Um olhar clínico sobre a criança com dificuldade de se alimentar por interpretação equivocada dos pais Referências 10074012 Produção e comercialização: AC Farmacêutica. 1. Birch LL, Fisher JO. Development of eating behaviors among children and adolescents. Pediatrics. 1998;101:539-49. 2. Chatoor I. Feeding disorders in infants and toddlers: diagnosis and treatment. Child Adolesc Psychiatric Clin N Am. 2002;11:163-83. 3. Chatoor I. Diagnosis and treatment of feeding disorders in infants, toddlers and young children. Washington: Zero to Three, 2009. 4. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação de alimentação saudável do lactente, criança, escolar e adolescente. 2 ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009. 5. Farias GJ, Osório MM. Padrão alimentar de crianças menores de cinco anos. Rev Nutr. 2005;18:793-802. 6. Kedesdy JH, Budd KS. Childhood feeding disorders. Baltimore: Paul H Brookers, 1998. 7. Kerzner B. Clinical investigation of feeding difficulties in young children: a practical approach. Clin Pediatr. 2009;48(9):960-5. 8. Scaglioni S, Salvioni M, Galimbert C. Influence of parental attitudes in the development of children eating behaviour. Br J Nutr. 2008;99 Suppl 1:S22-5. 9. Skinner JD, Carruth BR, Wendy B, Ziegler PJ. Children’s food preferences: a longitudinal analysis. J Am Diet Assoc. 2002;102(11):1638-47. . Abbott Center Central de Relacionamento com o Cliente 0800 703 1050 www.abbottbrasil.com.br Material de distribuição exclusiva para médicos e nutricionistas. MATERIAL PRODUZIDO EM SET/10. 2 1 Resumo do Caso: O baixo apetite por interpretação equivocada dos pais é extremamente frequente. No entanto, deve ser abordado adequadamente para que não ocorra outro distúrbio, devido ao efeito coercitivo dos pais a fim de que a criança ingira uma quantidade desnecessária ao seu desenvolvimento atual. Comentado por: Profa. Dra. Elza Daniel de Mello CRM-RS 13836 Um olhar clínico sobre a criança com dificuldade de se alimentar por interpretação equivocada dos pais Profa. Dra. Elza Daniel de Mello CRM-RS 13836 • Médica gastropediatra e nutróloga • Professora de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) • Chefe do Serviço de Nutrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) • Membro do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Departamento de Pediatria da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) Identificação: AFG, feminino, 2 anos e 2 meses, natural e procedente de Porto Alegre-RS. Queixa e duração: Mãe vem à consulta com a preocupação de que sua filha não come o suficiente. História pregressa da moléstia atual: AFG sempre foi uma criança saudável, com boa capacidade de aprendizado, bom desempenho na escola e comportamento dócil. No entanto, a mãe refere que no primeiro ano de vida ela ingeria toda a refeição oferecida, sempre raspando o prato, mas que depois de um ano de idade não tem mais sido assim, tem-se que insistir muito para que coma em algumas refeições, especialmente almoço e jantar. Inicialmente funcionava bem com explicações, com trocas, mas agora estas medidas não estão tendo muito resultado. Todos dizem que ela está bem, até parece “gordinha”, mas a mãe não acredita, uma vez que não ingere todas as porções de fruta e verdura e, continuando assim, a mãe acha que ela pode se desnutrir e não se desenvolver bem. Além disso, na creche vários colegas são mais altos do que ela. Interrogatório dos diversos aparelhos: Sem queixas. É uma criança que obedece, exceto nos últimos meses que não quer ingerir toda a quantidade de alimento oferecido. Tem apresentado ganho de peso e estatura adequados. Dorme bem. Ritmo intestinal diário, fezes volumosas, mas não endurecidas. Nega alterações visuais, auditivas. Urina normal. Restante do interrogatório sem alterações. Antecedentes pessoais: Apresentou vários processos virais de pouca importância (vias aéreas superiores) nos primeiros dois anos de vida, especialmente quando entrou na creche. Relacionamento social e escolar: Tem bom desempenho escolar e se relaciona bem com os colegas e adultos. Composição familiar: Pai com 32 anos, engenheiro, obeso e hipertenso leve; mãe com 24 anos, advogada, sobrepeso e sem problemas de saúde. Avós paternos e maternos com diabetes, hipertensão arterial e obesidade. Não possui irmãos. História alimentar: Fez uso de leite materno exclusivo até os 4 meses de idade, quando iniciou alimentação complementar com ótima aceitação. Começou com uso de fórmula láctea aos seis meses de idade. Ótima aceitação dos alimentos oferecidos, sempre comendo a quantidade que lhe era ofertada. Mas atualmente não aceita mais toda a quantidade ofertada, dizendo que não tem mais “espaço” na barriga! Recordatório alimentar: 8h: mamadeira de 250 ml com leite integral, 1 colher de chá de açúcar e 1 colher de sopa de cereal. 10h: 1 pote de iogurte de 150 ml, 4 bolachas doces sem recheio e 1 fruta que nem sempre come inteira. 12h: 4 colheres de sopa de arroz, 1 concha cheia de feijão, 1 porção de salada (como 5 fatias de tomate), 1 porção de vegetal cozido (como 5 flores de brócolis), 1 porção de carne, 1 copo de 200 ml de suco natural, e gelatina de sobremesa. Ingere todos os lanches da escola (fruta às 15 horas e pré-jantar às 17 horas). Chega em casa às 18 horas. Como a mãe acha que as quantidades da creche são pequenas e não acredita que ela coma tudo, às 18h30 oferece 1 caneca de leite com um pedaço de pão com queijo e geleia. Às 20h30 oferece o jantar com porções semelhantes às do almoço, sem sobremesa, mas ela não aceita nem a metade do que foi ofertado. Como não jantou direito, às 22h, ao deitar, oferece outra mamadeira como a da manhã. Exame físico: Paciente com fácies atípica, eupneica, colaborativa ao exame. Mucosas úmidas e coradas, pele sem descamação ou outras alterações, ausculta pulmonar e respiratória normais. Abdome indolor à palpação e sem visceromegalias. Exame neurológico simplificado normal. Peso: 11 kg (p15-50), estatura 84 cm (p15), IMC 15,49 m/kg2 (p 15-50). Estatura-alvo: 157 cm (p 5-15). Comentários e condutas: De acordo com a história clínica e exame físico, podemos verificar que se trata de uma criança saudável que apresenta bom padrão alimentar. O problema é a mãe, que tem ideia de porções exageradas e não foi orientada no sentido de que depois do primeiro ano de idade a criança passa a ingerir volumes menores, pois não apresenta grande ganho ponderal. Também não consegue entender que sua filha está com adequado desenvolvimento pôndero-estatural relacionado com a estatura dos pais. Essa situação clínico-nutricional é caracterizada na literatura como criança com baixo apetite por interpretação equivocada dos pais. As características desse padrão alimentar são as seguintes: os pais acham que a criança tem pouco apetite quando, na realidade, ele é adequado ao tamanho e necessidades nutricionais da criança. A criança tem desenvolvimento e crescimento adequados, especialmente se considerarmos como altura-alvo (calculo que tem como base a altura dos pais) Tabela. Essa preocupação excessiva dos pais pode levar a métodos coercitivos, que vão afetar adversamente a criança. Inicialmente, porque a criança aprenderá a fazer chantagens e a só realizar uma atividade depois de muita insistência. Num futuro próximo, ela pode desenvolver uma dificuldade alimentar real. Tabela: Estatura Alvo Meninos altura pai + altura mãe + 13/2 Meninas atura mãe + altura do pai -13/2 Com a curva de estatura para idade explicamos que a estatura está adequada para a idade, tendo como referência a estatura dos pais e da família. E, com a curva do índice de massa corporal (IMC), mostramos que o IMC está quase no percentil 50, estando extremamente adequado. Além disso, ressaltamos que o exame físico está normal, não indicando a deficiência de nenhum micronutriente. O manejo dessa situação baseia-se inicialmente na explicação de que a criança está se desenvolvendo bem e que a não aceitação de toda a refeição ofertada é porque as porções são exageradas em relação ao tamanho dela. Orientamos também quanto às porções adequadas de cada alimento e para cada faixa etária. Assim, devemos instruir a oferecer somente café da manhã, almoço, lanches na creche, jantar e talvez ceia. Deve-se mostrar para os pais que o crescimento está adequado. Mas se, mesmo assim, os pais não se convenceram, prescrevemos a troca da mamadeira da manhã por um suplemento nutricional completo e balanceado, explicando que com isso a criança receberá macro e micronutrientes, podendo a mãe ficar tranquila, que enquanto ela adotar esta conduta de diminuir a oferta a criança não estará tendo deficiência de nenhum nutriente. Um olhar clínico sobre a criança com dificuldade de se alimentar por interpretação equivocada dos pais Profa. Dra. Elza Daniel de Mello CRM-RS 13836 • Médica gastropediatra e nutróloga • Professora de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) • Chefe do Serviço de Nutrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) • Membro do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Departamento de Pediatria da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) Identificação: AFG, feminino, 2 anos e 2 meses, natural e procedente de Porto Alegre-RS. Queixa e duração: Mãe vem à consulta com a preocupação de que sua filha não come o suficiente. História pregressa da moléstia atual: AFG sempre foi uma criança saudável, com boa capacidade de aprendizado, bom desempenho na escola e comportamento dócil. No entanto, a mãe refere que no primeiro ano de vida ela ingeria toda a refeição oferecida, sempre raspando o prato, mas que depois de um ano de idade não tem mais sido assim, tem-se que insistir muito para que coma em algumas refeições, especialmente almoço e jantar. Inicialmente funcionava bem com explicações, com trocas, mas agora estas medidas não estão tendo muito resultado. Todos dizem que ela está bem, até parece “gordinha”, mas a mãe não acredita, uma vez que não ingere todas as porções de fruta e verdura e, continuando assim, a mãe acha que ela pode se desnutrir e não se desenvolver bem. Além disso, na creche vários colegas são mais altos do que ela. Interrogatório dos diversos aparelhos: Sem queixas. É uma criança que obedece, exceto nos últimos meses que não quer ingerir toda a quantidade de alimento oferecido. Tem apresentado ganho de peso e estatura adequados. Dorme bem. Ritmo intestinal diário, fezes volumosas, mas não endurecidas. Nega alterações visuais, auditivas. Urina normal. Restante do interrogatório sem alterações. Antecedentes pessoais: Apresentou vários processos virais de pouca importância (vias aéreas superiores) nos primeiros dois anos de vida, especialmente quando entrou na creche. Relacionamento social e escolar: Tem bom desempenho escolar e se relaciona bem com os colegas e adultos. Composição familiar: Pai com 32 anos, engenheiro, obeso e hipertenso leve; mãe com 24 anos, advogada, sobrepeso e sem problemas de saúde. Avós paternos e maternos com diabetes, hipertensão arterial e obesidade. Não possui irmãos. História alimentar: Fez uso de leite materno exclusivo até os 4 meses de idade, quando iniciou alimentação complementar com ótima aceitação. Começou com uso de fórmula láctea aos seis meses de idade. Ótima aceitação dos alimentos oferecidos, sempre comendo a quantidade que lhe era ofertada. Mas atualmente não aceita mais toda a quantidade ofertada, dizendo que não tem mais “espaço” na barriga! Recordatório alimentar: 8h: mamadeira de 250 ml com leite integral, 1 colher de chá de açúcar e 1 colher de sopa de cereal. 10h: 1 pote de iogurte de 150 ml, 4 bolachas doces sem recheio e 1 fruta que nem sempre come inteira. 12h: 4 colheres de sopa de arroz, 1 concha cheia de feijão, 1 porção de salada (como 5 fatias de tomate), 1 porção de vegetal cozido (como 5 flores de brócolis), 1 porção de carne, 1 copo de 200 ml de suco natural, e gelatina de sobremesa. Ingere todos os lanches da escola (fruta às 15 horas e pré-jantar às 17 horas). Chega em casa às 18 horas. Como a mãe acha que as quantidades da creche são pequenas e não acredita que ela coma tudo, às 18h30 oferece 1 caneca de leite com um pedaço de pão com queijo e geleia. Às 20h30 oferece o jantar com porções semelhantes às do almoço, sem sobremesa, mas ela não aceita nem a metade do que foi ofertado. Como não jantou direito, às 22h, ao deitar, oferece outra mamadeira como a da manhã. Exame físico: Paciente com fácies atípica, eupneica, colaborativa ao exame. Mucosas úmidas e coradas, pele sem descamação ou outras alterações, ausculta pulmonar e respiratória normais. Abdome indolor à palpação e sem visceromegalias. Exame neurológico simplificado normal. Peso: 11 kg (p15-50), estatura 84 cm (p15), IMC 15,49 m/kg2 (p 15-50). Estatura-alvo: 157 cm (p 5-15). Comentários e condutas: De acordo com a história clínica e exame físico, podemos verificar que se trata de uma criança saudável que apresenta bom padrão alimentar. O problema é a mãe, que tem ideia de porções exageradas e não foi orientada no sentido de que depois do primeiro ano de idade a criança passa a ingerir volumes menores, pois não apresenta grande ganho ponderal. Também não consegue entender que sua filha está com adequado desenvolvimento pôndero-estatural relacionado com a estatura dos pais. Essa situação clínico-nutricional é caracterizada na literatura como criança com baixo apetite por interpretação equivocada dos pais. As características desse padrão alimentar são as seguintes: os pais acham que a criança tem pouco apetite quando, na realidade, ele é adequado ao tamanho e necessidades nutricionais da criança. A criança tem desenvolvimento e crescimento adequados, especialmente se considerarmos como altura-alvo (calculo que tem como base a altura dos pais) Tabela. Essa preocupação excessiva dos pais pode levar a métodos coercitivos, que vão afetar adversamente a criança. Inicialmente, porque a criança aprenderá a fazer chantagens e a só realizar uma atividade depois de muita insistência. Num futuro próximo, ela pode desenvolver uma dificuldade alimentar real. Tabela: Estatura Alvo Meninos altura pai + altura mãe + 13/2 Meninas atura mãe + altura do pai -13/2 Com a curva de estatura para idade explicamos que a estatura está adequada para a idade, tendo como referência a estatura dos pais e da família. E, com a curva do índice de massa corporal (IMC), mostramos que o IMC está quase no percentil 50, estando extremamente adequado. Além disso, ressaltamos que o exame físico está normal, não indicando a deficiência de nenhum micronutriente. O manejo dessa situação baseia-se inicialmente na explicação de que a criança está se desenvolvendo bem e que a não aceitação de toda a refeição ofertada é porque as porções são exageradas em relação ao tamanho dela. Orientamos também quanto às porções adequadas de cada alimento e para cada faixa etária. Assim, devemos instruir a oferecer somente café da manhã, almoço, lanches na creche, jantar e talvez ceia. Deve-se mostrar para os pais que o crescimento está adequado. Mas se, mesmo assim, os pais não se convenceram, prescrevemos a troca da mamadeira da manhã por um suplemento nutricional completo e balanceado, explicando que com isso a criança receberá macro e micronutrientes, podendo a mãe ficar tranquila, que enquanto ela adotar esta conduta de diminuir a oferta a criança não estará tendo deficiência de nenhum nutriente. Um olhar clínico sobre a criança com dificuldade de se alimentar por interpretação equivocada dos pais Referências 10074012 Produção e comercialização: AC Farmacêutica. 1. Birch LL, Fisher JO. Development of eating behaviors among children and adolescents. Pediatrics. 1998;101:539-49. 2. Chatoor I. Feeding disorders in infants and toddlers: diagnosis and treatment. Child Adolesc Psychiatric Clin N Am. 2002;11:163-83. 3. Chatoor I. Diagnosis and treatment of feeding disorders in infants, toddlers and young children. Washington: Zero to Three, 2009. 4. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação de alimentação saudável do lactente, criança, escolar e adolescente. 2 ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009. 5. Farias GJ, Osório MM. Padrão alimentar de crianças menores de cinco anos. Rev Nutr. 2005;18:793-802. 6. Kedesdy JH, Budd KS. Childhood feeding disorders. Baltimore: Paul H Brookers, 1998. 7. Kerzner B. Clinical investigation of feeding difficulties in young children: a practical approach. Clin Pediatr. 2009;48(9):960-5. 8. Scaglioni S, Salvioni M, Galimbert C. Influence of parental attitudes in the development of children eating behaviour. Br J Nutr. 2008;99 Suppl 1:S22-5. 9. Skinner JD, Carruth BR, Wendy B, Ziegler PJ. Children’s food preferences: a longitudinal analysis. J Am Diet Assoc. 2002;102(11):1638-47. . Abbott Center Central de Relacionamento com o Cliente 0800 703 1050 www.abbottbrasil.com.br Material de distribuição exclusiva para médicos e nutricionistas. MATERIAL PRODUZIDO EM SET/10. 2 1 Resumo do Caso: O baixo apetite por interpretação equivocada dos pais é extremamente frequente. No entanto, deve ser abordado adequadamente para que não ocorra outro distúrbio, devido ao efeito coercitivo dos pais a fim de que a criança ingira uma quantidade desnecessária ao seu desenvolvimento atual. Comentado por: Profa. Dra. Elza Daniel de Mello CRM-RS 13836