CORRELAÇÕES ENTRE AS CONDIÇÕES DE NASCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS NOS DOIS PRIMEIROS MESES DE VIDA Taís Chiodelli¹; Veronica Aparecida Pereira2; Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues3, Carla Suzana Oliveira e Silva1; Vanessa Faria Mendes4 ¹Bolsistas PIBIC-UFGD, Acadêmicas do Curso de Psicologia da UFGD; 2 Docente do Curso de Psicologia, Faculdade de Ciências Humanas - FCH – Laboratório de Estudos em Desenvolvimento Humano – LEDH. Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD – Orientadora do projeto; 3Docente do Curso de Psicologia, Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem; 4Bolsista PROEX-UFGD, Acadêmica do Curso de Psicologia da UFGD. RESUMO O presente estudo correlacionou o desempenho de bebês nas áreas de cognição, socialização, desenvolvimento motor, linguagem e autocuidados no primeiro e segundo mês de vida às condições de nascimento: idade gestacional e peso do bebê ao nascer. Participaram do estudo dezesseis mães e seus bebês. As mães foram contatadas e convidadas a participar do estudo por meio de visita hospitalar realizada após o nascimento do bebê. O atendimento ocorreu no Laboratório Serviço de Psicologia Aplicada (LabSPA), vinculado ao curso de Psicologia da UFGD. Para obtenção dos dados foram utilizados dois instrumentos: 1) entrevista semiestruturada, respondida pelas mães, a fim de identificar a história gestacional e dados da saúde da mãe e do bebê e 2) o Inventário Portage Operacionalizado (IPO) usado para avaliar o desenvolvimento dos bebês. Os dados obtidos foram categorizados e analisados a partir do programa SPSS por meio de estatística descritiva e teste correlacional de pearson. Os resultados apontaram a idade gestacional como uma variável com diferença significativa para a área motora no segundo mês de vida do bebê (p=0,026). A variável peso do bebê ao nascer indicou uma correlação negativa (p=0,29) quando correlacionada à cognição do bebê no segundo mês de vida. Os dados apontados no estudo referendam a importância da orientação às mães e acompanhamento de bebês durante a primeira infância. Palavras-chave: Desenvolvimento de bebês; Idade gestacional; Peso ao nascer. INTRODUÇÃO Tornar-se mãe envolve a aprendizagem de uma série de habilidades e competências, em contextos sociais que muitas vezes são desfavoráveis, ou mesmo, de risco (GONÇALVES, 2008). Entre condições favoráveis para a aprendizagem da maternidade, encontram-se os fatores: gravidez planejada, recursos sociais que garantam a permanência da mãe com o bebê 1 nos primeiros meses, atendimento pré-natal (PICCININI et al., 2012), redes de apoio familiar e social (DESSEN; BRAZ, 2000; LOPES; PROCHNOW; PICCININI, 2010), assistência à saúde da gestante durante e depois da gravidez (SOUZA et al., 2011). Tais fatores poderão favorecer a estruturação da gestante em seu novo papel, a organização de uma nova dinâmica familiar (sono, autocuidados, atividade física) e cuidados com o bebê (SOUZA et al., 2010; COUTO; PRAÇA, 2012; MARCACINEL; ORATI; ABRÃO, 2012). Dessen e Braz (2000) argumentaram que a sobrecarga de trabalho decorrente dos cuidados dispensados ao bebê e as variações no comportamento do mesmo, devido ao seu desenvolvimento, requerem da mãe e da família adaptações constantes às demandas da nova situação. Neste sentido, o suporte da rede de apoio é fundamental à família em períodos de transições decorrentes do nascimento de filhos (LOPES; PROCHNOW; PICCININI, 2010). Em contrapartida, entre as condições desfavoráveis à maternidade, destacam-se os fatores de risco associados à gravidez na adolescência, hipertensão, diabetes e outros agravantes. No contexto social têm destaque a violência à mulher e à criança, o desemprego, uso de drogas, exposição a ambientes contaminados ou com baixo nível de saneamento básico e pobreza. Estes fatores, associados ou não, podem constituir condições de risco ao desenvolvimento infantil e à saúde da mulher (GAMA, 2001). Oliveira et. al. (2008) argumentam que o peso apresentado pelo bebê ao nascer é considerado um dos preditores para analisar a saúde imediata e futura do bebê recém-nascido. Aqueles que apresentam peso menor que 1.500g e idade gestacional inferior a 32 semanas, podem ter seu crescimento e desenvolvimento comprometido, uma vez que muito baixo peso pode ser relevante na taxa de mortalidade infantil. Brum e Schermann (2004), apontam outros fatores de risco inerentes ao bebê, como doenças congênitas, deficiências, condições de aleitamento e falta de acompanhamento peri e pós-natal. Há ainda dificuldade no estabelecimento de vínculo entre mãe-bebê, muitas vezes, consequência de internação e/ou afastamento da mãe durante o período perinatal. Souza et al. (2010) apontaram que os pais requerem apoio nos cuidados com o bebê prematuro no processo de transição da vida hospitalar para o domicilio. Sobre essa questão, Brum e Schermann (2004) apresentaram que intervenções de promoção de saúde e prevenção de agravos dirigida às famílias de recém-nascidos são necessárias para promover uma melhor qualidade de vida para os envolvidos neste processo. 2 Nesse contexto, a presente pesquisa teve por objetivo correlacionar o desempenho de bebês nas áreas de cognição, socialização, desenvolvimento motor, linguagem e autocuidados no primeiro e segundo mês de vida às condições de nascimento: idade gestacional e peso do bebê ao nascer. MÉTODO O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) atendendo todas as normas previstas na Resolução 196 do CONEP. As mães foram visitadas na ocasião do nascimento do bebê, no Hospital Universitário. Os responsáveis pelo bebê foram informados acerca do projeto e as dúvidas, sanadas. Em caso de concordância, a mãe ou cuidadora assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Participaram do presente estudo dezesseis mães e seus bebês. As mães tinham idade entre dezesseis e quarenta e quatro anos, estando a maioria (56,3%) na faixa etária de vinte e dois a vinte e oito anos. Os bebês em sua maioria (87,5%) foram nascidos a termo. O atendimento ocorreu no Laboratório Serviço de Psicologia Aplicada (LabSPA), vinculado ao curso de Psicologia da UFGD. No primeiro encontro a mãe respondeu a um formulário de entrevista semi-estruturada, que visou identificar a história gestacional e dados da saúde da mãe e do bebê no período pré e pós-natal. O bebê, em ambos os encontros, foi avaliado a partir do Inventário Portage Operacionalizado – IPO (WILLIANS; AIELLO, 2001) que propõe a avaliação infantil nas áreas de socialização, desenvolvimento motor, cognição, linguagem e autocuidados. Os dados foram analisados usando o programa estatístico SPSS para Windows, versão 18 por meio de estatística descritiva e teste correlacional de Pearson. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os bebês tiveram seu desenvolvimento avaliado em cinco áreas: motor, cognição, autocuidados, linguagem e socialização. A partir da avaliação do IPO foi possível identificar o número de comportamentos presentes em cada área de desenvolvimento. Os resultados 3 apontaram melhor desempenho dos bebês, tanto no primeiro como no segundo mês de vida, na área de socialização. O desempenho dos bebês nas áreas avaliadas pelo IPO foi correlacionado às condições de nascimento: idade gestacional e peso do bebê ao nascer. A idade gestacional foi uma variável com diferença significante para a área motora no segundo mês de vida do bebê (p=0,026). Esse dado também é observado em pesquisa realizada por Rodrigues e Bolsoni-Silva (2011). As autoras avaliaram, a partir do IPO, 130 lactentes divididos em dois grupos: sem condições de risco identificado pela ocasião do nascimento e nascidos prematuros. Os resultados apontaram que os bebês prematuros apresentaram desempenhos inferiores aos demais em três áreas avaliadas, dentre elas a motora. Castro et al., (2007) e Guimarães et al. (2011) também identificaram, em seus estudos, prejuízos no desenvolvimento motor de bebês prematuros relacionados à idade gestacional. Não foram observadas diferenças significativas entre a correlação dessa variável com as demais áreas avaliadas pelo IPO. Observou-se uma correlação negativa (p=0,29) entre o peso do bebê ao nascer e a área de cognição no segundo mês de vida do bebê. Este resultado indica que bebês de menor peso tiveram melhor desempenho. No entanto, nesta amostra, nenhum dos bebês obteve peso de risco (todos com peso superior a 2500g ao nascer). CONCLUSÕES Os dados apontados no presente estudo referendam a importância do acompanhamento de bebês durante a primeira infância. Fatores de risco ao desenvolvimento infantil, como idade gestacional e peso ao nascer, precisam ser alvos de atenção, uma vez que interferem no desenvolvimento do bebê. Estudos longitudinais e com populações maiores poderão contribuir para o refinamento dos dados, contribuindo para minimizar ou eliminar condições de risco para o desenvolvimento infantil. REFERÊNCIAS 4 BRUM, E. H. M. de; SCHERMANN, L. Vínculos iniciais e desenvolvimento infantil: abordagem teórica em situação de nascimento de risco. Ciênc. saúde coletiva, v.9, n.2, p. 457-467, 2004. 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