UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA GÊNEROS TEXTUAIS NA SALA DE AULA: PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ESCOLA ADEMAR VELOSO DA SILVEIRA CAMPINA GRANDE, PB NOVEMBRO DE 2013 HEBBER KENNADY MARTINS DOS SANTOS GÊNEROS TEXTUAIS NA SALA DE AULA: PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ESCOLA ADEMAR VELOSO DA SILVEIRA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à coordenação de Letras Virtual da Universidade Federal da Paraíba como requisito para a obtenção do grau de Licenciado Pleno em Letras. Orientadora: Prof. Dr. Maria das Dores Oliveira de Albuquerque CAMPINA GRANDE, PB NOVEMBRO DE 2013 HEBBER KENNADY MARTINS DOS SANTOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à coordenação de Letras Virtual da Universidade Federal da Paraíba como requisito para a obtenção do grau de Licenciado Pleno em Letras. Data de aprovação: 29 /11/2013 Banca Examinadora: ____________________________________________________________________ Orientador Prof.Dr. Maria das Dores Oliveira de Albuquerque ____________________________________________________________________ 1ª Examinadora Profa. Dra. Maria do Socorro Burity Dialecta ____________________________________________________________________ 2ª Examinadora Profa. Dra. Carmem de Lourdes de Araújo Teixeira RESUMO O presente relato de experiência descreve os resultados obtidos de uma prática pedagógica realizada com alunos do Ensino Médio da Escola de Ensino Fundamental e Médio, Ademar Veloso da Silveira. Para realizá-lo, utilizou-se para a metodologia uma pesquisa de cunho bibliográfico pela qual se enfatiza conceitos relativos aos gêneros textuais, sob as perspectivas da teoria da linguagem de Bakhtin (1992), Marcuschi (2002) e suas implicações como estratégia de ensino a partir da versão do PCNs. Em seguida se fez uma análise qualitativa das atividades de uma oficina realizada com alunos da referida Escola. Como resultados, verificou-se que ainda a maioria dos alunos apresenta dificuldades na produção escrita de gêneros textuais, pois, registram-se o não obedecimento de determinadas regras da gramática normativa da língua portuguesa. Destaca-se também a relevância deste trabalho para estudos futuros sobre a temática de gêneros textuais tanto no âmbito da universidade quanto na prática reflexiva escolar cotidiana. Palavras-chave: gêneros textuais, língua, linguagem. 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho expõe um “Relato de Experiência Docente” realizado em sala de aula durante o desenvolvimento de uma oficina intitulada “Gêneros textuais: produções de Curriculum Vitae e carta de apresentação” em agosto de 2013, na Escola Estadual Ademar Veloso da Silveira. A oficina teve como objetivo, a produção e a leitura de textos com os alunos sobre os gêneros textuais (Curriculum Vitae e carta de apresentação). Entre outras palavras, este relato descreve a experiência e analisa os resultados obtidos na oficina com alunos da turma do Ensino Médio do 1º Ano F. Esse relato se estrutura em dois capítulos: o primeiro se configura pela fundamentação intitulada de Os gêneros textuais e o ensino de Língua Portuguesa na qual discute a temática, gêneros textuais pautada nas teorias da linguagem promovida por Bakhtin (1992), Marcuschi (2002) aliada aos postulados dos PCNs. Já o segundo se detém no desenvolvimento e análise dos resultados da oficina citada acima. Consideramos que esse relato se constitui como um trabalho relevante para os interessados na área do ensino de língua portuguesa, uma vez que poderá servir como fonte de consulta para estudantes, professores, diretores e pesquisadores da área, proporcionando, dessa forma, possibilidades para aprimorar conhecimentos teóricos relacionados ao ensino de língua portuguesa utilizando gêneros textuais. 2 OS GÊNEROS TEXTUAIS E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 2.1 O ensino de Língua Portuguesa e os saberes dos PCN Desde o início da década de 80, o ensino de língua portuguesa na escola tem sido o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade da educação no País. No ensino fundamental, o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita. (BRASIL, 1997, p.19). É de conhecimento dos educadores (professores e pesquisadores) que o ensino de língua portuguesa no ensino fundamental tem encontrado dificuldades inerentes à questão da leitura e da escrita, isso se comprova pelos altos índices de repetência de alunos da disciplina, constatadas nas pesquisas oficiais. 5 De acordo com o documento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), “o fracasso escolar aponta a necessidade da reestruturação do ensino de Língua Portuguesa, com o objetivo de encontrar formas de garantir, de fato, a aprendizagem da leitura e da escrita” (BRASIL, 1997, p.19). Neste sentido, foram criados os PCN de Língua Portuguesa, em 1997, contendo alguns parâmetros e/ou propostas de trabalho, visando o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem com orientações didáticas a serem utilizadas pelos professores nas escolas. Os PCN resultam da tentativa do MEC de dar cumprimento ao artigo 210 da Constituição, segundo o qual “serão fixados os conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum...” O Ministério assumiu essa ação a partir de uma determinação da LDB, que no seu artigo 10 inciso IV, afirma caber à União estabelecer, em colaboração com os Estados, o DF e os Municípios, diretrizes que nortearão os currículos, os conteúdos mínimos, de modo a assegurar uma formação básica comum, para os níveis de ensino - infantil a médio. (CURY, 1998, p. 248). Na sequência das atividades propostas pelos PCN, encontramos a seguinte adoção para o ensino: atividades de leitura, atividades de produção textual e atividades de análise linguística. Em relação às atividades de leitura, os PCN possuem como proposta de trabalho voltada para uma reflexão sobre a língua, sobretudo por “possibilitar uma discussão sobre diferentes sentidos atribuídos aos textos e sobre os elementos discursivos que validam ou não essas atribuições de sentido. Propicia ainda a construção de um repertório de recursos linguísticos a ser utilizado na produção de textos” (BRASIL, 1997, p.54). No que trata das atividades de produção textual, os PCN trazem as propostas de atividades pautadas nos gêneros textuais/discursivo para motivar o aluno a manter contato com os mais diversos textos, tornando-o capaz de se posicionar sóciohistoricamente e de produzir textos coerentes e com objetivos. Em relação às atividades de análise linguística, os PCN conceituam como “aquelas que tornam determinadas características de linguagem como objeto de reflexão” (BRASIL, 1997, p.53). O documento ainda destaca que as atividades a serem 6 trabalhadas, apoiam-se em dois fatores: a capacidade humana de refletir, analisar, pensar sobre os fatos e os fenômenos de linguagem, bem como a propriedade que a linguagem tem de poder referir-se a si mesma, de falar sobre a própria linguagem. As atividades de análise linguística não são uma invenção escolar. Por exemplo, quando alguém, no meio de uma conversa, pergunta “O que você quis dizer com isso?”, está realizando uma atividade epilinguística. Quando planejadas didaticamente, situações desse tipo podem constituir uma importante fonte de questionamento, análise e organização de informações sobre a língua e, no processo de ensino, devem anteceder as práticas de reflexão metalinguística, para que essas possam ter algum significado para os alunos. (BRASIL, 1997, p.54) De acordo com Souza (1984), os PCN de língua portuguesa apresentam propostas de organização de conteúdos e delimitação de objetivos que visam à formação do aluno como coautor do conhecimento, não somente reproduzindo terminologia gramatical – tal qual se vê no ensino mais tradicional – mas principalmente fazendo com que o aluno reflita. Destacamos ainda que, neste contexto, a compreensão do conceito de gênero e o reconhecimento das possibilidades do uso da linguagem e da língua na sala de aula tornam-se necessário para todos os educadores. De modo que o item seguinte retornará tais concepções. 2.2 Concepções de Linguagem e de língua Os estudos sobre a linguagem sempre estiveram presentes nas reflexões e questionamentos de pesquisadores de todas as épocas e de todas as áreas do conhecimento que visam compreender profundamente esta temática. De forma que reconhecemos que Bakhtin (1995) concebe a linguagem como forma ou processo de interação. Nessa concepção, o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outro, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor), através dela, o sujeito que fala, pratica ações. Vimos que Almeida (2007) também corrobora com a concepção do pensador acima quando diz que através da linguagem, que damos forma à compreensão, às experiências cotidianas, reavaliando continuamente os fatores externos, modificando-os 7 numa incessante troca com o outro. Além disto, a autora considera que a capacidade de comunicar por meio de código de linguagem se faz presente em todas as atividades humanas de comunicação. Assim, a linguagem pode ser definida como um conjunto de códigos pelo qual nos comunicamos uns com os outros e que o seu papel fundamental é a constituição de sujeitos. No documento dos PCN de língua portuguesa, podemos encontrar também uma definição sobre a especificidade da linguagem: A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, entre amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir uma carta — diferentes práticas sociais das quais se podem participar (BRASIL. 1997, p.22). A título de reforço e ou complementação, apresentamos outras concepções de estudiosos que se debruçaram sobre esta temática, a exemplo de Marcuschi (2008) ao apresentar quatro concepções de linguagem: forma e estrutura, instrumento de comunicação, atividade cognitiva/representação do pensamento e atividade sociointeracionista situada. Na concepção de forma e estrutura, a língua era tomada como um código ou sistemas de signos e sua análise era inseparável da do objeto – a língua, a linha de pesquisa dissocia o contexto e a situação, bem como os aspectos discursivos sociais e históricos, restringindo-a, apenas, a uma unidade do sistema (SILVA, 2011 p.2). A linguagem pode se instaurar como verbal e não verbal. Na primeira: a linguagem verbal, na qual, expomos nosso pensamento, através da escrita e da oralidade, utilizando diversos gêneros textuais que estão presentes em nossas vidas cotidianas. Como podemos constatar no dizer do pensador a seguir: Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam 8 em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida (BAKHTIN, 1999, p.5). Já a linguagem não verbal é aquela constituída por símbolos estabelecidos socialmente, gestos, tom de voz, postura corporal, entre outros aspectos que possam oferecer sentido e significação do processo de comunicação estruturado para aquele domínio de linguagem. As artes, as danças, as pinturas, as esculturas, os gestos são exemplos de comunicação sem palavra. Almeida (2011) considera que o trabalho com linguagem, especialmente, com gêneros requer outra postura, ou seja, uma prática pautada em concepções de gêneros, de texto, de leitura e de produção. Ela diz: “esta postura exige muita dedicação e boa formação do professor para atuar na sala de aula. Por essa visão que está ligada a teoria da linguagem de orientação sociointeracionista, ler e escrever tomam novas formas de aprendizagem exigindo dos leitores/escritores outro modo de ver e lidar com a linguagem. O mundo mudou, os meninos e as meninas mudaram, chegou também a tecnologia para auxiliar na educação” (ALMEIDA, 2007, p.130). No que se refere à concepção de língua, não podemos deixar de mencionar Saussure por afirmar que “a língua era fundamentalmente um instrumento de comunicação”. Assim, a linguística saussureana constituiu como uma das rupturas principais em relação às concepções anteriores, como a dos comparativistas e das gramáticas gerais do século XIX. Podemos, nos PCN (1997), encontrar também uma definição para a língua, tal como: A língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas (BRASIL. 1997, p.22). Como podemos ver, os PCN levantaram a bandeira por uma concepção de língua tida como uma forma de ação social e histórica que, ao dizer, também constitui a realidade, sem, contudo cair num subjetivismo ou idealismo ingênuo. Fugimos também de um realismo externalista, mas não nos situamos numa visão subjetivista. Assim, toda a postura teórica aqui desenvolvida insere-se nos quadros da hipótese sócio-interativa da língua. É neste contexto que os gêneros textuais se constituem como ações sócio9 discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo (MARCUSCHI, 2002, p.3). Retomamos aos dizeres de Almeida (2011, p. 122), ao afirmar que “a língua é um solo comum da cultura de um povo, ela representa um dos mais fortes laços de união entre os membros de uma comunidade e também representa a perpetuação da nossa história, através dos tempos”. A língua é instrumento de poder, tal como Souza, Silva, Silva nos evidencia: “Pesquisando-a nas suas possibilidades de dizer, através da leitura e da escrita, construímos um aperfeiçoamento para além dela mesma enquanto código. É na língua, na linguagem que encontramos muito de nosso potencial de realização, de compreensão do mundo e de redimensionamento da vida” (SOUZA, SILVA, SILVA, p.9). Entendemos que a escola tem muito a fazer nessa direção, desde a repensar em novas concepções para investir em novas formas de compreender como se dá a relação anteriormente mencionada. É urgente focalizarmos atentamente questões relacionadas às dificuldades do ensino de língua portuguesa para que este se constitua como um relevante recurso em função da participação dos sujeitos nesta sociedade que tem como uma de suas principais referências à escrita. A partir desse prisma, focaremos a seguir nas concepções de gêneros textuais como uma das principais formas de instrumentos de aprendizagem desse mecanismo. 2.3 Concepções de Gêneros textuais Marcuschi (2002) conceitua gênero textual como uma noção vaga para os textos materializados, encontrados no dia-a-dia, e que apresentam características sóciocomunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Vejamos alguns exemplos apresentados por esse autor: Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, 10 edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante (MARCUSCHI, 2002, p.2) O autor afirma ainda que o trabalho com o gênero é uma grande oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Cita os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998), dizendo que apresentam a ideia básica de que um maior conhecimento do funcionamento dos Gêneros textuais é importante para a produção e para a compreensão de textos. De acordo com Marcuschi (2002, p.3), são algumas das características presentes nos gêneros textuais: realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função. Acrescentamos ainda a visão de Bakhtin (1992) que os gêneros eram tipos "relativamente estáveis" de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da atividade humana. São muito mais famílias de textos com uma série de semelhanças. Eles são eventos linguísticos, mas não se definem por características linguísticas: caracterizam-se, como já dissemos, enquanto atividades sóciodiscursivas. Sendo os gêneros fenômenos sócio-históricos e culturalmente sensíveis, não há como fazer uma lista fechada de todos os gêneros. Outros autores retomam Bakhtin (1992), a exemplo de Travaglia (1991) que afirma que gênero textual é aquele que se caracteriza por exercer uma função social específica. Para este autor, estas funções sociais são pressentidas e vivenciadas pelos usuários. Isso equivale dizer que, intuitivamente, sabemos que gênero usar em momentos específicos de interação, de acordo com a função social do gênero. Quando vamos escrever um e-mail, sabemos que ele pode apresentar características que farão com que ele “funcione” de maneira diferente. Assim, escrever um e-mail para um amigo não é o mesmo que escrever um e-mail para uma universidade pedindo informações sobre um concurso público, por exemplo. Deste modo, compreendemos que os gêneros textuais estão diretamente ligados às nossas atividades comunicativas, portanto, podemos até dizer que a quantidade de 11 gêneros é quase infinita. Os textos são concretizações dos gêneros, ou seja, quando falamos de gêneros passamos necessariamente pelos textos (verbais, não verbais, orais e escritos). Sabemos que quando um tema é discutido, ele toma diferentes versões de ser apresentado. E com gêneros não foi diferente, por isso, expomos a seguir como os autores diferentes nomeiam gênero textual. 2.3.1 Gênero discursivo e gênero textual: uma questão de nomenclatura Sempre que participamos de debates sobre gênero textual, aparecem várias indagações: se há diferença entre gênero discursivo e gênero textual. Indagações que só serão solucionadas pelas versões dos estudiosos escolhidos para esse trabalho. A denominação de gênero discursivo é apresentada pela primeira vez pelo autor russo Mikhail Bakhtin como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 1979, p. 279). O referido autor nos convence de que os gêneros do discurso são processos interativos com três dimensões essenciais e indissociáveis – conteúdo temático, forma composicional e estilo verbal – determinados pelos parâmetros da situação de produção Para Bakhtin (2003), os gêneros de que os interlocutores sociais fazem uso nas interações verbais são tão diversos e heterogêneos quanto à diversidade de esferas de circulação social nas interações verbais e na diversidade da atividade humana. Assim sendo, de acordo com Arcoverde (2007, p.2), “os gêneros que circulam nas diferentes esferas refletem o conjunto possível de temas e de relações nas formas e estilos de dizer e de enunciar”. Nesse contexto, o enunciado constitui a unidade fundamental da língua e está sempre inscrito nas relações sociais, incorpora o estilo, composição e tema. Esses aspectos estão “indissoluvelmente” vinculados e se concretizam em forma de gêneros, sejam de esferas cotidianas (gêneros primários) ou de esferas mais complexas, formais e públicas (gêneros secundários). Se falamos em gêneros discursivos anteriormente, enunciamos o mesmo significado para gênero textual à luz de Marcuschi, quando diz: 12 Os gêneros não são entidades naturais como as borboletas, as pedras, os rios e as estrelas, mas são artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano. Não podemos defini-los mediante certas propriedades que lhe devam ser necessárias e suficientes. Assim, um gênero pode não ter uma determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gênero. Por exemplo, uma carta pessoal ainda é uma carta, mesmo que a autora tenha esquecido de assinar o nome no final e só tenha dito no início: ‘querida mamãe’. (Marcuschi, 2002, p. 30.) Neste sentido, os gêneros textuais ou discursivos são tão diversos quanto permite a esfera da atividade humana em que se produz a linguagem. Assim, cada esfera elabora seus gêneros, de acordo com aspectos sociais próprios, finalidades comunicativas e especificidades das situações de interação em que os enunciados estão sendo produzidos. 2.3.2 Tipologia textual Quando falamos sobre gênero discursivo ou textual ou uma da versão já demonstrada, vem à tona a necessidade de expormos o que significa tipologia textual. Termo tão bem explorado pelo linguista Marcuschi. Para ele, tipologia textual é usado “para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas)” (MARCUSCHI, 2002, p. 22). Dentre outros autores, também expomos o que nos diz Travaglia (1991) que conceitua também tipologia textual como: “aquilo que pode instaura um modo de interação, uma maneira de interlocução, segundo perspectivas que podem variar. Essas perspectivas podem, segundo o autor, estar ligadas ao produtor do texto em relação ao objeto do dizer quanto ao fazer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto à inserção destes no tempo e/ou no espaço”. Assim, Travaglia (1996, p. 104) afirma ainda que os “estudos sobre Tipologia textual apresentam uma infinidade de tipologias criadas e propostas para diferentes fins de análise e de uso prático”. Ainda o mesmo autor considera que: 13 Cada texto se distingue dos demais por uma correlação de marcas e propriedades, mas um tipo não se caracteriza apenas por traços formais do texto, pois um traço ou marca raramente é exclusivo de um tipo de texto ou discurso. Assim para caracterizar um discurso e/ou um texto preciso levantar marcas e correcioná-las determinada (s) propriedades (s), mostrando como funciona na interlocução (TRAVAGLIA, 1996, p. 107). Seriam muitos autores importantes que falam sobre tipologia textual, mas, por restrição de espaço, nos deteremos ainda no que falam Koch e Fávero (1987, p.5), por considerarem três dimensões interdependentes que seriam básicas na comparação/diferenciação de textos: a) dimensão pragmática (relacionada aos macroatos de fala que o texto realiza e aos diversos modos de atualização em situações comunicativas); b) dimensão esquemática global (relacionada aos modelos cognitivos ou esquemas formais); c) dimensão linguística da superfície que são as marcas sintáticos e semânticas encontradas no texto que facilitam ao alocutário o esforço da compreensão. Para concluir este tópico, retomamos Travaglia (1991, p. 108) por apresentar três tipologias fundamentais: primeira tipologia (descrição, dissertação, injunção e narração); a segunda tipologia (discursos da transformação em que o locutor vê o alocutário como não concordando com ele, seu adversário) e discurso da cumplicidade em que o locutor vê o alocutário como concordando com ele, como adepto do seu discurso e, por último, a terceira tipologia que trata dos textos preditivos (são sempre dissertações ou narrações futuras) e não preditivos. Seria muito importante discutirmos sobre cada tipologia dessas, através de exemplos. Mas, deixemos essa discussão para outro momento. Assim, nos detemos a seguir na apresentação das práticas desenvolvidas para esse trabalho, a qual é o eixo fundamental: a sua metodologia e análise. 3 METODOLOGIA E ANÁLISE DOS RESULTADOS O presente trabalho apresenta um “Relato de Experiência docente” cuja metodologia se desenvolveu em três etapas: a primeira de cunho bibliográfica com uma revisão sobre o tema gêneros textuais, constituída por análises de obras de autores da 14 atualidade. A segunda apresenta como se desenvolveu a experiência no processo de ação experimental e a terceira se estabeleceu pelas análises da experiência já citada. Destaca-se que a análise das obras mais recentes publicadas e disponíveis sobre a temática de gêneros textuais contribuiu tanto para construção do aporte teórico como para o desenvolvimento de uma oficina realizada na Escola Ademar Veloso da Silveira. A referida experiência teve como palco a Escola Estadual Ademar Veloso da Silveira, bairro do Bodocongó, município de Campina Grande, onde foram ministradas duas aulas para 22 alunos do 1º ano do Ensino Médio. Nessas aulas, se realizou uma oficina em que os alunos produziram, individualmente, uma carta de apresentação ou Curriculum Vitae. Seguimos um plano de aula cujo objetivo foi desenvolver a competência de leitura e produção textual dos alunos através dos gêneros textuais, carta de apresentação ou Curriculum Vitae. Na primeira aula, foram discutidas as diferenciações e conceitos relacionados ao tema com explicação na lousa e distribuição de modelos dos gêneros especificados e, ao final da aula, foi distribuído aos alunos, um questionário para detectar se os alunos, de fato, assimilaram o conteúdo. Na segunda aula, foi realizada uma revisão dos conteúdos e uma dinâmica entre os alunos com uma oficina constituída por 7 grupos com até 4 integrantes, mas a produção foi individual de qualquer um dos gêneros textuais (carta de apresentação ou Curriculum Vitae) aplicados na sala de aula. Na terceira etapa, destinada para análise dos resultados, foram recolhidas 22 atividades produzidas pelos alunos como: currículos e cartas de apresentação, bem como as respostas de um questionário discursivo (ver os anexos) aplicado com os alunos na primeira aula. Constatou-se que o Curriculum Vitae foi bem mais aceito, em virtude da maior quantidade (mais de 85%) de produções deste gênero textual, estima-se que pode ser em virtude da carta de apresentação exigir mais tarefas de escrita dos alunos ou ainda porque que não compreenderam bem como deveria ser uma estrutura de uma carta de apresentação. Ainda, nesta terceira etapa, após a coleta de dados, objetivou observar as respostas e a produção textual, que possibilitou fazer uma análise qualitativa para compor este estudo em questão dando ênfase a assimilação dos conteúdos pelos alunos. 15 Neste sentido, verificamos que na produção textual, erros ortográficos que contrariam a norma culta da língua portuguesa como da aluna A1 que escreveu sobre o Curriculum Vitae: “E um curriculum profional é uma pissoa que esta bem ifonada fornação pofional”. Assim sendo, percebe-se a ausência de concordância verbal e nominal, falta de acentos ortográficos, entre outros problemas na escrita. A aluna A1 também apresentou dificuldade no desenvolvimento da proposta da carta de apresentação individual com desvios ortográficos. No entanto, avalia-se que, além das respostas presentes no questionário apresentarem desvios ortográficos, avalia-se que a maioria das respostas foi ainda bastante vaga, apesar da aula ministrada anterior e a revisão terem enfatizado os principais conceitos sobre os gêneros textuais. Neste sentido, verifica-se a resposta dada da aluna A2: “O Curriculum Vitae é onde o candidato coloca os seus dados pessoais e a experiência que já teve. A finalidade do curriculum é passar informações pessoais para a empresa”. Analisa-se que a resposta dada pela aluna A2 é vaga e não atinge uma definição mais precisa sobre o gênero questionado. Verificamos ainda que cinco alunos não responderam o questionário proposto (ver Anexo A), talvez, pelo desconhecimento das respostas ou por displicência em responder o comando da questão. Quanto à estrutura das produções na oficina direcionada para a carta de apresentação e o respectivo curriculum, constatou-se que houve problemas na escrita, contudo, a maioria (89%) compreendeu como deveria constar a estrutura de uma carta ou um currículo a ser elaborado. Isto se deu, possivelmente, porque foi entregue aos alunos um modelo de ambos os gêneros, na aula anterior, possibilitando que criassem referências de conceitos sobre os gêneros textuais abordados. 16 4 CONCLUSÃO O ensino de língua portuguesa tem encontrado inúmeras dificuldades inerentes à questão da leitura e escrita, isto está comprovado pelos marcantes índices de reprovação na disciplina, como também apontam os dados disponíveis do desempenho dos alunos, no ano de 2012, na Prova Brasil e no Exame Nacional do Ensino Médio que confirmam este argumento. Além disto, as dificuldades podem estar contidas no uso de práticas pedagógicas que não contemplam a realidade escolar e/ou cotidiana do aluno. Por isso, a preocupação de se apresentar trabalhos que possa aprimorar esse ensino. A partir dessa constatação, acreditamos que as discussões desenvolvidas, nesse estudo foram de fundamental importância para a aprendizagem dos gêneros textuais. Destacamos ainda que a partir das análises dos resultados que culminou na elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), discutimos os resultados das atividades da oficina envolvendo ainda o aporte teórico escolhido. Verificamos que a maioria dos alunos compreendeu o conteúdo desenvolvido em sala de aula. Contudo, os resultados evidenciaram que há ainda dificuldades inerentes, sobretudo, à escrita, observada na produção textual dos alunos ao elaborarem seus currículos e cartas de apresentação. Apresentamos dois exemplos, neste relato de experiência, de duas alunas A1 e A2 em que ambas responderam um questionamento em relação ao conceito do Curriculum Vitae, avalio que a aluna A1 respondeu com uma produção escrita com erros gramaticais que revelam o desconhecimento da aluna das normas da língua portuguesa. Já a aluna A2 respondeu de forma vaga sobre o conceito, contudo, com obedecimento da gramática normativa. Constatamos ainda que a Escola Estadual Ademar Veloso não tem seguido as orientações contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), sobretudo, pelas indicações de como se deve trabalhar com gêneros textuais na sala de aula. Esta situação encontrada no ambiente escolar poderá suscitar outros trabalhos abordando esta temática. 17 Portanto, enfatizamos a importância da reflexão constante ainda sobre o papel das investigações também do professor na elaboração do plano de ensino da disciplina de língua portuguesa e da apreciação dos gêneros textuais a serem trabalhados na sala de aula, bem como da participação dos alunos nas atividades propostas objetivando a melhoria da produção escrita e da leitura. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS ALMEIDA, M. F., CAVALCANTE, M. B. Vivências do ensino de língua portuguesa: perspectivas e desafios. João Pessoa: Editora Universitária, 2011, v.1, p. 119-187. ARCOVERDE, M. D. L. Leitura, interpretação e produção textual./ Maria Divanira de Lima Arcoverde, Rossana Delmar de Lima Arcoverde. – Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007. BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ________ Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992 ________ Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1979, p. 277-326. BRASIL, Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, 3º e 4º Ciclos do Ensino fundamental. Secretaria de Educação Fundamental - Brasília - MEC/SEF, 1997. CURY, C. R. J.. Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Ensino Fundamental. In.: BARRETO, Elba de S. S (Org). Os currículos do ensino fundamental para as escolas brasileiras. Campinas, SP: Autores Associados; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, p.233-259, 1998. FÁVERO, L. L; KOCH, I. V. Contribuição a uma tipologia textual. In: Letras & Letras. Vol. 03, nº 01. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 1987, p. 3-10. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. MARCUSCHI, L. A.. “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. SOUZA, L. M. de. Por uma gramática pedagógica. Rio de Janeiro: UFRJ. Tese de Doutorado em Linguística, 1984. TRAVAGLIA, L. C. Tipologia textual e o ensino da produção de textos. In: XI Encontro Nacional de professores de Português, 1996, Natal. Anais do XI Encontro Nacional de Professores de Português. Natal: Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, 1996. p. 103‐117. ___________Um estudo textual discursivo do verbo no Português do Brasil. Campinas: IEL/UNICAMP, Tese de doutorado, 1991. 19 ANEXO A 20 ANEXO B 21 ANEXO C MODELO DE CARTA DE APRESENTAÇÃO Prezados Senhores, Em busca de nova proposta de trabalho na área Administrativo-Financeira, apresentolhes meu currículo anexo. Entre minhas características básicas encontram-se: adaptabilidade, bom humor, dinamismo, responsabilidade, dedicação ao trabalho e bom relacionamento em geral. Informo ainda que estou disponível para viagens, de acordo com a necessidade da organização. No aguardo de contato de sua parte, coloco-me à disposição para prestar-lhes mais esclarecimentos. Atenciosamente, Paulo Pedroso Alves 22 ANEXO D MODELO DE CURRICULUM VITAE Curriculum Vitae Paulo Pedroso Alves Dados Pessoais: Brasileiro, solteiro, 29 anos Endereço: Rua Castor de Afluentes Andradas, número 21 Bairro Prado – Belo Horizonte – MG Telefone: (31) 8721-0009 / E-mail: [email protected] Objetivo Cargo de Analista Financeiro. Formação Graduado em Administração de Empresas. UFMG, conclusão em 2003. Ensino Médio Profissional de Auxiliar Administrativo. Colégio Carmo, conclusão em 1998. Experiência Profissional 2004-2008 – Luzia & Rodrigues Investimentos Cargo: Analista Financeiro. Principais atividades: Análise técnica de balanço patrimonial, análise de custo de oportunidade, análise de estudos de mercado. 2001-2003 – ABRAÇO Tecnologia da Informação Cargo: Assistente Financeiro Principais atividades: Contas a pagar e a receber, controle do fluxo de caixa, pagamento de colaboradores, consolidação do balanço mensal. 2000-2001 - FIAT Automóveis Estágio extracurricular com duração de 6 meses junto ao Departamento de Custeio Outros Cursos Curso Complementar em Gestão de Investimentos de Renda Variável (2004). Inglês – Number One, 7 anos, conclusão em 2001. Informática: Word, Excell, Power Point – SENAC, 04 meses, março a junho de 1998. Belo Horizonte, 18 de fevereiro de 2011. Paulo Pedroso Alves 23