2011
NATÃ DE SOUZA OLIVEIRA
REDAÇÃO E TEXTUALIDADE
UM FOCO NO VESTIBULAR 2011 PARA A UFPB
Monografia apresentada ao Curso de
Licenciatura em Letras – Habilitação
Português – da Universidade Federal da
Paraíba, como requisito parcial à obtenção
do título de Licenciado em Letras.
Orientador: Maria Ester Vieira de Sousa
JOÃO PESSOA
2011
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CURSO DE CIÊNCIAS HUMANAS ARTES E LETRAS
NATÃ DE SOUZA OLIVEIRA
REDAÇÃO E TEXTUALIDADE
UM FOCO NO VESTIBULAR 2011 PARA A UFPB
Monografia aprovada em ____/____/____ para obtenção do título de Licenciado em
Letras - Português
Banca Examinadora:
_______________________________________
Maria Ester Vieira de Sousa
Professor(a) Orientador(a)
_______________________________________
Maria das Graças Carvalho Ribeiro
Professor(a) Convidado(a)
_______________________________________
Laurência Souto Sales
Professor(a) Convidado(a)
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RESUMO
Analisaremos a condição de Textualidade que se processa por três focos: pragmático,
semântico e formal. Para atender as condições pragmáticas, que é o aspecto funcional e
interacional da linguagem, utilizaremos o conceito de informatividade, que, em síntese,
é a informação nova que o texto trará para quem o ler; para atender ao aspecto
semântico, utilizaremos o conceito de coerência e coesão, que construirá a unidade do
texto; e, por último, no aspecto formal, utilizaremos a análise formal da língua, que é a
gramática em uso. Esses três elementos construirão a função e unidade do texto, de
forma que ele tenha uma interação social entre o autor e escritor. Tentaremos observar
essa capacidade de escrita, sustentada por essas três perspectivas, nas produções dos
candidatos do vestibular, e refletir sobre a competência da escrita que a escola oferece,
com o intuito de que possamos pensar numa direção para ensinar a escrita de forma
mais funcional. O maior desvio foi à regra da informatividade. Dentro dos resultados,
selecionamos sete redações para fazer uma análise qualitativa e demonstrar como
ocorrera o procedimento para a correção das outras.
Palavras chaves: Textualidade, informatividade, coerência e coesão, gramática.
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ABSTRACT
We will review the condition of textuality that is processed by three-pronged approach:
pragmatic, semantic and formal. To meet the pragmatic conditions, which is the
functional aspect of language and interaction, we use the concept of informativeness,
which, in summary, is new information that the text will bring to those who read, to
meet the semantics, we use the concept of coherence and cohesion, which will build the
unity of the text, and, finally, the formal aspect, we use the formal analysis of language,
which is the grammar in use. These three elements build the function and unity of the
text, so it has a social interaction between author and writer. We will try to observe this
writing skills, supported by these three perspectives, in the productions of the
candidates of vestibular, and reflect on the competence of writing that the school offers,
in order that we can think of a way to teach writing in a more functional. The largest
deviation was the rule of informativeness. Within the results, we selected seven essays
to make a qualitative analysis and demonstrate how the procedure occurred to fix the
other.
Keywords: Textuality, informativeness, coherence and cohesion, grammar
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SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6
II. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ............................................................................ 8
III. ANÁLISE CRÍTICA DO CORPUS ................................................................... 18
IV. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 30
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 34
VI. ANEXOS ............................................................................................................... 35
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I. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo analisar as condições de Textualidade
nas redações do vestibular (Processo Seletivo Seriado-2011) para o ingresso do aluno na
Universidade Federal da Paraíba. Esperamos, com isso, averiguar o nível de produção
textual dos candidatos pré-universitários e refletir acerca de um direcionamento para
repensar a prática de ensino em produção textual. Adotaremos uma concepção teórica
da linguística sobre a temática de Textualidade, com o auxílio de Maria da Graça Costa
Val (1999), que fundamentou teoricamente o seu trabalho com base no artigo
Introdução aos problemas da coerência dos textos, de M. Charolles.
O interesse em analisar o corpus escolhido surgiu com o objetivo de refletir e
repensar o ensino de produção de texto, já que as condições de textualidade, nas
redações, podem apresentar as consequências do ensino da Língua Portuguesa no
Ensino Fundamental e Médio. Em geral, sabe-se que esse ensino não atende às
condições esperadas, pois não prepara o estudante para expressar-se de maneira
eficazcom a escrita e nem desperta-o para o uso da escrita como função social.
Conforme a categoria que utilizaremos na análise dos dados, para se realizar as
condições necessárias para a expressão de uma mensagem eficaz, seria necessário a
utilização dos seguintes elementos: continuidade, progressão, não-contradição e
articulação. Com base no fundamento teórico, que será desenvolvido no próximo
capítulo, o uso desses elementos textuais tornaria possível e eficaz a comunicação
linguística.
É importante observar que a própria raiz da palavra comunicação é latina e vem
de comunicare, que e significa tornar comum, ou seja, tornar o pensamento comum e
claro a quem o ler.
O corpus será constituído de 100 (cem) redações selecionadas aleatoriamente
do PSS/UFPB 2011, como fora apontado acima. Inicialmente, essas produções foram
todas analisadas e classificadas em três categorias: acima da média (de 7 a 10), na média
(de 6 a 7) e abaixo da média (de 0 a 6). Quanto às condições necessárias para a
avaliação da textualidade, adotaremos os elementos já citados acima (continuidade,
progressão, não-contradição e articulação). A ideia não é apontar uma receita, como já
fazem nos cursinhos preparatórios de concursos a respeito de como se deve escrever,
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mas sim, observar as condições necessárias para o texto atingir o seu objetivo, que é
transmitir uma mensagem coerente e clara.
Segundo Charolles (1999), para um texto ser um texto é preciso obedecer a um
sistema de línguas, ou seja, a um conhecimento convencional de códigos elaborado por
uma sociedade. Da mesma forma que um conjunto de palavras não produz uma frase,
um conjunto de frases não produz um texto. Os sujeitos de uma língua possuem uma
competência textual em comum, que institui um modelo sobre a expressão textual.
Desse modelo, ou regra, podem-se derivar julgamentos teóricos chamados de coerência,
a respeito da boa formação e expressão textual. Tais julgamentos são apontados pelos
integrantes de uma comunidade linguística que reconhecem uma incoerência de uma
expressão.
Segundo nosso conhecimento acadêmico, estamos cientes do equívoco a
respeito do direcionamento que as escolas, tanto públicas como privadas, dão ao ensino
de Língua Portuguesa. Conforme revelam trabalhos, a exemplo de Irandé Antunes
(2005), quanto à prática de ensino em relação à Língua Portuguesa, especificamente a
escrita, nos deparamos com maneiras negativas de ensinar: o aluno não é incentivado a
ser protagonista da escrita, ou seja, não se torna o sujeito que constrói o texto; a prática
da escrita é mecânica e centrada na gramática normativa; uma prática da escrita de
forma artificial, com palavras e frases isoladas e desvinculadas de qualquer contexto. A
escrita é tratada sem função social, já que na escola se escreve apenas para fixar as
regras gramaticais; e, quase sempre, é uma escrita improvisada, sem planejamento, sem
objetivos.
Dessa forma, queremos refletir sobre nível textual dos estudantes na escrita, e
sobre algumas possíveis alternativas reverter o quadro de dificuldades.
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II. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Antes de descrevermos os elementos do texto, é necessário refletir, primeiro, o
que é um texto. O texto, não importa se escrito ou falado, sempre corresponderá a uma
linguagem em uso, em interação, pois é intrínseco ao texto haver essa troca de
informação entre quem o produz e quem o interpreta. O texto é dotado de uma
linguagem convencional, de um sistema semiótico; porém, não podemos afirmar que o
seu sentido já está determinado pelos valores semânticos que a ele foi atribuído, pois em
contextos diferentes a interpretação poderia ser diferente. Esse significado dependerá da
interação entre sujeitos e os valores e relações feitas por eles, portanto, o sentido do
texto não se fecha de imediato, pois dependerá das interpretações variadas que o
receptor poderá atribuir-lhe.
Vejamos o que diz Maria da Graça Costa Val (1999, p.3), sobre esse aspecto do
texto: “Pode-se definir texto ou discurso como ocorrência lingüística falada ou escrita,
de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal”.
Nota-se, portanto, que, segundo Costa, o texto deve ser observado sob três
aspectos: o sociocomunicativo, que tem a ver com o sentido pragmático, com o seu
funcionamento como unidade comunicativa em um contexto social; um segundo
aspecto, que é o semântico, que está vinculado ao significado, que depende de um
processo cognitivo e de conhecimento de mundo, dependendo da coerência para possuir
uma unidade; e por último, o aspecto formal, que diz respeito à sua coesão e à estrutura
gramatical e lógica do texto.
Podemos, então, observar que o texto não é um amontoado de palavras. A sua
essência guarda um sentido de interação, de relação humana, com intenções claras
dentro de um contexto. O texto é um instrumento de relação entre os seres humanos, e o
homem se conhece como sujeito, como indivíduo através da linguagem. Através da
escrita, da leitura, da fala e da escuta ele constrói a si mesmo, a sociedade e o mundo.
Porém, essa relação com o mundo não se dá de forma direta, e sim indireta, pois é
através da linguagem e de um contexto histórico e social que o homem realiza a
linguagem, levando-nos a uma conclusão de que essa realidade construída não está
pronta, já que dependerá da interação entre sujeitos e do contexto em que está inserido.
Levando em conta que a linguagem é construída pelos sujeitos de uma
sociedade, o conjunto de significados da língua, ou os códigos semióticos da língua, é
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uma convenção dessa mesma sociedade. Conforme já firmamos, por causa da língua ser
de natureza cognitiva e social, o sentido de um texto só se completa e se define inserido
num contexto e corresponde ao sentido semiótico escolhido nesse contexto, sendo que
num outro contexto poderia corresponder a outros códigos semióticos.
Em síntese, a escolha que um sujeito – inserido num dado contexto social e
histórico – faz de certos elementos semióticos e não de outros revela uma intenção que
dá o sentido do texto.
Nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio podemos encontrar uma
referência para dar base ao que afirmamos aqui:
Não se pode dizer que o sentido de um texto já está dado pelos
recursos lingüísticos pelos quais esse texto é construído. Afinal, o
sentido atribuído às formas simbólicas está relacionado aos usos que
os grupos fazem dos sistemas nos quais elas se encontram; portanto é
variável, assim como são distintos os grupos sociais. Mas o sentido
também está relacionado ao contexto efetivo em que se dá a
interação, à singularidade de seus participantes, às suas demandas, a
seus propósitos, aos papéis sociais nos quais eles se colocam, etc. Em
suma, pode-se dizer que o sentido é indeterminado, surge como efeito
de um trabalho realizado pelos sujeitos. (OCEM, 2006, p.25)
Observemos que sem um contexto social, o texto não se completa, pois o homem
é um ser social e a linguagem tem, portanto, uma função para desenvolver a
sociabilidade entre os indivíduos. Portanto, para o texto ser um texto, é preciso realizar
essas condições, estar organizado e estruturado segundo as suas características de texto
para cumprir seu papel em sociedade. Mas, para compreender melhor esse papel, é
necessária uma observação na sua composição, tentando definir os mecanismos para o
cumprimento do seu papel como texto. Segundo Costa Val (1999, p.5), essa composição
ou características do texto chamamos textualidade:
Chama-se textualidade ao conjunto de características que fazem com
que um texto seja um texto, e não apenas seqüência de frase.
Beaugrande e Dressler apontam sete fatores responsáveis pela
textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se
relacionam com o material conceitual e lingüístico do texto, e a
intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a
informatividade e a intertextualidade, que têm a ver com os fatores
pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo.
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A coerência assume um papel fundamental na textualidade, pois é ela que
arranja o sentido e a unidade do texto, é através dela que os aspectos funcionais,
semânticos e cognitivos implicarão um conhecimento de mundo. Esse conhecimento
vem de forma implícita através de pressuposição, inferência, hipóteses, e outros
elementos lógico-semânticos. É a coerência que possibilita o texto fazer parte de um
processo comunicativo. A funcionalidade é o que orienta a coerência, dando um sentido
por meio da rede de conceitos e suas relações e o mundo textual com que se relacionam.
A coesão, ainda segundo Costa Val, é o uso linguístico de conectores para
relacionar os conceitos e as ideias. A coesão é responsável pela unidade formal do texto
e constrói-se por recursos gramaticais e lexicais, a exemplo do uso de pronomes,
artigos, conjunções; da utilização de recursos como a elipse, a concordância, o
paralelismo. Considerando os recursos lexicais, temos os fenômenos linguísticos da
reiteração, da substituição e da associação.
Dentre os elementos lexicais, a reiteração se dá pela retomada da palavra para
referir-se a algo anteriormente dito, porém, essa repetição não é apenas um amontoado
de frases repetidas, e sim um recurso para fazer reaparecer um segmento já mencionado,
com o intuito de reforçar uma ideia ou de acrescentar algo de novo. Irandé Antunes
(2005, p. 76) diz que “[...] a repetição da palavra funciona como uma espécie de nó que
une as pontas da linha que sustenta a continuidade exigida pela própria coerência.”
Para ilustrar, vejamos essa crônica de Drummond:
Histórias de Flor
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a
flor.Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava
feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso, e
notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas
novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a
obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por
sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim, nem apelar para o médico de flores. Eu a
furtara, eu a via morrer. Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a
docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e
repreendeu-me:- Que idéia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
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(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. In:
ANTUNES, 2005, p.75)
Observa-se que a palavra flor constitui uma “amarração”, uma continuidade e
uma progressão no texto, sem serem palavras sem sentido que travam e estancam a
continuidade do texto e que impedem o seu andamento. Nesse contexto, a repetição tem
a função de retomar a temática dando-lhe um novo significado e sempre acrescentando
algo novo para quem lê o texto.
A substituição se realiza por meio da sinonímia, que é a substituição da palavra
pelo seu sinônimo (Ex. o menino = o garoto; o policial = o guarda; as despesas = os
gastos...); por meio da antonímia, que é a substituição de uma palavra por uma que seja
contrária ao seu significado; por meio da hiperonímia, que é a substituição da parte pelo
todo (classe dos animais: gato, cachorro, coelho, tartaruga); por meio da hiponímia, que
é a substituição do todo pela parte (Ex. carro = pneus, volante, cabine...).
A associação é o recurso que permite relacionar palavras com o mesmo
sentido semântico. Por exemplo: se falarmos sobre a temática do carnaval, o texto
permitirá associar palavras que acrescentarão uma amplitude de conhecimento sobre a
temática, como carro alegórico, bateria, escola de samba, fantasias, ou seja, palavras que
aumentarão o grau cognitivo sobre o assunto de que se fala.
Portanto, podemos concluir que o texto é formado por palavras que estabelecem
relações entre si, formando, assim, segmentos de frases. Essas frases são ligadas a
outras, formando uma ideia. A coesão vai funcionar para estabelecer relações entre
esses segmentos, para que as ideias não fiquem soltas e nem truncadas. A coesão dá
uma continuidade ao texto para que ele não perca a unidade. O texto será articulado,
encadeado e ligado. Portanto, um texto fragmentado não é um texto coeso. Para dizer
algo com sentido, as palavras devem estar interligadas; os períodos, os parágrafos, as
ideias, todos encadeados. A coesão é o fio que unirá as ideias para que dê um sentido e
uma unidade ao texto. Para isso, elas precisam estabelecer relações entre si e conseguir
essa
unidade.
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Vejamos o que diz CostaVal (1999, p.7) a respeito da coerência e da coesão:
A coerência e a coesão têm em comum a característica de promover a
inter-relação semântica entre os elementos do discurso, respondendo
pelo que se pode chamar de concetividade textual. A coerência diz
respeito ao nexo entre os conceitos e a coesão, à expressão desse
nexo no plano lingüístico.
A coerência seria a unidade de sentido que reside no equilíbrio entre a
continuidade temática e a progressão semântica do texto; e a coesão é responsável por
amarrar as ideias. Em síntese, a coesão e a coerência proporcionarão a unidade do texto,
de modo que as ideias não fiquem contraditórias, repetitivas ou impertinentes,
garantindo a ênfase adequada da mensagem.
Costa Val ainda aponta que, segundo Beugrande e Dressler, os outros cinco
fatores pragmáticos estudados são: a intencionalidade e a aceitabilidade, que se referem
aos protagonistas do ato de comunicação; a situacionalidade, que diz respeito à
pertinência e à relevância do texto em relação ao contexto sociocomunicativo; a
informatividade, que se refere ao grau de imprevisibilidade e de informação que o texto
porta; e por último, a intertextualidade, que é a voz de outros textos, as fontes de
referências que aparecerão na informação textual.
A intencionalidade se realiza quando os objetivos do autor atendem a sua meta,
que pode ser informar, persuadir, explicar, instruir etc. Para isso, o processo
comunicativo tem de se completar: a mensagem é enviada com uma intencionalidade, o
interlocutor capta essa intencionalidade e o efeito é atingido, segundo, mais ou menos, a
intenção do produtor.
A satisfação do recebedor a respeito da qualidade, da informatividade, da
pertinência e relevância do texto (quanto à maneira com que as informações são
apresentadas: com clareza, precisão, ordenação, concisão etc), segundo uma expectativa
(e até mesmos à superação dela), refere-se à aceitabilidade do texto.
A situacionalidade refere-se ao contexto em que o texto está inserido, de forma
que o contexto direcione o sentido de acordo com as circunstâncias, sem torná-lo pobre
em coerência e coesão, pois esses fatores serão flexíveis à adequação do contexto e
intenção do produtor. Essa flexibilidade é orientada pelo que Costa Val (1999, p. 13)
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chama de coerência pragmática, ou seja, “a necessidade de o texto ser reconhecido pelo
recebedor como um emprego normal da linguagem num determinado contexto.”
Para compreender melhor a que Costa Val (1999, p.14) se refere, vejamos como
ela expõe essa ideia:
[...] há convenções que regem o funcionamento da linguagem na
interação social e que determinam, especificamente, qual o tipo
particular de discurso adequado a cada ato comunicativo. Essa
questão é da maior importância para quem trabalha com ensino de
redação, pois vem daí o fato de que a textualidade de cada tipo de
discurso envolve elementos diferentes. O que é qualidade num texto
argumentativo formal poderá ser defeito num poema, ou numa estória
de suspense, ou numa conversa de botequim, por exemplo.
A informatividade é o grau de novidade e contribuição que o texto traz para o
leitor, quanto maior for o grau de relevância e de imprevisibilidade, maior será a
informatividade do texto. Porém, o ideal é que esse grau seja equilibrado, pois, caso
contrário, o texto será de difícil compreensão para o receptor. Por outro lado, o texto
não pode ser medíocre, previsível demais, pois, nesse caso, não terá nada para
acrescentar como conhecimento para o leitor. Existe, portanto, um padrão previsível,
um lugar comum conhecido pela maioria. Esses padrões estão presentes no
conhecimento de mundo e crenças de uma sociedade, na organização léxico-gramatical
(estrutura linguística), na forma como o conteúdo ou informação estão organizados, no
gênero textual e no contexto da informação. Qualquer fuga desse padrão chama a
atenção para um dado novo, para uma informação que se acrescentou no repertório
cognitivo do leitor. Costa Val (1999, p.15) ainda complementa a ideia apresentada por
Beaugrande e Dressler, pois declara que o texto ainda precisa ter um grau de suficiência
de dados para possuir bom índice de informatividade, vejamos com um fragmento do
texto:
Para mim, o texto com bom índice de informatividade precisa ainda
atender a outro requisito: a suficiência de dados. Isso significa que o
texto tem que apresentar todas as informações necessárias para que
seja compreendido com o sentido que o produtor pretende. Não é
possível nem desejável que o discurso explicite todas as informações
necessárias ao seu processamento, mas é preciso que ele deixe
inequívocos todos os dados necessários à sua compreensão aos quais
o recebedor não conseguirá chegar sozinho.
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Entende-se, a partir do fragmento, que o texto deve apresentar os mediadores
para acompanhar as informações novas acrescentadas pelo produtor. Tem que conter
dados suficientes para caminhar até a intenção do autor, senão o leitor poderá perder-se
no meio do caminho.
Ainda resta-nos falar da intertextualidade, que são as vozes de outros textos.
Tudo que se fala ou que se cria é uma reestruturação, ou uma retomada de algo que já
foi falado anteriormente, ou para reforçar o dito, ou para contradizê-lo e mostrar as suas
limitações e incompletudes. A intertextualidade reflete o repertório do produtor, em que
ele se baseia, seus fundamentos, os autores que leu ou dos quais ouviu falar. Com a
intertextualidade, o texto ganha mais pertinência, mais estabilidade no argumento.
Apesar
disso,
Costa
Val
retrata
elementos
que
podem
ser
considerados
intertextualidades, mas que pode empobrecer o texto. Esses elementos são os
argumentos do senso comum, do lugar comum que pode não acrescentar nada e
empobrecer a informatividade do texto.
Há aqui uma questão interessante que não é mencionada pelos
autores. É que o mais freqüente interlocutor de todos os textos,
invocado e respondido consciente ou inconscientemente, é o discurso
anônimo do senso comum, da voz geral corrente. Assim, avaliar a
intertextualidade, em sentido lato, pode significar analisar a presença
dessa fala subliminar. Por outro lado, como esse discurso é de
conhecimento geral, pode-se também considerá-lo como informação
previsível e avaliar sua presença como elemento que faz baixar o grau
de informatividade. [COSTA VAL, 1999, p.15]
Relembrando, então, o que falamos sobre os aspectos do texto, pragmático,
semântico-conceitual e formal, podemos organizar os elementos da textualidade
segundo esses três aspectos. No aspecto pragmático, enquadra-se a intencionalidade, a
aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade; no aspecto
semântico, a coerência seria o elemento principal; e no aspecto formal, encontraríamos
a coesão, cumprindo o seu papel. Porém, esse quadro não é um molde, podendo,
conforme a necessidade, readaptar-se, como Costa Val mesmo faz na sua proposta de
trabalho para analisar o seu corpus.
Na sua análise do corpus, a autora condensa os sete fatores responsáveis pela
textualidade em três, de modo que não se perca de maneira considerável a qualidade de
avaliação.
Os
fatores
pragmáticos
de
intencionalidade,
aceitabilidade
e
situacionalidade não foram analisados de forma individual em cada redação, já que não
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foi possível ter acesso a cada um dos candidatos responsáveis por elas. Esse é um
aspecto que também consideraremos quando da análise de nossos dados, fato que
posteriormente explicitaremos. Por outro lado, a informatividade ganhou dois requisitos
considerados pela autora: a suficiência de dados e a intertextualidade, pois, para a
produção textual, havia textos com informações prévias e base para a escrita da redação.
A coesão e a coerência completam os outros critérios de análise de textualidade. Da
mesma forma, também adotaremos a informatividade, a coesão e a coerência como
critérios de avaliação desse trabalho. Mas, primeiro, precisamos destrinchar esses três
fatores de análise, para contextualizá-los de forma mais clara.
Com base no que Maria da Graça Costa Val definiu, exploraremos a sua linha
teórica para reorganizar nossos conceitos:
Para avaliar a coerência e a coesão das redações do corpus, tomei
como base as chamadas “metas-regras” formuladas por Charolles e,
para os demais fatores de textualidade, orientei-me pelo que propõe
Beaugrande e Dressler. [COSTA VAL, 1999, p.18]
A coesão e coerência, segundo Charolles (1978), precisam atender quatro
elementos: a repetição, a progressão, a não-contradição e a relação. Ele chama esses
elementos ou requisitos de metas-regras, de maneira que elas atendam tanto ao nível
microestrutural de um texto, garantindo a coerência entre as frases; quanto ao
macroestrutural, garantindo a coerência entre as sentenças e a unidade geral do texto.
Vejamos o que diz Costa Val a respeito das metas-regras:
Para Charroles, um texto coerente e coeso satisfaz a quatro
requisitos: a repetição, a progressão, a não-contrdição e a
relação. Vou chamá-los, aqui, de continuidade, progressão, nãocontradição e articulação. . [COSTA VAL, 1999, p.21]
Vamos observar, então, os critérios de cada um dos requisitos definidos por
Costa Val para a análise da coerência e da coesão. A respeito da continuidade podemos
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entender que é a retomada de palavras ou ideias no decorrer do texto, de forma que a
retomada desses elementos permita a evolução ou progressão de uma sequência,
tratando, assim, de assuntos diferentes a cada passo que decorre. No campo da
coerência, podemos entender a retomada de conceitos, ideias, pressupostos, etc; e no
campo da coesão, o emprego adequado de recursos linguísticos como artigos,
pronomes, advérbios, a elipse. Portanto, nos dois planos, podemos observar que a
continuidade garante a ligação, o enlace entre as estruturas textuais.
Ainda podemos colocar dentro do campo da continuidade, a reiteração de
partículas nas palavras de mesmo valor sintático-semântico, como as desinências de
número, gênero, tempo, pessoa e modo. Essa retomada tem o intuito de manter uma
simetria entre as estruturas sintático-semânticas, como notamos no exemplo desta
sentença: É conveniente chegares a tempo e trazeres o relatório pronto. Note que os
verbos destacados são simétricos, pois apresentam a mesma estrutura desinencial
número-pessoal -res, de forma que deixa a sentença coerente. Assim também podemos
prever nas estruturas oracionais, em que os termos coordenados e subordinados mantêm
essa mesma simetria para manter-se mais rico estilisticamente e mais aceitável.
Vejamos este exemplo para ilustrar as estruturas oracionais: Não saí de casa por estar
chovendo e porque era ponto facultativo. Seria mais recomendado estilisticamente que
as duas orações causais tivessem a mesma estrutura : “por estar chovendo e por ser
ponto facultativo” ou “porque estava chovendo e porque era ponto facultativo”.
A repetição, porém, necessita de outro recurso para garantir a qualidade do texto,
que é a progressão. Não adianta retomar se não há evolução do discurso. Ou seja, o
texto não pode se limitar à retomada de seus elementos conceituais e formais. A cada
retomada, o texto tem que garantir um elemento novo, uma informação nova para a
progressão. A progressão realiza-se pela soma de novas ideias.
No campo da não-contradição, para que um texto seja coerente, não deve haver
nenhum elemento que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência
anterior ou dedutível desta por inferência, ou seja, é preciso que uma estrutura
semântica não contradiga outra estrutura no texto. O mundo que o texto representa tem
que ser coerente com o mundo textual. Os mundos, ou realidades representadas,
possuem diferentes lógicas, e a lógica de um não corresponde à realidade do outro. O
sujeito cria a sua realidade de mundo coerente com um processo cognitivo geral a todos;
por mais diversos que sejam os pontos de vistas, existem leis gerais e lógicas que regem
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esse processo cognitivo. De forma que no mundo real seria contraditório vermos um
dragão, ou um tapete voador, mas no mundo da fantasia essa lógica é cabível. Da
mesma forma, não se pode afirmar “A” e depois contrariá-lo. No plano conceitual, há
coerência quando se respeita a identidade das coisas, as leis que as regem e os seus
conceitos; no plano da expressão, ou da coesão, há coerência quando se utilizam os
mecanismos de tempos verbais, conectores, a simetria do sistema linguístico de maneira
correta. A não-contradição, portanto, se refere a dois planos, ao plano linguístico, e ao
plano extralinguístico, o que Costa Val chama da não-contradição interna (ao texto) e
externa (ao conhecimento de mundo).
A articulação, por sua vez, corresponde ao que Charolles (1978) chamou de
relação. Essa relação se dá por fatos de causas, consequências, condição. Ou seja, a
relação correta entre as ideias no campo lógico-semântico e conceitual. No plano da
coesão, esse campo utiliza-se de articuladores, mecanismos de junção que são
conhecidos como conjunção. O uso adequado desses mecanismos garante a relação
correta entre as ideias no sistema linguístico. Vejamos o que Costa Val diz a respeito
disso: “Avaliar a articulação das ideias de um texto, para mim, significa verificar se elas
têm a ver umas com as outras e que tipo específico de relação se estabelece entre elas
(além das relações de continuidade, progressão e não-contradição).” [1999, p.27 e 28]
Sintetizando, então: para um texto formal atender aos critérios da coerência e da
coesão é necessário observar se no plano lógico-semântico-cognitivo, em relação à
coerência, possui continuidade e progressão, não se contradiz e nem contradiz o mundo
a que está se referindo (seja o mundo real ou imaginário); se apresenta fatos,
argumentos e relações que sustentem de maneira cabível o conhecimento de mundo
apresentado; e, em relação à coesão, se possui os mecanismos e conectores adequados
para que se mantenha com a continuidade, com a progressão, com a não-contradição e
com a articulação. Agora passemos para os critérios da informatividade.
A informatividade, como já fora mencionada antes, é compreendida como a
capacidade do texto acrescentar algo como experiência ou conhecimento para o leitor.
Esse conhecimento apresenta-se de forma imprevisível, rompendo o conhecimento
comum ou habitual da pessoa informada. A imprevisibilidade abrangeu, aqui, o seu
corpo, ganhando o fator intertextualidade e a suficiência de dados. O senso comum
passa a ser como um fator previsível e que empobrece a informatividade; mas, o
conhecimento novo deve apresentar, paralelamente, dados suficientes para a sua
17
compreensão. Sendo assim, tem de haver um compasso entre a imprevisibilidade e a
suficiência de dados.
Finalizamos, então, com o que Costa Val fala a respeito desse
ponto:
Assim, avaliar a informatividade significa, para mim, medir o sucesso
do texto em levar conhecimento ao recebedor, configurando-se como
ato de comunicação efetivo. Esse sucesso depende, em parte, da
capacidade do discurso de acrescentar alguma coisa à experiência do
recebedor, no plano conceitual ou no plano da expressão
(imprevisibilidade). De outra parte, resulta do equilíbrio entre o que o
texto oferece e o que confia à participação de quem o interpreta
(suficiência de dado). [COSTA VAL, 1999, p.32 e 33]
Podemos, então, sintetizar que os critérios de análise são três: o da coerência,
que corresponde aos critérios semânticos-conteituais; o da coesão, que corresponde aos
critérios formais; e o da informatividade, que corresponde aos critérios pragmáticos.
Um texto com baixo nível de informatividade não soma ao conhecimento do leitor, de
forma que o texto possa ser até coerente e coeso, porém ineficiente, por manter-se no
lugar comum, classificando-se como uma produção de má qualidade, embora esteja
corretinha no campo semântico e formal.
III. ANÁLISE DO CORPUS
Com base nos fundamentos que expomos, analisaremos algumas redações para
refletir qualitativamente os textos produzidos pelos alunos. No PSS/UFPB 2011, na
prova de redação, foram propostas duas produções – que geram os dados objetos dessa
análise: uma com o gênero texto de opinião, com base na interpretação de um gráfico
que abordou a diminuição do trabalho infantil no corte de cana-de-açúcar, e pedia para o
aluno interpretá-lo e dizer as possíveis causas dessa diminuição; e outro texto, para
escrever uma carta denúncia para o Secretário do Meio Ambiente do Estado ou
Município do candidato a respeito de problemas do conhecimento dele sobre o mal uso
da água (Ver anexo A).
18
Foram
analisadas
100
(cem)
provas,
selecionadas
aleatoriamente,
correspondendo a 200 (duzentas) produções. Porém, escolhemos sete redações para uma
análise mais detalhada: com um foco pragmático, momento em que utilizaremos o
critério da informatividade; com um foco semântico, quando observamos os elementos
da coerência e coesão; com um foco da norma culta.
A grade de correção da prova de Redação do PSS 2011, definida pela
COPERVE, continha os seguintes critérios de avaliação:
•
Adequação ao gênero e tema, em que a adequação à estrutura do gênero
contava com a pontuação de 0 a 1 pontos, e a argumentação e informatividade,
de 0 a 3 pontos;
•
Coerência e coesão, destacando-se os elementos coesivos referenciadores e
sequenciadores, o princípio da não-contradição, da continuidade e da progressão
de sentido entre suas partes para constituir uma unidade textual, valendo de 0 a
3 pontos;
•
Norma padrão escrita, que avaliava a adequação do vocabulário, a ortografia, a
concordância, a regência, a colocação e a pontuação, de 0,0 4,0 pontos.
Seguiremos esses critérios de avaliação, porém, usaremos o direcionamento dos
fundamentos teóricos desse trabalho, não seguindo, necessariamente, essa ordem
proposta pela COPERVE. Não deixaremos, contudo, de atender a nenhum requisito de
avaliação, pois estamos apenas condensando todos os requisitos pela COPERVE em
informatividade, coerência-coesão, e a norma padrão.
De posse das cem provas, após análise, avaliamos e classificamos as produções a
partir das notas que atribuímos: de 0,0 a 6,0 como abaixo da média; de 6,0 a 7,0, como
na média; e de 7,0 a 10,0 como acima da média. Ou seja, com base nos critérios antes
referidos, foram analisadas 100 (cem) redações. Considerando as médias estabelecidas,
os critérios adotados e a quantidade de textos analisados, obtivemos o seguinte quadro:
19
QUADRO 1 – QUANTIFICAÇÃO DOS TEXTOS ANALISADOS EM FUNÇAO DOS CRITÉRIOS
ADOTADOS
Questão 1 ( Texto de opinião)
Requisitos
analisados
Informatividade
Coerência e coesão
Norma Padrão
Acima da média
Total de redações
Média
Abaixo da média
17
27
10
63
62
75
20
11
15
15
43
42
Questão 2 (Carda-denúncia)
Requisitos
Informatividade
Coerência e coesão
Norma Padrão
Acima da média
32
28
10
Total de redações
22
Na média
54
63
81
48
Abaixo da média
14
9
9
30
Com base nos números acima, consideramos que o resultado foi satisfatório, já
que a maior parte conseguiu atender às necessidades básicas da proposta de produção.
Espera-se, portanto, que o aluno atenda a proposta temática, com base no gênero; que
consiga expressar uma visão crítica sobre o tema, com argumentos claros e pertinentes,
e que não se contradiga; que atenda uma unidade textual de maneira que progrida o
tema, que relacione as sentenças de maneira coerente utilizando os conectivos referentes
a cada relação, e que essas sentenças estejam de acordo com a norma culta. Vejamos,
então, como fizemos essa análise, começando com as redações que ficaram abaixo da
média. As questões 1 são referentes ao texto de opinião, e as questões 2 são referentes à
carta-denúncia.
Redações abaixo da média
Questão 1
20
O que está acontecendo com o nosso país é um absurdo crianças e jovens
trabalham em lavoura de cana-de-açucar.
Essas crianças e jovens eram para estar na escola estudando para ter um
futuro brilhante, ser pessoas bem sucedidas ter dignidade e não ser
tratado como escravo em lavoura de cana-de-açucar.
Onde está as autoridades? Quero saber se o mesmo não está vendo o que
está acontecendo.
O texto não consegue atender a proposta da Redação, pois fugiu seriamente ao
tema e não transmitiu a mensagem desejada. Na proposta apresentada para o candidato,
deixa-se claro o que se espera: (...) redija um texto comentando os dados apresentados e
suas possíveis causas(...); portanto, se quer que o candidato comente os dados
apresentados no gráfica acerca da diminuição do trabalho infantil e indique as causas: a
proposta é bem clara.
O candidato começa expressando uma opinião pessoal que não sintetiza o que
quer dizer, foge ao tema, falha porque direciona o texto para o caminho errado,
comentando que é um absurdo crianças e jovens trabalharem no país. Apesar de ser uma
realidade, não é o que os dados mostram, pois o gráfico aponta uma queda no trabalho
infantil nas lavouras de cana-de-açúcar. Além disso, ele não comenta os dados e nem
aponta as causas.
A respeito da informatividade da redação, ela não acrescenta nada de novo. Gira
em torno do lugar comum, diz o que está no conhecimento comum: a mensagem se
torna superficial e desinteressante, não contribuindo em nada para quem a ler. Não há
argumentos convincentes, exigindo das autoridades, que ninguém sabe quem são, que
resolvam os problemas que o ser humano vem tentando resolver há séculos, que é o
descaso com a educação infantil; os argumentos não têm consistência, não condizem
com a realidade, tornando-se muito inalcançáveis. Será que não estamos também
incluídos nessa luta por melhorar essa realidade? Será que alguém fora vai melhorá-la
para nós enquanto ficamos assistindo num camarote? Os argumentos não têm
pertinência nem profundidade; não oferece possibilidades para reflexão, não trazem
algo novo.
O texto também torna-se descontínuo, desrespeitando as regras que regem a
coerência. Não tem uma continuidade, pois não faz usos dos sinais de pontuação
adequadamente, deixando o texto travado, sem fluidez, é o exemplo do primeiro
parágrafo: [...] O que está acontecendo com o nosso país é um absurdo crianças e
21
jovens trabalham [...]. Liga as orações sem pontuação, deixando confuso e exigindo
uma dedução do leitor.
Outro exemplo de falta de continuidade pode ser visto no segundo parágrafo (ser
pessoas bem sucedidas ter dignidade), não havendo a relação das duas orações por
algum conectivo ou vírgula; apesar de deduzir-se a adição entre elas, essa sentença fica
travada porque quem a ler precisa adivinhar a relação.
. Além do mais, o texto não progride, podendo sintetizar tranquilamente a
redação apenas com o primeiro parágrafo.
Além de tudo isso, o texto possui problemas graves de concordância entre o
sujeito e predicado: (...) pessoas tratado como escravo; (...) Onde está as autoridades;
(...) Quero saber se o mesmo não está vendo. Devido a tais circunstâncias, é discutível
se esse texto é realmente um texto, pois não cumpre a missão de transmitir uma
mensagem esperada, nem se torna compreensível para quem o ler. De qualquer modo, o
maior problema dessa produção é a fuga ao tema, pois se desvia da intenção da proposta
e não informa nada de importante para ninguém.
A próxima redação exemplifica um desvio da coerência e da coesão.
Crianças na escola
É um absurdo crianças vivendo sua infância no corte de cana-de-açucar
para ajudar na renda familiar, ao invés de estarem numa escola com o
devido dever de brincar e sorrir. Algumas das causas, que levam ao
trabalho infantil são a falta de acesso às escolas para elas e para os seus
pais a má condição financeira e a falta de alfabetização. As pessoas que
têm conhecimento progridem suas vidas.
Essa redação, assim como a primeira, não cumpre com a proposta do tema, não
interpreta os dados do gráficos e nem aponta as possíveis causas da diminuição dos
índices de crianças no trabalho do corte da cana. Não informa, não traz novidades, e,
além do mais, coloca as possíveis causas do trabalho infantil – a falta de acesso às
escolas, a condição financeira e a baixa ou nenhuma escolaridade dos pais como causas
do trabalho infantil – ao invés das causas de sua redução. Além do mais, na própria
relação de ideias, a falta de alfabetização é uma consequência da falta de educação das
crianças, e não o que as impede de acessarem as escolas; há, portanto, um erro ao
confundir causa e consequêcia, sendo a falta de alfabetização uma consequência da falta
de acesso às escolas. Também não houve uma coerência em: (...) ao invés de estarem
22
numa escola com o devido dever de brincar e sorrir, ao confundir um direito da criança
com um dever, já que brincar e sorrir é direito. O dever é uma obrigação de alguém com
alguma coisa, e o direito é um privilégio, um gozo que é concedido por uma lei a
alguém; portanto, é direito da criança brincar e sorrir; dessa forma, ocorreu um erro de
conceituação, prejudicando a coerência do texto.
Finaliza, ainda, a redação com uma afirmação que não tem relação com o que
dissera até então: As pessoas que têm conhecimento progridem suas vidas. O autor não
construiu nenhum argumento para provar essa afirmação, ficando apenas como mais
uma opinião do senso comum, que não tem reflexões convincentes para isso.
Passemos agora para um exemplo em que não cumpre com a estrutura formal de
maneira mais acentuada do que os outros:
Brasil, rumo há um futuro melhor
O trabalho nas lavouras de cana-de-açucar, é um caso de se ter muita
atenção, devido muitas crianças, jovens e idosos, que não possuem
escolaridade e nem condições, estarem trabalhando sem nenhuma
proteção a sua saúde.
Tendo em vista esses agravantes, o governo, começou à criar e implantar
projetos para melhoria há educação, saúde e até mesmo diversos
empregos.
Uma pesquisa feita, em 09 de novembro de 2010, mostra que desde o ano
de 1992 até 2007, houve uma grande diminuição de crianças e jovens
trabalhando em lavouras e a tendência é de abaixar ainda mais.
Em relação às condições de informatividade esse texto consegue ser mediano, na
medida em que responde às questões da proposta temática: interpretação dos dados
(houve uma grande diminuição de crianças e jovens trabalhando em lavouras e a
tendência é de abaixar ainda mais) e causas para o comportamento do gráfico (o
governo, começou à criar e implantar projetos para melhoria há educação, saúde e até
mesmo diversos empregos).
Contudo, há sérios problemas de continuidade das ideias, devido ao desvio da
estrutura gramatical. Não há uma relação entre as duas orações, no primeiro parágrafo:
não possuem escolaridade e nem condições, estarem trabalhando sem nenhuma
proteção a sua saúde. Falta, possivelmente, um conector que ligue e faça relação entre
as duas orações, e essa ausência compromete o entendimento da frase. Essa quebra faz
com que o leitor volte várias vezes à leitura para tentar deduzir o que o escritor queria
23
dizer. Apesar disso, o texto possui uma coerência mediana, pois progride as ideias e elas
não se contradizem entre si. No primeiro parágrafo, o candidato aponta os problemas
das crianças, jovens e idosos trabalham no corte de cana; no segundo e no terceiro
parágrafos, apesar do trabalho infantil na cana ser uma realidade no Brasil, mostra que
houve uma redução grande, devido a alguns projetos do governo, a melhoria na
educação e o acesso das crianças à escola.
Esse texto apresenta problemas relevantes em toda a sua estrutura de
textualidade: com a informatividade, só no último instante consegue atender às
condições de proposta da redação, informando os dados do gráfico; problema com as
relações e continuidade de ideias, devido ao desvio da coerência e coesão. Mas o maior
problema desse texto, que acaba prejudicando a coerência, é a transgressão gramatical.
Logo no título nota-se um grave erro ao colocar a forma verbal há ao invés de uma
preposição, assim: (...) rumo a um futuro melhor; simplesmente o candidato desconhece
o uso de preposição nesse nível, já que esse erro volta a acontecer mais a frente: para a
melhoria há educação, em vez de ter utilizado a preposição da, já que melhoria é
adjunto adnominal de educação, é dela a melhoria, de forma que essa preposição serve
para indicar posse. Outro erro também com a preposição, só que relacionado à crase é:
começou à criar, na medida em que não se usa crase antes de verbos.
Além disso, outro erro gramatical grave que se repete até o final do texto é a
vírgula colocada para separar o sujeito do predicado, como acontece em: O trabalho nas
lavouras da cana-de-açúcar, é um caso de se ter muita atenção; o (...) o governo,
começou à criar (...). Esse emprego inadequado prejudica totalmente a continuidade do
texto.
Questão 2
Antônio é um Secretário do meio ambiente de Recife-Pernambuco, E
queria lhe dizer que aquele canal onde passa feses de pessoas e animais, e
urina de ratos, prejudica a Saúde de muitas pessoas, por causa do mal
cheiro, isso prejudica o meio ambiente, a população reclama do cheiro,
mais nunca tomaram providências. Outro fato é a violência que é muito
grande em Recife, a pessoa não pode dirigir com a janela do carro aberta,
porque se não a pessoa é assaltado, e outra coisa é o aquecimento global.
Ninguém toma providência de uma coisa tão séria, de mal a pior. A
24
poluição do ar tá de mais em Recife, E o Secretário do meio ambiente
devia alertar a população mais nem isso ele faz, exijo providências.
Podemos observar aqui falhas em todos os critérios que estamos considerando
para a análise da redação: na estrutura pragmática, semântica e formal. O texto não tem
uma temática, e nem segue adequadamente a estrutura de uma carta denúncia, em que
deveria haver o destinatário, data, a cidade de onde se escreve e o remetente dessa carta.
Essa estrutura não foi obedecida, comprometendo a intenção do autor e do próprio
entendimento de quem a ler. Nesse sentido, o candidato não consegue manter fidelidade
ao gênero solicitado, nem consegue transmitir a mensagem.
Essa produção não pode ser considerada um texto, pois não tem uma unidade
temática e nem uma continuidade. O autor começa afirmando que Antônio é um
secretário do meio ambiente, e não há uma lógica com a oração posterior: E queria lhe
dizer que (...). A princípio, era de se esperar que o candidato iniciasse o seu texto com
um vocativo, indicando o destinatário da carta, mas ele não conseguiu realizar isso,
criando dificuldade para o leitor. Mais a frente, o candidato foge inteiramente ao tema
quando fala a respeito da violência de Recife, exigindo uma providência. O que se pede
na redação é para fazer uma carta denúncia para o Secretário de Meio Ambiente de seu
município/estado, denunciando um caso de poluição de água e exigindo providências.
Notemos que o estudante fala a respeito da violência de Recife, do aquecimento global e
da poluição do ar. Isso foge totalmente ao tema proposto, correndo o risco muito
grande de a redação ser zerada, já que o candidato não entendeu a proposta.
Outro fator grave dessa redação foi a falta de coerência, pois a continuidade é
muito comprometida no seu desenrolar. No começo, como observamos, não havia uma
relação de ideias da primeira oração com a segunda, pois se começava com uma
sentença que deveria ter uma continuidade na segunda, mas a falta de paralelismo entre
os verbos “é” (presente do modo indicativo), e o verbo “queria” (pretérito imperfeito do
indicativo) mostra que não há uma simetria semântica, até os sujeitos são diferentes. Há
uma quebra, então, da harmonia, deixando as duas sentenças incompreensíveis, quando
juntas. Enfim, a primeira sentença está deslocada do texto, assim como na sentença:
Ninguém toma providência de uma coisa tão séria, de mal a pior, a expressão “de mal a
25
pior” está solta sem sentido nesse local; no mínimo, deveria haver um verbo que desse
um sentido a ela, já que não tem relação com a primeira oração.
Também observamos a carência do uso de pronomes, que é essencial para a
retomada de ideias para a coerência textual, como podemos observar nesta sentença: a
pessoa não pode dirigir com a janela do carro aberta, porque se não a pessoa é
assaltado. A repetição sem necessidade de palavras deixa o texto encharcado delas,
vazio e quebrado; torna-se uma trava para a sua fluidez. No fragmento acima, não havia
necessidade de repetir a palavra pessoa duas vezes numa mesma oração já que o verbo
retoma o mesmo sujeito, que é pessoa. Nesse fragmento, podemos notar também erro de
concordância, em que “a pessoa” não concorda com “assaltado”, pois o gênero é
diferente, não correspondendo à “pessoa”.
A estrutura formal do texto também é bastante prejudicada, pois a ortografia é
comprometida: feses, ao invés de fezes; de mais, ao invés de demais; se não, ao invés de
senão. Encontramos também outro erro ortográfico: a população reclama do cheiro,
mais nunca tomaram providências, em que a grafia correta da conjunção é “mas”, pois a
relação é de contradição, a mesma condição encontra-se nesta sentença: E o Secretário
do meio ambiente devia alertar a população mais nem isso ele faz.
Podemos finalizar a análise dessa redação afirmando que não é um texto: o
candidato não conseguiu passar a sua mensagem porque não escreveu o que pretendia,
divaga para outro tema; também compromete a coerência do texto, porque a
organização das frases está comprometida com falta de simetria, concordância, relações
corretas de ideias e problemas sérios relativos à norma padrão.
Passemos, então, para outra redação. Observemos agora a norma padrão, que é
comprometida neste texto de forma bem acentuada. Apesar de haver desvios em todas
as outras redações, nesse texto o erro gramatical encontra-se de maneira mais intenso,
além de ter desvios na informatividade, coerência e coesão também.
Senhor secretário do Meio Ambiente vim atravez desta carta fazer uma
denuncia e ao mesmo tempo que tome uma atitude com a poluição das
águas pois está nos prejudicando.
Desejo-lhe que com esta carta-denúncia o senhor venha tomar as medidas
cabíveis pois não dar para continuar desse jeito pois está causando
doenças nas população de nossa cidade, precisamos de ajuda para acabar
com a poluição das águas.
26
Contamos com a sua colaboração senhor secretário para nos ajudar com
este problema que está nos prejudicando.
01 de janeiro de 2011
Atenciosamente: XXX
A redação, quanto ao tema e ao gênero, conseguiu atender às expectativas;
apesar de ainda faltar mais para atender a um padrão bom, já que não direciona de
maneira mais específica a denúncia, pois, quando se escreve para um Secretário de um
estado ou município, é imaturo, quanto à objetividade e à validade da carta, se lhe pedir
que tome uma atitude com a poluição das águas pois está nos prejudicando. O
secretário do Meio Ambiente do meu bairro ou estado não pode resolver todos os
problemas relacionados às águas dessa região, se não houver uma denúncia específica,
pois é humanamente impossível. Uma carta-denúncia denuncia um caso específico,
identificado, com local, fatos, provas, ou seja, tem que ser objetivo. Apesar disso, o
autor consegue seguir à estrutura de uma carta-denúncia e caminha pela temática,
mesmo não especificando a problemática da carta.
O que é mais grave nessa redação, mesmo conseguindo atingir os requisitos de
informatividade e coerência, é a norma padrão. A pontuação e a ortografia foram os
requisitos mais prejudicados. A começar pelo vocativo, que não está identificado com a
vírgula e pode comprometer seriamente a sentença. No primeiro parágrafo, também
podemos detectar uma falta de paralelismo entre as orações vim (...) fazer uma denúncia
e que tome uma atitude (...), pois fazer é uma oração complementar de vim, assim como
e que tome (...), pois o verbo fazer está no infinitivo, tornando-se uma oração
subordinada da primeira; o verbo tome está no presente do subjuntivo, portanto, fazer
deveria ter a mesma simetria de e que tome, ou seja, já que fazer está no modo
infinitivo, a outra oração deveria seguir essa mesma estrutura para manter o paralelismo
sintático. Essa assimetria acarreta a falta de continuidade do texto. Se reformulássemos,
mesmo sem levar em conta o problema relativo ao emprego do tempo verbal,
poderíamos sugerir a seguinte estrutura: venho (...) fazer uma denúncia e exigir uma
(...). Nesse caso, teríamos duas orações complementares de “venho”, que seria “fazer e
“exigir”, que expressam a mesma intenção.
A respeito da pontuação, encontramos vários outros casos em que essa regra é
comprometida, vejamos: (...) vim atravez desta carta fazer uma denuncia. Nesse
27
fragmento, encontramos uma frase intercalada na oração que deveria estar separada
entre vírgulas: (...) vim, através desta carta, fazer uma denúncia (...). A mesma
ocorrência verifica-se no fragmento: Desejo-lhe que com esta carta-denúncia o senhor
venha, em que a frase com esta carta-denúncia deveria estar separada da oração entre
vírgulas.
Podemos notar também, no mesmo parágrafo, dois outros desvios da norma
padrão numa mesma oração referente à ortografia da palavra atravez, que deveria ser
“através”; e a ausência da acentuação da palavra denuncia, que deveria ser “denúncia”.
Outro desvio na norma pode ser notado no mesmo parágrafo: (...) tome uma atitude (...)
pois está nos prejudicando. A oração coordenada deveria estar separada por vírgula.
Redações acima da média
Questão 1
O trabalho infantil no corte da cana-de-açucar vem caindo no Brasil
de 1992 à 2007.
Dentre as causas para essa diminuição está o maior acesso da
população rural à educação. Além disso, a melhoria das condições de
vida da população rural, através de programa e políticas públicas do
governo, que incentivam as famílias que não manteem os filhos no
trabalho de corte da cana, pode ser apontados, também, como causa
dessa diminuição.
Seguindo os nossos critérios de análise, consideramos que essa redação atendeu
às expectativas nesse concurso de vestibular. As condições de textualidade foram muito
bem atendidas. O aluno foi objetivo e respondeu às exigências da temática. De forma
objetiva, logo no primeiro parágrafo, interpreta os dados do gráfico, que era um dos
quesitos da temática de produção. No segundo parágrafo, define as possíveis causas,
atribuindo-as ao acesso da população rural à educação e à melhoria das condições de vida
da população rural, através de programa e políticas públicas do governo.
As condições de coerência e coesão foram também bem atendidas. Encontramos
usos de conectivos corretamente, como é o exemplo da conjunção Além disso, como
28
acréscimo de uma ideia; o uso de pronomes relativos que em: políticas públicas do
governo, que incentivam as famílias. Essa relação correta possibilita a continuidade do
texto, condição de textualidade que encontramos nessa redação, possibilitando a fluidez
da leitura. Além do mais, as ideias não ficam circulares, ao contrário, progridem no
desenrolar do texto.
Em relação à norma padrão, encontramos pouquíssimos desvios, mas não
comprometem a redação, como é o caso de manteem , que deveria ser “mantêm”.
Podemos afirmar, então, que essa redação atendeu às necessidades e condições
de um texto, tanto na informatividade – pois seguiu a intenção e condições funcionais
da redação – como na coerência e coesão. Mantém-se contínua, progride no tema e não
se contradiz; e também, é correta quanto à norma culta, apesar de ter alguns pequenos
desvios.
Questão 2
Senhor secretário do meio ambiente do município de João Pessoa:
Venho através desta, fazer uma denúncia acerca do processo de
degradação pelo qual vem passando o nosso querido e já saudoso rio
Jaguaribe.
O rio Jaguaribe vem sendo decradado através dos esgotos e do depósito
de lixo da população que reside nas suas proximidade. Além disso, o
aquecemento desmedido da construção civil vem causando o aterramento
do seu percurso.
Espero medidas no sentido de melhorar o saneamento básico da
população ribeirinha e uma maior fiscalização das construções realizadas
ao seu redor
Ass: xxxxxxxxx
Essa última redação também atendeu muito bem às condições de produção que
foram pedidas pelo PSS/2011. Não fugiu ao tema, pelo contrário, o candidato mantevese fiel a ele até o fim. A estrutura do gênero carta-denúncia foi atendida, identificando o
destinatário e remetente, apesar de não estarem presentes a data e o local. Retrata,
contudo, a denúncia de forma bem objetiva, fato muito importante para atender a
intencionalidade e a função da carta.
29
A denúncia foi bem focalizada: fazer uma denúncia acerca da degradação do rio
Jaguaribe por redes de esgoto e lixo das pessoas que moram em sua proximidade e de
empresas de construção civil que estavam causando aterramento ao rio.
O candidato foi coerente e enxuto na carta, indo direto ao ponto: anuncia que vai
fazer uma denúncia, faz e depois menciona o que se espera do Secretário do Meio
Ambiente. As ideias ficaram contínuas, devido ao uso adequado dos recursos de
coerência, como a substituição, no caso do segundo parágrafo, ao mencionar o rio
Jaguaribe e retomá-lo com as expressões suas proximidade e seu percurso, utilizando
para isso os pronomes possessivos. Além disso, verifica-se também o uso adequado do
pronome relativo, com a preposição adequada exigida pela regência do verbo, em: (...)
processo de degradação pelo qual vem passando (...). Esse uso demonstra
conhecimento do aluno, pois é preciso ter uma visão de regência e de relação correta
entre as duas orações. Além do mais, o paralelismo entre as palavras e orações
contribuiu muito para a continuidade e fluidez do texto; como também o uso de
conectivos adequados, como através, além disso, e. Podemos afirmar, portanto, que a
coerência e a coesão garantiram a qualidade do texto.
Na norma padrão, apesar de haver pequenos desvios de concordância como em
suas proximidade, e de ortografia como em decradado e aquecemento, não há
problemas que comprometam a unidade do texto.
IV. CONCLUSÃO
Com base nos textos analisados, concluímos que o resultado foi satisfatório.
Apesar disso, podemos fazer algumas observações. O maior índice de desvio da
textualidade diz respeito ao critério de informatividade, já que 17% estavam abaixo da
média, 58,5% na média e 24% acima da média. Com relação à coerência e coesão, 10%
estavam abaixo da média, 62,5% na média e 17,5% acima da média; e, por fim, na
norma padrão, 12% estavam abaixo da média, 78% na média e 10% acima da média.
A informatividade está relacionada, como vimos, a questões pragmáticas do
texto, a sua função, a sua temática, a sua argumentação. Poderíamos dizer que é o
coração do texto, é ela que vai levar as principais contribuições para o leitor, que
30
ajudará o leitor a formar a opinião dele. Como na informatividade está o maior índice de
desvio, limitaremo-nos a uma análise final a respeito dela.
Segundo esse resultado, podemos refletir ou levantar hipóteses de que o
aprendizado dos candidatos a respeito da escrita, da leitura e da gramática está deixando
a desejar para atender aos requisitos de textualidade necessários para a comunicação
intelectual na escrita. Muitas redações, que estão na média, foram consideradas
certinhas, dentro de um molde formal na estrutura semântica e gramatical; porém, fracas
no âmbito da pragmática, na sua funcionalidade como texto. Isso se deve por causa das
dicas de cursinhos e de professores de como passar na redação de vestibular, atendendo
aos requisitos formais, porém a condição de quem produz um texto deve-se transpassar
o formal. O baixo nível de informatividade também pode ser decorrência da falta de
leitura do aluno, que acaba não tendo o que dizer e, muitas vezes, limita-se a repetir o
senso comum, por falta de um maior conhecimento de mundo.
Na verdade, o texto só traz benefício a quem o ler quando atende aos requisitos
da informatividade, pois esse requisito exige que o enunciador reflita sobre para quem
vai escrever, qual vai ser o sentido desse texto, o que ele pretende com isso, como
melhor o leitor receberá esse texto que ele vai publicar, entre outros requisitos que são
imprescindíveis. Mas o molde faz com que o aluno fique preso a uma estrutura, a um
lugar comum que é superficial e nada contribui para quem escreve, sendo inútil a leitura
do seu texto e sem sentido.
Porém, vale observar que a própria redação de vestibular, pela maneira que é
estruturada ou realizada, estimula o candidato a buscar as regras de cursinhos, já que
seria necessário um processo mais longo para se escrever um texto bom. Algumas
causas dessa insuficiência da qualidade da escrita podem ser: a pressa que o candidato
tem para fazer a redação, pois tem que responder às outras questões da prova; a falta de
um texto prévio, com pelo menos fragmentos retirados de várias fontes e suporte
diferentes, pois quem não tem nada a dizer sobre algo, quem nunca leu ou se informou
sobre a temática não conseguirá escrever sobre nada; outro fator é a quebra das etapas
necessárias para a escrita se realizar, que seria o planejamento, a própria escrita e a
reescrita depois de uma revisão do que se escreveu, pois uma escrita nunca é definitiva
da primeira vez, já que temos que repensá-la, refleti-la, adequá-la para que seja bem
aceita e não demonstre ambiguidades ou incompreensões por falha da linguagem
empregada. Enfim, a falta de uma condição ou ambiente para trabalhar esses processos
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faz com que o texto sempre fique no lugar comum e não traga contribuições pertinentes.
De todo modo, compreendemos que a situação de concurso não permite atender às
condições ideais de produção.
As escolas não trabalham de maneira adequada, pois o foco delas é dar
condições para o aluno ingressar na universidade, passando no vestibular. O ensino fica
focado na aprovação do candidato, e isso faz com que o aluno trabalhe com fórmulas
que sejam decoradas facilmente sem dar muito trabalho, pois o conteúdo é grande e é
preciso objetivar e superficializar o assunto de forma que fique fácil memorizar e fazer
as enormes quantidades de questões.
Um ciclo vicioso, portanto, é fechado: as escolas trabalham para que o aluno
ingresse na universidade, e para isso têm que prepará-lo para o vestibular; ou seja, o
vestibular acaba sendo o objetivo do programa de ensino das escolas. Porém, a estrutura
e a forma como o assunto é cobrado na prova não incentivam uma formação de
qualidade, já que o assunto é muito extenso, e por isso cobrado de maneira superficial,
acumulando o aluno de informações e conteúdos, mas não trabalhando a função e
sentido desses conteúdos. Para dar conta dos alunos memorizarem os assuntos
mecanicamente, criou-se um mercado de cursinhos pré-vestibulares, que garante
àqueles de melhores condições financeiras terem acesso aos melhores materiais
didáticos, professores e dicas para serem aprovados no processo seletivo.
Para romper esse ciclo vicioso escola-vestibular-escola é preciso uma
mudança de uma das partes, se melhor, das duas. É preciso repensar o ensino da língua
portuguesa, e, para isso, não faltam pensadores que nos ajudam a refletir um ensino
mais eficaz; e a prova de vestibular para que exija as condições qualitativas do uso da
língua, tanto na leitura como na escrita: duas coisas intimamente ligadas.
Muitas resistências encontram-se no meio do caminho. Esse caminho para um
ensino mais eficaz já foi traçado por longas reflexões e resultados que mostram a
eficácia da metodologia, porém mudar a forma, mudar a estrutura, mudar as mentes é
difícil devido à cristalização de certas ideias e de um comodismo que permeiam as salas
de aula, pois apesar dos velhos métodos de ensinar a língua, que se baseiam em um
ensino de uma gramática descontextualizada e classificatória, fundamentando-se numa
concepção de que se o aluno aprende a nomear substantivo, classificar orações,
identificar o sujeito, já estará apto para a escrita; além do mais, de uma leitura que serve
apenas para tal análise gramatical apenas para o campo da decodificação do texto, não
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trabalhando os seu diversos sentidos, tornando assim a leitura ativa; apesar de tudo isso
e de ser infértil essa prática, ela é conhecida, já dominada pelo professor, trazendo-lhe
uma falsa segurança de que ensina Língua Portuguesa, porém só repete esse ciclo
mecânico que não capacita o aluno para o uso real da língua, ficando no faz de conta,
um ensino sem compromisso social, um ensino estagnado.
O problema é que a água parada apodrece, e como a língua é dinâmica, e tudo na
natureza está em marcha, o professor acaba apodrecendo nas suas amarras psicológicas
por ter perdido a motivação de trabalhar com o ensino. O professor de língua portuguesa
deve ser objetivo, dinâmico, saber usar a língua no seu cotidiano, tanto na oralidade,
como na escrita, na leitura e deve dominar a gramática, porém é necessário que esse uso
seja sincero, prático, funcional. Só assim é que ele sentirá gosto pela língua, pois verá
uma utilidade.
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VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro e interação. 3 ed. Parábola. São Paulo - 2005
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras coesão e coerência. Ed. Parábola, São Paulo – 2005.
BRASIL, Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica. OCEM - Orientações
curriculares para o ensino médio - Linguagens, códigos e suas tecnologias. Volume 1.
Brasília - 2006.
CÂMARA JR., MATTOSO. Manual de expressão oral e escrita. 2ª Ed.Jozon Editor: Rio de
Janeiro, 1966.
CHAROLLES, Michel. Introdução aos problemas da coerência dos textos – Uma abordagem
teórica e estudo das práticas pedagógicas. In: GALVES, Charlotte Galves; Orlandi, Eni
Pulcinelli; Otoni, Paulo (Orgs.). O texto: escrita e leitura. Tradução de Charlotte Galves. Ed.
Pontes, São Paulo, 1988. (pág. 39 – 85)
COSTA VAL, Maria da Graça Redação e Textualidade. 2 ed. São Paulo. Ed.Martins Fontes,
1999.
FARIA, Evangelina Maria Brito de; Maria Cristina de Assis, Maria das Graças Carvalho
Ribeiro. Redação no vestibular da UFPB: estratégia de produção e critérios de avaliação.–
Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008.
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 2ª Ed. Fundação Getúlio Varga: Rio de
Janeiro, 1973.
Sites:
COPERVE, Prova de Redação 2011.
Disponível em: http://www.coperve.ufpb.br/pss2011/Provas/Prova3_Ingles.pdf. Acesso
em 27 de maio de 2011
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VII. ANEXOS
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Redação e textualidade: Um foco no vestibular 2011 para