BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JARI / PA-AP ESTUDOS DE INVENTÁRIO HIDRELÉTRICO D C B A 30/06/10 20/06/10 02/06/10 30/04/10 Revisão No Data Emissão Final Revisão Geral Revisão Geral Emissão Inicial SH/MAU SH/MAU SH/MAU SH/MAU HU HU HU HU Descrição Sucinta Elaboração Aprovação Título: Contrato Nº RELATÓRIO FINAL EPE – 054 Número EPE: VOLUME 8/9 – APÊNDICE D ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS TOMO 1/4 Número Hydros: EP518.RE.JR201 Rev.: D JAR-I-00-000.027-RE-R0 Rev.: R0 Projeto Verificado Aprovado jun/10 SH/MAU SH/MAU HU Data de Emissão EP518.RE.JR201 i PREFÁCIO Este documento consubstancia os resultados do Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, situada entre os estados do Pará e Amapá, em atendimento ao despacho No 3077, de 29 de dezembro de 2006, do processo No 48500.006617/2006-93, da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, que autorizou a sua realização à Empresa de Pesquisa Energética - EPE. Os primeiros estudos de aproveitamentos hidrelétricos na bacia do rio Jari foram desenvolvidos pela Companhia Energética do Amapá – CEA e pela Companhia do Jari – JARI, que visavam, respectivamente, a implantação de uma pequena usina hidrelétrica no rio Iratapuru e uma usina hidrelétrica, de maior porte, no local denominado cachoeira do Santo Antônio do Jari, no rio Jari. Os estudos de inventário em pauta foram realizados pela Empresa de Pesquisa Energética EPE, no âmbito da Diretoria de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais. Os estudos de engenharia foram supervisionados e fiscalizados pela Superintendência de Projetos de Geração e os socioambientais pela Superintendência de Meio Ambiente. Esses estudos foram desenvolvidos em conjunto com a empresa HYDROS ENGENHARIA Ltda., contratada pela EPE para esta finalidade. Os estudos de inventário hidrelétrico foram iniciados em 17 de abril de 2007, através do contrato CT-EPE-054, de acordo com os critérios e diretrizes estabelecidos no Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas – Versão 2.0 - nov/1997, editado pela Centrais Elétricas Brasileiras S. A. – ELETROBRÁS e concluídos conforme a nova edição do mesmo manual, edição 2007, editado pelo Ministério de Minas e Energia - MME. Além da Empresa de Pesquisa Energética – EPE e Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, colaboraram significativamente, com o fornecimento de dados e informações básicas para o desenvolvimento dos trabalhos, diversas instituições que atuam na região, entre as quais se destacam: Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental AHIMOR; Agência Nacional de Águas - ANA; Centro Técnico e Operacional de Manaus do Sistema de Proteção da Amazônia - CTO/Mn-SIPAM; Companhia de Eletricidade do Amapá - CEA; Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais - CPRM; Conselho das Aldeias Waiãpi - APINA; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA; Fundação Nacional de Saúde - FUNASA; Fundação Nacional do Índio - FUNAI; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá RURAP; Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena - IEPÉ; Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA; Instituto de Terras do Pará - ITERPA; Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá - IMAP; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA; Instituto Nacional de Meteorologia - INMET; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA; Instituto Socioambiental - ISA; Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG; Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará - NAEA/UFPA; Secretaria de Estado de Agricultura, Pesca, Floresta do Amapá – SEAF/AP; Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará - SECTAM/PA; Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá SEMA/AP; Secretaria de Estado de Planejamento do Amapá - SEPLAN/AP; Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Amapá - SEPI/AP; Sistema de Proteção da Hydros EP518.RE.JR201 ii Amazônia - SIPAM; Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia - SIVAM; Universidade Federal do Amapá - UNIFAP; Universidade Federal do Pará – UFPA. O presente documento contempla a edição do relatório final referente ao Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, conforme previsto na cláusula 5.11 do contrato de prestação de serviços firmado entre a EPE e a Hydros. Os trabalhos realizados estão apresentados em 9 (nove) volumes, dois deles subdivididos em tomos, tal como discriminados a seguir: - Volume 1/9 Relatório Geral – Texto - Volume 2/9 Relatório Geral – Desenhos - Volume 3/9 Orçamentos, Fichas Descritivas e SIPOT - Volume 4/9 Sumário Executivo - Volume 5/9 Apêndice A Estudos e Levantamentos de Dados Básicos Cartográficos - Volume 6/9 Apêndice B Estudos e Levantamentos de Dados Básicos GeológicoGeotécnicos - Volume 7/9 Apêndice C - Tomos 1 e 2 Estudos e Levantamentos Hidrometeorológicos - Volume 8/9 Apêndice D - Tomos 1 a 4 Estudos Socioambientais - Volume 9/9 Apêndice E Estudos de Usos Múltiplos da Água de Dados Básicos Observa-se que a documentação para aceite técnico do Estudo de Inventário pela ANEEL encontra-se apresentada no documento nº EP518.RE.JR202, que contém o Check-list de Aceite estabelecido pela ANEEL, as Declarações de Responsabilidade Técnica pela Elaboração dos Estudos e as Comprovações de Articulação com os Órgãos Ambientais e com os Órgãos de Gestão de Recursos Hídricos. Hydros EP518.RE.JR201 iii RESUMO Os estudos de inventário hidrelétrico da bacia do rio Jari visaram a definição da melhor alternativa de divisão de queda e a determinação do seu potencial hidrelétrico, tendo em conta os aspectos técnico-econômicos e socioambientais dos seus aproveitamentos. A bacia hidrográfica do rio Jari, objeto do presente estudo, situa-se na região amazônica, região norte do nosso país, na divisa dos estados do Amapá e Pará, na área delimitada pelas latitudes 02º39’02”N e 01º26’24”S e longitudes 51º47’24”W e 55º07’48”W. O rio Jari é um importante contribuinte da margem esquerda do rio Amazonas, localizado próximo à sua foz, no oceano Atlântico, onde se situa o arquipélago do Marajó. A bacia hidrográfica do rio Jari tem cerca de 57.000 km² de área de drenagem e ocupa uma extensa área praticamente intacta da floresta amazônica. Os estudos de inventário foram programados e desenvolvidos em quatro fases, quais sejam: Fase I – Programação Preliminar dos Estudos; Fase II – Planejamento dos Estudos; Fase III – Estudos Preliminares e Fase IV – Estudos Finais. Nas fases de Programação Preliminar dos Estudos e Planejamento dos Estudos, foram realizados os trabalhos de coleta e análise de dados e estudos existentes, de reconhecimento e inspeção de campo, bem como de programação e especificação dos serviços e levantamentos de campo cartográficos, topobatimétricos, geológico-geotécnicos, hidrométricos e socioambientais. Na fase de Estudos Preliminares de Inventário, foram realizados os estudos e levantamentos de dados básicos cartográficos, geológico-geotécnicos, hidrometeorológicos, socioambientais, hidrenergéticos e de usos múltiplos da água. Nesta fase, foram também identificados os locais barráveis e concebidas as alternativas de partição de queda dos rios da bacia em estudo. Foram concebidas, ao todo, 22 (vinte e duas) alternativas de partição de queda na fase de Estudos Preliminares de Inventário, contemplando 6 (seis) locais de barramento no curso d’água principal, ou seja, no rio Jari e 2 (dois) locais de barramento nos seus contribuintes, sendo 1 (um) no rio Iratapuru e 1 (um) no rio Ipitinga. Os locais de barramento, quando factíveis, contemplaram variações de cota de coroamento dos barramentos. As alternativas de partição de queda da fase de Estudos Preliminares de Inventário foram analisadas e selecionadas, sob critérios energético-econômicos e socioambientais, sendo reduzidas a 5 (cinco) alternativas de partição de queda na fase de estudos finais de inventário, contemplando 6 (seis) sítios de barramento no rio Jari e nenhum sítio nos seus contribuintes, pois os mesmos não se mostraram interessantes. Na fase de Estudos Finais de Inventário, foram realizados os trabalhos de consolidação dos dados e investigações complementares cartográficos, topobatimétricos, geológicogeotécnicos, hidrométricos e socioambientais, bem como estudos energéticos, trabalhos de dimensionamento, de orçamentação e de avaliações energético-econômicas e socioambientais das alternativas de partição de queda selecionadas na fase anterior. Considerando os estudos acima descritos, foi concluído que a melhor alternativa de partição de queda é aquela denominada Alternativa JR-R6’, que contempla 3 (três) aproveitamentos no curso d’água principal, ou seja, no rio Jari. Hydros EP518.RE.JR201 iv Esta alternativa de partição de queda contempla os aproveitamentos denominados AHE Açaipé B na cota 86,00 m, AHE Urucupatá na cota 150,00 m e AHE Carecuru na cota 107,00 m, totalizando cerca de 1.360 MW de potência instalada, cujas características principais são, resumidamente, apresentadas na tabela a seguir: Ordem econômica de construção e principais características dos aproveitamentos da alternativa selecionada Aproveitamento (Rio) AHE Açaipé B AHE Urucupatá AHE Carecuru (Rio Jari) (Rio Jari) (Rio Jari) NA máx. normal (m) 86,00 150,00 107,00 NA jus. (m) 30,50 118,2 87,40 Potência Instalada (MW)* 831,1 291,5 240,2 Benefício Energético (MW médios) 441,8 154,7 127,4 Área do espelho d’água no NA máx (km²) 293,4 13,7 194,9 Custo Total (x 106 R$) (com JDC) 2.669 1.575 1.661 ICB (R$/MWh) 71,2 121,5 152,9 * conforme função Dimensionamento do Sistema de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas (SINV) Destaca-se que a partição de queda selecionada dos estudos de inventário, em especial do curso d’água principal, ou seja, do rio Jari, é constituída por somente 3 (três) aproveitamentos hidrelétricos, onde o primeiro, denominado AHE Açaipé B, situa-se imediatamente a montante da UHE Santo Antônio do Jari, cujos estudos e serviços de engenharia já se encontram em fase de projeto básico. Ressalta-se que este aproveitamento foi considerado como um ponto fixo na cascata do rio Jari. O segundo aproveitamento, denominado AHE Urucupatá, situa-se cerca de 170 km (medido ao longo do eixo do curso d’água) a montante do primeiro, ou seja, do AHE Açaipé B, numa região onde atualmente inexistem estradas de acesso ou qualquer outro uso antrópico mais relevante. O terceiro aproveitamento, denominado AHE Carecuru, situa-se entre os aproveitamentos AHE Açaipé B e AHE Urucupatá, a cerca de 80 km (medido ao longo do eixo do curso d’água) a montante do primeiro, ou seja, do AHE Açaipé B, numa região onde atualmente inexistem estradas de acesso ou qualquer infraestrutura expressiva relacionada à ocupação antrópica do território. Salienta-se que todos os aproveitamentos que constituem a alternativa de partição de queda selecionada atingem alguma Unidade de Conservação, uma vez que cerca de 80% da área da bacia está sob esta forma de proteção legal. Os AHEs Urucupatá e Carecuru atingem duas Unidades de Conservação de Uso Sustentável (Floresta Estadual do Paru e Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Hydros EP518.RE.JR201 v Iratapuru), enquanto o AHE Açaipé B, além de atingir essas mesmas Unidades de Conservação de Uso Sustentável, também atinge uma UC de Proteção Integral (Estação Ecológica do Jari). Considerando-se tais fatos salienta-se que a viabilização ambiental e os posteriores licenciamentos ambientais destes aproveitamentos exigirão mecanismos legais e gerenciais, que dependerão de decisões governamentais e escolhas da sociedade. Hydros EP518.RE.JR201 vi SUMÁRIO - TOMO 1/4 1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 1 1.1 OBJETIVO .......................................................................................................1 2 ANTECEDENTES.......................................................................... 1 3 ESTUDOS E LEVANTAMENTOS DE DADOS BÁSICOS SOCIOAMBIENTAIS ................................................................... 3 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA ...........................................3 3.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS BÁSICOS SOCIOAMBIENTAIS ...10 3.3 CONTATOS INSTITUCIONAIS .................................................................11 3.4 IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS LEGALMENTE PROTEGIDAS ...........12 3.4.1 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ..........................................................................13 3.4.2 TERRAS INDÍGENAS ..........................................................................................15 3.5 RECONHECIMENTOS E INSPEÇÕES DE CAMPO ..............................17 3.5.1 INSPEÇÃO DE CAMPO GERAL ...........................................................................17 3.5.2 INSPEÇÃO DE CAMPO SOCIOAMBIENTAL ........................................................18 3.5.3 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS .........................................................................25 3.5.4 OBSERVAÇÕES DE CAMPO RELATIVAS AOS ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO.............................................................................................................27 3.6 CAMPANHAS LIMNOLÓGICAS...............................................................36 3.6.1 LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE COLETA .........................................................36 3.6.2 METODOLOGIA ................................................................................................37 3.6.3 DADOS OBTIDOS...............................................................................................38 4 DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL..................................... 42 4.1 PROCESSOS E ATRIBUTOS FÍSICOS .....................................................42 4.1.1 ASPECTOS GEOLÓGICOS..................................................................................43 4.1.2 ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS .....................................................................67 4.1.3 ASPECTOS PEDOLÓGICOS E EDÁFICOS ...........................................................71 4.1.4 ASPECTOS DE HIDROLOGIA E CLIMATOLOGIA...............................................78 4.1.5 ANÁLISE DAS FRAGILIDADES DOS SOLOS ........................................................89 4.1.6 QUALIDADE DA ÁGUA ......................................................................................94 4.2 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS..................................................................96 4.2.1 FISIOGRAFIA FLUVIAL .....................................................................................96 4.2.2 QUALIDADE DA ÁGUA ....................................................................................107 Hydros EP518.RE.JR201 vii 4.2.3 VEGETAÇÃO MARGINAL................................................................................127 4.2.4 VERTEBRADOS AQUÁTICOS ...........................................................................132 4.2.5 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS ...........................................................143 4.3 ECOSSISTEMAS TERRESTRES..............................................................146 4.3.1 COBERTURA VEGETAL E USO DO SOLO ........................................................146 4.3.2 ECOSSISTEMAS DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO.............................157 4.3.3 ECOLOGIA DA PAISAGEM ..............................................................................164 4.3.4 OCORRÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO FAUNÍSTICA .................................................168 4.3.5 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS ...........................................................179 Hydros EP518.RE.JR201 viii LISTA DE FIGURAS Figura 3.1-1 – Localização da Bacia do Rio Jari no Território Brasileiro ................................. 3 Figura 3.1-2 – Distribuição Espacial das Estruturas Geomorfológicas, Áreas Protegidas, Áreas Antropizadas e Infra-Estrutura da Bacia do Rio Jari.......................................................... 5 Figura 3.1-3 – Detalhamento das Áreas Antropizadas no Sul da Bacia do Rio Jari .................. 7 Figura 4.1.1-1 – Compartimentação Geológica da Bacia do Rio Jari ...................................... 44 Figura 4.1.4-1 – Unidades Climáticas do Brasil....................................................................... 80 Figura 4.1.4-2 – Variação de Temperaturas nos Meses de Janeiro e Julho.............................. 81 Figura 4.1.4-3 – Isoietas Anuais da Bacia do Rio Jari no Período 1972-1982......................... 82 Figura 4.1.4-4 – Representação Simplificada do Ciclo Hidrológico e Seus Elementos .......... 83 Figura 4.1.4-5 – Representação Esquemática das Províncias Hidrogeológicas do Brasil ....... 85 Figura 4.1.4-6 – Seção Geológica Esquemática – Bacia Sedimentar do Amazonas................ 87 Figura 4.1.5-1 – Localização dos Principais Núcleos e das Vias de Circulação e Comunicação da Bacia do Rio Jari.......................................................................................................... 92 Figura 4.2.1-1 – Padrões de Drenagem ....................................................................................97 Figura 4.2.1-2 – Praia Localizada no Alto Rio Jari, a Montante da Foz do Rio Ipitinga....... 104 Figura 4.2.1-3 – Praia do Itacará, Localizada no Rio Jari, a Montante Foz do Rio Iratapuru 105 Figura 4.2.1-4 – Praia do Chafariz, Localizada no Rio Jari, a Montante Foz do Rio Iratapuru ........................................................................................................................................ 105 Figura 4.2.2-1 – Variação do pH, Condutividade Elétrica, Oxigênio Dissolvido na Estação Jari – 1976-1984 e 1996-2005 (Estação ANA-1)........................................................... 113 Figura 4.2.2-2 – Índice de Estado Trófico – IET.................................................................... 114 Figura 4.2.2-3 – Proporção entre os Cátions Básicos............................................................. 115 Figura 4.2.2-4 – Valores Máximos, Médios e Mínimos de Condutividade, Oxigênio Dissolvido (OD) e pH..................................................................................................... 117 Figura 4.2.2-5 – Valores Máximos, Médios e Mínimos de Turbidez, Nitrato e Amônia ......118 Figura 4.2.2-6 – Valores Máximos, Médios e Mínimos de Ortofosfato, Coliformes Fecais e Sólidos Totais ................................................................................................................. 119 Figura 4.2.2-7 – Somatória de Cátions Básicos (TZ+) das Amostras Coletadas em Campo. 122 Figura 4.2.2-8 – Relação Entre os Principais Cátions nas Amostras Coletadas em Campo .. 123 Figura 4.2.2-9 – Concentração de Nitrogênio Total das Amostras Coletadas em Campo ..... 123 Figura 4.2.2-10– Concentração de Fósforo Total das Amostras Coletadas em Campo......... 124 Figura 4.2.2-11 – Índice de Estado Trófico Calculado com as Concentrações de Fósforo Total ........................................................................................................................................ 125 Hydros EP518.RE.JR201 ix Figura 4.2.4-1 – Frequência de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari (Amapá e Pará), Distribuídas por Ordens ....................................................................................... 132 Figura 4.2.4-2 – Frequência Relativa de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari Distribuídas por Famílias ...............................................................................................133 Figura 4.2.4-3 – Frequência Absoluta de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari, Distribuídas por Famílias ...............................................................................................133 Figura 4.2.4-4 – Frequência de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari Considerando os Dados do Inventário Biológico Rápido no PARNA Montanhas do Tumucumaque, Distribuídas por Ordens........................................................................ 134 Figura 4.2.4-5 – Frequência Relativa de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari, Considerando os Dados do Inventário Biológico Rápido no PARNA Montanhas do Tumucumaque, Distribuídas por Famílias .....................................................................135 Figura 4.2.4-6 – Frequência Absoluta de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari, Considerando os Dados do Inventário Biológico Rápido no PARNA Montanhas do Tumucumaque, Distribuídas por Famílias .....................................................................135 Figura 4.3.1-1 – Área Antropizada de Laranjal do Jari, segundo GEA/SETEC/IEPA (2004) ........................................................................................................................................ 155 Figura 4.3.3-1 – Matriz Florestal (Floresta Ombrófila Densa) Tipicamente Encontrada na Bacia Hidrográfica do Rio Jari, do Norte ao Centro-Sul da Bacia................................. 165 Figura 4.3.3-2 – Área de Reflorestamento da Jari Celulose por Eucaliptus sp. ..................... 166 Figura 4.3.4-1 – Centro de Endemismos de Aves Propostos Para a Região Amazônica por Cracraft (1985) (A). Localização da Bacia do Rio Jari em Relação aos Centros de Endemismos (B) ............................................................................................................. 171 Figura 4.3.4-2 – Diferentes Estados de Conservação da Biota Observados na Bacia do Rio Jari. (A) Grandes Extensões de Formações Primárias, Situação Comum na Bacia, e (B) Formações sob Forte Influência Antrópica nos Arredores de Laranjal do Jari ..............175 Hydros EP518.RE.JR201 x LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 3.6-1 – Distribuição das Campanhas Limnológicas no Hidrograma Médio Mensal Típico................................................................................................................................ 36 Gráfico 4.3.3-1 – Ritmo de Desflorestamento (km2/ano) na Amazônia Legal (triângulo vermelho) e nos Estados do Amapá (losango azul) e do Pará (quadrado verde), no Período de 1988 a 2007 .................................................................................................. 167 Hydros EP518.RE.JR201 xi LISTA DE QUADROS Quadro 2-1 – Estudos Anteriores ............................................................................................... 2 Quadro 4.2.5-1 – Subáreas dos Ecossistemas Aquáticos .......................................................145 Quadro 4.3.5-1 – Subáreas dos Ecossistemas Terrestres........................................................ 184 Hydros EP518.RE.JR201 xii LISTA DE TABELAS Tabela 3.4-1 – Unidades de Conservação ................................................................................ 13 Tabela 3.4-2 – Terras Indígenas, grupo étnico, situação jurídica e localização - Bacia do rio Jari .................................................................................................................................... 16 Tabela 3.6-1 – Campanha limnológica - Pontos de coleta de água.......................................... 37 Tabela 3.6-2 – Campanha limnológica – Dados obtidos.......................................................... 39 Tabela 4.1.4-1 – Províncias Hidrogeológicas e Seus Respectivos Sistemas Aquíferos...........86 Tabela 4.1.5-1 – Classe de Fragilidade do Solo das Unidades Ecodinâmicas .........................90 Tabela 4.2.1-1 – Hierarquia Fluvial da Bacia do Rio Jari ........................................................ 98 Tabela 4.2.1-2 – Densidade de Drenagem da Bacia do Rio Jari Segundo Metodologia do Manual de Inventário........................................................................................................ 99 Tabela 4.2.1-3 – Densidade de Drenagem da Bacia do Rio Jari Segundo Metodologia de Horton............................................................................................................................. 100 Tabela 4.2.2-1 – Dados da Rede Hidrometeorológica Nacional – Localização das Estações de Coleta de Água ............................................................................................................... 109 Tabela 4.2.2-2 – Dados do Projeto Hibam – Localização da Estação de Coleta de Água ..... 109 Tabela 4.2.2-3 – Dados do Projeto Brasil das Águas – Localização das Estações de Coleta de Água ............................................................................................................................... 110 Tabela 4.2.2-4 – Dados da CPRM – Localização das Estações de Coleta de Água...............110 Tabela 4.2.2-5 – Dados da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Amapá - SEMA/AP – Localização das Estações de Coleta de Água................................................................. 111 Tabela 4.2.2-6 –Estações de Coleta de Água da SEMA/AP e Pressão Antrópica a que Estão Sujeitas ........................................................................................................................... 111 Tabela 4.2.2-7 – Campanha Limnológica - Pontos de Coleta de Água.................................. 112 Tabela 4.2.2-8 – Somatória de Cátions Básicos (TZ+) a Partir dos Dados do Projeto Brasil das Águas .............................................................................................................................. 114 Tabela 4.2.2-9 – IQA Calculado............................................................................................. 120 Tabela 4.2.2-10 – Somatória de Cátions Básicos ................................................................... 121 Hydros EP518.RE.JR201 xiii LISTA DE SIGLAS Sigla AAI AHIMOR ANA ANEEL Anos AP APINA APITIKATXI APITU APIWATA ARPA BNDES CADAM CAESA CBERS CCIAW CEA CEPA CFEM CIMI CIT CNM CNRH COHIDRO COMARU CPAQ CPF CPI-SP CPRM CTH CTI DHN DNAEE DNIT DNPM DSEI DSG EBCT EIA EIH ELETROBRÁS ELETRONORTE Descrição Avaliação Ambiental Integrada Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental Agência Nacional de Águas Agência Nacional de Energia Elétrica Anos Antes do Presente Conselho das Aldeias Waiãpi Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Katxuyana e Txikuyana Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque Associação dos Povos Indígenas Waiãpi do Triângulo do Amapari Programa Áreas Protegidas da Amazônia Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Caulim da Amazônia S.A. Companhia de Água e Esgoto do Amapá China-Brazil Earth-Resources Satellite Centro de Cultura Indígena Aparai Wayana Companhia de Eletricidade do Amapá Centro de Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná Compensação Financeira por Extração Mineral Conselho Indigenista Missionário Convergência Intertropical Confederação Nacional dos Municípios Conselho Nacional dos Recursos Hídricos Consultoria, Estudos e Projetos Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru Centro de Pesquisas Aquáticas Cadastro de Pessoa Física Comissão Pró-Índio de São Paulo Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos Centro de Trabalho Indigenista Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre Departamento Nacional de Produção Mineral Distrito Sanitário Especial Indígena Diretoria de Serviço Geográfico do Exército Brasileiro Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos Estudo de Impacto Ambiental Estudo de Inventário Hidrelétrico Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Centrais Elétricas do Norte do Brasil Hydros EP518.RE.JR201 Sigla EMATER EMBRAPA ENGE-RIO EPE ESEC ETE FAB FCTH FLONA FLOTA FSC FUNAI FUNASA GERCO/AP GPS GTA GTZ HYDROS IBAMA IBGE ICMBio ICMS ICOMI IDEFLOR IEPA IEPÉ IET IMAP INCRA INMET INPE INSS IPAMA IPHAN ISA IT ITERPA KFW LANDSAT MacroZEE MDA MEC xiv Descrição Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Geral do Pará Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Enge-Rio Engenharia e Consultoria S.A. Empresa de Pesquisa Energética Estação Ecológica Estação de Tratamento de Esgoto Força Aérea Brasileira Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica Floresta Nacional Floreta Estadual Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal Fundação Nacional do Índio Fundação Nacional de Saúde Coordenação Executiva do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do Amapá Global Positioning System Projeto Fortalecimento Institucional da Rede Grupo de Trabalho Amazônico Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência Alemã de Cooperação) Hydros Engenharia Ltda. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Indústria e Comercio de Minérios Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Campus Urbano e Campus Fazendinha) Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena Índice de Estado Trófico Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Instituto Nacional de Meteorologia Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Instituto Nacional do Seguro Social Instituto de Previdência Assist Municipal de Almeirim Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Instituto Socioambiental Instabilidade Tropical Instituto de Terras do Pará Banco Alemão para o Desenvolvimento Land Remote Sensing Satellite (Estados Unidos da América) Macrozoneamento Ecológico-Econômico Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Educação Hydros EP518.RE.JR201 Sigla MMA MNTB NASA NGPR NTB ONG PAS PD/A PEAS PEAEX PEGC PEOT PGAI/AP PIB PIP POLITEC PPA PPG7 PROBIO PRODES RDS REBIO ReMAM RESEX RGB RIMA RINEX RN RTF RURAP SAGRI SAT SEAF SECTAM SEFA/PA SEFAZ/AP SEICOM SEMA SEMMATUR SEPE SEPI SEPLAN xv Descrição Ministério do Meio Ambiente Missão Novas Tribos do Brasil National Aeronautics and Space Administration (Estados Unidos da América) Núcleo Gestor do Pará New Tribes Mission Organização Não Governamental Plano Amazônia Sustentável Subprograma Projetos Demonstrativos Projeto Estadual de Assentamento Sustentável Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Amapá Programa de Ordenamento Territorial do Estado do Pará Projeto de Gestão Integrada do Estado do Amapá Produto Interno Bruto Projetos de Investimentos Produtivos Polícia Técnica de Estudos Científicos do Amapá Plano Plurianual Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica do Brasil Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva Biológica Rede de Monitoramento Ambiental em Microbacias Reserva Extrativista Red Green Blue Relatório de Impacto Ambiental Receiver Independent Exchange Format Referência de Nível Fundo para as Florestas Tropicais Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Amapá Secretaria de Estado de Agricultura Estação à satélite Secretaria de Agricultura, Pesca, Floresta e do Abastecimento Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Pará Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Amapá Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Mineração do Amapá Secretaria de Estado do Meio Ambiente Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Estado do Amapá Secretaria de Planejamento do Estado do Amapá Hydros EP518.RE.JR201 Sigla SEPOF/DIEPI SESA SETEC SETRACI SGB SIL SIN SIPOT SIVAM SLAPR SNUC SPC&T SPI SPRN SRTM TEQ TERRAP TI TSE UC UFPR UHE UNESCO UNIFAP ZEE ZEEC xvi Descrição Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças do Estado do Pará / Diretoria de Estudos, Pesquisas e Informações Sócio-Econômicas Secretaria de Estado de Saúde Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Amapá Secretaria de Estado do Trabalho e Cidadania Sistema Geodésico Brasileiro Summer Institute of Linguistics Sistema Interligado Nacional Sistema de Informação do Potencial Hidrelétrico Brasileiro Sistema de Vigilância da Amazônia Sistema de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais Sistema Nacional de Unidades de Conservação Subprograma de Ciência e Tecnologia Serviço de Proteção aos Índios Subprograma de Políticas Recursos Naturais Shuttle Radar Topography Mission Território Estadual Quilombola Instituto de Terras do Amapá Terra Indígena Tribunal Superior Eleitoral Unidade de Conservação Universidade Federal do Paraná Usina hidrelétrica Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Universidade Federal do Amapá Zoneamento Ecológico-Econômico Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor Costeiro Estuarino do Amapá Hydros EP518.RE.JR201 1 1 INTRODUÇÃO O presente documento, intitulado “Apêndice D – Estudos Socioambientais – Volume 8/9” é parte integrante do Relatório Final dos Estudos de Inventário Hidrelétrico do Rio Jari. São apresentados, no presente apêndice, os estudos, serviços e levantamentos de campo relacionados com os estudos e levantamentos de dados socioambientais dos estudos de inventário em pauta. Os mesmos estudos estão descritos, de forma mais sucinta, no documento intitulado “Estudo de Inventário Hidrelétrico do Rio Jari/PA-AP - Relatório Geral – Texto – Volume 1/9”. Este documento será apresentado, na sequência, em 4 Tomos: - Tomos 1 e 2 Relatório Final da Fase III – Estudos Preliminares de Inventário Apêndice D – Tomo 1/4 e 2/4 – Diagnóstico Socioambiental - Tomo 3 Relatório Final da Fase III – Estudos Preliminares de Inventário Apêndice D – Tomo 3/4 – Avaliação Socioambiental - Tomo 4 Relatório Final da Fase III – Estudos Preliminares de Inventário Apêndice D – Tomo 4/4 – Anexos 1.1 OBJETIVO Este documento tem como objetivo apresentar os resultados e as descrições dos estudos socioambientais referentes Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Jari. Os estudos e levantamentos de dados socioambientais do estudo de inventário da bacia hidrográfica em pauta abrangem, de forma resumida, os assuntos a seguir relacionados: - Estudos e levantamentos de dados básicos ambientais; - Diagnóstico socioambiental; - Avaliação dos impactos ambientais negativos por aproveitamento; - Avaliação dos impactos ambientais negativos e positivos por alternativa; 2 ANTECEDENTES Os primeiros estudos de aproveitamentos hidrelétricos na região da bacia do rio Jari foram desenvolvidos pela Companhia Energética do Amapá – CEA, com vista ao aproveitamento do potencial energético do rio Iratapuru, por meio de uma usina hidrelétrica do tipo Pequena Central Hidrelétrica – PCH. Hydros EP518.RE.JR201 2 Os estudos e projetos desenvolvidos no rio Iratapuru, contribuinte da margem esquerda do rio Jari, localizado próximo à cidade de Laranjal do Jari, foram desenvolvido pela empresa THEMAG Engenharia, em 1984, resultando no Estudo de Viabilidade da UHE Senador Manoel Valente Flexa, que propunha a potência instalada total de 9,0 MW, sendo 3,0 MW na primeira etapa do empreendimento. Em 1984, a LEME Engenharia desenvolveu para a Companhia do Jari – JARI, os primeiros estudos com vista ao aproveitamento do potencial hidrenergético do rio Jari, no local denominado cachoeira do Santo Antonio do Jari, cujos resultados foram apresentados no documento intitulado “Usina Hidrelétrica Santo Antonio – Relatório de Projeto”. Não são conhecidos outros estudos ou projetos relacionados com o aproveitamento do potencial hidrelétrico da bacia do rio Jari, a não ser aqueles relacionados com o aproveitamento do potencial hidrenergético do rio Iratapuru e da cachoeira de Santo Antonio do Jari, acima descritos. Após os primeiros estudos realizados pela LEME Engenharia, descritos acima, são registrados diversos outros estudos, sempre relacionados com o aproveitamento do potencial hidrelétrico da cachoeira do Santo Antonio do Jari, no rio Jari, discriminados no quadro a seguir: Quadro 2-1 – Estudos Anteriores Item Discriminação 1 Usina Hidrelétrica de Santo Antônio – Documentação Técnica para Instruir Pedido de Autorização para Geração de Energia – Companhia do Jari – Leme Engenharia – Jan/1985 2 Usina Hidrelétrica de Santo Antônio – Relatório de Projeto – Volume I – Texto – Companhia do Jari – Leme Engenharia – Out/1986 3 Usina Hidrelétrica de Santo Antônio –Relatório de Projeto – Volume II – Desenhos – Companhia do Jari – Leme Engenharia – Out/1986 4 Usina Hidrelétrica de Santo Antônio – Relatório de Impacto do Meio Ambiente – Fase I – SA-EA-001 – Companhia do Jari – Leme Engenharia 5 UHE Santo Antônio – Desenhos – Jari Energética S.A. – Leme Engenharia 6 UHE Santo Antônio – Atualização do Projeto Básico – Implantação de Três Unidades de 33,3 MW – Volume I – Texto – 6.191-RE-G00-001 – Jari Energética S.A. – Leme Engenharia – Mar/2000 7 UHE Santo Antônio – Atualização do Projeto Básico – Relatório Final – Volume II – Desenhos – 6.191-RE-G00-001 – Jari Energética S.A. – Leme Engenharia – Mar/2000 8 UHE Santo Antônio – Revisão do Projeto Básico – Implantação de Cinco Unidades de 33,3 MW – Jari Energética S.A. – Jan/04 9 Revisão dos Aspectos Energéticos do Projeto UHE Santo Antônio – Jari Energética S.A. – Jan/04 10 UHE Santo Antônio – Atualização Estudos Hidrológicos e Energéticos – Primeira Etapa – Estudos Hidrológicos – 6.419-RE-G00-001 – Empresa Comercializadora de Energia – Leme Engenharia – Ago/2007 Hydros EP518.RE.JR201 3 3 ESTUDOS E LEVANTAMENTOS DE DADOS BÁSICOS SOCIOAMBIENTAIS 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA A bacia hidrográfica do rio Jari, objeto do presente estudo, situa-se na região amazônica, parte setentrional da bacia do rio Amazonas, próximo à sua foz, no oceano Atlântico. O rio Jari é um importante contribuinte da margem esquerda do rio Amazonas, que faz a divisa natural dos estados do Pará e do Amapá, tal como se apresenta na figura a seguir, intitulada “Localização da Bacia do Rio Jari no Território Brasileiro”. Figura 3.1-1 – Localização da Bacia do Rio Jari no Território Brasileiro A bacia hidrográfica do rio Jari tem cerca de 57.000 km2 de área e ocupa as áreas dos municípios de Almeirim, no estado do Pará, e Laranjal do Jari, Vitória do Jari e Mazagão, no estado do Amapá. A rede hidrográfica da bacia é relativamente densa, sendo constituída por três cursos d’água principais, sendo o primeiro o rio Jari, o segundo o rio Iratapuru, principal contribuinte da margem esquerda do rio Jari, e o terceiro, o rio Ipitinga, principal contribuinte da margem direita do mesmo. O curso d’água principal nasce na Serra do Tumucumaque, situada na parte setentrional da bacia hidrográfica, na divisa do nosso país com a Guiana Francesa. O rio Jari tem cerca de 780 km de comprimento, desenvolve-se na direção noroeste-sudeste e desemboca na margem esquerda do rio Amazonas, em frente a uma de suas maiores ilhas fluviais, a ilha Grande de Gurupá, que faz parte do complexo de ilhas fluviais situado na foz do rio Amazonas, adjacente à ilha de Marajó. Hydros EP518.RE.JR201 4 A bacia do rio Jari apresenta, ao norte, um nível altimétrico intermediário, entre 250 e 300 m, correspondente à unidade geomorfológica Colinas do Amapá, cujas formas de relevo predominante são colinas de topo convexo. Na faixa que se estende de noroeste a leste, com algumas manifestações mais ao sul e ao norte, encontra-se a unidade geomorfológica dos Planaltos Residuais do Amapá, com formas predominantes de colinas e vales encaixados, resultante do aprofundamento da drenagem sobre rochas menos resistentes. A faixa que se estende do centro para o sul da bacia é caracterizada como unidade geomorfológica da Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, constituída por rochas pré-cambrianas e representando uma área mais rebaixada em relação às áreas circunvizinhas, devido aos processos erosivos. A forma predominante que se observa nesta unidade geomorfológica é a de colinas esculpidas em rochas cristalinas, com altitudes em torno de 150 m. Por fim, no extremo sul da bacia, encontram-se as unidades geomorfológicas do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, Planalto Uatumã-Jari e a Planície Amazônica. No Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, destacam-se formas de relevo esculpidas sobre rochas de idade paleozóica, representando, assim, relevo predominantemente arrasado, com algumas áreas mais elevadas de topo plano, com altitudes de até 550 m. No Planalto Uatumã-Jari, verifica-se um grande pediplano, do período pleistocênico, desenvolvido sobre sedimentos do Grupo Barreiras. As formas predominantes dessa unidade geomorfológica são de colinas e morros, com altitudes entre 100 e 200 m. Na Planície Amazônica, constata-se uma área rica em canais fluviais, com padrão anastomosado, onde se destacam as inundações periódicas que promovem deposição com sedimentos recentes. A região onde se insere a bacia hidrográfica do rio Jari é de domínio da Floresta Ombrófila Densa, em quase toda sua extensão. As variações deste tipo florestal estão condicionadas aos fatores geomorfológicos, edáficos e altitudinais locais. Dentre as variações florestais existentes, a que se destaca é a Floresta Ombrófila Densa Submontana, que ocupa praticamente toda a parte norte, central e centro-sul da bacia, que coincide, praticamente, com as áreas legalmente protegidas, tal como apresentado na Figura 3.1-2, intitulada “Distribuição Espacial das Estruturas Geomorfológicas, Áreas Protegidas, Áreas Antropizadas e Infra-Estrutura da Bacia do Rio Jari”. Hydros EP518.RE.JR201 5 ³ 54°W 52°W ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! T.I. Parque Indígena do Tumucumaque ! ! ! !! ! ! P.N. Montanhas do Tumucumaque ! ! ! ! ! ! ! ! ! 2°N ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 2°N ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! Amapá ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! K ! ! ! ! ! ! ! ! ! K ! ! ! ! ! ! K K ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! !! ! ! ! !! !! ! ! ! !! ! !! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ] ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! !! !! !! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! T.I. Waiãpi !!! ! ! ! ! ! ! !! ! ! !! ! ! !! ! ! ! ! ! T.I. Rio Paru D'Este !! ! ! ! !! Pará ! ! !! !! !! !! !! ! ! ! ! ! !! !! ! ! !! ! ! ! !! FLOTA Parú RDS Rio Iratapuru ! ! [ ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ] ! ! ! ! ] ! ! ] ] ] ] ! ! ! ]] ]]] ] ESEC Jari ] ] ] ! ] ] Conveções Cartográficas 0° ] ]] ] 0° ! ! ! ! ! ! !! ! !! ] !! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! Crista Simétrica RESEX do Rio Cajari ! ! R ! ! ! ! ! ! ! R ! ! ! ! Faceta Triangular de Falha ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! !! ! !! ! ! ! ! FLOTA Parú ! ! KKK Marcas de Enrugamentos ! Linha de Cumeada !! Unidades de Conservação Estadual ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Áreas!com Restrições Legais ! ! ! Crista Assimétrica ] ! Outras Localidades ! ! ! ! [ ! ! Povoado ! ! ! ! ] ! ] ! ] ] ] Geomorfologia Estrutural ! ! ! ! Demais Áreas da Bacia Hidrografia Principal P Sede Municipal ! ! Ressalto ! ! REBIO Maicuru ! RDS Rio Iratapuru ! ! ! ! ! ! !! ] ] Faceta Triangular Linha de Cumeada Vale ou Sulco Estrutural ! ! Áreas Antropizadas R ! ESEC Jari ! ! PN Montanhas ! do Tumucumaque ! RESEX do Rio Cajari ! Terras Indígenas ! 2°S Cordão ou Dique Escarpa Erosiva Unidades de Conservação Federal ! ! Infra - Estrutura ! 2°S ! Culturas Cíclicas Rodovias ! ! ! ! ! Pecuária (pastagens) Via não Pavimentada Reflorestamento Eucalipto Outras Estradas ! ! ! ! 54°W 0 15 30 60 90 km 120 52°W Figura 3.1-2 – Distribuição Espacial das Estruturas Geomorfológicas, Áreas Protegidas, Áreas Antropizadas e Infra-Estrutura da Bacia do Rio Jari Hydros EP518.RE.JR201 6 Na porção sul da bacia, observa-se uma variedade maior de fisionomias, decorrentes do regime fluvial. Destacam-se, nesta porção da bacia, áreas com ações antrópicas mais acentuadas, onde as coberturas vegetais originais deram lugar às atividades agropecuárias e explorações silvícolas, tal como apresentado na Figura 3.1-3, intitulada “Detalhamento das Áreas Antropizadas no Sul da Bacia do Rio Jari”. Entretanto, no extremo sul da bacia também são encontradas Formações Pioneiras, Vegetação Secundária, áreas de tensão Savana/Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e Floresta Ombrófila Densa Aluvial. A qualidade da água dos cursos da bacia, de forma geral, é ótima, decorrente da extensa cobertura vegetal original, que ocupa quase toda a bacia, e da baixíssima densidade demográfica, de cerca de 0,70 hab/km2 (a densidade demográfica média do nosso país é da ordem de 20 hab/km2). Hydros EP518.RE.JR201 7 53°W ³ 52°W ! ! ! ] 0° ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ] RDS Rio Iratapuru ! ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ] ] ] ! ] ! ! ! ! ! ] ] ! Amapá ] ] ] ] ! ! ] ] RESEX do Rio Cajari ! ] ]] ! ! ! ! ] ] ! ] ! ! ! ] ! ! ] ] ]] ] ] ] ] ESEC Jari ! ]] FLOTA Parú ! ! ] ! ! ! ] ] 0° ! ! ! ! ] ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ] ] ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ] ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! R ! ! ! ! ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ] ! ! ! ! ! ! ! ! ! R ! ]] ] ] !! ! ! ! ! ! ! ! 1°S ! ! ! ! 1°S ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Pará ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Conveções Cartográficas ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Hidrografia Principal P Sede Municipal ! Demais Áreas da Bacia ! [ Crista Assimétrica ! ! ! ! ! ! ! ! Crista Simétrica ! ! ! ! Outras Localidades ! ! ! ! ! Geomorfologia Estrutural ! Povoado ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Faceta Triangular de Falha ! ! ! ] ! ! Áreas com Restrições Legais ! ! ! ! ! Ressalto Cordão ou Dique Escarpa Erosiva ] ] Faceta Triangular Linha de Cumeada Vale ou Sulco Estrutural Infra - Estrutura Rodovias Pecuária (pastagens) Via não Pavimentada Reflorestamento Eucalipto Outras Estradas 53°W ! !! 2°S ! ESEC Jari PN Montanhas do Tumucumaque ! ! ! R Unidades de Conservação Federal Culturas Cíclicas ! ! KKK Marcas de Enrugamentos REBIO Maicuru Áreas Antropizadas ! Linha de Cumeada RDS Rio Iratapuru RESEX do Rio Cajari Terras Indígenas ! FLOTA Parú ! Unidades de Conservação Estadual 0 5 10 20 30 km 40 2°S 52°W Figura 3.1-3 – Detalhamento das Áreas Antropizadas no Sul da Bacia do Rio Jari Hydros EP518.RE.JR201 8 A ocupação humana concentra-se na porção sul da bacia, onde a qualidade da água é considerada ótima, inclusive no baixo Jari, onde se encontram os locais de maior concentração populacional. Nesta área, constata-se uma pequena alteração negativa na qualidade da água, que se caracteriza como de boa a ótima, porém sem interferir na qualidade do rio como um todo. Os fatores acima descritos têm grande importância para a diversidade e riqueza faunística, praticamente inalterada na maior parte da bacia. Em termos de fauna aquática, a bacia oferece também uma elevada riqueza e diversidade, na qual incluem peixes, aves, crocodilos e botos. Esta grande biodiversidade, preservada na maior parte da bacia, é reflexo da ausência de ações antrópicas mais significativas no passado e, atualmente, da presença de diversas Unidades de Conservação, inclusive com algumas que fazem parte do Corredor de Biodiversidade do Amapá, que propõe conciliar a conservação da natureza com o desenvolvimento social e econômico da região. As Unidades de Conservação de Proteção Integral existentes na área da bacia hidrográfica são o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a Estação Ecológica do Jari AP/PA e a Reserva Biológica do Maicuru. As Unidades de Conservação de Uso Sustentável existentes na área da bacia hidrográfica são a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru, a Reserva Extrativista do Rio Cajari e a Floresta Estadual do Paru. O total das áreas das Unidades de Conservação de Proteção Integral e das Unidades de Conservação de Uso Sustentável é cerca de 77% da área da bacia. O histórico da ocupação da bacia merece destaque no presente estudo pelo registro de momentos marcantes no quadro de ocupação atual da bacia, dando base às condições de vida, organização territorial e base econômica. O primeiro momento, na passagem do século XIX para o XX, corresponde ao ciclo da exploração de borracha e balata (látex). O segundo momento, mais marcante ainda, diz respeito à implantação de grandes investimentos relacionados com a silvicultura e mineração, decorrentes da implantação do Projeto Jari, iniciado por um grupo econômico americano, hoje Jari Celulose S.A., pertencente a grupo brasileiro do ramo, Grupo Orsa. Esse empreendimento constituía-se num megaprojeto de exploração de celulose e de minerais, como bauxita e caulim. Nesta ocasião, toda a infraestrutura necessária para a produção e escoamento da celulose e minérios foi montada exclusivamente para o desenvolvimento deste projeto, formando “company-towns”, no lado paraense da bacia, nas localidades denominadas Monte Dourado e Munguba. Cabe destacar que, próximo às “company-towns”, estabeleceram-se assentamentos populacionais espontâneos, na margem oposta do rio Jari, formando os maiores “favelões” que a região amazônica conheceu. Hoje, essas construções espontâneas adentraram o interior da bacia, formando núcleos urbanos que se tornaram, posteriormente, as sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, ambas no lado amapaense da bacia. Cabe observar que o Projeto Jari, que se iniciou em 1976, soube aproveitar de forma estratégica a disponibilidade de extensas áreas com estrutura já montada para a exploração silvícola, exploração do rico potencial em minérios e a utilização do próprio rio Jari. O rio Jari foi utilizado como via de transporte natural e servia para escoar a produção do Projeto Jari. O rio oferecia a vantagem de apresentar um calado suficiente para a navegação fluvial e marítima, no seu curso inferior, permitindo o acesso ao rio Amazonas, onde se situavam portos regionais e, deste para o oceano, acessando os portos internacionais. Hydros EP518.RE.JR201 9 O Projeto Jari, na época da sua implantação, soube aproveitar a política pública de incentivos para a intensificação da exploração de recursos naturais da Amazônia, atraindo investidores nacionais e estrangeiros. Na bacia hidrográfica em estudo, através da Jari Celulose, foram explorados cerca de 500 mil hectares de florestas cultivadas. Aproximadamente 80% da produção florestal é destinada para a Europa e o restante para os Estados Unidos e para o mercado interno. Outro grande projeto existente na área em estudo é o da exploração do caulim, implantado de forma integrada ao da exploração da celulose, denominado Caulim da Amazônia, que responde por cerca de 36% da produção nacional de caulim, sendo grande parte destinada ao mercado externo. Apesar dessas vultosas produções, nesta bacia não se verificaram investimentos públicos para o desenvolvimento de atividades rurais para os pequenos agricultores. As atividades extrativistas, agrícolas e pecuárias são desenvolvidas de forma modesta, relacionadas à subsistência, ao mercado local e regional. Não obstante, são crescentes as atividades extrativistas que, em sua maioria, concentram-se na extração de castanha-do-brasil, madeira e ouro. Outras atividades econômicas são desenvolvidas em grande parte pelas populações que se concentraram, predominantemente, em torno das “company-towns”. Elas vivem em núcleos urbanos, em pequenas comunidades rurais ou nas margens dos rios e igarapés, dando suporte às atividades urbanas, inclusive ao Projeto Jari. A despeito da presença de atividades formais, são significativas as informais. Apesar dos investimentos públicos realizados para a urbanização das duas sedes municipais, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, estes municípios carecem, de forma geral, de serviços adequados de educação, saúde, saneamento, transporte, cultura e lazer, entre outros. Os municípios integrantes da bacia em estudo podem ser classificados como aqueles em processo de crescimento e consolidação, denunciado pela baixa densidade populacional e com ritmo acelerado de crescimento. As condições de vida das populações destes municípios, ao se comparar com outras regiões do país, podem ser classificadas como de desenvolvimento médio, patamar idêntico à média nacional. No entanto, o rendimento médio comparece como um dos aspectos mais baixos na composição de IDHs. Esta situação é explicada pela baixa qualificação de mão de obra, em especial, da população moradora da margem esquerda do rio Jari, além da informalidade das atividades ali desenvolvidas, tanto na área urbana como na área rural. Esta condição de vida da população convive com a das company-towns, que são planejadas, onde a população tem acesso aos serviços de educação, de saúde e de saneamento, com toda a infraestrutura urbana necessária. A infraestutura na bacia é ainda incipiente. Até hoje, as principais vias de acesso aos grandes pólos regionais são a aérea e a hidroviária. O aeroporto está localizado na vila de Monte Dourado, sede da empresa Jari Celulose S.A., para operação comercial. A hidrovia é proporcionada pelo próprio rio Jari, que serve de escoamento da grande massa de celulose e de minérios do projeto Jari Celulose, além de servir como meio de transporte usual da população local, em especial de ribeirinhos. Quanto à via terrestre, que dá acesso aos centros urbanos externos à bacia, há somente uma rodovia de expressão, a BR-156, também conhecida como Perimetral Norte, cuja implantação foi iniciada e interrompida na década de 70, conectando a cidade de Laranjal do Jari com a cidade de Macapá, capital do estado do Amapá. As demais vias são locais, sendo a mais expressiva a rodovia estadual que conecta a vila de Monte Dourado, a fábrica da Jari Celulose Hydros EP518.RE.JR201 10 e a cidade de Almeirim, no Pará, situada junto à margem do rio Amazonas, isolada da rede de estradas do estado. Da mesma forma que os modos de vida, a base econômica da bacia apresenta características especiais, de convivência entre as atividades empresariais, dirigidas para a exploração racional de recursos naturais, de alta capitalização, e as das atividades rurais e urbanas, de capitalização baixa. A atividade principal refere-se à extração e beneficiamento de recursos naturais, inserido no contexto do mercado internacional. Esta, no entanto, não chega a desencadear um processo de desenvolvimento produtivo local. A outra parte caracteriza-se pelas atividades terciárias, de baixa formalização, de atividades extrativas e de culturas de subsistência. Registra-se a existência de três Terras Indígenas – TIs – na área da bacia hidrográfica do rio Jari, duas situadas a leste e uma a oeste da bacia, as quais, juntas, ocupam cerca de 10% da área total da bacia. São habitadas, essencialmente, por dois povos indígenas, os Waiãpi, que ocupam a TI Waiãpi, e os Aparai e Wayana, que ocupam a TI Parque do Tumucumaque e a TI Rio Paru D’Este. A TI Waiãpi é a mais significativa no âmbito da área em estudo, pois seu território, bem como suas aldeias, situam-se dentro dos limites da bacia hidrográfica. As TIs das etnias Aparai e Wayana e suas aldeias situam-se, em essência, na bacia hidrográfica do rio Paru de Este, que é uma bacia hidrográfica situada a oeste e adjacente à bacia hidrográfica do rio Jari. Segundo avaliações realizadas, somente uma pequena parte dessas TIs adentra a bacia hidrográfica do rio Jari, atingindo as cabeceiras do curso d’água principal e de alguns contribuintes da margem direita do mesmo. Cabe destacar que as TIs existentes na área em estudo são regularizadas e as populações indígenas são assistidas por serviços de saúde e de educação, por parte do poder público. A TI Waiãpi tem acesso a Macapá através da rodovia federal BR-156 e dispõe de campos de pouso para pequenas aeronaves, localizados no interior de suas terras. A população indígena está organizada na forma de associações, que atuam em parcerias com organizações nãogovernamentais nacionais e internacionais. 3.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS BÁSICOS SOCIOAMBIENTAIS A coleta e análise de dados básicos ambientais consistiram em levantamentos e análises críticas de dados e informações secundárias, disponíveis em fontes oficiais e documentos desenvolvidos pelas entidades civis organizadas, recomendadas, principalmente, no Manual de Inventário Hidrelétrico. As principais fontes de informações consultadas foram: IBGE, PROJETO RADAMBRASIL, IBAMA, EMBRAPA, SIVAM-SIPAM, ISA, INPA, MUSEU EMÍLIO GOELDI, FUNAI, ANEEL, IPHAN, SPHAN, UFPA, UFAP, NAEA, INPE, CBERS, Google-Earth, Fundações, Universidades, Secretarias Estaduais e Municipais, além de teses e pesquisas desenvolvidas em universidades e instituições de pesquisa. Paralelamente, foi dada ênfase aos dados e informações que ofereciam maiores condições de serem espacializadas, como mapas temáticos, imagens de satélites e fotografias aéreas atuais, de forma a subsidiar a caracterização e análise socioambiental nas diferentes regiões da bacia. Esses dados foram sistematizados e inseridos no SIG, possibilitando a identificação de Hydros EP518.RE.JR201 11 unidades fitoecológicas, áreas protegidas, diferentes tipos de áreas antropizadas e desmatamentos, entre outros. O levantamento de dados incluiu as informações obtidas por sobrevôo de reconhecimento e por inspeções terrestres e fluviais, realizadas por uma equipe técnica multidisciplinar, abrangendo de forma geral a região de estudo e, de forma específica, os locais de barramento propostos. Algumas informações foram obtidas com os próprios moradores, que repassaram as informações baseadas na sua vida cotidiana. Estas e outras obtidas nos órgãos públicos, permitiram consolidar, enriquecer e atualizar os dados secundários anteriormente levantados. Os levantamentos procuraram atender os conteúdos definidos pelo Manual de Inventário e indicados no Termo de Referência. Para as regiões onde os dados secundários foram considerados insuficientes para as análises requeridas ou, ainda, para os temas onde as informações existentes não foram suficientes para se estabelecer o quadro de análise requerido, foram feitas novas buscas de informações, através de contatos com os órgãos responsáveis e moradores locais, de modo a obter as informações necessárias. A escala adotada nos estudos procurou ser compatível com o nível de análise requerido. Desta forma, foram utilizadas escalas diferenciadas para as análises temáticas, para o detalhamento dos aspectos mais relevantes e para as análises nas subáreas. As informações foram consolidadas e compatibilizadas no Sistema de Informações Geográficas ArcGIS-ArcView, que foram associadas a um banco de dados. Foram também consultados e analisados os planos, programas e políticas utilizados como instrumentos de gestão pelos órgãos responsáveis por recursos hídricos nas diferentes esferas governamentais. Foram consultadas a ANA - Agência Nacional das Águas, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica e a ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras S/A, no âmbito federal, além de outras empresas, instituições e/ou órgãos públicos. Segundo o site do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (www.cnrh-srh.gov.br), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, não há, no estado do Amapá, a presença de Comitê Federal de Bacia Hidrográfica nem de Conselho Estadual de Recursos Hídricos. O órgão responsável pela gestão e controle dos recursos hídricos, no Amapá, é a SEMA - Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, do Amapá. Também foi consultada a SECTAM Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, órgão gestor dos recursos hídricos do Pará, e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos. 3.3 CONTATOS INSTITUCIONAIS No desenvolvimento dos trabalhos, foram mantidos contatos com diversas instituições, particularmente aquelas de âmbito regional, objetivando o levantamento de dados da área dos estudos. Esses contatos transcorreram durante visitas técnicas às instituições, em algumas ocasiões, e posteriormente complementados por correspondências nas quais se solicitaram dados e informações mais específicas. Destaque-se que a maior parte dos dados e informações levantados foram aqueles que subsidiaram a caracterização do meio ambiente e permitiram o desenvolvimento dos estudos ambientais. Hydros EP518.RE.JR201 12 As principais instituições com as quais foram estabelecidos os contatos, com os objetivos anteriormente expostos, foram as seguintes: - AHIMOR – Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental; - ANA – Agência Nacional de Águas; - ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica; - CPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais; - FUNAI – Fundação Nacional do Índio; - FUNASA – Fundação Nacional de Saúde; - IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; - IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; - IEPÉ – Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena; - IMAP – Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá; - INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária; - INMET – Instituto Nacional de Meteorologia; - INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; - ITERPA – Instituto de Terras do Pará; - RURAP – Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Amapá; - SECTAM/PA – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará - SEMA/AP – Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá; - SEPI – Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Estado do Amapá; - SEPLAN – Secretaria de Planejamento do Estado do Amapá; - UNIFAP – Universidade Federal do Amapá. 3.4 IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS LEGALMENTE PROTEGIDAS Áreas legalmente protegidas na bacia do rio Jari têm papel relevante na preservação da bacia. Devido às características especiais que apresentam, devem ser protegidas e preservadas. O grau de proteção e preservação é variável, considerando-se o tipo de proteção legal específico de cada uma das áreas consideradas individualmente e a classificação jurídica que tenha sido estabelecida para cada uma delas. Na bacia do rio Jari existem dois tipos de proteção legal: um pela biodiversidade presente na região e outro pela presença de populações indígenas, cuja localização e extensão estão apresentadas no desenho Nº EP518.A1.JR-08-010 (Fig. 79), intitulado “Mapa dos Ecossistemas sob Proteção Legal – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. São descritas sucintamente, a seguir, as áreas legalmente protegidas, existentes na região dos estudos. Hydros EP518.RE.JR201 3.4.1 13 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO As unidades de conservação presentes na bacia são constituídas por dois grupos básicos com características específicas: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico da Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos em lei. O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Conforme apresentado no desenho Nº EP518.A1.JR-08-010 (Fig. 79) do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, na bacia em estudo, existem as seguintes Unidades de Conservação: Tabela 3.4-1 – Unidades de Conservação Item Unidade de Conservação Área Total (ha) Área Inserida na Bacia (ha) Instrumento Legal de Criação Tipo de Proteção 01 Parque Nacional (PARNA) Montanhas do Tumucumaque PA/AP 3.867.000,00 1.650.757,64 Decreto Federal s/nº de 22/08/2002 Integral 02 Estação Ecológica (ESEC) do Jari PA/AP 227.126,00 166.711,36 Decreto nº 89.440 de 13/03/1984 Integral 03 Reserva Biológica (REBIO) do Maicuru 1.151.760,95 731.043,31 Decreto 2.610 de 04/12/2006 Integral 04 Reserva de Desenvolvimento (RDS) Sustentável do Iratapuru/AP 806.184,00 745.657,56 Lei nº 0392 de 11/12/1997 Uso Sustentável 05 Reserva Extrativista (RESEX) do Rio Cajari/AP 481.650,00 2.271,98 Decreto n° 99.145 de 12/03/1990 Uso Sustentável 06 Floresta Estadual (FLOTA) do Paru 3.612.914,40 1.133.776,38 Decreto nº 2.608 de 04/12/2006 Uso Sustentável Fonte: ISA (2001) / ZEE (Lei Complementar nº143, de 15 de janeiro de 2009) / IBAMA (2009) 3.4.1.1 Parque Nacional (PARNA) Montanhas do Tumucumaque PA/AP Localizado na Região Norte, nos estados do Amapá e Pará, o PARNA ocupa áreas dos municípios de Pedra Branca, Serra do Navio, Laranjal do Jari, Oiapoque e Calçoene. O bioma é Amazônico e a vegetação que o caracteriza é Floresta Ombrófila Densa, sendo a maior Unidade de Conservação em termos de área ocupada na bacia em estudo. Cerca de 50% da sua área localiza-se na porção norte da bacia em estudo, ocupando a margem esquerda do rio Hydros EP518.RE.JR201 14 Jari. Corresponde também ao maior parque de floresta tropical contínua do mundo e representa 26,5 % da área total do estado do Amapá. 3.4.1.2 Estação Ecológica (ESEC) do Jari PA/AP Unidade de Conservação de proteção integral, onde cerca de 60% desta Unidade de Conservação está localizada na porção sul da bacia em estudo, tanto na margem direita como na esquerda. Encontra-se a 80 km ao norte da vila de Monte Dourado, com acesso via estrada de terra. Ocupa uma área de 227.126 ha, em uma faixa que vai do rio Jari, a leste, até o rio Paru de Este, a oeste. Situa-se nos municípios de Almeirim/PA e Laranjal do Jari/AP e tem cerca de 60% da área no Pará e 40% no estado do Amapá. 3.4.1.3 Reserva Biológica (REBIO) do Maicuru Esta reserva é estadual e se estende do rio Maicuru até o rio Jari, na fronteira do estado do Pará com o Amapá, no noroeste da bacia. Incorpora porções das bacias hidrográficas dos rios Maicuru, Paru e Jari. Faz limites com a Terra Indígena Parque Indígena do Tumucumaque; com a Terra Indígena do Paru D’Este; com o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque; e com a Floresta Estadual do Paru. Em 98,5% dessa reserva não há registro de pressão humana. 3.4.1.4 Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Iratapuru/AP Sua área compreende parcelas dos municípios de Mazagão, Laranjal do Jari, Pedra Branca do Amapari, e está sob a jurisdição do Estado do Amapá (é uma reserva estadual). Sobrepõe-se à Estação Ecológica - ESEC do Jari, numa área de 7.579 ha ou 0,94% da área. Limita-se ao norte pela Terra Indígena do Waiãpi, a oeste com o rio Jari e ao sul com a Estação Ecológica do Jari, fazendo parte do amplo mosaico de áreas protegidas. Cerca de 90% desta Unidade de Conservação está na porção leste da bacia em estudo, ocupando a margem esquerda do rio Jari. A RDS do Iratapuru foi criada para conciliar a proteção da biodiversidade local com o uso sustentável dos recursos naturais por parte das famílias que vivem no interior e no entorno. 3.4.1.5 Reserva Extrativista (RESEX) do Rio Cajari/AP A RESEX do Rio Cajari está localizada no estado do Amapá, nos municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Vitória do Jari. Ocupa apenas uma pequena porção ao sul da bacia em estudo. Essa Unidade de Conservação é drenada pelas bacias dos rios Cajari e Ajuruxi, Igarapé Tambaqui e outros pequenos igarapés vindos do nordeste da reserva, onde todas as águas se dirigem para o Canal do Norte, rio Amazonas. Hydros EP518.RE.JR201 3.4.1.6 15 Floresta Estadual (FLOTA) do Paru A Floresta Estadual do Paru é estadual e é a maior Unidade de Conservação de uso sustentável em florestas tropicais do mundo. Abrange os municípios de Almeirim, Monte Alegre, Alenquer e Óbidos A FLOTA pertence ao Bioma Amazônia e caracteriza-se pela presença de Floresta Ombrófila Densa. A UC incorpora terrenos das bacias do rio Jari, da bacia do rio Paru de Este, da bacia do rio Maicuru e da bacia do rio Curuá. O total destas Unidades de Conservação de Proteção Integral e das Unidades de Conservação de Uso Sustentável é de quase 80% da área da bacia do rio Jari, resultado da grande biodiversidade, preservada na maior parte da bacia, isto é, na sua porção norte e central. É reflexo da ausência de ações antrópicas mais significativas no passado e mesmo no presente, cujo acesso é dificultado pelas condições físicas apresentadas nos atributos físicos do Diagnóstico Socioambiental. Como descrito anteriormente, cabe destacar que essas Unidades de Conservação são contíguas às Terras Indígenas, outra categoria de área de proteção legal, apresentada a seguir. Esta contiguidade de áreas de proteção legal é que permite que a grande parte do território ocupado pela bacia seja quase que totalmente protegida legalmente, mas com finalidades diferenciadas, de acordo com as peculiaridades e necessidades locais. 3.4.2 TERRAS INDÍGENAS De acordo com os dados oficiais obtidos junto à Administração Executiva Regional de Macapá/AP, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, e dados divulgados no site oficial deste órgão, há na bacia três Terras Indígenas-TI, cuja localização e extensão podem ser mostradas no desenho, Nº EP518.JR-08-006 (Fig. 92), intitulado “Mapa de Terras Indígenas e Sítios Arqueológicos - Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. As principais características das TIs localizadas na bacia do rio Jari encontram-se na Tabela 3.4.2-1 a seguir: Hydros EP518.RE.JR201 16 Tabela 3.4-2 – Terras Indígenas, grupo étnico, situação jurídica e localização - Bacia do rio Jari Item 1 Nome da TI (1) Waiãpi Povo Indígena Waiãpi Área Total (ha) 607.017 Área Inserida na Bacia (ha) 348.127 Ato Legal (2) Decreto s/nº 23/05/1996 Situação jurídica³ Homologada e Registrada Município Pedra Branca do Amapari/AP, Laranjal do Jari/AP, Mazagão/AP Aparai 2 Paru D’Este Wayana 1.195.785,79 68.155,80 Decreto nº 213 de 4/11/1997 Homologada e Registrada Waiãpi 3 Parque do Tumucumaque Txutyana, Aparai e Wayana, Waiãpi**, Kaxuyana, Tiriyó, Isolados 3.071.067,87 138.132,66 Decreto nº 213 de 4/11/1997 Homologada e Registrada Almeirim/PA, Alenquer/PA Oriximiná/PA, Óbidos/PA, Alenquer/PA, Almeirim/PA, Laranjal do Jari/AP Fonte: *FUNASA-DSEI Macapá-AP, 2007; *FUNAI-AER Macapá-AP, 2007; ** D. Gallois e Grupioni, 2003. ³ TI declarada/demarcada: com Portaria de Demarcação de posse permanente indígena, expedida pelo Ministério da Justiça (DH 22/91 e DH 1.775/96) ou interministerial. A portaria determina que a FUNAI realize a demarcação administrativa, e após a demarcação haverá Portaria da FUNAI. TI homologada: com Decreto de Homologação, assinado pelo Presidente da República e publicado no DOU. TI registrada: com homologação registrada em Cartórios e no Departamento de Patrimônio da União, ou apenas em Cartório. Estão incluídas as terras dominiais registradas em Cartório. Fazem parte deste grupo as Terras Reservadas, que são terras garantidas por serem criadas por decretos estaduais na época do Serviço de Proteção ao Índios (SPI), ou por terem sido adquiridas pela FUNAI ou outros órgãos para assentarem comunidades indígenas atingidas por hidroelétricas. Hydros EP518.RE.JR201 17 A despeito da presença de três TIs na bacia do rio Jari, somente a TI Waiãpi apresenta aldeias/comunidades indígenas na bacia, ao contrário das outras duas TIs que tem suas comunidades localizadas na bacia vizinha, rio Paru de Este, fora da área de estudo. É importante ressaltar também que o povo Waiãpi soma 779 indivíduos divididos em 48 aldeias, das quais 19 estão localizadas na bacia do rio Jari. Do total de 707.017 ha de TI Waiãpi, cerca da metade da área, isto é, 357.344 ha está inserida na bacia em estudo e outra parte vive na bacia vizinha, do rio Amapari. Os Waiãpi também residem nas Guianas, na faixa de fronteira com o Brasil, na margem esquerda do rio Oiapoque. Coabitavam também com famílias do povo Aparai e Wayana nas Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e Paru D’Este (GALLOIS; GRUPIONI, 2003). Embora seja uma área protegida legalmente, TI Waiãpi é também uma das TIs mais densas da região amazônica, ao contrário das outras duas TIs que tem densidades relativamente baixas, além de apresentar somente uma pequena porção de suas TIs na bacia em análise. Do total de TI Paru D’Este (1.195.785,79ha) somente 81.420,93 ha (7%) estão inseridas na bacia e do total de TI Parque Tumucumaque (3.071.067,87 ha), somente 163.351,32 ha (5%) estão inseridas na bacia em análise. 3.5 RECONHECIMENTOS E INSPEÇÕES DE CAMPO 3.5.1 INSPEÇÃO DE CAMPO GERAL Os serviços de reconhecimento e inspeção visaram à obtenção de dados e informações da área de interesse dos estudos, com vista à elaboração do planejamento geral dos serviços relativos aos estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Jari. Foram visitadas as cidades de Laranjal do Jari e Monte Dourado, que serviram de base de apoio para a execução dos serviços de campo, bem como as principais áreas de interesse da bacia em estudo, por meio de sobrevôos de reconhecimento e inspeção fluvial expedita. O reconhecimento aéreo abrangeu todo o trecho de interesse do rio Jari e dos seus principais afluentes. Esta inspeção foi complementada por duas inspeções fluviais no curso inferior dos rios Jari e Iratapuru. A equipe multidisciplinar de trabalho foi composta pelos profissionais identificados a seguir: - Eng.a Ana Paula A. Coelho – Representante da EPE; - Eng.o Hideaki Ussami – Hydros - Coordenador Geral; - Eng.o Severino Hissatugu – Hydros – Coordenador de Engenharia; - Geol.o Andréa Bartorelli – Hydros – Coordenador da Área Ambiental; e - Geol.o Fernando Camargo Freitas – Hydros – Coordenador dos Serviços de Campo. Hydros EP518.RE.JR201 18 3.5.2 INSPEÇÃO DE CAMPO SOCIOAMBIENTAL 3.5.2.1 Introdução Os serviços de reconhecimento e inspeção visaram a obtenção de dados e informações secundárias e primárias da área de interesse, com vista à complementação e ou correção dos estudos de inventário hidrelétrico, com enfoque especial à elaboração dos estudos relacionados ao meio ambiente. Foram visitados trechos dos rios Jari e Iratapuru, Macapá, Laranjal do Jari e Monte Dourado, além de duas comunidades locais, onde poderiam ser obtidos dados e informações para os estudos ambientais, por meio de inspeção fluvial e terrestre. 3.5.2.2 Aspectos Socioambientais Os principais aspectos socioambientais observados durante a inspeção de campo foram incorporados no diagnóstico socioambiental apresentado neste documento, dando subsídios às fases subsequentes, especialmente da avaliação de impactos socioambientais por aproveitamento e por alternativa. 3.5.2.3 Equipe Técnica A equipe de trabalho foi composta pelos profissionais identificados a seguir: • Arquiteta Urbanista Mieko Ando Ussami – Hydros Engenharia – Coordenadora de Meio Ambiente • Geólogo Fernando Camargo Freitas – Hydros Engenharia • Antropóloga Ema Maria dos Santos Silveira – Hydros Engenharia • Arquiteto Urbanista Vinícius Luz de Lima – Hydros Engenharia 3.5.2.4 Programação de Inspeção de Campo pela Equipe Socioambiental Data Período 20/jan Local/ Atividade Equipe Discriminação da Atividade Tarde Equipe Hydros Viagem Aérea -Vôo Comercial- São Paulo/Macapá Gol 19:21h/01:15h ; Cuiabá/Macapá Gol 16:40/01:15h Noite idem Pernoite em Macapá - Frota Palace Hotel -Av. Tiradentes 1104 Hydros EP518.RE.JR201 Data 21/jan 19 Período Manhã Tarde Local/ Atividade Macapá Macapá Noite 22/jan 23/jan 24/jan 25/jan 3.5.2.5 Equipe Discriminação da Atividade idem Contato com órgãos: IBAMA (R. Hamilton Silva 1.570, Sta Rita); IEPA ( Av. Feliciano Coelho 1.509 B. do Trem); SETEC ( Av. Pres. Vargas 271 B. Central); idem Contato com órgãos: INCRA ( R. Adilson José Pinto Pereira 1409, B. São Lázaro) ; TERRAP ( R. BR 156, Km 02 s/n B. São Lázaro); FUNAI (Av. Mendonça Furtado 333, B. Centro) idem Pernoite em Macapá - Frota Palace Hotel -Av. Tiradentes 1104 Manhã Macapá idem Contato com órgãos: SEMA ( Av. Mendonça Furtado 53, B. Central); SEPLAN ( Av. BAB 00083 Centro Cívico Administrativo);FUNASA ( R. Leopoldo Machado,1614-Centro) Tarde Macapá idem Contato com órgãos: UNIFAP ( Rod. Juscelino Kubitschek Km 02 - Jd Marco Zero); IEPE ( Av Ataide Teive, 525- Alto Bairro Trem) Noite Macapá Idem Viagem Rodoviária Macapá/Laranjal do Jari 23:00h/4:00h Manhã Laranjal do Jari Idem Inspeção Fluvial - Rio Jari/Cachoeira Santo Antonio Tarde Laranjal do Jari idem Contato com órgãos: Prefeitura Municipal de Laranjal do Jari e de Monte Dourado; IBAMA de Monte Dourado Noite Laranjal do Jari Idem Pernoite em Laranjal do Jari - Hotel Bello Centro - Av. Tancredo Neves 2255 - Agreste Manhã Monte Dourado Idem Inspeção Fluvial - Rio Jari/Cachoeira do Chafariz/Rio Iratapuru Tarde Monte Dourado Idem Inspeção Fluvial - Rio Jari/Cachoeira do Chafariz/Rio Iratapuru Noite Laranjal do Jari Idem Pernoite em Laranjal do Jari - Hotel Bello Centro - Av. Tancredo Neves 2255 - Agreste Manhã Equipe Hydros Viagem Aérea Vôo Regional Puma Air de Monte Dourado/ Belém 10:50h/12:00h Tarde Equipe Hydros Viagem Aérea Vôo Comercial Gol Belém /São Paulo 15:15h/21:12 h e Belém/ Cuiabá 15:30h/22:25h Acessos e Locomoção em Geral São Paulo - Macapá-AP - O acesso à cidade de Macapá se deu através de transporte aeroviário com vôo da empresa GOL. . Hydros EP518.RE.JR201 20 Macapá - Laranjal do Jari-AP - Para se chegar a Laranjal do Jari utilizou-se o transporte rodoviário da empresa Amazon Tur, trafegando através da rodovia BR-156. Laranjal do Jari-AP - Monte Dourado-PA - O acesso é pelo rio, utilizando-se barcos denominados “catraia” 3.5.2.6 Apoio e Locomoções Especiais Comunidade Santo Antônio (Laranjal do Jari-AP) – O acesso foi feito por barco de pequeno porte, com motor movido a gasolina, conhecido como “voadeira”. Comunidade Iratapuru (Laranjal do Jari-AP) – Para acessar a comunidade foram necessários três deslocamentos. O primeiro deslocamento foi de Laranjal do Jari a Monte Dourado (barco de pequeno porte chamado “catraia”). O segundo deslocamento foi de Monte Dourado a porto Sabão (táxi fretado), em estrada vicinal, não pavimentada, que teve a duração de aproximadamente 1 hora e meia. O terceiro deslocamento foi de porto Sabão à comunidade Iratapuru e à Cachoeira do Chafariz localizado no rio Jari (barco de pequeno porte chamado “batelão”). 3.5.2.7 Órgãos Visitados A programação de viagem foi elaborada estimando-se prazos de execução dos serviços necessários, que foram sendo ajustados, dia a dia, considerando os contratempos deparados, compensando adiantamentos ou atrasos ocorridos durante as visitas realizadas a órgãos de interesse. A programação consistiu na visita aos órgãos públicos, centros de pesquisa, universidades e demais entidades nas cidades de Macapá/AP, Laranjal do Jari/AP e Monte Dourado/PA, com o objetivo de obter documentação técnica atualizada de interesse para a complementação dos estudos e visita in loco dos trechos de rios de interesse, das comunidades locais e sedes municipais, via fluvial e terrestre. Estão abaixo relacionados os órgãos visitados, onde a equipe socioambiental foi recebida pelos técnicos e representantes: • Em Laranjal do Jari: SEMA – Secretaria Estadual de Meio Ambiente – Amapá – Regional de Laranjal do Jari Secretário: Antonio Carlos da Silva Farias (Feijão). Contato em Laranjal do Jari/AP – Sr. Roberto Rivelino – (96) 3621-17.88 - Postos Limnimétricos operados pela SEMA: estes postos são limnimétricos e são utilizados pela Defesa Civil do Estado (Corpo de Bombeiros). Dados de cotas limnimétricas estão arquivados em Macapá. Hydros EP518.RE.JR201 • 21 Em Monte Dourado: IBAMA – Regional de Monte Dourado / PA. Contato em Monte Dourado/PA – Engº Amb. Fernando Ribeiro – (93) 3735-18.36 e-mail: [email protected] - A regional atende aos dois estados, Pará e Amapá. - A instituição se encontrava em greve, porém a bióloga NOELLA MARKSTEIN recebeu a equipe e permitiu a cópia de dois trabalhos: - Corredor de Biodiversidade do Amapá – Belém 2007; - Macrodiagnóstico do Estado do Amapá – Primeira Aproximação da ZEE, este material está disponível no site www.iepa.ap.gov.br. 3.5.2.8 Documentos obtidos Em Macapá/AP, os documentos obtidos estão listados na tabela a seguir: Item 1 Órgão / Instituição / Autor(es) FUNASA Títulos/Documento(s) DADOS SOBRE CASOS DE MALÁRIA NASCIMENTOS NOS PÓLOS BASES Tema E DE SAÚDE INDÍGENA A TERRA WAIÃPI /AP E A PROBLEMÁTICA SÓCIOAMBIENTAL – PROGRAMA DO CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA PARA O MONITORAMENTO AMBIENTAL E O FOMENTO DE ATIVIDADES NÃOPREDATÓRIAS EM TERRAS INDÍGENAS ESTUDOS PRÉVIOS DE IMPACTO AMBIENTAL DO PROJETO FINAL DE ENGENHARIA PARA MELHORAMENTO, ATUALIZAÇÃO E PAVIMENTAÇÃO DA BR-156 2 FUNAI RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL DO PROJETO FINAL DE ENGENHARIA PARA MELHORAMENTO, ATUALIZAÇÃO E PAVIMENTAÇLÃO DA BR-156/AP (DESENVOLVIDO PELO DETRAP - DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRANSPORTES DO ESTADO DO AMAPÁ/ MAIA MELO ENGENHARIA LTDA.) POVOS INDÍGENAS OFÍCIO Nº 251/GAB-APITU – SITUAÇÃO DAS ESCOLAS INDIGENAS DO PARQUE DO TUMUCUMAQUE LADO DE PARU LESTE (ELABORADO PELA APITU ASSOCIAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO TUMUCUMAQUE) OFÍCIO Nº 177/PRES-FUNAI/2007 OFÍCIO Nº 336/GAB/AERMCP/2007 Hydros EP518.RE.JR201 Item 22 Órgão / Instituição / Autor(es) Títulos/Documento(s) Tema OFÍCIO Nº 338/GAB/AERMCP/2007 OFÍCIO Nº 493/2007-GAB/FJAO-PR/AP MEMO Nº 155/CS/DAS/2007 MEMO Nº 482/GAB/AERMCP/2007 MEMO Nº 683/GAB/AERMCP/2007 RELAÇÃO DAS PISTAS DE POUSO DAS ALDEIAS LOCALIZADAS NAS TERRAS INDÍGENAS DO AMAPÁ E NORTE DO PARÁ PLANO DE UTILIZAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA DO RIO CAJARI (LIVRO) 3 IBAMA PARQUE NACIONAL TUMUCUMAQUE (FOLDER) MONTANHAS DO UNIDADES DE CONSERVAÇÃO INSPEÇÃO NO RIO JARI E NO PARNA MONTANHAS DO TUMUCUMAQUE (DVD-VIDEO) PATRIMÔNIO CULTURAL INDÍGENAS (LIVRO) IMATERIAL E POVOS DOSSIÊ IPHAN 2 (WAJÃPI) MUSEU AO VIVO – INFORMATIVO DO MUSEU DO ÍNDIO/FUNAI 4 IEPÉ ARTE COM SEMENTES E MIÇANGAS – VESTIR, ENFEITAR E MOLDAR O CORPO POVOS E CULTURA INDÍGENA BOLETIM POVOS INDÍGENAS E MEIO AMBIENTE – AMAPÁ E NORTE DO PARÁ 03 BOLETIM POVOS INDÍGENAS E MEIO AMBIENTE – AMAPÁ E NORTE DO PARÁ 04 CATÁLOGO DO ARTESANATO WAJÃPI 5 IMAP NOVA COMPOSIÇÃO DO INSTITUTO: SETORES E SUAS RESPECTIVAS SIGLAS MEIO AMBIENTE DVD ATLAS DAS UCS DO AMAPÁ 2005 (DVD INTERATIVO) CD ATLAS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO AMAPÁ 2007 6 SEMA (MACAPÁ) CD LEIS AMBIENTAIS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO; DIREITO AMBIENTAL CD RESERVA DE DESENVOLVIMENTO DO RIO IRATAPURU (VIDEO DESENVOLVIDO PELO GOVERNO ESTADUAL DO AMAPÁ) Hydros EP518.RE.JR201 Item 23 Órgão / Instituição / Autor(es) Títulos/Documento(s) Tema CORREDOR DE BIODIVERSIDADE DO AMAPÁ (LIVRO) RELATÓRIO DE GESTAÕ – O PROJETO DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA DO AMAPÁ - PGAI UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – AMAPÁ AMAZÔNIA – BRASIL (FOLDER ELETRÔNICO) – RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO RIO IRATAPURU (FOLDER ELETRÔNICO) RESERVA BIOLÓGICA DO PARAZINHO (FOLDER ELETRÔNICO) FLORESTA ESTADUAL ELETRÔNICO) DO AMAPÁ (FOLDER ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA FAZENDINHA (FOLDER ELETRÔNICO) ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO RIO CURIAÚ (FOLDER ELETRÔNICO) 7 SEPI POVOS INDÍGENAS POLÍTICA INDIGENISTA DO AMAPÁ (FOLDER) PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE LARANJAL DO JARI (LEI MUNICIPAL) 8 SEPLAN EIA/RIMA – PONTE LARANJAL DO JARI/AP – MONTE DOURADO/PA 9 UNIFAP AMAPÁ: PRINCIPAIS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS E INSTITUCIONAIS – 1943 A 2000 ESTUDOS AMBIENTAIS GEOPOLÍTICA Em Laranjal do Jari/AP, os documentos obtidos encontram-se a seguir discriminados: Item Órgão / Instituição / Autor(es) Títulos/Documento(s) Tema TIPOS DE AGRICULTURA – AGRICULTURA ORGÂNICA (FOLDER INFORMATIVO) PRODUTO ORGÂNICO – MELHOR PARA A VIDA (FOLDER) 1 RURAP BRASIL RURAL COM MULHERES (FOLDER) IGUALDADE PARA AS AGROPECUÁRIA DADOS DAS ÁREAS (COMUNIDADES) DE PRODUÇÃO AGROEXTRATIVISTA PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DA MOSCA DA Hydros EP518.RE.JR201 Item Órgão / Instituição / Autor(es) 24 Títulos/Documento(s) Tema CARAMBOLA (FOLDER) DOENÇA CONTAGIOSA – TUBERCULOSE – PREVINASE (FOLDER) DOENÇA PERIGOSA – RAIVA – VACINE O SEU REBANHO (FOLDER) DOENÇA PERIGOSA – FEBRE AFTOSA (FOLDER) ANEMIA INFECCIOSA EQUINA – DOENÇA PERIGOSA (FOLDER) FEBRE AFTOSA – GIBI DE DIVULGAÇÃO “CHICO BENTO’ ABAIXO A RAIVA – GIBI DE DIVULGAÇÃO ‘A TURMA DA MÔNICA” PROJETO DE GESTÃO REVISÃO 2001/2002 2 SEMA (LARANJAL DO JARI) AMBIENTAL INTEGRADA RELATÓRIO TÉCNICO – PPG7-PGAI-1 – CADASTRAMENTO AMBIENTAL NOS MUNICÍPIOS DE MAZAGÃO, VITÓRIA DO JARI E LARANJAL DO JARI (ACESSO PELAS VIAS FLUVIAIS) MEIO AMBIENTE Em Belém, foram adquiridos os seguintes livros: Item Órgão / Instituição / Autor(es) Títulos/Documento(s) Tema 1 ALAIN RUELLAN; MANUEL CABRAL; NILSON MOULIN DESENVOLVIMENTO UMA VISÃO CRÍTICA 2 ANTONIO CARLOS GEOGRAFIA DO AMAPÁ – A (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO AMAPENSE E SEUS CONTRASTES GEOGRAFIA 3 ARMIM MATHIS, DANIEL DE BRITO, FRANZ BRUSEKE RIQUEZA VOLÁTIL - A MINERAÇÃO DE OURO NA AMAZÔNIA (LIVRO) MINERAÇÃO 4 EDINALDO PINHEIRO NUNES FILHO PESQUISA ARQUEOLÓGICA NO AMAPÁ (LIVRO) 5 GIROLAMO DOMENICO TRECCANI SUSTENTÁVEL NO AMAPÁ: TERRAS DE QUILOMBO – CAMINHOS E ENTRAVES DO PROCESSO DE TITULAÇÃO MEIO AMBIENTE ARQUEOLOGIA QUILOMBOS Hydros EP518.RE.JR201 3.5.2.9 25 Documentação Fotográfica A documentação fotográfica da inspeção socioambiental encontra-se apresentada no Anexo 1.1, no Tomo 4 do Volume 8/9. 3.5.3 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS A ocupação antrópica concentra-se no curso inferior do rio Jari nas cidades de Laranjal do Jari no estado do Amapá e Monte Dourado no estado do Pará sendo que na última residem os trabalhadores da indústria de celulose de melhor condição social, enquanto em Laranjal do Jari residem os trabalhadores braçais desta indústria. No rio Jari observou-se um povoado importante situado na margem esquerda do rio logo à jusante da Cachoeira de Santo Antônio denominado Santo Antônio da Cachoeira. Adicionalmente foi identificada uma comunidade ribeirinha, situada no rio Iratapuru, próximo a sua foz, denominada Barraca da Boca. Outro aspecto relevante quanto à ocupação antrópica refere-se às plantações de eucalipto da indústria de celulose que avança chegando à altura da foz do rio Iratapuru pela margem direita do rio Jari. Sob o ponto de vista do Meio Físico, os principais aspectos ambientais a destacar, na presente fase dos estudos de inventário, referem-se aos processos erosivos e de assoreamento, sismicidade induzida por reservatórios e atividade de extração mineral e garimpeira. Os principais problemas de erosão e assoreamento estão ligados ao domínio das formações Trombetas e Curuá, cujos sedimentos alterados, em associação com relevos mais enérgicos, podem estar sujeitos a escorregamentos em encostas, dando margem a atividade erosiva e assoreamento. Os solos de alteração ou saprolíticos (horizonte C) de rochas gnáissicas e graníticas do Complexo Guianense, quando profundos e em função de sua natureza silto arenosa de baixa coesão, são de suscetibilidade alta a processos de erosão por sulcos e ravinas, onde o carreamento de solo se dá por escoamento de água de chuva, e por processos de voçorocamento, no caso de haver contribuição também de escoamento da água subterrânea do lençol freático. O material incorporado ao sistema de drenagem tende a ser transportado pelos rios e córregos em regime de by passing, sendo que a interrupção do fluxo desses rios pela interposição de barramentos retém os sedimentos nos reservatórios, podendo contribuir para seu rápido assoreamento. Poderá também ocorrer alguma erosão das margens dos rios a jusante das barragens, em função da retenção de sedimentos nos reservatórios, os quais não mais contribuirão para a reposição dos materiais naturalmente carregados pelos rios. A saturação dos terrenos pela elevação do lençol freático junto às margens de reservatórios poderá contribuir para a instabilização de encostas e aceleração de processos erosivos, principalmente por voçorocamento. Conforme o tamanho de reservatório poderá existir condições para a formação de ondas de efeito erosivo pelo embate nas margens. A densa cobertura vegetal de floresta tropical úmida é o principal fator de atenuação dos processos erosivos, impedindo o acelerado escoamento das águas superficiais e o carreamento de partículas de solo. Nos terrenos gnáissicos e graníticos a remoção da cobertura vegetal, Hydros EP518.RE.JR201 26 mesmo em terrenos de declividade baixa (da ordem de 5%), dará margem ao aparecimento de erosão por sulcos e ravinas. Com relação à interferência de AHEs com a atividade de extração mineral, há de ser considerado que as áreas mais favoráveis à implantação de reservatórios sobrepõem-se aos locais de maior atividade mineradora, sobretudo no que diz respeito a garimpos. Ressalta-se que há sinalização de retomada da atividade garimpeira na bacia do rio Jari, conforme “Exposição de Motivos para Criação de Termo de Ajuste de Conduta Ambiental” elaborada pela ONG Jari Socioambiental em março de 2007, com relação à Província Garimpeira do Paru-Jari. São conhecidas as ocorrências de ouro nos aluviões de vários rios da bacia hidrográfica do rio Jari, sobretudo no rio Carecuru, afluente da margem direita do Jari. Nos aluviões desse rio também existem concentrações de cassiterita, tantalita e columbita, que foram assinaladas ainda em afluentes do rio Paru. Associadas às rochas metassedimentares do Grupo Vila Nova encontram-se camadas ferríferas nas sequências do topo dessa unidade lito-estratigráfica, sendo conhecidas as ocorrências de Santa Maria do Vila Nova, rio Tracajatuba e rio Ipitinga. No rio Ipitinga a possança das camadas ferríferas é indicativa de possibilidade de exploração, podendo vir a ser lavradas no futuro. O minério é produto do enriquecimento supérgeno de itabiritos, predominando hematita do tipo compacto, associada ao minério do tipo chapinha e pulverulento (friável). Associadas às rochas intrusivas alcalinas da Suíte Maraconai, ocorrem espessos mantos lateríticos contendo concentrações de minerais de titânio e cromo. Ocorrências de bauxita e caulim estão mais associadas aos platôs da formação Barreiras, não estando sujeitas a interferências devido a AHEs na bacia hidrográfica do rio Jari. Outros produtos minerais são representados pelos diabásios Penatecaua, usados como material de construção na região de Laranjal do Jari, onde consistem no único material pétreo disponível em toda a região. Quanto à sismicidade, a região da bacia hidrográfica do rio Jari encontra-se em área de escudo estável, sem registro de atividade sísmica, se bem que existem cicatrizes de colisões de placas muito antigas, representadas na região pela sutura do Jari, que acompanha o curso desse rio na direção NW-SE, à qual estariam vinculadas as falhas NW-SE e SW-NE que delimitam o Alto do Maecuru (Mioto, 1993). A tectônica de cavalgamento imprime grandes deformações na zona de colisão e, se gerar componentes oblíquos e direcionais, dará origem a cinturões transcorrentes dúcteis, associados aos processos de recristalização metamórfica e migmatização, sob condições geralmente de fácies anfibolito. A aglutinação de massas continentais pretéritas requer atuação de movimentos tectônicos horizontais que, no território brasileiro, são de difícil caracterização tendo em vista o nível atual de conhecimento geológico e geocronológico. A idade estimada dessa reestruturação é do fim do Arqueano e refere-se à transição de regime tectônico permóvel (dúctil) para frágil (rúptil), na passagem para o Proterozóico. A sismicidade, preferencialmente, incide nas proximidades dessas linhas de sutura e transcorrência, mesmo quando recobertas por espessos pacotes sedimentares fanerozóicos (Mioto, 1993). Tendo em vista a presença da Sutura do Jari, apesar da ausência de registros sísmicos na bacia hidrográfica, em boa parte devida à inexistência ocupação humana e de testemunhas de eventuais eventos, é possível que haja recomendações para implementação de programas de monitoramento sísmicos nas fases subsequentes de estudo. Ressalta-se que a área de inventário situa-se a cerca de 200 km a NW do limite norteocidental da Zona Sismogênica de Belém, que consiste na mais próxima da bacia hidrográfica do rio Jari. Resumindo as considerações sobre os impactos ambientais decorrentes da implantação de reservatórios na bacia hidrográfica do rio Jari, ressalta-se que o maior impacto refere-se à Hydros EP518.RE.JR201 27 modificação da paisagem e do regime hídrico dos rios, com transformação de trechos caudalosos em corpos d’água, com baixa circulação e alto tempo de residência. Desaparecerão assim cachoeiras e corredeiras de relevante interesse cênico e turístico. Os impactos decorrentes do assoreamento de reservatórios dependem do regime fluvial, uma vez que os rios podem transportar detritos em regime de by passing. Uma vez interrompido o transporte de sedimentos pela implantação de barragens, eles se acumularão nos reservatórios, podendo provocar assoreamento, especialmente nos casos de reservatórios a fio d’água. Em função do tamanho dos reservatórios e das características dos terrenos nas margens, poderão ocorrer erosões e pequenos escorregamentos nas bordas dos reservatórios. Caso se verifique essa possibilidade, no decorrer dos estudos futuros, serão elaborados programas de controle e mitigação. A elevação do lençol freático possivelmente terá pequeno impacto, uma vez que a bacia hidrográfica do rio Jari não é habitada, inexistindo interferências da subida do lençol freático com cemitérios, fossas negras e fundação de construções. Tendo em vista a existência de garimpos e processos junto ao DNPM para pesquisa e exploração de recursos minerais, podem-se esperar interferências de alguns reservatórios com atividade de extração mineral. Na consecução dos estudos, as interferências deverão ser cadastradas para a elaboração de programas específicos. 3.5.4 OBSERVAÇÕES ESTUDO 3.5.4.1 Aspectos Físicos DE CAMPO RELATIVAS AOS ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE O rio Jari desenvolve-se sobre as seguintes unidades geomorfológicas: Planície Amazônica, formada por planícies e terraços fluviais, Colinas do Amapá, formada por relevos de topos convexos, na sua nascente, alguns trechos dos Planaltos Residuais do Amapá, na Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, no Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Rio Amazonas, no Planalto do Uatumã-Jari, e finalmente na Planície Amazônica, onde se encontra sua foz, no rio Amazonas. O rio Iratapuru percorre uma área, formada pelo Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas e pela Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. O primeiro é formado por relevo de topos tabulares e a segunda por relevo de topos convexos, onde está localizada a sua foz, no rio Amazonas, que é formado por planície e terraços fluviais. A região inspecionada pela equipe ambiental, rio Iratapuru e baixo rio Jari, é composta pelas seguintes unidades geomorfológicas: Planalto do Uatumã-Jari e Planície Amazônica, onde está situada a sede municipal de Laranjal do Jari; Planície Amazônica e Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, onde está situada a Comunidade Santo Antônio; e Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, onde está situada a Comunidade Iratapuru. Hydros EP518.RE.JR201 28 3.5.4.2 Aspectos Aquáticos 3.5.4.2.1 Usos da água O rio Jari é utilizado para diversos usos pela população local, destacando-se os seguintes, observados em campo: - transporte de cargas e circulação de pessoas, feito por barcos, desde os de grande porte até os de pequeno porte. Os primeiros carregam predominantemente a produção da empresa Jari Celulose e os segundos são conhecidos como “catraia”, utilizados para deslocamento da população local, especialmente das comunidades e da população de Laranjal do JariAP e de Monte Dourado-PA; - abastecimento: as populações das comunidades locais utilizam a água do rio para consumo próprio, após tratamento; - lazer: o rio é utilizado por crianças e adultos das comunidades locais para práticas de atividades recreativas e de lazer; - turismo: muitos turistas apreciam a visita a Cachoeira Santo Antônio, localizada no rio Jari, a montante da sede municipalde Laranjal do Jari-AP, valorizada pela sua paisagem e beleza cênica; - pesca para consumo próprio: as comunidades ribeirinhas utilizam peixes pescados no rio, como parte da alimentação; - pesca comercial: segundo o líder da Comunidade Santo Antônio, a licença de pesca esportiva do IBAMA é utilizada por pescadores para fins comerciais. O rio Iratapuru é utilizado para os seguintes usos: - transporte de cargas e circulação de pessoas, feito por barcos de pequeno porte, conhecidos como “catraia”, utilizados para transporte de produtos naturais como castanhas e óleos da castanha e deslocamento da população da comunidade local, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável;; - abastecimento: a população das comunidades locais utiliza a água do rio para consumo próprio, após tratamento; - lazer: o rio é utilizado por crianças e adultos das comunidades locais para práticas de atividades recreativas e de lazer; - turismo: turistas, especialmente estrangeiros procuram a RDS do Rio Iratapuru para conhecer a comunidade local e a região; - pesca para consumo próprio: a comunidade ribeirinha utiliza peixes pescados no rio como parte da alimentação. 3.5.4.2.2 Vegetação Na inspeção fluvial, do rio Iratapuru e baixo curso do rio Jari, foi observada a presença de vegetação densa nas duas margens. A vegetação é formada por diversas espécies arbóreas. No lado amapaense essa vegetação compõe a chamada Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas. Hydros EP518.RE.JR201 29 Nos locais de acesso às comunidades ribeirinhas, a vegetação marginal original deu lugar à área necessária ao embarque e desembarque de pessoas, carga e descarga de mercadorias e de acesso a embarcações. Também no rio Iratapuru foi observada a presença de vegetação marginal em ambas as margens. A vegetação existente é formada igualmente por diversas espécies arbóreas, de diversos portes, copas e folhagens, além de cipós. 3.5.4.2.3 Ictiofauna A ictiofauna,no rio Jari é diversificada, sendo muitas delas utilizadas para alimentação das comunidades locais. Conforme relato dos moradores locais, foram citadas as seguintes espécies: pirarara; filhote; tambaqui; pescada branca; pirapitinga, surubim; dourado; picha; peixes de pele, tucunaré e apaiari. Também no rio Iratapuru a ictiofauna é diversificada, muitas delas utilizadas para alimentação da população residente na RDS do Rio Iratapuru. Dentre essas espécies foram citadas as seguintes: surubim; trairão; piranha; pacuaçu; xitau; pirarara; filhote; pirapitinga; jaú; tucunaré; cascudo. 3.5.4.2.4 Doenças de veiculação hídrica As doenças de veiculação hídrica não foram identificadas durante a inspeção ambiental. A informação obtida é de que água é tratada pela própria população, antes de ser consumida. A prefeitura dá apoio técnico, além de fornecer hipoclorito. 3.5.4.3 Aspectos bióticos A cobertura vegetal da área inspecionada pela equipe é formada basicamente por Floresta Ombrófila, sendo na margem direita, no lado paraense, formada por Vegetação Secundária sem Palmeiras, no entorno do núcleo urbano de Monte dourado, e de Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, ao longo do rio Jari no trecho até a foz do rio Iratapuru. Na margem esquerda, no entorno do núcleo urbano de Laranjal do Jari, a cobertura vegetal é formada por Culturas Cíclicas cercada por Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas. No entorno da comunidade Santo Antônio, a cobertura vegetal é composta por Floresta Ombrófila Aberta Submontana com Cipós, e no entorno da comunidade Iratapuru a cobertura vegetal é composta por Floresta Ombrófila Densa Submontana com Dossel Emergente. A região do Vale do Jari é formada por variadas espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte, como anta, cotia, veado, porcão etc., conforme relatos de moradores de Monte Dourado e das comunidades visitadas. 3.5.4.4 Aspectos Antrópicos As informações levantadas para averiguação dos aspectos antrópicos referem-se às observações feitas pela equipe ambiental in loco e das informações obtidas junto às populações moradoras das cidades Laranjal do Jari, Monte Dourado e comunidades Cachoeira Hydros EP518.RE.JR201 30 Santo Antônio e São Francisco do Rio Iratapuru, localizadas junto às margens dos rios Jari e Iratapuru, respectivamente. 3.5.4.4.1 Inspeção no Município de Laranjal do Jari-AP A organização territorial do Laranjal do Jari foi orientada segundo as características físicas da região e do processo histórico de ocupação, mencionada no diagnóstico socioambiental. O que chama a atenção é o chamado “Beiradão”, uma favela fluvial, conhecida como a maior favela do mundo, acoplado à área urbana rarefeita, onde se localiza a sede municipal, muito comum com as áreas urbanas das regiões do interior do país. Junto ao “Beiradão”, um pequeno porto faz a ligação entre Laranjal do Jari e Monte Dourado, sede da empresa Jari Celulose. O bairro que interliga o porto ao centro urbano de Laranjal do Jari é denominado Agreste, que se desenvolve ao longo de uma avenida principal cortada por pequenas ruas. Atualmente, a maior parte das vias está asfaltada. Na principal avenida, onde se localiza a principal praça municipal do Laranjal do Jari, concentram-se atividades comerciais, de serviços e institucionais: supermercados, bancos, hotéis, restaurantes e órgãos e instituições governamentais. Nas ruas transversais à avenida principal, o uso predominante é residencial, formado por construções de alvenaria. Próximo ao “Beiradão”, surgiram outros núcleos populacionais, como o bairro Malvinas, cujo uso é misto. Muitas das construções originaram-se na época da formação do “Beiradão”. Como meio de transporte, a população do Laranjal do Jari utiliza ônibus, bicicleta, lotação, táxi, além de barco. Conforme a situação, a lotação serve de taxi e vice-versa. O taxi não tem taxímetro, sendo o valor estabelecido de acordo com a distância do local de origem ao local de destino. O barco é utilizado de forma constante pelas pessoas que vão de Laranjal do Jari a Monte Dourado e vice-versa. A sua lotação é de 25 pessoas e os barcos saem a cada 5 minutos. Como meio de comunicação, a população tem acesso a jornais, rádio, televisão e Internet, em residências, estabelecimentos comerciais e de serviços, além de lan houses. Outro meio de comunicação é o telefone fixo e celular. Este último é bastante utilizado pela população local. Em termos de instituições religiosas, observou-se uma presença razoável de igrejas evangélicas, principalmente nas avenidas principais. Esta pode ser a demonstração do padrão não só religioso, mas social, econômico e cultural da população local. O governo federal está presente no município de Laranjal do Jari através da UNIFAP. O governo estadual está presente através da SEMA, que acompanha a execução de projetos e programas da área ambiental, como na RDS do Rio Iratapuru, e da RURAP, que desenvolve e executa projetos em parceria com os agricultores da zona rural de Laranjal do Jari. 3.5.4.4.2 Inspeção no Distrito de Monte Dourado, localizado no Município de Almeirim-PA De Laranjal do Jari, a equipe ambiental atravessou o rio Jari de barco para se chegar a Monte Dourado. Já no distrito de Monte Dourado, a equipe encontrou um pequeno porto com um pequeno terminal de táxi-lotação, que serve passageiros que querem chegar ao centro de Hydros EP518.RE.JR201 31 Monte Dourado ou às comunidades da região. O porto é de pequenas dimensões, cujas vias ainda são de terra. Nesta pequena área, existem algumas construções precárias, de madeira, onde são comercializados produtos alimentícios para os transeuntes. A via de acesso ao centro de Monte Dourado é pavimentada. Este centro tem um bom padrão urbanístico, organizado, resultado do planejamento da Jari Celulose, diferentemente do Laranjal do Jari, que surgiu de forma espontânea. A praça principal é o centro da vila Monte Dourado, em cujo entorno estão localizados estabelecimentos comerciais e de serviços, além de institucionais. A praça conta com equipamentos de lazer, além de duas instituições religiosas, sendo uma das construções ainda da época de implantação da empresa. O uso predominante desta vila é residencial, cujas construções são ainda de madeira, mas muito bem conservadas. A vila conta com infraestrutura básica de saúde e educação, além de rede de abastecimento, saneamento e vias pavimentadas. A Jari Celulose pertence atualmente ao Grupo Orsa e através da sua Fundação, Fundação Orsa, desenvolve projetos sociais na região. Dentre os projetos podem ser destacados os seguintes: AMARTE-Associação das Mulheres Mães Artesãs, localizada em Vitória do Jari, criada para a produção de eco-jóias, COOPNHAEIN, cooperativa localizada em Monte Dourado, criada para a produção de artesanatos de madeira, Agulhas Versáteis, localizada na Vila Planalto, criada para confecção de peças de vestuário, especificamente de uniformes. Desta forma, a economia de Monte Dourado está fortemente ligada não só à Jari Celulose, mas também aos projetos sociais desenvolvidas pela mesma empresa. 3.5.4.4.3 Visita à Comunidade Cachoeira Santo Antônio Nome: Comunidade Cachoeira Santo Antônio Localização: margem esquerda do rio Jari, no trecho a jusante da Cachoeira Santo Antônio, situado no município de Laranjal do Jari-AP. Organização / estruturação da comunidade: a comunidade tem um líder comunitário, eleito por voto, chamado João Lobato. Ele tem o papel de atender as necessidades da comunidade, buscando apoio junto aos órgãos competentes. Sua residência é também uma igreja e centro comunitário. Histórico: as terras da região inicialmente pertenciam a um latifundiário português chamado José Júlio, que depois passou as terras para o americano Daniel Ludwig, e posteriormente para o Grupo Orsa, proprietário da Jari Celulose. A comunidade é formada por imigrantes nordestinos especialmente os do Maranhão e Piauí, que se deslocaram para a região quando houve a implantação da Jari Celulose. Os moradores exploravam anteriormente castanha e “balata” (“látex” proveniente da árvore “balateira”). Hoje, o látex perdeu mercado externo em função da concorrência com a borracha da Malásia, que passou a produzir em grande quantidade após a exportação de sementes de seringueira para este país. Atualmente somente a castanha tem condições de concorrer no mercado externo, mas que pode perder seu espaço, pois segundo líder comunitário, na Alemanha já se tem produção de castanha. População: a comunidade conta com cerca de 27 famílias, que vivem em 18 residências . Habitação: casas construídas de madeira, com coberturas de telhas cerâmicas. Todas são elevadas em relação ao solo e algumas contam com varanda na parte frontal. Elas foram construídas pela Jari Celulose como compensação pela implantação da usina hidrelétrica na região da Cachoeira Santo Antônio. Algumas casas têm antenas parabólicas. Hydros EP518.RE.JR201 32 Saneamento: água consumida é tratada pela própria população e todas as casas têm um poço e um sumidouro. Atividades sócio-culturais-religiosas: na comunidade há uma igreja evangélica e outra igreja católica, com predominância de fiéis evangélicos. Os representantes oficiais das duas religiões fazem visita à comunidade a cada 3 meses para realização de cultos e eventos religiosos. Educação: a comunidade conta com uma escola de ensino fundamental (1ª a 4ª série), cujos professores vem de Laranjal do Jari e retornam para Laranjal do Jari nos finais de semana. Saúde: a comunidade conta com um posto de saúde e um agente de saúde da própria comunidade. Casos mais simples são resolvidos pelo próprio agente, como picadas de escorpiões, cobras e arraias (no período em que o rio abaixa quando são realizadas pescas noturnas). Casos mais complexos são dirigidos para postos de saúde de Laranjal do Jari. Alimentação: a comunidade vai periodicamente aos mercados de Laranjal do Jari para se abastecer, além de obter alimentos provindos de roça, caça e pesca. Se alimentam de arroz, feijão, mandioca, banana, abacaxi entre outros. As carnes obtidas na caça são de paca, anta, cotia, veado e queixada, que são distribuídas na comunidade. Os peixes consumidos são a pirara, filhote, dourado, pescada branca, tambaqui, pirapitinga. As caças são realizadas em parceria com outras famílias, enquanto que as pescas são realizadas individualmente. No período de estiagem do rio Jari, são realizadas pescas noturnas. Atividades produtivas: a comunidade desenvolve agricultura de subsistência e extrativismo vegetal (castanha, açaí). Cultivam mandioca, feijão, caju, banana, abacaxi, entre outros. Chegam a comercializar banana, que é vendida em Laranjal do Jari. Em relação à esta fruta, a EMBRAPA tem realizado pesquisas para produção de bananas resistentes ás pragas como a “catoca negra” e o “mal do panamá”. A produção de castanha do Brasil é enviada para a comercialização em Laranjal do Jari, além de Pará, São Paulo e Rio de Janeiro. O período de coleta de castanha é do mês de janeiro a junho. Na comunidade Santo Antônio, cada família tem sua “ponta” de castanha e área de produção agrícola. Os catadores de castanha vão aos castanhais uma vez por dia e utilizam o chamado “paneiro” (cesto feito de cipó titica, carregado nas costas) para armazenar os ouriços em cujos interiores estão as castanhas. As comunidades Santo Antônio, Padaria e Iratapuru produzem cerca de 55 toneladas de castanha por ano. Infra-estrutura: a infraestrutura é boa para a região, considerando a densidade demográfica e a localização. A energia elétrica é proveniente de gerador movido a óleo diesel. O Estado fornece 360 L para a comunidade, garantindo cerca de 3 h de energia elétrica por dia, no horário das 18 h às 21h. A cota ideal de óleo diesel, segundo o líder comunitário, seria de 1.000 L, que garantiriam cerca de 5 horas de energia elétrica por dia para a comunidade. No Programa Luz para Todos, do governo federal, há um projeto de uma linha de transmissão que levaria energia elétrica para as comunidades Santo Antônio, Padaria e Iratapuru. O tratamento de água é feito pelos próprios moradores utilizando-se hipoclorito. O sistema de transporte, circulação e comunicação externa é o próprio rio Jari, utilizando-se “catraia”, que comporta em média sete pessoas mais um barqueiro. Parcerias / incentivos do governo estadual e/ou federal: o governo estadual fornece uma cota de óleo diesel para a comunidade para subsidiar a geração de energia elétrica. Conflitos: as licenças de pesca esportiva do IBAMA são utilizadas por alguns pescadores para fins comerciais, reduzindo a quantidade e a reprodução dos peixes (piracema). Segundo o líder comunitário, a Cachoeira de Santo Antônio é apreciada por muitos turistas que procuram a região. Porém a ausência de política de incentivo ao turismo acompanhada de política de Hydros EP518.RE.JR201 33 fiscalização e de preservação dos recursos naturais não permitem um aproveitamento adequado do potencial turístico. 3.5.4.4.4 Visita à Comunidade de São Francisco do Rio Iratapuru Nome: Comunidade São Francisco do Rio Iratapuru Localização: Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, no município de Laranjal do Jari-AP. Mais especificamente, fica na margem direita do rio Iratapuru, próximo à sua foz, no entroncamento com o rio Jari. Organização / estruturação da comunidade: Existem quatro líderes comunitários: Mauro Barbosa, Sebastião, conhecido como “Sabá”, Delbanor Melo Viana, conhecido como “Arraia”; e o presidente da COMARU – Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru, chamado Eudimar dos Santos Viana, filho de Delbanor. Eles são responsáveis pelo atendimento às necessidades e promoção do bem estar da comunidade. Histórico: a maior parte dos moradores migrou para a região para trabalhar em atividades da empresa Jari Celulose, quando da sua implantação. Em 1997, foi criada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (estadual), que promove a política de preservação socioambiental associada com o desenvolvimento de atividades produtivas, especialmente extrativistas vegetais dos moradores que exploram a castanha, açaí, e outros produtos retirados da floresta da região. População: 8 famílias, com um total de cerca de 200 pessoas. Habitação: casas de madeira ou de alvenaria, com coberturas de telhas de fibrocimento, palha ou telha cerâmica. Algumas casas têm antenas parabólicas. Saneamento: a população utiliza hipoclorito para tratamento de água e fossa séptica. Atividades socioculturais-religiosas: há uma igreja católica na comunidade, onde os cultos são ministrados por um membro da própria comunidade. Ela é visitada por um padre a cada 3 meses. O padroeiro da comunidade é São Francisco, sendo realizada a “mucura”, festa de aniversário. Educação: a comunidade conta com uma escola de ensino fundamental (1ª a 4ª série) e professores de Laranjal do Jari que retornam a Laranjal do Jari nos finais de semana. Saúde: não há posto de saúde na comunidade. Alimentação: a comunidade se abastece periodicamente nos mercados de Laranjal do Jari, além de carnes provindas de caças como porcão, anta, paca cotia entre outros animais, e de peixes como surubim, trairão, piranha, pacuacu, xitau, pirarara, filhote, pirapitinga, jaú, tucunaré entre outros. Criam porcos e “picotes” para abastecimento próprio. Seus alimentos básicos são arroz, feijão, mandioca, abacaxi entre outros. Atividades produtivas: a comunidade desenvolve agricultura de subsistência e extrativismo vegetal. Cultivam arroz, mandioca, feijão, abacaxi, e exploram castanha e processam o óleo para exportação. A castanha do Brasil é produzida essencialmente para comercialização. O período de coleta de castanha é o mês de janeiro a junho, que atrai pessoas de outras localidades para a coleta. A comunidade conta com a COMARU – Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru, que se localiza na própria comunidade e é formada por próprios moradores. Na COMARU é realizado o beneficiamento da castanha e produção de subprodutos: óleo e Hydros EP518.RE.JR201 34 “torta” (farofa / massa obtida após a castanha ser torrada, moída e amassada para obtenção do óleo, que é utilizada na alimentação tanto para moradores, como para peixes e animais de criação.). Na comunidade também são extraídos o óleo de copaíba e o “breu” (resina extraída do tronco da árvore breu branco). O óleo da castanha, o óleo da copaíba e o “breu” são comercializados, sendo vendidos à empresa Natura, na cidade de Belém. O óleo da castanha é armazenado em galões de 45 kg, que são vendidos por R$ 31,50 cada. São montados contratos de produção de 2 a 4 toneladas de óleo de castanha com a empresa Natura. Infra-estrutura: a infraestrutura pode ser considerada boa para a região, considerando a densidade demográfica e a localização. A energia elétrica é proveniente do gerador movido a óleo diesel e o governo estadual subsidia óleo para cerca de 12 h de energia por dia. O sistema de comunicação e transporte utilizado é o próprio rio. Normalmente, a comunidade utiliza “catraia”, que comporta em média sete passageiros, além do barqueiro. Utilizam também barcos de maior porte, que são movidos a motor de gasolina, chamados de “batelão”, que comportam em média 25 a 30 passageiros, além do barqueiro. Parcerias / incentivos do governo estadual e/ou federal: a comunidade recebe uma cota de óleo diesel do governo estadual, para geração de energia elétrica. Dentro da comunidade há uma base/escritório da SEMA, que hospeda pesquisadores e técnicos que desenvolvem estudos relativos a recursos naturais existentes na RDS do Rio Iratapuru. A comunidade demonstrou ter um certo nível de consciência socioambiental: segundo um dos líderes, os moradores separam lixos, através de coleta seletiva, enviando garrafas de vidro para reciclagem. 3.5.4.5 Observações Relevantes Como observações relevantes, pode-se destacar que as visitas aos órgãos confirmaram as preocupações quanto às áreas ocupadas pelas Unidades de Conservação e Terra Indígena Waiãpi, bastante extensas na bacia, já constatadas, nos trabalhos de escritório e já identificadas como conflitos nas inspeções. Outro aspecto relevante é a concentração de áreas antropizadas na porção sul da bacia, onde se localizam as sedes municipais e onde são desenvolvidas atividades extrativistas da empresa Jari Celulose, que tem repercussão internacional. Nesta área, o rio Jari exerce um papel importante tanto no que se refere à circulação de populações locais, bem como para o escoamento dos produtos da empresa Jari Celulose. Desta forma, além de percorrer trechos do rio Jari com interesse para os aproveitamentos, a visita às comunidades tradicionais e observações in loco do “Beiradão”, Laranjal do Jari e Monte Dourado deram dimensão real dos aspectos locais e regionais da bacia e os modos de vida e a base econômica que as populações locais tem na área. Um aspecto bastante relevante é a diferença entre o padrão de vida do distrito Monte Dourado, onde se localiza a sede da empresa Jari Celulose e o padrão de vida do “Beiradão”, a maior favela fluvial do mundo, convivendo na mesma área, mas separados pelo rio Jari, nas margens opostas. Algumas das fotos consideradas relevantes para o relatório de inspeção socioambiental, nos seus aspectos gerais dos rios e seu entorno (aérea) e específicos (terrestre) estão apresentadas no Anexo 1 deste Apêndice. Hydros EP518.RE.JR201 3.5.4.6 35 Conclusões e Recomendações Como conclusões e recomendações, pode-se destacar a importância das Unidades de Conservação e Terras Indígenas que ocupam mais que 80% da bacia em estudo, devendo-se verificar a influência que os aproveitamentos terão nestas Unidades de Conservação e Terra Indígena Waiãpi, além de atentar para os modos de vida e base econômica das populações locais que escolheram a região para desenvolver suas vidas. Hydros EP518.RE.JR201 3.6 36 CAMPANHAS LIMNOLÓGICAS As campanhas limnológicas foram realizados com o objetivo de coletar amostras de água para caracterizar a água quanto às suas propriedades físico-químicas. A seguir apresenta-se a programação da referida campanha, que foi realizada em conjunto com a Campanha Hidrométrica. Foram realizadas 4 Campanhas Limnológicas na bacia do rio Jari, em períodos de águas baixas e de águas enchentes, nos meses de dezembro/ 2007, maio/ 2008, julho/ 2008 e novembro/ 2008, conforme apresentado no gráfico a seguir. 2,5 2ª Campanha Limnológica 05/2008 2,0 3ª Campanha Limnológica 07/2008 Q/QMLT 1,5 1ª Campanha Limnológica 12/2007 1,0 4ª Campanha Limnológica 11/2008 0,5 0,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Período (m ês) Fonte: Estação São Francisco - período de julho/1972 a novembro/2006. Disponível em hidroweb.ana.gov.br. Gráfico 3.6-1 – Distribuição das Campanhas Limnológicas no Hidrograma Médio Mensal Típico. 3.6.1 LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE COLETA Os pontos de coleta de água foram selecionados objetivando descrever a variação geral nas características da água ao longo da bacia hidrográfica, levando-se em consideração os dados secundários disponíveis, a localização dos aproveitamentos hidrelétricos, o uso do solo e as condições de acesso. Foram selecionados pontos que se localizassem nas proximidades dos aproveitamentos e com menor dificuldade de acesso. Nas áreas de maior influência antrópica, foram selecionados pontos mais próximos entre si, enquanto que nas áreas de menor influência antrópica, foram selecionados pontos mais distantes entre si. Os pontos em que foram realizadas coletas estão detalhados na Tabela 3.6-1, intitulada “Campanha limnológica - Pontos de coleta de água” e localizados no desenho Hydros EP518.RE.JR201 37 Nº EP518.A3.JR-08-008 (Fig. 71), intitulado “Campanha Limnológica – Localização dos pontos de coleta de água – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Tabela 3.6-1 – Campanha limnológica - Pontos de coleta de água Item Rio Coordenadas Geográficas Ponto de coleta Referência Longitude Latitude 1 Ipitinga Ipitinga - 1 Próximo à confluência com o rio Jari W 53° 01' 24,0'' N 1° 58' 70,9'' 2 Ipitinga Ipitinga - 2 No eixo IP-56,7 km W 53° 13' 33,6'' N 0° 16' 29,9'' 3 Iratapuru Iratapuru - 1 Em Barra da Boca – em frente à estação linimétrica CPRM W 52° 34' 46,8'' N 0° 33' 24,0'' 4 Jari Jari - 1 No eixo em Desespero (JR – 371,0 km) W 53° 9' 9,69'' N 0° 35' 32,45'' 5 Jari Jari - 2 No eixo em Açaipé (JR – 194,8 km) W 52° 40' 13,2'' N 0° 33' 16,0'' 6 Jari Jari - 3 A montante da captação de água de Laranjal do Jari W 52° 31' 24,1'' N 0° 49' 18,7'' 7 Jari Jari - 4 A jusante de Laranjal do Jari – em frente a E.M. Paulo Freire W 52° 31' 34,7'' N 0° 51' 28,6'' 8 Jari Jari-5 No eixo Macaquara W 53° 20' 34,9'' N 0° 52' 31,1'' 3.6.2 METODOLOGIA Para cada ponto de coleta, as coordenadas foram remarcadas e foram coletadas amostras de água para análise de nitrogênio total, fósforo total, cálcio, magnésio, sódio e potássio. As amostras foram preservadas pela adição de conservantes químicos, adicionados a frascos de frascos de polietileno opaco antes de cada campanha. Para as análises de nitrogênio total e fósforo total, o conservante utilizado foi o proposto pela metodologia de VALDERRAMA (1981), no qual sugeria-se que o reagente oxidante (persulfato de potássio + hidróxido de sódio + ácido bórico) fosse adicionado às amostras para posterior digestão e análise. Para as análises dos cátions básicos, por sua vez, o processo de preservação consistiu na mistura da amostra com um ácido, usualmente ácido nítrico, para manutenção do pH inferior a 2,0, reduzindo a atividade metabólica e química do sistema. Após a coleta, as amostras foram conservadas no escuro, e dentro do prazo de 35 dias, foram encaminhadas para a Unidade Laboratorial de Referência em Limnologia do Instituto de Pesca do Governo do Estado de São Paulo, onde foram feitas as análises. Para nitrogênio total e fósforo total, a digestão das amostras foi realizada pelo método proposto por VALDERRAMA (1981) e as análises foram realizadas por processos colorimétricos segundo MACKERETH et al. (1978) para os íons nitrogenados e Hydros EP518.RE.JR201 38 STRICKLAND & PARSONS (1960) para fosfatados. Os cátions foram analisados seguindo metodologia proposta no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998). 3.6.3 DADOS OBTIDOS Os resultados das análises estão apresentados na Tabela 3.6-2 - Campanha limnológica – Dados obtidos. Hydros EP518.RE.JR201 39 Tabela 3.6-2 – Campanha limnológica – Dados obtidos item Campanha Limnológica rio Nome do Ponto de coleta Data da coleta Horário Chuva nas últimas 24h? (sim/não) no do frasco de 250 mL no do frasco de 500 mL Temperatura (°C) Nitrogênio Total (µg/L) Fósforo Total (µg/L) Cálcio (mg/L) Magnésio (mg/L) Sódio (mg/L) Potássio (mg/L) 1 1a. Jari Ipitinga - 1 09/12/07 07:36 Sim 17 17 n.a. 274,02 13,59 4,44 1,94 1,38 1,70 2 2a. Ipitinga Ipitinga - 1 02/05/08 13:05 Sim 34 34 n.a. 121,39 38,40 3,55 5,07 2,00 1,87 3 3a. Ipitinga Ipitinga - 1 01/07/08 14:35 Não 9 9 26 88,40 15,04 1,00 3,12 1,70 1,19 4 4a. Ipitinga Ipitinga - 1 13/11/08 16:30 Não 2 2 30 60,33 24,42 1,83 2,34 1,21 1,05 5 2a. Ipitinga Ipitinga - 2 02/05/08 10:10 Sim 33 33 n.a. 129,68 38,40 4,44 2,16 2,12 1,87 6 3a. Ipitinga Ipitinga - 2 01/07/08 10:40 Não 10 10 25.6 87,56 16,41 1,80 1,47 1,72 1,00 7 4a. Ipitinga Ipitinga - 2 13/11/08 13:22 Não 6 6 29 59,90 23,24 1,83 2,34 1,16 1,05 8 1a. Iratapuru Iratapuru - 1 10/12/07 14:03 Sim 18 18 n.a. 394,21 29,30 2,66 2,59 3,28 1,86 9 2a. Iratapuru Iratapuru - 1 05/05/08 11:27 Sim 35 35 n.a. 109,06 36,77 1,77 3,88 1,94 1,79 10 3a. Iratapuru Iratapuru - 1 04/07/08 11:08 Sim 7 7 26 97,12 10,94 3,65 1,00 1,90 1,19 11 4a. Iratapuru Iratapuru - 1 18/11/08 11:50 Não 5 5 28.2 64,55 30,29 1,83 2,34 1,16 1,00 12 4a. Jari Jari - 1 12/11/08 10:06 Não 4 4 29.6 63,12 18,54 1,83 2,90 1,15 1,00 13 1a. Jari Jari - 2 10/12/07 12:44 Sim 16 16 n.a. 350,88 32,76 2,22 2,42 2,71 1,70 14 2a. Jari Jari - 2 04/05/08 13:46 Sim 36 36 n.a. 109,06 37,00 2,66 2,05 1,96 1,82 15 3a. Jari Jari - 2 03/07/08 11:20 Sim 8 8 26.4 95,40 15,04 2,98 2,92 1,90 1,09 16 4a. Jari Jari - 2 17/11/08 11:06 Sim 3 3 30.8 56,58 24,42 2,75 2,68 1,15 1,05 17 1a. Jari Jari - 3 12/12/07 11:35 Sim 15 15 n.a. 253,90 16,10 1,33 2,23 2,42 1,70 18 2a. Jari Jari - 3 07/05/08 09:15 Sim 38 38 n.a. 99,13 36,91 2,66 4,21 1,90 1,82 19 3a. Jari Jari - 3 06/07/08 07:40 Não 11 11 26.2 85,13 13,67 1,75 2,50 1,65 1,00 20 4a. Jari Jari - 3 19/11/08 10:10 Não 32 32 n.a. 66,43 16,19 1,83 2,34 1,15 1,00 21 1a. Jari Jari - 4 12/12/07 11:56 Sim 14 14 n.a. 184,78 31,82 3,55 2,39 1,38 1,70 Hydros EP518.RE.JR201 40 item Campanha Limnológica rio Nome do Ponto de coleta Data da coleta Horário Chuva nas últimas 24h? (sim/não) no do frasco de 250 mL no do frasco de 500 mL Temperatura (°C) Nitrogênio Total (µg/L) Fósforo Total (µg/L) Cálcio (mg/L) Magnésio (mg/L) Sódio (mg/L) Potássio (mg/L) 22 2a. Jari Jari - 4 07/05/08 09:40 Sim 39 39 n.a. 100,00 37,10 1,77 4,42 1,90 1,82 23 3a. Jari Jari - 4 06/07/08 07:57 Não 12 12 26.4 86,30 17,77 1,00 2,50 1,65 1,00 24 4a. Jari Jari - 4 19/11/08 10:35 Não 33 33 n.a. 65,65 20,89 1,83 2,34 1,17 1,00 25 4a. Jari Jari - 5 11/11/08 09:50 Não 1 1 29.6 61,26 31,47 1,83 2,34 1,21 1,05 Obs.: n.a. = não analisado Hydros EP518.RE.JR201 41 A análise dos dados obtidos encontra-se apresentada no Diagnóstico SocioAmbiental, item 4.2.2 - Qualidade da Água. Infelizmente, devido às dificuldades encontradas em campo, não foi possível coletar amostras em todos os pontos previstos da bacia do rio Jari, especialmente nos pontos localizados à montante da cachoeira Urucupata. Tais lacunas não devem ter grande influência na análise, já que estes pontos estão localizados em área de baixíssima ocupação humana e consequentemente não são áreas de poluição potencial. Hydros EP518.RE.JR201 42 4 DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL 4.1 PROCESSOS E ATRIBUTOS FÍSICOS De acordo com o Manual de Inventário Hidrelétrico, os Processos e Atributos Físicos, embora não sejam considerados um componente-síntese, destaca-se pelo fato de ser um “elemento mantenedor e interagente entre as relações biológicas e antrópicas”. Nesse contexto, os diversos elementos que constituem os atributos físicos de uma área interagem mutuamente, e seus arranjos, ao se diferenciarem no tempo e no espaço, colocam esses diferentes elementos como uma grande unidade de paisagem. A interação singular entre os diferentes atributos físicos é justamente o que permite que ocorra um suporte e uma interação entre todos os elementos físicos, biológicos e antrópicos, constituindo-se, dessa forma, como um sistema complexo, passível de ser analisado através do recorte possibilitado pela bacia hidrográfica. Como elementos constituintes dos Processos e Atributos Físicos citam-se os aspectos geológicos, os aspectos geomorfológicos, os aspectos pedológicos e edáficos, os aspectos de hidrologia e climatologia e os aspectos concernentes à qualidade de água. Nos aspectos geológicos, destacam-se as unidades e estruturas geológicas, as litologias associadas a estas e o potencial mineral, sendo este último resultando da interação entre estrutura geológica e a compartimentação socioambiental. Nos aspectos geomorfológicos, o que se destaca são as principais feições geomorfológicas e os processos morfodinâmicos correlatos, principalmente os atuais, os quais permitem uma análise da diversidade de tipos de relevo. Já os aspectos pedológicos e edáficos, além de apresentarem a indicação das principais unidades de solo e suas características físico-químicas, possibilitam a identificação de potencialidades e restrições, como por exemplo, as aptidões agrícolas e vulnerabilidades à erosão. Os aspectos de hidrologia e climatologia permitem o conhecimento do regime hídrico da região, o qual tem relação direta, quando associado aos conhecimentos de compartimentação geológica, aos estoques de água armazenados no subsolo e disponíveis para a manutenção da vazão dos rios, através do escoamento basal. Por fim, os aspectos de qualidade de água, permitem que a partir de uma leitura do comportamento bioquímico desse recurso, sejam elaborados suportes para a análise de outros componentes-síntese, como os ecossistemas aquáticos, a base econômica e os modos de vida. A partir das premissas acima é que são apresentados cada um dos elementos constituintes dos processos e atributos físicos, conforme se poderá notar nas linhas abaixo. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.1 43 ASPECTOS GEOLÓGICOS A bacia do rio Jari abrange um conjunto diversificado de rochas1, cujas diferentes unidades litoestratigráficas possuem idades que vão desde o Proterozóico Inferior (aproximadamente 2,6 bilhões de anos atrás) até o Holoceno (aproximadamente 11.500 anos atrás). As rochas mais antigas encontradas na referida bacia pertencem ao Complexo Guianense (IBGE, 2004), representadas essencialmente por migmatitos, gnaisses, granitos, granulitos, anfibolitos, quartzitos e xistos. Merece destaque, conforme publicação supracitada, uma subunidade de rochas gnáissicas denominada Tumucumaque. Essa subunidade apresenta principalmente gnaisses com intercalações de xistos, quartzitos e anfibolitos. No Complexo Guianense, de idade pré-cambriana inferior (aproximadamente 4,5 bilhões de anos) à média (aproximadamente 2 bilhões de anos), destacam-se numerosos corpos alongados, orientados na direção NW. Suas unidades litológicas são referentes ao Grupo Vila Nova, cuja idade é relativa ao pré-cambriano médio e superior (aproximadamente 1,3 bilhões de anos atrás). As rochas predominantes deste grupo são representadas por quartzitos, xistos, filitos, anfibolitos, afetadas por metamorfismo responsáveis por depósitos (fácies) de xistos verdes e almandina-anfibolito.’ Ao sul da área compreendida pelo Complexo Guianense encontram-se rochas sedimentares de Idade Paleozóica (aproximadamente 320 milhões de anos atrás) da Bacia Sedimentar do Amazonas, constituídas por arenitos grossos, com camadas de conglomerados e folhelhos, representantes da Formação Trombetas, assim como de folhelhos e siltitos micáceos da Formação Curuá. Na porção sul da área da bacia do rio Jari, próxima à confluência dos rios Jari e Carecuru, encontra-se uma faixa de rochas do período Terciário (aproximadamente 180 milhões de anos atrás), representada por arenitos finos, siltitos e argilitos ricos em caulinita do Grupo Barreiras. Por fim, de acordo com a cronologia dos terrenos, a planície do rio Amazonas é constituída por aluviões contendo areias, argilas e siltes, datados do holoceno, os quais, quando localizados no rio Jari, apresentam assoalho constituído por cascalhos. 4.1.1.1 Unidades Geológicas Pelas especificidades demonstradas acima, que ilustram rochas que compõem terrenos das mais diversas idades e origens, pode-se compartimentar a área da bacia do rio Jari em três grandes grupos, os quais expressam, a grosso modo, os grandes conjuntos de estruturas de rochas encontradas na área em questão, a saber: a Bacia Sedimentar Paleozóica, o Embasamento Cristalino Pré-Cambriano e as Rochas Sedimentares Semiconsolidadas e Depósitos Recentes . A Figura 4.1.1-1, intitulada “Compartimentação Geológica da Bacia do Rio Jari”, ilustra esses grandes compartimentos: 1 As principais referências bibliográficas referentes à geologia e geotecnia da área dos estudos consultadas foram Almeida e Hasui (1984), Caputo e Silva (1990), Carvalho, Faraco e Klein (1995), IBGE (2004), Lima, Bezerra e Araújo (1991), Niebe (1981), Projeto RADAMBRASIL (1974). Adicionalmente, as informações foram complementadas com observações realizadas nos trabalhos de reconhecimento de campo e com os mapas das áreas de requerimento de pesquisa mineral e lavra garimpeira, do Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM. Hydros EP518.RE.JR201 44 ³ 52°W ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 54°W ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 2°N ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! 2°N ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! Amapá ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Pará ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 0° ! ! ! ! ! 0° ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Legenda ! ! ! ! ! ! ! Área de Drenagem ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Hidrografia Principal ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! !! ! ! ! ! ! ! ! !! !! ! ! ! ! Compartimentos Geológicos ! ! ! ! ! ! !! Embasamento Cristalino Pré-Cambriano Rochas Sedimentares Semiconsolidadas e Depósitos Recentes 2°S 2°S Bacia Sedimentar Paleozóica 0 54°W 15 30 60 90 km 120 52°W Figura 4.1.1-1 – Compartimentação Geológica da Bacia do Rio Jari Menciona-se também, quando se analisam os aspectos concernentes aos elementos que compõem as paisagens do rio Jari, que as unidades litológicas aí encontradas resultam numa diversidade de tipos de solos, constituindo suporte para os diferentes ambientes na referida área, onde a cobertura vegetal pode ser considerada como elemento sintetizador. Desse modo, as unidades litoestratigráficas que compõem a área da bacia do rio Jari serão apresentadas em seu contexto estrutural e ao mesmo tempo pormenorizadas, permitindo uma correlação entre os tipos de solos encontrados e a cobertura vegetal correspondente. Dessa forma, pretende-se possibilitar a definição, embora a grosso modo, dos ambientes resultantes dos diferentes arranjos entre elementos de suporte (rochas, solos) e de cobertura (relevos, vegetação). As unidades litoestratigráficas que serão descritas abaixo são apresentadas no mapa geológico da bacia, apresentado no desenho Nº EP518.A1.JR-02-013 (Fig 053), intitulado “Mapa Geológico – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.1.1.1 45 Compartimento do Embasamento Cristalino Pré-Cambriano O embasamento cristalino representa as rochas mais antigas presentes na bacia hidrográfica agrupadas sob a nomenclatura de Complexo Guianense segundo o Projeto RADAMBRASIL. Estas rochas são constituídas essencialmente por migmatitos, gnaisses, granitos, granulitos, anfibolitos, quartzitos e xistos, cujas principais unidades litoestratigráficas são descritas a seguir; unidades de menor relevância para o presente estudo são também descritas posteriormente no subitem “Demais Unidades Litoestratigráficas”. a) Suíte Intrusiva Água Branca Nos trabalhos do Projeto RADAMBRASIL (1974), volume 6, os granitóides presentes na porção norte da bacia foram associadas às rochas metamórficas de idade supostamente arqueana (aproximadamente 3,85 bilhões de anos atrás) e agrupadas ao Complexo Guianense. Posteriormente Araújo Neto e Moreira (1976), para denominar rochas predominantemente granodioríticas, aflorantes ao longo do igarapé Água Branca, afluente do rio Uatumã, no nordeste do estado do Amazonas, acabou por nomear a unidade como Suíte Intrusiva Água Branca, unidade que representa, portanto, um conjunto de granitóides com amplo espectro de litologias, variando de granitos a dioritos com caráter francamente peraluminoso (excesso de Al2O3 – óxido de alumínio- derivado do ambiente ígneo de formação da rocha). As rochas desta unidade apresentam cor cinza-médio à cinza esverdeado, de granulação média à grossa, equigranulares à porfiríticas2, maciças à foliadas. As variedades porfiríticas contêm megacristais de feldspato, ora microclínio, ora plagioclásio zonado. Ocasionalmente os megacristais euédricos3 apresentam orientação preferencial, caracterizando bandamento4 ígneo ou megacristais arredondados ou estirados, constituindo porfiroclastos5 em milonitos. O magmatismo desta unidade é cálcio-alcalino e foi gerado em ambiente tectônico de arco magmático durante o Paleoproterozóico (2,5 bilhões de anos atrás), sendo atribuído, segundo alguns autores, a um estágio tardi/pós-orogênico. A unidade possui idade mínima de 1,9 bilhões de anos, segundo os dados da CPRM e apresenta uma constituição litológica formada por granodioritos, monzogranitos, quartzodioritos, quartzo-monzodioritos e tonalitos. Segundo Fraga et al. (1996), a Suíte Intrusiva Água Branca pode ser correlacionada com a Suíte Intrusiva Pedra Pintada, presente na porção nordeste de Roraima, e com o granito South Savanna na Guiana. Essa unidade corresponde ao substrato geológico de praticamente todo o trecho do alto curso do rio Jari, ajudando a originar, dentro dos elementos de suporte da paisagem, solos 2 Textura típica de rochas magmáticas para as quais houve dois tempos de cristalização, na qual alguns cristais se desenvolvem mais que o restante da massa pétrea envolvente. Geralmente esse tipo de textura está associado a ambientes de grandes profundidades. 3 Cristais bem formados, com faces nítidas e facilmente reconhecíveis. 4 Estrutura de foliação metamórfica em bandas, formadas por composição e granulometria variadas. 5 Textura de uma rocha metamórfica, em que se tem um ou mais cristais se sobressaindo em tamanho em relação à matriz da rocha. Hydros EP518.RE.JR201 46 profundos e bem drenados, como os Latossolos Vermelho-Amarelo e os Argissolos Vermelho-Amarelo. Como elemento de cobertura verifica-se, dentro das unidades de relevo, a despeito da associação existente entre rochas ígneas e metamórficas de idade arqueana, a existência de estruturas na direção NW-SE. Essas estruturas refletem-se também na unidade das Colinas do Amapá, através do alinhamento das cristas e também das drenagens (padrão dendrítico), principalmente na região da Serra do Tumucumaque. Em relação à cobertura vegetal, encontram-se nessa área as Florestas Ombrófilas Densas Montana e Submontana, associadas às grandes elevações da Serra do Tumucumaque. b) Complexo Guianense As rochas do Complexo Guianense, encontradas na bacia hidrográfica do rio Jari, constituem o embasamento do Período Arqueano (aproximadamente 3,85 bilhões de anos atrás). Essas rochas foram submetidas a um intenso processo de metamorfismo, resultando em depósitos (fácies) de anfibolitos e granulitos. As litologias mais comuns são: granulitos, gnaisses, anfibolitos, migmatitos, granitos, dioritos, granodioritos, gabros e rochas ultramáficas (formadas por minerais de cor escura, ricos em ferro e magnésio). Como resposta ao intenso processo de metamorfismo sofrido por essas rochas, as mesmas apresentam bandamentos6 e foliações7 bem característicos. Em relação a esse processo de intenso metamorfismo ocorrido com as rochas do Complexo Guianense, pode-se citar um episódio plutônico tardi-tectônico, que representa um episódio de movimentação tectônica posterior ao episódio principal que originou o referido complexo. Esse foi o responsável pelo surgimento dos granitos, dioritos e gabros encontrados na área da bacia em estudo. Como resultado deste processo, as rochas resultantes apresentam texturas variáveis, que vão de micro-aplítica (textura equigranular, formada por minerais minúsculos, mas ainda perceptíveis a olho-nu) a texturas mais grosseiras, com cristais de dimensões centimétricas à decimétricas (textura pegmatóide). Essas rochas, pelas intensas movimentações que sofreram, acabaram por penetrar nas rochas mais antigas. São rochas características desse episódio tardi-tectônico o Granodiorito Falsino e o Granito Mapuera. Outros episódios tardi-tectônicos são mencionados como responsáveis por constituir o restante das rochas ultramáficas que afloram dentro deste complexo na forma de piroxenitos, hornblenditos e peridotitos. A intensa movimentação tectônica, ocorrida na área onde se localiza o Complexo Guianense, gerou grandes sistemas de falhas e fraturas e demais estruturas tectônicas associadas, notadamente mais pronunciadas entre os rios Jari e Paru. Essas estruturas de falhas e fraturas acabam por apresentar sentido NW-SE. Do ponto de vista mineralógico, as rochas do Complexo Guianense são constituídas por quartzo, em porcentagens que variam de 20% a 57%. Acrescentam-se também os feldspatos potássicos, com valores entre 15% a 50%, plagioclásio (15% a 70%), biotita (10%) e anfibólio 6 Textura característica de rochas metamórficas, na qual ocorrem bandas, mais ou menos paralelas, de colorações e composições mineralógicas diferentes dentro de um corpo rochoso. 7 Estrutura característica de rochas ígneas e metamórficas que se constituem num tipo de arranjo dos minerais constituintes da rocha ao longo de planos paralelos, que podem se apresentar lisos ou fortemente enrugados, resultante, portanto, da própria orientação tomada pelos minerais. Hydros EP518.RE.JR201 47 (10% a 30%). Em relação às ocorrências minerais, embora na região entre o rio Ipitinga e o igarapé do Inferno sejam assinaladas ocorrências de diversos grupos minerais, sendo inclusive recorrente a existência de inúmeros garimpos, a região, de modo geral, vem apresentando declínio em relação a esse tipo de produção. Já são assinaladas, inclusive, ausências de certos tipos de minerais nesses garimpos. A localização geográfica do Complexo Guianense fica restrita, de acordo com o mapa geológico da bacia do rio Jari (desenho Nº EP518.A1.JR-02-013 (Fig. 053), apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos), a uma região drenada pelo igarapé do Inferno, afluente do rio Ipitinga (sudoeste da bacia do rio Jari), e a outra no extremo norte da bacia hidrográfica em estudo. Na primeira região, as rochas constituintes do Complexo Guianense apresentam caráter ácido e estão associadas aos altos índices pluviométricos da região, superiores a 2.000 mm (NIMER, 1979), e às altas temperaturas médias anuais, situadas entre 24ºC a 26ºC (NIMER, op. cit.), que são fatores essenciais para a formação de solos profundos e bem drenados. Esses elementos de suporte se traduzem através da correlação entre as rochas ácidas ultramáficas e os Argissolos Vermelho-Amarelo encontrados nessa região. Uma característica correlata desse arranjo é a coloração vermelho-amarela desses solos, que são resultado da intensa intemperização das rochas, ricas em ferro e magnésio, e posterior lixiviação entre os horizontes dos argissolos, que promovem o acúmulo desses minerais, na forma de hidróxidos de ferro e alumínio nos horizontes mais profundos (B textural). Na região drenada pelo igarapé do Inferno encontram-se duas unidades morfoesculturais, a saber: a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional e os Planaltos Residuais do Amapá. Essas unidades representam áreas rebaixadas por intensos processos erosivos ao longo do tempo geológico, sendo esses processos bastante importantes atualmente, sobretudo quando se atenta para os elevados índices pluviométricos da região. Como os relevos são originados pelo balanço existente de processos endógenos (estruturais) e exógenos (climáticos), a contribuição dos tipos de rochas é essencial para compreender as formas que se apresentam na paisagem. Assim, principalmente quando se verifica a existência de relevos residuais na região, percebe-se de maneira mais nítida a contribuição de rochas ígneas ultramáficas e metamórficas encontradas na área, mais resistentes ao intemperismo, como elementos constituidores desses relevos residuais, os quais, acabam por se comportar como relíquias na paisagem de ambientes pretéritos. A cobertura vegetal, dentro dos entendimentos de que os ambientes, quando lidos dentro de seus componentes paisagísticos, refletem o estágio de equilíbrio entre as diferentes condições ambientais, pois qualquer tipo de interferência em um dos componentes que compõem a paisagem se refletirá no porte e estágio de desenvolvimento da vegetação. Tendo em mente esta premissa, quando se tem em vista a ocupação do solo feita pela cobertura vegetal na área compreendida pelo Complexo Guianense, encontra-se a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme. Esta floresta possui grande porte, com indivíduos bastante adensados, o que coloca os solos derivados das rochas do complexo acima mencionado como um dos possíveis fatores contribuintes para o porte e densidade dos indivíduos vegetais existentes. No extremo norte da bacia hidrográfica, onde se tem outra ocorrência do Complexo Guianense, encontra-se a unidade morfoescultural das Colinas do Amapá, entalhadas por drenagens pouco aprofundadas de padrão dendrítico, porém situadas em níveis altimétricos mais elevados (280 e 300 m). Nessa área da bacia do rio Jari, as rochas do Complexo Guianense ajudam a formar solos bastante desenvolvidos. São os Latossolos VermelhoAmarelo Álicos e Distróficos, os quais, como elementos de suporte da paisagem, ajudam a dar Hydros EP518.RE.JR201 48 sustentação a coberturas vegetais de grande porte (Floresta Ombrófila Submontana de Dosséis Uniforme e Emergente). c) Complexo Tumucumaque A unidade estrutural conhecida como Complexo Tumucumaque era anteriormente atribuída ao Complexo Guianense (PROJETO RADAMBRASIL, 1974) devido ao fato de possuir gnaisses de estruturas planares e lineares geradas pelos mesmos episódios de deformação que originaram as rochas desse complexo. Posteriormente, outros estudos associaram a ocorrência dos Gnaisses Tumucumaque a relevos desenvolvidos na forma de serras e também a fatores de forte controle do sistema de drenagem. Esse fato foi percebido pela sua orientação no sentido NW-SE, que possibilitou a individualização do Gnaisse Tumucumaque no Complexo Tumucumaque. A terminologia apresentada é adotada e aparece como referência no banco de dados da Amazônia Legal (IBGE, 2004). De forma geral, o Complexo Tumucumaque constitui o embasamento metamórfico do trecho médio da bacia hidrográfica do rio Jari, formando a maior parte das rochas aflorantes nesta região, sendo datado do período Arqueano (aproximadamente 3,85 bilhões de anos atrás). Os gnaisses constituintes desta unidade mostram-se bastante deformados, originados por metamorfismo cataclástico. Nesse tipo de metamorfismo, as rochas se deformam sem a presença de temperaturas altas, causando trituração e deformação, com recristalização de minerais e consequente aspecto característico deste tipo de ação dinâmica. Acrescenta-se como processo dinâmico relativo ao metamorfismo cataclástico, o processo de migmatização. Nesse processo, injeções de magmas ocorrem através de fendas na crosta, que permitem que ocorra nova recristalização de minerais de rochas existentes. Ainda, alguns minerais podem se fundir totalmente. Estes são mais escuros e representam uma relíquia da rocha original através da transformação de minerais escuros, constituindo aquilo que se conhece como paleossoma. No processo de migmatização, nem todos os minerais conseguem ser fundidos pela injeção de magma. Esses minerais geralmente são claros (félsicos) e compõem as estruturas conhecidas, em rochas que sofreram migmatização, como neossomas. Os paleossomas da área compreendida pelo Complexo Tumucumaque são representados por anfibolitos e gnaisses e os neossomas aparecem na forma de bandas como composição granodiorítica8. Na porção situada mais ao norte, dentro da área compreendida pelo Complexo Tumucumaque, a formação de rochas graníticas se torna mais importante, fato evidenciado pela transição de migmatitos para anatexitos9. Quando se analisa a rede de falhamentos e lineamentos estruturais do Complexo Tumucumaque, percebe-se um controle estrutural mais importante do que o visto em relação ao Complexo Guianense. A rede de falhas e lineamentos tem forte direção NW-SE e algumas inflexões WNW-ESSE. Essa rede de falhas e lineamentos é tão importante que ocupa uma 8 Refere-se aos granodioritos, que são rochas plutônicas constituídas por quartzo, andesita, ortoclásio, biotita e hornblenda. 9 São rochas metamórficas formadas por refusão de rochas magmáticas existentes. Apresentam estrutura xistosa e composição semelhante a dos granitos. Hydros EP518.RE.JR201 49 faixa de cerca de 200 km de largura, constituída por zonas de cisalhamento10, com presença de milonitos, cataclasitos e brechas de falha. Em relação às ocorrências minerais, apesar de não ser atribuída uma grande importância mineral a essa unidade, grande parte dos garimpos de ouro presentes no alto curso do rio Ipitinga situa-se em áreas cujo substrato é formado por gnaisses e milonitos do Complexo Tumucumaque, devendo estes ser associados às zonas de falhas. Do ponto de vista da composição dos elementos de suporte e cobertura representados pelas paisagens dos diferentes ambientes existentes na bacia do rio Jari, o Complexo Tumucumaque, por suas especificidades geológicas (rochas metamórficas formadas por migmatização), é responsável pela formação de solos profundos (Argissolos VermelhoAmarelo e Latossolos Vermelho-Amarelo) e bem drenados. Esses elementos de suporte ajudam a compreender a distribuição dos elementos de cobertura na área de ocorrência do referido complexo. Em relação aos elementos de cobertura, menciona-se, quando se observam as unidades geomorfológicas compreendidas pelo Complexo Tumucumaque, a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional e as Colinas do Amapá. Conforme verificado, quanto à composição e comportamento do Complexo Guianense e este dentro do contexto climático da bacia do rio Jari, pode-se perceber uma relação entre as formas de relevo existentes e as rochas que lhe servem de suporte. As rochas do Grupo Tumucumaque são metamórficas formadas por migmatização, resistentes ao intemperismo. No entanto, o processo de cisalhamento ocasionado pelas movimentações tectônicas sofridas por essa área fez com que as rochas se fraturassem, facilitando a percolação da água entre essas redes de diáclases e o intemperismo e consequente processo de desenvolvimento de solos. Somado este aspecto aos altos índices pluviométricos da região, e a consequente retirada de material através das águas de escoamento, as formas de relevo formadas pelo Complexo Tumucumaque tendem a ser mais modestas, o que se verifica quando se analisam as unidades geomorfológicas citadas. Por outro lado, quando se analisa a cobertura vegetal do referido complexo, nota-se a importância desta (Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente), cuja distribuição pode ser associada à presença de solos mais profundos, originados das rochas que compõem o Complexo Tumucumaque. d) Suíte Intrusiva Carecuru A unidade em questão representa uma assembléia de rochas plutônicas de idade paleoproterozóica (2,5 bilhões de anos atrás), originadas de um magmatismo com características cálcio-alcalinas e localizadas ao longo do médio e baixo curso do rio Jari (região drenada pelo rio Carecuru). As rochas dessa unidade anteriormente eram atribuídas ao Complexo Guianense e se constituem em granitóides pouco diferenciados, representados principalmente por dioritos, tonalitos, e em menor proporção por granodioritos. 10 Processo de fraturação das rochas com aparecimento de desníveis abruptos entre os blocos devido ao esforço tectônico. Hydros EP518.RE.JR201 50 As rochas da Suíte Intrusiva Carecuru apresentam foliação penetrativa (na qual se percebe claramente entre uma superfície e outra) devido aos eventos deformacionais que originaram as rochas plutônicas desta unidade, para as quais ainda se nota a textura ígnea. Do ponto de vista dos ambientes derivados dessa unidade, observa-se que as rochas plutônicas associadas ajudam a constituir solos profundos e bem drenados, como é o caso dos Argissolos Vermelho-Amarelo e Latossolos Vermelho-Amarelo. Com relação aos elementos de cobertura, quando se atenta para as unidades morfoestruturais, verifica-se a unidade Depressão Periférica da Amazônia Setentrional nas proximidades do rio Carecuru. Esta é constituída por colinas com drenagens pouco aprofundadas, demonstrando o intenso processo erosivo capaz de retrabalhar áreas bastante resistentes, como é o caso das rochas ígneas. Por outro lado, a área da suíte intrusiva em questão também apresenta, nas proximidades do rio Iratapuru, a unidade morfoestrutural dos Planaltos Residuais do Amapá, que corresponde aos terrenos nos quais os corpos plutônicos da unidade das Suítes Intrusivas do Carecuru ainda permanecem como divisores de água e estão situados em cotas mais elevadas, resistentes, portanto ao intemperismo e erosão. Ainda, com relação à cobertura vegetal, se encontra, para a área representada pela Suíte Intrusiva Carecuru, a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, representando uma associação entre este tipo de cobertura com os relevos e solos que lhe servem de suporte, uma vez que estes denunciam o porte da vegetação (beneficiada pelos fatores edáficos propiciados pelos latossolos) e a posição da vegetação dentro dos compartimentos do relevo. e) Grupo Vila Nova O Grupo Vila Nova é constituído por uma sequência de rochas metamórficas de epizona, formadas nas partes mais superficiais na litosfera, e catazona, formadas nas regiões mais profundas, onde ocorrem os ambientes de pressão e temperatura mais elevados para a formação das rochas metamórficas. Sua idade, através de datações geocronológicas, é estimada entre 1.750.000 a 2.530.000 anos atrás. As rochas derivadas desse grupo apresentam fácies de xisto verde e almandina-anfibolito. Como rochas predominantes citam-se os quartzitos, anfibolitos que aparecem geralmente nesse caso embutidos no quartzito, micaxistos e itabiritos. Ocorrem também, nesse grupo, minérios de ferro e manganês. A unidade engloba ainda rochas de natureza ofiolítica,11 representadas por serpentinitos associados a talco, antofilita, tremolita e actinolita-xistos. Do ponto de vista mineralógico, os quartzitos e sericita-quartzo-xistos desse grupo apresentam porcentagens de quartzo de 60% a 95%, chegando, para o caso da sericita, à porcentagem de 30%. O Grupo Vila Nova foi afetado por movimentação tectônica rígida e plástica, por meio da qual se formaram dobras sinclinais12 e anticlinais13, com flancos (parte lateral da dobra) de mergulho entre 15º e 30º, além de microdobras interfoliais (dobras resultantes da disposição paralela dos minerais das rochas, constituindo planos de cisalhamento). 11 As rochas ofiolíticas representam fatias de crosta oceânica posicionadas em meio a rochas continentais, geralmente associadas a sedimentos marinhos em zonas de colisão de placas. 12 Parte côncava de uma dobra na qual as camadas se inclinam de modo convergente, formando uma depressão. 13 Parte convexa de uma dobra na qual as camadas se inclinam de maneira divergente, a partir de um eixo. Hydros EP518.RE.JR201 51 Em relação aos elementos de suporte derivados das rochas desse grupo, verifica-se uma associação entre as rochas metamórficas correlatas e o tipo de solo encontrado em sua área de ocorrência. Sobretudo quando se avalia a existência de minério de ferro nessa unidade, percebem-se as possíveis contribuições desse elemento na composição dos Latossolos Vermelho-Amarelo, encontrados no grupo em questão, que se encontram ao longo da bacia do rio Jari, em corpos alongados na direção NW-SE, através de faixas dispostas ao norte, ao centro e ao sul. Em relação aos elementos de cobertura, o forte controle estrutural exercido por esse grupo tem inferência direta sobre as formas do relevo, como, por exemplo, no perfil dos vales, extremamente aprofundados e que ajudam a constituir os Planaltos Residuais do Amapá. Por outro lado, a cobertura vegetal encontrada nessa região, constituída por Floresta Ombrófila Densa Aluvial de Dossel Emergente e Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme, ambas de grande porte, podem estar associadas ao substrato pedológico permitido pelos Latossolos Vermelho-Amarelo, extremamente porosos, bem drenados e ricos em bases trocáveis. Por fim, em relação aos bens minerais provenientes deste grupo, citam-se os garimpos de ouro presentes no trecho superior do rio Jari, que devem ser atribuídos às especificidades geológicas do Grupo Vila Nova. f) Grupo Ipitinga Constituído por rochas metassedimentares de origem vulcano-sedimentar, o Grupo Ipitinga era anteriormente atribuído ao Grupo Vila Nova, sendo posteriormente desmembrado. Esse grupo compõe as rochas da serra de mesmo nome e possui idade proterozóica (de 1 bilhão a 2,5 bilhões de anos atrás). As principais litologias desse grupo são xistos máficos e ultramáficos, ocorrendo ainda quartzitos, xistos pelitíticos e formações ferríferas bandadas. Estas rochas são mineralizadas em Au, Cu, Sn, Fe, presentes em clorita-xistos e sulfetos diversos, como pirrotita-piritacalcopirita, além de esfarelita, galena e molibdenita. Quando se atenta para os componentes de suporte e cobertura dos ambientes derivados desse grupo, verifica-se que o Grupo Ipitinga ocorre nas proximidades do rio de mesmo nome e também nas proximidades do igarapé Caracaru, representando manchas de Latossolos Vermelho-Amarelo e Argissolos Vermelho-Amarelo. Os minerais máficos e a presença de ferro talvez expliquem a coloração dos solos encontrados nesse grupo, como também o grau de desenvolvimento, elevado para os dois tipos, em função da fácil dissolução do ferro na presença de água. Para os aspectos dos elementos de cobertura, as litologias desse grupo permitem notabilizar um controle estrutural bastante nítido, ou seja, existem alguns sistemas de falhas alinhados na direção NW-SE, que acabam por condicionar a disposição de algumas serras na mesma direção. Em relação à cobertura vegetal, verifica-se recobrimento por Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme, de grande porte e possivelmente beneficiada pelos fatores edáficos permitidos pelos elementos de suporte da paisagem. Hydros EP518.RE.JR201 g) 52 Alaskito Urucuputá Os Alaskitos são rochas granitóides caracterizados pela ausência de minerais máficos, fazendo com que a rocha apresente coloração clara, geralmente rósea. Estes granitóides apresentam idades paleoproterozóicas (2,5 bilhões de anos atrás) e eram anteriormente atribuídos ao Complexo Guianense. Cita-se também como característica dessas rochas um intenso processo de deformação responsável por gerar estruturas no sentido NW-SE. Estas rochas afloram em corpos alongados segundo a estruturação regional, ocorrendo principalmente em uma extensa faixa com cerca de 15 km de largura, que atravessa o médioalto curso do rio Jari. Do ponto de vista dos ambientes formados por essas rochas, menciona-se o Latossolo Vermelho-Amarelo predominantemente distrófico como solo derivado de tal associação, cuja característica química é herdada da rocha parental (granitóides), de caráter bastante ácido. O suporte propiciado por esses granitóides e os Latossolos Vermelho-Amarelo da região permitem compreender a posição ocupada pelos Planaltos Residuais do Amapá, morfoescultura que se sobrepõe às rochas mencionadas, assim como a direção NW-SE tomada por essa unidade na área em questão, sendo resultado, portanto, do controle estrutural exercido por essas rochas granitóides. Os granitóides por serem rochas mais resistentes ao intemperismo comportam-se como relictos na paisagem, constituindo-se na unidade morfoescultural mencionada. Com relação à cobertura vegetal, a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente ocupa os setores mais elevados, justamente constituídos pelas rochas em questão. h) Granito Waiãpi Este granito é relacionado a episódios pós-orogênicos gerados no auge da deformação, magmatismo e metamorfismo do Ciclo Transamazônico (1,9 a 2,1 bilhões de anos atrás), responsável pela geração da maioria das rochas pré-cambrianas da bacia do rio Jari. As rochas dessa unidade são representadas por granitos do tipo A, de textura maciça. O Granito Waiãpi ocorre em pequenos corpos circulares presentes nas cabeceiras do rio Iratapuru, no médio curso Mapari e em corpos intrusivos de maior expressão situados no médio curso do rio Jari. Em relação aos ambientes derivados desses granitos, nota-se uma relação bastante forte entre os elementos de suporte e cobertura, sobretudo quando se pensa na relação entre rochas e relevo. Os solos originados dos granitos são os Latossolos Vermelho-Amarelo, porém quando se verificam as unidades morfoesculturais da área em questão, os Planaltos Residuais do Amapá correspondem à manifestação topográfica e morfológica do granito Waiãpi. Por outro lado, verifica-se também a ação da litologia mencionada em relação à morfologia dos canais fluviais, sobretudo quando se atenta para o fato das cachoeiras existentes no médio curso do rio Mapari terem como substrato esse granito, exatamente onde se marca a passagem de um trecho de baixa declividade para um de alta, situado no alto curso rio, onde se encontra a unidade morfoescultural Colinas do Amapá. Com relação à cobertura vegetal que ocupa a unidade litológica em questão, verifica-se a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, que ocorre nos setores mais íngremes das vertentes representadas pelas Colinas do Amapá. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.1.1.2 53 Compartimento da Bacia Sedimentar Paleozóica Representa uma bacia sedimentar tipo sinéclise constituída por rochas sedimentares, principalmente arenitos siltitos e folhelhos além de pequeno magmatismo básico. Estas rochas são dispostas em camadas em um arranjo caracterizado pela disposição das unidades estratigráficas na forma de faixas com direção aproximada leste-oeste, com leve mergulho em direção a sul. a) Grupo Trombetas A unidade foi definida primeiramente como Formação Trombetas, denominação esta adotada no Projeto RADAMBRASIL (1974). Segundo este trabalho, a unidade assenta-se em discordância erosiva sobre as rochas do Complexo Guianense e tem idade correspondente ao Ordoviciano Superior (aproximadamente 460 milhões de anos atrás), alcançando até o Siluriano Inferior (aproximadamente 443 milhões de anos atrás) a Médio (428 milhões de anos atrás), sendo constituída principalmente por arenitos, diamictitos, folhelhos e siltitos. Posteriormente a unidade foi redefinida como Grupo Trombetas e as suas subdivisões promovidas ao status de Formação, conforme exposto a seguir: - Formação Atuás-Mirim – unidade constituinte da base do Grupo Trombetas. Apresenta distribuição geográfica restrita, não aflorando na superfície, com ocorrência somente em algumas sondagens e poços profundos. É constituído por arenitos finos, razoavelmente silicificados. - Formação Nhamundá – unidade intermediária inferior. Encontra-se geralmente confinada em sub-superfície, com apenas alguns afloramentos situados a oeste da área estudada. A unidade é constituída por arenitos finos a médios, bem selecionados, com cimento silicoso e poucas intercalações de folhelhos. - Formação Pitanga – unidade intermediária superior que corre em todo o flanco (lado) norte da bacia sedimentar, com espessuras entre 45 e 65 m, constituindo a camada que faz contato com as rochas do Grupo Uatumã, na região do rio Trombetas. As principais litologias são folhelhos, siltitos e arenitos. - Membro Manacapuru – unidade constituinte do topo do Grupo Trombetas. É formada por arenitos finos a médios, laminados, por vezes micáceos, com intercalações de siltitos micáceos laminados. Quando se atenta para os elementos de suporte e cobertura dos ambientes derivados desse grupo, verifica-se uma associação entre as rochas metamórficas mencionadas com os Latossolos Vermelho-Amarelo da região e a unidade morfoescultural correspondente, que é a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. Nessa associação, os solos encontrados guardam uma relação genética direta com o relevo, pois em áreas planas constituídas de rochas porosas tende a se formar solos mais profundos. A cobertura de Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme provavelmente tem seu porte influenciado pelas propriedades químicas e físicas dos solos que lhe servem de substrato. Hydros EP518.RE.JR201 b) 54 Formação Ererê A Formação Ererê localiza-se na porção sul da bacia do rio Jari, em uma faixa situada entre o Grupo Curuá e a Formação Maicuru, numa área anteriormente mapeada pelo Projeto RADAMBRASIL (1974), estando esta situada na base do Grupo Curuá. Essa formação ocorre também na porção leste do rio Trombetas, ajudando a constituir o substrato da serra de mesmo nome. As principais litologias encontradas nessa formação são os siltitos micáceos, do tipo fossilífero e coloração cinza-esverdeada, intercalados com arenitos finos, argilosos e laminados, de idade paleozóica (aproximadamente 400 milhões de anos atrás). De forma geral, esta unidade estratigráfica encontra-se sotoposta aos folhelhos da Formação Curuá, em contato gradacional (gradativo) ou abrupto, e sobreposta concordantemente em contado gradacional com os arenitos da Formação Maecuru. Estes contatos gradacionais aliados à pequena extensão das áreas de afloramento tornam bastantes difíceis a identificação em campo, a ponto de, no Projeto RADAMBRASIL, não ter sido amostrada esta unidade e o Grupo Urupadi, ao qual pertence, ter sido mapeado de forma indivisa. No mapa do banco de dados da Amazônia Legal, a unidade foi individualizada, sendo representada em uma faixa de 5 a 10 km de largura, sustentando a face sul da Serra de Maracanaquara. Em relação aos ambientes derivados dessa formação, nota-se que as rochas oriundas desse grupo ajudam a constituir solos profundos e porosos (Latossolos Amarelos e VermelhoAmarelo e Argissolos Vermelho-Amarelo), guardando, portanto, relação com o material parental das rochas sedimentares dessa formação. Estes elementos de suporte estão relacionados aos elementos de cobertura traduzidos pela unidade morfoescultural do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas e pela cobertura vegetal feita por Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, plantações de eucalipto e Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme. As formações vegetais nativas, por serem naturalmente fechadas, possivelmente são beneficiadas pelos fatores edáficos resultantes dos argissolos e latossolos que lhe servem de substrato. Já as plantações de eucalipto possivelmente se aproveitam da topografia de topos planos possibilitada pela unidade morfoescultural mencionada. Por fim, em relação a esta unidade morfoescultural, as rochas que lhe servem de substrato são facilmente atacadas pelo intemperismo, o que resulta no perfil mais suavizado encontrado nesse planalto, com exibição de topos planos. c) Formação Maecuru Ocorre em uma faixa correspondendo à área mapeada pelo Projeto RADAMBRASIL (1974) como o pacote superior do Grupo Trombetas, posteriormente reinterpretada como pertencente à Formação Maecuru pelo IBGE (2004). As rochas dessa formação assentam-se discordantemente sobre os arenitos do Grupo Trombetas e apresentam uma distribuição geográfica mais restrita que a unidade anterior, sendo encontradas na área de estudo pelos seus membros Jatapú e Lontra, que representam, respectivamente, as camadas inferiores e superiores. Como litologias principais, citam-se os arenitos finos a muito finos, com cimento predominantemente silicoso, podendo ocorrer arenitos com cimento ferruginoso, ambos de idade paleozóica (aproximadamente 400 milhões de anos atrás). Essas rochas são Hydros EP518.RE.JR201 55 frequentemente micáceas e podem apresentar matriz argilosa. A Formação foi posteriormente subdivida nos membros Lontra e Jatapú, o primeiro constituído por arenitos e conglomerados e o segundo por arenitos e siltitos. Do ponto de vista dos ambientes derivados dessa formação, nota-se que os solos derivados são Latossolos Amarelos e Latossolos Vermelho-Escuro, mantendo, portanto, relação direta com seu material parental, cuja coloração pode ser atribuída aos minerais escuros. Em relação aos elementos de cobertura, verifica-se, além da cobertura do solo, a unidade morfoescultural do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas. Os solos encontrados correspondem aos níveis mais elevados do planalto em questão, ajudando a configurar uma morfologia de topos planos. Com relação à cobertura do solo, encontram-se nessa área plantações de eucalipto, provavelmente instaladas em detrimento da topografia plana permitida pelo planalto mencionado, além das características edáficas propiciadas pelos latossolos da área. d) Grupo Curuá O Grupo Curuá, situado na porção sul da bacia do rio Jari, apresenta contato superior discordante com as Formações Alter do Chão e Ererê, respectivamente de idade cretácea (aproximadamente 145 milhões de anos atrás) e devoniana inferior (aproximadamente 416 milhões de anos atrás). As litologias desse grupo compreendem folhelhos cinzas e pretos, apresentando lâminas. São ricos em mica e apresentam-se rijos a duros, sendo intercalados com finos leitos de arenito fino e siltitos argilosos moles. Essas rochas têm idade paleozóica (aproximadamente 400 milhões de anos atrás). Este grupo ainda engloba três Formações denominadas: Barreirinhas, constituída por folhelhos cinza-escuros, laminados, com raras intercalações de arenitos muito finos e micáceos; Formação Curiri, composta por folhelhos sílticos, cinzentos, laminados, micáceos, e; Formação Oriximiná, que é constituída por arenitos brancos e cinzentos, finos a médios, piritosos, argilosos, mal selecionados, com intercalações de diamictitos. Em relação aos ambientes derivados desse grupo, quando se analisam os elementos de suporte, percebe-se que as rochas supracitadas acabam por originar solos profundos e bem drenados, porosos a medianamente porosos, representados pelos Latossolos Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelo e Argissolos Vermelho-Amarelo. A coloração com tonalidades mais fortes deve-se, sobretudo, à constituição mineralógica desse grupo, rica em minerais escuros. Por outro lado, quando se tem em mente os elementos de cobertura dos ambientes derivados do Grupo Curuá, nota-se que a unidade morfoescultural compreendida pela área em questão (Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas) apresenta altitudes entre 100 e 150 m e eventualmente superiores a 550 m, possuindo topos planos e representando um bordo erosivo de bacia sedimentar. Essa característica é justificada pela natureza das rochas e dos solos, muito propensos à erosão e ao intemperismo. Do ponto de vista da cobertura vegetal, a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme tem seu porte e densidade possivelmente explicados por fatores edáficos oriundos das características físicas e químicas dos solos que lhe servem de suporte. Hydros EP518.RE.JR201 e) 56 Diabásio Penatecaua O Diabásio Penatecaua possui idade triássica (250 milhões de anos atrás) e corresponde a numerosas intrusões sob a forma de diques14 e sills15 de idade jurássica (aproximadamente 200 milhões de anos atrás) à cretácea (mais ou menos 145 milhões de anos atrás), tendo sido obtidas datações geocronológicas entre 134 e 175 milhões de anos para essa unidade. Essas rochas de caráter intrusivo hipabissal (ver nota nº 16) foram mapeadas em pontos esparsos no domínio da bacia sedimentar paleozóica do Amazonas. Os diabásios têm granulações variadas e possuem textura subofítica (ver nota nº15), às vezes micrográfica16, revelada pelo intercrescimento de quartzo e feldspatos alcalinos. A composição mineralógica é caracterizada pela presença de plagioclásio (andesina à labradorita), com cristais bastante desenvolvidos, subédricos17, localmente zonados. Os piroxênios também mostram cristais bem desenvolvidos, são geralmente subédricos, frequentemente geminados, e são constituídos predominantemente por pigeonita e, em menor grau, augita. Apresentam-se muitas vezes alterados para uralita, hornblenda, biotita e clorita, às vezes liberando óxido de ferro que reveste o grão mineral neoformado. O intercrescimento quartzo-feldspático é comum, variando desde pequenas porcentagens até ocuparem 35 % da composição total da rocha, quando ela adquire características mais ácidas, aproximando-se de uma composição granodiorítica. Os minerais acessórios, que ocorrem em proporções de até 3 % nos diabásios, são constituídos por apatita, sericita, clorita, além de saussurita e argilas, como produto de alteração, e raramente biotita, que advém da transformação da hornblenda. Os minerais opacos (magnetita e ilmenita) chegam a ocorrer em proporções de até 5 % na composição dos diabásios Penatecaua. Quando se analisam os ambientes derivados dessa rocha, verifica-se que, como elemento de suporte, são gerados Latossolos Vermelho-Amarelo, solos esses que têm relação direta com seu material parental, sobretudo quando se verifica sua coloração, oriunda dos óxidos e hidróxidos de ferro resultantes da intemperização dos diabásios. Em relação aos elementos de cobertura, verifica-se como unidade morfoescultural associada à área do Diabásio Penatecaua o Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, com seus topos planos e altitudes modestas, e que refletem, portanto, o forte intemperismo atuante em rochas magmáticas como o diabásio, facilitado em muito pelo sistema de diáclases existente, por onde a água percola e inicia o seu trabalho de desgaste. A cobertura vegetal é constituída por Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, com indivíduos de grande porte e em grande densidade, características essas possivelmente explicadas pelas propriedades físicas e químicas dos latossolos que servem de substrato para esse tipo de formação vegetal. 14 Injeção de magma na crosta terrestre de maneira perpendicular ou oblíqua aos estratos Injeção de magma na crosta terrestre de maneira mais ou menos horizontal. 16 Para alguns autores é sinônimo de textura granofírica, que se caracteriza por possuir intercrescimento simultâneo de quartzo e feldspato potássico dentro da massa rochosa. 17 Cristal que apresenta faces de crescimento que lhe são típicas somente em parte da superfície externa. 15 Hydros EP518.RE.JR201 4.1.1.1.3 57 Compartimento de Rochas Sedimentares Semiconsolidadas e Depósitos Recentes Representam sedimentos e rochas sedimentares semiconsolidadas representadas pelos arenitos da Formação Alter do Chão e do Grupo Barreiras que sustentam o Planalto Uatumã-Jari e os depósitos fluviais recentes, além das coberturas lateríticas terciárias e quaternárias a) Formação Alter do Chão Os Sedimentos da Formação Alter do Chão foram depositados durante o Cretáceo Superior (aproximadamente 100 milhões de anos atrás), e constituem a maior parte do substrato geológico do baixo curso do rio Jari. A unidade é constituída por arenitos finos a médios, siltitos e argilitos caoliníticos, além de horizontes de conglomerados e arenitos grosseiros. Essas rochas possuem ocasionalmente estratificação cruzada e em geral constituem sedimentos ou rochas sedimentares mal consolidadas. Esta unidade engloba os sedimentos anteriormente atribuídos ao Grupo Barreiras pelo Projeto RADAMBRASIL (1974), correlacionada à Formação Manaus, nomenclaturas estas preteridas neste mapeamento. Do ponto de vista dos ambientes derivados dessa formação, verifica-se que, dentro dos componentes de suporte da paisagem, as rochas sedimentares mencionadas formam os Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelo, trazendo, dessa forma, relação direta com o material parental, que lhe transmite características como porosidade, cor e textura. Quando se analisam os elementos de cobertura, a referida formação fica situada entre as unidades morfoesculturais do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas e do Planalto de Uatumã-Jari, que representam superfícies bastante desgastadas pelos processos erosivos, resultado do desgaste atuante sobre os arenitos, rochas estas bastante friáveis. Quanto à cobertura vegetal, observa-se a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas com Dossel Emergente, de porte avantajado, e cujas características fisionômicas podem ser atribuídas a fatores edáficos possibilitados pelos latossolos, como já relatado anteriormente. b) Cobertura Detrito-Laterítica São datadas de aproximadamente 1 milhão de anos atrás e representam episódios de sedimentação continental, na forma de depósitos de vertentes, transportados por erosão e cimentados por ferro solúvel. As principais litologias encontradas nessa cobertura são conglomerados oligomíticos18 e lateritas, representando dessa forma, de maneira associada, episódios de sedimentação continental do tipo em leques aluviais, que constituem depósitos de barras conglomeráticas (cascalheiras), com concreções e nódulos. Esse tipo de cobertura detrítica está localizado na porção oeste e noroeste da bacia do rio Jari, entre os rios Ipitinga e Jari. Os materiais encontrados nessa cobertura são do tipo eluvionar, ocorrendo lateritas e colúvio. 18 Têm-se um conglomerado oligomítico quando todos os fragmentos de rocha que formam este conglomerado são formados por apenas um tipo de rocha. Hydros EP518.RE.JR201 58 Em relação aos ambientes derivados dessa cobertura, quando analisados em relação aos elementos de suporte, verifica-se que os Latossolos Vermelho-Amarelo aparecem como derivados da referida cobertura. A presença de ferro solúvel nessa unidade ajuda a compreender a coloração atingida pelos latossolos. Por outro lado, como elementos de cobertura citam-se o Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas e a Floresta Ombrófila Aberta Submontana com Cipós. Estes representam grande correlação com os elementos de suporte, pois o planalto residual é na paisagem o elemento mais resistente à erosão, e pelo fato de existirem elementos cimentados na forma de crostas, pode-se de certa forma atribuir essa característica como um dos fatores que podem explicar o porte mais aberto dessa formação florestal. c) Grupo Barreiras O Grupo Barreiras é constituído por variações sedimentares que vão de argilitos a conglomerados. As camadas apresentam-se ora maciças, sem qualquer sinal de estratificação, ora bem laminadas. De maneira geral, contudo, predominam arenitos finos e siltitos bem estratificados, nas cores vermelha, amarela, branca e roxa, com camadas intercaladas de arenito grosso e conglomerático, geralmente com estratificação cruzada. Podem ocorrer lentes e camadas argilosas-bauxíticas. Na região de Porto Sabão aflora uma canga laterítica concrecionária19 com grãos pisolíticos20, às vezes brechóide21, quando engloba fragmentos de folhelhos, arenitos e outras rochas. O grupo mencionado também é constituído por argilitos siltosos, laminados, podendo ocorrer camadas de argilitos duros, compactos, cauliníticos, sendo alguns micáceos. De modo geral, o Grupo Barreiras assenta-se em discordância sobre as demais unidades litoestratigráficas mais antigas e sua idade corresponde ao terciário (aproximadamente 65 milhões de anos atrás), mais precisamente o plioceno (aproximadamente 5 milhões de anos atrás), devendo representar o produto da acumulação da correspondente superfície de pediplanação do Terciário Superior (aproximadamente 23 milhões de anos). Em relação à área da bacia do rio Jari, o Grupo Barreiras está situado na porção sul, a partir das proximidades da confluência entre os rios Jari e igarapé Caracaru. As análises dos ambientes derivados desse grupo permitem verificar, quando se analisam os elementos de suporte da paisagem, que as litologias citadas originam Neossolos Litólicos, Latossolos Amarelos e Latossolos Vermelho-Escuro. Para o primeiro tipo de solo, o material parental, situado nas porções mais elevadas e declivosas do relevo, acaba por gerar solos pouco desenvolvidos, não ocorrendo tanta influência das rochas nas características físicas e químicas do solo, estando estas mais relacionadas a fatores climáticos e topográficos. Em relação aos latossolos, verifica-se grande correlação entre as rochas sedimentares dessa formação e as características físicas como textura, cor e porosidade, tão peculiares desse tipo de solo. Por fim, quando se analisam os elementos de cobertura, tem-se como unidade de relevo para a área ocupada pelo Grupo Barreiras, o Planalto Uatumã-Jari e como cobertura 19 Rocha ferruginosa resultante da hidratação e oxidação dos minerais, sendo o ferro liberado na forma de hidróxido férrico. O silício e o óxido de magnésio são eliminados quase que completamente, resultando em um resíduo insolúvel na superfície. 20 Grãos que representam massas arredondadas com diâmetros um pouco maiores que o de uma ervilha. 21 Grãos constituídos de fragmentos angulosos com dimensão superior a 2 mm, unidos por algum tipo de cimento. Hydros EP518.RE.JR201 59 vegetal a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas com Dossel Emergente e a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, ambas de grande porte e densidade, sendo provavelmente beneficiadas pelas influências edáficas propiciadas pelos solos mencionados. d) Terraços Fluviais Holocênicos Os Terraços Fluviais Holocênicos compreendem depósitos aluvionares quaternários (aproximadamente 1,6 milhões de anos atrás), inconsolidados, com granulometria muito variada. Estendem-se pela ampla planície aluvial do rio Amazonas, como também por grandes áreas, principalmente no baixo curso do rio Jari. Na bacia hidrográfica do Jari, os aluviões não são mapeáveis em todas suas ocorrências pelo Projeto RADAMBRASIL (1974). No mapa geológico montado através do Banco de Dados da Amazônia Legal do IBGE (2004) estes depósitos ocorrem em estreitas faixas, no formato de alvéolos, junto a alguns trechos das drenagens. O trecho do baixo curso do rio Jari, já na unidade Geomorfológica da Planície Amazônica, constitui-se de sedimentos recentes, formando extensos terraços fluviais de idade holocênica (aproximadamente 11.500 anos atrás). No alto curso do rio Jari, onde este apresenta baixa declividade, os sedimentos também se fazem presentes, ocorrendo na forma de terraços dispostos em faixas de até 7 km de largura por onde o rio Jari desenvolve longos meandros. Em relação aos ambientes derivados desses terraços fluviais, observam-se como elementos de suporte, dentro da escala possibilitada pelo Mapa Pedológico da bacia do rio Jari (desenho Nº EP518.A1.JR-02-012 (Fig. 055) do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos), a ocorrência de Argissolos Vermelho-Amarelo. Esses, pelos problemas relativos à escala, não guardam correlação entre solo e seu material parental, uma vez que os solos originados em ambientes sobre influência fluvial tendem a apresentar hidromorfia. Por outro lado, quando se analisam os elementos de cobertura, verificam-se as ocorrências da morfoescultura da Planície Amazônica e da cobertura vegetal por Floresta Ombrófila Densa Aluvial de Dossel Uniforme. Esses elementos de suporte são relacionáveis, portanto, à cobertura aluvial correspondente aos domínios da planície amazônica e se beneficiam, para o caso da cobertura vegetal, dos nutrientes provenientes dos depósitos inconsolidados provenientes das cheias do rio. Por fim, quando se analisa o viés econômico possibilitado pela exploração mineral, percebese que os sedimentos encontrados nos terraços fluviais mostram-se importantes somente nas áreas cujo substrato é formado pelas rochas metamórficas do Grupo Vila Nova ou do Grupo Ipitinga, que são notadamente conhecidos pela ocorrência de ouro. Nestes depósitos, principalmente aqueles formados por sedimentos de maior calibre, como cascalhos e conglomerados, ocorre a exploração na forma de garimpo que na maioria das vezes é responsável pela destruição das margens dos rios e igarapés, além de desencadeamento de processos erosivos, assoreamento do canal das drenagens e contaminação das águas. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.1.1.4 a) 60 Demais Unidade Litoestratigráficas Complexo Jari-Guaribas Este complexo é formado por rochas metamórficas de alto grau, situando-se numa faixa no alto curso do rio Iratapuru. De acordo com o Mapa Geológico da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (Folha NA 22), esta unidade se constitui, em grande parte, no substrato geológico do alto vale do rio Jari, acima da Cachoeira do Desespero. No banco de dados do Mapa Geológico da CPRM (CPRM, 2004), essa mesma região aparece identificada como pertencente ao Complexo Tumucumaque. Embora o Complexo Jari-Guaribas apareça como uma unidade individualizada no banco de dados da Amazônia Legal (IBGE, 2004), são poucas as referências bibliográficas a este complexo. As principais litologias presentes no Complexo Jari-Guaribas são os gnaisses-charnokíticos bandados com intercalações de granulitos máficos, clinopiroxênios-mesopertita, gnaisses, gnaisses enderbíticos e charnoenderbíticos, datadas de 2.800.000 anos atrás. Em relação aos ambientes derivados das rochas que compõem o Complexo Jari-Guaribas, quando se analisam os componentes de suporte e a cobertura dos ambientes, verifica-se que as litologias citadas, de alto grau de metamorfismo, compõem um pequeno corpo, originando Latossolos Vermelho-Amarelo, solos estes altamente desenvolvidos e profundos. As rochas e solos citados servem como suporte para as colinas de formato ondulado, que constituem a unidade geomorfológica das Colinas do Amapá. Além das Colinas do Amapá, cita-se como unidade de cobertura dos ambientes originados pelo Complexo Jari-Guaribas, a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, vegetação de grande porte, cujos fatores relacionados ao grau de desenvolvimento desta vegetação estão relacionados ao tipo de solos que lhe serve de suporte. b) Complexo Ananaí O Complexo Ananaí representa uma associação de rochas metamórficas de alto grau, pertencentes ao período Neoarqueano (entre 2,58 a 2,5 bilhões de anos atrás). Como principais litologias dessa unidade citam-se os granulitos, que compõem uma pequena área situada próximo às cabeceiras do rio Carecuru. Do ponto de vista dos bens minerais, este complexo mostra-se estéril, como demonstra os dados bibliográficos e a análise dos Mapas de Ocorrências Minerais e Áreas de Garimpo. Quando se atenta para os componentes de suporte e cobertura dos ambientes derivados desse complexo, verifica-se que os granulitos, rochas constituídas principalmente por quartzo e feldspato, são próximos da composição dos granitos (rochas de caráter ácido), e por isso, eventualmente podem transferir esse atributo para os solos formados a partir destes. Como solos associados à área ocupada pelo Complexo Ananaí citam-se os Argissolos Vermelho-Amarelo Álico, que aliado aos granulitos, fornecem o suporte para a cobertura representada por relevos ondulados a fortemente ondulados, constituintes das Colinas do Amapá e da Floresta Ombrófila Densa Submontana Uniforme e da Floresta Ombrófila Aberta com Cipós. Hydros EP518.RE.JR201 c) 61 Complexo Iratapuru As rochas do Complexo Iratapuru representam episódios de metamorfismo compreendendo depósitos (fácie) de granulitos formados por paragênese mineral, ou seja, os diversos minerais que compõem as rochas se formaram nas mesmas condições de temperatura e pressão, encontrando-se em estado de equilíbrio. As rochas deste complexo compreendem principalmente kinzigitos e demais formações ferríferas bandadas, de idade neoarqueana (2.800.000 anos atrás). A área de ocorrência do Complexo Iratapuru, na bacia hidrográfica do rio Jari, compreende um pequeno corpo alongado situado entre os rios Iratapuru e Noucuru. Quando se atenta para os ambientes derivados das rochas desse grupo, recortando a análise para os elementos de suporte da paisagem, verifica-se que os episódios de metamorfismo regional, que compreendem a existência de formações ferríferas, têm grande importância para a gênese dos solos da área, uma vez que a presença de Latossolos Vermelho-Amarelo demonstra a correlação existente entre os níveis de ferro das rochas e deste tipo de solo, que lhe herda essa propriedade. Em relação às unidades de relevo, já inserida como elemento de cobertura da paisagem, percebe-se que a área compreendida pelo Complexo Iratapuru situa-se na unidade morfoestrutural da Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. Pode-se estabelecer uma relação entre essa unidade geomorfológica e o tipo de rocha que lhe serve de morfoescultura, uma vez que o ferro torna-se um elemento extremamente solúvel na presença de água, facilitando os processos de intemperismo e erosão, que contribuem para o rebaixamento das formas de relevo. Quando se atenta para a cobertura vegetal, a área em questão apresenta Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, que pode se beneficiar das propriedades químicas e físicas permitidas pelos latossolos para a recomposição de indivíduos vegetais e manutenção do grande porte da vegetação. d) Grupo Lourenço Este grupo está situado na porção central do estado do Amapá e representa uma associação de rochas metamórficas de origem vulcano-sedimentar com fácies (depósitos) de anfibolitos, datados do período Rhyaciano da era Proterozóica (2,05 a 2,4 bilhões de anos atrás). As principais litologias encontradas nesse grupo são anfibolitos, gnaisses, metacherts, biotita, xisto, muscovita-biotita-xisto, ocorrendo ainda a presença de formação ferrífera bandada, metatufos e metacórseos. Na base de dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 2004), este grupo aparece nomeado como grupo Serra Lombarda, sendo representado na forma de dois pequenos corpos com cerca de 200 km2. Do ponto de vista dos componentes paisagísticos que compõem os ambientes derivados desse grupo, verifica-se que a natureza vulcano-sedimentar das rochas do Grupo Lourenço se reflete nos tipos de solos correspondentes à sua área de ocorrência. Os Latossolos VermelhoAmarelo se beneficiaram de seu substrato rico em ferro, do qual herdou aspectos físicoquímicos, como coloração, porosidade e profundidade elevadas. Hydros EP518.RE.JR201 62 Em relação aos elementos de cobertura, a área em questão sobrepõe-se à unidade dos Planaltos Residuais do Amapá, cuja gênese está ligada à erosão diferencial intensa, com consequente dissolução de elementos solúveis como o ferro, e permanência de litologias mais resistentes, como anfibolitos e gnaisses. Em relação à cobertura vegetal, a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme, constituída por indivíduos lenhosos de grande porte, pode ter seu grau de desenvolvimento associado ao substrato permitido pelos latossolos da região. e) Complexo Bacuri A unidade é constituída por uma série de rochas máficas e ultramáficas intrudidas no embasamento metamórfico, metamorfizadas na fácies anfibolito alto, incluindo anfibolitos, serpentinitos, tremolititos e cromititos, de idade paleoproterozóica (2,5 bilhões de anos atrás). No mapa geológico da CPRM do Brasil ao milionésimo (Folha SA-22), esta unidade não é representada e suas rochas são englobadas na unidade Fazendinha, cujas litologias principais são xistos, quartzitos e metadacitos. As ocorrências desta unidade restringem-se a um pequeno corpo semicircular situado entre os igarapés do Inferno e Carecuru, e a um outro ainda menor, presente na região das cabeceiras do igarapé Carecuruzinho. Do ponto de vista dos ambientes gerados por esse complexo, através da leitura dos elementos de suporte, verifica-se que as rochas compreendidas por esse complexo ajudam a constituir solos profundos e bem drenados (Argissolos Vermelho-Amarelo), influindo nos elementos de suporte, que para o complexo em questão são representados pelas unidades morfoesculturais dos Planaltos Residuais do Amapá e Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. A associação existente entre rochas ígneas e metamórficas ajuda a compreender o arranjo geomorfológico existente na área do Complexo Bacuri, uma vez que os elementos litológicos mais resistentes ao intemperismo acabam por permanecer na paisagem na forma de relíquias agrupadas dentro dos planaltos residuais. Por outro lado, as demais rochas metamórficas associadas foram retrabalhadas por erosão, representando formas mais rebaixadas do relevo. Em relação à cobertura vegetal, a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme acaba por ocupar as cotas mais elevadas, representadas pelos pequenos corpos graníticos do Complexo Bacuri, beneficiadas, talvez, pelo grau de desenvolvimento atingido pelos argissolos (profundidade e drenagem). As rochas desse complexo apresentam grande potencial mineral à ocorrência de jazidas de cromo e outros bens minerais relacionados às rochas de composição ultramáfica. f) Alcalinas Maraparí/Maraconaí Anteriormente associadas ao Grupo Vila Nova, essas rochas correspondem às pequenas intrusões circulares de rochas alcalinas, de idade ainda indeterminada, porém mapeadas pelo Projeto RADAMBRASIL (1974) como pertencentes ao Pré-Cambriano Superior (aproximadamente 600 milhões de anos atrás), localizadas próximas à região do rio Mapari, na porção norte da bacia do rio Jari. Algumas hipóteses relacionam essas rochas à atividade magmática mesozóica (aproximadamente 250 milhões de anos atrás), responsável pelas intrusões do Diabásio Hydros EP518.RE.JR201 63 Penatecaua. Essas rochas alcalinas são constituídas por nefelina-sienito, álcali-sienito, ambos com textura hipidiomórfica22 granular, e litchfieldito, com textura intergranular23 à subofítica24. Essas rochas possuem caráter plutônico à hipabissal25, representando uma possível diferenciação magmática em relação às rochas máficas e ultramáficas constante no banco de dados da CPRM. Do ponto de vista dos componentes paisagísticos dos ambientes derivados das rochas alcalinas maraparaí/maraconaí, verifica-se que seu caráter magmático e as intrusões a ele associadas tem relação com os Latossolos Vermelho-Amarelo encontrados na área, uma vez que o resultado da alteração dessas rochas fornece materiais com coloração avermelhada, bastante profundos e porosos. O suporte propiciado pelas rochas magmáticas associadas aos latossolos ajuda a compreender como se dispõem os elementos de cobertura existentes nessa região. Essas rochas alcalinas ajudam a constituir a unidade morfoescultural das Colinas do Amapá, resultado do abaixamento generalizado das formas de relevo oriundos do intemperismo atuante nessas rochas magmáticas ricas em ferro. A cobertura vegetal encontrada na região, constituída por Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, pode estar associada aos fatores edáficos possibilitados pela estrutura e composição química encontrada nos latossolos presentes em seu substrato. g) Suíte Intrusiva Urucu Também denominada como Suíte Intrusiva Igarapé Urucu, esta unidade aflora na região das cabeceiras do rio Carecuru, encontrando-se em contato tectônico com as rochas do Complexo Ananaí. A Suíte Intrusiva Urucu representa uma associação de rochas intrusivas formadas por Charnockitos, Granitos e Álcali-feldspato, granitos estes cuja idade mínima obtida pelo método U-Pb, segundo o banco de dados da CPRM, é 2.05 bilhões de anos (período paleoproterozóico). Quando se analisam os componentes paisagísticos que se originam das rochas intrusivas em questão, verifica-se que os solos correlatos são representados por Argissolos VermelhoAmarelo e Latossolos Vermelho-Amarelo, bastante desenvolvidos e bem drenados. Os suportes de cobertura, representado pelas unidades de relevo e cobertura vegetal demonstram uma associação entre a unidade dos Planaltos Residuais do Amapá, com suas cristas e vales aprofundados e Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente. Portanto, essa associação revela a atuação da erosão diferencial em região de rochas intrusivas, na qual os elementos de menor resistência acabam carreados pela rede de drenagem, restando na paisagem apenas os mais resistentes, que são representados pelos planaltos residuais mencionados. Por outro lado, a Floresta Ombrófila Densa Submontana 22 Textura fanerítica (grosseira, quando os cristais são visíveis a olho nu) em que parte dos minerais apresenta faces típicas em toda sua porção externa (euédricas) ou faces típicas em parte de sua superfície externa (subédrica) 23 Textura na qual o espaço entre os grãos é ocupado por um ou mais grãos de outros minerais. 24 Textura na qual as inclusões de minerais são parcialmente envolvidas pelo cristal hospedeiro. 25 Relativo às rochas magmáticas que se formam em profundidade intermediária entre as rochas intrusivas e superficiais. Hydros EP518.RE.JR201 64 mencionada ocupa os trechos mais elevados, representados justamente por esses planaltos residuais. h) Suíte Intrusiva Mapuera Esta unidade ocorre na forma de pequenos corpos intrusivos no extremo norte da bacia, representando os granitóides associados ao magmatismo do Super Grupo Uatumã. Definidos na região do rio Mapuera para designar as rochas intrusivas associadas a vulcânicas ácidas, estes granitóides são formados por um conjunto de rochas de composição alcalina a cálcio-alcalina, constituída predominantemente por granitos à biotita e hornblenda, microgranitos, quartzo-monzonitos, granofiros e mais raramente por granodiorirtos de coloração cinza, além de raríssimos corpos de monzonitos e dioritos e de rochas subvulcânicas de composição análoga. As rochas em questão possuem idade paleoproterozóica (2,5 bilhões de anos atrás). Os ambientes derivados dessas rochas permitem suporte, em relação aos tipos de solos, de Argissolos Vermelho-Amarelo, solos de caráter ácido, cuja propriedade química é herdada da rocha parental. Como elementos de cobertura, não se notam nessas rochas maiores influências da tectônica no condicionamento dos relevos, pois não são notadas direções preferenciais do sistema de falhas. Por outro lado, essas rochas ajudam a compor a unidade morfoescultural dos Planaltos Residuais do Amapá, representando, portanto, na paisagem os elementos mais resistentes à erosão. A cobertura vegetal correlata é dada pela Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, que ocupa os setores altimétricos mais elevados, representados pela unidade de relevo citada. i) Suíte Intrusiva Falsino Essa unidade corresponde a intrusões por diques de diabásio de idade triássica (aproximadamente 250 milhões de anos), relacionadas a episódios do proterozóico regional, responsável por magmatismo anorogênico26 intraplaca. Esse episódio, dessa forma, está relacionado ao evento Jari-Falsino (mesoproterozóico – aproximadamente 1,2 bilhões de anos atrás), que condicionou a existência de falhas no sentido NE-SW, responsável pelo reativamento de estruturas antigas e concentração de sulfetos mineralizados. A principal litologia dessa unidade é o diabásio, encontrado na porção norte da bacia do rio Jari, entre os rios Curapi e Cujari. Do ponto de vista dos ambientes derivados dessa suíte, nota-se que, para elementos de suporte, são relacionados para a bacia os Latossolos Vermelho-Amarelo. Esses são condizentes com a rocha parental, rica em ferro e, por tanto, responsável por sua coloração, assim como os demais atributos texturais e físicos. Como elementos de cobertura, citam-se a unidade morfoescultural das Colinas do Amapá e a Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Uniforme, que estão relacionadas aos elementos de suporte. As rochas magmáticas da região, representadas pelo diabásio, mais 26 Magmatismo desenvolvido em regiões geotectonicamente estáveis, como áreas cratônicas continentais. Hydros EP518.RE.JR201 65 resistentes ao intemperismo, acabam por se constituir nos divisores e setores mais elevados da região, de formato colinoso, enquanto a cobertura vegetal se beneficia dos fatores edáficos resultantes de seu substrato constituído por latossolos. j) Supergrupo Uatumã É constituído por rochas originadas por magmatismo anorogênico, datado de 1,8 bilhões de anos atrás, aproximadamente. Nesse tipo de evento ocorreu a fusão parcial das rochas mais antigas, datadas do período arqueano (aproximadamente 3,5 bilhões de anos). As principais rochas desse supergrupo são: granitos, riolitos, riodacitos e andesitos, encontradas na área da bacia do rio Jari na porção leste, no médio curso do rio Ipitinga. Do ponto de vista dos ambientes derivados desse supergrupo, em relação aos elementos de suporte, são encontrados Argissolos Vermelho-Amarelo, sendo estes solos desenvolvidos, medianamente porosos e bem drenados, porém apresentado características ácidas, derivadas das rochas desse supergrupo, com características granitóides. Como elementos de cobertura, têm-se a unidade morfoescultural dos Planaltos Residuais do Amapá e a cobertura vegetal por Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente, cujas ocorrências estão relacionadas às características das rochas (resistentes ao intemperismo, constituindo relíquias na forma de planaltos residuais) e dos solos (profundos, bem drenados), possibilitados, portanto, pelos elementos de suporte da paisagem. 4.1.1.2 Bens Materiais e Áreas de Pesquisa Mineral O desenvolvimento da região do rio Jari está ligado à exploração de caulim, bauxita, manganês e materiais de construção para uso nas cidades próximas à área. A região do rio Jari e de seus afluentes mostra-se bastante rica em ocorrências minerais, sendo uma área com alto número de requerimentos para pesquisa mineral e considerável ocorrência de lavras ativas. Dentre os bens minerais presentes na região citam-se: o ouro, o caulim, o ferro, o manganês, etc. O minério de ferro na região do rio Ipitinga, afluente da margem direita do rio Jari, é associado aos metassedimentos do Grupo Ipitinga, sendo produto do enriquecimento supergênico27 dos itabiritos, destacando-se como principais minerais a hematita, limonita e algumas camadas de magnetita. A hematita, associada ao ferro do tipo friável, ocorre sob forma compacta, constituindo camadas, lentes e bolsões. As ocorrências do minério de ferro lenticular oferecem alguns problemas na prospecção, pois na região o minério é capeado por espessas massas de cangas (concreções) de limonita, situadas em depressões e lagos. O minério de ferro se encontra nos flancos das estruturas dobradas e em certas áreas ocorre em serras escarpadas e aflorando ainda sob a forma de grandes blocos de até mais de 10 m de diâmetro. Relata-se que as quantidades de limonita na área do estado do Amapá podem ser consideradas inesgotáveis dadas a grande extensão das mesmas sobre as formações ferríferas. 27 Derivado da meteorização diferencial das rochas, originando minerais residuais (gemas, diamantes, etc.) ou óxidos metálicos Hydros EP518.RE.JR201 66 Em relação aos demais bens minerais encontrados na bacia do rio Jari, há descrição da ocorrência de depósitos auríferos sobre as rochas do Complexo Guianense e do Grupo Vila Nova. Na região dos rios Jari e Ipitinga, a grande maioria dos requerimentos para pesquisa mineral está relacionada ao ouro. São conhecidas ocorrências de ouro nos aluviões do rio Carecuru, afluente de margem direita do rio Jari. Também são conhecidas ocorrências de cassiterita, tantalita e columbita nos aluviões deste rio. De um modo geral ocorrem no Complexo Guianense graisens28 com cassiterita, pegmatitos com cassiterita, tantalita, columbita, berilo, ouro, veios de quartzos auríferos e caulim dos pegmatitos intemperizados. O Grupo Vila Nova e o grupo Ipitinga destacam-se pela ocorrência de ouro. Descreve-se ocorrência também de graisens de cassiterita, pegmatitos com cassiterita, tantalita, columbita e ouro, além de rochas metamórficas de caráter manganesífero (xistos manganesíferos, anfibolitos, gonditos, rodocrosita), epitamorfitos ferríferos (itabiritos, hematita compacta, hematita friável e “chapinha”) do rio Ipitinga e cromita e silicatos de níquel. Os requerimentos na região do rio Jari de área junto ao DNPM são relativos às pesquisas de ouro, cassiterita, tantalita, columbita, wolfranita, tungstênio, platina, sapropelito e cobre. Apresentam-se os títulos minerários existentes na bacia do rio Jari no desenho Nº EP518.A1.JR-08-004 (Fig. 056), intitulado “Mapa de Títulos Minerários – Planta do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 28 Minerais que sofreram graisenização, ou seja, sofreram modificações de textura, mineralogia e alterações geoquímicas em decorrência da interação de fluidos que percolaram ao longo das zonas de cisalhamento das rochas. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.2 67 ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS A região das cabeceiras do rio Jari situa-se na serra de Tumucumaque, a altitudes entre 500 e 700 m. Já sua foz encontra-se na planície do rio Amazonas a uma altitude próxima ao nível do mar. Segundo o Projeto RADAMBRASIL (1974), na bacia hidrográfica do presente estudo de inventário hidrelétrico, fazem-se presentes 6 unidades morfoestruturais e morfoesculturais, que consistem no Planalto do Uatumã-Jari, Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, Planaltos Residuais do Amapá, Colinas do Amapá, Depressão Periférica da Amazônia Setentrional e Planície Amazônica. Segue abaixo a descrição pormenorizada de cada uma das unidades constantes do Mapa Geomorfológico da bacia do rio Jari (desenho Nº EP518.A1.JR-02-014 (Fig. 054), apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos). 4.1.2.1 Colinas do Amapá Em direção à montante, já no alto curso do rio Jari, entra-se na área representada pela unidade geomorfológica denominada de Colinas do Amapá, onde o rio Jari apresenta baixa declividade, adquirindo aspecto meandrante. As formas de relevo predominantes são colinas com topo convexo, com altitudes médias entre 250 e 300 m. Neste trecho o traçado do rio Jari apresenta direção geral NW-SE, em um percurso de 320 km com desnível de apenas 40 m, gerando uma declividade média muito baixa de cerca de 0,125 m/km. Os meandros do rio Jari, nessa porção, apresentam curvas de amplitude entre 2 e 4 km e presença de terraços fluviais formados por processos de acumulação de sedimentos e terraços formados por processos erosivos. Segundo o Projeto RADAMBRASIL (1974), as formas de relevo presentes neste trecho são descritas como terraços fluviais de acumulação, presentes nos vales do rio, e em colinas, com dissecação em superfícies pediplanadas por canais geralmente curtos, numerosos e pouco aprofundados. Já próximo às cabeceiras, o traçado do rio Jari inflete para uma direção norte-sul, na região da Serra do Jari, que integra o sistema de divisores da Serra do Tumucumaque (divisa entre o Brasil e o Suriname), situada a altitudes entre 600 e 700 m. Neste trecho de aproximadamente 90 km de extensão, o rio possui alta declividade, de aproximadamente 3 m/km, mostrando-se encaixado no relevo, cujas formas predominantes são colinas e cristas ravinadas em uma área de grande densidade de drenagens e forte entalhamento. Nessa região, nota-se também relevos constituídos por colinas ravinadas e vales onde a drenagem é muito aprofundada, de densidade alta e, vertentes de alta declividade. 4.1.2.2 Planaltos Residuais do Amapá Ao norte da Depressão Periférica da Amazônia Setentrional encontra-se a área representada pelos Planaltos Residuais do Amapá, onde o rio Jari apresenta um percurso de 107 km com direção NW-SE e posteriormente N-S, com ocorrência de uma sequência de cachoeiras que se inicia com a Cachoeira do Desespero, passando em direção à jusante para as Cachoeiras Hydros EP518.RE.JR201 68 Mucuru, Apuapaí, Meripatari, Andiroba, Urucupatá e finalizando com a Cachoeira Aurucuopatari, totalizando um desnível de 95 m, o que gera uma declividade média de 0,89 m/km. Os Planaltos Residuais do Amapá abrangem as serras do Ipitinga e Iratapuru além da porção superior do médio curso do rio Jari. As formas de relevo predominantes nesta região são colinas e vales encaixados resultante de aprofundamento de drenagens e colinas ravinadas com ramificações de canais intermitentes. 4.1.2.3 Depressão Periférica da Amazônia Setentrional A Depressão Periférica da Amazônia Setentrional situa-se ao norte do Planalto da Bacia Sedimentar do Amazonas, no médio curso do rio Jari, onde o substrato geológico é formado pelas rochas do embasamento pré-cambriano. Esta área corresponde a uma faixa rebaixada por processos erosivos na periferia norte da Bacia Sedimentar do Amazonas. Ainda, é caracterizada por dissecação em colinas esculpidas, geralmente em rochas cristalinas, e por altitudes ao redor de 150 m. No entanto, existe um patamar mais elevado de colinas, com drenagens encaixadas, ocupando grandes extensões, que configuram alinhamentos de cristas na direção NW, com topos aplainados e seccionados por gargantas de superimposição. Os rios Jari e Paru apresentam vários trechos com corredeiras e cachoeiras, principalmente à montante das gargantas das serras e cristas, resultado, portanto, desses lineamentos estruturais da região. 4.1.2.4 Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas O Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas é formado por substrato geológico constituído pelas rochas sedimentares como arenitos, siltitos, folhelhos e argilitos da era paleozóica (aproximadamente 400 milhões de anos atrás). Esta unidade geomorfológica apresenta áreas de relevo mais arrasado, principalmente na sua porção sul, com altitudes entre 100 e 150 m, onde se encontra um patamar bem definido. São encontradas também áreas mais elevadas de topo plano, com altitudes que chegam até 550 m, que são representadas na área da bacia hidrográfica do rio Jari pela Serra do Maracanaquara, cujas feições são típicas de bordo erosivo de bacia sedimentar, com grande escarpa voltada para NW e talhada em arenitos com topos truncados por superfície de aplainamento. O Planalto da Bacia Sedimentar do Amazonas corresponde a uma faixa com direção aproximada ENE-WSW e largura de algumas dezenas de km, onde são expostas rochas sedimentares paleozóicas da bacia sedimentar ou sinéclise29 do Amazonas. Este planalto é representado por um conjunto de relevos tabulares e cristas, em área de retomada de erosão com drenagem incipiente. As altitudes dominantes variam entre 300 e 500 m na porção norte e entre 100 e 200 m na porção sul, sendo esse relevo representado pelo Planalto de Maracanaquara. 29 Superfície desenvolvida em plataforma continental, na forma de ampla bacia com mergulhos muito fracos e convergentes, constituída de pacotes espessos de camadas sedimentares, produzidas por lento abaulamento negativo da crosta terrestre. Hydros EP518.RE.JR201 69 Os rios Jari e Paru cortam o Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas no sentido de NW para SE, através de profundas gargantas de superimposição30 e cachoeiras, gerando uma declividade média de aproximadamente 0,78 m/km, as quais descem de uma altitude de aproximadamente 52 m para cerca de 8 m em um trecho de aproximadamente 56 km. A maior porção da área ocupada pelo planalto em questão apresenta cobertura por floresta densa. 4.1.2.5 Planalto Uatumã-Jari O Planalto Uatumã-Jari corresponde à extensa superfície de pediplanação denominada de Pediplano Pleistocênico, desenvolvido sobre os sedimentos terciários do Grupo Barreiras, onde predominam formas de relevo em colinas e morros, com altitudes chegando a 100 e 200 m. A dissecação nesta unidade resultou em formas onduladas com patamares escalonados até próximo ao rio Amazonas. Nesta região, o rio Jari apresenta baixíssima declividade, com valores em torno de 0,05 m/km. As Serras Paranaquara, Jutaí, Almeirim, Acapuzal e Areião, embora representem relevos residuais tabulares esculpidos nos sedimentos terciários do Grupo Barreiras, apresentam substrato rochoso sobre o qual se desenvolveu parte do Planalto Uatumã-Jari. Em função das descontinuidades espaciais e pequenas áreas ocupadas, estas serras acabaram por ser mapeadas dentro da unidade morfoescultural do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, que se justifica pelo fato do pediplano pleistocênico, sobre o qual se localiza o Planalto Uatumã-Jari, adentrar em um pequeno trecho dentro da área ainda rebaixada representada pelo Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas. Esta unidade morfoestrutural se estende desde áreas elevadas situadas no sul da bacia hidrográfica até a cachoeira Santo Antônio, onde se limita com o Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas. 4.1.2.6 Planície Amazônica A Planície Amazônica corresponde a uma faixa de relevo nas duas margens do Amazonas, que se alarga na região da foz, dando origem a inúmeras ilhas, dentre as quais se destaca a de Marajó. Esta unidade limita-se ao norte com o Planalto Uatuã-Jari e caracteriza-se por apresentar um emaranhado de canais recentes, paleocanais, “furos”, igarapés, paranás, meandros abandonados, lagos, num processo complexo de evolução atual do sistema fluvial. Boa parte da planície está sujeita às inundações periódicas, que permitem a deposição de sedimentos recentes em vastas áreas. Os canais marcam a orientação da sedimentação e os diques marginais são o reflexo de um dos últimos eventos de todo esse processo. Do ponto de vista ambiental, a área da Planície Amazônica apresenta diversos tipos de coberturas vegetais, como campos, formações pioneiras, vegetação herbácea sem palmeiras e 30 Processo no qual as formas ou estruturas que dele se desenvolvem não apresentam condicionantes ligados a alinhamentos tectônicos, sendo, dessa forma, um processo indicativo de movimento epirogenético. Hydros EP518.RE.JR201 70 densa cobertura de floresta aluvial, sendo esse revestimento vegetal beneficiado por fatores edáficos, resultantes da fertilidade natural de solos hidromórficos e gleissolos eutróficos, que sofrem influências do processo de cheias sazonais típica desta unidade morfoescultural. Hydros EP518.RE.JR201 71 4.1.3 ASPECTOS PEDOLÓGICOS E EDÁFICOS 4.1.3.1 Aspectos Pedológicos A bacia do rio Jari é formada por terrenos de substrato geológico variado, cujas origens estão relacionadas às rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. Uma característica marcante presente na região é o intenso processo de lixiviação (lavagem do solo pelas águas das chuvas), no qual estão submetidas as rochas do substrato e os próprios solos, gerando solos profundos de perfil bem evoluído descritos como solos envelhecidos. São descritas a seguir as características das principais unidades pedológicas presentes na bacia hidrográfica em questão, caracterizadas pelo tipo de solo predominante. 4.1.3.1.1 Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico Os Latossolos correspondem a uma subordem pertencente à Ordem Zonal, que abrange os solos formados sob influência direta do clima. Estes solos são amplamente predominantes na bacia hidrográfica do rio Jari, desenvolvendo-se sobre as rochas cristalinas, principalmente os gnaisses e granitóides do Complexo Guianense, Complexo Tumucumaque e Suíte Intrusiva Água Branca, ocorrendo desde as nascentes do rio Jari, na Serra de Tumucumaque, até a foz do rio Ipitinga. Os Latossolos Vermelho-Amarelo ocorrem sobre praticamente toda a unidade geomorfológica das Colinas do Amapá, onde se desenvolve a vegetação de Floresta Ombrófila Densa Submontana Uniforme e Emergente. Estes solos apresentam coloração vermelha, laranja, amarela ou castanha, e são porosos, profundos e possuem textura variável. São solos considerados envelhecidos e estáveis quimicamente, apresentando minerais primários pouco resistentes ausentes ou em baixa porcentagem. Os teores de óxidos, hidróxidos de ferro e alumínio são elevados, havendo pequena diferença entre os horizontes. Os latossolos são formados em regiões de clima tropical úmido, de intensa umidade e calor, e dessa forma, apresentam maior decomposição dos materiais. Nesses ambientes, os solos sofrem intensos processos de lixiviação durante a época das chuvas que “lavam” os horizontes superiores, transportando óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, expondo os horizontes intermediários. Na época da seca, a água sobe por capilaridade, a partir dos lençóis freáticos (iluviação), transportando para cima óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio que são depositados nos horizontes intermediários, onde se formam as crostas lateríticas ou ferruginosas e a bauxita. Este tipo de solo caracteriza-se pelo intenso processo de lixiviação, com empobrecimento em sílica, gerando argilas 1:1 (caulinita), e possuem perfis bem desenvolvidos, chegando a 2 m de profundidade. Apresentam pequena variação textural, são porosos e bem drenados, o que os tornam pouco suscetíveis à erosão. Em relação às características químicas, os Latossolos se destacam pela alta acidez e baixa saturação em bases, consequências estas da natureza do substrato geológico, que é constituído Hydros EP518.RE.JR201 72 pelos sedimentos terciários do Grupo Barreiras. Desta forma, os solos apresentam baixa fertilidade natural, o que torna o aproveitamento agropecuário condicionado às atividades de manejo específicas, apesar de apresentar boas condições de relevo e relativa resistência aos processos erosivos. Por fim, em relação aos seus atributos físicos, os latossolos apresentam horizonte A de espessura média, de aproximadamente 40 cm, textura arenosa à muito argilosa, consistência friável, não plástico a plástico e não pegajoso a pegajoso. A estrutura deste horizonte apresenta-se quase sempre fraca, pequena subangular e granular, podendo aparecer também maciça. O horizonte B, cuja profundidade média é superior a 150 cm, apresenta textura que pode variar de fraca-arenosa a muito argilosa. A estrutura dominante é maciça e a consistência varia de friável a firme. A plasticidade caracteriza-se de ligeiramente plástica a plástica, como também de ligeiramente pegajosa a pegajosa. Por fim, o horizonte C apresenta profundidade variável e mostra-se mais friável e com textura mais leve do que o horizonte sobrejacente. 4.1.3.1.2 Latossolo Amarelo Distrófico Esta unidade está caracterizada por possuir horizontes diagnósticos A ócrico e B óxido e um perfil profundo de baixa fertilidade natural e baixa saturação de bases. Trata-se de solos envelhecidos, ácidos a muito fortemente ácidos, de boa drenagem e permeáveis. O teor de argila no perfil pode variar bastante, o que possibilita a diferenciação de solos com textura média, nos quais o conteúdo de argila no horizonte B pode variar de 15 a 35%. Os horizontes com textura argilosa apresentam teor de argila entre 35 e 60%, já os com textura muito argilosa indicam teores de argila superiores a 60%. Em relação ao atributo cor, esses Latossolos se destacam por estarem incluídos nos matizes 10YR e 7.5YR da Tabela Münsell, com cromas e valores bastante altos no horizonte B, onde domina o amarelo. Os solos desta unidade são encontrados tanto nos platôs como nos terraços de menores cotas, havendo, neste caso, variação de textura de acordo com a sua situação topográfica e com o material de origem, podendo aparecer sedimentos arenosos, argilo-arenosos, argilosos e muito argilosos. Os de textura muito argilosa são encontrados em relevo praticamente plano e suave ondulado, situados nas cotas mais elevadas, o que corresponde às superfícies mais antigas dos platôs. Nos relevos de perfil ondulado, ocorrem os solos de textura média. Nos solos de textura argilosa, em função das características do relevo onde se encontram, é mais frequente a ocorrência de Solos Concrecionários Lateríticos, o que portanto, demonstra a existência dessas crostas associadas à classe de solo em questão. De modo geral, os Latossolos Amarelos apresentam perfil com sequência de horizontes A, B e C, com uma profundidade que alcança frequentemente mais de 200 cm. Em relação às características físicas de textura e espessura, quando se analisam os horizontes constituintes dos Latossolos Amarelos, verifica-se que no horizonte A ocorre geralmente espessura variando de 20 a 50 cm e textura variada. Neste horizonte ocorre desde areia franca até muito argilosa, condicionando assim uma variação de consistência que pode apresentar-se friável, não plástica a plástica e não pegajosa a pegajosa. A estrutura mais frequente é a fraca pequena granular, muito embora possa ocorrer a maciça e fraca pequena subangular. O horizonte B é dividido em B1, B2 e B3 e possui profundidade média superior a 150 cm. A textura pode variar de franco-arenosa a muito argilosa e a consistência apresenta variações de friável a firme e de ligeiramente plástica a muito plástica, podendo chegar a muito pegajosa. A estrutura mais comum é a maciça, podendo aparecer também a fraca pequena subangular. Hydros EP518.RE.JR201 73 Por fim, o horizonte C, de profundidade desconhecida, apresenta-se geralmente mais leve que o anterior e com coloração aproximadamente nos mesmos cromas e valores já descritos. 4.1.3.1.3 Latossolo Vermelho Escuro Localizada sobre o Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, essa categoria de solo serve de substrato para a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas. Esses solos se originaram de materiais ricos em minerais ferro-magnesianos, desenvolvendo-se também sobre outros tipos de materiais, menos ricos em ferro e magnésio, e que, portanto, promovem diferenciação na coloração dos horizontes, assim como variação dos teores de óxido de ferro. De modo geral, os Latossolos Vermelho-Escuro possuem uma espessura média em torno de 150 cm. Em relação aos atributos físicos, verifica-se estrutura subangular bem desenvolvida encontrada principalmente no horizonte B. Quando o solo acha-se seco, este tipo de estrutura torna-se ainda mais perceptível, sendo considerada uma das características mais comuns que diferenciam esta unidade. Quando se verificam os demais atributos físicos dos horizontes constituintes dos Latossolos Vermelho-Escuro, percebe-se, para o horizonte B textural, a presença de cerosidade bastante desenvolvida, revestindo os agregados desse horizonte. Pelo fato de possuírem estruturas estáveis, os horizontes constituintes do solo em questão possuem pouca diferenciação. Quimicamente, esses solos são abundantes em manganês e minerais magnéticos, fato comprovado pela efervescência de amostras ao H2O3. Dessa forma, constata-se que os Latossolos Vermelho-Escuro são formados a partir de rochas básicas e ultra-básicas. De modo geral, ainda na análise dos atributos físicos, esses solos apresentam textura argilosa, perfis com desenvolvimento de horizontes A, B e C, saturação de bases bastante elevada e boa fertilidade natural. O horizonte A, subdividido em Ap ou A1 e A3, possui espessura de aproximadamente 30 cm; coloração que varia de bruno-avermelhada escura e vermelha-escura acinzentada, tendo valores e cromas baixos, entre 3 e 4; textura pertencente à classe franco-argilo-arenosa ou argilosa; estrutura moderada média granular, sendo que o horizonte A3 pode apresentar estrutura em blocos subangulares; consistência, quando seca, que varia de ligeiramente duro a duro, e quando úmida, varia de friável a firme e plástica a pegajosa; a transição para o horizonte B geralmente é plana e gradual, ou em alguns casos clara. O horizonte B, com espessura variando de 90 a 130 cm, normalmente é subdividido em B1, B2 e B3. Este apresenta coloração entre vermelha-amarelada e vermelha-escura-acinzentada, predominando tonalidades mais avermelhadas. A textura é argilosa e a estrutura moderada, variando de pequena a média em blocos subangulares. É notável a presença de cerosidade comum entre as superfícies estruturais, na qual se observa a consistência do solo variando de dura a muito dura e friável a firme quando está seco, e quando úmido, de plástico a pegajoso. A transição para o horizonte C ocorre de forma gradual ou difusa. O horizonte C é geralmente pouco espesso, variando de 30 a 50 cm e com coloração semelhante ao horizonte B, porém apresentando mosqueados provenientes do material originário. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.3.1.4 74 Argissolo Vermelho Amarelo O segundo tipo de solo mais comum, na bacia hidrográfica do rio Jari, é o Argissolo Vermelho-Amarelo. Este, localizado na margem esquerda do rio Jari e nas áreas entre os rios Ipitinga e Carecuru, é formado por solos ácidos bem desenvolvidos, que ocorrem sobre as rochas cristalinas da Suíte Intrusiva Carecuru e do Complexo Guianense, sobre as rochas da Bacia Sedimentar Paleozóica do Amazonas. Os Argissolos Vermelhos Amarelos são solos ácidos, bem desenvolvidos, que possuem um horizonte A fraco (ócrico) e um horizonte B argílico. O horizonte A1 está assentado sobre o horizonte A2, que é ligeiramente descolorido e muito pouco desenvolvido, ou sobre um horizonte A3, o qual, por sua vez, assenta-se sobre o horizonte B brunado ou vermelhoamarelado, que possui textura relativamente argilosa. Na sua maioria, os Argissolos Vermelho-Amarelo são solos de fertilidade baixa e com textura variando entre muito argilosa, argilosa e média. Estes apresentam sequências de horizontes do tipo A, B e C, cuja espessura não excede a 200 cm, existindo pronunciada diferenciação entre o A e o B. Em menores proporções, são encontrados também solos de fertilidade média e alta. Entre as características utilizadas para a sua classificação podem ser citadas: a) Diferença textural marcante entre o horizonte A e B; b) Presença de A2 pouco evoluído; c) Transição clara e gradual entre os horizontes A e B; d) Horizonte B estruturado; e) Presença de cerosidade no horizonte B; f) Argila de baixa capacidade de troca. Na área da bacia do rio Jari, a despeito das características mais comuns apresentadas pelos Argissolos Vermelho-Amarelo, podem ocorrer outras características, como a dos Argissolos Vermelho-Amarelo Plíntico e dos Argissolos Vermelho-Amarelo Eutrófico. Como característica física mais marcante desse tipo de solo cita-se sua relativa porosidade, que permite que seja considerado bem drenado. Quimicamente são solos ácidos e essas características somadas tornam os argissolos em questão suscetíveis à erosão laminar ligeira a moderada. Em relação às demais características, quando analisadas pelos horizontes constituintes dos Argissolos Vermelho-Amarelo, notam-se no horizonte A uma espessura variável entre 20 a 30 cm; cores de bruno acinzentado muito escuro a bruno-avermelhado; textura entre areia franca e franco-argilo-arenoso; estrutura variando de grão simples a fraca pequena granular e subangular; consistência úmida entre friável e firme, como também não pegajosa a pegajosa para o solo molhado; transição plana ou ondulada e gradual ou clara para o horizonte B. Já em relação ao horizonte B, nota-se uma espessura variando de 80 a 150 cm; a textura varia de franco-argilosa, arenosa a muito argilosa; a estrutura é comumente fraca e moderada, como também de pequena a média, em blocos subangulares; para a consistência, constata-se que a úmida varia de friável a firme, sendo que este mesmo atributo, quando verificado na condição molhada, varia de ligeiramente plástica a plástica e de ligeiramente pegajosa a pegajosa. Aparecem também neste horizonte cerosidade fraca a moderada recobrindo as unidades estruturais. Hydros EP518.RE.JR201 75 Os solos desta unidade são encontrados nas superfícies de aplainamento dissecadas em colinas com entalhe bastante pronunciado dos vales e nas superfícies dissecadas em colinas de topo aplainado. Os argissolos ocorrem em manchas isoladas ao norte, leste, sul e sudoeste da bacia e são provenientes principalmente da decomposição de migmatitos, granitos e gnaisses, datados do Pré-Cambriano e de sedimentos do Grupo Barreiras e Alter do Chão. A cobertura vegetal é constituída por Floresta Ombrófila Densa Emergente na porção norte da área de ocorrência destes solos, onde o substrato é formado pelo Complexo Tumucumaque e Floresta Ombrófila Densa Uniforme na porção sul da área de ocorrência. Os argissolos basicamente se desenvolvem sobre a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional e sobre as Colinas do Amapá, onde a cobertura vegetal correlata é dada pela Floresta Ombrófila Densa Submontana de Dossel Emergente. 4.1.3.1.5 Gleissolo (Solos Hidromórficos Gleyzados) Esta unidade é constituída por solos desenvolvidos sobre sedimentos relativamente recentes, moderadamente ácidos, podendo apresentar-se neutros e alcalinos, de textura argilosa e, às vezes, com um considerável conteúdo de silte. As condições hidromórficas a que estão sujeitos estes solos condicionam o aparecimento, no perfil, de mosqueados bruno-amarelado, bruno forte ou mesmo vermelho, sobre uma matriz cinzenta. O horizonte superficial é de matéria orgânica e está sobrejacente ao horizonte prismático, ou em blocos subangulares ou maciços. A saturação e o conteúdo de bases trocáveis apresentam-se variando desde médio a elevado e estão relacionados à natureza e à idade dos sedimentos sobre os quais estão desenvolvidos. Nesse aspecto, a qualidade da água que satura o meio onde são desenvolvidos esses solos é que determina a capacidade de troca catiônica, em detrimento da natureza dos íons presentes. Em solos com alta capacidade de troca catiônica, saturação de bases e elevado teor de silte, é comum a predominância de argila silicatada expansível do tipo 2:1, sobretudo em regiões como planícies de inundação e nas regiões costeiras baixas. A variação de características químicas deve-se à saturação com água proveniente de área de rochas paleozóicas, ricas em HCO3- e Ca++ e, possivelmente, pela contribuição de sais solúveis presentes na água do mar, nas regiões costeiras baixas. Os solos desta unidade são encontrados nas calhas de drenagem de pequenos e médios cursos d’ água e principalmente na planície flúvio-marinha. A vegetação dominante nas áreas de ocorrência destes solos é constituída pelas Formações Pioneiras com Influência Fluvial, enquanto que nos terraços temporariamente inundados predomina a Floresta Ombrófila Densa Aluvial Uniforme. Estas formações vegetais se desenvolvem principalmente na planície amazônica, ao sul da bacia do rio Jari. 4.1.3.1.6 Neossolos Litólicos A presente unidade é constituída por solos onde o horizonte A repousa diretamente ou não sobre rocha R com perfil pouco evoluído, bastante raso. Devido a essas condições, esses solos apresentam textura e fertilidade variável, dependendo do material parental. Os Neossolos Litólicos em questão ocorrem principalmente na unidade morfoestrutural do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, cujo substrato geológico é formado Hydros EP518.RE.JR201 76 principalmente pelos arenitos, siltitos e argilitos das Formações Curuá, Maecuru e Ererê. Na área da bacia do rio Jari podem ser encontrados solos litólicos derivados de arenito, quartzitos, rochas eruptivas básicas, filitos e xistos. De forma geral, os solos mencionados apresentam horizonte A com espessura de 15 a 20 cm, fracamente desenvolvido, podendo ainda aparecer horizontes A11 e A12 sobre o R, em transições de maneira abrupta, clara, plana ou ondulada. Com relação aos atributos físicos, os Neossolos Litólicos apresentam coloração amareloavermelhada, textura franco-argilosa a argilosa, frequentemente apresentam-se com cascalho, estrutura fracamente desenvolvida e geralmente subangular, e consistência ligeiramente pegajosa a pegajosa. Os neossolos ocorrem predominantemente em áreas de relevo ondulado a montanhoso, onde se desenvolve a vegetação do tipo Floresta Ombrófila Densa Submontana, entretanto estes solos mostram-se presentes também em áreas rebaixadas de relevo plano, onde se desenvolve a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas. 4.1.3.2 Aspectos Edáficos Os solos da bacia do rio Jari, conforme abordado anteriormente, apresentam como característica comum o processo intenso de lixiviação. As derrubadas e queimadas ocorrem em alguns locais pontuais na bacia do rio Jari e aumentam ainda mais esse processo natural, pois expõem o solo diretamente ao trabalho da erosão pluvial. De acordo com o Mapa de Aptidão Agrícola das Terras (desenho Nº EP518.A1.JR-08-018 (Fig. 066), apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos), a maior parte da bacia é composta por áreas inapropriadas às práticas agrícolas. Este fato ocorre por estas áreas estarem cobertas pela densa vegetação natural e por apresentarem dificuldade de acesso imposta pelas condições de navegação dos rios. Em geral, os solos da região apresentam certas limitações com relação à fertilidade, textura e relevo. Ao sul, cortando o rio Jari, próximo à Cachoeira Santo Antônio, são encontradas terras medianamente férteis. Em outras áreas, onde se encontram Argissolos Vermelhos, embora não possuam alta disponibilidade de nutrientes, podem ser utilizadas através da prática de uma agricultura racional dentro do sistema melhorado. Em relação à susceptibilidade à erosão, os Latossolos, por suas características físicas e químicas anteriormente mencionadas, são menos susceptíveis a esses eventos, sendo bastante indicados às praticas agrícolas e à ocupação, desde que mantidas as condições de manejo adequadas, sobretudo quanto à correção do seu nível de acidez. Para os Argissolos, nos perfis onde se notam grandes diferenças texturais entre os horizontes A e B, associados a declividades elevadas, têm-se grande perda de material pelo escoamento superficial, sendo dessa forma inadequado à ocupação. Em perfis em que esta descontinuidade textural não é elevada, não há maiores problemas. Quando se analisam os aspectos relativos à aptidão agrícola, os Argissolos requerem medidas de manejo no sentido de reduzir o seu excesso de acidez e incrementar nutrientes que complementem a sua deficiência, sendo, portanto, necessárias correções por calagem e adubação. Os Gleissolos, por sua vez, situados em planícies fluviais e várzeas, são solos naturalmente férteis devido à deposição de sedimentos e matéria orgânica. No entanto, para algumas práticas agrícolas, estes solos são considerados inadequados, já que se tornam necessárias Hydros EP518.RE.JR201 77 obras de drenagem para retirada do excesso de água. Em relação à ocupação, esses solos são inapropriados, pois são ricos em argilas expansíveis, que podem afetar as estruturas das edificações caso não sejam feitos aterramentos adequados. Entretanto, mesmo com a execução de obras de estabilização de terrenos em solos como este, não é recomendada a ocupação para fins urbanos. Por fim, em relação aos Neossolos Litólicos, por seu baixo desenvolvimento e profundidade, associados às declividades nas quais ocorrem, verifica-se que são inaptos à agricultura e ocupação. As derrubadas e queimadas, que são observadas em certos locais do sul da bacia, expõem o solo diretamente aos processos de erosão pluvial, o que é agravado, como já referido, pelos altos índices de pluviosidade e de concentração de chuvas em alguns meses, que caracterizam a região. Entretanto, o método da queimada é geralmente utilizado de forma errônea como um mecanismo para aumentar a fertilidade do solo, o que inegavelmente ocorre na sua fase imediata, mas não leva em consideração o fato de que os nutrientes se perdem com as chuvas, deixando o solo empobrecido. Pelas características geomorfológicas e climáticas da região, os solos da bacia podem ser classificados, genericamente, em solos de várzea e de terra firme. Os solos de várzeas, localizados nas partes baixas em margens dos rios, são adubados e drenados naturalmente pelas enchentes periódicas, sendo ricos em húmus (matéria orgânica) devido aos aluviões que se depositam nas suas margens. A origem dos solos supracitados é, portanto, relacionada à sedimentação aluvionar recente, geralmente argilo-arenosa, o que os classifica como hidromórficos. Estes solos podem ser aproveitados em culturas temporárias como arroz, juta e malva, mas não apresentam condições adequadas à mecanização das lavouras. Já os solos de terra firme, com predominância dos latossolos, amarelos ou vermelhos, são mais destinados a culturas permanentes ou de ciclos longos, como da pimenta-do-reino, cacau e dendê. A pobreza em minerais nutrientes e a acidez desses solos podem ser corrigidas através da adubação e calagem. Esses solos são geralmente profundos, bem drenados e, como aparecem em áreas planas ou pouco acidentadas, oferecem condições adequadas à mecanização. Portanto, os estados do Pará e do Amapá, de maneira geral, possuem substrato geológico que torna o setor mineral bastante importante para suas economias. Em relação aos solos, já não se verifica a mesma excelência, principalmente quando se considera a fertilidade natural. Logo, apesar da região não poder competir em termos de produção agropecuária com outras áreas do país, existe um considerável potencial agrícola que pode ser explorado com manejo adequado, principalmente na porção sul da bacia, onde a ocupação e o manejo são facilitados. Hydros EP518.RE.JR201 78 4.1.4 ASPECTOS DE HIDROLOGIA E CLIMATOLOGIA 4.1.4.1 Aspectos Climatológicos Segundo Nimer (1979), a região amazônica possui uma deficiente rede meteorológica, devido à sua escassa povoação. A distribuição da rede de estações meteorológicas é determinada pelo povoamento. Desse fato, resulta numa rede meteorológica com acúmulo de estações em determinadas áreas (margens do rio Amazonas e alguns dos seus afluentes) e escassez ou até mesmo ausência em outros. A bacia do rio Jari está inserida no estado do Amapá pela margem esquerda e no estado do Pará, pela margem direita. Ela compreende uma parte da grande Região Amazônica, a maior extensão de floresta quente e úmida do globo terrestre, que ocupa quase a metade do Território Brasileiro. O clima não pode ser compreendido e analisado sem o concurso do mecanismo atmosférico. Até mesmo a influência de fatores geográficos, como relevo, latitude, continentalidade e maritimidade são exercidos em interação com os sistemas regionais de circulação atmosférica. Desta forma, para a caracterização climática da bacia do rio Jari, é necessária uma análise dos principais sistemas de circulação atmosférica, por sua atuação direta, exercendo um papel importante na configuração do clima regional, a seguir apresentada. A análise da circulação atmosférica é importante para o entendimento da gênese dos elementos climáticos e sua distribuição espacial ao longo do ano. Neste sentido, a localização da área é de grande importância, pois sua posição, com parte no hemisfério norte e parte no sul, está sujeita à interferência dos sistemas dos dois hemisférios. Os sistemas atuantes na circulação atmosférica do Brasil e da América do Sul há muito foram descritos e equacionados, podendo ser citados: o trabalho base de Serra e Ratisbonha (1942), o de Nimer (1972), Monteiro (1969), Carvalho (1989), Silva Dias e Marengo (2002) e Fonzar (1994). Este último, dispondo de novos recursos técnicos espaciais, entre eles as imagens de satélite e novos conhecimentos da Meteorologia, com uma visão mais detalhada das nuvens e seus movimentos, esclareceu algumas colocações de Serra. Dessa maneira, a circulação atmosférica foi baseada nos centros de alta e baixa pressão, assim como sua localização, toda a termodinâmica envolvida e os movimentos da terra e do ar com todos os seus corolários. Na área equatorial forma-se uma faixa onde convergem os ventos (alísios) originários dos Anticiclones do Atlântico norte e sul (centros de alta pressão). O Anticiclone do hemisfério norte produz os alísios de Nordeste e do sul e os alísios de Sudeste. O resultado dessa convergência é a CIT (Convergência Intertropical), área de baixa pressão, com intensa nebulosidade, movimentos verticais produzindo intensa convecção, provocando chuvas torrenciais e fortes aguaceiros. Ela acompanha, grosseiramente, a linha do Equador, circundando todo globo. A sua posição não é fixa, oscilando para norte ou para o sul, dependendo da época do ano. No Brasil, a sua posição mais ao sul se dá no outono, sendo a principal responsável pelas chuvas do Nordeste e da Amazônia. Apesar de conhecida e estudada, esses conhecimentos não foram suficientes para estabelecer, com exatidão, sua movimentação. Há anos em que ela permanece no hemisfério norte, em outros ela avança mais para o sul. O Nordeste e o Norte do Brasil ficam sob sua dependência com todos os problemas de sua inconstância. A Hydros EP518.RE.JR201 79 Amazônia também depende dela como origem das chuvas, porém, as condições são peculiares. Na Amazônia, a Convergência Intertropical toma várias configurações. No oceano, a superfície é mais homogênea, sendo bem marcada; no Brasil, a parte leste, mais ligada ao Oceano Atlântico, atua no Nordeste e leste do Amapá, adentrando no estado do Pará. No continente, ela sofre o efeito das rugosidades do relevo e não é tão nítida. Na parte oeste continental, na Amazônia Central e Ocidental, a superfície é homogênea devido ao tapete das árvores, os alísios adentram o continente, formando uma larga faixa de baixa pressão. A Convergência é reforçada pela entrada das frentes frias vindas do sul da América, conforme foi constatado por Carvalho (1989). Serra e Ratisbonha (1942) mapeou-a como Massa de Ar Equatorial Continental. Ali há convergência dos ventos alísios originados no Oceano Atlântico norte e sul e também, dos alísios de Nordeste do Atlântico com os alísios de sudeste do Oceano Pacífico. Os ventos alísios são extremamente secos por razões termodinâmicas; a sua convergência, sobre a superfície florestada da Amazônia, forma grandes áreas de instabilidades e seu comportamento difere no inverno ou no verão. Portanto, a Convergência Intertropical tem duas partes, uma a leste e outra a oeste, com posições diferentes durante o ano. Entre uma e outra, há uma faixa onde ela é menos atuante: durante a primavera/verão ela permanece no Hemisfério Norte de 5º a 6º latitude Norte. No verão, a Convergência começa o seu deslocamento do hemisfério norte para o hemisfério sul. Os alísios do Nordeste, do Anticiclone dos Açores, adentram o continente, convergindo na Amazônia Ocidental, reforçado pelas frentes, com as quais ajudam a formar uma grande área de instabilidade, dominando toda região e estendendo-se além dos limites da Amazônia Legal. Esta situação continua por quase todo o outono. Desta forma, a região onde se insere a bacia em estudo, é caracterizada pelo sistema de circulação atmosférica da CIT. A circulação é constituída pela convecção termodinâmica dos ventos de NE do anticiclone dos Açores e do anticiclone do SE. Essa massa de ar, pela sua forte umidade específica e ausência de subsidência superior, está frequentemente sujeita às instabilidades causadoras de chuvas abundantes. No interior desta massa de ar, as chuvas são provocadas por depressões dinâmicas denominadas linhas de instabilidades tropicais (IT), induzidas em pequenas dorsais. No seio de uma linha de IT, o ar em convergência acarreta, geralmente, chuvas e trovoadas, por vezes granizo, e ventos moderados a fortes, com rajadas que atingem 60 a 90 km/hora. Tais correntes atmosféricas, na bacia do rio Jari, são comuns durante todo o ano, mas bem mais constantes no verão. As chuvas de IT costumam durar poucos minutos, raramente ultrapassando 1 hora e são responsáveis por aguaceiros. As chuvas de CIT são de notável concentração de tempo e no espaço. Um segundo fator importante na caracterização climática da bacia do rio Jari relaciona-se aos aspectos térmicos. O regime de temperatura da região onde está localizada a bacia em análise, segundo Nimer (1979), assim como toda a região amazônica apresenta o Clima Quente, uma vez que todos os meses se mantêm com a temperatura média superior a 24ºC. Na região onde se encontra a bacia, as temperaturas médias anuais variam entre 24 ºC e 26 ºC, segundo Nimer (op. cit.). A foz do rio Jari e o sudeste do estado do Amapá são as regiões das mais altas temperaturas. De acordo com os dados disponíveis pelo autor supracitado, as temperaturas máximas absolutas estão entre 36º C e 38º C e as mínimas absolutas ficam próximas a 16º. As médias Hydros EP518.RE.JR201 80 mínimas são 22 ºC e na estação mais fresca 16 oC, quando há repercussão das friagens. Os meses mais quentes são setembro e outubro; junho, julho e agosto constituem o período mais ameno. As amplitudes térmicas ficam entre 10º C. No geral, as temperaturas altas são uma constante. A Região Norte do Brasil, onde se insere a área em estudo, constitui-se no domínio climático mais pluvioso do país. Desta forma, os aspectos pluviométricos constituem outro importante aspecto para a análise climática da bacia, que relaciona a existência ou não de secas e o regime de duração dos períodos secos. O clima quente da bacia do rio Jari possui áreas bem diferenciadas, sendo um úmido com 1 a 2 meses secos e outro úmido com 3 meses secos. Portanto, segundo Nimer (1979) e a Figura 4.1.4-1, intitulada “Unidades Climáticas do Brasil”, o Domínio Climático da bacia em questão é o Quente com Subdomínio Climático Úmido, apresentando variedades climáticas de 1 a 2 meses secos. Desta forma, o tipo climático é Equatorial. Fonte: IBGE, Diretoria de Geociências Anuário Estatístico do Brasil, 1997. Figura 4.1.4-1 – Unidades Climáticas do Brasil Hydros EP518.RE.JR201 81 Nas regiões de clima tropical, onde se localiza a bacia em estudo, as temperaturas são regulares, extremamente altas, durante o ano todo, devido à intensa radiação da região próxima ao Equador terrestre, conforme se verifica na Figura 4.1.4-2, intitulada “Variação de Temperaturas nos Meses de Janeiro e Julho”, onde as cores laranjas dos mapas esquemáticos corresponderiam a temperaturas maiores que 20 ºC e menores que 30 ºC. Fonte: Atlas Geográfico Mundial, Folha de São Paulo, 1993. Figura 4.1.4-2 – Variação de Temperaturas nos Meses de Janeiro e Julho Na Figura 4.1.4-3, intitulada “Isoietas Anuais da Bacia do Rio Jari no Período 1972-1982”, estão apresentadas as Isoietas anuais da bacia do rio Jari no período 1972-1982. Conforme a figura, o total anual de chuvas na bacia é elevado, variando de 2.400 mm, a leste e 1.800 mm, a oeste. Hydros EP518.RE.JR201 82 Fonte: NIMER, 1979. Figura 4.1.4-3 – Isoietas Anuais da Bacia do Rio Jari no Período 1972-1982 4.1.4.2 Aspectos Hidrológicos Os aspectos hidrológicos serão analisados quanto à disponibilidade de águas superficiais e subterrâneas, que se distribuem de forma irregular, no tempo e no espaço, em função das características locais e regionais. Quanto a este aspecto, é importante lembrar que a disponibilidade das águas depende do ciclo hidrológico, que é a sucessão temporária das diferentes mudanças de lugar e de estado que passa a água no planeta, caracterizando-se por ser um fenômeno global de circulação da água entre a superfície terrestre, a atmosfera e o solo. Este ciclo consiste também da evaporação da água do solo, do mar, dos rios, lagos e represas; condensação para formar nuvens, precipitações; reacumulação no solo e diferentes massas de água; escoamento direto ou retardado para o mar e reevaporação. O ciclo hidrológico pode ser perturbado pela entrada de gases e produtos químicos, originada por ações antrópicas (indústrias), ocasionando chuvas ácidas. A movimentação da água na natureza pode ser visualizada na Figura 4.1.4-4, intitulada “Representação Simplificada do Ciclo Hidrológico e Seus Elementos”. Hydros EP518.RE.JR201 83 Fonte: Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo – DAEE, 2005. Figura 4.1.4-4 – Representação Simplificada do Ciclo Hidrológico e Seus Elementos 4.1.4.2.1 Águas Superficiais As águas superficiais são aquelas que têm influência direta quanto à hidrologia aplicada ao presente estudo. Elas estão localizadas na interface atmosfera-superfície terrestre, constituídas predominantemente pelas nascentes, rios, reservatórios e mares, embora haja águas em transição como as águas das precipitações, que se apresentam como água superficial, quando retidas na cobertura vegetal, ou ainda, aquelas que alimentam diretamente as nascentes, os rios, reservatórios e mares, podendo, através da infiltração, constituir-se água subterrânea. Quanto à pluviosidade que tem influência direta com a disponibilidade de água dos rios, podese verificar que na Região Amazônica há dois centros de altas precipitações (mais de 3000 mm anuais) e entre os dois, um corredor de precipitação menor, com pequena estiagem. Esta faixa de precipitações menores abrange o baixo curso do rio Amazonas, o leste do Pará e o leste do estado do Amapá. A região leste do estado do Amapá sofre a ação da Convergência Intertropical (produtoras de fortes chuvas). A Convergência passa o ano todo semiestacionária no litoral do estado. A bacia do rio Jari tem sua área inserida no corredor de menor precipitação do centro norte da região amazônica. Na bacia do rio Jari, os dados coletados pela equipe da Hydros acusaram médias de precipitação de 1500 mm (Alenquer – PA, 1462,5 mm e Recreio - PA média de 1578,2 mm), até 2400 mm. Os maiores totais de precipitação estão entre 2400 mm e 2500 mm (Maracauera - Florestal - AP, 2578,6 mm) Os dados pluviométricos foram coletados de estações do DNAEE e ANA, visto que o estado do Amapá possui poucas estações meteorológicas completas do INMET. Os principais tributários da bacia do rio Jari que concorrem para a disponibilidade de suas águas são representados pela margem esquerda pelos rios Curap, Colari, Cuc, Mapari, Noucouru e Iratapuru e pela margem direita pelos rios Ipitinga e Carecuru e igarapé Caracaru. Baseando-se em dados históricos, disponibilizados pela ANA no sítio hidroweb, para o posto fluviométrico São Francisco, de coordenadas geográficas 00º34'04" S e 52º34'09" W, localizado no rio Jari, cuja vazão média anual, no período de jul/72 a nov/06, é 1.042 m3/s, é Hydros EP518.RE.JR201 84 possível afirmar que a disponibilidade hídrica superficial média da bacia, até o local do citado posto, é de 3,2x109 m3/ano. As recargas de águas superficiais ocorrem através das precipitações, uma vez que estas são constantes durante todo o período do ano. A disponibilidade de águas superficiais é resultado das precipitações pluviométricas, além das nascentes e tributários existentes na bacia em estudo, cujos dados foram apresentados separadamente. Já as descargas ocorrem através das infiltrações, evaporações e transpirações ocorridas na mesma área. 4.1.4.2.2 Águas Subterrâneas A água subterrânea corresponde à parcela mais lenta do ciclo hidrológico e constitui nossa principal reserva de água, ocorrendo em volumes muito superiores aos disponíveis na superfície. Ocorrem preenchendo espaços formados entre os grânulos minerais e nas fissuras das rochas, que se denominam aquíferos. As águas subterrâneas representam a parcela da chuva que se infiltra no subsolo e migra continuamente em direção às nascentes, leitos de rios, lagos e oceanos. Os aquíferos têm importância estratégica e suas funções são ainda pouco exploradas. Ao reterem as águas das chuvas, desempenham papel fundamental no controle das cheias. As águas subterrâneas ocupam diferentes tipos de reservatórios, desde as zonas fraturadas do embasamento cristalino (escudo) até os depósitos sedimentares cenozóicos (bacias sedimentares), reunindo-se em três sistemas aquíferos: porosos, fissurados e cársticos. Outra distinção importante a se fazer é a separação quanto a sua profundidade. De forma genérica, pode-se separar os aquíferos presentes em uma mesma área em: aquífero superficial, que representa a água retida na camada de solo; e aquífero profundo, que representa a água retida nas camadas de rocha subjacentes. O aquífero superficial constitui uma interface entre a água pluvial infiltrada e o aquífero do substrato rochoso, seja este fissural (rocha cristalina) ou poroso (rochas sedimentares). Esta interface se dá pela recarga do profundo que ocorre de forma lenta tendo em vista as menores permeabilidades do meio rochoso em relação ao solo. Adicionalmente, o superficial participa de forma mais intensamente do abastecimento da água da rede de drenagem, condicionando desta forma o regime hidrológico dos rios. As variações locais do aquífero superficial na região do rio Jari dão-se principalmente devido a mudanças da espessura do solo, tendo em vista que as variações na porosidade e permeabilidade do mesmo são relativamente pequenas, comportando-se assim de forma relativamente homogênea na bacia hidrográfica. Os aquíferos profundos apresentam zonas de descarga mais localizadas, condicionadas principalmente por acidentes topográficos como encostas de serras ou escarpas com afloramentos rochosos, localizadas em áreas de altitudes mais baixas que as áreas de recarga. Na bacia hidrográfica do rio Jari, o aquífero profundo é predominantemente fissural, tendo em vista que a grande maioria do substrato geológico da bacia é constituída pelas rochas ígneas e metamórficas do Escudo das Guianas, e somente uma pequena contribuição de rochas sedimentares está presente na porção a jusante da bacia, onde o aquífero é poroso. Os escudos são formados por rochas magmáticas e metamórficas e correspondem aos primeiros núcleos de rochas emersas que afloraram desde o início da formação da crosta terrestre. As bacias sedimentares são depressões preenchidas, ao longo do tempo, por detritos Hydros EP518.RE.JR201 85 ou sedimentos provenientes de áreas próximas ou distantes que normalmente estão dispostas de forma horizontal (COELHO, 1996). A Figura 4.1.4-5 ilustra a representação esquemática das províncias hidrogeológicas do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas - ABAS, denominadas regiões com sistemas aquíferos de condições semelhantes de armazenamento, circulação e qualidade de água, geradas a partir da combinação das estruturas geológicas com fatores geomorfológicos e climáticos do Brasil. Fonte: Associação Brasileira de Águas Subterrâneas – ABAS. Disponível em: http://www.abas.org.br/index.php?PG=aguas_subterraneas&SPG=aguas_subterraneas_as#2. Acesso em 21/02/2008. Figura 4.1.4-5 – Representação Esquemática das Províncias Hidrogeológicas do Brasil Conforme a Figura 4.1.4-5, a bacia hidrográfica do rio Jari encontra-se inserida nas Províncias Hidrogeológicas Escudo Setentrional e Amazonas. A Província Hidrogeológica Escudo Setentrional localiza-se na maior parte da área em análise, exceto em seu extremo sul. A bacia em estudo apresenta um domínio de substrato alterado e um sistema de aquífero fissural, o qual é formado por rochas alteradas e/ou fraturadas, onde a circulação da água se faz nas fraturas, fendas e falhas, abertas devido ao movimento tectônico. A capacidade dessas rochas de acumularem água está relacionada à Hydros EP518.RE.JR201 86 quantidade de fraturas, aberturas e intercomunicações, permitindo a infiltração e fluxo da água. A Província Hidrogeológica Amazonas apresenta um sistema que é formado por rochas sedimentares consolidadas, sedimentos inconsolidados ou solos arenosos, onde a circulação da água se faz através de poros formados entre os grãos de areia, silte e argila de granulação variada. Esta Província Hidrogeológica, a segunda maior do Brasil, constitui um dos mais importantes aquíferos do país, pelo grande volume de água que armazena, e por sua ocorrência em grandes áreas, apesar de representar pouca área na bacia em estudo. A grande absorção das águas superficiais é justificada também pela pouca evaporação motivada pela densa cobertura florestal, apesar da elevada umidade do ar e alta temperatura. A Tabela 4.1.4-1 apresenta as províncias hidrogeológicas presentes na área da bacia hidrográfica do rio Jari e seus respectivos sistemas aquíferos. Tabela 4.1.4-1 – Províncias Hidrogeológicas e Seus Respectivos Sistemas Aquíferos Província Hidrogeológica Domínio Aquífero Sistema Aquífero Principal Área (km²) Volume de Água (km³) Total (%) Escudos Setentrional, Central e Meridional Substrato Alterado Manto rochas alteradas e/ou fraturas 4.000.000 10.000 8,90 Amazonas Bacia Sedimentar Amazonas Arenitos Barreiras e Alter do Chão 1.300.000 32.500 28,94 Fonte: Associação Brasileira de Águas Subterrâneas – ABAS. Disponível http://www.abas.org.br/index.php?PG=aguas_subterraneas&SPG=aguas_subterraneas_as#2. Acesso 21/02/2008. em: em Segundo a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM, no Brasil, a combinação das estruturas geológicas com afinidades hidrogeológicas, tendo como base principalmente as características litológicas das rochas, resultou na configuração de 7 domínios hidrogeológicos, ou seja, são regiões com sistemas aquíferos com condições semelhantes de armazenamento, circulação e qualidade de água. No desenho Nº EP518.A1.JR-02-017 (Fig. 060), intitulado “Mapa de Domínios/Subdomínios Hidrogeológicos do Brasil”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, verifica-se que a bacia hidrográfica do rio Jari ocupa áreas em 4 domínios hidrogeológicos, a seguir discriminados: - Domínio 1 – Formações Cenozóicas – Aquífero Poroso: constitui pacotes de sedimentos inconsolidados de espessura variável, podendo ser constituídos de pacotes de areia com grande porosidade e alta permeabilidade ou ainda por material argiloso com permeabilidades muito baixas. Estes depósitos são formados pela sedimentação de idade quaternária e terciária, de origem aluvionar, depósitos eólicos, areias de praia, coberturas detríticas e detrito-lateríticas. A favorabilidade hidrogeológica destes depósitos é variável, dependendo da espessura e porosidade do material, podendo poços tubulares produzir vazões elevadas em material arenoso. Na bacia hidrográfica do rio Jari, o domínio 1 é representado pelos sedimentos aluvionais do baixo curso do rio Jari, na região da planície amazônica. Os depósitos da planície amazônica Hydros EP518.RE.JR201 87 apresentam maior presença de material argiloso, todavia a grande espessura dos depósitos favorece a disponibilidade hidrogeológica. Já os depósitos situados mais à montante, na região dos lagos, apresentam grandes pacotes de areia com alta favorabilidade hidrogeológica. - Domínio 2 – Bacias Sedimentares – Aquífero Poroso: este domínio engloba as sequências de rochas sedimentares (muitas vezes associadas ao vulcanismo, importante ou não) que compõem as entidades geotectônicas homônimas. Em termos hidrogeológicos, estas bacias têm alta favorabilidade para o armazenamento de água subterrânea e constituem os mais importantes reservatórios, em decorrência de grande espessura de sedimentos e da alta porosidade/permeabilidade de grande parte de suas litologias, o que permite a explotação de vazões significativas. O domínio 2, (Bacias Sedimentares) na área de estudo, é representado pela unidade da Bacia Sedimentar do Amazonas ou Sinéclise do Amazonas. Este Domínio se faz presente na porção sul da bacia hidrográfica e é formado por rochas sedimentares, onde a circulação da água se faz através de poros formados entre os grãos de areia, silte e argila de granulação variada. Constitui um dos mais importantes aquíferos do Brasil, pelo grande volume de água que armazena, e por sua ocorrência em grandes áreas, apesar de representar uma pequena porção de área na bacia em estudo. A pouca evaporação motivada pela elevada umidade do ar e a cobertura florestal, contribui também para uma maior absorção das águas superficiais pelas suas rochas. Uma particularidade desse tipo de aquífero é sua porosidade quase sempre homogeneamente distribuída, permitindo que a água flua para qualquer direção, em função tão somente dos diferenciais de pressão hidrostática ali existente. A Figura 4.1.4-6 ilustra a seção geológica esquemática da bacia sedimentar do Amazonas. Fonte: Mapa de Domínios/Subdomínios Hidrogeológicos do Brasil. Disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/media/RecHidSub.pdf. Figura 4.1.4-6 – Seção Geológica Esquemática – Bacia Sedimentar do Amazonas - Domínio 4 – Metassedimentos/Metavulcânicas - Aquífero Fissural: este domínio reúne xistos, filitos, metarenitos, metassiltitos, anfibolitos, quartzitos, ardósias, metagrauvacas, metavulcânicas diversas, etc., que estão relacionadas ao denominado aquífero fissural. Como quase não existe uma porosidade primária nestes tipos de rochas, a ocorrência de água subterrânea é condicionada por uma porosidade secundária, representada por fraturas e fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. Dentro deste contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas, e a água é na maior parte das vezes salinizada. Apesar deste domínio ter comportamento similar ao do Cristalino tradicional (granitos, migmatitos etc), uma separação entre eles é necessária, uma vez que suas rochas apresentam comportamento reológico distinto; isto é, como elas têm estruturação e competência diferente, vão reagir também diferentemente aos esforços causadores das fendas e fraturas, parâmetros fundamentais no acúmulo e fornecimento de água. Deve ser esperada, portanto, uma maior favorabilidade hidrogeológica neste Hydros EP518.RE.JR201 88 domínio do que o esperado para o Cristalino tradicional. Podem ser enquadrados neste domínio grande parte das supracrustais, aí incluídos os greenstones belts. O domínio 4 é representado pelas rochas metamórficas de origem vulcano-sedimentar do Grupo Vila Nova e Grupo Ipitinga que ocorrem em faixas orientadas na direção noroeste – sudeste, como a serra do Ipitinga e em um trecho do alto curso do rio Jari. - Domínio 6 – Cristalino – Aquífero Fissural: no Cristalino, foram reunidos basicamente, granitóides, gnaisses, granulitos, migmatitos, básicas e ultrabásicas, que constituem o denominado tipicamente como aquífero fissural. Como quase não existe uma porosidade primária nestes tipos de rochas, a ocorrência de água subterrânea é condicionada por uma porosidade secundária representada por fraturas e fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. Dentro deste contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água em função da alta de circulação e do tipo de rocha (entre outras vazões) é na maior parte das vezes salinizada. Como a maioria destes litotipos ocorre geralmente sob a forma de grandes e extensos maciços, existe uma tendência de que este domínio seja o que apresente menor possibilidade de acúmulo de água subterrânea dentre todos aqueles relacionados aos aquíferos fissurais. Na bacia hidrográfica do Jari, o domínio 6, que representa as áreas constituídas por rochas cristalinas, ocorre nas áreas cujo substrato geológico é formado pelas unidades das diversas suítes intrusivas pré-cambrianas, Complexos Tumucumaque, Guianense e granitos diversos. De forma sucinta, pode-se afirmar que a bacia hidrográfica em estudo situa-se sobre o domínio Cristalino e sistema de aquífero fissural, formado por rochas ígneas, metamórficas ou cristalinas, duras e maciças, onde a circulação da água se faz nas fraturas, fendas e falhas, abertas devido ao movimento tectônico. A capacidade dessas rochas de acumularem água está relacionada à quantidade de fraturas, nas suas aberturas e intercomunicações, permitindo a infiltração e fluxo da água. Poços perfurados nessas rochas fornecem poucos metros cúbicos de água por hora, sendo que a possibilidade de se ter um poço produtivo dependerá, tão somente, de esse poço interceptar fraturas capazes de conduzir a água. Nesses aquíferos, a água só pode fluir onde houver fraturas, que quase sempre, tendem a ter orientações preferenciais. Em contrapartida, a região ao sul da bacia hidrográfica do rio Jari é constituída principalmente por aquíferos porosos. Sua constituição é formada por sedimentos recentes, onde o volume de água é mais abundante. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.5 89 ANÁLISE DAS FRAGILIDADES DOS SOLOS Para se compreender o funcionamento dos ambientes, partiu-se da premissa de que os mesmos são constituídos e se organizam a partir das trocas de energia e matéria de cada um dos seus subsistemas, que se processam através de relações que buscam o equilíbrio dinâmico (estabilidade). Levando-se em consideração que os ambientes são compostos por subsistemas (solos, rochas, vegetação, clima, entre outros) o objetivo deste documento é apresentar, de forma integrada, uma análise acerca das fragilidades dos ambientes, conceito este estabelecido por Ross (1993), que tem o seguinte entendimento: “em função de todos os problemas ambientais decorrentes das práticas econômicas predatórias, que tem marcado a história deste país, e que tem implicações para a sociedade a médio e longo prazos, face ao desperdício dos recursos naturais e degradação generalizada com perda de qualidade ambiental e de vida, é que se torna cada vez mais urgente o Planejamento Físico-Territorial não só com a perspectiva econômico-social mas também ambiental. Assim sendo, a preocupação dos planejadores, políticos e a sociedade como um todo, ultrapassa os limites dos interesses meramente de desenvolvimento econômico e tecnológico, mas sim devem preocupar-se com o desenvolvimento que leve em conta não só as potencialidades dos recursos, mas sobretudo as fragilidades dos ambientes naturais face às diferentes inserções dos homens na natureza” (ROSS, 1993, p.94). Estas informações permitem afirmar que o conjunto dos elementos físicos possibilita a formação de ambientes diferenciados que apontam potencialidades e restrições para ocupação. Na bacia do rio Jari foram identificadas cinco classes distintas, estabelecidas a partir de relações entre os quatro parâmetros associados aos seguintes aspectos físicos: Geomorfologia (grau de entalhamento do relevo), Pedologia (grau de erodibilidade), Erosividade (potencial de entalhamento - relação da intensidade da chuva e de inclinação do solo) e Graus de Proteção do solo (cobertura vegetal e uso do solo). A descrição detalhada da metodologia e os dados obtidos na análise utilizada para a identificação e classificação de fragilidade31 do solo encontram-se no Anexo 3.1. O desenho Nº EP518.A1.JR-02-021 (Fig. 063), intitulado “Mapa das Unidades Ecodinâmicas – Fragilidades – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, apresenta a distribuição das classes obtidas com a identificação de áreas de indução à ocupação humana e áreas de restrição. Assim, as cinco categorias aplicadas na bacia do rio Jari estão resumidas na Tabela 4.1.5-10, intitulada “Classe de Fragilidade do Solo das Unidades Ecodinâmicas”, e serão descritas mais adiante. 31 O termo fragilidade utilizado neste item do Diagnóstico Socioambiental não deve ser confundido com o mesmo termo aplicado na Avaliação Ambiental Integrada - AAI. Segundo Ross (1993) o uso do termo está associado às fragilidades existentes em relação às características genéticas dos componentes do meio físico ante as intervenções antrópicas. Hydros EP518.RE.JR201 90 Tabela 4.1.5-1 –Classe de Fragilidade do Solo das Unidades Ecodinâmicas Classe de Fragilidade Grau de Fragilidade 1 Muito Baixo 2 Baixo 3 Médio 4 Alto 5 Muito Alto Fonte: Hydros, 2008. a) Classe de Fragilidade 1 Esta classe é considerada muito estável32, com potencial erosivo muito baixo, e situa-se ao norte da sede do município Laranjal do Jari. Esta área apresenta predominância de Floresta Ombrófila Densa, apresentando um índice pluviométrico médio da ordem de e 50 mm. Está assentada, em sua maior parte, sobre a unidade pedológica Latossolo Vermelho Escuro do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas. b) Classe de Fragilidade 2 As áreas desta classe representam estabilidade boa, ou seja, baixa fragilidade, baseada nas características dos elementos de suporte (solos, rochas) e cobertura (vegetação, relevo) que compõem os ambientes da bacia do rio Jari. Esta classe compreende a maior parte da bacia hidrográfica do rio Jari, abrangendo sua porção norte e, leste, incluindo os principais afluentes do rio Jari tais como: Curapi, Culari e Cuc. Nessas áreas predomina a cobertura vegetal densa constituída por Floresta Ombrófila Densa. O índice pluviométrico médio é o mesmo da Classe 1. Assentam-se sobre a unidade pedológica do Latossolo Vermelho-Amarelo nas Colinas do Amapá, no Planalto Residual do Amapá e sobre a Depressão Periférica do Amazonas Setentrional. c) Classe de Fragilidade 3 As áreas assim classificadas apresentam estabilidade média (grau de fragilidade médio) e estão localizadas em pequenas faixas localizadas no extremo norte, no extremo leste e ao sul da bacia do rio Jari. 32 A estabilidade dos ambientes, de acordo com a proposta de Ross (1993) está baseada no conceito de Unidades Ecodinâmicas, as quais foram preconizadas por Tricart (1977). Nessa acepção, o ambiente é analisado sob o prisma da Teoria dos Sistemas, na qual existe na natureza uma troca de energia e matéria entre os seus subsistemas, a qual busca sempre um estado de equilíbrio dinâmico ou de estabilidade. Porém, as intervenções humanas acabam por quebrar esse equilíbrio, gerando, portando, estados de desequilíbrios temporários ou permanentes. A metodologia proposta por Ross op. cit. classifica esses estágios de equilíbrio e desequilíbrio em graus de fragilidade. Hydros EP518.RE.JR201 91 A classificação deste grau de fragilidade está baseada pelas coberturas de vegetação que se apresentam desde florestas naturais, Floresta Ombrófila Densa, até áreas antropizadas, de reflorestamentos de eucalipto. O índice pluviométrico nesta classe é de 40 mm. Essas áreas estão assentadas sobre as unidades pedológicas Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Amarelo, encontradas em quase todas as estruturas geomorfológicas da bacia, quais sejam: as Colinas do Amapá, o Planalto Residual do Amapá , a Depressão Periférica do Amazonas Setentrional e o Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas. d) Classe de Fragilidade 4 As áreas desta classe representam instabilidade moderada, ou seja são áreas de alta fragilidade e compreendem a segunda maior área da bacia do rio Jari. Distribuem-se principalmente numa faixa a oeste da bacia, junto ao seu limite hidrográfico e numa porção ao sul da bacia. Sua vegetação é constituída predominantemente por Florestas Ombrófilas Densas. Seu índice pluviométrico é o mesmo da Classe 3. A fragilidade dessas áreas é condicionada, principalmente, pela constituição pedológica formada por Argissolo Vermelho-Amarelo, solos estes pouco coesos devido à grande variação textural. e) Classe de Fragilidade 5 As áreas desta classe são as mais frágeis da bacia. Apresentam-se em pequenas porções, no extremo norte, especificamente junto à fronteira com o Suriname, no Planalto do Uatumã Jari e no extremo sul da bacia, próxima à desembocadura do rio Jari com o rio Amazonas, correspondente à Planície Amazônica. No extremo norte da bacia do Jari, essas áreas assentam-se sobre o Latossolo VermelhoAmarelo, nas Colinas do Amapá. Nelas o índice pluviométrico é 48 mm, maior que os valores encontrados nas classes anteriores. A alta fragilidade encontrada nessa classe ocorre em função da alta declividade da região limítrofe entre o Brasil e o Suriname, constituída pelo espigão da Serra do Tumucumaque. Ao sul da bacia, encontram-se sobre Gleissolo. Seu coeficiente de chuva é o mesmo da Classe 4, diferenciando-se, porém, de áreas menos frágeis pelo pequeno grau de proteção do solo, representado por coberturas vegetais dominadas por formações pioneiras com influência fluvial e por pastagens. Adicionalmente, algumas áreas na porção central da bacia são classificadas como de alta fragilidade devido à presença de neossolos litólicos e declividades altas. A análise conjunta destes elementos físicos constitui o primeiro passo para classificar os ambientes em termos de fragilidades: orienta as ocupações futuras e aponta os ambientes mais interessantes ou menos interessantes dependendo do tipo e porte do empreendimento. De qualquer forma, é recomendável que a ocupação seja compatível com o grau de fragilidade do ambiente, devendo desenvolver estudos mais detalhados na ocasião dos estudos de viabilidade do empreendimento. Hydros EP518.RE.JR201 92 Figura 4.1.5-1 – Localização dos Principais Núcleos e das Vias de Circulação e Comunicação da Bacia do Rio Jari f) Conclusões A observação dos mapas acima acusa que a área que apresenta a quase totalidade das ocupações antrópicas encontram-se concentradas na região sul da bacia do rio Jari, mostrada de forma detalhada no mapa à direita. A explicação para essa concentração está associada às baixas declividades predominantes nessa região, as quais se contrapõem às grandes declividades encontradas na maior parte da bacia. Estas últimas seguem preferencialmente uma direção noroeste-leste, onde está circunscrita a unidade geomorfológica do Planalto Residual do Amapá. Outra faixa de maior declividade está situada na porção sul, nas proximidades da cidade de Laranjal do Jari (confluência do Igarapé Carucaru e com o rio Jari). As únicas porções da bacia do rio Jari que apresentam declividades moderadas estão situadas no extremo sul e no nordeste, onde predomina a unidade geomorfológica da Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. Quando se analisa estas áreas já antropizadas, e as áreas com os graus de fragilidade das unidades ecodinâmicas e seus diversos graus de restrição, nota-se que é justamente a porção sul da bacia do rio Jari a que apresenta a maior manifestação contínua da classe de fragilidade muito alta. Essa região apresenta solos com características que podem promover colapso de terrenos (gleissolos), sendo, portanto, necessários cuidados especiais em relação à ocupação antrópica e implantação de obras de infraestrutura, devendo-se primar pela utilização de estudos geotécnicos, assim como ambientais, em escala de detalhe. Hydros EP518.RE.JR201 93 Já em relação à porção central e norte da bacia, nota-se que é uma extensa área, onde se encontram trechos com graus de fragilidade baixo (restrição à ocupação baixa), na porção nordeste, e alto (restrição à ocupação alta), na porção oeste. Em relação ao primeiro, verifica-se que o mesmo oferece vantagens quanto à ocupação em função da baixa fragilidade (baixa restrição à ocupação), devido à presença de cobertura vegetal bastante densa (Floresta Ombrófila Densa) e solos bastante desenvolvidos, que se caracterizam como solos cujos perfis ultrapassam tranquilamente 1,50 m de espessura. Este conjunto de fatores ajuda a reduzir a fragilidade dos ambientes, permitindo, assim, uma ocupação antrópica planejada. Já, na porção oeste, o que se verifica é a existência de solos com grandes descontinuidades texturais (Argissolos Vermelho-Amarelo), o que pode desencadear processos erosivos e dificultar a ocupação, pelas sérias restrições apresentadas. Por fim, ressalta-se quando da implantação de qualquer empreendimento na bacia do rio Jari, deve-se atentar para os riscos localizados que são decorrentes da execução das obras de engenharia, sobretudo quando relacionados à remoção da cobertura vegetal e exposição de solos em cortes e aterros. Estes podem contribuir para a fragmentação dos solos, ocasionando riscos e efeitos indesejáveis, os quais ajudam a instabilizar ainda mais os ambientes bastante frágeis, tornando irreversível o quadro gerado por essas futuras intervenções. Hydros EP518.RE.JR201 4.1.6 94 QUALIDADE DA ÁGUA Segundo o Manual de Inventário, o elemento “Qualidade da Água”, no item “Processos e Atributos Físicos”, tem por objetivo fornecer um suporte analítico para os componentessíntese “Ecossistemas Aquáticos”, “Base Econômica” e “Modos de Vida”, levando em consideração os seguintes aspectos: - Manutenção da Diversidade Biológica; - Uso dos Recursos Hídricos; - Ocorrência de Doenças de Veiculação Hídrica. Objetivando aproximar as informações levantadas destes três aspectos com seus respectivos componentes-síntese, optou-se por considerá-los de maneira integrada. Apresenta-se no presente item, o elemento “Qualidade da Água” de forma simplificada, sendo que um diagnóstico mais aprofundado é devidamente apresentado nos componentes-síntese e/ou itens correspondentes. 4.1.6.1 Manutenção da Diversidade Biológica Este item é o aspecto mais importante de qualidade da água no que se refere à bacia do rio Jari. As áreas que apresentaram algum acompanhamento de análise de qualidade da água para a bacia ocorrem no médio e baixo Jari, em função do reflexo das áreas onde existe alguma, mesmo que muito reduzida, ocupação humana. O acompanhamento de análise da água nestas áreas ocorre também em função da facilidade de acesso aos locais, já existentes, sendo mais difíceis quanto mais à montante. A partir dos dados secundários disponíveis, elaborou-se um mapa da provável qualidade da água da bacia conforme o desenho Nº EP518.A1.JR-08-035 (Fig. 073), intitulado “Mapa da Qualidade da Água – Planta” , apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, que apontou um bom índice qualidade da água (IQA), mesmo em locais próximos aos pontos de maior ocupação humana. Ao se considerar que a qualidade da água está diretamente relacionada com o padrão e intensidade do uso do solo, principalmente do entorno imediato dos corpos d’água, e o seu próprio uso, que inclui não só o abastecimento de água para consumo, mas também o uso recreativo, a navegação, a irrigação e até como áreas de lançamento de efluentes em alguns casos, e que o rio Jari apresenta um índice bom de qualidade da água, pode-se concluir que o grau de conservação da água como um todo no rio Jari ainda não é afetado de forma significativa pelas atividades desenvolvidas pela população que lá reside. Portanto, no quadro geral de ocupação em que se encontra atualmente a bacia hidrográfica do rio Jari, é possível reconhecer um nível de qualidade da água relativamente elevado. Os fatores que contribuem para este nível alto são a alta conservação da vegetação nativa e a baixíssima ocupação antrópica, que ocorre somente no sul da bacia. A análise mais aprofundada acerca da qualidade da água para manutenção da biodiversidade, bem como os detalhes da elaboração do mapa de qualidade da água, são retomados no item 4.2.2 – Qualidade da Água, no componente-síntese “Ecossistemas Aquáticos”. As Hydros EP518.RE.JR201 95 informações sobre o levantamento de campo encontram-se descritas no item 3.3 - Campanha Limnológica. 4.1.6.2 Uso dos Recursos Hídricos A demanda de água para os diversos fins, na bacia hidrográfica do rio Jari, é principalmente a irrigação (96% da demanda total), sendo seguida pela demanda de áreas urbanas (3% da demanda total). Ambas as demandas, no entanto, não competem com a geração de energia pelo uso da água. Uma discussão mais aprofundada é apresentada no item 3.2.5 – Outros Usos da Água, no Volume 1. 4.1.6.3 Ocorrência de Doenças de Veiculação Hídrica A malária é a doença mais expressiva (mais de 95% dos casos de doenças do estado do Amapá), conforme apresentada no item 4.4 – Modos de Vida, subitem Condições de Vida. O mosquito vetor pertence ao gênero Anopheles, podendo ser de diferentes espécies, com diferentes ciclos de vida. Entretanto, todos eles têm algo em comum quanto à qualidade da água de seu criadouro, que deve ter baixo teor de matéria orgânica presente, o que permite dizer que águas poluídas, especialmente em áreas urbanizadas, raramente poderão servir para a reprodução destes insetos (DUTRA, 2008). Apesar da influência da água no ciclo de vida do mosquito, na região amazônica não é a sua qualidade que justifica os altos índices da malária. De fato, Andrade (1984) lista os principais fatores que explicam a severidade da malária na região amazônica: todos estão relacionados aos hábitos do ser humano e nenhum está relacionado à qualidade da água. No que tange à proliferação de doenças epidemiológicas veiculadas pelo meio hídrico, associadas à qualidade da água, são encontrados registros divulgados de casos de hepatite, em Laranjal do Jari (COSTA, 1998), especialmente na região do “Beiradão”, conhecido como uma das maiores favelas fluviais do mundo, em função da falta de higiene (SILVA NETO; AMARAL, 1998). Hydros EP518.RE.JR201 96 4.2 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS 4.2.1 FISIOGRAFIA FLUVIAL A bacia hidrográfica do rio Jari é delimitada ao norte pelo Suriname e pela Guiana Francesa, ao sul pelo rio Amazonas, a leste pelo estado do Amapá, e a oeste pelo estado do Pará. Encontra-se nas unidades geológicas denominadas Colinas do Amapá, Planaltos Residuais do Amapá, Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, Planalto do Uatumã – Jari e Planície Amazônica. O rio Jari corre no sentido NW-SE, origina-se na Serra do Tumucumaque, na fronteira do Brasil com o Suriname, nas chamadas Colinas do Amapá, e deságua na margem esquerda do rio Amazonas, do qual é um de seus principais afluentes. Seu curso é meandrante e tem uma extensão de aproximadamente 950 km. A confluência dos dois rios está na unidade geológica denominada Planície Amazônica, em frente à Ilha Grande de Gurupá, localizada nas proximidades dos povoados de Caiçara e Vida Nova. Os principais afluentes do rio Jari são: (i) pela margem esquerda, de montante a jusante: os rios Curapi, Culari, Cuc, Mapari, Noucouru e Iratapuru; e (ii) pela margem direita, de montante a jusante: o rio Ipitinga, o rio Carecuru e o igarapé Caracaru, conforme o desenho Nº EP518.A1.JR-08-015 (Fig. 067), intitulado “Mapa da Rede Hidrográfica – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Ao longo da bacia, nos locais onde os substratos rochosos afloram, surgem as cachoeiras, que fazem com que os rios aumentem sua largura, formando nestes lugares sequências de canais e ilhas, condicionadas pela estrutura geológica. 4.2.1.1 Padrão de Drenagem O padrão de drenagem ou rede de drenagem é o formato ou o aspecto que apresenta o conjunto dos talvegues de uma bacia hidrográfica. É influenciado pela natureza e disposição das camadas rochosas, pela resistência litológica variável, pelas diferenças de declividade e pela evolução geomorfológica da região. Os tipos básicos dos padrões de drenagem, baseados principalmente em critérios geométricos, podem ser classificados nas formas: dendrítica, treliça, retangular, paralela, radial e anelar, conforme a Figura 4.2.1-1 a seguir. Hydros EP518.RE.JR201 97 Fonte: Christofoletti, 1980 Figura 4.2.1-1 – Padrões de Drenagem A bacia do rio Jari possui padrão de drenagem na forma dendrítica, forma predominante na natureza. Trata-se de um padrão com a forma arborescente, como as nervuras de uma folha ou galhos de árvore. Essa forma é típica de áreas cobertas por rochas não fraturadas e isotrópicas em relação à erosão pluvial e fluvial, ou de áreas com estruturas sedimentares horizontais. Os talvegues são de variados comprimentos e não possuem orientação preferencial ou uma organização sistemática. Apesar de não ser possível visualizar em mapa de escala 1:1.000.000, destaca-se que na região da Serra do Urucupatá (a jusante da confluência do rio Mapari com o rio Jari), predomina a forma em treliça, composta por rios principais consequentes correndo paralelamente, recebendo afluentes subsequentes que fluem em direção transversal aos primeiros. Trata-se de uma região com controle estrutural muito acentuado. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.1.2 98 Hierarquia Fluvial De acordo com o Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas da Eletrobrás (2007), a relação existente entre a ordem fluvial e a riqueza das comunidades ictiofaunísticas implica que se encontrem, em rios com ordem elevada, comunidades aquáticas dotadas de maior biodiversidade do que daquelas presentes em rios de baixa ordem. Assim sendo, para a obtenção dos atributos determinantes da diversidade biológica deverá ser conhecida a ordem dos rios da bacia, ou seja, a hierarquia fluvial da bacia. Para realizar a hierarquização da bacia do rio Jari, várias são as metodologias de hierarquização dos canais fluviais, sendo a definida por Strahler (1952) a mais utilizada na área socioambiental. De acordo com esta classificação, os primeiros canais mais a montante, sem tributários, são ordenados como primeira ordem, desde a nascente até a confluência. O encontro de dois canais de primeira ordem resulta num canal de segunda ordem que só recebe afluentes de primeira ordem. A confluência de dois canais de segunda ordem resulta num de terceira ordem que recebe afluentes de primeira e segunda ordem. E assim sucessivamente. A ordem dos canais não muda pela chegada de um tributário de menor ordem. Na análise morfométrica, a confluência é o local onde dois canais se encontram e não é permitida a junção tríplice. No método de Strahler, o rio principal não mantém sempre a mesma ordem ao longo de toda a sua extensão e a rede de canais pode ser decomposta em segmentos discretos cujas áreas de contribuição formam a própria bacia de drenagem. A hierarquização dos canais fluviais da bacia do rio Jari está apresentada no desenho Nº EP518.A1.JR-08-016 (Fig. 068), intitulado “Mapa da Hierarquia Fluvial – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. A Tabela 4.2.1-1 apresenta os canais fluviais e sua ordem segundo o método proposto por Strahler (1952). Na primeira coluna, ordens separadas por barras indicam que diferentes trechos do canal fluvial são enquadrados em diferentes ordens. Tabela 4.2.1-1 – Hierarquia Fluvial da Bacia do Rio Jari Ordem 1 Nome do Canal Hídrico córrego Ruapir, igarapé do Pinheiro, igarapé Espingarda, igarapé Garimpo, igarapé Lago, igarapé Yãkã, rio Icouara, rio Queriniutu 1/2 igarapé Caracuruzinho, igarapé Curuapi, igarapé dos Patos, igarapé Fé em Deus, igarapé Garapi, igarapé Jacaré, igarapé Limão, igarapé Tucuna, igarapé Ximimximim, rio Inipaco 1/2/3 igarapé Paruzinho, igarapé Serra Azul, igarapé Táxi, rio Carecuru, rio Curapi, rio Iratapuru, rio Noucouru, igarapé do Inferno 1/2/3/4 1/2/3/4/5 igarapé Caracaru, rio Cuc, rio Culari, rio Ipitinga, rio Mapaoni, rio Mapari rio Jari De forma resumida, pode-se afirmar que os igarapés de 1ª e 2ª contribuem com os rios como Carecuru, Cuc, Noucouru, Culari, Ipitinga, Iratapuru, Mapaoni e Mapari. Esses últimos constituem os rios tributários mais significativos do rio Jari. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.1.3 99 Densidade de Drenagem A densidade da rede de drenagem de áreas inseridas na denominada região Amazônica é sobejamente conhecida como densa, apresentando uma infinidade de rios de diversas dimensões. Canais, ilhas, lagos e meandros abandonados se alternam formando uma rede dos diversos tipos de escoamento. A bacia do rio Jari segue o padrão amazônico com uma densa rede de drenagem, variando de intensidade nos diferentes locais da bacia. O Manual de Inventário Hidrelétrico da Eletrobrás (2007) sugere que o cálculo da densidade de drenagem seja feito através da relação do número de confluências e a área de drenagem de cada sub-bacia. Para que não houvesse sobreposição de áreas, optou-se por considerar a delimitação das chamadas ottobacias33, aqui denominadas de sub-regiões hídricas, e nomeadas segundo o nome do curso hídrico principal34. A densidade de drenagem calculada segundo a referida metodologia é apresentada na Tabela 4.2.1-2 a seguir. O desenho N° EP518.A1.JR-08-020 (Fig 069), intitulado “Mapa da Densidade de Drenagem - Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, apresenta as confluências e o contorno de cada sub-região considerada. Tabela 4.2.1-2 – Densidade de Drenagem da Bacia do Rio Jari Segundo Metodologia do Manual de Inventário Sub-Região Hídrica Área da SubRegião (km²) Número de Confluências Densidade de Drenagem (10-3) Classes de Densidade de Drenagem Alto Jari Rio Cuc Rio Ipitinga Médio Jari Baixo Jari Médio-Alto Jari Carecuru/Noucouru Iratapuru Mapari Bacia do Rio Jari 13.885,9 4.769,7 8.743,7 2.793,1 6.769,7 3.500,8 7.753,1 4.519,1 4.354,8 57.089,9 152 46 84 26 61 30 61 33 24 517 10,9 9,6 9,6 9,3 9,0 8,6 7,9 7,3 5,5 9,1 10 a 11 9 a 10 9 a 10 9 a 10 9 a 10 8a9 7a8 7a8 5a6 9 a 10 Pode-se verificar pela análise da tabela acima que a sub-região hídrica do Alto Jari é a que apresenta a mais alta densidade, seguida do rio Cuc, rio Ipitinga e Médio Jari e, por fim, a que apresenta a menor densidade de drenagem é a sub-região hídrica do Mapari. Alternativamente, a densidade de drenagem também pode ser calculada como sendo a razão entre o comprimento total dos canais e a área da bacia hidrográfica, segundo a definição de Horton (apud LIMA, 2008). É dada por: 33 Ottobacias do Brasil - Divisão Hidrográfica Nacional, 2003, extraída do Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas, 2007. 34 O sistema de Ottobacias não nomeia as ottobacias. Hydros EP518.RE.JR201 100 DD = Lt A Onde: - DD = Densidade de Drenagem (km/km2) - Lt = Comprimento total dos canais (km) - A = Área da bacia (km2) Os resultados são apresentados na Tabela 4.2.1-3, a seguir. Tabela 4.2.1-3 – Densidade de Drenagem da Bacia do Rio Jari Segundo Metodologia de Horton Sub Região Hídrica Área da subregião (km²) Somatória do comprimento dos canais fluviais (km) Densidade de Drenagem (km/km²) Classes de Densidade de Drenagem Alto Jari 13.885,9 2.718,5 0,196 0,19 a 0,20 Rio Cuc 4.769,7 893,3 0,187 0,18 a 0,19 Rio Ipitinga 8.743,7 1.611,8 0,184 0,18 a 0,19 Médio-Alto Jari 3.500,8 617,7 0,176 0,17 a 0,18 Médio Jari 2.793,1 456,1 0,163 0,16 a 0,17 Iratapuru 4.519,1 721,2 0,160 0,15 a 0,16 Baixo Jari 6.769,7 1.055,9 0,156 0,15 a 0,16 Carecuru/Noucouru 7.753,1 1.138,5 0,147 0,14 a 0,15 Mapari 4.354,8 622,8 0,143 0,14 a 0,15 Bacia do Rio Jari 57.089,9 9.835,7 0,172 0,17 a 0,18 De modo geral, o cálculo de densidade de drenagem de ambas as metodologias ordena as subregiões de forma semelhante, com os extremos representados pela sub-região do Alto Jari e Mapari. Destaca-se, no entanto, que na metodologia de Horton, a sub-região do Carecuru/Noucouru apresentou densidade de drenagem relativamente baixa em comparação ao resultado obtido segundo a metodologia do Manual de Inventário. Hydros EP518.RE.JR201 101 4.2.1.4 Diversidade Física do Canal Principal e Heterogeneidade dos Ambientes Fluviais 4.2.1.4.1 Canal Principal O curso superior do rio Jari é definido desde a sua nascente na serra do Tumucumaque, a aproximadamente 600 m de altitude, até a confluência com o rio Ipitinga. No trecho desde a nascente até as proximidades de Molocope (aproximadamente 90 km de extensão) seu curso se dá no sentido N-S e é bem definido pela Serra do Tumucumaque, com declividade ondulada variando de 10-20%. Nas proximidades da confluência com o rio Ipitinga, a aproximadamente 200 m de altitude, somadas as contribuições dos rios Cuc e Mapari, associados ao afloramento de rochas dos Planaltos Residuais do Amazonas, há o alargamento do curso e a formação de diversas ilhas e cachoeiras. O trecho entre a foz do rio Ipitinga até o igarapé Caracaru é definido como médio curso. Esse trecho é caracterizado por várias quedas d’água, com declividade em torno de 10-30%, tornando inviável a navegação. O seu curso inferior é delimitado desde a foz do igarapé Caracaru até a sua foz no rio Amazonas. Nas proximidades da ilha de Jubutituba, a aproximadamente 100 m de altitude, o rio inflete seu curso de forma sinuosa para o sentido W-E. Nessa região de planície com declividade quase nula surgem as áreas alagáveis. A navegação limita-se ao curso inferior do rio Jari somado ao trecho do médio curso, que vai desde a foz do igarapé Caracaru até a cachoeira Santo Antônio. Os segmentos dos rios e suas características podem ser visualizados no desenho Nº EP518.A1.BR-08-007 (Fig. 070), intitulado “Mapa da Diversidade Física do Canal Fluvial e Heterogeneidade dos Ambientes Fluviais – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 4.2.1.4.2 Principais Afluentes a) Rio Curapi O rio Curapi é um afluente da margem esquerda do rio Jari e tem seu curso no sentido N-S. Nasce aproximadamente a 300 m de altitude, no extremo norte da bacia do rio Jari, na Serra do Tumucumaque. Todo o seu curso se dá na unidade geomorfológica denominada Colinas do Amapá. O seu alto curso apresenta forma bem definida, com declividade variando de 10-20%. Já no seu médio e baixo curso, região caracterizada por baixa declividade, o rio perde um pouco a sua forma e por consequência há o alargamento das margens. Hydros EP518.RE.JR201 b) 102 Rio Culari O rio Culari é um afluente da margem esquerda do rio Jari, nasce na Serra do Tumucumaque na divisa com a Guiana Francesa, aproximadamente a 300 m de altitude. Seu curso se dá no sentido N-S, na unidade geomorfológica denominada Colinas do Amapá. Quase toda a extensão de seu curso é definida por baixa declividade variando de 0-3%. c) Rio Cuc O rio Cuc é um afluente da margem esquerda do rio Jari, nasce na Serra do Tumucumaque na divisa com a Guiana Francesa, aproximadamente a 300 m de altitude. Seu curso se dá no sentido N-S. Quase todo o seu curso se situa na unidade geomorfológica denominada Colinas do Amapá, com exceção do médio curso, onde é cortado pelos Planaltos Residuais do Amapá. É caracterizado por possuir baixa declividade em quase toda sua extensão. d) Rio Mapari O rio Mapari corre no sentindo N-S e é um afluente da margem esquerda do rio Jari. A confluência com o rio Jari está situada nas proximidades na Cachoeira Meripatari. Sua nascente se localiza nos Planaltos Residuais do Amapá, na serra do Tumucumaque, aproximadamente a 500 m de altitude. Ao longo de seu curso, caracterizado por baixa declividade, recebe contribuições do rio Inipaco e do igarapé Yãkã. e) Rio Noucouru O rio Noucouru nasce na Serra do Noucouru, aproximadamente a 300 m de altitude, nos Planaltos Residuais do Amapá, e corre no sentido N-S, sendo um dos afluentes da margem esquerda do rio Jari. O seu alto curso é caracterizado por declividade ondulada ou forte variando de 10-30%. Já seu baixo e médio curso, situados na Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, apresenta baixa declividade (0-3%), provocando o alargamento da margem e a perda definida de seu curso. f) Rio Iratapuru O rio Iratapuru nasce na Serra do Iratapuru a uma altitude em torno dos 500 m na divisa com o estado do Amapá, corre no sentido N-S e desemboca na margem esquerda do rio Jari, na localidade da Barraca da Boca. O seu alto curso é caracterizado por ser bem definido e apresenta declividade que varia de 1030%. Já no seu médio e baixo curso, quando adentra na Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, nas proximidades de sua confluência com o Jari, quando recebe contribuições do Hydros EP518.RE.JR201 103 igarapé Espingarda e outros cursos, há o aumento de seu volume e a formação de diversas ilhas fluviais. g) Rio Ipitinga O rio Ipitinga, o maior contribuinte do rio Jari, corre no sentido NW-SE e deságua na margem direita do rio Jari. Ele nasce aproximadamente a 300 m de altitude, na unidade geomorfológica denominada Colinas do Amapá. O seu médio curso é cortado pelos Planaltos Residuais do Amapá, onde não há alterações significativas em sua fisiografia. Na confluência com o rio Jari, na unidade geomorfológica denominada Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, há o alargamento de suas margens e aumento de seu volume, consequência da baixa declividade do local (1-3%), formando assim inúmeras ilhas fluviais. h) Rio Carecuru O rio Carecuru é um afluente da margem direita do rio Jari. Nasce aproximadamente a 500 m de altitude nos Planaltos Residuais do Amapá e corre no sentido W-E. Todo o seu curso se localiza na unidade geomorfológica denominada Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. Nas proximidades de sua confluência com o rio Jari, há um aumento de seu volume devido às contribuições de diversos cursos hídricos como o igarapé Táxi, igarapé Garimpo, igarapé Lago, igarapé Limão, igarapé Jacaré e igarapé Carecuruzinho. i) Igarapé Caracaru O igarapé Caracaru corre no sentido W-E, é um afluente da margem direita do rio Jari, e está situado no Planalto do Uamutã – Jari. Seu maior contribuinte é o igarapé Serra Azul, que nasce na Estação Ecológica do Jari. Toda a região de seu curso, por ser relativamente plana (declividade de 0-1%), é caracterizada pela presença de áreas alagadas. 4.2.1.4.3 Cachoeiras As cachoeiras concentram-se no curso superior do rio Jari, nas proximidades da confluência com o rio Ipitinga. As cachoeiras nesse trecho são, de montante a jusante: do Desespero, Macaquara ou Mucuru, Apupai, Meripatari, Arucuopatari, do Jabuti, Gaivota, Urubu, Cuiri e Ipitinga. A montante deste trecho, ainda no rio Jari, encontra-se a cachoeira Macaé. No médio curso do rio Jari a concentração de cachoeiras também é alta e é responsável por limitar a navegação ao sul da bacia. As cachoeiras encontradas no trecho são, de montante a jusante: Maçaranduba, Aurora, Inajá, Veriverina, Cumaru, Açaípe, Escalção, Itapeuara e Santo Antônio. Destaca-se que a cachoeira Santo Antônio possui queda de 28 metros, o que a torna também um grande filtro ao fluxo faunístico. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.1.4.4 104 Praias Fluviais As praias fluviais na bacia do rio Jari não encontram-se mapeadas em escala 1:1.000.000, segundo a base de dados do IBGE (2003). No entanto, devido à sua importância para a avaliação de impacto, durante a realização dos diversos serviços de campo necessários para o inventário hidrelétrico, as praias encontradas foram fotografadas e seus pontos georreferenciados. Em especial, durante a campanha hidrométrica realizada em novembro de 2008 (época de águas baixas, propícia para identificação de praias), foram identificadas três praias fluviais. No curso superior do rio Jari encontrou-se uma praia, próxima à região em que se concentram as cachoeiras (Figura 4.2.1-2). Figura 4.2.1-2 – Praia Localizada no Alto Rio Jari, a Montante da Foz do Rio Ipitinga No médio curso do rio Jari foram localizadas duas praias. Estas, mesmo em períodos de nível baixo da água dos rios, apresentam faixa de areia relativamente estreita, como pode ser observado nas Figuras 4.2.1-3 e 4.2.1-4. Hydros EP518.RE.JR201 105 Figura 4.2.1-3 – Praia do Itacará, Localizada no Rio Jari, a Montante Foz do Rio Iratapuru Figura 4.2.1-4 – Praia do Chafariz, Localizada no Rio Jari, a Montante Foz do Rio Iratapuru Hydros EP518.RE.JR201 4.2.1.4.5 106 Lagoas Marginais Não existem lagos verdadeiros na região amazônica, com exceção da região dos Andes. Na amazônia brasileira, lagos são na verdade anexos aos rios e são produto de suas atividades (SIOLI, 1984). As lagoas marginais fazem parte do mosaico de habitats que compõem o ambiente de várzea amazônico, fornecendo abrigo e alimento aos peixes, principalmente durante a época de cheia (BARTHEM; GOULDING, 2007). Como a ocorrência e a dimensão das lagoas marginais na planície de inundação amazônica são sazonalmente moduladas pela variação do nível da água (JUNK apud LIMA et al., 2006), seu mapeamento torna-se difícil. Apesar da falta de mapeamento, será possível analisá-las na fase de avaliação de impacto dos aproveitamentos hidrelétricos a serem estudados no Inventário. A metodologia comumente empregada para tanto é a utilização de fotografias aéreas e ortofotocartas, na escala de 1:25.000, produtos estes que estarão disponíveis e serão utilizados durante a etapa de avaliação de impacto dos aproveitamentos do Inventário Hidrelétrico. Hydros EP518.RE.JR201 107 4.2.2 QUALIDADE DA ÁGUA 4.2.2.1 Considerações Gerais A bacia amazônica está dividida em três grandes unidades morfo-estruturais herdadas da história geológica da bacia: os escudos (das Guianas ao norte, onde está a bacia do Jari e o Brasileiro ao sul), a cordilheira dos Andes e a planície amazônica, que ocupam 44%, 11% e 45%, respectivamente, da superfície total da bacia (CHAVES et al., 1994). Os principais tributários do Amazonas apresentam características hidrográficas e limnológicas ligadas a essas três grandes unidades (SIOLI, 1968). Assim, temos os rios de águas brancas, com alta turbidez, baixa transparência, de coloração ocre; os rios de águas pretas, cor de café, transparentes, baixa turbidez; e os rios de águas claras, límpidos, águas de amarelada a esverdeada (SIOLI, 1975). Os rios que compõem a bacia do rio Jari são derivados da região do Escudo Arcaico das Guianas e se enquadram na classificação de Sioli (1950) como rios de águas claras, caracterizados por apresentarem material em suspensão e íons em quantidades intermediárias às dos rios de água branca, provenientes de áreas com ação intensiva dos processos erosivos; e dos rios de água preta, pobres em sólidos e elementos minerais dissolvidos e ricos em substâncias húmicas. Além da geologia, o relevo, o clima e a vegetação são os principais fatores no controle da carga de materiais dissolvidos e em suspensão na água. Segundo Gibbs (1967), o relevo é, dentre eles, o mais importante. As características limnológicas do rio Jari, assim como acontece com todos os grandes rios amazônicos, são fortemente influenciadas pelas grandes alterações periódicas de nível d’água. O aumento da entrada de água para os rios pode contribuir para o aumento da entrada de nutrientes e sedimentos provenientes do meio terrestre e, além da dinâmica natural, esse aumento é fortemente influenciado pelo uso do solo na bacia. Por outro lado, a cheia pode contribuir pelo seu efeito diluidor, com a diminuição das concentrações de certas espécies químicas, principalmente de certos íons que se originam do intemperismo das rochas da bacia de drenagem. Outra característica que, associada ao relevo, tem grande influência nas características físicas e químicas da água dos rios ao longo do ciclo hidrológico é a relação do rio com sua planície de inundação. As lagoas marginais e as áreas alagáveis são ambientes de deposição de sedimentos e de retenção de nutrientes das águas que extravasam o leito dos rios, mas podem representar, também em função do metabolismo dos organismos aquáticos e da hidrodinâmica dos sistemas, ambientes que injetam matéria orgânica nos rios. Além desses aspectos, os rios apresentam diferenças de características e de processos ecológicos ocorrentes ao longo do seu curso. Os rios representam sistemas ecológicos com zonação longitudinal, das nascentes à foz, e forte interação lateral com a superfície de inundação. Segundo Ward (1989), os rios interagem em quatro dimensões: a montante e a jusante, lateralmente, verticalmente (com a água subterrânea) e ao longo do tempo, pois os rios sofrem alterações nas suas composições físicas e químicas, em função das alterações de uso do solo (tipo e intensidade) nas áreas adjacentes às suas margens. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.2.2 108 Classificação das Águas Doces em Categorias de Qualidade da Água A Região Hidrográfica Amazônica apresenta uma ocupação rarefeita do território que, combinada com uma condição hídrica privilegiada, faz com que a região não apresente problemas de disponibilidade hídrica. Todavia, a riqueza do bioma amazônico e a sua profunda interação com os corpos d’água fazem com que quaisquer ações desencadeadas no espaço geográfico produzam efeitos imediatos sobre os recursos hídricos (ANA, 2003). A qualidade da água é definida a partir de seus usos pretendidos. A Resolução CONAMA Nº 357 de 17 de março de 2005 (MMA, 2006) estabelece a classificação das águas doces em 5 categorias (especial, 1, 2, 3 e 4) e as condições e padrões para cada uma delas. Dessas categorias a classe especial representa a de melhor qualidade, sendo águas destinadas ao abastecimento humano, com desinfecção, à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas e à preservação dos ambientes aquáticos em Unidades de Conservação de proteção integral. As demais, de 1 a 4, se situam num gradiente de condições alteradas pela atividade humana, sendo a classe 4 a de pior qualidade. A condição, ou seja, a classe estabelecida para cada corpo d’água ou para um trecho dele é estabelecida pelo enquadramento, que deve ser estabelecido por um instrumento legal. Nesse enquadramento se leva em consideração as condições existentes nos corpos d’água e os usos pretendidos para os recursos hídricos. Os rios do estado do Amapá não foram, ainda, objetos de enquadramento. Nesses casos, a Resolução CONAMA Nº 357 prevê, até que o enquadramento seja realizado, que as águas doces sejam consideradas de Classe 2. 4.2.2.3 Dados Levantados Determinados projetos ou órgãos governamentais realizaram ou têm realizado amostragens de água na bacia do rio Jari que foram extremamente úteis para a elaboração do presente diagnóstico socioambiental. Os pontos de coleta de tais projetos/órgãos totalizam 17 estações, distribuídas no médio e baixo curso do Jari e afluentes. Os referidos pontos de coleta estão apresentados no desenho Nº EP518.A1.JR-08-040 (Fig. 072), intitulado “Mapa da Localização dos Pontos de Coleta de Água com Dados de Fontes Secundárias – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Os dados levantados estão apresentados no Anexo 3.2. Complementarmente, foram realizados serviços de campo de coleta de amostras de água para o estudo da qualidade da água. Os referidos serviços foram denominados “Campanhas Limnológicas”. 4.2.2.3.1 Agência Nacional de Águas (ANA) A Rede Hidrometeorológica Nacional, atualmente coordenada pela Agência Nacional de Águas, é composta por um grande número de estações pluviométricas, climatológicas e fluviométricas. Em alguns pontos de levantamento de dados fluviométricos há também a determinação de algumas variáveis de qualidade da água. São poucas, no entanto, as variáveis analisadas e as amostragens são feitas sem uma periodicidade definida. Hydros EP518.RE.JR201 109 Para a bacia do Jari há 2 estações com dados de qualidade da água, sendo uma no rio Jari (Estação São Francisco) e a outra no rio Iratapuru (Estação Iratapuru), conforme Tabela 4.2.21. Tabela 4.2.2-1 – Dados da Rede Hidrometeorológica Nacional – Localização das Estações de Coleta de Água Estação (Código Hydros) ANA – 1 19150000 ANA – 2 19100000 Código ANA Estação Rio Latitude Longitude São Francisco Estação Iratapuru Jari N 0° 34' 16'' W 52° 34' 30'' Iratapuru N 0° 33' 07'' W 52° 34' 13'' Fonte: ANA – Agência Nacional de Águas As Tabelas 3.2-1 e 3.2-2 do Anexo 3.2 apresentam os dados obtidos da ANA. 4.2.2.3.2 Projeto HiBAm – Hidrologia da Bacia Amazônica O HiBAm – Hidrologia e Geoquímica da Bacia Amazônica – é um projeto científico internacional com estudos que envolvem o conhecimento do fluxo de sedimentos em suspensão nos rios amazônicos, sua variabilidade e fenômenos a ele associados, como o impacto das atividades humanas e a contaminação dos rios. Em algumas das campanhas que têm sido realizadas há dados de qualidade da água da bacia rio Jari, entretanto apenas em um único ponto, denominado Boca do Jari, conforme Tabela 4.2.2-2. Tabela 4.2.2-2 – Dados do Projeto Hibam – Localização da Estação de Coleta de Água Estação (Código Hydros) Hibam – 1 Estação Posto Rio Latitude Longitude Boca do Jari 19150090 Jari S 1° 7' 56.4'' W 51° 58' 53.5'' Fonte: Projeto Hibam – Hidrologia da Bacia Amazônica A Tabela 3.2-3 do Anexo 3.2 apresenta os dados obtidos do Projeto Hibam. 4.2.2.3.3 Projeto Brasil das Águas Esse projeto consistiu na amostragem, com a utilização de um hidroavião, realizadas por Gérard e Margi Moss, ao longo de 14 meses (outubro de 2003 a dezembro de 2004) em um grande número de corpos d’água em todo o Brasil, amostrados em agosto/2004, com a análise de um grande número de variáveis físicas, químicas e biológicas. O projeto contou com a participação do Instituto Internacional de Ecologia e de pesquisadores de outras instituições de pesquisa brasileiras. As amostragens incluíram 4 pontos na bacia do rio Jari, sendo três no próprio Jari e um na foz do rio Ipitinga, conforme Tabela 4.2.2-3. Hydros EP518.RE.JR201 110 Tabela 4.2.2-3 – Dados do Projeto Brasil das Águas – Localização das Estações de Coleta de Água Estação (Código Hydros) Código (PBA) Rio Local Latitude Longitude PBA - 1 54 Jari Cachoeira Veriverina S 00° 07' 42,96'' W 52° 56' 35,94'' PBA - 2 73 Jari S 00° 55' 55,98'' W 52° 25' 34,26'' PBA - 3 81 Ipitinga N 00° 01' 40,62'' W 53° 00' 19,56'' PBA - 4 82 Jari S 01° 11' 40,44'' W 52° 06' 46,14'' Foz no Rio Jari Fonte: Projeto Brasil das Águas Nota: Segundo a carta do IBGE (1998), a Cachoeira Veriverina localiza-se a cerca de 30 km a jusante do ponto indicado pelas coordenadas geográficas. No entanto, segundo informações obtidas em inspeções de campo da Hydros, os nomes oficiais das cachoeiras da bacia do rio Jari (segundo IBGE) frequentemente não coincidem com os nomes comumente utilizados pela população local. Desta forma, optou-se por considerar as coordenadas geográficas indicadas. A Tabela 3.2-4 do Anexo 3.2 apresenta os dados obtidos do Projeto Brasil das Águas. 4.2.2.3.4 Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais – CPRM Visando o desenvolvimento do município de Laranjal do Jari, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, em parceria com a Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral - SEPLAN/AP, realizou análises de águas superficiais do referido município, obtidas a partir de amostras coletadas em uma campanha no mês de julho de 1998. Foram realizadas coletas de água em 16 pontos, sendo 4 deles localizados no rio Jari, sob influência da sede do município de Laranjal do Jari e da vila de Monte Dourado, pertencente ao município de Almeirim, conforme Tabela 4.2.2-4 a seguir. Tabela 4.2.2-4 – Dados da CPRM – Localização das Estações de Coleta de Água Estação (Código Hydros) Estação (Código CPRM) CPRM - 1 LJJ-01 CPRM - 2 CPRM - 3 CPRM - 4 LJJ-02 LJJ-03 LJJ-04 Local Rio Jari - captação da ETA Rio Jari Rio Jari Rio Jari Latitude Longitude S 0° 49' 23.4'' W 52° 31' 25.6'' S 0° 49' 41'' S 0° 51' 22.7'' S 0° 51' 25'' W 52° 32' 03'' W 52° 32' 24.2'' W 52° 31' 4.7'' Fonte: CPRM (SOUZA, 1998) A Tabela 3.2-5 do Anexo 3.2 apresenta os dados obtidos da CPRM. 4.2.2.3.5 Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amapá– SEMA/AP Com a conclusão do diagnóstico socioambiental do Zoneamento Ecológico Econômico ZEE, da região sul do estado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amapá - SEMA/AP passou a monitorar a qualidade da água semestralmente quanto aos parâmetros que compõem Hydros EP518.RE.JR201 111 o Índice de Qualidade da Água (IQA), desde 2002. São 6 pontos de amostragem no rio Jari, conforme Tabela 4.2.2-5 a seguir. Tabela 4.2.2-5 – Dados da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Amapá SEMA/AP – Localização das Estações de Coleta de Água Estação (Código Hydros) SEMA/AP - 1 SEMA/AP - 2 SEMA/AP - 3 SEMA/AP - 4 Ponto (Código SEMA/AP) JR-01 JR-02 JR-03 JR-04 SEMA/AP - 5 JR-05 SEMA/AP - 6 JR-06 Localização/Coordenadas Latitude Longitude Jarilândia Vitória do Jari – a jusante Vitória do Jari – a montante Laranjal do Jari – a jusante Laranjal do Jari – a montante (captação da CAESA) Rio Jari, próximo á foz do Igarapé da Santa S 01º 07’ 25,3” S 00º 56’ 55,1” S 00º 55’ 08,7” S 00º 51’ 17,2” W 51º 59’ 38,6” W 52º 26’ 01.9” W 52º 24’ 24.8” W 52º 30’ 57,9” S 00º 49’ 25,2” W 52º 31’ 26,4” S 00º 31’ 15,5” W 52º 40’ 59,9” Fonte: SEMA/AP Nota: As coordenadas do ponto SEMA/AP-2 foram ajustadas de forma que se localizasse no rio Jari, a jusante de Vitória do Jari. Os pontos de monitoramento da água da SEMA/AP foram escolhidos de forma que abrangessem locais sob alguma pressão antrópica, conforme Tabela 4.2.2-6 a seguir. Tabela 4.2.2-6 –Estações de Coleta de Água da SEMA/AP e Pressão Antrópica a que Estão Sujeitas Estação (Código Hydros) SEMA/AP - 1 SEMA/AP - 2 SEMA/AP - 3 SEMA/AP - 4 SEMA/AP - 5 SEMA/AP - 6 Localização/Coordenadas Tipo de Pressão Jarilândia Vitória do Jari – a jusante Vitória do Jari – a montante Núcleo urbano Núcleo urbano e industrial Núcleo urbano e industrial Laranjal do Jari – a jusante Laranjal do Jari – a montante (captação da CAESA) Rio Jari, próximo á foz do Igarapé da Santa Núcleo urbano Núcleo urbano Atividade mineral A Tabela 3.2-6 do Anexo 3.2 apresenta os dados obtidos da SEMA/AP. 4.2.2.3.6 Campanhas Limnológicas Foram realizadas quatro coletas em oito pontos na bacia do rio Jari, sendo cinco pontos no rio Jari, dois no rio Ipitinga e um no rio Iratapuru, conforme Tabela 4.2.2-7 e desenho Nº EP518.A3.JR-08-008 (Fig. 071), intitulado “Campanha Limnológica - Localização dos Pontos de Coleta de Água – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Hydros EP518.RE.JR201 112 Tabela 4.2.2-7 – Campanha Limnológica - Pontos de Coleta de Água Item Ponto de coleta Rio 1 Ipitinga Ipitinga - 1 2 Ipitinga Ipitinga - 2 3 Iratapuru Iratapuru - 1 4 Jari Jari - 1 5 Jari Jari - 2 6 Jari Jari - 3 7 Jari Jari - 4 8 Jari Jari-5 4.2.2.4 Referência Próximo à confluência com o rio Jari No eixo IP-56,7 km Em Barra da Boca – em frente à estação linimétrica CPRM No eixo em Desespero (JR – 371,0 km) No eixo em Açaipé (JR– 194,8 km) A montante da captação de água de Laranjal do Jari A jusante de Laranjal do Jari – em frente a E.M. Paulo Freire No eixo Macaquara Coordenadas Geográficas Longitude Latitude W 53° 01' 24,0'' N 1° 58' 70,9'' W 53° 13' 33,6'' N 0° 16' 29,9'' W 52° 34' 46,8'' N 0° 33' 24,0'' W 53° 9' 9,69'' N 0° 35' 32,45'' W 52° 40' 13,2'' N 0° 33' 16,0'' W 52° 31' 24,1'' N 0° 49' 18,7'' W 52° 31' 34,7'' N 0° 51' 28,6'' W 53° 20' 34,9'' N 0° 52' 31,1'' Análise dos Dados Levantados A partir dos dados levantados, de modo geral, pode-se afirmar que as águas dos rios da bacia do rio Jari são de ácidas a levemente ácidas, com condutividade relativamente reduzida, subsaturadas de oxigênio dissolvido, com teores de nutrientes baixos. Os dados da Rede Hidrometeorológica Nacional no rio Jari (Figura 4.2.2-1) mostram águas ácidas (média 5,9 no período 1976-1984 e 5,8 no período 1996-2005), com condutividade relativamente baixa (média 29μS/cm-1976/1984 e 28μS/cm – 1996/2005) e concentrações reduzidas de oxigênio dissolvido para uma condição de rio (média de 4,4 mg/L – 1976/1984 e 7,6 mg/L – 1996/2005). Hydros EP518.RE.JR201 113 pH - Rio Jari - 1976-1984 pH - Rio Jari - 1996-2005 mai-05 mai-05 mai-05 mai-04 nov-04 mai-03 nov-03 mai-02 nov-02 mai-01 nov-01 mai-00 nov-00 mai-03 mai-02 nov-02 nov-01 nov-00 mai-01 nov-02 mai-02 nov-01 mai-01 nov-00 mai-00 nov-99 mai-99 nov-98 mai-98 nov-97 mai-97 set-83 mar-84 mar-83 set-82 mar-82 set-81 mar-81 set-80 0,0 mar-80 2,0 0,0 set-79 4,0 2,0 nov-96 6,0 4,0 mar-79 nov-03 8,0 6,0 set-78 mai-03 10,0 8,0 mg/L 12,0 10,0 mar-78 mai-00 OD - Rio Jari - 1996-2005 12,0 set-77 nov-03 OD - Rio Jari - 1976-1984 nov-99 mai-99 nov-98 mai-98 nov-97 nov-96 set-83 mar-84 set-82 mar-83 mar-82 set-81 set-80 mar-81 mar-80 set-78 set-79 0 mar-79 0 mar-78 10 set-77 10 mar-77 20 mai-97 30 20 mar-77 mai-04 40 30 set-76 nov-04 50 40 set-76 mai-04 50 mar-76 nov-04 60 uS/cm 60 mar-76 uS/cm mai-99 condutividade - Rio Jari - 1996-2005 condutividade - Rio Jari - 1976-1984 mg/L nov-99 mai-98 nov-98 nov-97 nov-96 set-83 mar-84 set-82 mar-83 set-81 mar-82 set-80 mar-81 set-79 mar-80 set-78 mar-79 set-77 mar-78 set-76 mar-77 mar-76 mai-97 9,0 8,5 8,0 7,5 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 9,0 8,5 8,0 7,5 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 Fonte dos dados: ANA Figura 4.2.2-1 – Variação do pH, Condutividade Elétrica, Oxigênio Dissolvido na Estação Jari – 1976-1984 e 1996-2005 (Estação ANA-1) Os dados obtidos no projeto “Brasil das Águas”, em locais a jusante da Estação São Francisco da ANA (ANA-1), apresentam também águas sub-saturadas de oxigênio dissolvido mas, diferentemente dos dados da Rede Hidrometeorológica, com pH próximo à neutralidade e condutividade bem mais elevada, principalmente nos dados obtidos em Laranjal do Jari (PBA-2). As águas, porém, são oligotróficas, com baixas concentrações de clorofila e nutrientes, conforme mostrado na Figura 4.2.2-2, com os valores calculados com as concentrações de clorofila e fósforo total, conforme apresentado em Lamparelli (2004). Os cálculos de IET mostraram um aumento do grau de trofia de montante para jusante no rio Jari (PBA-1→PBA-2→PBA-4), conforme padrão comumente encontrado ao longo de um rio35. 35 O ponto PBA-3 localiza-se no rio Ipitinga. Hydros EP518.RE.JR201 114 Índice de Estado Trófico 58 56 54 52 50 48 46 44 42 PBA 1 PBA 2 IET PBA 4 PBA 3 ultraoligotrófico oligotrófico Fonte dos dados: Projeto Brasil das Águas Figura 4.2.2-2 – Índice de Estado Trófico – IET A somatória dos cátions básicos, cálcio, magnésio, sódio e potássio (TZ+) obtida com os dados existentes do projeto “Brasil das Águas” é apresentada na Tabela 4.2.2-8 a seguir. Tabela 4.2.2-8 – Somatória de Cátions Básicos (TZ+) a Partir dos Dados do Projeto Brasil das Águas Estação Rio Data Potássio Sódio Magnésio Cálcio TZ+ mg/L μeq/L mg/L μeq/L mg/L μeq/L mg/L μeq/L μeq/L PBA - 1 Jari 23/08/04 0,64 16,32 2,55 110,67 1,04 85,30 1,73 86,47 299 PBA - 2 Jari 26/08/04 0,65 16,70 3,03 131,92 1,08 89,14 1,76 87,68 325 PBA - 3 Ipitinga 23/08/04 0,81 20,61 3,20 139,07 1,42 116,60 2,34 116,84 393 PBA - 4 Jari 26/08/04 0,65 16,54 Fonte dos dados: Projeto Brasil das Águas 3,09 134,26 1,18 96,84 2,15 107,14 355 Segundo Stallard e Edmond (1983), rios que tem uma somatória de cátions básicos (cálcio, magnésio, sódio e potássio) entre 200 e 450 μeq/L, intervalo no qual se enquadram os dados existentes, drenam terrenos com silicatos e apresentam águas enriquecidas em sílica em relação a outras espécies químicas, condição essa que é comum nos rios de águas claras amazônicos. Os dados apresentados mostraram o rio Ipitinga (PBA-3) com TZ+ superior ao Jari e que, neste último, a concentração de cátions básicos aumentou ao longo do curso, indicando a influência dos tributários. Observou-se também um domínio do sódio entre os cátions básicos e dos alcalinos sobre os alcalinos terrosos (Figura 4.2.2-3). Hydros EP518.RE.JR201 115 Cátions básicos 100% 80% 60% Potássio Sódio Magnésio 40% Cálcio 20% 0% PBA 1 PBA 2 PBA 4 PBA 3 Fonte dos dados: Projeto Brasil das Águas Figura 4.2.2-3 – Proporção entre os Cátions Básicos Os rios da bacia do rio Jari se enquadram em duas das regiões do Zoneamento Hidrossedimentológico do Brasil (IPH/UFRGS, 1992), denominadas de N2b (Amazônia Setentrional) e N8 (Litoral Amazônico). Ambas as regiões caracterizam-se por apresentarem baixas concentrações médias anuais de sólidos em suspensão (CMA), características de rios de águas claras, com valores inferiores a 30 mg/L. Por outro lado, rios de águas brancas, como é o caso do rio Amazonas, possuem CMA variando entre 100 e 360 mg/L. Dentre os dados levantados para a bacia do rio Jari, o Projeto Hibam e o monitoramento de qualidade da água realizado pela SEMA/AP apresentaram medições de sólidos em suspensão (Tabelas 3.2-3 e 3.2-6, no Anexo 3.2). Os valores obtidos para sólidos em suspensão no rio Jari mantiveram-se entre 2 e 32 mg/L, com média 8,7 mg/L, confirmando a classificação do Zoneamento Hidrossedimentológico do Brasil. A turbidez é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar uma certa quantidade de água (CUSTODIO; LLAMAS apud DIAS; LIMA, 2004). Ela é atribuída principalmente às partículas sólidas em suspensão (NAIME; FAGUNDES, 2005). Dentre os dados levantados, o Projeto Brasil das Águas, a CPRM e a SEMA/AP apresentaram medições de turbidez para a bacia do rio Jari (Tabelas 3.2-4, 3.2-5 e 3.2-6, no Anexo 3.2). A turbidez manteve-se baixa (entre 6,4 e 31 NTU) em todos os pontos, com exceção do ponto PBA-4, confirmando o enquadramento do rio Jari como rio de águas claras. No ponto PBA-4, a turbidez foi de 158,2 NTU, tendo sido causado provavelmente pela influência do rio Amazonas neste trecho do rio Jari, próximo à sua foz no rio Amazonas. O fato dos rios da bacia do rio Jari se originarem no Escudo das Guianas, somado aos baixos valores de sólidos em suspensão e de turbidez encontrados para o rio Jari (inclusive em pontos localizados próximo à confluência com seus afluentes), indicam a inexistência de diferenciação entre o rio Jari e seus afluentes nesse sentido. A CPRM analisou diversos parâmetros, inclusive os necessários para o cálculo do IQA (Índice de Qualidade da Água) (Tabela 3.2-5, Anexo 3.2). Os valores de IQA obtidos variaram de 68,25 a 70,57, sendo enquadrados como de boa qualidade pela classificação em faixas proposta pela CETESB, ou seja, os pontos estudados possuem boas condições para tratamento e reutilização para diversos usos, inclusive para consumo humano (SOUZA, 1998). Hydros EP518.RE.JR201 116 Os dados da CPRM para o rio Jari em Laranjal do Jari, embora sejam dados obtidos numa única ocasião, mostraram águas ácidas, bem oxigenadas, com condutividade entre 24,1 e 24,5 µS/cm, concentrações reduzidas de fosfato total e valores relativamente elevados de nitrogênio total, amônia e nitrato. Nas Figuras 4.2.2-4 a 4.2.2-6 são apresentados os valores médios, máximos e mínimos obtidos pelo monitoramento da SEMA/AP. A análise desses dados mostra águas com temperatura entre 26 e 24ºC, com pH neutro (6,7 a 7,31), condutividade elétrica entre 23,3 e 43,3 µS/cm e oxigênio dissolvido entre 4,6 e 9,97 mg/L. Foram registrados valores reduzidos de turbidez (média de 10,2 NTU) e sólidos em suspensão (média de 8,9 mg/L) e valores relativamente elevados de nutrientes (valores médios de 0,9 mg/l para nitrato e 0,1 mg/L para ortofosfato). Ao longo do rio, observou-se uma tendência de aumento da condutividade e uma diminuição do pH e do oxigênio dissolvido. Essa tendência é a esperada, com aumento do grau de trofia ao longo do rio. Observou-se, ainda, nos dados obtidos, a influência de Laranjal do Jari e Vitória do Jari nos dados mais elevados de nitrato e coliformes fecais a jusante dessas cidades (pontos SEMA/AP-4 e SEMA/AP-2, respectivamente). Hydros EP518.RE.JR201 117 Condutividade 45 µS/cm 40 35 30 25 20 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 média OD 10,0 mg/L 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min média pH 7,4 7,2 7,0 6,8 6,6 6,4 6,2 6,0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max min SEMA/AP-03 SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 média Fonte dos dados: SEMA/AP Figura 4.2.2-4 – Valores Máximos, Médios e Mínimos de Condutividade, Oxigênio Dissolvido (OD) e pH Hydros EP518.RE.JR201 118 Turbidez 20,0 NTU 15,0 10,0 5,0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 média Nitrato 2,0 mg/L 1,6 1,2 0,8 0,4 0,0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min média Amônia 1,0 mg/L 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min média Fonte dos dados: SEMA/AP Figura 4.2.2-5 – Valores Máximos, Médios e Mínimos de Turbidez, Nitrato e Amônia Hydros EP518.RE.JR201 119 Ortofosfato 0,50 mg/L 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 média Coliformes fecais NMP/100mL 15000 10000 5000 0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min média Sólidos Totais em Suspensão 35 30 mg/L 25 20 15 10 5 0 SEMA/AP-06 SEMA/AP-05 SEMA/AP-04 max SEMA/AP-03 min SEMA/AP-02 SEMA/AP-01 média Fonte dos dados: SEMA/AP Figura 4.2.2-6 – Valores Máximos, Médios e Mínimos de Ortofosfato, Coliformes Fecais e Sólidos Totais Hydros EP518.RE.JR201 120 A partir dos dados da SEMA/AP, foi calculado o IQA segundo a metodologia de cálculo proposta pelo Programa Nacional do Meio Ambiente (2005) e enquadramento em faixas ou categorias de IQA propostas pela CETESB (Tabela 4.2.2-9). Tabela 4.2.2-9 – IQA Calculado Estação SEMA/AP-01 SEMA/AP-02 SEMA/AP-03 SEMA/AP-04 SEMA/AP-05 SEMA/AP-06 Data da coleta IQA Faixa IQA 06/05/03 09/07/03 25/09/03 18/04/04 06/04/03 09/07/03 24/09/03 18/04/04 06/04/03 09/07/03 24/09/03 18/04/04 05/04/03 08/07/03 23/09/03 15/04/04 05/04/03 08/07/03 23/09/03 15/04/04 05/04/03 08/07/03 23/09/03 16/04/04 72.85 73.71 79.02 64.06 75.88 80.41 80.08 74.02 74.63 74.39 80.34 74.36 70.93 78.56 79.35 73.70 77.08 73.59 85.09 79.45 79.33 78.50 83.35 79.19 boa boa ótima boa boa ótima ótima boa boa boa ótima boa boa boa ótima boa boa boa ótima ótima ótima boa ótima ótima Fonte dos dados: SEMA/AP. Os dados de IQA da SEMA/AP, com pontos de coleta mais distribuídos pela bacia, apresentaram valores muito semelhantes aos obtidos pela CPRM, variando de 64,06 (SEMA/AP-1) a 85,09 (SEMA/AP-5), sendo classificados como de qualidade boa a ótima. Em termos gerais, o IQA, apresentou condição boa nos pontos do Jari. No entanto, em alguns momentos, parâmetros como oxigênio dissolvido, amônia, fosfato e coliformes fecais apresentaram-se acima dos valores permitidos pela legislação para o enquadramento do rio na classe 2, indicando alguma influência antrópica, particularmente em função da ocupação urbana desordenada e o lançamento de dejetos nos rios. Os resultados das coletas indicaram que o regime de maré tem importante papel na diluição dos coliformes fecais, fazendo com que durante a maré enchente, valores elevados sejam encontrados nos pontos a montante das cidades (SEMA/AP, 2007). Hydros EP518.RE.JR201 121 A partir dos resultados obtidos nas Campanhas Limnológicas, foram calculadas as somatórias dos cátions básicos, cálcio, magnésio, sódio e potássio (TZ+), apresentadas na Tabela 4.2.2-10. Tabela 4.2.2-10 – Somatória de Cátions Básicos Item Campanha Limnológica Nome do Ponto de coleta Data da coleta Cálcio (µeq/L) Magnésio (µeq/L) Sódio (µeq/L) Potássio (µeq/L) TZ+ (µeq/L) 1 1a. Ipitinga - 1 09/12/07 221,56 159,55 60,00 43,49 484,59 2 2a. Ipitinga - 1 02/05/08 177,15 416,96 86,96 47,83 728,90 3 3a. Ipitinga - 1 01/07/08 49,90 256,59 73,92 30,44 410,85 4 5 4a. 2a. Ipitinga - 1 Ipitinga - 2 13/11/08 02/05/08 91,32 221,56 192,44 177,64 52,61 92,18 26,86 47,83 363,23 539,21 6 3a. Ipitinga - 2 01/07/08 89,82 120,89 74,79 25,58 311,08 7 4a. Ipitinga - 2 13/11/08 91,32 192,44 50,44 26,86 361,05 8 1a. Iratapuru - 1 10/12/07 132,73 213,00 142,61 47,58 535,93 9 2a. Iratapuru - 1 05/05/08 88,32 319,09 84,35 45,79 537,55 10 3a. Iratapuru - 1 04/07/08 182,14 82,24 82,61 30,44 377,43 11 4a. Iratapuru - 1 18/11/08 91,32 192,44 50,44 25,58 359,78 12 4a. Jari - 1 12/11/08 91,32 238,50 50,00 25,58 405,40 13 1a. Jari - 2 10/12/07 110,78 199,02 117,83 43,49 471,12 14 2a. Jari - 2 04/05/08 132,73 168,59 85,22 46,56 433,10 15 3a. Jari - 2 03/07/08 148,70 240,14 82,61 27,88 499,34 16 4a. Jari - 2 17/11/08 137,23 220,40 50,00 26,86 434,49 17 1a. Jari - 3 12/12/07 66,37 183,40 105,22 43,49 398,47 18 2a. Jari - 3 07/05/08 132,73 346,23 82,61 46,56 608,13 19 3a. Jari - 3 06/07/08 87,33 205,60 71,74 25,58 390,25 20 4a. Jari - 3 19/11/08 91,32 192,44 50,00 25,58 359,34 21 1a. Jari - 4 12/12/07 177,15 196,55 60,00 43,49 477,19 22 2a. Jari - 4 07/05/08 88,32 363,50 82,61 46,56 580,99 23 3a. Jari - 4 06/07/08 49,90 205,60 71,74 25,58 352,82 24 4a. Jari - 4 19/11/08 91,32 192,44 50,87 25,58 360,21 25 4a. Jari - 5 11/11/08 91,32 192,44 52,61 26,86 363,23 Rios com diferentes características hidroquímicas respondem de maneira diferenciada às intervenções humanas pois refletem as características geológicas e geomorfológicas da bacia e a intensidade do intemperismo sobre elas. Não se observou uma clara distinção de características dos rios da bacia do Jari quanto à somatória de cátions básicos, apesar das diferenças de condições geológicas entre os locais de amostragem, na parte superior da bacia, (Ipitinga, Jari 1) situados em áreas de cristalino e os situados a jusante em área de bacias sedimentares. Hydros EP518.RE.JR201 122 A somatória de cátions básicos não indicou um padrão claro de sazonalidade quanto à concentração iônica (Figura 4.2.2-7). No entanto, pode-se verificar uma tendência de que os maiores valores sejam encontrados na época de cheia (2ª coleta). O comportamento dos rios quanto à sazonalidade de íons dissolvidos é bastante variável, dependendo da intensidade das chuvas, da sua composição química, da composição química da água do rio e dos íons considerados. Frequentemente há um aumento na concentração iônica medida pela condutividade no início da estação chuvosa, como observado, por exemplo, por Maier (1977) no rio Moji Guaçu e por Furnas/Odebrecht/Leme (2005) no rio Madeira, pelo escoamento de água superficial. Há, no entanto, outros comportamentos observados: no Amazonas, a condutividade tende a cair no período chuvoso, conforme relatado por Hynes (1970), ou diminuir após o início das chuvas, como no Madeira (FURNAS/ODEBRECHT/LEME, 2005), indicando o efeito diluidor das chuvas, principalmente em rios com grande carga iônica. Há, ainda, situações de ausência de sazonalidade, com conteúdos iônicos iguais nas estações seca e chuvosa, como observado por Maier (1983) no rio Jacaré Pepira. TZ+ 800 700 600 ueq/L 500 400 300 200 100 0 Ipitinga - 1 Ipitinga - 2 Jari - 1 1ª coleta Jari - 2 2ª coleta Iratapuru - 1 3ª coleta Jari - 3 Jari - 4 Jari - 5 4ª coleta Figura 4.2.2-7 – Somatória de Cátions Básicos (TZ+) das Amostras Coletadas em Campo Em todos os locais amostrados dominaram os alcalinos terrosos sobre os alcalinos e o magnésio foi o cátion dominante na maioria das amostras (Figura 4.2.2-8). Hydros EP518.RE.JR201 123 Cátions maiores - mg/L 100% 80% K Na Mg 60% Ca 40% 20% Jari - 5 (4) Jari - 4 (4) Jari - 4 (3) Jari - 4 (2) Jari - 4 (1) Jari - 3 (4) Jari - 3 (3) Jari - 3 (2) Jari - 3 (1) Jari - 2 (4) Jari - 2 (3) Jari - 2 (2) Jari - 2 (1) Jari - 1 (4) Iratapuru - 1(4) Iratapuru - 1 (3) Iratapuru - 1 (2) Iratapuru - 1 (1) Ipitinga - 2 (4) Ipitinga - 2 (3) Ipitinga - 2 (2) Ipitinga - 1 (4) Ipitinga - 1 (3) Ipitinga - 1 (2) Ipitinga - 1 (1) 0% Figura 4.2.2-8 – Relação Entre os Principais Cátions nas Amostras Coletadas em Campo As concentrações de nitrogênio e fósforo são importantes pelo papel que esses elementos representam como nutrientes fundamentais aos vegetais. O grau de trofia de um sistema aquático é geralmente estabelecido a partir da concentração desses nutrientes. A concentração de nitrogênio total de todas as amostras coletadas apresentaram valores que podem ser considerados reduzidos para essa variável (Figura 4.2.2–9). N total 450 400 350 ug/L 300 250 200 150 100 50 0 Ipitinga - 1 Ipitinga - 2 Jari - 1 1ª coleta Jari - 2 2ª coleta Iratapuru - 1 3ª coleta Jari - 3 Jari - 4 Jari - 5 4ª coleta Figura 4.2.2-9 – Concentração de Nitrogênio Total das Amostras Coletadas em Campo Hydros EP518.RE.JR201 124 O mesmo pode ser dito em relação à concentração de fósforo total das amostras coletadas, com valores bem abaixo da concentração máxima permitida pela Resolução CONAMA 357/2005 para ambientes lóticos (100 µg/L) de água doce de classe 1 e 2 (Figura 4.2.2–10). P total 45,00 40,00 35,00 µg/L 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Ipitinga - 1 Ipitinga - 2 Jari - 1 1ª coleta Jari - 2 2ª coleta Iratapuru - 1 3ª coleta Jari - 3 Jari - 4 Jari - 5 4ª coleta Figura 4.2.2-10– Concentração de Fósforo Total das Amostras Coletadas em Campo As concentrações de nitrogênio total foram mais elevadas por ocasião da primeira amostragem realizada em dezembro/2007, correspondendo ao período de estiagem, situação essa que não se verificou na amostragem seguinte em novembro/2008, também em período de estiagem, mostrando variações que não permitem identificar um padrão sazonal. Já as concentrações de fósforo total mais elevadas corresponderam à coleta no período chuvoso, mostrando a importância do aporte do meio terrestre desse nutriente. A concentração de nitrogênio total não sofreu alteração significativa entre os pontos Jari-3 e Jari-4, indicando que a passagem por Laranjal do Jari não alterou as águas do rio Jari quanto a esse nutriente. Já quanto ao fósforo total, observou-se um aumento quando se compara as concentrações do rio Jari a montante e a jusante de Laranjal do Jari. O Índice do Estado Trófico – IET - tem por finalidade classificar corpos d’água em diferentes graus de trofia, ou seja, avaliar a qualidade da água quanto ao enriquecimento por nutrientes e seu efeito relacionado ao crescimento excessivo das algas ou ao aumento da infestação de macrófitas aquáticas. O IET de Carlson modificado (LAMPARELLI, 2004) para os corpos d’água estudados foi calculado considerando a variável fósforo total. A Figura 4.2.2–11 mostra os resultados obtidos, indicando valores predominantes na faixa entre ultraoligotrófico e oligotrófico, o que seria esperado para um rio de águas claras amazônico com influência antrópica limitada. Hydros EP518.RE.JR201 125 IET (PT) 70 60 50 40 30 20 10 0 Ipitinga - 1 1ª coleta Ipitinga - 2 2ª coleta Jari - 1 3ª coleta Jari - 2 Iratapuru - 1 4ª coleta Jari - 3 ultraoligotrófico Jari - 4 oligotrófico Jari - 5 mesotrófico Figura 4.2.2-11 – Índice de Estado Trófico Calculado com as Concentrações de Fósforo Total Os valores de IET foram maiores no ponto 2 do rio Ipitinga, atingindo valores na faixa do mesotrófico. As características físicas (geologia, geomorfologia) dessa sub-bacia, assim como a cobertura vegetal existente, não permitem estabelecer diferenças entre ela e as demais que justifiquem esse grau de trofia ligeiramente superior. Além disso, mais a jusante (Ipitinga 1), obteve-se valores equivalentes aos demais locais de amostragem. A única explicação plausível para essa diferença seria o efeito das ações de garimpo nas proximidades do Ipitinga 2, uma vez que os trabalhos de campo indicaram uma ação garimpeira intensa na região. Cabe ressaltar também que no presente estudo o IET utilizado se baseou exclusivamente na concentração de fósforo, o que pode ser justificado por ser esse o nutriente mais frequentemente limitante à produtividade primária nos ecossistemas aquáticos brasileiros. Ocorre que a concentração estabelecida para caracterizar ambientes aquáticos eutrofizados é relativamente reduzida, sendo inclusive objeto de questionamento (LAMPARELLI, 2004) as concentrações estabelecidas pelo CONAMA como limites para as Classes 1, 2 e 3. No estado de São Paulo, Lamparelli (2004) computou, a partir dos dados de monitoramento da CETESB, 85,9% dos resultados como não conformes com a legislação. Segundo esse autor, há inclusive uma disparidade relativamente alta na classificação do grau de trofia calculado para clorofila a e fósforo total, com valores mais elevados para este último. 4.2.2.5 Mapa de Provável Qualidade da Água Os fatores ocasionadores de efeitos negativos aos ecossistemas aquáticos e à qualidade da água costumam ser, principalmente na região amazônica, o desmatamento, as queimadas, a atividade mineradora, a atividade agropecuária e as concentrações urbanas. Na bacia do Jari, até o momento, a atividade garimpeira, a atividade de reflorestamento e as concentrações urbanas, com os desmatamentos a elas associados, são fatores potenciais de degradação, muito embora as concentrações urbanas não sejam significativas, apenas com destaque para Laranjal do Jari, Monte Dourado e Vitória do Jari. Na bacia do rio Jari, os trabalhos de qualidade da água elaborados pela CPRM e pela SEMA/AP forneceram dados de Índice de Qualidade da Água (IQA) datados de 1998 e de 2003-2004. A partir destes dados, pode-se concluir que a qualidade da água expressa em Hydros EP518.RE.JR201 126 termos de IQA na bacia do rio Jari são boas, mesmo em regiões adjacentes a concentrações urbanas como a de Laranjal do Jari, Monte Dourado e Vitória do Jari. A montante do ponto SEMA/AP – 6 no rio Jari (a montante da foz do rio Iratapuru), a ocupação humana é tão inexpressiva que é razoável supor que a água será enquadrada como boa. Estes dados, juntamente com os dados de uso do solo e infra-estrutura na bacia do Jari, permitiram a elaboração do desenho Nº EP518.A1.JR-08-035 (Fig. 073), intitulado “Mapa de Qualidade da Água – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.3 127 VEGETAÇÃO MARGINAL O elemento de caracterização do Componente-síntese Ecossistema Aquático intitulado Vegetação Marginal, para efeito de entendimento e delimitação, refere-se à vegetação nomeada como ripária, ciliar, de galeria ou, ainda, justafluvial, e corresponde às formações vegetais presentes nas margens dos rios, encontrando-se sob influência destes. Essa vegetação que margeia os rios e demais corpos d’água, dada a sua importância ecológica, é objeto de proteção legal, conforme Código Florestal, Lei Nº 4771 de 1965, e Resolução CONAMA Nº 303 de 2002. De acordo com a legislação, são de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, cuja largura mínima seja: • 1 – de 30 (trinta) metros, para os cursos d’água com menos de 10 (dez) metros de largura; • 2 – de 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; • 3 – de 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; • 4 – de 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; b) nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados olhos d’água, qualquer que seja a situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros. A flutuação do nível d’água, comum na região amazônica, resulta em um prolongado e previsível período anual de inundação sobre uma extensa área ao longo dos rios, e é um dos fatores fundamentais para a produtividade dos ecossistemas aquáticos. A composição de espécies e a estrutura da Vegetação Marginal variam de acordo com o regime dessas inundações, bem como com o tipo de solo e de terreno, o tipo das águas, entre outros aspectos. Assim, estas podem ser representadas por formações de porte florestal, denominadas Florestas Aluviais pelo Sistema Brasileiro de Classificação da Vegetação (VELOSO; RANGEL-FILHO; LIMA, 1991), até formações herbáceo-arbustivas, denominadas Formações Pioneiras. As florestas sazonalmente inundadas muitas vezes são denominadas, de forma indiscriminada, pelos termos Várzea e Igapó. Entretanto, vários autores (PRANCE, 1979; BARBOSA et al., 2007; NAKA et al., 2007) distinguem essas formações de acordo com o tipo de água que as inunda. Assim, Várzeas são as formações vegetais inundadas por águas brancas, ricas em sedimentos, enquanto Igapós correspondem às formações presentes nas margens de rios de águas claras ou pretas. No presente trabalho, será utilizada a terminologia Igapó para as formações florestais marginais do rio Jari e de seus afluentes, rios de água clara ou preta, e Várzeas para as formações presentes no rio Amazonas, onde o rio Jari tem sua foz. No sistema de classificação da vegetação brasileira (VELOSO; RANGEL-FILHO; LIMA, 1991) ambas estão incluídas na denominação Floresta Ombrófila Aluvial. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.3.1 128 As Formações Aluviais na Bacia Hidrográfica do Rio Jari Conforme assinalado anteriormente, por se tratar de um rio predominantemente de águas claras e ácidas, pobres em minerais, as florestas alagáveis do rio Jari que mais se destacam são as de Igapó. Estudos sobre a vegetação marginal dessa bacia hidrográfica são escassos, restringindo-se basicamente ao setor norte da bacia, na serra do Tumucumaque (BERNARD, 2008). Nessa localidade, amostragens em Floresta Ombrófila Densa Aluvial, junto à confluência dos rios Amapari e Anacuí, apontam entre as espécies mais abundantes: cupuaí (Theobroma subincanum), breu (Protium paraense e Protium paniculatum), abiu (Pouteria sp.), e açaí (Euterpe oleracea). Entre as arbustivas, as famílias com maior representatividade foram Araliaceae, Poaceae, Piperaceae, Polypodiaceae e Arecaceae. Junto ao rio Mapaoni, observou-se a presença de pequenos fragmentos de Igapós sazonais, com predominância de Euterpe oleracea, Heliconia spp., Philodendron e Anthurium, e matas ciliares com predomínio de ingás, bambuzais e helicônias, entre outras. Já ao longo do rio Anotaie foram registradas espécies como sumaúma (Ceiba pentandra), maçaranduba (Manilkara huberi), mamorana (Pachira aquatica), tachi (Tachigalia sp.), marupá (Simaruba amara), piqui (Caryocar sp.), além de açaí (Euterpe oleracea) e ingás (Inga spp.). Nessas florestas marginais, a diversidade de trepadeiras e epífitas é alta. Entre as trepadeiras, foram encontradas Macagnia sp., Paulinia pinnata, Marcgravia sp., Miconia sp., Hipocratea sp., entre outras. Entre as epífitas, predominaram espécies de aráceas como Philodendron spruceanum, além de bromeliáceas como Tillandsia adpressiflora, orquídeas e gesneriáceas, Asplundia sp., Peperomia aff. pereskiaefolia e muitas espécies de pteridófitas, como Microgramma sp. A diversidade de herbáceas é alta, com predomínio de Rapatea paludosa. Foram registradas também Desmoncus sp., Calathea sp., Bactris tomentosa e diversas pteridófitas, como Adiantum sp., Lindsaea divaricata, L. lancea, Danaea sp., Thelypteris arborescens, Selaginella sp. e Trichomanes pinnatum. Ainda, foram registradas espécies de musáceas e heliconiáceas, como Heliconia psittacorum. Nas proximidades do rio Ipitinga, desenvolve-se uma floresta justafluvial uniforme com predominância de faveiras (cf. Macrolobium multijugum), ingás (Inga spp.), tachis (Tachigalia spp. e Esclerolobium spp.) e sumaúmas (Ceiba pentandra), conforme Projeto RADAMBRASIL (1975). Essas Florestas Aluviais desenvolvem-se ao longo do rio Jari e são mais evidentes, na escala de trabalho adotada, no alto curso, até aproximadamente a foz do rio Culari e entre as desembocaduras dos rios Mapari e Ipitinga, e, de forma mais expressiva, no seu baixo curso, já na Planície Amazônica. Nesse último trecho da bacia, onde o rio Jari tem sua foz, observa-se um intrincado mosaico de canais, ilhas, furos e paranás, onde predomina Vegetação Pioneira de Influência Fluvial, alternando-se formações arbóreas e herbáceas, de acordo com o regime sazonal de inundação a que se encontra submetida. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.3.2 129 Caracterização Estrutural e Florística das Formações Marginais A Vegetação Marginal, quando sofre inundações periódicas ou se encontra permanentemente alagada, coloniza ambientes muito peculiares, o que exige adaptações ou grande plasticidade, restringindo o número de espécies aptas a colonizar esses ambientes. Muitas espécies de árvores de igapó têm raízes largas e ramos espalhados para prestar apoio estrutural, o que inclui as sapopemas, adaptações que propiciam maior estabilidade às árvores de grande porte. Por outro lado, muitas espécies disseminam seus propágulos pela água e, como já apontava Gottsberger em 1978, peixes desempenham um papel importante na dispersão de sementes florestais neste sistema. A respeito da dimensão territorial da Amazônia e do esforço de pesquisa conduzido até o momento, são ainda escassos os estudos relativos a essas formações marginais amazônicas. Dos estudos realizados, a maior parte se concentra nos arredores de Manaus e Belém. Outras áreas são objeto de pesquisas, tais como o Xingu (CAMPBELL et al., 1986; CNEC, 1988; ELB/ELN, 2001), algumas Unidades de Conservação, como o Parque Nacional (PARNA) do Jaú e a Estação Ecológica (EE) Mamirauá (FERREIRA, 1991 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001; AYRES, 1993). Ainda que desenvolvidos em outras bacias hidrográficas, são apresentadas, a seguir, as informações relativas a alguns estudos de Florestas de Igapó. Estes estudos permitem compreender a estrutura geral dessas formações, o que pode ser extrapolado para as florestas da bacia do rio Jari. No que se refere à composição específica, a despeito da enorme diversidade da flora amazônica, algumas famílias tendem a ser mais bem representadas, permitindo alguma extrapolação nesse nível. Algumas espécies de ampla distribuição, denominadas “ochloespécies”, também podem ser citadas como de ocorrência muito provável nessas formações. Podem ser citadas: sumaúma (Ceiba pentandra), ucuuba (Virola surinamensis), Tapirira guianensis e jacareúba (Calophyllum brasiliense). Entretanto, a ausência de estudos nessa ampla área não permite afirmativas a respeito da composição específica dessas formações justafluviais, que podem conter espécies de distribuição restrita ou mesmo não descritas. Estudo realizado em Igapós do rio Negro (KELL; PRANCE, 1979 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001) identifica as famílias Myrtaceae, Leguminosae, Apocynaceae e Euphorbiaceae como as mais bem representadas em termos de espécies e de indivíduos. Os autores observaram um gradiente florístico relacionado com o gradiente topográfico e, consequentemente, com o tempo de inundação da floresta. Assim, uma gradativa substituição de espécies, em função do tempo de inundação a que são submetidas, é determinante de uma marcada zonação dessa vegetação. De forma semelhante, Ayres (1993) observou duas comunidades em Mamirauá, que receberam as denominações de restinga alta e restinga baixa, de acordo com o nível d’água no período de cheia. Novamente as famílias Euphorbiaceae, Leguminosae e Myrtaceae foram dominantes, juntamente com Annonaceae e Lecythidaceae, no trecho sujeito a maiores inundações. Já na zona sujeita a menores níveis de inundação, prevaleceram as famílias Apocynaceae e Lauraceae, além de Euphorbiaceae, Leguminosae, Annonaceae e Lecythidaceae. Os indivíduos de maior porte foram observados nessa zona de transição, onde se destacaram a sumaúma (Ceiba pentandra), o açacu (Hura crepitans) e a isqueira (Parinari excelsa). Verificou-se ainda, nesse estudo, que algumas espécies são exclusivas de uma das zonas, enquanto que cerca de 38% foi comum a ambas. Hydros EP518.RE.JR201 130 Outro estudo que registrou essa zonação e suas variações refere-se ao desenvolvido por Ferreira (1991 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001), na região de Manaus. A exemplo do estudo anterior, o autor observou a substituição gradual de espécies ao longo do gradiente topográfico (e, portanto, de inundação), bem como a presença restrita de algumas espécies a determinadas regiões desse gradiente e a presença de espécies indiferentes às variações de nível d’água. Observou, ainda, um aumento gradual de riqueza de espécies na medida em que o tempo de inundação diminui, evidenciando o estresse decorrente da saturação hídrica. Finalmente, verificou variações nas fenofases reprodutivas, de acordo com a localização de indivíduos de uma mesma espécie no gradiente de inundação. Outras variações importantes foram evidenciadas em formações marginais inundáveis nas proximidades de Manaus, relacionadas à fase de regeneração (WORBES et al., 1992). Este estudo permitiu observar que florestas maduras ou climáxicas tendem a apresentar árvores de maior porte e de madeira mais densa, tendendo a uma menor dominância e uma maior diversidade. Como espécies características dessas formações climáxicas, os autores citam Piranhea trifoliata (Euphorbiaceae), Eschweilera sp. (Lecythidaceae), Manilkara sp. (Sapotaceae), e Vatairea guianensis (Leguminosae). Os autores observaram que grande parte das espécies presentes nessas florestas inundáveis ocorre também nas Florestas de Terra Firme. Entre as espécies tipicamente de Floresta de Igapó são citadas Alchornea castaneaefolia, Tabebuia barbata, Piranhea trifoliata, Triplaris surinamensis e Macrolobium acaciaefolium. 4.2.3.3 Importância das Formações Marginais Na região amazônica, uma das forças responsáveis pela produtividade e interação nos ecossistemas aquáticos é o ciclo de flutuação do nível da água. Essa flutuação resulta em um prolongado e previsível período anual de inundação, sobre uma extensa área ao longo dos rios, que compreendem as Florestas de Várzea e Igapó (BARBOSA et al., 2007). Por outro lado, os sistemas aquáticos de águas preta ou clara são conhecidos por apresentarem baixos níveis de nutrientes e de produtividade, quando comparados aos de água branca. Ao longo desses rios não se vê praticamente bancos de macrófitas aquáticas, restando apenas algas e Florestas de Igapó como produtores de energia para esses sistemas (SOUZA, 2005). Folhas, frutos e sementes que caem do dossel da Floresta de Igapó são, portanto, responsáveis por grande parte da matéria orgânica encontrada nestes sistemas aquáticos, correspondendo a 99% do total. De acordo com alguns autores, grande parte da biomassa das plantas entra na cadeia trófica por meio do ciclo de detritos. Entretanto, Furch e Junk (1997 apud SOUZA, 2005) sustentaram que a camada de detritos que permanece nas margens dos Igapós não tem rápida decomposição nesse ambiente aquático. Sua principal função seria a de fornecer abrigo a invertebrados herbívoros filtradores de algas. Estudos mais recentes indicam que, de fato, a principal conexão entre peixes bentônicos e os organismos autotróficos da Floresta de Igapó são os invertebrados aquáticos (SOUZA, 2005). As águas do rio Jari, por serem claras, apresentam condições ideais para a sobrevivência de determinados tipos de peixes, especialmente os frugívoros. A transparência destas águas constitui a condição para que os peixes possam localizar os frutos nas margens dos rios, tanto os que já se encontram nas águas, bem como aqueles que ainda se encontram presos nos galhos das árvores. Hydros EP518.RE.JR201 131 Além disso, estudos de primatas realizados nessas formações marginais, mais especificamente em Matas de Várzeas do rio Juruá, indicam um padrão invertido de baixa diversidade de espécies, mas alta biomassa de comunidade, que pode ser generalizado, para vários grupos de vertebrados terrestres, como por exemplo, anfíbios (PERES, 1997). Várias espécies de aves semi-aquáticas têm nessa vegetação seu hábitat preferencial. É o caso de garças e socós (Ardeidae), marrecos e patos (Anatidae), biguás (Phalacrocoracidae), entre outras. É importante ressaltar, ainda, que as variações de gradiente em Florestas de Igapó se refletem em variações espaciais e temporais nas fenofases (produção de folhas, flores e de frutos) e, por conseguinte, em variações na oferta de recursos tróficos à fauna. Peres (1997) cita como outras causas prováveis para a grande biomassa de primatas em Vegetação Marginal, a estrutura da floresta, mais heterogênea e com mais clareiras, além de apresentar maior deciduidade foliar, o que determina níveis mais favoráveis de nutrientes a partir de folhas jovens. Essas águas são pobres em fito e zooplâncton, portanto, são as árvores que fornecem a maioria dos alimentos aos animais aquáticos (BARRELLA et al., 2000). Algumas espécies de peixes e outros organismos aquáticos, como quelônios, alimentam-se de frutos e sementes durante o período de cheias. As sementes resistentes às enzimas gástricas desses animais são então transportadas para outros lugares, ampliando o seu alcance de dispersão, principalmente quando consumidos por peixes migratórios, que espalham as sementes pela rede fluvial amazônica (GOTTSBERGER, 1978; MAIA; SANTOS; PAROLIN, 2007). Desta forma, a vegetação marginal constitui um elemento muito importante na manutenção da vida faunística na bacia em estudo. Finalmente, tal como observado na inspeção de campo, nas matas alagáveis (Igapó e Várzea) há uma série de espécies de valor econômico, além de madeiras de lei. A seringueira (Hevea brasiliensis), a sorva (Couma sp.), a andiroba (Carapa guianensis), a maçaranduba (Manilkara huberi), o buriti (Mauritia flexuosa) e o ticum (Licania sp.) produzem borracha, alimentos, óleos, resinas e fibras de grande importância econômica. Hydros EP518.RE.JR201 4.2.4 132 VERTEBRADOS AQUÁTICOS Neste item, são apresentadas as informações referentes à fauna vertebrada com ênfase à fauna ictíica, conforme abordagem sugerida pelo Manual de Inventário. 4.2.4.1 Ictiofauna 4.2.4.1.1 Riqueza de espécies da bacia do rio Jari (Pará e Amapá) De acordo com os dados secundários levantados até janeiro de 2008, verificou-se que o rio Jari possui uma riqueza de 109 espécies de peixes, o que representa 1,81% do número de espécies (6.025) estimado para as Américas do Sul e Central (REIS; KULLANDER; FERRARIS JR, 2003). Os dados utilizados no presente estudo foram coletados de diversos documentos, tais como relatórios de pesca, artigos, bases de dados de portais digitais, tais como Fishbase, SpeciesLink e SIBIP/NEODAT III. 1 1 1 Tetraodontiformes Beloniformes Cyprinodontiformes Ordem Pleuronectiformes Gymnotiformes Perciformes Siluriformes 0 8.3 10 1.8 0.9 0.9 0.9 0 Ordem Tetraodontiformes 2 17.4 20 Cyprinodontiformes 10 30 Beloniformes 9 34.9 Pleuronectiformes 20 34.9 Gymnotiformes 19 40 Perciformes 30 50 Siluriformes 38 Characiformes 40 38 Characiformes freqüência absoluta de espécies 50 freqüência relativa de espécies (%) As espécies de peixes do rio Jari estão distribuídas em oito ordens (Figura 4.2.4-1): Characiformes (34,9%; 38 espécies), Siluriformes (34,9%; 38 espécies), Perciformes (17,4%; 19 espécies), Gymnotiformes (8,3%; 9 espécies), Pleuronectiformes (1,8%; 2 espécies), Beloniformes (0,9%; 1 espécie), Cyprinodontiformes (0,9%; 1 espécie) e Tetraodontiformes (0,9%; 1 espécie). Os Characiformes e Siluriformes foram os mais importantes, como era esperado de acordo com o que preconiza Lowe-McConnell (1996). Figura 4.2.4-1 – Frequência de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari (Amapá e Pará), Distribuídas por Ordens Foi verificada a ocorrência de 26 famílias (Figura 4.2.4-2 e Figura 4.2.4-3), sendo Characidae (18,3%; 20 espécies), Cichlidae (14,7%; 16 espécies), e Loricariidae e Pimelodidade (8,3%; 9 espécies, cada uma das famílias), as mais importantes em termos de riqueza de espécies. Hydros EP518.RE.JR201 133 20 18.3 14.7 15 10 8.3 8.3 6.4 5.5 5 4.6 4.6 2.8 2.8 2.8 2.8 1.8 1.8 1.8 1.8 1.8 1.8 0.9 0.9 0.9 0.9 0.9 0.9 0.9 0.9 Família Tetraodontidae Rivulidae Sternopygidae Pristigasteridae Prochilodontidae Hypopomidae Callichthyidae Belonidae Trichomycteridae Rhamphichthyidae Aspredinidae Ctenoluciidae Achiridae Anostomidae Scianidae Heptapteridae Curimatidae Auchenipteridae Acestrorhynchidae Erythrinidae Apteronotidae Doradidae Pimelodidae Loricariidae Cichlidae 0 Characidae freqüência relativa de espécies (%) 25 Figura 4.2.4-2 – Frequência Relativa de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari Distribuídas por Famílias 25 20 20 16 15 9 2 2 1 1 1 1 1 1 1 Rivulidae 2 Sternopygidae 2 Pristigasteridae 2 Prochilodontidae 2 Hypopomidae 3 Callichthyidae 3 Belonidae 3 Trichomycteridae 3 Ctenoluciidae 5 Rhamphichthyidae 5 5 Aspredinidae 6 Anostomidae 7 Achiridae 9 10 1 Família Tetraodontidae Scianidae Heptapteridae Curimatidae Acestrorhynchidae Apteronotidae Auchenipteridae Erythrinidae Doradidae Pimelodidae Loricariidae Cichlidae 0 Characidae freqüência absoluta de espécies 30 Figura 4.2.4-3 – Frequência Absoluta de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari, Distribuídas por Famílias Os dados apresentados foram baseados em estudos não sistemáticos, realizados em diversos ambientes da bacia hidrográfica em análise, principalmente na calha principal. A riqueza de espécies (109 espécies) pode ser considerada intermediária, uma vez que, para os principais tributários do rio Amazonas, pela grande diversidade de habitats, espera-se uma elevada Hydros EP518.RE.JR201 134 riqueza de espécies de peixes. Tal fato pode ser devido aos métodos de captura empregados nos trabalhos citados acima, nos quais basicamente utilizaram-se petrechos de captura passivos. Em abril de 2008, num esforço conjunto do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), da Conservação Internacional (CI-Brasil), do IBAMA do Amapá e da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amapá (SEMA/AP), foi publicado o Inventário Biológico Rápido no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Amapá, Brasil. Para este inventário, foram realizadas 5 expedições, em diferentes locais do PARNA Montanhas do Tumucumaque, sendo que uma delas foi ao rio Mapaoni, um dos afluentes do rio Jari, próximo à fronteira com as Guiana Francesa e Suriname (BERNARD, 2008). 1.1 0.6 0.6 0.6 Tetraodontiformes Clupeiformes Beloniformes Pleuronectiformes Ordem Cyprinodontiformes Gymnotiformes Perciformes Siluriformes 0 23 12 20 2 2 1 1 1 0 Ordem Tetraodontiformes 1.1 Clupeiformes 10 40 Beloniformes 6.7 Pleuronectiformes 12.8 65 60 Cyprinodontiformes 20 72 Gymnotiformes 30 80 Perciformes 36.3 Siluriformes 40.2 40 100 Characiformes 50 freqüência absoluta de espécies 60 Characiformes freqüência relativa de espécies (%) Ao reunirmos os dados deste levantamento realizado no rio Mapaoni com os dados obtidos até então, o número de espécies registradas para a bacia do rio Jari aumenta significativamente, indo de 109 para 179 (Anexo 3.3). A distribuição das espécies entre as ordens, no entanto, não é muito alterada, mantendo-se os Characiformes (40,2%, 72 espécies) e Siluriformes (36,3%, 65 espécies) como os mais representativos da região (Figura 4.2.4-4). Figura 4.2.4-4 – Frequência de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari Considerando os Dados do Inventário Biológico Rápido no PARNA Montanhas do Tumucumaque, Distribuídas por Ordens O número de famílias aumentou de 26 para 31 (Figura 4.2.4-5 e Figura 4.2.4-6), sendo que as três famílias mais importantes em termos de riqueza de espécies continuam sendo Characidae (23,5%; 42 espécies), Cichlidae (11,2%; 20 espécies), e Loricariidae (10,1%, 18 espécies). As famílias Heptapteridae e Trichomycteridae, por sua vez, passaram a ter maior representatividade em termos de riqueza de espécies (5,0%, 9 espécies e 4,5%, 8 espécies, respectivamente). Hydros EP518.RE.JR201 135 25 23.5 20 15 11.2 10.1 10 5.0 5 4.5 3.9 3.9 3.9 3.9 3.4 2.8 2.8 2.8 2.8 1.7 1.7 1.7 1.1 1.1 1.1 1.1 1.1 0.6 0.6 0.6 0.6 0.6 0.6 0.6 0.6 0.6 Sternopygidae Tetraodontidae Pristigasteridae Prochilodontidae Gymnotidae Parodontidae Belonidae Cynodontidae Rivulidae Ancistrinae Rhamphichthydae Achiridae Ctenoluciidae Sciaenidae Família Acestrorhynchidae Hypopomidae Crenuchidae Aspredinidae Apteronotidae Callichthyidae Erythrinidae Anostomidae Doradidae Pimelodidae Curimatidae Auchenipteridae Heptapteridae Trichomycteridae Cichlidae Loricariidae 0 Characidae freqüência relativa de espécies (%) 30 Figura 4.2.4-5 – Frequência Relativa de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari, Considerando os Dados do Inventário Biológico Rápido no PARNA Montanhas do Tumucumaque, Distribuídas por Famílias 50 40 35 30 25 20 20 18 15 9 8 7 7 7 7 6 5 5 5 5 10 5 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Sternopygidae Tetraodontidae Pristigasteridae Prochilodontidae Gymnotidae Parodontidae Belonidae Cynodontidae Ancistrinae Rivulidae Rhamphichthydae Achiridae Ctenoluciidae Acestrorhynchidae Família Sciaenidae Hypopomidae Crenuchidae Aspredinidae Apteronotidae Callichthyidae Erythrinidae Anostomidae Pimelodidae Doradidae Curimatidae Auchenipteridae Heptapteridae Trichomycteridae Loricariidae Cichlidae 0 Characidae freqüência absoluta de espécies 45 42 Figura 4.2.4-6 – Frequência Absoluta de Espécies Ocorrentes na Bacia Hidrográfica do Jari, Considerando os Dados do Inventário Biológico Rápido no PARNA Montanhas do Tumucumaque, Distribuídas por Famílias O aumento da riqueza observada para a bacia do rio Jari com a realização do Inventário Biológico Rápido no rio Mapaoni pode ser explicado pelo fato de: (i) o rio Mapaoni ser um Hydros EP518.RE.JR201 136 rio de pequeno porte, com ambientes diferentes da calha principal dos grandes rios, onde normalmente estão concentrados os esforços para levantamento de ictiofauna; (ii) ao invés de redes de espera, terem sido utilizadas peneiras e tarrafas de malha fina, permitindo que espécies normalmente não capturadas em redes de espera pudessem ser capturadas; e (iii) o local ser de difícil acesso, sendo considerado pela equipe que realizou o Inventário Biológico Rápido como uma área tão remota e de acesso tão complexo que o próprio custo ou esforço para que a área seja atingida seja proibitiva e que por isso dificilmente haverão outras expedições similares ao local (Bernard, 2008). Outros estudos de ambientes como este provavelmente iriam aumentar significativamente a riqueza de espécies de peixes da bacia do rio Jari. 4.2.4.1.2 Rotas Migratórias de Peixes O rio Jari é afluente na margem esquerda do rio Amazonas, na divisa entre os estados do Pará e Amapá. O rio possui um trecho navegável desde a foz até a cachoeira Santo Antônio, localizada a 110 km de sua foz. As profundidades disponíveis são de 4 m nas cheias e de 2,40 m nas estiagens. O rio Jari foi dragado de sua foz até a região do núcleo de Munguba (distrito de Monte Dourado, município de Almeirim), para permitir o tráfego de navios de 12.000 tpb, por interesse do antigo projeto Jari (GODOY; VIEIRA, 1999). Na lista de espécies apresentadas no Anexo 3.3 constam duas espécies de bagres migratórios, Brachyplatystoma filamentosum e Hypophthalmus marginatus. Por outro lado, no rio Jari, ocorrem algumas espécies de Characiformes (e.g. Schizodon sp., Prochilodus nigricans, Potamorhina latior) e uma espécie de Perciformes, Plagioscion squamosissimus, que empreendem migrações reprodutivas. Os dados de pesca do IBAMA, por exemplo, centralizam os dados em nível de estado e não de bacias hidrográficas, fato que inviabilizou a identificação de espécies migratórias na bacia do rio Jari a partir dos dados da estatística pesqueira, pois, na referida lista, há espécies de grandes bagres migratórios que podem ter sido capturados em outras bacias hidrográficas. De acordo com Cecile Gama, pesquisadora do IEPA, “no Amapá, pelo menos no que se refere a peixes, não há muitas informações devido aos poucos estudos realizados na área”. O rio Jari possui águas claras, o que pode apresentar influência na migração de espécies, uma vez que, segundo Barthem e Goulding (1997), possuem produtividade baixa em comparação com as águas brancas, que são palcos potenciais de migrações de Siluriformes. Por outro lado, pescadores da região relatam que peixes tais como piraíbas (Brachyplatystoma filamentosum) e pirararas (Phractocephalus hemioliopterus) ocorrem na região da cachoeira Santo Antônio (BALAIO, 2007), o que indica que há migração no trecho navegável, até o limite da cachoeira, que é um filtro natural à migração de várias espécies. De acordo com Welcomme (1985), as migrações de peixes são fortemente sazonais, uma vez que as condições da água variam de modo marcante entre as estações seca e chuvosa, sendo o período de estiagem aquele no qual ocorrem os principais movimentos migratórios de bagres. Na Amazônia, a maioria das migrações de espécies migratórias de Siluriformes rio a montante é empreendida com finalidades reprodutivas, conforme afirmado por Welcomme (id. ibid.). O represamento de rios, sem a implantação de alternativas de manutenção de rotas migratórias, pode ser um problema com impactos ambientais e econômicos, uma vez que as barragens podem impedir total ou parcialmente os movimentos dos peixes, de modo que podem afetar o recrutamento e, consequentemente, a disponibilidade de pescado. Este tema é de tanta importância que em julho de 2007 foi realizado o International Symposium on Fish Hydros EP518.RE.JR201 137 Passage in South America, na Universidade Federal de Lavras (UFLA, 2007). Tendo a América do Sul elevado potencial hidrelétrico, é natural que esse tema seja importante, uma vez que a geração de energia a partir do barramento de rios é a base da matriz energética brasileira, e que nos grandes rios habitam inúmeras espécies de peixes migratórias de grande importância comercial e cultural. Recentemente, a revista científica Neotropical Ichthyology (www.sbi.bio.br) lançou um número inteiramente dedicado à questão da transposição de peixes em sistemas de regulação de rios (Vol. 5, Num. 2; 2007). Segundo Fearnside (2006), o barramento de rios gera impactos sobre espécies de grandes bagres migratórios tais como: dourada (Brachyplatystoma rouxeauxii), pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), filhote (Brachyplatystoma filamentosum), caparari (Pseudoplatystoma tigrinum) e surubim (Pseudoplatystoma fasciatum). Estas espécies dependem de movimentos migratórios para completar seu ciclo reprodutivo, de modo que, onde quer que ocorram, realizam migrações. Os grandes peixes, comumente carnívoros, têm papel primordial nas cadeias tróficas como controladores da densidade de populações de presas e do equilíbrio das comunidades aquáticas. Assim, interferências na estrutura de populações de espécies migratórias de grande porte, tais como os grandes bagres, podem resultar em danos às comunidades das quais fazem parte. 4.2.4.1.3 Espécies Ameaçadas e Espécies Endêmicas A lista oficial de espécies ameaçadas do Brasil do IBAMA foi estabelecida em 2003 pela Instrução Normativa n° 3, de 27 de maio de 2003 do MMA e está disponível no site do Ministério do Meio Ambiente - MMA (http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm). Não há registro de espécies endêmicas na bacia como um todo. Porém, é possível que ocorram endemismos relacionados a áreas de cabeceiras de tributários e da calha principal. Particularmente, o fato de haver um filtro natural (cachoeira Santo Antônio) possibilita a ocorrência de endemismos a montante desta. Na lista oficial do IBAMA há uma espécie indicada para o Pará (Teleocichla cinderella) (Anexo 3.3). No Anexo 1 da IN nº 5/2004 do IBAMA (Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçados de Extinção com Categorias da IUCN) pode-se observar que Teleocichla cinderella foi incluída na categoria Criticamente em Perigo para o estado do Pará. Como o gênero está registrado na bacia do rio Jari, pode ser que a espécie seja T. cinderella. Assim, possivelmente há uma espécie ameaçada no rio Jari. De acordo com Lima (2004), das espécies de peixes constantes da lista das espécies ameaçadas de extinção do Brasil (IBAMA), há pelo menos 39 que “têm como fator de ameaça à sua existência a presença e/ou o planejamento de usinas hidrelétricas em suas respectivas áreas de ocorrência”. O autor afirma, ainda, que para muitas dessas espécies não há informações sobre a sua ecologia e a sua história natural, e afirma categoricamente que há indícios seguros de que para muitas delas estão ameaçadas pela construção de hidrelétricas. Nos levantamentos efetuados nas principais bases de referência on-line não foram encontrados trabalhos sobre a ecologia ou a história natural de Teleocichla cinderella, nem mesmo para outras espécies do gênero, o qual possui sete espécies (sensu REIS; KULLANDER; FERRARIS JR, 2003). Porém, segundo Câmara (2004) muitas das espécies de Cichlidae encontradas no Brasil possuem adaptações específicas para estratégias tróficas Hydros EP518.RE.JR201 138 ou sobrevivência em ambientes especiais, principalmente ambientes lóticos. Câmara (op. cit.) afirma que peixes do gênero Teleocichla são reofílicos36, fato que indica que o represamento pode provocar a eliminação de habitat para tais organismos. A autora se baseia em importantes referências ao afirmar que o gênero Teleocichla e o gênero Retroculus, ambos ciclídeos reofílicos, são distribuídos principalmente nos planaltos do Brasil e das Guianas. 4.2.4.1.4 Impactos de represamentos sobre peixes Segundo Ferreira (1993), os impactos de represamentos se expressam sobre fatores abióticos (solos, hidrologia, etc.), bióticos, humanos (problemas sanitários, translocação de populações, etc.), e globais (perda de monumentos, [sítios arqueológicos]37, [danos ao patrimônio espeleológico]38, impactos no balanço de CO2, etc). O mesmo autor aponta que os peixes, por serem vertebrados de grande mobilidade, são os organismos aquáticos mais afetados com os efeitos do represamento de rios, especialmente as espécies migratórias e as espécies de ambientes lóticos. A diversidade de peixes comumente é afetada por represamentos de rios, pois há mudança nas condições hidrológicas com o surgimento de ambientes lênticos, com características de lagos. Particularmente, pode ser observada a diminuição da diversidade e da composição ictiofaunística, havendo substituição da dominância de espécies típicas de ambiente lóticos pela dominância de espécies típicas de ambientes lênticos (e.g. AGOSTINHO; GOMES, 1997). Outro aspecto importante é a mudança no padrão de abundância das espécies, o qual sofre uma forte tendência à dominância de poucas espécies e, consequentemente, ao aumento do número de espécies raras (AGOSTINHO; GOMES, id. ibid.). Ressalte-se que a redução na densidade de espécies de interesse comercial é um problema de ordem econômica que deve ser levado em consideração no planejamento de represas. Os estudos sobre a ictiofauna devem ser realizados antes, durante e depois do represamento de rios para a construção de hidrelétricas, pois permitem que se realizem prognósticos dos possíveis impactos decorrentes da implantação do empreendimento sobre o ambiente, as comunidades aquáticas e a pesca, bem como permitem o monitoramento das mudanças. Sempre que houver qualquer interferência de obras de engenharia na calha de rios, particularmente dos represamentos, é recomendado que seja realizado monitoramento biológico e pesqueiro das espécies de peixes. 4.2.4.2 Outros Vertebrados Aquáticos O levantamento da fauna de vertebrados aquáticos ocorrentes na bacia do rio Jari foi realizado a partir de consultas às coleções zoológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e à bibliografia disponível. 36 Reofilia: re.o.fi.li.a. sf. Biol. Tendência de certos animais aquáticos a se colocarem numa correnteza, em sentido oposto a ela (Dicionário Michaellis). 37 Adição nossa. 38 Adição nossa. Hydros EP518.RE.JR201 139 Estas informações foram extrapoladas de localidades que apresentam características semelhantes à bacia hidrográfica do rio Jari, dada a precariedade do conhecimento acerca da fauna dessa região, além do uso de publicações que sintetizam informações sobre a distribuição e hábito das espécies pertencentes aos diversos grupos estudados, conforme descrito a seguir: - Aves: Souza (2004), Sick (1997), Stotz et al. (1996) e Ridgely e Tudor (1989 e 1994). - Mamíferos: o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP - e as informações disponíveis em Rossi (2000), Weksler, Percequillo e Voss (2006), Reis et al. (2006), Voss e Emmons (1996), Emmons (1997), Wilson e Reeder (2005) e Eisenberg e Redford (1999). - “Répteis”: o acervo da coleção do Instituto Butantã e o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP. - Anfíbios: o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP. Com a publicação recente de Inventários Biológicos Rápidos do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (BERNARD, 2008) foi possível identificar algumas das espécies que ocorrem efetivamente na bacia de estudo. 4.2.4.2.1 Avifauna Um grande número de táxons se associa preferencialmente a ambientes criados pela influência da dinâmica dos corpos d’água, como as matas de Várzea e as matas de Igapó. Estima-se que cerca de 15% das espécies de aves amazônicas vivam associadas principalmente a esses ambientes (BORGES, 2004). Essas formações apresentam poucas espécies que são compartilhadas com outros ambientes como as matas de terra firme, ou seja, apresentam uma fauna típica. Entretanto, para este levantamento foram consideradas todas as espécies de Aves que apresentam associações aos corpos d’água ou vegetação associada a estes. No Anexo 3.4.1 são apresentadas as espécies prováveis e de ocorrências comprovadas (COLTRO JR., 2008) para a bacia hidrográfica do rio Jari. Dentre as espécies que apresentam estreita relação com corpos d’água, estão a marrecacaneleira (Dendrocygna bicolor), o pato-de-crista (Sarkidiornis sylvicola), o pato-do-mato (Cairina moschata), o mergulhão-pequeno (Tachybaptus dominicus), a biguatinga (Anhinga anhinga), o socoí-vermelho (Ixobrychus exilis), o arapapá (Cochlearius cochlearius), a garçaazul (Egretta caerulea), a águia-pescadora (Pandion halieatus), a picaparra (Heliornis fulica), o batuiruçu (Pluvialis dominica), o narcejão (Gallinago undulata), a cigana (Opisthocomus hoazin), o martim-pescador-da-mata (Chloroceryle inda), o arredio-do-rio (Cranioleuca vulpina), a maria-da-praia (Ochthornis littoralis) e a andorinha-do-rio (Tachycineta albiventer). Espécies de ampla distribuição costumam ser encontradas em vários ambientes, tanto de ecossistema terrestre quanto aquático. A seguir estão listadas algumas das possíveis espécies encontradas na bacia do rio Jari: papa-lagarta-acanelado (Coccyzus melacoryphus), balançarabo-de-garganta-preta (Threnetes leucurus), arapaçu-galinha (Dendrexetastes rufigula), joãopintado (Cranioleuca gutturata), tangará-falso (Chiroxiphia pareola) e sanhaçu-de-coleira (Schistochlamys melanopis). Em alguns casos, a espécie pode ter o hábito preferencialmente terrestre, porém também são encontradas em áreas ribeirinhas. É o que ocorre com o gaviãozinho (Gampsonyx swainsonii), encontrado tanto em cerrado quanto na beira de rios, o Hydros EP518.RE.JR201 140 maçarico-do-campo (Bartramia longicauda), que habita campos secos ou inundados; e o tipio (Sicalis luteola), encontrado em campos limpos, secos e úmidos (SICK, 1997). Ainda, algumas espécies passam parte de seu ciclo de vida associadas aos corpos d’água, seja em época de acasalamento, nidificação, alimentação ou até descanso, como é o caso das espécies migratórias. Entre as espécies migratórias prováveis para a bacia do rio Jari encontram-se: a estrela-do-norte (Sporophila bouvronides), a triste-pia (Dolichonyx oryzivorus), o trinta-réis-boreal (Sterna hirundo) e a marreca-de-asa-azul (Anas discors) (SICK, 1997). No Inventário Biológico Rápido realizado no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (COLTRO JR., 2008) foram registradas 197 espécies, pertencentes a 45 famílias, próximo ao rio Mapaoni, ao norte da bacia hidrográfica do rio Jari. Cerca de 60% das espécies apresentam algum tipo de associação com os corpos d’água e destas, destacam-se, por apresentarem endemismo à região do Escudo Guianense, a maitaca-de-cabeça-azul (Pionus menstruus), a chora-chuva-de-asa-branca (Monasa atra), o araçari-miudinho (Pteroglossus viridis), o picapau-de-colar-dourado (Veniliornis cassini), a choquinha-de-barriga-ruiva (Myrmotherula guttata) e o uirapuruzinho-do-norte (Tyranneutes virescens). Ainda neste estudo, espécies como inhambu-de-cabeça-vermelha (Tinamus major) e jacamimde-costas-cinzentas (Psophia crepitans), que apresentam forte pressão antrópica ao sul do rio Amazonas, foram avistadas com frequência. Corroborando com a excelente conservação da bacia, espécies sensíveis à modificação do meio como papa-formiga-de-topete (Pithys albifrons), mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha (Gymnopithys rufigula) e cabeça-de-ouro (Pipra erythrocephala) foram abundantes no levantamento. Dentre as 325 espécies listadas para a bacia, apenas duas apresentam algum grau de ameaça, segundo a lista vermelha da IUCN, o pato-corredor (Neochen jubata) e o gavião-real (Harpia harpyja). Destaca-se o último por apresentar registro nas proximidades do rio Mapaoni (COLTRO JR., 2008). 4.2.4.2.2 Mastofauna Para a fauna de mamíferos foram encontradas 5 espécies de hábito predominantemente aquático de ocorrência comprovada ou potencial para a bacia do rio Jari, encontradas no Anexo 3.4.2. Na bacia do rio Jari há a ocorrência de espécies com necessidade de conservação como a lontra (Lontra longicaudis) e a ariranha (Pteronura brasiliensis), sendo a última classificada como vulnerável e em perigo pelas listas do IBAMA e da IUCN, respectivamente. As ariranhas vivem em pequenos grupos, ao longo de rios e lagoas, preferindo corpos d’água com margens expostas, onde constroem pequenas tocas e abrigos (EMBRAPA, 2008a). Já as lontras têm ocorrência relacionada com a presença de substratos duros, onde esses animais encontram abrigo (EMBRAPA, 2008b). Silva (2008) registrou essas duas espécies no noroeste da bacia, na região do rio Mapaoni e é muito provável que suas ocorrências se estendam por toda a bacia, em locais semelhantes ao tipo de habitat de mencionado. Logo, a conservação de rios de pequeno e médio porte, que apresentem margens expostas, é vital para a preservação dessas espécies. Além da destruição de seus habitats pelo avanço da ocupação humana em locais preservados, essas espécies também sofrem com a caça predatória pelas populações ribeirinhas. Hydros EP518.RE.JR201 141 Além das espécies já citadas, a lista de mamíferos aquáticos cita ainda três espécies de ocorrência potencial para a bacia do rio Jari, sendo elas: o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), o boto-cinza ou tucuxi (Sotalia fluviatilis) e o peixe-boi (Trichechus inunguis). I. geoffrensis e T. inunguis são consideradas vulneráveis pelas listas do IBAMA e da IUCN. Para a sua preservação, é necessária a conservação de seus habitats naturais, que consiste principalmente em rios calmos com grande quantidade de peixes e plantas aquáticas. A porção noroeste da bacia do rio Jari é uma área de grande relevância para preservação da biota local. De acordo com Bernard (2008), os arredores do rio Mapaoni são uma área intacta, sem nenhum sinal de contato humano, fato que evidencia ainda mais a importância da conservação da fauna e flora da região. A região apresenta uma grande riqueza faunística e representa muito bem a diversidade do estado do Amapá. Além da grande diversidade, a região abriga espécies que apresentam necessidade de conservação, constando como ameaçadas ou vulneráveis nas listas de espécies ameaçadas do IBAMA e da IUCN. 4.2.4.2.3 Herpetofauna Para a fauna de répteis e anfíbios foram encontradas 50 espécies de hábito predominantemente aquático de ocorrência comprovada ou potencial para a bacia do rio Jari, encontradas no Anexo 3.4.3, na qual se encontram cinco tartarugas, três jacarés e 42 anuros. Dentre as espécies encontradas na bacia que se destacam, nota-se a presença do caimão-decara-lisa (Paleosuchus trigonatus), encontrado ao norte da bacia, nas proximidades do rio Mapaoni (LIMA, 2008), uma espécie de pequeno porte, com adultos atingindo cerca de 1,5 m de comprimento, que habita principalmente riachos de floresta de maior correnteza, muitas vezes perto de pequenas quedas d’água (VILLAREAL apud ROSS 1989). A espécie não se encontra nas listas de espécies ameaçadas, mas vem sofrendo com a destruição e poluição de seu habitat natural e o avanço da ocupação humana. As espécies que se encontram ameaçadas, de acordo com a lista da IUCN, são as tartarugas Peltocephalus dumeriliana (tartaruga-cabeçuda), Podocnemis expansa (tartaruga-daamazônia), Podocnemis sextuberculata (pitiú) e Podocnemis unifilis (tracajá), todas classificadas como vulnerável ou de baixo risco, e o jacaré Melanosuchus niger (jacaré-açú), considerado de menor risco. M. niger é uma espécie que habita rios de grande porte, podendo pesar até 400 kg quando adulto. A proteção de seu habitat natural, geralmente rios de maior porte associados às florestas alagáveis (IBAMA, 2008), é imprescindível para a conservação da espécie. No caso das diversas espécies de tartaruga citadas, além de serem afetadas pela destruição de seu habitat, associadas ou não à ocupação humana, também são alvos de caça predatória pelas populações ribeirinhas. Além disso, encontram-se na bacia inúmeras espécies de anfíbios. Este grupo é extremamente dependente da presença de corpos d’água ao menos em parte dos seus ciclos de vida e por esse motivo todos os anuros foram considerados em ecossistema aquático, porém também são encontrados em ambientes terrestres. Destas espécies apenas Atelopus spumarius apresenta algum grau de ameaça, sendo considerado vulnerável pela IUCN. Apesar de abundante localmente, A. spumarius tem reduzido bastante a sua distribuição. A espécie é descrita para terras amazônicas baixas (até 600 m de altitude), ocupando áreas na Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Guianas e Brasil, onde vivem sobre solos de Florestas tropicais de terra firme (Floresta Ombrófila Densa) e entre as folhagens das serapilheiras, próximas aos cursos d’água. Entretanto, para a reprodução, ainda dependem de corpos d’água de fluxo rápido. O que parece ameaçar a espécie são a ocupação e a transformação de seus Hydros EP518.RE.JR201 142 habitats, pois aparentemente se restringe às áreas não perturbadas (LESCURE; MARCA; HOOGMOED, 2004). Hydros EP518.RE.JR201 4.2.5 143 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS Para a compartimentação da bacia do rio Jari em recortes territoriais contínuos, cujas unidades espaciais possuam ecossistemas aquáticos com características similares, foram considerados os elementos diagnosticados para esse componente-síntese: fisiografia fluvial, vegetação marginal, qualidade da água e dados biológicos. A fisiografia fluvial foi o elemento orientador para a compartimentação da bacia. Isso se justifica pelo fato de que certas características físicas dos ambientes fluviais, como a hierarquia fluvial, corredeiras e saltos, presença de planícies fluviais e zonas de sedimentação, lagoas marginais e diversidade física, serem determinantes da diversidade biológica dos ecossistemas aquáticos. Além disso, a fisiografia é um elemento mais facilmente mapeável, permitindo melhor espacialização e visualização dos trechos mais homogêneos da bacia. Adicional e complementarmente a esse elemento, foram utilizados dados de qualidade da água e dados biológicos, inclusive os obtidos nos Inventários Biológicos Rápidos no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, publicado em abril de 2008, realizado pela Conservation International. Por outro lado, o uso das terras, apesar de ser um elemento de avaliação dos ecossistemas terrestres, foi utilizado para indicar, indiretamente, a poluição difusa e a pressão sobre a vegetação marginal e sobre a qualidade da água, pois trazem consequências negativas aos ecossistemas aquáticos. Dessa forma, a bacia do rio Jari foi compartimentada em três subáreas distintas, conforme o desenho N° EP518.A1. JR-08-039 (Fig. 075), intitulado “Mapa de Subáreas – Ecossistema Aquático – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, com a seguinte descrição: 4.2.5.1 Subárea I – Ambientes Altamente Conservados A Subárea I compreende o rio Jari e sua área de drenagem, desde as suas nascentes até o limite com a cachoeira do Desespero. Fazem parte desta subárea, as microbacias dos rios Mapaoni, Curapi, Culari e Cuc. O domínio geomorfológico predominante são as Colinas do Amapá. Apesar de localizar-se em uma região de maior altitude em relação às demais subáreas, não há presença significativa de cachoeiras e corredeiras. A área de mata alagável concentra-se nas margens do rio Jari. Corresponde ao trecho de maior densidade de drenagem da bacia. A subárea é altamente conservada do ponto de vista dos ecossistemas aquáticos, pois além da maior parte desta subárea encontrar-se inserida em Unidades de Conservação de Proteção Integral como o PARNA Montanhas do Tumucumaque e a REBIO Maicuru, o acesso ao local é muito difícil. Devido à dificuldade de acesso, até mesmo os levantamentos biológicos na área são escassos, sendo que a iniciativa da Conservation International de realizar um levantamento no local constituiu-se num evento ímpar que dificilmente terá similares. A expedição no local permitiu a coleta de espécies novas de peixes, que ainda estão em processo de descrição, além da observação frequente de aves sensíveis à modificação do meio, como papa-formiga-de-topete (Pithys albifrons), mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha (Gymnopithys rufigula) e cabeça-de-ouro (Pipra erythrocephala), cuja ocorrência também está associada a matas alagáveis (além da floresta de terra firme). A região registrou também Hydros EP518.RE.JR201 144 a ocorrência de ariranha, um mamífero considerado vulnerável pela lista de espécies ameaçadas do IBAMA. 4.2.5.2 Subárea II – Ambientes Encachoeirados A Subárea II compreende o rio Jari e seus afluentes, desde a cachoeira do Desespero (inclusive), até o ponto em que a influência antrópica nos cursos d’água se faz mais acentuada, na região de silvicultura. Incorpora o rio Iratapuru, desde as suas nascentes, até o núcleo de Barraca da Boca. Fazem parte desta subárea, as microbacias dos rios Ipitinga, Carecuru, Mapari e Noucouru. O domínio geomorfológico predominante é a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional. Esta subárea caracteriza-se por apresentar maior declividade, com abundância de cachoeiras e corredeiras. A densidade de drenagem é heterogênea, uma vez que apresenta áreas com densidade de drenagem diferentes. As áreas de mata alagável concentram-se nas margens do rio Jari. Sua maior parte está inserida em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, como a FLOTA do Paru e a RDS do Rio Iratapuru. 4.2.5.3 Subárea III – Ambientes Inundáveis A Subárea III compreende o rio Jari e seus afluentes, desde o ponto em que a influência antrópica nos cursos d’água se faz mais acentuada, na região de silvicultura, até a sua foz no rio Amazonas. Incorpora o trecho do rio Iratapuru sob influência do núcleo de Barraca da Boca. Esta subárea caracteriza-se por localizar-se em terras mais baixas, sob influência da maré. Além disso, há grandes extensões de mata alagável. A ocupação humana da bacia concentra-se nesta subárea, sendo ela, portanto, a subárea mais sensível do ponto de vista dos ecossistemas aquáticos. Neste trecho, não há Unidades de Conservação, exceto por pequeníssimos trechos da RESEX do Rio Cajari, no limite da área de drenagem a bacia do Jari. Apesar desta subárea ser de terras baixas, insere-se aí uma importante cachoeira, a Cachoeira Santo Antônio. Trata-se de uma cachoeira com queda de quase 30 metros, que não só pode ser uma barreira natural à migração de vários peixes, como também é uma barreira à ocupação humana, já que o trecho navegável do rio Jari termina na própria cachoeira Santo Antônio. Um resumo dos elementos utilizados como referência para compartimentação da bacia em subáreas estão relacionados no Quadro 4.2.5-1 a seguir. Hydros EP518.RE.JR201 145 Quadro 4.2.5-1 – Subáreas dos Ecossistemas Aquáticos Subárea Fisiografia Fluvial I – Ambientes Altamente Conservados Área de menor declividade e maior Densidade de Drenagem II – Ambientes Encachoeirados Área de maior declividade, com abundância de cachoeiras e corredeiras. Densidade de Drenagem heterogênea III – Ambientes Inundáveis Área de menor declividade. Apesar disso, destaca-se a cachoeira Santo Antônio. Densidade de Drenagem intermediária Qualidade da Água Qualidade ótima; difícil acesso garante sua qualidade Qualidade ótima; difícil acesso garante a sua qualidade Qualidade boa, porém está sujeita à maior degradação devido à maior ocupação antrópica na bacia Vegetação Marginal Vertebrados Aquáticos Mata alagável concentrada em alguns trechos às margens do rio Jari Ocorrência de espécies sensíveis à ocupação antrópica do meio, o que indica o alto grau de conservação do local Mata alagável concentrada em alguns trechos às margens do rio Jari Ictiofauna diferenciada da subárea III, uma vez que a cachoeira Santo Antonio pode se comportar como uma barreira natural Extensa área de mata alagável; alguns trechos degradados pela urbanização, pecuária e silvicultura Migração ascendente de peixes migratórios provavelmente limitada pela cachoeira Santo Antônio, que pode se constituir em uma barreira natural à migração de várias destas espécies. Hydros EP518.RE.JR201 146 4.3 ECOSSISTEMAS TERRESTRES 4.3.1 COBERTURA VEGETAL E USO DO SOLO A bacia hidrográfica do rio Jari está inserida no Bioma Amazônia ou Domínio Morfoclimático Tropical Úmido de acordo com Ab’Saber (1967), que corresponde ao Domínio Climático Equatorial Quente Úmido (com um a dois meses secos) da classificação de Nimer (1979). Situa-se na porção norte da região Amazônica, sendo o rio Jari um dos tributários da margem esquerda do rio Amazonas. As nascentes de seus formadores encontram-se nas Colinas do Amapá, nas proximidades da fronteira desse estado com a Guiana e o Suriname. A floresta amazônica foi descrita e classificada por diversos autores, sendo o primeiro reconhecimento, provavelmente, realizado pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira que, entre 1783 e 1789, percorreu a região entre a ilha do Marajó e o alto curso do rio Negro. O primeiro mapeamento e classificação da vegetação, contudo, refere-se ao de von Martius, após a expedição deste e de Spix, em 1819/20. Em seu mapa fitogeográfico do Brasil, a região amazônica é denominada Nayades, nome das ninfas das fontes da mitologia grega, em referência ao clima úmido (BOHRER; GONÇALVES, 1991). Posteriormente, outros mapeamentos e classificações foram propostos, de modo geral concordantes quanto aos seus limites. O sistema de classificação da vegetação brasileira, atualmente adotado (VELOSO et al., 1991), surgiu na década de 1970, quando teve início o mapeamento dos recursos naturais brasileiros pelo Projeto RADAR na Amazônia - Projeto RADAM. Mais tarde este mapeamento se estendeu para todo Brasil com o nome de Projeto RADAMBRASIL, seguindo a classificação estabelecida pela UNESCO (International Classification and Mapping of Vegetation, Paris, 1973) e é a adotada atualmente no Brasil. Para o presente trabalho utilizou-se o mapeamento da cobertura vegetal e do uso do solo do Banco de dados da Amazônia Legal (IBGE, 2004), em escala de 1:250.000 e apresentação em 1:1.000.000, sendo a legenda baseada no sistema de classificação acima referido. A caracterização da vegetação baseou-se nos trabalhos executados pelo Projeto RADAMBRASIL, que descreve a região de estudo sob o domínio da Floresta Ombrófila Densa em quase toda extensão. As variações estão condicionadas aos fatores de relevo, de solos, bem como por gradientes altitudinais. Considerando a escassez de fontes de informações, a caracterização se apóia também em estudos desenvolvidos em outras bacias hidrográficas, que permitem compreender a estrutura geral dessas formações, o que pode ser extrapolado para as Florestas de Terra Firme da bacia do rio Jari. Os primeiros inventários quantitativos na Amazônia foram iniciados na década de 1950. Desde o início, chamou a atenção dos pesquisadores a baixa similaridade entre as unidades amostrais e o elevado percentual de espécies raras (BLACK et al., 1950 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001). Estudos fitossociológicos realizados por Cain et al. (1956) indicaram ausência de dominância em nível específico, observada, no entanto, em relação a famílias. Indicaram também baixa frequência de espécies e baixas similaridades. De fato, uma das características das florestas tropicais refere-se à baixa densidade das populações vegetais e, consequentemente, ao grande número de espécies raras em uma dada Hydros EP518.RE.JR201 147 unidade de área. Este aspecto foi observado em estudos posteriores como Pires e Prance (1977) que concluíram que, apesar da ausência de espécies dominantes, em qualquer amostragem na floresta amazônica, a tendência é de que 5 a 15 espécies contribuam com 50% do total de indivíduos, sendo as demais raras. Quanto às famílias mais bem representadas, Dantas et al. (1980 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001) identificam Leguminosae, Sapotaceae, Moraceae, Lecythidaceae e Burseraceae. Este resultado é parcialmente concordante com o de Ayres (1981 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001), que encontrou como dominantes as famílias Leguminosae e Moraceae, mas também Myristicaceae e Lauraceae. O autor observou ainda um mosaico fino de variações, sugerindo que, “dentro de uma pequena área de floresta de terra firme a floresta é homogeneamente heterogênea”. De forma semelhante, Campbell et al. (1986), em estudo na bacia do rio Xingu, observaram um grande número de espécies raras, determinantes da alta diversidade, sugerindo que a floresta amazônica se configura como um mosaico de diferentes tipos de florestas. Nesse sentido, Gentry (1988) descreve um gradiente de riqueza de espécies decrescente de oeste para leste. O autor relacionou este aspecto a solos, mais férteis a oeste, e ao gradiente de pluviosidade. Esta observação remete ao proposto por McIntosh (1967) para florestas tropicais, acerca do continuum florístico, onde espécies são gradativamente substituídas ao longo de um determinado gradiente, sem limites discretos entre as comunidades. Entretanto, em mapeamentos, nem sempre é possível verificar uma relação linear entre classes de solo e fisionomia (RUGGIERO et al., 2006). Estudos recentes em Florestas Ombrófilas do estado do Pará apontam, ainda, um volume de madeira de aproximadamente 100 m3/ha, independentemente do tipo florestal, observando-se que nem sempre as espécies com maior valor de importância na comunidade são as de valor madeireiro. Observou-se também a tendência de várias espécies apresentarem-se agrupadas (IBGE, 2007). Considerando esses aspectos, podem ser esperadas importantes variações florísticas na bacia do rio Jari, a despeito de sua aparente homogeneidade, tanto no sentido latitudinal, uma vez que a bacia hidrográfica se estende por cerca de 430 km no sentido norte-sul, quanto longitudinal. Além disso, em que pese a relativa homogeneidade do substrato pedológico observado nessa bacia hidrográfica, variações locais de relevo e mesmo de solo condicionam formações diferenciadas do ponto de vista florístico e estrutural, ainda que espécies comuns possam estar presentes. Estas variações são mais facilmente observadas ao longo dos cursos d’água, onde se desenvolve a vegetação justafluvial ou marginal, descrita no item referente aos Ecossistemas Aquáticos. 4.3.1.1 Formações Vegetais da Bacia do rio Jari A cobertura vegetal que reveste essa bacia, a despeito da relativa homogeneidade visualizada no mapeamento, apresenta variações tanto de feições intra formações, relacionadas com o gradiente topográfico ou à densidade do componente dominante, quanto de estrutura florística, em associação às condições fisiográficas, bem como climáticas. Prevalecem Florestas Ombrófilas Densas na maior parte desse espaço geográfico. Subordinadamente, observam-se Florestas Ombrófilas Abertas, Formações Pioneiras sob Influência Fluvial e Vegetação Secundária. Nota-se, ainda, que esta bacia hidrográfica contém extensas áreas de reflorestamentos homogêneas para fins comerciais, característica incomum Hydros EP518.RE.JR201 148 na região amazônica. Outro aspecto importante a ser assinalado é a importância dessas florestas no que se refere ao extrativismo de castanha-do-brasil, sendo a região do Jari considerada uma das regiões de maior importância dessa atividade. É apresentada, a seguir, a descrição das formações vegetais identificadas na área de estudo, com base no desenho N° EP518.A1.JR-08-009 (Fig. 076), intitulado “Mapa de Cobertura Vegetal e Uso do Solo – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 4.3.1.1.1 Formações Ombrófilas Densas O termo Floresta Ombrófila Densa foi criado por Elemberg e Mueller–Dombois (1965/6), que substituíram a denominação Pluvial (de origem latina) por Ombrófila (de origem grega), mantendo o significado: amiga das chuvas. Este tipo de vegetação é caracterizado por macro e mesofanerófitos (vegetais arbóreos de grande porte, variando entre 30-50 m a 20-30 m, respectivamente), além de lianas e epífitas. As características ombrotérmicas da Floresta Ombrófila Densa está condicionada aos fatores climáticos equatoriais relativos a elevadas temperaturas, cujas médias ultrapassam 25ºC, e alta precipitação, de 2000 a 3000 mm anuais, com chuvas de modo geral bem distribuídas durante o ano (apenas com períodos de até 60 dias sem chuva). Estes fatores climáticos determinam uma situação bioecológica praticamente sem período seco, ou seja, sem déficit hídrico, uma vez que a água permanece armazenada no solo e disponível para as plantas. De acordo com o sistema de classificação brasileiro, a Floresta Ombrófila Densa se subdivide em cinco formações, segundo a hierarquia topográfica (altitudes do terreno). Assim, de acordo com as variações ecotípicas resultantes do gradiente altitudinal, que determina variações de temperatura e umidade, tem-se: Floresta Ombrófila Aluvial, de Terras Baixas, Submontana, Montana e Alto-montana. Na bacia do rio Jari são observadas quatro dessas formações, conforme apresentado adiante. Ressalte-se, ainda, que a Floresta Ombrófila Densa pode ser subdividida pelas características do dossel, que pode apresentar-se uniforme ou com árvores emergentes. A Floresta Ombrófila Densa com espécies emergentes ocorre na maior parte da área de estudo. Corresponde a uma feição florestal de alto porte, elevado potencial madeireiro e apresenta muitas árvores emergentes. É caracterizada pela presença constante do angelimpedra (Dinizia excelsa), maçaranduba (Manilkara huberi), maparajuba (Manilkara sp.), acariquara (Minquartia guianensis) abioranas (Pouteria spp.), breus (Protium sp., Tetragastris sp.), matamatás (Eschweilera sp.), sorva (Couma sp.), ucuuba-vermelha (Iryanthera sp.) e quinarana (Geissospermum sericeum). No Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque foram observadas variações entre floresta de alto porte, com predominância de Hymenolobium petraeum, árvores emergentes, dominando as porções mais movimentadas do relevo, chegando a mais de 40 metros de altura, juntamente com Manilkara sp. Nas florestas de porte mais baixo predominam Vochysia sp. e Eschweilera sp. São nestas florestas de baixo porte que ocorrem os solos mais pobres ou rasos, com afloramentos rochosos de vegetação de arbustos e gramíneas. Nos morros do tipo “pão-de-açúcar” (inselbergs) a vegetação é esparsa e com predomínio de bromélias, mirtáceas e cactáceas (BERNARD, 2008). Doi et al. (1975 apud BERNARD, 2008) apontam ainda que a as florestas nos topos da Serra do Acaraí são dominadas por espécies de Myrtaceae e Clusia sp. Hydros EP518.RE.JR201 149 Descreve-se, a seguir, as distintas formações, diferenciadas de acordo com o gradiente topográfico. a) Floresta Ombrófila Densa Aluvial A Floresta Aluvial, que ocupa os terraços aluviais dos rios, foi descrita em Ecossistemas Aquáticos no item Vegetação Marginal. Esta fisionomia apresenta com frequência um dossel emergente. Em áreas sob pressão antrópica apresenta-se, de modo geral, alterada devido à exploração madeireira. As maiores extensões dessa floresta estão espalhadas ao longo do curso do rio Jari e próximo à foz, tendo pequenas proporções nas margens dos seus afluentes. b) Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas Essa formação ocupa as áreas de terraços antigos e recentes, bem como os platôs Terciários, situados entre 5 e 100 m de altitude. Sua composição florística mescla espécies de terra firme e da Floresta Aluvial, principalmente quando mais próximo das planícies dos rios. Está presente ao sul da bacia hidrográfica, ao longo do rio Jari e junto a alguns de seus afluentes do baixo curso como o igarapé Caracaru. De acordo com o Projeto RADAMBRASIL (1974), esta feição da Floresta Ombrófila apresenta sub-bosque limpo, de fácil penetração e boa regeneração. Espécies de grande porte e de valor comercial estão presentes, destacando-se como emergentes, angelim (Dinizia excelsa), castanheira (Bertholletia excelsa) e cedrorana (Cedrelinga cateniformis) e, no estrato arbóreo superior, representantes de espécies como maçaranduba (Manilkara sp), breu (Protium sp.), abiorana (Pouteria sp.) c) Floresta Ombrófila Densa Submontana Encontra-se nas encostas dos planaltos e serras, a partir de 100 m até 600 m, quando situada em latitudes entre 4º N e 16º S. A passagem para esse tipo de floresta é marcada pela mudança no substrato geológico. Os terrenos são antigos, com rochas cristalinas do Proterozóico. Corresponde às Florestas Ombrófilas mais bem representadas na bacia do rio Jari. De fato, à exceção do trecho situado no extremo norte da bacia hidrográfica, em correspondência à serra de Tumucumaque, todo o restante da área, até aproximadamente a foz do rio Iratapuru, encontra-se revestido por essas florestas. Estas se diferenciam em formações com dossel uniforme ou com emergentes e cedem lugar a Florestas Aluviais ao longo dos cursos d’água, notadamente no rio Jari. No alto curso do rio Jari, a fisionomia é de Floresta Ombrófila Densa Submontana com dossel emergente (árvores de grande porte que se sobressaem do tapete da floresta); o relevo é dissecado, montanhoso e movimentado. Esta fisionomia também está presente na serra do Iratapuru. Embora localmente possa apresentar menor porte, a Floresta Densa Submontana apresenta dossel emergente e espécies de grande porte, com potencial madeireiro, com espécies como maçaranduba (Manilkara sp.), angelim (Dinizia excelsa), castanheira (Bertholletia excelsa), entre outras. Hydros EP518.RE.JR201 150 De acordo com o Projeto RADAMBRASIL (1975) podem ser reconhecidas diferentes feições dessas florestas, cujas variações relacionam-se com as unidades geomorfológicas em que ocorrem e com as características pedológicas destas, formando sub-regiões, conforme descrito a seguir. • Sub-região da Superfície Dissecada do Complexo Guianense A área ocupada pela Floresta Densa Submontana da Superfície Dissecada do Complexo Guianense é a mais extensa entre as Florestas Densas Submontanas presentes na bacia. Engloba terrenos ondulados e fortemente ondulados revestidos por floresta uniforme de alto porte caracterizada pela sorva (Couma guianense). No meio dela podem aparecer núcleos de árvores emergentes, destacando-se a maçaranduba (Manilkara huberi), maparajuba (Manilkara amazonica), acariquara (Minquartia guianensis) e quaruba (Vochysia sp.). Ao norte desta sub-região, o estudo realizado no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (BERNARD, 2008) apontou grande diversidade de espécies vegetais, nos quais registraram 91 espécies de 35 famílias diferentes. Destas, a família que apresentou maior representatividade, seja em número de espécies ou em número de indivíduos, foi Leguminosae, seguida logo por Burseraceae (em número de indivíduos). Ainda, estas duas famílias foram as que apresentaram maior dominância relativa de espécies. Entre as espécies de maior frequência destacam-se: faveira (cf. Macrolobium multijugum), jarana (Lecythis sp.), cupiuba (Eschweilera ovata), maçaranduba, breu (Protium sp.), abiorana (Pouteria sp.) e ingá (Inga sp.), além de espécies de modo geral menos frequentes como acapu (Vouacapoua americana), apazeiro (Eperua sp.), mandioqueira (Qualea sp.), pracaxi (Pentaclethra macroloba) e pequiá (Caryocar sp.). Sob o dossel fechado se desenvolve uma vegetação esparsa, constituída por plântulas das espécies arbóreas locais e de plantas tolerantes à sombra como palmeiras acaules: palha-preta (Astrocarium sp.) e cunamã (Astrocarium paramaca). • Sub-região da Superfície Arrasada do Complexo Guianense Denominada pela Geomorfologia do Projeto RADAMBRASIL de Superfície Arrasada do Pará /Amapá, onde a intensa erosão foi determinante de um relevo com menores altitudes, situa-se ao sul da superfície do Complexo Guianense, abrangendo terrenos fortemente ondulados e ondulados. O revestimento arbóreo da área constitui-se de uma floresta de alto porte, na sua maioria com árvores emergentes na qual a castanheira (Bertholletia excelsa) é o elemento característico. Outras espécies de relevante participação na florística dessa área são: a maçaranduba (Manilkara huberi), abiorana (Pouteria sp.), faveira (cf. Macrolobium multijugum), taxi (Sclerobium sp.) e jutaí (Hymenaea sp.). No interior dessa unidade surgem manchas pequenas de cipoal cuja origem provavelmente seja antrópica, e são encontradas na bacia do afluente Ipitinga. Essas manchas estão associadas à presença da castanheira (Bertholletia excelsa) e não são observáveis na escala do mapeamento. Hydros EP518.RE.JR201 • 151 Sub-região da Plataforma Residual do Amapá (das baixas cadeias de montanhas) São áreas que se destacam como manchas no interior das áreas anteriormente nomeadas e correspondem a terrenos Pré-cambrianos parcialmente trabalhados pelos agentes erosivos de feições morfológicas dissecadas, formando um conjunto de serras, platôs e colinas, de altitude entre 100 e 600 m, concentrados predominantemente no centro da bacia. A diversidade fisionômica está vinculada ao grau de desenvolvimento das árvores e não à dominância de espécies e é possível que este grau de desenvolvimento seja função da profundidade do solo, onde dominam os Latossolos. Localizadamente, algumas espécies caracterizam o ecossistema em função de sua densidade, como o angelim-pedra (Hymenolobium petraeum), mais comum nos platôs, e a castanheira (Bertholletia excelsa), que se distribui pelos vales e pelas encostas da área dissecada. d) Floresta Ombrófila Densa Montana Este tipo de floresta ocupa áreas montanhosas, situadas entre 600 e 1.000 m de altitude. Na bacia em questão, localiza-se exclusivamente na região do extremo norte, onde se encontra a nascente do rio Jari. Esta região, devido à sua localização remota e ao difícil acesso, encontrase completamente preservada e sem sinais de perturbação decorrente da ação humana, representando uma das áreas menos conhecidas do Escudo das Guianas. A estrutura, a composição e a densidade desta floresta são variáveis de acordo com a localização no relevo: nos vales e meias encostas, a cobertura florestal é densa e as árvores de grande porte; nos topos das elevações, a densidade e o porte da floresta diminuem, tal como ocorre nas florestas submontanas de relevo acidentado. Desta maneira, espera-se que a flora encontrada na expedição 2 do Inventário do PARNA Montanhas do Tumucumaque (BERNARD, 2008), apesar de localizada em região submontana, deva ser bastante semelhante à tratada, devido à semelhança de estrutura de relevo e principalmente à proximidade em que se encontram, uma vez que os limites biológicos entre um tipo vegetacional e outro não são tão nítidos e que a classificação corresponde a limites artificiais e convencionados. Nas florestas de grande porte, cuja vegetação pode atingir mais de 40 m de altura, destacamse o angelim (Hymenolobium petraeum) e a maçaranduba (Manilkara sp.), enquanto nas florestas de baixo porte predominam a quaruba (Vochysia sp.) e o matamatá (Eschweilera sp.). Nesta última feição, onde se encontram solos mais pobres e rasos, ocorrem afloramentos rochosos do tipo “pão-de-açúcar” (inselbergs). Na região, de relevo bastante acidentado, encontram-se com grande frequência angelim (Dinizia sp.) e acariquara (Minquartia guianensis), nos platôs, e açaí (Euterpe oleracea), quaruba (Vochysia maxima), faveira (Parkia sp.) e breu (Protium sp.) nas vertentes. As variações locais nas comunidades vegetais, com diferentes espécies apresentando valores de importância variáveis, corroboram a afirmação de Ayres (1993) de que “a floresta é homogeneamente heterogênea”. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.1.1.2 152 Formações Ombrófilas Abertas Além das variações decorrentes do gradiente topográfico, variações de densidade de dossel também respondem por diferenciações na Floresta Ombrófila, denominadas Florestas Ombrófilas Abertas. Dissimilaridades entre estas e as Florestas Ombrófilas Densas foram registradas por Albernaz et al. (2004), mais evidentes que entre as feições relacionadas com as cotas altimétricas. Esse aspecto pode estar associado à maior penetração da luz no subbosque das florestas abertas, favorecendo uma flora mais heliófila, em oposição ao ambiente umbrófilo das feições mais densas. São descritas, a seguir, essas florestas, observadas na área de estudo. a) Floresta Ombrófila Aberta De acordo com o Projeto RADAMBRASIL, a Floresta Ombrófila Aberta, no conceito fisionômico-ecológico, é uma feição florestal composta de árvores mais espaçadas, muitas palmeiras e sinúsia arbustiva densa com ou sem lianas lenhosas, o que reflete condições climáticas e pedológicas especiais. Entende-se que a Floresta Aberta é uma versão da Floresta Densa, formada a partir de alguma variação de um dos condicionantes ambientais, especialmente o pedológico. São reconhecidas quatro feições da Floresta Ombrófila Aberta associadas à presença de um determinado elemento dominante no estrato inferior (submata), quais sejam: com palmeiras, com cipós, com sororoca e com bambu. Essas diferenças se refletem na estrutura da floresta. Para as condições da bacia hidrográfica em questão, tem-se a ocorrência de Floresta Ombrófila Aberta Submontana com cipós na porção sul da bacia, nos interflúvios dos rios Ipitinga e Carecuru e entre este e o igarapé Caracaru, na margem direita do rio Jari, e nas proximidades do baixo curso do rio Iratapuru. Esta é caracterizada pelo predomínio de cipós lenhosos, onde as árvores encontram-se mais espaçadas e parcialmente envolvidas por lianas, transformadas no que a literatura considera como torres de cipós (IBGE, 1992), às vezes dificultando a circulação em seu interior. Além disso, por ter uma entrada maior de luz no dossel, o sub-bosque é profuso em espécies herbáceas, sororocas arborescentes (Phenakospermum sp.), bromélias, orquídeas e outras. Esta característica de abertura do dossel promove forte incremento na diversidade de espécies vegetais nos estratos mais baixos. 4.3.1.1.3 Refúgios Vegetacionais Em locais com afloramentos rochosos, que se projetam tanto no interior da floresta quanto bem acima da copa das árvores, desenvolve-se uma vegetação diferenciada, denominada no RADAM de Refúgio Vegetacional. Estas formações possuem grande valor ecológico devido à provável elevada taxa de endemismo. São ambientes xeromórficos, dominados por espécies rupículas e dentrículas como as orquídeas Cyrtopodium andersoni e Sarcoglottis sp. Além dessas, foram encontradas as herbáceas Nepseria sp., esta em grande quantidade, Scleria ciperina, Piper sp. e as arbóreas Clusia sp., Croton sp., Ouratea cf. aquatica, além das trepadeiras Souroubea sp. e Cissus erosa (BERNARD, 2008). Hydros EP518.RE.JR201 4.3.1.1.4 153 Formações Pioneiras e Secundárias Correspondem à vegetação colonizadora de substratos recentes, no caso das Formações Pioneiras, decorrentes de dinâmicas deposicionais fluviais, ou à vegetação colonizadora de ambientes alterados por ação antrópica, apresentando caráter secundário. a) Formações Pioneiras sob Influência Fluvial Vegetação de primeira ocupação de caráter edáfico, que ocupa terrenos rejuvenescidos pelas seguidas deposições de aluviões nas embocaduras dos rios e os solos ribeirinhos aluviais e lacustres. As Formações Pioneiras são consideradas como pertencendo ao “complexo vegetacional edáfico de primeira ocupação”. Estão presentes em toda a planície da bacia amazônica, e na bacia em estudo, na planície localizada ao sul, com plantas adaptadas aos parâmetros do ambiente pioneiro. Fazem parte da Vegetação Marginal, descrita no item 4.2.3 em Ecossistemas Aquáticos. É uma formação florestal com árvores relativamente baixas, mais ou menos 15 m, finas e de folhas sempre verdes. De modo geral, o estrato inferior é ralo e o solo apresenta-se limpo, com espessa camada de serapilheira. As inundações periódicas deixam suas marcas no tronco das árvores. Na foz do rio Jari, próximo ao local chamado de Braço do rio Jari, surge a Formação Pioneira com influência fluvial/lacustre herbácea sem palmeiras. b) Vegetação Secundária A vegetação secundária pode ser definida como aquela que ocupa o lugar da vegetação primária após interferência antrópica, podendo apresentar diferentes estágios de sucessão. Na escala de trabalho adotada, contudo, não é possível discriminar diferentes fases de desenvolvimento dessa vegetação, sendo a mesma assinalada apenas como Vegetação Secundária. Este tipo de vegetação ocorre na bacia, em pequena escala, na porção sul da bacia do rio Jari, em correspondência ao baixo curso do igarapé Caracaru, caracterizando-se como uma Vegetação Secundária sem Palmeiras. 4.3.1.2 Ecossistemas Antropizados Os ecossistemas antropizados são as áreas alteradas pela ação humana, onde a vegetação natural foi suprimida para o desenvolvimento de atividades agrícolas, pastoris, industriais, urbanas, entre outras. Estas áreas podem ser destinadas para uso privado ou público, para residências, infraestrutura, cultivos agrícolas, de exploração de recursos naturais mineral ou florestal. Na bacia em estudo, a alteração e utilização do solo através destas atividades antrópicas ocorrem, predominantemente, na porção sul da bacia, com uso rural e núcleos populacionais que dão suporte às atividades rurais. Como zonas urbanas, podem ser citadas as cidades de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, sedes municipais dos respectivos municípios e vila de Monte Dourado. Hydros EP518.RE.JR201 154 Na margem esquerda do rio Jari, no município de Laranjal do Jari, a terra ocupada para uso rural representa cerca de 8.585 ha segundo IBGE (2004). A terra utilizada no processo de ocupação rural, conforme Figura 4.3.1-1, intitulada “Área Antropizada de Laranjal do Jari, segundo GEA/SETEC/IEPA (2004)”, tem como limites os ramais de Santo Antônio da Cachoeira e do Retiro ao norte, Reserva Extrativista (RESEX) do rio Cajari a leste e nordeste, divisor de águas das bacias do Igarapé Arapiranga e rio Muriacá a sudeste, município de Vitória do Jari, assentamento Maria Nazaré Mineiro e a área peri-urbana de Laranjal do Jari e rio Jari ao sul e sudoeste. Como principais núcleos têm-se as comunidades de Santo Antônio da Cachoeira, Padaria, Retiro e São Brás (GEA/SETEC/IEPA, 2004). Hydros EP518.RE.JR201 155 ³ 52°30'W 52°15'W Retiro ! Santo Antônio ! RESEX do Rio Cajarí Laranjal do Jari Amapá ri Mu Rio Padaria ! á ac 0°45'S 0°45'S ! São Brás Pará ra Iga pé an pir Ar a ga . ! Vitória do Jari Legenda Área de Drenagem 1°S Almeirim Hidrografia Principal Via Pavimentada Limite de Município Resex do Rio Cajari ! . Sede do Município de Laranjal do Jari Assentamento Maria de Nazaré Mineiro ! Núcleos Principais Área utilizada na Ocupação Rural Ferrovia Ramal do Retiro Rodovia Planejada Estrada Velha da Cachoeira de Santo Antônio 52°30'W 1°S 0 1,5 3 6 9 km 12 52°15'W Figura 4.3.1-1 – Área Antropizada de Laranjal do Jari, segundo GEA/SETEC/IEPA (2004) Hydros EP518.RE.JR201 156 Na margem direita do rio Jari, no município de Almeirim/PA, a terra ocupada para uso rural representa cerca 121.375 ha segundo IBGE (2004). Estas terras ocupam o sul da bacia desde a margem direita do rio Jari a leste, até outro lado do limite do município a oeste. Como ocupação populacional representativa inserida na área tem-se a vila Monte Dourado e o povoado Bandeira. Como núcleos principais têm-se Militão, Silva Vila do Planalto, Nova Vida, Granja São Miguel, Morcego, São Miguel, Santo Antônio do Caracaru e Munguba. A atividade rural predominante corresponde à exploração florestal, que ocorre através do empreendimento Jari Celulose, pois esta ocupa quase a totalidade da área utilizada para o uso rural, tendo representatividade econômica marcante na bacia em estudo. Localiza-se em ambas as margens do rio Jari, ocupando a porção sul da bacia, com a fábrica situada no porto de Munguba. A malha viária existente na zona rural serve para o desenvolvimento desta atividade, bem como às comunidades localizadas no interior destas áreas. A propriedade da Jari Celulose na margem esquerda do rio Jari ocupa uma área aproximada de 1.325 km2, dividida em duas porções. A primeira é compreendida entre os limites da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Iratapuru e a RESEX do Rio Cajari, até a estrada da cachoeira Santo Antônio e ramal do Retiro. Essa faixa é ocupada somente pelas comunidades de Iratapuru, na foz do rio Iratapuru, Santo Antônio e Padaria na margem do rio Jari. O ambiente natural é caracterizado pelo domínio de grandes florestas com grandes concentrações de castanheiras (Bertholletia excelsa), exploradas pelas comunidades do entorno. A segunda porção é utilizada pelo processo de ocupação rural. Outras atividades na bacia correspondem à lavoura temporária e criação de animais como bovinos e bubalinos, com pouca representatividade em termos de área ocupada e em termos econômicos. Estas atividades se concentram nas proximidades dos núcleos populacionais existentes, ao longo das vias de acesso. Outro uso identificado na bacia é a exploração dos recursos florestais em Unidade de Conservação de uso sustentável localizada na margem esquerda do rio Jari. É a RESEX do Rio Cajari, que ocupa cerca de 1.962,23 km2. Foi criada em 1990 pelo decreto federal em atendimento a manifestações e interesse da população residente. É uma categoria de conservação de uso direto, classificada em UC de uso sustentável, que possibilita o desenvolvimento de práticas produtivas e de convivência social, aliadas à proteção dos recursos naturais. Nela existem os Núcleos de Base das Comunidades da RESEX, que constituem instrumentos importantes de gestão participativa e permitem um maior envolvimento dos moradores e administradores com as questões mais locais da reserva. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.2 157 ECOSSISTEMAS DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO Segundo o Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas, os ecossistemas de relevante interesse ecológico podem ser definidos como ecossistemas importantes pela função que exercem na manutenção da diversidade biológica. Enquadram-se nessa classificação os ecossistemas importantes na manutenção de fluxos populacionais, como, por exemplo, as matas de galeria; ecossistemas mantenedores de espécies ameaçadas de extinção; ecótonos, por serem contatos entre duas regiões fitoecológicas distintas, com interpenetração de espécies em seus ambientes; e as áreas para conservação da biodiversidade sob algum tipo de proteção legal. Cabe ressaltar, ainda, que na bacia em estudo são encontradas as Áreas Pritoritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira, propostas pelo Seminário Consulta de Macapá (1999) e atualizadas pelo Ministério do Meio Ambiente e as Unidades de Conservação (2007), que são espaços territoriais com características naturais objetos de conservação, legalmente instituídas e classificadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Estas áreas são consideradas essenciais para a manutenção dos ecossistemas, portanto de Relevante Interesse Ecológico. Para a identificação e o mapeamento destes ecossistemas de relevante interesse ecológico, foram utilizados os mapeamentos do Projeto RADAMBRASIL, imagens de sensoriamento remoto, as informações disponíveis pelo Sistema de Informação de Unidades de Conservação - SIUC - e dados sobre as Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, apresentados pelo Seminário Consulta de Macapá de 1999 e atualizadas pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA – em 2007. É importante salientar que as Terras Indígenas também serão consideradas como áreas de relevante interesse ecológico nesta bacia, pois constituem extensas áreas com a cobertura vegetal preservada e que podem ser importantes para a manutenção da integridade faunística e florística da bacia. Excetuando-se essas áreas protegidas (UCs e TIs), identificam-se, considerando a escala de trabalho adotada, como de importância ecológica as formações denominadas no Projeto RADAM como Refúgios Vegetacionais, conforme exposto a seguir. 4.3.2.1 Regiões de Refúgios Vegetacionais Define-se refúgio como um ecossistema relíquia que persiste em situações específicas, como é o caso das comunidades em afloramentos rochosos em altitudes, que condicionam uma flora autóctone, rica em endemismos, de grande fragilidade e, portanto, mais suscetíveis a processos de extinção. Os refúgios encontrados na bacia do rio Jari estão em áreas rochosas, comumente lajedos, onde ocorre uma vegetação arbustiva característica por apresentar plantas esclerófilas, predominando Orchidaceae, Bromeliaceae e Cactaceae. Este tipo de vegetação se encontra na região centro-norte da bacia do rio Jari, em pequenas áreas. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.2.2 158 Áreas de Tensão Ecológica ou Contato Áreas de tensão ecológica são regiões onde diferentes formações ecológicas se interpenetram e um tipo de vegetação é gradativamente substituído por outro, ambos submetidos às mesmas condições climáticas gerais. Estas zonas, também chamadas de ecótono, apresentam espécies de ambas as formações, além de eventuais espécies específicas para a zona de transição. Isso permite maior diversidade em relação às formações vizinhas, o que as torna extremamente relevantes do ponto de vista ecológico. O contato entre tipos de vegetação com estrutura semelhante (por exemplo, entre diferentes tipos de florestas) é de difícil identificação por meio de fotointerpretação. Em outros casos, quando os tipos de vegetação que se contatam apresentam estruturas fisionômicas muito diferentes, a delimitação de mosaicos de vegetação torna-se mais fácil. Ocorrências de contato se evidenciam, de acordo com o PROBIO/MMA, no extremo norte da bacia hidrográfica, na fronteira com o Suriname, junto às nascentes dos formadores do rio Jari e, a sul, em correspondência às ocorrências de Floresta Ombrófila de Terras Baixas, em parte substituídas por reflorestamentos. 4.3.2.3 Unidades de Conservação Unidade de Conservação encontra-se definida pela Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, que regulamentou o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, e que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Dividida em seis capítulos, a Lei estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação no Brasil. Unidade de Conservação (UC) é um espaço territorial com seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes. É legalmente instituída pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. O SNUC divide as Unidades de Conservação em dois grupos: as de Proteção Integral e as de Uso Sustentável. São apresentadas a seguir dois níveis de UC’s, de proteção integral e de uso sustentável, delimitadas na bacia do rio Jari, conforme pode ser observado no desenho N° EP518_JR-08-010 (Fig. 079), intitulado “Mapa dos Ecossistemas em Áreas Protegidas – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 4.3.2.3.1 Unidade de Conservação de Proteção Integral Na bacia hidrográfica do rio Jari, são encontradas as seguintes UC’s de proteção integral: - Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque PA/AP; - Estação Ecológica do Jari PA/AP; - Reserva Biológica do Maicuru. Hydros EP518.RE.JR201 a) 159 Parque Nacional (PARNA) Montanhas do Tumucumaque PA/AP Localizado na Região Norte, nos estados do Amapá e Pará, o PARNA ocupa áreas dos municípios de Pedra Branca, Serra do Navio, Laranjal do Jari, Oiapoque e Calçoene. Foi criado pelo Decreto Federal s/nº de 22 de agosto de 2002. O bioma é Amazônico e a vegetação que o caracteriza é Floresta Ombrófila Densa, ocupando uma área de 3.867.000 ha, sendo a maior Unidade de Conservação em termos de área ocupada na bacia em estudo. Cerca de 50% da sua área localiza-se na porção norte da bacia em estudo, ocupando a margem esquerda do rio Jari. Corresponde também ao maior parque de floresta tropical contínua do mundo. É quase do tamanho do estado do Rio de Janeiro e representa 26,5 % da área total do estado do Amapá. Encontra-se em região de clima quente e úmido. Na porção centro-norte do parque, a floresta é de alto porte e cobertura uniforme, com núcleos esparsos de árvores emergentes. As espécies que mais se destacam são: maçaranduba (Manilkara huberi), maparajuba (Manilkara amazonica), cupiúba (Eschweilera ovata), jarana (Lecythis sp.), mandioqueira (Qualea sp.), louros (Ocotea spp.), acapu (Vouacapoua americana), acariquara (Minquartia guianensis), matamatás (Eschweilera spp.), faveiras (Vatairea paraensis), abioranas (Pouteria spp.), tauari (Couratari sp.) e taxi (Sclerobium sp. ou Taxigalia myrmecophila). Também se observam afloramentos rochosos com vegetação de arbustos e gramíneas (carrasco). Nos morros do tipo "pão-de-açúcar" a vegetação é esparsa e com predominância de bromeliáceas e cactáceas. O Parque Nacional (PARNA) Montanhas do Tumucumaque tem uma fauna rica, porém, ainda pouco estudada. Uma avaliação rápida da biodiversidade do PARNA permitiu registrar, até o momento, 366 espécies de aves, entre elas várias de valor cinegético e sensíveis a alterações ambientais, indicando grande preservação dos hábitats do parque. No que se refere à herpetofauna, tem-se o registro de 70 espécies de anfíbios e 86 de répteis com possíveis espécies novas. Já no que se refere aos mamíferos foram assinaladas, até o momento, 57 espécies de mamíferos não voadores e 48 quirópteros, indicando também grande diversidade de espécies (BERNARD, 2008). A região abriga as nascentes de todos os principais rios do Amapá, com destaque para o Oiapoque, o Jari, e o Araguari. O rio Oiapoque faz a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.Tem traçado retilíneo, encaixado em extensa fratura tectônica. O rio Jari constitui a divisa entre os estados do Pará e Amapá e o rio Araguari é o principal curso d’água do Amapá, gerando energia e fornecendo água para abastecimento urbano. Dois divisores de águas se destacam na área do Parque: a serra do Tumucumaque e a serra da Lombarda. b) Estação Ecológica (ESEC) do Jari PA/AP Unidade de Conservação de proteção integral, criada pelo Decreto nº 87.092 de 12 de abril de 1982, tendo sua área alterada pelo Decreto nº 89.440 de 13 de março de 1984. Cerca de 60% desta Unidade de Conservação está localizada na porção sul da bacia em estudo, tanto na margem direita como na esquerda. Encontra-se a 80 km ao norte da vila de Monte Dourado, com acesso via estrada de terra. Ocupa uma área de 227.126 ha, em uma faixa que vai do rio Jari, a leste, até o rio Paru, a Hydros EP518.RE.JR201 160 oeste. Situa-se nos municípios de Almeirim/PA e Laranjal do Jari/AP e tem cerca de 60% da área no Pará e 40% no estado do Amapá. A condição climática é quente e úmida, as temperaturas médias são superiores a 22ºC e a umidade relativa acima de 80%; os totais pluviométricos médios são de 1500 mm a 2000 mm. Os meses mais chuvosos são de dezembro a maio. A área da Estação Ecológica está sobre terrenos Paleozóicos, com intrusões posteriores de diabásio. O paredão de pedra de mais de 70 km de extensão corta horizontalmente a Estação e marca o limite norte da bacia sedimentar amazônica. Os terrenos se inclinam para norte da Cachoeira Santo Antônio até o paredão com 500 m de altitude nas cristas da Serra que o rio entalha. Os terrenos sedimentares são do Siluriano e Devoniano. Na rocha primária são cavadas grutas, cuja mais conhecida está próxima da sede, tendo uma superfície de 150 m2. c) Reserva Biológica (REBIO) do Maicuru Esta reserva é estadual e foi demarcada recentemente, através do decreto 2.610 de 04/12/2006. Sua área é de 1.173.217 ha, estendendo-se do rio Maicuru até o rio Jari, na fronteira do estado do Pará com o Amapá, no noroeste da bacia. Incorpora porções das bacias hidrográficas dos rios Maicuru, Paru e Jari. Faz limites com a Terra Indígena Parque Indígena do Tumucumaque; com a Terra Indígena do Paru D’Este; com o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque; e com a Floresta Estadual do Paru. Em 98,5% dessa reserva não há registro de pressão humana. 4.3.2.3.2 Unidades de Conservação de Uso Sustentável Na bacia hidrográfica do rio Jari, são encontradas as seguintes UC’s de uso sustentável: - Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru/AP; - Reserva Extrativista do Rio Cajari/AP; - Floresta Estadual do Paru. a) Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Iratapuru/AP Criada pela Lei 0392 de 11 de dezembro de 1997, tem 806.184 ha de extensão. Sua área compreende parcelas dos municípios de Mazagão, Laranjal do Jari, Pedra Branca do Amapari, e está sob a jurisdição da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Amapá (é uma reserva estadual). Sobrepõe-se a Estação Ecológica - ESEC do Jari, numa área de 7.579 ha ou 0,94% da área. As fontes principais de recursos são: o Governo do Estado do Amapá, Natura, Fonds Français pour l’Environnement Mondial - FFEM, Worldwide Fund for Nature - WWF, Conservação Internacional e Fundação Orsa. Limita-se ao norte pela Terra Indígena do Waiãpi, a oeste com o rio Jari e ao sul com a Estação Ecológica do Jari, fazendo parte do amplo mosaico de áreas protegidas que constitui o “Corredor de Biodiversidade do Amapá”. Cerca de 90% desta Unidade de Conservação está na porção leste da bacia em estudo, ocupando a margem esquerda do rio Jari. Hydros EP518.RE.JR201 161 A RDS do Iratapuru foi criada para conciliar a proteção da biodiversidade local com o uso sustentável dos recursos naturais por parte das famílias que vivem no interior e no entorno. A criação da unidade permitiu que as comunidades rompessem os laços de dependência com intermediários. Passaram a ter acesso a programas públicos e privados que ajudaram a agregar valor à sua produção. A reserva inclui seis comunidades, com cerca de 150 famílias que colhem 70 toneladas de castanha, beneficiada no local. Esta Unidade de Conservação apresenta grande potencial para o turismo ecológico devido à presença de cachoeiras, praias de areia clara e paredões de pedra que chegam a 80 m. Além da castanha é feito também o aproveitamento de resina retirada da árvore conhecida como breu-branco (Protium sp.) para produção de cosméticos e perfumes. b) Reserva Extrativista (RESEX) do Rio Cajari/AP A RESEX do Rio Cajari, criada pelo Decreto N° 99.145 de 12/03/1990, está localizada no estado do Amapá, nos municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Vitória do Jari. Ocupa apenas uma pequena porção ao sul da bacia em estudo. O clima da região onde se insere a Reserva Extrativista do Rio Cajari é caracterizado por alta pluviosidade, com precipitação anual variando entre 2.300 mm e 2.400 mm. É nos meses de fevereiro, março e abril que acontecem as maiores chuvas, enquanto que entre os meses de setembro e dezembro ocorre o período mais seco. A umidade relativa do ar tem média anual de 85%, a temperatura anual varia entre 16°C e 38°C, com valor médio em torno de 26°C. A insolação média anual varia entre 2.000 a 2.200 horas. Essa Unidade de Conservação é drenada pelas bacias dos rios Cajari e Ajuruxi, Igarapé Tambaqui e outros pequenos igarapés vindos do nordeste da reserva, onde todas as águas se dirigem para o Canal do Norte, rio Amazonas. O rio Cajari, no seu alto e médio curso, apresenta solos com características de drenagem incipiente, e a planície aluvial favorece o acúmulo de água, com a formação de terraços alagados. No baixo curso, o rio Cajari e os outros cursos d’água, se confundem com as áreas de depósito aluvionares do Canal do Norte, formando meandros, diques, furos, paranás e lagoas. As cheias e vazantes são controladas pelas marés. Os solos da Reserva Extrativista do rio Cajari, em sua maioria, apresentam textura entre média a argilosa, fertilidade natural baixa, concreções e vulnerabilidade à erosão. No trecho situado dentro da bacia do rio Jari, onde ocorre a Floresta Densa, verifica-se a presença de antas (Tapirus terrestris), cotias (Dasyprocta leporina), preguiças (Bradypus sp.), quati (Nasua nasua), macacos (Primates) e gatos (Felidae). O ecossistema de áreas ribeirinhas e de água doce apresenta uma fauna mais abundante, tanto terrestre quanto aquática, como os jacarés (Caiman crocodilus e Melanosuchus niger), tartarugas (Podocnemídeos), lontras (Lontra longicaudis), ariranhas (Pteronura brasiliensis), capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), anta (Tapirus terrestris), paca (Cuniculus paca). Também apresenta grande quantidade de aves como garças (Ardeidae), socós (Ardeidae), patos (Anatidae), ariramba (Galbulidae), além de peixes dos mais variados. Hydros EP518.RE.JR201 162 A reserva tem um plano de manejo ou uso que orienta as atividades na área. Os objetivos do plano são: - Assegurar a sustentabilidade da Reserva Extrativista do rio Cajari mediante a regulamentação da utilização dos recursos naturais e dos comportamentos a serem seguidos pelos moradores. Está aqui contida a relação das condutas não predatórias incorporadas à cultura dos moradores, bem como as demais condutas que devem ser seguidas para cumprir a Legislação Brasileira sobre o meio ambiente; - manifestar ao IBAMA, o compromisso dos moradores de respeitar a Legislação Ambiental e o Plano de Utilização e ao mesmo tempo oferecer àquele Instituto um instrumento de verificação do cumprimento das normas aceitas por todos; - servir de guia para que os moradores realizem suas atividades dentro de critérios de sustentabilidade econômica, ecológica e social. A responsabilidade de execução do plano é de todos os moradores, na qualidade de co-autores e co-gestores na Administração da Reserva, de forma coletiva ou individual. A responsabilidade de resolver os problemas decorrentes da execução deste Plano é dos Fiscais Colaboradores, Representantes dos Núcleos Comunitários, Conselho Deliberativo da Associação dos Trabalhadores da Reserva Extrativista do vale do rio Cajari - ASTEXCA e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/ Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais - IBAMA/CNPT, dependendo da situação. O plano disciplina as intervenções agro-pastoris e agro-extrativistas, nas intervenções na floresta, manejo da fauna na área comum e penalidades aplicadas. c) Floresta Estadual (FLOTA) do Paru A Floresta Estadual do Paru é estadual e foi homologada pelo Decreto 2.608 de 04/12/2006, publicada no D.O. 07/12/2006. É a maior Unidade de Conservação de uso sustentável em florestas tropicais do mundo, tendo área maior que o território da Holanda. Abrange os municípios de Almeirim (58% da área, 7.296.138 ha), Monte Alegre (20% da área, 1.997.699 ha), Alenquer (5% da área, 2438 ha) e Óbidos (2.670.602). A FLOTA pertence ao Bioma Amazônia e caracteriza-se pela presença de Floresta Ombrófila Densa (89,82%), Floresta Ombrófila Aberta (4,25%) e Contato Savana/ Floresta Ombrófila (5,93%). A UC incorpora terrenos das bacias do rio Jari, da bacia do rio Paru de Este, da bacia do rio Maicuru e da bacia do rio Curuá. Desta forma, a região em estudo apresenta uma diversidade de ecossistemas que preenchem os requisitos e objetivos não só de preservação, mas de proteção legal. 4.3.2.4 Áreas Pritoritárias para Conservação da Biodiversidade Durante o seminário de consulta de Macapá, em setembro de 1999, foi realizado um levantamento visando definir as áreas prioritárias de preservação da biodiversidade amazônica, cujo projeto recebeu o nome de “Avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável, e repartição de benefícios da biodiversidade da Amazônia Brasileira”. Este projeto também indicou o grau de prioridade de intervenção de Hydros EP518.RE.JR201 163 cada área proposta, além dos graus de estabilidade e instabilidade, bem como as ações recomendáveis, servindo como base para a criação de diversas Unidades de Conservação. Para a bacia do rio Jari foram propostas nove áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, nas quais grande parte está sobreposta às áreas atualmente protegidas legalmente, incluindo tanto Unidades de Conservação como Terras Indígenas. Na revisão de 2007, foram apresentadas novas áreas prioritárias, as quais perfazem a totalidade da bacia. Dentre as áreas propostas, a maioria é classificada como de importância muito alta ou extremamente alta. Cabe destacar as áreas indicadas para criação de UCs, quais sejam: Almerim-Arraiolo, Centro Novo do Cajari e Vale do Jari. As áreas que ainda não possuem proteção legal são as mais próximas às localidades mais antropizadas, na região de várzea do rio Amazonas, onde há o maior adensamento populacional da bacia, conforme pode ser observado no desenho N° EP518.A1.JR-08-002 (Fig. 078), intitulado “Mapa das Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável (APCB’s) – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.3 164 ECOLOGIA DA PAISAGEM O estudo da paisagem, sob a ótica da ecologia de paisagem, enfatiza a importância do contexto espacial sobre os processos ecológicos e a importância destas relações na conservação biológica (METZGER, 2001). Dentro dessa visão, a paisagem pode ser observada sob diferentes escalas, dependendo do objeto de estudo, e o mosaico heterogêneo da paisagem é considerado como um conjunto de hábitats que apresenta condições favoráveis, ou não, para uma dada espécie ou comunidade biológica. Por outro lado, tem-se outra abordagem de análise de paisagem, sob uma ótica geográfica, que enfatiza aspectos fisiográficos e fitogeográficos, buscando identificar unidades homogêneas, avaliando suas potencialidades e fragilidades. Essa abordagem tem sido comumente adotada para planejamento e, de modo geral, utiliza escalas regionais. Em uma visão integradora, Metzger (2001) propõe que a paisagem seja conceituada como um mosaico heterogêneo formado por unidades interativas, sendo esta heterogeneidade existente para pelo menos um fator, segundo um observador e em uma determinada escala. Ao ser interpretada como um mosaico heterogêneo de unidades interativas, a paisagem pode ser entendida como uma entidade natural, reunindo referências litológicas, geomorfológicas, topográficas, vegetativas, faunísticas, sociais e econômicas, entre outros diversos componentes que interagem. O presente estudo, apresentado em escala de 1:1.000.000, permite avaliar a cobertura vegetal, juntamente com outras variáveis ambientais, como solos e geomorfologia, bem como os níveis de alteração da paisagem, auxiliando na identificação de eventuais processos de fragmentação significativos. Permite assim, identificar, em escala macro, áreas com capacidade de manutenção de espécies animais e vegetais e o nível de insularização/continuidade da cobertura vegetal nativa. Em relação ao grau de integridade da paisagem, relacionado à sua capacidade de manutenção da biota terrestre, podem ser contrastadas duas situações: - paisagem preservada, com elevada capacidade de manutenção de alta diversidade de espécies, incluindo aquelas sensíveis a perturbações ou restritas ao interior do ambiente florestal; - paisagem constituída por um mosaico de fisionomias com diferentes graus de perturbação antrópica, cuja capacidade de manutenção da diversidade depende da integração dos diferentes fragmentos de vegetação. Desta forma, a organização de uma paisagem pode ser medida pela distribuição e interação de elementos físicos e bióticos que formam os ambientes, produzindo sinergia (função) em relação ao número, tipo e configuração dos elementos que a compõem (estrutura). A dinâmica da paisagem é estabelecida pelos fluxos existentes entre esses elementos. Com o passar do tempo, a dinâmica da paisagem, associada ou não a processos antrópicos, apresenta alterações no agrupamento de elementos estruturais, de modo a determinar o que se chama de mudança da paisagem (FORMAN; GODRON, 1981; 1986). A paisagem apresenta, portanto, três características básicas: estrutura, função e mudança. Os padrões espaciais dos elementos que formam a paisagem – manchas, corredores e matriz – constituem a sua estrutura. Ao arranjo espacial admitido por esses elementos dá-se o nome de mosaico. Hydros EP518.RE.JR201 165 As manchas são feições estruturais caracterizadas pela heterogeneidade de recursos naturais. Quando resultantes de perturbações ou pela introdução de componentes antrópicos, denominam-se fragmentos e apresentam, de modo geral, limites geométricos, formando contatos abruptos. Já os corredores, são unidades de modo geral estreitas e alongadas, ligando duas manchas ou fragmentos e podem ter original natural ou antrópica. Também nesse caso, os corredores de origem antrópica tendem a ter limites abruptos e conformação geométrica. De acordo com sua densidade e disposição com relação aos outros elementos na paisagem, podem constituir redes. Analisando a organização das formações que caracterizam a bacia do rio Jari, podem ser identificados, na escala de trabalho adotada, basicamente, dois padrões principais de paisagem. A norte, centro e centro/sul predomina o contínuo florestal ombrófilo, que faz parte da matriz florestal que caracteriza o bioma Amazônia (Figura 4.3.3-1, intitulada “Matriz Florestal (Floresta Ombrófila Densa) Tipicamente Encontrada na Bacia Hidrográfica do Rio Jari, do Norte ao Centro-Sul da Bacia”). Figura 4.3.3-1 – Matriz Florestal (Floresta Ombrófila Densa) Tipicamente Encontrada na Bacia Hidrográfica do Rio Jari, do Norte ao Centro-Sul da Bacia Ainda que ocorram variações florísticas e estruturais ao longo desse continuum, conforme discutido na caracterização da cobertura vegetal, sob o ponto de vista da estrutura da paisagem, tem-se uma grande homogeneidade da cobertura vegetal. Nesse amplo trecho da bacia hidrográfica em análise, a reduzida acessibilidade é fator condicionante de uma baixa ocupação antrópica, concentrada a sul. Já no setor sul, verificam-se extensas áreas de reflorestamentos promovendo uma ruptura nessa continuidade e propiciando, juntamente com a presença de Formações Pioneiras da planície amazônica, um mosaico de formações onde se alternam florestas monoespecíficas de eucalipto e a Floresta Ombrófila com suas diferentes feições (Figura 4.3.3-2, intitulada “Área Hydros EP518.RE.JR201 166 de Reflorestamento da Jari Celulose por Eucaliptus sp.”), áreas urbanas e de uso antrópico e formações hidrófilas florestais e herbáceas, contribuindo para uma maior diversidade gama39 em relação ao restante do território dessa bacia hidrográfica. Figura 4.3.3-2 – Área de Reflorestamento da Jari Celulose por Eucaliptus sp. Extensas áreas são ocupadas pelos plantios de eucaliptos, promovendo uma grande homogeneidade ambiental, onde a diversidade biológica, característica das Florestas Ombrófilas, foi substituída por uma floresta monoespecífica. Há, portanto, uma marcante ruptura na continuidade originalmente existente nesse trecho, criando-se uma matriz40 com pouco ou nenhuma permeabilidade41 às espécies autóctones. As possíveis formas de conectividade, neste caso, podem se dar ao longo da Vegetação Marginal presente ao longo dos cursos d’água, cuja preservação é prevista em lei. Associa-se a isso a obrigatoriedade de manutenção de Reserva Legal que no Bioma Amazônia corresponde a 80% da propriedade (Lei Federal 4.771/1965, Art. 16º, incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67/2001). Apesar de a implantação desses reflorestamentos ter ocorrido na década de 70 do século passado, portanto, anterior a essa obrigatoriedade, entende-se que a empresa responsável obedece à legislação, uma vez que obteve a certificação internacional do Conselho de Manejo Florestal – FSC em 2004, que exige o cumprimento das leis nacionais e internacionais (FSC, 2009). 39 Diversidade gama compreende aquela abrangida por distintos hábitats que compõem uma paisagem regional. Matriz: feição predominante em uma paisagem 41 Permeabilidade relaciona-se ao grau de resistência das unidades da matriz aos fluxos biológicos 40 Hydros EP518.RE.JR201 167 Em que pese essa grande alteração na paisagem, decorrente da conversão da Floresta Ombrófila em plantios homogêneos de eucaliptos em grandes extensões, não se observam, na escala de trabalho adotada, processos de desflorestamentos em curso atualmente. O gráfico a seguir (Gráfico 4.3.3-1) mostra a taxa de desflorestamento do estado do Amapá (losango azul), muito reduzida comparativamente à taxa observada na Amazônia Legal (triângulo vermelho). No Pará, a taxa de desmatamento é muito maior, porém somente o município de Almeirim se encontra na bacia hidrográfica do rio Jari e este apresentou taxas de desmatamento que variaram de 0,3 a 1,2% do desmatamento do estado, entre 2000 e 2006 (PRODES/INPE, 2008). Desflorestamento (km 2/ano) 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Ano Fonte: PRODES, 2008 Gráfico 4.3.3-1 – Ritmo de Desflorestamento (km2/ano) na Amazônia Legal (triângulo vermelho) e nos Estados do Amapá (losango azul) e do Pará (quadrado verde), no Período de 1988 a 2007 Hydros EP518.RE.JR201 4.3.4 168 OCORRÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO FAUNÍSTICA A Floresta Amazônica cobre 6.683.926 km2 abrangendo porções de nove países do norte da América do Sul, ou seja, Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Dentre todas as florestas tropicais é a mais extensa, representando 71,7% dos 9,2 milhões de km2 que restam de florestas tropicais do mundo. É também, a floresta tropical que se encontra em melhor estado de conservação e que apresenta maior diversidade de espécies. Essa imensa biodiversidade é expressa também nos vertebrados terrestres. Revisões de registros de espécies na região apontam para a ocorrência de pelo menos 427 espécies de mamíferos, das quais 173 (cerca de 40%) são endêmicas (EISENBERG, 1989; EISENBERG; REDFORD, 1999; FONSECA et al., 1996; 1999; RYLANDS et al., 2000; SILVA; BATES, 2002); 1294 espécies de aves, sendo 260 (cerca de 20%) endêmicas (STOTZ et al., 1996; SICK, 1997; RIDGELY; TUDOR, 1989; 1994); 378 espécies de répteis (138 lagartos, 196 serpentes, 21 quelônios, 5 crocodilos e 18 anfisbenídeos) dos quais pelo menos 216 (57%) são endêmicos; e 427 espécies de anfíbios (406 anuros, 19 cecílias e 2 salamandras) das quais 364 (mais de 85%) são endêmicas. Das 427 espécies de mamíferos registradas para a Amazônia 158 são de morcegos, o grupo com maior número de espécies descritas. O grupo dos primatas também é muito diverso e encontra sua maior concentração global nas florestas baixas da Amazônia Central e Ocidental. A região tem 81 espécies de macacos das quais 69 (85%) são endêmicas. Pelo menos uma espécie nova é descoberta a cada ano. Em relação às aves o domínio amazônico é o mais diverso do planeta. A diversidade de anfíbios também é grande, e como em muitas outras partes do universo tropical, novos anfíbios devem ser ainda descobertos na Amazônia, à medida que novos esforços de pesquisa sejam conduzidos. A região amazônica é extremamente complexa, caracterizando-se como um mosaico de formações com identidade florística e faunística próprias, conforme detalhado a seguir. A bacia do rio Jari insere-se neste cenário de grande complexidade, na porção amazônica situada ao norte do rio Amazonas, naquela região compreendida entre a margem esquerda dos rios Negro e Branco e o limite oriental do bioma. Esta região é reconhecida como um centro de endemismo, o que lhe confere identidade faunística própria. 4.3.4.1 A Fauna de Vertebrados Terrestres A fauna de vertebrados terrestres da região amazônica apresenta características que a distingue das demais comunidades animais associadas a outros biomas neotropicais. Dentre elas destaca-se a extrema riqueza de espécies e o elevado número (absoluto e percentual) de espécies que apresentam ocorrência restrita ao mesmo. Estudos de distribuição geográfica de organismos amazônicos evidenciam, não apenas a composição única de sua fauna, mas também uma forte estruturação geográfica, que revela a existência de sub-regiões com identidade faunística própria. Embora as sub-regiões zoogeográficas (ou centros de endemismo) variem em função do grupo estudado, apresentam grande congruência. Do ponto de vista biogeográfico, a Amazônia pode ser considerada um arquipélago formado por distintas áreas de endemismo, separadas pelos principais rios, ou seja, o rio Negro, rio Branco, rio Amazonas, rio Madeira, rio Tapajós e rio Xingu. Hydros EP518.RE.JR201 169 O reconhecimento dessas unidades com composição faunísticas distintas remonta a meados do século XIX. Wallace (1853), por exemplo, reconheceu três regiões zoogeográficas para a Amazônia. A primeira delimitada pela costa atlântica ao norte do rio Amazonas até a margem esquerda do rio Negro. A segunda compreendendo toda a região do Alto Amazonas, a partir da margem direita do rio Negro até a margem esquerda do rio Madeira. E, finalmente, a terceira reunindo toda a porção amazônica meridional a leste do rio Madeira. Esta divisão é corroborada, principalmente para primatas, contendo, cada região um grupo de espécies particular (RYLANDS, 1987). Revisões zoogeográficas semelhantes têm sido apresentadas por Duellman (1982) que dividiu a Amazônia em sete unidades baseada em riqueza e endemismo de anfíbios; e por Cracraft (1985) que postulou oito (nove se considerada a subdivisão do centro Pará) áreas de endemismo para aves na Amazônia: Tapajós, Xingú e Belém (restritas ao Brasil); Rondônia (com maior parte de sua área no Brasil); e Napo, Imeri, Guiana e Inambari (com áreas compartilhadas com outros países). A extensão dessas áreas varia consideravelmente desde a área Belém com cerca de 199.211 km² até área Guiana com aproximadamente 1,7 milhões de km², onde encontra-se inserida a bacia do rio Jari. Estudos biogeográficos de aves amazônicas (HAFFER, 1969; 1997), répteis (VANZOLINI; WILLIAMS, 1970), plantas (PRANCE, 1973; 1987a; 1987b) e borboletas (BROWN, 1975; 1987) têm indicado a existência de inúmeros centros de endemismos, que podem ter se originado a partir de diferentes processos, sejam eles históricos ou ecológicos. Inúmeras hipóteses biogeográficas têm sido propostas na tentativa de explicar a origem, não apenas da extrema diversidade animal, mas também dos padrões de distribuição identificados. Entre elas destacamos: 1) a Hipótese dos Refúgios – Haffer (1969) e Vanzolini e Williams (1970); 2) a Hipótese dos Rios - Wallace (1853), Sick (1967), Ayres e Clutton-Brock (1992); 3) a Hipótese de Gradientes Ecológicos - Endler (1977), Smith et al. (1997); 4) a Hipótese distúrbio-vicariância - Colinvaux (1998); 5) a Hipótese dos Museus -Fjeldså, (1999); 6) as Hipóteses Paleogeográficas - onde Haffer e Prance (2001), reúnem Hipótese de "Ilhas", Nores (1999); Hipótese Rios-Refúgios, Ayres e Clutton-Brock (1992); Hipótese da Laguna, Marroig e Cerqueira (1997) e; Hipótese dos Arcos, Patton et al. (2000). Vários são os fatores que condicionam a distribuição animal no bioma amazônico, podendo os mesmos ser divididos em dois grupos: 1) fatores naturais que reúnem os condicionantes fisiográficos (ex. rios e montanhas) e ecológicos (ex. formação vegetal); e 2) fatores antrópicos definidos pelo histórico de impactos decorrentes da ocupação humana da região. O conhecimento da fauna de vertebrados terrestres associada à região, compreendida pela bacia do rio Jari vem sendo incrementado de forma significativa. Até pouco tempo o conhecimento da fauna de vertebrados terrestres da bacia se limitava ao baixo curso deste rio. Esforços recentes, voltados à caracterização da biota do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, têm contribuído de forma significativa para o conhecimento da fauna associada à bacia do rio Jari. 4.3.4.2 Levantamento de Dados O levantamento da fauna de vertebrados da região compreendida pela bacia do rio Jari foi realizado a partir de consultas às coleções zoológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e à bibliografia disponível. Dada a precariedade do conhecimento acerca da fauna dessa região, foram utilizadas, de forma complementar: 1) informações sobre localidades situadas dentro e fora dos limites da Hydros EP518.RE.JR201 170 bacia hidrográfica, contanto que apresentassem características semelhantes às da bacia, permitindo a extrapolação das informações; e 2) publicações que sintetizam informações sobre a distribuição das espécies pertencentes aos diversos grupos estudados, conforme descrito a seguir. - Aves: Sick (1997), Stotz et al. (1996), Ridgely e Tudor (1989 e 1994), Novaes (1974 e 1978), Barlow et al. (2007) e Coltro Jr. (2008). - Mamíferos: o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP e as informações disponíveis em Rossi (2000), Weksler et al (2006), Reis et al. (2006), Voss e Emmons (1996), Emmons (1997), Wilson e Reeder (2005), Eisenberg e Redford (1999), Silva (2008) e Martins e Bernard (2008). - “Répteis”: o acervo da coleção do Instituto Butantã e o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP e Lima (2008). - Anfíbios: o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP e Lima (2008). Entre os estudos considerados neste trabalho, destaca-se pela abrangência e representatividade na bacia os “Inventários Biológicos Rápidos no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Amapá, Brasil” (BERNARD, 2008), que apresentou levantamentos da fauna dentro e fora da bacia do rio Jari. A partir dos levantamentos realizados foram registradas 594 espécies de aves (Anexo 3.5.1), 145 espécies de mamíferos (Anexo 3.5.2), 173 espécies de “répteis” (Anexo 3.5.3) e anfíbios (Anexo 3.5.4), evidenciando a grande riqueza da fauna de vertebrados terrestres que caracteriza a região amazônica. Note-se que o pouco conhecimento que se tem acerca da fauna de vertebrados da bacia do rio Jari não permite que seja elaborada uma lista de espécies de ocorrência comprovada que seja representativa da diversidade real. Com base nas listas de espécies e no conhecimento que se tem acumulado sobre a distribuição e características ecológicas desses táxons, foram descritos: - Os padrões biogeográficos de origem natural, ou seja, determinados por variáveis históricas e ecológicas; - Os possíveis desdobramentos da ocupação humana, ou seja, o efeito da perda de hábitat, fragmentação e aumento da pressão de caça; e - Táxons considerados prioritários para conservação utilizando como referência as listas de espécies ameaçadas de extinção disponibilizadas pelo IBAMA (2003) e pela IUCN (2006). 4.3.4.3 Padrões de Distribuição dos Vertebrados A bacia do rio Jari é predominantemente coberta por formações florestais, à exceção de algumas Formações Pioneiras associadas ao baixo curso deste rio e a algumas porções de formações de transição entre a Savana e a Floresta Ombrófila. Embora a diversidade de ambientes na bacia seja grande, o rio Jari, aparentemente, não representa uma barreira efetiva para o fluxo de organismos entre margens opostas. Neste sentido espera-se que a fauna de vertebrados terrestres não apresente diferenças sensíveis entre margens opostas. Por outro lado, a variação na cobertura vegetal certamente condiciona a distribuição de inúmeras espécies da bacia. Hydros EP518.RE.JR201 171 A distribuição animal pode ser limitada naturalmente devido à existência de barreiras fisiográficas como rios e montanhas, da mesma forma que por barreiras ecológicas como as diferentes formações vegetais. Tanto os condicionantes fisiográficos como ecológicos contribuem para a definição de complexos padrões de distribuição animal na região Amazônica. A compreensão da distribuição atual da fauna de vertebrados na bacia do rio Jari deve levar em conta, ainda, as alterações provocadas pela ocupação humana da região, principalmente de seu baixo curso. As modificações da paisagem impostas pela atividade humana têm grande importância na determinação da distribuição das espécies animais, conforme descrito adiante. Embora o conhecimento acerca da fauna de vertebrados terrestres na bacia do rio Jari tenha sido incrementado recentemente com os estudos realizados no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (BERNARD, 2008), este continua insuficiente para que sejam feitas extrapolações da distribuição das espécies na bacia. Deste modo, foi realizada uma interpretação zoogeográfica de forma indireta, ou seja, a partir do cruzamento das informações sobre os tipos de ambientes representados na bacia e as características ecológicas das espécies de vertebrados terrestres. 4.3.4.3.1 Condicionantes Fisiográficos Conforme apresentado, a distribuição das espécies animais da Amazônia tem sido objeto de grande interesse. Existem inúmeras propostas de subdivisões zoogeográficas deste bioma que diferem em razão do grupo de organismo investigado. Embora haja alguma discordância entre as propostas, estas apresentam certa congruência. Na Figura 4.3.4-1, intitulada “Centro de Endemismos de Aves Propostos Para a Região Amazônica por Cracraft (1985) (A). Localização da Bacia do Rio Jari em Relação aos Centros de Endemismos (B)”, são apresentados os centros de endemismo de aves propostos por Cracraft (1985). B Centro Guyana Chocó Bacia do A Imerí Guyana rio Jari Napo Belém Inambari Pará Rondonia Figura 4.3.4-1 – Centro de Endemismos de Aves Propostos Para a Região Amazônica por Cracraft (1985) (A). Localização da Bacia do Rio Jari em Relação aos Centros de Endemismos (B) A relação de espécies registradas para a área da bacia do rio Jari, ou que possuem ocorrência potencial, incluem inúmeros táxons endêmicos que conferem identidade às regiões e subregiões zoogeográficas. Muitas das espécies registradas têm ocorrência restrita para a Hydros EP518.RE.JR201 172 Amazônia, parte delas é registrada apenas para a porção do bioma ao norte (margem esquerda) do rio Amazonas, e deste grupo de espécies parte ocorre apenas a leste (margem esquerda) dos rios Branco e Negro, ou seja, no centro de endemismo Guiana, evidenciando os diferentes níveis de endemismo que caracteriza a fauna da região. A Amazônia pode a princípio ser subdividida em duas regiões zoogeográficas, a Amazônia Meridional e a Amazônia Setentrional (STOTZ et al., 1996). A área de estudo se insere na região zoogeográfica da Amazônia Setentrional, para onde são registradas, por exemplo, cerca de 900 espécies de aves, sendo 76 endêmicas (STOTZ et al., 1996). Entre os táxons endêmicos, seja da Amazônia como da Amazônia Setentrional prevalecem aqueles tipicamente florestais e com baixa capacidade de dispersão por ambientes não florestais, caso dos primatas e de inúmeros grupos de aves como cracídeos, psofiídeos, dendrocolaptídeos, furnarídeos, tamnofilídeos, conopofagídeos e formicarídeos entre outros. Entre os endemismos amazônicos registrados para a bacia do rio Jari, muitas espécies ocorrem apenas ao norte do rio Amazonas, como, por exemplo, o mutum-poranga (Crax alector), a marianinha-de-cabeça-preta (Pionites melanocephalus), o ariramba-de-bicoamarelo (Galbula albirostris), a chora-chuva-de-asa-branca (Monasa atra), o chorozinho-decostas-manchadas (Herpsilochmus dorsimaculatus), o formigueiro-de-cabeça-preta (Percnostola rufifrons), o fruxu-do-carrasco (Neopelma chrysocephalum), o dançarino-decrista-amarela (Heterocercus flavivertex), o maú (Perissocephalus tricolor), o bicoassovelado-de-coleira (Microbates collaris) e a pipira-parda (Lanio fulvus). Outros grupos com distribuição ainda mais restrita caracterizam a fauna da região. A fauna amazônica da margem esquerda do rio Amazonas pode, ainda, ser dividida em pelo menos três grandes unidades, reconhecidas como centros de endemismo, ou seja, Napo, entre a margem esquerda do rio Amazonas e a margem direita do rio Negro; Imerí, região compreendida entre a margem esquerda do rio Negro e a margem direita do rio Branco; e Guyana que compreende toda a região amazônica a leste do rio Branco e baixo Negro. Portanto, a bacia do rio Jari, assim como de outros rios que drenam o território brasileiro, como os rios Paru, Maicuru, Trombetas, Nhamundá, Jatapú e Urubu; além de outros que drenam os territórios da Guiana francesa, do Suriname e Guiana; encontra-se inserida no Centro Guyana. Desta forma, a bacia do rio Jari acumula táxons exclusivos da fauna amazônica, mas que possuem ampla distribuição ao longo do bioma; aqueles cuja distribuição está restrita à Amazônia setentrional e táxons endêmicos do Centro Guyana. Entre os endemismos do centro Guyana citamos como exemplo o jacumirim (Penelope marail), a curica-caica (Pionopsitta caica), o araçari-miudinho (Pteroglossus viridis), o araçari-negro (Selenidera culik), o pica-pau-de-colar-dourado (Veniliornis cassini), a borralhara-do-norte (Frederickena viridis), a choquinha-de-barriga-parda (Myrmotherula gutturalis), a choquinha-de-barriga-ruiva (Myrmotherula guttata), a mãe-de-taoca-degarganta-vermelha (Gymnopithys rufigula), o caneleiro-da-guiana (Pachyramphus surinamus), o uirapuruzinho-do-norte (Tyranneutes virescens), a pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus) e a gralha-da-guiana (Cyanocorax cayanus) entre as aves; e a preguiça-degarganta-amarela (Bradypus tridactylus), o caiarara (Cebus olivaceus) e o parauacu (Pithecia pithecia) entre os mamíferos. 4.3.4.3.2 Condicionantes Ecológicos A distribuição das espécies animais na bacia do rio Jari está relacionada, ainda, a variáveis ecológicas. Embora inúmeras variáveis ecológicas tenham papel fundamental na definição da Hydros EP518.RE.JR201 173 distribuição das espécies animais destacam-se as diferenças de cobertura vegetal e a influência de corpos d’água, sendo esta última ressaltada no componente-síntese Ecossistemas Aquáticos. A área compreendida pela bacia do rio Jari encontra-se, predominantemente, coberta por formações florestais. Predomina a Floresta Ombrófila Densa Submontana que ocupa grande parte da superfície da área de estudo. Na região de cabeceira do rio Jari encontra-se representada uma pequena mancha de Floresta Ombrófila Densa Montana. Nesta mesma região e na parte baixa da bacia podem ser encontradas formações de contato com as savanas, que têm influência local na composição da fauna de vertebrados. A heterogeneidade da cobertura vegetal aumenta significativamente no baixo curso do rio Jari, estando representadas porções de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e formações vegetais produto do contato entre a Savana e a Floresta Ombrófila, também de pequena escala. Ainda no baixo Jari verifica-se a presença de formações sob forte influência da dinâmica dos cursos d’água, notadamente do rio Amazonas, ou seja a Floresta Ombrófila Densa Aluvial e a Área das Formações Pioneiras – Vegetação com Influência Fluvial ou Lacustre. Essa grande heterogeneidade também está representada na comunidade animal associada, seja em sua composição como em sua estrutura. Muitas espécies animais têm sua ocorrência condicionada em diferentes níveis pelas características da cobertura vegetal. a) Formações Florestais de Terra Firme Entre os ambientes representados na área de estudo, a floresta de terra firme, que compreende a Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, Submontana e Montana, Floresta Ombrófila Aberta e contato Savana/Floresta Ombrófila, é aquela que apresenta maior riqueza de espécies, o que está ligado à sua grande diversidade florística e à complexa estrutura dessas formações. Alguns autores entendem, ainda, que a maior riqueza de espécies associada às florestas de terra firme está ligada, ainda, à maior estabilidade desses ambientes. Muitas das espécies de vertebrados terrestres que ocorrem na Amazônia têm sua distribuição confinada, principalmente às florestas de terra firme, sendo raras, ou mesmo não ocorrendo, em outros ambientes. O mesmo ocorre na bacia do rio Jari. Podemos citar como exemplo de espécies que ocorrem preferencialmente em formações de terra firme: Tinamus major (inhambu-de-cabeça-vermelha), Penelope marail (jacumirim), Crax alector (mutum-poranga), Odontophorus gujanensis (uru-corcovado), Leptotila rufaxilla (juriti-gemedeira), Ara macao (araracanga), Pyrrhura amazonum (tiriba-de-hellmayr), Ramphastos tucanus (tucano-grande-de-papo-branco), Cymbilaimus lineatus (papa-formigabarrado), Thamnophilus murinus (choca-murina), Myrmotherula menetriesii (choquinha-degarganta-cinza), Cercomacra cinerascens (chororó-pocuá), Myrmeciza atrothorax (formigueiro-de-peito-preto), Sclerurus rufigularis (vira-folha-de-bico-curto), Attila spadiceus (capitão-de-saíra-amarelo) e Laniocera hypopyrra (chorona-cinza) entre as aves; Priodontes maximus (tatu-canastra), Bradypus tridactylus (preguiça-de-garganta-amarela), Myrmecophaga tridactyla (tamanduá-bandeira), Saimiri sciureus (macaco-de-cheiro), Ateles paniscus (coatá), Dasyprocta leporina (cotia), Cuniculus paca (paca) e Galictis vittata (furão) entre os mamíferos; e Amphisbaena alba (cobra-de-duas-cabeças), Tupinambis teguixin (teiú) e Geochelone carbonaria (jabuti) entre os répteis. Hydros EP518.RE.JR201 b) 174 Formações de Contato com Savana Silva e Bates (2002) dividem as regiões savânicas da América do Sul em dois grupos, separados pelo vale amazônico, sendo o bloco do norte constituído pelas formações dos Llanos, Roraima, Paru, Monte Alegre, Amapá e Marajó. Os pequenos encraves de Savana, do norte da bacia do rio Jari, se relacionam, mais proximamente, às formações do Paru. Estas áreas são indicadas genericamente no Decreto 2.608 de 04/12/2006, publicada no D.O. 07/12/2006, para a UC FLOTA do Paru. Embora pouco se conheça, a partir de dados diretos, sobre a fauna associada a essas formações, infere-se, a partir do conhecimento acumulado sobre a fauna de vertebrados das regiões de Savana da América do Sul, que esta deva compartilhar muitas das características da fauna daquelas formações que constituem o bloco do norte, conforme definido por Silva e Bates (2002). c) Elementos de Ampla Distribuição Embora parcela considerável da fauna de vertebrados terrestres, que tem ocorrência potencial ou confirmada para a bacia do rio Jari seja composta por elementos que apresentam distribuição restrita ao domínio amazônico, ocupando de forma diferenciada os ambientes que o compõem, existe uma outra parcela de espécies que apresenta ampla distribuição. Muitas das espécies relacionadas para a área em estudo ocorrem na Amazônia em diversos ambientes, assim como em inúmeros outros ambientes extra-amazônicos. Esse grupo de animais é formado em sua grande maioria por táxons generalistas com grande capacidade de dispersão. Entre essas espécies são identificados animais que se distribuem por biomas adjacentes à Amazônia, como por toda a América do Sul, assim como, por outros continentes. d) Fauna de Ocorrência Sazonal Além dos elementos que compõem a fauna da região e que estão presentes durante todo o ano, são identificadas espécies, principalmente de aves, que apresentam deslocamento sazonal, de diversas dimensões, e que estão ausentes na região durante parte do ano. Esse grupo de espécies pode ser subdividido, grosseiramente, em três conjuntos: as espécies que reproduzem na região e a abandonam durante outros períodos de seu ciclo anual; espécies que reproduzem em outros locais e que passam o período não-reprodutivo na região; ou, ainda, aquelas espécies que são registradas na região durante o trânsito entre áreas de reprodução e de “invernada”. Como exemplo dessa fauna, podem ser citadas a maioria dos elementos pertencentes à família Scolopacidae, além de alguns táxons pertencentes às famílias Accipitridae, Falconidae, Charadriidae, Hirundinidae, Tyrannidae, Turdidae e Icteridae, entre outros. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.4.4 175 Fatores Antrópicos As alterações ambientais decorrentes da ocupação humana de uma determinada região podem influenciar profundamente os padrões locais de distribuição animal, e nos casos mais graves, inclusive os regionais. Embora a região compreendida pela bacia do rio Jari encontre-se bastante preservada, os efeitos da antropização devem ser considerados para adequada interpretação dos condicionantes da distribuição das espécies de vertebrados terrestres. A ocupação humana mais intensa da bacia se dá principalmente em sua porção baixa, próximo à foz do Jari, onde pode ser notada alteração mais significativa dos ambientes naturais. Nesta região, principalmente ao longo das margens do rio Jari e nos núcleos principais de ocupação, assim como no entorno dos mesmos verifica-se os efeitos da transformação dos ambientes naturais. A B Figura 4.3.4-2 – Diferentes Estados de Conservação da Biota Observados na Bacia do Rio Jari. (A) Grandes Extensões de Formações Primárias, Situação Comum na Bacia, e (B) Formações sob Forte Influência Antrópica nos Arredores de Laranjal do Jari Dentre os impactos sobre a comunidade animal, decorrentes das intervenções produzidas pelo homem, destacam-se a perda de hábitat, a fragmentação e a caça. 4.3.4.4.1 Perda de Hábitat e Fragmentação A perda de hábitat pode ser produto de diversos tipos de intervenção, desde aqueles menos intensos como a exploração seletiva de recursos florestais até a completa supressão da cobertura vegetal original. Da mesma forma, o processo de fragmentação pode ser resultado de diferentes intervenções que modificam porções dos ambientes criando barreiras à dispersão de organismos entre os fragmentos remanescentes. Essas alterações, conforme discutido a seguir, podem ter consequências diversas sobre a comunidade de vertebrados em razão de suas características. A fauna amazônica é constituída predominantemente por elementos florestais, com baixo poder de dispersão e muito sensíveis a alterações ambientais, que respondem de forma mais drástica ao processo de fragmentação. A perda e a fragmentação da cobertura vegetal nativa desencadeiam um processo deletério de perda de diversidade em função da perda de hábitat e Hydros EP518.RE.JR201 176 do isolamento geográfico de populações animais. Os padrões de distribuição das espécies animais são localmente modificados, alterando a composição e a estrutura das comunidades originalmente existentes na área. A composição faunística de uma paisagem é produto de interação de inúmeras variáveis, tais como: características da formação original, composição da matriz, tamanho dos fragmentos, forma dos fragmentos, nível de conectividade entre fragmentos e origem (primária ou secundária) dos fragmentos (HANSKI; GILPIN, 1997; SIMBERLOFF; ABELE, 1976; TERBORGH, 1976). O acúmulo de estudos voltados à compreensão da dinâmica biológica envolvida nos processos de perda de hábitat (BARLOW et al., 2005; KARR; ROTH, 1971; STOTZ et al., 1996; THIOLLAY, 1992; WILLIS, 1979; entre outros), e de fragmentação (BIERREGARD JR.; LOVEJOY, 1989; BIERREGARD JR. et al., 1992; BIERREGARD JR.; STOUFFER, 1997; GASCON et al., 1999; LAURANCE, 1991; 1994) na Amazônia, permite que sejam feitas algumas inferências gerais sobre as consequências deste processo na comunidade de vertebrados terrestres. As comunidades animais típicas de Amazônia reúnem desde espécies que se beneficiam das transformações decorrentes da ocupação humana até aquelas espécies que respondem negativa e drasticamente às alterações ambientais. As intervenções humanas variam desde aquelas denominadas seletivas até a completa substituição do ambiente original. Essas interações entre os diferentes níveis de interferências na paisagem com os diferentes níveis de sensitividade das espécies que compõem uma dada comunidade criam distintos cenários. A resposta de diferentes espécies animais ao processo de degradação estabelecido com a ocupação humana da Amazônia tem sido objeto de inúmeros estudos (e.g. WILLIS, 1979; THIOLLAY, 1992; BARLOW et al., 2005). Estes estudos, realizados predominantemente com aves e mamíferos de médio e grande porte, evidenciam as mudanças na estrutura e composição da comunidade animal associada a ambientes impactados. Enquanto algumas poucas espécies se beneficiam do processo, um grande número é drasticamente afetado. Entre as espécies mais afetadas por essas intervenções podemos citar Tinamus major (inhambu-de-cabeça-vermelha), Crypturellus erythropus (inhambu-de-perna-vermelha) Crax alector (mutum-poranga), Micrastur gilvicollis (falcão-mateiro), Nonnula rubecula (macuru), Thamnophilus amazonicus (choca-canela), Myrmotherula longipennis (choquinha-de-asacomprida), Hylophylax naevius (guarda-floresta), Formicarius colma (galinha-do-mato), Sclerurus rufigularis (vira-folha-de-bico-curto), Deconychura stictolaema (arapaçu-degarganta-pintada), Automolus infuscatus (barranqueiro-pardo), Mionectes macconnelli (abreasa-da-mata), Schiffornis major (flautim-ruivo) e Laniocera hypopyrra (chorona-cinza) entre as aves; e Chiropotes satanas (cuxiú), Pithecia pithecia (parauacu) e Bradypus tridactylus (preguiça-de-garganta-amarela) entre os mamíferos. Muitas vezes, espécies como as relacionadas acima sofrem redução significativa de suas populações, ocorrendo, muitas vezes, eventos de extinção local. Outros grupos de espécies, típicos de ambientes em sucessão, ou de ambientes de borda, que apresentam maior capacidade de dispersão, muitas vezes não são afetados de modo negativo, uma vez que se adaptam melhor aos novos cenários criados pelo homem. Ressalta-se, entretanto, que quanto mais profundas são as alterações na biota, maior é o grupo de espécies prejudicadas. Como exemplo de espécies pouco afetadas pelo processo de antropização podemos relacionar como exemplo: Crypturellus undulatus (jaó), Herpetotheres cachinnans (acauã), Patagioenas plumbea (pomba-amargosa), Brotogeris chrysoptera (periquito-de-asa-dourada), Pionus Hydros EP518.RE.JR201 177 menstruus (maitaca-de-cabeça-azul), Piaya cayana (alma-de-gato), Pteroglossus aracari (araçari-de-bico-branco), Dryocopus lineatus (pica-pau-de-banda-branca), Taraba major (chorá-boi), Todirostrum cinereum (ferreirinho-relógio), Legatus leucophaius (bem-te-vipirata), Tityra cayana (anambé-branco-de-rabo-preto), Pachyramphus polychopterus (caneleiro-preto), Turdus leucomelas (sabiá-barranco), Tachyphonus cristatus (tiê-galo), Dacnis cayana (saí-azul), Icterus cayanensis (encontro) e Euphonia violacea (gaturamoverdadeiro). Embora algumas espécies animais sejam beneficiadas pelo processo de simplificação ambiental elas representam um grupo numericamente reduzido se comparadas àquelas prejudicadas. Em todas as florestas tropicais estudadas, o pequeno número de espécies colonizando áreas perturbadas não compensa as perdas de espécies típicas da floresta primária. Ressalta-se, ainda, que a grande maioria dos endemismos que caracterizam a fauna amazônica pertence, justamente, a este grupo de táxons mais vulnerável às alterações ambientais. Nota-se, ainda, que quanto mais intensas são as transformações impostas aos ambientes, menor é o grupo de animais beneficiados, e maior é aquele negativamente afetado. Em paisagens onde a ação humana se dá de forma mais drástica, a comunidade animal é profundamente alterada em sua estrutura e composição, restando apenas elementos de grande resiliência e ampla distribuição caso do urubu-comum (Coragyps atratus), do caracará (Caracara plancus), do quero-quero (Vanellus chilensis), da caldo-de-feijão (Columbina talpacoti), do joão-de-barro (Furnarius rufus), do bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), do tiziu (Volatinia jacarina) e do tico-tico (Zonotrichia capensis), sendo muitas das espécies introduzidas, caso da garça-vaqueira (Bubulcus ibis), do pombo-doméstico (Columba livia), do pardal (Passer domesticus); e da lagartixa-de-parede (Hemidactylus mabouia). 4.3.4.4.2 Pressão de Caça Na região amazônica a fauna silvestre constitui uma das principais fontes de proteína animal, sendo em algumas regiões a única fonte. A prática da caça é, portanto, amplamente difundida na região fazendo parte da cultura das populações locais. Estudos voltados ao conhecimento das consequências dessa atividade sobre as populações de vertebrados terrestres evidenciam as profundas alterações que podem ser desencadeadas pela caça (WILKIE; CARPENTER, 1999; PERES, 2001; ROBINSON; BENNETT, 2000). A pressão da caça sobre as populações animais se dá de forma seletiva sobre aquelas espécies mais apreciadas pela população, como por exemplo o tatu-galinha (Dasypus novemcintus), o tatu-canastra (Priodontes maximus), o cuxiú (Chiropotes satanas), o guariba (Alouatta seniculus), o macaco-aranha (Ateles paniscus), a anta (Tapirus terrestris), o cateto (Pecari tajacu), a queixada (Tayassu pecari) e o veado-mateiro (Mazama americana) entre os mamíferos; o inhambu-galinha (Tinamus guttatus), o inhambu-de-perna-vermelha (Crypturellus erythropus), o pato-do-mato (Cairina moschata), a jacumirim (Penelope marail) e o mutum-poranga (Crax alector) entre as aves; e os podocnemídeos como a cabeçuda (Peltocephalus dumeriliana), a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), o pitiú (Podocnemis sextuberculata) e o tracajá (Podocnemis unifilis) entre os “répteis”. Ao contrário de outros impactos antropogênicos, como a supressão de vegetação, áreas sob intensa pressão de caça não podem ser eficientemente mapeadas em escalas regionais usando técnicas de geoprocessamento convencionais (PERES, 2001). Remotas regiões naturais vêm se tornando cada vez mais acessíveis à caça levando as espécies mais sensíveis, em certos Hydros EP518.RE.JR201 178 casos, à extinção local (PERES, 1990; 1996; REDFORD, 1992; FANG; MONTENEGRO; BODMER, 1999; ROBINSON; REDFORD; BENNETT, 1999; FA; PERES, 2001). As consequências da atividade, entretanto, se dão não apenas para as espécies caçadas, mas sobre toda a comunidade animal, uma vez que altera as relações pré-existentes, por exemplo, diminuindo drasticamente a biomassa disponível para espécies predadoras de grande porte como o uiraçu-falso (Morphnus guianensis), o gavião-real (Harpia harpyja), a onça-pintada (Panthera onca) e os jacarés (Caiman crocodilus e Melanosuchus niger). Diferentes formas de intervenção humana frequentemente interagem podendo seus efeitos atuar de forma sinérgica. É o caso, por exemplo, da caça de subsistência em florestas já alteradas pela supressão de vegetação, fragmentação, ou mesmo, pelo corte seletivo (WILKIE; SIDLE; BOUNDZANGA, 1992; BENNETT; DAHABAN, 1995; OATES, 1996; ROBINSON ; REDFORD; BENNETT, 1999; ROBINSON, 1996; PERES, 2001). Perda de cobertura florestal é o indicador mais amplamente disseminado da pressão humana sobre a Amazônia. Embora a o desmatamento seja um bom indicador, apresenta falha na captura da completa extensão das pressões humanas operando na floresta. Para estimar a área de entorno dos assentamentos humanos que estão sujeitos à pressão antrópica o IMAZON utilizou um raio de 10 km, baseado na distância média máxima observada, que uma pessoa se move em busca de caça (2005 apud PERES; TERBORGH, 1995). Esta pode ser uma forma de se fazer inferências espaciais de outros efeitos da ocupação humana sobre a biota como um todo e sobre a comunidade de vertebrados terrestres em especial. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.5 179 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS As Subáreas dos Ecossistemas Terrestres correspondem a subunidades de um conjunto maior, representado pela bacia hidrográfica em análise, que se diferenciam por apresentarem características físico-bióticas e dinâmicas próprias. A identificação destas Subáreas tem por objetivo a avaliação de sua importância relativa no contexto da Bacia Hidrográfica, traduzida em pesos conferidos a partir dos elementos de caracterização, importantes para sua diferenciação. De acordo com o Manual de Inventário da Eletrobrás, o Componente-Síntese Ecossistemas Terrestres trata dos sistemas naturais e sua análise busca evidenciar os fatores determinantes da diversidade biológica, em uma perspectiva biogeográfica e de paisagens. Essa análise apoiou-se em variáveis físicas, quais sejam, relevo, hidrografia e solos, fatores condicionantes da organização do espaço e das comunidades biológicas. Apoiou-se também nas formas de apropriação dos recursos naturais e nas políticas conservacionistas, que determinam níveis distintos de restrição de uso do solo e apresentam forte conotação na bacia do rio Jari. Para a identificação dessas Subáreas, utilizou-se a técnica de sobreposição de mapas, cruzando as informações constantes nas cartas de clima, geologia, geomorfologia, hipsometria, hidrografia, solos, vegetação e uso do solo, bem como de áreas legalmente protegidas. Utilizou-se, ainda, as informações disponíveis sobre padrões de distribuição de espécies de vertebrados terrestres na bacia do rio Jari. Este procedimento permitiu identificar três Subáreas, cuja distinção biológica encontra-se resumida no Quadro 4.3.5-1, intitulado “Principais Características Biológicas Distintivas das Subáreas do Componente-Síntese Ecossistemas Terrestres da Bacia Hidrográfica do Rio Jari”, e representação gráfica apresentada no desenho N° EP518_JR-08-025 (Fig. 081), intitulado “Mapa de Subárea – Componente-Síntese: Ecossistemas Terrestres – Planta” do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Apesar da reconhecida heterogeneidade ambiental amazônica, não foi possível identificar delimitações de outras Subáreas além das apresentadas abaixo. Isto ocorre devido à existência de variações biológicas gradativas e em pequena escala, dificultando a identificação de tais unidades na escala de trabalho adotada. Por este motivo, a distinção das Subáreas considerou principalmente o grau de conservação, além dos itens já citados, caracterizando Subáreas bastante distintas entre si. 4.3.5.1 Subárea I – Continnum Florestal Norte Ocupa os setores do extremo norte da bacia hidrográfica do rio Jari, abarcando nascentes dos formadores e contribuintes do alto curso do rio Jari, incluindo os rios Curapi, Culari e Cuc. É abarcada pelos municípios de Almeirim e de Laranjal do Jari. O substrato geológico é caracterizado predominantemente pela Suíte Intrusiva Água Branca, alternando para o Complexo Tumucumaque, ao sul da Subárea. Sob o ponto de vista geomorfológico, apresenta uma grande uniformidade, no qual domina o compartimento Colinas do Amapá, sendo encontradas apenas pequenas manchas dos Planaltos Residuais do Amapá. Os solos também apresentam certa uniformidade. Toda a margem esquerda do rio Jari apresenta Latossolos Vermelho-Amarelos que, na margem oposta ocorrem entremeados a manchas de Argissolos Vermelho-Amarelos. Hydros EP518.RE.JR201 180 As Florestas Ombrófilas Densas revestem todo esse espaço geográfico, em um contínuo florestal que se diferencia, na escala de trabalho adotada, apenas pelas variações topográficas e pelas características do dossel. De modo geral apresenta árvores emergentes a oeste e norte, diferenciando-se a centro e a leste pela uniformidade do dossel. Essa aparente homogeneidade de florestas densas de terra firme é interrompida apenas pelas linhas de drenagem, que condicionam a presença de Florestas Aluviais. Estas são contíguas às florestas de terra firme, não constituindo, portanto, fator de solução de continuidade. Ainda, a sul, em correspondência às Colinas do Amapá, ocorrem manchas de vegetação arbustiva, identificadas como Refúgios Vegetacionais Arbustivos, em meio às extensas Florestas Ombrófilas. À exceção da Terra Indígena Waiãpi, situada no limite sudeste, e das Terras Indígenas do Tumucumaque e Rio de Este, no limite oeste, todo o restante desta ampla Subárea encontra-se protegida na forma de Unidades de Conservação de proteção integral, representadas pelo Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e pela Reserva Biológica do Maicuru. A extensão das formações, o ótimo estado de conservação em que se encontram, o tipo de UC presente, além da dificuldade de acesso, permitem que os padrões biológicos originais sejam mantidos e preservados. Neste cenário a fauna de vertebrados terrestres é assinalada pela grande riqueza de espécies e elevado número de táxons endêmicos que caracterizam a região zoogeográfica do nordeste da Amazônia (Centro Guyana), como: a curica-caica (Pionopsitta caica), o araçari-miudinho (Pteroglossus viridis), o pica-pau-de-colar-dourado (Veniliornis cassini), a borralhara-do-norte (Frederickena viridis), a choquinha-de-barriga-parda (Myrmotherula gutturalis), a mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha (Gymnopithys rufigula), o caneleiro-da-guiana (Pachyramphus surinamus) e a gralha-da-guiana (Cyanocorax cayanus) entre as aves; e a preguiça-de-garganta-amarela (Bradypus tridactylus), o caiarara (Cebus olivaceus) e o parauacu (Pithecia pithecia) entre os mamíferos. Assim, as principais características que distinguem essa Subárea referem-se à relativa homogeneidade do substrato, seja no que se refere aos compartimentos geomeorfológico, seja quanto aos tipos de solos e à presença marcante de formações florestais ombrófilas, formando um continuum vegetacional de grande expressão territorial. Essa ampla área apresenta-se em bom estado de conservação, sem alterações antrópicas significativas. 4.3.5.2 Subárea II – Continnum Florestal Central Ocupa os setores centrais da bacia hidrográfica do rio Jari, abarcando nascentes dos formadores e contribuintes do médio curso do rio Jari, incluindo o Carecuru, na margem direita e os rios Noucouru e Iratapuru, da margem esquerda. Abarca os municípios de Almeirim e de Laranjal do Jari, bem como o município de Mazagão. O substrato geológico é caracterizado predominantemente pelo Complexo Tumucumaque, associado a manchas de várias outras origens. Ao sul, o Complexo Tumucumaque, juntamente com as Suítes Intrusivas e ao Grupo Ipitinga, marcam o limite da Subárea. Do ponto de vista geomorfológico, apresenta uma certa gradação. O compartimento Colinas do Amapá ocupa a porção ao norte, até aproximadamente a foz do rio Mapari, a partir de onde aos poucos cede lugar aos Planaltos Residuais do Amapá. Estes, por sua vez, fazem contato com a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional, cujo limite marca também o limite da Subárea. Hydros EP518.RE.JR201 181 Os solos, por sua vez, apresentam um padrão de uniformidade em toda a margem esquerda do rio Jari, onde são encontrados os Latossolos Vermelho-Amarelos que, na margem oposta ocorrem entremeados a manchas de Argissolos Vermelho-Amarelos. Estes se desenvolvem, na porção sul dessa Subárea, em correspondência à Depressão Periférica. Também na margem direita, pequenas manchas de Neossolos Litólicos podem ainda ser observadas nas proximidades do rio Carecuru. As Florestas Ombrófilas Densas predominam sobre esse espaço geográfico, que se diferenciam, na escala de trabalho adotada, apenas pelas variações topográficas e pelas características do dossel, e eventualmente pelas linhas de drenagem, que condicionam a presença das Florestas Aluviais. Entretanto, também nessa Subárea, estas são contíguas à floresta de terra firme, não constituindo fator de solução de continuidade. Distintamente, a sudoeste dessa Subárea, manchas de Florestas Ombrófilas Abertas intercalam-se à Floresta Ombrófila Densa, quebrando o extenso domínio florestal denso. A extensão das formações e o ótimo estado de conservação em que atualmente se encontram permitem que os padrões biológicos originais sejam mantidos. Entretanto, a presença de extensas unidades de conservação de uso sustentável (à exceção da Estação Ecológica do Jari) é fator indicativo de uso antrópico futuro que, ainda que brando e delimitado a partir de planos de manejo, determinará alterações no padrão original da composição e organização das comunidades biológicas. Soma-se a isso, o contato com a Subárea III, com considerável nível de antropização. Dessa forma, a Subárea II tem por característica principal o papel de extensa faixa de amortecimento entre o setor sul da bacia, com elevado nível de antropização (para os padrões da bacia como um todo) e o setor norte, altamente preservado. No cenário atual, a fauna de vertebrados terrestres, assim como na Subárea I, é assinalada pela grande riqueza de espécies e elevado número de táxons endêmicos que caracterizam a região zoogeográfica do nordeste da Amazônia (Centro Guyana). Apresenta, portanto, uma diversidade de fauna bastante semelhante. Entretanto, deve-se ressaltar que a heterogeneidade ambiental reconhecida para os ambientes amazônicos caracteriza e condiciona a distribuição das espécies de vertebrados terrestres. A comunidade animal associada à Floresta Ombrófila Densa, por exemplo, diferencia-se em estrutura e composição daquela associada às Florestas Aluviais ou às manchas de vegetação arbustiva. Conforme citado, Unidades de Conservação de uso sustentável caracterizam essa Subárea, quais sejam, Floresta Estadual do Paru e Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru. No seu limite sul encontra-se ainda a unidade de conservação de proteção integral, denominada Estação Ecológica do Jari. Assim, as principais características fisiográficas que distinguem essa Subárea referem-se às variações do substrato, seja no que se refere aos compartimentos geomeorfológico, seja quanto aos tipos de solos e à presença marcante de formações florestais ombrófilas, de grande expressão territorial, associadas às florestas abertas. Sua maior expressão, contudo, está em seu papel de amortecimento do processo de antropização entre as Subáreas situadas ao norte e ao sul desta. Hydros EP518.RE.JR201 4.3.5.3 182 Subárea III – Mosaico de Formações Vegetais e de Usos Antrópicos Situa-se na porção sul da bacia hidrográfica em análise, compreendendo o baixo curso do rio Jari e a área drenada pelos afluentes desse trecho, onde se destaca o igarapé Caracaru. Esta Subárea abrange parcialmente os municípios de Almeirim, Laranjal do Jari e Vitória do Jari. O substrato geológico é caracterizado por faixas onde se alternam, no sentido norte para sul, o Grupo Trombetas, a Formação Maecuru, a Formação Ererê, o Grupo Curuá, o Grupo Barreiras, que prevalece em relação aos demais, os Terraços Holocênicos e os Aluviões Holocênicos. Eventualmente há o aparecimento do Diabásico Penatecaua e com mais frequência a Cobertura Detrito-Laterítica Paleogênica. Do ponto de vista geomorfológico, os terrenos são caracterizados por três compartimentos, representados pelo Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas ao norte da Subárea e em contato com a Depressão Periférica, e pelo Planalto do Uatumã-Jari, situado mais ao sul. Ao longo dos cursos d’água de maior porte, bem como no extremo sul da bacia, até a foz do rio Jari, observa-se, ainda, a Planície Amazônica. O substrato pedológico é caracterizado por um mosaico de solos, onde se intercalam Latossolos Amarelos e Latossolos Vermelho-Amarelos, Argissolos e localmente, Neossolos Litólicos. Ao longo dos canais hídricos de maior porte, como o rio Jari e o igarapé Caracaru, e na porção final da bacia hidrográfica, estão presentes Gleissolos. Nessas condições fisiográficas desenvolvem-se Florestas Ombrófilas Densas Submontanas, de Terras Baixas e Aluviais, intercaladas com manchas de Florestas Ombrófilas Abertas e extensas áreas de reflorestamento de eucalipto, presentes predominantemente na margem direita do rio Jari. Na porção mais ao sul, na planície, sobre Gleissolos, a floresta é substituída por Formações Pioneiras. Núcleos urbanos também se concentram nessa Subárea. A presença marcante de formações sob grande influência da dinâmica dos cursos d’água, como as Florestas Aluviais e as Formações Pioneiras, que caracterizam essa Subárea, condiciona uma fauna com características particulares. Um grande número de táxons se associa preferencialmente a estes ambientes, sendo um número relativamente pequeno de espécies compartilhadas com outras formações como aquelas de terra firme. Nesta porção da bacia do rio Jari, principalmente ao longo de suas margens e nos núcleos principais de ocupação, assim como no entorno dos mesmos, verificam-se os efeitos da transformação dos ambientes naturais. Nestes cenários verifica-se o favorecimento de algumas poucas espécies de vertebrados terrestres mais generalistas, com grande capacidade de dispersão e que apresentam ampla distribuição geográfica. Por outro lado, uma quantidade substancialmente maior de espécies são prejudicadas, muitas vezes desaparecendo localmente. Essas espécies, tipicamente florestais, caracterizam-se por serem ambientalmente mais exigentes e com baixa capacidade de dispersão, dentre as quais estão grande parte dos táxons endêmicos. Entre as espécies comumente encontradas em ambientes alterados podemos citar como exemplo: Herpetotheres cachinnans (acauã), Patagioenas plumbea (pomba-amargosa), Brotogeris chrysoptera (periquito-de-asa-dourada), Piaya cayana (alma-de-gato), Pteroglossus aracari (araçari-de-bico-branco), Taraba major (chorá-boi), Legatus leucophaius (bem-te-vi-pirata), Tityra cayana (anambé-branco-de-rabo-preto), Turdus leucomelas (sabiá-barranco), Tachyphonus cristatus (tiê-galo) e Dacnis cayana (saí-azul). Portanto, um mosaico de diferentes feições de Floresta Ombrófila, associado à presença de Formações Pioneiras, ao qual se intercalam extensos reflorestamentos e núcleos urbanos, Hydros EP518.RE.JR201 183 marcam essa Subárea, onde, à exceção de um pequeno trecho ocupado pela Reserva Extrativista (RESEX) Rio Cajari, no limite leste, não se verificam áreas legalmente protegidas na forma de Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Hydros EP518.RE.JR201 184 Quadro 4.3.5-1 – Subáreas dos Ecossistemas Terrestres Subárea I – Continnum Florestal Norte II– Continnum Florestal Central III–Mosaico de Formações Vegetais e de Usos Antrópicos Municípios Vegetação Almeirim e Laranjal do Jari Florestas Ombrófilas Densas Aluvial, Montana e Submontana, e manchas de Refúgios Vegetacionais Arbustivos Almeirim, Laranjal do Jari e Mazagão Almeirim, Laranjal do Jari e Vitória do Jari Florestas Ombrófilas Densas Aluvial e Submontana, e manchas de Floresta Ombrófila Aberta Florestas Ombrófilas Densas Submontana, de Terras Baixas e Aluviais, com manchas de Florestas Ombrófilas Abertas, extensas áreas de reflorestamento de Eucaliptus e Formações Pioneiras Espécies identificadas típicas da fauna Unidades de Conservação/Tipo de proteção Aves: curica-caica (Pionopsitta caica), araçari-miudinho (Pteroglossus viridis), pica-pau-de-colar-dourado (Veniliornis cassini), borralhara-donorte (Frederickena viridis), choquinha-de-barriga-parda (Myrmotherula gutturalis), mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha (Gymnopithys rufigula), caneleiro-da-guiana (Pachyramphus surinamus) e gralha-da-guiana (Cyanocorax cayanus). PARNA Montanhas do Tumucumaque / Proteção integral Mamíferos: preguiça-de-garganta-amarela (Bradypus tridactylus), caiarara (Cebus olivaceus) e parauacu (Pithecia pithecia) Aves: curica-caica (Pionopsitta caica), araçari-miudinho (Pteroglossus viridis), pica-pau-de-colar-dourado (Veniliornis cassini), borralhara-donorte (Frederickena viridis), choquinha-de-barriga-parda (Myrmotherula gutturalis), mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha (Gymnopithys rufigula), caneleiro-da-guiana (Pachyramphus surinamus) e gralha-da-guiana (Cyanocorax cayanus). Mamíferos: preguiça-de-garganta-amarela (Bradypus tridactylus), caiarara (Cebus olivaceus) e parauacu (Pithecia pithecia) Aves associadas a ambientes alterados: Herpetotheres cachinnans (acauã), Patagioenas plumbea (pomba-amargosa), Brotogeris chrysoptera (periquito-de-asa-dourada), Piaya cayana (alma-de-gato), Pteroglossus aracari (araçari-de-bico-branco), Taraba major (chorá-boi), Legatus leucophaius (bem-te-vi-pirata), Tityra cayana (anambé-branco-de-rabopreto), Turdus leucomelas (sabiá-barranco), Tachyphonus cristatus (tiêgalo) e Dacnis cayana (saí-azul). REBIO do Maicuru / Proteção integral FLOTA do Paru / Uso sustentável RDS do Rio Iratapuru / Uso sustentável ESEC do Jari / Proteção integral Pequenas porções da RESEX do Rio Cajari / Uso sustentável Hydros EP518.RE.JR201 185 CAPA / LEGENDA Meandro do Alto curso do rio Rio Jari - Corredeira do Urucupatá Rio Jari em Vitória do Jari Rio Jari - Corredeira Macaquara Hydros Engenharia Ltda. Rua Fiação da Saúde, no 40 - conj. 93 São Paulo - SP - Brasil CEP 04144-020 Fone/Fax 55 - 11 - 5583.25.05 / 55 - 11 - 5581.68.18 e-mail [email protected] Hydros