Sou um especialista em coleções, mas doei os meus selos há mais de dez anos. Tenho apenas um relógio, e dos meus avós herdei uma pequena quantidade de dinheiro e mais nada. Não guardo moedas estrangeiras, não tenho caixas de sapato cheias de cartões-postais e não catalogo canecas, maços de cigarro ou chaveiros. Tenho um aviãozinho da Pan Am, mas uma coleção exigiria, no mínimo, uma pequena frota. A decisão de deixar as coleções de lado para ser um especialista não foi consciente. Quando entrei na faculdade, já tinha me desfeito das tampinhas de garrafa e da maior parte dos selos que juntara por alguns anos. Passei o curso de graduação inteiro sem pensar em coleções. De vez em quando, um professor dizia que os historiadores adoram o pó dos documentos e que ele mesmo já tinha passado muitas horas da vida debruçado sobre coleções de todo tipo. Nos cursos de história da arte, alguns colecionadores sempre eram citados. 11 Mas, além disso, as coleções naquela época não me interessavam. Nem sempre foi assim: durante a infância e a adolescência, cheguei a ter quase duas mil tampinhas de garrafa. Quanto aos selos, obrigatórios para quase todo mundo que sofre com a obsessão pelo colecionismo, cheguei a organizar belos conjuntos. Também reuni tudo o que encontrei sobre o time de futebol que me encantava aos doze anos. Mas, nesse caso, havia apenas paixão, o que jamais pode ser o elemento central da atividade de um colecionador sério. Hoje, sequer assisto aos jogos do Brasil na Copa do Mundo. 12