PRIMEIRO MOMENTO ISOLDA HOLMER PAES: A CONSTANTE APRENDIZ, A ETERNA PROFESSORA 1 Berenice Gonçalves Hackmann FACCAT 2 Resumo: a História de Vida de Isolda Holmer Paes é integrante de uma série de Histórias de Vida de destacados educadores rio-grandenses que construímos no seio da pesquisa intitulada “Identidade e Profissionalização Docente – narrativas na primeira pessoa”, apoiada pelo CNPq e desenvolvida com Doutores, Doutorandas, Mestrandas e Bolsistas de Iniciação Científica na PUCRS, a partir de narrativas de pessoas-fonte, trianguladas entre elas e entre documentos, fotos, filmes. A leitura transversal dessas Histórias de Vida nos permite visualizar elementos constitutivos não só das trajetórias individuais desses educadores, mas também aqueles que constituíram/constituem a história da educação no Estado do Rio Grande do Sul. Nessa perspectiva são utilizadas na universidade como elementos de formação de professores, não no sentido de serem modelares para cópia, mas no auxílio para a compreensão de aportes do pensamento educacional que sustentou/sustenta a formação de professores, bem como práticas e culturas escolares que ainda hoje, de modo geral, se perpetuam. Essa História será publicada, na íntegra, em ABRAHÃO, M.H. M.B. (org.) Identidade e Profissionalização Docente – narrativas na primeira pessoa, no prelo. Palavras-chave: História de Vida; Destacada Educadora; Formação de Professores. Marcante. Foi essa a primeira impressão que me proporcionou a professora Isolda Holmer Paes ao conhecê-la, no final da década de 70, em uma reunião de planejamento de um projeto educacional. Entusiasmada. Os olhos azuis fitavam-me diretamente ao explicar o projeto. Eram firmes, mas,, ao mesmo tempo, doces. Eram brilhantes e mostravam que ela acreditava naquele significativo trabalho para a educação. Criativa. 1 MESA REDONDA: HISTÓRIAS DE VIDA DE TRÊS EDUCADORAS RIO-GRANDENSES: EMPRESTANDO VISIBILIDADE À PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO RIO GRANDE DO SUL. EIXO TEMÁTICO 07: Formação de Professor 2 Professora das Faculdades de Taquara – FACCAT; Doutoranda em Educação – PUCRS. 2 A força daquela mulher - na época, com 67 anos - era contagiante. Ousada. Sob sua orientação, o projeto foi concretizado e veiculado por um periódico de Porto Alegre, com grande repercussão, em todo o Estado. Passaram-se mais de duas décadas desse encontro e aqui estou, pretendendo ser narradora desta história de vida, elemento de ligação de várias pessoas que estão, agora, num único grupo: você, leitor ou leitora, eu, nossa professora Isolda e outras pessoas que tiveram o prazer de usufruir, com ela, de algum período de convivência. Acredito que esses momentos que passaremos juntos serão ricos de aprendizagens sobre o significado de abraçar o magistério e penso estabelecer uma identificação entre todos nós. Não esqueçamos que, ao iniciar esta narrativa, estou marcada por muitos "eus". Estou “plurivocal" (mesmo que fale na primeira pessoa do singular), pois o "eu" reunirá todos os envolvidos nesta história. Ao começar a escrever, resolvi não realizar sozinha esta narrativa. Convido outras vozes para juntarem-se a nós e, de maneira muito marcante, ouviremos também a voz da professora Isolda. Quem a conhece poderá, inclusive, ouvi-la com os sons da memória (afinal, lembranças têm aroma, cor e texturas). E qual o porquê de minha escolha incidir sobre a Professora professora Isolda? Porque considero-a a considero um ser humano muito ímparespecial., que continua espalhando, com amor, a arte de ser professora. Numa época em que a maioria das meninas cursava o “primário” e eram encaminhadas “às lides domésticas”, nossa professora casa-se, sai de sua pequena cidade situada na Encosta da Serra, passa a residir em Porto Alegre, capital do Estado, começa a circular em um meio de maiores exigências intelectuais e vence etapas: em apenas alguns anos, cursa “ginásio”, “colégio”, ingressa na Universidade e conquista espaços importantes no cenário educacional. Décadas mais tarde, nNum período de vida em que muitos se acomodam devido aà aposentadoria - , algumas vezes, em idade precoce -, vejo uma mulher, comcom quase setenta anos, a olhar à frente e prosseguir. E há uma significação especial nessa trajetória: mesmo ocupando um novo espaço, onde passa a ter uma 3 projeção internacional, não deixa de ser professora e continua espalhando, com amor, a arte de ensinar. Passaram-se vinte e um anos e esse horizonte continua ainda enorme e sempre se alongando para Isolda (dessa forma denominada, carinhosamente, nesta narrativa). Outros adjetivos? Corajosa. Carismática. ARecortes da infância Isolda nasceu em Taquara, na primavera de 1911, aos 27 dias do mês de setembro, no seio de uma família formada por com 10 filhos. Sua casa, na subida do Morro dos Palacetes (que também abrigava a avó, viúva) era povoada por vozes e música: um irmão tocava flauta,, e outro, violino e uma irmã tocava uma romântica cítara. Anas noites quentespós o jantar, muitas vezes os sons viajavam nas costas da brisa suave. A música erudita era vivida de uma forma singela, embalando os sonhos de Isolda, ainda bebê.. Aquele espaço era muito significativo, carregado de afetos e emoções e ela o considera o lastro de toda sua vida. Ela acredita que para uma pessoa se interessar pela educação e pelo destino do ser humano é necessário que tenha vivido num ambiente especial, rico em vivências e estímulos. O lar precisa ser de tal forma construído, que o futuro educador comece a valorizar, desde cedo, a importância de participar do crescer e do desabrochar das potencialidades de uma criança. Um dia deparou-se, pela primeira vez, com a morte, que para ela foi uma interrogação, um mistério que não conseguia compreender. Com apenas quatro anos viu saírem de sua casa, em um intervalo de 20 dias, “duas caixas pretas”. Eram “tirados” da sua vida o pai e um irmão, com apenas 16 anos, que permaneceram para sempre na memória. As vagas lembranças que colhe de seu pai resgatam uma 4 presença amorosa que fazia a vida correr “mansa e tranqüila”. Era uma força harmoniosa que unia e protegia a todos. Além disso, as tradições e as experiências culturais do velho dinamarquês, meu avô, teriam influído no estilo de vida familiar cultivada por meu pai. Mesmo morrendo muito moço (42 anos) conseguiu deixar para os filhos a influência de princípios e valores que cultivava. A partir daquelas perdas, todos concentraram muito amor naquela menina. E ela crescia àa olhos vistos rodeada de muito, muito carinho. OsNesse momento os olhos de Isolda brilham com lágrimas que teimam em correr, lembrando o amor, a saudade, o querer bem ainda muito presentes na sua vida, representado por sua mãe, D. Zeca. nos filhos e com os filhos buscou a resistência indispensável para vencer as precariedades da vida, como também tentava suprir, em parte, a falta, no plano psicológico e econômico, do chefe da família. A mágica das lembranças colhe o tempo passado e ele se faz presente, nem que seja por alguns instantes. Minha mãe... a minha mãe maravilhosa, que me ensinou o amor, a ternura pelas pessoas, a compreensão dos seres humanos. Mas também depois me cobrava: ‘Minha filha, você deve saber isso porque depois poderás ter crianças para ensinar!’ E a minha mãe passava a vida ensinando-me! Isso tudo, lá em Taquara. As coisas que D.. Antonieta Zeca dizia, começaram, gradativamente, a despertar em Isolda o desejo ade aprender para depois ensinar. Foi a sua primeira professora, que lhe passava, com amor, candura e dedicação, as primeiras “regras” essenciais para a convivência humana, com muita sensibilidade e intuição. Complementa Isolda: Com ela aprendi, por exemplo, a conhecer os sinais característicos da mutabilidade das estações: a primavera anuncia-se na inquietude dos ninhos e no verde tenro e claro da folhagem dos jardins e dos campos; no verão, as nuances do verde são outras e os animais refugiam-se na sombra fresca dos capões. 5 E lembra-se do que sua mãe ensinava sobre nossa paisagem: Quando conheceres outros lugares no Brasil, verás que os campos são diferentes. Aqui, temos coxilhas, aquela sucessão de morrinhos que vemos quando andamos pela ‘estrada da serra’. Não sei se há coxilhas em outras partes do país... E Isolda relata que 40 anos mais tarde reviveu “essa singela lição de geografia no texto premiado pela Academia Brasileira de Letras, de Darcy Azambuja: ... coxilhas... ‘ondas de um mar parado’...” Todos os anos, na Semana Santa (na quinta-feira da Paixão), iam em busca de barba-de-pau e flores nos matos para fazer um ninho enfeitado. Com aA elas integravam-se algumas amiguinhas para correrem livres pelos relvados. Depois, as meninas comiam a merenda, sentadas à sombra de uma árvore. Com as boquinhas cheias de bolos, as maçãs do rosto tingidas de carmim e os cabelos soltos ao vento, ouviam o relato sobre os ninhos trançados com barba-de-pau. Havia sabedoria por detrás daquela história que iria se perpetuar no tempo! D. Zeca estava ensinando uma tradição guardada pela memória. E exclama Isolda: “Quantas coisas lindas que se faziam antigamente e que agora está estão se perdendo! Essa ‘memória’ está perdida. O mundo mudou. Os ninhos desapareceram”. Anos mais tarde ensinou aquela história a Tânia Mara, sua filha adotiva. O fez de forma intuitiva e cCom ela também repetiu a tradição, indoia buscar barba-depau. At e até hoje faz ninhos que envia a São Paulo, para os filhos de Tânia, acondicionados em caixas. São detalhes como esses que, unidos a outros, tecem a história das pessoas especiais. ASuavess lembranças e reflexões: Isolda tem uma memória bastante privilegiada e, quando conta-me me conta parte de sua vida, novamente emociona-se: Quando lembro-me me lembro de Taquara, lembro-me daquelas pessoas e famílias maravilhosas com as quais eu convivi! Lembro-me dos Amoretti, dos Vargas e da D. Margarida, tão linda! E os palacetes? Tinha o palacete do Coronel Theobaldo Fleck, o dos Janguta Correia, o do Felipe Néri (que me ensinava teatro)... , o da D. Zeca. Eram os palacetes do Morro. Meu Deus! Aquela gente toda pertencia à minha vida. Hoje eu até podia morar em Taquara. Saí de lá 6 porque ela era ‘pequena’ para mim. Hoje eu sou pequena para ela. Hoje eu podia morar lá e trabalhar por ela. Tem muita coisa linda a se fazer neste mundo! Havia ainda a D. Amanda Hack, sua primeira professora de alfabetização: “Ela tinha umas ternuras por mim!”. E foi com duas sobrinhas, que haviam sido criadas por D. . Antonieta Zeca devido aà perda dos pais, que Isolda começou o seu ofício de professora. Ensinouas a ler um livro, a cantar canções folclóricas e até a rezar a Ave Maria! Vislumbrava-se a força da futura professora. Neste segmento, optei por trazer Isolda para falar conosco. Pensei que ouvir a sua voz, sem interrupção, seria uma oportunidade de um maior contato com ela. A idéia, inicialmente vaga e imprecisa, de dedicar-me ao magistério e, em sentido mais amplo, à educação, surgiu na fase da adolescência. A educadora que me tornei mais tarde, foi-se configurando, no dia-a-dia, ao longo dos anos. O pensamento muitas vezes retomado, inicialmente, talvez um tanto impreciso, tomou corpo e tornou-se história integrada, confundida, com a história maior, a que veio do berço, tornouse criança, atravessou a juventude e alcançou a maturidade. E tornou-se um tanto perturbadora, pelas dificuldades de realização, ao final do meu curso primário. Como era natural, a Escola Normal, o único caminho a seguir, surgiu como meu maior objetivo e meu constante pensamento. Houve um momento em que cheguei a acreditar na realização do meu projeto, pela compreensão de minha mãe. Mas as limitadas circunstâncias econômicas de vida familiar e pelo fato de morar numa cidade onde a escola primária era a última etapa de estudos oferecida aos jovens, compreendi que a mudança para Porto Alegre era a única solução que me cabia, mas, de outra parte, era uma barreira intransponível. Portanto, o caminho era a renúncia à minha aspiração que, no entanto, permaneceu em estado latente, vindo a concretizar-se muitos anos mais tarde. Não nasci educadora, o que é bem compreensível. Mas creio que foi na escola e no lar, ainda na infância, que meu destino humano foi se delineando, independente de minha participação consciente, para configurar-se definitivamente entre os vinte e 7 cinco e trinta anos, já, então, em outra dimensão, mais ambiciosa e mais abrangente quanto a objetivos. Essa percepção ocorreu-me, quando em plena realização de minha vida profissional, voltei-me para o caminho percorrido... Tudo o que, com esforço, ia conseguindo realizar, era uma decorrência da compreensão e do amor dos meus e, depois, do incomparável companheiro de minha vida adulta. Ele veio conduzido pela minha boa estrela, já de antemão, pressentindo o quanto me poderia oferecer para a minha autodescoberta e realização. Você, leitor ou leitora, voou no tempo junto conosco e quase vivenciou aquela infância e aquela renúncia temporária de ideais que já se esboçavam? Vislumbrou a importância que teve, na vida de Isolda, seu companheiro? O casamento e a preparação para um novo salto Em 1930, casou com Elpídio Paes e ficou morando definitivamente em Porto Alegre. Dr. Elpídio, advogado de renome, que era professor (e posteriormente diretor) da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, responsável pela formação jurídica dos futuros advogados. Além disso, atuava no Departamento de Cultura e Literatura Latinas, do Instituto de Letras. Para ele, o conhecimento era um fim e um meio de realização.e ficou morando definitivamente em Porto Alegre. Nessa nova vida, a educadora que já existia dentro de Isolda, começou a tomar formaevoluir, influenciada pelo marido, também um educador. E ela ressalta: “Apesar de sua formação jurídica, foi para o magistério que ele se voltou de corpo e alma. Era um autêntico educador. E, para isso, fez do estudo o ponto alto de sua vida inteligente, criadora e sensível”. E e. le acreditou que ao seu lado existia alguém com muitas potencialidades. Isolda, com aquela convivência, começou a sentir que precisava estudar mais, pois “como pederia poderia viver ao lado de alguém especialista em Antigüidade Greco-romana sem ter uma cultura maior”? Compreendeu, espontaneamente, o quanto eram diferentes os seus espaços culturais. As pareces 8 paredes de uma das salas de sua casa eram cobertas por prateleiras ricas em títulos diversos. Formavam uma biblioteca eclética com mais de 10.000 volumes e constantemente atualizada com os últimos lançamentos. Considerava seu marido um desafio para ela e todas as influências recebidas encaminharam-na para uma nova proposta de vida: "Humano e compreensivo, por excelência, buscou levar-me para sua realidade”. Transcorrido o primeiro mês de casamento,Um dia em que ele preparava uma aula de Língua Latina, ele com absoluta naturalidade, perguntou-lhe: “Queres Não gostarias de estudar Latim? Talvez consideres isso um estudo meio fora de propósito. Mas é uma língua, culturalmente, muito importante e esse conhecimento poderá te servir muito”. Isolda pergunta-se: “Será que ele está pensando em me conduzir, de modo indireto, para a complementação de meus estudos, já que tenho somente o primário?” - “É uma língua linda, muito linda, e vai te servir para tudo.” E ele começou a ensinar-lhe Latim, iniciando uma história que teria continuação. Inclusive, mais tarde, esse estudo ser-lhe-ia muito importante para realizar o colégio e fundamental para o curso universitário. Meses depois, voltou a fazer-lhe uma nova pergunta: “Não queres estudar um pouquinho de Francês?” E ela, que sempre teve paixão pela França, que tinha vontade de, algum dia, poder aproximar-se da cultura francesa, começou a aprender, plenamente com muito entusiasmo, o seu segundo idioma francês. Mais uma vez o Dr. Elpídio tecia as bases para o seu futuro. O próprio depoimento de Isolda fala-nos da importância daquele homem em sua vida: “O meu marido ensinou-me um outro tipo de amor. O amor humano, mais alto, lindo! Jamais ele procurava julgar uma pessoa. A justiça era a sua palavra fundamental. E ele foi tão maravilhoso. E me entendeu tanto, tanto!” A estudante e Isolda desorganiza sua vida. Tinha paixão por ela. 9 Como diariamente o Dr. Elpídio saía para dar aulas na Universidade, ela ficava sozinha em casa, desolada. Foram dias muito difíceis. Conhecendo bem a esposa e compreendendo seus sentimentos, um certo dia convidou-a para acompanhá-lo à Faculdade, para que não ficasse tão sozinha. Lá poderia, com o conhecimento de francês que já possuía, assistir as aulas do Professor René Ledoux, considerado um brilhante professor. Ela foi concordou, cheia de expectativa. Mas, na e, mesmo não entendendo completamente a primeira aula, constatou que o francês elegante do professor era difícil. Não entendeu muita coisa. Seu conhecimento era insuficiente para compreender uma pessoa falando de um assunto tão complexo, no caso, Literatura Francesa. inteiramente ministrada em francês, percebeu que era necessário avançar em seus conhecimentos. Como não tinha formação literária e era portadora, a seu ver, de considerava seuum vocabulário ainda insuficiente, decidiu prosseguir seus estudos formais. Cursaria a Faculdade de Letras. Ao contar ao Dr. Elpídio a sua decisão, recebeu como resposta: - Mas não tens o secundário, que é indispensável! - Mas vou fazê-lo. Assumia um grande compromisso: cursar o ginásio e o colégio. E o “professor de Latim e Francês” passou a auxiliá-la em todas as disciplinas, desde as humanísticas, até as ciências exatas. Cursou o ginásio pelo Artigo 100, que exigia bastante do aluno, pois era formado por matérias muito extensas e variadas. Aplicada, estudava no cursinho e em casa, no cursinho e com o Dr. Elpídio. Em 19....,Realizou, com sucesso, os exames no Ginásio Anchieta, e depois cursou ingressou no Colégio Sevigné. Nessa escola, como era mais velha que a maioria das colegas e era casada, não queria usar o uniforme de menina de colégio, de azul e branco, com listinhas. Porém, a Madre Superiora Sainte Odile disse-lhe que ela seria um excelente exemplo e incentivo para as alunasjovens. No final do 2º ano, foi publicado o “Decreto do Ministro de Capanema”. Com ele, aqueles que tivessem cursado o ginásio - ou primeiro ciclo - pelo Artigo 100, não precisariam freqüentar o 3º ano do ce Colégio colégio. Poderiam candidatar-se ao 10 vestibular, uma vez que aquele Artigo incluía matérias do último ano do colégio, como Física, Química, Trigonometria, dentre outras. Assim, prestou, com êxito, o vestibular de Letras na UFRGS. Já no final do curso, Graciema Pacheco, professora de Didática, convidou-a para ser sua assistente naquela disciplina, o que lhe trouxe uma grande alegria ae, ao mesmo tempo, dúvidas: “Ah, D. Graciema, nem sei... Nunca pretendi lecionar. Vou pensar. A senhora é uma professora excepcional e trabalhar com a senhora é uma honra. Mas eu vou pensar.” .No dia seguinte, o professor de Francês, Eduardo ChavesRené Ledoux,, também convidou-a convidou-a para uma nova função: lecionar a ser sua assistente na disciplina de Didática Especial de Francês. Dessa forma, abriram-se as portas da Universidade para a Professora professora Isolda. Mas faltava ainda uma última etapa na sua vida acadêmica: a formatura, cerimônia acalentada e esperada durante muitos anos. E, naquela noite de festa, uma surpresa era-lhe reservada, como ela mesma nos conta: No dia em que ‘colei grau’, soube que havia obtido o primeiro lugar no vestibular. Chamaram o Elpídio para entregar o diploma para a ‘aluna que tirou o 1º lugar do vestibular e o 1º lugar do Curso de Letras’. Foi uma emoção! E eu também não sabiaignorava esse fato. A professora Na Universidade, Isolda descobre-se como professora do ensino superior: “Meu destino para o magistério, vinha de longe. Desde a infância e adolescência, alimentava essa idéia: finalmente descobrira claramente minha vocação”. E, àÀ medida em que Isolda lecionava, sentia que a professora que vivia dentro de si, desabrochava. Apaixonou-se pela profissão e d escobriu-se internamente. , desafiada pela D. Graciema, que era uma mulher excepcional.” 11 Naquele período, o Reitor da UFRGS, Dr. Elyseu Paglioli [verificar o seu n, ome] solicitou à Isolda e à professora Graciema Pacheco que planejassem uma escola, exigência do Ministério da Educação, para a realização do estágio dos “alunos-mestres” nas diferentes disciplinas da “escola secundária”. . Nascia então o Colégio de Aplicação, uma fonte inesgotável de criatividade. Inaugurado em 14 de abril de 1954, uma época efervescente na educação brasileira, em que novas idéias surgiam para revigorar o ensino: O Colégio de Aplicação sempre foi considerado um núcleo extremamente importante no cenário educacional do Rio Grande do Sul. Incontáveis projetos eram seguidos por outros educadores professores do Brasil que ali abasteciam-se se abasteciam de idéias novas e arrojadas. E como Isolda amava os alunos daquela instituição! As “suas” crianças” eram especiais e para elas trabalhava todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos. Muitas madrugadas foram dedicadas a projetos e estudos. Havia prazer e envolvimento naquele trabalho. Em retribuição, aqueles alunos nunca a esqueceram. Há um forte elo que persiste entre eles até hoje. Na época da Feira do Livro, participou da Feira um escritor - Flávio Moreira - que fora aluno do Aplicação. Hoje é Prêmio Jaboti. Na dedicatória do livro que adquiri, escreveu: ‘A D. Isolda que esteve, desde o começo, nas primeiras frases que compus’. No lançamento de um livro de Luiz Carlos Felizardo, esse escreveu: ‘A D. Isolda que me levou a começar coisas das quais hoje eu me orgulho’. Não seria bem ‘a D. Isolda’, era, isso sim, a influência do colégio nas suas formações. No Colégio de Aplicação, novas metodologias eram constantemente criadas: Introduzimos o ensino das línguas por níveis. Uma criança lá iniciava os seus estudos sabendo um pouquinho de Francês e a outra sabendo muito e ficavam todos na mesma turma. Um não entendia nada do que o professor estava dizendo, o outro entendia demais e tinha vontade de dormir na classe. Então isso foi uma coisa belíssima, uma inovação no Brasil inteiro: introduzir o ensino de línguas estrangeiras por níveis. Fui eu quem fez todo esse trabalho: estabelecer os níveis para o FFrancês e para o IInglês (parte metodológica e técnica). 12 Depois nós fizemos o mesmo para o LLatim e por fim uma nova experiência: Filosofia em níveis, porque alguns alunos traziam muita leitura de casa e outros, coitados, nunca tinham ouvido falar do que nós tratávamos. Isolda criou também a utilização da linguagem cinematográfica para o ensino de leitura e de narrações de contos. Com aquela experiência, os alunos transformaram-se em magníficos narradores: “Sabiam como criar ambiente para os seus personagens, sabiam como mostrar a personagem em pontos fundamentais em que surgia como uma estrela em seu conto. Ah! Foi um espetáculo e foi copiado por muitos Colégios de Aplicação do Brasil.” O Colégio de Aplicação era um sem fim sem-fim de propostas arrojadas, inovadoras e para aqueles alunos as aulas eram um constante descobrir e aprender. A cultura e o professor Em sua casa, berço de toda a sua formação, Isolda tinhahavia uma biblioteca com obras diversas deixada por seu pai. Leu muitas delas, mesmo sem apreender plenamente o sentido. Mas achava bonitas apreciava muito aquelas leituras. Lembra-se que havia a uma Eenciclopédia de Oformada por obbras Ccélebres onde lia sobre povos longínquosse encontravam trechos de romances célebres, contos e excertos de textos de cultura geral. Quando lia sobre povos longínquos pensava: “Não sei bem quem é esse povo, mas é lindo. Um dia eu vou saber mais sobre isso...” Aqueles textos eram para ela um desafio, um incentivo para conhecer a obra completa e não apenas um segmento. Essa complementação encontrou, anos mais tarde, em seus estudos literários. E ela pensava: “Não sei bem quem é esse povo, mas é lindo. Um dia eu vou saber mais sobre isso...” Isolda destaca a importância do de uma sólida cultura geral, que conquistou graças ao acervo de livros que tinha à sua disposição, em seu lar. Acredita que uma aula só pode ser iluminada com o conhecimento da vida do homem e de uma civilização. Se uma aula se confina dentro de paredes e em pequenos episódios, a 13 imaginação da criança não consegue percorrer espaços e conhecer o que existe no mundo: “É uma aula muito morta.”. E reflete sobre a situação atual da vida de um professor: Ele ganha muito pouco e tem a sua casa, seus filhos e milhares de compromissos. Não tem tempo para estudar. Então o professor não tem estímulo para as suas aulas, que ficam neutras, automatizadas. Todos os dias é a mesma coisa. Ela acha que, em cada dia, o professor precisa levar aos alunos uma nova inspiração, trazendo para dentro da sala de aula a localidade, a cidade, o mundo. A criança precisa aprender a caminhar e é o professor que a orienta nessa descoberta. Ela precisa saber ler, aprender, fazer associações e utilizar o que sabe. Ela acredita que o conhecimento tem uma dinâmica intrínseca e é um meio de comunicação com o mundo. No caso do professor, “é a relação principal e o elo permanente entre o que ensina e o que aprende”. Sempre acreditou que o professor devia levar para a sala de aula uma nova inspiração, um estímulo, um desafio à inteligência e sensibilidade do aluno. Destaca que a criança precisa aprender a caminhar e é o professor que a orienta nessa descoberta. Ela precisa saber ler, aprender, fazer associações e utilizar o que sabe. E é impo rtante para um professor uma “cultura geral abrangente para chegar às convergências. Convergir para um ponto que tem que ser alimentado”. Para Isolda, o professor precisa ter sensibilidade e compreensão, sobretudo hoje nos dias atuais, em que a criança está, em muito lares, praticamente abandonada. Muitas famílias estão com poucas condições para educar, pois pai e mãe saem para o trabalho.também Com tristeza, diz que o lar perdeu aquele encanto que possuía, pois perdeu o sentido do encontro e aconchego. Além disso, se o pai e a mãe não lêem, a criança pode conservar esses hábitos familiares, situação alterada somente quando encontra fora do ambiente familiar estímulos e oportunidades para ampliar a sua cultura. 14 Continuando suas reflexões, pensa que aquele que é realmente educador tem desejo espontâneo e natural de crescer em seus conhecimentos e consegue realizálo através de um constante estudo. Mas precisa compartilhar o seu saber com outras pessoas e não guardá-lo apenas para si. Vamos acompanhar esses pensamentos de Isolda: O interesse do professor é fazer o aluno participar das suas ‘conquistas’: elas são mais valiosas quando incorporadas por outro, que é uma extensão das nossas experiências atualizadas. Transcende ao simplesmente ‘ensinar’. Há uma convocação espontânea da inteligência, sensibilidade, emoções do educando. O conhecimento é reelaborado de maneira singular, pela convergência de todas as potencialidades do aluno. Mais do que ensinar, é conduzir o educando à descoberta de si mesmo no plano de uma educação humana, criadora e independente. Isolda reconhece que a sua vida foi escrita em etapas felizes. A assimilação de valores desde a infância formou a base para torná-la uma verdadeira educadora: O educador, da forma como o identifico hoje, é o que eu acredito ter sido e continuo sendo. Embora meus interesses tenham tomado outra direção depois da aposentadoria, o espírito do educador permanece, dando, em muitos casos, parte do sentido da minha vida na intenção de busca da integração com o outro, visando uma troca, exatamente como acontece na relação professor-aluno. O educador é visto mais como aquele que ‘dá’, enquanto guia, orienta, ensina. E o aluno apenas como o que ‘recebe’. Mas não é bem assim. No sistema intelectual de inter-relação, o aluno, salvo exceções, se revela e essa revelação é um momento único para o professor. É nessa realidade complexa, singular para cada ser, que o educador descobre direções válidas para organizar uma experiência que se complete no plano intelectual e humano. Palavras finais Quando realizava a revisão dessa narrativa, em setembro de 2001, Isolda mais uma vez preparava-se para ir para a França, e dela recebi uma correspondência com seu “endereço temporário”, em Paris. Lá estava findando o verão e logo chegaria o outono. Lembrei-me então que sua mãe insistia para que ela percebesse a diferença entre “a luz branca e fria do verão e a luz do outono, suave, pura, de um brilho nítido, em que havia qualquer coisa de bruma azulada, cedo pela manhã e ao cair 15 da tarde”. O outono era a trégua entre o verão vibrante e o frio e melancólico inverno. E comentou Isolda: Ainda hoje, esse é o outono que amo. Percebo a suavidade, o brilho e a atmosfera levemente irreal, em que, se não vejo, imagino a bruma azulada. Sou uma libriana, portanto fantasia e realidade estão presentes na minha visão de mundo. Sei que ela está feliz em Paris. É outono, está aprendendo mais “coisas sobre o vinho”, comunica-se e... continua olhando novos horizontes. Sobre Isolda, ainda temos há assunto para um livro inteiro, mas outras pessoas poderão prosseguir, completar e reescrever sobre essa história de vida. <>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<>.<> Isolda Holmer Paes faleceu subitamente em 26 de janeiro de 2002, vitimada por um ataque cardíaco, ocorrido em sua residência. A mestra e “dama do vinho” viajou para outros horizontes, mas permanece conosco o exemplo de sua vida: seu caráter, sua maneira especial de ser e viver, sua grandeza, espírito de doação e sua enorme cultura e sede de aprender. Continuará sempre sendo a “nossa” eterna Professora e orgulho-me de tê-la conhecido. 16 ANEXO ISOLDA HOLMER PAES Local de Nascimento: Taquara Data de Nascimento: 27-09-1911 Filiação: Francisco Otto Holmer e Maria José Wellausen Holmer. • Bacharelado e Licenciatura em Letras (1946/1947) pela Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). • Cursos de Extensão, Especialização e Aperfeiçoamento nas áreas de Lingüística; Teoria e Crítica Literárias; Estilística Aplicada; Filologia Portuguesa; Literatura Portuguesa; Filosofia Grega. • Estágios nos “Centre de Recherches Pedagogiques de Sèvres” - França e no “Consejo Superior de Pesquisas de Madrid” - Universidade de Madrid Espanha (como convidada especial). • Exercício do Magistério no Instituto de Letras - Faculdade de Educação/UFRGS; Instituto de Educação “General Flores da Cunha” (Porto Alegre) e Escola Técnica Ernesto Dornelles (Porto Alegre). • Publicações: “Fundamentos do Estudo Dirigido para as escolas do Senai”; “A experimentação especificamente didática”, 1973; “Formação intensiva do professor – Microexperiência de ensino com modalidade de treinamento” - Edição INEP (Esgotado); “Cadernos de Metodologia – Comunicação e Expressão – Vol. I (Projeto prioritário para o ensino de 1º grau)” – Edição do MEC, 1976. • Presidente das Comissões Especializadas em Ensino de Língua e Literatura, Lingüística Aplicada, Educação/UFRGS; da Comissão de Supervisão e Execução do Concurso Vestibular da Faculdade de Direito/UFRGS; da Associação Lígia Averbuch (em duas gestões); da Associação dos Amigos do Museu de Artes do Rio Grande do Sul (por duas gestões); do Conselho da Associação do Ex-aluno da UFURGS e, durante 10 anos, da COPERSO (Comissão Permanente de Seleção e Orientação/UFRGS). • Coordenadora do Laboratório de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação (foi também Membro Fundador); da Área de Lingüística do Colégio de 17 Aplicação da UFRGS; dos Exames de Suficiência da Faculdade de Filosofia da UFRGS. • Participação no planejamento do Colégio de Aplicação de Florianópolis e Belém do Pará; em Congressos de Educação em Porto Alegre e em outros Estados (com apresentação de trabalhos); no planejamento e execução do projeto ZH na Sala de Aula/RBS - 1980. • Membro das Comissões: do Concurso para a Faculdade de Filosofia da UFRGS; dos Exames de Suficiência de Francês, Espanhol e Língua Portuguesa – Faculdade de Filosofia/UFRGS; do Planejamento, Implantação e Desenvolvimento da Faculdade de Educação/UFRGS; da Banca Examinadora dos Exames de Suficiência para Professores do Ensino Profissional do RS; do Conselho Consultivo da Associação de Bibliotecários do RS; do Concurso de Provas para Registro Definitivo dos Professores do Ensino Comercial – Faculdade de Ciências Econômicas/UFRGS; do Anteprojeto de Reestruturação dos Quadros do Pessoal dos Serviços das Escolas Técnicas do Estado – Superintendência do Ensino Profissional; do Anteprojeto de Registro Interno do Colégio de Aplicação/UFRGS. Foi também membro do Conselho Estadual de Cultura; da Sociedade Brasileira de Planejamento; da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; do Conselho Consultivo da Sociedade Riograndense de Educação; do Conselho Consultivo da Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do Estado; do Conselho Consultivo da Associação de Bibliotecários do RS; do Conselho Deliberativo do Centro Cultural Franco-Brasileiro – Alliance Française; do Instituto de Cultura Hispânica/PUC; do Conselho Deliberativo da Fundação Teatro São Pedro. • Outras Atividades e Funções: Participou da fundação das 1ª e 10ª Alliance Française de Porto Alegre, em 1947 e 1968; do planejamento e instalação do Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia/UFRGS, por designação do Reitor Elyseu Paglioli, em colaboração com a Professora Graciema Pacheco; da Direção do Colégio de Aplicação/UFRGS; foi Educadora-Assistente da CADES/Ministério de Educação junto às classes experimentais do Instituto de Educação General Flores da Cunha e do Colégio Americano; foi Chefe do Departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação/UFRGS; 18 organizou a equipe especializada das diversas disciplinas do Ensino Médio para a elaboração de provas objetivas do Vestibular em convênio com a Fundação Carlos Chagas; ministrou cursos e proferiu palestras na área da educação em diversos municípios do Rio Grande do Sul, como Porto Alegre, São Leopoldo, Caxias do Sul, Pelotas, Lajeado, Jaguarão, Rio Grande, Santa Maria; participou de dezenas de congressos e encontros nas áreas da educação, folclore e tecnologia aplicada à educação; foi representante da Alliance Française no Centenário das Alliances Françaises dos cinco continentes, em Paris, em 1986; produziu artigos, proferiu conferências e concedeu entrevistas, em jornais, rádios e emissoras de televisão do sul do Brasil, sobre a França e vinhos franceses; participou de várias edições da VINEXPO (Salão Mundial de Vinhos e Destilados, maior evento anual do setor realizado tradicionalmente em Bordeaux/França). • Outras Participações e Distinções: “Officier d’Académie”, título concedido pelo Governo da França por serviços prestados à cultura francesa, 1955; “Personalidade Feminina do Ano” em Educação, 1976; “Professora Benemérita” da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), 1987; “Professora Emérita” da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); “Prêmio em Educação Tereza Noronha”, 1997; “Mulheres de Ouro”, 1992; “Destaque Profissional” da Associação Diplomadas Universitárias, 1991; Medalha da Academia Brasileira de História; Presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho/RS, sendo responsável pela apresentação e degustação de vinhos franceses; Membro da “Association of Wine Tasters”, Maastrick, na Holanda, e “Chevaliers du TasteVin”, na Borgonha/França; Título de Chevalier, conferido pela “Association Internationale de Maitres Conseils en Gastronomie Française” – 1989; Título de “Cofrère Compagnos”, recebido na Holanda em maio de 1996; “Membro Honorário da Confraria De Landier”, título conferido pela Bacardi-Martini do Brasil através de sua Divisão de Vinhos Finos de Garibaldi no RS – 1996; “Madrinha de Honra da 1ª Feira de Vinhos de Flores da Cunha” – 1997; “Embajadora Universal de los Vinos del Mundo 1998”, título conferido pela Confraria Internacional Los Vinos y la Pachamama – Mendoza/Argentina – 1998; “Troféu Vitis” da Associação Brasileira de Enologia - ABE em Bento Gonçalves – 1998; Participação no “Congresso Mundial e Concurso La Mujer Elije” em Mendoza – Argentina – 1999/2000; “Troféu Enoteca Italiana” e o título de “Sócia Honorária 19 da Soaves” – ES – 2000. Por seus trabalhos junto à enologia, recebeu dedicatória especial em sua homenagem no "Guia dos Vinhos Brasileiros" publicado pela Academia do Vinho - 2001. .