Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.1, p.69-76, 2014 ISSN 1517-8595 69 QUALIDADE FENÓLICA E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE VINHOS TINTOS PRODUZIDOS NO ESTADO DO PARANÁ Aline Regina Lins1, Giliani Veloso Sartori2. RESUMO Uma vez observada a influência do Estado do Paraná sob a economia do setor vitivinícola brasileiro, esse trabalho objetivou avaliar vinhos tintos produzidos neste estado. Foram analisadas nove amostras de vinhos tintos produzidos com diferentes uvas, as quais foram cultivadas nas cidades de Maringá, Londrina, Cambé e Corumbataí do Sul. Analisou-se os aspectos físico-químicos (teor alcoólico, acidez total e pH), fenólicos ( teores de antocianinas, taninos, fenóis totais) e atividade antioxidante. Os vinhos analisados apresentaram valores fenólicos que variaram de 1014,50 a 2971,00 mg EAG.L-1, destacando-se o vinho produzido na cidade de Cambé a partir da variedade Cabernet Sauvignon, que também apresentou a maior atividade antioxidante. Os vinhos produzidos com a uva Bordeaux cultivada em Londrina e em Cambé também se destacaram apresentando os valores mais altos de antocianinas entre todas as amostras analisadas. Os resultados deste trabalho salientam o alto teor fenólico dos vinhos paranaenses. Palavras-chave: Vinhos tintos paranaenses, compostos fenólicos, atividade antioxidante. PHENOLIC QUALITY AND ANTIOXIDANT ACTIVITY OF RED WINES PRODUCED IN THE PARANÁ STATE ABSTRACT Once observed the influence of Paraná state over Brazilian economy in the wine market, this study aimed to evaluate red wines that is produced in this State. Nine samples of red wines made from different grapes, which were cultivated in Maringá, Londrina, Cambé and Corumbataí do Sul were analyzed. It was observed the physical-chemical aspects (alcohol content, acidity and pH), phenolics (anthocyanins, tannins and total phenols) and antioxidant activity. The wines which were analyzed showed phenolics values ranging from 1014,50 to 2971,00 mg EAG.L-1, highlighting the wine from Cabernet Sauvignon that is produced in Cambé, which also showed the biggest antioxidant activity. Wines made from Bordeaux grape, which were cultivated in Londrina and Cambé, also stood out, for presenting the highest values of anthocyanins among all samples. The results of this search emphasize the high phenolic content of the wine from Paraná. Keywords: Red wines from Paraná, phenolic compounds, antioxidant activity. Protocolo 14 2012 de 27/12/2012 ¹ Discente do curso de farmácia, Faculdade Integrado de Campo Mourão, Rodovia BR 158, KM 207,Campo Mourão, PR, [email protected] (44) 9915-1596 ² Mestre em ciência e tecnologia de alimentos, docente do curso de farmácia da Faculdade Integrado de Campo Mourão, Av. José Custódio de Oliveira, 1898, Campo Mourão, PR, [email protected] (44) 3016-2209/(55) 3027-7553/ (44) 9915-1596 70 Qualidade fenólica e atividade antioxidante de vinhos tintos produzidos no estado do Paraná INTRODUÇÃO No Brasil, a área vitícola ocupou, em 2010, 83.700 ha, com uma produção anual de uvas oscilando entre 1.300.000 e 1.400.000 toneladas (Camargo, Tonietto & Hoffmann, 2010). Em função da diversidade ambiental, existem pólos com viticultura característica de regiões temperadas, e pólos de viticultura tropical onde é possível a realização de podas sucessivas, com dois e meio a três ciclos vegetativos por ano (Ibravin, 2010). Entre os estados produtores, o Estado do Paraná ocupa a quarta colocação na produção nacional de uvas seguido pela Bahia e Santa Catarina, atrás apenas do Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco (Laginski, 2011). O Estado do Paraná produziu 101.900 mil toneladas de uva na safra de inverno e de verão no ano de 2010, em 5.800 hectares (Mello, 2010). A qualidade do vinho esta ligada à qualidade da uva, que é diretamente influenciada pelas condições climáticas da safra, e da colheita. Fogaça (2005) afirma que o clima incidente sobre as videiras irá influenciar na relação açúcar/ácido, e no conteúdo de compostos fenólicos das uvas. Segundo Sartori (2011), que realizou estudos que corroborou a importância de boas condições climáticas sobre a qualidade das uvas, não só os parâmetros industriais de maturação, que são pH, sólidos solúveis totais e acidez, são importantes para a obtenção de um bom vinho, como também o grau de maturação, fixação e extração de compostos fenólicos da uva. O reino vegetal é privilegiado por possuir ampla quantidade de compostos fenólicos, e esses são definidos como substâncias que possuem um anel aromático com um ou mais substituintes hidroxílicos, incluindo seus grupos funcionais. A uva é uma das maiores fontes de compostos fenólicos. Os principais fenólicos presentes na uva são os flavonóides (antocianinas, flavanóis e flavonóis), os estilbenos (resveratrol), os ácidos fenólicos (derivados dos ácidos cinâmicos e benzóicos) e uma larga variedade de taninos (Malacrida & Motta, 2005). Os compostos fenólicos são importantíssimos fornecedores de flavor e cor aos vinhos, sendo essa última característica que diferencia vinhos tintos e brancos. Também possuem propriedades antioxidantes, que são capazes de reduzir riscos de eventos coronários e de inibição de agregação plaquetária, melhoraram a função endotelial, além de Lins & Sartori induzir a vasodilatação dos vasos arteriais e inibir a oxidação do colesterol LDL (Giehl et al., 2007). Dentro dos flavanóides as antocianinas representam uma parcela muito importante, uma vez que são responsáveis pela conferência de cor às uvas, e consequentemente, aos vinhos de castas tintas, contribuindo para os tons de vermelho, amarelo e azul (Valls et al., 2000). Os taninos possuem a capacidade de formar complexos com as proteínas que participam, neste caso, da proteção dos tecidos em relação às agressões microbiológicas. Além disso, conferem propriedades gustativas de adstringência, pela precipitação de proteínas e glicoproteínas da saliva, e têm propriedades antioxidantes interessantes à função farmacológica e também à agroalimentar (Cainelli, 2011). O estresse oxidativo tem sido implicado em mais de cem condições de doenças humanas, como câncer, e doenças cardiovasculares (Li et al., 2009). Nesse contexto, os vinhos, principalmente os tintos, agem como potentes aliados à saúde, pois em sua composição encontram-se diversos compostos, dentre eles os polifenóis, com elevada ação antioxidante (Penna & Hecktheuer, 2004). Verificada a escassez de estudos referentes à qualidade de vinhos tintos produzidos no Estado do Paraná, e observada a influência do estado sobre a economia do setor vitivinícola brasileiro, é fundamental que saibamos a qualidade dos produtos que nele são produzidos. Dessa forma, estudos científicos se fazem necessários quanto às propriedades químicas dos vinhos desta região. O presente trabalho teve como objetivo avaliar vinhos tintos produzidos no Estado do Paraná quanto aos aspectos físico-químicos e fenólicos. MATERIAIS E MÉTODOS Amostragem Foram analisadas nove amostras, de vinhos tintos, de diferentes safras, sendo esses produzidos com diferentes uvas cultivadas nas cidades de Maringá, Londrina, Cambé e Corumbataí do Sul, situadas na região noroeste do Estado do Paraná. As amostras foram obtidas aleatoriamente no comércio local da cidade de Campo Mourão, PR, tendo como princípio a escolha de vinhos paranaenses que utilizavam exclusivamente uvas cultivadas também neste Estado. Na Tabela 1 encontra-se Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.1, p.69-76, 2014 Qualidade fenólica e atividade antioxidante de vinhos tintos produzidos no estado do Paraná a descrição de variedade de uma safra, e cidade de cultivo da uva das amostras de vinho analisados. Tabela 1. Descrição das amostras de vinhos analisados: cidade de cultivo da uva, variedade e safra. BD1 BD2 Cidade de cultivo da uva Corumbataí do Sul Cambé Londrina ICJ1 Maringá ICJ2 Maringá CS1 Cambé CS2 Maringá CMS Maringá ME Maringá Amostras IS Variedade Safra Isabel 2011 Bordeaux Bordeaux Isabel, Courdec, Jacquez Isabel, Courdec, Jacquez Cabernet Sauvignon Cabernet Sauvignon Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah Merlot 2011 2009 NI NI 2009 2009 2009 2009 NI: Não informado no rótulo Análises físico-químicas As análises físico-químicas das amostras de vinho artesanais foram realizadas segundo Amerine & Ough (1987). A acidez total foi determinada por titulometria de neutralização, com a utilização de NaOH 0,1N e potenciômetro digital PG 1800 (GHEAKA) para a detecção do ponto de viragem em pH 8,2. A acidez total foi expressa em gramas de ácido tartárico por litro. O pH foi determinado por potenciômetro, diretamente nas amostras de vinho, a temperatura ambiente (25 ± 2ºC). O teor alcoólico foi determinado pela inserção de álcool densímetro diretamente na amostra de acordo com Amerine & Ough (1987), a temperatura ambiente (25 ± 2ºC). Análises Fenólicas A análise de polifenóis totais foi realizada pelo método de Folin-Ciocalteau, adaptado por Singleton & Rossi (1965), no qual há redução dos ácidos fosfomolibídico e fosfotunguístico em solução alcalina, de modo que a cor azul proveniente da redução do reagente pelos compostos fenólicos pode ser quantificada por espectrofotometria. As amostras de vinho foram diluídas na escala de 1:100 em água destilada e deionizada. Uma Lins & Sartori 71 curva de calibração foi elaborada empregandose como padrão uma solução aquosa de ácido gálico a 0,5%, nas concentrações crescentes de 0, 5, 10, 15, 25 e 50 mg/L em água destilada e deionizada. Para análise das amostras, 200 µL de vinho diluído foram acrescentados a 1000 µL do reagente de Folin-Ciocalteau (diluído a 1:10) e 800 µL de solução aquosa de carbonato de sódio à 7,5%. Após duas horas de repouso no escuro, realizou-se a leitura em espectrofotômetro UV- VIS (Femto 600 plus) a 765 nm, utilizando como controle 200 µL de solução de ácido gálico, acrescido de 1000 µL do reagente de Folin-Ciocalteau (diluído a 1:10) e 800 µL de solução aquosa de carbonato de sódio à 7,5%. Os resultados foram expressos em mg equivalente de ácido gálico por litro (mg EAG.L-1). A atividade antioxidante dos vinhos (AA) foi analisada pelo método descrito por BrandWilliams et al. (1995), modificado por Miliauskas, Venskutonis & Van Beek (2004). Esta metodologia consiste em avaliar a capacidade antioxidante via atividade sequestradora de radicais livres 2,2- difenil-1 picril-hidralazil (DPPH). O radical livre DPPH possui uma coloração púrpura e, por ação de um antioxidante, é reduzido formando difenilpicril- hidralazil de coloração amarela. A solução de DPPH foi preparada na proporção 9 mg de DPPH para 250 mL de metanol. As amostras foram diluídas na escala 1:10 em metanol e, após isso, 100 µL de amostra diluída foi acrescentada a 3,9 mL de solução de DPPH. Após trinta minutos em repouso a leitura foi realizada em espectrofotômetro UV-VIS (Femto 600 plus) em comprimento de onda de 517nm. Utilizou-se como controle a solução de DPPH em metanol. O resultado foi expresso em percentagem de sequestro de radicais DPPH e calculado de acordo a equação abaixo: % AA = (Absorbância do controle – Absorbância da amostra) 100 Absorbância do controle A determinação de taninos (TN) foi realizada pelo método de hidrólise ácida, descrito por Zoecklein et al. (2001). As amostras foram diluídas na escala de 1:50 em água destilada e deionizada. Após, em dois tubos de ensaio (A e B), foram adicionados 4 mL de vinho diluído, 2 mL de água e 6 mL de HCL 12N. Os tubos A foram levados a banhomaria a 100ºC por 30 minutos, enquanto os tubos B permaneceram a temperatura ambiente. Após a mistura do tubo A esfriar, 1 mL de etanol a 95% foi adicionado. A leitura da Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.1, p.69-76, 2014 72 Qualidade fenólica e atividade antioxidante de vinhos tintos produzidos no estado do Paraná absorbância foi realizada em espectrofotômetro UV-VIS (Femto 600 plus) a 550 nm, usando a água como branco. O teor de taninos foi calculado empregando-se a seguinte equação: TN (g/L) = 19,33 x ∆A sendo ∆A a diferença entre as absorbâncias dos tubos A e B. As amostras foram também avaliadas quando ao teor de antocianinas (ANT) pelo método de branqueamento por SO2, descrito por Ribéreau-Gayon & Stonestreet (Amerine & Ough, 1987). Para essa análise, 1ml de cada amostra foi acrescido de 1ml de etanol acidificado a 0,1% com HCL 12N e de 20 ml de solução aquosa de HCL a 2%. Em um tudo de ensaio, 5ml dessa mistura foram adicionados a 2ml de água destilada e deionizada, enquanto que em outro tudo outros 5ml da mistura foram adicionados a 2ml de solução aquosa de bissulfito de sódio a 15%. A leitura espectrofotométrica foi realizada a 520nm empregando água como controle. O teor de antocianinas foi expresso em mg de malvidina glicosídeo por litro de amostra e calculado através da seguinte equação: ANT (mg/L) = ∆ d1 x 875 sendo ∆ d1 a diferença de absorbância entre os tubos que continham água e solução de bissulfito de sódio. Análise estatística Todas as análises foram realizadas em triplicata. Os resultados obtidos neste estudo foram submetidos à análise de variância pelo método ANOVA e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade empregando o software Assistat 7.6 beta (2011). RESULTADOS E DISCUSSÃO O pH influencia diretamente na estabilidade das antocianinas, como também é um importante fator para o bom desenvolvimento da fermentação do vinho. (Góez & Zangirolami, 2005). Níveis satisfatórios de pH em vinhos estão entre 3,1 e 3,6 segundo Manfroi et al. (2006). Nos vinhos paranaenses analisados neste estudo o pH teve uma média de 2,9, variando entre 2,1 e 3,4 (Tabela 2). Lins & Sartori Tabela 2. Valores das análises físico-químicas para vinhos paranaenses. Teor Acidez total** Amostras* pH Alcoólico -1 (g.L ) (%) a IS 3,2 6,11 11,5 BD1 2,1 5,05b 12 BD2 3,1 6,25a 10 ICJ1 3,1 6,02a 10 ICJ2 3,1 4,87b 12 CS1 2,4 4,75bc 12 c CS2 3,4 4,55 13 CMS 3,2 4,60c 12 ME 3,0 4,57c 10 *Amostras: IS (Isabel, Corumbatai do Sul); BD1 (Bordeaux, Cambé); BD2 (Bordeaux, Londrina); ICJ1 (Isabel, Courdez e Jaquez, Maringá); ICJ2 (Isabel, Courdez e Jaquez, Maringá); CS1. (Cabernet Sauvignon, Cambé); CS2 (Cabernet Sauvignon, Maringá); CMS (Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Maringá); ME (Merlot, Maringá). -1 ** Acidez total (g.L de ácido tartárico); As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. As amostras vinificadas a partir da uva Bordeaux (BD1) e Cabernet Sauvignon (CS1), ambas cultivadas em de Cambé, apresentaram os mais baixos valores de pH (2,1 e 2,4 respectivamente). Esses valores podem estar relacionados o uma oxidação das amostras tanto no momento de trasfega quanto no período de engarrafamento e armazenamento e/ou também à falta de maturidade industrial da uva no momento da colheita. Os ácidos presentes em qualquer produto alimentício influenciam diretamente nas características organolépticas, como também afetam a estabilidade e manutenção da qualidade desse alimento (Fracasso et al., 2009). A Legislação Brasileira que dispõe sobre a qualidade de vinhos (BRASIL, 2004) estabelece um limite de acidez total de 55 a 130 meq.L-1, ou 4,125 a 9,75 g.L-1, de ácido tartárico. Os valores de acidez total observados nas amostras do presente estudo encontraram-se em concordância com a referida legislação, como pode ser observado na Tabela 2. O teor alcoólico dos vinhos é muito dependente do processo de fermentação, da quantidade de açúcar presente nesta etapa e na atividade das leveduras que irão fazer a reação de conversão do açúcar em álcool. Todos os vinhos analisados apresentaram uma graduação alcoólica entre 10 e 13% (Tabela 2) caracterizando-se assim como vinho de mesa, conforme especifica a Portaria nº 229 de 25 de outubro de 1988 (Brasil, 1988). Os compostos fenólicos desempenham funções importantes na qualidade do vinho, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.1, p.69-76, 2014 Qualidade fenólica e atividade antioxidante de vinhos tintos produzidos no estado do Paraná contribuindo para seu sabor e aroma, além de serem poderosos antioxidantes e protegerem o organismo de várias doenças (Mamede & Pastore, 2004). Conforme Guerra (1997), os polifenóis determinam direta ou indiretamente a qualidade geral dos vinhos, principalmente os tintos. Os valores para as amostras paranaenses de fenóis totais encontrados estão descritos na Tabela 3. Tabela 3. Valores das análises fenólicas para vinhos paranaenses Amostras ANT mg EMG.L-1 IS BD1 BD2 ICJ1 ICJ2 CS1 CS2 CMS ME 135,37cd 436,33b 684,38a 155,58c 116,35cde 134,16cd 153,70c 104,41de 71,74e Fenóis Totais mg EAG.L-1 1265,50bc 1696,33abc 1327,50bc 1014,50c 1091,00bc 2971,00a 1 1878,16abc 1619,33bc 2102,50ab Taninos g.L-1 1,09d 1,25cd 4,76a 0,95d 0,91 d 0,63cd 2,40c 3,58 b 2,48bc *Amostras: IS (Isabel, Corumbataí do Sul); BD1 (Bordeaux, Cambé); BD2 (Bordeaux, Londrina); ICJ1 (Isabel, Courdez e Jaquez, Maringá); ICJ2 (Isabel, Courdez e Jaquez, Maringá); CS1 (Cabernet Sauvignon, Cambé); CS2 (Cabernet Sauvignon, Maringá); CMS (Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Maringá); ME (Merlot, Maringá). Antocianinas (EMG = equivalente de malvidina 3-glicosídio); Fenóis Totais (EAG = equivalente de ácido gálico). As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. As amostras de vinhos da variedade Cabernet Sauvignon, cultivada em Cambé (CS1), e Merlot, cultivada em Maringá (ME), apresentaram os maiores valores de fenóis totais (2971,00 mg EAG.L-1 e 2102,50 mg EAG.L-1, respectivamente). Os resultados de fenóis totais das amostras paranaenses estão de acordo com estudos realizados por Li et al. (2009) obtiveram média de fenóis totais de 2940 mg EMG.L-1, em amostras de vinhos chineses da variedade de uva Cabernet Sauvignon, e para o vinho da cultivar Merlot, 2111,5 mg EMG.L-1. No estudo realizado por Katalinic et al. (2004), em vinhos produzidos por diferentes uvas cultivadas na Croácia, os valores fenólicos para a amostra Cabernet Sauvignon foram de 3087 mg EMG.L-1 e para a amostra da variedade Merlot, 2402 mg EMG.L-1, valores estes que também estão próximos aos obtidos neste trabalho. Porém outros trabalhos evidenciam valores diversos, como o de Oliveira et al. (2011), que realizaram estudos no Vale do São Francisco, obtiveram valores fenólicos superiores aos das amostras paranaenses Lins & Sartori 73 (3718,70 mg EMG.L-1) para vinhos provenientes da variedade Cabernet Sauvignon, possivelmente por essa região do país exercer grande influência sobre o conteúdo fenólico nos vinhos devido à forte exposição solar, o que pode aumentar até dez vezes mais a concentração de compostos fenólicos. As antocianinas são importantes nos alimentos tanto por seu impacto sobre características sensoriais, fornecendo cor, e flavor, quanto pelo seu envolvimento na saúde humana, através de sua atividade antioxidante (Ortíz et al., 2011). A quantidade de antocianinas encontrados nas amostras deste estudo estão descritos na Tabela 3. As amostras BD1 e BD2, obtiveram o primeiro e segundo valores mais altos de antocianinas entre as amostras analisadas (436,33 e 684,38 mg EMG.L-1, respectivamente), comprovando uma das características marcantes do vinho Bordeaux, a intensidade de cor, como também observado em estudos de Tecchio et al. (2007). Os taninos resultam no grupo mais abundante de compostos fenólicos normalmente encontrados nos vinhos tintos, desempenhando um papel crítico na qualidade final (Nascimento, 2011). Na Tabela 3 se encontram os valores de taninos totais encontrados nos vinhos paranaenses. Um alto teor de taninos foi observado na amostra BD2 (4,76 g.L-1), que contradiz o baixo teor de taninos que é comum nas variedades americanas, e que foi verificado nos estudos de Tecchio et al. (2007) e Rombaldi et al. (2004). As amostras IS, ICJ1 e ICJ2, foram as que as que apresentara os valores baixos para taninos, antocianinas e polifenóis totais, o que é comum nessa cultivar segundo Rizzon et al. (2000), que concluiram que as deficiências de intensidade de cor do vinho Isabel podem ser melhoradas através da definição de um sistema de produção para vinho tinto. A atividade antioxidante dos vinhos paranaenses foi determinada através da capacidade em sequestrar o radical estável DPPH, e em posse dos resultados ouve uma variação significativa entre as amostras analisadas (p<0,05), com valores entre 6,43% a 81,16% de sequestro de radicais livres (Figura Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.1, p.69-76, 2014 74 Qualidade fenólica e atividade antioxidante de vinhos tintos produzidos no estado do Paraná 1). Figura 1 - Porcentagem de sequestro do radical DPPH das amostras de vinho tinto paranaenses. *Amostras: IS (Isabel, Corumbataí do Sul); BD1 (Bordeaux, Cambé); BD2 (Bordeaux, Londrina); ICJ1 (Isabel, Courdez e Jaquez, Maringá); ICJ2 (Isabel, Courdez e Jaquez, Maringá); CS1 (Cabernet Sauvignon, Cambé); CS2 (Cabernet Sauvignon, Maringá); CMS (Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Maringá); ME (Merlot, Maringá). As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O maior potencial antioxidante foi observado na amostra CS1 (81,16%), sendo muito próximo aos valores encontrados na literatura (Katalinic et al., 2004), cuja amostra produzida com a mesma variedade apresentou 82,2% de sequestro de radicais livres. Os resultados do estudo realizado por Katalinic et al. (2004) mostram que grande parte da capacidade antioxidante do vinho tinto pode ser diretamente correlacionada com a sua concentração de catequinas. Já, Minussi, et al. (2003) ao testarem amostras de vinho do Brasil, do Chile, e de Portugal, além da catequina, obtiveram uma correlação positiva entre a capacidade antioxidante do vinho e concentrações de ácido gálico e epicatequina. Da mesma forma neste estudo, altos teores de atividade antioxidante foram observados em amostras com elevado teor de compostos fenólicos totais e antocianinas. A menor capacidade antioxidante foi evidenciada nas amostras compostas pelas uvas Isabel, Courdez e Jaquez, (ICJ2) e na amostra composta por Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah (CMS) ambas cultivadas em Maringá (Figura 1). A porcentagem de sequestro de DPPH nessas amostras foi de 6,43% e 9,66% respectivamente. A amostra CMS apesar de ter apresentado uma baixa atividade antioxidante, demonstrou valores significativos de compostos fenólicos totais e taninos, outro grupo de fenóis relacionados à atividade antioxidante pela literatura (Angelo & Jorge, 2007). Situação semelhante foi reportada por Di Majo et al. (2008) os quais concluiram que a correlação Lins & Sartori entre a capacidade antioxidante e os compostos fenólicos totais é fraca. Alguns estudos relacionam a atividade antioxidante de alimentos em decorrência da presença de substâncias não dosificadas nesse trabalho, como por exemplo a vitamina C (Debolt et al., 2006). Além disso, deve-se salientar que o vinho é uma mistura muito complexa de diferentes compostos e que o grau de combinação ou arranjo molecular, de compostos fenólicos, por exemplo, pode influenciar amplamente na resposta ao sequestro de radicais livres. Dessa forma, estudos acerca da composição exata dos componentes antioxidantes destes vinhos se fazem necessários. CONCLUSÕES De uma forma geral, os vinhos analisados comprovam a qualidade fenólica dos vinhos produzidos no Estado do Paraná, principalmente pela elevada presença de fenóis totais e elevada atividade antioxidante, em destaque vinho produzido a partir da uva Cabernet Sauvignon, cultivada na cidade de Cambé. Assim, as propriedades identificadas neste estudo devem ser utilizadas para explorar o conteúdo de polifenóis de vinhos comerciais do Estado do Paraná, para assim estimular o desenvolvimento de técnicas para o seu enriquecimento enológico. Uma vez que a atividade antioxidante não demonstrou uma relação direta e proporcional ao teor de fenóis da maioria das amostras analisadas, estudos adicionais são necessários para a identificação no composto predominante nesta atividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amerine, M. A., Ough, C. S. Methods for the analysis of musts and wine. 341p, 1987. Angelo, P. M.; Jorge, N. Compostos fenólicos em alimentos - uma breve revisão. Rev. Inst. Adolfo Lutz. Univ. Estadual Paulista, São José do Rio Preto-SP. v. 66, n. 1, p. 0109, 2007. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº229 de 25 de outubro de 1988. 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