Visconde de Guarapuava:
personagem na história do Paraná
Trajetória de um homem do século XIX
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Zeloi Aparecida Martins dos Santos
Visconde de Guarapuava:
personagem na história do Paraná
Trajetória de um homem do século XIX
Universidade Estadual do Centro-Oeste
Guarapuava - Irati - Paraná - Brasil
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
UNICENTRO
Reitor: Vitor Hugo Zanette
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Conselho Editorial
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Gráfica UNICENTRO
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Foto Ilustrativa da capa
Chácara da Palmeira - Costa Branca da Serra.
Arquivo particular - Zeloi Martins Santos.
Documentos manuscritos - Arquivo de São Paulo
Catalogação na Publicação
Fabiano de Queiroz Jucá – CRB 9 / 1249
Biblioteca Central – UNICENTRO
S237v
SANTOS, Zeloi Aparecida Martins dos
Visconde de Guarapuava: personagem na história do Paraná:
trajetória de um homem do século XIX / Zeloi Aparecida Martins dos
Santos. – – Guarapuava : Unicentro, 2007.
236 p.
ISBN 978-85-89346-53-5
1. Paraná - História. 2. Paraná – Historiografia. 3. Paraná –
Colonização. 4. Visconde de Guarapuava. 5. Camargo, Antonio de Sá
e (Visconde de Guarapuava). I. Título.
CDD 981.62
Copyright © 2007 Editora UNICENTRO
Nota: O conteúdo da obra é de responsabilidade da autora.
Para meus filhos e marido: René José, René Neto,
Lívia e Emmanuel. Meus pais: Dalva e Israel (em
memória)
Agradecimentos
M
achado de Assis, em seu conto “Eterno”, do livro
Páginas recolhidas, diz que quando se deixa “pingar os anos na cuba
de um século”, o século se enche, e “cheio o século, passa o livro a
documento histórico, psicológico, anedótico” e será lido friamente e
a vida íntima daquele tempo será estudada, verificando a“maneira de
amar, a de compor mistérios e deitá-los abaixo” e “multidão de coisas
interessantes para a nossa história pública e íntima.”
Estudar história é estudar coisas públicas e íntimas, ao que
acrescento que é estudar em público, ou, ao menos, com a colaboração
de muitas pessoas.
E quando se consegue transformar a história em livro, o
pesquisador necessita agradecer àqueles que colaboraram para esse
feito de transformar o tempo vivido por determinado personagem
histórico em livro.
Então, é com muito prazer que registro aqui meu caloroso
agradecimento:
Às diversas pessoas que colaboraram ao longo da elaboração
do livro.
Ao reitor da Universidade Estadual do Centro – OesteUNICENTRO, Prof. Ms. Vitor Hugo Zanette, pelo apoio e incentivo
para publicação deste livro.
A Fundação Araucária pelo apoio e incentivo a publicação
e divulgação da pesquisa científica, desenvolvida nas universidades
paranaenses, em especial na UNICENTRO.
Ao prof. Dr. Carlos Roberto Antunes dos Santos, pela
orientação da pesquisa, pelas observações cuidadosas, pela paciência
e dedicação em ler e corrigir as diversas versões, por me fazer
compreender as sutilezas de transformar história em texto.
Aos professores e colegas do Departamento de História da
UNICENTRO – Guarapuava.
A equipe da Editora da UNICENTRO.
Aos amigos que acompanharam a minha trajetória de
professora pesquisadora.
Aos funcionários do Arquivo do Estado de São Paulo, do
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, do Arquivo Público do Paraná,
da Biblioteca Pública do Paraná - Divisão Paranaense, do Arquivo
Histórico de Guarapuava, do Arquivo Histórico da Câmara Municipal
de Guarapuava, do Arquivo da Catedral Nossa Senhora do Belém,
do Arquivo da Matriz Nossa Senhora da Conceição da Palmeira, aos
membros do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira.
Muito obrigada!
Profª. Dra. Zeloi Martins dos Santos
Apresentação
Q
ual foi o maior dos paranaenses? Essa questão discutida
recentemente por membros da comunidade intelectual destacou dois
nomes da mais alta importância para a História do Paraná: o Visconde
de Guarapuava e Bento Munhoz da Rocha Neto. Em 02/02/2004, em
artigo publicado na Gazeta do Povo, o acadêmico Luiz Romaguera
Netto destacava e celebrava Antonio de Sá Camargo, o Visconde
de Guarapuava, como “O maior homem do Paraná”. Dessa forma,
a história deste personagem, seus feitos, sua importância para a
comunidade local onde atuou, e para a Comarca e depois Província
do Paraná, na qual chegou a ser seu Vice-Presidente, evidenciam um
processo histórico extremamente rico, em que história e personagem
interagem fortemente ao longo do século XIX. Tais predicados levaram
os historiadores a apontarem suas pesquisas em direção à vida do
Visconde Guarapuava, transformando-o em tema de livro.
A imagem do Visconde Guarapuava perfila por diversos
momentos da história paranaense, e se torna contemporânea não
só quando se discute qual a nossa maior personagem, mas também
quando a comunidade curitibana reafirma o seu nome a uma das
mais importantes avenidas da cidade, em detrimento da proposta
daqueles que desejavam mudar o nome e transformá-la em Avenida
Getúlio Vargas. Na verdade, esta reafirmação de um lugar de memória,
constituiu um pleno reconhecimento da comunidade paranaense a
um dos seus mais ilustres integrantes.
Do exposto, a opção pelo gênero da biografia, buscando
conhecer o processo histórico em que atuou o Visconde, partiu da
constatação que nesta virada de milênio a ciência não existe mais no
singular. Os conhecimentos sobre o homem, seu futuro histórico, sua
produção material ou simbólica, individual ou coletiva, são constituídos
a partir de uma vasta gama de inteligibilidades, indissociadas de um
dispositivo multidimensional de pesquisas. Assim, a opção pelo gênero
da biografia, ainda que considerado por algumas escolas históricas
como um obscuro objeto de análise ou como gênero histórico–literário
superado, partiu como uma reação à própria situação das Ciências
Humanas. Este campo do conhecimento, ao longo de décadas, fez
perfilar processos sem sujeitos, o homem concreto foi deixado de lado,
apagado das suas relações sociais e pulverizado numa consciência
coletiva, na abstração das massas. Portanto, no domínio da história,
o biográfico e a história narrativa, vinculados ao evento, à superfície
do social acabaram desacreditados perante a academia e considerados
como gêneros esgotados. Entretanto, o gênero biográfico manteve
o seu prestígio no mundo anglo-saxônico. O historiador francês
Tocqueville na obra A Democracia na América havia assinalado que
os ingleses tinham aversão à abstração, isto é, aos grandes esquemas
teóricos. Isso se explica, pois os ingleses consideram-se filhos de uma
civilização aristocrática, preocupada pelo indivíduo, único no seu
gênero. Dessa forma, enquanto o gênero biográfico era condenado nos
círculos acadêmicos e pelas principais escolas históricas, no mundo
anglo-saxônico, a prática da biografia manteve-se corrente.
Entretanto, nos últimos anos, com a renovação dos estudos
históricos e com a afirmação do método da micro-história, filha
da Nova História, mudanças se acentuam por toda a parte. Com
a biografia, aportando uma certa revolução na historiografia. Na
verdade, este gênero histórico-literário ressurge, não mais tratado
no sentido clássico do termo. A biografia, hoje, enquanto objeto da
história, busca revelar os limites das liberdades das vidas privadas ou
públicas de pessoas de influência, face ao jogo complexo do processo
histórico, face às tramas da sociedade. Nesse sentido, a história dos
homens de influência implica em abordar: a) os destinos dos seus
nomes; b) as suas ações na História enquanto atores geniais e após
como expectadores desolados; c) as histórias dos seus povos, das quais
eles se constituem como atores privilegiados.
Ao perfilar estes estranhos homens de influência, que são
pioneiros sob diversos aspectos, devem ser consideradas as enormes
influências que exercem nas realidades em que estão inseridos. Ao
longo da história, tais personagens souberam ser mais livre que
outros, buscar novas alternativas, construir utopias e gestionar com
competência. Estas pessoas de influência por meio do prestígio e do
poderconseguiramirmaislongeque outros,mas,muitasvezes,também
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fracassaram, fazendo com que suas retiradas do social implicassem no
final de uma história, de um mundo, de uma cultura.
Dentro desse quadro teórico-metodológico renovado e
contemporâneo, é que se inscreve o trabalho da Profa. Zeloi Martins dos
Santos. Ao optar por estudar a trajetória do Visconde de Guarapuava
e a sociedade na qual se inseriu, pelo renovado gênero da biografia, a
autora teve consciência e competência de lidar ao mesmo tempo com
a história imediata e a longa história, o contingencial e o estrutural,
o instantâneo e o durável, enfim a história do ator e do observador
do seu tempo.
Na condição de orientador da tese de doutorado da Profa. Zeloi
Martins dos Santos, que torna-se livro, constatei a grandeza do
trabalho, pois ao produzir a história de um homem do século XIX, visto
a atuação secular do Visconde de Guarapuava (1807/1896), também
estava contribuindo para o conhecimento, em outras dimensões, das
complexidades da sociedade paranaense: a transição de Comarca à
condição de Província autônoma; as estruturas agrárias da época; o
enfrentamento bélico com o Paraguai; a abertura de caminhos para a
conquista do interior; a intensificação do comércio inter-provincial;
a ampliação do comércio do gado; o início da imigração européia; a
abolição da escravidão e a Proclamação da República.
Ao reconstruir a trajetória do Visconde de Guarapuava Antonio de Sá Camargo, a autora destacou as suas atividades públicas
como: Juiz de Paz, Delegado, Comandante da Guarda Nacional de
Guarapuava, Chefe local do partido Liberal, Vereador, Deputado
Provincial e Vice –Presidente da Província do Paraná. Tais atividades
aliadas àquelas ligadas ao comércio de terras e gados, permitem a
montagem de um amplo quadro onde perfilam os aspectos políticos,
sociais, econômicos e culturais, a níveis local, regional e nacional.
Diante de um enorme acervo documental, a Profa. Zeloi soube,
com muito primor e zelo, levantar e arrolar as fontes e fazê-las falar,
amparada pelos marcos teóricos/metodológicos do objeto da biografia.
Dessa forma, foi ousada e corajosa, sabendo se equilibrar no “fio da
navalha”e não cair numa história exclusivamente evenementiel, e nem
se comprometer com o mito do homem Visconde de Guarapuava, mas
sim, como coloca Giovanni Levi no texto, Les usages de la biographie,
“construir o contexto e evidenciar o entorno do indivíduo”.
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Finalmente, cumpre destacar que na obra Homens de
Influência o cientista social Jacques Attali comenta que todo o homem
de influência conheceu duas tragédias:“não obter aquilo que deseja, ou
obter”. Portanto, sucessos e fracassos contam imensamente na história
dos homens importantes, protagonistas da história. E o historiador
que produz a narrativa histórica de um homem de influência, acaba
também de perto ou de longe, refletindo sobre a sua própria história.
Penso que a competência ao tratamento do episódio e da totalidade
marcaram o livro da Profa. Zeloi Martins dos Santos, numa qualificada
integração orgânica.
Prof. Dr. Carlos Roberto Antunes dos Santos
Prof. Titular do Depto. de História/UFPR
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Sumário
Introdução........................................................................................................21
Capítulo 1
A imagem do Visconde de Guarapuava e a História do Paraná....33
Capítulo 2
O núcleo parental de Antonio de Sá e Camargo: a ocupação de terras
no Paraná..........................................................................................................63
Capítulo 3
Antonio de Sá e Camargo na Freguesia de Nossa
Senhora de Belém..........................................................................................89
Capítulo 4
Visconde de Guarapuava: um homem de prestígio na Província do
Paraná.............................................................................................................. 139
Considerações Finais.................................................................................. 181
Referências..................................................................................................... 189
Anexos............................................................................................................. 211
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