633.632,00, conforme indica o Relatório de Atividades 2002 (FNDE: 65-6). Especificações do edital O edital de convocação do PNBE/2002 foi publicado em 25/04/2002 e assinado por Mônica Messenberg Guimarães (secretária-executiva do FNDE) e Iara Glória Areias Prado 43 (secretária de educação fundamental) (idem: 61). Como na edição anterior, as editoras participaram ativamente da seleção das obras, uma vez que a elas foi novamente solicitada uma coleção de cinco volumes, intitulada “Literatura em Minha Casa”. Não seriam aceitas obras selecionadas e adquiridas pelo PNBE/2001. A coleção deveria obedecer a características idênticas às do ano anterior: - primeiro volume: uma obra de poesia brasileira ou uma antologia poética brasileira; - segundo volume: uma obra de conto brasileiro ou uma antologia de contos brasileiros; - terceiro volume: uma novela brasileira; - quarto volume: uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada e, finalmente, - quinto volume: uma peça teatral ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira. Como no programa anterior, era preciso que cada coleção tivesse um total mínimo de 304 e máximo de 320 páginas, sendo que cada volume deveria conter, individualmente, no mínimo, 48 páginas. Assim, novamente só conseguiria participar dessa licitação editoras que fossem detentoras de um catálogo relativamente completo para poder abarcar as possibilidades supracitadas. Processo de seleção dos títulos A comissão técnica, instituída pela Portaria nº 1440, de 15 de maio de 2002, era praticamente a mesma do PNBE/2001 [...] alterando-se apenas com a entrada de Miriam Schlickmann no lugar de Raquel F. A. Teixeira, membro que representa a presidência do CONSED, e o acréscimo de Robert Langlady Lira Rosas e Vera Maria Tieztmann Silva na composição dos técnicos especialistas na área de leitura, literatura e educação. Após essa designação, no dia seguinte, foi instituído um Colegiado, por meio da Portaria nº 1.492, para colaborar com a SEF e o FNDE na execução do PNBE /2002, realizando a avaliação e a seleção das 44 coleções, fundamentadas nos critérios determinados e divulgados em edital relativo ao programa. Para compor o Colegiado são nomeados: a) um representante do Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED, por Estado; b) um representante da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, por estado; c) os membros da Comissão Técnica estabelecida pela Portaria nº 1.440, de 15 de maio de 2002 e d) oito representantes do Programa Nacional de Incentivo à Leitura – 15 PROLER (Fernandes, 2004: 63). Ou seja, conforme aponta Fernandes (2004: 63), há um expressivo aumento no número de participantes da comissão, embora os critérios de seleção e avaliação continuem praticamente os mesmos do edital de 2001 que, por sinal, parece que teve seu texto praticamente aproveitado para o edital do PNBE/2002, conforme detalharemos no capítulo 4 deste trabalho. Assim como em 2001, o PNBE/2002 apresenta, no segundo anexo de seu edital, os critérios de avaliação e seleção dos títulos, considerando três razões para distribuir o acervo para todas as crianças da 4ª série: A primeira é que a leitura de textos literários é fundamental para o desenvolvimento da percepção estética e das referências culturais e éticas dos cidadãos. Além disso, em função da criação artística e das condições de leitura, esta experiência é de grande importância para o desenvolvimento intelectual e para o letramento dos alunos. Finalmente, está o fato de que o texto literário, como forma de expressão artística e cultural, é um patrimônio nacional que deve ser protegido e difundido ( FNDE, Edital de Convocação PNBE/2002, Anexo II). Pela primeira vez desde 1998, o edital considera, na segunda razão acima descrita, que o acervo que está sendo produzido e será distribuído “é de grande importância para o desenvolvimento intelectual e para o letramento dos alunos”. Ainda nos critérios de seleção e avaliação, o programa é considerado como uma importante iniciativa que representa para [...] milhões de crianças a primeira oportunidade de poder ter contato com obras e autores de literatura brasileira e universal. Neste sentido, são evidentes seu caráter pedagógico e sua importância como elemento de disseminação de cultura. Por outro lado, em função das dimensões do Programa, trata-se de uma importante ação de promoção cultural e de valorização de iniciativas editoriais em literatura para crianças e jovens (idem). O texto do edital, também pela primeira vez, enfatiza que os livros são levados para casa pelos alunos e que as oito coleções selecionadas e adquiridas pelo MEC são distribuídas eqüitativamente em cada classe. Mas, ainda assim, não há certeza que as coleções são assim 15 Embora seja um programa vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do Ministério da Cultura, portanto do governo federal, este tem se manifestado como um movimento onde as pessoas se organizam por adesão, por identidade de projeto e, principalmente, de maneira apartidária. Estando, desta maneira, acima de questões partidárias, o PROLER tenderá a crescer durante a gestão do próximo governo ( FNLIJ, 2002, 8). 45 distribuídas, já também não fica claro de quem é a responsabilidade de tal tarefa dentro das escolas. Levando o livro para casa, espera-se contribuir para o desenvolvimento intelectual e cultural não apenas do aluno, mas também daqueles com quem ele convive. Além disso, possibilita-se a criação de pequenos círculos de leitura, por meio de trocas e intercâmbio de leituras e até mesmo de texto, uma vez que as oito diferentes coleções deverão ser distribuídas eqüitativamente em cada classe. Pelas razões acima elencadas, entende-se que a composição das coleções deve, ao mesmo tempo, atender aos interesses e peculiaridades do público a que elas se destinam imediatamente, e promover o desencadeamento de novos interesses e de novas referências culturais, tendo abrangência e representatividades nacionais (FNDE, Edital de Convocação PNBE /2002). A professora Célia Fernandes aponta alguns problemas na seleção desse acervo como a repetição de títulos em relação a outras edições e a preocupação das editoras em se adequar à “primazia dos autores conhecidos nas coleções do programa anterior”: Já se havia notado a primazia dos autores conhecidos nas coleções do programa anterior, critério explicitado no edital como “bastante relevante” na escolha do PNBE/2002. Houve, no entanto, por parte das editoras selecionadas – Ática, Bertrand Brasil, Cia das Letrinhas/Schwarcz, Global, Martins Fontes, Nova Fronteira, Objetiva e Record – o cuidado de inserir outros autores na coleções, investindo, sobretudo, em antologias para ampliar a diversidade de autores. Observa-se, entretanto, o nome de Lygia Bojunga – agraciada com a medalha Hans Christian Andersen em 1982 – em duas coleções com as seguintes obras: A casa da madrinha (Nova Fronteira) e A bolsa amarela (Objetiva), com o adendo de que a primeira obra foi distribuída pelo PNBE /1999. Desse acervo, ainda foram repetidas as obras As aventuras de Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll e A terra dos meninos pelados de Graciliano Ramos (Fernandes, 2004: 64). Cada editora vendeu 527.072 coleções, totalizando 2.635.360 exemplares por editora. Como foram compradas oito coleções, o número final de coleções é 4.216.576 coleções, que é o mesmo mostrado no Relatório de Atividades 2002 (FNDE : 66). Elizabeth D’Angelo Serra, que também participou da comissão de seleção dessa edição, em seminário promovido pela FNLIJ sobre o PNBE , reflete: Este ano foram 64 coleções [inscritas]. Uma triagem anterior é feita pelo IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica), da USP, onde aspectos gráficos informados no edital são averiguados. Recebemos, portanto, 51 coleções para avaliar. O grupo de pessoas foi escolhido pelo MEC baseado em critérios regionais. Desta vez, o PROLER foi incluído no processo. A SEF e o FNDE reconheceram o PROLER como um braço importante para participar dessa seleção, demonstrando como educação e cultura realmente estavam unidas. Houve uma preocupação no estabelecimento de alguns requisitos (ter experiência no Ensino Fundamental e com Literatura Infantil) e de atendê-los ao máximo. Muito embora se considere o professorado brasileiro como não leitor, este grupo demonstrou que o bom livro, a boa literatura e o que deve ser oferecido à criança não é desconhecido por ele. Durante este processo também foi possível conhecer a competência dos editores e a capacidade do mercado editorial. Os editores tinham que mostrar o produto exatamente como ia ser vendido, portanto, era um investimento arriscado. No entanto, houve esmero no produto, na concepção editorial, na edição de arte (FNLIJ , 2002: 26). 46 Outros profissionais da comissão, que também participaram do seminário da 16 FN LIJ , como Suely Duque Rodarte, então secretária municipal de educação de Campo Belo e secretária executiva da UNDIME/MG. Como também fora professora do ensino fundamental, assim avaliou o programa: O “Literatura em minha Casa” está conciliando dois eixos importantes: colocar o menino dono do livro e ligar a família e a leitura. Escuta-se dizer que é preciso ler. Mas não temos o exemplo. Esse chamamento à família faz com que todos fiquem compromissados com a leitura. Como educadores temos o compromisso de solicitar e, se for necessário, nos organizar para exigir a continuidade deste programa. Uma reafirmação pode ser feita em relação a determinados conceitos e atitudes vivenciados nas seleções do PNBE 2001e 2002: primeiramente, a seriedade com que foi realizado e, em seguida, a valorização profissional decorrente de pertencer ao Colegiado. Isso exigiu mais responsabilidade e trouxe legitimidade ao que se estava fazendo. A imparcialidade quanto às editoras, a integridade do educador, a seriedade do Ministério da Educação como instituição ficaram evidentes. Como resultado obteve-se a co-responsabilidade. Ou seja, se houver falhas, o MEC não falhou sozinho. Se os livros não agradarem, se não foram analisados suficientemente, a culpa é de todos os envolvidos nesta seleção. Quanto ao PNBE, só se pode ter uma postura: seguir. Seguir atrás dos sonhos e dos ideais, de um Brasil cidadão e crítico, que saiba caminhar na formação pela literatura. E a literatura é capaz porque ela universaliza o homem. ( FNLIJ, 2002: 26). No PNBE/2002, a padronização gráfica dos livros foi mantida e, como em 2001, constatamos novamente problemas no que se refere à qualidade editorial das obras. Das editoras que venceram a licitação, quatro também forneceram para coleções para o PNBE /2001 (Ática, Companhia das Letrinhas, Nova Fronteira e Objetiva). Ainda sobre as coleções que foram escolhidas em 2002, duas das editoras que as compuseram são, reconhecidamente, do mesmo grupo editorial (Bertrand Brasil e Record). São indícios de concentração de parcelas da indústria editorial brasileira, conforme detalharemos no capítulo 4. 16 Seminário “ PNBE: o direito de ler literatura”, realizado em novembro de 2002 pela FNLIJ, do qual falaremos oportunamente. 47 CAPÍTULO 2: AS PRÁTICAS DE AQUISIÇÃO DE LIVROS NO INÍCIO DE NOVA GESTÃO NO GOVERNO FEDERAL O PNBE/2003 foi composto por cinco ações: “Literatura em Minha Casa”, “Palavra da Gente”, “Casa da Leitura”, “Biblioteca do Professor” e “Biblioteca Escolar”. Cada uma dessas denominações diz respeito a determinados tipos de livros e tipos de público. A ação “Literatura em Minha Casa”, como ocorreu em 2001 e em 2002, era composta por coleções destinadas aos alunos das 4ª e 8ª séries. A “Palavra da Gente” também era uma coleção nos mesmos moldes da “Literatura em Minha Casa” destinada aos alunos do módulo EJA. A ação “Casa da Leitura” distribui as coleções da “Literatura em Minha Casa” e da “Palavra da Gente” para formação de bibliotecas itinerantes em diversos municípios brasileiros. Para a “Biblioteca do Professor”, o MEC adquiriu livros que foram distribuídos para os professores e a “Biblioteca Escolar” tinha por objetivo aumentar os acervos das bibliotecas escolares. Assim, o PNBE/2003 mesclou ações dos programas de 1998, 1999 e 2000 (quando foram distribuídos acervos para bibliotecas escolares e para professores) e dos anos 2001 e 2002 (quando os livros, em forma de coleções, foram distribuídos aos alunos). Por isso, o orçamento do PNBE/2003 – primeiro do governo Lula e do ministro Cristóvão Buarque17 – foi a maior desde o começo do programa, em 1998: quase R$ 111 milhões. Se somarmos as despesas com o PNLD, o MEC gastou, em 20003, cerca de R$ 711 milhões. Esse aumento significativo ocorreu por conta da inclusão de duas novas ações no programa (“Biblioteca do Professor” e “Biblioteca Escolar”). 17 Os recursos destinados ao programa haviam sido aprovados na gestão anterior, ainda em 2002. Em 2003, a despesa o PNLD também foi a maior desde 1995 (cerca de R$ 600 milhões), conforme aparece em tabela disponível no portal do FNDE (ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/recursos_aplicados_1995_2004.pdf, acesso em 08/01/2008). 48 Em 2004, o PNBE apenas distribuiu os livros adquiridos nas ações de 2003. A partir de 2005, o programa voltou a adquirir livros para formação e/ou atualização de acervos das bibliotecas escolares. Em 2005, foram selecionadas e adquiridas obras de literatura voltadas para leitores das séries iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª série). Em 2006, os livros também foram destinados às bibliotecas escolares, mas a seleção privilegiou obras de literatura voltadas para leitores das séries finais do ensino fundamental (5ª a 8ª série). Em 2007, o programa foi composto por quatro ações: selecionou e adquiriu obras para as bibliotecas das escolas que oferecessem ensino infantil, para as que oferecessem as quatro séries iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª série), para o ensino médio e para os alunos com necessidades especiais. 2.1. COLEÇÕES “LITERATURA EM MINHA CASA” & “PALAVRA DA GENTE” Em 2003, o Ministério da Educação comprou três tipos diferentes de coleções e não apenas uma como em 2001 e 2002. O número de títulos de cada coleção18 foi definido pelos critérios de seleção do edital, publicado em 09/05/2003 e assinado por Hermes Ricardo Matias de Paula (presidente do FNDE) e Maria José Vieira Féres (secretária de educação fundamental). Foram distribuídas 8.377.956 coleções, a um custo total de R$ 45.384.794,44 (R$ 37.059.231,30 gastos com as coleções e R$ 8.325.563,14 com a distribuição das mesmas), beneficiando 18 milhões de alunos e com os seguintes preços médios para as coleções: R$ 4,43 (4ª série), R$ 4,31 (8ª série) e R$ 5,11 (EJA ), segundo o Relatório de Atividades 2003 (FNDE: 55). 18 As coleções “Literatura em Minha Casa” eram destinadas aos alunos da 4ª série (cada coleção com quatro títulos) e aos da 8ª série (cada coleção com cinco títulos). As coleções “Palavra da Gente” foram distribuídas aos alunos do EJA (cada coleção era composta por seis títulos). 49 Para os alunos da 4ª série foram distribuídas 4.587.230 coleções (cada editora forneceu 458.723 coleções), para os da 8ª série foram distribuídas 4.245.810 coleções (cada editora forneceu 424.581 coleções) e para os do EJA foram 1.862.290 coleções (cada editora 186.229 coleções). O total de coleções vendidas é, seguindo esses números, 9.577.956 (idem: ibidem). Especificações do edital Para alunos de 4ª série, foram selecionadas dez coleções intituladas “Literatura em Minha Casa”, compostas de cinco títulos cada e, como nos outros editais, devendo conter uma antologia poética brasileira, uma antologia de contos brasileiros, uma novela brasileira, uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada e uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira (v. Anexo 8). Para alunos de 8ª série, foram selecionadas também dez coleções (“Literatura em Minha Casa”), compostas de quatro títulos cada, pertencentes às categorias: uma antologia poética brasileira, uma antologia de crônicas e contos brasileiros, uma novela brasileira ou romance brasileiro ou estrangeiro e uma peça teatral brasileira ou estrangeira. E, para a modalidade de educação de jovens e adultos (EJA), quatro coleções chamadas “Palavra da Gente”, com seis títulos cada, observando as seguintes categorias: um ensaio ou reportagem sobre um aspecto da realidade brasileira, uma antologia de crônicas e contos brasileiros, uma obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira em prosa ou verso, uma antologia poética brasileira, uma peça teatral brasileira ou estrangeira e uma biografia ou relato de viagens. Como no PNBE /2001 e no PNBE /2002, as editoras participam ativamente, uma vez que escolhem em seus catálogos autores e suas obras que possam se encaixar nas categorias descritas para cada público específico (4ª e 8ª séries e educação de jovens e de adultos). As 50 editoras interessadas deveriam apresentar à SEF as coleções já produzidas, respeitando as especificações técnicas apresentadas no edital. Após sessenta dias, prazo estipulado pelo edital19 , foram apresentadas as coleções selecionadas, de acordo com as regras já ditadas no primeiro item do edital: para os alunos de 4ª série foram selecionadas dez coleções, para os de 8ª série, mais dez coleções e para os da educação de jovens e adultos, quatro coleções. Como nas edições anteriores, era preciso que cada coleção tivesse um total mínimo de 304 e máximo de 320 páginas para as 4ª e 8ª séries e entre 336 e 352 páginas para o EJA . E cada volume deveria conter, individualmente, no mínimo, 48 páginas para as coleções de 4ª série e EJA e um mínimo de 64 páginas para as de 8ª série. Dessa vez, torna-se ainda mais difícil uma pequena empresa participar da licitação. Para participar do PNBE/2003 era de fato preciso ter um catálogo bastante completo que permitisse ter autores e obras para compor coleções com todas as categorias exigidas no edital. A comissão técnica, instituída pela Portaria nº 1602, de 20 de junho de 2003, também era bastante parecida com a de 2002 e era composta por representantes da CONSED, da UNDIME e vários “técnicos especialistas na área de leitura, literatura e educação”, a saber: a) Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED b) Presidente da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME c) Técnicos especialistas na área de leitura, literatura e educação: Andréa Kluge Pereira – Secretaria da Educação Fundamental – SEF/MEC Ângela B. Kleiman – Universidade Estadual de Campinas Antônio Augusto Gomes Batista – CEALE/Fa E/Universidade Federal de Minas Gerais Carmen Lúcia B. Bandeira – Centro de Cultura Luiz Freire Cinara Dias Custódio – Secretaria da Educação Fundamental – SEF/MEC Cláudia Lemos Vóvio – Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa, Informação Heleusa Figueira Câmara – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Heliana Maria Brina Brandão – CEALE/F aE/Universidade Federal de Minas Gerais Henrique Silvestre Soares – Universidade Federal do Acre Jane Paiva – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Faculdade de Educação Luiz Percival Leme Britto – Associação de Leitura do Brasil – ALB/Universidade de Sorocaba Maria da Glória Bordini – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Maria José Martins de Nóbrega – Associação de Leitura do Brasil – ALB Raquel Lazzari Leite Barbosa – Universidade Estadual Paulista Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing – Universidade de Passo Fundo Vera Maria Tietzmann Silva – Universidade Federal de Goiás 19 O texto completo do edital do PNBE /2003 (para todas as suas ações) está reproduzido no Anexo 7. 51 Assim como em 2002, o segundo anexo de seu edital (que trata dos critérios de avaliação e seleção dos títulos) considera as mesmas três razões para distribuir o acervo, ou seja, o texto continua o mesmo, ainda que consideremos o substancial e heterogêneo aumento do público a que se destina a presente edição (18 milhões de alunos contra 3,8 milhões no ano anterior). Conclui que: Ao ofertar livros aos estudantes e suas famílias por meio da escola, este Ministério assume que a ação político-pedagógica se estende para além do espaço escolar, supondo sua repercussão no espaço social mais amplo. Reforça-se com isso o caráter da escola de agência difusora da cultura e valores fundamentais da sociedade. Não se trata, portanto, de tomar a escola como simples intermediária, com a função exclusiva de distribuir livros. Cabe a ela a tarefa fundamental de tornar possível a leitura pelos estudantes e seus familiares, através de atividades que instiguem e tornem possível a fruição e intelecção das obras constantes das coleções (FNDE, Edital de Convocação PNBE /2003). 2.2. ACERVOS PARA A “CASA DA LEITURA” No PNBE/2003, a SEF disponibilizou 41.608 mil acervos (compostos pelas coleções “Literatura em Minha Casa” e “Palavra da Gente”) que foram enviados a 3.659 municípios para a formação de minibibliotecas itinerantes, constituindo um programa intitulado “Casa de Leitura”, com o intuito de distribuir os acervos para o uso de toda a comunidade de cada município selecionado20. A descrição dessa ação aparece no portal do FNDE: Distribuição de bibliotecas itinerantes para uso comunitário no município, contendo 154 livros de 114 títulos diferentes das 24 coleções do acervo das ações Literatura em minha casa – 4ª e 8ª séries e Palavra da Gente – Educação de Jovens e Adultos. Os livros são entregues nas prefeituras municipais, a quem cabe dinamizar os acervos, seja em bibliotecas públicas ou outro lugar apropriado à sua utilização, estabelecendo, inclusive, parcerias com as escolas do município para a realização de atividades voltadas ao incentivo à prática da leitura. DADOS ESTATÍSTICOS – CASA DA LEITURA Total de Municípios contemplados 3.659 População beneficiada 61.698.303 Total de acervos 41.608 Quantidade de livros 6.372.912 Valor de aquisição 6.246.212,00 (http://www.fnde.gov.br/programas/pnbe/index.html, acesso em 01/07/2006). O valor total da aquisição da tabela acima não bate com o da tabela 46, do Relatório de Atividades 2003, já que o mesmo menciona que foram distribuídos 50.000 acervos (totalizando 5.700.000 livros) que custaram R$ 6.607.016,86 (FNDE : 55). 20 Os municípios foram selecionados a partir do índice de desenvolvimento humano (IDH). Receberam o acervo os municípios cujo IDH fosse menor ou igual a 0,751. 52 2.3. ACERVOS PARA BIBLIOTECAS DO PROFESSOR E ESCOLAR Além das coleções para os alunos da 4ª e 8ª séries, da modalidade educação de jovens e adultos e dos acervos para a “Casa da Leitura” (compostos também pelas coleções, v. Anexo 8), o PNBE /2003 também privilegia outras duas ações, a saber: “Biblioteca Escolar” (acervos para a biblioteca da escola e uso da comunidade escolar) e “Biblioteca do Professor” (acervos para uso pessoal e de propriedade do professor). A ação “Biblioteca Escolar” conta com a “distribuição de acervos contendo 144 títulos de ficção e de não ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil, para 20 mil escolas com maior número de alunos de 5ª a 8ª séries”. A ação “Biblioteca do Professor” preocupa-se com a “distribuição de dois livros para cada professor da rede pública das classes de alfabetização e de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, escolhidos dentre uma lista de 144 títulos de ficção e de não ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil”. Convém notar que parte desse acervo é o mesmo que foi distribuído em 1998, e cujas descrição e críticas recebidas mostramos no capítulo 1. DADOS ESTATÍSTICOS – BIBLIOTECA DO PROFESSOR E BIBLIOTECA ESCOLAR Biblioteca do Professor (2 títulos p/ prof. – 724.188 1.451.674 prof.+RT) Biblioteca Escolar (144 títulos p/ 20.021 escolas + 2.157 RT) 3.193.632 Quantidade de livros (3.193.632 Escolar + 1.451.674 4.645.306 Professor) Valor Médio do Livro 12,56 Valor Total dos Livros (13.769.873,00 + 44.619.529,00) 58.389.402,00 (http://www.fnde.gov.br/programas/pnbe/index.html, acesso em 01/07/2006). O valor total da aquisição da tabela acima não bate com o da tabela 46, do Relatório de Atividades 2003, já que o mesmo menciona uma despesa de R$ 13.643.604,22 (para a “Biblioteca do Professor”) e R$ 44.685.798,84 (para a “Biblioteca da Escola”), totalizando, então, R$ 58.329.403,06 (FNDE: 55). 53 2.4. CONCLUSÕES PRELIMINARES ACERCA DO PNBE 1998-2003 Somando-se todas as ações, o PNBE /2003 foi o mais caro até então, já que gastou um total de R$ 110.798.022,00, beneficiando uma população de 31.911.098 21 , entre alunos e professores. Em seu Relatório de Atividades 2003, o FNDE calcula o custo médio unitário do programa, R$ 3,47 ( FNDE: 55). O PNBE/2003 se preocupou em aumentar o público que recebe, em casa, os livros, o que havia sido bastante criticado (por quem?) nos anos anteriores. Também procurou aumentar o acervo das bibliotecas escolares e distribuir livros diretamente aos professores. Assim, o PNBE/2003 acabou concatenando as fórmulas das outras edições (distribuição de acervos escolares e distribuição de livros diretamente para os alunos). Uma análise preliminar permite afirmar que alguns pontos negativos se repetem como, por exemplo, a presença de determinados grupos editorais majoritários (que têm vencido constantemente as licitações), a repetição de obras (no caso das ações “Biblioteca do Professor” e “Biblioteca Escolar” que adquiriu parte dos mesmos títulos do PNBE/1998), a falta de clareza em relação aos critérios de avaliação e de seleção. Em seu Relatório de Atividades 2003 (FNDE: 54), o FNDE mostra a evolução histórica do PNBE entre 1998 e 2003. 21 Esse número também não confere, já que no mesmo relatório o FNDE cita que os beneficiários do PNBE/2003 foram 18 milhões de alunos e 720 mil professores (idem: 54), o que aumentaria significativamente o custo médio do programa para R$ 5,92. 54 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PNBE QUANTO A ALUNOS BENEFICIADOS E RECURSOS APLICADOS NA AÇÃO – TABELA 44 – HISTÓRICO DO ATENDIMENTO – PNBE ANO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 DESTINO DOS LIVROS CRITÉRIOS DE ATENDIMENTO Bibliotecas das escolas da 1ª à 8ª série com mais de 500 alunos Bibliotecas das escolas da 1ª à 4ª série com mais de 150 alunos Bibliotecas das escolas participantes do Programa Parâmetros em Ação Bibliotecas das escolas que oferecem a 4ª e a 5ª séries (quatro acervos completos, por escola) – todos os alunos de 4ª e 5ª séries (uma coleção) Bibliotecas das escolas que oferecem a 4ª série (um acervo completo, por escola) – todos os alunos da 4ª série (uma coleção) Literatura em Minha Casa – 4ª e 8ª séries; Palavra da Gente – 2ª fase do EJA; Casa da Leitura: Prefeituras; Biblioteca das escolas da 5ª à 8ª série; Biblioteca do Professor – Prof. alfabetizadores e da 1ª à 4ª série NÚMERO ESCOLAS 20 mil DE RECURSO 139 mil NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS 16,6 milhões de alunos 10,8 milhões de alunos Diversos profissionais de educação 8,5 milhões de alunos 126 mil 3,8 milhões 19,8 milhões 124,4 mil-4ª série; 35,6 mil - 8ª série; 10,9 mil - EJA; 20 mil - Biblioteca escolar 18,0 milhões alunos e 720 professores 36 mil 30,7 mil de mil 23,5 milhões 17,5 milhões 15,1 milhões 50,3 milhões 110,7 milhões Uma nova tabela, já atualizada, aparece no portal do FNDE , no início de 2008: Programa Nacional Biblioteca da Escola ( PNBE) – Ensino Fundamental Ano de aquisição Alunos Beneficiados Escolas Beneficiadas 1997/1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 19.247.358 14.112.285 8.561.639 3.841.268 18.010.401 20.000 36.000 18.718 139.119 126.692 141.266 3.660.000 3.924.000 3.728.000 60.923.940 21.082.880 49.034.192 29.830.886,00 24.727.214,00 15.179.101,00 57.638.015,60 19.633.632,00 110.798.022,00 Custo médio por exemplar R$ 8,15 R$ 6,30 R$ 4,07 R$ 0,94 R$ 0,93 R$ 2,26 16.990.819 13.504.906 136.389 46.700 5.918.966 7.233.075 47.268.337,00 46.509.183,56 R$ 7,99 R$ 6,43 5.065.686 85.179 1.948.140 11.140.563,20 (**) R$ 5,72 Infantil R$ 7,97 Fundamental de 1ª a 4ª série (*) Livros 2007 16.430.000 127.661 3.216.600 Financeiro 25.622.011,90 (**) Ensino 7.788.593 17.049 3.956.480 35.030.694,90 (**) R$ 8,85 médio (*) Em 2000, foram produzidos e distribuídos materiais pedagógicos, voltados para a formação continuada de professores. (**) Previsão. Disponível no portal do FNDE (ftp://ftp.fnde.gov.br/web/biblioteca_escola/ resumo_quant_pnbe_1997_2007.pdf, acesso em 08/01/2008). Na tabela acima, acrescentamos a coluna “Custo médio por exemplar”, para verificarmos possíveis distorções entre as diversas edições. Se compararmos as duas tabelas, 55 percebemos que a coluna “Financeiro” foi atualizada pelo FNDE 22. A partir dela, calculamos o custo unitário, dividindo a despesa de cada ano pelo número de livros adquiridos. Assim, constatamos que no PNBE /1999 o investimento foi melhor que o de 1998, já que os números de exemplares comprados e o de escolas beneficiadas foram maiores e os livros eram todos coloridos, mais adequados ao público pretendido. Quando o PNBE distribui coleções aos alunos (“Literatura em Minha Casa”), nos anos 2001, 2002 e 2003, constatamos que no PNBE /2002 a despesa foi consideravelmente mais baixa, já que os alunos beneficiados foram apenas os da 4ª série, embora o custo médio tenha se mantido praticamente o mesmo do de 2001, quando foram distribuídos livros para os alunos da 4ª e 5ª série. No PNBE/2003, com a inclusão de mais duas ações percebemos um significativo aumento de despesa e algumas inconsistências graves nos números divulgados pelo FNDE , conforme mostramos nos itens 2.2 e 2.3, além das diferenças de valores das duas tabelas acima. No capítulo 4, detalharemos o edital de convocação do PNBE/2003, a fim de verificar questões como projeto gráfico e viabilidade financeira das editoras, com o objetivo de mostrar que, mesmo vendendo os livros a um preço tão baixo, a indústria editorial lucra e não nos parece ter razão em tantas reivindicações a respeito de custo. 22 Os valores da segunda tabela incluem todos os custos do programa, não só os da aquisição dos livros, mas também os de distribuição e aquisição de outros materiais. A primeira tabela foi divulgada no início de 2004 (no Relatório de Atividades 2003) e a segunda foi divulgada no início de 2008, quatro anos mais tarde. Convém notar grandes diferenças de valores (nos anos de 1998, 1999 e 2001) inexplicáveis, já que a primeira tabela já deveria divulgar os valores dos anos anteriores corretamente. 56 CAPÍTULO 3: O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA SOB O OLHAR DA INDÚSTRIA EDITORIAL E DE OUTROS CAMPOS DE INTERESSE Livros, pesquisas acadêmicas, atas de seminários, relatórios, pareceres, carta aberta e outros documentos expõem a complexidade da rede de interesses em torno do Programa Nacional Biblioteca da Escola. As fontes revisadas neste capítulo foram selecionadas por se considerar que representam boa parte dos atores que participam da avaliação, seleção, produção, distribuição e usufruto dos livros que formam os diversos acervos do PNBE. Em relação ao programa estudado, até o momento temos alguns registros impressos, entre eles, a obra O Brasil pode ser um país de leitores? (2004), escrita pelo diretor de Relações Institucionais da Câmara Brasileira do Livro (CBL ), Felipe Lindoso, também jornalista e antropólogo. Há também trabalhos acadêmicos como os da Profa. Dra. Célia Regina Delácio Fernandes, em sua tese de doutorado intitulada Práticas de leitura escolar no Brasil: representações da escola, de professores e do ensino na literatura infanto-juvenil a partir dos anos 80, defendida em 2004 na UNICAMP , além das carta aberta e da apresentação da Profa. Dra. Maria Antonieta Antunes Cunha, intituladas. “Opinião sobre o projeto Literatura em Minha Casa, do MEC ” e “Por uma urgente e verdadeira transformação da política de letramento do cidadão brasileiro” 23. Em 2006, Ana Paula Cardoso Rigoleto apresenta, em sua dissertação de mestrado intitulada O programa Literatura em Minha Casa enquanto política pública: avaliando a formação de famílias leitoras, algumas reflexões acerca da eficácia da ação Literatura em Minha Casa, da edição de 2003 do PNBE , distribuído aos alunos da 4ª série do ensino fundamental nas cidades de Presidente Prudente e Parapuã, no estado de São Paulo. 23 A professora também apresentou trabalhos sobre o tema no 14º Congresso de Leitura, realizado na UNICAMP. 57 Outra contribuição importante para reflexão sobre o programa é o trabalho de conclusão de curso (apresentado na ECA-USP , em 2004) de Ana Carolina de Carvalho Mesquita, intitulado Prato feito. Ela entrevista editores e seus representantes, autores e ilustradores para verificar as influências dos programas e políticas do governo na produção editorial brasileira, sobretudo de literatura infantil Também é possível acessar documentos de órgãos públicos como o FNDE e o TCU que apresentam alguns relatórios acerca do programa e de suas várias edições. Há ainda um valioso relatório de avaliação do programa produzido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), intitulado PNBE: O direito de ler literatura, que é a transcrição de um seminário realizado no Rio de Janeiro, nos dias 25 e 26 de novembro de 2002 24. Na ocasião, já era sabido que o novo governo seria presidido por Luiz Inácio Lula da Silva e a previsão financeira para o PNBE, em 2003, já tinha sido aprovada. O relatório pode ser classificado como um dos documentos mais importantes para análise do desenvolvimento do programa até 2002, já que os palestrantes, em sua maioria, foram (e alguns ainda o são) atores ativos de todo o processo de escritura do edital, seleção e avaliação dos acervos do PNBE. Os relatórios de monitoramento do Tribunal de Contas da União também são ferramentas importantes, já que podem comprovar que medidas, de fato, foram tomadas para a melhora de diversos pontos do PNBE, tais como, seleção, distribuição e aproveitamento dos acervos por parte das escolas, professores e alunos. Participaram do seminário funcionários da Secretaria de Educação Fundamental do MEC, PNBE, 24 membros das comissões de seleção e de avaliação e membros de equipes técnicas do autores e ilustradores de livros infanto-juvenis, professores do ensino público, O seminário foi um dos eventos do 4º Salão do Livro para Crianças e Jovens, com o objetivo de “atentar para esta política de leitura e sua ação nesses últimos 5 anos [desde 1997] e rememorar o Ciranda de Livros, programa pioneiro de distribuição de livros para escolas públicas em todo país que, neste ano, está celebrando seus 20 anos de criação”. A ata das falas de todas as apresentações deste seminário está hospedada (em arquivo texto) na página do SNEL (http://www.snel.org.br/downloads/relatorioseminarioPNBEMAM.doc). Foi “produzido a partir de fitas de áudio e notas tomadas e sistematizadas durante o seminário por Cátia Maria Souza de Vasconcelos Vianna”. 58 bibliotecários, secretários de educação, além de representantes de empresas que apoiaram o evento (Companhia Suzano de Papel e Celulose, Instituto Ecofuturo e BR Distribuidora). Por sua importância para esta pesquisa, é fundamental listar todos os participantes e os cargos que ocupavam na época. O seminário foi aberto por Laura Sandroni e Luís Raul Machado (da equipe de criação da Ciranda de Livros25 ), Iara Prado (secretária do Ensino Fundamental) e Mônica Messenberg (secretária-executiva do FNDE ). Em relação à seleção e orientação das duas primeiras edições (1998 e 1999), falaram Madza Nogueira (coordenadora e editora do Guia do livronauta, manual para utilização do primeiro acervo, de 1998), Elizabeth D’Angelo Serra (presidente da FNLIJ e coordenadora da seleção do segundo acervo, em 1999), Nilma Lacerda (parecerista da FNLIJ , para o segundo acervo, em 1999) e Luis Camargo (participou da criação do manual para utilização do segundo acervo, intitulado Histórias e histórias). Acerca do processo de seleção das edições de 2001 e 2002 do Literatura em Minha Casa, falaram Maria José Nóbrega (membro da comissão técnica das duas edições), mais uma vez Elizabeth D’Angelo Serra (presidente da FNLIJ e também da comissão técnica), Suely Duque Rodarte (secretária municipal de educação de Campo Belo, secretária executiva da UNDIME/MG e também dessa comissão técnica), Fernando Coelho A. Silveira (integrante do colegiado dessas duas edições do programa, secretário municipal de educação de Nilópolis e membro da diretoria da UNDIME/RJ) e Lucia Maroto (também do colegiado e bibliotecária da Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo). Finalizando o primeiro dia do seminário, falou Marcelo Soares, coordenador da auditoria do TCU. Participaram também representantes da indústria editorial (Felipe Lindoso e José Henrique Grossi, da 25 CBL , e Evanildo Bechara, do SNEL), dos autores (Rogério Andrade Projeto desenvolvido pela FNLIJ, em parceria com a Fundação Roberto Marinho e com a indústria farmacêutica Hoechst, que editou, de 1982 a 1986, quinze títulos por ano, beneficiando 35.000 escolas públicas. Recebeu o Prêmio Internacional de Alfabetização da UNESCO (FNLIJ , 2002: 9-10). 59 Barbosa e Roger Mello) e de educadores e bibliotecários que discorreram sobre a eficácia do programa em seus respectivos municípios ou estados. A Secretaria de Educação Fundamental, por meio de serviços terceirizados de fundações e institutos, encomendou a preparação, edição e publicação de material de divulgação, cujo objetivo seria auxiliar as escolas, alunos e/ou professores a utilizarem o acervo, como é o caso do Guia do livronauta (para o acervo de 1998) e do manual Histórias e histórias (para o acervo de 1999). Os responsáveis pelos dois manuais falaram da confecção dessas publicações, no seminário da FNLIJ, no final de 2002. As falas dos participantes do seminário organizado pela FNLIJ serão utilizadas no debate acerca do programa apresentado a seguir, por terem sido julgados bastante pertinentes os argumentos dos debatedores. Eles nos auxiliarão a entender o processo e oferecerão justificativas para parte da discordância deste trabalho em relação a certas questões levantadas, sobretudo, por representantes da indústria editorial brasileira. São essas as principais fontes documentais, cujos debates são apresentados a seguir, a fim de balizar os posicionamentos dos autores e até das instituições em relação ao programa estudado. Mas é importante lembrar que por conta de sua abrangência e de eventuais denúncias acerca de sua sistemática, o programa tem sido objeto também de diversos artigos na imprensa brasileira26. Selecionamos essas fontes por considerar que representam boa parte dos atores que participam da avaliação, seleção, produção, distribuição e usufruto dos livros que formam os diversos acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola. 26 O PNBE e suas ações têm tido certo destaque na imprensa brasileira (como no jornal Folha de S.Paulo e na revista Nova Escola). Isso ocorre, sobretudo, durante os processos de licitação (inscrição, avaliação e seleção dos títulos) e de entrega das obras. As notícias vão desde o aviso de abertura de licitação do programa até problemas com a seleção, avaliação e entrega dos títulos e, muitas vezes, a única fonte é o próprio Ministério da Educação, através de sua assessoria de imprensa. Uma rápida busca no portal da Folha de S.Paulo mostra 16 matérias específicas sobre o assunto desde 2001 (http://busca.folha.uol.com.br/search?q=%22programa+nacional+ biblioteca+da+escola%22&site=online, acessado em 03/10/2007). A revista Nova Escola mostra 34 ocorrências quando pedimos para buscar “Programa Nacional Biblioteca da Escola”. 60 3.1. A VISÃO DOS REPRESENTANTES DA INDÚSTRIA EDITORIAL: CBL E SNEL No seminário da Henrique Grossi (da FNLIJ , CBL), falaram Evanildo Bechara (do SNEL), Felipe Lindoso e José na condição de representantes de associações que agregam empresas da indústria editorial brasileira. Apontaram vantagens e desvantagens das edições do PNBE até 2002 que resultam em preocupações claramente ligadas à indústria editorial. Por exemplo, eles criticam a formatação das coleções e suas características técnicas, a eliminação dos professores na seleção dos títulos e a compra centralizada que prejudica os livreiros. Ainda assim, acreditam que o programa é uma referência e que deve e pode ser melhorado. Bechara considera que “assim como nos demais setores da economia, o grande desafio é também gerar novos empregos e fortalecer as empresas (para a manutenção desses empregos)” ( FNLIJ, 2002: 43). Atenta para a necessidade de despertar a paixão de ler, de manter os acervos das bibliotecas públicas atualizados, já que eles são parte importante na formação de leitores e defende que a leitura [...] é incentivada num primeiro instante, mas como manter o interesse do leitor pelo livro? Apesar de todo esforço para termos um país culturalmente forte, é preciso que todos os elos da cadeia do livro sejam fortalecidos: editores, escritores, ilustradores, distribuidores, livreiros e demais profissionais do livro, juntamente com os governos e as agências de fomento. É preciso elaborar planos para difusão do livro, com metas a serem atingidas. Muitas são as reivindicações de cada um desses atores para que possam se desenvolver e atuar mais efetivamente no setor (idem: 42). Além disso, lembra, com razão, que: No Brasil, as compras do governo são feitas diretamente nas editoras. Isso tem aspectos positivos, mas acabam atingindo um número muito pequeno de editoras, além de retirar as livrarias desse processo. O Brasil publica mais de 1.000 títulos novos por mês, oriundos das quase 3.000 editoras registradas. Com tiragens médias de 2.000 a 3.000 exemplares são vendidas em cerca de 1.200 livrarias, situadas em apenas 600 municípios dos quase 5.600 existentes. Uma grande questão é como colocar a disposição dos leitores essa produção editorial (idem: ibidem). Ou seja, ele mostra problemas que são bastante comuns em um mercado que existe no Brasil há praticamente um século. E, desde os anos 1940, a indústria editorial tem reivindicado mais investimentos públicos e participação nas compras governamentais. Bechara continua insistindo em um problema que é estrutural e, infelizmente, intrínseco à circulação de livros no país. Ao citar que os números do mercado editorial brasileiro são 61 relativamente altos e que há problemas com os pontos de venda (as livrarias), sugere que o governo preencha essa lacuna. E é o que vem fazendo sistematicamente nos últimos setenta anos, embora a situação continue a mesma. Felipe Lindoso, em seu livro O Brasil pode ser um país de leitores?, editado em 2004, apresenta um capítulo sobre os dois maiores programas federais de aquisição de livros: o PNLD e o PNBE . Mostra também as relações, nem sempre pacíficas, do governo federal com o mercado editorial brasileiro. Boa parte do texto de Lindoso parece ter como ponto de partida sua apresentação no seminário “PNBE: o direito de ler literatura”, apresentado acima.. O autor acredita que o processo de avaliação do livro didático pelo MEC : a) b) c) se trata de um dever público que ultrapassa em muito a circunstância de [o MEC ser] comprador; deve ser entendida como um processo de aperfeiçoamento e de aprendizagem recíprocas entre autores e avaliadores nomeados pelo Estado, e não como um processo de acusação como se caracterizou em alguns momentos, em um claro desrespeito aos autores e deve levar em consideração as propostas didático-pedagógicas de cada livro [...] sem privilegiar esta ou aquela tendência, considerada como a mais moderna e atualizada. (Lindoso, 2004: 150-1). Em relação aos valores que o MEC paga pelos livros comprados, Lindoso aponta: a) b) c) d) o MEC paga tão-somente o custo do caderno tipográfico, acrescido da porcentagem de direitos autorais e o que estabelece arbitrariamente como margem das editoras. Não divulga [...] todos os custos de operação da máquina estatal envolvida na execução do programa; o MEC se recusa a pagar pelo desenvolvimento editorial dos livros adquiridos (processo caro que pode demorar vários anos); o MEC não considera os custos de divulgação dos livros aos professores, condição sine qua non para a sua adoção e o MEC reconhece que o grande volume de compras faz que os custos unitários baixem, embora não na mesma proporção alegada pelo ministério. (idem: 151-2). Quanto ao pagamento recebido pelas editoras, os critérios adotados pelo MEC para efetuar as compras não são apenas esses. O autor cita outros custos que não são considerados (com os de produção e divulgação), mas é claro que o ministério, enquanto principal comprador, tem um grande poder de negociação. Em relação ao preço pago pelos livros, por mais baixo que pareça ser, dá aos editores margem de lucro segura, conforme se demonstrará no capítulo 4. 62 Na condição de financiador dos programas do livro, cujas verbas são oriundas dos cofres públicos, é dever do FNDE zelar pelo melhor aproveitamento e aplicação desses recursos financeiros. Além disso, os programas do órgão são permanentemente auditados pelo TCU, que verifica suas efetividade e eficácia. As reclamações do autor, portanto, não procedem, já que as editoras cada vez mais direcionam seus catálogos para fins didáticos e/ou paradidáticos. Considerando questões como processo de avaliação e custos, o autor propõe uma “discussão aberta e franca [...] sobre uma proposta de descentralização das compras, com o envolvimento das livrarias”, pois acredita que é um erro a preferência do ministério em comprar os livros diretamente das editoras “por ‘uma fração’ do que custam em livraria” (Lindoso, 2004: 151) é um erro. Ou seja, acredita que o ministério falha em algumas etapas e não é um negociador justo, já que teria todas as decisões de compra em seu poder. Enquanto órgão do governo, parece que o MEC falharia também, já que não considera de fundamental importância uma política para o desenvolvimento das livrarias brasileiras. Evidentemente, o autor não desconhece as regras negociais, que prevêem grandes descontos em vendas volumosas, que dão decisão de compra ao comprador e que, de outra parte, não obrigam quem quer que seja a entrar em um negócio. Lindoso vai além em seus argumentos, quando compara o PNLD a um programa de transferência de renda: os livros adquiridos pela classe média, que está nos colégios particulares, pagam uma parcela substancial dos livros vendidos ao governo. As conseqüências específicas desse fenômeno – aumento dos alunos nas escolas públicas e maior penetração dos “sistemas de ensino” – turvam o panorama da indústria editorial (idem: 152). Mais uma vez, Lindoso se engana, já que a grande maioria dos livros didáticos produzidos no país é comprado pelo MEC . Assim sendo, a parcela comercializada em livrarias é ínfima, não procedendo, portanto, que a classe média pague pelos livros que são vendidos para o governo. 63 O autor propõe uma discussão sobre todos os custos envolvidos no processo de compra de livros pelo MEC, na qual “poder-se-ia chegar a uma fórmula que permitiria que, pelo menos em parte, os livros fossem adquiridos, pelas escolas, diretamente das livrarias, com a manutenção da gratuidade dos livros para os alunos das escolas públicas”. Defende que a política de compras do MEC poderia ser de fundamental importância para o desenvolvimento das livrarias brasileiras, mas acaba tendo o efeito contrário “retira uma parcela substancial da demanda a ser oferecida às livrarias, dificultando sua expansão e mesmo sua sobrevivência, com conseqüências desastrosas para a rede livreira, que cumpre importante papel social na difusão do livro” (Lindoso, 2004: 153). Ou seja, para Felipe Lindoso, incluir no processo de compras de livros didáticos outro ator – as livrarias – parece salutar para a economia brasileira, embora ele saiba que isso acarretaria um aumento substancial de todos os custos do processo, além, é claro, de exigir uma total reformulação da sistemática desses programas de aquisição de livros. Acerca do PNBE , Lindoso lembra que o programa que o precedera (PNSL) foi desmontado no governo de Fernando Collor de Melo, embora vários estados e municípios brasileiros tenha mantido o programa (com outras denominações), por sua eficácia. Foi o caso dos Cantinhos da Leitura (programas estaduais de aquisição de livros), organizados pelas secretarias estaduais de educação. Neles, os professores podem escolher os títulos que serão comprados para a formação de bibliotecas nas escolas. O PNSL foi bastante criticado pelos bibliotecários e suas associações de classe, uma vez que tentou promoveu a criação de bibliotecas nas escolas, mas não se preocupou em contratar profissionais especializados para mantê-las e atualizá-las. Assim, nas mais “de 200 mil escolas públicas, não existe nem mesmo a possibilidade, em curto e médio prazo, de haver bibliotecários suficientes para tal” (idem: 154). 64 A partir de 1998, o PNBE se torna o substituo do PNSL, em seu nome. Ou seja, se interpretarmos ao pé da letra, o escolas e o PNBE PNSL já com a palavra “biblioteca” propunha salas de leitura nas propõe uma “biblioteca da escola”. Lindoso afirma que a iniciativa de ampliar o uso da literatura no ensino básico é: altamente positiva [...], assim como o esforço de fazer que as crianças levem os livros para casa, troquem-nos entre si e os usem das mais distintas formas. O PNBE é também uma mostra de que o Ministério da Educação desenvolveu uma política em relação ao livro e à leitura. E a sua existência não significa concordância dos editores e autores quanto ao seu conteúdo nem quanto à sua metodologia de implementação (idem: 155). Como ponto negativo do PNBE, o autor cita o abandono de uma característica que lhe parece essencial para a qualidade dos programas federais de aquisição de livros: o direito de escolha dos professores. De fato, em algumas edições do programa, como já foi dito, o autor levanta que “as coleções são escolhidas por uma comissão, que sem dúvida é ampla e inclui vários segmentos de interessados. Entretanto, o formato escolhido apresenta muitos problemas que deveriam ser modificados no futuro” (Lindoso, 2004: 157). O principal problema, sem dúvida, é o da eliminação dos professores como agentes ativos na escolha do material que convém ao projeto educacional das escolas. Essa conquista, que foi alcançada no programa do livro didático em 1985, não pode ser abandonada. Ao contrário, tem que ser aprofundada, apoiada em informação e formação dos professores, avaliação dos livros ofertados, inclusão de guias de trabalho com materiais literários etc (idem: 163). A questão da presença ou não de professores no processo é bastante controversa, uma vez que é sabido que a indústria editorial interfere significativamente. É sabido que as grandes empresas editoras de livros didáticos têm seus representantes que são contratados especificamente para atuar junto ao professorado, para que seu produto seja o escolhido. Um programa como o PNBE (que adquire livros para formação de acervos) necessita de pessoas que escolham os títulos. Não se trata de qualificar o nível de leitura dos professores, mas não há relação entre o fato de eles não participarem do processo de seleção das obras e a efetiva utilização dos acervos adquiridos. É preciso pensar em outro sistema, misto e regionalizado, por exemplo, e que liste certos títulos (considerados ruins ou inadequados) que não podem ser comprados. Poderia se considerar também uma lista de livros preparados pelos professores. 65 Ainda na defesa da indústria editorial, Lindoso aponta que “esse formato [“Literatura em Minha Casa”] do PNBE tem conseqüências danosas tanto para a indústria editorial quanto, e principalmente, para o processo de difusão do hábito da leitura nas escolas” (idem: 157). Para ele, esse formato não aproveita bem o que está sendo editado no país com as rubricas “literatura infantil”, “literatura juvenil” e “paradidáticos”, já que em apenas dois anos e meio (2000, 2001 e primeiro semestre de 2002) foram publicados, em primeira edição, 4.574 títulos classificados como "literatura infantil"; 4.073 como "literatura juvenil", em primeira edição; e 3.190 sob a rubrica de "paradidáticos". Se considerarmos primeiras edições e reedições, o total global, para esse mesmo período, é de 45.152 títulos publicados. Só em primeira edição foram, então, 11.837 títulos. Isso tudo em cinco semestres. Sem dúvida, uma riqueza de oferta muito significativa (idem: 158). Em 2001, o programa selecionou apenas 0,001% (30 títulos) da oferta disponível. Lindoso argumenta que há claramente “um processo de concentração, de restrição da oferta, que causa muitos danos ao programa” (idem: 158), dentre os quais: Em primeiro lugar, homogeneíza o que, pela própria natureza, é heterogêneo: as necessidades dos projetos pedagógicos desenvolvidos pelas escolas com populações muito diferenciadas quanto a condições socioeconômicas, históricas, geográficas e mesmo de grau de familiaridade com o livro e a leitura. Isso sem falar nas deficiências dos próprios mestres. Em resumo, joga pela janela a imensa diversidade de possibilidades de uso dos livros; elimina a grande conquista de permitir que os professores tenham voz ativa na escolha do material que usam em sala de aula, retrocesso sério diante do que se vem fazendo desde 1985. A formatação rígida das coleções também é negativa. A literatura para crianças e jovens produzida no Brasil é internacionalmente reconhecida por sua riqueza, criatividade e diversidade. A obrigação de reduzir essa criatividade a um formato (14 x 21 cm), a uma tipologia e a ilustrações em P. & B . certamente castra a possibilidade de muitos autores e ilustradores poderem ter seus trabalhos aproveitados; e mais, despreza o catálogo das editoras e os investimentos de anos na literatura infantil e juvenil, já feitos com sucesso. A forma de seleção das coleções produz o efeito daninho de fazer que autores e editores disputem entre si quando na verdade deveriam estar disputando ao lado dos mestres a possibilidade de que seus livros sejam escolhidos por suas qualidades intrínsecas e por sua adequação ao trabalho proposto pelos professores. Não há nenhuma justificativa teórica ou pedagógica para que apenas os alunos da quarta série (ou da oitava e do supletivo, no caso) recebam os livros, salvo a alegada falta de recursos. Na verdade, esses alunos se tornam privilegiados diante dos seus colegas, que não recebem as coleções nem dispõem de acesso a bibliotecas escolares decentes (idem: 158-9). Se há tantas publicações, gostaria Lindoso que o governo comprasse mais? É impraticável que isso ocorra. Se a indústria editorial tem publicado tanto, é preciso lembrarmos que, como qualquer outro produto, o livro também tem seu ciclo de vida e necessita de pesquisas que justifiquem lançamentos específicos. O que ocorre é que os catálogos das editoras têm crescido sistematicamente e não podemos deixar de apontar a 66 relação desse crescimento com as compras governamentais, através de seus programas de aquisição de livros. Lindoso contesta as principais alegações do MEC a respeito do formato adotado: - Tamanho do programa: o MEC alega que a quantidade de livros adquirida levaria necessariamente a uma restrição da quantidade da oferta, por razões logísticas; a diversidade estaria “garantida” pela exigência de tipos diferentes de livros em cada coleção: romance, poesia, folclore etc. - A formatação dos livros também obedeceria a considerações logísticas. - A escolha por uma comissão de alto nível garantiria que apenas “o melhor” seria levado aos alunos e às suas famílias (idem: 159-60). Como se vê, Lindoso se coloca numa posição de interlocutor privilegiado do MEC, a quem critica e aconselha. O autor defende interesses econômicos da indústria editorial e do mercado livreiro, sem mencioná-los diretamente, antes esgrimindo argumentos que supostamente defenderiam interesses da melhoria da educação pública no país. Em um ambiente de negócios, próprio do sistema capitalista, que reivindica retoricamente o encolhimento do estado e a redução de gastos com políticas públicas, soa incoerente solicitar apoio do estado ao desenvolvimento de um ou outro setor da economia ou defender a ampliação do programa de compra de livros para alunos de todas as séries. Lindoso lista algumas características do PNBE, tais como o tamanho do programa, a exigência de categorias, a formatação padronizada dos livros, a seleção das obras, a distribuição das coleções e faz algumas sugestões acerca de cada uma delas. Em relação ao tamanho do programa, Lindoso aponta que deve ser considerado um desafio e não um problema, já que o próprio MEC e secretarias estaduais de educação trabalham com esse fator a cada nova edição. Sobre a exigência de categorias específicas em cada coleção (conto, poesia, novela, peça de teatro e obra clássica adaptada), o autor classifica taxativamente como imprópria, já que há, no país, instituições que têm avaliado e catalogado obras da literatura infanto-juvenil e seus arquivos poderiam ser aproveitados (como é o caso da FNLIJ e o Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo). Além disso, 67 aponta também que é possível exigir que as editoras inscrevam obras já avaliadas por estas ou outras fundações e associações. É preciso lembrar que as fundações ou institutos responsáveis pela avaliação e seleção dos títulos também são atores do programa e, assim sendo, podem sofrer influências externas, inclusive de representantes da indústria editorial. A respeito da formatação padronizada dos livros, Lindoso acredita que é um recurso do MEC para poder negociar esses livros como já é feito com os didáticos, ou seja, por caderno tipográfico. Além disso, ele bem lembra que “no caso do livro infantil e juvenil muitas e muitas vezes, a forma faz parte do conteúdo”. Assim, o FNDE “certamente simplificou sua tarefa, mas quem saiu perdendo foi a qualidade do programa” (Lindoso, 2004: 160). Lindoso denuncia pontualmente: Acrescente-se que, coincidentemente, o primeiro “Literatura em Minha Casa” foi feito em ritmo de urgência para ser entregue em abril de 2002. Data que, por acaso, era a data-limite para desincompatibilização dos ministros que desejassem concorrer a cargos eletivos naquele ano (idem: 160-1). Sobre a questão da seleção das obras por comissões, o autor aponta: O problema dessas comissões é simplesmente que são comissões, foros restritos que acabam precisamente com o que os professores valorizam como uma de suas prerrogativas mais queridas: a liberdade de escolha. A predominância dos “critérios técnicos”, que é justa quando se faz avaliação, transforma-se em manifestação autoritária quando a recomendação se institui como determinação. A escolha de “representantes” não resolve em absoluto o problema, que, na verdade, diz respeito à diversidade de situações pedagógicas e reflete também a falta de confiança na capacidade dos professores. E não vale também a argumentação da baixa capacitação dos docentes, pois esta deve partir da situação constatada na base da pirâmide docente. Fala-se muito na distância do MEC diante das secretarias e destas diante das escolas. O paradoxo é ver quem diz isso mostrar satisfação por se transformar em mediador/bloqueador da participação direta dos professores (idem: 162). A opção pela distribuição de coleções a alunos de séries específicas é fortemente rebatida pelo autor: o conceito de permitir que o aluno leve o livro para casa e o use com a família está perfeitamente enquadrado no conceito de uso de uma biblioteca moderna. Achar que a distribuição dos livros para que os alunos os levem para casa cria o gosto pela leitura é ilusão. Só o trabalho continuado, persistente e duradouro é que vai fazer isso. A prova da ineficácia da “doação” é simples: basta andar por bancas de sebos e encontrar as coleções do MEC , muitas vezes ainda em suas embalagens originais (Lindoso, 2004: 164). 68 Ainda neste capítulo, serão apresentados alguns apontamentos acerca da criação do formato “Literatura em Minha Casa”, bem como da escolha das comissões, sobretudo na edição de 2001. Tantos pontos negativos em relação ao formato “Literatura em Minha Casa”, na verdade, têm a ver, novamente, com os ganhos da indústria editorial brasileira. Os editores têm reclamado sistematicamente de que esse formato não é adequado. Mas, conforme mostraremos no próximo capítulo, o percentual da margem de lucro é praticamente a mesma. Na verdade, as editoras têm mais tarefas a cumprir, pois precisam refazer o livro em outro formato, enquanto que nas outras edições, os editais exigem pouquíssimas alterações nos livros. Mas esse custo, que será explicitado mais adiante, tem um impacto ínfimo nas despesas de produção editorial. Ele sugere, assim, que o programa “retome efetivamente o seu nome: biblioteca na escola”, o que acabou ocorrendo, a partir de 2005. Lindoso acredita que: com bibliotecas escolares amplas, bem supridas de livros, não apenas os alunos da quarta série (ou da oitava e dos ciclos finais do supletivo, na versão atual) receberiam livros de presente. Todos os alunos e professores poderiam trabalhar títulos variados de forma muito mais profícua para a qualidade do ensino. Receber os livros de presente não é mais que uma solução demagógica que não contribui em nada para a educação do conjunto dos alunos no bom uso das bibliotecas como instrumento de pesquisa, trabalho escolar e cidadania. É preciso que o bom uso da biblioteca seja também ensinado, pois não é intrínseco à natureza humana e muito menos integrante costumeiro do trabalho escolar. Essa formação é essencial também para que o jovem, quando saia da escola, use de forma correta as bibliotecas públicas (idem: 164). Mesmo com tais problemas, Lindoso acredita que o PNBE é uma experiência bastante positiva para a educação, o livro e a leitura, ainda que sofra com equívocos oriundos de outro programa de aquisição de livros, o PNLD. Aponta também uma possível “visão tecnocrática”, na qual, “os ‘sábios’ decidem o melhor – em detrimento da participação do conjunto dos interessados na discussão do formato do programa” (idem: 163). Considerando os dois principais programas federais de aquisição de livros, o PNLD e o PNBE, 27 o autor conclui 27: Lembra ainda que o Ministério da Cultura, por sua Secretaria do Livro e da Leitura (SLL), também conta com 69 a) O MEC desenvolveu e aplicou uma política para o livro em sua área. b) Apesar de polêmicas e dificuldades, mantiveram-se dois pilares básicos do PNLD: a escolha pelos professores e a diversidade da oferta. c) O MEC conseguiu resolver a questão da entrega dos livros em tempo hábil. Entretanto, esse aspecto positivo foi possível aplicando-se um sistema altamente centralizado, com uma logística sofisticada e de custos não transparentes; abandonou-se a possibilidade de desenvolver formas alternativas de distribuição que envolvessem as livrarias. d) O PNBE, em que pesem seus aspectos altamente positivos, promoveu uma enorme concentração na oferta. Isso não pode ser subestimado. Ao adquirir livros de um número muito restrito de editoras que têm condições de fazer os investimentos necessários para apresentar as coleções prontas para análise da comissão do MEC – ainda que exista a possibilidade de se constituírem consórcios –, está se induzindo uma aceleração no processo de concentração das editoras. e) Finalmente, abandonou o princípio da escolha pelos professores. Nesse sentido, revelou-se um programa de corte tecnocrático e em desacordo com princípios defendidos pelo próprio MEC em seus Parâmetros Curriculares Nacionais (Lindoso, 2004: 165-6). Se comparamos a tabela “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, que é atualizada anualmente pela CBL e pelo principais programas do livro (PNLD e SNEL, PNBE), com as despesas do FNDE com seus dois é possível concluir que 21,45% do faturamento do mercado editorial brasileiro é oriundo das compras governamentais. Assim, a partir da leitura da obra de Felipe Lindoso, concluímos que as compras do governo federal tem se mantido relativamente estáveis. ANO PRODUÇÃO (Títulos) PRODUÇÃO (Exemplares) VENDAS (Exemplares) VENDAS (Faturamento) PNLD + PNBE 1998 49,746 369,186,474 410,334,641 2,083,338,907 402,839,654 % faturamento 19.34% 1999 2000 43,697 45,111 295,442,356 329,519,650 289,679,546 334,235,160 1,817,826,339 2,060,386,759 298,352,344 501,658,419 16.41% 24.35% 2001 2002 40,900 39,800 331,100,000 338,700,000 299,400,000 320,600,000 2,267,000,000 2,181,000,000 600,486,640 297,050,139 26.49% 13.62% 2003 2004 35,590 34,858 299,400,000 320,094,027 255,830,000 288,675,136 2,363,580,000 2,477,031,850 710,872,335 619,247,203 30.08% 25.00% 2005 2006 41,528 46,026 306,463,687 320,636,824 270,386,729 310,374,033 2,572,534,074 2,880,450,427 400,065,954 610,234,894 15.55% 21.19% TOTAL 377,256 2,910,543,018 2,779,515,245 20,703,148,356 4,440,807,582 21.45% Disponível em http://www.cbl.org.br/pages.php?recid=58, acesso em 12/10/2007. As duas últimas colunas foram incluídas pelo autor a partir de dados fornecidos pelo FNDE. Na realidade, o processo de concentração de compras governamentais em poucas editoras, oriundo do PNLD, parece ser interesse da própria indústria editorial, sobretudo dos programa de aquisição de livros para formação de bibliotecas nos municípios brasileiros (Uma Biblioteca em Cada Município), cuja formulação inicial “era a da constituição de convênios com as prefeituras que se dispusessem a propor e promulgar uma lei criando a biblioteca pública, ceder o espaço, funcionários para administração e linha telefônica. A contrapartida do MINC consistia em computador com programas e acesso à Internet e aos recursos para compra de um acervo de aproximadamente dois mil títulos” (idem: 167). 70 grandes grupos. Isso já foi comprovado por diversos pesquisadores, que vêm estudando o assunto. Destacamos, entre eles, Bárbara Freitag, Célia Cristina de Figueiredo Cassiano, João Batista Araújo e Oliveira, Kazumi Munakata, Maria Cecília Mattoso Ramos e Paulo Meksenas. Nas considerações finais de sua dissertação de mestrado, Célia Cassiano aponta: [...] um grande ponto a destacar seria a desnacionalização das editoras de didáticos brasileiras, caracterizando uma verdadeira ruptura, que se instaurou concomitantemente às reformas educacionais implementadas pelo governo FHC , e que merecem a atenção de amplos setores da sociedade, visto as relações estabelecidas, em nível nacional, entre as grandes editoras e as instituições escolares públicas e privadas no Brasil (Cassiano, 2003: 131). A sistemática de interferência da indústria editorial na política de aquisição dos livros é notória, “o que fica marcado [...] é a tendência concentradora de tal política, que, intencionalmente ou não – não importa – vem fazendo com que poucas editoras passem a dominar o panorama e se capacitem para ocupar a maior fatia do mercado” (Oliveira, Guimarães & Bomény, 1984: 118). Nesse sentido, percebemos que os argumentos de Lindoso apenas consolidam essas recorrentes tentativas de interferência, já que o autor propõe a participação de atores (livrarias e professores) que estão bastante ligados à indústria editorial. As possibilidades de interferência, assim, são maiores e podem ocorrer descontroladamente. Em sua tese de doutorado, ao tratar da mediação do editor na comercialização de livros paradidáticos, Maria Cecília Mattoso Ramos adverte que: Não se pode ignorar o fato de que algumas empresas passaram a fazer vultosos investimentos na área, após vislumbrarem possibilidades de polpudos lucros advindos da entronização oficial dos livros didáticos e paradidáticos na escola, através de acordos firmados entre órgãos oficiais e grandes empresas editoriais. (Ramos, 1987: 59). Freitag, Costa & Motta (1997) concluem, que “a economia do livro didático é, nas condições brasileiras de produção, o grande negócio de editoras e livrarias”: Os números estudados mostram que a produção do livro didático assume proporções gigantescas no Brasil, concorrendo a indústria do livro com outras produções da indústria cultural em pé de igualdade. Os editores reclamam, mas fazem excelentes negócios, sem correr os riscos de mercado, já que o Estado compra mais da metade da produção do livro didático. (Freitag, Costa & Motta, 1997: 64). 71 Na mesma linha trabalha o pesquisador Paulo Meksenas28, ao notar que: Ao desenvolver projetos para a compra de milhões de livros destinados aos alunos da escola pública, o Estado cria condições para que [...] editoras se afirmem no mercado e se mantenham em função de vendas exclusivas ao Estado. Portanto, é significativo o fato de todas as Editoras atingidas por esse estudo terem nascido e se firmado como Editoras de grande porte a partir da década de 70. (Meksenas, 1992: 192). Especificamente em relação ao PNBE, Ana Carolina de Carvalho Mesquita, em seu trabalho de conclusão de curso, entrevista Wander Soares (ex-presidente da Abrelivros e diretor da editora Saraiva). O editor arremata: Depois do advento do PNBE , as editoras começaram a se preocupar em se preparar para vender para o governo, porque acham que isso é a grande solução da vida delas. Acontece que agora, tendo sido interrompido o PNBE , elas ficaram atônitas, sem saber o que fazer. Porque na realidade o que o PNBE estava fazendo? O PNBE estava começando a viciar as editoras. Foram três anos só; mas já começou a direcionar o catálogo das editoras...! E o que isso acarreta? Isso acarreta, primeiro, não numa busca de qualidade, mas numa busca de padrões que agradam a um programa governamental que compra livros. Esse programa governamental que compra livros é um programa que, pelas regras do programa, contribui bastante para piorar o produto editorial. [...] Se sua tese é a de que existe uma influência das necessidades de mercado no critério de seleção editorial, a resposta é sim (Mesquita, 2004: 145 e 158). Mesquita entrevista também Marcos Kirst, diretor de marketing da Câmara Brasileira do Livro. Em relação aos interesses das editoras, ele é taxativo: São interesses conflitantes. No passado, a CBL tentou resolver – foram em petit comite ver o Paulo Renato [ministro da educação], fez tentativas. [...] O que se discute muito é que as editoras são poucas, as que participam do bolo. Essa é a grande briga hoje entre as editoras: existe um grupo pequeno de grandes editoras específicas, focadas, que produzem para o governo e são sempre contempladas (Mesquita, 2004: 165-6). Em seu doutorado, Kazumi Munakata também nos dá pistas das relações da indústria editorial com o governo federal. O pesquisador entrevista o editor da Contexto, Jaime Pinsky. Ele pergunta diretamente: “Afinal, vale a pena vender para o Estado?”. O editor é categórico: O Estado é um comprador extremamente importante hoje em dia, um comprador fundamental em qualquer editora. É conversa fiada isso que eles dizem que não têm interesse em vender para o governo (Munakata, 1997: 73). Munakata também lembra que essa “mesma posição foi assumida quando Pinsky era professor universitário e diretor da Editora da Unicamp” (idem: ibidem). Naquela ocasião, Pinski havia defendido abertamente que: As editoras comerciais têm um interesse muito grande na venda de livros para esses programas e se empenham de todas as formas para serem agraciados com as verbas públicas que não são nada 28 O pesquisador estuda as grandes editoras brasileiras de livros didáticos. 72 desprezíveis. É fora de dúvida que várias delas cresceram muito não apesar do poder público, mas exatamente por causa dele (Pinsky, 1985: 25). É exatamente o mesmo discurso de outra entrevistada de Munakata, Wilma Silveira Rosa de Moura, que coordenava na Ática a editoria de livros de 1ª a 4ª séries do 1° grau: Quando o Estado compra, ele compra muito. Na minha área compra aos muitos milhões, mas compra com preço tão vil... Claro, é evidente que as editoras ganham. A gente chora um pouco... “Não dá pra vender, mas se não vender você fica fora do mercado; é importante vender só para ficar no mercado...”. Mas é claro que não é bem assim. (Munakata, 1997: 77). A partir dessas e de outras entrevistas com editores, o pesquisador conclui: O que se pode afirmar, então, é que o Estado não é tão soberano na história do livro didático. Além disso, o pouco que se permite vislumbrar dos obscuros bastidores da negociação entre o MEC e as editoras faz entrever uma possível pressão destas sobre aquele, que acabaria por atender à exigência de divulgar a “lista negra”. Nesse sentido, não se poderia inverter a fórmula da Lei Geral da História do livro didático no Brasil e imaginar a possibilidade de as ações do Estado, em relação a esse setor, serem resultado das pressões das empresas editoriais? (idem: ibidem). Eloísa de Mattos Höfling também aponta: A acentuada centralização da participação de um grupo de editores no PNLD coloca em questão as perspectivas de descentralização do programa. Na medida em que, por sua posição no mercado, dispõe de mecanismos mais eficientes de divulgação, de marketing [...] alcançam grande poder de penetração e circulação entre seus “clientes”. Essa situação, associada a outros fatores, condiciona, em grande medida, a escolha feita pelo professor (Höfling, 2000: 9). Em suma, todos esses pesquisadores têm constatado em seus trabalhos que as relações entre a indústria editorial e o governo federal não são meramente pontuais. Há, sem dúvida, um processo de concentração de parcelas dessa indústria (que mostraremos nas tabelas do item 3.3) nas vendas de livros didáticos e paradidáticos que são pouco lembradas por Felipe Lindoso. Elas acabam por complicar e tornar bastante fracos os argumentos do autor, uma vez que o interesse do mercado editorial é perpetuar alguns processos que o PNBE , de alguma maneira, deixou de lado. É o caso da ausência do professor no processo de seleção, da formatação de determinadas coleções e de outros pontos da sistemática do programa, cuja reflexão é apresentada no próximo capítulo. 73 3.2. A VISÃO DE PESQUISAS ACADÊMICAS As pesquisas acadêmicas mais relevantes acerca do PNBE foram a tese de doutorado da Profa. Dra. Célia Regina Delácio Fernandes, intitulada Práticas de leitura escolar no Brasil: representações da escola, de professores e do ensino na literatura infanto-juvenil a partir dos anos 80, e a dissertação de mestrado de Ana Paula Cardoso Rigoleto, O programa Literatura em Minha Casa enquanto política pública: avaliando a formação de famílias leitoras. Além desses dois trabalhos, é importante destacar também a carta aberta e a apresentação em congresso, ambas de autoria da Profa. Dra. Maria Antonieta Antunes Cunha a respeito da ação “Literatura em Minha Casa”. Os dois textos foram escritos em 2003, após duas edições do programa que contaram com a distribuição de livros aos alunos. São apresentadas a seguir, uma síntese da pesquisa de cada uma delas, bem como sua contribuição para o tema em questão, já que as três estudiosas consideram o PNBE, a partir de perspectivas diversas, uma importante política pública de formação de leitores. Práticas de leitura escolar no Brasil Célia Regina Delácio Fernandes, em sua tese, defendida na UNICAMP, em 2004, lista algumas “políticas públicas e programas governamentais de incentivo à leitura no Brasil a partir dos anos 80”. O trabalho capta alguns aspectos da literatura infanto-juvenil e de seu uso nas escolas. Para isso, a autora escolhe dois programas do governo federal que adquiriram títulos desse tipo de literatura: o Programa Nacional Salas de Leitura (PNSL) e o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE ). 74 Em sua revisão da literatura, a autora nos relata a síntese de alguns trabalhos acerca dos programas de incentivo à leitura no Brasil, destacando a dissertação de mestrado de Cinara Dias Custódio (funcionária da SEF e membro de comissão avaliadora), intitulada Formação de leitores e estado: concepções e ações ao longo da trajetória do Ministério da Educação (1930-1994). O trabalho da pesquisadora conclui que tais políticas resumem-se a “uma política do livro, principalmente do segmente de didáticos, e não de democratização da leitura, perpetuando a situação de exclusão e precário domínio do universo cultural letrado no Brasil” (Fernandes, 2004: 33). Célia Fernandes, ao relatar a dificuldade de encontrar pesquisas acerca do PNBE, propõe análise de determinados documentos oficiais, começando por uma avaliação do programa feita pelo TCU intitulada “Relatório de Auditoria Operacional”. Tal avaliação classifica como positiva “a possibilidade de os alunos terem acesso a livros de literatura e estes serem de boa qualidade” (idem: 35). Mas, a auditoria identificou problemas estruturais no programa, a saber: - inexistência de interação com outros programas; - pouca articulação dos níveis federal, estadual e municipal de governo na política de educação para utilização de livros paradidáticos; - reduzidas condições operacionais de algumas escolas para lidar com os acervos; - falta de capacitação dos professores; - falta de divulgação do PNBE; - deficiência no monitoramento do programa (idem: 35). No final do primeiro capítulo de sua tese, Célia Fernandes faz um importante levantamento das edições do PNBE de 1997 a 2002, no qual mostra a sistemática de avaliação e seleção das obras que compuseram cada acervo, a seleção das escolas que receberiam os acervos, bem como os valores gastos em cada edição. Na primeira edição, em 1998, nota que o acervo foi avaliado e selecionado por “uma comissão especial, formada por intelectuais instituída pela Portaria nº 1.177, de 14/11/96”. Causa certo estranhamento, no entanto, descobrir que tal comissão, formada por Alfredo Bosi, Cândido Mendes, Eduardo Portela, Lygia Fagundes Telles e Sérgio Paulo Rouanet, tendo 75 como secretária executiva Heloisa Vilhena de Araújo, Assessoria Internacional do Gabinete do Ministro, era a mesma que também avaliou e selecionou obras para outro programa (Biblioteca do Professor). A autora observa que “ao deter-se sobre a composição desse [acervo de 1998] nota-se que, embora o público-alvo fossem alunos matriculados em escolas de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, constam do acervo em questão apenas obras de dois autores da literatura infanto-juvenil: um livro de poesia de Vinicius de Moraes e a coleção infanto-juvenil de Monteiro Lobato” (Fernandes, 2004: 56-7). Ainda sobre esse acervo (também aberto à comunidade), a autora mostra que os próprios professores acharam as obras inadequadas ao ensino fundamental, já que faziam parte do acervo obras como Sermões (do Padre Vieira), “várias obras acadêmicas que exigem um elevado grau de entendimento”, como ensaios de Roberto Schwarz, Ecléia Bosi (esposa de Alfredo Bosi), além de obras de membros da comissão (como Sérgio Paulo Rouanet, com As razões do Iluminismo, e Lygia Fagundes Telles, com Ciranda de Pedra). A autora denuncia ainda “que em boa parte das escolas contempladas, por vários fatores, nem mesmo os professores e alunos têm informação a respeito da existência do acervo” (idem: 57). Na segunda edição, em 1999, outros problemas na sistemática do programa são destacados por Célia Fernandes, a saber: - a mudança no critério de atendimento amplia a quantidade de escolas [...], mas, ao mesmo tempo, diminui a de alunos beneficiados (somente alunos das quatro séries iniciais); - embora os critérios [de avaliação e seleção, elaborados pela FNLIJ] estejam todos muito explicados, poder-se-ia perguntar: o que seria considerado qualidade de texto, imagem e projeto gráfico pela FNLIJ? - a comissão composta por membros da FNLIJ é composta, majoritariamente por representantes do estado do Rio de Janeiro (nenhum deles é do Norte ou do Nordeste); - como as obras contempladas apóiam-se nos temas transversais dos PCN ’s, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Declaração dos Direitos da Criança, na Constituição Brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente, fica claro que a escolha dos livros no final do milênio ainda continua subordinada às diretrizes curriculares do Ministério da Educação (idem: 58-9). Os livros do PNBE/1999 foram entregues em 2000. O acervo do PNBE/2000, entregue no ano seguinte, contou também com um guia, intitulado Histórias e histórias, que auxiliaria na utilização, por parte das escolas e dos professores, do acervo da edição anterior. A autora acredita que tal guia mostra “as possíveis conseqüências da desorganização cronológica do 76 programa, pois o fato de o guia não ter sido entregue junto com o acervo de 1999 acarretou sérios prejuízos qualitativos” (idem: 60). A partir de 2001, o programa passa a distribuir livros diretamente aos alunos (Literatura em Minha Casa). Célia Fernandes aponta que “é interessante observar que, se por um lado, aumenta o número de escolas beneficiadas, por outro lado, já que o novo critério de atendimento contempla somente alunos de 4ª e 5ª séries, o número de alunos diminui, aumentando-se significativamente os recursos empregados” (idem: 60). Observa ainda que “apesar de a Comissão designada representar várias instituições reconhecidas no campo da leitura, os trabalhos a serem desenvolvidos parecem não ter autonomia visto que obedecerão às normas e orientações estabelecidas pelos instrumentos legais que regem o PNBE em seu exercício em 2001” (Fernandes, 2004: 61, grifos da autora). O edital da edição de 2001, em seus anexos I e II, também merece, por parte da autora, considerações relevantes, já que determinam que a escolha dos acervos se dará por diversidade e materialidade das obras inscritas pelas editoras. O anexo I (que determina as especificações técnicas dos livros) permitem viabilizar um barateamento do custo final dos livros, mas interfere na recepção dos mesmos, já que limita suas possibilidades de atração (os livros são todos impressos em preto, somente a capa é colorida). O anexo II (que determina os critérios de avaliação e seleção das obras) elenca quesitos como tipologia, temática, seleção de títulos e autores, textualidade, projeto gráfico e ilustrações. Para Célia Fernandes, Analisados em conjunto, esses critérios podem ser resumidos basicamente em duas exigências na escolha das obras: diversidade – gênero, assuntos, títulos e autores representativos de diferente épocas e regiões, textos de variados quadros de referências literários – e materialidade – projeto gráfico e ilustrações adequadas ao público-alvo. Merece destaque o fato de o julgamento das obras incluir a preocupação com o destinatário. Mas, a esse respeito, poder-se-ia perguntar: quem decide sobre a adequabilidade das obras às crianças e com base em que princípios? Em vista dos aspectos expostos, pode-se concluir que o edital para o PNBE/2001 atentou para os mesmos critérios elaborados pela FNLIJ para o PNBE /1999 (idem: 62). 77 Para a autora, se olharmos atentamente os acervos selecionados, podemos perceber que o critério diversidade é questionável, já que “os autores de prestígio reinam absolutos”. Além disso, há mais de uma obra de um mesmo autor e obras que já foram selecionadas em edições anteriores do programa. Fernandes acredita que “tais repetições poderiam ser evitadas pelas próprias editoras caso houvesse alguma recomendação no edital” (idem: ibidem). Na edição de 2002, a autora mostra que a comissão permanece quase a mesma, embora alguns outros nomes tenham sido incluídos e conclui que “percebe-se uma ampliação expressiva da representatividade na validação da escolha das coleções do PNBE/2002, mas os critérios já estão definidos previamente no edital” (idem: 63). Ou seja, a pluralidade da comissão avaliadora é questionável, uma vez que o texto do edital é praticamente o mesmo da edição anterior. Ainda assim, a autora aponta uma mudança bastante expressiva no texto do edital que, agora, exige que a comissão paute sua escolha em obras de “autores representativos conhecidos e assumidos como ícones da cultura brasileira” (Fernandes, 2004: 62). O critério da diversidade fica, agora, claramente, relegado a segundo plano. O edital passa a exigir ainda que não se repitam obras de edições anteriores do programa, que as que foram selecionadas contribuam “para o desenvolvimento ético do leitor” e que o texto favoreça “a experiência estética diversificada”. Além disso, mantém itens como projeto gráfico e “acrescenta-se um item sobre o projeto editorial na avaliação das coleções”. Para Célia Fernandes, “há, portanto, um aprimoramento nos aspectos e maior clareza na redação” (idem: 63). Mesmo com todas as exigências do edital, a autora denuncia que foram selecionados títulos de autores e obras que apareceram em outros acervos do programa. Nota ainda a repetição de quatro editoras (Ática, Companhia das Letras, Nova Fronteira e Objetiva), cujas coleções foram escolhidas para o PNBE/2001 (idem: 64). 78 A autora finaliza o capítulo observando que para o ano seguinte, 2003, a FNLIJ promoveu o seminário “PNBE: o direito de ler literatura”, onde se refletiu e se discutiu longamente sobre a sistemática do programa. A FNLIJ classificou de positivas as ações do programa, “defendendo sua manutenção e aprimoramento pelo próximo governo” (idem: 65). Em carta endereçada ao presidente recém-eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, a Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ) reivindicava, “maiormente, a descentralização dos pólos de decisão e a diversificação da oferta de livros, ou seja, a ampliação do número de escritores”. Além de pleitear “um lugar na rediscussão dos projetos de difusão da leitura no Brasil, principalmente n reavaliação dos critérios de seleção e na condução desses projetos” (idem: 66). No seminário promovido pela FNLIJ , Rogério Andrade Barbosa (presidente da AEILIJ) apresenta alguns questionamentos, que sintetizam as preocupações da associação que preside: - da padronização do livro: por que entregar livros tão iguais; porquê não receber um livro ilustrado belíssimamanente? - da repetição de escritores: seria interessante e democrático que entrasse um autor com uma obra. - da restrição de atendimento: por que só os alunos da 4a série vão receber livros? (FNLIJ, 2002: 46). Roger Mello, autor e ilustrador de livros infanto-juvenis, consolida tais questionamentos, uma vez que acredita que o livro “o livro deve ser valorizado como objeto. Não se pode falar do livro apenas do ponto de vista do conteúdo. O livro é forma e conteúdo. E a forma também tem conteúdo. A própria letra é imagem” (idem: ibidem). Ambos estão em sintonia, uma vez que se preocupam também com a estética dos livros selecionados, mas não podemos deixar de notar que há nessas reivindicações interesses também ligados aos autores e ilustradores de literatura infanto-juvenil, já que a grande maioria fica de fora. Célia Fernandes relata, ainda, alguns problemas em relação ao programa, tais como, a distribuição dos livros (há escolas que não entregaram os livros aos alunos), a capacitação do professor (como agente mediador entre o livro e o leitor na escola). Sugere que a verba da 79 aquisição de livros contemplasse também a capacitação do professor, já que os livros comprados e distribuídos podem não ter o uso desejável. Sugere ainda a participação de toda a comunidade escolar no processo de seleção dos títulos, garantindo, assim, “um funcionamento mais democrático e eficaz da política de leitura”. Célia Fernandes, ao contrário de Felipe Lindoso, nos apresenta preocupações mais pontuais, considerando sua experiência como pesquisadora da leitura e educadora. Para ela, é preciso inclui a comunidade escolar no processo e não apenas o professor como defende pontualmente Lindoso. O Programa “Literatura em Minha Casa” enquanto política pública: avaliando a formação de famílias leitoras Ana Paula Cardoso Rigoleto, em sua dissertação, defendida na UNESP, em 2006, analisa o PNBE enquanto política pública de formação de leitores. A pesquisadora enfatiza que o trabalho pretende “levantar dados mais recentes que possam nos fornecer um panorama de como o Literatura em Minha Casa vem sendo desenvolvido em duas classes de 4ª série selecionadas para a pesquisa” (Rigoleto, 2006: 65). A pesquisadora procurou “atentar para as atividades específicas realizadas pelos professores, bem como para as condições em que estes professores buscam desenvolver o Programa, com vista a atender os objetivos do mesmo” (idem: ibidem). Ficam claros, assim, o foco e o interesse da pesquisadora em relação ao PNBE : a aplicação efetiva do programa, ou melhor, dos livros por ele distribuídos, em sala de aula e na casa dos alunos. Para fundamentar sua pesquisa, Rigoleto faz uma importante revisão da literatura, sobretudo no que lhe é mais caro: a questão da leitura e das políticas públicas de leitura no 80 país. Busca, entre os estudiosos da leitura, aqueles que procuram classificar a leitura por faixa etária e escolar, ou seja, estão preocupados com a formação do leitor. Cita também alguns programas que qualifica de políticas públicas para a leitura, dentre eles, o PNBE, cuja edição de 2003 será objeto de sua pesquisa. Rigoleto escolheu o estudo de caso como metodologia para a sua pesquisa junto a todos aqueles que, de alguma forma, tomaram contato com os livros distribuídos na edição de 2003 do programa: coordenadores e diretores de escolas municipais e estaduais, professores, alunos e pais de alunos de 4ª série dessas escolas (localizadas em Presidente Prudente, metrópole regional onde a pesquisadora defendeu seu mestrado e Parapuã, cidade onde mora). Eles responderam questionários (modelos específicos para cada um), com os quais a pesquisadora tentou descobrir o grau de eficácia do programa dentro do universo por ela escolhido: escolas que ofereceram a 4ª série e que receberam os livros do kit Literatura em Minha Casa nas cidades de Presidente Prudente e Parapuã. Quando fala sobre o programa, especificamente o Literatura em Minha Casa, mostra os pontos negativos (a partir de avaliação feita pelo TCU, em 2002), dentre os quais, destacamse: falta de diretriz explícita para o Programa; inexistência de cronograma formal que defina as ações para cada instância do MEC; falta de interação com outros programas federais; pouca articulação dos três níveis de governo na política de educação para utilização de livros paradidáticos; reduzidas condições operacionais de algumas escolas para lidar com os acervos; capacitação insuficiente para os professores; pouca divulgação do Programa; monitoramento frágil; inexistência de avaliação e acompanhamento sistemático da utilização dos livros; e falta de previsão de ações de apoio direcionadas especificamente às escolas mais carentes (idem: 64). Dentre os pontos positivos, Rigoleto destaca: boa qualidade de impressão e de conteúdo dos acervos já distribuídos; oferta de livros paradidáticos para escolas que, de outra forma, não teriam acesso a eles; preocupação em universalizar o acesso ao programa, estendendo o atendimento a todos os alunos que estiverem matriculados na 4ª e 5ª séries em 2002; e eficácia operacional do FNDE em administrar a distribuição de livros do PNBE para escolas espalhadas em todo o país (idem: ibidem). Em relação às características negativas do programa, sobretudo quando se toma como base o relatório do Tribunal de Contas da União (v. item 3.4), a concordância é clara. 81 Infelizmente o TCU tem razão em apontar tais problemas, já que eles, de fato existem e foram comprovados. Sobre a avaliação positiva do programa que Rigoleto traz em sua pesquisa, há pontos que merecem especial destaque, sobretudo no que se refere à qualidade de impressão e de conteúdo dos acervos distribuídos. Em relação a este tópico, será demonstrado no capítulo 4 que tal qualidade parece bastante questionável se se pensar no histórico do programa e analisar, hoje, o material distribuído entre 2003 e 2004. Ainda assim, Ana Paula Rigoleto considera o programa positivo, pensando-se no universo por ela pesquisado. Como escolheu um estudo de caso (determinadas escolas, em cidades pré-estabelecidas), ela mostrou, em um primeiro momento, quantitativamente, que o programa, apesar de seus problemas, contribuiu para a melhora do hábito de leitura dos alunos. Tal confirmação pôde ser constatada por ela, no segundo momento de seu estudo, no qual nos apresenta reflexões a partir de uma pesquisa qualitativa feita com os professores, os alunos e seus pais. Ela aponta “que a questão do hábito de leitura varia muito de família para família, mas que mesmo aquelas para as quais o tempo parece ser mais curto que para as outras, houve o momento da leitura compartilhada” e, o que é mais positivo, “as crianças foram mediadores deste processo porque foram veículo da literatura dentro de suas casas” (idem: 155). Assim, O papel do Programa Literatura em Minha Casa neste processo foi essencial, já que muitas destas famílias não têm livros em casa. Por mais que nós saibamos que falta aos gestores das políticas públicas um repertório para elaborar tais políticas, e que sem mediações sócio-culturais e pedagógicas a distribuição de livros cai num vazio, acreditamos poder ao menos mostrar que ainda há esperança. De fato há uma distância enorme entre os que elaboram as políticas públicas de leitura e os que as põem em prática, mas existem também iniciativas que dão certo, mesmo neste contexto (idem: ibidem). Carta aberta “Opinião sobre o projeto ‘Literatura em Minha Casa’, do MEC” e apresentação em congresso “Por uma urgente e verdadeira transformação da política de letramento do cidadão brasileiro” 82 Alguns apontamentos acerca das edições de 2001 e 2002 foram feitos por Maria Antonieta Antunes Cunha, professora da Escola de Ciência da Informação da UFMG, em carta aberta. As críticas da professora vão desde a composição das coleções até a presença massiva das mesmas editoras nas duas edições do programa: A meu ver, por exemplo, definir que a compra se faça pelo conjunto dos 5 livros apresentados pela mesma editora é uma evidência de não priorização da qualidade: sem sequer considerar a questão de “deformação” a que se submeteram as obras, quanto à sua produção original, as coleções selecionadas raramente apresentam equilíbrio quanto à adequação a seus leitores prioritários. Seria muito mais correto, do ponto de vista estético e da democracia também desejável no mercado, que as editoras apresentassem suas melhores obras em cada gênero e que o MEC formasse as coleções incluindo os melhores livros, eventualmente juntando editoras diferentes. Nenhum problema logístico deveria sobrepor-se às questões de qualidade, e nenhum deles parece insuperável. Como foi concebido, o projeto, além de não selecionar obrigatoriamente os melhores ou mais adequados, privilegiou para uma compra de 80.000.000 de livros apenas 10 (dez) editoras!!! Quatro delas foram selecionadas nas duas edições do projeto. Na segunda seleção, duas são reconhecidamente do mesmo grupo empresarial. Esse parece ser outro ponto fraco do projeto: na realidade, nas duas versões o projeto contemplou muito poucas editoras, e somente do eixo Rio-São Paulo, desconsiderando a bela e premiadíssima produção de literatura infantil e juvenil de outros Estados. O projeto privilegiou claramente o poder econômico, em detrimento de projetos culturais consolidados ao longo dos anos e reconhecidos das editoras. A professora sugere também, nessa carta, que o edital deveria proibir que “ganhadores” da edição anterior não pudesse se candidatar no ano seguinte, sem prejuízo para o projeto. Para ela, “não se trata de ampliar o leque de escolhidos, mas de se ‘garantir a qualidade’ da leitura das crianças”. E ainda assegura: [...] não acredito que poderia haver uma baixa significativa de qualidade das coleções. Ao contrário, acredito que os ganhos seriam muito maiores. Em primeiro lugar, porque sabemos que cada comissão, por mais soberana que seja – e tem de ser – reconhece a subjetividade e relatividade de suas escolhas. Então, caberia a ela, na minha opinião, “consertar” a falha do edital e sabiamente dar maior amplitude à seleção, desempatando o “empate técnico” levando em conta a não repetição de editoras. Em segundo lugar, porque, mais do que ampliar a escolha e, como alguém disse, “repartir o bolo” entre editoras que têm um papel significativo na produção da literatura infantil brasileira, haveria maior possibilidade de diversidade de pensamentos, autores, regiões, linguagens, o que deve caracterizar uma boa seleção de livros. Em terceiro lugar, há uma questão fundamental, que é o reforço das hegemonias: compreende-se perfeitamente que as editoras, como empresas, trabalhem no sentido de ganharem e crescerem sempre, mas cabe ao poder público e às entidades que não têm fins lucrativos e têm o papel de pensar a questão do livro não privilegiarem claras hegemonias, sempre danosas ao desenvolvimento realmente democrático da cultura e à circulação do pensamento plural. As críticas da professora nessa carta aberta mais uma vez denunciam a concentração de determinados grupos editoriais e, ao contrário do que dizem os representantes desse mercado, Cunha sugere que uma maneira de “repartir o bolo” não é comprando mais livros e sim comprando de editoras diferentes a cada edição do programa. 83 Em outra apresentação, intitulada “Por uma urgente e verdadeira transformação da política de letramento do cidadão brasileiro”, Maria Antonieta aponta dois problemas graves da educação brasileira que devem ser superados: “a incapacidade leitora de nossos alunos e o despreparo dos docentes para o trabalho de desenvolvimento de tal competência entre seus alunos”. Ela também põe em xeque “a eficácia das ações desenvolvidas nas suas últimas gestões [do MEC] para resolver esse problema de dupla face: a dos alunos e a dos professores”. Toca, mais uma vez, nas edições de 2001 e 2002 do “Literatura em Minha Casa”: Por outro lado, um projeto como o “Literatura em Minha Casa”, nas versões de 2001 e 2002, por seus equívocos de concepção e execução, possivelmente sem atingir os melhores objetivos, gerou um desconforto e um desânimo quase mortais entre muitos editores, não por não terem sido contemplados (os próprios contemplados fazem críticas muito pertinentes ao projeto), mas por não perceberem nele uma postura de valorização de políticas de leitura a serem buscadas nem políticas editoriais consolidadas e, portanto, de real interesse para a população. A professora acredita que um programa desse porte não deve se pautar em “bater recordes de números”, tampouco se orientar “pelo imediatismo e pela fria matemática”. Para tanto, a aquisição de livros precisaria considerar quatro questões básicas, propostas por ela. A primeira delas é saber se os livros devem ser prioritariamente doados às escolas ou às crianças e jovens: Em sã consciência, não temos elementos para afirmar que livros doados individualmente às pessoas (de qualquer idade) tenham mais força para criar o gosto/hábito da leitura do que doados às instituições. Ainda que as instituições não fizessem outra coisa além do empréstimo do livro, ele estaria oferecido a um número muitas vezes maior de leitores potenciais e, portanto, teria mais chance de ser lido por mais pessoas. (Sabemos que um número significativo de escolas brasileiras não entregou os livros às crianças, porque viram nas coleções a possibilidade de as escolas terem alguns poucos títulos.) Por outro lado, a aquisição de livros para uma escola permite uma variedade de títulos (para todas as séries) que possibilita a escolha pessoal mais acertada da leitura para cada um, o que as pesquisas mostram ser o caminho para a aproximação real e permanente com os livros. (Exatamente as pesquisas sobre a (in)capacidade de leitura dos alunos da 4ª série evidenciam a urgência de se dotar as escolas de livros para as séries iniciais.) Além disso, a questão emblemática de bens simbólicos coletivos não é, de forma alguma desprezível. Para o pensamento democrático, soa mal privilegiar a posse “doada”, quando a coletividade não pode usufruir do mesmo bem. Nesse sentido, ações em tomo da doação de livros para pessoas físicas só poderiam justificar-se junto ou depois do amplo atendimento às instituições educacionais. A grande luta deveria ser transformar as bibliotecas escolares em bibliotecas comunitárias, extensão da intenção de tomar a escola um espaço da família e da comunidade, como um passo decisivo para a melhoria do rendimento do aluno e da própria vida familiar e comunitária. Para ela, seria preciso então, equipar primeiro as bibliotecas, criar o hábito de freqüentá-las e só mais tarde pensar em distribuir acervos às crianças. A biblioteca não é apenas um espaço para guardar livros, é também um espaço comunitário que pode e deve ser 84 usado como tal. As bibliotecas escolares poderiam servir também à comunidade local e mais livros seriam lidos por mais pessoas. Claro que isso tudo necessita de uma ação conjunta entre os profissionais ligados à educação para que a idéia funcione. A segunda questão proposta é relacionada à composição dos acervos. A professora aponta como organizar uma lista significativa, democrática e aberta: Há experiências de sucesso no Brasil, nas quais se faz uma seleção de ampla lista com claros indicadores de qualidade, abarcando os mais diferentes gêneros, temas, tratamentos, linguagens, autores, editoras, organizada de tal forma que cada um desses itens apareça com seu tamanho e sua importância. Essa diversidade não só é democrática, mas evidencia o ponto-chave da questão da conquista do leitor: a opção de cada um, o caminho individual na busca de textos diferentes são a “fórmula mágica” de criar leitores. Sabemos que ninguém tem a ilusão de que cinco ou seis gêneros abarcam as possibilidades de sedução para a leitura. Uma lista abrangente, que pode ser muito exeqüível, teria muito mais chance de contemplar os vários tipos de leitores potenciais. Ou seja, um acervo deve ser o mais heterogêneo possível. Poucos gêneros literários e de obras que, em algumas edições, contemplam os mesmos autores pouco contribuem para a ampliação do interesse pela leitura. A terceira questão proposta é ainda sobre o acervo. A especialista pergunta se o acervo adquirido deve ser o mesmo para todas as escolas ou se seria melhor possibilitar a escolha autônoma das escolas: Sabemos que as escolas têm situações muito diferentes, seja com relação ao acervo já existente, seja nas condições culturais dos alunos. Imaginar um mesmo acervo para todas as escolas brasileiras é não oferecer a cada uma o que pode, efetivamente, mobilizar a escola para a leitura. Além disso, as experiências mostram que as aquisições se tomam muito mais significativas no cotidiano da escola e adequadamente exploradas, quando ela participa da escolha. Adotada essa estratégia, caberia ao MEC, através de manuais, encontros e de programas de televisão interativa, orientar as escolhas, de forma a garantir a diversidade que uma boa biblioteca deve apresentar. Por exemplo: organizam-se as listas de tal modo que nenhum gênero possa ser alijado da compra, nem possa haver aquisição de uma só ou de muito poucas editoras. Isso é perfeitamente possível (já fizemos isso para todo o Estado de Minas Gerais) e até razoavelmente simples. Note-se que a pré-seleção se mostra extremamente importante: a avalanche de publicações do mercado brasileiro dificulta mesmo aos mais interessados acompanharem a produção. O mais freqüente é o despreparo das escolas para fazerem uma escolha via catálogo. A pré-seleção garantiria as qualidades estéticas e pedagógicas rnínimas, para uma escolha mais acertada, em função das características de cada escola. Além disso, sabemos que a “escolha livre” expõe as escolas à “operação desencalhe” que muitas editoras fazem freqüentemente, com conseqüências desastrosas para qualquer projeto de leitura. A exposição dos critérios da pré-seleção, os arrazoados dos manuais, encontros e programas interativos, entre outros, já seriam o começo do trabalho com outro eixo do projeto: o preparo dos professores. Mais uma vez os problemas comuns ao programa aparecem. Ela aponta que acervos comprados de poucas empresas na prática não são aumentados, já que não permitem que o leitor acompanhe a heterogênea produção literária e editorial do país e é preciso fazer mais que apenas comprar livros: os professores precisam de um melhor preparo. 85 A última questão proposta pela professora é se os livros devem ser produzidos exclusivamente para o projeto ou se devem ter o mesmo formato original (que é o vendido nas livrarias). É bom lembrar que na ação “Literatura em Minha Casa” os livros não são coloridos e têm um formato menor (14x21 cm) que o da maioria dos livros infantis publicados no país (cujo formato é o dobro, variando de 16x23 cm a 21x28 cm): Na verdade, o livro, sobretudo o de literatura, é muito mais do que uma soma de escritos: ele se individualiza por um conjunto de elementos do projeto gráfico, que pode contemplar ilustrações, cores, margens, fontes. Se criado adequadamente, no caso do público infantil e juvenil, terá visado a uma leitura que vai além das palavras e que toca o imaginário do leitor por uma série de dados de uma composição orquestrada. Fazer uma “operação de massa”, mutilando no livro aquilo que tem o poder da sedução é desconsiderar os muitos mistérios e a alquimia da leitura e não priorizar a conquista do leitor. Por outro lado, como foi idealizado, o livro já foi testado, analisado e avaliado, o que toma a seleção muito mais segura e menos sujeitas a hipóteses/experiências de risco – o que ocorre freqüentemente, com toda certeza, quando se criam coleções para determinado projeto. Além disso, o livro tal como está no mercado já tem muitos custos pagos, o que possibilita sua reedição a preços módicos. A mutilação do livro caracterizada pela professora, de fato, procede. Se compararmos algumas do programa com seu formato original, é inegável a melhor qualidade gráfica e editorial do produto. O projeto gráfico é, incomparavelmente, mais interessante só pelo fato de a maioria desses livros ser colorida. A questão do projeto gráfico na ação “Literatura em Minha Casa” será abordada no capítulo 4. Propõe, também, que é preciso melhorar efetivamente a prática pedagógica do professor e a ação do bibliotecário junto aos alunos: Esse problema deveria ser atacado simultaneamente com a aquisição dos acervos. É fundamental que o MEC use de suas estruturas e seu interesse pela formação continuada ou inicial para enfatizar a importância da criação da competência leitora e do prazer da leitura do professor. Há já esboçada uma idéia de um projeto do Fundescola para a criação de um curso, nos moldes da educação a distância, com esse propósito. Outros projetos ou ações do MEC e programas da TV Educativa poderiam trabalhar na mesma direção.Essa mobilização do profissional da escola é, na realidade, a busca de sensibilização do adulto, espelho das crianças e dos jovens. Um mutirão da leitura poderia ser deslanchado, afinal, pela ação do MEC , ligando várias experiências, e com a participação de outros órgãos, como o MINC. Aqui, caberia muito bem a conhecida mala de livros, para fazer o outro movimento importante: o livro ir ao leitor. Em muitos países, há também experiências emocionantes desse movimento: o livro procurando leitores em lombo de burro, em kombis, em visitas domiciliares (junto ao médico da família?). Da mesma forma, um projeto em tomo da leitura de jovens e adultos recém-alfabetizados poderia muito bem ser contemplado. E finaliza aconselhando de que maneira adquirir os livros: Nesse quesito, é fundamental que o MEC não privilegie números estratosféricos, mas a qualidade e a ressonância de cada ação. Um problema antigo e nunca atacado é o dos pontos de venda de livros no Brasil. Todos nós já nos cansamos de citar a incômoda situação brasileira com relação mesmo aos países vizinhos quanto ao 86 número de livrarias no Brasil. E a situação piora a cada semestre. A questão não é simplesmente a de abrirem-se créditos para a criação ou ampliação das poucas empresas do ramo no interior do Brasil. O problema é de manutenção da empresa. E é óbvio que uma livraria se mantém na medida em que se mantêm leitores. Parece muito mais conseqüente que o MEC , ao pensar um programa de leitura, olhe para além da aquisição para o aluno que está na escola, e vislumbre o cidadão brasileiro que precisa, ao longo da vida, como em qualquer lugar civilizado, além de freqüentar bibliotecas, visitar livrarias e lá adquirir seus livros. Isso só acontecerá no dia em que valorizarmos a ida e a compra de livros nas próprias livrarias. (Sabemos que o “objeto do desejo” tem de estar perto dos olhos, das mãos de cada um: sem livrarias e sem bibliotecas, o cidadão brasileiro – ainda o que às vezes pode comprar – não tem como alimentar seu gosto pela leitura. Por isso, parece-nos mais importante ele ter acesso a muitos livros na biblioteca da escola do que ter uns poucos em casa.) A decisão de instituir a compra de livros nas livrarias onera substancialmente um programa de aquisição de livros? Definitivamente, não. Negociado o preço de capa com o MEC (com descontos razoáveis para todos os envolvidos), acordada a venda pelas livrarias e pontos de venda existentes (ou distribuidoras, na ausência desses), muitos gastos operacionais do MEC deixariam de ocorrer. Sabe-se que nas coleções criadas para o MEC o ganho das editoras é pequeno por unidade e muito grande no total. Nesse mutirão, as negociações deixariam claras as margens de lucro pequenas, mas adequadamente distribuídas, de modo a manterem vivas livrarias e editoras, de todos os tamanhos. (A experiência mostra que, se o MEC estabelecer sua seleção para compra pelas escolas, as editoras baixam muito seus preços, porque apostam no ganho na quantidade e não no preço unitário. O mesmo aconteceria com as livrarias. A adesão, que é facultativa, acaba sendo total). Um estudo razoavelmente fácil mostraria a exeqüibilidade de uma operação como esta, com claras vantagens do ponto de vista da cidadania. Seriam estabelecidas regras de forma a – aqui, também – se evitar qualquer monopólio. Uma medida de distribuição das vendas seria, por exemplo, a obrigatoriedade de a compra das escolas ser feita no seu Estado. Uma vantagem adicional, mas nunca desconsiderável, desta proposta: as editoras produziriam os livros conforme os pedidos, o que parece bastante justo para todas elas. Da mesma forma, as livrarias negociariam uma venda assegurada. Neste programa, não haveria perdedores: nem a escola, nem o MEC , nem as empresas ligadas ao livro. A professora acredita que tudo isso deve também ter a participação dos governos estaduais e municipais. Eles se engajariam comprometendo-se com o repasse de documentos, informações, cursos de capacitação, ou outros itens/custos do programa ou com a criação, construção e ampliação das bibliotecas. Percebemos, então, que os apontamentos da professora são bastante conflitantes com os de determinadas parcelas da indústria editorial, uma vez que ela recorre à questão da heterogeneidade dos acervos que, conforme aponta Célia Fernandes, é questionável. Uma rápida olhada nos títulos das obras adquiridas pelos programas (ver anexos) mostra que vários autores como Vinicius de Moraes, Ruth Rocha, Ricardo Azevedo, Moacyr Scliar, entre outros, aparecem em mais de uma edição do PNBE. 87 3.3. A VISÃO DOS RESPONSÁVEIS PELA CRIAÇÃO DO “LITERATURA EM MINHA CASA” Há pouco material registrado sobre os responsáveis pela criação do PNBE e da ação “Literatura em Minha Casa”, ocorrida nos anos de 2001, 2002 e 2003. O seminário “PNBE: o direito de ler literatura”, promovido pela FNLIJ , contou com a participação de alguns desses atores, a saber: Iara Prado (secretária de Educação Fundamental), Mônica Messenberg (presidente do FNDE ), Elizabeth D’Angelo Serra (presidente da FNLIJ), além de alguns pareceristas que fizeram parte de comissões técnicas como Nilma Lacerda, Suely Duque Rodarte, Lucia Maroto, Maria José Nóbrega, Fernando Coelho A. Silveira, Madza Nogueira e Luis Camargo. Iara Prado, ex-secretária de Educação Fundamental do MEC e uma das responsáveis pela mudança de destinação dos livros (os livros que antes ficavam na escola, passaram a ser distribuídos diretamente aos alunos), destaca em sua apresentação no seminário, problemas estruturais bastante graves da educação brasileira, cujas soluções nos parecem absolutamente fora do âmbito do PNBE. Os principais problemas listados pela secretária são o alto índice de repetência escolar, a falta de capacitação dos professores tanto para a leitura quanto para a escrita e diferenças de qualidade na educação entre os estados. Para ela, esse triste cenário educacional brasileiro se reflete no material didático produzido pelas editoras: O que se veiculava era que o professor só tinha condições de trabalhar com materiais compreensíveis à sua condição de “profissional mal formado”, o que fez com que, cada vez mais, o mercado de material didático aumentasse a oferta de produtos de baixa qualidade (FNLIJ, 2002: 15). Uma das soluções, para ela, seria atingir uma meta de qualidade através de uma “militância pedagógica” que se consolidou na edição de 2002 do PNBE, quando foram distribuídos materiais diretamente à formação de professores. Assim sendo, parece que houve 88 um mea culpa, já que a edição de 1998 distribui acervos para as bibliotecas escolares, cujos conteúdos deveriam ser relacionados ao professores. Talvez devesse ter se preocupado primeiro com a formação continuada e depois com a formação de bibliotecas nas escolas. Além disso, a própria secretária denuncia o material didático de baixa qualidade que vem sendo produzido, e o que é pior, comprado pela SEF, sempre dos mesmos fornecedores: pouquíssimas empresas da indústria editorial brasileira. Ela aponta também dificuldades na sistematização do trabalho na secretaria que chefiou por oito anos, já que só na segunda edição do PNBE se preocupou em montar uma comissão técnica mais capacitada e realmente preocupada com a formação de leitores, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil: Na verdade, nós trabalhamos muito pouco com Elizabeth Serra [presidente da FNLIJ] nos quatro primeiros anos com leitura. Não por falta de insistência dela, mas por falta de competência nossa de dar conta de tudo aquilo dentro de uma repartição pública. O MEC é uma repartição pública, com muita dignidade, mas também com todas as dificuldades que uma repartição pública normalmente tem. (idem: 15, grifos meus). Iara Prado destaca também o PROFA (Programa de Formação de Professores Alfabetizadores) que, junto com a formação continuada, ela classifica de “avanços que nos permitiram chegar ao PNBE”. Ora, no final da década de 1990, descobrir que era necessário capacitar os professores para alfabetizar, trabalhar com eles questões de escrita e de leitura para que saibam “para que serve o livro de literatura e como usá-lo com a criança” é um tanto óbvio, sobretudo para quem ocupa tal posto. Ressalta também a importância dos editores no “Literatura em Minha Casa”: Houve a idéia de chamar os editores a cumprir sua função social. Desta vez, editores de literatura. Tinha-se dois objetivos: um deles era que o aluno pudesse ter um livro nas mãos dele e que esse livro tivesse a possibilidade de repercutir em sua família. O segundo objetivo era que os editores comprovassem que o livro é um produto de natureza diferente, um produto que tem função social, um produto que forma o futuro de um país. (FNLIJ, 2002: 15). Ou seja, a secretária parece ter visto na ação “Literatura em Minha Casa” uma chance para os editores produzirem material de melhor qualidade, já que ela própria acredita que o material comprado até então deixa a desejar. 89 Boa parte de sua palestra no seminário mostrou os problemas enfrentados por sua gestão, mas, ao mesmo tempo, nos deu a impressão de que as medidas por ela tomadas eram mais intuitivas que científicas. Iara encerra: A distribuição das coleções destinou-se às 4ª séries porque não há como acreditar que nesta série este aluno não seja ainda um leitor e um escritor. A idéia é ir descendo, pois o mais correto seria distribuir os livros na 2ª série. Já na 5ª série, distribuir um outro tipo de livro, porque este aluno está entrando numa outra etapa. Dessa forma, transformar numa política: toda 2ª série ganhando um grupo de livros e toda 5ª série ganhando um outro acervo, com livro juvenil. (idem: 17). Assim, nos parece que a distribuição de livros foi equivocada, já que a própria secretária admite que talvez a série ideal fosse outra. É uma pena ela descobrir isso só depois de tudo feito e não ter procurado antes montar uma comissão técnica mais competente e procurado trabalhos mais pertinentes, uma vez que há nas universidades trabalhos e pesquisas valiosíssimas e bastante pontuais sobre a formação de leitores e a implantação de bibliotecas nas escolas. Em 2002, Mônica Messenberg, presidente do FNDE, fala do histórico do programa e de seus objetivos e destaca que O PNBE surge com objetivos de promover a melhoria da qualidade da aprendizagem nas escolas públicas de ensino fundamental através das práticas de leitura; distribuir obras de literatura de referência bem como outros materiais de apoio; apoiar projetos de capacitação e atualização do professor do ensino fundamental e, por fim, estimular o hábito da leitura para a formação de consciência crítica entre os alunos e difundir o conhecimento entre professores e alunos (idem: 11). Explica que a mudança de perfil do programa entre as duas primeiras edições e as seguintes (que contemplariam a ação “Literatura em Minha Casa”) se deu em virtude de uma avaliação crítica sobre o uso dos acervos, já que as bibliotecas escolares não estavam sendo utilizadas devidamente: muitas estavam nas salas dos diretores, outras instaladas nas bibliotecas, mas sendo pouco exploradas. Não estava havendo um trabalho de aproximação entre a criança e aquele espaço da biblioteca e também os professores não estavam inserindo as obras daqueles acervos no trabalho do dia-a-dia da escola (idem: 11-12). A própria secretária aponta esses problemas e, assim, justifica a mudança no programa, ou seja, Decidiu-se que o melhor era entregar o livro à criança, para que ela pudesse levá-lo para casa, dispor dele, como um item de primeira necessidade. Nessa nova concepção, alunos de 4ª e 5ª séries começaram a receber coleções [...]. A busca era estar incentivando a leitura, a troca de livros e a inserção da literatura dentro do núcleo familiar ( FNLIJ, 2002: 12). 90 Quando explica a sistemática do programa, um ponto que vale anotar em sua fala é em relação à triagem do livro, quando é verificada sua qualidade física, ou seja, se possui bom papel, boa ilustração etc. Sua durabilidade deve estar equiparada a de qualquer livro disponível em livraria. O IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica), de São Paulo, faz este controle de qualidade, verificando se a apresentação física está em conformidade com as especificações do edital. Esse processo antecede a verificação da qualidade literária (idem: 12). Em relação às críticas dos editores (sintetizadas por Felipe Lindoso, conforme mostramos anteriormente), Messenberg, na qualidade de representante do governo, responde assim: O professor não participa da escolha do livro porque a grande maioria do professorado não teve um processo de introdução no mundo literário ainda. Uma grande crítica dos professores ao PNLD é a múltipla oferta de produtos sem um tempo hábil de escolhê-los, principalmente sem ter o produto em mãos (idem: 48). Disse ainda que a comissão técnica foi formada por dezenas de pessoas que têm acesso aos professores e que, de alguma forma, os representam. Suely Duque Rodarte arremata: Um objetivo ficou nitidamente claro: o que se propôs foi a qualidade do material a ser levado. Não foi privilegiado, em nenhum momento, um problema financeiro ou exclusão de editoras. O que se queria era levar a literatura (que até então não estava chegando) a muitos lugares. É preciso atentar para os projetos e experiências que estão acontecendo, onde se está chegando, como está sendo feito. Se começarmos a remexer demais, existe o risco de perder. Como professora e como Secretária de Educação, o programa satisfaz. Podemos não satisfazer aos editores que ficam de fora, mas podemos satisfazer em qualidade com a nossa proposta de literatura (idem: 49). A secretária parece ter querido dizer: antes assim do que nada. Definitivamente, não é uma contribuição tentar silenciar as críticas em relação ao programa, uma vez que, boa parte dos participantes do seminário, também deixou clara sua opinião positiva a respeito do PNBE. Curiosamente, a ex-presidente do FNDE , Mônica Messenberg atualmente “responde pelo cargo de diretora de Relações Institucionais da Editora Moderna, atuando em Brasília” (Cassiano, 2007: 190). Em 20/08 /2003 foi publicado no jornal Folha de S.Paulo que Mônica Messenberg, chefe do órgão que comprava e distribuía 100 milhões de livros didáticos no governo FHC tornou-se diretora de relações institucionais da Editora Moderna, fornecedora do MEC. Ao ter sido questionada sobre a situação, Messenberg disse ter sido convidada pela editora devido ao “conhecimento profissional acumulado”, e que, no governo, não escolhia (idem: ibidem). 91 Seu trabalho parece estar rendendo frutos, já que a Moderna foi, neste ano de 2008, a que mais lucrou com a venda de livros ao PNLD e ao PNLEM, conforme mostram as tabelas abaixo: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Programa Nacional do Livro Didático 2008 – Ensino Fundamental – Valores Negociados TIRAGEM TÍTULOS TIRAGEM CADERNOS R$ por R$ por VALOR TOTAL ADQUIRIDOS MÉDIA TIPOGRÁFICOS CADERNO EXEMPLAR TOTAL 36.107.212 186 194.125 577.968.517 0,2799 4,47 161.470.112,50 21.575.189 396 54.483 340.051.896 0,3177 5 107.936.653,30 17.353.460 322 53.893 296.909.980 0,3288 5,62 97.527.973,57 12.602.527 272 46.333 203.891.822 0,3311 5,35 67.427.203,83 6.091.137 252 24.171 94.582.574 0,3511 5,45 33.175.765,19 5.186.321 132 39.290 73.001.721 0,3788 5,33 27.624.343,28 3.538.648 120 29.489 50.968.468 0,4055 5,84 20.650.604,34 3.579.987 98 36.530 47.136.953 0,3788 4,98 17.837.644,53 2.294.468 148 15.503 29.842.799 0,4277 5,56 12.752.748,72 609.831 64 9.529 7.227.439 0,5677 6,72 4.100.193,44 425.381 44 9.668 5.919.900 0,5766 8,02 3.411.842,89 536.312 10 53.631 6.034.109 0,5588 6,28 3.368.289,36 250.552 10 25.055 3.569.799 0,3611 5,66 1.417.978,44 88.798 8 11.100 1.748.749 0,5811 11,44 1.015.654,42 1.901 8 238 15.347 1,8822 18,81 35.759,19 0,3219 5,08 559.752.767,00 TOTAL 110.241.724 2.070 53.257 1.738.870.071 Disponível no portal do FNDE (ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/planilha_pnld.pdf, acesso em 08/01/2008). EDITORA MODERNA FTD ÁTICA SARAIVA SCIPIONE POSITIVO DO BRASIL ESCALA IBEP BASE DIMENSÃO SARANDI NOVA GERAÇÃO CASA PUBLICADORA EDUCARTE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Programa Nacional do Livro Didático 2008 – Ensino Médio – Valores Negociados TIRAGEM TÍTULOS TIRAGEM CADERNOS R$ por R$ por TOTAL ADQUIRIDOS MÉDIA TIPOGRÁFICOS CADERNO EXEMPLAR 7.618.580 44 173.150 180.280.898 0,2799 6,62 2.555.915 28 91.283 93.909.623 0,3311 12,16 2.610.470 30 87.016 86.653.043 0,3288 10,91 1.318.362 6 219.727 64.692.481 0,3611 19,51 1.421.335 12 118.445 52.453.416 0,3177 11,72 ESCALA 777.960 2 388.980 32.726.892 0,3788 15,93 634.943 18 35.275 19.035.539 0,3511 10,52 SCIPIONE CIA DA 289.394 2 144.697 10.787.442 0,5099 19 ESCOLA 311.227 12 25.936 8.483.978 0,4277 11,65 IBEP POSITIVO 435.001 18 24.167 6.561.388 0,3788 5,71 135.660 10 13.566 4.773.721 0,4055 14,26 DO BRASIL BASE 139.999 14 10.000 3.126.849 0,5677 12,67 TOTAL 18.248.846 196 93.106 563.485.269 0,3314 10,23 Disponível no portal do FNDE (ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/planilha_pnlem.pdf, acesso 08/01/2008). EDITORA MODERNA SARAIVA ÁTICA NOVA GERAÇÃO FTD VALOR TOTAL 50.402.465,64 31.083.572,74 28.483.585,63 25.723.246,15 16.653.149,84 12.389.541,36 6.678.671,37 5.499.433,06 3.627.063,29 2.483.545,82 1.934.949,70 1.774.268,53 186.733.493,13 em 92 Os números assustaram até a Abrelivros (entidade que reúne as grandes editoras). Seu presidente, João Arinos Ribeiro dos Santos, enviou carta-denúncia ao ministro Fernando Haddad, em 20 de novembro de 2007. A carta também está disponível no portal do FNDE : Excelentíssimo Senhor Ministro Fernando Haddad Ministério da Educação Prezado Senhor Ministro, A Abrelivros traz ao conhecimento do Ministério da Educação informações relevantes que abalam a confiança num dos pilares, e talvez a mais importante característica do PNLD e PNLEM, que é a escolha livre e democrática dos livros didáticos pelas escolas. Este conjunto de informações evidencia que a escolha das escolas não vem sendo respeitada e esta distorção tem ocorrido em beneficio da Editora Moderna. Acreditamos que este Ministério tem total condição para investigar o assunto com a profundidade e o rigor que ele merece, assim como tomar as medidas cabíveis o mais rápido possível. Mais uma vez gostaríamos de agradecer ao MEC a existência de um canal aberto de comunicação para discutir de forma transparente os programas de compra de livros escolares. Esta entidade se coloca ao inteiro dispor para apresentar e discutir sugestões já identificadas e que, acreditamos, poderão contribuir significativamente para a correção de eventuais problemas e o aperfeiçoamento dos processos. Atenciosamente João Arinos Ribeiro dos Santos Presidente Disponível no portal do FNDE ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/abrelivros_arquivos/denuncia_ abrelivros_resumo.pdf acesso em 08/01/2008). O “conjunto de informações” citado na carta está disponível nesse mesmo endereço e é composto por diversas planilhas que mostram os livros escolhidos pelos professores (boa parte deles não era da Moderna, embora tenha sido dessa editora os títulos enviados pelo FNDE). Como se vê, é de fato bastante estranha a posição da Moderna nos dois programas, causando, inclusive indignação e desconfiança quanto ao processo de seleção e avaliação por parte de uma entidade de classe da qual essa editora também faz parte. Por diversos motivos de ordem técnica que serão pormenorizados no capítulo 4, constatamos que os livros não são tão duráveis como os que estão nas livrarias. Em relação ao que Messenberg chama de “verificação da qualidade literária”, expressão bastante estranha, garante aos seus ouvintes que tal avaliação é realizada por equipes de especialistas e que “nesta etapa há discussão sobre a obra propriamente dita, a interatividade da coleção, a consistência e a qualidade do trabalho apresentado”. Ora, uma rápida análise das coleções por especialistas em literatura pode causar certo estranhamento em relação às obras escolhidas e à tal “qualidade literária”. Não é o objetivo 93 desta pesquisa questionar as seleções, mas há quem critique duramente este processo, como é o caso da Profa. Dra. Maria Antonieta Antunes Cunha, cujos apontamentos já foram mostrados acima. A anfitriã e organizadora do seminário, Elizabeth D’Angelo Serra (presidente da FNLIJ e ativa participante em comissões técnicas e avaliadoras do programa, em mais de uma edição do mesmo), destaca a importância do projeto “Literatura em minha Casa”, integrador da ação familiar e escolar em prol da formação de leitores por meio da literatura infantil e juvenil. Não há na atualidade, no mundo, iniciativa governamental de distribuição de livros de literatura deste porte. É preciso dar a conhecer ao mundo essa iniciativa. ( FNLIJ, 2002: 18). Em relação aos livros adquiridos nas duas primeiras edições, em 1998 e 1999, Serra, que coordenou a seleção do segundo acervo, relata as sugestões que dera na época para a composição desse acervo: Foi, portanto, enviado com sugestões e apontando alguns caminhos e sugerindo, por exemplo, que o MEC poderia contratar a Fundação para fazer um acervo mais ampliado (1.000, 1.500 livros). Não necessariamente para o MEC comprar, mas para sugerir que as escolas dos Municípios e dos Estados complementassem seus acervos, porque havia recursos para isso. Trata-se de uma questão de decisão política. (idem: 18). Ou seja, a proposta da FNLIJ era que os títulos do acervo fossem selecionados pelos próprios estados e municípios e não diretamente pelo governo federal, como acabou sendo feito. Nilma Lacerda foi uma das pareceristas escolhidas pela FNLIJ para seleção dos livros. Ela usa a visão do filósofo Schopenhauer – que prega extrema economia de leitura – como espécie de caminho a ser tomado na seleção e avaliação dos títulos de literatura que possam formar uma classe pensante: Afinal, como proceder esta seleção de forma que não se levasse o leitor a desperdiçar o seu tempo e a sua energia? Schopenhauer fala da necessidade de se economizar essas duas coisas, ambas muito escassas na vida humana. [...] Assim como ele aprende a ir muito além do nome das coisas, a preparar a visão adequada, a preparar as abordagens que possam privilegiar o conhecimento imediato, nossos alunos, ao estarem na biblioteca lendo literatura, vão adquirindo, tal como Schopenhauer em sua viagem, a chance de se tornarem “classe pensante” (FNLIJ, 2002: 23). A parecerista, ao tomar esta, digamos, decisão filosófica, não deixa claro que critérios foram utilizados para selecionar e avaliar os livros, pois a preocupação maior para escolha de 94 títulos para o público infanto-juvenil talvez não seja criar uma “classe pensante” e sim uma “classe leitora”. Outros palestrantes foram Madza Nogueira e Luis Camargo que participaram da concepção, respectivamente, do Guia do livronauta (para utilização do primeiro acervo) e do manual Histórias e histórias (para utilização do segundo acervo). A idéia de criar o Guia do livronauta surgiu da “constatação de que os 126 livros do acervo do PNBE 1998 estavam sendo pouco ou nada utilizados”. Isso “fez com que fosse iniciado um projeto de elaboração de um material que estimulasse o uso dessas obras” (FNLIJ , 2002: 19). Nesse guia, “cada livro é como uma cidade e dentro da cidade são dadas coordenadas para que a pessoa possa se localizar. São dados os pontos que podem ser interessantes de visitar e o professor tem a liberdade de escolhê-los” (idem: ibidem) Conforme apontado anteriormente, o guia foi distribuído quase três anos depois de as escolas terem os acervos e, mesmo assim, os professores parecem não ter embarcado nessa viagem. Luis Camargo fala sobre o manual Histórias e histórias, elaborado pela Profa. Dra. Marisa Lajolo, que sugeriu a adoção do estilo de cartas, conforme descrito no capítulo 1. No entanto, os dois manuais parecem não ter sido bem utilizados, conforme mostra o TCU em seu segundo relatório de monitoramento do PNBE: O conjunto de medidas apresentadas, contudo, não atendeu à recomendação. Assim, essa questão foi considerada pendente de implementação, com relação às seguintes medidas: elaboração de material com orientações específicas sobre a utilização de espaços físicos para atividades pedagógicas e de leitura, bem como formas de incentivo à utilização de livros paradidáticos; reformulação da cartilha desenvolvida em convênio com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; desenvolvimento de trabalho de leitura e fomento da utilização dos guias de apoio ao uso dos acervos em parceria com os programas Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN em Ação e Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – PROFA. (TCU, 2003: 9). Não se sabe como esses manuais foram encomendados, se foi aberta licitação, quem escolheu as pessoas que os confeccionaram. Em visita à Secretaria de Educação Básica, em Brasília, em ano, não foi possível obter respostas a essas questões, nem tampouco examinar ou adquirir um exemplar para efeitos desta pesquisa. Em 2007, os guias foram escaneados e 95 disponibilizados em formato PDF29 . O que se pode constatar é que o FNDE pagou R$ 450.000 para um trabalho que seu relatório de atividades chama de “produção do guia do PNBE” (FNDE, Relatório de Atividades 2000: 109). Ainda assim, não sabemos ao certo se esse valor foi pago para um ou ambos os manuais. Elizabeth Serra também participou da comissão técnica das edições de 2001 e 2002, quando os livros foram distribuídos aos alunos e os acervos passaram a se chamar “Literatura em Minha Casa”. Outros integrantes dessa comissão (Lucia Maroto, Maria José Nóbrega, Suely Duque Rodarte e Fernando Coelho A. Silveira) também falaram do processo de seleção e avaliação das obras. Serra nos dá informações valiosas a respeito desse processo, a começar pela formação da comissão técnica: Para a seleção das coleções do “Literatura em minha Casa”, houve uma portaria do Ministro da Educação em que uma Comissão Técnica era nomeada. Essa Comissão era formada pelo representante da FNLIJ (neste caso, a Secretária Geral, Elizabeth Serra), Percival Leme Brito ( ALB – Associação de Leitura do Brasil), especialistas como Maria José Nóbrega, Antônio Augusto Batista (CEALE – Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita), Maria da Glória Bordini, Presidência do CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e da UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e um representante da Secretaria de Educação Fundamental (FNLIJ, 2002: 25). Depois de formada, a comissão recebe instruções a respeito do programa: Foram dadas algumas diretrizes: o formato da publicação e a determinação de que as coleções teriam cinco volumes. Além disso, deveriam ser apresentados pelas editoras para avaliação. Também já estava decidido que o livro era para ser levado para casa pelo aluno. Algumas reuniões foram feitas, desde o início. Este nome, “Literatura em minha Casa”, foi sugerido pelo Percival Leme Brito e era uma síntese do que estávamos imaginando (idem: ibidem). O próximo passo seria definir os gêneros literários que formariam a coleção que os alunos receberiam, bem como algumas características de ordem técnica: Os gêneros não estavam definidos anteriormente: não se sabia se seria só antologia, se seria de um único autor; esse conjunto de elementos que constituíram o “Literatura em minha Casa” nós definimos. Não era escolha de livros do mercado. Tinha que se produzir alguma coisa que ainda não existia. Era defendida a idéia de o livro ser colorido. Mas foi preciso aceitar alguns pressupostos como, por exemplo, ser preto e branco por dentro. Isso incomodou a todos, mas era evidente que alguns fatores em relação ao formato, para uma produção gigantesca de 60 milhões de livros para distribuição, tinha a ver com os recursos (FNLIJ, 2002: 25). 29 Ambos podem ser baixados na página www.dominiopublico.gov.br. 96 Foi esse, então, o trabalho dessa comissão técnica: conceber os parâmetros (tanto literários quanto técnicos) da mudança de foco do PNBE. A partir desse ponto, foi aberto o edital de licitação, as editoras produziram e inscreveram as coleções e outra comissão foi montada para selecionar e avaliá-las: Foi recebida a instrução de que a seleção seria feita por professores indicados por cada Estado pelo CONSED e pela UNDIME. Essa Comissão Técnica, constituída através da portaria do Ministro da Educação, coordenaria este processo. Talvez esse ponto tenha sido pouco divulgado: a Comissão Técnica coordenou um processo de avaliação transparente e democrático. Não foi ela própria que avaliou. A Fundação tem sido penalizada por alguns descontentamentos porque acham que foi ela, sozinha, que realizou as escolhas. As representações (60 pessoas) eram mescladas e eram formadas duplas. Cada dupla lia de cinco a seis coleções. Havia uma ficha com um roteiro de fatores que definiriam a avaliação: a temática, o projeto gráfico, a textualidade, a autoria. Nenhuma editora estabeleceu contato ou fez interferências durante este processo. Foram dez dias em um hotel fazenda em Jundiaí, internados, lendo literatura, em função deste projeto. Na primeira reunião, em São Paulo, foram apresentadas 35 coleções para que seis fossem escolhidas. Certamente outras, além dessas seis coleções, tinham condições de ser publicadas. Foi um ponto de questionar o porquê de não se abrir o processo para mais editoras. Isso foi firmado em um documento. Este ano foram 64 coleções. Uma triagem anterior é feita pelo IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica), da USP , onde aspectos gráficos informados no edital são averiguados. Recebemos, portanto, 51 coleções para avaliar. O grupo de pessoas foi escolhido pelo MEC baseado em critérios regionais. Desta vez, o PROLER foi incluído no processo. A SEF e o FNDE reconheceram o PROLER como um braço importante para participar dessa seleção, demonstrando como educação e cultura realmente estavam unidas. Houve uma preocupação no estabelecimento de alguns requisitos (ter experiência no Ensino Fundamental e com Literatura Infantil) e de atendê-los ao máximo. Muito embora se considere o professorado brasileiro como não leitor, este grupo demonstrou que o bom livro, a boa literatura e o que deve ser oferecido à criança não é desconhecido por ele. Durante este processo também foi possível conhecer a competência dos editores e a capacidade do mercado editorial. Os editores tinham que mostrar o produto exatamente como ia ser vendido, portanto, era um investimento arriscado. No entanto, houve esmero no produto, na concepção editorial, na edição de arte. (idem: 25-6). Como se vê, o depoimento de Elizabeth Serra é bastante valioso, uma vez que em três visitas à Secretaria de Educação Básica, em Brasília, (nos anos de 2004, 2005 e 2006), o pesquisador sequer teve acesso a tais informações30. É claro que nesse Seminário talvez não fosse o local, tampouco a hora, de citar quem eram as sessenta pessoas que, hospedadas em um hotel no interior de São Paulo, avaliaram e 30 Além das visitas, tentamos também contato com esses órgãos por mensagens eletrônicas para entrevistar alguns atores que participaram do processo de seleção, avaliação, execução e distribuição dos livros do programa, a saber, profissionais da Secretaria de Educação Básica e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, além participantes das comissões técnicas. As tentativas, no entanto, não foram felizes, pois percebemos pouquíssima (ou nenhuma) disposição dessas pessoas para falar a respeito do programa. Dentre os possíveis impedimentos, notamos a pouca colaboração dos órgãos públicos e de seus representantes no que concerne a dados que desejávamos levantar acerca do PNBE/2003, já que foi a mais custosa e, conforme mostra levantamento do Tribunal de Contas da União, houve graves problemas de distribuição e efetiva utilização dos acervos pelos alunos e professores. 97 selecionaram as coleções. O que ela chama de “critérios regionais” é bastante vago, já que as coleções escolhidas pouco relativizaram a regionalização. Infelizmente, os relatórios desse processo de avaliação (ficha com roteiro de fatores que definiriam a avaliação, documento questionando o porquê de não se abrir o processo para outras editoras) não se tornaram públicos, tampouco sua consulta é permitida, fato que poderia sugerir eventual favorecimento autoral e/ou editorial. Embora não comprovadas por esta pesquisa, tais suspeitas têm sido levantadas há tempos. Em 1984, opinando sobre avaliação e seleção de livros didáticos, Oliveira, Guimarães & Bomény já denunciavam: A prática mais criticada é o segredo. Essa é uma faca de dois gumes. Para se preservar o parecerista que opina sobre a inclusão ou exclusão de títulos, seu nome é guardado em segredo, bem como o parecer. Pelo menos o grande público o ignora, conquanto em nossas entrevistas ficou claro que, sobretudo nos estados, os personagens envolvidos são rapidamente conhecidos pelos grupos editoriais. O segredo protege, dessa forma, um envolvimento particular e protecionista, sem oportunidade de acesso do público a partes importantes do processo seletivo. (Oliveira, Guimarães & Bomény, 1984: 123). Lucia Maroto, em sua exposição, pouco fala da experiência de participar dessa comissão técnica e limita-se apenas a expor rapidamente algumas políticas de formação de leitura. Maria José Nóbrega, que também fez parte da comissão técnica do PNBE 2001 e 2002, pormenoriza um pouco mais os critérios de avaliação e seleção das coleções, destacando que “as pessoas que compõem o Colegiado são pessoas que têm pesquisa acadêmica na área da literatura infantil e são pessoas que militam pela leitura” (FNLIJ, 2002: 28). Checar a veracidade dessa informação não é completamente possível, uma vez que não sabemos quem eram todas as pessoas envolvidas no processo. Destaca ainda que a opção pela escolha de gêneros literários foi feita imaginando-se “um conjunto de obras que permitissem chegar na casa da criança e de sua família a representatividade da literatura brasileira (não só a daquele momento)” (idem: ibidem). É na sua fala que encontramos algo mais próximo do que parecem ter sido os critérios de avaliação e seleção. Diz ela: 98 Os critérios determinantes na avaliação desse acervo são critérios eminentemente técnicos que levam em conta desde a tipologia até a textualidade (considerando-se composição, equilíbrio, diversidade). Observava-se a pertinência temática, levando em consideração a questão da propriedade do tema e o tratamento em relação ao público leitor, dadas as características deste. Em relação à autoria, considerava-se a representatividade, a pertinência ao patrimônio cultural, ao cenário da cultura brasileira naquele momento. Outro aspecto observado era o projeto gráfico. Havia sérias restrições impostas pelo próprio formato estipulado pelo edital. Foi constatado que, às vezes, restrições provocam soluções extremamente interessantes. Observava-se: relação texto e imagem, distribuição espacial, qualidade da ilustração, capa etc. O projeto editorial era avaliado se atentando para o eixo organizador temático, verificando se havia articulação desses volumes, cuidado na apresentação da coleção e dos volumes, informações adicionais que não didatizassem o texto e nem interferissem no processo de recepção estética do texto literário (idem: ibidem). Ainda que relativamente vagos, Maria José lista alguns critérios que a comissão utilizou para selecionar as coleções. Como não tivemos acesso a todas as coleções (tanto as que foram selecionadas quanto as que foram rejeitadas), fica difícil avaliar se as coleções selecionadas eram, de fato, as mais pertinentes. Um questionamento mais abrangente de tais critérios será apresentado no capítulo 4, no qual se analisa o edital do PNBE/2003. Ela relata ainda a questão da péssima distribuição de renda no país, o que dificulta o acesso ao livro e à leitura. Assim sendo, continua: [...] Ter livros é fundamental, mas é preciso que os livros na escola passem por um processo democrático de leitura. Para alguns, essa é a oportunidade: ou ela se dá na escola ou não vai se dar em canto algum, porque “ler é verbo transitivo e pede objetos custosos”. Programas como esse são necessários. Ao mesmo tempo, é preciso que cada um assuma seu lado militante. Porque esses livros precisam circular. É criminoso sonegar esses objetos de crianças das escolas públicas enquanto elas precisam deles para mudar a sua própria história, para se constituírem cidadãos críticos. Sem uma certa utopia não se faz educação e não se trabalha na área de leitura (FNLIJ, 2002: 28-9). Suely Duque Rodarte e Fernando Coelho A. Silveira, ambos secretários municipais de educação, também fizeram parte da comissão técnica. Suely lembrou da importância do programa, uma vez que concilia “dois eixos importantes: colocar o menino dono do livro e ligar a família e a leitura” (idem: 29). Fernando Silveira também dá algumas pistas, embora não pormenorize, dos critérios quando lembra que: Existiu, nestes processos, uma incessante busca por coerência pela Comissão Técnica. Todos os julgamentos feitos sobre os livros foram colocados à disposição dos editores. Não era dada uma simples nota, mas feita uma avaliação por escrito justificando cada nota atribuída. Eram cinco quesitos subdivididos em outros cinco subquesitos. Cada dupla fazia leitura de seis coleções. Cada coleção possuía cinco volumes. As coleções poderiam ter, no máximo, 320 páginas. Nesta leitura em parceria, se houvesse alguma discordância, se buscava coerência. A apreciação da Comissão Técnica não vinha alterar nenhuma avaliação feita, mas orientar nesse compromisso de evitar incoerências (idem: 30). 99 Infelizmente, é pouco o que se sabe a respeito dos critérios: que havia cinco quesitos, subdivididos em outros cinco. Ou seja, de alguma maneira, foi montado um check list e, a partir dele, as coleções eram avaliadas. Resta saber se tais quesitos eram, de fato, os ideais para esse tipo de seleção. Para isso, seria necessário submetê-los a diversos profissionais (como professores, coordenadores pedagógicos, bibliotecários, pesquisadores e estudiosos) para que pudessem esclarecer mais sobre o tema. Elizabeth Serra, fechando o pronunciamento dos membros da comissão técnica, fala do sigilo em todo o processo e destaca que o trabalho “ultrapassou qualquer questão partidária” (FNLIJ, 2002: 31): Por exemplo, no caso do PT, existe muita gente do próprio partido dentro do PROLER e dentro da Comissão e, em nenhum momento, essas pessoas desprestigiaram um programa que era do governo Fernando Henrique. Todos com suas convicções mas, ao mesmo tempo, com um respeito muito grande, seriedade, coerência e ética, porque o objetivo comum de todos ultrapassava essas questões partidárias (idem: ibidem). Esta é uma declaração preocupante, já que no final do processo ela parece estar aliviada, pois questões partidárias não atrapalharam em nada o andamento das atividades. O Seminário ocorreu quando já se sabia que o próximo governo seria presidido pelo PT. Não há motivo aparente para qualquer tipo de “desprestígio” por parte dos petistas, já que, em 2003, a despesa do programa foi a maior desde a sua criação, em 1998. O seminário foi finalizado com uma mesa redonda intitulada “PNBE: modo de usar – relato de experiências” da qual participaram Maria do Socorro D’Avilla (Centro dos Trabalhadores da Amazônia – CTA (Secretaria Municipal de Educação – Estadual de Educação – SEE/RJ), / Rio Branco, Acre), Simone Monteiro de Araújo SME /RJ), Ester Santos Ferreira Monteiro (Secretaria Marisa Borba (Casa da Leitura PROLER /RJ) e Suely Duque Rodarte (Secretaria de Educação de Campo Belo/MG). Todas elas foram unânimes ao concordar com a distribuição de livros diretamente aos alunos e relataram suas experiências, em cada região, ressaltando a participação dos professores e dos familiares na formação da leitura. Mas também lembraram que houve 100 problemas de divulgação e que muitos professores não conseguiram trabalhar com o material por questões de formação e de infra-estrutura. A última mesa tratou de discutir a biblioteca escolar e foi composta pelas bibliotecárias Maria da Graça Monteiro (Prefeitura de Goiânia/GO), Cláudia Pimentel e Selma Monteiro (ambas da (Escola particular Oga Mitá/RJ ) e a professora Cássia Cilene das Chagas Moura (Escola Municipal CIEP Adão Pereira Nunes/RJ ). Todas relataram a importância da biblioteca na escola onde trabalham e suas experiências poderiam servir de exemplo para que o espaço fosse implantado em todas as escolas do país. 3.4. A VISÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou monitoramento a fim de auditar a quarta edição do programa, em 2001. O responsável por esse processo foi o ministro Guilherme Palmeira que produziu, em 2006, um valioso relatório sobre o impacto do monitoramento e suas implementações. Além desse relatório, tivemos também acesso à apresentação de outro ministro do TCU, Marcelo Soares, que coordenou auditoria de natureza operacional e apresentou os resultados no seminário “PNBE: o direito de ler literatura”. Soares explica que a auditoria por ele coordenada foi dividida em duas etapas: “a primeira é o planejamento, onde são examinadas as questões que deverão ser analisadas. A segunda etapa é a execução. No caso do PNBE , esta etapa ocorreu de agosto a outubro de 2001” (FNLIJ, 2002: 32). O objetivo da auditoria é “identificar oportunidades de melhoria no programa objeto de exame e propor recomendações ao órgão auditado” (idem: ibidem). Ele conclui que a utilização dos acervos não era efetiva, já que o PNBE “estava melhor funcionando como programa de entrega de livros do que de incentivo ao uso da literatura na escola” (idem: ibidem). Além disso, aponta também que “as informações sobre este 101 desempenho operacional, sobre o que se dava a partir do momento que os livros chegavam às escolas, não foi conseguido. Este acompanhamento estava falho. A divulgação e este monitoramento por parte da SEF e do FNDE estavam fracos” (idem: 33). Reclama ainda da “imprecisão dos objetivos encontrados nos normativos do programa”, uma vez que “o PNBE visa distribuir livros paradidáticos para a escola com o fim de aprimorar a consciência crítica do aluno. Afinal, o que é consciência crítica aprimorada ou o que não é? Nesse sentido, tornou-se difícil avaliar a efetividade do programa” ( FNLIJ, 2002: 33). Aponta que o programa não interage com outros das esferas federal, estadual e municipal e que há escolas que sequer têm condições de fazer bom uso do programa, já que não possuem biblioteca e/ou espaço físico para receber os livros. Finaliza relatando as recomendações propostas no relatório de monitoramento: - Criação de um grupo de coordenação para promover interação com os outros programas do próprio MEC; - Aprimoramento de ações de divulgação do PNBE; - Capacitação de professores e bibliotecários; - Fortalecimento das ações de monitoramento do programa; - Avaliações embasadas em argumentos empíricos para subsidiar mudanças na sistemática de oferta e de destinatários; - Preocupação com o princípio da eqüidade: a expansão do atendimento é muito importante, porém deve-se reconhecer que os desiguais têm necessidades desiguais. Não se pode atender a todos da mesma forma. - Caso as dificuldades não sejam mapeadas e as decisões tomadas a partir do que está acontecendo nas escolas, dificilmente mudanças sistemáticas concorrerão para uma melhora do quadro (FNLIJ , 2002: 34). O TCU também alerta, na edição de número 19, ano 6, de suas Auditorias, que um dos problemas do programa é a “inadequação dos livros às necessidades dos alunos no tocante à quantidade de exemplares fornecida e ao conteúdo de parte dos acervos” (TCU, 2003: 76). O mesmo relatório aponta que o acervo de 1999, com obras de literatura infanto-juvenil foi bastante elogiado pelos professores, ao passo que, o primeiro acervo (de 1998, destinado aos alunos de 1ª a 8ª séries) não era adequado “à faixa etária e aos interesses dos alunos. Títulos como Sermões, de Padre Antônio Vieira, foram citados como obras não adequadas àquele alunado” (idem: 80). 102 Para finalizar, ela admite que “o grande nó [sic] do programa” é a disseminação da informação. Ou seja, quando o programa sofreu a alteração entre 2000 e 2001, parece que não foi bem planejada a divulgação do programa, conforme mostra o relatório de monitoramento do TCU. Um outro ponto levantado é que a divulgação do PNBE precisa ser aprimorada. Os estudos de caso nas escolas beneficiadas revelaram um baixo nível de conhecimento de diretores e professores sobre o Programa. Ao mesmo tempo, dados do Censo Escolar 2000 indicam que apenas 27,6% das escolas que receberam acervos do PNBE em 1998 e/ou 1999 declararam participar do Programa (TCU, 2003: 9). O documento mais importante do TCU é o Relatório de Monitoramento – Programa Nacional Biblioteca da Escola, publicado em 2006, sob a responsabilidade do ministro Guilherme Palmeira com o objetivo de avaliar: as dificuldades e oportunidades de melhoria na utilização dos acervos de livros distribuídos pelo programa a escolas e alunos. Foram verificados, entre outros aspectos, a divulgação do programa junto aos gestores locais, a capacitação dos professores para a utilização pedagógica dos livros e as condições operacionais das escolas para inserir esses livros nas atividades escolares. (TCU, 2006: 19). O relator Palmeira aponta diversos problemas do programa, tais como, limitações ao uso adequado do acervo, falta de informação para escolas e professores quanto à utilização do acervo, problemas de infra-estrutura nas escolas e falta de capacitação dos professores que acabam por dificultar a utilização do acervo. Além desses, há outros problemas, como a ausência de recursos humanos especializados e adequados nas bibliotecas escolares (quando existem). Após o monitoramento, o relator sugere que se tomem algumas medidas e, no final de cada item, mostra quais foram implementadas (ainda que parcialmente) e quais não foram. No que diz respeito às limitações ao uso adequado dos acervos, o monitoramento realizado pelo TCU apontou como principais dificuldades para o desenvolvimento das atividades de leitura nas escolas, “a quantidade insuficiente de exemplares por título do ‘Literatura em Minha Casa’ (55,6%), a falta de espaço físico adequado (40,4%), a falta de equipamentos para reprodução de textos (31,0%) e a falta de capacitação dos professores para a utilização dos livros (28,9%)” ( TCU, 2006: 31-2). 103 Sem dúvida, o principal problema apontado pelo relatório foi a pouca (ou inexistente) infra-estrutura das escolas para a utilização dos acervos: A falta de infra-estrutura das escolas – que não possuem biblioteca ou que as possuem em condições que não são ideais (pouco espaço, mesas e cadeiras insuficientes, por exemplo) – continua sendo um fator que dificulta a utilização dos acervos e a conseqüente melhoria de rendimento escolar dos alunos. (idem: 51). [...] Verifica-se que um dos grandes empecilhos à utilização mais efetiva do material distribuído pelo PNBE é a falta de infra-estrutura adequada na maior parte das escolas brasileiras. A escassez de recursos para dotar as escolas com bibliotecas de boa qualidade acaba restringindo os ganhos em competência de leitura, que os alunos poderiam ter caso tivessem à sua disposição um local apropriado para essa prática. O acesso facilitado e um ambiente agradável para a prática da leitura possibilitariam maior interesse por essa atividade no ambiente escolar. Como a maior parte dos alunos de 1ª a 4ª séries estão matriculados em escolas da rede municipal, exatamente onde a ausência de bibliotecas é maior, percebe-se o grande desafio em incremento de infra-estrutura para que o PNBE passe a ter maiores ganhos em efetividade, o que traria reflexos positivos para as habilidades em Língua Portuguesa dos alunos beneficiários do programa ( TCU, 2006: 55). Se as bibliotecas escolares ainda são poucas em um país tão grande, profissionais para geri-las e administrá-las existem. Embora o relatório do TCU reconheça que o bibliotecário ou o responsável pela biblioteca escolar seja importante ator do programa, aponta que: A ausência de profissionais nas bibliotecas existentes, somada ao fato de que boa parte das escolas sequer possui espaço físico para biblioteca, limita o alcance dos objetivos do programa, tanto pela dificuldade de acesso aos acervos como pela conservação e guarda nem sempre adequadas do material distribuído pelo programa (idem: 61). E sobre a capacitação dos professores é taxativo quando diz que “as próprias escolas desenvolvem essa atividade com pouco apoio dos órgãos públicos das três esferas de governo” (idem: 63). E recomenda que: o caminho para que a efetiva utilização dos acervos se institucionalize nas escolas é a integração com outros programas do próprio MEC e de outros ministérios, especialmente o PROLER , do Ministério da Cultura, pois o desenvolvimento da habilidade de leitura dos alunos exige a implementação de medidas que extrapolam os recursos disponíveis para o PNBE, sendo necessária, portanto, a ação articulada entre distintos programas governamentais (idem: 70). O relatório destaca que o programa tem pontos positivos importantes, mas ressalva que: apesar de mais de 60% das recomendações do TCU terem sido implementadas pelos gestores, parte dos problemas detectados na auditoria inicial persiste, sobretudo quanto às limitações da infra-estrutura física de escolas para utilização dos acervos, ausência de profissional responsável pela biblioteca e guarda dos livros e insuficiência de instrumentos que permitam aos gestores federais avaliar os resultados do PNBE. Considerando que a alocação de profissional treinado para atuar em bibliotecas nas escolas encontra-se sob responsabilidade de estados e municípios, há pouca ingerência do FNDE para incentivar o emprego de recursos humanos nessa função. (idem: 11). Tais apontamentos nos permitem concluir que o relatório apresentado pelo TCU aponta problemas bastante parecidos com os levantados pelas professores Célia Fernandes e Maria 104 Antonieta Cunha. As pesquisas de ambas mostram que um programa que busca incentivar o hábito de leitura tem que se preocupar não só com a aquisição de acervos bibliográficos, mas também com a infra-estrutura necessária para que a utilização desses acervos seja efetiva. 3.5. SEGREDOS, CONTRADIÇÕES E INDICADORES DE DESPERDÍCIO Mostramos assim, diversos pontos de vista a respeito do PNBE. Para os representantes da indústria editorial, fica claro que as editoras continuam vendendo ao governo, ainda que se queixem da negociação (que elas, via entidades de classe, consideram injusta). Mas alguns editores, isoladamente, admitem que o negócio é bom, já que boa parte deles participa da disputa. Outras vozes apontam o encaminhamento para concentração de negócios (poucas e grandes editoras participam ativamente, em todos anos que o programa convoca) e até para a presença internacional (como é o caso da editora Moderna, que pertence a um grande grupo de mídia espanhol). Há os que criticam a eficiência educacional do programa, seja pela seleção de obras, falta de diálogo entre a monitoramento do SEB TCU), e as escolas e os professores (como é o caso do relatório de falta de infra-estrutura adequada à boa utilização dos acervos adquiridos, falta de formação para os professores, falta de coordenação nas várias edições do PNBE etc. Todos esses pontos mostram ineficácia e, conseqüentemente, desperdício de verbas. Os próprios criadores e executores do programa (MEC , seminário realizado pela FNLIJ, SEB e FNDE ) revelam, no despreparo e superficialidade em relação aos critérios adotados para avaliação e seleção dos títulos. Os que participaram de comissões técnicas e colegiados de seleção evidenciam sua pequena margem de intervenção diante de critérios pré- 105 determinados que, surpreendentemente, não denunciam como constrangedores e/ou vagos demais para serem operados. Ficam evidentes as áreas secretas ou não tratadas do negócio, tais como: - quem, de fato estabelece regras negociais (contorno material dos produtos, decisões sobre formação de coleções, sobre negociações de cadernos, margem de desconto – há uma média, mas não se sabe se é a mesma para todas as editoras –, margens de lucro); - quem de fato, organiza os critérios de seleção e - como são operados os desempates. E temos ainda áreas nevrálgicas, tais como, a participação dos professores na escolha. Esse ponto é arduamente defendido pela CBL, por razões negociais e notória possibilidade de influência no processo por parte das editoras. Cunha também defende tal participação, por achar que os professores têm condições de fazê-lo o que possibilitaria um aumento da regionalização dos acervos adquiridos. Em suma, há quem se preocupe com o programa do ponto de vista pedagógico e educacional, já que o PNBE se constitui em uma grande ação de formação de leitores e há os que estão preocupados apenas como a sistemática, para que determinados interesses permaneçam intactos. As visões apresentadas neste capítulo são complexas e propõem importantes elementos para reflexão sobre segredos, contradições e indicadores de desperdício envolvendo as ações do PNBE de 1998 a 2003. No capítulo 4 deste trabalho, pretendemos apresentar novos elementos para a avaliação do PNBE, a partir do ângulo dos processos editoriais, relacionando a qualidade editorial-gráfica dos livros adquiridos aos custos e estabelecendo sentidos de análise que permitam ampliar os estudos sobre esse programa. 106 CAPÍTULO 4: EXIGÊNCIAS DE PROJETO GRÁFICO ESPECÍFICO PARA OS ACERVOS DO PNBE E SUAS IMPLICAÇÕES DE CUSTO NOS LIVROS O presente capítulo analisará aspectos técnicos (tipos de papéis, formatos, projeto gráfico e tipologia) exigidos ao longo das seis primeiras edições do PNBE (de 1998 a 2003) a fim de relacionar a qualidade editorial-gráfica ao custo dos livros adquiridos e ao público e usos pretendidos pelo programa. Além disso, verificamos que a negociação permite superdimensionamento de custos e subdimensionamento de lucros por parte da indústria editorial, possibilitando a participação de certas editoras em detrimento de outras Para tanto, utilizamos documentação específica (disponível no Ministério da Educação, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e em seus respectivos portais), sobretudo os editais de convocação do programa. Além desses editais, tivemos acesso também a relatórios de atividades do programa. Neles, há descrições e tabelas que mostram dados em relação ao público pretendido do programa e ao custo de cada uma das edições do PNBE , com suas respectivas ações. Dos outros materiais que selecionamos para embasar a análise, destacamos uma bibliografia específica que reúne pesquisas sobre os critérios adequados de editoração de material impresso, sobretudo nas áreas de produção gráfica e de legibilidade. Ainda assim, tivemos também que trabalhar com inferências, já que certos documentos oficiais utilizados apresentam incoerências em alguns dados que apresentam. Desde 1998, o Programa Nacional Biblioteca da Escola exige em seu edital de convocação e seleção o cumprimento de algumas especificações técnicas mínimas. A cada ano, as exigências em relação ao projeto gráfico dos livros são específicas. Isso faz com que as obras tenham sua aparência gráfica alterada. Nos editais, não fica claro o motivo de tais 107 alterações, uma vez que elas são bastante relevantes, se considerarmos fatores como, por exemplo, legibilidade e custo. A partir de 2001 (com a inclusão das coleções da ação “Literatura em Minha Casa”), o edital solicitava alterações de projeto gráfico que merecem ser analisadas nesta pesquisa, uma vez que os livros deveriam ser padronizados para, ao que tudo indica, o custo fosse drasticamente reduzido. Das definições de projeto gráfico documentadas, a mais completa ainda nos parece a de Emanuel Araújo em seu A construção do livro, obra editada em 1986, mas que ainda é bastante atual e amplamente utilizada por profissionais da indústria editorial e pelos que trabalham a questão do projeto gráfico dos livros. O projeto gráfico A escolha correta do tipo, do sistema de composição em que se devem gravar os caracteres, do papel onde se imprimirá essa composição e, finalmente, o cálculo prévio da quantidade de páginas que deverá ter o livro, constituem o âmbito do projeto gráfico. Até o aparecimento dos processos fotomecânicos no domínio das artes gráficas, os recursos de composição e impressão eram relativamente limitados, sem que essa limitação, todavia, implicasse pobreza de recursos visuais. Ao contrário, o universo da tipografia bastava para produzir inestimáveis obras de arte, sob um suporte material e uma organização interna que, aliás, já nasceram adultos. A atual velocidade de composição e impressão, conjugada a recursos visuais na feitura das letras outrora desconhecidos, em nada invalidou o velho grafismo dos pioneiros da tipografia; suas letras continuaram a inspirar novos desenhos que guardam o espírito dos antigos estilos, quando não se redesenharam os tipos para adaptá-los à tecnologia atual. O editor, assim, não pode furtar-se ao conhecimento de todos os procedimentos de transposição do original à matéria impressa, em que sempre foram solidários o estilo da letra, sua correta composição e a distribuição do conjunto no papel adequadamente escolhido na dupla combinação de peso e formato” (Araújo, 1986: 299). Considerando a definição acima, estão listadas a seguir todas as alterações de projeto gráfico que as editoras deveriam fazer em suas obras para que as mesmas pudessem participar da seleção do PNBE em suas diversas edições e suas implicações com o custo dos livros. Mostramos também as tabelas de execução orçamentária de cada ano do programa, a fim de propor um custo médio por exemplar. Apesar de simples, esse critério é capaz de apontar algumas considerações sobre cada uma das edições estudadas. Atenção especial é dada à edição de 2003, quando se mesclam o “Literatura em Minha Casa” e o “Palavra de Gente” (ambos são coleções de livros de formato menor e que se destinam diretamente aos alunos) e a “Biblioteca do Professor” (livros distribuídos para uso 108 pessoal e de propriedade do professor) e a “Biblioteca Escolar” (livros distribuídos para a biblioteca da escola e uso da comunidade escolar). 4.1. AS DUAS PRIMEIRAS EDIÇÕES: PNBE 1998 E 1999 Como veremos a seguir, nas duas primeiras edições do PNBE , as alterações de projeto gráfico solicitadas nos editais foram poucas. Em 1998, tinham por objetivo não uma padronização dos acervos e sim uma certa diminuição de custos. Em 1999, não houve exigências técnicas relevantes. Os livros adquiridos tinham praticamente as mesmas especificações de suas edições de mercado. PNBE/1998: as indicações dos notáveis, a manutenção dos projetos gráficos originais e os custos envolvidos Nesta primeira edição do programa, o edital contempla algumas regras que alteram o projeto gráfico das obras adquiridas: as capas dos livros deveriam conter uma das duas possibilidades de logomarca do programa (uma azul e outra amarela), exigência comum a todos os programas de aquisição de livros do MEC . Além disso, o segundo anexo trazia as especificações técnicas mínimas para a produção dos livros. O não cumprimento dessas e de outras exigências acarretaria em multas que variavam de acordo com o nível de gravidade do problema constatado31. Conforme citado no segundo capítulo, não foi solicitada nenhuma alteração textual nos livros, mas algumas regras exigidas (tipos de papel para impressão da capa e do miolo e de 31 A tabela de multas detalhada está reproduzida no Anexo 3. 109 acabamento gráfico) alterariam o projeto gráfico dos livros. Essas regras, divididas em papel e acabamento, são: 1. PAPEL 1.1. CAPA - Papel-cartão branco (revestido na frente - tipo triplex); - Gramatura: 300 g/m 2, revestido na frente, plastificado ou com verniz UV, com tolerância de, mais ou menos, 5% (cinco pontos percentuais) nas gramaturas nominais; - Alvura (Elphro): 82% mínimo; - Rasgo (Elmendorf): longitudinal: mínimo de 120 g transversal: mínimo de 135 g - Tração (Dinamômetro com velocidade estável): longitudinal: mínimo de 18 kgf/15 mm transversal: mínimo de 10 kgf/15 mm - Absorção de água (Cobb): Lados mais e menos ásperos: 34 g H2O/m2 após 2 minutos no máximo -Dobras duplas (Koller-Mullins): longitudinal: mínimo de -30 transversal: mínimo de -20 1.2. MIOLO - Papel branco não revestido, de pasta química, com máximo de 10% de pasta mecânica; - Gramatura: 75 g/m2 com tolerância de, mais ou menos, 5% (cinco pontos percentuais) nas gramaturas nominais; - Alvura (Elphro): mínima de 80% (recomenda-se a ausência de alvejantes ópticos); - Rasgo (Elmendorf): longitudinal: mínimo de 60 g transversal: mínimo de 70 g - Tração (Dinamômetro com velocidade estável): longitudinal: mínimo de 9,5, kgf/15 mm transversal: mínimo de 4,5, kgf/15 mm - Absorção de água (Cobb): lado mais áspero: 18 g H2 O/m 2 após 1 minuto lado menos áspero: idem 2. ACABAMENTO 2.1. Para exemplares com qualquer número de páginas: - Lombada quadrada; - A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser no mínimo de 10 mm. - A distância nominal entre a mancha e o corte lateral inferior deve ser no mínimo de 10 mm. - A distância nominal entre a mancha e o corte lateral superior deve ser no mínimo de 20 mm. 2.2. Para todos os livros poderá ser utilizado o acabamento com costura de linha de algodão ou mista ou de cola (“burst”, “nottched” ou “slotted binding”) ou de processo similar, em todos os cadernos, miolo colado à capa com subida de cola lateral de 3 mm a 4 mm e vinco de manuseio de 4 mm e 5 mm, respectivamente. Em nenhum caso será admitido miolo apenas colado ou raspado e colado. A cola utilizada deverá ser flexível após secagem e em nenhum caso poderá conter breu ou amido. ( FNDE, Edital de Convocação, Anexo II, “Especificações Técnicas”). 110 Verificação das características técnicas de papel Em relação às exigências de tipos de papel para capa e para miolo e suas características técnicas, constatamos que os termos técnicos deste anexo do edital estão de acordo com os apontados por Barrotti & Bergman: O papel apresenta duas direções de fabricação distintas: - direção longitudinal: é a direção no sentido de movimento da tela na máquina formadora do papel; - direção transversal: é a direção perpendicular ao movimento da tela na máquina de papel. [...] Os valores para resistência à tração e a dobras duplas são maiores na direção longitudinal, enquanto o valor da resistência ao rasgo é maior na direção transversal (Barrotti & Bergman, 1988: 822). As pesquisadoras anotam também os conceitos de tração, rasgo, dobras duplas e opacidade, bem como os equipamentos para avaliá-los, segundo normas da ABNT: Os papéis devem resistir, pelo menos, aos diferentes tipos de força que encontram ao longo do processo de produção e utilização. [...] O aparelho usado para determinar a resistência à tração é o dinamômetro. [...] A resistência à tração é relacionada com a durabilidade e utilidade de um papel (idem: 828). A resistência ao rasgo mede o trabalho necessário para o rasgamento do papel, a uma distância fixada [...] É medida em um aparelho tipo pêndulo Elmendorf [...] em uma escala graduada de 0 100, fixada no próprio aparelho (idem: 831). O ensaio de resistência a dobras duplas determina o número de dobras sucessivas que o papel suporta antes da sua ruptura. Valores baixos de resistência a dobras duplas revelam papel de fraca resistência. [...] O instrumento mais usado para medir a resistência a dobras duplas é o Köhler-Molin (idem: 832). Em relação à alvura do papel, elas recomendam que seja medida a opacidade do papel, que é “uma propriedade essencial para papéis de impressão e de escrever”, com dois tipos de aparelho “o Elphro e o Photovolt, sendo que os resultados obtidos com esses aparelhos não diferem significativamente” (idem: 834). A escolha do papel de capa foi apropriada, já que “quando destinado à plastificação, o papel da capa deve ter uma gramatura de pelo menos 250 g/m2 para evitar que seja deformado pelo calor no momento da aplicação da película de plástico” (Araújo, 1986: 599)32. A escolha do tipo de papel para imprimir o miolo dos livros selecionados também altera o projeto gráfico, uma vez que a escolha da matéria-prima faz parte da programação visual do livro. Esta edição do programa exigiu uma padronização do papel (cartão para a 32 No quesito capa, constatamos também que havia alguns livros originalmente em capa dura (tipo de acabamento mais durável que a brochura) e outros tinham sobrecapa (espécie de proteção para a capa que também agrega valor ao livro e ao seu projeto gráfico). Em ambos os casos, o edital exigiu que esses acabamentos fossem alterados, já que seus custos são substancialmente mais altos. 111 capa e ofsete para o miolo), o que nos leva a crer que houve uma preocupação com o custo, já que são papéis (sobretudo o ofsete) mais baratos no mercado33 . Ainda em relação ao papel de miolo, o ofsete é um “papel com 100% de celulose, ótima resistência superficial e bons índices de opacidade e lisura” (Carramillo Neto, 1997: 46). Como boa parte do acervo é constituída de livros com vários cadernos tipográficos – conjunto de 32 páginas –, a exigência de gramatura (75 g/m2) foi correta, uma vez que para papéis com gramatura abaixo de 100 g/m2, “não há grandes restrições; [pois] quanto mais baixa a gramatura, maior o número de dobras” (Oliveira, 2000: 108). Amaury Fernandes também caracteriza o papel ofsete, confirmando a correta escolha: Offset – papel apropriado para impressão no sistema offset, como o nome do produto indica, possui características apropriadas para resistir ao contato com a umidade existente no processo que são devidas ao seu tipo de colagem e à adição de cargas minerais, fabricado com pasta química e com bom acabamento superficial (Fernandes, 2003: 176). Qualidade do projeto gráfico Adotar distâncias nominais de margem é apenas um dos diversos fatores que podem ajudar na melhora da legibilidade. Nada foi exigido em relação à tipologia utilizada, tampouco ao formato final dos livros, já que foram selecionadas obras de variados projetos gráficos, tipos de papel, acabamento e formatos. Especificar o tamanho da mancha (“área útil” do papel, ou seja, parte que é utilizada para a impressão do texto e/ou ilustrações e fotos) e nada fazer em relação à distância entre as linhas e entre as letras de cada palavra é pouquíssimo útil para a melhora da legibilidade de um texto impresso. Além disso, o espaço fora da mancha tipográfica (as margens) nem sempre precisa ser vazio. A maioria dos projetos gráficos de livro utiliza tais espaços para a colocação do 33 Alguns títulos selecionados já eram impressos em papel ofsete (que é branco), mas outros tinham o seu miolo impresso em papel pólen (que é creme), uma matéria-prima mais cara e considerada mais nobre pela indústria editorial. 112 número de páginas, entre outros elementos (como vinhetas, cabeços, notas de rodapé) que adornam (ou agregam informações) a página impressa. Se isso ocorre, tal obra devia ser alterada para que pudesse ser inscrita no programa, o que não ocorreu34. Como boa parte dos livros deste acervo é destinada ao público adulto35, a preocupação com tais medidas nos parece que nada tem a ver com legibilidade e sim com uma garantia de que não ocorrerão problemas de impressão na página (como se fosse uma margem de segurança para a página), conforme podemos constatar na tabela de multas (itens 3.2 e 3.3). Já em relação ao acabamento, o edital deixa clara sua preocupação com a durabilidade dos livros, já que o tipo de cola e de costura exigido é adotado ampla e internacionalmente pelas editoras. O item 2.2 considera os padrões adotados pela indústria gráfica, pois “para evitar que a cola das laterais suje as capas dos livros, é necessário que a capa seja 3 mm maior no sentido da altura (cabeça-pé) em relação ao formato bruto do miolo” (Carramillo Neto: 1997, 202). Araújo confirma que “a costura dos cadernos substitui a colagem nos livros mais bem acabados, o que lhes confere uma capacidade de manuseio mais segura e durável” (Araújo, 1986: 600). Em relação ao acabamento, o edital está correto quando não admite miolo apenas colado ou raspado e colado, já que o acabamento costurado tem “a finalidade de aumentar ou garantir resistências” (MOPE, 2003: 92). Convém notar que, por questões de custo, o acabamento exigido (o livro brochura) acarretou também alterações em alguns títulos selecionados pelo programa (havia livros originalmente em capa dura ou com sobrecapa). 34 Por conta dessas especificações, alguns títulos da editora Companhia das Letras (onde trabalhei como produtor gráfico de 1996 a 2005, inclusive cuidando da qualidade gráfica de livros para vários programas de governo) precisariam ser adaptados, pois o número de páginas e o cabeço estavam fora dessas especificações, embora em nada prejudicassem a legibilidade do texto. Em contato com a FNDE, a editora foi autorizada a produzir os livros sem mexer no seu projeto gráfico. 35 O que foi bastante questionado como já nos referimos anteriormente, já que há predominância de “obras de literatura e de textos sobre a formação histórica, econômica e cultural do Brasil”, além de obras de referência (fnde, Relatório de Atividades 1997, 33). 113 Elementos da negociação de preços Dentre os diversos formulários entregues pela editora, havia um intitulado “Proposta para Fornecimento de Títulos para o PNBE /98”. Nele, as editoras deveriam listar todas as suas despesas com o programa e o respectivo lucro considerando que o FNDE compraria cada título com um desconto que variava de 70% a 80% em relação ao preço de capa vigente na época, das 26 editoras escolhidas. Convém lembrar que foram comprados 20.000 exemplares de cada volume. O preço pago pelo FNDE foi negociado diretamente entre os editores e a autarquia, considerando o número de cadernos tipográficos (conjuntos de 32 páginas) de cada livro. Convém notar que essa negociação é feita com cada editora separadamente. Em seu Relatório de Atividades 1998, o FNDE apresenta em uma tabela, os valores gastos com o PNBE no ano: TABELA V - DIRAD - PNBE - PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA – 1998 OBJETO VALOR (EM REAIS) Distribuição de acervos do PNBE/97 Elaboração do acervo para o PNBE/99 (FNLIJ) 2.829.449 66.998 Aquisição de globos terrestres para o PNBE/97 1.202.400 Aquisição e distribuição do periódico Nova Escola (Fundação Victor Civita) Aquisição do periódico Ciência Hoje das Crianças (SBPC) 1.898.160 1.419.000 Distribuição de cartas simples e periódicos (SECON) 672.000 Elaboração e fornecimento de sistemas administrativos de recursos para Bibliotecas (Fundação Faria Lima) 425.000 Produção de material de apoio pedagógico (Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) TOTAL (FNDE, Relatório de Atividades 1998, s/d: 44-5). 300.000 8.813.007 Esse valor total, no entanto, não confere com os R$ 29.830.886,00 que aparecem em uma tabela publicada no portal do FNDE , em janeiro de 2008, conforme mostraremos ainda nesse item. A tabela acima mostra apenas parte dos valores pagos pelo acervo (aparece apenas o da aquisição dos globos terrestres). Os demais itens são relacionados com ações do 114 PNBE/1999 e 2000, o que causa bastante estranhamento, já que algumas ações (como distribuição de periódicos) aparecem também no demonstrativo orçamentário-financeiro de 1999. Assim sendo, não tivemos como obter só o valor negociado com as editoras, por isso chegamos ao preço médio de R$ 8,15 por exemplar, considerando o total de quase R$ 30 milhões, apresentado em 2008, e o número de exemplares adquiridos (3.660.000). Mas esses números também não conferem, já que o acervo (composto por 215 volumes) foi distribuído para 20.000 escolas, o que resultaria em um número de 4.300.000 exemplares. Entrega dos livros As editoras tinham que entregar os livros em caixas (fechadas com fitas adesivas) que também deveriam obedecer a determinadas especificações, conforme mostramos no anexo 3. Essas caixas e fitas eram bastante reforçadas, mas tais exigências não se justificam, já que elas foram abertas no processo de triagem e não foram reaproveitadas. Em visita ao armazém contratado pelo FNDE, onde as editoras entregavam os livros, constatamos que nem todas obedeceram às especificações de embalagem exigidas pelo PNBE/199836. Depois de entregues, uma equipe contratada pela autarquia fazia o manuseio dos títulos, montando os acervos e essa equipe também foi a responsável pelo envio dos livros para as 20.000 escolas selecionadas. Todas as editoras entregaram os títulos entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro de 1998. Para a distribuição, realizada pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o acervo foi subdividido em cinco etapas e, a partir de março de 1998, seguiu para as escolas. 36 A editora Ática entregou os livros em caixas próprias (com logomarca da empresa) e de qualidade bem inferior à exigida pelo edital, sem sofrer qualquer tipo de penalidade no ato da entrega. 115 Os livros acabaram de ser entregues em 1999, quase um ano após o início dos trabalhos de logística (FNDE, Relatório de Atividades, 1997 e 1998). A tabela abaixo foi publicada em janeiro de 2008 e aparece no portal do FNDE. Tratase de um resumo financeiro de todas as despesas com o programa, desde a sua primeira edição em 1998 até a edição de 2007 (que distribui acervos para todos os níveis do ensino básico: o infantil, o fundamental e o médio). Programa Nacional Biblioteca da Escola ( PNBE) – Ensino Fundamental Ano de aquisição Alunos Beneficiados Escolas Beneficiadas 1997/1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 19.247.358 14.112.285 8.561.639 3.841.268 18.010.401 20.000 36.000 18.718 139.119 126.692 141.266 3.660.000 3.924.000 3.728.000 60.923.940 21.082.880 49.034.192 29.830.886,00 24.727.214,00 15.179.101,00 57.638.015,60 19.633.632,00 110.798.022,00 Custo médio por exemplar R$ 8,15 R$ 6,30 R$ 4,07 R$ 0,94 R$ 0,93 R$ 2,26 16.990.819 13.504.906 136.389 46.700 5.918.966 7.233.075 47.268.337,00 46.509.183,56 R$ 7,99 R$ 6,43 5.065.686 85.179 1.948.140 11.140.563,20 (**) R$ 5,72 Infantil R$ 7,97 Fundamental de 1ª a 4ª série (*) Livros 2007 16.430.000 127.661 3.216.600 Financeiro 25.622.011,90 (**) Ensino 7.788.593 17.049 3.956.480 35.030.694,90 (**) R$ 8,85 médio (*) Em 2000, foram produzidos e distribuídos materiais pedagógicos, voltados para a formação continuada de professores. (**) Previsão. Disponível no portal do FNDE (ftp://ftp.fnde.gov.br/web/biblioteca_escola/resumo_ quant_pnbe_1997_2007.pdf, acesso em 08/01/2008). Acrescentamos a coluna “Custo médio por exemplar”, para verificarmos possíveis distorções entre as diversas edições. As cifras foram obtidas pela divisão aritmética entre o custo total do programa e o número de livros. O custo médio obtido inclui o que foi pago às editoras e os custos com atividades relacionadas à seleção, distribuição, além de outros gastos do programa. Uma análise preliminar nos permite visualizar que, dentre as seis primeiras edições do programa, a de 1998 teve o maior valor médio por exemplar, o segundo menor número de escolas beneficiadas e a menor quantidade de livros comprados. Em valor total gasto fica em 116 terceiro lugar, perdendo apenas para a de 2001, quando foi comprado e distribuído um número de livros quase 17 (dezessete) vezes maior que em 1998. Em 2003, o número de exemplares em relação a 1998 foi 13 vezes maior. Há falhas graves no Relatório de Atividades 1998 (cf. p. 113), no que se refere ao programa: o número de exemplares mostrado em seu demonstrativo não é o correto, a despesa total do programa exclui o maior custo (que é o da aquisição das obras), alguns itens que aparecem nessa tabela são ações de outros anos etc. Essas falhas nos fazem constatar que o PNBE/1998 apresentou uma despesa bastante alta se comparamos o preço médio por exemplar nos outros anos e é também bastante questionável, sobretudo se considerarmos o tipo de acervo adquirido e o público pretendido pelo programa em 1998 (alunos do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras). PNBE/1999: as indicações da FNLIJ, a manutenção dos projetos gráficos originais e os custos envolvidos Já na segunda edição do programa, as editoras deveriam fazer apenas uma alteração de ordem técnica nos livros: na capa, era preciso, como de costume, aparecer o selo do programa. Ou seja, o edital de convocação não exigiu especificações de papel de miolo e capa como na edição anterior. Como o acervo é predominantemente composto por livros infanto-juvenis e, portanto, impressos a 4 cores, preferiu-se manter o projeto gráfico de cada título. Ou seja, nenhum outro aspecto do edital (ao contrário do que aconteceu anteriormente) pedia alterações que causassem não-conformidades no projeto gráfico dos livros. Assim, todo o seu conteúdo foi mantido integralmente. Se os livros fossem coloridos, deveriam ser produzidos da mesma maneira, no mesmo papel e com o mesmo acabamento. Não houve nenhum tipo de 117 padronização nesse sentido. É preciso notar que essa decisão foi acertada, uma vez que o FNDE comprou os livros conforme seu projeto gráfico original de mercado. Respeitou-se, portanto algumas características específicas do projeto gráfico de livros voltados ao público infanto-juvenil, tais como formatos diferenciados, impressão colorida e em papel de melhor qualidade (como é o caso do papel cuchê): Seu acabamento gessado dá um brilho acetinado às áreas impressas e oferece uma textura lisa e delicada, que valoriza muito a impressão. Seu manuseio exige cuidado, pois ele se amassa facilmente e as pequenas nódoas resultantes dificilmente são removíveis. É um papel mais caro, não indicado para trabalhos de orçamento baixo, mas adequado quando é necessária excelente apresentação (Oliveira, 2000: 86). Uma nova exigência foi feita: antes de enviar os livros para Brasília, era preciso que as editoras enviassem os livros para que fossem analisados (quanto às suas características físicas, sobretudo de papel, impressão e acabamento) pelo Laboratório de Celulose e Papel do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no Rio de Janeiro. As editoras participantes deveriam enviar ao FNDE um cronograma de produção dos livros, no qual deveria constar o nome da gráfica onde os livros seriam impressos e acabados, o responsável por esse trabalho dentro da gráfica, datas de impressão dos miolos, das capas, dos acabamentos e, finalmente, da entrega dos livros, pois havia a possibilidade de algum funcionário do FNDE acompanhar a impressão e o acabamento dos livros em gráfica. Após a verificação e a liberação dos livros impressos e acabados, foi solicitado que as editoras realizassem a entrega em um depósito localizado no bairro do Jaguaré. Elementos da negociação de preços Infelizmente não tivemos acesso aos valores negociados com as editoras no PNBE /1999, embora o processo de negociação com as editoras tenha sido o mesmo. Foram comprados 36.000 exemplares de cada título e as editoras precisavam entregar um formulário de 118 “Proposta para Fornecimento de Títulos para o PNBE /99”. Como no ano anterior, as empresas deveriam listar todas as suas despesas e seu lucro. Em seu Relatório de Atividades 1999, o FNDE apresenta uma tabela, os valores gastos com o PNBE no ano: TABELA V - DIRAD - PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA DEMONSTRATIVO DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIO-FINACEIRA - 1999 VALOR (EM OBJETO REAIS) Aquisição do acervo para o PNBE /99 17.447.760 Aquisição e distribuição do periódico Nova Escola (Fundação Victor Civita) 1.898.155 Aquisição do periódico Ciência Hoje das Criançasa (SBPC) Manuais pedagógicos para o PNBE/98 1.920.600 21.200 Confecção de caixas de papelão para o PNBE/99 Distribuição do acervo PNBE/99 e restante do acervo PNBE/98 Licitação para o processo de armazenagem e mixagem do PNBE /99 345.600 2.500.000 TOTAL (FNDE, Relatório de Atividades 1999, s/d: 90). 593.900 24.727.214 A partir da tabela mostrada no item anterior e da tabela apresentada acima, constatamos um preço médio de R$ 6,15 por exemplar (já incluídos aí despesas de triagem, distribuição dos acervos e aquisição de outros materiais impressos). Ou seja, o valor médio negociado com as editoras foi certamente menor: se dividirmos o valor da despesa com a aquisição do acervo, que foi de R$ 17.447.760,00, pelo número de exemplares comprados (3.924.000), teremos um custo médio por exemplar de R$ 4,45. Ao compararmos os números oficiais que constam nos relatórios de atividade do FNDE para o PNBE/1999 eo PNBE/1998, notamos uma redução de 17,1% nos recursos financeiros e ainda assim foi possível comprar cerca de 7,5% a mais de exemplares, cuja impressão e acabamento foram bem melhores (papel cuchê e livros coloridos). Além disso, o valor de R$ 24.727.214,00 (da edição de 1999) inclui também cerca de R$ 3.818.755,00, que corresponde à aquisição de 3.566.751 exemplares de edições das revistas Nova Escola e Ciência Hoje das Crianças. E outro número que merece atenção é que houve um aumento de 80% no número de escolas beneficiadas. 119 É importante registrar que no mesmo ano, 1999, todos os livros dos acervos dessas duas primeiras edições foram adquiridos (em quantidades bem menores, entre 1.500 e 4.000 exemplares, o que não nos permitiu chegar à tiragem total adquirida) por outro programa federal: o Alfabetização Solidária37. Entrega dos livros As especificações de embalagem (caixas de papelão e fitas adesivas) foram idênticas às da edição anterior. Os livros foram entregues nessas caixas em um depósito da Fundação Instituto de Administração (FIA), localizado no bairro do Jaguaré, na capital paulista. A FIA foi a responsável pela triagem e entrega dos livros. Os livros foram enviados às escolas em uma embalagem específica (uma caixa-estante, em formato de escola, fornecida pelo FNDE), conforme mostramos no capítulo 1, item 1.2. De qualquer maneira, é preciso registrar que tal preocupação de entregar os livros em uma espécie de embalagem relacionada ao programa, só foi notada nessa edição do PNBE. Constatamos, portanto, que em 1999, a despesa destinada ao programa foi menor (R$ 5 milhões a menos), os títulos adquiridos eram mais adequados ao público pretendido, pois foram comprados seguindo seu projeto gráfico original38 e houve certa preocupação com a apresentação do acervo (com as caixas em formato de escola). Isso nos faz apontar para um melhor aproveitamento das ações do programa, aliado à melhor gestão dos recursos destinados ao PNBE/1999. 37 Programa ligado ao Conselho da Comunidade Solidária (presidido por Ruth Cardoso), da Presidência da República. Para atendê-lo, “o fnde aplicou o montante de R$ 5 milhões, sendo R$ 3,6 milhões na aquisição de materiais e R$ 1,4 milhão na distribuição dos kits” (FNDE, Relatório de Atividades 1998, 45). A partir de 2000, o programa passa a ser uma ação do Programa Educação Jovens e Adultos do Ministério da Educação, com “o objetivo de contribuir para a educação de jovens e adultos, acima de 14 anos de idade, que não tiveram acesso ao ensino fundamental ou não puderam concluí-lo na idade própria”. Além disso, “visa reduzir os índices de analfabetismo entre jovens e adultos no país e desencadear a oferta pública de Educação de Jovens e Adultos EJA” ( TCU, 2003: 9). 38 Tivemos acesso à parte do acervo, o que impediu a análise e aponta para a necessidade de outros procedimentos de busca não previstos neste trabalho. 120 A respeito da terceira edição, em 2000, que distribuiu materiais para a formação de professores, não pudemos avaliar as mudanças de projeto gráfico. Mas, como o acervo era formado de textos, em sua maioria, criados e publicados pelo próprio ministério39 é possível que tenha sido criado um projeto gráfico específico para essa edição do programa, como foi feito com os manuais Guia do livronauta e Histórias e histórias. Conforme já mostramos no primeiro capítulo, a própria Secretaria de Educação Básica não tinha o material em suas dependências, impossibilitando análise do projeto gráfico do material. 4.2. PNBE 2001: A COLEÇÃO “LITERATURA EM MINHA CASA” FORMATADA PARA REDUZIR CUSTOS Conforme apresentado no capítulo 2, o programa sofreu uma grande mudança em sua sistemática de aquisição e distribuição: os livros seriam doados diretamente aos alunos (em forma de coleções, para alunos de 4ª e 5ª séries do ensino fundamental). Assim sendo, houve um aumento considerável de despesas: R$ 57.638.015,60 foram gastos na aquisição de 12.184.787 coleções de cinco títulos cada, ou seja, 60.923.935 exemplares. Especificações do edital: formação das coleções Convém lembrar que, em seu item 3, intitulado “Das Condições de Inscrição”, o edital de convocação exigia: 3.2. A coleção deve ser, obrigatoriamente, composta de 05 (cinco) volumes, cujo projeto gráfico os identifiquem como coleção, obedecendo às características abaixado ordenadas: 3.2.1. uma obra de poesias de autor brasileiro ou uma antologia de poetas brasileiros (Volume 1); 3.2.2. uma obra de contos de autor brasileiro ou uma antologia de contistas brasileiros (Volume 2); 39 Os materiais impressos que foram enviados aos professores constam do item 1.3. 121 3.2.3. uma novela de autor brasileiro (Volume 3); 3.2.4. uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada (Volume 4); e 3.2.5. uma peça teatral ou obra ou antologia de textos de tradição popular (Volume 5). 3.3. Cada coleção deverá conter um total mínimo de 304 (trezentos e quatro) e máximo de 320 (trezentos e vinte) páginas, sendo que cada volume deverá conter, individualmente, no mínimo, 32 (trinta e duas) páginas. 3.4. A coleção composta de 05 (cinco) volumes será intitulada “Literatura em Minha Casa” ( FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2001: 2). Além das exigências de praxe (cadastro do titular de direito autoral atualizado no banco de dados do FNDE), o item 4.3.3, intitulado “Da Entrega das Coleções”, exigia também: Os titulares de direito autoral deverão entregar às suas expensas, ao FNDE ou a empresa a ser contratada, em dia e horário previamente agendados pelo FNDE, as obras inscritas a fim de serem submetidas à triagem, de acordo com o período definido no subitem 2.3.2. deste Edital e conforme especificações abaixo: 4.3.3.1. 08 (oito) exemplares de cada um dos 05 (cinco) volumes integrantes da coleção, em edição finalizada, devendo cada obra estar concluída com todos os textos em sua forma e paginação finais, de acordo com o Anexo I. 4.3.3.2. em nenhuma hipótese serão aceitas obras não finalizadas, com rasuras e/ou indicação de modificações futuras. 4.3.3.3. os 08 (oito) conjuntos de coleção a serem entregues deverão estar embalados, em polietileno ou poliolefínico (schrink), e identificados externamente com, no mínimo, as seguintes informações: a) nome da coleção – “Literatura em Minha Casa”; b) título de cada obra que compõe a coleção; c) identificação do volume; d) gênero da obra; e) nome do(s) autor(es); f) nome da editora; g) selo do PNBE/2001; h) peso da coleção. (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2001: 3). É importante destacar ainda o item 5 do edital – “Das Etapas do Processo de Seleção das Coleções” – que explica como serão feitas a triagem e a avaliação das coleções: 5.1. Da Triagem. A triagem é a primeira etapa do processo de seleção e poderá, a critério do FNDE, ser realizada por instituição contratada. 5.1.1. No caso de realização da triagem por instituição contratada, o comprovante de entrega da(s) coleção(es) será emitido pela instituição. 5.1.2. As coleções que não atenderem às exigências contidas no Anexo III a este Edital, serão automaticamente excluídas nessa etapa. 5.2. Da Avaliação. A avaliação constitui a segunda e última etapa da seleção, e será assim realizada: 5.2.1. As coleções inscritas para o PNBE/2001 serão avaliadas por Colegiado especialmente designado pelo Ministro de Estado da Educação. 5.2.2. A avaliação das coleções será feita de acordo com o disposto no Anexo II a este Edital. 5.2.3. Ao final da etapa de avaliação, serão selecionados 06 (seis) coleções para aquisição e distribuição pelo PNBE /2001, conforme disposto na Portaria nº 1.930, do Ministério da Educação, publicada no Diário Oficial da União de 24 agosto de 2001. (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2001: 4). A partir da publicação das coleções selecionadas, as editoras deveriam também encaminhar documentação de praxe, tanto a exigida para habilitação de titulares de direito 122 autoral, ou seja, o contrato da editora com os autores, quanto outros documentos comprobatórios de habilitação jurídica e fiscal. Para concorrer a essa licitação, era preciso preparar as coleções em apenas dois meses, já que o edital foi publicado em 29/08/2001 e o prazo de entrega das coleções, segundo o item 2.3.2 do edital, era 29/10/2001. Para avaliar a propriedade desses prazos, convém lembrar que a produção de um livro (após de fechado o contrato com o autor), passa pelas fases pré-industrial e industrial (quando é impresso e acabado). Na sua fase pré-industrial, o livro passa por, pelo menos, seis etapas, a saber: 1. Seleção do original: antes de mais nada é preciso escolher que livro vai ser publicado, negociar a porcentagem de direito autoral e estabelecer contrato com o(s) autor(es). 2. Preparação do original: estabelecimento, padronização e “normalização harmônica” do texto. 3. Projeto gráfico da capa e do miolo do livro: encomendados para artistas gráficos especializados ou feitos por profissionais da própria editora. É neste ponto que serão escolhidos o formato, a tipologia, o número de cores e o papel em que vão ser impressos o miolo e a capa, entre outros detalhes gráficos. As definições do projeto gráfico são elementos importantes o custo final do livro. 4. Composição da capa e do miolo do livro: depois de preparado, o texto vai ser composto de acordo com o projeto gráfico definido para o miolo. O mesmo processo se aplica para a capa. Depois de recebida a arte, a capa deve ser composta eletronicamente. Nesta etapa, cuida-se também da parte iconográfica do livro, se houver. 5. Revisão de provas: depois de o texto (do miolo – incluindo sua possível parte iconográfica – e da capa) ser composto, deve ser revisado, pelo menos, duas vezes (duas provas). 6. Saída de fotolitos ou CTP (computer to plate): quando o miolo e a capa já estiverem corretos e limpos, tiram-se os filmes (fotolitos) dos mesmos ou grava-se, em um CD um arquivo específico para a gráfica, em formato adotado internacionalmente (PDF). Nesse ponto o livro já é um “produto fechado” para orçamento gráfico (Oliveira, 2002: 71). Conceber um projeto editorial desse porte, em prazo tão curto, não é tarefa simples. Apenas as grandes editoras têm condições físicas e financeiras para a empreitada. De acordo com Davies (2005: I), estudiosa da indústria editorial norte-americana e inglesa, para montar um catálogo é preciso examinar pontos como os fatores pelos quais se escolhe um autor, as características que se espera do texto, as diversas propostas de livros, se o livro é pertinente à linha editorial da empresa, qual é o público leitor do livro e como chegar a ele. Ou seja, é tarefa de meses, caso a editora já tenha o autor e a obra em seu catálogo, caso contrário, a tarefa pode levar anos. 123 Além disso, é preciso ter, no catálogo, livros que se enquadrem nas exigências do edital, levando-nos a crer que, a partir dessa edição, o programa tende a privilegiar determinados tipos de empresa da indústria editorial que, no Brasil, são pouquíssimas, conforme comprova William Saab, em relatório setorial do BNDES: Estima-se, no Brasil, a existência de aproximadamente 1.200 editoras, sendo que, filiadas à CBL, são 400 empresas, das quais 10% podem ser consideradas grandes. A CBL considera, como comerciais, as que editam, pelo menos, cinco livros, anualmente, e cuja atividade principal seja a edição. As editoras estão concentradas, principalmente, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba (Saab, Gimenez & Ribeiro: 1999, 13). A tabela 5, do referido relatório, lista as dez maiores editoras brasileiras40 , na época: Ática/Scipione, FTD, Saraiva, Moderna, Record, Companhia das Letras, Siciliano, Rocco, Nova Fronteira e Ediouro (idem: 14). Coincidência ou não, as editoras que tiveram suas coleções selecionadas foram: Ática, FTD, Moderna, Nova Fronteira, Companhia das Letras e Objetiva. Apenas a última não está lista das dez maiores, mas é preciso lembrar que, desde 2005, a editora Objetiva é também sócia da editora Nova Fronteira. Célia Cassiano, ao comparar a participação desses mesmos setores da indústria editorial brasileira no PNLD, conclui que houve permanência daquelas que sempre concentraram o maior volume de vendas ao governo. A pesquisadora se refere às editoras Ática/Scipione, do Brasil, FTD, IBEP/Nacional e Saraiva (Cassiano, 2003: 32, 35). Especificações técnicas mínimas: do formato ao acabamento O edital do PNBE/2001 apresenta quatro anexos assim intitulados: “Anexo 1 – Especificações Técnicas Mínimas”, “Anexo 2 – Critérios de Avaliação e Seleção”, “Anexo 3 – Triagem” e “Anexo 4 – Modelo de Declaração de Titularidade de Direitos Autorais”. Os três primeiros são os de maior interesse para análise, pois, de um lado, parecem contribuir 40 Essas dez empresas representam ¼ da 40 consideradas grandes por Saab. 124 para a melhora, e, de outro, para a piora da aquisição e distribuição de livros pelo Ministério da Educação. No anexo 1, são apresentadas as especificações técnicas (subdividas em formato, miolo e acabamento) dos livros que compuseram a coleção. Vamos analisá-lo por partes, já que nessa edição do programa houve expressivo aumento de despesa (quase R$ 60 milhões) e o número de alunos beneficiados, segundo o FNDE, diminui bastante em relação às edições anteriores. ANEXO I ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS MÍNIMAS As especificações são para todos os exemplares de cada um dos cinco livros que compõem a coleção: 1. FORMATO: 137 mm x 209 mm, sendo que na medida de 137 mm será tolerado desvio de mais ou menos 4 mm e na medida de 209 mm será tolerado desvio de mais ou menos 1 mm. CAPA: Cartão branco, de 240g/m2 a 312g/m2 nominais, revestido na frente, plastificado ou envernizado com verniz UV . · Impressão nº de cores - 4/0; 2 2. MIOLO: Papel “off set” branco, com gramatura entre 63 e 75g/m nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento), nas gramaturas nominais. Alvura mínima de oitenta por cento e opacidade mínima de 82% (oitenta e dois por cento); · Impressão nº de cores: 1/1. · Tipo e Tamanho da Fonte: Arial 12 3. ACABAMENTO 3.1. Para livros com até 96 páginas de miolo: 3.1.1. Tipo de lombada: canoa; 3.1.2. Miolo e capa: grampeados com 2 (dois) grampos acavalados na lombada; 3.1.3. Características do grampo: galvanizado com bitola nº 26 ou 25; 3.1.4. Grampeamento: distribuídos simetricamente em relação à extensão pé à cabeça do livro com variação de 1,5 cm, e tolerância máxima de desalinhamento de 0,5 mm em relação ao vinco da dobra; 3.1.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm, com tolerância de variação de menos 2 mm; 3.1.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha ser superior a 06 mm e inferior a 10mm, respeitada a diagramação original do livro; 3.2. Para livros com mais de 96 páginas de miolo: 3.2.1. Tipo de lombada: quadrada; 3.2.2. Miolo costurado com linha, “falsa/termo costura”, ou costura de cola, ou colagem (PUR ); 3.2.3. Capa com vinco de manuseio a 7 mm da lombada com tolerância de mais ou menos 1 mm; 3.2.4. Colagem lateral de capa até o vinco de manuseio, com tolerância de até menos 1,5 mm; 3.2.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 20 mm, com tolerância de variação de menos 2 mm; 3.2.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha ser superior a 06 mm e inferior a 10mm, respeitada a diagramação original do livro. 3.3. Para os todos os tipos de acabamento deverão ser utilizadas as seguintes especificações: 3.3.1. Para os livros costurados com linha, a linha deve ser de algodão, sintética ou mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 3.3.2. Para os livros com acabamento “falsa/termo costura”, a linha deve ser mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 3.3.3. Para os livros costurados com cola o processo deverá ser “Burst”, “nottched” ou “slotted binding”, de forma a garantir a integridade física do miolo; 3.3.4. Para os livros com a lombada raspada e colada, ou raspada, frezada e colada, o processo de colagem deverá ser com a utilização de cola de poliuretano reativo (PUR ); 125 3.3.5. Toda cola utilizada deverá ser flexível após secagem. (FNDE, Edital de Convocação do Anexo I ). PNBE/2001, O objetivo desse anexo é claro: padronizar as coleções tecnicamente, já que as exigências são bastante pontuais. O formato estipulado (137x209 mm, que corresponde a uma folha de papel A4 dobrada ao meio) é bastante pertinente, já que tem um aproveitamento total do papel em gráfica: Alguns formatos de livros atendem ao aproveitamento idealizado na maioria das máquinas impressoras existentes no mercado de planas e rotativas; são eles: 139 mm x 210 mm, 168 mm x 238 mm e 204 mm x 280 mm (MOPE , 2003: 50). Em relação à capa, o edital também exige papel de gramatura correta para esse elemento do livro, conforme apresentamos no item 4.1. Em relação à plastificação, também constatamos que é um elemento importante para a proteção do livro: A plastificação confere brilho e proteção ao impresso, especialmente para revestimento de capas de livros, pôsteres, capas de revistas e catálogos. A plastificação pode ser feita em ambos os lados do 2 papel, porém deve-se evitar plastificar papéis com gramaturas abaixo dos 120 g/m , pois pode provocar o aparecimento de rugas durante a plastificação. (Carramillo Neto, 1997: 176). A outra possibilidade, o verniz UV41, é um: recurso considerado top de linha por sua durabilidade e por seu efeito, encorpado e homogêneo. O verniz UV é muito utilizado sobreposto apenas a alguns elementos gráficos impressos sobre papel fosco, dando-lhes destaque, ou mesmo como uma forma de impressão sobre fundo homogêneo, “criando” a imagem apenas pelo brilho e textura do verniz, e pela cor da tinta. Este recurso é denominado verniz localizado, verniz de reserva ou verniz em reserva (Oliveira, 2000: 114). Assim, o edital dá margem a que se opte por um tipo de revestimento mais barato e menos durável, já que a plastificação é de qualidade bem mais baixa que o verniz UV , custando cerca de 30% a menos. Ou seja, fica a cargo das editoras uma decisão bastante importante que afetará a qualidade e a durabilidade do produto. Da mesma forma, o anexo não especifica em que processo os livros deveriam ser impressos, embora o mais comum seja a impressão ofsete, cujo “aspecto do tipo se apresenta nítido nos contornos e equilibrado. A maioria dos caracteres de hoje em dia foram concebidos para esta técnica de impressão” (Willberg & Forssman, 2007: 41). Há diferentes processos 41 Abreviação de ultra-violeta (estufa de luz que produz esse efeito). 126 industriais de impressão42 (que não são as ideais para os tipos de papel específicos) e, por isso, o edital deveria ter exigido o processo mais adequado também. Exigências de projeto gráfico específico: a tipologia das coleções As especificações técnicas exigidas para o papel de miolo (o ofsete) também são bastante parecidas com as do PNBE /1998, mas é preciso apontar que, a partir de agora, os livros devem ser obrigatoriamente impressos a uma cor (exigência que impede que o livro seja colorido). Também se exigiu que o projeto gráfico do miolo adotasse a fonte Arial em corpo 12. Fontes como a deste texto (Times New Roman) são serifadas e bastante comuns em materiais impressos (jornais, revistas e livros). A serifa é “um pequeno filete de acabamento que se estende nas terminações das hastes dos caracteres” (Pereira, 2004: 12). A fonte Arial, sem serifas, foi concebida em 1982 pela empresa Monotype, por encomenda da fabricante de computadores e impressoras IBM. Ou seja, é uma fonte criada para a tela e não para o papel. É uma fonte amplamente utilizada na confecção de páginas de internet. Não há um consenso em relação à legibilidade de fontes. Mas estudiosos de tipologia, designers e artistas concordam, a partir de experiências empíricas, que as fontes serifadas podem ser mais favoráveis à leitura de determinados textos diagramados. Jan White, responsável pelo projeto gráfico de diversas revistas como Time e Veja, aconselha: Corpo sem serifa é mais difícil de ler que o serifado, embora não seja perigoso demais, se seus leitores estiverem habituados a ele. Garanta que ficará fácil de ler adicionando um espaço extra entre as linhas para compensar a falta de serifa (esta ajuda a mexer os olhos de lado, assim como a separar as linhas umas das outras (White, 2006: 95). Marina Oliveira lista em seu Produção gráfica para designers quase trinta processos de impressão diferentes, mas destaca que o processo ofsete é o ideal já que garante “boa qualidade de impressão para médias e grandes tiragens em praticamente qualquer tipo de papel” (Oliveira, 2000: 41). 42 127 Pereira também aponta que “nos textos corridos, como em livros e jornais, os tipos com serifa são os escolhidos por sua maior readability43” (Pereira, 2004: 105). Para Willberg & Frossman, as crianças, ao contrário dos leitores mais experientes, não conseguem captar palavras inteiras só com o olhar, elas precisam reconhecer letra por letra. Para os autores, isso pode ser mais dificultado no caso das fontes sem serifa (como a Arial, exigida no edital dessa edição do PNBE). Para eles: [...] uma parte da convicção que as letras para leitores iniciantes devem ter a forma mais simples e por isso, para os livros de leitura e apostilas escolhem tipos sem serifas, e a outra parte do princípio que as letras não devem ser as mais simples, mas sim, as mais claras e diretas. Por isso, utilizam tipos romanos clássicos. Os caracteres com formas simples são mais fáceis de escrever e de copiar. Mas a forma mais clara e direta é de suma importância. As letras mais usadas de nossas escritas – especialmente as do tipo sem serifa – não são tão claras e diretas como pensamos. Para leitores iniciantes elas provocam uma série de tropeços. (Willberg & Forssman, 2007: 74). Para sustentar sua contrariedade ao uso de tipos não-serifados para crianças, os autores mostram exemplos práticos que nos permitem identificar alguns problemas, sobretudo quando em relação a alguns caracteres do alfabeto: Espelhar: para muitas crianças as direções de esquerda e direita e acima e abaixo, ainda não estão totalmente definidas. Elas não distinguem se uma letra está virada para um lado ou para outro, se está de pé ou invertida: para elas se trata da mesma imagem/forma. Por isto deve-se providenciar que estas formas não sejam parecidas. Similaridade aparente: I e l, i e j não têm ou só possuem diferenças mínimas. Em tipos para crianças estas letras devem ser claramente diferenciáveis, o que é mais fácil com letras com serifas do que com letras sem. Imprecisões: Nos tipos para crianças deve-se evitar que duas letras aparentemente se fundam formando uma outra. Proporções: As ascendentes devem ser suficientemente grandes para impedir a confusão entre caracteres (idem: ibidem). Para uma melhor compreensão, vamos reproduzir alguns exemplos que os autores utilizam. O “espelhar” ocorre quando há palavras em que as letras “D”e “B” e as letras “Q” e “P” aparecem juntas (que ficam assim na fonte Arial: db e qp). A “similaridade aparente” ocorre quando há palavras em que as letras “I”e “L” aparecem juntas (que ficam assim na fonte Arial: Ilumina,ou seja, o “I” maiúsculo é praticamente idêntico ao “L” minúsculo). Um exemplo de “imprecisão” são as letras “R” e “N” (quando juntas podem parecer um “M”, rn). E um caso de “proporção” ocorre com a junção do letras como “H” e “N” (que ficam assim na 43 Ou leiturabilidade que “diz respeito à qualidade do conforto visual, à facilidade de compreensão dos textos, ao que torna aprazível sua leitura” (Pereira, 2004: 104) 128 fonte Arial: hn), ou seja, a haste do “H” é só um pouco mais alta que a do “N”. Assim sendo, os autores acreditam que esses problemas podem atrapalhar a leitura ou o reconhecimento das letras, no caso de leitores pouco proficientes. Em suma, a exigência do tipo de fonte (Arial) e tamanho (12) não é apropriada aos leitores dos livros da coleção “Literatura em Minha Casa”. Outro problema é pensar em uma página que utilize essa tipografia, no corpo exigido, e que obedeça às quantidades de páginas impostas pelo edital. No caso de livros de poesia, por exemplo, é possível trabalhar com uma entrelinha maior, garantindo uma maior legibilidade. Mas no caso de textos mais extensos, haverá problemas de leitura, pois a tipologia e seu corpo mostram-se inadequados, como vemos no exemplo abaixo: Figura 1: página do volume Era uma vez um conto (da editora Companhia das Letras, selecionado para o PNBE /2001). Nela, constatamos a fonte Arial (em uma página cheia) e os grampos totalmente enferrujados. Além de oferecer riscos à saúde, as folhas podem se soltar gradativamente. 129 O acabamento das coleções Em relação às exigências de acabamento, notamos que elas também alteram de forma expressiva a aparência do livro, já que, dependendo do número de páginas do livro, o mesmo pode ter dois tipos de acabamento: grampeado (lombada canoa) ou brochado (lombada quadrada). O primeiro tipo é “a forma mais simples, rápida e barata para confecção de brochuras: os cadernos são encaixados uns dentro dos outros, sendo reunidos por grampos na dobra dos formatos abertos”, enquanto o segundo utiliza um adesivo térmico que dá uma aparência um pouco mais sofisticada, por criar uma lombada. O processo é em geral aplicado em um equipamento com uma fresa que faz pequenas incisões no dorso da publicação, nas quais penetra a cola derretida. Na lombada quadrada, são eliminadas as dobras do formato aberto, ficando as folhas soltas [...]. Quando o papel utilizado no miolo é mais encorpado, é comum a aplicação de vinco na capa, em torno de 5mm de distância da lombada. [...] adequada para volumes entre 40 e 200 páginas e que não se destinem a um grande manuseio, pois o adesivo pode se romper, “quebrando” a publicação em duas ou mais partes (Oliveira, 2000: 109-10). Carramillo Neto define melhor o acabamento chamado lombada canoa (ou a cavalo): Tipo de acabamento no qual as páginas são fixadas através de grampos metálicos na lombada. Os cadernos e a capa são colecionados acavalando-se uns sobre os outros para receber o grampo. Todo o conjunto (capa + miolo) é colocado sob um grampeador e os grampos são fixados na lombada. Ao se optar por este tipo de acabamento é necessário verificar a estrutura do exemplar, como o número de páginas e a gramatura do papel. Estes dois fatores determinam o tipo de acabamento mais adequado para atender o grau de resistência ao manuseio. É aconselhável que a gramatura da capa seja superior à gramatura do miolo para que a capa suporte o peso do miolo sem rasgar os grampos. Como norma, a estrutura máxima de grampeação para lombada canoa é de três cadernos com 64 páginas de gramatura 2 até 60 g/m (Carramillo Neto, 1997: 184). A partir das definições acima, podemos concluir que os livros grampeados (apesar das exigências de material galvanizado) se oxidaram depois de seis anos (considerando os exemplares obtidos pelo pesquisador), além de o grampo ser feito de um material (metal) que pode machucar a criança: O acabamento com grampos na lombada tem a vantagem de permitir a abertura completa das páginas, disposição favorável à leitura. No entanto, grampos que não se fecham completamente (quando são muitas páginas e o papel da capa é muito encorpado) e que se enferrujam (em determinadas condições de armazenamento e umidade) representam perigos para as crianças pequenas de 1º ano (Bocchini, 2007: 7). No caso da lombada quadrada, deveria ter sido exigida a versão com costura de linha, que, conforme já explicamos na primeira edição do programa, é o acabamento mais durável e 130 mais flexível para os livros. As editoras que inscreveram livros com mais de 96 páginas, utilizaram o acabamento colado ou a costura falsa que, em alguns casos, pode fazer com que as folhas se soltem. Além disso, a flexibilidade do livro fica prejudicada, pois o livro oferece certa resistência à abertura. Além das possibilidades de grampos, os editais [...] admitem para todos os livros [do PNLD] uma encadernação que combina costura de linha e cola de boa qualidade (dois fatores de segurança para manter a integridade física do miolo e sua integração com a capa), mas admitem também o uso exclusivo de colas de qualidades variáveis. Quando há costura de linha, o livro pode ser bem aberto, mas, nas outras opções, as páginas apresentam-se encurvadas para leitura (idem: ibidem). Ou seja, o PNBE, a exemplo do PNLD , “tolera encadernações que desfavorecem a leitura” (idem: ibidem). Assim, é bastante questionável que tais acabamentos garantam a integridade física dos livros. Em relação às distâncias nominais, também não vemos razão para exigências tão pontuais, uma vez que a criança já foi prejudicada enquanto leitora pela escolha de uma tipologia claramente inadequada. Na verdade, tais exigências pioram ainda mais as condições de leitura, pois fazem com que a mancha tipográfica diminua em quase 30 mm na largura e 20 mm na altura. Isso limita ainda mais o trabalho dos departamentos de arte das editoras que, na prática, tiveram que pensar em um livro com as medidas 117x189 mm, formato praticamente considerado de bolso. As figuras 2 e 3 mostram dois títulos selecionados pelo PNBE/2001 em duas versões: a de mercado (como ele é produzido pela editora e vendido nas livrarias) e a de governo (produzido especialmente para o programa, obedecendo ao edital de convocação). Em ambos os casos, a versão de mercado mede 20x26 cm, praticamente o dobro do formato exigido pelo programa. 131 Figura 2: exemplares do livro A arca de Noé, de Vinicius de Moraes (da editora Companhia das Letras, selecionado para o PNBE/2001). Figura 3: exemplares do livro Odisséia, adaptado por Ruth Rocha (da editora Companhia das Letras, selecionado para o PNBE/2001). 132 Critérios de avaliação e seleção das coleções da ação “Literatura em Minha Casa” No anexo 2 são apresentados os critérios de avaliação e seleção dos títulos que comporão as coleções (divididos em tipologia, temática, seleção de títulos e autores, textualidade, projeto gráfico e ilustrações): ANEXO II CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO Introdução A finalidade fundamental da coleção de obras literárias é a tornar acessível aos alunos da 4ª série e suas famílias um conjunto de textos literários significativos para sua formação cultural e para o desenvolvimento do interesse pela leitura de obras literárias. Por essa razão, a composição de coleções deve, ao mesmo tempo, atender aos interesses e peculiaridades desse público, assim como promover desencadeamento de novos interesses e de novas referências culturais. Desses princípios gerais decorrem os critérios de seleção das seis coleções a serem distribuídas, apresentadas a seguir: Critérios de seleção A análise recairá tanto sobre a qualidade do conjunto de títulos que compõem a coleção quanto sobre a qualidade de cada título considerado individualmente. Coleções compostas por títulos de qualidade uniforme, portanto, serão selecionadas em detrimento daquelas de qualidade desigual. Nessa análise, serão considerados os seguintes aspectos: 1. Quanto à tipologia As coleções devem ser compostas de títulos pertencentes a cada uma das categorias abaixo. Serão sumariamente eliminadas do processo de avaliação aquelas que não se organizarem de acordo com essa composição. · Uma obra de poesia de autor brasileiro ou uma antologia de poetas brasileiros; · Uma obra de contos de autor brasileiro ou uma antologia de contistas brasileiros; · Uma novela de autor brasileiro; · Uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; · Uma peça teatral ou obra ou antologia de textos de tradição popular. 2. Quanto à temática As coleções devem apresentar diferentes temáticas, todas elas adequadas aos interesses e peculiaridades do público-alvo, capazes tanto de motivar a leitura dos livros quanto de ampliar as referências culturais e literárias desse público. Devem também enfatizar e valorizar a diversidade, representando diferentes contextos sócio-culturais. Considera-se de fundamental importância que a abordagem de temáticas controversas se paute pela problematização e pela discussão e, em hipótese alguma, pela discriminação e pelo proselitismo. 3. Quanto à seleção de títulos e autores Os títulos e autores selecionados devem ser representativos do espaço da produção literária brasileira. Serão privilegiadas as coleções compostas de títulos e autores de diferentes épocas e regiões. 4. Quanto à textualidade Assume-se que a natureza literária dos textos é construída diferentemente em diferentes épocas e esferas do discurso literário. Por essa razão, os textos utilizados devem ser o mais amplamente representativos de diferentes quadros de referência literários, favorecendo o desenvolvimento da leitura literária. Tendo em vista o público-alvo da seleção de textos, é necessário que a textualidade das obras tanto se apóie nas expectativas a respeito da recepção literária do público quanto na ampliação dessas expectativas. 5. Quanto ao projeto gráfico e às ilustrações O projeto gráfico deve ser atraente tendo em vista as peculiaridades do público-alvo, apresentando 133 pertinente contribuição espacial, tamanho e formato de letras, adequada abordagem da relação títulotexto. Os padrões utilizados, no conjunto do projeto, devem favorecer a legibilidade dos textos e manifestar adequação às características de cada título. Erros de impressão e revisão são negativos para uma adequada leitura das obras. Elementos como apresentação da obra e da coleção, introdução, notas, glossário e outros textos explicativos serão valorizados. As ilustrações deverão contribuir para uma adequada leitura das obras, dialogando com os textos. Devem utilizar uma linguagem visual coerente adequada ao público-alvo. ( FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2001, Anexo II) Em relação às características literárias, Fernandes (2004) e Cunha (2003) já apontaram problemas em relação às coleções escolhidas (v. capítulos 2 e 3). Mas alguns comentários a esse respeito merecem ser lembrados. Há, para elas, problemas graves no que o anexo chama de “qualidade uniforme”, já que não fica claro a que qualidade se refere: a literária (se é que é possível utilizar esse termo) ou a técnica. Ao supormos que é a literária, a questão toma proporções ainda mais graves, uma vez que o edital exige cinco gêneros literários cuja “qualidade” pode por ele ser entendida como “autores clássicos” ou “autores conhecidos” da literatura brasileira. Ou seja, as editoras precisavam, então, ter em seus catálogos cânones literários para serem selecionadas nessa edição do programa. Assim, consideramos a “qualidade” como critério extremamente vago de seleção e avaliação. No item intitulado “quanto à tipologia”, o edital também utiliza nomenclatura incorreta, visto que tipologia é o “estudo sistematizado dos caracteres tipográficos, especialmente no que se refere ao desenho das fontes ou famílias de tipos”. Nesse item, na verdade, está descrita a formação e a classificação (por gênero literário) das coleções e não sua tipologia (que foi especificada no anexo anterior). Maria José Martins de Nóbrega, membro da comissão técnica, enfatiza que o projeto editorial foi avaliado considerando um “eixo organizador temático, verificando se havia articulação desses volumes” e contivessem “informações adicionais que não didatizassem o texto e nem interferissem no processo de recepção estética do texto literário” (FNLIJ, 2002: 28). Mas não parece fazer muito sentido esperar da coleção (que é composta por categorias literárias tão diversas) um “eixo organizador temático” tampouco exigir da mesma “recepção 134 estética do texto literário” se a exigência do projeto gráfico é por uma tipologia que peca gravemente em legibilidade. Fernando Coelho A. Silveira, também membro da comissão técnica, descreve, de forma confusa, a sistemática e a metodologia da seleção e avaliação das coleções desse acervo: Todos os julgamentos feitos sobre os livros foram colocados a disposição dos editores. Não era dada uma simples nota, mas feita uma avaliação por escrito justificando cada nota atribuída. Eram cinco quesitos subdivididos em outros cinco subquesitos. Cada dupla fazia leitura de seis coleções. Cada coleção possuía cinco volumes. As coleções poderiam ter, no máximo, 320 páginas. Nesta leitura em parceria, se houvesse alguma discordância, se buscava coerência. A apreciação da Comissão Técnica não vinha alterar nenhuma avaliação feita, mas orientar nesse compromisso de evitar incoerências (FNLIJ, 2002: 30). Quanto à temática das coleções, o anexo é bastante generalizante, já que os livros que compõem as coleções devem ser adequados aos interesses dos alunos e serem capazes de motivar a leitura dos livros e ampliar as referências culturais e literárias desse público. Maria Antonieta Cunha critica duramente esse tópico do anexo: Há experiências de sucesso no Brasil, nas quais se faz uma seleção de ampla lista com claros indicadores de qualidade, abarcando os mais diferentes gêneros, temas, tratamentos, linguagens, autores, editoras, organizada de tal forma que cada um desses itens apareça com seu tamanho e sua importância. Essa diversidade não só é democrática, mas evidencia o ponto-chave da questão da conquista do leitor: a opção de cada um, o caminho individual na busca de textos diferentes são a “fórmula mágica” de criar leitores. Sabemos que ninguém tem a ilusão de que cinco ou seis gêneros abarcam as possibilidades de sedução para a leitura. Uma lista abrangente, que pode ser muito exeqüível, teria muito mais chance de contemplar os vários tipos de leitores potenciais (Cunha, 2003). O anexo sugere que haja preocupação em selecionar títulos e autores representativos da literatura brasileira (seria essa a qualidade exigida?) de diferentes épocas e regiões. Em um rápido levantamento dos autores selecionados, percebe-se claramente um domínio do eixo Rio-São Paulo (onde se concentram a maioria das grandes editoras e onde vive e trabalha boa parte dos avaliadores) em detrimento das outras regiões brasileiras, conforme lembra Fernandes (2004: 62) que “os autores de prestígio reinam absolutos, inclusive sobre o critério da diversidade”. Ao falar da textualidade das obras, o anexo praticamente repete o segundo item (sobre a temática), parafraseando-o. Repete que as coleções devem representar diferentes estilos, épocas e esferas e considerar o público a que se destinam. 135 O anexo termina com o quinto item (“quanto ao projeto gráfico e às ilustrações”) repleto de inconsistências. Não nos parece possível considerar atraente um projeto gráfico no qual diversos itens (como papel, formato e tipologia) foram impostos. Sugere ainda que haja adequada abordagem da relação título-texto, que, conforme mostramos, fica bastante prejudicada com a exigência da tipologia arial. O que, nesse item, é chamado de apresentação da obra e da coleção, introdução, notas, glossário e outros textos explicativos realmente são elementos editorais de um livro. São notadamente elementos textuais cuja existência é decidida pelos autores e editores de texto, em uma etapa anterior ao projeto gráfico. Deveria aparecer, então, no próximo anexo, em seu item 1 (“análise da estrutura editorial”). Temos, assim, suspeitas de esse anexo do edital ter sido escrito sem considerar as nomenclaturas e conceitos mais adequados tanto de literatura quanto de editoração e suas normas. Triagem das coleções, a titularidade e as multas O anexo 3 trata da triagem, que é a primeira etapa do processo de seleção das coleções dessa edição do PNBE nos parece mais objetivos que os anexos anteriores: ANEXO III TRIAGEM 1. Análise da estrutura editorial 1.1 A(s) obra(s) literária(s) deve(m) estar claramente identificada(s). A capa, a folha de rosto e seu verso devem conter nome da coleção (“Literatura em minha casa”) a identificação do volume, do gênero, título da obra, autoria, editora, local, data, edição, dados sobre o(s) autor(es) e ficha catalográfica e, ainda, o ISBN. 2. Critérios de exclusão 2.1. toda coleção quando um de seus volumes for excluído nessa etapa de triagem; 2.2. toda coleção quando não atender o Item 3, Subitem 3.3. deste Edital; 2.3. toda coleção que não apresentar o formato único 137x209mm, para todos os cinco exemplares (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2001, Anexo III). 136 O anexo deixa claro os elementos que devem, obrigatoriamente, constar na capa, na folha de rosto e no seu verso. Ao analisarmos as coleções selecionadas pelo PNBE /2001, notamos que a coleção da editora Companhia das Letras apresentava uma não-conformidade, já que os dados sobre os autores estão nas últimas páginas dos livros, portanto, fora das especificações. Ou seja, o anexo que nos parece mais objetivo parece ter aberto exceções ou então a comissão técnica não checou todos os itens, anexos e suas especificações. Qualquer uma dessas possibilidades pode ser entendida como indício de favorecimento. No anexo 4 – Titularidade de Direitos Autorais –, temos um modelo de declaração dessa titularidade, no qual o titular de direito autoral concorda com a adequação gráfica (e exclusiva) de sua obra para fazer parte do PNBE/2001. Fernandes constata, ainda, que há repetição de títulos em relação a outras edições do programa. É o caso dos livros A arca de Noé (de Vinicius de Moraes, do PNBE/1998), A formiguinha e a neve, adaptada por João de Barro, Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado e Minhas memórias de Lobato, de Luciana Sandroni, que são parte do acervo do PNBE /1999 (Fernandes, 2004: 62). Percebe-se também a preocupação, por um lado bastante pertinente, de qualidade do objeto livro (quando o edital exige tipos específicos de matérias-primas, como papel, linha, costura, entre outros), mas, ao mesmo tempo notamos também um desconhecimento no que se refere à tipologia adotada por um projeto gráfico de livros. Pela primeira vez na história dos programas governamentais de compras de livro no Brasil, um edital do MEC exige determinado tipo de fonte (Arial) que, por ser sem serifa, não é indicada para leitura de textos longos, conforme mostramos anteriormente. Claro que a padronização dos títulos (em formatos e tipos de papel, de impressão e de acabamento semelhantes) proporcionou que o governo federal pudesse ter uma melhor 137 condição de negociação com as editoras, uma vez que os livros eram todos impressos em apenas uma cor e na sua maioria grampeados. A qualidade gráfica e as conformidades (ou não) às especificações técnicas que aparecem no primeiro anexo foram verificadas pelo IPT, que recolheu, junto às editoras, uma amostra dos títulos produzidos para realizar a checagem. Havia também no edital uma tabela de multas (bem parecida com a do edital de 1998) para eventuais não-conformidades encontradas nos livros. Discussão da formação de preços As editoras deveriam enviar (junto com os exemplares-amostra) uma proposta de venda contendo os títulos dos livros, a tiragem, os custos de papel e de gráfica, os custos editoriais, administrativos, de logística e de direito autoral. Por conta da padronização das matérias-primas e formatos, o governo federal chegou a um preço médio e, assim, comprou cada exemplar por R$ 0,70, ou seja, R$ 3,50 cada coleção de cinco títulos, totalizando R$ 42.382.754,2544. Há também despesas de distribuição das coleções (quase R$ 8 milhões) e de aquisição e distribuição de periódicos e triagem das coleções (cerca de R$ 7,3 milhões), segundo é mostrado na Tabela 80 do Relatório de Atividades 2001 (FNDE: 111). Os custos mais comuns que as editoras têm nesse processo podem ser divididos em diretos e indiretos. Os custos diretos são aqueles ligados diretamente ao produto (produção editorial e gráfica das coleções, direito autoral e custos industriais – papel e gráfica) e os custos indiretos são os que não estão relacionados diretamente ao produto e, por isso, devem ser rateados entre os diversos produtos da empresa (mão-de-obra, aluguel, rateamento de 44 O valor de R$ 0,70 corresponde à despesa de R$ 42.646.754,50 dividida pelo total de livros comprados, que foram 60.923.940 unidades. 138 investimentos em instalações, água, luz, manutenção, depreciação, despesas administrativas – com veículos ou com propaganda, condomínio, viagens para compra de novos títulos, treinamento de funcionários etc. –, impostos indiretos, entre outros). Esses custos indiretos variam de editora para editora e não estão disponíveis para consulta. No período em que estivemos diretamente envolvidos com a produção gráfica de coleções do caso do PNBE (de 1996 a 2005), tivemos acesso principalmente aos custos diretos. No PNBE/2001, podemos dizer que a despesa média com papel e com gráfica para cada livro foi de cerca de R$ 0,33. Se considerarmos que o direito autoral pago foi, em média, de 10% do valor do livro, temos um total de cerca de R$ 700 mil (ou seja, cada autor ganhou, em média, R$ 0,07 por livro vendido). Ou seja, os custos diretos perfazem um total de R$ 4,2 milhões de reais (cerca de R$ 0,40). Constatamos, assim, que os custos diretos respondem por cerca de 57% do valor pago por cada livro (R$ 0,70). Sobram para cada editora R$ 0,30 por livro, ou quase R$ 3 milhões, para cobertura de custos indiretos e obtenção de lucro da operação. O cálculo dos custos indiretos, como já dissemos, varia de empresa para empresa. Mas, de qualquer maneira, se pensarmos em metade desse valor como lucro – cerca de R$ 1,5 milhão –, a cifra não é nada desprezível. É preciso lembrar, ainda, que a venda ao governo é direta (sem a livraria que, geralmente, fica com metade do preço de capa do livro), com pagamento garantido em 30 dias após a entrega dos exemplares, portanto livre de vários riscos financeiros (como taxas de juros, por exemplo) e comerciais: os editores não têm como prever em quanto tempo um livro, em edição normal, será vendido nas livrarias45 . As condições de pagamento das despesas com 45 Se imaginarmos um lançamento de algum desses livros por R$ 25,00 e considerarmos uma tiragem de 5.000 exemplares, a receita da venda de toda a tiragem será de R$ 62.500,00 (os outros R$ 62.500,00 são das livrarias, que costumam ficar com metade do preço de capa do livro). Mesmo assim, não há como prever em quanto tempo toda a tiragem será vendida. 139 papel e com gráfica podem ser negociadas em até 90 dias, o que é outra vantagem que as editoras têm para lucrar, com aplicação do dinheiro por 60 dias. Os livros do PNBE /2001 foram entregues a partir de março de 2002 e a reserva técnica46 foi solicitada somente em junho daquele ano, em duas partes, uma primeira tiragem de 50.000 exemplares e outra de 40.000 exemplares. A compra da reserva técnica, meses depois da negociação principal pode ser considerada fonte de estranhamento, já que esse é um procedimento justificado na compra de livros pelo governo federal. 4.3. PNBE 2002: POSSÍVEIS MELHORAS NAS EXIGÊNCIAS DE PROJETO GRÁFICO DA COLEÇÃO “LITERATURA EM MINHA CASA” E MANUTENÇÃO DOS LUCROS DA INDÚSTRIA EDITORIAL A quinta edição do programa manteve a sistemática da coleção “Literatura em minha casa”, mas alterou a destinação dos livros: agora só receberiam as coleções os alunos da 4ª série do ensino fundamental. Segundo dados do FNDE, “a execução obedeceu ao disposto na Resolução/FNDE /CD/nº 008, de 01/03/2002, que determinou a distribuição pelo Programa de coleções de obras de literatura aos alunos da 4ª série e às escolas públicas do Ensino Fundamental que oferecerem, no exercício de 2003, salas de aula daquela série” (FNDE, Relatório de Atividades 2002: 63). O mesmo relatório aponta ainda que busca atender às necessidades da comunidade educacional, para o desenvolvimento de programas e projetos destinados à promoção da leitura e à difusão do conhecimento entre professores e alunos, observando as seguintes características: • incremento no orçamento de recursos para a ação; • qualificação das publicações; • avaliação das condições de escolha; • aquisição e distribuição dos acervos; 46 De acordo com resolução do Conselho Deliberativo do FNDE, a reserva técnica é uma quantidade a mais de livros adquiridos para: “I - Atender escolas novas, não cadastradas no banco de dados do FNDE fornecido pelo INEP e II - Atender com complementação de livros as turmas novas e os alunos ingressantes” (disponível em ftp://ftp.fnde.gov.br/web/resolucoes_2004/res030_18062004.pdf, acesso em 30/01/2008). 140 • interação com projetos voltados para atendimento às escolas (idem: 64). De pronto, já percebemos inconsistências no texto acima, já que não houve “incremento no orçamento”. Pelo contrário, percebemos uma redução de quase 60% dos recursos em relação ao PNBE/2001. O programa, em 2002, foi o de segundo de menor orçamento, ficando atrás apenas do de 2000. No próprio relatório há uma tabela intitulada “Histórico do Atendimento – PNBE ” que mostra tais diferenças. Em 2001, foram atendidas 139 mil escolas e 8,5 milhões de alunos. Em 2002, como o programa privilegiou apenas os alunos de 4ª série, o número de escolas atendidas caiu em 10%, passando para 126 mil e o de alunos, em 55%, sendo agora apenas 3,8 milhões (idem: ibidem). Especificações do edital O edital de convocação, publicado em 01/03/2002, é bastante parecido com o da edição anterior. Solicita que as editoras apresentem coleções de cinco volumes, composta pelos mesmos gêneros, a saber: uma obra de poesia brasileira ou antologia poética brasileira; uma obra de conto brasileiro ou antologia de contos brasileiros; uma novela brasileira; uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira. É importante notar que na edição anterior, a peça teatral ou antologia de textos não precisava ser necessariamente de autor brasileiro. Da mesma maneira, as editoras dispunham de apenas três meses para preparar as coleções, pois o prazo de entrega era de 03 a 07/06/2002, segundo o edital. Também continuava a exigência sobre a distribuição de páginas: “cada coleção deverá conter um total mínimo de 304 (trezentos e quatro) e máximo de 320 (trezentos e vinte) páginas, sendo que cada volume deverá conter, individualmente, no mínimo, 48 (quarenta e oito) páginas” (item 141 3.4 do Edital de Convocação do PNBE/2002). Em 2001, o menor livro poderia ter, no mínimo, 32 páginas. Mais uma vez, só grandes editoras conseguiriam participar da licitação, já que apenas essas empresas conseguem produzir uma coleção em tão curto prazo. Convém notar, novamente, a possível relação desse prazo com o favorecimento de parcela da indústria editorial brasileira. No item 4.3.2, o edital exigia: “a coleção inscrita deverá ter um único titular, o qual detenha [os direitos autorais]”, o que impossibilita que duas ou mais empresas de pequeno ou médio porte participem juntas da licitação. As editoram tinham que entregar oito coleções que seriam avaliadas por colegiado (nomeado pelo MEC) e as especificações técnicas seriam verificadas, mais uma vez, pelo IPT, em São Paulo. Elizabeth D’Angelo Serra participou do processo de triagem e aponta que foram enviadas 64 coleções ao IPT e 51 passaram para a etapa seguinte: a de seleção e avaliação (FNLIJ, 2002: 26). Das 51 coleções aprovadas na triagem, foram selecionadas oito. As editoras contempladas foram Ática, Bertrand Brasil, Companhia das Letras, Global, Martins Fontes, Nova Fronteira, Objetiva e Record. Quatro dessas editoras (Ática, Companhia das Letras, Nova Fronteira e Objetiva) haviam tido suas coleções selecionadas também no PNBE/2001. Anexos do edital de convocação O edital de convocação apresenta três anexos assim intitulados: “Anexo I – Triagem”, “Anexo 2 – Critérios de Avaliação e Seleção” e “Anexo 3 – Especificações Técnicas Mínimas”. Seus textos são bastante parecidos com o anterior, mas há algumas alterações que merecem ser analisadas. No primeiro anexo, temos: 142 ANEXO I TRIAGEM 1. ANÁLISE DE ESTRUTURA EDITORIAL Cada volume da coleção deve estar claramente identificado, contendo os seguintes elementos: 1.1. Na primeira capa: - nome da coleção – “Literatura em minha Casa” - a palavra “Volume” seguida do número correspondente em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4 ou 5) - Gênero da obra - Poesia - Conto - Novela - Clássico universal - Peça teatral ou Texto de tradição popular - título da obra - autor ou autores - nome da editora - selo do PNBE/2002, de acordo com modelo a ser fornecido pelo FNDE 1.2. Na quarta capa: Descrição dos títulos da coleção. 1.3. Na folha de rosto: - nome da coleção – “Literatura em minha Casa” - a palavra “Volume” seguida do número correspondente em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4 ou 5) - Gênero da obra - Poesia - Conto - Novela - Clássico universal - Peça teatral ou Texto de tradição popular - título da obra - autor ou autores - nome do ilustrador, quando houver - nome do tradutor, quando houver - nome do adaptador, quando houver - número da edição, local e ano da publicação - nome da editora 1.4. No verso da folha de rosto: - ficha catalográfica - número ISBN - endereço da editora - título original da obra, com os respectivos copirraite e número ISBN, no caso de Clássico universal. 1.5. Nas segunda e terceira capas não devem conter textos ou ilustrações, podendo o FNDE/MEC incluir mensagens institucionais relativas ao Programa por ocasião do processo de aquisição. 2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Será excluída nessa fase toda coleção quando: 2.1. não atender ao Item 3. do Edital; 2.2. não atender as especificações constantes do Anexo III deste Edital; 2.3. não atender as especificações constantes do Item 1, deste Anexo; 2.4. um dos seus volumes for excluído nessa etapa de triagem. (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2002, Anexo I ). 143 Percebemos, assim, que a triagem manteve os critérios da edição anterior, mas há um cuidado maior na redação dos itens, a fim de deixar claro que elementos são obrigatórios em determinadas partes do livro (capa, página de rosto e seu verso). Abaixo reproduzimos o segundo anexo, que trata dos critérios de avaliação e seleção das coleções apresentadas: ANEXO II CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO 1. APRESENTAÇÃO A finalidade desta ação do PNBE/2002 é selecionar coleções para compor o acervo intitulado “Literatura em Minha Casa”, que será distribuído às crianças brasileiras que estejam cursando em 2003 a 4ª série do Ensino Fundamental e para as escolas que tenham essa série escolar. Há três razões principais sustentando essa decisão. A primeira é que a leitura de textos literários é fundamental para o desenvolvimento da percepção estética e das referências culturais e éticas dos cidadãos. Além disso, em função da criação artística e das condições de leitura, esta experiência é de grande importância para o desenvolvimento intelectual e para o letramento dos alunos. Finalmente, está o fato de que o texto literário, como forma de expressão artística e cultural, é um patrimônio nacional que deve ser protegido e difundido. Uma iniciativa dessa natureza representa para milhões de crianças a primeira oportunidade de poder ter contato com obras e autores de literatura brasileira e universal. Neste sentido, são evidentes seu caráter pedagógico e sua importância como elemento de disseminação de cultura. Por outro lado, em função das dimensões do Programa, trata-se de uma importante ação de promoção cultural e de valorização de iniciativas editoriais em literatura para crianças e jovens. Levando o livro para casa, espera-se contribuir para o desenvolvimento intelectual e cultural não apenas do aluno, mas também daqueles com quem ele convive. Além disso, possibilita-se a criação de pequenos círculos de leitura, por meio de trocas e intercâmbio de leituras e até mesmo de texto, uma vez que as oito diferentes coleções deverão ser distribuídas eqüitativamente em cada classe. Pelas razões acima elencadas, entende-se que a composição das coleções deve, ao mesmo tempo, atender aos interesses e peculiaridades do público a que elas se destinam imediatamente, e promover o desencadeamento de novos interesses e de novas referências culturais, tendo abrangência e representatividades nacionais. 2. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO A partir dos princípios gerais acima estipulados, decorrem os critérios de seleção das oito coleções a serem distribuídas, apresentados nos itens a seguir. A avaliação recairá tanto sobre a qualidade do conjunto de títulos que compõem a coleção quanto sobre a qualidade de cada título considerado individualmente. Coleções compostas de títulos de qualidade uniforme serão selecionadas em detrimento daquelas de qualidade desigual. Na análise, serão considerados os seguintes aspectos: 2.1. Quanto à tipologia As coleções devem ser compostas de títulos pertencentes a cada uma das categorias abaixo. Serão sumariamente eliminadas do processo de avaliação aquelas que não se organizarem de acordo com essa composição. · Uma obra de poesia brasileira ou uma antologia poética brasileira; · Uma obra de conto brasileiro ou uma antologia de contos brasileiros; · Uma novela brasileira; · Uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; · Uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira. Está excluída desta avaliação qualquer uma das obras que tenham composto as coleções que foram selecionadas e adquiridas pelo PNBE/2001, conforme subitem 3.2 deste Edital. 144 2.2. Quanto à temática As coleções devem apresentar temáticas diversificadas, adequadas aos interesses e peculiaridades do público a que se dirigem, capazes de motivar a leitura dos livros e de ampliar as referências culturais e literárias desse público. Devem também enfatizar e valorizar a diversidade, representando diferentes contextos sociais, culturais e históricos. Considera-se de fundamental importância que a abordagem de temáticas controversas se paute pela problematização e pela discussão, contribuindo para o desenvolvimento ético do leitor e, em hipótese alguma, promovendo a discriminação ou o sectarismo. 2.3. Quanto à seleção de títulos e autores Em função da finalidade e do caráter do PNBE/2002, assim como a abrangência da distribuição das coleções, a representatividade dos autores escolhidos – isto é, o quanto são conhecidos e assumidos como ícones da cultura brasileira – torna-se um fator bastante relevante na escolha da obra. Os títulos e autores selecionados devem ser representativos da produção literária brasileira e universal. Serão privilegiadas as coleções compostas de títulos e autores de diferentes épocas e regiões. 2.4. Quanto à textualidade Assume-se que a natureza literária dos textos é construída diferentemente em distintas épocas e esferas do discurso. Por essa razão, os textos utilizados devem ser o mais amplamente representativos de diferentes quadros de referência, favorecendo a experiência estética diversificada e o desenvolvimento da leitura literária. Tendo em vista o público a que as coleções se dirigem, é necessário que a textualidade das obras se apóie não apenas nas expectativas atuais a respeito da recepção literária do público, mas também na ampliação dessas expectativas. Na análise desse quesito, deve-se levar em conta os aspectos relativos à estruturação do texto, os recursos estéticos e literários utilizados, o equilíbrio da obra e o desenvolvimento do enredo, considerando sempre que estes aspectos não são dados a priori, se circunscrevendo às características do gênero e do estilo. 2.5. Quanto ao projeto gráfico e às ilustrações O projeto gráfico corresponde à apresentação física da obra, incluindo aspectos, tais como: relação entre texto e imagem, distribuição espacial, capa, tamanho da mancha, recursos gráficos. Espera-se que seja atraente, apresentando adequada distribuição espacial, tamanho e formato das letras apropriados. Os padrões utilizados, no conjunto do projeto, devem favorecer a legibilidade dos textos e manifestar adequação às características de cada título. Erros de impressão e revisão são negativos para a adequada leitura das obras. As ilustrações devem contribuir para uma boa leitura das obras, dialogando com os textos, utilizando linguagem visual coerente e apropriada ao público-alvo. São desaconselháveis ilustrações que apenas reproduzam clichês e que pouco acrescentem à leitura. A ilustração é parte da obra de arte e, neste sentido, deve ser inovadora e original, e estar ajustada às condições de produção do texto que ilustra. 2.6. Quanto ao projeto editorial O projeto editorial dá consistência à coleção, considerando suas finalidades e o leitor. Isto supõe a presença de um eixo organizador, com o estabelecimento de relações entre os volumes, apresentação dos livros e da coleção, equilíbrio na autoria (diversidade e representatividade) e no tamanho dos volumes, oferecimento de informações adicionais relevantes (bibliografia, glossário, notas explicativas, informações históricas). Vale destacar que, não obstante a distribuição ser uma ação escolar, a coleção não é uma obra didática propriamente, mas um conjunto de livros de literatura para ser lido pela criança e seus familiares. Neste sentido, espera-se que inserções didáticas (próprias de edições dessa natureza) sejam realizadas de tal modo que não descaracterizem o trabalho artístico. (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2002, Anexo II). O texto também é bastante parecido com o do PNBE/2001, mas houve o acréscimo de um item nos critérios: o projeto editorial das coleções. Na apresentação do anexo, percebemos que, pela primeira vez, um edital do programa considera que os livros constituem uma 145 importante oportunidade para o letramento dos alunos. Mas ainda aparece a polêmica expressão “qualidade uniforme”, que, por ser bastante vaga, gera favorecimento e falta de transparência no processo de seleção e avaliação das coleções. No quesito tipologia, o edital continua utilizando nomenclatura incorreta, e adiciona mais um critério: não é possível incluir nas coleções títulos que já fizeram parte da edição anterior. Tal exigência poderia também ter aparecido antes, já que Célia Fernandes aponta que houve, em 2001, repetição de obras de anos anteriores do programa: Já se havia notado a primeira dos autores conhecidos nas coleções do programa anterior, critério explicitado no edital como “bastante relevante” na escola do PNBE /2002. Houve, no entanto, por parte das editoras selecionadas – Ática, Bertrand Brasil, Cia das Letrinhas/Schwarcz, Global, Martins Fontes, Nova Fronteira, Objetiva e Record – o cuidado de inserir outros autores na coleções, investindo, sobretudo, em antologias para ampliar a diversidade de autores. Observa-se, entretanto, o nome de Lygia Bojunga – agraciada com a medalha Hans Christian Andersen em 1982 – em duas coleções com as seguintes obras: A casa da madrinha (Nova Fronteira) e A bolsa amarela (Objetiva), com o adendo de que a primeira obra foi distribuída pelo PNBE /1999. Desse acervo, ainda foram repetidas as obras As aventuras de Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll e A terra dos meninos pelados de Graciliano Ramos (Fernandes, 2004: 64). Em relação à temática, à seleção de títulos e autores (que deveria estar no quesito projeto editorial) e à temática das coleções, o anexo continua bastante generalizante, repetindo praticamente o mesmo texto do de 2001. Sobre o projeto gráfico e as ilustrações, o anexo agora nos parece estar mais de acordo com o tema, uma vez que, nessa edição, não houve exigência de tipologia (e corpo) específica para o texto, o que pode auxiliar, de fato, na melhora da legibilidade. Finalmente, o último quesito do anexo corrige as imprecisões de nomenclatura ocorridas em 2001, já que inclui termos como apresentação da obra e da coleção, introdução, notas, glossário e outros textos explicativos sob título apropriado de “projeto editorial”, que também abrange a seleção de títulos e de autores. O último anexo do edital trata das especificações técnicas mínimas das obras: ANEXO III ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS MÍNIMAS As especificações são para todos os exemplares de cada um dos cinco livros que compõem a coleção: 1. FORMATO: 137 mm x 209 mm, com tolerância de desvio para mais ou para menos 4mm nas medidas. 146 2 2 2. CAPA: Cartão branco, de 240 g/m a 312g/m nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento) nas gramaturas nominais, revestido na frente, plastificado ou envernizado com verniz UV , com as seguintes características: · Impressão nº de cores - 4/0; · Tipo e tamanho de fonte da capa: adequado ao projeto gráfico; · Selo do PNBE/2002, a ser remetido ao titular de direito autoral, após a etapa de pré-inscrição. 2 3. MIOLO: Papel “off set” branco, com gramatura de 75 g/m nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento), nas gramaturas nominais. Alvura mínima de oitenta por cento e opacidade mínima de 82% (oitenta e dois por cento); · Impressão nº de cores: 1/1. Poderá ser utilizada qualquer cor desde que adequada ao projeto gráfico. 4. ACABAMENTO 4.1. Para livros com até 96 páginas de miolo: 4.1.1. Tipo de lombada: canoa; 4.1.2. Miolo e capa: grampeados com 2 (dois) grampos acavalados na lombada; 4.1.3. Características do grampo: galvanizado com bitola nº 26 ou 25; 4.1.4. Grampeamento: distribuídos simetricamente em relação à extensão pé à cabeça do livro com variação de 1,5 cm, e tolerância máxima de desalinhamento de 0,5 mm em relação ao vinco da dobra; 4.1.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm; 4.1.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha deve respeitar as características do projeto gráfico adequado ao gênero. 4.2. Para livros com mais de 96 páginas de miolo: 4.2.1. Tipo de lombada: quadrada; 4.2.2. Miolo costurado com linha, “falsa/termo costura”, ou costura de cola, ou colagem de poliuretano reativo ( PUR); 4.2.3. Capa com vinco de manuseio a 7 mm da lombada com tolerância de mais ou menos 1 mm; 4.2.4. Colagem lateral de capa até o vinco de manuseio, com tolerância de até menos 1,5 mm; 4.2.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm; 4.2.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha deve respeitar as características do projeto gráfico adequado ao gênero. 4.3. Para os diversos tipos de acabamento deverão ser utilizadas as seguintes especificações: 4.3.1. Para os livros costurados com linha, a linha deve ser de algodão, sintética ou mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 4.3.2. Para os livros com acabamento “falsa/termo costura”, a linha deve ser, mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 4.3.3. Para os livros costurados com cola o processo deverá ser “Burst”, “nottched” ou “slotted binding”, de forma a garantir a integridade física do miolo; 4.3.4. Para os livros com a lombada raspada e colada, ou raspada, frezada e colada, o processo de colagem deverá ser com a utilização de cola de poliuretano reativo (PUR ); 4.3.5. Toda cola utilizada deverá ser flexível após secagem (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2002, Anexo III). Mostramos abaixo, nas figuras 4 e 5, um exemplo de projeto gráfico de miolo (como não houve exigência de tipologia específica) e exemplos que permitem averiguar o acabamento inadequado dos livros do PNBE /2002. 147 Figura 4: páginas centrais do volume As aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi (da editora Companhia das Letras, selecionado para o PNBE/2002). Percebemos a nova tipologia e páginas com melhor diagramação. Mais uma vez, os grampos estão oxidados, prejudicando o acabamento do livro e até a saúde do público pretendido. Figura 5: exemplar do volume O velho e o mar, de Ernest Hemingway (da editora Bertrand Brasil, selecionado para o PNBE/2002). O acabamento PUR também não é ideal, pois as páginas mal se abrem. 148 As especificações também são bastante parecidas com as de 2001, mas algumas alterações merecem destaque. A primeira delas, sem dúvida, é que a tipologia (tipo de fonte em que a obra é composta) e o tamanho da fonte foram retirados do quesito miolo e passaram para o quesito capa (embora não haja obrigatoriedade de determinada fonte). Ainda em relação à capa dos livros, o anexo cita que a impressão deve ser 4/047, quando na verdade é 4/1, pois no verso da capa de cada volume deveria ser impresso o seguinte texto: Caro aluno, você está recebendo uma coleção composta por cinco livros de diferentes tipos de texto: poesia, conto, novela, literatura universal e teatro ou literatura popular. A importância desses livros é muito grande: com eles, você irá descobrir muitas coisas novas, conhecer pessoas diferentes e mundos diferentes. Você também irá saber que existem muitas maneiras de se escrever e que cada uma delas serve para passar ao leitor, isto é, para você, um tipo de mensagem. Não esqueça, também, que esta é uma pequena coleção. Há muitos outros livros mundo afora e você poderá descobri-los na biblioteca de sua escola e de sua cidade. Esperamos que esta coleção possa contribuir para aumentar sua vontade de conhecer o mundo da leitura e aventurar-se no universo das palavras. Aproveite para contar a seus amigos e parentes sobre essa aventura, que está apenas começando. Nesse ano houve também uma novidade em relação ao miolo: era possível imprimir em outra cor que não preto. Uma das editoras selecionadas nessa edição, a Martins Fontes, imprimiu os textos dos livros em verde. Para uma legibilidade visual, recomenda-se que o escuro da tinta guarde o maior contraste possível com o claro do papel (Wheildon, 1995). A tinta preta sobre o papel branco é o ápice desse contraste. As outras especificações técnicas são idênticas às de 2001, merecendo, portanto, as mesmas considerações que fizemos no item 4.2, quando analisamos o PNBE/2001. É preciso notar que, nos casos dos livros grampeados, apesar da exigência de material galvanizado, os grampos se oxidam, como notamos nas fotografias mostradas. Como foram selecionadas oito coleções (de cinco volumes cada), e cada editora vendeu 572.072 coleções, temos um total de 4.216.576 coleções (se multiplicarmos por cinco, teremos o total de 21.082.880 exemplares). Conforme indica o Relatório de Atividades 2002 (FNDE: 66), a despesa com a aquisição de livros nessa edição do PNBE foi de R$ 16.571.144,00, o que resulta em um custo médio de R$ 0,786 por exemplar. 47 Impressão 4/0: nomenclatura técnica para capa colorida na frente e sem impressão no verso. 149 Ainda há R$ 2.952.245,00 de despesas de distribuição mais R$ 110.242,56 de triagem das coleções, controle de qualidade e outros (somando esses custos ao de aquisição o preço médio por exemplar sobe para R$ 0,93). Elementos da negociação de preços No mesmo relatório, o FNDE relata o processo de negociação com as editoras: Os titulares de direito autoral declarados habilitados foram convocados pela Autarquia para proceder à negociação de preço das obras, com inexigibilidade de licitação. O preço médio das coleções para o PNBE/2002 foi de R$ 3,93 – a coleção tem, no máximo, 320 páginas que podem ser distribuídas pelos livros que a compõem. (idem: 67). Como em 2001, as editoras enviaram (junto com os exemplares-amostra) uma proposta de venda contendo os títulos dos livros, a tiragem, os custos de papel e de gráfica, os custos editoriais, administrativos, de logística e de direito autoral. Assim, podemos também estimar que o faturamento de cada uma das editoras participantes foi de cerca de R$ 2.071.393,00 (bem abaixo do valor da edição anterior, que chegou à casa dos R$ 7 milhões), já que o número de coleções vendida foi praticamente ¼ da tiragem de 2001. Constatamos que os custos diretos industriais (papel e gráfica) para essa edição foi da ordem de R$ 915 mil por editora. Se considerarmos uma média de 10% para o direito autoral, temos uma despesa de cerca de R$ 207 mil. Ou seja, em relação aos custos diretos, temos um total de R$ 1.122.000,00. Sobra, portanto, cerca de R$ 950.000 mil reais para cobrir os custos indiretos e obter a margem de lucro. A análise dos anexos dos editais de convocação das edições de 2001 e 2002 (as primeiras da ação “Literatura em Minha Casa”) nos permite concluir que o ponto mais crítico em relação aos bons critérios de editoração e, conseqüentemente, de legibilidade, foi alterado: a exigência de tipologia e de corpo. 150 Além disso, foram comprados livros apenas para alunos da 4ª série, ou seja, uma quantidade menor. Talvez a sistemática da edição de 2002 devesse ter sido adotada em 2001, pois, com uma despesa menor, a SEF eo FNDE poderiam ter “testado” com menos riscos o “Literatura em Minha Casa”. De qualquer maneira, o custo médio por exemplar foi mantido (R$ 0,94 para 2001 e R$ 0,93 para 2002) e, assim, pode-se dizer que as empresas cujas coleções foram selecionadas tiveram custos e lucros proporcionais. 4.4. PNBE 2003: AMPLIAÇÃO DO PÚBLICO E DOS LUCROS DA INDÚSTRIA EDITORIAL A sexta edição do programa, em 2003, foi a que apresentou a maior despesa (cerca de 110.798.022,00). É a primeira do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Houve uma mescla das primeiras edições (que formaram acervos para bibliotecas escolares) com as que distribuíram livros diretamente aos alunos. Nesse ano, foram compradas coleções para alunos da 4ª e 8ª séries e para alunos do segundo segmento do EJA (Educação de Jovens e Adultos), conforme veremos a seguir. Essas coleções também foram distribuídas para diversos municípios brasileiros na ação “Casa da Leitura”. O programa adquiriu ainda livros para formação ou manutenção dos acervos de bibliotecas escolares, além de livros distribuídos aos professores. Coleções “Literatura em Minha Casa” e “Palavra da Gente” e acervos para a ação “Casa da Leitura” A resolução n° 8, de 14/04/2003 dispõe sobre essa nova edição. Segundo o edital, publicado a partir dessa resolução, em 09/05/2003: 151 O processo de avaliação e seleção para o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE /2003 tem por objeto avaliar e selecionar: 1.1. 10 (dez) coleções, intituladas “Literatura em Minha Casa”, adequadas a alunos de 4ª série do ensino fundamental e compostas de cinco volumes de literatura, sendo: uma antologia poética brasileira; uma antologia de contos brasileiros; uma novela brasileira; uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira, observadas as condições e especificações constantes neste edital e seus anexos. 1.2. 10 (dez) coleções, intituladas “Literatura em Minha Casa”, adequadas a alunos de 8ª série do ensino fundamental e compostas de quatro volumes de literatura, sendo: uma antologia poética brasileira; uma antologia de crônicas e contos brasileiros; uma novela ou romance nacional ou estrangeiro (neste último caso, traduzido, adaptado ou não) e uma peça teatral brasileira ou estrangeira, observadas as condições e especificações constantes neste edital e seus anexos. 1.3. 04 (quatro) coleções, intituladas “Palavra da Gente”, adequadas a alunos do 2° segmento do ensino fundamental, na modalidade de educação de jovens de adultos – EJA –, matriculados na última série ou similar de cursos presenciais e com avaliação no processo, compostas de seis volumes de literatura e de informação, sendo: um ensaio ou reportagem sobre um aspecto da realidade brasileira; uma antologia de crônicas e contos brasileiros; uma obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira em prosa ou verso; uma antologia poética brasileira; uma peça teatral brasileira ou estrangeira e, por fim, uma biografia ou relato de viagem, observadas as condições e especificações constantes neste edital e seus anexos (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 1-2). Assim, temos um aumento de coleções e de alunos (e de professores, como veremos na ação “Biblioteca do Professor”) a que se destinam. Nesse ano, houve, então, duas coleções “Literatura em Minha Casa” para os alunos da 4ª e 8ª séries e outra intitulada “Palavra da Gente”, destinada aos jovens e adultos. Se compararmos com os editais anteriores, percebemos que os alunos da 4ª série continuarão recebendo cinco livros e que nos gêneros poesia e conto o edital exige antologias, não permitindo obras de um só autor. Para os da de 8ª série, os quatro livros que formam a coleção prevêem uma obra de ficção de literatura estrangeira. Os jovens e adultos receberam uma coleção composta com seis volumes e uma maior diversidade de gêneros, incluindo até obras de não-ficção (como ensaio, reportagem, biografia e relato de viagem). Mudanças em relação à participação das editoras Mais uma vez, as editoras precisaram apresentar à SEF as coleções já produzidas, considerando algumas especificações técnicas bastante parecidas com as das edições passadas, que analisaremos mais adiante. O prazo era de apenas dois meses, já que as coleções 152 deveriam ser inscritas até o dia 11/07/2003, o que remonta às mesmas possibilidades dos anos anteriores: participação de apenas determinados grupos editoriais. No PNBE /2003, as editoras precisavam ter um catálogo ainda mais diversificado, uma vez que obras de diversos gêneros deveriam ser apresentadas para três públicos diferentes. É preciso lembrar que não poderiam ser inscritas obras já selecionadas nas duas edições anteriores. Pela primeira vez, o edital permite a participação de consórcios: 3.6. Poderão participar do processo de inscrição e seleção de que trata este edital os titulares de direito autoral, inclusive consórcios. 3.6.1.No caso de participação em consórcio, a liderança caberá à empresa consorciada que detiver o maior capital social. 3.6.2.No consórcio de empresas brasileiras e estrangeiras, a liderança caberá à empresa brasileira que detiver o maior capital social. 3.6.3.A empresa consorciada não poderá participar na licitação através de mais de um consórcio ou isoladamente (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 4). Essa nova possibilidade fez com que consórcios como a até então desconhecida editora Newtec (que forneceu uma das coleções para os alunos da 4ª série e outra para o EJA) pudesse concorrer a essa licitação. Embora não fosse possível saber oficialmente que outras editoras fizeram parte desse grupo, uma análise dos livros da coleção da Newtec nos permite afirmar que há obras da editora L&PM (como Os meninos da rua da praia, do gaúcho Sérgio Capparelli) e da editora Ática (como A fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida, que também foi selecionada em 1999). Isso sugere que a Ática teve dupla participação pois, como editora selecionada, forneceu uma das coleções para a 8ª série. Como vimos, no edital de convocação (item 3.6.3) havia impedimento para que uma editora entrasse sozinha e também em consórcio com outras no processo de licitação, ou seja, a participação da Newtec nos parece irregular, já que parte dos títulos é de propriedade da editora Ática (que também foi selecionada). É possível que a Newtec tenha sido montada só para participar do programa, o que aponta para grave irregularidade. Mesmo assim, se analisarmos as editoras cujas seleções foram selecionadas48 , perceberemos que, mais uma vez 48 As editoras que tiveram suas edições selecionadas no PNBE /2003 foram Agir, Ática/Scipione, Bertrand Brasil, Companhia das Letras (Editora Schwarcz), Global, IBEP/Nacional, José Olympio, Martins Fontes, 153 somente os grandes grupos aparecem na lista. Cada coleção também tinha uma limitação de número máximo de páginas: as do “Literatura em Minha Casa” precisavam ter entre 304 e 320 páginas no total e as do “Palavra da Gente” entre 336 e 352 páginas para o EJA. Cada volume deveria conter, individualmente, no mínimo, 48 páginas para as coleções de 4ª série e EJA e 64 páginas para as de 8ª série. Essas limitações de número de páginas total são relativamente compreensíveis, já que o governo federal trabalha com o conceito de caderno tipográfico (cada conjunto de 32 páginas). Mas limitações mínimas para cada volume parecem-nos não fazer muito sentido, tanto editorial quanto industrialmente. A exigência de número de páginas tem apenas o objetivo de baratear os custos de aquisição de uma grande quantidade de exemplares. Especificações dos anexos do edital de convocação Esse edital também apresentou três anexos que diziam respeito à triagem, aos critérios de avaliação e seleção e às especificações técnicas mínimas das coleções. A triagem, como de costume, foi o primeiro critério de exclusão: ANEXO I TRIAGEM 1. ANÁLISE DE ESTRUTURA EDITORIAL Cada volume da coleção deve estar claramente identificado, contendo os seguintes elementos: 1.1. Na primeira capa: 1.1.1. nome da coleção – (Literatura em Minha Casa para as coleções destinadas à 4ª e 8ª séries e Palavra da Gente para as coleções destinadas à Educação de Jovens e Adultos) 1.1.2. a palavra “Volume” seguida do número correspondente em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5 ou 6) 1.1.3. Gênero da obra: 4ª série: Poesia, Conto, Novela, Clássico universal, Peça teatral ou Texto de tradição popular 8ª série: Poesia, Crônica e Conto, Novela ou Romance, Peça teatral Educação de Jovens e Adultos: Ensaio ou Reportagem, Crônica e Conto, Textos de tradição popular, Poesia, Peça teatral, Biografia ou Relato de viagem 1.1.4. título da obra 1.1.5. autor ou autores 1.1.6. nome da editora ou consórcio de editoras 1.1.7. selo do PNBE /2003, de acordo com modelo a ser fornecido pelo FNDE Melhoramentos, Moderna, Newtec, Nova Fronteira, Objetiva, Quinteto, Rocco e Salamandra 154 1.2. Na quarta capa: 1.2.1. Descrição dos títulos da coleção. 1.3. Na folha de rosto: 1.3.1. nome da coleção – (“Literatura em Minha Casa” para as coleções destinadas à 4ª e 8ª séries e “Palavra da Gente” para as coleções destinadas à Educação de Jovens e Adultos) 1.3.2. a palavra “Volume”, seguida do número correspondente em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5 ou 6) 1.3.3. Gênero da obra: 4ª série: Poesia, Conto, Novela, Clássico universal, Peça teatral ou Texto de tradição popular 8ª série: Poesia, Crônica e conto, Novela/Romance, Peça teatral Educação de Jovens e Adultos: Ensaio ou Reportagem, Crônica e Conto, Textos de tradição popular, Poesia, Peça teatral, Biografia ou Relato de viagem 1.3.4. título da obra 1.3.5. autor ou autores; no caso de antologia nome do organizador 1.3.6. nome do organizador da coleção 1.3.7. nome do ilustrador, quando houver 1.3.8. nome do tradutor, se obra traduzida 1.3.9. nome do adaptador, se obra adaptada 1.3.10. número da edição, local e ano da publicação 1.3.11. nome da editora ou consórcio de editoras 1.4. No verso da folha de rosto: 1.4.1. ficha catalográfica 1.4.2. número ISBN 1.4.3. endereço da editora ou consórcio de editoras 1.4.4. título original da obra, com os respectivos copyright e número ISBN, no caso de obra estrangeira. 1.5. As segunda e terceira capas não devem conter textos ou ilustrações, podendo o FNDE/MEC incluir mensagens institucionais relativas ao Programa, por ocasião do processo de aquisição. 2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Será excluída nessa fase toda coleção quando: 2.1. não atender ao Item 3 do Edital; 2.2. o formato, as cores de impressão e o tipo de lombada estiverem em desacordo com as especificações técnicas definidas no Anexo III deste Edital; 2.3. não atender as especificações constantes no Item 1 deste Anexo; 2.4. um dos seus volumes for excluído nessa etapa de triagem (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 14-5). O texto é basicamente o mesmo, mas percebemos algumas preocupações com o uso da nomenclatura correta, pois o anexo classifica corretamente as quatro partes da capa (primeira, segunda – verso da primeira, terceira – verso da quarta e quarta capas). Se as coleções passassem na triagem (também realizada pelo IPT), o próximo passo seria o que está descrito abaixo, no segundo anexo do edital: ANEXO II CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO 1. APRESENTAÇÃO A finalidade desta ação do PNBE/2003 é selecionar coleções para compor os acervos intitulados “Literatura em Minha Casa”, que serão distribuídos aos alunos da rede pública que estejam cursando, em 2004, a 4ª e a 8ª séries do Ensino Fundamental e para as escolas que tenham essas séries, bem como selecionar coleções para compor o acervo intitulado “Palavra da Gente”, que será distribuído, em 2004, aos alunos do 2º segmento do Ensino Fundamental na modalidade Educação de Jovens e Adultos, 155 matriculados na última série ou similar de cursos presenciais, com avaliação no processo, na rede pública e para as escolas públicas que atendam estes alunos. Há três razões principais sustentando essa iniciativa. A primeira é que a leitura de textos literários e de reflexão sobre a realidade brasileira é fundamental para o desenvolvimento da percepção estética e das referências culturais e éticas do cidadão. A segunda razão é que a leitura destes textos constitui um importante exercício para a participação na sociedade letrada. A experiência com textos literários, em função da criação artística e das condições de leitura, e com textos sobre a realidade brasileira é essencial para o desenvolvimento intelectual e letramento dos alunos. A terceira razão está no fato de que o texto literário, como forma de expressão artística e cultural, é um patrimônio nacional que deve ser protegido e difundido. Uma iniciativa dessa natureza representa para milhões de brasileiros – crianças, jovens e adultos – a primeira oportunidade de ter contato com obras de literatura e de reflexão sobre a realidade brasileira. Neste sentido, são evidentes seu caráter pedagógico e sua importância como elemento de disseminação de cultura. Além disso, possibilita a criação de círculos de leitura, por meio de trocas e intercâmbio de textos. Ao ofertar livros aos estudantes e suas famílias por meio da escola, este Ministério assume que a ação político-pedagógica se estende para além do espaço escolar, supondo sua repercussão no espaço social mais amplo. Reforça-se com isso o caráter da escola de agência difusora da cultura e valores fundamentais da sociedade. Não se trata, portanto, de tomar a escola como simples intermediária, com a função exclusiva de distribuir livros. Cabe a ela a tarefa fundamental de tornar possível a leitura pelos estudantes e seus familiares, através de atividades que instiguem e tornem possível a fruição e intelecção das obras constantes das coleções (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 16-7). A apresentação continua, como no ano anterior, a sustentar a iniciativa de distribuir livros por três razões principais, acrescentando, porém, em 2003, a importância da escola como incentivadora da leitura e como “agência difusora da cultura e valores fundamentais da sociedade”. O segundo anexo aponta, em seguida, os critérios de seleção das coleções: 2. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO A seleção será realizada a partir de processo de avaliação que recairá tanto sobre a qualidade do conjunto de títulos que compõem a coleção quanto sobre a qualidade de cada título considerado individualmente. Serão privilegiadas coleções compostas de títulos de qualidade uniforme em detrimento daquelas de qualidade desigual. As coleções devem ser compostas de títulos pertencentes a cada uma das categorias abaixo. “Literatura em Minha Casa” – 4ª série: · uma antologia poética brasileira; · uma antologia de contos brasileiros; · uma novela brasileira; · uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; · uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira. “Literatura em Minha Casa” – 8ª série · uma antologia poética brasileira; · uma antologia de crônicas e contos brasileiros; · uma novela ou romance brasileiro ou estrangeiro; · uma peça teatral brasileira ou estrangeira. “Palavra da Gente” – EJA · um ensaio ou reportagem sobre um aspecto da realidade brasileira; · uma antologia de crônicas e contos brasileiros; · uma obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira em prosa ou verso; · uma antologia poética brasileira; · uma peça teatral brasileira ou estrangeira; · uma biografia ou relato de viagens. 156 Será eliminada do processo de avaliação a coleção que apresente: · uma ou mais de uma obra que não corresponda ao gênero exigido para o respectivo volume; · um ou mais de um título que faça parte das coleções que foram selecionadas e adquiridas pelos PNBE/2001 e 2002 (FNDE, Edital de Convocação do PNBE /2003: 17-8). Ainda nesse anexo, são apresentados alguns aspectos editorais e literários que devem ser considerados para a composição das coleções 49: Na análise, serão considerados os seguintes aspectos: 2.1. Projeto editorial A coleção, na perspectiva político-pedagógica que se imprime a esta ação, deve ser um projeto orgânico, e não apenas uma reunião casual de textos. Neste sentido, deve apresentar-se como um pequeno retrato da cultura brasileira, convidando e instigando o leitor à experiência estética e à reflexão crítica sobre o mundo em que vive. O projeto editorial dá consistência à coleção, considerando suas finalidades e o leitor. Isto supõe a presença de um eixo organizador definido, com estabelecimento de relações entre as obras, equilíbrio na autoria (diversidade e representatividade) e no tamanho dos volumes. A coleção não é uma obra didática. A apresentação da coleção ou das obras, as orientações de leitura e o oferecimento de informações adicionais quando relevantes (bibliografia, glossário, notas explicativas, informações históricas) devem estar submetidos a uma lógica editorial evidente e consistente e, em nenhum momento, suplantar em tamanho ou destaque os textos selecionados. As peculiaridades que caracterizam cada grupo devem ser levadas em consideração na composição da coleção, abarcando temas de interesse do público ao qual se destina e promovendo o desencadeamento de novos interesses e de novas referências culturais. Os estudantes de 4ª e 8ª séries quase sempre têm como única experiência de leitura os livros didáticos, tendo pouco acesso a outros tipos de texto, em particular aos de literatura, tanto no espaço doméstico como na própria escola. Há uma significativa diversidade de faixa etária entre os alunos das séries contempladas (segundo o censo 2001, a média de idade na rede pública é de 11 para a 4ª série e de 16 anos, entre os rapazes, e de 15 anos, entre as moças, para a 8ª série), o que implica maturação intelectual e experiência de vida bastante diversificadas. A maior parte dos estudantes do segundo segmento de EJA tem idade entre 20 e 40 anos, é proveniente de famílias pouco ou não escolarizadas, apresenta biografia educativa variada e exerce atividades profissionais que exigem pouca qualificação; a maioria passou por cursos regulares de modo intermitente durante a infância e a adolescência, muitos abandonaram os estudos para exercer atividades profissionais e os retomaram na juventude e idade adulta (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 18-9). Em relação ao projeto editorial, percebe-se certa repetição do texto da edição de 2002, mas algumas considerações, como a idade do público a que se destina cada coleção, são incluídas e, assim, tidas como parte dos critérios. No que diz respeito à temática, à seleção de títulos e autores e ao projeto gráfico, o anexo praticamente repete os textos do edital do 50 PNBE/2002 , com termos vagos e que pouco explicam ou sugerem reais critérios de avaliação, conforme citação abaixo: 49 Esses aspectos são bastante parecidos com os dos editais de 2001 e 2002. Finalmente o edital exclui o quesito tipologia que, conforme já apontamos, não é a aplicação correta do termo. 50 Tivemos acesso a alguns pareceres que foram enviados às editoras que se inscreveram, explicando os motivos da aceitação (ou rejeição) das coleções apresentadas. Os textos, embora não estejam assinados, são de autoria da comissão que avaliou as coleções. 157 2.2. Temática As coleções devem apresentar temáticas diversificadas, considerando diferentes contextos sociais, culturais e históricos, estando adequadas aos interesses e peculiaridades do público a que se dirigem e sendo capazes de motivar a leitura dos livros e de ampliar as referências culturais e literárias desse público. A abordagem de temáticas controversas deve se pautar pela problematização, por sua atualidade e diversidade de enfoques, contribuindo para o desenvolvimento ético do leitor e, em hipótese alguma, promovendo a discriminação ou o sectarismo. Os textos informativos devem apresentar correção conceitual e atualidade temática. 2.3. Seleção de títulos e autores A representatividade dos autores escolhidos – isto é, o quanto são conhecidos e assumidos como referências da cultura brasileira –, em função da finalidade e do caráter do PNBE /2003, assim como da abrangência da distribuição das coleções, torna-se um fator relevante na escolha da obra. Os títulos e autores selecionados devem ser representativos da produção literária. Serão privilegiadas as coleções compostas de títulos e autores de diferentes épocas e regiões. 2.4. Textualidade Os textos de natureza literária devem ser representativos de diferentes quadros de referência, favorecendo a experiência estética diversificada e o desenvolvimento da leitura. A textualidade das obras deve se apoiar não apenas nas expectativas atuais a respeito da recepção literária do público, mas também na ampliação dessas expectativas. Os textos informativos devem ser contextualizados e oferecer referências completas para que o leitor relacione-os a aspectos de caráter mais abrangente de seu campo ou área de conhecimento. A estruturação dos textos informativos deve apresentar abordagem encadeada e hierarquizada de temas e assuntos. 2.5. Projeto gráfico e ilustrações O projeto gráfico corresponde à apresentação física da obra, incluindo aspectos, tais como: a relação entre texto e imagem, distribuição espacial, capa, tamanho da mancha, recursos gráficos. Os padrões utilizados no conjunto devem favorecer a legibilidade dos textos e manifestar adequação às características de cada título. Erros de impressão e revisão são negativos para a adequada leitura das obras. As ilustrações devem contribuir para a leitura das obras, dialogando com os textos, utilizando linguagem visual coerente e apropriada. São desaconselháveis ilustrações que reproduzam clichês e que pouco acrescentem à leitura. No caso dos textos informativos, as ilustrações (fotografias, mapas, esquemas, tabelas, gráficos, entre outros) devem colaborar para complementar as informações textuais e promover a compreensão do leitor (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 19-20). As especificações técnicas mínimas, listadas no terceiro anexo, também continuam bastante parecidas com as do ano anterior: livros com até 96 páginas deveriam ser grampeados e os maiores em lombada quadrada. As distâncias nominais de segurança também foram mantidas. ANEXO III ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS MÍNIMAS As especificações são para todos os exemplares de cada um dos livros que compõem as coleções: 1. FORMATO: 137 mm x 209 mm, com tolerância de desvio para mais ou para menos 4mm nas medidas. 2. CAPA: Cartão branco, de 240 g/m2 a 312g/m 2 nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento) nas gramaturas nominais, revestido na frente, plastificado ou envernizado com verniz UV, com as seguintes características: · Impressão nº de cores - 4/1; · Tipo e tamanho de fonte da capa: adequado ao projeto gráfico; · Selo do PNBE/2003, a ser disponibilizado ao titular de direito autoral após a etapa de pré-inscrição. 158 2 3. MIOLO: Papel “off set” branco, com gramatura de 75 g/m nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento), nas gramaturas nominais. Alvura mínima de 80 (oitenta por cento) e opacidade mínima de 82% (oitenta e dois por cento); · Impressão nº de cores: 1/1. Poderá ser utilizada qualquer cor desde que adequada ao projeto gráfico. 4. ACABAMENTO 4.1. Para livros com até 96 páginas de miolo: 4.1.1. Tipo de lombada: canoa; 4.1.2. Miolo e capa: grampeados com 2 (dois) grampos acavalados na lombada; 4.1.3. Características do grampo: galvanizado com bitola nº 26 ou 25; 4.1.4. Grampeamento: distribuídos simetricamente em relação à extensão pé à cabeça do livro com variação de 1,5 cm, e tolerância máxima de desalinhamento de 0,5 mm em relação ao vinco da dobra; 4.1.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm; 4.1.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha deve respeitar as características do projeto gráfico adequado ao gênero. 4.2. Para livros com mais de 96 páginas de miolo: 4.2.1. Tipo de lombada: quadrada; 4.2.2. Miolo costurado com linha, “falsa/termo costura”, ou costura de cola, ou colagem de poliuretano reativo (PUR ); 4.2.3. Capa com vinco de manuseio a 7 mm da lombada com tolerância de mais ou menos 1 mm; 4.2.4. Colagem lateral de capa até o vinco de manuseio, com tolerância de até menos 1,5 mm; 4.2.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm; 4.2.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha deve respeitar as características do projeto gráfico adequado ao gênero. 4.3. Para os diversos tipos de acabamento deverão ser utilizadas as seguintes especificações: 4.3.1. Para os livros costurados com linha, esta deve ser de algodão, sintética ou mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 4.3.2. Para os livros com acabamento “falsa/termo costura”, a linha deve ser mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 4.3.3. Para os livros costurados com cola o processo deverá ser “Burst”, “nottched” ou “slotted binding”, de forma a garantir a integridade física do miolo; 4.3.4. Para os livros com a lombada raspada e colada, ou raspada, frezada e colada, o processo de colagem deverá ser com a utilização de cola de poliuretano reativo (PUR ); 4.3.5. Toda cola utilizada deverá ser flexível após secagem (FNDE, Edital de Convocação do PNBE/2003: 23-4). No verso da primeira capa dos livros, deveria estar impresso o texto abaixo: A chance de saber mais O mundo parece ser feito apenas de coisas que a gente vê nele. Mas há outras que não vemos, embora existam. São as coisas que lemos. Elas estão escondidas no meio das letras. É preciso ler para que elas apareçam diretamente em nossas cabeças. Se não lemos, todas essas coisas que estão guardadas nos livros não aparecem para nós. Quem não lê, só vê uma parte das coisas do mundo. E não consegue conhecer tudo. Muitas vezes, no meio de uma conversa, ouvimos falar de uma pessoa ou de uma história que o amigo conhece de leitura. Quem não leu ficou de fora. Por isso, estamos distribuindo esses livros. Queremos que você conheça o que não está na sua frente, mas está dentro dos livros. Você vai poder viajar sem se levantar da cadeira. Conhecer gente muito interessante sem precisar conviver com ela. Vai rir e até chorar com histórias de pessoas que só existem nos livros. Não jogue fora a chance de saber mais. Não fique por fora. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Como nos outros editais, são mantidos os formatos (137x209 mm), a matéria-prima (papel de capa – cartão com gramatura entre 240 e 312 g/m 2 – e de miolo – off-set branco com gramatura de 75 g/m2) e os tipos de acabamento (livros com até 96 páginas continuam grampeados e os com mais de 96 páginas acabados com lombada quadrada). 159 A despesa com a aquisição das coleções “Literatura em Minha Casa” e “Palavras da Gente” foi de R$ 37.059.231,30. E com a distribuição das mesmas, R$ 8.325.563,14, totalizando R$ 45.384.794,44 (FNDE , Relatório de Atividades 2003: 55). Segundo o mesmo relatório, “os preços médios das coleções para o PNBE /2003 foram de R$ 4,43 (4ª série), R$ 4,31 (8ª série) e R$ 5,11 (EJA)”. As 8.377.956 coleções distribuídas beneficiaram 18 milhões de alunos (idem: ibidem). Se para os alunos da 4ª série foram distribuídas 4.587.230 coleções (dez editoras forneceram 458.723 coleções cada), para os da 8ª série foram distribuídas 4.245.810 coleções (dez editoras forneceram 424.581 coleções cada) e para os do EJA foram 744.916 coleções (quatro editoras forneceram 186.229 coleções cada), temos um total de 9.577.956. Ou seja, o valor não confere com o que aparece no Relatório de Atividades 2003, resultando em uma diferença de 1.150.000 coleções a mais, conforme demonstraremos na página seguinte. As coleções “Literatura em Minha Casa” e “Palavra da Gente” também foram destinadas a outra ação do programa (que ocorreu apenas na edição de 2003) chamada “Casa da Leitura”, instituída pela Portaria Ministerial nº 1.618, de 03/06/2004. Ou seja, o MEC primeiro adquiriu as coleções e só seis meses depois institui a ação “Casa da Leitura”. O objetivo dessa ação é “promover a circulação de obras literárias de qualidade entre a comunidade, possibilitando seu acesso ao conhecimento e crescimento cultural e contribuindo para a disseminação do hábito da leitura”. Os acervos (41.608 coleções “Literatura em Minha Casa” e “Palavra da Gente”) foram distribuídos para 3.659 municípios, cujo índice de desenvolvimento humano (IDH) fosse menor ou igual a 0,751. Segundo assessoria de imprensa do MEC: as prefeituras municipais deverão reservar pelo menos um acervo para a biblioteca pública municipal integrada ao Plano Nacional de Literatura. Os municípios que não dispõem de biblioteca pública municipal poderão se inscrever no programa Fome de Livro, na Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura, para receber a doação do mobiliário e demais equipamentos, pelo telefone: 0800282 8483 (http://mecsrv04.mec.gov.br/acs/ asp/noticias/noticiasId.asp?Id=6160, acesso em 10/07/2004). 160 Como a “Casa da Leitura” foi uma ação isolada, questiona-se também sua efetividade, uma vez que o MEC não deu continuidade ao programa, tampouco ampliou os acervos. Parecenos inválida a proposta de montar bibliotecas itinerantes com livros que, de certa forma, já estão circulando na comunidade. Em relatório de monitoramento, o TCU mostra que “[...] dados do Censo 2003 demonstram haver ainda grandes desigualdades regionais quanto ao percentual de escolas públicas, tanto rurais quanto urbanas, que possuem biblioteca” (TCU: 2006, 29). No mesmo relatório, constatou-se que o PNBE: vinha privilegiando escolas maiores e excluindo grande parte das escolas rurais do acesso aos acervos distribuídos. Não havia tratamento diferenciado a escolas mais carentes ou com dificuldades escolares específicas (como elevado percentual de professores leigos), haja vista que todas receberam o mesmo material, na mesma quantidade, seja em termos de livros ou de guias pedagógicos (idem: ibidem). Seguindo a tabela abaixo, feita pelo próprio FNDE, chegamos a esse mesmo valor de coleções. Acrescentamos as quatro últimas colunas para mostrar prováveis inconsistências em relação ao total de coleções adquiridas e distribuídas na edição de 2003. O valor total da aquisição da tabela da página 160 não confere com o do Relatório de Atividades 2003, já que o mesmo menciona que foram distribuídos 50.000 acervos para a ação “Casa da Leitura” (totalizando 5.700.000 livros) que custaram R$ 6.607.016,86 (FNDE : 55). Segundo o relatório, temos um total de 8.427.956 coleções. Ou seja, 1.150.000 coleções foram, provavelmente, compradas a mais, já que não estão contabilizadas. Isso mostra uma das diversas inconsistências que constatamos ao nos depararmos com os documentos oficiais, sobretudo os do FNDE. 161 QUANTITATIVOS DE LIVROS E COLEÇÕES POR EDITORA – PNBE /2003 LIVROS LIVROS (Literatura em (Biblioteca Coleções Coleções Coleções Coleções EDITORA Minha Casa, Escolar e do 4ª série 8ª série EJA TOTAL Palavra da Gente e Professor) Casa da Leitura) Agir Ática Bertrand 39.921 363.473 Brasiliense Ediouro 977.257 32.949 Editora 34 Geração 93.687 30.828 Global Globo 322.304 302.451 Graphia José Olympio 29.063 263.989 Martins Fontes Melhoramentos Moderna 30.212 Musa Nacional 32.353 31.453 Newtec Nova Aguilar 2.293.615 1.698.324 1.698.324 458.723 3.991.939 458.723 1.698.324 3.991.939 3.991.939 3.410.989 458.723 424.581 424.581 424.581 883.304 424.581 424.581 424.581 424.581 883.304 883.304 644.952 186.229 424.581 1.698.324 3.410.989 458.723 2.293.615 2.293.615 2.293.615 458.723 458.723 458.723 424.581 186.229 644.952 213.630 Nova Fronteira Objetiva Quinteto 729.240 Record Rocco 511.693 195.336 1.117.374 Salamandra Schwarcz 448.172 3.991.939 1.698.324 Scipione TOTAL 458.723 458.723 458.723 424.581 424.581 458.723 458.723 458.723 186.229 458.723 424.581 424.581 2.815.698 424.581 44.388.886 4.587.230 4.245.810 Quadro disponível em biblioteca_escola/relatorio_fisico_editora_pnbe_2003.pdf. 4.648.011 186.229 883.304 424.581 186.229 610.810 744.916 9.577.956 ftp://ftp.fnde.gov.br/web/ Apesar de essa edição ter adquirido um total de 24 coleções, as editoras contempladas foram apenas 17, conforme mostramos na tabela acima. Desse conjunto de empresas editoriais, vale lembrar que Ática/Scipione faz parte do mesmo grupo; a Newtec nos parece uma associação da L&PM com a Ática; a Salamandra pertence ao grupo Santillana (dono da editora Moderna); a Nova Fronteira é do mesmo grupo da editora Objetiva; a Quinteto faz parte do grupo marista que administra a FTD; a Record, a Bertrand e a José Olympio fazem parte do mesmo grupo, ou seja, o número é reduzido para menos de dez editoras, sendo que 162 grande parte delas é a que sempre vence as licitações e fornece ao governo federal. Algumas delas têm aparecido desde a primeira edição do “Literatura em Minha Casa”, em 2001, como é o caso da Ática/Scipione, da Companhia das Letras, da Nova Fronteira e da Objetiva. Acervos para bibliotecas do professor e escolar O PNBE /2003 adquiriu também, além das coleções para os alunos da 4ª e 8ª séries, da modalidade educação de jovens e adultos e dos acervos para a “Casa da Leitura”, livros para outras duas ações: a Biblioteca Escolar (com livros distribuídos para a biblioteca da escola e uso da comunidade escolar) e a Biblioteca do Professor (cujos livros foram distribuídos diretamente para o professor). A Biblioteca Escolar conta com a “distribuição de acervos contendo 144 títulos de ficção e de não ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil, para 20 mil escolas com maior número de alunos de 5ª a 8ª séries”. A Biblioteca do Professor se preocupa com a “distribuição dois livros para cada professor da rede pública das classes de alfabetização e de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, escolhidos dentre uma lista de 144 títulos de ficção e de não ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil”. O curioso é que esse acervo é idêntico ao distribuído pela primeira edição do PNBE , em 1998. DADOS ESTATÍSTICOS – BIBLIOTECA DO PROFESSOR E BIBLIOTECA ESCOLAR Biblioteca do Professor (2 títulos p/ prof. – 724.188 1.451.674 prof.+RT) Biblioteca Escolar (144 títulos p/ 20.021 escolas + 2.157 RT) 3.193.632 Quantidade de livros (3.193.632 Escolar + 1.451.674 4.645.306 Professor) Valor Médio do Livro 12,56 Valor Total dos Livros (13.769.873,00 + 44.619.529,00) 58.389.402,00 (http://www.fnde.gov.br/programas/pnbe/index.html, acesso em 01/07/2006). O valor total da aquisição da tabela acima não bate com o da tabela 46, do Relatório de Atividades 2003, já que o mesmo menciona um gasto de R$ 13.643.604,22 (para a 163 “Biblioteca do Professor”) e R$ 44.685.798,84 (para a “Biblioteca da Escola”), totalizando, então, R$ 58.329.403,06 (FNDE: 55). Somando-se todas as ações, essa edição foi a mais custosa, já que gastou um total de R$ 110.798.022,00, beneficiando uma população de 31.911.098, entre alunos e professores. Em seu Relatório de Atividades 2003 (idem:ibidem), o FNDE calcula o custo médio unitário, considerando todas as ações do programa, em R$ 3,4751. Para falarmos de custos editorais (e seus conseqüentes lucros), temos apenas dados de custos diretos gastos pelas editoras na coleção da 8ª série. Se o preço médio pago à coleção foi de R$ 4,31 e foram vendidas 424.581 coleções, temos uma receita de R$ 1.830.000,00. Os custos diretos para a coleção foram de cerca de R$ 780 mil. Os custos com direito autoral (cerca de 10% em média) foram de aproximadamente R$ 183 mil. Somando ambos, temos R$ 963 mil. O que sobra, R$ 867 mil, é dividido entre os custos indiretos e o lucro líquido. Ou seja, a proporção (de quase 50%) se mantém. Em relação ao PNBE/2003, podemos concluir que houve expressivo aumento de público beneficiado (alunos, professores e escolas). Mas, como nos outros anos, o programa continua apresentando as mesmas práticas no que se refere aos vagos critérios de seleção e de avaliação. Eles permitem que os acervos sejam compostos de obras que não atendem ou não são adequadas ao público pretendido. Essas práticas possibilitam a evidente concentração de determinados grupos da indústria editorial (como já ocorre no PNLD), contrariando o que dizem os representantes da indústria editorial, sobretudo Felipe Lindoso, conforme apresentamos no capítulo 3. 51 Esse custo médio é chamado de “Indicador de Desempenho: custo per capita por aluno do PNBE”. O valor é o resultado da divisão do custo total do programa (R$ 110.798.022,00) pela população beneficiada (31.911.098 alunos), ou seja, não relaciona os custos com o número de exemplares adquiridos. Não se sabe como o número de alunos beneficiados mostrado no relatório foi atribuído, já que há ações heterogêneas no PNBE /2003. Acreditamos que isso impossibilita chegar a um número real de alunos, pois só conseguimos contabilizar os que receberam as coleções “Literatura em Minha Casa” e “Palavra da Gente”. 164 Conforme mostramos neste capítulo, algumas exigências impedem a participação de quase todas as editoras brasileiras na ação “Literatura em Minha Casa”, cuja formatação é bastante rígida no que se refere a aspectos literários e editoriais. Além disso, pudemos constatar que há graves problemas nos relatórios de atividade do FNDE, sobretudo no que diz respeito aos valores de cada edição. As tabelas são freqüentemente alteradas de forma a criar diferenças entre os valores de despesas de anos anteriores e os do relatório vigente. 165 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como propusemos na introdução deste estudo, apresentamos um histórico dos processos de compra de livros nas seis primeiras edições (1998-2003) do PNBE, nos quais estão relacionados o Ministério da Educação (MEC ), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ( FNDE) e uma determinada parcela da indústria editorial brasileira. Mostramos também a visão dos representantes de vários de campos de interesse do programa (a indústria editorial, os acadêmicos, os responsáveis pela seleção e avaliação das obras e o Tribunal de Contas da União) para dialogarmos e propormos uma nova: a visão dos custos do programa a partir de suas exigências técnicas. Os representantes da indústria editorial reclamam de que o programa, sobretudo a ação “Literatura em Minha Casa”, não privilegia a produção editorial brasileira, tampouco paga o que eles consideram justo. Ora, a partir dos cálculos de receitas e despesas reais da indústria editorial, nas seis primeiras edições do PNBE , percebemos que o investimento das editoras e, conseqüentemente, seu lucro, não pode ser considerado baixo e justifica plenamente seu interesse pelo programa. O Tribunal de Contas da União auditou o programa e constatou que não há preocupação em melhorar a infra-estrutura das escolas para receber os acervos. Muitas delas, sequer possuem sala específica para acomodar os acervos, tampouco mão-de-obra especializada para mantê-los. Falta, além de salas, mobiliário apropriado, inviabilizando a utilização dos livros adquiridos pelo PNBE. O principal responsável pelo programa ( MEC/SEB ) e seu executor ( FNDE), ao afirmarem, que o PNBE é uma importante iniciativa para melhorar o hábito de leitura dos alunos das escolas públicas brasileiras parecem esquecer que, para atingir qualquer meta nesse sentido, é preciso que se invista antes em infra-estrutura. 166 De nada adianta enviar livros às escolas, se não há onde eles possam ser acessados pelos alunos e professores de uma maneira confortável. O espaço da biblioteca escolar deve existir de fato, não só para o que o programa seja eficaz, mas para que o público (escolar, comunidade do bairro e da cidade) tenha primeiro o prazer de freqüentar o espaço e, a partir daí, criar o hábito de ler cada vez mais e melhor. No entanto, não basta que apenas o espaço da biblioteca exista. Ele tem que ser preenchido com obras que, inicialmente, atendam aos interesses educacionais mais imediatos do público pretendido. As aquisições têm que privilegiar esse público e não os interesses particulares da comissão responsável pela seleção, tampouco os da indústria editorial. A sistemática do programa não é claramente definida. Num ano são comprados acervos bibliográficos, no outro, distribui-se livros para alunos de séries específicas. Em outros são livros para professores. Os responsáveis pelo PNBE nos anos estudados desobedecem à portaria que instituiu o programa, já que nela está claro que o programa é responsável pela criação de um “acervo básico da Biblioteca da Escola”. A portaria não prevê, em nenhum momento, a distribuição de livros diretamente aos alunos ou professores. Não há, por parte dos executores do programa, explicações claras de caráter pedagógico ou literário para escolher, no caso da ação “Literatura em Minha Casa”, livros para séries específicas (4ª, 5ª e 8ª séries). Além disso, tratou desigualmente os escolares, pois os alunos das outras séries ficaram sem livros, já que a ação não é periódica (ocorreu apenas de 2001 a 2003). Os acadêmicos criticam os critérios de seleção e de avaliação dos acervos adquiridos sob diversos pontos de vista. De fato, tais critérios são feitos por comissões, formadas pela SEF, sem que sejam sempre conhecidos os nomes de seus componentes. Além disso, não podemos considerar que esses critérios são claros, já que apresentam em seu texto termos vagos e até conflitantes, de forma que se possa com eles tanto aprovar quanto rejeitar. 167 A formação das comissões e colegiados carece de transparência. O sigilo de pessoas e critérios é injustificável e resulta em uma concentração de grupos editorais. Uma vez que o programa se compromete a adquirir acervos bibliográficos, todos os fornecedores (editores) que têm algo a oferecer poderiam participar de maneira justa e efetiva e não haveria essa concentração. A clara permanência de certa parcela da indústria editorial na lista de editoras selecionadas confirma que o PNLD. PNBE foi se encaminhando para as mesmas características do Destacamos alguns pontos que podem facilitar a participação de determinadas editoras: - os editais de convocação têm exageros que direcionam para que apenas algumas empresas possam participar das licitações (termos vagos e expressões técnicas inadequadas permitem que após a seleção pelas exigências, haja favorecimento na etapa seguinte); - não há documentação que comprove que a SEF ou o FNDE avaliem a efetividade do programa ao longo de determinado período e - o acesso à documentação é parcial e, mesmo depois de anos, não é possível consultar qualquer relatório analítico (que certamente conteria a negociação com as editoras). Apenas relatórios sintéticos estão disponíveis para consulta (on-line e local). Além disso, há diversos erros nas tabelas desses relatórios, dificultando a compreensão dos números de livros adquiridos e distribuídos e de recursos aplicados no programa. Constatamos a manutenção dos interesses da indústria editorial ao propormos um cálculo do preço médio por exemplar nas seis primeiras edições do programa. O número obtido em cada uma delas aponta para uma má gestão dos recursos públicos e para negociações mal-feitas, já que ele varia de R$ 0,93 a R$ 8,15 (ou seja, quase 1000%). Convém lembrar que os acervos são distintos, mas qualquer negociação desse porte deve considerar valores unitários, já que é um número que funciona como base de comparação entre períodos. 168 A relação entre os principais atores envolvidos (MEC , SEB, FNDE e indústria editorial) obedece a uma sistemática que possibilita a manutenção de certos interesses. A SEB deixa de cumprir tarefas mínimas de sua competência (como garantir a escolha de obras apropriadas ao público, orientar a tempo o uso dos acervos, estabelecer diálogo com outros programas de aquisição de livros). O MEC eo FNDE não avaliam o programa externamente, e isso faz com que a implementação de melhorias seja dificultada. Por exemplo, se considerados, problemas graves de infra-estrutura nas escolas públicas brasileiras poderiam ser solucionados por meio de convênios com estados e municípios. No período estudado, constatamos o trânsito de pessoas que já foram do alto comando do Ministério da Educação e que passaram a trabalhar como consultores para a indústria editorial. É o caso do ex-ministro Paulo Renato Souza52 e da ex-secretária-executiva do FNDE Mônica Messenberg Guimarães, que prestam consultoria para a editora Moderna. Conforme apresentamos neste trabalho, a Moderna foi a editora que mais vendeu livros para o FNDE em 2007, provocando, inclusive, denúncia de favorecimento, por parte da Abrelivros, instituição que zela pelos interesses das editoras e da qual a Moderna é associada, conforme mostramos no item 3.3. O trabalho sugere que há necessidade de prosseguir o estudo de edições mais recentes do programa, proceder estudos comparativos entre o PNBE e o PNLD, e realizar outros estudos que possam comprovar a efetividade do programa em vários planos: critérios de atendimento (escolas menores não recebem os livros), distribuição, conservação e utilização dos acervos, recenseamento das bibliotecas escolares e debate público sobre outras possibilidades de aquisição de livros e periódicos no âmbito escolar (instituição de vale-livro ou vale-jornal, por exemplo). 52 É deputado federal, eleito para legislatura 2007-2010, pelo PSDB-SP, conforme http://www.camara.gov.br/inter net/deputado/Dep_Detalhe.asp?id=528883, acesso em 01/02/2008. O deputado tem uma empresa de consultoria (a PRS Consultores) e tem como cliente a editora Moderna (http://www.prsouza.com.br/clientes.htm, acesso em 01/02/2008). 169 Em suma, a importância de um programa desse porte é inquestionável, já que é uma das poucas iniciativas do governo federal relacionadas com a leitura e o acesso a livros e bibliotecas. Mas sua sistemática é repleta de problemas que apontam para manutenção de interesses da indústria editorial e descaso com o público pretendido, uma vez que ignora as diferenças regionais na literatura e não se preocupa com a universalização do direito à boa qualidade de ensino, à cultura e à leitura. 170 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL/Fundação Pró-Memória, 1986. BARROTTI, Sandra Lia Baptista & BERGMAN, Silávia. “Propriedades do papel e ensaios para sua avaliação”. 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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. 4º Salão do Livro para Jovens e Crianças – Seminários FNLIJ – PNBE: O direito de ler literatura, Rio de Janeiro, 25 e 26/11/2002. Disponível em http://www.snel.org.br/downloads/relatorioseminarioPNBE MAM.doc. 176 ANEXOS – PORTARIAS, EDITAIS E LIVROS SELECIONADOS NAS SEIS PRIMEIRAS EDIÇÕES DO PNBE (1998-2003) 177 ANEXO 1 – PORTARIA MINISTERIAL Nº 584, DE 28 DE ABRIL DE 1997 Ministério da Educação e do Desporto – Gabinete do Ministro O Ministro de Estado da Educação e do Desporto, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista, o Relatório final da Comissão encarregada de preparar a lista de títulos que comporão uma coleção de livros a ser distribuída às escolas públicas; a necessidade de oferecer aos professores e alunos de ensino fundamental um conjunto de obras literárias e textos sobre a formação histórica, econômica e cultural do Brasil, além de obras de referência; a importância de apoiar técnica e materialmente os programas de capacitação para docentes que atuam no ensino fundamental, resolve Art. 1º - Instituir o Programa Nacional Biblioteca da Escola, com as seguintes características básicas: a) aquisição de obras de literatura brasileira, textos sobre a formação histórica, econômica e cultural do Brasil, e de dicionários, atlas, enciclopédias e outros materiais de apoio e obras de referência; b) produção e difusão de materiais destinados a apoiar projetos de capacitação e atualização do professor que atua no ensino fundamental; c) apoio e difusão de programas destinados a incentivar o hábito de leitura; d) produção e difusão de materiais audiovisuais e de caráter educacional e científico. Art. 2º - O acervo básico da Biblioteca da Escola será formado em três anos, a partir de 1997. Art. 3º - Os recursos necessários à execução do Programa serão assegurados pelo Ministério nos orçamentos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Art. 4º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação PAULO RENATO SOUZA (Publicado no Diário Oficial da União, em 29/04/97, Seção I, página 8.519) 178 ANEXO 2 – TÍTULOS DO ACERVO DO PNBE/1998 FICÇÃO – PROSA Nº DE OBRAS TÍTULOS 1. A Bagaçeira 2. A Capital Federal 3. A Festa 4. A Madona de Cedro 5. A Moreninha 6. A Morte e a Morte de Quincas 7. A Normalista 8. A Paixão Segundo G.H. 9. Angústia 10. Auto da Compadecida 11. Capitães de Areia 12. Cidades Mortas 13. Ciranda de Pedra 14. Contos Reunidos 15. Crônica da Casa Assassinada 16. Dom Casmurro 17. Duzentas Crônicas Escolhidas 18. Fogo Morto 19. Gabriela Cravo e Canela 20. Grande Sertão: Veredas 21. Iaiá Garcia 22. Iracema 23. Lavoura Arcaica 24. Manuelzão e Miguilim (Corpo de Baile), No Urubuquaquá, no Pinhém (Corpo de Baile), Noites do Sertão (Corpo de Baile) 25. Mar Morto 26. Marques Rebelo: Os Melhores 27. Memorial de Maria Moura 28. Memórias do Cárcere (Vols. 1 29. Memórias Póstumas de Brás 30. Menino de Engenho 31. Minha Formação 32. Nove, Novena 33. O Coronel e o Lobisomen 34. O Encontro Marcado 35. O Mulo 36. O Quinze 37. O Tempo e o Vento -O Arquipélago – (vols. 1 a 3) -O Continente – (vols. 1 e 2) -O Retrato – (vols. 1 e 2) 38. O Vampiro de Curitiba 39. Obras Seletas (vols. 6 a 8) 40. Ópera dos Mortos 41. Os Cavalinhos de Platiplanto 42. Os Sertões 43. Os Tambores de São Luís 44. Perto do Coração Selvagem 45. Quarup 46. Quase Memória 47. Quincas Borba 48. República dos Sonhos 49. Sagarana 50. Senhora 51. Serafim Ponte Grande 52. Sermões (vols. 1 a 12) AUTOR José Américo de Artur de Azevedo Ivan Angelo Antonio Callado Joaquim Manuel de Jorge Amado Adolfo Caminha Clarice Lispector Graciliano Ramos Ariano Suassuna Jorge Amado Monteiro Lobato Lygia Fagundes Telles Rubem Fonseca Lúcio Cardoso Machado de Assis Rubem Braga José Lins do Rego Jorge Amado João Guimarães Rosa Machado de Assis José de Alencar Raduan Nassar EDITORA JOSÉ OLYMPIO RECORD GERAÇÃO EDITORIAL NOVA FRONTEIRA RECORD RECORD RECORD ROCCO RECORD AGIR RECORD PALLOTTI NOVA FRONTEIRA CIA. DAS LETRAS NOVA FRONTEIRA RECORD RECORD JOSÉ OLYMPIO RECORD NOVA FRONTEIRA RECORD RECORD CIA. DAS LETRAS Nº DE VOLUMES 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 João Guimarães Rosa NOVA FRONTEIRA 3 Jorge Amado Marques Rebelo Rachel de Queiroz Graciliano Ramos Machado de Assis José Lins do Rego Joaquim Nabuco Osman Lins José Cândido de Fernando Sabino Darcy Ribeiro Rachel de Queiroz RECORD GLOBAL SICILIANO RECORD RECORD JOSÉ OLYMPIO RECORD CIA. DAS LETRAS JOSÉ OLYMPIO RECORD RECORD SICILIANO 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Érico Veríssimo GLOBO 7 Dalton Trevisan Rui Barbosa Autran Dourado José J. Veiga Euclides da Cunha Josué Montello Clarice Lispector Antonio Callado Carlos H. Cony Machado de Assis Nélida Piñon João Guimarães Rosa José de Alencar Oswald de Andrade Padre Antônio Vieira RECORD RECORD ROCCO BCD RECORD NOVA FRONTEIRA ROCCO NOVA FRONTEIRA CIA. DAS LETRAS RECORD RECORD NOVA FRONTEIRA RECORD GLOBO EDELBRA 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12 179 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. Sítio do Picapau Amarelo: -A Chave do Tamanho -A Reforma da Natureza -Aritmética da Emíla -Aventuras de Hans Staden -Caçadas de Pedrinho -Dom Quixote das Crianças -Emília no País da Gramática -Fábulas -Geografia de Dona Benta -História das Invenções -Histórias de Tia Nastácia -Histórias Diversas -Histórias do Mundo Para Crianças -Memórias da Emília -O Minotauro -O Poço do Visconde -O Picapau amarelo -O Saci -Os Doze Trabalhos de Hércules – 1 a 6 -Os Doze Trabalhos de Teatro Completo: -Peças Míticas -Peças Psicológicas Triste Fim de Policarpo Urupês Vidas Secas Vila dos Confins Viva o Povo Brasileiro TOTAL Monteiro Lobato PALLOTTI 24 Nelson Rodrigues NOVA FRONTEIRA 2 Lima Barreto Monteiro Lobato Graciliano Ramos Mário Palmério João Ubaldo Ribeiro RECORD PALLOTTI RECORD EDIOURO NOVA FRONTEIRA 1 1 1 1 1 106 FICÇÃO – POESIA Nº DE OBRAS TÍTULOS 01 Antologia de Antologias: 101 poetas brasileiros revisitados 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 AUTOR Magaly Trindade Gonçalves-Zélia Thomaz de Aquino – Zina Bellodi Carlos Drummond de Mário Quintana Raul Bopp Castro Alves Basílio da Gama EDITORA MUSA Nº DE VOLUMES 1 Antologia Poética Antologia Poética Cobra Norato Espumas Flutuantes O Uraguay Obras Completas: -A Educação João Cabral de Melo pela Pedra e Depois -Serial e Neto Antes - Prosa RECORD EDIOURO JOSÉ OLYMPIO RECORD RECORD 1 1 1 1 1 NOVA FRONTEIRA 3 Poemas Poesia Completa – (vols. 1 a 3) Poesia Completa – (vols. 1 a 4) Poesia Completa e Prosa -A Arca de Noé -Antologia Poética -Livros de Sonetos Fagundes Varela Jorge de Lima Cecília Meireles RECORD NOVA AGUILAR NOVA FRONTEIRA 1 3 4 Vinícius de Moraes CIA DAS LETRAS 3 12 -Poesia Completa e Prosa – (vols. 1 a 4) Murílo Mendes NOVA AGUILAR 4 13 Poesia Completa e Prosa: Estrela da Vida Inteira Seleta de Prosa Manuel Bandeira NOVA FRONTEIRA 2 180 14 15 16 Poesias Poesias Completas Toda Poesia – 1950-1987 TOTAL Raimundo Correia Cruz e Sousa Ferreira Gullar RECORD RECORD JOSÉ OLYMPIO 1 1 1 29 NÃO-FICÇÃO Nº DE OBRAS TÍTULOS 01 A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil 02 A Literatura no Brasil AUTOR José Murilo de Carvalho CIA DAS LETRAS -Introdução Geral/Generalidades -Era Barroca/Era Neoclássica Afrânio Coutinho -Era Romântica -Era Realista/Era de Transição -Era Modernista -Relações e Perspectivas 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 EDITORA GLOBAL Arquitetura Brasileira Artístas Coloniais As Razões do Iluminismo Carnavais, Malandros e Heróis Casa Grande e Senzala Coronelismo, Enxada e Voto De Anchieta a Euclides Diários Índios: Os UrubusFormação do Brasil Colonial Carlos A. C. Lemos CIA. MELHORAMENTOS Rodrigo de Melo FrancoNOVA FRONTEIRA Sérgio Paulo Rouanete CIA. DAS LETRAS Roberto Augusto ROCCO Gilberto Freyre RECORD Victor Nunes Leal NOVA FRONTEIRA José Guilherme TOPBOOKS Darcy Ribeiro CIA. DAS LETRAS Maria José C. de NOVA FRONTEIRA Wehling/Arno Wehling Formação do Brasil Caio Prado Júnior PALLOTTI Formação Econômica do Brasil Celso Furtado CIA. NACIONAL História da Literatura Brasileira José Veríssimo RECORD História Econômica do Brasil Caio Prado Júnior PALLOTTI História Geral da Civilização Brasileira: -A Época Colonial. Do Descobrimento à Expansão Territorial tomo 1 v. 1 -Época Colonial. Administração, Economia e Sociedade tomo 1 v. 2 -O Brasil Monárquico. O Sérgio Buarque de Processo de Emancipação tomo Holanda 2 v. 1 -O Brasil Monárquico. Dispersão e Unidade tomo 2 v. 2 -O Brasil Monárquico. Reações e Transações tomo 2 v. 3 -O Brasil Monárquico. Declínio e Queda do Império tomo 2 v. 4 -O Brasil Monárquico. Do Império à Répública tomo 2 v. 5 -O Brasil Republicano. Estrutura de Poder e Economia tomo 3 v. 1 -O Brasil Republicano. Sociedade e Instituições tomo 3 v. 2 -O Brasil Republicano – Sociedade e Política tomo 3 v. 3 -O Brasil Republicano. Economia e Cultura tomo 3 v.4 BCD Nº DE VOLUMES 1 6 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 17 Mauá-Empresário do Império Jorge Caldeira CIA. DAS LETRAS 1 18 Memória e Sociedade: Ecléa Bosi CIA. DAS LETRAS 1 181 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 TOTAL Música Po pular: Um Tema em O Brasil Nação O Panorama do Segundo Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. Os Donos do Poder – (2 vols.) Os Parceiros do Rio Bonito Panorama do Teatro Brasileiro Raízes do Brasil Sobrados e Mucambos Um Mestre na Periferia do Visão do Paraíso José Ramos Tinhorão EDITORA 34 Manoel Bonfim RECORD Nelson Werneck Sodré GRAPHIA José Murilo de CarvalhoCIA. DAS LETRAS Raymundo Faoro Antonio Candido Sábato Magaldi Sérgio Buarque de Gilberto Freyre Roberto Schwarz Sérgio Buarque de 1 1 1 1 GLOBO EDITORA 34 GLOBAL CIA. DAS LETRAS RECORD EDITORA 34 PALLOTTI 2 1 1 1 1 1 1 45 OBRAS DE REFERÊNCIA Nº DE OBRAS AUTOR TÍTULOS 01 Atlas Atual Geografia Vicenzo Raffaele 02 Atlas da Fauna Brasileira José Cândido de Melo 03 Atlas Escolar de Botânica Ronaldo Fernandes de 04 Atlas Geográfico Ilustrado Graça Maria Lemos 05 Atlas Geográfico Pe. Geraldo José 06 Dicionário da Língua 07 Dicionário Didático de Maria Tereza Camargo 08 Dicionário Etimológico Antônio G. da Cunha 09 Geoatlas Maria Elena Simielli 10 Koogan/Houaiss – Enciclopédia Antônio Houaiss e Dicionário Ilustrado 11 Manual de Redação e Estilo Eduardo Martins 12 13 14 15 16 17 18 TOTAL Melhoramentos Minidicionário Moderna Gramática Portuguesa Moderno Atlas Geográfico Nova Enciclopédia Barsa – Nova Gramática do Português Novo Dicionário Aurélio da Novo Dicionário da Língua EDITORA ATUAL MEC/FAE MEC/FAE MODERNA MELHORAMENTOS MODERNA ÁTICA NOVA FRONTEIRA ÁTICA SEIFER/Delta Nº DE VOLUMES 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 MODERNA MELHORAMENTOS CIA. NACIONAL MODERNA BRITÂNICA Celso Cunha/Lindley NOVA FRONTEIRA Aurélio Buarque de NOVA FRONTEIRA Dermival Ribeiro Rios DCL Evanildo Bechara Graça Maria Lemos TOTAL GERAL 1 1 1 1 18 1 1 1 45 215 MATERIAIS DE APOIO DIDÁTICO Nº DE OBRAS TÍTULOS Globo Terrestre – Configuração Política Mundial 01 Globo Terrestre – Configuração Física da Terra 02 03 Mapa Político do Brasil TOTAL Nº DE VOLUMES 1 1 1 3 Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/avamatpnbe_98.pdf, acesso em 08/01/2008. 182 ANEXO 3 – TABELA DE MULTAS DO EDITRAL ESPECIFICAÇÕES DE EMBALAGEM IRREGULARIDADES 1. MATERIAL EMPREGADO 1.1 Emprego de papel de gramatura e tipo inferiores ao especificado para a capa (±5% de tolerância). 1.2 Capa sem plastificação ou verniz. 1.3 Emprego de papel de gramatura e tipo inferiores ao especificado para o miolo (±5% de tolerância). 1.4 Emprego de linha de tipo inferior ao especificado para costura. 1.5 Emprego e processo de colagem de tipo inferior ao especificado para “costura de cola”. 2. ENCADERNAÇÃO 2.1 Ausência de vinco de manuseio na 1ª e/ou 4ª capa. 2.2 A cola não prende a capa em toda a extensão da lombada. 2.3 A cola não prende a capa até o vinco de manuseio. 2.4 Miolo sem costura de linha e/ou de cola. 2.5 Sem lombada quadrada. 2.6 Caderno invertido. 2.7 Caderno fora de seqüência (por caderno). 2.8 Caderno solto ou parcialmente solto. 2.9 Caderno repetido. 2.10 Ausência de caderno no todo ou em parte, com prejuízo de conteúdo. 2.11 Capa invertida. 2.12 Capa trocada. 2.13 Número de páginas menor que o contratado (sem prejuízo de conteúdo), proporcional ao número de páginas. 3. IMPRESSÃO 3.1 Impressão fora de registro, comprometendo a leitura, proporcional ao número de páginas. 3.2 Páginas com refile irregular, comprometendo a leitura, proporcional ao número de páginas. 3.3 Corte degolando a mancha, proporcional ao número de páginas. 3.4 Páginas sem impressão, quando exigido, proporcional ao número de páginas. 3.5 Distância entre a lombada e a mancha menor que 10 mm, comprometendo a leitura. 3.6 Distância entre a mancha e o corte lateral inferior menor que 10 mm. 3.7 Distância entre a mancha e o corte lateral superior menor que 20 mm. 3.8 Refile da capa irregular. 3.9 Impressão de capa fora de registro. 3.10 Impressão clara, dificultando a leitura, MULTA (%) 50% 50% 50% 20% 50% 05% 30% 10% 30% 25% 20% 20% 20% 20% 100% 05% 100% 05 a 100% 01 a 50% 01 a 30% 01 a 100% 01 a 100% 08% 04% 01 a 30% 05% 15% 01 a 30% DO PNBE/1998 E 183 proporcional ao número de páginas. 3.11 Impressão com sobreposição de textos ou 01 a 50% figuras, dificultando a compreensão, proporcional ao número de páginas. 3.12 Decalque e/ou fantasma, proporcional ao número 01 a 30% de páginas. 3.13 Defeitos gerais, como folhas enrugadas, 01 a 30% picotadas, dobradas e/ou fora de dobra. 3.14 Ausência na 1ª capa dos selos contidos no Anexo 02 a 20% III deste Contrato. Observação: Os valores das multas incidirão sobre a quantidade de exemplares com defeito, estimado conforme metodologia adotada pelo Controle de Qualidade, descrita na CLÁSULA SEXTA do Contrato. (FNDE, Edital de Convocação, Anexo V, “Tabela de Multas”). Especificações de embalagem Os livros fornecidos pela CONTRATADA devidamente embalados por título e acondicionados em caixas de papelão, até o peso máximo de 30 kg. As caixas deverão ter rótulo(s) externo(s) contendo o nome do título, quantidade de exemplares e o nome da CONTRATADA. A quantidade de exemplares deve ser igual em todas as caixas, exceto na de complementação do fornecimento: 1. PAPELÃO 1.1 Características: Tipo: ondulado Cor: natural Tipo de parede: dupla Tipo de onda: baixa Espessura: 5,0 ± 1,0 mm 1.2 Resistência: Coluna: mínima de 8,9 ± 0,8 Kgf/cm 2 2 Estouro: mínimo de 180 ± 181 b/in 2. FITA 2.1 Características: Natureza do filme: PVC ou polipropileno Cor: incolor/transparente Espessura: 0,070 ± 0,014 mm Largura: 50 ± 1 mm Adesividade: imediata, permanente e em ótimo grau 2.2 Resistência: 2 Tração: mínima de 4,0 kgf/cm Alongamento: máxima de 140% (FNDE, Edital de Convocação, Anexo IV, “Especificação de Embalagem”). 184 ANEXO 4 – TÍTULOS DO ACERVO DO PNBE/1999 De acordo com a portaria nº 318, de 26/02/99 TÍTULO AUTOR A arca de Noé Vinícius de Moraes A bela e a fera Rui de Oliveira A bruxinha atrapalhada Eva Furnari A casa da madrinha Lygia Bojunga Nunes A cristaleira Graziela Bozano Hetzel A fada que tinha idéias Fernanda Lopes de Almeida A formiguinha e a neve João de Barro (Recontado) A lenda da Vitória Régia Terezinha Éboli A lenda do guaraná Ciça Fittipaldi A mãe da mãe da minha mãe Terezinha Alvarenga A moeda de ouro que um pato engoliu, A mulher que matou os peixes A senha do mundo Cora Coralina A televisão da bicharada Sidônio Muralha A terra dos meninos pelados Graciliano Ramos A última flor amarela Caulus Clarice Lispector Carlos Drummond de Andrade A velhinha que dava nome às coisas Adivinha quanto eu te amo Cynthia Rylant, Trad. Gilda de Aquino Sam Macbratney, Trad. Fernando Nunes Alice no país das maravilhas Lewis Caroll, Trad. Ana Maria Machado Atrás da porta Ruth Rocha Barulho demais Berimbau e outros poemas Max Velthuijs, Trad. Monica Stahel Manuel Bandeira Bisa Bia, Bisa Bel Ana Maria Machado Brincando com os números Massin, Trad. Heloisa Jahn Cartão-postal Luiz Raul Machado Coisas de menino Eliane Ganem Coleção Arco-íris Geruza Helena Borges EDITORA CIA. DAS LETRAS FTD GLOBAL AGIR EDIOURO ÁTICA MODERNA EDIOURO MELHORAMENTOS MIGUILIM GLOBAL ROCCO RECORD GLOBAL RECORD L&PM BRINQUE-BOOK MARTINS FONTES ÁTICA SALAMANDRA MARTINS FONTES NOVA FRONTEIRA SALAMANDRA CIA. DAS LETRINHAS FORMATO J. OLYMPIO MAZZA 185 Confusão maior no reino de Tânger menor Contos de Andersen Contos de assombração Contos de Grimm Contos de Perrault Crianças famosas: Portinari Samir Meserani Lisbeth Zwerger, (Seleção), Trad. Tomás Rosa Bueno Neide T. Maia Gonzáles Irmãos Grimm, Trad. Heloisa Jahn Charles Perrault, Trad. Regina Régis Junqueira Nadine Trzmielina De surpresa em surpresa Renata Sant'anna, Maria do Carmo Escorel de Carvalho e Edgar Bittencourt Fanny Abramovich É isso ali José Paulo Paes Estórias da velha Totônia José Lins do Rêgo Eu e minha luneta Cláudio Martins Fábulas Faca afiada La Fontaine, Trad. Ferreira Gullar Bartolomeu Campos Queirós Fala Menino! Luís Augusto C. Gouveia Flauta doce: método de ensino para crianças Guilherme Augusto Araújo Fernandes História de Trancoso Nereide S. Santa Rosa Histórias da Coleção Gato e Rato, v.1 Ida e volta Mary França Jornal da Grécia Juntos na aldeia Anton Powell, Philip Steele, Trad. Regina Coeli Régis Junqueira Luís Donisete Benzi Grupioni Leonardo Nelson Cruz Mamãe trouxe um lobo para casa! Mandiola e Douradinho Rosa Amanda Strausz Maria Martins: mistério das formas Maria Teresa Kátia CANTON, Maria Tereza Louro Roger Mello, Mata Atlântica Paula Saldanha Memórias de um cabo de vassoura Menino brinca de boneca? Orígenes Lessa De dois em dois: um passeio pelas bienais Mem Fox, Trad. Gilda de Aquino Joel Rufino dos Santos Juarez Machado Apolônio Abadio do Carmo Marcos Ribeiro ÁTICA MARTINS FONTES ÁTICA CIA. DAS LETRINHAS VILA RICA CALLIS MARTINS FONTES BRAGA SALAMANDRA J. OLYMPIO FORMATO REVAN MODERNA BUREAU GRÁFICA E EDITORA LTDA SCIPIONE BRINQUE-BOOK ÁTICA ÁTICA AGIR DIMENSÃO BERLENDIS&VERTECHIA PAULI NAS SALAMANDRA UFU PAULINAS AGIR EDIOURO EDIOURO SALAMANDRA 186 Conversando sobre o que é ser menino e menina Menino do Rio Doce Ziraldo Meu livro de folclore Ricardo Azevedo Minhas memórias de Lobato Luciana Sandroni Mitos o folclore do Mestre André Nó na garganta Marcelo Xavier Noções de coisas Darcy Ribeiro Noite de cão Graça Lima O bordado encantado Edmir de Perrotti O dilema do bicho-pau Angelo Machado O escaravelho do diabo Lúcia Machado de Almeida O fantástico mistério de Feiurinha O gênio do crime Pedro Bandeira O homem que calculava Malba Tahan O jardim secreto O livro das árvores Francis Hodgson Burnett, Trad. Ana Maria Machado Jussara Gomes Gruber O mais belo livro das pirâmides O menino poeta Anne Millard, Trad. Bárbara Theoto Lambert Henriqueta Lisboa Mirna Pinsky João Carlos Marinho O mensageiro das estrelas Peter Sís, Trad. Luciano Vieira Machado O povo Pataxó e sua história Angthichay Pataxó et al O que fazer? Falando em convivência O rei da fome Lilliana Iacocca O rei de Quase-Tudo Eliardo França O sabiá e a girafa Leo Cunha O teatro no mundo Célia Regina de Lima (Trad.) O último dia de brincar Stela Maris Rezende O velho que trazia a noite Sérgio Caparelli Os rios morrem de sede Wander Pirolli Ou isto ou aquilo Cecília Meireles Pé de pilão Mário Quintana Marilda Castanha CIA. DAS LETRINHAS ÁTICA CIA. DAS LETRINHAS FORMATO ÁTICA FTD PAULINAS PAULINAS NOVA FRONTEIRA ÁTICA FTD GLOBAL RECORD ED. 34 TICUNA BILIGÜES MELHORAMENTOS MERCADO ABERTO ÁTICA SEE/MG/ME (Global) ÁTICA EDIOURO ORIENTAÇÃO CULTURAL NOVA FRONTEIRA MELHORAMENTOS MIGUILIM KUARUP MODERNA NOVA FRONTEIRA ÁTICA 187 Pé de poesia Wilson Pereira Picote, o menino de papel Mario Vale Pinturas: jogos e experiências Plantando uma amizade Ann Forslind, Trad. Margareta Svensson Rubens Matuck Poesia fora da estante Vera Aguiar, Simone Assumpção e Sissa Jacoby José Louzeiro Praça das dores Quem lê com pressa, tropeça Elias José Receitas de olhar Roseana Murray Rei Gilgamesh Ludmilla Zeman (Recontado), Trad. Sérgio Caparelli Bia Hetzel Rosalina: a pesquisadora de homens Se as coisas fossem mães Sylvia Orthof Serafina e a criança que trabalha Sete contos Russos Jô Azevedo, Iolanda Huzak, e Cristina Porto Tatiana Belinky, (Recontado) Somos Todos Iguais! Itamar Marcondes Farah, Nancy Pagnanelli Strega nona, a avó feiticeira Tanto, tanto! Tomie de Paola, Trad. Gian Calvi Trish Cooke, Trad. Ruth Salles Teatro I: Pluft Maria Clara Machado Travatrovas Ciça Um Amigo Diferente? Claudia Wernek Um fotógrafo chamado Debret Uma idéia toda azul Mércia Leitão Uni, duni e tê Angela Lago Victor e o jacaré Mariana Massarani Viva o boi-bumbá Rogério Andrade Barbosa Zoom Istvan Banyai, Trad. Gilda de Aquino Marina Colasanti DIMENSÃO RHJ CALLIS STUDIO NOBEL PROJETO SALAMANDRA LÊ FTD PROJETO BRINQUE-BOOK NOVA FRONTEIRA ÁTICA CIA. DAS LETRINHAS MEMNON EDIÇÕES CIENTÍFICAS LTDA A&A&A ÁTICA AGIR NOVA FRONTEIRA WVA ED. DO BRASIL NÓRDICA COMPOR STUDIO NOBEL AGIR BRINQUE-BOOK Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/avamatpnbe_99.pdf, acesso em 02/07/2006. 188 ANEXO 5 – TÍTULOS DO ACERVO DO PNBE/2001 EDITORA OBRAS AUTORES Palavra de poeta Henriqueta Lisboa José Paulo Paes, Mário Quintana e Vinícius de Mores De conto em conto Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Ivan Ângelo, Luiz Vilela, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Marcos Rey, Pedro Bandeira e Wander Piroli A árvore que dava dinheiro Domingos Pelegrini A ilha do tesouro Robert Louis Stevenson, adap. Claire Ubac Bazar do Folclore Ricardo Azevedo A bailarina e outros poemas Roseana Murray Quem conta um conto? Ana Maria Machado, Cristina Porto, Flávio de Souza, Ruth Rocha e Sylvia Orthof Carta errante, avó atrapalhada, menina aniversariante Mirna Pinsky Os miseráveis Victor Hugo, trad. e adap. Walcyr Carrasco ÁTICA FTD O fantástico mistério de Feiurinha Pedro Bandeira COMPANHIA DAS LETRINHAS A arca de Noé Vinícius de Moraes Era uma vez um conto Moacyr Scliar, José Paulo Paes, Milton Hatoum, Marcelo Coelho e Drauzio Varella Minhas memórias de Lobato Luciana Sandroni Odisséia Adap. Ruth Rocha Pluft, o fantasminha Maria Clara Machado Palavras de encantamento Manuel de Barros, Elisa Lucinda, Elias José, Roseana Murray, Pedro Bandeira, Mário Quintana, Luiz Gama Olavo Bilac, José Paulo Paes e Ferreira Gullar Historinhas pescadas Angela Lago, Artur Azevedo, Bartolomeu Campos Queirós, Christiane Gribel, Eva Furnari, Machado de Assis, Moacyr Scliar, Pedro Bandeira, Rosa Amanda Strausz e Ruth Rocha Bisa Bia, Bisa Bel Ana Maria Machado A formiguinha e a neve Adap. João de Barro (Braguinha) O macaco malandro Tatiana Belinky MODERNA 189 NOVA FRONTEIRA OBJETIVA Disponível em 02/07/2006. Meus primeiros versos Manuel Bandeira, Cecília Meirelles e Roseana Murray Meus primeiros contos Leo Cunha, Hebe Coimbra, Luiz Raul Machado, Machado de Assis e Sylvia Orthof Vida e paixão de Pandonar, o cruel João Ubaldo Ribeiro Histórias de fadas Oscar Wilde; trad. Barbara Heliodora Hoje tem espetáculo: no país dos prequetés Ana Maria Machado Cinco Estrelas Chico Buarque, Henriqueta Lisboa, Olavo Bilac, Caros Drummond de Andrade e Gonçalves Dias O Santinho Luis Fernando Veríssimo Uma história de futebol José Roberto Torero Um assassinato, um mistério e um casamento Mark Twain; trad. Ana Maria Machado Eu chovo, tu choves, ele chove Sylvia Orthof http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=375, acesso em 190 ANEXO 6 – TÍTULOS DO ACERVO DO PNBE/2002 EDITORA OBRAS AUTORES Varal de poesia Cecília Meireles, Fernando Paixão, José Paulo Paes e Mario Quintana. Deixa que eu conto Carlos Drummond de Andrade, Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, Fernando Sabino, Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis e Moacyr Scliar Do outro mundo Ana Maria Machado Ali Babá e os quarenta ladrões Antoine Galland, adap. Luc Lefort e trad. Ruth Salles. Histórias que o povo conta Ricardo Azevedo A poesia dos bichos Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros e Thiago de Mello Histórias fantásticas José J. Veiga O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá Jorge Amado O velho e o Mar Ernest Hemingway, trad. Fernando de Castro Ferro Folclore vivo Herberto Sales Um poema puxa o outro José Paulo Paes, Marcelo R. L. Oliveira, Ricardo Azevedo e Ricardo da Cunha Lima Conta que eu conto Ana Maria Machado, Angela-Lago, Daniel Munduruku, Heloisa Prieto e Roger Mello O irmão que veio de longe Moacyr Scliar As aventuras de Pinóquio Carlo Collodi; adap. Fernando Nuno e trad. Marina Colasanti. O rapto das cebolinhas Maria Clara Machado ÁTICA BERTRAND BRASIL COMPANHIA DAS LETRINHAS 191 Pé de poesia Cecília Meireles Ferreira Gullar, Mario Quintana, Cora Coralina, Olavo Bilac, Henriqueta Lisboa, Manuel Bandeira e Sidónio Muralha. Faz de conto Mario Quintana, Ignácio de Loyola Brandão, Sylvia Orthof, Câmara Cascudo, Cora Coralina, Sidónio Muralha e Marina Colasanti. A vaca voadora Edy Lima O rouxinol e o imperador da China Hans Christian Andersen, adap. Cecília Reggiani Lopes Os Saltimbancos Chico Buarque GLOBAL Tem gato na tuba e outros poemas Sidónio Muralha, Cecília Meireles, Menotti del Picchia, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, João de Barro (Braguinha) e Alberto Ribeiro, Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, Marino Pinto e Paulo Soledade A garupa e outros contos Sylvia Orthof, Marina Colasanti, Paulo Mendes Campos, Machado de Assis e Afonso Arinos O fantasma no porão Elias José As aventuras de Alice no país das maravilhas Lewis Carroll, adap.Tony Ross Um saci no meu quintal Monica Stahel Poemas que contam a história Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Castro Alves, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Evaristo da Veiga e João Cabral de Melo Neto Em família Artur Azevedo, Marina Martinez, Ana Maria Machado, Ziraldo, Clarice Lispector e João Guimarães Rosa A casa da madrinha Lygia Bojunga Contos de Grimm: Animais encantados Irmãos Grimm, trad. e adap. Ana Maria Machado. Zé vagão da roda fina e sua mãe Leopoldina Sylvia Orthof MARTINS FONTES NOVA FRONTEIRA 192 Toda criança do mundo Ruth Rocha, Sérgio Capparelli, Fagundes Varela, Luís Fernando Veríssimo, Ferreira Gullar e Samir Meserani Contos de estimação Sylvia Orthof, Érico Veríssimo, Ruy Castro, Adriana Falcão e Sílvio Romero. A bolsa amarela Lygia Bojunga O máscara de ferro Alexandre Dumas, adap. Carlos Heitor Cony História de Aladim e a lâmpada maravilhosa Patativa do Assaré. Simplesmente Drummond Carlos Drummond de Andrade Meninos, eu conto Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Antônio Torres, Leo Cunha, Zélia Gattai, Jorge Amado, Marco Túlio Costa, Malba Tahan e Fernando Sabino. A terra dos meninos pelados Graciliano Ramos O mágico de Oz L. Frank Baun; trad. Adap. Celso Luiz Amorim. Histórias de lenços e ventos Ilo Krugli OBJETIVA RECORD Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=374, acesso em 02/07/2006. 193 ANEXO 7 – EDITAL DE CONVOCAÇÃO PNBE/2003 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE/2003 EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE COLEÇÕES DE OBRAS DE LITERATURA PARA ALUNOS DE 4ª E 8ª SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE LITERATURA E INFORMAÇÃO PARA ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA, NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE/2003 O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Fundamental – SEF e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, faz saber aos titulares de direito autoral que se encontram abertas as inscrições no processo de avaliação e seleção de coleções de obras de literatura para alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e de literatura e informação para alunos do 2o segmento do ensino fundamental, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos – EJA –, matriculados na última série ou similar de cursos presenciais e com avaliação no processo, a serem adquiridas para o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE/2003. 1. DO OBJETO O processo de avaliação e seleção para o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE/2003 tem por objeto avaliar e selecionar: 1.1. 10 (dez) coleções, intituladas “Literatura em Minha Casa”, adequadas a alunos de 4ª série do ensino fundamental e compostas de cinco volumes de literatura, sendo: uma antologia poética brasileira; uma antologia de contos brasileiros; uma novela brasileira; uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira, observadas as condições e especificações constantes neste edital e seus anexos. 1.2. 10 (dez) coleções, intituladas “Literatura em Minha Casa”, adequadas a alunos de 8ª série do ensino fundamental e compostas de quatro volumes de literatura, sendo: uma antologia poética brasileira; uma antologia de crônicas e contos brasileiros; uma novela ou romance nacional ou estrangeiro (neste último caso, traduzido, adaptado ou não) e uma peça teatral brasileira ou estrangeira, observadas as condições e especificações constantes neste edital e seus anexos. 194 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 1.3. 04 (quatro) coleções, intituladas “Palavra da Gente”, adequadas a alunos do 2o segmento do ensino fundamental, na modalidade de educação de jovens de adultos – EJA –, matriculados na última série ou similar de cursos presenciais e com avaliação no processo, compostas de seis volumes de literatura e de informação, sendo: um ensaio ou reportagem sobre um aspecto da realidade brasileira; uma antologia de crônicas e contos brasileiros; uma obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira em prosa ou verso; uma antologia poética brasileira; uma peça teatral brasileira ou estrangeira e, por fim, uma biografia ou relato de viagem, observadas as condições e especificações constantes neste edital e seus anexos. 2. DOS PRAZOS As etapas de cadastramento, pré-inscrição e inscrição no PNBE/2003 serão realizadas nos seguintes prazos: 2.1. Cadastramento de Titulares de Direito Autoral Período: da data de publicação deste Edital até as 18h do dia 13/06/2003. 2.2. Pré-Inscrição Período: da data de publicação deste Edital até as 18h do dia 16/06/2003. 2.3. Inscrição 2.3.1. Entrega das Coleções Período: de 07 a 11/07/2003, no horário das 8h às 17h. 3. DAS CON DIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO 3.1. Os titulares de direito autoral poderão inscrever coleções para os três tipos de acervos, sendo: 3.1.1. uma única coleção composta de 05 (cinco) volumes de literatura, adequados a alunos de 4ª série do ensino fundamental; 3.1.2. uma única coleção composta de 04 (quatro) volumes de literatura, adequados a alunos de 8ª série do e nsino fundamental; 195 3.1.3. uma única coleção composta de 06 (seis) volumes de literatura e de informação adequados a alunos do 2o segmento do ensino fundamental, na modalidade de educação de jovens de adultos – EJA –, matriculados na última série ou similar de cursos presenciais e com avaliação no processo. 3.2. Não poderão ser inscritas coleções ou obras selecionadas e adquiridas para atender o Programa Nacional Biblioteca da Escola em 2001 e 2002. 3.3. A coleção destinada à 4ª série deverá ser, obrigatoriamente, composta de 05 (cinco) volumes, cujo projeto gráfico os identifique como coleção para essa série, obedecendo às características abaixo ordenadas: 3.3.1. Volume 1: uma antologia poética brasileira; 3.3.2. Volume 2: uma antologia de contos brasileiros; 3.3.3. Volume 3: uma novela brasileira; 3.3.4. Volume 4: uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; 3.3.5. Volume 5: uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira; 3.3.6. Cada coleção deverá conter um total mínimo de 304 (trezentos e quatro) e máximo de 320 (trezentos e vinte) páginas, sendo que cada volume deverá conter, individualmente, no mínimo, 48 (quarenta e oito) páginas; e 3.3.7. A coleção composta de 05 (cinco) volumes será intitulada “Literatura em Minha Casa”. 3.4. A coleção destinada à 8ª série deverá ser, obrigatoriamente, composta de 04 (quatro) volumes, cujo projeto gráfico os identifique como coleção para essa série, obedecendo às características abaixo ordenadas: 3.4.1. Volume 1: uma antologia poética brasileira; 3.4.2. Volume 2: uma antologia de crônicas e contos brasileiros; 3.4.3. Volume 3: uma novela ou romance brasileiro ou estrangeiro (neste caso, traduzido ou adaptado); 3.4.4. Volume 4: uma peça teatral brasileira ou estrangeira; 3.4.5. Cada coleção deverá conter um total mínimo de 304 (trezentos e quatro) e máximo de 320 (trezentos e vinte) páginas, sendo que cada volume deverá conter, individualmente, no mínimo, 64 (sessenta e quatro) páginas; e 3.4.6. A coleção composta de 04 (quatro) volumes será intitulada “Literatura em Minha Casa”. 196 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 3.5. A coleção destinada à Educação de Jovens e Adultos – EJA – deve ser, obrigatoriamente, composta de 06 (seis) volumes, cujo projeto gráfico os identifique como coleção para essa modalidade de ensino, obedecendo às características abaixo ordenadas: 3.5.1. Volume 1: um ensaio ou reportagem sobre um aspecto da realidade brasileira; 3.5.2. Volume 2: uma antologia de crônicas e contos brasileiros; 3.5.3. Volume 3: uma obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira em prosa ou verso; 3.5.4. Volume 4: uma antologia poética brasileira; 3.5.5. Volume 5: uma peça teatral brasileira ou estrangeira; 3.5.6. Volume 6: uma biografia ou relato de viagens; 3.5.7. Cada coleção deverá conter um total mínimo de 336 (trezentos e trinta e seis ) e máximo de 352 (trezentos e cinqüenta e duas) páginas, sendo que cada volume deverá conter, individualmente, no mínimo, 48 (quarenta e oito) páginas; e 3.5.8. A coleção composta de 06 (seis) volumes será intitulada “Palavra da Gente”. 3.6. Poderão participar do processo de inscrição e seleção de que trata este edital os titulares de direito autoral, inclusive consórcios. 3.6.1.No caso de participação em consórcio, a liderança caberá à empresa consorciada que detiver o maior capital social. 3.6.2.No consórcio de empresas brasileiras e estrangeiras, a liderança caberá à empresa brasileira que detiver o maior capital social. 3.6.3.A empresa consorciada não poderá participar na licitação através de mais de um consórcio ou isoladamente. 197 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 4. DOS PROCEDIMENTOS 4.1. Do Cadastramento de Titulares de Direito Autoral Os titulares de direito autoral formalizarão seu cadastramento no PNBE/2003, por meio do endereço eletrônico www.fnde.gov.br (no campo Pré-Inscrição relativo ao PNBE), informando o “login” pelo qual deseja ser identificado. 4.1.1. Concluído o fornecimento do “login”, os interessados receberão a confirmação do mesmo, via e-mail, bem como as respectivas senhas de acesso. 4.1.1.1. O acesso às demais etapas desse procedimento estará vinculado à confirmação do “login”. 4.2. Da Pré-inscrição A Pré-inscrição é o prévio cadastramento, pelos titulares de direito autoral, de obras que atendam às disposições deste Edital, no sistema informatizado do FNDE, exclusivamente por meio da Internet, no endereço eletrônico citado no subitem 4.1. deste Edital. 4.2.1. Poderão participar da Pré-inscrição, exclusivamente, os titulares de direito autoral cuja(s) obra(s) atenda(m) às exigências constantes neste Edital. 4.2.2. Os titulares de direito autoral interessados em participar do PNBE/2003 deverão manter seus dados permanentemente atualizados junto ao FNDE, por intermédio do endereço eletrônico citado no sub item 4.1. deste Edital. 4.3. Da Inscrição A inscrição deverá ser realizada, pessoalmente, pelo titular de direito autoral ou por seu procurador legalmente constituído, ambos devidamente cadastrados no sistema informatizado do FNDE, para fins do PNBE/2003, na fase de Pré-inscrição, e consistirá na entrega da coleção. 4.3.1. A coleção inscrita deverá ter um único titular, o qual detenha o direito autoral de todas as obras que a compõem. 4.3.2. Da entrega das Coleções 4.3.2.1. Os titulares de direito autoral que realizarem a préinscrição de coleções serão convocados pelo FNDE, em dia, horário e local previamente agendados, para a entrega das coleções, de acordo com o período estabelecido no subitem 2.3.1. deste Edital. 198 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 4.3.2.2. As coleções deverão ser entregues de acordo com o especificado abaixo: 4.3.2.2.1. 12 (doze) exemplares de cada um dos 05 (cinco) volumes integrantes da coleção destinada à 4ª série, em edição finalizada, devendo cada obra estar concluída com todos os textos em sua forma e paginação finais, e de acordo com os Anexos I e III. 4.3.2.2.2. 12 (doze) exemplares de cada um dos 04 (quatro) volumes integrantes da coleção destinada à 8ª série, em edição finalizada, devendo cada obra estar concluída com todos os textos em sua forma e paginação finais, e de acordo com os Anexos I e III. 4.3.2.2.3. 12 (doze) exemplares de cada um dos 06 (seis) volumes integrantes da coleção, em edição finalizada, devendo cada obra estar concluída com todos os textos em sua forma e paginação finais, e de acordo com os Anexos I e III. 4.3.2.2.4. em nenhuma hipótese serão aceitas obras não finalizadas, com páginas faltantes, rasuras e/ou indicação de modificações futuras. 4.3.3. Da Comprovação de Inscrição A coleção será conferida e, para efeito de confirmação da inscrição, será emitido Comprovante de Entrega das Obras. 5. DO PROCESSO DE SELEÇÃO O processo de seleção compreende as etapas de triagem e avaliação das coleções. 5.1. Da Triagem A triagem é a primeira etapa do processo de seleção e poderá, a critério do FNDE, ser realizada por instituição contratada. 5.1.1. A coleção que não atender às exigências contidas no Anexo I deste Edital será automaticamente excluída nessa etapa. 199 5.2. Da Avaliação A avaliação constitui a segunda e última etapa do processo de seleção, e será assim realizada: 5.2.1. As coleções inscritas para o PNBE/2003 serão avaliadas por um Colegiado, subsidiado por uma Comissão Técnica, ambos designados pelo Ministro de Estado da Educação. Todo o processo de avaliação será coordenado pela SEF/MEC. 5.2.2. A avaliação das coleções será feita de acordo com o disposto no Anexo II – Critérios de Avaliação e Seleção - deste Edital. 5.2.3. Na etapa de avaliação, serão selecionadas 10 (dez) coleções destinadas à 4ª série, 10 (dez) coleções destinadas à 8ª série e 04 (quatro) coleções destinadas à Educação de Jovens e Adultos-EJA, para aquisição e distribuição pelo PNBE/2003, conforme disposto na Resolução/FNDE/CD nº 8, de 08 de abril de 2003, publicada no Diário Oficial da União, de 14 de abril de 2003. 6. DOS PROCESSOS DE HABILITAÇÃO, AQUISIÇÃO, PRODUÇÃO E ENTREGA 6.1. Da Habilitação O processo de habilitação consistirá na apresentação ao FNDE, pelo titular de direito autoral, dos documentos constantes no subitem 6.1.3, no prazo de 10 dias úteis, após a divulgação no Diário Oficial da União das coleções selecionadas para o PNBE/2003 e o atesto do recebimento do ofício solicitando a documentação pertinente à habilitação. 6.1.1. Essa atividade será feita por Comissão Especial de Habilitação, especialmente constituída pelo FNDE, que analisará a documentação na forma do disposto neste Edital. 6.1.2. Nessa fase deverão ser observados os seguintes procedimentos: a) toda e qualquer documentação necessária à habilitação deverá ser apresentada, datada e assinada pelo titular de direito autoral ou por seu procurador legalmente constituído, por meio de instrumento hábil; b) os documentos necessários à habilitação, em conformidade com o disposto no subitem 6.1.3, poderão ser apresentados por qualquer processo de cópia, desde que autenticada por cartório competente ou pela Comissão Especial de Habilitação, mediante a apresentação do documento original; c) nos casos em que o Contrato de Edição vigente não determinar o número de exemplares em quantidade suficiente para atender à aquisição a ser realizada pelo FNDE, o titular de direito autoral obrigar-se-á a celebrar instrumento específico com o autor, 200 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL como, por exemplo, Adendo Contratual, Instrumento de Retificação ou Ratificação, novo Contrato de Edição etc. para a celebração das novas circunstâncias contratuais; d) o novo instrumento, previsto na alínea anterior, deverá especificar a quantidade da nova tiragem, ratificar as cláusulas não alteradas do Contrato de Edição original e alterar ou complementar, apenas, os termos relativos à venda especial, se for o caso, conforme a legislação que regulamenta os direitos autorais; e) a Comissão Especial de Habilitação, no curso do processo de análise da documentação, poderá promover diligências, solicitar esclarecimentos, estabelecer exigências a serem cumpridas, tudo objetivando certificar-se da licitude, veracidade e eficácia da documentação e respectivos dados fornecidos. 6.1.3. Da Documentação Exigida 6.1.3.1. Da Documentação referente à edição a) Contrato de Edição – instrumento mediante o qual o editor obriga-se a reproduzir, divulgar e comercializar a obra literária, ficando autorizado, em caráter de exclusividade, a publicá-la e explorá-la, pelo prazo e nas condições pactuadas com o autor, com base no que preceitua a legislação que rege a matéria, em especial as Leis nº 5.988/73 e nº 9.610/98; b) Adendo ao Contrato – instrumento legal a ser apresentado nos casos previstos nas alíneas c e d do subitem 6.1.2 deste Edital. c) Declaração de Vigência – nos casos de contratos com prazo de vigência indeterminado, ou não expresso, deverá ser apresentada, sob as penas da lei, declaração complementar com firmas reconhecidas em cartório, na qual os titulares do direito autoral declarem que o Contrato de Edição apresentado encontra-se em plena vigência; d) Contrato de Edição Traduzido – quando se tratar de obra estrangeira, o titular de direito autoral deverá apresentar tradução juramentada do Contrato de Edição, autorização para adaptação e/ou adendo conforme o caso. 6.1.3.2. Da Documentação Comprobatória de Habilitação Jurídica e Fiscal a) cédula de identidade, CPF e instrumento de procuração, para o representante legal do titular do direito autoral ou, quando tratar-se do próprio, cédula de identidade e CPF; 201 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL b) declaração de inexistência de fator impeditivo, ratificando a inexistência de circunstâncias que impeçam o titular do direito autoral de contratar com a Administração Pública Federal; c) contrato/estatuto social da empresa, alterações contratuais e atas de reuniões/assembléias; d) extrato de Sistema Unificado de Cadastramento de Fornecedores – SICAF, devendo ser realizada consulta “on-line” ao SICAF, conforme previsto na Lei nº 8.666/93 e na IN/MARE nº 05/95 e respectivas modificações posteriores, bem como no Decreto nº 3.722, de 09 de janeiro de 2002. 6.1.3.3. Da Documentação referente à situação financeira do titular de direito autoral Quando da habilitação, será verificada a boa situação financeira do titular de direito autoral, por meio dos índices de Liquidez Geral (LG), Solvência Geral (SG) e Liquidez Corrente (LC). Caso quaisquer desses índices estejam inferiores ou iguais a 01 (um), será exigida prestação de garantia em uma das modalidades previstas pelo § 1º do art. 56 da Lei nº 8.666/93, e respectivas modificações posteriores. A garantia a ser prestada corresponderá a três por cento do valor a ser contratado, devendo ser entregue ao FNDE até a data da assinatura do contrato, sendo que a vigência da garantia deve coincidir com a vigência do contrato e sua liberação e restituição ocorrerá somente após o término da vigência do contrato. 6.1.3.4. No caso de consórcio, além da documentação exigida nos subitens anteriores, será exigido, ainda, os itens I, II e III do art. 33, bem como o registro do consórcio, nos termos do parágrafo segundo, do item V, do mesmo artigo da Lei 8.666/93. 6.2. Da Aquisição O titular de direito autoral, declarado habilitado pela Comissão Especial de Habilitação, será convocado, por Comissão especialmente constituída pelo FNDE, para proceder à negociação de preço das obras a serem adquiridas. 6.2.1. Havendo ocorrências que venham a inviabilizar a aquisição de quaisquer das coleções selecionadas, serão adquiridas apenas as coleções negociadas, alterando-se a fórmula estabelecida pela Resolução/FNDE/CD nº 8, publicada no D.O.U. de 14 de abril de 2003, na qual os fatores: C = número de coleções e o multiplicador do fator E (número de escolas) serão adequados ao número de coleções negociadas. 202 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 6.3. Da Produção Após a assinatura do instrumento próprio, os titulares de direito autoral contratados estarão aptos a iniciar a produção dos quantitativos de coleções adquiridos pelo FNDE, de acordo com as especificações técnicas estabelecidas no Anexo III. 6.3.1. Do Controle de Qualidade Por ocasião da produção das obras, o FNDE, ou a instituição por ele contratada para esse fim, poderá realizar Controle de Qualidade, mediante amostragem definida na NBR 5426/1985 – ABNT, a ser especificada no contrato, que consistirá na análise dos itens de conformidade constantes do “Manual de Instrução para o Controle de Qualidade” estabelecidos pelo FNDE, disponibilizado por ocasião da contratação. 6.4. Da Entrega As coleções produzidas deverão ser entregues para postagem, diretamente pelos contratados, à empresa definida pelo FNDE como responsável pela distribuição, conforme instruções operacionais a serem fornecidas no momento da negociação, e de acordo com o arquivo de endereçamento a ser fornecido pelo FNDE. 7. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 7.1. A inscrição de coleção no PNBE/2003 implica aceitação, pelo participante, de forma integral e irretratável dos termos deste Edital, bem como da legislação aplicável, especialmente em matéria de direito autoral, não cabendo controvérsias posteriores. 7.2. O titular de direito autoral deve manter toda a documentação atualizada durante o período de execução do contrato, especialmente no que se refere ao SICAF. 7.3. A documentação constante no subitem 6.1.3 deste Edital deverá ser apresentada pelos titulares em tempo hábil, sob pena de ter a coleção exclu ída. 7.4. A simples participação no processo de inscrição de coleções não implica obrigação de contratação por parte do FNDE/MEC, que poderá, a qualquer tempo, desde que devidamente comprovado por razões de interesse público, decorrentes de fato superveniente, de forma justificada, revogar, total ou parcialmente, o presente processo. 7.5. Eventuais pedidos de esclarecimentos, de acordo com a sua natureza, devem ser dirigidos: 203 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 7.5.1. Ao FNDE, se relativos aos processos de inscrição, triagem, habilitação, aquisição, produção e distribuição, no seguinte endereço: FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DIVISÃO DE APOIO ADMINISTRATIVO Setor Bancário Sul, Quadra 2, Bloco "F", Edifício Áurea, 5º andar CEP: 70070-929 – Brasília–DF Telefones: (61) 212-4824 e 212-4828 e Fax: (061) 212-4149 7.5.2. À SEF/MEC, se relativos à avaliação pedagógica, no seguinte endereço: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL Esplanada dos Ministérios – Bloco “L” – 5º andar – Sala 500 70047-900 – Brasília–DF Telefone: (61) 410-8612 e 410-8613 e Fax: (61) 321-1543 7.5.3. Os pedidos de esclarecimentos serão aceitos se postados, comprovadamente por Aviso de Recebimento – AR, até o prazo máximo de 10 (dez) dias consecutivos e anteriores à data final para inscrição. 7.6. As coleções selecionadas poderão ser comercializadas, com seus títulos originais, desde que mantidas as características dos exemplares apresentados para o PNBE/2003 no que se refere ao conteúdo, ao projeto gráfico (observado o subitem 7.7 deste Edital) e à organização em coleção. 7.6.1. As demais coleções, inscritas e não-selecionadas, poderão ser comercializadas sem as expressões Literatura em Minha Casa e Palavra da Gente, bem como sem o selo e a logomarca. 7.7. Fica vedada a utilização das logomarcas oficiais do Ministério da Educação, de suas Unidades ou Autarquias vinculadas, bem como do PNBE, para efeito de propaganda e publicidade, em especial aquelas que, de alguma forma, induzam ao entendimento de que os livros objeto da propaganda, publicidade ou divulgação, sejam recomendados preferencialmente pelo Ministério para adoção nas escolas, ou que o sejam em detrimento de outros. 7.8. Os titulares de direito autoral que descumprirem os dispositivos descritos no subitem 7.6. e subitem 7.6.1. bem como no subitem 7.7. ficarão impedidos de participar do PNBE por 02 (dois) anos. 204 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 7.9. Os integrantes de consórcios responderão solidariamente pelos atos praticados junto ao MEC/FNDE a que se refere o presente Edital, bem como aqueles decorrentes da execução do contrato. 7.10. Situações não previstas neste Edital serão analisadas pelo FNDE e pela SEF, de acordo com as suas competências e com a natureza do assunto. 7.11. Integram o presente Edital, como se transcritos fossem e como partes indissolúveis, os seguintes anexos: a) Anexo I – Triagem; b) Anexo II – Critérios de Avaliação e Seleção; c) Anexo III – Especificações Técnicas. Brasília, 09 de maio de 2003. HERMES RICARDO MATIAS DE PAULA Presidente do FNDE MARIA JOSÉ VIEIRA FÉRES Secretária de Educação Fundamental 205 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE/2003 EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE COLEÇÕES DE OBRAS DE LITERATURA PARA ALUNOS DE 4ª E 8ª SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE LITERATURA E INFORMAÇÃO PARA ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA, NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE/2003 ANEXO I TRIAGEM 1. ANÁLISE DE ESTRUTURA EDITORIAL Cada volume da coleção deve estar claramente identificado, contendo os seguintes elementos: 1.1. Na primeira capa: 1.1.1. nome da coleção – (Literatura em Mi nha Casa para as coleções destinadas à 4ª e 8ª séries e Palavra da Gente para as coleções destinadas à Educação de Jovens e Adultos) 1.1.2. a palavra “Volume” seguida do número correspondente em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5 ou 6) 1.1.3. Gênero da obra: 4ª série: Poesia, Conto, Novela, Clássico universal, Peça teatral ou Texto de tradição popular 8ª série: Poesia, Crônica e Conto, Novela ou Romance, Peça teatral Educação de Jovens e Adultos: Ensaio ou Reportagem, Crônica e Conto, Textos de tradição popular, Poesia, Peça teatral, Biografia ou Relato de viagem 1.1.4. título da obra 1.1.5. autor ou autores 1.1.6. nome da editora ou consórcio de editoras 206 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 1.1.7. selo do PNBE/2003, de acordo com modelo a ser fornecido pelo FNDE 1.2. Na quarta capa: 1.2.1. Descrição dos títulos da coleção. 1.3. Na folha de rosto: 1.3.1. nome da coleção – (“Literatura em Minha Casa“ para as coleções destinadas à 4ª e 8ª séries e “Palavra da Gente” para as coleções destinadas à Educação de Jovens e Adultos) 1.3.2. a palavra “Volume”, seguida do número correspondente em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5 ou 6) 1.3.3. Gênero da obra: 4ª série: Poesia, Conto, Novela, Clássico universal, Peça teatral ou Texto de tradição popular 8ª série: Poesia, Crônica e conto, Novela/Romance, Peça teatral Educação de Jovens e Adultos: Ensaio ou Reportagem, Crônica e Conto, Textos de tradição popular, Poesia, Peça teatral, Biografia ou Relato de viagem 1.3.4. título da obra 1.3.5. autor ou autores; no caso de antologia nome do organ izador 1.3.6. nome do organ izador da coleção 1.3.7. nome do ilustrador, quando houver 1.3.8. nome do tradutor, se obra traduzida 1.3.9. nome do adaptador, se obra adaptada 1.3.10. número da edição, local e ano da publicação 1.3.11. nome da editora ou consórcio de editoras 1.4. No verso da folha de rosto: 1.4.1. ficha catalog ráfica 1.4.2. número ISBN 1.4.3. endereço da editora ou consórcio de editoras 1.4.4. título original da obra, com os respectivos copyright e número ISBN, no caso de obra estrangeira. 1.5. As segunda e terceira capas não devem conter textos ou ilustrações, podendo o FNDE/MEC incluir mensagens institucionais relativas ao Programa, por ocasião do processo de aquisição. 207 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Será excluída nessa fase toda coleção quando: 2.1. não atender ao Item 3 do Edital; 2.2. o formato, as cores de impressão e o tipo de lombada estiverem em desacordo com as especificações técnicas definidas no Anexo III deste Edital; 2.3. não atender as especificações constantes no Item 1 deste Anexo; 2.4. um dos seus volumes for excluído nessa etapa de triagem. 208 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE/2003 ] EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE COLEÇÕES DE OBRAS DE LITERATURA PARA ALUNOS DE 4ª E 8ª SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE LITERATURA E INFORMAÇÃO PARA ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA, NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE/2003 ANEXO II CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO 1. APRESENTAÇÃO A finalidade desta ação do PNBE/2003 é selecionar coleções para compor os acervos intitulados “Literatura em Minha Casa”, que serão distribuídos aos alunos da rede pública que estejam cursando, em 2004, a 4ª e a 8ª séries do Ensino Fundamental e para as escolas que tenham essas séries, bem como selecionar coleções para compor o acervo intitulado “Palavra da Gente”, que será distribuído, em 2004, aos alunos do 2º segmento do Ensino Fundamental na modalidade Educação de Jovens e Adultos, matriculados na última série ou similar de cursos presenciais, com avaliação no processo, na rede pública e para as escolas públicas que atendam estes alunos. Há três razões principais sustentando essa iniciativa. A primeira é que a leitura de textos literários e de reflexão sobre a realidade brasileira é fundamental para o desenvolvimento da percepção estética e das referências culturais e éticas do cidadão.A segunda razão é que a leitura destes textos constitui um importante exercício para a participação na sociedade letrada. A experiência com textos literários, em função da criação artística e das condições de leitura, e com textos sobre a realidade brasileira é essencial para o desenvolvimento intelectual e letramento dos alunos. A terceira razão está no fato de que o 209 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL texto literário, como forma de expressão artística e cultural, é um patrimônio nacional que deve ser protegido e difundido. Uma iniciativa dessa natureza representa para milhões de brasileiros – crianças, jovens e adultos – a primeira oportunidade de ter contato com obras de literatura e de reflexão sobre a realidade brasileira. Neste sentido, são evidentes seu caráter pedagógico e sua importância como elemento de disseminação de cultura. Além disso, possibilita a criação de círculos de leitura, por meio de trocas e intercâmbio de textos. Ao ofertar livros aos estudantes e suas famílias por meio da escola, este Ministério assume que a ação político-pedagógica se estende para além do espaço escolar, supondo sua repercussão no espaço social mais amplo. Reforçase com isso o caráter da escola de agência difusora da cultura e valores fundamentais da sociedade. Não se trata, portanto, de tomar a escola como simples intermediária, com a função exclusiva de distribuir livros. Cabe a ela a tarefa fundamental de tornar possível a leitura pelos estudantes e seus familiares, através de atividades que instiguem e tornem possível a fruição e intelecção das obras constantes das coleções. 2. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO A seleção será realizada a partir de processo de avaliação que recairá tanto sobre a qualidade do conjunto de títulos que compõem a coleção quanto sobre a qualidade de cada título considerado individualmente. Serão privilegiadas coleções compostas de títulos de qualidade uniforme em detrimento daquelas de qualidade desigual. As coleções devem ser compostas de títulos pertencentes a cada uma das categorias abaixo. “Literatura em Minha Casa” – 4ª série: uma antologia poética brasileira; uma antologia de contos brasileiros; uma novela brasileira; uma obra clássica da literatura universal, traduzida ou adaptada; uma peça teatral brasileira ou obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira. 210 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL “Literatura em Minha Casa” – 8ª série uma antologia poética brasileira; uma antologia de crônicas e contos brasileiros; uma novela ou romance brasileiro ou estrangeiro; uma peça teatral brasileira ou estrangeira. “Palavra da Gente” – EJA um ensaio ou reportagem sobre um aspecto da realidade brasileira; uma antologia de crônicas e contos brasileiros; uma obra ou antologia de textos de tradição popular brasileira em prosa ou verso; uma antologia poética brasi leira; uma peça teatral brasileira ou estrangeira; uma biografia ou relato de viagens. Será eliminada do processo de avaliação a coleção que apresente: uma ou mais de uma obra que não corresponda ao gênero exigido para o respectivo volume; um ou mais de um título que faça parte das coleções que foram selecionadas e adquiridas pelos PNBE/2001 e 2002. Na análise, serão considerados os seguintes aspectos: 2.1. Projeto editorial A coleção, na perspectiva político-pedagógica que se imprime a esta ação, deve ser um projeto orgânico, e não apenas uma reunião casual de textos. Neste sentido, deve apresentar-se como um pequeno retrato da cultura brasileira, convidando e instigando o leitor à experiência estética e à reflexão crítica sobre o mundo em que vive. 211 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL O projeto editorial dá consistência à coleção, considerando suas finalidades e o leitor. Isto supõe a presença de um eixo organizador definido, com estabelecimento de relações entre as obras, equilíbrio na autoria (diversidade e representatividade) e no tamanho dos volumes. A coleção não é uma obra didática. A apresentação da coleção ou das obras, as orientações de leitura e o oferecimento de informações adicionais quando relevantes (bibliografia, glossário, notas explicativas, informações históricas) devem estar submetidos a uma lógica editorial evidente e consistente e, em nenhum momento, suplantar em tamanho ou destaque os textos selecionados. As peculiaridades que caracterizam cada grupo devem ser levadas em consideração na composição da coleção, abarcando temas de interesse do público ao qual se destina e promovendo o desencadeamento de novos interesses e de novas referências culturais. Os estudantes de 4ª e 8ª séries quase sempre têm como única experiência de leitura os livros didáticos, tendo pouco acesso a outros tipos de texto, em particular aos de literatura, tanto no espaço doméstico como na própria escola. Há uma significativa diversidade de faixa etária entre os alunos das séries contempladas (segundo o censo 2001, a média de idade na rede pública é de 11 para a 4ª série e de 16 anos, entre os rapazes, e de 15 anos, entre as moças, para a 8ª série), o que implica maturação intelectual e experiência de vida bastante diversificadas. A maior parte dos estudantes do segundo segmento de EJA tem idade entre 20 e 40 anos, é proveniente de famílias pouco ou não escolarizadas, apresenta biografia educativa variada e exerce atividades profissionais que exigem pouca qualificação; a maioria passou por cursos regulares de modo intermitente durante a infância e a adolescência, muitos abandonaram os estudos para exercer atividades profissionais e os retomaram na juventude e idade adulta. 2.2. Temática As coleções devem apresentar temáticas diversificadas, considerando diferentes contextos sociais, culturais e históricos, estando adequadas aos interesses e peculiaridades do público a que se dirigem e sendo capazes de motivar a leitura dos livros e de ampliar as 212 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL referências culturais e literárias desse público. A abordagem de temáticas controversas deve se pautar pela problematização, por sua atualidade e diversidade de enfoques, contribuindo para o desenvolvimento ético do leitor e, em hipótese alguma, promovendo a discriminação ou o sectarismo. Os textos informativos devem apresentar correção conceitual e atualidade temática. 2.3. Seleção de títulos e autores A representatividade dos autores escolhidos – isto é, o quanto são conhecidos e assumidos como referências da cultura brasileira –, em função da finalidade e do caráter do PNBE/2003, assim como da abrangência da distribuição das coleções, torna-se um fator relevante na escolha da obra. Os títulos e autores selecionados devem ser representativos da produção literária. Serão privilegiadas as coleções compostas de títulos e autores de diferentes épocas e regiões. 2.4. Textualidade Os textos de natureza literária devem ser representativos de diferentes quadros de referência, favorecendo a experiência estética diversificada e o desenvolvimento da leitura. A textualidade das obras deve se apoiar não apenas nas expectativas atuais a respeito da recepção literária do público, mas também na ampliação dessas expectativas. Os textos informativos devem ser contextualizados e oferecer referências completas para que o leitor relacione-os a aspectos de caráter mais abrangente de seu campo ou área de conhecimento. A estruturação dos textos informativos deve apresentar abordagem encadeada e hierarquizada de temas e assuntos. 213 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 2.5. Projeto gráfico e ilustrações O projeto gráfico corresponde à apresentação física da obra, incluindo aspectos, tais como: a relação entre texto e imagem, distribuição espacial, capa, tamanho da mancha, recursos gráficos. Os padrões utilizados no conjunto devem favorecer a legibilidade dos textos e manifestar adequação às características de cada título. Erros de impressão e revisão são negativos para a adequada leitura das obras. As ilustrações devem contribuir para a leitura das obras, dialogando com os textos, utilizando linguagem visual coerente e apropriada. São desaconselháveis ilustrações que reproduzam clichês e que pouco acrescentem à leitura. No caso dos textos informativos, as ilustrações (fotografias, mapas, esquemas, tabelas, gráficos, entre outros) devem colaborar para complementar as informações textuais e promover a compreensão do leitor. 214 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE/2003 EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE COLEÇÕES DE OBRAS DE LITERATURA PARA ALUNOS DE 4ª E 8ª SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE LITERATURA E INFORMAÇÃO PARA ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA, NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE/2003 ANEXO III ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS MÍNIMAS As especificações são para todos os exemplares de cada um dos livros que compõem as coleções: 1. FORMATO: 137 mm x 209 mm, com tolerância de desvio para mais ou para menos 4mm nas medidas. 2. CAPA: Cartão branco, de 240 g/m2 a 312g/m2 nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento) nas gramaturas nominais, revestido na frente, plastificado ou envernizado com verniz UV, com as seguintes características: Impressão n.º de cores - 4/1; Tipo e tamanho de fonte da capa: adequado ao projeto gráfico; Selo do PNBE/2003, a ser disponibilizado ao titular de direito autoral após a etapa de préinscrição. 3. MIOLO: Papel "off set" branco, com gramatura de 75 g/m 2 nominais, com tolerância de variação de 4% (quatro por cento), nas gramaturas nominais. Alvura mínima de 80 (oitenta por cento) e opacidade mínima de 82% (oitenta e dois por cento); · Impressão n.º de cores: 1/1. Poderá ser utilizada qualquer cor desde que adequada ao projeto gráfico. 215 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 4. ACABAMENTO 4.1. Para livros com até 96 páginas de miolo: 4.1.1. Tipo de lombada: canoa; 4.1.2. Miolo e capa: grampeados com 2 (dois) grampos acavalados na lombada; 4.1.3. Características do grampo: galvanizado com bitola n.º 26 ou 25; 4.1.4. Grampeamento: distribuídos simetricamente em relação à extensão pé à cabeça do livro com variação de 1,5 cm, e tolerância máxima de desalinhamento de 0,5 mm em relação ao vinco da dobra; 4.1.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm; 4.1.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha deve respeitar as características do projeto gráfico adequado ao gênero. 4.2. Para livros com mais de 96 páginas de miolo: 4.2.1. Tipo de lombada: quadrada; 4.2.2. Miolo costurado com linha, “falsa/termo costura”, ou costura de cola, ou colagem de poliuretano reativo (PUR); 4.2.3. Capa com vinco de manuseio a 7 mm da lombada com tolerância de mais ou menos 1 mm; 4.2.4. Colagem lateral de capa até o vinco de manuseio, com tolerância de até menos 1,5 mm; 4.2.5. A distância nominal entre a lombada e a mancha deve ser de 15 a 20 mm; 4.2.6. A distância nominal entre o corte trilateral e a mancha deve respeitar as características do projeto gráfico adequado ao gênero. 216 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 4.3. Para os diversos tipos de acabamento deverão ser utilizadas as seguintes especificações: 4.3.1. Para os livros costurados com linha, esta deve ser de algodão, sintética ou mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 4.3.2. Para os livros com acabamento “falsa/termo costura”, a linha deve ser mista, com resistência suficiente para garantir a integridade física do miolo; 4.3.3. Para os livros costurados com cola o processo deverá ser “Burst”, “nottched” ou “slotted binding”, de forma a garantir a integridade física do miolo; 4.3.4. Para os livros com a lombada raspada e colada, ou raspada, frezada e colada, o processo de colagem deverá ser com a utilização de cola de poliuretano reativo (PUR); 4.3.5. Toda cola utilizada deverá ser flexível após secagem. 217 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE/2003 EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS DE LITERATURA CONSTANTES NA RESOLUÇÃO N.º 49/2003 CD/FNDE/MEC E DE ACORDO COM A PORTARIA N.º 3.443/2003/MEC PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE/2003 – AÇÃO “BIBLIOTECA DO PROFESSOR”/AÇÃO “BIBLIOTECA ESCOLAR”. O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Infantil e Fundamental – SEIF e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, faz saber, aos titulares de direito autoral, que se encontram abertas as inscrições das obras de ficção e não ficção, constantes na Resolução n.º 49 do Conselho Deliberativo do FNDE, de 20/11/2003, em conformidade com a Portaria n.º 3.443/2003/MEC, para a aquisição e distribuição aos professores e às escolas públicas do ensino fundamental, nos termos deste Edital e respectivos Anexos, a serem adquiridas para o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE/2003. 1. DO OBJETO Aquisição de obras de ficção e não ficção para distribuição à, aproximadamente, 20 mil escolas, no âmbito da Ação “Biblioteca Escolar”, da rede pública do ensino fundamental, e aos professores das Classes de Alfabetização e de 1.ª a 4.ª séries, das escolas públicas, no âmbito da Ação “Biblioteca do Professor”. 2. DA INSCRIÇÃO/ENTREGA DA(S) OBRA(S) E DA DOCUMENTAÇÃO 2.1. Da Inscrição da(s) Obra(s) A inscrição consiste na entrega da(s) obra(s) e da documentação e deverá ser realizada pessoalmente pelo titular do direito autoral ou por seu procurador legal, ou ainda por correspondência registrada e enviada para o endereço e no período a seguir especificados: 218 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – FNDE Setor Bancário Sul, Quadra 2, Bloco "F", Edifício Áurea, 14.º Andar – Sala 1.404 – CEP: 70070-929 – Brasília–DF. Telefones: (61) 212-4280 e 212-4210 e Fax: (061) 212-4193 Período: 01/12/2003 a 08/12/2003 2.1.1 A(s) obra(s) e a documentação encaminhadas por via postal somente serão aceitas se recebidas dentro do período definido para inscrição. 2.2. Da Entrega da(s) obra(s) e da Documentação A(s) obra(s) e a documentação deverão ser entregues no período definido no subitem 2.1 deste edital, e de acordo com o especificado abaixo: 2.2.1 entrega de 2 (dois) exemplares de cada obra finalizada, devendo cada obra estar concluída com todos os textos em sua forma e paginação final, sem páginas faltantes, rasuras e/ou indicação de modificações futuras; 2.2.2 entrega da(s) ficha(s) do(s) livro(s) devidamente preenchida(s); 2.2.3 para efeito de confirmação da Inscrição, será emitido comprovante de entrega das obras e da documentação, podendo ser remetido via postal; 2.2.4 o não recebimento, pelo FNDE, da documentação e da(s) obra(s) na data aprazada implicará sua exclusão; 3. DA DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA 3.1 Da Documentação referente à edição a) Contrato de Edição – instrumento mediante o qual o editor obriga-se a reproduzir, divulgar e comercializar a obra literária, com base no que preceitua a legislação que rege a matéria, em especial as Leis nº 9.610/98 e nº. 5.988/73, no que couber. Nos casos em que o Contrato de Edição não determinar o número de exemplares em quantidade suficiente para atender à aquisição a ser realizada pelo FNDE, o titular de direito autoral obrigar-se-á a celebrar Adendo Contratual. b) Adendo Contratual – instrumento legal que ratifica e/ou retifica os termos do contrato original. 219 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL c) no(s) caso(s) de direito(s) autoral(is) decorrente(s) de sucessão hereditária, deverá(ão) ser apresentado(s) documento(s) comprobatório(s), tal(is) como: formal de partilha ou certidão extraída do processo de inventário. 3.2 Da Documentação Comprobatória de Habilitação Jurídica e Fiscal a) cópia autenticada da cédula de identidade e do Cadastro de Pessoa Física - CPF, quando o próprio titular inscrever a obra, e cópia autenticada da Cédula de Identidade, do CPF e da procuração, quando se tratar de representante legal; b) declaração de inexistência de fato impeditivo (Anexo IV), ratificando a inexistência de circunstâncias que impeçam o titular do direito autoral de contratar com a Administração Pública Federal; c) contrato/estatuto social da empresa, alterações contratuais e atas de reuniões/assembléias; d) declaração de não empregar menor (Anexo V); e) cópia autenticada do comprovante de Inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ); f) Ficha Cadastral – (Anexo II). 3.3 Da Documentação referente à situação financeira do titular de direito autoral 3.3.1 Quando da habilitação, será emitido extrato da situação financeira do titular de direito autoral, por meio dos índices de Liquidez Geral (LG), Solvência Geral (SG) e Liquidez Corrente (LC). 3.3.1.1 Caso quaisquer dos índices referidos neste subitem estejam inferiores ou iguais a 01 (um), será exigida prestação de garantia em uma das modalidades previstas pelo § 1º do art. 56 da Lei nº 8.666/93, e respectivas modificações posteriores. 3.3.2 Em caso da necessidade de prestação de garantia, esta corresponderá a três por cento do valor a ser contratado, devendo ser entregue no FNDE até a data da assinatura do contrato. 3.3.2.1 A liberação e a restituição da garantia ocorrerão somente após o término da vigência do contrato. 220 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL 4. DOS PROCESSOS DE HABILITAÇÃO, AQUISIÇÃO, PRODUÇÃO E ENTREGA 4.1. Da Habilitação Essa atividade será feita por Comissão Especial de Habilitação, especialmente constituída pelo FNDE, que analisará a documentação na forma do disposto neste Edital, e observados os seguintes procedimentos: a) toda e qualquer documentação necessária à habilitação deverá ser apresentada, datada e assinada pelo titular de direito autoral ou por seu procurador legalmente constituído, por meio de instrumento hábil; b) os documentos necessários à habilitação, em conformidade com o disposto no subitem 3.2, poderão ser apresentados por qualquer processo de cópia, desde que autenticada por cartório ou pela Comissão Especial de Habilitação, mediante a apresentação do(s) documento(s) original(is); c) a Comissão Especial de Habilitação, no curso do processo de análise da documentação, poderá promover diligências, solicitar esclarecimentos, estabelecer exigências a serem cumpridas, objetivando certificar-se da licitude, veracidade e eficácia da documentação e respectivos dados fornecidos. 4.2. Da Aquisição O titular de direito autoral, declarado habilitado pela Comissão Especial de Habilitação, será convocado, por Comissão especialmente constituída pelo FNDE, para proceder à negociação de preço da(s) obra(s) a ser(em) adquiridas. 4.2.1 Havendo ocorrências que venham a inviabilizar a aquisição de qualquer/quaisquer da(s) obra(s), será(ão) adquirida(s) outra(s) obra(s) constante(s) na Resolução nº 49, do Conselho Deliberativo do FNDE. 221 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL 4.3. Da Produção Após a assinatura do instrumento próprio, os titulares de direito autoral estarão aptos a iniciar a produção da(s) obra(s), de acordo com a(s) ficha(s) do(s) livro(s) constante do Anexo III. 4.3.1. Do Controle de Qualidade Por ocasião da produção das obras, o FNDE, ou a instituição por ele contratada para esse fim, poderá realizar Controle de Qualidade, mediante amostragem definida na NBR 5426/1 985 – ABNT, que consistirá na análise dos itens de conformidade constantes do “Manual de Instrução para o Controle de Qualidade” estabelecido pelo FNDE. 4.4. Da Entrega A(s) obra(s) produzida(s) deverá(ão) ser entregue(s) para postagem, diretamente pelos contratados, à empresa definida pelo FNDE como responsável pela distribuição, exceto os livros referentes à Ação “Biblioteca Escolar” que deverão ser entregues no depósito do FNDE, em Brasília/DF, por conta da Editora, conforme instruções operacionais a serem fornecidas no momento da negociação. 5. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 5.1. A inscrição da apresentação da(s) obra(s) no PNBE/2003 – Ação “Biblioteca do Professor”/ Ação “Biblioteca Escolar” implica aceitação, pelo participante, de forma integral e irretratável dos termos deste Edital, bem como da legislação aplicável, especialmente em matéria de direito autoral, não cabendo controvérsias posteriores. 5.2. O titular de direito autoral deve manter toda a documentação atualizada durante o período de execução do contrato. 5.3 A simples participação no processo de inscrição das obras de literatura não implica obrigação de contratação por parte do FNDE/MEC, que poderá, a qualquer tempo, desde que devidamente comprovado por razões de interesse público, decorrentes de fato superveniente, de forma justificada, revogar, total ou parcialmente, o presente processo. 222 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL 5.4 Eventuais pedidos de esclarecimentos devem ser dirigidos ao: FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – FNDE Setor Bancário Sul, Quadra 2, Bloco "F", Edifício Áurea, 14.º Andar – Sala 1.404 – CEP: 70070-929 – Brasília–DF. Telefones: (61) 212-4280 e 212-4210 e Fax: (061) 212-4193 (horário comercial) 5.5 Fica expressamente vedada a utilização das logomarcas oficiais do Ministério da Educação, de seus órgãos, autarquias ou fundações vinculadas, bem como do PNBE, para efeito de propaganda e publicidade, em especial aquelas que, de alguma forma, induzam ao entendimento de que os livros objeto da propaganda, publicidade ou divulgação sejam recomendados preferencialmente pelo Ministério da Educação para adoção nas escolas, em detrimento de outros. 5.6 Situações não previstas neste Edital serão analisadas pelo FNDE e pela SEIF, de acordo com as suas competências e com a natureza do assunto. 5.7 Integram o presente Edital, os seguintes anexos: a) Anexo I – Relação dos Títulos constantes da Resolução n.º 49/2003/CD/FNDE/M EC; b) c) d) e) Anexo II – Ficha Cadastral; Anexo III – Ficha do Livro; Anexo IV – Declaração de Fato Impeditivo; Anexo V – Declaração de Não Empregar Menor. Brasília, de novembro de 2003. ANTONIO RAIMUNDO S. RIBEIRO COIMBRA Presidente Substituto – FNDE MARIA JOSÉ FERES Secretária de Educação Infantil e Fundamental MEC 223 ANEXO I RELAÇÃO DOS TÍTULOS FICÇÃO - PROSA Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 LIVRO A Bagaceira A Festa A Madona de Cedro A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água A Paixão Segundo G.H. Angústia Auto da Compadecida Capitães de Areia Cidades Mortas Ciranda de Pedra Contos Reunidos Crônica da Casa Assassinada Duzentas Crônicas Escolhidas Fogo Morto Gabriela Cravo e Canela Grande Sertão: Veredas Lavoura Arcaica Manuelzão e Miguilim (Corpo de Baile) Mar Morto Marques Rebelo: Os Melhores Contos Memorial de Maria Moura Memórias do Cárcere (vol. 1) Memórias do Cárcere (vol. 2) Menino de Engenho No Urubuquaquá, no Pinhém (Corpo de Baile) Noites do Sertão (Corpo de Baile) Nove, Novena O Coronel e o Lobisomem O Encontro Marcado O Mulo O Quinze O Tempo e o Vento - O Arquipélago (vol. 1) O Tempo e o Vento - O Arquipélago (vol. 2) O Tempo e o Vento - O Arquipélago (vol. 3) O Tempo e o Vento - O Continente (vol. 1) O Tempo e o Vento - O Continente (vol. 2) O Tempo e o Vento - O Retrato (vol. 1) O Tempo e o Vento - O Retrato (vol. 2) O Vampiro de Curitiba Ópera dos Mortos Os Cavalinhos de Platiplanto Os Tambores de São Luís Perto do Coração Selvagem Quarup Quase Memória República dos Sonhos Sagarana Serafim Ponte Grande AUTOR José Américo de Almeida Ivan Ângelo Antonio Callado Jorge Amado Clarice Lispector Graciliano Ramos Ariano Suassuna Jorge Amado Monteiro Lobato Lygia Fagundes Telles Rubem Fonseca Lúcio Cardoso Rubem Braga José Lins do Rego Jorge Amado João Guimarães Rosa Raduan Nassar João Guimarães Rosa Jorge Amado Marques Rebelo Rachel de Queiroz Graciliano Ramos Graciliano Ramos José Lins do Rego João Guimarães Rosa João Guimarães Rosa Osman Lins José Cândido de Carvalho Fernando Sabino Darcy Ribeiro Rachel de Queiroz Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo Dalton Trevisan Autran Dourado José J. Veiga Josué Montello Clarice Lispector Antonio Callado Carlos Heitor Cony Nélida Piñon João Guimarães Rosa Oswald de Andrade Nº DE VOLUMES 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 224 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 Sítio do Picapau Amarelo: A Chave do Tamanho Sítio do Picapau Amarelo: A Reforma da Natureza Sítio do Picapau Amarelo: Aritmética da Emília Sítio do Picapau Amarelo: Aventuras de Hans Staden Sítio do Picapau Amarelo: Caçadas de Pedrinho Sítio do Picapau Amarelo: Dom Quixote das Crianças Sítio do Picapau Amarelo: Emília no País da Gramática Sítio do Picapau Amarelo: Fábulas Sítio do Picapau Amarelo: Geografia de Dona Benta Sítio do Picapau Amarelo: História das Invenções Sítio do Picapau Amarelo: Histórias de Tia Nastácia Sítio do Picapau Amarelo: Histórias Diversas Sítio do Picapau Amarelo: Histórias do Mundo para Crianças Sítio do Picapau Amarelo: Memórias da Emília Sítio do Picapau Amarelo: O Minotauro Sítio do Picapau Amarelo: O Poço do Visconde Sítio do Picapau Amarelo: O Picapau Amarelo Sítio do Picapau Amarelo: O Saci Sítio do Picapau Amarelo: Os Doze Trabalhos de Hércules – 1a6 Sítio do Picapau Amarelo: Os Doze Trabalhos de Hércules – 7 a 12 Sítio do Picapau Amarelo: Reinações de Narizinho Sítio do Picapau Amarelo: Serões de Dona Benta Sítio do Picapau Amarelo: Viagem ao Céu Teatro Completo: Peças Míticas Teatro Completo: Peças Psicológicas Urupês Vidas Secas Vila dos Confins Viva o Povo Brasileiro Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Monteiro Lobato 1 Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato 1 1 1 1 1 Monteiro Lobato 1 Monteiro Lobato 1 Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Nelson Rodrigues Nelson Rodrigues Monteiro Lobato Graciliano Ramos Mário Palmério João Ubaldo Ribeiro 1 1 1 1 1 1 1 1 1 FICÇÃO - POESIA Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 LIVRO Antologia de Antologias: 101 Poetas Brasileiros Revisitados Antologia Poética Antologia Poética Cobra Norato Obras Completas: A Educação pela Pedra e Depois Obras Completas: Serial e Antes Obras Completas: Prosa Poesia Completa (vol. 1) Poesia Completa (vol. 2) Poesia Completa (vol. 3) Poesia Completa (vol. 1) Poesia Completa (vol. 2) Poesia Completa (vol. 3) Poesia Completa (vol. 4) Poesia Completa e Prosa: A Arca de Noé AUTOR Magaly Trindade Gonçalves - Zélia Thomaz de Aquino – Zina Bellodi Silva Carlos Drummond de Andrade Mário Quintana Raul Bopp João Cabral de Melo Neto João Cabral de Melo Neto João Cabral de Melo Neto Jorge de Lima Jorge de Lima Jorge de Lima Cecília Meireles Cecília Meireles Cecília Meireles Cecília Meireles Vinícius de Moraes Nº DE VOLUMES 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 225 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Poesia Completa e Prosa: Antologia Poética Poesia Completa e Prosa: Livros de Sonetos Poesia Completa e Prosa (vol. 1) Poesia Completa e Prosa (vol. 2) Poesia Completa e Prosa (vol. 3) Poesia Completa e Prosa (vol. 4) Poesia Completa e Prosa: Estrela da Vida Inteira Poesia Completa e Prosa: Seleta de Prosa Toda Poesia – 1950-1987 Vinícius de Moraes Vinícius de Moraes Murilo Mendes Murilo Mendes Murilo Mendes Murilo Mendes Manuel Bandeira Manuel Bandeira Ferreira Gullar 1 1 1 1 1 1 1 1 1 NÃO FICÇÃO Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 LIVRO AUTOR A Formação das Almas: O Imaginário da República no José Murilo de Carvalho Brasil A Literatura no Brasil: Generalidades Afrânio Coutinho A Literatura no Brasil: Era Barroca/Era Neoclássica Afrânio Coutinho A Literatura no Brasil: Era Romântica Afrânio Coutinho A Literatura no Brasil: Era Realista/Era de Transição Afrânio Coutinho A Literatura no Brasil: Era Modernista Afrânio Coutinho A Literatura no Brasil: Relações e Perspectivas Afrânio Coutinho Arquitetura Brasileira Carlos A. C. Lemos Artistas Coloniais Rodrigo de Melo Franco As Razões do Iluminismo Sérgio Paulo Rouanete Carnavais, Malandros e Heróis Roberto Augusto Damatta Casa Grande e Senzala Gilberto Freyre Coronelismo, Enxada e Voto Victor Nunes Leal De Anchieta a Euclides José Guilherme Merquior Diários Índios: Os Urubus-Kaapor Darcy Ribeiro Formação do Brasil Colonial Maria José C. de Wehling/Arno Wehling Formação do Brasil Contemporâneo Caio Prado Júnior Formação Econômica do Brasil Celso Furtado Hisória Econômica do Brasil Caio Prado Júnior História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - A Época Colonial. Do Descobrimento à Expansão Territorial – Tomo 1 – vol. 1 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - A Época Colonial. Administração, Economia e Sociedade – Tomo 1 – vol. 2 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - O Brasil Monárquico. O Processo de Emancipação – Tomo 2 – vol. 1 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - O Brasil Monárquico. Dispersão e Unidade – Tomo 2 – vol. 2 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - O Brasil Monárquico. Reações e Transações – Tomo 2 – vol. 3 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - O Brasil Monárquico. Declínio e Queda do Império – Tomo 2 – vol. 4 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda - O Brasil Monárquico. Do Império à República – Tomo 2 – vol. 5 História Geral da Civilização Brasileira: Sérgio Buarque de Holanda Nº DE VOLUMES 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 226 - O Brasil Republicano. Estrutura de Poder e Economia – Tomo 3 – vol. 1 28 História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Republicano. Sociedade e Instituições – Tomo 3 – vol. 2 29 História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Republicano. Sociedade e Política – Tomo 3 – vol. 3 30 História Geral da Civilização Brasileira: O Brasil Republicano. Economia e Cultura – Tomo 3 – vol. 4 31 Mauá – Empresário do Império 32 Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos 33 Música Popular: Um Tema em Debate 34 O Brasil Nação 35 O Panorama do Segundo Império 36 Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi 37 Os Donos do Poder (vol. 1) 38 Os Donos do Poder (vol. 2) 39 Os Parceiros do Rio Bonito 40 Panorama do Teatro Brasileiro 41 Raízes do Brasil 42 Sobrados e Mucambos 43 Um Mestre na Periferia do Capitalismo 44 Visão do Paraíso TOTAL GERAL Sérgio Buarque de Holanda 1 Sérgio Buarque de Holanda 1 Sérgio Buarque de Holanda 1 Jorge Caldeira Ecléa Bosi José Ramos Tinhorão Manoel Bonfim Nelson Werneck Sodré José Murilo de Carvalho Raymundo Faoro Raymundo Faoro Antonio Cândido Sábato Magaldi Sérgio Buarque de Holanda Gilberto Freyre Roberto Schwarz Sérgio Buarque de Holanda 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 145 227 ANEXO II FICHA CADASTRAL (OBS.: ENCAMINHAR DUAS VIAS DESTA FICHA CADASTRAL) 1. EMPRESA 2. NOME FANTASIA 3. CNPJ 4. ENDEREÇO 5. BAIRRO 6. CIDADE 7. UF 8. CEP 9. DDD 10.TELEFONE 11. FAX 12. E-MAIL PARA CONTATOS CONTRATUAIS DA EDITORA 13. BANCO 14. CIDADE 15. UF 16. AGÊNCIA 17. CONTA CORRENTE 18. REPRESENTANTE CREDENCIADO (PARA ASSINATURA DE CONTRATO) 19. CART. DE IDENTIDADE 20. ORG. EMIS. 21. CPF 22. REPRESENTANTE CREDENCIADO (PARA ASSINATURA DE CONTRATO) 23. CART. DE IDENTIDADE 24. ORG. EMIS. 25. CPF 26. REPRESENTANTE CREDENCIADO (DE BRASÍLIA) 27. CART. DE IDENTIDADE 30. DDD 31.TELEFONE 28. ORG. EMIS. 32. FAX 29. CPF 228 ANEXO III FICHA DO LIVRO EDITORA: TÍTULO/NOME DO LIVRO/VOL.: AUTOR: CAPA Papel: Tipo: Gramatura: ACABAMENTO Tipo: MIOLO Papel: Gramatura: Espessura: Tipo de Lombada Tipo de revestimento: Plastificado Verniz UV Outro (especificar) Canoa IMPRESSÃO Quadrada Tipo de fixação do miolo: Costura de linha Termo-costura Costura de Cola Grampeado Colado (PUR) Outro (especificar) N.º de cores: N.º de páginas: a 1 cor a 3 cores a 2 cores a 4 cores Total de páginas do miolo: Largura em mm: FORMATO Altura em mm: Espessura em mm: PESO Opacidade: Em gramas: Observação: essas especificações serão obrigatórias por ocasião da produção e entrega dos livros. 229 ANEXO IV DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE FATOS IMPEDITIVOS (MODELO A SER FIRMADO EM PAPEL TIMBRADO DA EMPRESA) (Nome da empresa) ____________________, CNPJ n.º_____________________ sediada _____________ (endereço completo), declara sob as penas da lei que, até a presente data, inexistem fatos impeditivos para sua habilitação no processo de aquisição de obras literárias para o Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE/2003 – Ação “Biblioteca do Professor”/Ação “Biblioteca Escolar”, ciente da obrigatoriedade de declarar ocorrências posteriores. Local e Data ______________________________ Nome e identidade do Declarante 230 ANEXO V DECLARAÇÃO DE NÃO EMPREGAR MENOR (MODELO A SER FIRMADO EM PAPEL TIMBRADO DA EMPRESA) Ref.: inscrição de obra(s) para o PNBE/2003 (Nome da empresa) n.º_____________________, por ____________________, intermédio de seu inscrita no representante legal, CNPJ o (a) Sr.(a)_________________, portador(a) da Carteira de Identidade nº _______ e do CPF nº ______________, DECLARA, para fins do disposto no inciso V do art. 27 da Lei nº 8.666/93, de 21 de junho de 1993, acrescido pela Lei nº 9854, de 27 de outubro de 1999, que não emprega menor de dezoito anos em trabalho noturno, perigoso ou insalubre e não emprega menor de dezesseis anos. Ressalva: emprega menor, a partir de quatorze anos, na condição de aprendiz ( ). _________________________ (data) ______________________________ (representante legal) (Observação: em caso afirmativo, assinalar a ressalva acima) 231 ANEXO 8 – TÍTULOS DO ACERVO DO PNBE/2003 Literatura em Minha Casa – 4ª série Titular do Direito Autoral AGIR EDITORA Código da Coleção 7679 Código Título do Livro do Livro 214453 Nossos Poetas Clássicos 214454 Contos de Ontem e de Hoje GLOBAL EDITORA E DISTRIBUIDORA LTDA 7566 7670 SANDRONI, Luciana 214456 O Pequeno Príncipe 214457 Histórias Daqui e Dali SAINT-EXUPÉRY, Antoine de MELLO, Roger; BARBOSA, Rogério Andrade; ÉBOLI, Terezinha. MEIRELES, Cecília; BANDEIRA, Manuel, LISBOA, Henriqueta; QUINTANA, Mario; COLASANTI, Marina; BILAC, Olavo; LEMINSKI, Paulo; MORAES, Antonieta Dias de; GULLAR, Ferreira; CORALINA, Cora; MURALHA, Sidónio; ALMEIDA, Guilherme de CORALINA, Cora; CASCUDO, Luís da Câmara; STEEN, Edla Van; SCLIAR, Moacyr; ORTHOF, Sylvia; MUNDURUKU, Daniel; FURNARI, Eva. LOBATO, Monteiro PERRAULT, Charles CASCUDO, Luís da Câmara AZEVEDO, Ávares de;BILAC, Olavo; CARVALHO, Vicente; ALVES, Castro; CORALINA, Cora; BANDEIRA, Manuel; GALENO, Juvenal; FERREIRA, Ascenso; QUEIROZ, Rachel de; CARVALHO, Hermínio Bello de; MEIRELES, Cecília;VADICO; ROSA, Noel; VERGUEIRO, Carlinhos; BARBOSA, Adonirar;BOSCO, João; BLANC, Aldir. SCLIAR, Moacyr; YAMÃ, Yaguarê; BARRETO, Lima; ORTHOF, Sylvia; SOUSA, Inglês de. DIAFÉRIA, Lourenço TROYES, Chrétien de; MONMOUTH, Godofredo de e Autores Anônimos da Idade Média. STAHEL, Monica CUNHA, Leo; MELLO, Ricardo; ANTUNES, Arnaldo; SAVARY, 214141 Caminho da Poesia 214143 Caçadas de Pedrinho 214144 A Bela Adormecida no Bosque 214145 Contos Tradicionais do Brasil 214410 Trem de Alagoas e outros Poemas 214411 Puratig - O Remo Sagrado e outros 214412 O Empinador de Estrela 214413 Lendas dos Cavaleiros da Távola Redonda MELHORAMENTOS DE SÃO PAULO 7682 ABREU, Casimiro; VARELA, Fagundes; ALVES, Castro; CORREIA, Raimundo; BILAC, Olavo; CARVALHO, Vicente de; ASSIS, Machado de. BARRETO, Lima; BOJUNGA, Lygia; CUNHA, Leo. 214455 Ludi vai à Praia 214142 Conto com Você LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA Autor(es) 214414 Quatro Mitos Brasileiros 214469 Poesia Quando Nasce... 232 LIVRARIAS LTDA 214470 Os Contadores de Histórias EDITORA MODERNA LTDA 7426 214471 Uma professora muito Maluquinha 214472 Os Três Mosqueteiros 214473 A Linguagem da Mata 214090 Gotas de Poesia 214091 Nem te Conto! NEWTEC EDITORA LTDA EDITORA NOVA FRONTEIRA S/A 7681 214092 A Droga da Obediência 214093 Chapeuzinho Vermelho 214094 O Menino Narigudo 214464 Poesia Fora da Estante 7569 214465 Histórias do Bruxo Cosme Velho 214466 Os Meninos da Rua da Praia 214467 Uma História de Natal 214468 A Fada que tinha Idéias 214155 Poesia das Crianças 214156 Meninos e Meninas EDITORA OBJETIVA LTDA 7593 214157 Do Outro Lado tem Segredos 214158 Clássicos de Verdade:Mitos e Lendas Greco-Romanas 214159 Os Cigarras e os Formigas 214215 Poemas do Mar 214216 Contos da Escola 214217 Uólace e João Victor Flávia; ZIRALDO; LARIDA, Brunhilde Ilka; ANDRADE, Carlos Drummond de; LISBOA, Henriqueta; ANDRADE, Mário de; CARVALHO, Ronald de; ALMEIDA, Guilherme de; SOUSA, Auta, BILAC, Olavo; ALVES, Castro; ABREU, Casimiro de. BANDEIRA, Pedro; CUNHA, Leo; CARRASCOZA, João Anzanello; PINSKY, Mirna; COLASANTI, Marina; BARBOSA, Rogério And rade. ZIRALDO DUMAS, Alexandre FITTIPALDI, Ciça SOUZA, Angela Leite de; QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de; JOSÉ, Elias; ORTHOF, Sylvia. MACHADO, Ana Maria; LAGO, Angela; QUEIRÓs, Bartolomeu Campos de; FURNARI, Eva; MURRAY, Roseana. BANDEIRA, Pedro BARRO, João de CARRASCO, Walcyr CAMARGO, Dilan; JOSÉ, Elias; FERNANDES, Millôr; LEMINSKI, Paulo; AYALA, Walmir e outros. ASSIS, Machado de CAPPARELLI, Sérgio DICKENS, Charles ALMEIDA, Fernanda Lopes de ABREU, Casimiro de; BILAC, Olavo; AZEVEDO, Artur; MANGABEIRA, Francisco; FREIRE, Junqueira; JÚNIOR, Luís Guimarães; B.LOPES; VARELA, Fagundes; TIGRE, Bastos; JÚLIA, Francisca; SILVA, Júlio César da; ARINOS, Afonso; MEIRELES, Cecília; BANDEIRA, Manuel; NETO, João Cabral de Melo; ORTHOF, Sylvia; CIÇA. ROCHA, Ruth;MACHADO, Ana Maria; ROBATTO, Sonia. MACHADO, Ana Maria ESOPO; PLUTARCO; APULEIO; OVÍDIO. MACHADO, Maria Clara MACHADO, Ana Maria; PALLOTTINI, Renata; CAYMMI, Dorival; CASACO; CARVALHO, Vicente de; ABREU, Casimiro de. TELLES, Lygia Fagundes; ORTHOF, Sylvia; CUNHA, Leo; CONY, Carlos Heitor; SCLIAR, Moacyr; BANDEIRA, Pedro; LIMA, Edy; FLORA, Anna. STRAUSZ, Rosa Amanda 233 214218 Tom Sawyer 214219 Baile do Menino Deus QUINTETO EDITORIAL LTDA 7629 214352 Bichos de Versos 214353 Ciranda de Contos SALAMANDRA EDITORIAL LTDA 7486 214354 Palavras, Palavrinhas & Palavrões 214355 Tom Sawyer Detetive 214356 O Cavalo Transparente 214110 Fazedores de Amanhecer 214111 Contos para Rir e Sonhar 214112 Raul da Ferrugem Azul 214113 As Loucas Aventuras do Barão de Munchausen 214114 Dois Corações e Quatro Segredos TWAIN, Mark BRITO,Ronaldo Correia de; LIMA, Assis GULLAR, Ferreira; CLAVER, Ronald; RÓNAI, Cora; TAVARES, Ulisses; MOISÉS, Carlos Felipe; CAMPOS, Haroldo de; ALMEIDA, Guilherme de; ASSIS, Machado de; VARELA, Fagundes. Rocha, Ruth; FERNANDES, Millôr; COLASANTI, Marina; MACHADO, Antônio de Alcântara. MACHADO, Ana Maria TWAIN, Mark ORTHOF, Sylvia MASSI, Augusto; PAES, José Paulo; BARROS, Manoel de; SILVESTRIN, Ricardo; BELINKY, Tatiana; MELLO, Thiago de. ROCHA, Ruth e ORTHOF, Sylvia MACHADO, Ana Maria RASPE, Rudolph Erich ANDRETA, Beto; IACOCCA, Liliana. Literatura em Minha Casa – 8ª série Titular do Direito Autoral EDITORA ÁTICA Código da Coleção Código do Livro Título do Livro Autor(es) 7599 214245 Na Onda dos Versos CESAR, Ana Cristina; ANTUNES, LTDA EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA Arnaldo; PAES, José Paulo; 7614 214246 O Peru de Natal e Outras Histórias 214247 214248 214321 O Vampiro que Descobriu o Bra sil O Fingidor Os Estatutos do Homem 214322 As Eternas Coincidências ANDRADE, Mário de; LEMINSKI, Paulo. ANDRADE, Carlos Drummond; PELLEGRINI, Domingos; BARRETO, Lima; DIAFÉRIA, Lourenço; VERÍSSIMO, Luís Fernando; TELLES, Lygia Fagundes; COLASANTI, Marina; ANDRADE, Mário de. JAF, Ivan YAZBEK, Samir MELLO, Thiago de CAMPOS, Paulo Mendes; VEIGA, José J. 234 EDITORA SCHWARCZ LTDA GLOBAL EDITORA E DISTRIBUIDORA LTDA 7547 7568 214323 214324 214137 Homens e Caranguejos O Pagador de Promessas Receita de Poesia CASTRO, Josué de GOMES, Dias MORAES, Vinicius de 214138 Pipocas 214139 214140 214151 A Metamorfose O Diamante do Grão-Mogol Tempo de Poesia 214152 Deixa que eu Conto SCLIAR, Moacyr; FONSECA, Rubem; MIRANDA, Ana. KAFKA, Franz MACHADO, Maria Clara LISBOA, Henriqueta; PAES, José Paulo; MEIRELES, Cecília; CAPPARELLI, Sérgio; GRUSZYNSKI, Ana Cláudia; CORALINA, Cora; QUINTANA, Mario; LIMA, Jorge de; COLASANTI, Marina; LEMINISKI, Paulo; AZEVEDO, Álvares de; GULLAR, Ferreira; BANDEIRA, Manuel; ROCHA, Ruth. QUINTANA, Mario; CORALINA, Cora; BANDEIRA Manuel; BRANDÃO, Ignácio de Loyola; MEIRELES, Cecília; TELLES, Lygia Fagundes; ANDRADE, Carlos Drummond de; COLASANTI, Marina; QUEIROZ Rachel de; CASCUDO, Luís da Câmara; MUNKURUDU, Daniel. 214153 EDITORA JOSE OLYMPIO LTDA 7706 214154 214586 SCLIAR, Moacyr SHAKESPEARE, William DIAS, Gonçalves; ASSIS, Machado de; BILAC, Olavo; GUIMARAENS, Alphonsus de; ANDRADE, Carlos Drummond de; MEIRELES, Cecília; QUINTANA, Mario; PRADO, Adélia; BARROS, Manoel de; GULLAR, Ferreira; CACASO; CARNEIRO, Geraldo; CHACAL; AZEVEDO, Carl ito. 214587 LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA Um Sonho no Caroço de Abacate Sonho de uma noite de Verão Poesia Sempre 7671 Nossas Palavras ANDRADE, Carlos Drummond de; CAMPOS, Paulo Mendes; BRAGA, Rubem; SABINO, Fernando; ASSIS, Machado de; LESSA Orígenes; QUEIROZ Rachel de; BARRETO, Lima; VILELA, Luiz; AZEVEDO, Artur. 214588 214589 214415 Menino de Engenho O Santo e a Porca Discurso de um Sonho e Outros Poemas REGO, José Lins do SUASSUNA, Ariano MATOS, Gregório de; GAMA, Basílio da; DIAS, Gonçalves; AZEVEDO, Álvares de; VARELA, Fagundes; ALVES, Castro; BILAC, Olavo; GUIMARAENS, Alphonsus de; ANJOS, Augusto dos; BANDEIRA, Manuel; FERREIRA, Ascenso; MEIRELES, Cecília; VADICO; ROSA, Noel; BOSCO, João; BLANC, Aldir; CAYMMI, Dorival. 214416 O Novo Manifesto VERÍSSIMO, Érico; ASSIS, Machado de; MEIRELES, Cecília; BARRETO, Lima; MARIA, Antônio. 235 MELHORAMENTOS SÃO PAULO LIVRARIAS LTDA. COMPANHIA EDITORA NACIONAL 7687 7701 214417 214418 214487 Ubirajara As Mãos de Eurídice Amores Diversos 214488 Olhar de Descoberta 214489 214490 214558 214559 SALAMANDRA EDITORIAL LTDA. EDITORA SCIPIONE LTDA 7507 214560 214561 214119 ALENCAR, José de BLOCH, Pedro ANTUNES, Arnaldo; PALLOTTINI, Renata; SAVARY, Flávia; QUINTANA, Mario; ANDRADE, Oswald de; ANDRADE, Mário de; BILAC, Olavo; ABREU, Casimiro de; DIAS, Gonçalves; GONZAGA, Tomás Antônio; CARRASCOZA, João Anzanello; MARINHO, Jorge Miguel; BRANDÃO, Ignácio de Loyola; SCLIAR, Moacyr; CUNHA, Leo; LAURITO, Ilka Brunhilde; RIO, João do; ASSIS, Machado de. Vito Grandam - Uma História de Vôos ZIRALDO Sonho de uma Noite de Verão SHAKESPEARE, William A Descoberta do Amor em ABREU, Casimiro de; DIAS, Versos Gonçalves; ALVES, Castro; SOUZA, Cruz e; GUIMARAENS, Alphonsus de; BILAC, Olavo; CARVALHO, Vicente de; AZEVEDO, Álvares de; VARELA, Fagundes; ASSIS, Machado de. A Descoberta do Amor em Prosa Raptado O Judas em Sábado de Aleluia Conversa de Poeta JOSÉ, Elias; ASSIS, Machado de; PRATA, Mario. STEVENSON, Robert Louis PENA, Martins AZEVEDO, Álvares de; ANJOS, Augusto dos; ALVES, Castro; MATOS, Gregório de; PAES, José Paulo; BARROS, Manoel de; COSTA, Mônica Rodrigues; MENDES, Murilo; LEMINSKI, Paulo; CARVALHO, Ronald de; MURRAY, Roseana; SOUSÂNDRADE. 7667 214120 Do Conto à Crônica 214121 214122 214396 Pra que Serve? A Aurora da Minha Vida Ofício de Poeta Cunha, Leo; ASSIS, Machado de; COELHO, Marcelo; SCLIAR, Moacyr; BLOISE, Paulo; QUEIROZ, Rachel de. ROCHA, Ruth SOUZA, Naum Alves de AZEVEDO, Álvares de; ALVES, Castro; CAMARGO, Dilan; MATOS, Gregório de; LISBOA, Henriqueta; PAES, José Paulo; DUCLÓS, NEI; FACHINELLI, Nelson; BILAC, Olavo; ASSARÉ, Patativa do; BECKER, Paulo; BENTANCUR, Paulo; BERNY, Rossyr; VARGAS, Suzana; LOPES, Tânia; GONZAGA, Tomás Antônio. 214397 Histórias de Humor 214398 Aprendendo a Amar- e a Curar As Aventuras de Ripió Lacraia 214399 AZEVEDO, Aluísio; MACHADO, Antônio de Alcântara; AZEVEDO, Artur; RAMOS, Graciliano; RIO, João do; BARRETO, Lima; VERÍSSIMO, Luis Fernando; FERNANDES, Millôr; PRETA, Stanislaw Ponte. SCLIAR, Moacyr ASSIS, Chico de 236 Palavra da Gente – EJA Titular do Direito Autoral EDITORA MODERNA LTDA Código da Coleção 7594 Código do Livro 214220 Título do Livro Autor(es) A Importância do Ato de Ler FREIRE, Paulo 214221 Leituras da Vida 214222 214223 Proezas de João Grilo Poesia Romantica Brasileira PELEGRINI, Domingos; JOSÉ, Elias; DIAFÉRIA, Lourenço; ASSIS, Machado de; BILAC, Olavo; ALVES, Rubem. LIMA, João Ferreira AZEVEDO, Álvares de; ABREU, Casimiro de; ALVES, Castro; VARELA, Fagundes; DIAS, Gonçalves; GONDIN, Isabel; GALENO, Juvenal; GAMA, Luís; JR., Luís Guimarães; AMÁLIA, Narcisa; AUGUSTA, Nísia Floresta Bras ileira. 214224 214225 NEWTEC EDITORA LTDA EDITORA ROCCO LTDA EDITORA SCIPIONE LTDA 7693 7677 7668 214519 O Burguês Fidalgo A Viagem de Cabral na Carta de Caminha A Violência que Oculta a Favela MOLIÈRE TUFANO, Douglas PEDROSA, Fernanda; NOEL, Francisco Luis; ERNESTO, Luarlindo; PUGLIESE, Sérgio. ABREU, Caio Fernando; TREVISAN, Dalton; ANTÔNIO, João; TELLES, Lygia Fagundes; SCLIAR, Moacyr; RUBIÃO, Murilo; PIÑON, Nélida; FARACO, Sergio. J. BORGES 214520 Histórias de Grandeza e de Miséria 214521 Dicionário dos Sonhos e outras Histórias de Cordel 214522 Na Boca do Povo - Poesias da Memória Brasileira 214523 A Greve do Sexo - Lisístrata 214524 Brasil: Terra à Vista! A aventura Ilustrada do Descobrimento O que é o Brasil? BUENO, Eduardo 214443 Pequenas Descobertas do Mundo LISPECTOR, Clarice 214444 ROMERO, Silvio de 214445 ABC do Lavradoe e outros Cantos Três Homens Falam de Amor 214446 A Beata Maria do Egito 214447 Anita Garibaldi - Estrela da Tempestade Um Olhar Sobre a Saúde Pública Histórias de Fantasia e M istério 214442 214400 214401 AZEVEDO, Álvares de; ABREU, Casimiro de; ALVES, Castro; VARELA, Fagundes; DIAS, Gonçalves; BILAC, Olavo. Aristófanes DAMATTA, Roberto SANT'ANNA, Affonso Romano; BANDEIRA, Manuel; BILAC, Olavo QUEIROZ, Rachel de PRIETO, Heloisa SCLIAR, Moacyr GUIMARÃES, Bernardo; BARRETO, Lima; RUBIÃO, M urilo; LESSA, Orígenes; BRAGA, Rubem 237 214402 Histórias Folclóricas de Medo e de Quebranto AZEVEDO, Ricardo 214403 Canções do Brasil AZEVEDO, Álvares de; ANJOS, Augusto dos; HELIODORA, Bárbara; ABREU, Casimiro de; ALVES, Castro; VARELA, Fagundes; MAGALHÃES, Gonçalves de; DIAS, Gonçalves; LISBOA, Henriqueta; PAES, José Paulo; MENDES, Murilo; BILAC, OLAVO; EIRÓ, Paulo; CAMPOS, Paulo Mendes. 214404 Uma Pátria que Eu Tenho 214405 Pixinguinha, Menino bom que se tornou Imortal BONASSI, Fernando; NAVAS, Victor. ROSA, Nereide Schilaro Santa Biblioteca do Professor e Biblioteca Escolar 1. A Bagaceira LIVRO AUTOR José Américo de Almeida 2. A Festa Ivan Ângelo 3. A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil José Murilo de Carvalho 4. A Literatura no Brasil: Era Barroca/Era Neoclássica Afrânio Coutinho 5. A Literatura no Brasil: Era Modernista Afrânio Coutinho 6. A Literatura no Brasil: Era Realista/Era de Transição Afrânio Coutinho 7. A Literatura no Brasil: Era Romântica Afrânio Coutinho 8. A Literatura no Brasil: Generalidades Afrânio Coutinho 9. A Literatura no Brasil: Relações e Perspectivas Afrânio Coutinho Nº 10. A Madona de Cedro 11. A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água Antonio Callado 12. A Paixão Segundo G.H. 13. Angústia Clarice Lispector Antologia de Antologias: 101 Poetas Brasileiros Revisitados 14. 15. Antologia Poética 16. Antologia Poética Jorge Amado Graciliano Ramos Magaly Trindade Gonçalves - Zélia Thomaz de Aquino – Zina Bellodi Silva Carlos Drummond de Andrade Mário Quintana 17. Arquitetura Brasileira 18. Artistas Coloniais Carlos A. C. Lemos 19. As Razões do Iluminismo 20. Auto da Compadecida Sérgio Paulo Rouanete 21. Capitães de Areia 22. Carnavais, Malandros e Heróis Jorge Amado 23. Casa Grande e Senzala 24. Cidades Mortas Gilberto Freyre 25. Ciranda de Pedra 26. Cobra Norato Lygia Fagundes Telles 27. Contos Reunidos Rubem Fonseca Rodrigo de Melo Franco Ariano Suassuna Roberto Augusto Damatta Monteiro Lobato Raul Bopp 238 28. Coronelismo, Enxada e Voto 29. Crônica da Casa Assassinada Victor Nunes Leal 30. De Anchieta a Euclides (título não negociado no PNBE/2003) 31. Diários Índios: Os Urubus-Kaapor José Guilherme Merquior 32. Duzentas Crônicas Escolhidas 33. Fogo Morto Rubem Braga 34. Formação do Brasil Colonial Lúcio Cardoso Darcy Ribeiro José Lins do Rego Maria José C. de Wehling/Arno Wehling 35. Formação do Brasil Contemporâneo 36. Formação Econômica do Brasil Caio Prado Júnior 37. Gabriela Cravo e Canela 38. Grande Sertão: Veredas Jorge Amado 39. Hisória Econômica do Brasil Caio Prado Júnior História Geral da Civilização Brasileira: - A Época Colonial. 40. Administração, Economia e Sociedade – Tomo 1 – vol. 2 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - A Época Colonial. Do 41. Descobrimento à Expansão Territorial – Tomo 1 – vol. 1 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Monárquico. 42. Declínio e Queda do Império – Tomo 2 – vol. 4 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Monárquico. 43. Dispersão e Unidade – Tomo 2 – vol. 2 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Monárquico. Do 44. Império à República – Tomo 2 – vol. 5 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Monárquico. 45. Reações e Transações – Tomo 2 – vol. 3 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: O Brasil Republicano. 46. Economia e Cultura – Tomo 3 – vol. 4 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Republicano. 47. Estrutura de Poder e Economia – Tomo 3 – vol. 1 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Republicano. 48. Sociedade e Instituições – Tomo 3 – vol. 2 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira: - O Brasil Republicano. 49. Sociedade e Política – Tomo 3 – vol. 3 Sérgio Buarque de Holanda História Geral da Civilização Brasileira:- O Brasil Monárquico. O 50. Processo de Emancipação – Tomo 2 – vol. 1 51. Lavoura Arcaica Celso Furtado João Guimarães Rosa Sérgio Buarque de Holanda Raduan Nassar 52. Manuelzão e Miguilim (Corpo de Baile) 53. Mar Morto João Guimarães Rosa 54. Marques Rebelo: Os Melhores Contos 55. Mauá – Empresário do Império Marques Rebelo 56. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos 57. Memorial de Maria Moura Ecléa Bosi 58. Memórias do Cárcere (vol. 1) 59. Memórias do Cárcere (vol. 2) Graciliano Ramos 60. Menino de Engenho José Lins do Rego Jorge Amado Jorge Caldeira Rachel de Queiroz Graciliano Ramos 239 61. Música Popular: Um Tema em Debate 62. No Urubuquaquá, no Pinhém (Corpo de Baile) José Ramos Tinhorão 63. Noites do Sertão (Corpo de Baile) 64. Nove, Novena João Guimarães Rosa 65. O Coronel e o Lobisomem 66. O Encontro Marcado José Cândido de Carvalho 67. O Mulo 68. O Panorama do Segundo Império Darcy Ribeiro 69. O Quinze 70. O Tempo e o Vento - O Arquipélago (vol. 1) Rachel de Queiroz 71. O Tempo e o Vento - O Arquipélago (vol. 2) 72. O Tempo e o Vento - O Arquipélago (vol. 3) Érico Veríssimo 73. O Tempo e o Vento - O Continente (vol. 1) 74. O Tempo e o Vento - O Continente (vol. 2) Érico Veríssimo 75. O Tempo e o Vento - O Retrato (vol. 1) 76. O Tempo e o Vento - O Retrato (vol. 2) Érico Veríssimo 77. O Vampiro de Curitiba 78. Obras Completas: A Educação pela Pedra e Depois Dalton Trevisan 79. Obras Completas: Prosa 80. Obras Completas: Serial e Antes João Cabral de Melo Neto 81. Ópera dos Mortos 82. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi Autran Dourado 83. Os Cavalinhos de Platiplanto 84. Os Donos do Poder (vol. 1) José J. Veiga 85. Os Donos do Poder (vol. 2) 86. Os Parceiros do Rio Bonito Raymundo Faoro 87. Os Tambores de São Luís 88. Panorama do Teatro Brasileiro Josué Montello 89. Perto do Coração Selvagem 90. Poesia Completa (vol. 1) Clarice Lispector 91. Poesia Completa (vol. 1) 92. Poesia Completa (vol. 2) Cecília Meireles 93. Poesia Completa (vol. 2) 94. Poesia Completa (vol. 3) Cecília Meireles 95. Poesia Completa (vol. 3) 96. Poesia Completa (vol. 4) Cecília Meireles 97. Poesia Completa e Prosa (vol. 1) 98. Poesia Completa e Prosa (vol. 2) Murilo Mendes 99. Poesia Completa e Prosa (vol. 3) 100. Poesia Completa e Prosa (vol. 4) Murilo Mendes 101. Poesia Completa e Prosa: A Arca de Noé 102. Poesia Completa e Prosa: Antologia Poética Vinícius de Moraes 103. Poesia Completa e Prosa: Estrela da Vida Inteira 104. Poesia Completa e Prosa: Livros de Sonetos Manuel Bandeira João Guimarães Rosa Osman Lins Fernando Sabino Nelson Werneck Sodré Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo Érico Veríssimo João Cabral de Melo Neto João Cabral de Melo Neto José Murilo de Carvalho Raymundo Faoro Antonio Cândido Sábato Magaldi Jorge de Lima Jorge de Lima Jorge de Lima Cecília Meireles Murilo Mendes Murilo Mendes Vinícius de Moraes Vinícius de Moraes 240 105. Poesia Completa e Prosa: Seleta de Prosa 106. Quarup Manuel Bandeira 107. Quase Memória 108. Raízes do Brasil Carlos Heitor Cony 109. República dos Sonhos 110. Sagarana Nélida Piñon 111. Serafim Ponte Grande 112. Sítio do Picapau Amarelo: A Chave do Tamanho Oswald de Andrade 113. Sítio do Picapau Amarelo: A Reforma da Natureza 114. Sítio do Picapau Amarelo: Aritmética da Emília Monteiro Lobato 115. Sítio do Picapau Amarelo: Aventuras de Hans Staden 116. Sítio do Picapau Amarelo: Caçadas de Pedrinho Monteiro Lobato 117. Sítio do Picapau Amarelo: Dom Quixote das Crianças 118. Sítio do Picapau Amarelo: Emília no País da Gramática Monteiro Lobato 119. Sítio do Picapau Amarelo: Fábulas 120. Sítio do Picapau Amarelo: Geografia de Dona Benta Monteiro Lobato 121. Sítio do Picapau Amarelo: História das Invenções 122. Sítio do Picapau Amarelo: Histórias de Tia Nastácia Monteiro Lobato 123. Sítio do Picapau Amarelo: Histórias Diversas 124. Sítio do Picapau Amarelo: Histórias do Mundo para Crianças Monteiro Lobato 125. Sítio do Picapau Amarelo: Memórias da Emília 126. Sítio do Picapau Amarelo: O Minotauro Monteiro Lobato 127. Sítio do Picapau Amarelo: O Picapau Amarelo 128. Sítio do Picapau Amarelo: O Poço do Visconde Monteiro Lobato 129. Sítio do Picapau Amarelo: O Saci Monteiro Lobato 130. Sítio do Picapau Amarelo: Os Doze Trabalhos de Hércules – 1 a 6 131. Sítio do Picapau Amarelo: Os Doze Trabalhos de Hércules – 7 a 12 Monteiro Lobato Monteiro Lobato 132. Sítio do Picapau Amarelo: Peter Pan 133. Sítio do Picapau Amarelo: Reinações de Narizinho Monteiro Lobato Monteiro Lobato 134. Sítio do Picapau Amarelo: Serões de Dona Benta 135. Sítio do Picapau Amarelo: Viagem ao Céu Monteiro Lobato 136. Sobrados e Mucambos 137. Teatro Completo: Peças Míticas Gilberto Freyre 138. Teatro Completo: Peças Psicológicas Nelson Rodrigues 139. Toda Poesia – 1950 -1987 140. Um Mestre na Periferia do Capitalismo Ferreira Gullar 141. Urupês 142. Vidas Secas Monteiro Lobato 143. Vila dos Confins 144. Visão do Paraíso Mário Palmério 145. Viva o Povo Brasileiro João Ubaldo Ribeiro Antonio Callado Sérgio Buarque de Holanda João Guimarães Rosa Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Monteiro Lobato Nelson Rodrigues Roberto Schwarz Graciliano Ramos Sérgio Buarque de Holanda 241 ANEXO 9 – MANUAIS DE UTILIZAÇÃO DOS ACERVOS “LITERATURA EM MINHA CASA”, PARA ALUNOS DE 4ª E 8ª SÉRIES E “PALAVRA DA GENTE”, PARA OS ALUNOS DO EJA ANEXO 9 – MANUAIS DE UTILIZAÇÃO DOS ACERVOS “LITERATURA EM MINHA CASA”, PARA ALUNOS DE 4ª E 8ª SÉRIES E “PALAVRA DA GENTE”, PARA OS ALUNOS DO EJA 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265