BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JARI / PA-AP ESTUDOS DE INVENTÁRIO HIDRELÉTRICO D C B A 30/06/10 20/06/10 02/06/10 30/04/10 Revisão No Data Emissão Final Revisão Geral Revisão Geral Emissão Inicial SH/MAU SH/MAU SH/MAU SH/MAU HU HU HU HU Descrição Sucinta Elaboração Aprovação Título: Contrato Nº RELATÓRIO FINAL EPE – 054 Número EPE: VOLUME 8/9 – APÊNDICE D ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS TOMO 2/4 Número Hydros: EP518.RE.JR201 Rev.: D JAR-I-00-000.027-RE-R0 Rev.: R0 Projeto Verificado Aprovado jun/10 SH/MAU SH/MAU HU Data de Emissão EP518.RE.JR201 i PREFÁCIO Este documento consubstancia os resultados do Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, situada entre os estados do Pará e Amapá, em atendimento ao despacho No 3077, de 29 de dezembro de 2006, do processo No 48500.006617/2006-93, da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, que autorizou a sua realização à Empresa de Pesquisa Energética - EPE. Os primeiros estudos de aproveitamentos hidrelétricos na bacia do rio Jari foram desenvolvidos pela Companhia Energética do Amapá – CEA e pela Companhia do Jari – JARI, que visavam, respectivamente, a implantação de uma pequena usina hidrelétrica no rio Iratapuru e uma usina hidrelétrica, de maior porte, no local denominado cachoeira do Santo Antônio do Jari, no rio Jari. Os estudos de inventário em pauta foram realizados pela Empresa de Pesquisa Energética EPE, no âmbito da Diretoria de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais. Os estudos de engenharia foram supervisionados e fiscalizados pela Superintendência de Projetos de Geração e os socioambientais pela Superintendência de Meio Ambiente. Esses estudos foram desenvolvidos em conjunto com a empresa HYDROS ENGENHARIA Ltda., contratada pela EPE para esta finalidade. Os estudos de inventário hidrelétrico foram iniciados em 17 de abril de 2007, através do contrato CT-EPE-054, de acordo com os critérios e diretrizes estabelecidos no Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas – Versão 2.0 - nov/1997, editado pela Centrais Elétricas Brasileiras S. A. – ELETROBRÁS e concluídos conforme a nova edição do mesmo manual, edição 2007, editado pelo Ministério de Minas e Energia - MME. Além da Empresa de Pesquisa Energética – EPE e Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, colaboraram significativamente, com o fornecimento de dados e informações básicas para o desenvolvimento dos trabalhos, diversas instituições que atuam na região, entre as quais se destacam: Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental AHIMOR; Agência Nacional de Águas - ANA; Centro Técnico e Operacional de Manaus do Sistema de Proteção da Amazônia - CTO/Mn-SIPAM; Companhia de Eletricidade do Amapá - CEA; Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais - CPRM; Conselho das Aldeias Waiãpi - APINA; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA; Fundação Nacional de Saúde - FUNASA; Fundação Nacional do Índio - FUNAI; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá RURAP; Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena - IEPÉ; Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA; Instituto de Terras do Pará - ITERPA; Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá - IMAP; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA; Instituto Nacional de Meteorologia - INMET; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA; Instituto Socioambiental - ISA; Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG; Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará - NAEA/UFPA; Secretaria de Estado de Agricultura, Pesca, Floresta do Amapá – SEAF/AP; Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará - SECTAM/PA; Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá SEMA/AP; Secretaria de Estado de Planejamento do Amapá - SEPLAN/AP; Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Amapá - SEPI/AP; Sistema de Proteção da Hydros EP518.RE.JR201 ii Amazônia - SIPAM; Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia - SIVAM; Universidade Federal do Amapá - UNIFAP; Universidade Federal do Pará – UFPA. O presente documento contempla a edição do relatório final referente ao Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, conforme previsto na cláusula 5.11 do contrato de prestação de serviços firmado entre a EPE e a Hydros. Os trabalhos realizados estão apresentados em 9 (nove) volumes, dois deles subdivididos em tomos, tal como discriminados a seguir: - Volume 1/9 Relatório Geral – Texto - Volume 2/9 Relatório Geral – Desenhos - Volume 3/9 Orçamentos, Fichas Descritivas e SIPOT - Volume 4/9 Sumário Executivo - Volume 5/9 Apêndice A Estudos e Levantamentos de Dados Básicos Cartográficos - Volume 6/9 Apêndice B Estudos e Levantamentos de Dados Básicos GeológicoGeotécnicos - Volume 7/9 Apêndice C - Tomos 1 e 2 Estudos e Levantamentos Hidrometeorológicos - Volume 8/9 Apêndice D - Tomos 1 a 4 Estudos Socioambientais - Volume 9/9 Apêndice E Estudos de Usos Múltiplos da Água de Dados Básicos Observa-se que a documentação para aceite técnico do Estudo de Inventário pela ANEEL encontra-se apresentada no documento nº EP518.RE.JR202, que contém o Check-list de Aceite estabelecido pela ANEEL, as Declarações de Responsabilidade Técnica pela Elaboração dos Estudos e as Comprovações de Articulação com os Órgãos Ambientais e com os Órgãos de Gestão de Recursos Hídricos. Hydros EP518.RE.JR201 iii RESUMO Os estudos de inventário hidrelétrico da bacia do rio Jari visaram a definição da melhor alternativa de divisão de queda e a determinação do seu potencial hidrelétrico, tendo em conta os aspectos técnico-econômicos e socioambientais dos seus aproveitamentos. A bacia hidrográfica do rio Jari, objeto do presente estudo, situa-se na região amazônica, região norte do nosso país, na divisa dos estados do Amapá e Pará, na área delimitada pelas latitudes 02º39’02”N e 01º26’24”S e longitudes 51º47’24”W e 55º07’48”W. O rio Jari é um importante contribuinte da margem esquerda do rio Amazonas, localizado próximo à sua foz, no oceano Atlântico, onde se situa o arquipélago do Marajó. A bacia hidrográfica do rio Jari tem cerca de 57.000 km² de área de drenagem e ocupa uma extensa área praticamente intacta da floresta amazônica. Os estudos de inventário foram programados e desenvolvidos em quatro fases, quais sejam: Fase I – Programação Preliminar dos Estudos; Fase II – Planejamento dos Estudos; Fase III – Estudos Preliminares e Fase IV – Estudos Finais. Nas fases de Programação Preliminar dos Estudos e Planejamento dos Estudos, foram realizados os trabalhos de coleta e análise de dados e estudos existentes, de reconhecimento e inspeção de campo, bem como de programação e especificação dos serviços e levantamentos de campo cartográficos, topobatimétricos, geológico-geotécnicos, hidrométricos e socioambientais. Na fase de Estudos Preliminares de Inventário, foram realizados os estudos e levantamentos de dados básicos cartográficos, geológico-geotécnicos, hidrometeorológicos, socioambientais, hidrenergéticos e de usos múltiplos da água. Nesta fase, foram também identificados os locais barráveis e concebidas as alternativas de partição de queda dos rios da bacia em estudo. Foram concebidas, ao todo, 22 (vinte e duas) alternativas de partição de queda na fase de Estudos Preliminares de Inventário, contemplando 6 (seis) locais de barramento no curso d’água principal, ou seja, no rio Jari e 2 (dois) locais de barramento nos seus contribuintes, sendo 1 (um) no rio Iratapuru e 1 (um) no rio Ipitinga. Os locais de barramento, quando factíveis, contemplaram variações de cota de coroamento dos barramentos. As alternativas de partição de queda da fase de Estudos Preliminares de Inventário foram analisadas e selecionadas, sob critérios energético-econômicos e socioambientais, sendo reduzidas a 5 (cinco) alternativas de partição de queda na fase de estudos finais de inventário, contemplando 6 (seis) sítios de barramento no rio Jari e nenhum sítio nos seus contribuintes, pois os mesmos não se mostraram interessantes. Na fase de Estudos Finais de Inventário, foram realizados os trabalhos de consolidação dos dados e investigações complementares cartográficos, topobatimétricos, geológicogeotécnicos, hidrométricos e socioambientais, bem como estudos energéticos, trabalhos de dimensionamento, de orçamentação e de avaliações energético-econômicas e socioambientais das alternativas de partição de queda selecionadas na fase anterior. Considerando os estudos acima descritos, foi concluído que a melhor alternativa de partição de queda é aquela denominada Alternativa JR-R6’, que contempla 3 (três) aproveitamentos no curso d’água principal, ou seja, no rio Jari. Hydros EP518.RE.JR201 iv Esta alternativa de partição de queda contempla os aproveitamentos denominados AHE Açaipé B na cota 86,00 m, AHE Urucupatá na cota 150,00 m e AHE Carecuru na cota 107,00 m, totalizando cerca de 1.360 MW de potência instalada, cujas características principais são, resumidamente, apresentadas na tabela a seguir: Ordem econômica de construção e principais características dos aproveitamentos da alternativa selecionada Aproveitamento (Rio) AHE Açaipé B AHE Urucupatá AHE Carecuru (Rio Jari) (Rio Jari) (Rio Jari) NA máx. normal (m) 86,00 150,00 107,00 NA jus. (m) 30,50 118,2 87,40 Potência Instalada (MW)* 831,1 291,5 240,2 Benefício Energético (MW médios) 441,8 154,7 127,4 Área do espelho d’água no NA máx (km²) 293,4 13,7 194,9 Custo Total (x 106 R$) (com JDC) 2.669 1.575 1.661 ICB (R$/MWh) 71,2 121,5 152,9 * conforme função Dimensionamento do Sistema de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas (SINV) Destaca-se que a partição de queda selecionada dos estudos de inventário, em especial do curso d’água principal, ou seja, do rio Jari, é constituída por somente 3 (três) aproveitamentos hidrelétricos, onde o primeiro, denominado AHE Açaipé B, situa-se imediatamente a montante da UHE Santo Antônio do Jari, cujos estudos e serviços de engenharia já se encontram em fase de projeto básico. Ressalta-se que este aproveitamento foi considerado como um ponto fixo na cascata do rio Jari. O segundo aproveitamento, denominado AHE Urucupatá, situa-se cerca de 170 km (medido ao longo do eixo do curso d’água) a montante do primeiro, ou seja, do AHE Açaipé B, numa região onde atualmente inexistem estradas de acesso ou qualquer outro uso antrópico mais relevante. O terceiro aproveitamento, denominado AHE Carecuru, situa-se entre os aproveitamentos AHE Açaipé B e AHE Urucupatá, a cerca de 80 km (medido ao longo do eixo do curso d’água) a montante do primeiro, ou seja, do AHE Açaipé B, numa região onde atualmente inexistem estradas de acesso ou qualquer infraestrutura expressiva relacionada à ocupação antrópica do território. Salienta-se que todos os aproveitamentos que constituem a alternativa de partição de queda selecionada atingem alguma Unidade de Conservação, uma vez que cerca de 80% da área da bacia está sob esta forma de proteção legal. Os AHEs Urucupatá e Carecuru atingem duas Unidades de Conservação de Uso Sustentável (Floresta Estadual do Paru e Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Hydros EP518.RE.JR201 v Iratapuru), enquanto o AHE Açaipé B, além de atingir essas mesmas Unidades de Conservação de Uso Sustentável, também atinge uma UC de Proteção Integral (Estação Ecológica do Jari). Considerando-se tais fatos salienta-se que a viabilização ambiental e os posteriores licenciamentos ambientais destes aproveitamentos exigirão mecanismos legais e gerenciais, que dependerão de decisões governamentais e escolhas da sociedade. Hydros EP518.RE.JR201 vi SUMÁRIO - TOMO 2/4 4.4 MODOS DE VIDA ...........................................................................................1 4.4.1 DINÂMICA DEMOGRÁFICA .................................................................................1 4.4.2 CONDIÇÕES DE VIDA ........................................................................................10 4.4.3 SISTEMAS DE PRODUÇÃO .................................................................................38 4.4.4 ORGANIZAÇÃO SOCIAL ....................................................................................53 4.4.5 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS .............................................................57 4.5 ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL..............................................................64 4.5.1 DINÂMICA DEMOGRÁFICA ...............................................................................64 4.5.2 OCUPAÇÃO TERRITORIAL ...............................................................................69 4.5.3 CIRCULAÇÃO E COMUNICAÇÃO ......................................................................82 4.5.4 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA .................................................95 4.5.5 GESTÃO DO TERRITÓRIO ...............................................................................109 4.5.6 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS ...........................................................117 4.6 BASE ECONÔMICA ...................................................................................127 4.6.1 ESTRUTURA PRODUTIVA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA BACIA ..........127 4.6.2 RECURSOS E POTENCIALIDADES ...................................................................142 4.6.3 RECURSOS FINANCEIROS ...............................................................................144 4.6.4 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS ...........................................................149 4.7 POPULAÇÕES INDÍGENAS .....................................................................155 4.7.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA .....................................................................155 4.7.2 IDENTIFICAÇÃO DOS POVOS DA BACIA DO RIO JARI ....................................156 4.7.3 CONHECIMENTO ARQUEOLÓGICO DA REGIÃO.............................................157 4.7.4 POVO WAIÃPI .................................................................................................160 4.7.5 POVO APARAI E WAYANA ..............................................................................181 4.8 COMPARTIMENTAÇÃO SÍNTESE EM SUBÁREAS ..........................197 4.8.1 SUBÁREA I.......................................................................................................197 4.8.2 SUBÁREA II .....................................................................................................198 4.8.3 SUBÁREA III ....................................................................................................199 4.8.4 SUBÁREA IV ....................................................................................................201 Hydros EP518.RE.JR201 vii LISTA DE FIGURAS Figura 4.4.1-1 – Evolução Histórico-geográfica e Política do Amapá.......................................2 Figura 4.4.2-1 – Laranjal do Jari/AP – Beiradão com Construções Sobre Palafitas e Embarcações, na Margem Esquerda do Rio Jari ..............................................................33 Figura 4.4.2-2 – Laranjal do Jari/AP – Bairro Agreste – Cruzamento da Av. Tancredo Neves (Principal) com a Rua Não Pavimentada (Transversal) ...................................................34 Figura 4.4.2-4 – Comunidade Cachoeira Santo Antônio – Habitações Construídas com Madeira............................................................................................................................. 35 Figura 4.4.2-5 – RDS do Rio Iratapuru – Morador e Habitações.............................................36 Figura 4.4.2-3 – Monte Dourado – Almeirim/PA – Centro – Praça Central............................37 Figura 4.4.3-1 – Laranjal do Jari “Beiradão” com Construções Sobre Palafitas, Unidade Comercial e Catraia .......................................................................................................... 44 Figura 4.4.3-2 – “Beiradão” – Terra Firme .............................................................................. 45 Figura 4.4.3-3 – RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Artesão Fabricando o “Paneiro” (Cesto para Coleta de Castanha)...................................................................... 46 Figura 4.4.3-4 – RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Galões com Óleo Retirado da Castanha para Ser Levado de Barco para Monte Dourado/PA.................................... 47 Figura 4.4.3-5 – RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Um dos Líderes Comunitários Mostrando o Gerador de Energia Elétrica ................................................. 48 Figura 4.4.3-6 – Comunidade Cachoeira Santo Antônio – Catador de Castanha-do-Brasil Carregando o “Paneiro”.................................................................................................... 49 Figura 4.4.3-7 – Rio Jari – Margem Esquerda Desmatada para Plantação de Banana ............51 Figura 4.4.3-1 – Município de Almeirim – Mapa de Conflito .................................................52 Figura 4.5.2-1 – Localização dos Principais Núcleos da Bacia do Rio Jari ............................. 75 Figura 4.5.2-2 – Principais Usos da Água na Bacia do Rio Jari............................................... 77 Figura 4.5.3-1 – Diagrama da Hierarquia Funcional das Localidades da Bacia no Contexto Regional............................................................................................................................ 84 Figura 4.5.3-2 – Diagrama da Hierarquia Funcional dos Núcleos Urbanos da Bacia nos Contextos Local e Regional.............................................................................................. 85 Figura 4.5.4-1 – Mesorregião do Baixo Amazonas.................................................................. 96 Figura 4.5.4-2 – Mesorregião do Sul do Amapá ...................................................................... 96 Figura 4.5.4-3 – Microrregião de Almeirim ............................................................................. 97 Figura 4.5.4-4 – Microrregião de Mazagão.............................................................................. 97 Figura 4.5.4-5 – Localização das Sedes Municipais ................................................................ 98 Figura 4.5.4-6 – Localização das Vilas .................................................................................... 99 Figura 4.5.4-7 – Localização dos Povoados ........................................................................... 100 Hydros EP518.RE.JR201 viii Figura 4.5.4-8 – Localização dos Núcleos ............................................................................. 101 Figura 4.5.4-9 – Áreas Municipais Inscritas na Bacia Hidrográfica ...................................... 105 Figura 4.7.4-1 – Mapa das Migrações Waiãpi........................................................................ 161 Figura 4.7.4-2 – Crianças Indígenas em Aula ........................................................................ 166 Figura 4.7.4-3 – Indígena Preparado para Caçar .................................................................... 175 Figura 4.7.4-4 – Mulheres Preparando Alimento Trazido da Caça........................................175 Figura 4.7.4-5 – Jovens Waiãpi Tocam as Flautas Turé para a Apreciação dos Mais Velhos ........................................................................................................................................ 178 Figura 4.7.4-6 – Brincadeiras entre os Indígenas Waiãpi....................................................... 179 Figura 4.7.5-1 – Índios Aparai do Rio Citaré mudando-se para Bona (antigo nome da Aldeia Apalai) ............................................................................................................................ 184 Figura 4.7.5-2 – Moqueando Peixe ........................................................................................ 193 Figura 4.7.5-3 – Preparando os Olok (em Wayana; Orokó em Aparai), Adornos para a Festa de Okomo .......................................................................................................................194 Figura 4.7.5-4 – Cerimônia Aparai e Wayana........................................................................ 195 Figura 4.7.5-5 – Índia Fazendo Beiju Aparai Wayana ...........................................................195 Figura 4.7.5-6 – Reunião Realizada pela Hydros Engenharia com os Waiãpi no Posto da FUNAI em Novembro de 2007 ...................................................................................... 196 Hydros EP518.RE.JR201 ix LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 4.4.1-1 – Participação da População Urbana na População Total – Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1980, 1991 e 2000 ........... 5 Gráfico 4.4.1-2 – Participação da População Rural na População Total – Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1980, 1991 e 2000 ........... 6 Gráfico 4.4.1-3 – População Total segundo Faixa Etária por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 2000 ............................................. 8 Gráfico 4.4.2-1 – IDH-M dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 ........................................................................................................................ 11 Gráfico 4.4.2-2 – IDH-M Educação para Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari- 1991, 2000 ................................................................................................................ 13 Gráfico 4.4.2-3 – IDH-M Longevidade para Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000........................................................................................................ 14 Gráfico 4.4.2-4 – IDH-M Renda para Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 .............................................................................................................. 14 Gráfico 4.4.2-5 – Taxa de Analfabetismo Segundo Faixa Etária– 1991-2000......................... 17 Gráfico 4.4.2-6 – Número de Óbitos Infantis por 1000 Nascidos Vivos nos Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1989, 1990, 1994 e 1998 ....................... 24 Gráfico 4.4.2-7 – População Residente de 10 Anos ou Mais de Idade com Rendimento, Segundo Faixa de Rendimento Nominal Mensal Para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá- 2000............................................................................................ 28 Gráfico 4.7.4-1 – Evolução Populacional do Povo Waiãpi, 1985 – 2007.............................. 167 Gráfico 4.7.5-1 – Evolução Populacional do Povo Aparai e Wayana, 1963 – 2003.............. 187 Hydros EP518.RE.JR201 x LISTA DE QUADROS Quadro 4.4.4-1 – Entidades Associativistas ............................................................................. 55 Quadro 4.4.5-1 – Subáreas dos Modos de Vida ....................................................................... 62 Quadro 4.5.6-1 – Subáreas da Organização Territorial .......................................................... 123 Quadro 4.6.4-1 – Subáreas da Base Econômica..................................................................... 153 Quadro 4.7.3 -1 – Sítios Arqueológicos ................................................................................. 159 Hydros EP518.RE.JR201 xi LISTA DE TABELAS Tabela 4.4.1-1 – Área de Cada Município e Área do Município Inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Jari........................................................................................................................... 1 Tabela 4.4.1-2 – População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000 ...............................3 Tabela 4.4.1-3 – População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil –1991 ..................................4 Tabela 4.4.1- 4 – População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1980 ................................. 5 Tabela 4.4.1- 5 – Densidade Demográfica e Taxa Geométrica de Crescimento dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1991/2000 ........................................................................................................................... 6 Tabela 4.4.1- 6 – População Total Segundo Sexo por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000 ................................. 7 Tabela 4.4.1-7 – População Total segundo Faixa Etária por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000 ................................. 9 Tabela 4.4.2-1 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000............................................ 11 Tabela 4.4.2-2 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M segundo seus componentes (IDH Educação, IDH Saúde, IDH Renda) para os Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 .............................................................. 12 Tabela 4.4.2-3 – Taxa de incremento do IDH Educação, IDH Longevidade e IDH Renda no período 1991/2000............................................................................................................ 13 Tabela 4.4.2-4 – Relação entre Número de Matriculas em Estabelecimentos Públicos e Privados (2006) e População na Faixa Etária de 5 a 19 Anos em 2000 ...........................15 Tabela 4.4.2 -5 – Número de Matrículas na Rede Pública de Ensino – 2004 .......................... 16 Tabela 4.4.2-6 – Pessoas Residentes com 10 Anos ou Mais Segundo Número de Anos de Estudo para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará ................... 16 Tabela 4.4.2-7 – Taxa de Analfabetismo nos Municípios da Bacia do Rio Jari – 1991/2000 .17 Tabela 4.4.2-8 – Número de Estabelecimentos de Ensino da Rede Pública – 2004 ................ 18 Tabela 4.4.2-9 – Leitos por 1000 Habitantes por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2005........................................................................................................ 19 Tabela 4.4.2-10 – Número de Leitos Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – Rede Pública......................................... 20 Tabela 4.4.2-11 – Número de Estabelecimentos de Saúde Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá- Rede Pública, 2005 .................................................................................................................................. 21 Hydros EP518.RE.JR201 xii Tabela 4.4.2-12 – Número de Estabelecimentos de Saúde Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – Rede Privada, 2005 .................................................................................................................... 22 Tabela 4.4.2-13 – Perfil Epidemiológico dos Municípios do Estado do Amapá ..................... 22 Tabela 4.4.2-14 – Número de Óbitos Infantis por 1000 Nascidos Vivos nos Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1989, 1990, 1994 e 1998 .......... 23 Tabela 4.4.2-15 – Pessoas com Rendimento por Sexo e Pessoas sem Rendimento para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará – 2000................................ 26 Tabela 4.4.2-16 – População Residente de 10 Anos ou Mais de Idade com Rendimento, Segundo Faixa de Rendimento Nominal Mensal para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará – 2000 .....................................................................................27 Tabela 4.4.2-17 – Condição de Ocupação do Domicílio por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2000 .....................................................................................29 Tabela 4.4.2-20 – Densidade Domiciliar por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá – 2000...................................................................................................................29 Tabela 4.4.2-23 – Sistema de Abastecimento de Água, Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará, 2000 .......................................................................................30 Tabela 4.4.2-26 – Sistema de Esgotamento Sanitário por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2000 .....................................................................................31 Tabela 4.4.2-29 – Sistema de Coleta de Lixo por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2000................................................................................................... 31 Tabela 4.4.3-1 – Unidades de Conservação Existentes na Bacia do Rio Jari........................... 39 Tabela 4.4.3-2 – Terras Indígenas Existentes na Bacia do Rio Jari ......................................... 40 Tabela 4.4.3-3 – Estabelecimentos por Grupo de Área Total (ha) nos Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará ............................................................. 41 Tabela 4.4.3-4 – Condição do Produtor nos Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari......42 Tabela 4.5.2-2 – Disponibilidade e Demanda de Recursos Hídricos na Bacia do Rio Jari...... 76 Tabela 4.5.3-1 – Percentual da Área dos Municípios Pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Jari .................................................................................................................................... 82 Tabela 4.5.3-2 – Frota dos Municípios que Integram a Bacia Hidrográfica do Rio Jari, 2006 88 Tabela 4.5.4-1 – Organização Territorial dos Estados do Amapá e do Pará por Meso e Microrregião, 1997 ........................................................................................................... 96 Tabela 4.5.4-2 – População Estimada, Número de Eleitores, Votos Válidos e Votos Válidos em Relação à População, Segundo os Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, nos Estados do Pará e Amapá, 2004 ..................................................................................... 103 Tabela 4.5.4-3 – Participação da População, Representação Eleitoral e Votos Válidos em Relação aos Estados, Número de Vereadores, Segundo os Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, nos Estados do Pará e do Amapá, 2004.................................103 Tabela 4.5.4-4 – Municípios Pertencentes à Bacia, e Áreas................................................... 105 Hydros EP518.RE.JR201 xiii Tabela 4.6.1-1 – Produto Interno Bruto dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2005 (em milhões reais).................................................................... 128 Tabela 4.6.1-2 – Utilização das Terras nos Estabelecimentos Agropecuários dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em hectares)............... 129 Tabela 4.6.1-3 – Área Colhida das Principais Lavouras Temporárias dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em hectares) .............................130 Tabela 4.6.1-4 – Rebanhos dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em unidades de animal) ......................................................................... 131 Tabela 4.6.1-5 – Produção Extrativa Vegetal dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em toneladas) .................................................133 Tabela 4.6.1-6 – Estrutura Empresarial dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2005 .................................................................................................. 136 Tabela 4.6.1-7 – Estrutura Empresarial dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, Unidades de Produção e/ou de Prestação de Serviços e Pessoal Ocupado, 2006................................................................................................................ 137 Tabela 4.6.3-1 – Finanças Públicas dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em milhões de reais) ...............................................................147 Tabela 4.7.4-1 – Informações da Terra Indígena Waiãpi .......................................................160 Tabela 4.7.4-2 – Evolução Populacional do Povo Waiãpi, 1985-2007.................................. 167 Tabela 4.7.5-1 – Informações das Terras Indígenas............................................................... 181 Tabela 4.7.5-2 – Evolução Populacional do Povo Aparai e Wayana, 1963-2003.................. 186 Hydros EP518.RE.JR201 xiv LISTA DE SIGLAS Sigla AAI AHIMOR ANA ANEEL Anos AP APINA APITIKATXI APITU APIWATA ARPA BNDES CADAM CAESA CBERS CCIAW CEA CEPA CFEM CIMI CIT CNM CNRH COHIDRO COMARU CPAQ CPF CPI-SP CPRM CTH CTI DHN DNAEE DNIT DNPM DSEI DSG EBCT EIA EIH ELETROBRÁS ELETRONORTE Descrição Avaliação Ambiental Integrada Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental Agência Nacional de Águas Agência Nacional de Energia Elétrica Anos Antes do Presente Conselho das Aldeias Waiãpi Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Katxuyana e Txikuyana Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque Associação dos Povos Indígenas Waiãpi do Triângulo do Amapari Programa Áreas Protegidas da Amazônia Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Caulim da Amazônia S.A. Companhia de Água e Esgoto do Amapá China-Brazil Earth-Resources Satellite Centro de Cultura Indígena Aparai Wayana Companhia de Eletricidade do Amapá Centro de Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná Compensação Financeira por Extração Mineral Conselho Indigenista Missionário Convergência Intertropical Confederação Nacional dos Municípios Conselho Nacional dos Recursos Hídricos Consultoria, Estudos e Projetos Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru Centro de Pesquisas Aquáticas Cadastro de Pessoa Física Comissão Pró-Índio de São Paulo Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos Centro de Trabalho Indigenista Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre Departamento Nacional de Produção Mineral Distrito Sanitário Especial Indígena Diretoria de Serviço Geográfico do Exército Brasileiro Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos Estudo de Impacto Ambiental Estudo de Inventário Hidrelétrico Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Centrais Elétricas do Norte do Brasil Hydros EP518.RE.JR201 Sigla EMATER EMBRAPA ENGE-RIO EPE ESEC ETE FAB FCTH FLONA FLOTA FSC FUNAI FUNASA GERCO/AP GPS GTA GTZ HYDROS IBAMA IBGE ICMBio ICMS ICOMI IDEFLOR IEPA IEPÉ IET IMAP INCRA INMET INPE INSS IPAMA IPHAN ISA IT ITERPA KFW LANDSAT MacroZEE MDA MEC xv Descrição Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Geral do Pará Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Enge-Rio Engenharia e Consultoria S.A. Empresa de Pesquisa Energética Estação Ecológica Estação de Tratamento de Esgoto Força Aérea Brasileira Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica Floresta Nacional Floreta Estadual Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal Fundação Nacional do Índio Fundação Nacional de Saúde Coordenação Executiva do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do Amapá Global Positioning System Projeto Fortalecimento Institucional da Rede Grupo de Trabalho Amazônico Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência Alemã de Cooperação) Hydros Engenharia Ltda. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Indústria e Comercio de Minérios Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Campus Urbano e Campus Fazendinha) Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena Índice de Estado Trófico Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Instituto Nacional de Meteorologia Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Instituto Nacional do Seguro Social Instituto de Previdência Assist Municipal de Almeirim Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Instituto Socioambiental Instabilidade Tropical Instituto de Terras do Pará Banco Alemão para o Desenvolvimento Land Remote Sensing Satellite (Estados Unidos da América) Macrozoneamento Ecológico-Econômico Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Educação Hydros EP518.RE.JR201 Sigla MMA MNTB NASA NGPR NTB ONG PAS PD/A PEAS PEAEX PEGC PEOT PGAI/AP PIB PIP POLITEC PPA PPG7 PROBIO PRODES RDS REBIO ReMAM RESEX RGB RIMA RINEX RN RTF RURAP SAGRI SAT SEAF SECTAM SEFA/PA SEFAZ/AP SEICOM SEMA SEMMATUR SEPE SEPI SEPLAN xvi Descrição Ministério do Meio Ambiente Missão Novas Tribos do Brasil National Aeronautics and Space Administration (Estados Unidos da América) Núcleo Gestor do Pará New Tribes Mission Organização Não Governamental Plano Amazônia Sustentável Subprograma Projetos Demonstrativos Projeto Estadual de Assentamento Sustentável Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Amapá Programa de Ordenamento Territorial do Estado do Pará Projeto de Gestão Integrada do Estado do Amapá Produto Interno Bruto Projetos de Investimentos Produtivos Polícia Técnica de Estudos Científicos do Amapá Plano Plurianual Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica do Brasil Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva Biológica Rede de Monitoramento Ambiental em Microbacias Reserva Extrativista Red Green Blue Relatório de Impacto Ambiental Receiver Independent Exchange Format Referência de Nível Fundo para as Florestas Tropicais Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Amapá Secretaria de Estado de Agricultura Estação à satélite Secretaria de Agricultura, Pesca, Floresta e do Abastecimento Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Pará Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Amapá Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Mineração do Amapá Secretaria de Estado do Meio Ambiente Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Estado do Amapá Secretaria de Planejamento do Estado do Amapá Hydros EP518.RE.JR201 Sigla SEPOF/DIEPI SESA SETEC SETRACI SGB SIL SIN SIPOT SIVAM SLAPR SNUC SPC&T SPI SPRN SRTM TEQ TERRAP TI TSE UC UFPR UHE UNESCO UNIFAP ZEE ZEEC xvii Descrição Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças do Estado do Pará / Diretoria de Estudos, Pesquisas e Informações Sócio-Econômicas Secretaria de Estado de Saúde Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Amapá Secretaria de Estado do Trabalho e Cidadania Sistema Geodésico Brasileiro Summer Institute of Linguistics Sistema Interligado Nacional Sistema de Informação do Potencial Hidrelétrico Brasileiro Sistema de Vigilância da Amazônia Sistema de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais Sistema Nacional de Unidades de Conservação Subprograma de Ciência e Tecnologia Serviço de Proteção aos Índios Subprograma de Políticas Recursos Naturais Shuttle Radar Topography Mission Território Estadual Quilombola Instituto de Terras do Amapá Terra Indígena Tribunal Superior Eleitoral Unidade de Conservação Universidade Federal do Paraná Usina hidrelétrica Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Universidade Federal do Amapá Zoneamento Ecológico-Econômico Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor Costeiro Estuarino do Amapá Hydros EP518.RE.JR201 4.4 1 MODOS DE VIDA As análises atinentes ao componente-síntese “Modos de Vida” compreendem as formas pelas quais as pessoas se organizam para garantir a sobrevivência física, social, política, cultural e emocional. Referem-se às maneiras como as pessoas ocupam o espaço, apropriam-se dos recursos naturais disponíveis, relacionam-se entre si e produzem sobre este espaço. Serão abordadas as principais características da dinâmica demográfica da população residente da bacia hidrográfica do rio Jari. Em seguida será realizada a caracterização das atuais condições de vida da população, e posteriormente, serão abordados os elementos de caracterização referentes ao sistema de produção e a organização social, elementos estes, que em conjunto aos inicialmente analisados, estabelecem os contornos objetivos e subjetivos dos modos de vida prevalecentes nos diferentes grupos sociais que ocupam o território em questão. 4.4.1 DINÂMICA DEMOGRÁFICA A bacia do rio Jari tem 57.090 km2 de área e ocupa 47,76% do total da área dos municípios que fazem parte da área de estudo. Os municípios que fazem parte da bacia são Almeirim, no estado do Pará, Laranjal do Jari, Vitória do Jari e Mazagão, no estado do Amapá. Conforme pode ser verificado no desenho Nº EP518.A1.JR-08-012 (Fig. 082), intitulado “Mapa da Divisão Política e Administrativa” – Planta do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos e na Tabela 4.4.1-1, intitulada “Participação do Território dos Municípios na Área da Bacia Hidrográfica do rio Jari”, os municípios apresentam as seguintes porcentagens de seus territórios inseridos na bacia: 36,09% de Almeirim pertencem à bacia; Laranjal do Jari 90,26%; Vitória do Jari 36,55% e Mazagão, 14,47%. Tabela 4.4.1-1 – Área de Cada Município e Área do Município Inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Jari Municípios – UF Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Mazagão/AP Vitória do Jari/AP Total da Bacia Área Total em km² (A) 72.960 30.966 13.131 2.483 119.540 Área Inserida na Bacia em km² (B) 26.331 27.951 1.900 908 57.090 % (B)/(A) 36,09 90,26 14,47 36,55 47,76 Fonte: IBGE, Malha Municipal Digital – 2005 (acesso em: 4 set. 2007); IBGE, Cidades – representação política 2004 (acesso em: 6 jul. 2007). O município de Mazagão apresenta apenas 14,47% do seu território inserido na bacia do rio Jari e, segundo o IBGE (2003), não há nenhuma localidade situada dentro da bacia. Esta situação fez com que o presente estudo não considerasse o município de Mazagão para os estudos das condições de vida nos períodos mais recentes, mas considerasse somente os dados referentes ao ano de 1980, quando ainda os atuais municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari faziam parte do município de Mazagão. Hydros EP518.RE.JR201 2 Da mesma forma, foi considerado o ano de 1990 para estudar o município de Laranjal do Jari, que foi criado em 1987 (desmembramento do município de Mazagão). E foi considerado o ano de 2000 para estudar o município de Vitória do Jari, que foi criado em 1997 (desmembramento do município de Laranjal do Jari). A evolução da criação dos municípios de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari está representada na Figura 4.4.1-1, intitulada “Evolução histórico-geográfica e política do Amapá”. Fonte: IEPA (2006) Figura 4.4.1-1 – Evolução Histórico-geográfica e Política do Amapá Segundo a Tabela 4.4.1-2, intitulada “População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari e Estado do Amapá e Brasil – 2000”, os municípios totalizam, de acordo com o censo demográfico do IBGE realizado em 2000, 71.032 habitantes. Almeirim é o município mais populoso dentre os municípios integrantes da bacia (47,0%), muito embora apenas 36,09% do seu território encontra-se inserido na referida área de estudo. Depois de Almeirim, seguem Laranjal do Jari e Vitória do Jari, que representam respectivamente 40,14%, e 12,05% da população, contabilizando menos de 40.000 habitantes. Hydros EP518.RE.JR201 3 Tabela 4.4.1-2 – População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000 Ano 2000 Municípios – UF Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Vitória do Jari/AP Total dos Municípios Estado do Amapá Estado do Pará Brasil População (hab) Urbana Taxa de urbanização Rural Taxa de ruralização Total 18.916 55,71 15.041 44,29 33.957 % da população dos municípios que integram a bacia 47,81 26.792 93,96 1.723 6,04 28.515 40,14 6.880 80,37 1.680 19,63 8.560 12,05 52.588 74,03% 18.444 25,97% 71.032 100,00 424.683 89,03 52.349 10,97 477.032 - 4.120.693 137.953.959 66,55 81,25 2.071.614 31.845.211 33,45 18,75 6.192.307 169.799.170 - Fonte: Censo Demográfico do IBGE de 2000. Em 2000, registrou-se que a grande maioria, isto é 74,03% da população integrantes da bacia do rio Jari, residia na zona urbana, observando-se que, maiores taxas de urbanização eram apresentadas por Laranjal do Jari, residente em área urbana era de 93,96%, e Vitória do Jari que, apesar população à época, já apresentava uma taxa de urbanização de 80,37%. dos municípios naquele ano, as cuja população de sua restrita Na sede municipal de Laranjal do Jari, de acordo com informações do IBGE para 2000, residia 26.792 habitantes1, representando 93,96% do total da população do município. Embora a ocupação do território, do que hoje corresponde ao município de Laranjal do Jari, tenha iniciado desde o século XVII2, foi apenas a partir da década de 1970, com a implantação da Jari Celulose, sediada no distrito de Monte Dourado, no município de Almeirim/PA, que se ampliou a ocupação da porção sul do estado do Amapá. Essa ocupação se concentrava, inicialmente, na área atualmente denominada de “Beiradão”3, situada na margem esquerda do rio Jari, fronteiriça a Monte Dourado. 1 Corresponde ao conjunto da população classificada pelo IBGE como urbana, uma vez que no município referido apenas a sede-municipal pode ser considerada como área urbana. 2 De acordo com GEA/SETEC/IEPA, Laranjal do Jari. Realidades que devem ser conhecidas. 2004, data do século XVII, as primeiras explorações centradas nas drogas do sertão, na região sul do atual estado do Amapá. Posteriormente, já nos séculos XIX e XX, ocorrem as ocupações em decorrência da exploração da borracha e da castanha do Brasil. 3 De acordo com denominação citada em GEA/SETEC/IEPA, Laranjal do Jari. Realidades que devem ser conhecidas. 2004. Hydros EP518.RE.JR201 4 De acordo com estudo do GEA/SETEC/IEPA (2004): “... parte do contingente empregatício direto e indireto da empresa (Jari Celulose), nas atividades de extração de madeira, silvicultura, canteiro de obras e implantação da indústria, propriamente dita, transformou “Beiradão” num cetro comercial dinâmico, juntamente a outras características que passaram a requerer do Estado do Amapá maiores atenções nos diversos campos de atendimento social.” Tabela 4.4.1-3 – População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil –1991 Ano 1991 População (hab) Municípios/UF Urbana Taxa de urbanização Rural Taxa de ruralização Total Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Total dos Municípios Estado do Amapá Estado do Pará Brasil 16.342 48,87 17.100 51,13 33.442 % da população dos municípios que integram a bacia 61,00 14.301 66,91 7.071 33,09 21.372 39,00 30.643 55,90 24.171 44,10 54.814 100,00 234.131 80,90 55.266 19,10 289.397 - 2.609.777 110.990.990 50,37 75,59 2.571.793 35.834.485 49,63 24,41 5.181.570 146.825.475 - Fonte: Censo Demográfico do IBGE de 1991. Observa-se que a predominância de população urbana entre os municípios em tela, assim como no conjunto do estado do Amapá e mesmo no país, já se fazia significativa desde 1991. Naquele ano, cerca de 55,90% da população, do conjunto dos municípios em tela, residiam em áreas urbanas, com destaque especial para a taxa de urbanização registrada, já na época, no município de Laranjal do Jari (66,91%). Hydros EP518.RE.JR201 5 Tabela 4.4.1- 4 – População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1980 Ano 1980 População (hab) Municípios – UF Urbana Taxa de urbanização Rural Taxa de ruralização Total Almeirim/PA Mazagão/AP Total dos Municípios Estado do Amapá Estado do Pará Brasil 4.827 2.517 14,59 12,32 28.250 17.916 85,41 87,68 33.077 20.433 % da população dos municípios que integram a bacia 61,81 38,19 7.344 15,91% 46.166 86,28% 53.510 100,00 103.719 1.702.403 80.437.327 59,18 48,54 67,59 71.539 1.804.909 38.573.725 40,82 51,46 32,41 175.258 3.507.312 119.011.052 - Participação da população urbana (%) Fonte: Censo Demográfico do IBGE de 1980. 100 90 80 70 1980 1991 60 50 2000 40 30 20 10 0 Almeirim Mazagão Laranjal do Jari Vitória do Jari Gráfico 4.4.1-1 – Participação da População Urbana na População Total – Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1980, 1991 e 2000 Observa-se que, no Gráfico 4.4.1-1, intitulado “Participação da População Urbana na População Total – Municípios integrantes da bacia do rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1980, 1991 e 2000”, Laranjal do Jari é o município que apresenta a maior variação de população urbana, no período entre 1991 e 2000, seguido de Vitória do Jari. Ambos os municípios apresentam taxas de urbanização maiores que a de Almeirim. Hydros Participação da população rural (%) EP518.RE.JR201 6 100 90 80 70 1980 1991 60 2000 50 40 30 20 10 0 Almeirim Mazagão Laranjal do Jari Vitória do Jari Gráfico 4.4.1-2 – Participação da População Rural na População Total – Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1980, 1991 e 2000 Observa-se que durante a década de 1990, o município de Laranjal do Jari foi aquele que apresentou o maior ritmo de crescimento populacional dentre os demais municípios integrantes da bacia, contabilizando uma taxa anual de crescimento de 6,20 %a.a., bem superiores à apresentada pelo Brasil (1,60%), muito embora o estado do Amapá tivesse sofrido quase a mesma taxa de crescimento do Laranjal do Jari. Nota-se, além de tudo, que esse município, assim como o conjunto dos municípios da bacia, apresenta baixa densidade demográfica, inferior à média do estado e mesmo do conjunto do país (Tabela 4.4.1-5, intitulada “Densidade Demográfica e Taxa Geométrica de Crescimento dos Municípios Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1991/2000”). Tabela 4.4.1- 5 – Densidade Demográfica e Taxa Geométrica de Crescimento dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1991/2000 Municípios – UF Taxa de Crescimento 1991/2000 % a.a. Densidade Demográfica (hab/km2) 2000 Almeirim/PA 2,90 0,47 Laranjal do Jari/AP 6,20 0,92 Vitória do Jari/AP 3,80 3,45 Estado do Amapá 5,8 3,34 Estado do Pará 2,5 4,96 Brasil 1,60 19,94 Fonte: Censo Demográfico do IBGE de 2000. Hydros EP518.RE.JR201 7 Dessa forma, um baixo contingente populacional, associado a um ritmo bastante acelerado de crescimento, atraídos em virtude do Projeto Jari, com ampla presença de contingentes de população urbana, é a principal característica populacional dos municípios integrantes da bacia hidrográfica do rio Jari. Claro está que esta dinâmica demográfica, da região em questão, assim como do conjunto do estado do Amapá, expressa o intenso crescimento populacional, também verificado no país nas últimas décadas. No caso do Amapá, diferentemente de outros estados da região Norte do país, este crescimento vem se verificando especialmente nas áreas urbanas, em função da dinâmica econômica verificada no estado nas últimas décadas. Conforme pode ser observado na Tabela 4.4.1-6, intitulada “População Total Segundo Sexo por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000”, nos municípios integrantes da bacia do rio Jari, predominam uma população predominantemente masculina, um dos indicadores de que a população é majoritariamente migrante, onde normalmente os homens se fixam sós ou em companhia de outros homens, antes da fixação de suas famílias. Nas áreas rurais, esta predominância masculina é considerada como um dos indicadores do tipo de atividade rural, onde ela é desenvolvida ainda nos moldes tradicionais, sem capitalização e sem tecnologia, onde a força masculina se faz necessária. A população de homens nos municípios da bacia é superior à apresentada no conjunto do estado do Amapá, e claramente superior ao conjunto do país. A predominância de homens se faz evidente especialmente no município de Almeirim/PA. Destaque-se que foi exatamente este município que apresentou a menor taxa de urbanização, em 2000. Tabela 4.4.1- 6 – População Total Segundo Sexo por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000 Municípios Homens % Mulheres % Total Almeirim/PA 17.902 52,72% 16.055 47,28% 33.957 Laranjal do Jari/AP 14.694 51,53% 13.821 48,47% 28.515 Vitória do Jari/AP 4.413 51,55% 4.147 48,45% 8.560 Total dos Municípios 43.326 52,19% 39.692 47,81% 83.018 Estado do Amapá 239.453 50,20% 237.579 49,80% 477.032 Estado do Pará 3.132.768 50,59% 3.059.539 49,41% 6.192.307 Brasil 83.576.015 49,22% 86.223.155 50,78% 169.799.170 Fonte: ESTATCART IBGE/2004_ AP (municípios) e IBGE Estados (AP). Disponível <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=22&i=P (BR)>. Acesso em: 29 ago. 2007. em: Hydros EP518.RE.JR201 8 População total segundo faixa etária (%) 70 60 50 até 19 anos 20 a 24 anos 25 a 64 anos 65 anos e mais 40 30 20 10 0 Almeirim Laranjal do Vitória do Jari Jari Estado do Amapá Estado do Pará Brasil Gráfico 4.4.1-3 – População Total segundo Faixa Etária por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 2000 Complementando os dados sobre a presença de população masculina, observa-se que, diferentemente da média do país, mais de 50% da população dos municípios integrantes da bacia possui idade inferior a 20 anos. Na faixa dos 25 a 64 anos concentram-se cerca de 33% da população do conjunto dos municípios da área em questão, ou seja, aproximadamente 10% a menos que a média da população do país na mesma faixa etária. Tais dados indicam tratarse de uma região onde predomina população constituída por crianças e jovens, e como observado anteriormente, do sexo masculino, conforme indicado no Gráfico 4.4.1-3, intitulado “População Total segundo Faixa Etária por Município integrante da bacia hidrográfica do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 2000” e na e Tabela 4.4.1-7, intitulada “População Total segundo Faixa Etária por Município integrante da bacia hidrográfica do rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 2000”. Hydros EP518.RE.JR201 9 Tabela 4.4.1-7 – População Total segundo Faixa Etária por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 2000 Faixa Etária Almeirim % Laranjal do Jari % Vitória do Jari % Total dos Municípios % Amapá % Pará % Brasil % 0 a 4 anos 4.718 13,89 4.471 15,68 1.417 16,55 10.606 14,93 67.720 14,20 778347 12,56 16.375.728 9,64 5 a 9 anos 4.733 13,94 3.769 13,22 1.305 15,25 9.807 13,81 61.320 12,85 767543 12,39 16.542.327 9,74 10 a 14 anos 4.426 13,03 3.454 12,11 1.230 14,37 9.110 12,83 58.785 12,32 755800 12,20 17.348.067 10,22 15 a 19 anos 3.987 11,74 3.312 11,61 1.022 11,94 8.321 11,71 57.436 12,04 736407 11,89 17.939.815 10,57 20 a 24 anos 3.174 9,35 2.888 10,13 868 10,14 6.930 9,76 49.410 10,36 618637 9,98 16.141.515 9,51 25 a 64 anos 12.032 35,43 10.013 35,11 2.530 29,56 24.575 34,60 169.315 35,49 2300695 37,13 75.516.618 44,47 65 anos e mais 887 2,61 609 2,14 188 2,20 1.684 2,37 13.046 2,73 238536 3,85 99.351.00 5,85 Sem informação 0 0,00 1 0,00 0 0,00 1 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Total 33.957 100,00 28.515 100,00 8.560 100,00 71.032 477.032 100,00 6195965 100,00 169.799.170 100,00 Fonte: Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciadas. IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000 – IBGE Estados (AP).Disponível em: <www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=ap>. Acesso: 29 ago. 2007. Nota: Informações de acordo com a Divisão Territorial vigente em 01.01.2001. Hydros EP518.RE.JR201 4.4.2 10 CONDIÇÕES DE VIDA A análise das condições de vida tem como objetivo identificar os recursos públicos e privados de que a população dispõe, para atender suas necessidades básicas e seu efetivo acesso e apropriação de tais recursos, expressos nas condições de educação, saúde, renda, saneamento, transporte e lazer, entre outros aspectos. Ao analisar as condições de vida da população da bacia em estudo, deve-se considerar que a população concentra-se nas zonas urbanas, onde também se concentram os estabelecimentos de saúde, educação entre outros. Desta forma, embora os dados possam indicar determinadas condições de vida dos municípios tratados, ela pode ser entendida como a condição de vida da população urbana e até mesmo de sedes municipais, quando há poucas localidades inseridas no município. Desta forma, procurou-se, quando possível4, destacar as condições de vida das localidades que se situam nas zonas rurais, de modo a obter um quadro mais real possível das condições de vida das populações que vivem na bacia em estudo. Como um primeiro indicador dos níveis de condições de vida da população, pode ser considerado o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)5, consagrado internacionalmente. Como pode ser observado na Tabela 4.4.2.1, intitulada “Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000” e no Gráfico 4.4.2-1, intitulado “IDH-M dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000”, os municípios integrantes da bacia hidrográfica do rio Jari apresentavam médio desenvolvimento humano, em 2000. 4 Dados obtidos através de inspeção de campo da equipe de meio ambiente da Hydros Engenharia (2008) e GEA/SETEC/IEPA. Laranjal do Jari: Realidades que devem ser conhecidas – Macapá (2004). 5 O IDH-M é obtido pela média aritmética simples de três subíndices, referentes às dimensões: Longevidade (IDH-M Longevidade), Educação (IDH-M Educação) e Renda (IDH-M Renda), segundo metodologia construída pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O IDH-M ,Renda é obtido a partir do indicador renda per capita (PIB municipal/população); o IDH-M Longevidade é obtido a partir do indicador esperança de vida ao nascer; e o IDH-M Educação é obtido a partir da taxa de alfabetização e da taxa bruta de frequência à escola. O IDH-M Educação é a média desses dois índices, com maior peso (2) para a taxa de alfabetização e peso (1) para a taxa bruta de frequência à escola. Ainda, de acordo com o PNUD, são considerados como de baixo desenvolvimento humano, os municípios que têm seu IDH-M situado no intervalo de 0,0 a menos de 0,5; como médio desenvolvimento humano aqueles que têm o IDH-M situado no intervalo entre 0,5 a menos de 0,8 e como alto desenvolvimento humano, os que se situam no intervalo entre 0,8 e 1,0 (FJP, IPEA, PNUD, 2005). Hydros EP518.RE.JR201 11 Tabela 4.4.2-1 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 1991 2000 Variação no Período 1991/2000 (%) Almeirim 0,662 0,745 12,54 Laranjal do Jari 0,635 0,732 15,28 Vitória do Jari 0,551 0,659 19,60 Estado do Amapá 0,691 0,753 8,97 Estado do Pará 0,65 0,723 11,23 Brasil 0,696 0,766 10,06 Municípios IDH –M dos municípios - 1991-2000 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2000). Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDHM%209%20Ranking%20decrescente%20(pelos%20dados%20de%202000.htm>. Acesso em: 23 out. 2007. 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 1991 2000 Almeirim Laranjal do Jari Vitória do Jari Amapá Pará Brasil Gráfico 4.4.2-1 – IDH-M dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 Destaque-se que durante a década de 1990, os municípios objetos do presente estudo, registraram crescimentos do IDH-M superiores ao apresentado pelo Brasil e, especialmente, superior ao apresentado pelo estado do Amapá. Acrescente-se ainda que mesmo Almeirim, município paraense, apresentou variação de IDH-M no período, superior ao do conjunto do estado do Pará.6 No entanto, para os municípios, a despeito do incremento verificado no período, seus IDH-Ms ainda apresentam-se inferiores às médias estaduais e mesmo nacional, conforme pode ser observado na Tabela 4.4.2-1, intitulada “Índice de Desenvolvimento 6 De acordo com dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2000), no período de 1991 a 2000, o IDH-M do Estado do Pará apresentou uma variação positiva de 11,23%. Hydros EP518.RE.JR201 12 Humano Municipal (IDH-M) do os Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000” e no Gráfico 4.4.2-1, intitulado “IDH-M dos Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000”. Ao se observar a evolução de cada uma das dimensões que conformam o IDH dos municípios, é possível perceber que é a dimensão Educação, a principal responsável pelo crescimento dos IDHs de tais municípios durante a década de 1990. Nesse caso, todos os municípios poderiam ser considerados como de alto desenvolvimento humano. Já no que diz respeito à longevidade, expressão das condições de saúde, os índices, embora se mantenham na classe de médio desenvolvimento humano, apresentam-se mais discretos. No que concerne à renda, observa-se que os índices de desenvolvimento humano apresentam-se inferiores aos demais, para todos os municípios. Tabela 4.4.2-2 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M segundo seus componentes (IDH Educação, IDH Saúde, IDH Renda) para os Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 IDH-M Educação IDH-M Longevidade IDH-M Renda Municípios 1991 2000 1991 2000 1991 2000 Almeirim (PA) 0,682 0,807 0,693 0,733 0,61 0,695 Laranjal do Jari (AP) 0,63 0,852 0,651 0,728 0,624 0,617 Vitória do Jari (AP) 0,555 0,808 0,57 0,603 0,529 0,566 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2000). Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDHM%209%20Ranking%20decrescente%20(pelos%20dados%20de%202000.htm>. Acesso em: 30 ago. 2007. A Tabela 4.4.2-2, intitulada “Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M segundo seus componentes (IDH Educação, IDH Saúde, IDH Renda) para os Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000”, apresenta o incremento verificado no índice de cada uma das dimensões do IDH-M para os municípios que compõem a bacia, indicando que a educação foi aquela que apresentou maior incremento positivo durante o período. A dimensão educação do IDH-M foi também a responsável pelas elevadas taxas de variação positiva do IDH-M desses municípios, durante a década de 1990. Destaquese ainda que no que concerne ao indicador de saúde, para todos os municípios, a variação, no período apresentou-se bastante discreta, se fazendo significativa apenas em Laranjal do Jari. Já no que diz respeito à renda, apenas o município de Almeirim/PA, apresentou incremento significativo no período. Acrescente-se ainda, que neste último caso, o município de Laranjal do Jari apresentou variação negativa. Hydros EP518.RE.JR201 13 Tabela 4.4.2-3 – Taxa de incremento do IDH Educação, IDH Longevidade e IDH Renda no período 1991/2000 Variação IDH-MEducação (%) Variação IDH-M Longevidade (%) Variação IDHM Renda (%) Almeirim (PA) 18,33 5,77 13,93 Laranjal do Jari (AP) 35,24 11,83 -1,12 Vitória do Jari (AP) 45,59 5,79 6,99 Municípios Fonte: PNUD / Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2000). Cálculos Hydros Engenharia. Os gráficos das variações das dimensões do IDH-M apresentam-se a seguir e ilustram as informações anteriormente descritas. Variação do IDHM - Educação IDHM - EDUCAÇÃO 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 1991 2000 Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Gráfico 4.4.2-2 – IDH-M Educação para Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari- 1991, 2000 Hydros EP518.RE.JR201 14 Variação do IDHM - Longevidade IDHM - LONGEVIDADE 0,8 0,7 0,6 0,5 1991 2000 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Gráfico 4.4.2-3 – IDH-M Longevidade para Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 IDHM - RENDA Variação do IDHM - Renda 0,8 0,7 0,6 1991 2000 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Gráfico 4.4.2-4 – IDH-M Renda para Municípios Integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jari – 1991, 2000 4.4.2.1 Educação O elevado desempenho do IDH-M Educação, apresentado pelos municípios integrantes da bacia hidrográfica do rio Jari, associa-se particularmente às elevadas taxas de matrícula, em estabelecimentos de ensino pela população em idade escolar. Estabelecendo a relação entre os dados do Ministério da Educação de 2006, relativos ao número de matrículas em estabelecimentos da rede pública (pré-escola, fundamental e médio) e a população na faixa etária de 5 a 19 anos de idade, em cada um dos municípios em tela, observam-se taxas brutas de frequência à escola7, em patamares superiores a 100% ou próximo a isto. Na média os municípios em tela apresentam taxa bruta de frequência à escola superior a 100%, índice 7 Observe-se, que essa relação deve ser considerada apenas indicativa do índice de frequência à escola da população em idade escolar em cada município, uma vez que se está relacionando dados de população de 2000 e informações de número de matrículas de 2006, o que reduz substancialmente o significado estatístico. Hydros EP518.RE.JR201 15 também apresentado pelo conjunto do estado do Amapá (Tabela 4.4.2-4, intitulada “Relação entre Número de Matriculas em Estabelecimentos Públicos e Privados (2006) e População na Faixa Etária de 5 a 19 Anos em 2000”). Tabela 4.4.2-4 – Relação entre Número de Matriculas em Estabelecimentos Públicos e Privados (2006) e População na Faixa Etária de 5 a 19 Anos em 2000 N.º de Matrículas da Pré-Escola ao Nível Médio (A) População de 5 a 19 anos (B) A/B (%) Almeirim/PA 12.478 13.146 94,92 Laranjal do Jari/AP 11.418 10.535 108,38 Vitória do Jari/AP 5.290 3.557 148,72 Total dos Municípios 35.099 32.159 109,14 Estado do Amapá 201.375 177.541 113,42 2.216.406 2.259.750 98,08 Município/UF Estado do Pará Fonte: IBGE Cidades, Censo Demográfico, 2000. Disponível <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Almeirim&codmun=150>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Vit%F3ria%20do%20Jari>,>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Laranjal%20do%20Jari>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Amap%E1&codmun=16>. Acesso em: 03 out. 2007. em: Ao se analisar particularmente os dados do número de matrículas, observa-se que cerca de 12% das mesmas referem-se à pré-escola. Destaque-se que cerca de 75% das matrículas referem-se ao ensino fundamental, e apenas aproximadamente 14% ao ensino médio (Tabela 4.4.2-5, intitulada “Número de Matrículas na Rede Pública de Ensino – 2004”). Por outro lado, a despeito da proporção de pessoas com 10 ou mais anos de idade, que nunca frequentaram a escola ou sequer concluíram o primeiro ano do ensino fundamental, se faz extremamente significativa, assim como a taxa de analfabetos em tais municípios. Como pode ser observado na Tabela 4.4.2-6, intitulada “Pessoas Residentes com 10 Anos ou Mais Segundo Número de Anos de Estudo para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá”, na média dos municípios da bacia, cerca de 20% da população encontra-se sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo. Analisando-se a situação em cada município, essa situação se faz mais significativa em Vitória do Jari, município onde cerca de 23% da população com 10 anos ou mais de idade, declara-se sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo. Em diversas localidades situadas na zona rural, a população é atendida por serviços de educação devido à presença de escolas do nível fundamental, implantadas a partir de parcerias entre os governos estadual e municipal e a iniciativa privada, como ocorre na comunidade de Santo Antonio, ou pertencentes apenas ao poder público, como ocorre na comunidade de São Francisco do Iratapuru, no município de Laranjal do Jari. Nas comunidades de Paga Dívida e Jarilândia, pertencentes ao município de Vitória do Jari, a ação do poder público se faz presente na prestação de serviço educacional pelo governo municipal. Hydros EP518.RE.JR201 16 Tabela 4.4.2 -5 – Número de Matrículas na Rede Pública de Ensino – 2004 Pública Municípios/UF Pré-Escola % Fundamental % Médio % Total % 1.604 13,09 8.878 72,43 1.776 14,49 12.258 100,00 Laranjal do Jari/AP 803 7,05 8.715 76,47 1.879 16,49 11.397 100,00 Vitória do Jari/AP 760 15,98 3.554 74,71 443 9,31 4.757 100,00 3.977 11,71 25.284 Almeirim/PA Total dos Municípios Fonte: Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciadas. Censo Educacional 2004 (para os municípios). Acesso: 17 set. 2007. Ministério 74,46 da 4.694 Educação, Inst. 13,82 Nacional de 33.955 Estudos e 100,00 Pesquisas Educacionais Tabela 4.4.2 -6 – Pessoas Residentes com 10 Anos ou Mais Segundo Número de Anos de Estudo para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará Sem instrução e menos de 1 ano de estudo % 1a3 anos de estudos % 4a7 anos de estudos % 8 a 10 anos de estudo % 11 a 14 anos de estudo Almeirim/PA 4.616 18,91 7.139 29,24 6.058 24,82 3.480 14,26 Laranjal do Jari/AP 3.065 15,21 5.789 28,73 7.080 35,13 2.662 Vitória do Jari/AP 1.276 22,60 1.811 32,08 1.575 27,90 Total dos Municípios 11.417 19,62 17.003 29,21 16.568 Estado do Amapá 37.444 10,91 67.912 19,79 111.728 Estado do Pará 660.867 14,34 1.301.983 Municípios 28,25 1.434.587 % 15 ou mais anos de estudo % Total % 2.832 11,60 287 1,18 24.412 100,00 13,21 1.357 6,73 200 0,99 20.153 100,00 746 13,22 219 3,88 18 0,32 5.645 100,00 28,46 7.827 13,45 4.840 8,32 550 0,94 58.205 100,00 32,56 62.796 18,30 55.312 16,12 7.961 2,32 343.153 100,00 31,13 616.120 13,37 507.222 11,01 87.923 1,91 4.608.702 100,00 Fonte: Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciadas. Starcart IBGE. Acesso: 28 ago.2007. Hydros EP518.RE.JR201 17 No que concerne à taxa de analfabetismo, conforme pode ser verificado na Tabela 4.4.2-7, intitulada “Taxa de Analfabetismo nos Municípios da Bacia do Rio Jari – 1991/2000”, e Gráfico 4.4.2-5, intitulado “Taxa de Analfabetismo Segundo Faixa Etária– 1991-2000”, não se pode deixar de registrar que a mesma ainda se mantém bastante elevada, especialmente entre os mais velhos, ou seja, na população com idade igual e superior a 25 anos. Porém, é evidente a redução do analfabetismo em todos os municípios, entre os anos 1991 e 2000. Tabela 4.4.2-7 – Taxa de Analfabetismo nos Municípios da Bacia do Rio Jari – 1991/2000 Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 7 a 14 anos 45,73 31,81 46,15 17,02 46,37 20,46 27,07 15,27 40,57 24,00 15 a 17 anos 20,51 9,80 15,45 3,71 25,02 3,09 8,77 3,34 14,39 6,13 18 a 24 anos 19,85 14,63 24,00 5,69 32,18 7,72 10,68 4,72 15,30 8,24 Acima de 25 anos 33,25 23,13 37,47 23,71 46,20 25,18 24,71 16,03 28,46 20,64 Faixa Etária Vitória do Jari/AP Estado do Amapá Estado do Pará Taxa de analfabetismo segundo Faixa Etária (%) 1991-2000 Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, INEP/MEC; PNUD Atlas de Desenvolvimento Humano. Disponível em: <http://www.cnm.org.br/educacao/mu_edu_analfabetismo.asp>. Acesso: 03 out. 2007. 50,00 45,00 40,00 35,00 7 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos Acima de 25 anos 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 1991 2000 Almeirim/ PA 1991 2000 Laranjal do Jari/AP 1991 2000 Vitória do Jari/AP 1991 2000 Estado do Amapá Gráfico 4.4.2-5 – Taxa de Analfabetismo Segundo Faixa Etária– 1991-2000 Também neste caso, Vitória do Jari é o município que apresenta as mais altas taxas de analfabetismo, especialmente entre os mais velhos, embora se tenha registrado significativa melhora neste indicador durante a década de 1990. A taxa de analfabetismo do município reduziu cerca de 20%, para os maiores de 25 anos. Essa redução explica a variação positiva de 42,56% no IDH-M Educação do município. Hydros EP518.RE.JR201 18 A rede pública de ensino existente nos municípios da bacia do rio Jari é formada por 369 estabelecimentos, dos quais cerca de 70% ministram o ensino fundamental. Almeirim é o município que dispõe de maior número de estabelecimentos de ensino; Laranjal do Jari destaca-se especialmente por dispor de um número maior de estabelecimentos voltados ao ensino médio e pré-escolar (Tabela 4.4.2-8, intitulada “Número de Estabelecimentos de Ensino da Rede Pública – 2004”). Observe-se, ainda, que inexiste, nesses municípios, qualquer equipamento de ensino superior. O poder municipal de Vitória do Jari disponibiliza serviços de educação em diversas comunidades, entre as quais estão a Paga Dívida e Jarilândia (uma das mais antigas, por ter sido um dos pólos da Jari Celulose na década de 1980, segundo GERCO/AP (2003a)), além das comunidades Santo Antônio da Cachoeira e São Francisco de Iratapuru, que se localizam distantes das sedes municipais. Na vila de Monte Dourado existem escolas de ensino pré-escolar, fundamental, médio e supletivo, que atendem um total de 3.300 alunos8. Tabela 4.4.2-8 – Número de Estabelecimentos de Ensino da Rede Pública – 2004 Pública Municípios/ UF PréEscola % Fundamental % Médio % Total % Almeirim/PA 26 20,63 98 77,78 2 1,59 126 100,00 Laranjal do Jari/AP 39 37,86 61 59,22 3 2,91 103 100,00 Vitória do Jari/AP 20 39,22 29 56,86 2 3,92 51 100,00 Total dos Municípios 85 30,36 188 67,14 7 2,50 280 100 Fonte: Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciadas. Ministério da Educação, Inst. Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais; Censo Educacional 2004. (para os municípios) – 2004. Acesso em: 17 set. 2007. 4.4.2.2 Saúde Conforme analisado anteriormente, no que concerne ao IDH-M Longevidade, os municípios integrantes da bacia do rio Jari apresentam índices que permitem classificá-los como de médio desenvolvimento humano. No entanto, ao se analisar a oferta dos serviços de saúde, existentes nos municípios em questão, os dados se analisados isoladamente parecem conduzir para outra conclusão, pois há pouca oferta de serviços relativos à saúde. Isso ocorre devido à metodologia utilizada para o desenvolvimento do IDH-M Longevidade, o qual é obtido a partir do indicador esperança de vida ao nascer, e não simplesmente pela oferta de serviços. Cabe lembrar que a esperança de 8 De acordo com informações constantes no Relatório de Impacto do Meio Ambiente – Fase I – AS-EA-001 da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, elaborado pela LEME Engenharia (1985). Hydros EP518.RE.JR201 19 vida ao nascer, em realidade, é resultado da soma de diversos fatores, como nível de nutrição, nível de saneamento existente na área de estudo, nível de educação, oferta de serviços de saúde, incidência de doenças na região, e mesmo práticas alternativas de atenção à saúde que, especialmente em áreas rurais, são diversas das tradicionalmente tomadas como referência nas áreas urbanas. Para uma análise mais aprofundada destas alternativas de práticas de saúde, far-se-ia necessário o desenvolvimento de pesquisa mais sistemática sobre as práticas de saúde da região, com levantamento in loco, o que foge do escopo do presente trabalho, entre outros. Como primeiro indicador de saúde, cabe analisar a disponibilidade de leitos/1000 habitantes, consagrado internacionalmente. Conforme pode se observar na Tabela 4.4.2-9, intitulada “Leitos por 1000 Habitantes por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2005”, dentre os municípios que conformam a bacia do rio Jari, apenas Almeirim apresenta índice de leitos/1000 habitantes em patamar adequado ao recomendado pelo Ministério da Saúde9. Tabela 4.4.2-9 – Leitos por 1000 Habitantes por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2005 Total População* (2005) Leitos/1000 habitantes Almeirim/PA 104 34.280 3,03 Laranjal do Jari/AP Vitória do Jari/AP 43 8 35.872 11.041 1,20 0,72 Estado do Amapá 869 594.587 1,46 20.535 6.970.586 2,95 Municípios/UF Estado do Pará Fonte: IBGE – Cidades – Serviços de Saúde 2005. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Almeirim@codmun=150> e <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Laranjal%20do%20Jari>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Vit%F3ria%20do%20Jari>, e <http://www.cnm.org.br/demografia/uf_dem_pop_total.asp?iLdUf=100116 (AP)>. Acesso: 17 e 21 set. 2007. Conforme se observa na Tabela 4.4.2-10, intitulada “Número de Leitos Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá – Rede Pública”, a totalidade de leitos ofertados em Almeirim é administrada pela municipalidade o que ocorre também em Vitória do Jari. Nos demais municípios a rede hospitalar é de administração estadual. Observe-se ainda, que de acordo com informações obtidas no IBGE, inexiste, nos municípios em tela, oferta de leitos pela rede privada de saúde, como ocorre na maioria dos municípios localizados na região amazônica, especialmente os de margem esquerda do rio Amazonas. Exceção se faz para alguns municípios, onde a sede municipal localiza-se às margens do rio Amazonas. E, de acordo com a mesma fonte de informação, registra-se, no mesmo ano, a 9 Segundo publicado em <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/23122002ams.shtm> (acessado em 22 mai. 2007), o Ministério da Saúde recomenda como parâmetro de cobertura sobre a necessidade de leitos valores de 2,5 a 3 leitos por 1000 habitantes. Hydros EP518.RE.JR201 20 presença de um hospital da rede particular de saúde em Almeirim, conforme apresentado na Tabela 4.4.2-10, intitulada “Número de Leitos Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – Rede Pública” e na Tabela 4.4.2-11, intitulada “Número de Estabelecimentos de Saúde Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá- Rede Pública, 2005”, Monte Dourado destaca-se por ser a localidade onde a população é mais bem servida por serviços de saúde, se tomado como referência o número de leitos. Segundo o Relatório de Impacto do Meio Ambiente – Fase I – AS-EA-001 da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, realizado pela empresa Leme Engenharia para a Companhia do Jari, em 1985, Monte Dourado já contava com hospital com capacidade de 44 leitos. Tabela 4.4.2-10 – Número de Leitos Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – Rede Pública Público Municípios/UF Federal % Estadual % Municipal % Total Almeirim/PA 0 0,00 0 0,00 104 100,00 104 Laranjal do Jari/AP 0 0,00 43 100,00 0 0,00 43 Vitória do Jari/AP 0 0,00 0 0,00 8 100,00 8 Total Municípios 0 0,00 43 27,74 112 72,26 155 Estado do Amapá 96 11,05 423 48,68 40 4,60 559 Estado do Pará 320 2,39 1.256 9,40 3.404 25,47 4.980 Fonte: IBGE – Cidades – Serviços de Saúde 2005. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Almeirim@codmun=150>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Laranjal%20do%20Jari>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Vit%F3ria%20do%20Jari>, e <http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ap&tema=servicosaude&titulo=Servi%E7os%20de%20sa% Fade%202005>. Ano 2005. Acesso em: 17 set. 2007. Hydros EP518.RE.JR201 21 Tabela 4.4.2-11 – Número de Estabelecimentos de Saúde Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá- Rede Pública, 2005 Público Municípios/UF Federal % Estadual % Municipal % Total Almeirim/PA 0 0,00 0 0,00 19 95,00 19 Laranjal do Jari/AP 0 0,00 1 14,29 6 85,71 7 Vitória do Jari/AP 0 0,00 0 0,00 8 100,00 8 Total dos Municípios 0 0,00 1 2,94 33 97,06 34 Estado do Amapá 25 9,19 21 7,72 174 63,97 220 Estado do Pará 71 4,00 57 3,21 1.649 92,80 1.777 Fonte: IBGE – Cidades – Serviços de Saúde 2005. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Almeirim@codmun=150>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Laranjal%20do%20Jari > <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Vit%F3ria%20do%20Jari> e <http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ap&tema=servicosaude&titulo=Servi%E7os%20de%20sa% Fade%202005>. Ano 2005. Acesso em: 17 set. 2007. No que concerne aos serviços de saúde, em diversas localidades situadas na zona rural, a população é atendida devido à presença de postos com agentes de saúde, pertencentes ao governo estadual ou municipal. Na comunidade de Santo Antonio10, localizada em Laranjal do Jari, o atendimento dos serviços de saúde é provido pelo governo estadual, pois há na localidade um posto de saúde que conta com um agente que reside na própria localidade. Nesse posto são atendidos especialmente os casos de pessoas atacadas por escorpiões, cobras e arraias (no período em que o rio abaixa quando são realizadas pescas noturnas), enquanto que os casos mais complexos são levados para o hospital existente na sede do município de Laranjal do Jari. Há situações em que a população precisa se deslocar até a sede municipal. para acessar serviços de saúde, como é o caso da população da comunidade de São Francisco do Iratapuru. Nas comunidades localizadas no município de Vitória do Jari, os serviços de saúde são providos pelo poder municipal. Entre as comunidades, destacam-se a Paga Dívida e Jarilândia, onde os habitantes são assistidos por serviços de saúde por meio de postos de saúde11. 10 Dados obtidos em inspeção de campo da equipe de meio ambiente da Hydros na comunidade Santo Antônio em janeiro de 2008. 11 Na comunidade de Jarilândia concentram-se os profissionais de saúde, devido ao seu histórico de ocupação da área, vinculado à implantação da Jari Celulose na década de 1980 (GERCO/AP, 2003b). Hydros EP518.RE.JR201 22 Tabela 4.4.2-12 – Número de Estabelecimentos de Saúde Segundo Dependência Administrativa por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – Rede Privada, 2005 Privado Municípios/UF SUS % Particular * % Total Almeirim/PA 0 0,00 1 5,00 1 Laranjal do Jari/AP 0 0,00 0 0,00 0 Vitória do Jari/AP 0 0,00 0 0,00 0 Total dos Municípios 0 0,00 0 5,00 1 Estado do Amapá 2 0,74 50 18,38 52 215 29,90 504 70,10 719 Estado do Pará Fonte: IBGE – Cidades – Serviços de Saúde 2005. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Almeirim@codmun=150>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Laranjal%20do%20Jari>, <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?nomemun=Vit%F3ria%20do%20Jari>, <http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ap&tema=servicosaude&titulo=Servi%E7os%20de%20sa% Fade%202005>. Ano 2005. Acesso em: 17 set. 2007. Embora não se disponha de informações específicas relativas ao perfil epidemiológico dos municípios que integram a bacia do rio Jari, considera-se, preliminarmente, que este fato deve corresponder à característica geral apresentada pelo conjunto do estado do Amapá, onde se faz significativa a presença de doenças como a Malária, Leishmaniose e Hepatite Infecciosa, conforme pode ser observado na Tabela 4.4.2-13, intitulada “Perfil Epidemiológico dos Municípios do Estado do Pará”. Tabela 4.4.2-13 – Perfil Epidemiológico dos Municípios do Estado do Amapá Doenças % Número de Casos Malária 95,27 22.806 Leishmaniose 2,41 578 Hepatite 2,31 554 100,00 23.938 Total Fonte: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, Relatório de Situação – Amapá, Série C. Projetos, Programas e Relatórios. Brasília-DF, 2007. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/caderno_ap_2007.pdf>. Acesso em: 4 out. 2007. Hydros EP518.RE.JR201 23 Outro relevante indicador das condições de saúde da população pode ser obtido pelo número de óbitos infantis por 1000 nascidos vivos, ou seja, a taxa de mortalidade infantil. Como pode se observar na Tabela 4.4.2-14, intitulada “Número de Óbitos Infantis por 1000 Nascidos Vivos nos Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1989, 1990, 1994 e 1998”, a exceção de Almeirim, todos os municípios apresentam taxa de mortalidade infantil superior à apresentada pelo conjunto do estado do Amapá e mesmo pelo conjunto do país. Almeirim é também o município que apresentou no período de 1989 a 1998, a maior queda nas taxas de mortalidade infantil, tendo sido reduzida, no período, em cerca de 10 pontos. Tabela 4.4.2-14 – Número de Óbitos Infantis por 1000 Nascidos Vivos nos Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará e Brasil – 1989, 1990, 1994 e 1998 Municípios/UF 1989 1990 1994 1998 Almeirim/PA 32,78 30,13 24,29 22,59 Laranjal do Jari/AP 48,55 47,31 43,6 41,45 Estado do Amapá 39,81 38,03 33,58 31,87 Estado do Pará 51,70 48,10 38,70 35,83 Brasil 52,02 Fonte: Ministério da Saúde <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/mortinf/municpa.htm> 49,4 – 41,01 DATASUS. 36,1 Disponível em: Considerando-se os critérios adotados pelo Ministério da Saúde12, todos os municípios da bacia podem ser classificados como de mortalidade infantil média, encontrando-se Almeirim próximo à faixa classificada como de baixa mortalidade infantil. 12 Conforme em http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb1997/mort/fqc02.htm “As taxas de mortalidade infantil são geralmente classificadas em altas (50 ou mais), médias (20-49) e baixas (menos de 20), em função da proximidade ou distância de valores já alcançados em sociedades mais desenvolvidas, o que varia com o tempo. A tendência de queda das taxas de mortalidade infantil exige a revisão periódica desses valores.” Hydros Número de Óbitos Infantis / 1000 Nascidos Vivos (1989, 1990, 1994 e 1998) EP518.RE.JR201 24 60 50 1989 1990 1994 1998 40 30 20 10 0 Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Vitória do Jari/AP Estado do Amapá Estado do Pará Gráfico 4.4.2-6 – Número de Óbitos Infantis por 1000 Nascidos Vivos nos Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1989, 1990, 1994 e 1998 4.4.2.3 Renda Conforme verificado anteriormente, durante a década de 1990, a despeito da melhoria no indicador de desenvolvimento humano, relacionado especialmente à educação, o indicador de desenvolvimento humano relacionado à renda per capita de cada município pouco se alterou. Em alguns casos, como em Laranjal do Jari, teve inclusive incremento negativo, demonstrando assim a presença contínua de trabalhos informais, como ocorre na maioria dos municípios da região amazônica e mesmo do país. Ao se afunilar a análise, procurando-se apreender o volume de ganhos nominais dos habitantes em tais municípios, a precariedade geral em termos de condições econômicas da região se mostra agora mais evidente. Como primeiro elemento de análise, tome-se a proporção de pessoas em cada município que chega a auferir algum rendimento monetário em um mês. Conforme pode ser observado na Tabela 4.4.2-15, intitulada “Pessoas com Rendimento por Sexo e Pessoas sem Rendimento para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá – 2000”, cerca de 54% da população residente nos municípios integrantes da bacia do rio Jari, não auferem qualquer rendimento. Vitória do Jari é o município que apresenta maior proporção de pessoas sem rendimentos (mais de 60%). Ainda de acordo com os dados da mesma tabela, dentre os que auferem rendimentos, a maior proporção é constituída por homens. As mulheres representam, no conjunto dos municípios, pouco mais que 30% dos trabalhadores com rendimentos na região em estudo. Considerando-se apenas a população que percebe algum rendimento mensal, conforme apresentado na Tabela 4.4.2-16, intitulada “População Residente de 10 Anos ou Mais de Idade com Rendimento, Segundo Faixa de Rendimento Nominal Mensal para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá – 2000” e no Gráfico 4.4.2-7, intitulado “População Residentes de 10 Anos ou Mais de Idade com Rendimento, Segundo Faixa de Rendimento Nominal Mensal para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá- 2000”, observa- Hydros EP518.RE.JR201 25 se que aproximadamente 70% do total de trabalhadores residentes no conjunto dos municípios auferem renda de até 3 SM mensais. Em todos os municípios, a população trabalhadora que percebe renda de até 3 SM corresponde a pelo menos 65%. Almeirim é o único município onde mais de 20% de sua população percebe rendimentos superiores a 5 SM, dos quais cerca de 10% com rendimentos superiores a 10 SM. Embora ainda, em termos especulativos, tais dados permitem inferir que o município de Almeirim, diferentemente dos demais, possui certa “classe média” urbana, que impulsiona a renda municipal. Claro está que a presença de grandes empreendimentos, como a Jari Celulose13 no município, contribui para a criação desta “classe média” e consequentemente para a dinamização da renda da população do município. Observe-se, inclusive, que durante a década de 1990, conforme analisado anteriormente, Almeirim foi o município que apresentou incremento no IDH-M Renda, superior inclusive ao apresentado pelo IDH-M Longevidade. 13 A sede da Jari Celulose S.A. está situada em Monte Dourado, distrito do município de Almeirim, situado às margens do rio Jari, no estado do Pará. Já a fábrica de celulose está localizada no distrito industrial de Munguba, situado no mesmo município, a aproximadamente 18 km de Monte Dourado, também às margens do rio Jari, ocupando uma localização estratégica: Disponível em: <http://www.jari.com.br/web/pt/perfil/localizacao.htm>. Acessado em: 31 out. 2007. Hydros EP518.RE.JR201 26 Tabela 4.4.2-15 – Pessoas com Rendimento por Sexo e Pessoas sem Rendimento para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará – 2000 Homens % Mulheres % Total com Rendimento % Pessoas Sem Rendimento % Total % Almeirim/PA 7.886 32,18 3.755 15,32 11.641 47,50 12.865 52,50 24.506 100,00 Laranjal do Jari/AP 6.549 32,30 3.105 15,31 9.653 47,61 10.622 52,39 20.275 100,00 Vitória do Jari/AP 1.441 24,68 596 10,21 2.037 34,89 3.801 65,11 5.838 100,00 Total dos Municípios 15.876 68,05 7.456 31,96 23.331 46,09 27.288 53,91 50.619 100,00 Estado do Amapá 100.925 29,00 69.081 19,85 170.005 48,85 177.987 51,15 347.992 100,00 1.424.877 63,14 831.736 36,86 2.256.613 48,53 2.393.453 51,47 4.650.066 100,00 Municípios/UF Estado do Pará Fonte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000 – Malha municipal digital do Brasil: situação em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Nota: Informações de acordo com a Divisão Territorial vigente em 01.01.2001. Acesso em: 28 ago. ago.2007. Hydros EP518.RE.JR201 27 Tabela 4.4.2-16 – População Residente de 10 Anos ou Mais de Idade com Rendimento, Segundo Faixa de Rendimento Nominal Mensal para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estados do Amapá e Pará – 2000 % Mais de 10 SM a 20 SM 1.516 13,02 13,78 790 276 13,56 36,82 3.056 61.139 35,96 846.068 18,19 % Mais de 1 a 3 SM % Mais de 3 a 5 SM 3.994 34,31 3.757 32,28 3.137 32,50 4.004 629 30,89 Total dos Municípios 9.341 Estado Amapá 442 3,80 11.640 100,00 2,98 104 1,08 9.653 100,00 60 2,95 9 0,44 2.036 100,00 10,17 1.086 4,10 565 2,13 26.502 100,00 21.524 12,66 9.222 5,42 3.607 2,12 170.007 100,00 161,518 3,47 68.277 1,47 35.593 0,77 4.650.075 100,00 1.272 10,93 41,48 1.330 907 44,55 35,25 9.758 53.024 31,19 934.529 20,10 Almeirim/PA Laranjal Jari/AP do Vitória Jari/AP do Estado do Pará % % Até 1 SM do % Total de população com rendimentos14 Mais de 5 a 10 SM Municípios/ UF % Mais de 20 SM 659 5,66 8,18 288 155 7,61 11,53 2.696 21.491 12,64 210.637 4,53 Fonte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000 – Malha municipal digital do Brasil: situação em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Nota: Informações de acordo com a Divisão Territorial vigente em 01.01.2001 – Ano: 2000. Acesso: 28 ago. 2007. 14 Obtido a partir da soma das informações de cada faixa de rendimento. Por isso, apresenta uma pequena diferença com os dados da Tabela 1.3.3.4.2-16. Hydros P o p u lação resid en te d e 10 an o s o u m ais d e id ad e co m ren d im en to , seg u n d o faixa d e ren d im en to n o m in al m en sal (% ) EP518.RE.JR201 28 60 50 Até 1 SM Mais de 1 a 3 SM Mais de 3 a 5 SM Mais de 5 a 10 SM Mais de 10 SM a 20 SM Mais de 20 SM 40 30 20 10 0 Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Vitória do Jari/AP Total dos Municípios Estado do Amapá Estado do Pará Gráfico 4.4.2-7 – População Residente de 10 Anos ou Mais de Idade com Rendimento, Segundo Faixa de Rendimento Nominal Mensal Para os Municípios da Bacia do Rio Jari, Estado do Amapá- 2000 4.4.2.4 Condições de Habitação Como indicadores de condições de vida, serão analisados a seguir, os aspectos concernentes às condições de habitação, tanto no que diz respeito à densidade domiciliar, quanto no que se refere à condição de ocupação dos imóveis. Complementarmente, serão desenvolvidas análises referentes ao sistema de saneamento básico – abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo – presentes nos domicílios dos municípios em questão, considerando a sua incidência no total dos municípios e nas zonas rural e urbana. No que concerne à condição dos domicílios, os dados apresentados na Tabela 4.4.2-17, intitulada “Condição de Ocupação do Domicílio por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá”, indica que no conjunto dos municípios que integram a bacia, cerca de 70% dos domicílios permanentes são próprios, principalmente os da zona urbana, predominando esta condição de ocupação, em todos os municípios quando observados separadamente 15. 15 Para maiores detalhes quantitativos a respeito da condição de ocupação dos domicílios nas zonas urbana e rural, ver Tabelas 1.3.3.4.2-18 e 1.3.3.4.2-19 (anexo 3.6). Hydros EP518.RE.JR201 29 Tabela 4.4.2-17 – Condição de Ocupação do Domicílio por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2000 Total Municípios/UF Próprio % Alugado % Cedido % Outra condição % Total % Almeirim/PA 3.690 54,46 815 12,03 2.246 33,15 24 0,35 6.775 100,00 Laranjal do Jari/AP 4.747 77,81 937 15,36 388 6,36 29 0,48 6.101 100,00 Vitória do Jari/AP 1.295 86,28 138 9,19 62 4,13 6 0,40 1.501 100,00 Total dos Municípios 9.732 67,69 1890 13,15 2.696 18,75 59 0,41 14.377 100,00 Estado do Amapá 81.215 82,43 8.300 8,42 7.277 7,39 1.730 1,76 98.522 100,00 1.078.800 82,44 98.100 7,50 113.829 8,70 17.784 1,36 1.308.513 100,00 Estado do Pará Fonte: Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=1&i=P>. Acesso em: 29 ago. 2007. Tabela 4.4.2-20 – Densidade Domiciliar por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá – 2000 Situação do domicílio: Total Municípios/UF Até 1 morador % Mais de 1 a 2 moradores % Mais de 2 a 3 moradores % Mais de 3 moradores % Total % Almeirim/PA 929 13,71 2.574 37,99 1.583 23,37 1.689 24,93 6.775 100,00 Laranjal do Jari/AP 702 11,51 2.145 35,16 1.631 26,73 1.623 26,60 6.101 100,00 Vitória do Jari/AP 79 5,26 395 26,32 408 27,18 619 41,24 1.501 100,00 Total dos Municípios 1.710 11,89% 5.114 35,57 3.622 25,19 3.931 27,34 14.377 100,00 Estado do Amapá 11.728 11,9 35.912 36,45 24.902 25,28 25.980 26,37 98.522 100,00 Estado do Pará 161.675 15,86 531.598 52,16 342.814 33,64 272.426 26,73 1.019.164 100,00 Fonte: Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Disponível: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=1&i=P>. 2000. Acesso: 29 ago. 2007. Hydros EP518.RE.JR201 30 Como pode ser observado na Tabela 4.4.2-20, intitulada “Densidade Domiciliar por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá”, cerca de 25% dos domicílios da bacia são ocupados por mais de 2 moradores. Na zona urbana, conforme Tabela 4.4.2-21 (anexo 3.6), as menores densidades de ocupação são registradas em Almeirim e Laranjal do Jari, que constituem os municípios de base urbana mais consolidada dentre os municípios da bacia. Já na zona rural, mais de 50% dos domicílios de Vitória do Jari e Laranjal do Jari, apresentam mais de 3 moradores, demonstrando que há uma maior concentração de pessoas nas habitações. Um dos fatores que contribuem para essa quantidade de moradores é o fato de os domicílios rurais serem, em alguns casos, ocupados por um grupo familiar composto por mais de uma família, geralmente, por pais e filhos já casados, onde dividem a mesma moradia. Ainda, com relação às condições do domicílio, Vitória do Jari é o município da bacia que apresenta maior proporção de domicílios com maior densidade de ocupação domiciliar, (Tabelas 4.4.2-22 no anexo 3.6), já que 41,24% dos domicílios são ocupados por mais de 3 moradores. No que concerne ao saneamento básico, analisando-se inicialmente os aspectos relativos ao abastecimento de água, observa-se que cerca de 80% dos domicílios do conjunto dos municípios são servidos por rede geral. Esta proporção chega a 85,77% em Laranjal do Jari e 82,40% em Almeirim. Esse último está acima dos índices do estado do Pará, conforme indicado na Tabela 4.4.2–23, intitulada “Sistema de Abastecimento de Água, Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá, 2000”. No entanto, esses índices se prevalecem nas áreas urbanas (Tabela 4.4.2-24 – anexo 3.6), já que nas áreas rurais, conforme Tabelas 4.4.2-25 (anexo 3.6), a precariedade dos serviços de abastecimento de água é geral para todos os municípios. Almeirim apresenta o maior número de domicílios atendidos por serviço de abastecimento de água, com cerca de 53% dos domicílios atendidos. Já no extremo oposto, situa-se Laranjal do Jari, onde a utilização da água para abastecimento é captada nos rios ou córregos. Como forma de tratar a água captada, é normalmente utilizado hipoclorito de sódio na própria comunidade, a exemplo das comunidades Santo Antonio da Cachoeira e São Francisco do Iratapuru. Tabela 4.4.2-23 – Sistema de Abastecimento de Água, Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará, 2000 Total Municípios/UF Rede Geral % Outras % Total Almeirim/PA 4.574 82,40 977 17,60 5.551 Laranjal do Jari/AP 4.893 85,77 812 14,23 5.705 Vitória do Jari/AP 862 60,66 559 39,34 1.421 Total dos Municípios 10.329 81,48 2.348 18,52 12.677 Estado do Amapá 50.032 85,38 8.567 14,62 58.599 Estado do Pará 560.140 42,81 748.371 57,19 1.308.511 Fonte: Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Disponível <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=cd&o=4&i=P>. Acesso em: 28 ago. 2007. em: Hydros EP518.RE.JR201 31 Tabela 4.4.2-26 – Sistema de Esgotamento Sanitário por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2000 Total Municípios e UF Rede Geral % Fossa Séptica % Fossa Rudimentar % Sem banho e Sanitário % Outros % Total % 311 4,59 2.920 43,11 2.109 31,13 825 12,18 609 8,99 6.774 100,00 Laranjal do Jari/AP 6 0,10 51 0,84 2.356 38,62 484 7,93 3.203 52,51 6.100 100,00 Vitória do Jari/AP 11 0,73 7 0,47 71 4,73 257 17,12 1.155 76,95 1.501 100,00 Total dos Municípios 328 2,28 2.978 20,72 4.536 31,55 1.566 10,89 4.967 34,55 14.375 100,00 Estado do Amapá 6.062 6,15 17.931 18,19 46.886 47,56 6.839 6,94 20.858 21,16 98.576 100,00 Estado do Pará 96.890 7,40 397.039 30,33 533.801 40,78 157.745 12,05 123.558 9,44 1.309.033 100,00 Almeirim/PA Fonte: IBGE-SIDRA Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes por situação e tipo de esgotamento sanitário (tab.1437). Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=1&i=P>. Acesso em: 19 set. 2007. Tabela 4.4.2-29 – Sistema de Coleta de Lixo por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará – 2000 Total Municípios e UF Coletado % Queimado/Enterrado % Jogado/ Outro destino % Total % Almeirim/PA 4.095 60,45 1.440 21,26 1.239 18,29 6.774 100,00 Laranjal do Jari/AP 2.312 37,90 792 12,98 2.996 49,11 6.100 100,00 Vitória do Jari/AP 1.285 85,61 114 7,59 102 6,80 1.501 100,00 Total dos Municípios 7.692 53,51 2.346 16,32 4.337 30,17 14.375 100,00 Estado do Amapá 70.732 71,75 15.595 15,82 12.249 12,43 98.576 100,00 Estado do Pará 699.566 53,44 397.264 30,35 212.203 16,21 1.309.033 100,00 Fonte: IBGE – SIDRA Domicílios particulares permanentes e Moradores em Domicílios particulares permanentes por situação e destino de lixo. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=t&o=1&i=P>. Acesso em: 19 set. 2007. Hydros EP518.RE.JR201 32 Com relação ao esgotamento sanitário, a situação dos municípios apresenta-se precária, uma vez que apenas 2,28% dos domicílios encontram-se ligados à rede geral, enquanto aproximadamente 32% utilizam fossas rudimentares para a destinação final dos dejetos domésticos. Cerca de 11% dos domicílios não possuem dependências para banho e sanitário, enquanto cerca de 35% utilizam outros sistemas de esgotamento sanitário, lançando os dejetos, provavelmente in natura, nos córregos e drenagem da região (Tabela 4.4.2-26, intitulada “Sistema de Esgotamento Sanitário por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá – 2000”). Esta situação é comum a todos os municípios da bacia. No entanto, Almeirim se distingue dos demais por possuir um percentual grande de domicílios servidos por rede de esgotamento sanitário e especialmente de fossas sépticas nos domicílios situados na área rural, conforme a Tabela 4.4.2-28 (anexo 3.6). Isso ocorre, principalmente, devido ao vínculo entre algumas comunidades e a empresa Jari Celulose, para a qual parte dos habitantes da zona rural de Almeirim trabalha. Nessas comunidades, os trabalhadores da Jari Celulose participam de projetos de educação socioambiental, realizados a partir de parcerias entre a empresa e a Prefeitura. Diversas ações de parceria, entre o poder público e a iniciativa privada, estão voltadas para orientar a população sobre medidas de saneamento socioambiental. Em se tratando do sistema de coleta de lixo, como pode ser observado na Tabela 4.4.2-29, intitulada “Sistema de Coleta de Lixo por Municípios da Bacia do Rio Jari e Estado do Amapá – 2000”, cerca de 55% dos domicílios que integram a bacia do rio Jari são atendidos por tais serviços; em cerca de 15% dos domicílios o lixo é queimado/enterrado; e em aproximadamente 30% é jogado, provavelmente nas áreas vegetadas ou mesmo nos corpos de água que cortam tais municípios. No que concerne à destinação final do lixo, vale destacar que para os domicílios situados na zona urbana, os mais atendidos encontram-se situados nos municípios de Vitória do Jari e Almeirim, conforme Tabela 4.4.2-30 (anexo 3.6). Para os domicílios situados na zona rural, os mais atendidos encontram-se situados nos municípios de Almeirim e Vitória do Jari, conforme Tabela 4.4.2-31 (anexo 3.6). Nesses municípios pelo menos 20% do lixo é coletado. Em Laranjal do Jari, 84,39% do lixo é queimado ou enterrado, o que evidencia uma situação bastante diferenciada. A seguir são descritas e ilustradas as condições de habitação dos núcleos habitacionais mais representativos da bacia do rio Jari, por traduzir as condições de vida da população. Na sede municipal de Laranjal do Jari, destaca-se no local, denominado de “Beiradão”, um aglomerado constituído por palafitas que avançam sobre as águas do rio Jari, configurando-se em uma das “maiores favelas fluviais do mundo, convivendo com graves problemas socioambientais” (TOSTES, 2008). É onde se localiza o porto fluvial de onde saem embarcações em direção a Monte Dourado. A população, em geral, reside em habitações precárias, constituídas em geral por construções precárias, de madeira, através de palafitas, localizadas na beira e sobre o rio, sem as mínimas condições sanitárias, cujos usos, além de se misturarem de forma desordenada, se amontoam uns sobre outros (Figura 4.4.2-1, intitulada “Laranjal do Jari/AP – Beiradão com Construções Sobre Palafitas e Embarcações, na Margem Esquerda do Rio Jari”). Em terra firme, as construções são similares às descritas anteriormente, mas distribuídas em quadras. Hydros EP518.RE.JR201 33 Figura 4.4.2-1 – Laranjal do Jari/AP – Beiradão com Construções Sobre Palafitas e Embarcações, na Margem Esquerda do Rio Jari Ainda no período da implantação da Jari Celulose, na região junto ao “Beiradão”, formou-se o atual bairro Malvinas, que inicialmente concentrava diversas boates e bares, com construções feitas basicamente de madeira. De acordo com informações obtidas em campo, até a década de 1980, esta região era considerada a maior favela fluvial do mundo, com altos índices de homicídios e prostituição. O restante do núcleo urbano de Laranjal do Jari se estende, a partir do “Beiradão”, ao longo de uma avenida principal que se direciona ao centro da sede do município. Na avenida onde se localiza a praça principal, concentram-se edificações de órgãos públicos, estabelecimentos de atividades comerciais, como supermercado, banco, hotel, restaurante, e usos institucionais como igrejas. Nas ruas transversais à avenida principal, encontram-se residências mescladas com comércio e serviços locais, cujas construções são na maioria de alvenaria, dotadas de melhores condições sanitárias que as apresentadas no “Beiradão”, conforme pode ser observado na Figura 4.4.2-2, intitulada “Laranjal do Jari/AP – Bairro Agreste – Cruzamento da Av. Tancredo Neves (Principal) com a Rua Não Pavimentada (Transversal)”. Hydros EP518.RE.JR201 34 Figura 4.4.2-2 – Laranjal do Jari/AP – Bairro Agreste – Cruzamento da Av. Tancredo Neves (Principal) com a Rua Não Pavimentada (Transversal) No município de Vitória do Jari, na área correspondente à bacia do rio Jari, compreende principalmente o território da sede municipal. Neste caso, a área é composta pelo denominado “Beiradinho”, localizado à margem esquerda do rio Jari, também constituído por um aglomerado de palafitas, constituídas por “favelas fluviais”, assim como em Laranjal do Jari. O “Beiradinho” situa-se no lado oposto à vila de Munguba (localizada na margem direita, onde se encontra instalada a planta industrial da Jari Celulose). Desta forma, assim como no “Beiradão”, o “Beiradinho” constitui-se como local de moradia da população que não é absorvida formalmente pelas atividades industriais do projeto Jari. Na zona rural de Laranjal do Jari, ao longo do rio e a montante da sede municipal, são encontradas as localidades de São Militão/São Brás, Padaria, Santo Antonio da Cachoeira (todas na margem esquerda do rio Jari) e São Francisco de Iratapuru situada na margem direita do rio Iratapuru, próximo à sua foz no rio Jari, no interior da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru. Nessas localidades vivem pequenas comunidades, que se dedicam normalmente à atividade agrícola tradicional de subsistência e à atividade extrativista. Em Santo Antonio da Cachoeira, segundo depoimentos colhidos em campo16, a comunidade é formada aproximadamente por 18 casas com uma ou mais famílias. No total residem na localidade cerca de 27 famílias. As casas, elevadas em relação ao solo, são de madeira e cobertas de telhas cerâmicas, algumas com varanda na parte frontal. Estas foram planejadas e construídas pela Jari Celulose, como 16 De acordo com levantamento de campo realizado pela equipe multidisciplinar da Hydros Engenharia em janeiro de 2008. Hydros EP518.RE.JR201 35 forma de mitigação dos impactos decorrentes da implantação da usina hidrelétrica que a empresa planeja construir na cachoeira Santo Antonio. A comunidade de Santo Antônio da Cachoeira (Figura 4.4.2-4, intitulada “Comunidade Cachoeira Santo Antônio – Habitações Construídas com Madeira”) situa-se próxima à cachoeira do mesmo nome. De acordo com o estudo realizado por GEA/SETEC/IEPA (2004), sua origem está ligada à colonização portuguesa, por intermédio das ações missionárias dos padres capuchos. Figura 4.4.2-4 – Comunidade Cachoeira Santo Antônio – Habitações Construídas com Madeira A localidade de Padaria, situada a jusante de Santo Antonio, apresenta condições semelhantes às de Santo Antonio da Cachoeira, tanto no que concerne ao processo histórico de sua implantação quanto no que diz respeito ao tipo de equipamentos sociais disponíveis para o atendimento da população. Entretanto, nessa localidade as habitações apresentam condições sanitárias e construtivas mais precárias que as habitações descritas anteriormente. Em São Francisco de Iratapuru, localidade situada a montante de Santo Antonio da Cachoeira, há uma população de aproximadamente 200 pessoas. As casas existentes na localidade são construídas predominantemente de madeira, com coberturas de telhas de fibrocimento ou palha, ou mesmo, telha cerâmica. Algumas casas têm antenas parabólicas. As casas são servidas por água captada do rio Iratapuru, submetida a tratamento, na própria comunidade, sendo o esgotamento sanitário realizado por meio de fossas sépticas (ver Figura 4.4.2-5, intitulada “RDS do Rio Iratapuru – Morador e Habitações”). Hydros EP518.RE.JR201 36 Figura 4.4.2-5 – RDS do Rio Iratapuru – Morador e Habitações Na margem direita do rio Jari, em Monte Dourado, existe um pequeno porto, que se localiza no lado oposto ao “Beiradão” Lá as ruas são ainda de terra, não havendo nenhuma ordenação na distribuição de poucas edificações ali existentes. Estas são em geral de madeira e são constituídas por pequenos estabelecimentos comerciais ou serviços, que servem às necessidades de passageiros. Já a área central de Monte Dourado é constituída por uma área urbana, organizada e planejada pelo projeto Jari para atender as necessidades da população da empresa. A visita de campo permitiu observar a existência de padrões urbanísticos considerados muito bons, ao contrário dos de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, onde as áreas urbanas cresceram de forma espontânea e sem planejamento. A vila Monte Dourado é constituída por uma praça central com diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, além de institucionais. Nas ruas transversais à praça central encontram-se as residências dos funcionários da empresa Jari Celulose, intercaladas por alguns estabelecimentos comerciais e de serviços locais. A maior parte das ruas de Monte Dourado é asfaltada e a maioria das construções é de madeira, estando de bom a ótimo, o estado de conservação. A população é servida por água tratada e um sistema de drenagem de águas pluviais (Figura 4.4.2-3, intitulada “Monte Dourado – Almeirim/PA – Centro – Praça Central”). Hydros EP518.RE.JR201 37 Figura 4.4.2-3 – Monte Dourado – Almeirim/PA – Centro – Praça Central Hydros EP518.RE.JR201 4.4.3 38 SISTEMAS DE PRODUÇÃO Neste tópico são abordadas as formas como os grupos sociais produzem os bens necessários à satisfação de suas necessidades materiais. Desta maneira, são analisadas as formas de apropriação dos recursos naturais e as condições nas quais se dá a produção de bens materiais. Exploram-se, particularmente, os aspectos relativos aos condicionantes ambientais de exploração dos recursos naturais, assim como as formas de organização da produção rural, com ênfase na análise da estrutura fundiária, da condição do produtor e dos processos produtivos adotados, atentando-se especialmente para os níveis de capitalização atingidos nos diferentes processos produtivos. Num primeiro momento, esta análise será apresentada tendo como recorte espacial o conjunto do território dos municípios integrantes da área de drenagem da bacia do rio Jari. Para tanto, serão utilizados, especialmente, informações constantes da base de dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – e bibliografia atinente à análise das realidades municipais. Num segundo momento, as análises focarão o território integrante da bacia hidrográfica do Jari, buscando destacar as especificidades locais. Nesse aspecto, as análises terão como referência, as informações coletadas em visita de campo realizada pela equipe multidisciplinar da Hydros, em janeiro de 2008, assim como, na apropriação de referenciais bibliográficas específicos sobre as diferentes realidades produtivas que se imbricam nos municípios em questão. Inegavelmente, os atuais sistemas de produção desenvolvidos nos diferentes municípios integrantes da bacia do rio Jari, associam-se de diferentes formas ao processo histórico de ocupação do território e especialmente aos diferentes movimentos de expansão do capital na região, assim como no conjunto do estado do Amapá. Embora a colonização do território do atual estado do Amapá tenha se iniciado ainda no século XVIII, apenas em meados do século XIX foi que começou a se intensificar o povoamento de seu território. As primeiras levas de população adentraram na região em atividades de mineração de ouro e posteriormente na extração da borracha. A atual capital do estado, Macapá, foi colonizada ainda no século XVIII por açorianos. No final do mesmo século chegaram à região,que hoje constitui o município de Mazagão, colonos provenientes do Marrocos. Tanto açorianos, como marroquinos, foram trazidos para a região pela coroa portuguesa, e deixaram suas marcas nas formas de produzir e reproduzir a vida material, especialmente no que concerne às culturas de subsistência amplamente presentes nas pequenas comunidades rurais, existentes ao longo da região em questão. Mais recentemente, em função do ciclo da mineração e da borracha, paraenses, nordestinos e brasileiros em geral, foram atraídos para a região, introduzindo sincreticamente às antigas formas de produção, novas maneiras de reprodução material e social da população local. Antes de adentrar na análise dos sistemas produtivos prevalecentes na região em tela, apresentar-se-á, de forma sintética, os condicionantes à expansão dos processos produtivos, especialmente os vinculados à agropecuária e extração mineral e vegetal. No caso da bacia do rio Jari, registra-se a presença de sete unidades de conservação (UC), incluindo as de proteção integral e as de uso sustentável, que em conjunto totalizam 12.524.577 ha, conforme apresentado na Tabela 4.4.3-1, intitulada “Unidades de Conservação Existentes na Bacia do Rio Jari”. Interessante observar que, em se considerando a área das UC’s inseridas na bacia, o seu somatório corresponde a 76% do total da área da bacia. Hydros EP518.RE.JR201 39 Tabela 4.4.3-1 – Unidades de Conservação Existentes na Bacia do Rio Jari % da área da UC inserida na bacia em relação à área total da UC % da área da UC inserida na bacia em relação à área total da bacia Tipo Nome Área total da UC (ha) Área da UC inserida na bacia do rio Jari (ha) Proteção Integral Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque 3.867.000 1.614.350,804 41,75 27,99 Proteção Integral Estação Ecológica do Jari AP/PA 227.126 186.502,210 82,11 3,23 Proteção Integral Reserva Biológica do Maicuru 1.173.217 691.352,382 58,93 11,99 Uso Sustentável Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru 806.184 749.362,279 92,95 12,99 Uso Sustentável FLOTA Paru – Floresta Estadual do Paru 3.600.000 1.129.199,247 31,37 19,58 Uso Sustentável Reserva Extrativista do Rio Cajari 481.650 11.319,198 2,35 0,20 Uso Sustentável FES do Amapá – Floresta Estadual do Amapá 2.369.400 1824,339 0,08 0,03 Total 12.524.577 4.383.910 35,00 76,01 Fonte: Instituto Socioambiental – ISA. Disponível em: <http://www.socioambiental.org/uc>. Acesso: 09/2007. Além das restrições de ocupação decorrentes da presença de Unidades de Conservação, constitui também condicionante à expansão de processos produtivos, a presença de Terras Indígenas demarcadas ou em processo de demarcação. Na bacia do rio Jari, conforme pode ser observado na Tabela 4.4.3-2, intitulada “Terras Indígenas Existentes na Bacia do Rio Jari”, existem três Terras Indígenas (Waiãpi, Parque do Tumucumaque e Rio Paru D’Este) que totalizam em conjunto uma área de 4.873.860 ha, dos quais 445.294 ha encontram-se inseridos na bacia do rio Jari, correspondendo a 7,72% do total da área da bacia. As práticas produtivas desenvolvidas nas comunidades indígenas presentes na região em estudo serão detalhadas no componente-síntese Populações Indígenas, apresentado na sequência deste documento. Hydros EP518.RE.JR201 40 Tabela 4.4.3-2 – Terras Indígenas Existentes na Bacia do Rio Jari % da área da T.I. inserida na bacia do rio Jari em relação à área total da TI % da área da TI inserida na bacia do rio Jari em relação à área total da bacia do rio Jari T.I. Área total da T.I. (ha) Área da T.I. inserida na bacia do Jari (ha) Waiãpi 607.000 345.481 56,9 5,99 Parque do Tumucumaque 3.071.070 32.068 1,0 0,56 Rio Paru D’Este 1.195.790 67.745 5,7 1,17 Total 4.873.860 445.294 9,14 7,72 Fonte: FUNASA – DSEI, Macapá, 2007; FUNAI-AER, Macapá / AP, 2007. Base Geográfica da Situação Fundiária Indígena, FUNAI, 2006. No que concerne à atividade rural, como pode ser observado na Tabela 4.4.3-3, intitulada “Estabelecimentos por Grupo de Área Total (ha.) nos Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará”, exceto um número limitado de médios e grandes estabelecimentos agropecuários voltados para a produção comercial, em todos os municípios integrantes da bacia, essa atividade é realizada predominantemente em estabelecimentos com menos de 100 ha, representando esta faixa de tamanho, 72,45% do total de estabelecimentos do conjunto dos municípios. Neste aspecto, a maior incidência de pequenos estabelecimentos é encontrada em Almeirim (80,51%) seguido de Laranjal do Jari (62,60%). Hydros EP518.RE.JR201 41 Tabela 4.4.3-3 – Estabelecimentos por Grupo de Área Total (ha.) nos Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari e Estados do Amapá e Pará Municípios*/UF Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Estado do Amapá Estratos de áreas Número % Menos de 10 a menos de 100 698 80,51 100 a menos de 500 155 17,88 500 a menos de 2000 7 0,81 2000 e mais 7 0,81 Sem declaração - - Total 867 100,00 Menos de 10 a menos de 100 154 62,60 100 a menos de 500 37 15,04 500 a menos de 2000 4 1,63 2000 e mais 1 0,41 Sem declaração 50 20,33 Total 246 100,00 Menos de 10 a menos de 100 2.048 61,15 100 a menos de 500 1.036 30,93 500 a menos de 2000 140 4,18 2000 e mais 51 1,52 Sem declaração 74 2,21 3.349 100,00 Menos de 10 a menos de 100 169.273 82,01 100 a menos de 500 32.135 15,57 500 a menos de 2000 3.478 1,69 2000 e mais 1.313 0,64 205 0,10 206.404 100,00 Total Estado do Pará Estabelecimentos Sem declaração Total Fonte: Censo Agropecuário de 1995-1996. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/16/d16_t04.shtm>, <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/15/d15_t04.shtm>. Ano 1995-1996. Acesso em: 24 set. 2007. * O município de Vitória do Jari foi criado em 1997 e por essa razão não existem dados referentes à estabelecimentos agropecuários, no período entre 1995 e 1996. Os estabelecimentos administrados por proprietários possuem, em média, área que varia de 214,15 ha (Laranjal do Jari) a 2.232,85 ha. (Almeirim), conforme a Tabela 4.4.3-4, intitulada “Condição do Produtor nos Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari”. Hydros EP518.RE.JR201 42 Tabela 4.4.3-4 – Condição do Produtor nos Municípios Integrantes da Bacia do Rio Jari Municípios*/UF Almeirim/PA Laranjal Jari/AP Estado Amapá do do Condição do Produtor Área Ha./no. Número % Ha. % Proprietário 573 66,09 1.279.426 99,62 2.232,85 Arrendatário 5 0,58 68 0,01 13,60 Parceiro 2 0,23 176 0,01 88,0 Ocupante 287 33,10 4.659 0,36 16,23 Total 867 100,00 1.284.329 100,00 1.481,34 Proprietário 80 32,52 17.132 85,53 214,15 Arrendatário - 0,00 - 0,00 - Parceiro - 0,00 - 0,00 - Ocupante 166 67,48 2.899 14,47 17,46 Total 246 100,00 20.031 100,00 81,42 Proprietário 2.564 76,56 666.109 95,15 259,79 Arrendatário 3 0,09 4.650 0,66 1.550,00 Parceiro 1 0,03 10 0,00 10 Ocupante 781 23,32 29.278 4,18 37,48 3.349 100,00 700.047 100,00 209,03 Proprietário 171.406 83,04 21.472.911 95,35 125 Arrendatário 980 0,47 34.326 0,15 35 Parceiro 1.188 0,58 117.189 0,52 99 Ocupante 32.830 15,91 895.804 3,98 27 Total 206.404 100,00 22.520.230 100,00 109 Total Estado do Pará Estabelecimentos Fonte: Censo Agropecuário de 1995-1996. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/15/d15_t02.shtm; http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/16/d16_t02.shtm Ano: 1995-1996. Acesso em: 24 set. 2007. * O município de Vitória do Jari foi criado em 1997 e por essa razão não existem dados referentes à condição do produtor, no município citado, no período entre 1995 e 1996. A condição de proprietário predomina apenas em Almeirim, município situado no estado do Pará. Destaque-se que em Almeirim, como no conjunto do estado do Pará, conforme mais bem detalhado no componente-síntese subsequente Base Econômica, a regularidade na ocupação da terra, decorre em boa parte, dos inúmeros projetos de assentamentos rurais promovidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. Já para os municípios do estado do Amapá o acesso a terra se caracteriza predominantemente como ocupante, ou seja, aqueles que não possuem qualquer relação jurídica com a terra. Neste caso, a posse efetiva das terras, especialmente daquelas consideradas como devolutas, encontram-se em fortes disputas e tensões, envolvendo ocupantes tradicionais – em geral pequenos produtores extrativistas, grandes proprietários e empresas. Hydros EP518.RE.JR201 43 No conjunto de municípios da bacia predomina amplamente a cultura de produtos alimentares, com destaque especial para a de mandioca, seguida do milho, do arroz e alguma fruticultura, como a da banana e melancia, assim como a criação de gados bovinos e bubalinos, que se desenvolve em moldes semi-extensivos. Em todos os municípios é bastante praticada a pesca do pirarucu e do tucunaré. O extrativismo vegetal é representado especialmente pela extração da castanha-do-brasil, de madeira para a fabricação do carvão e de móveis e, ainda, a extração do látex da seringueira. Nos pequenos estabelecimentos agrícolas é praticada a agricultura familiar, baseada em técnicas tradicionais, ou seja, “na derrubada e queima de floresta para a formação de roçados, cultivo e colheita de mandioca por dois ou três ciclos e abandono temporário, caracterizando práticas agrícolas de baixos níveis tecnológicos e pouco investimento de capital” (GEA/IEPA/SEMA/MMA, 2005). Almeirim, Laranjal do Jari e Vitória do Jari têm suas economias associadas à Jari Celulose, empresa sediada no município de Almeirim e que confere um tom de modernidade às práticas tradicionais agrícolas e pecuárias da região, conforme já descrito anteriormente. No que concerne às atividades urbanas, na maioria dos municípios prevalece o pequeno comércio varejista, constituído por pequenas mercearias e bares, acompanhado de serviços ainda incipientes, o que revela também baixos níveis de capitalização. As atividades comerciais, nas sedes municipais, se restringem a atividade atacadista de âmbito local. Ao se considerar as atividades urbanas, destaque especial deve ser dado à vila de Monte Dourado, situada no distrito de mesmo nome, na margem direita do rio Jari, município de Almeirim. Destaque-se também a localidade de Munguba, também na margem direita, onde se localiza a planta industrial da Jari Celulose; e a vila Planalto, base das atividades de silvicultura desenvolvidas na margem paraense. Vale lembrar, que o território que hoje corresponde à sede do distrito Monte Dourado teve sua ocupação iniciada em 1967. Esta ocupação se deu com a chegada de um grupo de funcionários (um engenheiro e cerca de 70 operários) com a tarefa de implantar a infraestrutura necessária para preparar a região para a instalação da empresa Jari Florestal e Agropecuária, de investimento do empresário norte-americano Daniel Ludwig. Desta forma, a atual vila de Monte Dourado, surge como uma área de alojamento aos trabalhadores e operários, que trabalhavam na plantação de Gmelina. Posteriormente, foram implantadas na localidade, as residências de funcionários e administradores da empresa norte-americana. A implantação dessa empresa, em Monte Dourado, é acompanhada de intensa imigração de trabalhadores, provenientes de diferentes estados do país, especialmente do nordeste brasileiro. Esses trabalhadores acorreram para a região em busca de trabalho e de melhores condições. Entretanto, a maioria foi absorvida em atividades temporárias, o que os impediu de ter acessos às residências e alojamentos edificados na nascente vila de Monte Dourado. Em decorrência disto, boa parte do contingente populacional, que afluiu para a região, acabou se instalando na outra margem do rio Jari (margem esquerda) no denominado “Beiradão”. Dessa forma, se na margem direita foi se implantando uma nucleação urbana, dotada de toda a infraestrutura necessária à fixação da população, na margem esquerda a população afluente se instalou em área destituída de qualquer condição de infraestrutura urbana e em precárias condições de habitação, área que deu origem à atual sede municipal de Laranjal do Jari. Observações de campo permitiram verificar uma forte relação entre o distrito de Monte Dourado, pertencente ao município paraense de Almeirim-PA, e o núcleo urbano de Laranjal do Jari, localizado no estado do Amapá, e o denominado até os dias atuais de “Beiradão”. Hydros EP518.RE.JR201 44 O município de Vitória do Jari, também situado no estado do Amapá, cuja sede encontra-se também localizada dentro da bacia em estudo, foi igualmente influenciado pela implantação do empreendimento agro-florestal americano. Sua sede-municipal, ao se considerar as condições de vida de suas populações, constitui-se, assim como a sede municipal de Laranjal do Jari, uma consequência da dinâmica urbana e econômica verificada em Monte Dourado. Em Vitória do Jari, assim como em Laranjal do Jari, conforme já indicado anteriormente, estende-se ao longo da margem do rio Jari em uma área de ocupação extremamente precária, constituída predominantemente por palafitas destituídas de quaisquer condições sanitárias, denominada “Beiradinho”. Claro está que as diferenças entre as localidades da margem direita (Monte Dourado e Munguba) e as localidades da margem esquerda (Laranjal do Jari e Vitória do Jari) não se limitam às condições urbanas strictu sensu. Embora as populações das duas margens encontrem-se diretamente inseridas na dinâmica produtiva da empresa americana, elas se inserem neste processo produtivo de forma diferenciada. Em uma margem (direita) concentram-se os quadros mais qualificados da empresa, com elevado grau de capitalização do processo produtivo, consubstanciado especialmente no distrito de Monte Dourado e na vila de Munguba. Na outra margem (esquerda) concentra-se a mão de obra não especializada, dedicada ao trabalho sazonal, ou mesmo a atividades informais de baixo grau de capitalização que, como ocorre em outras porções urbanas do país, se (re)produzem no entorno dos centros econômicos de maior dinamismo. As Figuras 4.4.2-2, intitulada “Laranjal do Jari/AP – Bairro Agreste – Cruzamento da Av. Tancredo Neves (Principal) com Rua Não Pavimentada (Transversal)”, e 4.4.2-3, intitulada “Monte Dourado – Almeirim/PA – Centro – Praça Central”, apresentadas anteriormente, e a Figura 4.4.3-1, intitulada “Laranjal do Jari “Beiradão” com Construções Sobre Palafitas, Unidade Comercial e Catraia”, e a Figura 4.4.3-2, intitulada “ “Beiradão” ” ilustram convincentemente a diferenciação existente nas atividades urbanas em tais localidades. Figura 4.4.3-1 – Laranjal do Jari “Beiradão” com Construções Sobre Palafitas, Unidade Comercial e Catraia Hydros EP518.RE.JR201 45 Figura 4.4.3-2 – “Beiradão” – Terra Firme No que concerne às atividades desenvolvidas no âmbito rural, ao se observar a dinâmica existente no interior do território da bacia do rio Jari, pode-se identificar áreas com especificidades, no que concerne ao sistema de produção, as quais não necessariamente se confinam em um único território municipal. Dentre estas, vale mencionar as especialmente as atividades de extrativismo vegetal associado à agricultura de subsistência e as atividades de agricultura de subsistência praticadas especialmente nas áreas ribeirinhas. O extrativismo vegetal, associado à agricultura de subsistência, corresponde ao sistema produtivo praticado pelas populações denominadas, comumente de “povos da floresta”. Segundo Santos (2008), esses povos são constituídos por seringueiros e castanheiros, muito comuns no sul do Amapá. Na região amazônica, ainda segundo o mesmo autor, “a presença da floresta amazônica ainda lhes proporciona a manutenção de suas atividades de sobrevivência”. Ainda, para SANTOS (2008), a criação de reservas extrativistas, tais como a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, que se estende por terras dos municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Pedra Branca do Amapari17, vem representando novas perspectivas para o desenvolvimento de tais atividades, por estas comunidades. Na área da bacia hidrográfica do rio Jari, essas populações se assentam em pequenas nucleações ou em seu entorno, destacando-se, conforme já indicado anteriormente, as comunidade de São Francisco do Iratapuru, Santo Antonio da Cachoeira e Padaria, todas na margem esquerda do rio Jari. A comunidade de São Francisco do Iratapuru, de acordo com o apontado no item anterior, encontra-se situado próxima à confluência do rio Iratapuru com o rio Jari, no interior da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru. Segundo depoimentos colhidos 17 O município de Pedra Branca do Amapari situa-se fora da bacia hidrográfica do rio Jari. Hydros EP518.RE.JR201 46 em campo18, a maior parte da atual população desta comunidade afluiu para a região atraída pela possibilidade de trabalho na Jari Celulose, quando de sua implantação na região, a cerca de 40 anos atrás. Em 1997, ou seja, há aproximadamente 10 anos, foi criada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru. Esta reserva, criada em âmbito estadual, veio responder as necessidades de produção extrativista dos moradores da área, e da comercialização de subprodutos beneficiados da castanha-do-brasil e de outros vegetais existentes na região. Trata-se de uma área de 806.184 ha, dos quais 92,95% encontram-se inseridos no interior da bacia do rio Jari. De acordo com GEA/SETEC/IEPA (2004), essa área encontra-se recoberta por densa floresta de alto porte, com grandes concentrações de castanha-do-brasil. Ainda, segundo o referido estudo, “o rio Iratapuru (...) corta integralmente a reserva no sentido norte/sul e constitui a principal via de transporte da castanha-do-brasil das áreas de concentrações naturais para a comunidade Iratapuru, localizada na foz do referido rio.”, sendo a reserva um dos principais pólos de extração de castanha-do-brasil do estado. O período de coleta da castanha é do mês de janeiro a junho, quando vêm pessoas de outras comunidades para a coleta. Os catadores de castanha vão aos castanhais e utilizam o chamado “paneiro” – cesto feito de cipó titica, carregado nas costas (ver Figura 4.4.3-3, intitulada “RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Artesão Fabricando o “Paneiro” (Cesto para Coleta de Castanha)”), para armazenar e carregar os ouriços que contêm as castanhas na parte interna. Figura 4.4.3-3 – RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Artesão Fabricando o “Paneiro” (Cesto para Coleta de Castanha) O beneficiamento da castanha e produção de subprodutos, como o óleo e a chamada “torta”, é realizado na Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do rio Iratapuru – COMARU, 18 De acordo com levantamento de campo realizado pela equipe multidisciplinar da Hydros Engenharia em janeiro de 2008. Hydros EP518.RE.JR201 47 composta por moradores da comunidade. Do beneficiamento são produzidas a “torta” (farofa/massa obtida após a castanha ser torrada, moída e amassada para obtenção do óleo), que é utilizada na alimentação dos moradores, e como ração para peixes e animais criados. Na comunidade também são extraídos o óleo de copaíba, o “breu” (resina extraída do tronco da árvore breu-branco) e o óleo da castanha, que são vendidos para a empresa Natura Cosméticos S.A., na cidade de Belém. Todos os associados e filiados da COMARU têm participação nas vendas dos subprodutos da castanha. O óleo da castanha é armazenado em galões de 45 kg (ver Figura 4.4.3-4, intitulada “RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Galões com Óleo Retirado da Castanha para Ser Levado de Barco para Monte Dourado/PA”) transportados para Monte Dourado e vendidos por R$ 31,50 cada. A Natura constitui-se a principal compradora de tais produtos, firmando contrato de produção de até 2 a 4 toneladas de óleo de castanha-do-brasil. Figura 4.4.3-4 – RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Galões com Óleo Retirado da Castanha para Ser Levado de Barco para Monte Dourado/PA Todo o processo produtivo é alimentado por energia elétrica proveniente de gerador movido a óleo diesel, fornecido pelo Governo Estadual e que garante cerca de 12 h de energia elétrica por dia (ver Figura 4.4.3-5, intitulada “RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Um dos Líderes Comunitários Mostrando o Gerador de Energia Elétrica”). O transporte é realizado por barcos de pequeno porte, movidos a motor a gasolina, conhecido como “catraia”, que comporta em média sete pessoas mais hum barqueiro, além de barcos de maior porte, feito de madeira, movidos a motor a gasolina, chamados de “batelão”, que comporta em média de 25 a 30 pessoas e hum barqueiro. Hydros EP518.RE.JR201 48 Figura 4.4.3-5 – RDS do Rio Iratapuru – Comunidade Iratapuru – Um dos Líderes Comunitários Mostrando o Gerador de Energia Elétrica Nas comunidades Santo Antonio da Cachoeira e Padaria observam-se práticas produtivas, semelhantes às identificadas em São Francisco de Iratapuru. Na comunidade Cachoeira Santo Antônio, as terras, assim como as demais da região, pertenciam anteriormente ao latifundiário português chamado José Júlio, que depois as vendeu para o americano Daniel Ludwig. Esse posteriormente as vendeu para o Grupo Orsa, proprietário da Jari Celulose. Inicialmente, seus moradores praticavam extrativismo de castanha-do-brasil e da “balata”, látex proveniente da árvore “balateira”. O látex perdeu mercado após o aumento da concorrência da borracha produzida pela Malásia, após a exportação de sementes de seringueira para o país. Atualmente, ainda de acordo com depoimentos colhidos em campo, somente o extrativismo de castanha-do-brasil mantém-se comercializável. Sua produção é direcionada para Laranjal do Jari, que depois segue para os mercados consumidores do Pará, São Paulo e Rio de Janeiro. Na comunidade Santo Antônio, cada família tem sua “ponta” de castanha e área de produção agrícola. Vão aos castanhais uma vez por dia utilizando-se do “paneiro” (Figura 4.4.3-6, intitulada “Comunidade Cachoeira Santo Antônio – Catador de Castanha-do-Brasil Carregando o “Paneiro””). Hydros EP518.RE.JR201 49 Figura 4.4.3-6 – Comunidade Cachoeira Santo Antônio – Catador de Castanha-doBrasil Carregando o “Paneiro” Além de atividades de agricultura de subsistência, com o cultivo da mandioca, feijão, caju, banana e abacaxi, e de extrativismo vegetal, pratica-se também a caça (paca, anta, cotia, veado e queixada) e a pesca (especialmente pirara, filhote, dourada, pescada branca, tambaqui, pirapitinga) que associadas às culturas de subsistência, constituem a base da alimentação, sendo que a carne obtida é dividida na comunidade. Em Padaria, a dinâmica produtiva se assemelha à de Santo Antonio da Cachoeira e São Francisco do Iratapuru. As populações dessas três localidades associam-se em cooperativas de beneficiamento e da venda da produção extrativista. De acordo com depoimento obtido em campo, as comunidades Santo Antônio, Padaria e São Francisco do Iratapuru produzem, em conjunto, cerca de 55 toneladas de castanha por ano. Essas castanhas são processadas e vendidas pela Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru – COMARU e pela Cooperativa Mista dos Produtores Agroextrativistas de Laranjal do Jari – COMAJU. Além da produção extrativista, desenvolvem-se plantios de culturas cíclicas, caracterizadas como agricultura de subsistência. A área de agricultura é formada por um bolsão ao redor da sede de Laranjal do Jari, num raio de aproximadamente 15 km, e ocupa uma área aproximada de 8.000 ha. Em Vitória do Jari, a área de agricultura é formada por um bolsão ao redor da sede, num raio de aproximadamente 6 km, e ocupa uma área aproximada de 6.800 ha. O excedente das produções agrícolas são, em geral, comercializados nas feiras livres das cidades, ao longo da margem esquerda no rio Jari. No município de Laranjal do Jari encontra-se o núcleo populacional de São Brás, também conhecido como São Militão19. Esta pequena localidade, de acordo com estudo realizado por GEA/SETEC/IEPA, em 2004, é compreendida por três trechos: 19 GEA/SETEC/IEPA, Laranjal do Jari: Realidades que devem ser conhecidas, Macapá – 2004, pag 12 Hydros EP518.RE.JR201 50 “... o primeiro que corresponde a área da foz do igarapé Tira Couro até a sede da comunidade, onde existem pequenas propriedades com criações de gado; o segundo, constituído pela sede da comunidade, onde residem em torno de sete famílias de agricultores e o terceiro, que vai da sede da comunidade até o igarapé Jauari, onde está localizada a maior concentração de propriedades de pequenos criadores de gado”. São os comumente denominados “ribeirinhos” da Amazônia, que de acordo com SANTOS (2008;87), praticam um sistema produtivo que apresenta “particularidades na relação com o meio, onde os recursos naturais são explorados sem grandes impactos predatórios” 20 Conforme assinalado anteriormente, para o conjunto dos municípios, também nestas comunidades, o sistema de produção é baseado em práticas agrícolas de baixos níveis tecnológicos e pouco investimento de capital. Nesses estabelecimentos, o acesso à terra, assim como no conjunto dos municípios, se caracteriza predominantemente como ocupante. O cultivo da mandioca é o principal plantio praticado para a subsistência dessas populações, enquanto o plantio da banana é o que assume o principal caráter comercial. As plantações de banana se dão especialmente em áreas que são desmatadas nas margens dos rios, em especial o Jari, como pode ser observado na Figura 4.4.3-7, intitulada “Rio Jari – Margem Esquerda Desmatada para Plantação de Banana”. 20 SANTOS, Antonio Carlos Rodrigues dos. Geografia do Amapá. A (Re)produção do Espaço Amapaense e seus Contrastes: Macapá: Transa Amazônica Livros, ––2008. Hydros EP518.RE.JR201 51 Figura 4.4.3-7 – Rio Jari – Margem Esquerda Desmatada para Plantação de Banana Ainda, no que concerne ao plantio da banana, vale destacar que, de acordo com informações colhidas em campo, a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária vem realizando na região, pesquisas para produção de plantações de banana resistentes a pragas, como a “catoca negra” e o “mal do panamá”. Na margem direita, ao longo da área correspondente à várzea do rio Caracuru, afluente da margem direita do rio Jari, existem cerca cinco comunidades, quais sejam: Bandeira, São Miguel, Morcego, Granja São Miguel e Nova Vida, que podem ser caracterizadas como comunidades ribeirinhas. Segundo estudo realizado pelo IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental do Amazônia21, o seu Mapa de Uso da Terra indica que estas localidades e seu entorno correspondem a áreas onde predomina a “produção familiar”. Ainda de acordo com o mesmo estudo, a porção de território situada no entorno dos núcleos de Granja São Miguel e Nova Vida correspondem a áreas indicadas como griladas, sendo apontadas como de conflitos pela posse da terra, no município de Almeirim (ver Figura 4.4.3-1, intitulada “Município de Almeirim – Mapa de Conflito”). O restante do território da bacia é ocupado por populações indígenas e, eventualmente, por uma população dispersa que trabalha temporariamente sob o domínio da Jari Celulose22 ou para comunidades que se encontram nas proximidades, dedicando-se a atividades sazonais de silvicultura e extrativismo. A vila Planalto, construída pela Jari Celulose, é uma silvivila, e constitui uma referência para esta categoria de serviço sazonal. 21 IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – Mapeamento Participativo do Baixo Amazonas; Município de Almeirim – Mapa de Uso da Terra, 2007. Disponível em: <http://www.ipam.org.br/web/programas/planejamento/br163/diagnosticos/index.php>. 22 A Jari Celulose ocupa uma área de 1.734.606 ha dos quais, 55% encontram-se em território do Pará e 45% em território do Amapá Fonte:<http://www.jari.com.br/web/pt/perfil/localizacao.htm>. Acesso em: 26 set. 2008. Hydros EP518.RE.JR201 52 Fonte: IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental do Amazonas, Laboratório de Sensoriamento Remoto, Mapeamento Participativo do Baixo Amazonas, Município de Almeirim – Mapa de Conflito, 2007 Figura 4.4.3-1 – Município de Almeirim – Mapa de Conflito Pode-se também inferir que este tipo de ocupação esparsa e sazonal também é encontrado em algumas áreas da margem esquerda do rio Jari, especialmente nas áreas sob o domínio da Jari Celulose ou nas porções de território consideradas como Unidade de Conservação. Hydros EP518.RE.JR201 4.4.4 53 ORGANIZAÇÃO SOCIAL Neste tópico são analisadas as formas pelas quais os grupos sociais organizam-se e estabelecem padrões de convivência. Paralelamente, são identificadas e analisadas as diferentes formas associativistas formais e informais, existentes em tais municípios, assim como as formas de sociabilidade, o patrimônio tangível e intangível das populações que residem na área em questão, procurando-se, assim, construir um panorama da organização social prevalecente e da identidade sócio-cultural dessas populações. Vale aqui assinalar, que a despeito de inúmeros contatos entre índios e europeus, desde o século XV, a colonização do território, que hoje corresponde ao estado do Amapá, iniciou-se, efetivamente, apenas a partir do século XVIII, com a fixação de destacamento militar português no local, das ruínas da antiga Fortaleza de Santo Antonio. A partir de então, foram trazidos para a localidade, pela coroa portuguesa, colonizadores provenientes da ilha dos Açores e posteriormente, foram trazidos para a região que hoje constitui o município de Mazagão, colonos provenientes do Marrocos. Deste processo inicial de ocupação ficaram marcas que podem ser observadas em inúmeras práticas sociais prevalecentes até os tempos atuais. Entretanto, o efetivo povoamento do território do atual estado do Amapá se intensifica apenas no século XIX, inicialmente em decorrência da descoberta de ouro na região e posteriormente em função do crescimento da extração da borracha, atraindo populações de várias regiões do país, e em especial do nordeste brasileiro. Durante a década de 1950 após a descoberta das jazidas de manganês na região, novo afluxo populacional ocorre na região, entretanto a consolidação da ocupação do território se verifica apenas a partir de 1970, com a implementação de políticas públicas federais, voltadas à intensificação da exploração dos seus recursos naturais. De 1970 a 1980, inúmeros incentivos foram criados em âmbito federal, para atração de investimentos nacionais e internacionais. Deste período, data também a implantação de novas infra-estruturas (energia elétrica e redes viária, ferroviária e portos) destinadas a viabilizar a produção e o escoamento. Todo este processo atraiu, durante décadas de 1980 e 1990, grandes contingentes populacionais, vindos agora de todos os recantos do país. Conforme explicitado no tópico 8.4.4.123, durante a década de 1990, o estado do Amapá contabilizou um crescimento populacional muito superior ao apresentado pelo conjunto de estados do país. Neste mesmo período, o município de Laranjal do Jari, situado no estado do Amapá, contabilizou uma taxa anual de crescimento significativo, indicando tratar-se de área recente de atração de população. Dessa forma, a presença de populações tradicionais (representada tanto pelos povos indígenas, que ocupam cerca de 7% da área da bacia, quanto pelas populações ribeirinhas), aliada às populações provenientes de diferentes recantos do país, conferiu à população dessa região, um padrão de sociabilidade específico, que se expressa não apenas nas relações cotidianas, mas especialmente nas diferentes formas de manifestação cultural, tais como a dança, a música e o folclore presentes na região. 23 Tópico relativo à Dinâmica Demográfica Hydros EP518.RE.JR201 54 De um lado, têm-se as populações ribeirinhas, cujas relações sociais, econômicas e culturais estão intimamente ligadas com o rio e seu regime, enquanto que as populações extrativistas estão intimamente ligadas com a forma de viver na própria floresta, a sazonalidade dos produtos e a distância a percorrer, entre outros aspectos. De acordo com estudo realizado para o município de Laranjal do Jari: “... a vida ribeirinha reproduz em sua generalidade as multi-relações vividas pelas populações locais com o meio natural circundante, onde o rio com seus regimes de cheias e vazantes, regula todo o fluxo de transporte, do suprimento alimentar e, em alguns casos, dos excedentes comercializáveis, dos padrões ou modelos de ocupação espacial, da edificação residencial, (...), enfim das próprias estratégias humanas em suas mais amplas dimensões de trabalho e de dependências sociais, culturais e econômicas”. GEA/SETEC/IEPA (2004). Ainda, nas áreas rurais, e com bastante expressividade na região, destacam-se as populações extrativistas, cujas atividades, em alguns casos, encontram-se mescladas por atividades de agricultura de subsistência, anteriormente referenciados como “povos da floresta”. Tais populações, assim como as ribeirinhas, formaram na região algumas comunidades que têm sua cultura moldada através dos hábitos e costumes herdados das populações indígenas, dos imigrantes portugueses, dos nordestinos e de negros, como afirma Santos (2008). São Brás (antigo São Militão), Padaria, Santo Antonio da Cachoeira e São Francisco do Iratapuru são exemplos de comunidades situadas no município de Laranjal do Jari e que resguardam hábitos culturais das mais variadas tradições. De outro lado têm-se as populações que ocupam as áreas urbanas, inseridas em muitos casos na lógica da produção ou da comercialização industrial, especialmente ligadas à Jari Celulose. Essa lhes impõe, paradoxalmente, uma convivência com o tradicional e o moderno, um complexo processo de combinação de diferenças gritantes. Entretanto, para ambas as populações, algumas práticas sociais e culturais acabam por se impor, (re)inventando-se, a cada momento a história da região. Vale assinalar que de acordo com estudo realizado pelo GEA/IEPA/SEMA/MMA (2005), para a região, “os eventos de importância religiosa e histórico-cultural, além da relevância para a identidade cultural da população local e mesmo do estado, favorecem a economia local, pois envolvem desde a comercialização de artesanato à venda de serviços.” Devem-se destacar, sistematicamente suas relevâncias não apenas no refazer-se da identidade local como também na perspectiva da implementação de ações que proporcionem a partir de tais potencialidades, o desenvolvimento local. Ainda no que concerne à organização social, observa-se a presença de várias entidades associativistas que apresentam diferentes campos de atuação. Na área urbana da bacia, é de especial relevância a atuação da Fundação Orsa, do Grupo Orsa, ao qual se encontra vinculada a Jari Celulose. Ela financia entidades sociais voltadas particularmente à implementação de projetos sociais. Dentre as iniciativas, merecem ser citadas a Cooperativa de Mulheres Versáteis (Organização de mulheres empreendedoras da Vila do Planalto, no Vale do Jari, focada na produção de uniformes para empresas da região); a COOPNHARIN – Cooperativa de Artefatos Naturais do Rio das Castanhas; a Cooperativa de jovens do Vale do Jari (produtores de objetos à base de madeira certificada); e a AMARTE – Associação de Mães Artesãs do Vale do Jari (Associação independente de artesãs especialistas na produção de bijuterias e cestas, no Vale do Jari). Hydros EP518.RE.JR201 55 Na área rural, são as cooperativas de produtores extrativistas, tais como a Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru – COMARU e a Cooperativa Mista dos Produtores Agroextrativistas de Laranjal do Jari – COMAJU, as entidades que apresentam maior expressividade na articulação social das populações, especialmente dos produtores extrativistas da região. O levantamento de campo realizado em janeiro de 2008 permitiu identificar que a COMARU, por exemplo, encontra-se apoiada pelas principais lideranças tradicionais da localidade de São Francisco do Iratapuru, o que lhes confere uma significativa legitimidade na condução de suas atividades produtivas e especialmente de articulação social24. O Quadro 4.4.4-1, intitulado “Entidades Associativistas”, apresentada a seguir, relaciona algumas das entidades identificadas para o presente estudo. Observe-se que em sua maioria, são entidades corporativas ligadas às atividades rurais. Quadro 4.4.4-1 – Entidades Associativistas Municípios – UF Entidades Sociais Associação dos Moradores do Bairro do Agreste-AMBA Movimento Reggae do Laranjal do Jari-MOREJAR Fórum de Desenvolvimento Local Sustentável -FDLIS Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Laranjal do JariSINTRACOVAJA Associação dos Artesãos de Laranjal do Jari -ARTELAJA Laranjal Jari/AP do Associação Comercial e Industrial de Laranjal do Jari-ACILAJA Grupo Melhor Idade do Jari Casa das Parteiras de Laranjal do Jari Centro Comunitário do Assentamento Nazaré Mineiro Anjos da Guarda – Fundação Orsa Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru - COMARU Cooperativa Mista dos Produtores Agroextrativistas de Laranjal do Jari COMAJU Vitória do Jari/AP Almeirim/PA Anjos da Guarda – Fundação Orsa Associação das Mulheres Mães Artesãs – AMARTE Anjos da Guarda – Fundação Orsa Associação do Cidadão Deficiente do Conselho de Almeirim -ACIDECA 24 No momento da visita a campo a Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru era presidida pelo Sr. Eudimar dos Santos Viana, filho do Sr. Delbanor Melo Viana apontado como uma das lideranças tradicionais da localidade. Além desses, despontavam, quando do momento da pesquisa, no ambiente comunitário, outras lideranças, tais como o Sr. Mauro Barbosa e o Sr. Sebastião, ambos representantes das primeiras famílias que ocuparam a localidade. Hydros EP518.RE.JR201 Municípios – UF 56 Entidades Sociais Associação de Apoio às Famílias de Fazendas de Almeirim-AAFA Cooperativa de Mulheres Versáteis Cooperativa de Artefatos Naturais do Rio das Castanhas - COOPNHARIN Associação de Mães Artesãs do Vale do Jari - AMARTE Fontes: Pesquisa de Campo – COT / IEPA – 2003. Disponível em: http://www.mundoacademico.unifap.br/professor/14/view=conteudo&cod=73 Diário do Amapá. Disponível em: <http://www.bobnews.com.br/noticias/centro-comunitario-e-csa-de-apoio-em-laranjal.html>, <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=4969>, <http://acideca.blogspot.com> e <http://www.almeirinense.com/almeiriense/index_noticia.asp?id=1830>. Hydros EP518.RE.JR201 4.4.5 57 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS Para realizar a compartimentação em subáreas do componente-síntese Modos de Vida, das populações que vivem na bacia do Jari, foram utilizadas as informações obtidas em inspeções de campo e consultas bibliográficas. Na compartimentação em subáreas, os dados, indicadores e informações relacionados ao município de Mazagão, foram considerados irrelevantes, pois, de acordo com o IBGE (2003), não existem assentamentos humanos na área da bacia do rio Jari que se encontra inserida nos limites desse município. Internamente à área da bacia em estudo foram identificadas cinco subáreas, que representam os modos de vida presentes na bacia, as quais se encontram nas representações gráficas do desenho Nº EP518.A1.JR-08-036 (Fig. 085), intitulado “Mapa de Subárea – ComponenteSíntese: Modos de Vida – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. As descrições dos modos de vida, de cada uma das subáreas, estão apresentadas a seguir. 4.4.5.1 Subárea I – Modo de Vida Urbano-Industrial Planejado A Subárea I corresponde à área localizada na margem direita do rio Jari, onde as populações vivem predominantemente em localidades urbanizadas, conectadas entre si através de uma malha de estradas vicinais e rodovias. Esta subárea se caracteriza essencialmente pelo modo de vida urbano-industrial planejado, cuja ocupação ocorreu após 1970. Sua população na maioria é urbana. Embora esta característica seja dominante, ela convive com o modo de vida da população local, que desenvolve atividade rural de subsistência, algumas mais recentes e outras existentes antes de 1970. O modo de vida que caracteriza esta subárea é resultante de duas localidades, que são as mais urbanizadas da bacia e se destacam por apresentarem um padrão de vida diferenciado do resto da população local. Elas foram planejadas para fim exclusivo do projeto Jari Celulose, que tem alto nível de capitalização: a vila Munguba abriga a indústria de minérios da Jari Celulose25, e Monte Dourado abriga a sede da empresa Jari Celulose. Estas vilas foram projetadas para o funcionamento pleno do projeto, apresentando toda a infraestrutura necessária para a exploração, beneficiamento e escoamento da produção, abrigando no seu interior os funcionários, formando as chamadas company-towns. A população moradora nestas company-towns, além de desenvolver atividades permanentes da empresa, conta com habitações planejadas e principais serviços de educação, de saúde, de saneamento, de comunicação e financeiro. Embora estes serviços sejam utilizados inclusive pelas populações de outras localidades. Isto proporciona à população moradora das company-towns um modo de vida, que não corresponde em nenhum aspecto com o modo de vida de outras localidades. 25 A Jari Celulose ocupa uma área de 1.734.606 ha dos quais, 55% encontram-se em território do Pará e 45% em território do Amapá. Fonte: http://www.jari.com.br/web/pt/perfil/localizacao.htm. Acesso em: 24/09/2008. Hydros EP518.RE.JR201 58 As populações de outras localidades têm o modo de vida característico do rural: a maioria desenvolve atividades rurais de subsistência, de silvicultura e exploração de produtos naturais, caracterizando-se na maioria pela informalidade e caráter temporário. Os serviços de educação, saúde e saneamento são precários. As localidades mencionadas são: Bandeira, São Miguel, Morcego, Granja São Miguel e Nova Vida. Esta dualidade de situação, associada às questões jurídicas de terras (em Almeirim, um em cada três estabelecimentos rurais apresenta a condição de ocupante), denuncia a existência de conflito entre a empresa Jari Celulose e as populações de Nova Vida e Granja São Miguel (IPAM – 2006), bem como a formação de associações que procuram defender seus interesses26. 4.4.5.2 Subárea II – Modo de Vida Urbano-Agrícola (de suporte às atividades urbanas) A subárea II corresponde à área que se localiza na margem esquerda do rio Jari. É uma área onde vive predominantemente a população urbana, cuja ocupação ocorreu após década de 1970, quando foi implantado o projeto Jari. Esta convive com a população rural local, cuja ocupação foi anterior ou mesmo posterior ao período mencionado, desenvolvendo atividades agrícolas de suporte às atividades urbanas. A área urbana dessa subárea é constituída pelas sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, que se distinguem das demais áreas por apresentarem as maiores “favelas fluviais” da região amazônica e do mundo, conhecidas por “Beiradão” e “Beiradinho”, onde as populações vivem em palafitas, em condições sanitárias bastante precárias. Obviamente, estas não foram frutos de planejamento, como ocorrido em Monte Dourado, mas sua ocupação foi decorrente do crescimento desordenado, principalmente ocasionado pela população migrante atraída pelo Projeto Jari, cuja mão de obra não era qualificada o suficiente para ser absorvida pelo referido projeto. Desta forma, esta população vive em função de serviços e comércio de caráter informal, como travessia de rios, serviços de taxi, de hospedagem e de comércio de produtos de valor econômico baixo. Ainda nesta subárea, a mão de obra especializada dedica-se a atividades terciárias, características de sedes municipais que oferece certa infraestrutura urbana em termos de educação, saúde e saneamento, enquanto que a mão de obra não especializada dedica-se a atividades de apoio, de baixo valor agregado e ao trabalho sazonal em unidades produtivas da Jari Celulose, além de atividades agropecuárias tradicionais (cerca de 70% do total dos municípios). Dentre as comunidades rurais, destacam-se as localidades São Militão e São Brás, cujas populações praticam atividades agrícolas, principalmente culturas cíclicas, e preservam traços tradicionais no sistema produtivo, caracterizado por pequenas áreas de cultivo e de pouca capitalização. Para as populações rurais, o rio constitui a grande referência no cotidiano, pois é o principal meio de transportes e de comunicação entre as comunidades. 26 Não foram encontradas muitas informações acerca de conflitos, mas há denúncias de conflitos por parte da Pastoral da Terra em 2005, entre a empresa Jari Celulose e Jarcel (Disponível em: <http://www.cptnac.org.br/>. Acesso em: 31/07/2009). E a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) apresentou em 2005 manifesto quanto ao conflito de propriedade entre a empresa Jari Celulose e trabalhadores rurais locais (Disponível em: <http://chicoterra.com/joomia>. Acesso em: 31/07/2009). Hydros EP518.RE.JR201 59 O modo de vida desta população é resultante da mescla de vários grupos, onde a cultura local vem sendo moldada, ao longo das décadas, através dos hábitos e costumes herdados do imigrante português, do nordestino, do negro e dos indígenas (SANTOS, 2008). 4.4.5.3 Subárea III – Modo de Vida Ribeirinho de Várzea A subárea III corresponde à área localizada no extremo sul da bacia, caracterizada como área de várzea, pertencente à planície amazônica, cujas populações vivem em comunidades localizadas predominantemente às margens do rio Jari. Entre as comunidades, destacam-se a Paga Dívida e Jarilândia, uma das mais antigas, por ter sido um dos pólos da Jari Celulose, na década de 1980, segundo GERCO/AP (2003), onde os habitantes são assistidos tanto por serviços de educação como de saúde, através das escolas municipais e de posto de saúde27. Na maior parte das comunidades e na comunidade Boca do Jari, os moradores têm acesso apenas a serviços educacionais do poder público (GERCO/AP, 2003). Nas comunidades da Subárea III, as populações se dedicam especialmente às atividades agrícolas de subsistência e à pecuária de bubalinos e bovinos. Estas atividades podem ser desenvolvidas tanto em áreas de terra firme ou nas proximidades das áreas de várzea, sendo praticada pela população da comunidade de Cafezal. Segundo a GERCO/AP (2003), a população utiliza parte da produção da pecuária para consumo próprio e comercializa o pequeno excedente nas próprias comunidades, como complementação de sua renda. A agricultura desenvolvida por essas comunidades ribeirinhas tem a vantagem da disponibilidade de solo fértil da várzea, além da disponibilidade de água constante, sem a necessidade de implantação de sistemas mecanizados. Outra atividade presente na Subárea III, apesar de ser realizada sazonalmente, é o extrativismo vegetal. É praticado na coleta do açaí, realizado pela população da comunidade Boca do Jari, que é a comunidade ribeirinha mais próxima à foz do rio Jari (GERCO/AP, 2003). Um fato a se destacar na subárea é a presença de áreas griladas na porção sul, resultando no surgimento de conflitos, podendo assim, ocasionar possíveis interferências nas formas de sociabilidade da população circunvizinha. 4.4.5.4 Subárea IV – Modo de Vida Ribeirinho Extrativista A Subárea IV compreende os territórios correspondentes às áreas de Unidade de Conservação Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e de pequena porção do Projeto de 27 Na comunidade de Jarilândia concentram-se os profissionais de saúde, devido ao seu histórico de ocupação da área, vinculado à implantação da Jari Celulose na década de 1980 (GERCO/AP, 2003). Hydros EP518.RE.JR201 60 Assentamento Agro-Extrativista Maracá28, criados após a década de 1970, que juntos formam um território contínuo que ocupa o médio curso do rio Jari. Pelas características da preservação destas Unidades de Conservação, a população moradora é ribeirinha, que vive essencialmente de extrativismo. Suas habitações são nucleadas ou isoladas, típicas de área rural, mas a maioria é bem estruturada e até planejada. As nucleadas são denominadas na região como comunidades de São Francisco de Iratapuru, Santo Antonio da Cachoeira e Padaria que têm nas atividades extrativistas da castanha-do-brasil, a sua principal atividade produtiva. De forma resumida, tais populações expressam o que há de mais característico dos chamados, segundo Santos (2008), de “povos da floresta”, entre os vários grupos populacionais que ocupam o território da bacia, à exceção dos povos indígenas. Além de extrativismo, vivem de agricultura de subsistência, de pesca e caça. O que distingue estas comunidades de outras comunidades rurais de outras regiões do país é que suas atividades extrativistas são desenvolvidas segundo orientação e apoio das cooperativas de produtores extrativistas. Com este apoio, a população extrai, beneficia e escoa a produção, principalmente a castanha-do-brasil, para ser comercializada diretamente com empresas, localizadas mesmo fora da bacia. O seu raio de atuação chega a ser a nível regional e até nacional. Entre os produtos beneficiados estão o óleo da castanha-do-brasil, a resina do breu-branco e do óleo de copaíba. Estas comunidades apresentam certo nível de organização social, traduzido em consideráveis infraestruturas básicas: serviços públicos de educação e saúde, muito raros nas regiões que se situam longe das áreas urbanas, além de professores e agentes de saúde que prestam serviços à população, em estabelecimentos especialmente instalados nas próprias comunidades. 4.4.5.5 Subárea V – Modo de Vida Extrativista Disperso Esta subárea corresponde às áreas institucionalizadas como Unidades de Conservação, tanto de uso sustentável quanto de proteção integral. Sua dimensão corresponde mais de 60% da área da bacia, estendendo-se desde o limite norte da bacia até a planície amazônica, onde inicia a ocupação antrópica. A área é bastante preservada, de difícil acesso, onde não é identificada ou registrada nenhuma nucleação populacional pelas instituições pesquisadas, à exceção de aldeias indígenas na TI Waiãpi. No entanto, é sabida a existência de população constituída essencialmente por grupos isolados, muitas vezes nômades, que vive de atividades extrativistas sazonais, de pesca e caça. 28 Destaca-se que a porção do município de Mazagão, inserida na bacia do Jari, encontra-se parcialmente inserida em Unidade de Conservação de Uso Sustentável, e nessa porção de Mazagão, de acordo com o IBGE (2003), não há assentamentos humanos. Hydros EP518.RE.JR201 61 Os principais critérios considerados na delimitação das subáreas, assim como o resumo de cada unidade, estão apresentados no Quadro 4.4.5-1, intitulado “Subáreas dos Modos de Vida”. Hydros EP518.RE.JR201 62 Quadro 4.4.5-1 – Subáreas dos Modos de Vida Subáreas Elemento de Caracterização Critérios para compartimentação das subáreas Dinâmica Demográfica Ocupação do território (Histórico) Tipo de Assentamentos humanos Tipos de Localidades30 II – Modo de Vida Urbano Agrícola (de suporte a atividades urbanas) III – Modo de Vida Ribeirinho de Várzea IV – Modo de Vida Ribeirinho Extrativista V – Modo de Vida Extrativista Disperso 29 Após década de 1970 Após década de 1970 Passagem do século XIX para XX (ciclo da borracha) Após década de 1970 - Urbano (entre 50% e 70% da população) Urbano (cerca de 70% da população) Rural (comunidades) Rural (comunidades) - Vila31; Núcleo32; Povoado33 Sedes municipais34; Povoado Núcleos Núcleos Aldeias indígenas35 I – Modo de Vida Urbano Industrial Planejado 29 Modo de vida da população que vive dos produtos da mata para sobrevivência, sem um local fixo de permanência. Localidade – todo lugar do território nacional onde exista um aglomerado permanente de habitantes. 31 Vila – localidade com o mesmo nome do Distrito a que pertence (sede distrital) e onde está sediada a autoridade distrital, excluídos os distritos das sedes municipais. 32 Núcleo – Localidade que tem a característica definidora de Aglomerado Rural Isolado e possui caráter privado ou empresarial, estando vinculado a um único proprietário do solo (empresas agrícolas, indústrias, usinas, etc.). 33 Povoado – localidade que tem a característica definidora de Aglomerado Rural Isolado e possui pelo menos 1 (um) estabelecimento comercial de bens de consumo frequente e 2 (dois) dos seguintes serviços ou equipamentos: 1 (um) estabelecimento de ensino de 1º grau em funcionamento regular, 1 (um) posto de saúde com atendimento regular e 1 (um) templo religioso de qualquer credo. Corresponde a um aglomerado sem caráter privado ou empresarial ou que não está vinculado a um único proprietário do solo, cujos moradores exercem atividades econômicas quer primárias, terciárias ou, mesmo secundárias, na própria localidade ou fora dela. 34 Sede municipal – localidade com o mesmo nome do Município a que pertence (sede municipal) e onde está sediada a respectiva prefeitura, excluídos os municípios das capitais. 35 Os modos de vida dessas populações são descritos e analisados no componente-síntese Populações Indígenas. 30 Hydros EP518.RE.JR201 63 Subáreas Elemento de Caracterização Condições de Vida Sistema de Produção Critérios para compartimentação das subáreas Quantidade de População Urbana Condições habitacionais Atendimento de serviços públicos Tipos de atividades predominantes Conflito fundiário Organização social Associativismo I – Modo de Vida Urbano Industrial Planejado II – Modo de Vida Urbano Agrícola (de suporte a atividades urbanas) III – Modo de Vida Ribeirinho de Várzea IV – Modo de Vida Ribeirinho Extrativista V – Modo de Vida Extrativista Disperso 29 Média36 Alta37 0 0 0 Habitações Planejadas Habitações urbanas e sobre palafitas fluviais Municipais de saúde Estaduais e municipais de saúde Habitações Rurais Municipais de saúde e de educação Habitações Rurais Estaduais de saúde e de educação Agricultura, Extrativismo,de subsistência Pesca, Caça Ausente Cooperativa mantida por moradores (comercialização de produtos de extrativismo) Industrial, Comercial, Silvicultura, Agricultura Existente38 Comercial, Agricultura, Pecuária Agricultura, Pecuária de subsistência Ausente Ausente Associações civis Associações mantidas por iniciativa privada Associações mantidas por iniciativa privada; Associações civis - Extrativismo Ausente - 36 Áreas urbanizadas de Monte Dourado e Munguba. Áreas urbanizadas das sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari. 38 Segundo mapa de conflito, elaborado pelo IPAM, no Município de Almeirim. 37 Hydros EP518.RE.JR201 4.5 64 ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL As análises aqui apresentadas tratarão primeiramente da dinâmica demográfica, mas já dirigidas para a evolução das populações urbana e rural, sua estrutura e distribuição espacial, pois a dinâmica demográfica propriamente dita foi apresentada no componente-síntese Modos de Vida. Em seguida, apresentará a forma de ocupação do território ao longo do tempo e atual, destacando condicionantes de indução ou restrição à ocupação. No terceiro momento, será apresentada a análise da circulação e comunicação com o objetivo de demonstrar o papel exercido na organização territorial e, finalmente, a organização político-administrativa e a política de gestão territorial, de modo a destacar como ela se reflete na organização do espaço. 4.5.1 DINÂMICA DEMOGRÁFICA 4.5.1.1.1 Evolução, Estrutura e Distribuição da População Urbana e Rural O que se pode destacar quanto à evolução das populações urbana e rural dos municípios integrantes da bacia em estudo é que eles tiveram um histórico de urbanização diferenciado do resto do Brasil, onde o processo de urbanização acompanhou o processo de industrialização, que ocorreu em meados da década de 1960. A região amazônica, onde está inserida a bacia em estudo, sofreu um processo de urbanização resultante da política nacional de ocupação e integração nacional, além de investimentos de grande vulto realizado pela iniciativa privada. Esta última tinha o objetivo de explorar os recursos naturais, aproveitando a localização estratégica da região. Desta forma, não só a região amazônica, mas também a região em estudo, sofreram um processo de colonização dirigido, tanto pelo Governo Militar como pela iniciativa privada. Devido a estes incentivos, nordestinos, nortistas e um pequeno número de sulistas chegaram à região para fazer parte da mão de obra na construção de estradas idealizadas pelo governo federal e em empreendimentos de grande porte da iniciativa privada. Durante a implementação dos projetos de estradas conjugadas com os de assentamento do governo federal, além dos empreendimentos da iniciativa privada que não ocorreram da forma como inicialmente planejado, esta população acabou se fixando nas suas imediações e constituindo posteriormente uma grande reserva de mão de obra da região. Na bacia em estudo, a urbanização ocorreu a partir de grandes investimentos do Projeto Jari, que foi planejado por um grande grupo econômico, hoje nomeado como Jari Celulose S.A., pertencente ao Grupo Orsa. O Projeto Jari constituiu um megaprojeto de exploração de celulose e de exploração de minerais, como bauxita e caulim, além de outros produtos. Toda a infraestrutura foi montada para permitir o desenvolvimento deste projeto. Os núcleos urbanos foram criados especialmente para o atendimento das necessidades do Projeto Jari, constituído pela população majoritariamente urbana até hoje. Além disso, as vias de acesso foram implantadas também para o atendimento das demandas do empreendimento, de modo a possibilitar o escoamento de materiais beneficiados até o destino necessário: Belém e Manaus. Tanto é que se pode verificar que, até hoje, as únicas vias de acesso da bacia em estudo, aos grandes pólos regionais, são a aérea e a hidroviária. Hydros EP518.RE.JR201 65 O único aeroporto existente na bacia é o que está localizado na vila Monte Dourado, sede da empresa Jari Celulose S.A, que se localiza junto à margem direita do rio Jari. A via férrea existente é de pequena extensão e é de uso privativo da empresa, servindo para o carregamento de eucaliptos até a vila Monte Dourado. A partir desta vila, os eucaliptos são transportados pela ferrovia até a localidade de Munguba, onde é transformado em celulose, e por via fluvial a produção de celulose é transportada até os pólos regionais de grande porte, como Belém e Manaus. Do outro lado da vila Monte Dourado, localiza-se a sede do município de Laranjal do Jari, que se formou em função do Projeto Jari. A principal via terrestre existente é a que liga esta sede municipal à Macapá. Outra via terrestre parte da vila de Monte Dourado à sede de Almeirim do Pará. Portanto, as únicas vias de acesso rodoviário da bacia são a leste, para Macapá através da via federal BR-156, e a sul, para Almeirim através da estrada estadual. Ambas as vias são de terra. Em contraposição a todo este investimento privado, não se verificou investimentos públicos de grande vulto para o desenvolvimento de atividades rurais para os pequenos agricultores nesta bacia 39. O que se deve destacar também é que ao lado dos núcleos urbanos, construídos especialmente para atender as necessidades do Projeto Jari, ocorreu um processo de periurbanização, desencadeada pela população que não tinha condições de se “encaixar” na qualificação necessária e, portanto, “não contemplada” nas habitações planejadas pelo empreendimento. Esta população “desqualificada” acabou ocupando áreas periféricas destes empreendimentos, na maioria das vezes impróprias para o assentamento humano. O seu crescimento fez com que mais tarde, essas áreas se tornassem também áreas urbanas, razão pela qual a população que vive na zona urbana é bastante significativa, a ponto de superar a população rural. Conforme os dados demográficos apresentados nas Tabelas do componente-síntese Modos de Vida40, verifica-se que em 1980 a urbanização dos municípios integrantes da bacia em estudo era apenas 15,91% em contraposição com a ruralização que era de 86,28%. A urbanização dos municípios, ao contrário da ruralização, foi cada vez mais crescente. As taxas de urbanização passaram para 55,90% em 1991 e para 74,03% em 2000, enquanto as de ruralização sofreram redução para 44,10% em 1991 e para 25,97% em 2000. Pode-se verificar que os municípios integrantes da bacia em estudo embora tivessem apresentado índice de urbanização inferior ao Brasil em 1980, em 2000 estiveram próximos do índice nacional. Se em 1980 a taxa de urbanização no Brasil era 67,59%, em 1991 era 75,59% e em 2000 era 81,25%, no estado do Amapá era de 59,18% em 1980, 80,90% em 1991 e 89,03% em 2000. Comparando a urbanização nacional e a amapaense, a do estado do Amapá foi superior à média nacional, em 2000, explicada pelos altos investimentos aplicados no estado. 39 Conforme Santos (2008), o desenvolvimento econômico no Amapá é impedido pela questão fundiária: “Os pequenos e médios produtores não conseguem financiamento em bancos porque não podem dar como garantia suas terras, já que a maioria delas pertence à União”. 40 Tabela 1.3.3.4.1-4, intitulada “População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil – 1980”, Tabela 1.3.3.4.1-3, intitulada “População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, Estado do Amapá e Brasil –1991”, e Tabela 1.3.3.4.1-2, intitulada “População Total, Urbana e Rural por Município Integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jari e Estado do Amapá e Brasil – 2000”. Hydros EP518.RE.JR201 66 A bacia do rio Jari encontra-se, portanto, no contexto geral do Brasil e da Amazônia: o Brasil é um país urbano e a Amazônia, como parte do país, é uma “selva urbanizada” (BECKER, 1992 apud SANTOS, 2008), onde a maioria da população regional é urbana e não de pequenos produtores rurais (SANTOS 2008). Ainda conforme Becker (1992 apud SANTOS, 2008), a Amazônia foi a região brasileira que apresentou as maiores taxas de crescimento urbano na segunda metade do século XX, tornando-se um “espaço definitivamente urbanizado”, concentrado, em maiores níveis, nos povoamentos consolidados. No caso da bacia em estudo, a urbanização ocorreu nas imediações de núcleos urbanos implantados para o atendimento do Projeto Jari. Para o estudo de evolução da população urbana e rural da bacia, portanto, vale destacar principalmente os municípios de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, que apresentam áreas significativas inseridas na bacia, onde se localizam as sedes municipais e os principais núcleos populacionais41. São nesses municípios que se encontra a população urbana da bacia. O estudo da evolução da população, tanto urbana como rural, começa a se evidenciar somente a partir de criação dos municípios. O município de Laranjal do Jari foi criado em 1989, desmembrando-se do município de Mazagão, enquanto o município de Vitória do Jari foi criado em 1997, desmembrando-se de Laranjal do Jari. Para a análise da dinâmica demográfica, o município de Laranjal do Jari começa a apresentar dados relativos à demografia somente em 1991 e o município de Vitória do Jari a partir de 2000. Já em 1991, Laranjal do Jari apresentava a taxa de urbanização de 66,91% contra 33,09% da taxa de ruralização, sendo respectivamente 93,96% e 6,04% em 2000, e a urbanização situava-se em patamar bastante superior à do Brasil (81,25%). Para Vitória do Jari, em 2000, a taxa de urbanização era 80,37% contra 19,63% da taxa de ruralização, o que colocava o município num patamar próximo às médias nacionais. Nesse sentido, pode se afirmar que, ao contrário da média das regiões do Brasil, a população urbana sempre foi predominantemente significativa na bacia em estudo, tendo apresentado taxa de crescimento superior se comparada com outras regiões do país, embora a densidade demográfica média (0,45 hab/km2) seja bastante inferior à média da densidade demográfica do país (13,98 hab/km2). Os núcleos populacionais implantados para atendimento de empreendimentos de grande porte, como o Projeto Jari, deram início às sedes municipais, onde a população urbana não só se concentrou ao redor do empreendimento, mas ocupou também áreas adjacentes à área urbana. No caso da bacia em estudo, além das sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, há uma vila, a de Monte Dourado, situada muito próxima às sedes municipais. É a cidade montada para abrigar a sede da empresa Jari Celulose S.A. A região é contemplada pela empresa Caulim da Amazônia S.A, também do Projeto Jari, cuja fábrica foi construída especialmente situada junto à margem direita do rio Jari, à jusante da vila Monte Dourado. Atualmente, como atividades do setor secundário do município de Laranjal do Jari, podem ser citadas a fabricação de palmitos de açaí e a de óleo comestível (castanha-do-brasil), produtos que são exportados para a Europa (França), a fabricação de tijolo (exportado para o Pará), além de movelarias. No setor terciário, o município de Laranjal do Jari oferece serviços e comércios diversificados, mas de pequeno porte. 41 Laranjal do Jari tem 91% do território inserido na bacia, Vitória do Jari 43%, Almeirim 36% e Mazagão 14%. Os dois últimos municípios não têm sedes municipais inseridas na bacia em estudo. Hydros EP518.RE.JR201 67 No município de Vitória do Jari, a economia gira ainda em torno do Projeto Jari, que mantém centenas de funcionários. Na cidade são oferecidos serviços e comércios diversificados, mas como acontece em alguns municípios da região amazônica, o capital gira em torno dos funcionários públicos. Já a população rural da bacia se localiza em duas grandes áreas: a primeira no assentamento agrícola PA Agro Extrativista Maracá42, que se situa à região leste da bacia, quase próxima à estrada de acesso BR-156; e a segunda área encontra-se em zonas rurais esparsas, adjacentes aos núcleos populacionais. A população rural se estabeleceu majoritariamente na segunda área, nos aglomerados rurais classificados como povoados e núcleos, de acordo com IBGE (2003). Na bacia em estudo existe somente um povoado (Bandeira), próximo à Monte Dourado, onde se localiza a sede da Jari Celulose e dois grupos de núcleos. O primeiro grupo de núcleos (cerca de 10) refere-se àqueles que não só se localizam junto às estradas de ligação para Monte Dourado, mas também junto ao igarapé Caracaru, afluente do rio Jari, onde são desenvolvidas culturas temporárias. O segundo grupo de núcleos (cerca de 4) se encontra de forma isolada na porção sul da bacia, portanto, distante das estradas de ligação para Monte Dourado e muito próximo à desembocadura do rio Jari com o rio Amazonas. Entretanto, no interior da bacia, especialmente ao longo do rio, verificam-se alguns aglomerados rurais, tais como: Padaria e Santo Antônio da Cachoeira, localizados na margem esquerda do rio Jari. Outros tipos de aglomerados rurais, porém de menor escala, ocupam os igarapés que ficam junto ao rio Jari, sendo o rio o principal meio de comunicação e de transportes43. Nestes aglomerados de menor escala, muitas vezes denominados de comunidades pela população local, são desenvolvidas culturas temporárias e atividades primárias, especialmente aquelas ligadas ao extrativismo da castanha-do-brasil, plantação de bananas e mandioca. Têm-se informações acerca de comunidades locais, que estão sendo objeto de pesquisa por órgãos governamentais para fazer parte do cadastramento rural e acerto das questões fundiárias (informação verbal)44. Atualmente, como atividades do setor primário desenvolvidas pelo município de Laranjal do Jari, podem ser citadas a criação de gado bovino e bubalino, cultura de arroz, abacaxi, banana, cupuaçu, feijão, laranja, milho, melancia e mandioca, extração de palmito e castanha-dobrasil. E para o município de Vitória do Jari podem ser citadas a criação de gado bubalino e bovino, plantação de milho, banana, melancia, jerimum, arroz, mandioca, exploração de castanha-do-brasil e extração de caulim. No entanto, dentre as atividades primárias, a atividade predominante na bacia do rio Jari é ainda a exploração de madeira e de caulim do Projeto Jari, sendo de pequena expressão as demais atividades. É importante destacar que a bacia em estudo é distante dos grandes centros de alta densidade demográfica e serviços diversificados, classificados como pólos regionais (Manaus, Belém, São Luiz e Macapá). As vias de acesso a estes pólos regionais são vias aérea ou hidroviária, 42 Desenho Nº EP518.A1.JR-08-044 (Fig. 083), intitulado “Mapa dos Projetos de Assentamentos – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Cabe observar, no entanto, que na bacia em estudo o PA não só tem pouca expressão em termos de área inserida, bem como tem como única via de acesso a BR-156, que vai de Laranjal do Jari a Macapá, devendo haver pouca população do PA situada na bacia em estudo. 43 GEA/SETEC:IEPA. Laranjal do Jari: Realidades que devem ser conhecidas. JM.Editora Gráfica. Macapá. 2004. 44 A informação do cadastramento de propriedades rurais foi obtida através de contato com a DEAF - Diretoria de Gestão de Desenvolvimento Agrário e Fundiário do Instituto de Terras do Pará, em 2008. Hydros EP518.RE.JR201 68 que são utilizadas principalmente pelas empresas Jari Celulose S.A e Caulim da Amazônia S.A. As comunidades locais, especialmente as ribeirinhas, dependem do rio como meio de transporte, e a população urbana local depende das vias locais, de rodovia estadual e federal, além de via fluvial. Vale destacar que as rodovias utilizadas são de terra, demandando tempo grande para ir de um lugar a outro. Todas as outras vias são estradas locais, também de terra, de apoio às atividades do Projeto Jari e outras atividades rurais. As demais vias da bacia servem às sedes municipais e aglomerados rurais. É importante destacar que tanto a população urbana como rural encontram-se localizadas na porção mais ao sul45 da bacia. É onde estão presentes as condições físicas que melhor favorecem o desenvolvimento de atividades rurais como da implantação de núcleos urbanos. O restante da bacia é uma grande porção ainda em estado natural, onde se concentram as Unidades de Conservação46 e Terras Indígenas, e onde as condições físicas não se mostraram favoráveis para o assentamento humano e desenvolvimento de atividades agropecuárias. 45 Desenho Nº EP518.A1.JR-08-037 (Fig. 091), intitulado “Mapa de Subárea- Componente-síntese Base Econômica– Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 46 Desenho Nº EP518.A1.JR-08-010 (Fig. 079), intitulado “Mapa dos Ecossistemas em Áreas Protegidas– Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Hydros EP518.RE.JR201 69 4.5.2 OCUPAÇÃO TERRITORIAL 4.5.2.1 Processo Histórico de Ocupação do Território A bacia do rio Jari ocupa territórios dos estados do Amapá e do Pará. Por parte do Amapá, os municípios pertencentes à bacia em estudo são: Laranjal do Jari, Vitória do Jari e Mazagão, localizados a oeste do estado. Por parte do estado do Pará, o município de Almeirim é o único que faz parte da bacia em estudo, localizado a leste do seu estado. Desta forma, a ocupação na bacia se deu ao longo da história de formas diferenciadas, ora com mais influências do Amapá, ora do Pará. Tendo em vista que três dos quatro municípios são pertencentes ao Amapá, e que um deles (Mazagão) é o segundo mais antigo município do estado (1890), a influência maior na bacia é do estado do Amapá. Ainda, o único município paraense que compõe a bacia é relativamente novo (1930). Por parte do Amapá, a despeito de inúmeros contatos entre a população indígena e os europeus, a colonização do território que hoje corresponde ao estado iniciou-se com a vinda dos colonos portugueses. Historicamente, a efetiva ocupação do atual estado do Amapá começa a ocorrer somente a partir do século XIX, em função da descoberta de ouro e da exploração da borracha. No final deste mesmo século, o território foi alvo de disputa entre franceses e brasileiros, sendo finalmente incorporado ao território nacional em 1900, passando, no entanto, a fazer parte inicialmente do Estado do Pará com o nome de Araguari. Na atual capital do estado, Macapá, inaugura-se a igreja de São José de Macapá, em 1761, considerado o mais antigo patrimônio da cidade. Em 1782, instalou-se um forte, considerado a maior fortificação do Brasil, denominada Fortaleza de Santo Antônio. Seu objetivo principal era proteger as fronteiras e promover uma ocupação nacional no interior. Os colonizadores portugueses que ali se instalaram eram originários da ilha dos Açores, fazendo surgir núcleos populacionais ao seu redor. Este território passou a constituir o primeiro município em 1856 e, em 1944, Macapá foi promovido como capital do estado. Na região, que hoje constitui o município de Mazagão, chegam os colonos provenientes de Marrocos, todos trazidos pela coroa portuguesa. Isto ocorreu a partir de 1772 e, em 1888, Mazagão foi elevada à categoria de cidade, sendo o segundo município mais antigo do Estado (1890). Posteriormente, Mazagão cede território para formação dos municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari. No entanto, cabe destacar que a sede do atual município de Mazagão fica fora da bacia em estudo. Em 1943, o atual Estado do Amapá passou à administração do governo federal com o nome de Território do Amapá. Em 1945, a descoberta de ricas jazidas de manganês na Serra do Navio ocasionou uma rápida aglomeração populacional. A exploração das referidas jazidas coube à Indústria e Comércio de Minérios S/A – ICOMI. Em decorrência da dinamização econômica e populacional, criam-se novos municípios: Oiapoque e Calçoene, localizados, no entanto, fora da bacia. Atualmente o Estado de Amapá conta com 15 municípios, dos quais 11 foram criados após a Constituição Federal de 1988 que elevou o antigo Território à condição de Estado. Dois dos três municípios amapaenses integrantes da bacia do rio Jari foram criados após 1988, quais sejam: Laranjal do Jari, criado em 1989 e Vitória do Jari, criado em 1997. Hydros EP518.RE.JR201 70 Os municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari merecem destaques no estudo desta bacia, não só em função da significativa área inserida na bacia, mas também por apresentar a maior parte da área antropizada da bacia. O município de Laranjal do Jari foi criado através do desmembramento do município de Mazagão, em função do aglomerado populacional denominado Beiradão que abrigava os trabalhadores do Projeto Jari. Cabe destacar que, não só o histórico destes municípios, mas também a sua consequente ocupação é resultante do Projeto Jari, conforme já detalhado anteriormente. Este projeto era um empreendimento da Companhia Jari Florestal e Agropecuária Ltda., de iniciativa e propriedade do americano milionário Daniel Ludwig, que tinha como objetivo a exploração de celulose, pecuária, agricultura de arroz de várzea, e extração do minério de caulim (AP) e bauxita. Era um projeto de grande porte, onde a população de várias regiões do país, notadamente do Nordeste e Norte, foi fortemente atraída para fazer parte da mão de obra47. No entanto, a grande parte da população não qualificada para os serviços foi viver às margens do rio Jari, em palafitas, sem as menores condições de higiene, sendo denominado por esta razão como Beiradão, conhecido como a “maior favela fluvial do mundo” (MORAIS; MORAIS, 2005). Já Lins (1997) entende que o Beiradão surgiu como casa de divertimento para os trabalhadores do Jari Celulose, compostos na maioria por homens solteiros. Era uma área isolada do outro lado do rio Jari, pois do lado da margem onde se situa Monte Dourado, sede da empresa, era proibida qualquer construção que não fosse do interesse da empresa, permanecendo assim ainda hoje. É uma das áreas mais populosas do Amapá, e a área portuária de Laranjal do Jari é ainda um local de grande movimentação de pessoas e de comércio. O deslocamento e a expansão desta área de grande dinamismo populacional começaram na terra firme, com ruas largas e casas de alvenaria. Hoje, Beiradão apresenta certo contorno urbano, com certa melhoria na infraestrutura, onde foram asfaltadas ruas, instaladas redes de esgotos, e boates foram substituídas por outros usos. E na parte mais alta, onde se expandiu a população, atualmente se verifica uma estrutura de uma cidade mais organizada. Laranjal do Jari, município à qual pertence Beiradão, possui a terceira maior população do estado de Amapá. Outro município de destaque é Vitória do Jari, que é resultante do desenvolvimento do município de Laranjal do Jari, tendo sido desmembrado daquele município em 1994. A sede do município representa a ampliação da ocupação ribeirinha iniciada em Laranjal do Jari, que 47 O projeto Jari teve suas origens com a Jari Indústria e Comércio (em 1948 foi fundada por portugueses e brasileiros) e em 1967 o empresário norte americano Daniel Ludwig adquire esta empresa, que atualmente conta com 1.734.606 hectares. Cerca de 55% desta área está situada no Pará e 45% no Amapá, sendo cortada pelo rio Jari. O empresário então criou a Jari Florestal e Agropecuária Ltda., que deu o início do Projeto Jari, considerado um dos maiores e o mais ambicioso programa agro-industrial de seu tempo. Instalou uma moderníssima fábrica e usina termelétrica em plataformas localizadas em Munguba. Construiu toda a infraestrutura para a produção de celulose, que incluiu um porto fluvial, cerca de 70 km de ferrovia e um aeroporto. Ludwig implantou a CADAM- Caulim da Amazônia S. A e a Mineração Santa Lucrécia para a extração de caulim e bauxita, respectivamente. Em 1979 o Projeto Jari produzia cerca de 120.000 toneladas de celulose. Em 1982 passou a administração para 23 empresas brasileiras, liderada pelo grupo Caemi. Em 1992, a produção alcançou 280.000 toneladas de celulose por ano. Em 2000 o grupo ORSA assumiu o controle acionário da empresa e em 2004, a sua produção chegou a 358.000 toneladas por ano. A empresa é considerada sustentável, tendo ISO 14001 (Perfil em www.jari.com.br) Hydros EP518.RE.JR201 71 cresceu rapidamente até à elevação de categoria municipal, que surgiu para se beneficiar dos impostos pagos pela Caulim da Amazônia S.A. – CADAM. As operações de mineração, industrialização e embarque dos produtos da empresa CADAM estão localizadas na margem direita do rio Jari, no distrito de Munguba, pertencente à Almeirim/PA. Ela é considerada a maior empresa produtora de caulim no Brasil, que implantou um parque industrial, e onde foram alojados funcionários e suas famílias. Implantou-se para tanto infraestrutura necessária com atividades comerciais e de serviços, de suporte aos residentes do projeto. O parque industrial, inicialmente planejado pela empresa, cresceu rapidamente e acabou criando condições para que a região se tornasse um município independente. A capacidade produtora da empresa é de 750.000 t/ano de caulim beneficiado. Cerca de 85% da produção destina-se ao mercado externo, principalmente Finlândia, Alemanha, França, Espanha, Japão e Itália. No Brasil, a CADAM é a maior fornecedora de caulim para revestimento de papéis e cartões de atendimento nacional (MONTE et al, 2002)48. A população “desqualificada” aos serviços da empresa se instalou no outro lado da fábrica, na margem esquerda do rio Jari, no município de Laranjal do Jari, formando uma favela em menor escala nos mesmos moldes do Beiradão, sendo denominada “Beiradinho” pela população local. Como o município é originário de Laranjal do Jari, Vitória do Jari enfrenta os mesmos problemas de falta de infraestrutura urbana. Por parte do Estado do Pará, as bases do atual município de Almeirim foram criadas pelos frades capuchos de Santo Antônio. Manoel da Mota e Siqueira construíram um forte de pedra e barro, denominado forte do Paru, à margem esquerda do rio Amazonas, no local onde hoje se encontra a sede municipal. Em 1758, a denominação do município passou a ser Almeirim. No entanto, esta categoria de município sofreu alterações em função das políticas adotadas na época da independência, tendo sido extinta, em virtude da preocupação do Governo da capitania de aumentar os domínios coloniais portugueses para o Alto Amazonas. Em 1835, Almeirim foi palco da Cabanagem, que quase destruiu a aldeia ali encontrada. Com a República, a localidade se reergueu e em 1890, torna-se vila e no mesmo ano Almeirim readquiriu categoria de município. No entanto, novamente, em 1930, o então município foi extinto, tendo sido anexado ao da Prainha, onde se estabeleceu no mesmo ano. Atualmente, Almeirim conta com o distrito de Monte Dourado, criado em 1967, que é importante na bacia em estudo por sediar o empreendimento de Daniel Ludwig49 e estar localizado na margem direita do rio Jari, precisamente na margem oposta do “Beiradão” do Laranjal do Jari. . Como foi mencionada no item anterior, a população atual, tanto urbana como rural, ocupa majoritariamente a porção sul da bacia em estudo. Os fatores locais desta área foram favoráveis para o assentamento humano, instalação de parques industriais e desenvolvimento 48 A CADAM explora um conjunto de dez jazidas de caulim localizadas em Mazagão e Vitória do Jari. A empresa iniciou as atividades em 1971 e passou a administração para CAEMI e MITSUI em 1991. É a maior exportadora brasileira de caulim, que responde por 9% do mercado internacional. (MONTE et al., 2002). 49 Conforme Lins (1997), o empreendimento Jari, para atender os objetivos, necessitou de um investimento gigantesco não só em termos de infraestrutura social para abrigar os trabalhadores, mas também para o escoamento da produção, que era externo ao país. A empresa foi nacionalizada em 1981 com o nome Companhia Florestal Monte Dourado e o empreendedor Ludwig saiu definitivamente da Amazônia por motivos políticos, em 1982. A nova empresa era composta de 23 empresários nacionais, entre eles Augusto Trajano de Azevedo Antunes escolhido pelo governo para administrar a empresa. Mas em toda a história do Jari registra-se que é inegável a ocupação do território, além de promoção de desenvolvimento, que não seria possível sem a presença do empreendedor americano Daniel Ludwig. Hydros EP518.RE.JR201 72 de atividades agropecuárias. Entretanto, na região norte, as restrições para ocupação são maiores, conforme será exposto no item a seguir. 4.5.2.2 Características, Distribuição Espacial das Categorias de Uso e Ocupação do Solo e Respectiva Intensidade de Uso As características atuais de uso do solo na bacia em estudo podem ser visualizadas no desenho Nº EP518.A1.JR.08-043 (Fig. 087), intitulado “Mapa da Organização Territorial – Planta,” resultante do desenho Nº EP518.A1.JR.08-009 (Fig. 076), intitulado “Mapa de Cobertura Vegetal e Uso do Solo - Planta”, desenho Nº EP 518.A1.JR.-08-018 (Fig. 066), intitulado “Mapa de Aptidão Agrícola das Terras- Planta”, e desenho Nº EP518.A1.JR-08-011 (Fig. 086), intitulado “Mapa de Circulação e Comunicação – Infraestrutura e Telecomunicações Planta”, apresentados no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. O primeiro desenho demonstra que a bacia pode ser dividida primeiramente em duas grandes zonas: a primeira constituída de zona de vegetação sem interferência antrópica, e a segunda correspondente à zona antropizada. A primeira zona localiza-se genericamente na porção norte da bacia, constituindo-se de Floresta Ombrófila Densa Submontana que pode ser subdividida em dosséis uniforme e emergente. No extremo norte ainda pode ser encontrada uma pequena faixa de Floresta Ombrófila Densa Montana de dossel emergente. Nesta zona é onde se concentram as áreas territoriais especiais, onde o uso é totalmente restritivo ou controlado, com destino e delimitação definida. São as áreas identificadas como Unidades de Conservação e Terras Indígenas. As Unidades de Conservação de Proteção Integral (Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Reserva Biológica do Maicuru e Estação Ecológica do Jari) delimitam as áreas de uso proibido. Por sua vez, as Unidades de Conservação de Uso Sustentável (Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Desenvolvimento Sustentável e Floresta Estadual do Paru) delimitam as áreas de uso controlado, dirigidas para garantir a sobrevivência das populações tradicionais, cuja existência depende de exploração dos recursos naturais. As Terras Indígenas são áreas de uso exclusivo da população indígena (TI Waiãpi, TI Tumucumaque e TI Rio Paru D’Este). A localização e as características destas áreas territoriais especiais encontram-se descritas no componente-síntese Ecossistemas Terrestres, no item específico de Unidades de Conservação, e no componente-síntese Populações Indígenas. Já a segunda zona, que é antropizada e apresenta certa organização territorial, encontra-se na porção sul da bacia. É onde se localiza a região mais baixa da bacia em estudo, propícia ao assentamento humano e desenvolvimento de atividades agropecuárias, como pode ser observado nos desenhos relativos à geologia, Nº EP518.A1.JR-02-013 (Fig. 080), intitulado “Mapa Geológico – Planta”, à geomorfologia, Nº EP518.A1.JR-02-014 (Fig. 065), intitulado “Mapa Geomorfológico – Planta” , à hipsometria, Nº EP518.A1.JR-02-018 (Fig. 061), intitulado “Mapa Hipsométiico – Planta”, à declividade, Nº EP518.A1.JR-02-019 (Fig. 059), intitulado “Mapa de Declividade – Planta”, à sombreamento, Nº EP518.A1.JR-02-020 (Fig. 62), intitulado “Mapa de Sombreamento – Planta”, e, principalmente, de aptidão agrícola das terras Nº EP518.A1.JR-08-018 (Fig. 066), intitulado “Mapa de Aptidão Agrícola das Terras – Planta”, apresentados no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Hydros EP518.RE.JR201 73 São nestas terras baixas que se localizam as áreas consideradas como de aptidão agrícola mais favoráveis na bacia em estudo. Podem ser identificadas três categorias de aptidão agrícola: boa, regular e baixa. A maioria destas terras baixas pode ser classificada como de aptidão e fertilidade regular, estendendo-se tanto à margem direita como à esquerda do rio Jari, e que se estende até o limite da bacia. Nesta área, o desenho Nº EP518.A1.JR-08-009 (Fig. 076), intitulado “Mapa de Cobertura Vegetal e Uso do Solo – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, indica a presença predominante de área de Reflorestamento de Eucaliptos, situada nas duas margens do rio Jari50, onde se encontram também as estradas de ligação para Monte Dourado, sede da Jari Celulose S.A. Estas empresas escoam os produtos explorados, dando destino para Belém, e deste, para outros pontos dentro e fora do país. Esta área concentra o maior desenvolvimento da bacia, focada na indústria de transformação, e extrativismo vegetal e mineral. Laranjal do Jari concentra sua economia na exploração de recursos minerais, madeira, castanha e agricultura. Vitória do Jari baseia a sua economia na pecuária e na agricultura. Desta forma, esta área de aptidão regular apresenta usos que aproveitam as peculiaridades locais, sendo utilizadas para atividades agrícolas, pecuária e exploração mineral. Estas atividades encontram-se mescladas com vegetações naturais, como Florestas Ombrófilas Densas Submontanas, Floresta Ombrófila Aberta Submontana, Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, Floresta Ombrófila Densa Aluvial e Formações Pioneiras com influência fluvial ou lacustre. Já as áreas consideradas de aptidão boa são de menor extensão que as anteriores e constituem as faixas que se situam junto às margens do rio Jari, cuja largura varia. Ela se alarga a medida que o rio Jari se aproxima da sua desembocadura com o rio Amazonas. É onde a fertilidade é melhor que em outras áreas ou trechos de rios. Conforme o desenho de Cobertura Vegetal e Uso do Solo já citado, esta área de fertilidade boa apresenta áreas identificadas como Vegetação Secundária sem Palmeiras, Floresta Ombrófila Densa Aluvial e Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e Formações Pioneiras com influência fluvial ou lacustre. As áreas de fertilidade baixa desta zona antropizada encontram-se na margem esquerda e nas áreas mais elevadas da margem direita dessa região. Nestas áreas, que não oferecem condições tão ideais para o desenvolvimento de atividades agrícolas, o desenho de Cobertura Vegetal e Uso do Solo acusa a presença de Floresta Ombrófila Densa Submontana, mesclada com a Floresta Ombrófila Densa Terras Baixas, com áreas de Reflorestamento de eucalipto e uma pequena área de uso pecuário. Em termos de intensidade de uso, pode-se afirmar que o uso existente na bacia não é intenso, em função da presença predominante de atividades primárias51, e de uso extensivo, mescladas com vegetação ainda natural, identificadas no desenho. Por outro lado, a análise da dinâmica populacional, especialmente do histórico da ocupação e da evolução da população rural e urbana, confirma a presença concentrada da população urbana nas sedes municipais (de Laranjal do Jari e Vitória do Jari), na vila Monte Dourado (onde se localiza a sede da empresa Jari Celulose S.A) e no distrito de Munguba (onde se localiza a fábrica de Caulim da Amazônia S.A). Estas áreas urbanas são de pequenas 50 O Projeto Jari tem área de reflorestamento, onde 55% da área estão localizadas no estado do Pará, à margem direita do rio Jari e 45% no estado de Amapá, à margem esquerda do rio Jari. 51 As atividades primárias desenvolvidas na bacia em estudo foram descritas no item “Evolução da População Rural e Urbana” Hydros EP518.RE.JR201 74 dimensões, como podem ser visualizadas no desenho Nº EP518.A1.JR-08-026 (Fig. 089), intitulado “Mapa de Subárea – Componente-síntese: Organização Territorial – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, constituindo “pequenas ilhas” no interior da área compreendida na região sul da bacia. A população rural é bastante escassa, mas podem ser encontradas nos povoados, aglomerados rurais e nas chamadas “comunidades rurais”, de menores dimensões que vilas ou povoados. 4.5.2.3 Função do Recurso Hídrico na Organização do Território Como foram abordados nos itens “Processo Histórico de Ocupação” e “Evolução, Estrutura e Distribuição da População Urbana e Rural”, os rios e seus afluentes desempenharam papel importante na organização do território na bacia, assim como no resto do país. O rio constituiu a entrada para a penetração no interior da bacia, apesar de todas as dificuldades quanto às condições de navegabilidade destes rios. Ainda, outras condições locais não foram nem um pouco favoráveis para a ocupação do espaço na bacia em estudo. São elas: matas densas e fechadas, topografias desfavoráveis, doenças desconhecidas da região tropical, presença hostil de alguns indígenas, entre outros. Na história do país, os rios foram meios de comunicação e transporte de pessoas e mercadorias. Mais tarde são abertas estradas, mas, muitas vezes elas acompanham o curso dos rios, pois estes já são de fácil reconhecimento. Somente mais tarde é que são abertas estradas que cortam transversalmente os rios, de forma a permitir conexões entre regiões de interesse. Assim, os rios têm constituído um recurso muito importante na política de desenvolvimento socioeconômico do país, mas não tem sido ainda a tônica para a margem esquerda do rio Amazonas, onde se situa a bacia em questão. No caso da bacia do rio Jari, a principal razão para a ocupação foi a disponibilidade de recursos naturais exploráveis, como madeira e minério, identificados pelo empreendimento Jari Celulose. Esse empreendimento reuniu as condições necessárias para a exploração, implantando as infraestruturas básicas, incluindo as chamadas company towns. Essas são as cidades construídas exclusivamente para atender as necessidades do empreendimento, introduzindo uma nova paisagem e um novo estilo de vida que contrastam com a população regional (GONÇALVES, 2005). O resultado da implantação dessas company towns, na margem direita do rio Jari (Monte Dourado e CADAM), foi a formação gradual de assentamentos precários nas suas proximidades, tomada pela população que não conseguiu se qualificar para ocupá-las, mas que atendem as necessidades do empreendimento e da população da company town. Na proibição de se fixar na mesma margem, a população acabou se fixando na outra margem, formando uma das maiores favelas fluviais do mundo. São o “Beiradão”, que se localizou na margem oposta ao Monte Dourado e o “Beiradinho”, na margem oposta à CADAM, ambos na margem esquerda do rio Jari. O empreendimento Jari Celulose se valeu da navegabilidade do rio Jari para o escoamento de sua produção, transformando o rio como parte do sistema de comunicação e transportes. A ligação do rio Jari com o rio Amazonas, transforma o sistema de comunicação e transporte desde um nível regional até internacional. Para a população da região, o rio tem caráter local. A comunicação cotidiana se dá através de fluxos entre a margem esquerda e direita do rio Jari, enquanto a comunicação esporádica para atender às necessidades da população ribeirinha ocorre ao longo do rio Jari e seus afluentes. Hydros EP518.RE.JR201 75 A Figura 4.5.2-1, intitulada “Localização dos Principais Núcleos da Bacia do Rio Jari”, demonstra não só a barreira física que o rio Jari faz entre a company town e a comunidade local, bem como laço de união entre as mesmas pelas idas e vindas de pessoas, demonstrando que o rio Jari faz parte integrante da organização territorial na bacia em estudo. Uma análise desta região demonstra que a ocupação antrópica ocorre somente nos trechos onde se verifica a navegabilidade do rio, no caso até a Cachoeira Santo Antônio, que se localiza a aproximadamente 20 km ao norte da sede municipal de Laranjal do Jari. Fonte: Imagem LANDSAT. S/Escala. Figura 4.5.2-1 – Localização dos Principais Núcleos da Bacia do Rio Jari Pode-se depreender que o rio Jari faz parte de um sistema de circulação e transporte vital não só para o empreendimento Jari Celulose, que o utiliza para o escoamento da produção, bem como para a população local, fazendo com que o rio tenha um importante papel no sistema de organização territorial da bacia em estudo. 4.5.2.4 Principais Usos da Água e Estimativa do Contingente de Usuários, por Tipo de Uso Os dados abordados em “Outros Usos da Água” do volume 1 deste documento fornecem parâmetros básicos para o quadro de principais usos da água. Este quadro fornece parâmetros para a bacia em estudo, colocando-a dentro de um contexto regional e nacional. A região norte do Brasil, onde se localiza a bacia em estudo, é a região que apresenta a maior porcentagem de água e onde há uma população considerada bastante pequena. Por esses motivos, a região é a que apresenta a maior quantidade de água/habitante do país. Quanto à disponibilidade hídrica por estados, o estado do Pará é o segundo estado brasileiro em disponibilidade de recursos hídricos, com 19,62% das águas brasileiras (1.124,7 km3/ano), e o estado do Amapá apresenta uma disponibilidade hídrica de 3,41% (196,0 km3/ano). Hydros EP518.RE.JR201 76 Uma informação importante constante no relatório da SECTAM (2005), cuja fonte é da Fundação Getúlio Vargas (1992), é o consumo médio mundial de água na faixa de renda: - Baixa renda: 386 m3/habitante; - Média renda: 453 m3/habitante; e - Alta renda: 1.167 m3/habitante. Levando em consideração que a renda da população na bacia em estudo pode ser considerada como baixa, o consumo é igualmente baixo, portanto de 386 m3/habitante. Desta forma, face à grande disponibilidade de água da região, tem-se o consumo médio pequeno em função da faixa de renda da maioria da população local. Conforme a Tabela a seguir, intitulada “Disponibilidade e Demanda de Recursos Hídricos na Bacia do Rio Jari”, o estado do Pará apresenta uma demanda de água de 114,5 m3/s, onde a grande parte, a demanda é por irrigação (93,49 m3/s), seguida de demanda humana que é muito pequena (12,06 m3/s), animal (7,79 m3/s) e por último industrial (2,00 m3/s). A mesma Tabela demonstra que o estado do Amapá apresenta uma demanda de água de 1,27 m³/s, distribuídas da seguinte forma, 0,57 m³/s é para abastecimento humano, 0,51 m³/s é utilizada para dessedentação animal, 0,19 m³/s é para a demanda industrial, e pode-se observar que a demanda para irrigação é nula, ou próxima a zero. Tabela 4.5.2-2 – Disponibilidade e Demanda de Recursos Hídricos na Bacia do Rio Jari Demanda (m³/s) Humana Irrigação Animal Industrial Total Demanda Total / Vazão (%) Pará 12,06 93,49 7,79 2,00 114,5 0,8 Amapá 0,57 0 0,51 0,19 1,27 0,07 Estado Fonte: CNRH, 2003; ANA / ANEEL, 1998. Nas duas sedes municipais inclusas na bacia, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, o abastecimento de água é gerido através da Companhia de Água e Esgoto do Amapá – CAESA. No ano de 2004, segundo dados da CAESA, os dois municípios juntos consumiram 1.005.128 m³ de água, onde 95% desse consumo representaram consumo doméstico. Já no distrito de Monte Dourado, onde 100% das residências estão ligadas ao sistema de água e esgoto, o abastecimento de água é feito pela SAEE, companhia prestadora de serviços de abastecimento de água em Almeirim-PA. Nas comunidades extrativistas, o abastecimento de água ocorre na forma de poços ou através da captação direta do rio. Hydros EP518.RE.JR201 77 Figura 4.5.2-2 – Principais Usos da Água na Bacia do Rio Jari O uso da água para fins industriais em Vitória do Jari e Laranjal do Jari praticamente não existem. No entanto, em Almeirim, esse consumo é proveniente quase que exclusivamente da Jari Celulose e da Caulim da Amazônia. Em se tratando de agricultura, o uso da água ocorre basicamente para o plantio de culturas destinadas à sobrevivência da população, como a mandioca, a banana e a laranja, sendo este último grande consumidor de água. Com relação à silvicultura de eucalipto usado no Projeto Jari, ao contrário das críticas que costuma receber a respeito do consumo de água, estudos apontam que não há diferença entre o mesmo e as diversas espécies florestais. Segundo Whitehead e Beadle (2004 apud CORTEZ, 2007): “...o eucalipto não consome mais água por unidade de biomassa produzida que qualquer outra espécie vegetal”. O uso da água na pecuária, ou seja, na dessedentação de animais, é mais significativo no município de Almeirim, onde possui 17.687 cabeças de boi e 33.191 cabeças de búfalos. No transporte, os cursos hídricos da região são marcados pela difícil navegação, em função da grande quantidade de trechos encachoeirados e corredeiras, resultados de afloramentos rochosos. As condições de navegabilidade do rio Jari compreendem desde a cachoeira Santo Antônio até a foz. Vale destacar que, em decorrência do intenso fluxo de embarcações de porte variado, este trecho apresenta risco de acidentes, os quais foram minimizados pelo sistema de sinalização náutica instalada e monitorados pela Marinha do Brasil. Esse sistema de sinalização ocorre exclusivamente por interesse da Jari Celulose e da Caulim da Amazônia, onde são transportados caulim e cascas de madeira, através do porto de Munguba. Em menor escala, outro exemplo da difícil navegação dos cursos hídricos da bacia é o rio Iratapuru, onde os catadores de castanha ficam limitados a poucos trechos navegáveis, tidos como a única via de escoamento. Hydros EP518.RE.JR201 78 Portanto, considerando que a bacia em estudo apresenta alta incidência de áreas protegidas de forma legal (UC’s e TI’s no alto e médio Jari), baixa densidade populacional (com alguns núcleos localizados na zona rural) e predominância de silvicultura (que ocorrem no baixo Jari), o nível de utilização dos recursos hídricos é bastante baixo. Dentre os principais usos dos recursos hídricos da bacia apontados, o mais significativo é o transporte, principalmente em função do empreendimento Jari Celulose. 4.5.2.5 Relações Urbano-Rurais e Padrões de Assentamento 4.5.2.5.1 Relações Urbano-Rurais As relações urbano-rurais da bacia do rio Jari foram estabelecidas de uma forma especial, pois a partir do projeto Jari, das empresas Jari Celulose S.A e da CADAM, que se localizam na porção sul da bacia em estudo, é que se desenvolveram áreas urbanas e rurais, criando uma relação entre as mesmas. Desta forma, a estrutura montada para o funcionamento e desenvolvimento destes dois empreendimentos é que determinou a estrutura da área urbana e rural, e a relação entre as mesmas. Quando a Jari Florestal e Agropecuária S.A iniciou suas atividades em 1967, a região se limitava a poucos núcleos populacionais. O empreendimento tinha onze filiais, em torno das quais verificavam aglomerações populacionais. Para o desenvolvimento dos empreendimentos, foram criadas estruturas de produção, bem como as bases de apoio para os trabalhadores dos empreendimentos, formando os “company towns”. Além disso, foram criadas as estruturas de armazenagem, e de escoamento da produção, com destino definido (exportação e para o consumo interno). Recuperando o histórico dos empreendimentos da Jari Celulose, apresentado no item anterior, as áreas urbanas e rurais que não fazem parte direta do empreendimento, se instalaram nas imediações das fábricas e “company towns”, desenvolvendo atividades complementares e marginais ao do empreendimento e aos trabalhadores. Desta forma, os fatores atuais presentes na bacia do Jari resultaram das redes de fluxos de pessoas e produtos consequentes da presença da empresa Jari Celulose, instalada na região na década de 196052, tanto no lado amapaense quanto no lado paraense. Na bacia em estudo, tanto a área rural como algumas poucas áreas urbanizadas localizam-se predominantemente na parte sul. Dentre as relações urbano-rurais destacam-se aquelas que ocorrem em função de dois tipos básicos de atividades produtivas e dos deslocamentos das populações. O primeiro tipo diz respeito ao escoamento da produção extrativista vegetal, que ocorre no distrito de Monte Dourado, pertencente ao município de Almeirim/PA. A produção é levada até a localidade de Munguba (área industrial situada em Monte Dourado). O segundo diz respeito ao escoamento da produção rural, resultante de lavoura temporária e de criação de 52 A atual vila de Monte Dourado foi implantada em 1967 pela Jari Celulose no lado paraense (LINS, 1997). Hydros EP518.RE.JR201 79 animais, desenvolvidas por comunidades locais para serem consumidas pelas populações das sedes municipais, como, no caso de Laranjal do Jari e Vitória do Jari. No caso dos deslocamentos de pessoas, estes ocorrem em função de atividades comerciais e de serviços disponíveis nas áreas urbanas. O deslocamento das pessoas da área rural para área urbana ocorre também em função da necessidade de acesso aos serviços públicos, normalmente de saúde, de educação e mesmo de consumo dos produtos disponíveis somente nas áreas urbanas. Convém destacar que na bacia em estudo, a área rural apresenta núcleos populacionais predominantemente no interior do seu território. Estes núcleos exercem um papel importante na manutenção e armazenamento da produção rural. Deles, a produção vai para os núcleos urbanos localizados nas margens dos rios ou para as sedes municipais onde são oferecidos serviços mais diversificados que os primeiros. São os núcleos de Silva Vila do Planalto, Nova Vida, Granja São Miguel, Morcego e São Miguel, localizados no distrito de Monte Dourado, do município de Almeirim/PA. Os núcleos rurais localizados nas margens de rios como Iratapuru, Santo Antônio da Cachoeira, localizados em Laranjal do Jari/AP, e Militão, Munguba e Santo Antônio do Caracaru, localizados em Monte Dourado, Almeirim/PA, localizados nas margens do rio Jari, exercem papel importante para o escoamento da produção, via fluvial, levando a sua produção diretamente para sedes municipais, influenciando diretamente na organização territorial da parte sul da bacia. Destaca-se que as relações urbano-rurais que ocorrem na bacia estão estruturadas no território, condicionadas, principalmente, pela existência de diversos rios e cursos d’água, e de pequenas estradas vicinais. Eles possibilitam os deslocamentos e fluxos de produção e pessoas da Jari Celulose e das localidades das áreas rurais para as áreas urbanizadas. É o caso dos trabalhadores da Jari Celulose, provenientes da sede municipal de Laranjal do Jari que se deslocam para a localidade de Munguba. As cidades e vilas que recebem as produções rurais, em geral, localizam-se nas margens do rio Jari, concentrando-se também na região sul da bacia. São os casos das cidades de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, sedes dos municípios de mesmos nomes, além de Monte Dourado que é classificada pelo IBGE (2003) como vila, e Bandeira como povoado. Elas recebem as produções, promovem o armazenamento e o escoamento das mesmas, tornando-se importantes canais entre os produtores e os consumidores. Nelas existem também serviços característicos de áreas urbanas que possibilitam atender as necessidades básicas tanto da população urbana como da rural, de competência de órgãos e instituições públicas. Os serviços referem-se especialmente à educação, saúde, comunicação, cultura e lazer, além de serviços de assistência agrícola, relacionados a formas de produção e financiamento das produções das comunidades rurais, e de aspectos relacionados à posse da terra. Como exemplos de produção rural de expressão local, podem ser citadas a castanha-do-brasil e a banana, colhidas e plantadas pela comunidade local, que são levadas da área rural para as sedes municipais. O escoamento para comercialização é feito através de rios e pequenas estradas vicinais. Partes das produções temporárias de comunidades localizadas na área rural, mas no entorno da sede, também percorrem os mesmos rios e as mesmas pequenas estradas vicinais. São denominadas localmente de periferia da sede, devido à sua localização periférica. Também ocorrem deslocamentos de moradores das comunidades localizadas em áreas rurais para as sedes municipais de Laranjal do Jari/AP, Vitória do Jari e para a vila de Monte Dourado, para a utilização de serviços públicos. Isso ocorre pois muitas comunidades Hydros EP518.RE.JR201 80 localizadas na área rural não dispõem de serviços básicos como, por exemplo, educação e saúde. O meio de transporte mais utilizado pelas populações é o fluvial, complementado pelo terrestre, realizado em vias não pavimentadas, ou seja estradas vicinais, existentes nas proximidades das sedes municipais, no lado amapaense, e da vila de Monte Dourado, no lado paraense. A Comunidade Iratapuru, localizada na área rural de Laranjal do Jari/AP, mais especificamente na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, escoa para o distrito de Monte Dourado, no município de Almeirim/PA, a sua produção de derivados do extrativismo da castanha-do-brasil, da árvore breu branco e da árvore da copaíba. São levados até a área urbanizada de Monte Dourado e posteriormente são transportados para Belém, capital do estado do Pará. Fora desta região sul, a bacia em estudo conta com três núcleos localizados no extremo sul do território da bacia, denominados Bom Jardim, Saudade e Boca do Jari. Eles se localizam nas margens do rio Jari, no município de Almeirim/PA, mais próximos ao rio Amazonas. Estas comunidades vivem de exploração de recursos florestais, cuja região do entorno se caracteriza pela alta frequência de palmeiras e elementos arbóreos de grande porte, com porções com dominância de herbáceas. 4.5.2.5.2 Padrões de Assentamento Quanto a padrões de assentamento, verifica-se que, de forma geral, as comunidades localizadas na bacia apresentam características comuns da região norte do país, em função de suas características regionais (clima, disponibilidade de material, padrão sócio econômico da população, entre outros) e ao seu processo histórico de ocupação, embora cada comunidade possa apresentar padrão específico em função desses mesmos fatores que podem diferir de um local para outro. No município de Laranjal do Jari/AP, a sede municipal apresenta um padrão urbano básico, com infraestrutura básica, com algumas ruas e avenidas pavimentadas e construções predominantemente baixas de alvenaria e de madeira. Essa última é muito utilizada em função da grande disponibilidade de material na região. O seu histórico de ocupação demonstra que por ter sido criada em 1987, para a colonização do rio Jari e do funcionamento do projeto Jari Florestal, tem um padrão bom, considerando a inserção na região norte do país. Já no seu entorno, como qualquer área periférica, as vias deixam de ser pavimentadas, passando para terra, além das construções serem sem acabamento. As construções comerciais e de serviços se mesclam entre residenciais entremeadas pelas construções industriais, apresentando um quadro mais caótico que o centro. O chamado Beiradão, localizado no município de Laranjal do Jari, constitui um grande favelão, com construções de madeira, muitas delas avançando sobre as águas do rio. São construções de palafitas, típicas das margens do rio na região norte do país. O quadro de Beiradão é bastante caótico, com predominância de comércio de produtos alimentícios, coexistindo com o comércio de eletrodomésticos, produtos de higiene e de vestuário, além de serviços de hotelaria. É neste ambiente que se localiza um pequeno porto, onde se concentram serviços de travessia a barco para outra margem do rio Jari, alcançando a vila Monte Dourado. Parte da população local se serve dele para se deslocar até o local de Hydros EP518.RE.JR201 81 trabalho, em Monte Dourado. Essa população se vale de bicicleta ou lotação para chegar até este pequeno porto, sendo que as catraias53, não só transportam a população, mas também as bicicletas e pequenas cargas. A vila de Monte Dourado apresenta um bom padrão de assentamento por ter sido planejada pelo Projeto Jari Celulose. As ruas são pavimentadas e, por ser vila, ainda não apresenta uma situação caótica e desordenada. Os materiais utilizados nas construções são predominantemente de alvenaria e de madeira. O comércio e o serviço existentes são pouco variados, mas de padrão bom, pois atendem tanto a população que habita a área urbanizada de Monte Dourado quanto as populações das localidades de Munguba (área industrial). No interior da área rural de Laranjal do Jari/AP, existem algumas comunidades, cujas habitações estão agrupadas formando núcleos. Elas existem em função de atividades rurais, de lavoura temporária, de criação de animais ou de extrativismo. As suas vias de acesso são de terra, e são denominadas de ramais pela população local. Algumas comunidades têm certo nível de infraestrutura, como eletricidade, educadores e agentes de saúde, além de padres ou pastores que comparecem com certa periodicidade, que podem variar de um a três meses. Nestes casos, normalmente existe um representante na comunidade que é um líder social e religioso, inclusive com representação junto a órgãos públicos para o atendimento de suas necessidades. As comunidades de Iratapuru e Santo Antônio da Cachoeira têm um bom padrão de assentamento, com construções planejadas de madeira e fornecimento de energia elétrica. Na realidade, estes núcleos têm bom padrão de assentamento por possuir caráter empresarial, estando vinculado a um único proprietário do solo. Outra forma de ocupação das comunidades é a isolada, encontradas normalmente nas margens dos rios. Suas habitações são de madeira, ocorrendo pequenas plantações de subsistência nas proximidades. Tem-se dessa forma, na bacia do rio Jari, a ocupação do território estruturada vinculando-se à infraestrutura implantada pela Jari Celulose, o que reflete nas tipologias de assentamento dos grupos humanos. Assim, as áreas urbanizadas do lado paraense (distrito de Monte Dourado e de Munguba) surgiram em decorrência do Projeto Jari, constituindo um assentamento totalmente planejado, exclusivo para a produção e funcionários da empresa. São as chamadas company-towns. Já as áreas urbanas de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, do lado amapaense, surgiram em decorrência de um processo de ocupação totalmente caótico e sem planejamento. Nas áreas rurais apresentam-se também diferenças no lado paraense e no lado amapaense. No lado paraense, os assentamentos rurais estão estruturados por uma infraestrutura que atende as necessidades, prioritariamente, da empresa Jari Celulose, onde são desenvolvidas a silvicultura e os assentamentos organizados, localizados no distrito de Monte Dourado. E já no lado amapaense, os assentamentos são espontâneos, caóticos e sem nenhum tipo de planejamento racional. Eles se concentram tanto na periferia da área urbanizada de Laranjal do Jari, quanto distribuída de forma rarefeita no entorno de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, onde o acesso principal é a via fluvial. 53 Pequenos barcos tripulados por apenas um homem. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.3 82 CIRCULAÇÃO E COMUNICAÇÃO O Diagnóstico Socioambiental da Circulação e Comunicação da bacia hidrográfica do rio Jari objetiva caracterizar os principais fluxos de circulação de pessoas, bens e serviços, baseados em sua infraestrutura, e no papel exercido na organização territorial. As análises se basearam nas informações secundárias, obtidas dos órgãos federais, estaduais e municipais, e das instituições de caráter privado que atuam no Estado. 4.5.3.1 Localização e Hierarquia Funcional dos Municípios Inseridos na Bacia Hidrográfica do Rio Jari Os municípios que fazem parte da bacia hidrográfica do rio Jari são: Almeirim, Laranjal do Jari, Mazagão e Vitória do Jari. A bacia apresenta municípios dos estados do Pará e do Amapá, sendo o rio Jari o limite dos dois estados. Segundo a Tabela 4.5.3-1, intitulada “Percentual da Área dos Municípios Pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Jari”, os municípios que apresentam maior destaque, por apresentarem grandes porcentagens de sua área inserida na bacia do rio Jari, são: Laranjal do Jari, que tem cerca de 91% de todo o seu território inserida na bacia, seguido de Vitória do Jari e Almeirim. Esses dois últimos apresentam, aproximadamente, 43 e 36% de seus territórios inseridos na bacia hidrográfica do rio Jari, respectivamente. E por último, apresentando o menor percentual (14%), tem-se o município de Mazagão. Tabela 4.5.3-1 – Percentual da Área dos Municípios Pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Jari Área Total km² (A) Área na bacia - Total km² (B) % (B)/(A) Almeirim/PA 72.960 26.331 36,09% Laranjal do Jari/AP 30.966 27.951 90,26% Mazagão/AP 13.131 1.900 14,47% Vitória do Jari/AP 2.483 908 36,55% Município/UF Fonte: IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil 2005 (acesso em: 4 set. 2007); IBGE, Cidades – representação política 2004 (acesso em: 6 jul. 2007). Os municípios amapaenses de Laranjal do Jari, Mazagão e Vitória do Jari estão localizados na microrregião de Mazagão, que por sua vez está localizada na mesorregião do Sul do Amapá. E o município paraense de Almeirim localiza-se na microrregião de Almeirim, que está inserida na mesorregião do Baixo Amazonas, conforme podem ser verificadas nas figuras apresentadas no item 4.5.4 “Organização Político-Administrativa”. Dentre estes municípios, Almeirim destaca-se por ter em seu território a sede da empresa Jari Celulose S.A. Esta se situa em Monte Dourado, distrito do município de Almeirim. A presença desta indústria numa região de pouca ocupação e baixa densidade demográfica Hydros EP518.RE.JR201 83 acabou provocando uma grande transformação na região: aumentou e melhorou a infraestrutura, e a cidade ficou significativamente maior e mais rica que as outras da região. Esta situação fez com que o conjunto Monte Dourado, municípios de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, e os demais núcleos populacionais, apresentassem funções e hierarquias diferenciadas na região onde se inserem, tanto a nível local como regional, extrapolando-se inclusive para os dois estados, o do Pará e o de Amapá. O conjunto Monte Dourado, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, onde se verifica o maior contingente populacional e a presença marcante de indústria de transformação, serviços e comércio, integra-se com os pólos regionais presentes na região norte do Brasil como Macapá, Belém e Manaus. E a partir destes pólos, o conjunto mencionado conecta-se a outros pólos regionais do país e mesmo do exterior. A conexão se dá em função da exportação de produtos da empresa Jari Celulose S.A e do escoamento de mercadorias e de fluxo de pessoas, cujos meios variam desde a via férrea (de propriedade da empresa Jari Celulose), via fluvial (rio Jari e rio Amazonas) e marítima (oceano Atlântico), até via aérea (aeroporto de Monte Dourado e pousos particulares da Jari Celulose S.A.) e rodoviária (federal, estadual e municipal). Os rios ali presentes são navegáveis e muito utilizados não apenas para escoamento de produção, seja ela grande ou pequena, mas também para atender passageiros que se deslocam grandes distâncias, como a população ribeirinha. Esse quadro de hierarquização diferenciada do conjunto de Monte Dourado, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, e demais pólos regionais da região norte do Brasil, pode ser melhor compreendido tomando-se como referências a classificação das localidades existentes na bacia (IBGE, 2003) e os sistemas que as conectam, tanto internamente à bacia quanto regionalmente, na região norte e ao restante do território brasileiro. A Figura 4.5.3-1, intitulada “Diagrama da Hierarquia Funcional das Localidades da Bacia no Contexto Regional”, ilustra a rede de conexões na qual está inserido o conjunto mencionado e os pólos regionais, e quais são as principais relações de interação de âmbito regional. Hydros EP518.RE.JR201 84 Figura 4.5.3-1 – Diagrama da Hierarquia Funcional das Localidades da Bacia no Contexto Regional Os núcleos urbanos de maior expressão nos municípios integrantes da bacia são as sedes municipais de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, no estado do Amapá e, no município de Almeirim/PA, a vila de Monte Dourado e a localidade de Munguba. Cada um destes núcleos apresenta características funcionais próprias dentro do contexto da bacia do rio Jari: Monte Dourado e Munguba constituem “company-towns” da Jari Celulose S.A e as sedes municipais constituem as cidades satélites que foram se aglomerando ao redor das “company-towns”, chegando a constituir os maiores favelões fluviais conhecidos na região amazônica, onde é oferecida uma gama diversificada de serviços e comércio local. A Figura 4.5.3-2, intitulada “Diagrama da Hierarquia Funcional dos Núcleos Urbanos da Bacia nos Contextos Local e Regional” ilustra a rede de conexões dos núcleos urbanos situados internamente na bacia do rio Jari e as principais relações de interação de âmbitos local e regional. Hydros EP518.RE.JR201 85 Figura 4.5.3-2 – Diagrama da Hierarquia Funcional dos Núcleos Urbanos da Bacia nos Contextos Local e Regional 4.5.3.2 Localização, Características e Importância Relativa dos Sistemas Rodoviário, Hidroviário, Ferroviário e Aeroviário A região da bacia em estudo é servida por quatro sistemas de transporte: rodoviário, hidroviário, aeroviário e ferroviário. No entanto, somente Monte Dourado apresenta-se servido pelos quatro sistemas de transporte, enquanto que as demais localidades estão servidas de pelo menos um dos sistemas, no qual os sistemas rodoviário e hidroviário são os mais utilizados pela população local. 4.5.3.2.1 Sistema Rodoviário O sistema rodoviário existente na bacia em estudo é formado por rodovias federais, estaduais e municipais, as quais serão apresentadas a seguir. a) Rodovias Federais O sistema rodoviário federal na bacia em estudo é constituído por duas rodovias: a BR-210 e a BR-156. A administração das rodovias se encontra sob a competência do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre – DNIT. A BR-210, também conhecida como Perimetral Norte, liga a capital do estado do Amapá Macapá, localizada no sudeste do estado, à Terra Indígena Waiãpi, localizada à oeste do Hydros EP518.RE.JR201 86 estado do Amapá. Passa pelas sedes dos municípios de Porto Grande e Serra Grande do Amapari. Cabe lembrar que o seu traçado original atravessava a TI Waiãpi, prolongando-se na direção leste-oeste, passando pelas porções norte dos municípios de Laranjal do Jari/AP e Almeirim/PA, cruzando, deste modo, a região norte da bacia, onde até hoje não se verifica nenhum núcleo urbano. A sede do município de Laranjal do Jari é acessada pela BR-156, principal via que corta o estado do Amapá. Seu primeiro trecho, que corre na direção norte-sul, tem seu início na capital Macapá e termina na sede do município de Oiapoque, extremo norte do estado do Amapá, interligando as sedes dos municípios de Porto Grande, Ferreira Gomes, Tartarugalzinho, Amapá e Calçoene. O segundo trecho da BR-156 liga o município de Laranjal do Jari à capital do estado do Amapá, na direção leste-oeste. Dos 265 km percorridos até Macapá, apenas 22 são pavimentados, sendo o restante de estrada empiçarrada, quando a estrada termina na sede de Laranjal do Jari. A grande necessidade e aspiração da população de Laranjal do Jari está na conclusão e pavimentação da BR-156, até o cruzamento do km 22 para Macapá. Tal empreendimento facilitará, em muito, o deslocamento rodoviário, facilitando a interligação da sede municipal com a zona rural. b) Rodovias Estaduais Segundo o Mapa Rodoviário do Amapá (DNIT, 2002), não há nenhuma rodovia implantada que possibilite dar acesso à bacia do rio Jari. No entanto, o mesmo órgão apresenta o planejamento de três rodovias: a AP-010, a AP-140 e a AP-160. As três rodovias estaduais projetadas terminam próximo a localidades situadas na parte sul da bacia, no município de Vitória do Jari. A AP-010 origina-se no núcleo de Vida Nova, localizado no município de Vitória do Jari. A rodovia segue rumo nordeste, de Vida Nova até a capital do estado, atravessando as sedes municipais de Mazagão e Santana. Já as rodovias AP-140 e AP-160 são paralelas entre si. A AP-140 parte do núcleo de Vida Nova em Vitória do Jari e segue em direção noroeste até encontrar a AP-310 (extremo norte do estado do Amapá), cruzando a BR-156 e a sede do município de Serra do Navio. A segunda rodovia, AP-160, inicia-se no núcleo de Boca do Jari, em Vitória do Jari, e segue rumo noroeste até encontrar a sede de Laranjal do Jari. No lado paraense, conforme o Mapa Rodoviário do Pará (DNIT, 2002), também não se encontram rodovias implantadas de porte que pudessem dar acesso à bacia do rio Jari, com exceção da PA-473. Há também uma rodovia planejada: PA-254. A rodovia PA-473, mencionada, está implantada mas não pavimentada, estando coberta somente com revestimento primário (GEO PARÁ, 2005). A PA-473 inicia-se na sede do município de Almeirim/PA, passa pela localidade de Serra Azul, prolongando-se até a vila de Monte Dourado, percorrendo assim uma extensão aproximada de 88 km. O planejamento da rodovia PA-254 tem sua origem próximo ao núcleo Saudade, pertencente ao município de Almeirim, segue em direção leste-oeste, atravessa diversos núcleos e povoados paraenses até ligar-se à sede do município de Faro, no extremo oeste do estado do Pará, fazendo divisa entre o estado do Pará e o estado do Amazonas, totalizando um percurso de estrada empiçarrada próximo a 648 km, paralelo ao rio Amazonas. c) Estradas Municipais Hydros EP518.RE.JR201 87 A malha de estradas municipais localiza-se de forma predominante no sul da bacia em análise, próxima à sede do município de Laranjal do Jari, conforme o desenho Nº EP518.A1.JR-08011 (Fig. 086), intitulado “Mapa de Circulação e Comunicação – Infraestrutura e Telecomunicações - Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. As rodovias municipais podem ser subdivididas em dois grandes grupos: - O primeiro é mais concentrado e se localiza na vila de Monte Dourado e no núcleo Munguba, onde se verifica o maior desenvolvimento da área em estudo, por sediar as empresas Jari Celulose S.A. e Caulim da Amazônia S.A., localizadas no município de Almeirim/PA, na margem direita do rio Jari. - O segundo grupo é constituído pelas rodovias que estão localizadas nos municípios de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, na margem esquerda do rio Jari. Tendo em vista a precariedade das estradas, as rodovias municipais constituem o principal meio de transporte e comunicação das comunidades que se instalaram ao sul da bacia hidrográfica do rio Jari. As estradas municipais são utilizadas por populações ubanas e rurais. A interligação é principalmente de áreas rurais amapaenses para acessarem as sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, e de áreas rurais paraense para se deslocarem para localidades urbanizadas, como a vila Monte Dourado e a localidade de Munguba, “company-towns” da Jari Celulose S.A. Hydros EP518.RE.JR201 d) 88 Frota Rodoviária na Área da Bacia Hidrográfica do Rio Jari Tabela 4.5.3-2 – Frota dos Municípios que Integram a Bacia Hidrográfica do Rio Jari, 2006 Frota Municípios/UF Total % 29,66 1.723 100,00 644 62,65 1.028 100,00 3,03 56 24,24 231 100,00 1 2,33 29 67,44 43 100,00 0,26 87 2,88 1.240 40,99 3.025 100,00 0,28 654 1,07 21.275 34,73 61.264 100,00 Automóveis % Caminhão % Trator % Ônibus % Motocicleta % Almeirim/PA 835 48,46 299 17,35 8 0,46 70 4,06 511 Laranjal do Jari/AP 301 29,28 74 7,20 0 0,00 9 0,88 Mazagão/AP 115 49,78 53 22,94 0 0,00 7 Vitória do Jari/AP 12 27,91 1 2,33 0 0,00 Total dos Municípios 1.263 41,75 427 14,12 8 Estado do Amapá 30.674 50,07 8.488 13,85 173 Fonte: IBGE - Cidades - Frota 2006; Ministério da Justiça. DENATRAN - 2006; Malha Municipal Digital do Brasil: situação em 2006 Hydros EP518.RE.JR201 89 A Tabela 4.5.3-2, intitulada “Frota dos Municípios que Integram a Bacia Hidrográfica do Rio Jari, 2006”, revela que há um percentual elevado de frotas para automóveis e motocicletas, evidenciando que o transporte de bens e cargas, bem como circulação de pessoas, estão sendo realizadas por estes tipo de veículos. Em termos quantitativos, as motocicletas apresentam uma variação de 24% até 67% nos municípios analisados. Os automóveis representam em torno de 27% até 49% das frotas. Ainda na Tabela 4.5.3-2, Vitória do Jari e Mazagão são os municípios que apresentam a menor frota total entre os municípios analisados, apresentando 43 e 231 veículos, respectivamente. No entanto, destaca-se que o município de Vitória do Jari é o que possui a maior percentagem de motocicletas, aproximadamente 67%, enquanto o município de Mazagão apresenta o maior percentual de automóveis, cerca de 49%, porém sua sede municipal não se encontra inserida na bacia do Jari. Desta forma, um ponto importante é o percentual reduzido de ônibus em todos os municípios. O meio de transporte público usual na bacia é a lotação, em que são utilizados automóveis, razão pelo qual o número de automóveis é relativamente alto, considerando-se o nível de urbanização da bacia. Considerando o tipo de topografia predominante na bacia, a população local se serve também de bicicletas, complementado o trajeto com barcos, quando necessário. Já os caminhões e tratores funcionam para zonas rurais e para transporte de cargas pesadas na zona urbana, representando uma percentagem muito pequena dentro das frotas. 4.5.3.2.2 Sistema Hidroviário O rio Jari é o divisor entre os estados do Amapá e do Pará. Nasce na serra do Tumucumaque, segue a direção norte-sul e deságua na margem esquerda do rio Amazonas, apresentando cerca de 785 km de extensão. A navegação do rio Jari é administrada pela Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental – AHIMOR e é navegável desde sua foz até a cachoeira Santo Antônio, totalizando 110 km de extensão. Apresenta profundidades mínimas de 2,5 m na estação das secas (agosto a janeiro), elevando-se a valores superiores a 4 m, no período das cheias (fevereiro a julho). Outros trechos fluviais são utilizados pela população da bacia para se locomover. Entre eles estão os trechos utilizados pela comunidade da RDS do Iratapuru, localizada a montante da cachoeira Santo Antônio, no lado amapaense, e por moradores das comunidades que vivem em localidades da região da Jari Celulose, próximas à localidade de Munguba. Um dos principais deslocamentos de pessoas ocorre, cotidianamente, entre a sede de Laranjal do Jari/AP e a vila de Monte Dourado, no deslocamento de trabalhadores que cruzam o rio Jari em pequenos barcos para irem trabalhar na fábrica da Jari Celulose, em Munguba. O transporte coletivo é oferecido pela empresa e parte da vila de Monte Dourado. Compõem também o sistema de transporte fluvial da região em estudo, 2 (dois) portos: um terminal portuário de uso privativo da CADAM, localizado em Munguba, na vila de Monte Dourado, onde a dragagem do rio permite o tráfego de navios com capacidade de 12.000 tpb; e outro localizado no distrito de Santo Antônio do Guarucaru, demonstrando que mesmo numa região onde o sistema fluvial é relativamente abundante, a infraestrutura do sistema de transporte hidroviário é reduzida para atender o deslocamento de pessoas e transporte de cargas. Hydros EP518.RE.JR201 90 Destaca-se que as produções de caulim e de celulose são escoadas para fora da bacia através de navios que partem do porto de Munguba em direção ao rio Amazonas, após passarem pela foz do rio Jari. Apesar de nem todos os cursos d’água serem considerados oficialmente hidrovias, são bastante utilizados pelas populações ribeirinhas, como as localizadas no lado paraense, no entorno de Munguba, e pelas localizadas em comunidades distantes da sede de Laranjal do Jari, como a Comunidade Santo Antônio e Comunidade São Francisco do Iratapuru. Nessa última, os moradores utilizam não somente os rios, mas também estradas não-pavimentadas, para se deslocarem até a sede de Laranjal do Jari. O que se pode constatar na bacia em estudo é a utilização muito comum da via fluvial como meio de transporte, pois permite acessar várias localidades, que normalmente se encontram junto às margens dos rios ou próximas a estas. É o meio de transporte mais barato, rápido, acessível a qualquer ribeirinho e mesmo para a população urbana que precisa se deslocar de um lugar a outro em função do trabalho diário. 4.5.3.2.3 Sistema Ferroviário O sistema ferroviário na bacia em estudo é constituído unicamente pela estrada de ferro Jari, pertencente à empresa Jari Celulose S.A. A estrada de ferro Jari localiza-se na margem direita do rio Jari, apresentando cerca de 68 km de extensão. Entrou em operação em 1979, construída com o objetivo de transportar a madeira produzida na área rural de Almeirim, no entorno da vila de Monte Dourado, pela Jari Celulose, até o porto de Munguba. Hoje, no entanto, o transporte contempla além da produção madeireira, para a qual fora incialmente projetado, a bauxita refratária, brita e máquinas. O volume transportado pela ferrovia, em 1997, segundo o Ministério dos Transportes (2003), foi de 1,1 milhão de toneladas de mercadorias, o que gerou empregos para 34 funcionários. 4.5.3.2.4 Sistema Aeroviário O sistema aeroviário da bacia do Jari é bastante importante para a mesma, pois proporciona a integração da região sul da bacia à cidade de Belém, pólo regional da Região Norte. Ele opera comercialmente, fazendo a conexão de Monte Dourado à capital paraense. O transporte adequado às necessidades da região é ainda o transporte aéreo em função da escassez de vias terrestres em relação à extensão da área em estudo. A bacia conta com apenas 1 (hum) aeroporto e com 5 (cinco) pistas de pouso para pequenas aeronaves. Um aeroporto, por definição, deve dispor de instalações próprias para os serviços de chegada e partida, carga e descarga, assim como de atendimento, embarque e desembarque de passageiros. O único aeroporto da bacia, localizado na vila de Monte Dourado, no município de Almeirim/PA, recebe vôos de 2 (duas) empresas nacionais: a Meta Linhas Aéreas, que disponibiliza vôos em 4 (quatro) dias da semana (terça-feira, quinta-feira, sexta-feira e domingo), e a Puma Air, com vôos em 5 (cinco) dias da semana (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira), ambas para a cidade de Belém. Quanto a pistas de pouso, que por definição devem apresentar faixa de rodagem para aviões fretados, encontram-se na bacia 5 (cinco) pistas de pousos. Dentre elas, 3 (três) localizam-se no município de Almeirim: duas pistas de pouso situam-se na parte sul da bacia, sendo uma na área onde estão as duas maiores empresas da região, a Jari Celulose S.A. e CADAM, e a Hydros EP518.RE.JR201 91 outra na região de interligação dos garimpos do Pará com Laranjal do Jari; a terceira pista de pouso se fixa no outro extremo da região em estudo, próxima ao trecho planejado da BR-210, no lado paraense da bacia. A quarta pista de pouso localiza-se no município de Vitória do Jari, na parte sul da bacia, próxima à foz do rio Jari, e a quinta pista localiza-se na região do alto curso do rio Mapari, na aldeia Okakai da Terra Indígena Waiãpi, no município de Laranjal do Jari. As pistas de pouso recebem vôos de empresas de táxi aéreo disponíveis na região, de modo a atender as necessidades locais e regionais, sendo a pista de pouso localizada em TI destinada para o uso de órgãos como FUNAI e FUNASA. O transporte aéreo é importante, pois permite através de um deslocamento rápido a conexão com diversas localidades, facilitando o escoamento de produtos e a circulação de pessoas, tanto a nível regional quanto nacional. 4.5.3.3 Outros Sistemas de Infraestrutura e Sistemas de Comunicação Relevantes na Área de Estudo 4.5.3.3.1 Serviços de Comunicação Os serviços de comunicação, capazes de promover uma melhor integração sócio-econômica inter e intra-regional, são indispensáveis no processo de desenvolvimento local e regional. A bacia é servida de sistema de telefonia fixa e móvel, de agência dos correios e de sistema de rádio e televisão. a) Telecomunicações O Sistema de Telecomunicações cobre todo o estado do Amapá através das empresas Telemar-AP e Amazônia Celular. No estado do Pará o sistema de telecomunicações é coberto pelas empresas Telemar-PA, TelePará e Amazônia Celular. Os serviços oferecidos são de Telefonia local, Discagem Direta à Distância - DDD, Discagem Direta Internacional – DDI e Sistema Móvel Celular. Foi constatado em viagem de inspeção socioambiental que, na parte sul da bacia do rio Jari, os telefones celulares são mais populares que as demais modalidades de serviços de telecomunicação, constituídas de telefone fixo ou orelhões. Embora estas últimas modalidades sejam também populares, os celulares são utilizados principalmente nas zonas mais afastadas das sedes urbanas, como nas comunidades ribeirinhas e comunidades localizadas em áreas rurais, uma vez que as modalidades fixas estão disponíveis somente nas zonas urbanas. b) Correios Em relação aos serviços de correios e telégrafos, encontram-se na bacia em estudo 03 (três) agências da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT - que fornecem, além dos serviços postais, serviços bancários básicos, caracterizando-se assim como bancos postais. Estas agências se localizam nas sedes dos municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, no estado do Amapá e a terceira localiza-se na vila de Monte Dourado, no lado paraense. Hydros EP518.RE.JR201 92 O Banco Postal é uma iniciativa da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e constitui uma infraestrutura social de base, pois disponibiliza serviços bancários e financeiros à população que não tem acesso ao sistema bancário normal. Este tipo de serviço tem beneficiado a população, principalmente da zona rural. c) Rádio, Televisão e Imprensa Escrita Atualmente existem muitas emissoras e retransmissoras de rádio e televisão operando na região Amazônica. Além destas, são encontradas também as rádios comunitárias, que contam com um menor raio de alcance, mas que também prestam serviços relevantes à população. Nos municípios amapaenses inseridos na bacia hidrográfica do rio Jari estão presentes a rádio Sociedade e a rádio Comunitária, além da Rádio Laranjal FM, localizada no município de Laranjal do Jari. Segundo a Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Pará (SEPOF/PA, 2007), o município de Almeirim possui uma rádio instalada na sede da SEMA, além de uma rádio particular que ainda presta serviço de grande valia, o de comunicação entre os integrantes da comunidade local e regional. No tocante à comunicação televisiva, os municípios amapaenses inseridos na área em estudo apresentam 4 (quatro) repetidoras, as quais difundem o sinal das principais emissoras de TV do país: Rede Globo, através da TV Amapá; Sistema Brasileiro de Televisão - SBT, pela TV Jari; Rede Bandeirantes, por meio da TV Cidade e por último, tem-se a Rede TV, através da TV Tucuju. O município paraense inserido na área em análise possui 5 (cinco) repetidoras, as quais distribuem o sinal das principais emissoras de TV do país: Rede Globo, através da TV Liberal; Sistema Brasileiro de Televisão - SBT; Rede Record, por meio da TV Record PA; Rede Bandeirantes, através da TV RBA; TV Cultura, pela TV Cultura Pará, e a Rede TV, através da TV Amazônia. Os municípios inseridos na bacia hidrográfica do rio Jari não têm imprensa escrita local. No entanto, circulam pelas sedes dos municípios, no território amapaense da bacia, e na vila de Monte Dourado, em território paraense, periódicos produzidos nas capitais dos estados do Amapá e Pará. Observa-se dessa forma que os meios de comunicação presentes na bacia do Jari estão presentes tanto nas localidades próximas aos núcleos urbanos quanto nas localidades em áreas rurais, dependendo da disponibilidade de infraestrutura, como o raio de abrangência dos sinais para celulares e para canais de televisão. Nos núcleos urbanos, além de telefonia e televisão, há a utilização de rádio. Em localidades rurais mais distantes, os celulares são bastante popularizados e a comunicação pela televisão é viabilizada pela utilização de antenas parabólicas. Por isso a porção sul do território da bacia integra-se, em termos de comunicação, tanto aos estados nos quais está inserida, por meios dos sistemas de telefonia e de rádio difusão, quanto ao território nacional, através da televisão. 4.5.3.4 Relações Origem-destino e Articulação Intermodal A região sul, apesar de apresentar certo nível de urbanização, é ainda precária e formada por sedes municipais, vilas e aglomerados rurais, apresentados no desenho Nº EP518.A1.JR-0843 (Fig. 087) intitulado “Mapa da Organização Territorial – Planta”, apresentado no Volume Hydros EP518.RE.JR201 93 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, onde os sistemas de circulação são importantes na organização do território, pois integram tanto o deslocamento de passageiros e de cargas entre as localidades da bacia quanto entre as localidades da bacia e as localidades externas. As sedes municipais de Laranjal do Jari/AP e Vitória do Jari/AP, além da vila de Monte Dourado/PA e do núcleo de Munguba/PA, que se localizam na região sul da bacia, constituem pontos de destaque nas relações origem–destino. Estas relações ocorrem devido a articulações formadas por uma infraestrutura básica e mínima que atendem o transporte de passageiros e cargas por meio das vias aéreas, fluviais e terrestres. Dependendo do fluxo o deslocamento é considerado intermodal. No único aeroporto presente na bacia, que possui estrutura para comportar embarque e desembarque de passageiros e cargas, os principais fluxos regionais de passageiros de vôos comerciais ocorrem no eixo Belém – Monte Dourado. Fluxos de passageiros ocorrem também em pistas de pouso, quando em deslocamentos entre localidades situadas dentro da própria bacia e de outras localidades, situadas fora da bacia, como a capital amapaense Macapá. Para a pista de pouso da TI Waiãpi, o fluxo de passageiros ocorre principalmente entre a aldeia Okaki e a capital Macapá/AP. Os passageiros que chegam às localidades da bacia por vôos comerciais com destino a Monte Dourado deslocam-se para outras localidades utilizando complementarmente os sistemas rodoviário, formado por estradas vicinais de Almeirim, e hidroviário, atravessando o rio Jari em pequenos barcos para se chegar a Laranjal do Jari, no lado amapaense da bacia. Em relação aos deslocamentos locais de passageiros destacam-se os fluxos de pessoas que saem de Laranjal do Jari/AP para Munguba/PA, utilizando bicicletas nas vias da sede municipal até o porto de Laranjal do Jari, barcos para cruzarem o rio Jari até o porto de Monte Dourado, e ônibus que os transportam do porto de Monte Dourado para Munguba. Esse mesmo percurso é realizado diariamente, sendo os mesmos modais utilizados no retorno para Laranjal do Jari. Esses passageiros utilizam dois sistemas (rodoviário e hidroviário) de forma articulada e intercalada, para chegarem ao local de trabalho, a fábrica da Jari Celulose, em Munguba, e para retornarem para Laranjal do Jari, para suas residências. A vila de Monte Dourado e a localidade Munguba, localizados no município de Almeirim/PA, são os pontos de escoamento de produtos das empresas Jari Celulose S.A. e Caulim da Amazônia S.A. – CADAM – para Belém e desta para outras localidades brasileiras e estrangeiras. Essa área concentra o maior desenvolvimento da bacia hidrográfica do rio Jari, principalmente devido à sua produção focada no setor industrial de transformação e no extrativismo vegetal e mineral, por meio da exportação de celulose e caulim. Os fluxos de produtos exportados da bacia ocorrem em função dos dois principais produtos produzidos na bacia. O fluxo de exportação da produção de caulim ocorre no eixo local “Morro do Felipe (Laranjal do Jari/AP) – Munguba (Almeirim/PA)” e no eixo internacional “Munguba – Europa, Ásia, e pontos no Brasil”, onde são distribuídos. Já o fluxo de exportação da produção de celulose ocorre no eixo local “Monte Dourado – Munguba”, ambos em Almeirim/PA, no transporte de madeiras de eucalipto (matéria-prima), e no eixo internacional “Munguba – Europa, Estados Unidos e Canadá”, onde são distribuídas. Na exportação de caulim é utilizado o porto privado localizado em Munguba, de onde grandes navios levam a produção de caulim da empresa CADAM para o restante do Brasil e para pontos de armazenamento na Europa e Ásia. Destaca-se que a matéria-prima do caulim é extraída em Laranjal do Jari/AP e transportada para a CADAM em Munguba através de minerodutos. Hydros EP518.RE.JR201 94 Para o escoamento da exportação da celulose produzida na bacia, são utilizados os sistemas ferroviário, no transporte de madeira das áreas de reflorestamento da Jari Celulose para a fábrica em Munguba, e hidroviário, para o transporte de celulose do porto privado para outros pontos no Brasil e para os Estados Unidos e Canadá. Já o município de Laranjal do Jari concentra sua economia na exploração de recursos primários (extração mineral, madeireira, castanha-do-brasil e agricultura). Entre estes, a exploração da castanha-do-brasil sobressai das demais, uma vez que esta é voltada à extração de óleo comestível destinado à exportação, através de vários sistemas de transporte. O óleo produzido em comunidades ribeirinhas, chega a Monte Dourado, por via fluvial (rio Jari) e terrestre (estrada vicinal) e, posteriormente, é exportado para Belém/PA. De Belém o óleo é exportado para o interior do estado de São Paulo. Vitória do Jari tem sua economia baseada na pecuária e na agricultura, cujas expressões econômicas na bacia são menos representativas do que o óleo da castanha-do-brasil. O escoamento de sua produção para a sede municipal é realizado através dos sistemas rodoviário e hidroviário. No tocante aos eixos rodoviários imediatamente relacionados à bacia em estudo, destacam-se a rodovia federal BR-156 e a malha municipal. A primeira conecta a sede do município de Laranjal do Jari aos demais municípios amapaenses na direção norte-sul, e as estradas municipais permitem o transporte de pessoas e de cargas entre a área rural e urbana. Há diversas rodovias estaduais (Amapá e Pará) que estão planejadas (DNIT, 2002), sendo que somente a rodovia PA-473, que conecta a vila de Monte Dourado à sede municipal de Almeirim, passando pela localidade de Serra Azul, encontra-se implantada, porém não é pavimentada. As relações origem-destino que ocorrem na rede ferroviária restringem-se ao transporte de bauxita, brita, máquinas e principalmente de madeira de eucalipto das áreas da Jari Celulose, no lado paraense, para a fábrica em Munguba. As produções de celulose e de caulim são levadas para o porto da CADAM, na margem direita do rio Jari, em conjunto com o porto de Santo Antônio do Guarucaru, que se localiza mais à jusante deste rio, possibilitando o escoamento da produção citada anteriormente de forma integrada pelos modais fluvial e ferroviário. Apesar da região contar com as modalidades acima mencionadas, o escoamento da produção mais expressiva, Jari Celulose S.A. e CADAM, realiza-se através do transporte hidroviário. Ele se reveste de grande importância econômica e social sobre os mais diversos aspectos, desde o comercial, com o transporte de cargas pelo rio Jari, até o transporte de subsistência e de passageiros pelo mesmo rio e por outros rios menores como Iratapina, Iratapuru, Noucuru, Mapari, Carecuru, Ipitinga entre outros. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.4 95 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA Nesse item são analisadas e estudadas a organização política dos municípios que compõem a bacia em estudo através da análise da participação de cada município, a representatividade política dos municípios e a presença de órgãos e instituições públicas presentes nos municípios integrantes da bacia. A partir dessas informações é possível analisar a representatividade política das populações frente aos governos municipal e estadual. Como exemplo, pode-se verificar o nível de acesso da população local a órgãos públicos e aos serviços e atividades públicas, além de possibilitar comparar o quadro político dos municípios, no que diz respeito à administração pública dos Municípios e do Estado. 4.5.4.1 Localização das Sedes Municipais e Distritais Conforme mencionado anteriormente, a bacia hidrográfica do rio Jari abrange parte dos estados do Pará e do Amapá. Nela são encontrados os municípios amapaenses de Vitória do Jari, Laranjal do Jari e Mazagão, e o município paraense de Almeirim, conforme indicado no desenho Nº EP518.A1.JR.08-012 (Fig. 082), intitulado “Mapa da Divisão Política e Administrativa – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. O estado do Pará apresenta seis mesorregiões, das quais somente a Mesorregião do Baixo Amazonas é abrangida pela bacia hidrográfica do rio Jari, conforme pode ser observado na Tabela 4.5.4-1, intitulada “Organização Territorial dos Estados do Amapá e do Pará por meso e microrregião, 1997”, e na Figura 4.5.4-1, intitulada “Mesorregião do Baixo Amazonas”. Essa mesorregião está subdividida nas microrregiões de Óbidos, de Santarém e de Almeirim, sendo que essa última é onde se localiza o município de Almeirim, abrangido pela bacia hidrográfica do rio Jari, conforme pode ser observado na Figura 4.5.4-3, intitulada “Microrregião de Almeirim”. No estado do Amapá, que está dividido em duas mesorregiões, a bacia hidrográfica do rio Jari, insere-se somente na Mesorregião do Sul do Amapá, conforme pode ser observado na Tabela 4.5.4-1, intitulada “Organização Territorial dos Estados do Amapá e do Pará por meso e microrregião, 1997”, e na Figura 4.5.4-2, intitulada “Mesorregião do Sul do Amapá”. Essa mesorregião está subdividida nas microrregiões de Macapá e de Mazagão, sendo nessa última a localização dos municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Vitória do Jari, conforme pode ser observado na Figura 4.5.4-4, intitulada “Microrregião de Mazagão”. Hydros EP518.RE.JR201 96 Tabela 4.5.4-1 – Organização Territorial dos Estados do Amapá e do Pará por Meso e Microrregião, 1997 Unidade da Federação Mesorregião Microrregião Município Laranjal do Jari Estado do Amapá Mesorregião do Norte Microrregião do Amapá Mazagão de Mazagão Vitória do Jari Estado do Pará Mesorregião do Baixo Microrregião Amazonas Almeirim de Almeirim Fonte: IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil, 1997 Fonte: IBGE, 2005 Fonte: IBGE, 2005 Figura 4.5.4-1 – Mesorregião do Baixo Amazonas Figura 4.5.4-2 – Mesorregião do Sul do Amapá Para a descrição da localização dos municípios amapaenses e paraense e suas respectivas sedes municipais, foram utilizadas as informações contidas nos sites do Governo do Estado do Pará e Governo do Estado do Amapá. A localização dos municípios e suas respectivas sedes estão indicadas no desenho Nº EP518.A1.JR.08-012 (Fig. 082), apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 4.5.4.1.1 Microrregião de Almeirim (Estado do Pará) O Município de Almeirim limita-se, a norte com a República do Suriname, a leste com o estado do Amapá, a sul com o município de Porto de Moz, e a oeste com os municípios paraenses de Óbidos, de Alenquer, de Monte Alegre e com o município paraense de Prainha. A sede municipal de Almeirim localiza-se na parte sul do município, na margem esquerda do rio Amazonas. Hydros EP518.RE.JR201 97 Nas fases subsequentes serão analisados os itens relacionados às superfícies territoriais e a parte circunscrita pela bacia, à localização das principais instituições públicas e o quadro eleitoral dos municípios. 4.5.4.1.2 Microrregião de Mazagão (Estado do Amapá) O município de Laranjal do Jari limita-se, a norte com a República do Suriname e com a Guiana Francesa, a leste com o município de Oiapoque, com o município de Pedra Branca do Amapari e com o município de Mazagão, a sul com o município de Vitória do Jari, e a oeste com o estado do Pará. A sede municipal de Laranjal do Jari localiza-se na parte sul do município, na margem esquerda do rio Jari. O município de Mazagão limita-se, a norte com o município de Pedra Branca do Amapari e com o município de Porto Grande, a leste com o município de Santana e com o estado do Pará, a sul com o município de Vitória do Jari, e a oeste com o município de Laranjal do Jari. A sede municipal de Mazagão localiza-se na porção leste do município, próximo ao Furo do Mazagão. O Município de Vitória do Jari limita-se a norte com o Município de Laranjal do Jari e com o Município de Mazagão, e a sul, a leste e a oeste com o estado do Pará. A sede municipal de Vitória do Jari localiza-se na parte sul do município, na margem esquerda do rio Jari. Fonte: IBGE, 2005 Fonte: IBGE, 2005 Figura 4.5.4-3 – Microrregião de Almeirim Figura 4.5.4-4 – Microrregião de Mazagão Conforme pode ser observado na Figura 4.5.4-5, intitulada “Localização das Sedes Municipais”, das quatro sedes dos municípios abrangidos pela bacia em estudo, três se situam às margens de rios e uma junto a uma estrada. Destaca-se que no lado paraense há um conjunto de estradas estaduais (IBGE, 2003) que formam uma pequena rede viária que conecta diversas localidades (vila, povoado, núcleo) entre si, e com as sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari. Dos municípios amapaenses, as sedes dos municípios de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari se localizam na porção sudoeste do estado do Amapá, junto à margem esquerda do rio Jari, cujo acesso se dá pela estrada federal BR-156, que apresenta algumas ramificações de Hydros EP518.RE.JR201 98 estradas. A sede de Laranjal do Jari localiza–se na porção sul do município junto a BR-156, que liga Laranjal do Jari à Macapá, capital do Estado do Amapá, e à sede de Vitória do Jari, que se localiza no extremo oeste do município, ao sul da sede de Laranjal do Jari. A sede municipal de Mazagão se localiza na parte sudeste do estado do Amapá, no extremo leste do município, junto ao rio Amazonas e junto à estrada estadual AP-010, que se conecta à BR-156, permitindo fácil acesso a capital Macapá. Localiza-se na divisa entre os estados do Amapá e Pará, entretanto bastante distante dos limites da bacia em estudo. Almeirim, município do estado do Pará, tem sua sede localizada junto ao rio Amazonas e junto a uma estrada estadual, classificada pelo IBGE como “outra estrada”. Fonte: IBGE, 2003 e IBGE, 2004 Figura 4.5.4-5 – Localização das Sedes Municipais Segundo o IBGE (2003) e conforme é apresentado na Figura 4.5.4-6, intitulada “Localização das Vilas”, Monte Dourado, localizado no município de Almeirim, está classificado como vila, que tem o mesmo nome do distrito a que pertence (sede distrital), e é onde está sediada a autoridade distrital, excluídos os distritos das sedes municipais. Monte Dourado encontra-se junto à margem direita do rio Jari, no lado oposto às sedes municipais de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, no Amapá. Ainda, está inserido numa rede viária de estradas estaduais, através da qual se conecta às diversas localidades do seu entorno, no lado paraense. Monte Dourado é a única vila localizada dentro da bacia em estudo. Hydros EP518.RE.JR201 99 Fonte: IBGE, 2003 Figura 4.5.4-6 – Localização das Vilas Na bacia em estudo também se localiza, segundo o IBGE (2003) e a Figura 4.5.4-7, intitulada “Localização dos Povoados”, uma localidade classificada como povoado. Esta localidade se caracteriza por definir um Aglomerado Rural Isolado, que deve possuir pelo menos 1 (um) estabelecimento comercial de bens de consumo frequente e 2 (dois) dos seguintes serviços ou equipamentos: 1 (um) estabelecimento de ensino de 1º grau em funcionamento regular, 1 (um) posto de saúde com atendimento regular e 1 (um) templo religioso de qualquer credo. Ainda, o povoado corresponde a um aglomerado sem caráter privado ou empresarial ou que não está vinculado a um único proprietário do solo, cujos moradores exercem atividades econômicas quer primárias, terciárias ou, mesmo secundárias, na própria localidade ou fora dela. O povoado existente na bacia é o Bandeira, que se localiza ao sul da vila de Monte Dourado. Hydros EP518.RE.JR201 100 Fonte: IBGE, 2003 Figura 4.5.4-7 – Localização dos Povoados Ainda, existem 15 núcleos inseridos na bacia em estudo (Figura 4.5.4-8, intitulada “Localização dos Núcleos”). O IBGE, classifica núcleo como a localidade que tem a característica definidora de Aglomerado Rural Isolado e possui caráter privado ou empresarial, estando vinculado a um único proprietário do solo (empresas agrícolas, indústrias, usinas, etc.). Esses núcleos estão distribuídos sempre localizados junto a margens de rios e/ou a estradas. Na bacia, pode-se classificá-los em dois grupos segundo suas localizações territoriais: um grupo, composto pelos núcleos de Barraca da Boca (AP), Santo Antônio da Cachoeira (AP), Militão (PA), Munguba (PA), Santo Antônio do Caracaru (PA), Silva Vila do Planalto (PA), Nova Vida (PA), Granja São Miguel (PA), Morcego (PA) e São Miguel (PA), localizados de forma distribuída na rede viária em torno do pólo industrial existente na vila de Monte Dourado (PA), tanto no lado paraense como no amapaense; e outro, distante do contexto de Monte Dourado, formado pelos núcleos de Bom Jardim, Saudade e Caiçara (PA) e Boca do Jari (AP) localizados junto às margens do rio Jari, próximo à sua foz, no rio Amazonas. É importante destacar que Mazagão possui núcleos, porém nenhum está inserido na bacia em estudo. Todos estão localizados junto às margens do rio Amazonas. Hydros EP518.RE.JR201 101 Fonte: IBGE, 2003 Figura 4.5.4-8 – Localização dos Núcleos Diante do exposto, o que se pode depreender é que tanto as sedes municipais como as vilas, os povoados e os núcleos localizados especificamente na bacia em estudo, se localizam às margens dos rios, que constituem o principal meio de transporte naquela região. Núcleos populacionais menores estão junto às margens de afluentes do rio Jari, seguindo o modelo de ocupação dos municípios integrantes da bacia em estudo. 4.5.4.2 Colégio Eleitoral e Representação Municipais, Estaduais e Federais nas Instâncias Parlamentares Segundo o Tribunal Superior Eleitoral – TSE, os estados do Amapá e do Pará, em julho de 2004, tinham 328.577 e 3.979.643 eleitores, respectivamente. Esses eleitorados estaduais representam 0,27% e 3,14% do eleitorado brasileiro. As situações dos municípios que fazem parte da bacia estão apresentadas a seguir. 4.5.4.2.1 Laranjal do Jari/AP Nas eleições municipais de 2004, de acordo com o IBGE, havia em Laranjal do Jari 20.752 eleitores, sendo que somente 16.838 dos votos eram válidos. Nessas eleições, a candidata eleita Euricelia Melo Cardoso Lobo, do Partido Progressista – PP (11), teve 6.888 votos e o Hydros EP518.RE.JR201 102 candidato que ficou na segunda posição, Idemar Sarraf Felipe do partido Humanista da Solidariedade – PHS (31), teve 4.508 votos. Em 2007, segundo o TSE, o número de eleitores em Laranjal do Jari aumentou para 22.955. Como a estimativa do IBGE para a população em 2004 é de 33.279, estima-se que apenas 62,36% da população compõe o colégio eleitoral do município. Do total dessa estimativa populacional do IBGE, os votos válidos representam 50,60%. Em relação ao estado do Amapá, Laranjal do Jari representa 6,32% do colégio eleitoral, em 2004. Em Laranjal do Jari, o poder legislativo do município, formado pela Câmara de Vereadores, tinha 7 vereadores, em 2000, e em 2004 o número de vereadores aumentou para 9, segundo o sítio eletrônico da Confederação Nacional dos Municípios - CNM. 4.5.4.2.2 Vitória do Jari/AP De acordo com o IBGE, nas eleições municipais de 2004, havia em Vitória do Jari 7.302 eleitores, sendo que somente 6.326 dos votos eram válidos. Nessas eleições, o candidato eleito Adelson Ferreira de Figueiredo, do Partido Trabalhista do Brasil – PT do B (70), teve 3.453 votos, e o candidato que ficou na segunda posição, Walter Monteiro Benathar do Partido Democrático Trabalhista – PDT (12), teve 2.576 votos. Em 2007, segundo o TSE, o número de eleitores em Vitória do Jari aumentou para 7.963. Como a estimativa do IBGE para a população em 2004 é de 10.168, estima-se que apenas 71,81% da população compõe o colégio eleitoral do município. Do total dessa estimativa populacional do IBGE, os votos válidos representam 62,21%. Em relação ao estado do Amapá, Vitória do Jari representa 2,22% do colégio eleitoral em 2004. Em Vitoria do Jari, o poder legislativo do município, formado pela Câmara de Vereadores, tinha 5 vereadores, em 2000, e em 2004 o número de vereadores aumentou para 9, segundo o sítio eletrônico da CNM. 4.5.4.2.3 Mazagão/AP De acordo com o IBGE, nas eleições municipais de 2004, havia em Mazagão 9.018 eleitores, sendo que somente 7.745 dos votos eram válidos. Nessas eleições, o candidato eleito Jose Carlos Correa de Carvalho, do Partido Democrático Trabalhista – PDT (12), teve 2.546 votos e o candidato que ficou na segunda posição, Ana Dalva de Andrade Ferreira do Partido dos Trabalhadores – PT (13), teve 2.371 votos. Em 2007, segundo o TSE, o número de eleitores em Mazagão aumentou para 9.855. Como a estimativa do IBGE para a população em 2004 é de 13.235, estima-se que apenas 68,14% da população compõe o colégio eleitoral do município. Do total dessa estimativa populacional do IBGE os votos válidos representam 58,52%. Em relação ao estado do Amapá, Mazagão representa 2,74% do colégio eleitoral em 2004. Em Mazagão, o poder legislativo do município, formado pela Câmara de Vereadores, tinha 9 vereadores, em 2000, e em 2004 o número de vereadores permaneceu igual (9), segundo o sítio eletrônico da CNM. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.4.2.4 103 Almeirim/PA De acordo com o IBGE, nas eleições municipais de 2004, havia em Almeirim 20.713 eleitores, sendo que somente 16.656 dos votos eram válidos. Nessas eleições o candidato eleito Gandor Calil Hage Neto, do Partido Da Social Democracia Brasileira – PSDB (45), teve 6.131 votos, e o candidato que ficou na segunda posição, José Botelho dos Santos do Partido Republicano Progressista – PRP (44), teve 5.404 votos. Em 2007, segundo o TSE, o número de eleitores em Almeirim reduziu para 18.520. Como a estimativa do IBGE para a população em 2004 é de 34.166, estima-se que apenas 60,62% da população compõe o colégio eleitoral do município. Do total dessa estimativa populacional do IBGE, os votos válidos representam 48,75%. Em relação ao estado do Pará, Almeirim representa 0,52% do colégio eleitoral em 2004. Em Almeirim, o poder legislativo do município, formado pela Câmara de Vereadores, tinha 6 vereadores, em 2000, e em 2004 o número de vereadores aumentou para 9, segundo o sítio eletrônico da CNM. Tabela 4.5.4-2 – População Estimada, Número de Eleitores, Votos Válidos e Votos Válidos em Relação à População, Segundo os Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, nos Estados do Pará e Amapá, 2004 População estimada (1) Número de eleitores Votos válidos Votos válidos em relação à população estimada (%) Laranjal do Jari/AP 33.279 20.752 16.838 50,60% Vitória do Jari/AP 10.168 7.302 6.326 62,21% Mazagão/AP 13.235 9.018 7.745 58,52% Almeirim/PA 34.166 20.713 16.656 48,75% Estado do Amapá 553.100 328.577 273.921 49,52% 6.695.940 3.979.643 3.197.712 47,76% Município Estado do Pará Fonte: IBGE – Cidades-Representação Política 2004 (1) IBGE, 2000 em Ministério da Saúde – Indicadores Básicos de Saúde Tabela 4.5.4-3 – Participação da População, Representação Eleitoral e Votos Válidos em Relação aos Estados, Número de Vereadores, Segundo os Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, nos Estados do Pará e do Amapá, 2004 Participação da população nos estados Colégio eleitoral nos estados Votos válidos nos estados Vereadores eleitos (2004) (1) Relação hab. / vereador Laranjal do Jari/AP 6,02% 6,32% 6,15% 9 3.698 Vitória do Jari/AP 1,84% 2,22% 2,31% 9 1.130 Mazagão/AP 2,39% 2,74% 2,83% 9 1.471 Município Hydros EP518.RE.JR201 104 Participação da população nos estados Colégio eleitoral nos estados Votos válidos nos estados Vereadores eleitos (2004) (1) Relação hab. / vereador 0,51% 0,52% 0,52% 9 3.796 Estado do Amapá 100,00% 100,00% 100,00% - - Estado do Pará 100,00% 100,00% 100,00% - - Município Almeirim/PA Fonte: IBGE – Cidades-Representação Política 2004 (1) CNM – Confederação Nacional de Municípios – sítio eletrônico De acordo com a Tabela 4.5.4-2, intitulada “População Estimada, Número de Eleitores, Votos Válidos e Votos Válidos em Relação à População, Segundo os Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, nos Estados do Pará e Amapá, 2004”, constata-se que os municípios de Almeirim/PA e Laranjal do Jari/AP têm as duas maiores populações e número de eleitores. Considerando também a Tabela 4.5.4-3, intitulada “Participação da População, Representação Eleitoral e Votos Válidos em Relação aos Estados, Número de Vereadores, Segundo os Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jari, nos Estados do Pará e do Amapá, 2004”, no estado do Amapá, o município que apresenta maior número de eleitores é Laranjal do Jari, com 7.302 eleitores, representando 6,32% do colégio eleitoral estadual. Já em Vitória do Jari e Mazagão o número de eleitores não passa de 10.000. Enquanto Vitória do Jari tem 7.302 eleitores, que representam 2,22% do colégio eleitoral do Amapá, o município de Mazagão tem 9.018 eleitores, que representam 2,74% do colégio eleitoral amapaense, portanto maior que a representação de Vitória do Jari. Almeirim/PA tem número de eleitores muito próximo a Laranjal do Jari/AP, porém ainda é menor. Em Almeirim, há 20.713 eleitores que representam 0,52% do colégio eleitoral do estado do Pará. Ou seja, apesar de possuírem colégios eleitorais semelhantes, observa-se que a importância de Laranjal do Jari no estado do Amapá é maior que a de Almeirim no estado do Pará, devido à sua representatividade estadual. Quanto à porcentagem de votos válidos em relação à população municipal, o município que tem a maior porcentagem é Vitória do Jari, com 62,21%, apesar de ter o menor número absoluto (6.326) entre todos os municípios inseridos na bacia em estudo. O número de votos válidos em Mazagão é de 7.745, que representa 58,52% da população, e Laranjal do Jari, mesmo tendo a maior população entre os municípios amapaenses, tem a menor porcentagem de votos válidos (50,60%). Já o município de Almeirim, apesar de ter o segundo maior número de votos válidos (16.656) dos municípios abrangidos pela bacia, tem a menor relação de votos válidos (48,75%) na população municipal (20.713). Considerando-se a população estimada pelo IBGE em 2004 e o número de vereadores eleitos no mesmo ano, divulgado pela CNM, constata-se que o município de Vitória do Jari/AP, que teve 9 vereadores eleitos em 2004, possui a menor relação habitante / vereador, com 1.130 habitantes para 1 vereador. Já o município de Almeirim/PA tem a maior relação de habitantes para vereador (3.796 para 1), seguido de número bastante próximo do município de Laranjal do Jari, que tem 3.698 habitantes para 1 vereador. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.4.3 105 Superfície Territorial Municipal Circunscrita pela Bacia e Relação com a Superfície Total Os municípios que fazem parte da bacia em estudo são: Laranjal do Jari, Vitória do Jari e Mazagão, do estado do Amapá, e Almeirim, do estado do Pará. Dos 4 municípios que compõem a bacia hidrográfica, nenhum se apresenta totalmente inserido na bacia hidrográfica, conforme os dados da Tabela 4.5.4-4, intitulada “Municípios Pertencentes à Bacia, e Áreas”, e da Figura 4.5.4-1, intitulada “Áreas Municipais Inscritas na Bacia Hidrográfica”. Tabela 4.5.4-4 – Municípios Pertencentes à Bacia, e Áreas Área Total - km2 (A) Área na bacia - km2 (B) % (B)/(A) Almeirim/PA 72.960 26.331 36,09% Laranjal do Jari/AP 30.966 27.951 90,26% Mazagão/AP 13.131 1.900 14,47% Vitória do Jari/AP 2.483 908 36,55% Municípios - UF Fonte: IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil 2005 (acesso em: 4 set. 2007); IBGE, Cidades – representação política 2004 (acesso em: 6 jul. 2007). 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 Almeirim/PA Laranjal do Jari/AP Mazagão/AP Vitória do Jari/AP Área total do município (km²) Área do município inserido da bacia (km²) Fonte: IBGE – Malha Municipal Digital, 2005 Figura 4.5.4-9 – Áreas Municipais Inscritas na Bacia Hidrográfica O município que tem a maior área territorial é Almeirim/PA com 72.960 km², seguido de Laranjal do Jari com 30.966 km², Mazagão com 13.131 km² e por último Vitória do Jari com Hydros EP518.RE.JR201 106 2.483 km². Os municípios amapaenses têm área territorial muito menor em relação à Almeirim/PA, que se encontra no limite com o Amapá. O município de Almeirim tem a maior área territorial em termos quantitativos e é o terceiro município com maior área inserida na bacia em termos percentuais, com 36,09% (26.331 km²) de sua área total. O município que tem a maior área na bacia em relação a sua área total é Laranjal do Jari com 90,26%, ou seja, 27.951 km² de sua área inserida na bacia. Vitória do Jari tem 36,55% (908 km²) e o município de Mazagão apresenta 14,47% (1.900 km²) de sua área inserida na bacia em estudo. Estes são os menores municípios em área territorial total e os que têm a menor porcentagem de suas áreas inseridas na bacia em estudo. 4.5.4.4 Localização e Raio de Atendimento das Principais Instituições Públicas Municipais, Estaduais e Federais Para a análise das principais instituições públicas existentes na bacia em estudo e os seus raios de atendimentos, foram identificadas as instituições e órgãos federais, estaduais e municipais atuantes na bacia. Na bacia em estudo, onde grande parte não apresenta ocupação antrópica e a densidade populacional é baixa mesmo nas áreas urbanizadas, os órgãos e instituições públicas localizam-se preferencialmente nas sedes municipais, onde se verifica maior aglomeração populacional e demanda de serviços. E apesar de terem atuação de acordo com as suas respectivas competências a nível federal, estadual e municipal, algumas instituições têm seus raios de atendimento maior ou menor em função das características e demandas regionais ou locais, e possibilidades e necessidades de cada instituição, extrapolando os limites político administrativos. Desta forma, pode-se verificar que existem alguns órgãos e empresas públicas cujas atuações ocorrem a nível municipal e local, apesar de pertencerem à administração federal. Como exemplo desse nível de atuação tem-se a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos EBCT, empresa federal que está presente nas três sedes municipais amapaenses e em Monte Dourado, distrito do município paraense de Almeirim/PA. As agências da EBCT prestam não só serviços de correios, mas também serviços financeiros. Este serviço é bastante importante principalmente para regiões com as características como a bacia em estudo, onde outras formas de comunicação são precárias. Já o Banco do Brasil não está presente em todos os municípios da bacia. Desta forma, este banco presta serviços inclusive para os municípios vizinhos. Outro caso de instituição pública federal que tem raio de atendimento específico, regional, é o caso do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e da Fundação Nacional da Saúde – FUNASA. O Escritório Regional do IBAMA em Laranjal do Jari presta serviços de fiscalização na região dos municípios de Almeirim e Laranjal do Jari, pertencentes respectivamente aos estados do Pará e do Amapá. Os escritórios localizamse em pontos estratégicos de atendimento e de necessidade da instituição, em função da presença de unidades de conservação e áreas protegidas (IBAMA) e de população indígena (FUNASA). O IBGE está presente apenas em um dos municípios abrangidos pela bacia, no município de Almeirim/PA, justificado pelo tipo de serviço desenvolvido pela instituição, e pela densidade demográfica baixa da região. Hydros EP518.RE.JR201 107 Em nível estadual, o governo está presente na bacia do rio Jari através de prestação de serviços públicos relacionados a abastecimento, saúde, infraestrutura (energia elétrica), entre outros. Alguns exemplos destes órgãos localizados nos municípios integrantes da bacia, com atuação em nível estadual, podem ser citadas a Companhia de Água e Esgoto do Amapá – CAESA, Companhia de Saneamento do Pará – COSANPA e Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA. Alguns dos serviços de abrangência estadual não só ocorrem no estado onde eles são pertencentes, mas ocorrem nos estados vizinhos, extrapolando a sua jurisdição inicial. É o caso da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá – SEMA/AP, com seu escritório em Laranjal do Jari. Sua atuação ocorre não só no município onde se localiza, mas também em Vitória do Jari, no lado amapaense, além de abranger o distrito de Monte Dourado, pertencente ao município de Almeirim, no estado do Pará. Esta situação é decorrente da presença do empreendimento Jari Celulose. Em nível municipal, encontram-se para atendimento da população local as prefeituras municipais, as câmaras legislativas e as secretarias municipais. As sedes municipais que se localizam na bacia em estudo são Laranjal do Jari e Vitória do Jari, ambas do Amapá. Em Almeirim tem-se a SAEE, companhia local prestadora de serviços de abastecimento de água em Almeirim-PA. As empresas e instituições públicas identificadas na bacia em estudo estão apresentadas e organizadas a seguir por município e pelo seu nível de atuação do governo (federal; estadual; municipal): 4.5.4.4.1 Laranjal do Jari/AP Federais: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT; Escritório Regional – IBAMA; Banco do Brasil – BB; Fundação Nacional de Saúde – FUNASA; Instituto Nacional do Seguro Nacional – INSS; Universidade Federal do Amapá – UNIFAP (campus Laranjal do Jari). Estaduais: Companhia de Água e Esgoto do Amapá – CAESA; Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA; Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá - RURAP; Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA; Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA; Secretaria de Estado da Fazenda - SEFAZ; Secretaria de Estado de Saúde – SESA; Hospital Estadual de Laranjal do Jari; Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Mineração do Amapá – SEICOM; Secretaria de Estado do Trabalho e Cidadania – SETRACI. Municipais: Prefeitura Municipal de Laranjal do Jari; Câmara Municipal de Laranjal do Jari; Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SEMMATUR; Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto; Secretaria Municipal de Saúde; Secretaria Municipal de Agricultura; Secretaria Municipal de Transportes; Secretaria Municipal de Ação Social. 4.5.4.4.2 Vitória do Jari/AP Federais: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT; Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. Estaduais: Cia de Água e Esgoto Amapá do Amapá – CAESA; Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA; Secretaria de Estado de Saúde – SESA. Hydros EP518.RE.JR201 108 Municipais: Prefeitura Municipal de Vitória do Jari; Câmara Municipal de Vitória do Jari; Secretarias Municipais. 4.5.4.4.3 Mazagão/AP Federais: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT; Escritório Regional – IBAMA; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA: Campo Experimental de Mazagão; Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. Estaduais: Cia de Água e Esgoto Amapá do Amapá – CAESA; Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA; Secretaria de Estado de Saúde – SESA; Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá - RURAP. Municipais: Prefeitura Municipal de Mazagão; Câmara Municipal de Mazagão; Secretaria Municipal de Administração; Secretaria Municipal de Saúde. 4.5.4.4.4 Almeirim/PA Federais: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT; Instituto Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE; Banco do Brasil – BB. Estaduais: Secretaria de Estado da Fazenda - SEFA, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Geral do Pará - EMATER. Municipais: Prefeitura Municipal de Almeirim; Câmara Municipal de Almeirim, Secretarias Municipais, Instituto de Previdência Assist Municipal de Almeirim - IPAMA. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.5 109 GESTÃO DO TERRITÓRIO Na bacia em estudo, as políticas atinentes à organização territorial têm sido elaboradas e implantadas pelos governos federal e estaduais, que trabalham de forma integrada e com a participação da iniciativa privada. As políticas de âmbito geral, que norteiam as políticas regionais e locais, são relacionadas à preservação e conservação de ambientes naturais, instituídas predominantemente na região da Amazônia Legal, e interferem diretamente na bacia em estudo. Outras políticas de âmbito geral referem-se aos programas de melhorias sócio-econômicas para população de baixa renda. Esses programas têm como diretriz a política de valorização da população e das potencialidades locais e de preservação da identidade regional e local. Procuram promover a fixação da população na região e, integradas com outras políticas, buscam a requalificação e a consolidação das localidades, dos núcleos e a estruturação do território. No âmbito de políticas regionais, são desenvolvidos projetos e programas dos governos dos estados do Pará e do Amapá focados, naturalmente, nas particularidades e peculiaridades dos dois estados. Além destas, as atuações da iniciativa privada estão relacionadas à melhoria das condições de vida da população local e ao meio ambiente. São efetivadas através de um grupo empresarial atuante na região desde a época da exploração da silvicultura no baixo curso do rio Jari. 4.5.5.1 Políticas Públicas de Desenvolvimento de Âmbito Nacional e Regional As políticas públicas de âmbito nacional e regional, que estão sendo implementadas na bacia do rio Jari, estão vinculadas a programas e projetos que se baseiam na Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA de 1981. Nela, estão estabelecidos o uso e ocupação do solo, os tipos e as formas de utilização dos recursos naturais da região. Na bacia em estudo, o Governo Federal atua no processo de gestão do território de forma integrada, através dos seguintes órgãos: a) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que tem a competência quanto à criação de áreas protegidas e Unidades de Conservação; b) Instituto Chico Mendes, responsável pela gestão das Unidades de Conservação federais; c) Fundação Nacional do Índio, através da demarcação de Terras Indígenas; e d) Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, responsável pela implantação de Projetos de Assentamento em áreas localizadas na zona rural. Um dos programas de cunho preservacionista do governo federal, que tem interferência na bacia, é o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG7. Este conta com a parceria da comunidade internacional, e tem por objetivo “... desenvolver estratégias inovadoras para a proteção e o uso sustentável da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, associadas a melhorias na qualidade de vida das populações locais.” (MMA, s/data a). A coordenação geral do PPG7 é do MMA, mas os recursos provém de instituições internacionais (Comunidade Européia, Fundo para as Florestas Tropicais - RFT e Banco Alemão para o Desenvolvimento – KFW). Um dos subprogramas que se pode destacar é o Subprograma de Políticas de Recursos Naturais - SPRN, em que os estados da Amazônia Legal, incluindo, portanto, os estados do Pará e Amapá, têm a incumbência de construir bases cartográficas digitais, promover o zoneamento ecológico-econômico e viabilizar a Hydros EP518.RE.JR201 110 implantação de sistemas informatizados de licenciamento ambiental de propriedades rurais (MMA, s/data b) e ações relacionadas à gestão do território. São programas que servem de subsídio ao sistema de planejamento territorial e ações de estruturação física na região em estudo. Encontram-se, a seguir, o Plano Amazônia Sustentável - PAS e o Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal Brasileira, integrantes das Políticas Públicas de Desenvolvimento Nacional. 4.5.5.1.1 Plano Amazônia Sustentável O Plano Amazônia Sustentável – PAS, desenvolvido pelo MMA (2008), se destaca por consolidar e integrar políticas públicas referentes à destinação de terras públicas, onde com frequência ocorrem conflitos sociais e exploração ilícita de recursos naturais (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2008). O PAS estabelece diretrizes16 e estratégias relativas a “... integrar os diferentes instrumentos de ordenamento territorial e gestão ambiental, tais como zoneamento ecológico-econômico, criação de unidades de conservação, regularização de terras indígenas, concessão de florestas públicas, criação de assentamentos rurais, regularização fundiária, planos de gestão de recursos hídricos e concessão de direitos para atividades de mineração.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2008). O PAS, tal qual formulado, é um plano estratégico que está sendo implantado de forma gradativa, cujas diretrizes e estratégias se materializam através de planos específicos em áreas pré-definidas. A bacia em estudo, em especial na sua porção sul, conforme apresentado tanto no componente-síntese Modos de Vida como no Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal Brasileira, apresenta características (conflitos entre a empresa Jari Celulose e trabalhadores rurais, onde a questão fundiária é considerada problemática) que constituem requisitos básicos do objeto do PAS. 4.5.5.1.2 MacroZoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal Brasileira O MacroZoneamento Ecológico-Econômico – ZEE da Amazônia Legal Brasileira é um instrumento do sistema de planejamento territorial da Amazônia Brasileira. O seu produto é o mapeamento de informações locais e regionais constituídas de divisão político-administrativa, diversidade sócio-cultural; estrutura agrária; fronteira agrícola; logística; pecuária e madeira; rede urbano-regional; tipologia da ocupação; e vegetação. 16 “As diretrizes preconizadas no presente documento ressaltam o papel do Estado, enfatizando, inclusive, a ampliação de sua presença na região Amazônica, nos diversos níveis institucionais. Notadamente, esta presença se faz através de ações do governo federal destinadas a garantir uma maior governabilidade sobre os movimentos de ocupação e transformação socioprodutiva em determinadas áreas, a orientar o uso do território e de seus recursos, além de assegurar adequada provisão de serviços públicos essenciais, como educação, segurança, saúde, habitação, assistência técnica, regularização fundiária e justiça.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2008). Hydros EP518.RE.JR201 111 Na bacia do rio Jari, foram mapeadas extensas áreas de proteção: Unidades de Conservação federais (PARNA Montanhas do Tumucumaque, ESEC do Rio Jari, RESEX do Rio Cajari) e TIs (Parque do Tumucumaque, Waiãpi e Rio Paru D’Este). E ainda, de acordo com o mapa de Subordinação dos Sistemas de Cidades, elaborado pelo MacroZEE, a bacia do rio Jari foi classificada como uma área subordinada ao sistema de cidades Santarém-Macapá-Belém, no qual Macapá é a Capital Regional. Nesse contexto, Monte Dourado, distrito de Almeirim-PA, foi classificado como “Centro de Zona”17 e Laranjal do Jari como município subordinado a Monte Dourado. Ainda de acordo com o MacroZEE da Amazônia Legal, na bacia do Jari foram identificadas três tipologias de ocupação: a) porção territorial que vai do alto curso do rio Jari até a Estação Ecológica do Jari, que é caracterizada como de baixa densidade demográfica, sem presença de centro local e com povoamento rural distribuído de forma dispersa, com pouca a pressão sobre o ambiente natural18; b) a porção territorial localizada a jusante da ESEC do Jari, em Almeirim-PA e parte de Laranjal do Jari-AP, caracterizada como de baixa a média densidade demográfica, com povoamento rural associado a centro local e com presença de eixo fluvial e rodoviário, onde está a sede municipal de Laranjal do Jari-AP; e c) a área situada na porção sul da bacia, caracterizada como de baixa a média densidade demográfica, com povoamento rural associado a centro local e a eixo fluvial, onde está a sede de Vitória do Jari-AP. O MacroZEE da Amazônia Legal mapeou também na bacia em estudo informações relativas à infraestrutura e logística, além da situação fundiária predominante e de atividades econômicas existentes. Como infraestrutura identificou o aeródromo, em Almeirim/PA, e o porto situado no rio Jari, próximo à sede municipal de Vitória do Jari. No que se refere situação fundiária, identificou terras devolutas, concentradas na parte sul da bacia, no entorno de Monte Dourado e Laranjal do Jari-AP, além de “terras incorporadas”, localizadas em Vitória do Jari e na parte sul de Almeirim/PA. No município de Laranjal do Jari a situação fundiária é considerada precária. No tocante às atividades de agropecuária, o MacroZEE da Amazônia Legal considera a área da bacia como fronteira de expansão, onde em Laranjal do Jari, Vitória do Jari e AlmeirimPA, apresentam alta concentração fundiária, e Mazagão-AP, média concentração fundiária. Em relação à produção madeireira são identificadas áreas na parte sul da bacia, localizadas principalmente no distrito de Monte Dourado (Almeirim-PA), onde são desenvolvidas atividades de reflorestamento da empresa Jari Celulose. 17 Segundo MacroZEE, “Centro de Zona” constitui um local classificado entre o chamado “Centro Local” e "Capital Regional”. O MacroZEE não registra nenhum “Centro Local”, registrando somente a partir de “Centro de Zona” a localidade de Monte Dourado e como “Capital Regional” a cidade de Macapá. 18 No MacroZEE, os chamados “povoamentos rurais dispersos, com pouca pressão sobre ambiente natural” são as áreas consideradas mais remotas da Amazônia, compreendida por grande parte das terras do norte do Pará, noroeste do Amapá, onde a bacia se situa, Amazonas e pelo sudoeste do Amazonas e do Acre, caracterizados principalmente pela existência de terras indígenas, Unidades de Conservação e de difícil acessibilidade. Hydros EP518.RE.JR201 112 Desta forma, as informações apontadas acima constituem subsídios importantes para tomada de decisões e implementação de ações práticas na bacia em estudo, tanto no que concerne à organização territorial como à implementação de empreendimentos que possam alterar as condições ali existentes. 4.5.5.2 Programa Territórios da Cidadania O Programa Territórios da Cidadania, instituído em 2008, é voltado à melhoria de condições de vida e ao acesso a serviços públicos de inclusão sócio-econômica por populações que vivem em áreas do interior do país. Procura facilitar a obtenção de documentos, oferecer serviços básicos, qualificar profissionalmente os trabalhadores, além de oferecer apoio à gestão do território. Na bacia em análise, o referido Programa delimitou o Território da Cidadania Sul do Amapá, formado pelos municípios de Laranjal do Jari, Vitória do Jari e Mazagão. A porção sul da bacia, apesar de pequena, é a área de predominância demográfica. Nesta porção estão sendo desenvolvidas diversas ações articuladas entre órgãos federais, estaduais e municipais. O representante destes órgãos é o Comitê de Articulação Estadual do Territórios da Cidadania no Amapá, que integra o Comitê de Articulação Estadual, implantado em 2008, coordenado pelo Comitê Gestor Nacional (MDA, 2008a). Alguns exemplos do Programa podem ser citados: aposentadoria e benefícios da previdência, a expedição de Cadastro de Pessoa Física - CPF, de Carteira de Trabalho, de Carteira de Identidade, de Carteira do Produtor Familiar, de Certidão de Nascimento, além da mobilização das comunidades para participação em palestras sobre Meio Ambiente. Outros exemplos estão direta ou indiretamente relacionados à utilização do território e seu aproveitamento econômico: ações de qualificação social e profissional do sistema público de emprego, trabalho e renda; apoio a empreendimentos cooperativos e associativos; elaboração de estudos de potencialidade econômica para manejo de recursos naturais em projetos de assentamento da reforma agrária; licenciamento ambiental de assentamentos da reforma agrária; execução de projetos elaborados pela EMBRAPA para áreas rurais; programas de eletrificação de áreas rurais; e apoio às comunidades tradicionais no planejamento e gestão de território compreendido por áreas rurais (GOVERNO FEDERAL, 2008). Este Programa é de importância vital para a população da bacia em estudo, considerando-se que em sua maioria são migrantes. Promove a inserção da população na sociedade formal, além de reorganizar e qualificar o território de forma racional, de acordo com as necessidades e interesses da população. 4.5.5.3 Políticas Públicas de Âmbito Estadual Na bacia em estudo, são desenvolvidas políticas públicas de gestão do território do estado do Pará e do Amapá, em consonância com as diretrizes traçadas pelo governo federal, mas que apresentam enfoques próprios, de acordo com as características dos respectivos estados. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.5.3.1 113 Gestão do Território na Bacia do Rio Jari na Porção Paraense A gestão territorial do Pará é executada através das diretrizes traçadas pelo governo federal e da ação integrada de órgãos estaduais a seguir discriminados: Instituto de Terras do Pará – ITERPA, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA, a Secretaria de Estado de Agricultura – SAGRI, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – EMATER e o Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará – IDEFLOR. Para garantir a integração, algumas das ações são coordenadas pela Secretaria de Estado de Integração Regional – SEIR, ou pela Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos – SEPE, ou pelo Núcleo Gestor do Pará – NGPR. Tal qual no Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal, um instrumento de gestão territorial importante do governo paraense é o Macro Zoneamento EcológicoEconômico do Pará - MacroZEE-PA, elaborado em 2005, pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará - SECTAM, atual Secretaria de Meio Ambiente – SEMA.. O MacroZEE-PA serviu de base para delimitação de outras Unidades de Conservação de Uso Sustentável e de Proteção Integral em 2006: Floresta Estadual do Paru e a Reserva Biológica Maicuru. O MacroZEE-PA além de incorporar zonas especiais do governo federal inseridos no estado, define espaços e critérios de gestão territorial: delimita áreas frágeis e destina áreas para conservação ambiental e para exploração econômica de recursos naturais. No MacroZEE-PA, o estado foi dividido em duas grandes Zonas: a) Zona de Conservação, formada por três categorias de áreas espacialmente protegidas (Terras Indígenas, Unidades de Conservação de Uso Sustentável e Unidades de Conservação de Proteção Integral) e b) Zona de Consolidação e Expansão (formada por áreas de atividades produtivas, áreas de recuperação e áreas alteradas). Ela se situa na parte sul da bacia do Jari, onde se localizam atividades produtivas de agropecuária e exploração madeireira. Além do MacroZEE-PA, existem no estado Programa de Ordenamento Territorial do Estado do Pará – PEOT, de 2007, e o Projeto Piloto para Adequação de Modelo de Gestão Territorial Integrado, parte do Programa de Redução de Pobreza e Gestão de Recursos Naturais do Estado do Pará – Pará Rural. O PEOT é coordenado pela Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos – SEPE – e promove o ordenamento territorial nas dimensões fundiária, ambiental, produtiva e florestal, implementado através dos seguintes projetos: Projeto Estadual de Assentamento Sustentável; Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista; e o Território Estadual Quilombola, onde a bacia do rio Jari é objeto dos dois primeiros projetos. Embora a área da bacia do rio Jari apresente uma dimensão pequena em relação à totalidade da área do estado do Pará, o PEOT é estratégico para a bacia, pois é objeto do PEOT resolver situações e problemas que a bacia apresenta, que podem ser vislumbradas através de seus instrumentos: detalhamento do MacroZEE do Pará e o licenciamento em áreas rurais (realizados pela SEMA); o ZEE Agroecológico (elaborado conjuntamente pela SAGRI, EMATER, IDEFLOR e Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará); e a regularização fundiária (realizada pelo ITERPA). Uma das características da regularização fundiária que vem sendo implementada pelo governo paraense é a articulação e integração de ações a seguir discriminadas: regularização de áreas rurais, titularização e licenciamento de atividades agrícolas nesses imóveis rurais, além da Hydros EP518.RE.JR201 114 assistência técnica para produção agrícola (ITERPA, 2007). Um dos programas que merece destaque é o Pará Rural, onde Almeirim é um dos quatro municípios do estado contemplados pelo Projeto Piloto para Adequação de Modelo de Gestão Territorial Integrado para o Estado do Pará. Promove regularização fundiária, cadastramento e o licenciamento ambiental dos imóveis. 4.5.5.3.2 Gestão do Território na Bacia do Rio Jari na Porção Amapaense A gestão territorial do Amapá é implementada através das diretrizes traçadas pelo governo federal e da ação integrada dos seguintes órgãos estaduais: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária; Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá - SEMA; Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA; Secretarias Municipais de Meio Ambiente. Dentre os instrumentos de gestão do território, destacam-se o Subprograma de Políticas de Recursos Naturais – SPRN, o Projeto de Gestão Integrada do Estado do Amapá – PGAI/AP, o Código de Proteção ao Meio Ambiente do Estado do Amapá, o Zoneamento EcológicoEconômico – ZEE – da Área Sul do Estado do Amapá, o Sistema de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais – SLAPR, e o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do Amapá. O Subprograma de Políticas de Recursos Naturais – SPRN, é parte do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais – PPG7, mencionado no item anterior das Políticas Públicas de Desenvolvimento de Âmbito Nacional e Regional coordenado pelo MMA em parceria com instituições internacionais. Para o Amapá são repassados os recursos para implementar a política de meio ambiente. Conforme destaca a SEMA (2006), em 1996 são lançadas as bases do Projeto de Gestão Ambiental Integrada do Amapá – PGAI, que levou à parceria entre o governo estadual e o federal na realização do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais – PPG7, por meio do seu Subprograma de Políticas de Recursos Naturais – SPRN. O Projeto de Gestão Ambiental Integrada do Amapá – PGAI foi um dos instrumentos de implantação do ordenamento territorial integrado no estado o Amapá. O Código de Proteção ao Meio Ambiente do estado do Amapá data de 1994 e trata das questões relativas ao uso e ocupação do solo em áreas protegidas pelo Estado. Trata também de medidas de recuperação, conservação e melhoria, para a utilização do solo na UC de sua atuação: Reserva de Desenvolvimento Sustentável – RDS - do Rio Iratapuru. Esta está localizada na bacia do rio Jari, executada pela SEMA/AP em parceria com a própria comunidade que conta com a cooperativa na produção de castanha-do-brasil. O ZEE da Área Sul do estado do Amapá, apesar de se restringir somente à área sul do estado, é como os MacroZEE da Amazônia Legal e do Pará, um dos instrumentos de planejamento e implementação da política de ordenamento territorial e da gestão do território. Na bacia do Jari, o ZEE abrange a sua porção sul e delimitou de forma detalhada as seguintes cinco zonas: a) Zona de Expansão/Consolidação Produtiva centrada nas oportunidades extrativas de castanha-do-brasil, na RDS do Rio Iratapuru e na RESEX do Rio Cajari, em áreas não protegidas e áreas pertencentes ao projeto Jari, em Vitória do Jari; b) Zona de Expansão Produtiva centrada no estado potencial diversificado da floresta, na RESEX do Rio Cajari, na ESEC do Jari, na RDS do Rio Iratapuru e em terras da União; c) Zona de Consolidação Produtiva (estudos socioambientais para melhor utilização de recursos naturais), em Laranjal do Jari, na RESEX do Rio Cajari, e ao longo da BR-156; Hydros EP518.RE.JR201 115 d) Zona de Conservação Ambiental e de Consolidação Produtiva Sustentável das Várzeas, em Laranjal do Jari e Vitória do Jari, denominadas Subzona das Florestas Extrativas Ribeirinhas, e Áreas com Sistema de Uso e Propriedades definidos, na ESEC do Jari; e e) Polígono de Reflorestamento do Projeto Jari e Morro do Felipe da Jari Celulose e de Áreas com Degradações Localizadas, onde há exploração mineral e de caulim (IEPA, 2007). O Sistema de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais – SLAPR é realizado para cada uma dessas zonas delimitadas no ZEE da Área Sul do Amapá, de forma integrada com outros órgãos estaduais. A SEMA fiscaliza, monitora e licencia de forma integrada com a Secretaria de Estado da Agricultura, que atua com outros instrumentos institucionais (licenciamento e cadastro das propriedades rurais). A integração ocorre também com o Instituto de Terras do Amapá - TERRAP, cuja função é “... regularizar e a administrar o patrimônio fundiário do estado, vinculado à SEAF” (MMA, 2001a) e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá - RURAP, cuja função é “... promover a assistência técnica e a extensão rural. Vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura, Pesca, Floresta e do Abastecimento – SEAF” (MMA, 2001a). Outro plano estadual que merece destaque é o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do Amapá – PEGC (1994), que tem como meta o desenvolvimento do Zoneamento Ecológico-Econômico da área costeira do Amapá. Entre 2003 e 2005, a Coordenação Executiva do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro - GERCO, conjuntamente com o Centro de Pesquisas Aquáticas, do IEPA, elaborou o Diagnóstico Socioambiental do Projeto Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor Costeiro Estuarino (parte do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro do Amapá). Na bacia em estudo, foram demarcadas em Vitória do Jari duas grandes zonas: Zona de Planície Costeira e a Zona de Terra Firme. Na Zona de Planície Costeira estão inseridas, parcial ou totalmente, as Subzonas de Campos Inundáveis e a de Floresta de Várzea. Na Zona de Terra Firme encontram-se as Subzonas de Platôs, que tem Floresta com presença de castanha no interior do município de Vitória do Jari. Em 2007 foi introduzido o sistema de gestão do PEGC, cuja atuação se dá de forma conjunta e participativa entre representantes do poder público e da sociedade civil. Definiu também instrumentos de gestão territorial (licenciamento para a obtenção da permissão para utilizar o solo, construir, instalar, funcionar e ampliar atividades, que alterem as características naturais da Zona Costeira), além da necessidade da elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e de Relatório de Impacto Ambiental. 4.5.5.4 Programas da Iniciativa Privada Dentre os programas de desenvolvimento na bacia em estudo, há que se destacar também a atuação da iniciativa privada, pela significância em termos sociais e econômicos da população local, trabalhando em parceria com os governos federal e estadual, nos níveis nacional e regional. São programas desenvolvidos pela Jari Celulose, que faz parte de um conglomerado empresarial - Grupo Orsa, que detém o controle das holdings SAGA Investimentos e Participações S.A. e Grupo Orsa Participações S.A de capital totalmente nacional. O grupo é formado por mais três empresas: Orsa Celulose, Papel e Embalagens; e Orsa Florestal e Fundação Orsa. Quando o grupo assumiu a Jari Celulose, no início de 2000, assumiu o compromisso com a implementação de projetos capazes de melhorar as condições sociais da região, abrangendo três municípios (Laranjal do Jari e Vitória do Jari, no Amapá; e Almeirim, no Pará). São Hydros EP518.RE.JR201 116 programas e projetos, que visam promover a integração de suas atividades produtivas com as populações ribeirinhas e florestais que vivem na área de produção de eucalipto e celulose. O objetivo do Grupo Orsa (2007) é transformar a região do vale do rio Jari num pólo de desenvolvimento sustentável. Dentre os programas de parceria com órgãos governamentais, destacam-se os relacionados a estímulos para a produção de pinus e eucalipto, a conservação de espécies vegetais e da fauna amazônicas, a gestão de unidades de conservação com a participação de população local, e outros relacionados à gestão dos recursos naturais onde há ocupação humana. Um dos programas de caráter integrado é o ReMAM - Rede de Monitoramento Ambiental em Microbacias, que conta com a participação do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, da Universidade de São Paulo USP. O projeto se debruça sobre o comportamento das microbacias e prevê o acompanhamento contínuo da precipitação, da vazão, das perdas de solo e de nutrientes e da qualidade da água em uma microbacia com floresta cultivada, comparativamente a outra microbacia com floresta natural não-manejada. A comparação permite avaliar os impactos ambientais do manejo de plantações florestais, em termos de consumo e qualidade de água, erosão e ciclagem de nutrientes. Ao final, o projeto resulta em indicadores hidrológicos do manejo sustentável de florestas plantadas. Hydros EP518.RE.JR201 4.5.6 117 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS Entendendo que o componente-síntese Organização Territorial compreende os processos estruturantes que determinam a organização humana dentro de uma determinada área e que a análise espacial de seus elementos de caracterização demonstrou a concentração dos processos estruturantes numa porção do território, os elementos de caracterização que apresentaram peso significativo para a compartimentação da bacia foram uso do solo e restrições ambientais de ocupação e penetração no território, e infraestrutura. A população encontra-se distribuída na bacia, predominantemente nas sedes municipais, que se localizam junto a rios e/ou estradas do sistema rodoviário, e em diversas localidades, que se apresentam em maior número na porção sul da bacia. Entre os municípios inseridos na bacia do rio Jari há, de forma genérica, dois grupos que apresentam áreas territoriais similares. Almeirim/PA e Laranjal do Jari/AP são os que apresentam as maiores porções de seus territórios inseridos na bacia, e Mazagão/AP e Vitória do Jari/AP apresentam as menores áreas. Entretanto, nenhum município está totalmente inserido na bacia. A peculiaridade da bacia é a presença de restrições à ocupação humana. Por essa razão, a bacia apresenta uma predominância da alta biodiversidade natural que se contrapõe, e coexiste com uma ocupação humana organizada territorialmente, concentrada na parte sul da bacia. Para a definição dos compartimentos, foram consideradas também as informações relativas às políticas de proteção e, principalmente, às delimitações territoriais que procuram garantir a manutenção da biodiversidade. A bacia do rio Jari foi compartimentada em quatro subáreas distintas, conforme o desenho Nº EP518.A1.JR-08-026 (Fig. 089), intitulado “Mapa de Subárea – Componente-Síntese: Organização Territorial - Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 4.5.6.1 Subárea I – Território Pouco Ocupado de Utilização Restrita A Subárea I compreende uma área de aproximadamente 4.985.650,95 ha, correspondente a parte norte dos municípios Almeirim/PA e Laranjal do Jari/AP. A área encontra-se coberta, quase que exclusivamente, por vegetação classificada como Floresta Ombrófila Densa. Nessa subárea o acesso é dificultado pela existência de escassa infraestrutura instalada. Na subárea há a existência de ocupação antrópica por populações indígenas, formada por 18 aldeias indígenas dos povos Waiãpi e por outros grupos indígenas, dos quais as aldeias não foram encontradas. A densidade demográfica da subárea em análise é baixíssima, pois as populações indígenas que habitam a área têm um modo de vida ainda quase que totalmente vinculado aos recursos naturais e se relacionam, embora de forma esporádica, com a população não indígena para trocar mercadorias e solucionar problemas. Os sistemas de transporte existentes na subárea são o hidroviário e o aeroviário. O hidroviário é muito utilizado na região e pode ser utilizado para acessar a sede municipal de Laranjal do Jari, localizada na Subárea III. O deslocamento é feito através do próprio rio Jari, e de outros afluentes para acessar outras localidades, como núcleos e localidades pólos. Há nesta subárea um elemento do sistema aeroviário, que se trata de uma pista de pouso localizada na aldeia Hydros EP518.RE.JR201 118 Okakai, na porção noroeste da TI Waiãpi, através da qual se acessam grandes centros urbanos como a capital do Amapá, Macapá. A área é bastante preservada, razão pela qual, na subárea é instituída a política de proteção ao meio ambiente, sendo constituída por Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável, e por Terras Indígenas. Nas UC’s que formam a Subárea I, as políticas definidas pelo poder público estão vinculadas a medidas de proteção e conservação dos recursos naturais. Nas UC’s federais há a atuação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio. Nas UC’s estaduais são realizadas as políticas públicas estaduais realizadas pelas secretarias estaduais de meio ambiente e por órgãos e institutos vinculados às secretarias. A Subárea I abrange áreas das UC’s de Proteção Integral PARNA Montanhas do Tumucumaque, REBIO Maicuru e ESEC do Jari, e das UC’s de Uso Sustentável FLOTA do Paru e RDS do Rio Iratapuru, onde são permitidos uso e manejo sustentáveis dos recursos naturais. As Terras Indígenas abrangidas são a TI Waiãpi, TI do Rio Paru D’Este e TI Parque do Tumucumaque, onde há a atuação de órgãos como a Fundação Nacional do Índio – FUNAI e da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. Segundo o MACROZEE do Estado do Pará, as UC’s localizadas em território paraense inserem-se na Zona de Conservação, formada por UC’s federais e estaduais. No lado amapaense, as UC’s são também federais e estaduais, e compõem juntamente com as TI’s, o Corredor de Biodiversidade do Amapá (CI-BRASIL; GOVERNO DO AMAPÁ; FUNDAÇÃO LEE & GUND, 2007). 4.5.6.2 Subárea II – Território Desocupado sem Infraestrutura A subárea II compreende uma área de aproximadamente 155.000 ha, correspondente a parte dos municípios de Almeirim/PA e Laranjal do Jari/AP. Esta área encontra-se coberta predominantemente por vegetação classificada como Floresta Ombrófila Densa. Embora esteja localizada na bacia sedimentar, na subárea em análise não há áreas urbanizadas, nem populações urbanas e, portanto, a taxa de população urbana é totalmente nula. Também não há registro de comunidades rurais, assim como não há ocupação rural ou atividade rural. Desta forma, a sua cobertura vegetal é ainda natural. A densidade demográfica pode ser, portanto, considerada nula ou quase nula, em função da possibilidade, embora remota, da ocorrência de alguma comunidade isolada não registrada no interior da subárea. Em relação à infraestrutura existente, o meio de deslocamento existente é o fluvial, pelo rio Jari e seus afluentes, através dos quais se acessam as sedes municipais de Laranjal do Jari/AP e Vitória do Jari/AP, e a vila Monte Dourado, em Almeirim/PA. E no limite inferior da subárea pode-se verificar o início de três estradas vicinais, que fazem ligação com a subárea III, localizada ao sul, podendo portanto ter acesso às mesmas localidades existentes na subárea III e onde se verificam as atividades produtivas da bacia do rio Jari. Considerando que esta subárea está localizada na bacia sedimentar, contígua à subárea III, onde se verificam as áreas produtivas da bacia em estudo, o MACROZEE do Estado do Pará considera a área como Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas. Da mesma forma, o ZEE da Área Sul do Estado do Amapá, considera a região como Zona de Hydros EP518.RE.JR201 119 Consolidação Produtiva, abrangendo toda a extensão da subárea localizada em território amapaense. Na Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas do MACROZEE do Estado do Pará inserida na subárea II, o território é gerido pelo Instituto de Terras do Pará – ITERPA, em parceria com outros órgãos estaduais como a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Pará – SEMA, a Secretaria de Estado de Agricultura do Pará – SAGRI, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – EMATER e o Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará – IDEFLOR. As políticas públicas realizadas nessa zona são implementadas através de atividades de Regularização Fundiária, Cadastro e Licenciamento Ambiental dos Imóveis Rurais e Projetos de Investimentos Produtivos. Já na Zona de Consolidação Produtiva, no lado amapaense, os órgãos responsáveis pela gestão do território são a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá - SEMA, o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá – RURAP e o Instituto de Terras do Amapá – TERRAP, onde as políticas públicas são implementadas através de atividades de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais. 4.5.6.3 Subárea III – Território de Ocupação Mista (Planejada e Desordenada) A subárea III compreende uma área de aproximadamente 310.000 ha e constitui a faixa central da bacia sedimentar, correspondente a parte dos municípios de Almeirim/PA, Laranjal do Jari/AP e Vitória do Jari/AP. Nessa subárea são encontradas, ainda, algumas áreas com cobertura de vegetação formada tanto por manchas de Floresta Ombrófila Densa como de Vegetação Secundária. Mas a característica principal desta subárea é a presença de uso antrópico. O uso do solo existente é uso rural, como silvicultura, agricultura temporária, extrativismo, mineração e pecuária. Embora ocupada por atividades rurais de forma extensa, nesta subárea é que se concentra a maioria das localidades existentes na bacia: 2 sedes municipais, 1 vila, 1 povoado, além de núcleos rurais. É, portanto, onde se concentra a população tanto urbana como rural da bacia. Vale, no entanto, destacar que a taxa de população urbana dos municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari é de 90,82% e que mais de 90% da população é urbana, que vive concentrada nas duas sedes municipais e na vila. E a população rural vive nos núcleos rurais existentes no interior da área de cultivo e de pecuária. Como resultado, a densidade demográfica da subárea é a maior dentre todas as subáreas da bacia do rio Jari. Neste aspecto, vale lembrar que a população moradora reside ali em função de um projeto de grande porte que se implantou na bacia, aproveitando-se da localização e dos recursos naturais ali existentes. O projeto é chamado pela população da região de “Projeto Jari” e é da iniciativa da empresa Jari Celulose S.A.. A área ocupada pela silvicultura da empresa é extensa, onde são encontrados núcleos rurais que dão suporte à atividade e a vila Monte Dourado, sede da Jari Celulose S.A, em Almeirim/PA. Outra empresa industrial na subárea em análise é a Caulim da Amazônia S.A. - CADAM, que explora o minério caulim no distrito de Munguba, também no município de Almeirim/PA, no outro lado da sede de Vitória do Jari. As duas sedes municipais encontradas na bacia, de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, se encontram nesta subárea e dependem diretamente das atividades industriais das empresas Jari Hydros EP518.RE.JR201 120 Celulose S.A. e CADAM. Embora a taxa de população urbana seja grande, as sedes municipais apresentam baixo grau de urbanização. A área urbanizada nas duas sedes municipais é horizontal, de baixo coeficiente de aproveitamento e se restringem a pequenas áreas. A infraestrutura é a mais diversificada entre as subáreas do componente-síntese Organização Territorial. Em relação aos sistemas de transporte são encontrados o aeroviário, rodoviário, hidroviário e ferroviário. O sistema aeroviário é formado por 1 aeroporto na vila de Monte Dourado, distrito de Almeirim/PA, 3 pistas de pouso em Laranjal do Jari/AP e 1 pista de pouso em Vitória do Jari/AP. Do aeroporto de Monte Dourado acessam-se os municípios de Belém, Santarém, Oriximiná e Itaituba, todos localizados no estado do Pará. O sistema rodoviário é formado predominantemente pela malha de estradas vicinais que estão localizadas principalmente no interior da área de silvicultura da Jari Celulose S.A, mais representativas no lado paraense. Esta malha de estradas vicinais liga Monte Dourado a Munguba. A subárea ainda conta com a rodovia federal BR-156, que conecta a sede do município de Laranjal do Jari a Macapá, capital do de Amapá. O acesso a outro núcleo de importância na região é feito pela estrada que liga Monte Dourado à sede do município de Almeirim, situada fora da bacia. Portanto, a malha de estradas vicinais é que forma a maior parte do sistema rodoviário, sendo a BR-156 e uma estrada estadual sem nome que fazem ligação aos núcleos de porte fora da bacia. O sistema hidroviário é composto tanto pelo rio Jari como por seus afluentes, constituindo meio de transporte muito comum utilizado pela população urbana como rural, especialmente a população ribeirinha. Os portos ficam na beira do rio Jari, nas sedes de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, em Monte Dourado, e no núcleo de Munguba. O porto em Laranjal de Jari fica precisamente no chamado “Beiradão” e em Vitória do Jari no chamado “Beiradinho”. Além da população local, o rio Jari é um meio de transporte muito importante, pois é utilizado para o escoamento de produção industrial da Jari Celulose S.A e Caulim da Amazônia S.A. Pelo rio Jari pode-se acessar grandes núcleos e pólos regionais, como as capitais Macapá/AP e Belém/PA, além de Santarém/PA, Oriximiná/PA e outras localidades situadas ao longo do rio Amazonas. Para tanto, as empresas contam com um porto próprio, de caráter industrial, localizado no núcleo de Munguba, onde se situa a fábrica Caulim da Amazônia. Em relação ao sistema ferroviário, verifica-se que a linha férrea está localizada na margem direita do rio Jari, no município de Almeirim/PA. Ela apresenta um formato de “Y” e liga dois pontos do interior da área de silvicultura da Jari Celulose S.A. a Monte Dourado, onde se localiza a sede da Jari Celulose S.A. Desta vila, segue até o núcleo de Munguba, onde se localiza a fábrica de Caulim da Amazônia S.A. Esta ferrovia é de uso privativo destas empresas, que passam seus carregamentos posteriormente aos navios de grande porte para então acessar o rio Amazonas e deste para os grandes portos da Amazônia e do exterior. Os governos estaduais e federal atuam na região da bacia do Jari através de órgãos que executam atividades relacionadas à gestão do território. Os governos estaduais utilizam os zoneamentos ecológico-econômicos como base para planejar as ações. Quanto à gestão territorial, o MACROZEE do Estado do Pará classifica a porção territorial da subárea III, localizada no município de Almeirim/PA, como Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas. E o ZEE da Área Sul do Estado do Amapá identifica quatro zonas na subárea III, que são as seguintes: Zona de Consolidação Produtiva; Zona de Expansão Produtiva Centrada no Hydros EP518.RE.JR201 121 Potencial Diversificado da Floresta; Zona de Expansão-Consolidação; e Zona de Expansão Produtiva na Extração da castanha-do-brasil, além de Espaços com Restrições a Indicações de Usos. Essas zonas abrangem toda a subárea III no lado amapaense. O território situado no município de Almeirim, formado pela Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas do MACROZEE do Estado do Pará, é gerido pelo ITERPA em parceria com outros órgãos estaduais como a SEMA do Pará, a SAGRI, a EMATER do Pará e o IDEFLOR. As políticas públicas definidas nessa zona são implementadas através de atividades de Regularização Fundiária, Cadastro e Licenciamento Ambiental dos Imóveis Rurais e Projetos de Investimentos Produtivos. No território situado nos municípios de Laranjal do Jari/AP e Vitória do Jari/AP, os órgãos estaduais responsáveis pela gestão do território também atuam de forma conjunta. Esses órgãos são a SEMA do Amapá, o IEPA, o RURAP e o TERRAP, cujas políticas públicas em sua maior parte ocorrem através da implementação de atividades de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais, além de atividades de fiscalização e implantação e acompanhamento de projetos rurais. 4.5.6.4 Subárea IV – Território Pouco Ocupado com Pouca Infraestrutura A Subárea IV compreende uma área de aproximadamente 204.132,50 ha, correspondente a parte dos municípios de Almeirim/PA e Vitória do Jari/AP. Em relação à cobertura vegetal e utilização do solo, essa subárea encontra-se coberta predominantemente por Floresta Ombrófila e por vegetação classificada como Formações Pioneiras com influência fluvial. Apresenta usos rurais, como agricultura, extrativismo e pecuária, na área correspondente ao município de Almeirim/PA. Na subárea em análise verifica-se a presença de apenas 5 localidades, classificadas como núcleos (IBGE, 2003). A densidade demográfica da subárea é, portanto, baixíssima, uma vez que existem poucos núcleos com população exclusivamente rural. Portanto, a taxa de população urbana é nula. A pecuária praticada na subárea IV localiza-se no lado paraense da bacia, no município de Almeirim/PA. E as atividades de extrativismo e agricultura localizam-se no lado amapaense, no município de Vitória do Jari. Na subárea em análise não se localizam atividades industriais. A infraestrutura existente na subárea IV é formada pelos sistemas hidroviário, aeroviário e rodoviário. O sistema hidroviário é, como em qualquer área da bacia, o mais importante na subárea pois possibilita o acesso a Macapá/AP, a Belém, Oriximiná, Santarém, no Pará, e a outras localidades situadas ao longo do rio Amazonas. O sistema aeroviário está presente através de uma pista de pouso localizada próxima a um núcleo, no município de Vitória do Jari/AP. O sistema rodoviário é formado por duas estradas vicinais, localizadas na margem direita do rio Jari, no estado do Pará. Uma delas conecta um núcleo ribeirinho a um outro núcleo localizado fora da bacia, em Almeirim/PA, e a outra acessa a margem esquerda do rio Amazonas. Os governos estaduais e municipais atuam na subárea em análise através de órgãos que executam atividades relacionadas à gestão do território e de produção rural. Os governos estaduais utilizam os zoneamentos ecológico-econômicos como base para planejar suas ações. Hydros EP518.RE.JR201 122 O MACROZEE do Estado do Pará classifica a porção territorial de Almeirim correspondente a esta subárea em duas zonas: Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas e Zona de Expansão de Atividades Produtivas. E o ZEE da Área Sul do Estado do Amapá classifica a porção territorial de Vitória do Jari correspondente a esta subárea, em três zonas, que são as seguintes: Zona de Expansão/Consolidação Produtiva na Extração da castanha-do-brasil; Zona de Expansão Produtiva Centrada no Potencial Diversificado da Floresta e Zona de Conservação Ambiental e de Consolidação Produtiva Sustentável das Várzeas. No município de Almeirim, o território formado pela Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas e Zona de Expansão de Atividades Produtivas do MACROZEE do Estado do Pará, é gerido pelo ITERPA, em parceria com outros órgãos estaduais como a SEMA do Pará, a SAGRI, a EMATER do Pará e o IDEFLOR. As políticas públicas traçadas nessa zona são implementadas através de atividades de Regularização Fundiária, Cadastro e Licenciamento Ambiental dos Imóveis Rurais e Projetos de Investimentos Produtivos. Nas três zonas identificadas no município de Vitória do Jari/AP, os órgãos estaduais responsáveis pela gestão do território também atuam de forma conjunta com órgãos executivos municipais. Esses órgãos são a SEMA do Amapá, o IEPA, o RURAP e o TERRAP, cujas políticas públicas em sua maior parte são implementadas através de Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais, além de fiscalização, acompanhamento e implementação de projetos rurais. A tabela a seguir apresenta as subáreas e as características mais relevantes consideradas para a compartimentação. Hydros EP518.RE.JR201 123 Quadro 4.5.6-1 – Subáreas da Organização Territorial Subáreas Elemento de Caracterização Dinâmica Demográfica Critérios para compartimentação em subáreas I – Território Pouco Ocupado de Utilização Restrita II – Território Desocupado sem Infraestrutura III – Território de Ocupação Mista (Planejada e Desordenada) IV – Território Pouco Ocupado com Pouca Infraestrutura Densidade Demográfica 19 Baixíssima Nula Média Baixa Baixíssima Taxa de População Urbana 0 0 90,82% (Laranjal do Jari e Vitória do Jari) 0 População Indígena Não há População não indígena População não indígena Cobertura Vegetal e Uso do Solo Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Densa Silvicultura; Agricultura temporária; Extrativismo; Mineração; Pecuária Agricultura; Extrativismo; Pecuária (Almeirim/PA) Cobertura Vegetal Predominante Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Densa e Vegetação Secundária Floresta Ombrófila Densa e Formações Pioneiras com influência fluvial Existência de Localidades20 Aldeias Indígenas21 (19) Não há Sedes municipais22 (2); Vila23 (1); Núcleos24 (12); Povoado25 (1) Núcleos (4) Tipo de População Predominante Ocupação do Território 19 A densidade demográfica, aqui tratada, constitui uma noção da densidade relativa a outras subáreas. 20 Localidade - todo lugar do território nacional onde exista um aglomerado permanente de habitantes. 21 Aldeias indígenas mapeadas pelo IEPÉ (2003) apud APINA; APIWATA (2006). 22 Sede municipal - localidade com o mesmo nome do Município a que pertence (sede municipal) e onde está sediada a respectiva prefeitura, excluídos os municípios das capitais. Hydros EP518.RE.JR201 124 Subáreas Elemento de Caracterização Critérios para compartimentação em subáreas Existências de Grandes Projetos Privados Ocupação do Território I – Território Pouco Ocupado de Utilização Restrita II – Território Desocupado sem Infraestrutura III – Território de Ocupação Mista (Planejada e Desordenada) IV – Território Pouco Ocupado com Pouca Infraestrutura Não há Não há Jari Celulose S.A. (exploração de eucalipto) e Caulim da Amazônia (exploração de minério) não há Não há As duas sedes municipais são dependentes das atividades das empresas Jari Celulose S.A. e Caulim da Amazônia S.A. Baixo Grau de Urbanização Núcleos isolados Não há 1 aeroporto (Monte Dourado); 4 pistas de pouso (3 em Laranjal do Jari e 1 em Vitória do Jari) 1 pista de pouso Estradas vicinais BR-156 (Laranjal do JariMacapá); Estrada estadual (núcleos Almeirim-Sede municipal de Almeirim-AP); Estradas vicinais (núcleos da subárea - núcleos fora da bacia) Hierarquia Funcional / Grau de Urbanização Não há Sistema Aeroviário 1 pista de pouso (aldeia Okakai) Circulação e Comunicação Sistema Rodoviário 23 Não há Vila - localidade com o mesmo nome do Distrito a que pertence (sede distrital) e onde está sediada a autoridade distrital, excluídos os distritos das sedes municipais. 24 Núcleo - localidade que tem a característica definidora de Aglomerado Rural Isolado e possui caráter privado ou empresarial, estando vinculado a um único proprietário do solo (empresas agrícolas, indústrias, usinas, etc.) 25 Povoado - localidade que tem a característica definidora de Aglomerado Rural Isolado e possui pelo menos 1 (um) estabelecimento comercial de bens de consumo frequente e 2 (dois) dos seguintes serviços ou equipamentos: 1 (um) estabelecimento de ensino de 1º grau em funcionamento regular, 1 (um) posto de saúde com atendimento regular e 1 (um) templo religioso de qualquer credo. Corresponde a um aglomerado sem caráter privado ou empresarial ou que não está vinculado a um único proprietário do solo, cujos moradores exercem atividades econômicas quer primárias, terciárias ou, mesmo secundárias, na própria localidade ou fora dela. Hydros EP518.RE.JR201 125 Subáreas Elemento de Caracterização Critérios para compartimentação em subáreas I – Território Pouco Ocupado de Utilização Restrita II – Território Desocupado sem Infraestrutura III – Território de Ocupação Mista (Planejada e Desordenada) IV – Território Pouco Ocupado com Pouca Infraestrutura Estradas vicinais entre os núcleos e áreas de produção Circulação e Comunicação Organização PolíticoAdministrativa Gestão do Território Sistema Hidroviário Rio Jari e afluentes Rio Jari 1 porto fluvial privado (Jari Celulose); rio Jari Rio Jari e Rio Amazonas (Macapá, Belém, Oriximiná, Santarém, núcleos locais) Sistema Ferroviário Não há Não há Ferrovia Monte DouradoMunguba Não há Acesso a Localidades e Pólos Externos a Bacia Macapá (aeroviário); Laranjal do Jari (hidroviário) Laranjal do Jari, Monte Dourado, Vitória do Jari (hidroviário) Macapá (hidroviário e rodoviário); Belém, Oriximiná, Santarém (aeroviário e hidroviário); Itaituba (aeroviário) Núcleos externos em Almeirim/PA (rodoviário) Presença de Sedes Municipais Não há Não há 2 Sedes Municipais (Laranjal do Jari e Vitória do Jari) Não há instituições públicas estaduais e municipais (ITERPA/ SEMA/ SAGRI/ EMATER/ IDEFLOR / SEMA/IEPA/ RURAP/ TERRAP) instituições públicas estaduais e municipais (ITERPA/ SEMA/ SAGRI/ EMATER/ IDEFLOR / SEMA/IEPA/ RURAP/TERRAP) instituições públicas estaduais amapaenses e municipais (ITERPA/ SEMA/ SAGRI/ EMATER/ IDEFLOR / SEMA/IEPA/ RURAP/TERRAP) Pará: Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Pará: Zona de Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas / Amapá: Zonas: de Consolidação Produtiva; de Pará: Zonas de: Consolidação e Expansão de Atividades Produtivas; de Expansão de Atividades Produtivas / Amapá: Presença e Atendimento de Instituições Classificação dos Zoneamentos EcológicoEconômicos MMA/ IBAMA; FUNAI, FUNASA Pará: Zona de Conservação / Terras Indígenas Hydros EP518.RE.JR201 126 Subáreas Elemento de Caracterização Critérios para compartimentação em subáreas estaduais Gestão do Território Políticas Públicas I – Território Pouco Ocupado de Utilização Restrita Amapá: Terra Indígena Unidades de Conservação Federais (MMA) e Estaduais (SEMAs); Governo Federal (FUNAI/ FUNASA) e ONGs II – Território Desocupado sem Infraestrutura III – Território de Ocupação Mista (Planejada e Desordenada) Produtivas / Amapá: Zona de Consolidação Produtiva Expansão Produtiva Centrada no Potencial Diversificado da Floresta; de ExpansãoConsolidação-Expansão Produtiva na Extração da Castanha-do-Brasil; Espaços com Restrições a Indicações de Usos Zonas de: ExpansãoConsolidação-Expansão Produtiva na Extração da Castanha-doBrasil; de Expansão Produtiva Centrada no Potencial Diversificado da Floresta; de Conservação Ambiental e de Consolidação Produtiva Sustentável das Várzeas Almeirim-PA: Regularização Fundiária; Cadastro e Licenciamento Ambiental dos Imóveis Rurais; Projetos de Investimentos Produtivos; Laranjal do Jari e Vitória do Jari: Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais Almeirim-PA: Regularização Fundiária; Cadastro e Licenciamento Ambiental dos Imóveis Rurais; Projetos de Investimentos Produtivos; Laranjal do Jari e Vitória do Jari: Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais Almeirim-PA: Regularização Fundiária; Cadastro e Licenciamento Ambiental dos Imóveis Rurais; Projetos de Investimentos Produtivos; Laranjal do Jari e Vitória do Jari: Licenciamento Ambiental de Propriedades Rurais IV – Território Pouco Ocupado com Pouca Infraestrutura Hydros EP518.RE.JR201 4.6 127 BASE ECONÔMICA Para este componente-síntese são levantados os principais bens e atividades econômicas significativas para a economia e a qualidade de vida da área em estudo e os recursos ambientais que se constituem em potencialidades para suporte às atividades econômicas futuras. Deve ser contextualizado nas escalas regionais e locais, isto é, da bacia, de modo a dar uma visão das atividades que dão sustentação econômica à região compreendida pela área de estudo. Desta forma, são abordados os seguintes tópicos: 4.6.1 ESTRUTURA PRODUTIVA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA BACIA Conforme observado, a bacia do rio Jari incorpora parcelas dos territórios de quatro diferentes municípios. Como as informações estatísticas disponíveis são de base municipal, optou-se por apresentar uma caracterização geral – tanto da distribuição do PIB como do conjunto da base econômica, tomando por base os dados relativos aos três municípios com maiores contribuições territoriais: Almeirim, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, que apesar de terem seus territórios apenas parcialmente englobados na bacia, tem, na mesma, suas principais aglomerações populacionais e atividades produtivas. Deixaram de serem consideradas as informações do município de Mazagão (AP) cuja porção territorial incluída na bacia, além de muito reduzida, não apresenta ocupação antrópica significativa, pouco refletindo nas estatísticas municipais. Como pode ser observado na Tabela 4.6.1-1, intitulada “Produto Interno Bruto dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2005 (em milhões reais)”, Almeirim se diferencia dos outros municípios considerados, pois seu produto interno bruto per capita é 2,5 vezes superior ao de Laranjal e Vitória do Jari. Destaca-se especialmente o valor adicionado de seu setor industrial – que é equivalente a 44,6% da soma do PIB total dos três municípios e com origem principalmente na indústria extrativa mineral/vegetal e de transformação, sediadas no Distrito Industrial de Munguba. Outro traço distintivo é a participação importante em termos absolutos (comparativamente a média da região) do setor primário, onde se destacam as atividades agro-florestais. Em 2005, Almeirim respondeu por 1,18% do PIB do Estado do Pará, colocando-se na 12ª posição no ranking estadual. Dada a estabilização das atividades produtivas principais neste município, num contexto estadual de amplo crescimento das atividades mineradoras, verificou-se um significativo retrocesso no ranking acima referido, pois em 1997 o município ocupava a 7ª posição. Para Laranjal do Jari e Vitória do Jari verifica-se uma ampla predominância do setor terciário com participações de respectivamente 85,7% e 81,5% no PIB. Trata-se de uma situação observada no conjunto do estado do Amapá, onde o terciário, com participação predominante do componente Administração Pública, apresenta contribuição para a formação do PIB superior a 80%. Os dois municípios considerados não fogem a este contexto, guardando uma estrutura produtiva ainda fortemente vinculada à origem enquanto núcleos de apoio e prestação de serviços à população, vinculada aos dois grandes aglomerados urbanos surgidos de modo espontâneo como desdobramentos do projeto Jari: elevado predomínio de um setor terciário amplo e de baixa densidade de capital; atividades agropecuárias dispersas (exceto a porção Hydros EP518.RE.JR201 128 agro-florestal explorada pela Jari); e atividades industriais pouco significativas e complementares ao extrativismo. As taxas de urbanização desses dois municípios são de, respectivamente, 94% e 71%, o que ajuda a entender a extensão do setor terciário, na ausência de atividade industrial significativa. Apesar dos investimentos já realizados para a urbanização e dotação de serviços básicos nas duas nucleações transformadas em sedes municipais, elas ainda são consideradas bolsões de pobreza pela Secretaria Estadual de Planejamento. Não obstante, são crescentes as atividades extrativistas – frequentemente com pouca transparência nas estatísticas oficiais, destacando-se no conjunto da bacia a extração e beneficiamento da castanha-do-brasil e as extrações e comércio da madeira e do ouro. Tabela 4.6.1-1 – Produto Interno Bruto dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2005 (em milhões reais) Almeirim (PA)* Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Setores Abs. % Abs. % Abs. % Agropecuária 40,0 10,0 11,0 7,2 5,0 10,4 Indústria 270,0 66,5 5,0 3,3 1,0 2,1 Serviços 91,0 22,5 130,0 85,5 37,0 77,1 Impostos 4,01 1,0 6,0 4,0 5,0 10,4 PIB 405,0 100,0 152,0 100,0 48,0 100,0 11.819,0 - 4.629,0 - 4.797,0 - PIB per capita (R$) *De acordo com a SEPOF-PA o montante de imposto era da ordem de 9,4 milhões de reais. Fonte: Fundação IBGE. Os dados relativos ao Produto Interno Bruto permitem observar, desse modo, que a geração de Valor Adicionado no âmbito da bacia do rio Jari está fortemente concentrada no distrito de Monte Dourado do município paraense de Almeirim, especialmente no Distrito Industrial de Munguba, onde estão sediadas as empresas remanescentes do antigo projeto Jari, conforme será comentado mais adiante. 4.6.1.1 Estrutura Fundiária Os dados do Censo Agropecuário de 1995/96 indicam para Almeirim uma estrutura fundiária onde se pode observar o impacto dos projetos de assentamento e colonização dirigidos e organizados pelo INCRA nas décadas de 1980 1990. É relevante a grande proporção de estabelecimentos nos estratos de 10 a 100 hectares e de 100 a 200 hectares, apesar de ser também proporcionalmente ampla a presença de minifúndios. O número de estabelecimentos médios é reduzido e poucas grandes propriedades englobavam a maior parte do território. Os dados do Cadastro de Imóveis Rurais do INCRA (2006) indicam a permanência dessa situação: 83,5% dos imóveis classificam-se como pequenos ou minifúndios; e 90,2% das terras pertencem a 83 grandes imóveis. A área total dos imóveis era de 1,58 milhões de hectares. Já para Laranjal e Vitória do Jari a estrutura apresenta-se proporcionalmente semelhante, exceto quanto à maior participação dos minifúndios. É notável o fato de que o número de Hydros EP518.RE.JR201 129 estabelecimentos agropecuários seja reduzido, denotando uma muito menor apropriação privada do território. As estatísticas cadastrais do INCRA (2006) registram a presença de apenas 5 imóveis rurais em Vitória do Jari, ocupando 1.300 hectares, contra 89 estabelecimentos ocupando 23.234 hectares levantados pelo Censo Agropecuário no mesmo ano. Para Laranjal do Jari a primeira fonte registra a presença de 500 imóveis, ocupando 530,7 mil hectares, indicando ainda que um único grande imóvel responda por 90,5% da área total, contrapondo-se a 421 imóveis pequenos ou minifúndios que ocupavam 7% da mesma variável. O Censo Agropecuário contabiliza 353 estabelecimentos ocupando 2.593 hectares. Trata-se de dados não comparáveis que, malgrado graves diferenciações, são coincidentes em apontar: (i) para e elevado índice de concentração da posse da terra pelos grandes imóveis ou estabelecimentos; (ii) para o proporcionalmente elevado número de estabelecimentos pequenos ou imóveis pequenos e minifúndios; e, por fim, (iii) para o baixo grau de apropriação do território, especialmente na margem esquerda da bacia. No que se refere à Utilização das Terras em 2006 (Tabela 4.6.1-2, intitulada “Utilização das Terras nos Estabelecimentos Agropecuários dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em hectares)”), destaca-se, para os municípios de Laranjal e Vitória do Jari, que mesmo entre as áreas apropriadas privadamente predominavam amplamente as matas naturais e plantadas. As lavouras englobavam frações ínfimas dos estabelecimentos, o mesmo verificando-se com a área ocupada pela pecuária. Já em Almeirim, se as lavouras ocupavam apenas 1,2% da área dos estabelecimentos, a pecuária respondia por 42,6% desse montante. Outro aspecto significativo da estrutura fundiária se refere à dimensão das áreas agrícolas. Em Vitória do Jari, 44 estabelecimentos mantinham lavouras permanentes num total de 166 ha, o que representa uma área média de 3,7 ha. Para as lavouras temporárias a área média era um pouco maior (7,5 ha), verificando-se áreas médias ainda menores, nos dois outros municípios considerados. Tabela 4.6.1-2 – Utilização das Terras nos Estabelecimentos Agropecuários dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em hectares) Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Abs. % Abs. % Abs. % 166.119 100,0 2.593 100,0 23.234 100,0 Lavouras 2.074 1,25% 136 5,24% 611 2,63% Pastagens 70.814 42,63% 358 13,81% 290 1,25% Matas 89.119 53,65% 2.091 80,64% 2.277 9,80% Produtivas em descanso ou não utilizadas 4.112 2,48% 8 0,31% 20.056 86,32% Utilização das Terras Total Vitória do Jari (AP) Fonte: IBGE. Censo Agropecuário, 2006. Destaca-se claramente das informações proporcionadas pelo INCRA e, especialmente pelo Censo Agropecuário de 2006, que as atividades agropecuárias são ainda muito incipientes nos municípios englobados pela bacia do rio Jari, aspecto que é especialmente impactante ao se considerar a margem esquerda, onde foram identificados apenas 747 hectares de lavouras. Hydros EP518.RE.JR201 4.6.1.2 130 Agricultura Os dados anteriormente realçados são indicativos da ampla predominância da pequena produção e das roças. No interior da bacia, na margem esquerda, as atividades agrícolas se concentram no entorno das sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, distribuindo-se os estabelecimentos de forma lindeira ao rio. Na outra margem a atividade agrícola é ainda menos presente, aparecendo com maior nitidez apenas em áreas próximas ao igarapé Caracaru e seus tributários. Entre as lavouras temporárias, predominam as culturas alimentares, com destaque para a mandioca, seguida do arroz, do milho e do feijão. O milho é geralmente cultivado em consórcio com a mandioca ou com o feijão. A fruticultura é uma atividade considerada relevante nos dois estados envolvidos e na área de estudo é representada pelas culturas temporárias, pelas produções de melancia e abacaxi. Não há registro acerca das culturas industriais. Como pode ser observado na Tabela 4.6.1-3, intitulada “Área Colhida das Principais Lavouras Temporárias dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em hectares)”, trata-se de áreas plantadas e quantidades produzidas pouco expressivas em termos comerciais, sendo as mesmas essencialmente voltadas ao autoconsumo e produção de pequenos excedentes comercializáveis. É notável, na margem esquerda, o predomínio da área colhida com mandioca, sendo a farinha produzida pelos pequenos produtores à base da alimentação e da produção de excedentes comercializáveis no decorrer de todo o ano. Entre as lavouras permanentes, destaca-se apenas a banana, com registros ainda para laranja e maracujá. O estado do Amapá foi considerado tradicionalmente um importante produtor de banana, com exportações para o Pará e outros estados do Norte. Com relação à área em estudo, trata-se de superfícies plantadas e colhidas reduzidas, sem maior expressão comercial. Cabe registrar que em Jarilândia – às margens do rio Jari acerca de 10 km do rio Amazonas, entre 1969 e 1974, ocorreu um empreendimento significativo de produção experimental de arroz irrigado em área de várzea e que chegou a ocupar 137 hectares. Esse empreendimento estava vinculado ao Projeto Jari e à intenção de produzir – no Município de São Raimundo onde dispunha de uma gleba de 14 mil hectares - arroz em grande escala para o mercado mundial. Tabela 4.6.1-3 – Área Colhida das Principais Lavouras Temporárias dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em hectares) Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Arroz em casca 250 95 40 Feijão 24 150 50 Mandioca 200 536 330 Melancia 10 35 15 Milho 100 150 50 Abacaxi 32 27 10 Lavouras Temporárias Fonte: Fundação IBGE – Produção Agrícola Municipal, 2006. Hydros EP518.RE.JR201 4.6.1.3 131 Pecuária A pecuária, como pode ser observado através dos dados da Tabela 4.6.1-4, intitulada “Rebanhos dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em unidades de animal)”, também não se constitui em vocação local, especialmente na margem esquerda, onde as populações são eminentemente urbanas e é reduzido o número de estabelecimentos rurais. A atividade é desenvolvida de modo extensivo e sem aplicação das técnicas recomendadas e manejos adequados às peculiaridades da região. Os rebanhos são bastante reduzidos, com predomínio do bufalino, atividade tipicamente ribeirinha. Os estudos consultados sugerem que os principais fatores que incentivaram a criação de búfalos na bacia do rio Jari são a sua rusticidade e adaptação a ambientes inundáveis, resistência a doenças e manejo simplificado. A quase totalidade do rebanho tem por finalidade o abate e o corte, sendo inexpressiva a produção de leite, cuja média é de apenas 3 litros/dia. A bovinocultura é mais expressiva em Almeirim-PA, onde o rebanho é de quase 25 mil cabeças. No âmbito da bacia, a atividade não parece ser expressiva, tendo sido identificada uma única área mais ampla de pastagens, deduzindo-se que também nesse território tende a predominar a criação de búfalos. Tabela 4.6.1-4 – Rebanhos dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em unidades de animal) Rebanhos Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Bovino 23.976 2.178 1.912 Suíno 4.172 1.877 1.454 Bufalino 29.173 2.119 4.190 Fonte: Fundação IBGE, 2006. 4.6.1.4 Extrativismo Vegetal A Jari Celulose possui autorização para plantio de reflorestamento de 132 mil hectares, dos quais atualmente vem utilizando 58 mil hectares, desigualmente divididos entre os municípios de Almeirim, de um lado, e de Vitória do Jari e de Laranjal do Jari, de outro. Recentemente , esta empresa recebeu financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, para o plantio de mais 32 mil hectares de eucalipto. Com uma produtividade média de 35/40 m³ por hectare. A madeira é diretamente aproveitada pela planta industrial para a produção de celulose implantada no local. A Jari Celulose é a principal e quase exclusiva responsável pelos 2.216 postos de trabalho proporcionados pelas empresas que atuam no setor primário da economia de Almeirim. As demais atividades do extrativismo vegetal são praticadas por pequenos produtores, agora em grande parte organizados em sistemas cooperativos, destacando-se neste aspecto a Cooperativa Mista de Produtores Agro-extrativistas de Laranjal do Jari – COMAJA, localizada no Morro do Filipe. Também tem sede neste município a Cooperativa Mista dos Produtores da RDS Iratapuru – COMARU. Trata-se esta última de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável que funciona de modo diferenciado, pois em seu interior não há oficialmente moradores. Comunidades próximas, assentadas em terrenos privados, são consideradas guardiãs da reserva e também suas usuárias e beneficiárias. Sem plano de Hydros EP518.RE.JR201 132 manejo e conselho gestor, assumiu as características de uma reserva extrativista. Na vizinhança desta RDS, também com uma pequena porção incluída na bacia em estudo, foi implantado o PA Agro-Extrativista Maracá, ocupando territórios dos municípios de Laranjal do Jari e Mazagão, no interior do qual estão situadas 36 comunidades. Duas outras entidades representativas desses trabalhadores e que também atuam na organização da produção são as Associações dos Trabalhadores Agro-extrativistas das Reservas, respectivamente, do Rio Cajari e do Rio Maracá. As informações relativas a 2006 – Pesquisa da Produção Extrativa Vegetal, IBGE, indicam que o montante da produção de castanha de Laranjal do Jari e de Vitória do Jari, 694 toneladas, corresponde a 75,7% da produção do estado do Amapá. A coleta e extração da castanha-do-brasil respondem por uma parcela significativa da renda das famílias residentes nas comunidades rurais, assumindo realce, também, a coleta e beneficiamento do açaí e a produção de palmito de buriti. Duas prolongadas paralisações nas atividades da Jari Celulose contribuíram para levar a população local, assim como aquela que migrou para a região, a retomar atividades tradicionais para procurar garantir a subsistência. Com o apoio de entidades públicas e de Organizações Não-Governamentais – e mais recentemente de ações de responsabilidade social do Grupo ORSA, a atividade extrativista foi diversificada e vem ganhando uma maior expressão econômica. Foram afastados os tradicionais atravessadores através da organização de cooperativas, e vem sendo agregado maior valor à produção através de diversos níveis de beneficiamento artesanal e industrial. Paralelamente e com apoio das Administrações Municipais, vêm sendo programadas festividades vinculadas a esse tipo de economia e às manifestações culturais que lhes são próprias, com o duplo benefício de estabelecer um calendário voltado à atração de turistas e de divulgar a produção local. O extrativismo madeireiro é uma das principais bases da economia da maioria dos municípios paraenses, superado apenas pela atividade mineral, sendo ainda o segundo maior gerador de divisas na pauta estadual de exportação. Como pode ser observada na Tabela 4.6.1-5, intitulada “Produção Extrativa Vegetal dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em toneladas)”, a produção de madeira em tora nos municípios da bacia do rio Jari concentra-se no município de Almeirim, aparecendo como ainda praticamente inexistente nos demais. Essa informação se choca com outras informações secundárias de cunho qualitativo, que situam esta atividade como uma das mais importantes em Laranjal do Jari e Vitória do Jari. Observa-se ainda que a madeira é o principal produto de exportação do Amapá. Com relação à Almeirim é importante situar que sua produção de madeira em tora representa cerca de 21% da produção estadual paraense. Hydros EP518.RE.JR201 133 Tabela 4.6.1-5 – Produção Extrativa Vegetal dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em toneladas) Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Açaí (t) 80 45 21 Castanha-do-pará (t) 170 441 253 2006,9 - 14,2 Produtos Madeira em Tora (1000 m3) Fonte: Fundação IBGE. 4.6.1.5 Atividade Pesqueira Na área de estudo não são conhecidas atividades pesqueiras de cunho exclusivamente comercial. A pesca é desenvolvida pelas famílias locais, especialmente as domiciliadas no ambiente rural, como parte de suas atividades de subsistência – consistindo na principal fonte de proteína animal. Nos rios e lagos da região são capturadas espécies como o tucunaré, pacu, mafurá, pirarucu, tambaqui, pintado, surubim, matrinchã, peixe-cana, curimatá, camunani, entre outros, utilizando-se de instrumentos de pesca, como: arpões, malhadeiras, zagaias e mais frequentemente, linha e anzóis. 4.6.1.6 Produção Mineral No Amapá, através da associação entre a Indústria e Comércio de Minerais S.A. – ICOMI, e a multinacional Bethlehem Steel Company, durante quatro décadas o manganês de Serra do Navio foi o único bem mineral explorado industrialmente e o principal núcleo da economia local. A partir dos anos 80 o setor se diversificou com a instalação de mineradoras de ouro, cromita e caulim. Mesmo com o esgotamento das jazidas de manganês de Serra do Navio, de acordo com dados da SEPLAN/AP, o Estado permaneceu sendo o segundo produtor deste mineral no país e é o sexto produtor de ouro, respondendo a mineração por 12% da arrecadação estadual. Atualmente são explorados no Amapá o manganês, ouro, caulim e granito. Quanto ao Pará, às informações disponíveis indicam que este estado possui a maior reserva mineral do país e seu potencial mineral representa, em relação ao potencial nacional, 80% das reservas de Bauxita, 74% do Cobre, 47% do Ferro, 28% do Manganês, 21% do Níquel e 6,4% do Ouro. Dentre os minerais não metálicos, o Pará concentra 62% da Gipsita, 54% do Cristal de rocha e 49% do Caulim. Na bacia do rio Jari destaca-se a presença de unidades geológicas com vocação mineral com destaque para o distrito Bauxitífero/Caulinítico de Almeirim/Jari. A CADAM explora atualmente a mina Filipe II, um conjunto de 10 jazidas situadas em Vitória do Jari. As reservas locais, de acordo com o DNPM/SEICOM são estimadas em 156 milhões de toneladas e o beneficiamento é realizado no município vizinho, Almeirim. Neste mesmo município a Mineração Santa Lucrecia trabalha na extração e beneficiamento da bauxita refratária, verificando-se ainda a extração do ouro no sistema de garimpo. As reservas locais desse mineral, segundo a mesma fonte citada, foram estimadas em 3.485 kg de ouro contido na reserva medida. Já no município de Laranjal do Jari, em pequena escala, há a exploração Hydros EP518.RE.JR201 134 de areia, realizada pela empresa C. R. Almeida, com a finalidade de uso para a construção civil. Apesar de existirem atividades extrativistas formais bastante intensas, especialmente na margem esquerda, este fato não se reflete nas estatísticas sobre a força de trabalho ocupada na Indústria Extrativa, que registra apenas 10 pessoas em toda a bacia, como poderá ser observado na análise da Estrutura Empresarial, na sequência. 4.6.1.7 Turismo O Fórum Estadual de Turismo do Amapá, juntamente com a Secretaria Estadual de Turismo, definiu diretrizes políticas e produtos turísticos, estabelecendo os cinco pólos turísticos estaduais, sendo um deles o de Castanhal, onde está inserido o município de Laranjal do Jari. O principal ponto turístico deste pólo é a cachoeira Santo Antonio – imponente com seus 28 metros de altura e se constituindo num dos mais belos monumentos naturais da Amazônia, localizada em Laranjal do Jari. Verifica-se ainda a presença de inúmeras outras cachoeiras e corredeiras a montante, no médio e alto curso do rio Jari. Outro importante atrativo turístico situado nesta margem é a Reserva Extrativista do Rio Cajari (RESEX) com amostra de diferentes ambientes naturais e conhecimento das estratégias de vida de populações centradas no uso sustentado dos recursos naturais. Encontra-se ainda em processo de consolidação um calendário de festas, com potencial para se constituir em importante atrativo. Em Laranjal do Jari, no mês de abril ocorre o Festival da castanha-do-brasil, em junho a festa de São Pedro (padroeiro local) e em novembro o Festival do Caju. Em Jarilândia, no mês de novembro, acontecem as festividades em louvor de Nossa Senhora da Conceição. Ainda em julho, as cooperativas de produtores extrativistas promovem o festival do Açaí. No município de Almeirim, em dezembro, ocorre a festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade. O turismo é ainda uma atividade embrionária, porém vem sendo objeto de investimentos do poder público e da iniciativa privada e já apresenta alguns adensamentos, como uma rede básica mínima de hospedagem (especialmente pousadas) e serviços de turismo receptivo (excursões e pesca). 4.6.1.8 Atividades Urbanas Conforme comentado na análise da composição do PIB, a Indústria de Transformação é a mais importante atividade econômica do município de Almeirim, sendo apenas residual nos municípios da margem esquerda, onde predominam destacadamente as atividades terciárias. No município de Almeirim, estas atividades estão concentradas no distrito de Monte Dourado, onde três grandes empresas respondem pela predominância do setor industrial. As duas maiores estão localizadas no Distrito Industrial de Munguba e a terceira de modo lindeiro ao ramal ferroviário, isto é, estão situadas fora dos ambientes urbanos propriamente ditos. Nestes, predominam amplamente o comércio, os serviços e as administrações municipais, sendo restritas as atividades industriais. A produção da Jari Celulose, malgrado algumas paralisações relativamente longas, mantevese crescente e atualmente situa-se próxima da capacidade instalada que é de 360 mil toneladas anuais de celulose branqueada de eucalipto. O complexo industrial é composto por uma unidade de produção de celulose branqueada de sulfato, conhecido como processo Kraft, Hydros EP518.RE.JR201 135 sendo o processo completado por uma linha de secagem e enfardamento, além de instalações para recuperação de produtos químicos. Estão previstos investimentos que serão parcialmente cobertos por empréstimo levantado junto ao BNDES, para a modernização do conjunto da unidade produtiva, que deverá elevar a produção para 410 mil toneladas anuais. Conforme já observado, em função da localização privilegiada, a ampla maior parte da produção (mais de 90%) é exportada para a Europa. A CADAM concluiu recentemente seu projeto de expansão e de maior agregação de valor à sua produção, estando dimensionada para o beneficiamento de 1,2 milhões de toneladas/ano de argila caulinítica. Até recentemente, a CADAM era a maior produtora nacional de caulim e outros derivados, respondendo ainda por parcela substancial da produção e das exportações do país. Além do caulim, os principais itens exportados eram o exametafosfato e o hidrosulfito. Por último, a mineração Santa Lucrecia sofreu um primeiro processo de ampliação em 1988, elevando sua capacidade de produção para 260 mil toneladas/ano de bauxita refratária crua. No início dos anos da década de 1990, instalou sucessivamente duas usinas de calcificação, atingindo uma capacidade de produção de 150 mil toneladas/ano de bauxita refratária calcinada. Essas três empresas, em 2005, eram responsáveis pela maior parcela dos 1.534 postos de trabalho gerados pelas Indústrias de transformação em Almeirim. A Construção Civil concentrava também uma parcela significativa dos postos de trabalho, colocando-se como o quarto ramo de atividade em importância nesse aspecto. Nos dois municípios da margem esquerda, o número de postos de trabalho na indústria de transformação era de apenas 29, bastante inferior aos da Construção Civil, que somavam 198 ocupações, a partir de 42 empresas cadastradas pelo IBGE. Vale destacar que em Laranjal do Jari começam a aparecer, de modo ainda incipiente, algumas atividades industriais, tais como: extração e fabricação de palmitos do açaí; fabricação de óleo comestível e de biscoitos a partir da castanha-do-brasil, que inclusive são exportados para a França; e fábricas de tijolos que atendem ao mercado interno e são exportados para o Pará e pequenas movelarias. Como pode ser observado na Tabela 4.6.1-6, intitulada “Estrutura Empresarial dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2005”, o setor terciário é amplamente dominante no que se refere ao número de empresas e postos de trabalho. Em Almeirim, destaca-se a Administração Pública, ocupando 25% da força de trabalho. Acrescentando-se os serviços públicos e privados, essa proporção eleva-se para 30%. A elevada geração de Valor Adicionado Fiscal possibilita transferências significativas da Cota Parte Municipal do ICMS, viabilizando um melhor nível de prestação dos serviços básicos de educação, saúde e assistência social. Seguem-se o comércio e as atividades imobiliárias, destacando-se a presença de mais de 300 estabelecimentos comerciais. Essa atividade é particularmente significativa em Laranjal do Jari, onde o setor comercial é dominante e responde pela maior parcela dos estabelecimentos e dos postos de trabalho. Conforme já observado, trata-se de aspecto diretamente derivado da origem da aglomeração como base de apoio comercial e de serviços para a população de Monte Dourado. Ao confirmarem-se os dados do IBGE relativos ao pessoal ocupado na Administração Pública e na Prestação de Serviços de educação, saúde e assistência, tende a ser muita fraca a presença das diferentes esferas do Poder Público nos municípios da margem esquerda. Hydros EP518.RE.JR201 136 Tabela 4.6.1-6 – Estrutura Empresarial dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2005 Setores de Atividade Agricultura, Pecuária, Silvicultura e Expl. Flor. Pesca Indústria Extrativa Ind. de Transformação Prod. Distribuição. Luz e gás Construção Civil Comércio Alojamento / Alimentação Transporte, Com. Armazenagem Intermediação Financeira Atividades Imobiliárias Administração Pública Educação Serviços Saúde e Sociais Serviços Coletivos Almeirim (PA) Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Empresas Ocupados Empresas Ocupados Empresas Ocupados 13 2.216 5 3 - - 3 1 6 6 - - 26 1.534 28 26 6 3 3 4 - - - - 20 324 321 624 27 353 99 679 15 66 99 59 29 112 15 23 1 - 64 235 25 62 5 70 10 41 34 101 3 28 55 380 23 31 1 - 4 1.570 2 - 2 - 13 115 9 17 1 - 11 26 - - - - 74 414 31 75 12 16 Fonte: IBGE, 2005. Hydros EP518.RE.JR201 137 Na Tabela 4.6.1-7, intitulada “Estrutura Empresarial dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, Unidades de Produção e/ou de Prestação de Serviços e Pessoal Ocupado, 2006”, são apresentados dados adicionais da Estrutura Empresarial desses mesmos municípios para 2006, tendo em vista identificar as atividades com a presença de trabalho assalariado, que formam o núcleo da economia formal e de mercado. O montante das unidades empresariais era nesse momento de 1.274, ocupando 7.237 pessoas, das quais 6.452 (89,3%) assalariadas. Em Almeirim, estavam sediadas 565 (43%) dessas unidades e que respondiam por 5.802 ocupações (80,2% do montante), das quais 5.128 ocupações assalariadas (79,5% do respectivo montante), caracterizando o principal núcleo de atividades econômicas formais e integradas na economia de mercado. Nesse contexto, Almeirim englobava 100% das ocupações em empresas atuantes no setor primário (responsáveis por 28,7% do montante das ocupações proporcionadas pela estrutura empresarial), 96,6% das ocupações proporcionadas pela Indústria de Transformação (que por sua vez respondia por 24,6% do total de ocupações), além de 76,3% e 86,5% das ocupações proporcionadas, respectivamente, pela Construção Civil e pelas Atividades Imobiliárias e Financeiras. Apenas nas atividades Comerciais e, em menor proporção, nas de Alojamento e Alimentação e Outros Serviços, Laranjal do Jari aparece com maior destaque. Vitória do Jari apresenta participações pouco significativas, seja em número de empresas, seja nos empregos gerados. Tabela 4.6.1-7 – Estrutura Empresarial dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, Unidades de Produção e/ou de Prestação de Serviços e Pessoal Ocupado, 2006 Municípios Estrutura Empresarial Agricultura, Pecuária, Extr.Vegetal Indústria de Transformação Construção Total Laranjal do Jari Vitória do Jari Almeirim Unidade 2 1 14 17 P.O.- Total - - 2.075 2.075 P.O-Assalariado Salários (R$1000) - - 2.062 2062 - - 19.237 19.237 Unidade 21 21 26 68 P.O.- Total 28 28 1.598 1.654 P.O-Assalariado Salários (R$1000) 10 - 1.579 1589 40 - 41.938 41.978 Unidade 36 15 23 74 P.O.- Total 91 61 490 642 P.O-Assalariado 52 46 463 561 Hydros EP518.RE.JR201 138 Municípios Estrutura Empresarial Comércio Transporte Alojamento e Alimentação Atividade Imobiliária Outros Serviços Total Laranjal do Jari Vitória do Jari Almeirim Salários (R$1000) 238 266 3.895 4.399 Unidade 344 70 311 725 P.O.- Total P.O-Assalariado Salários (R$1000) Unidade P.O.- Total P.O-Assalariado Salários (R$1000) 734 451 71 24 639 327 1.444 802 2.940 100 2.517 5.557 23 59 41 6 84 79 62 305 243 91 448 363 402 942 2.962 4.306 Unidade 15 15 25 55 P.O.- Total P.O-Assalariado Salários (R$1000) Unidade 32 20 32 - 133 112 197 132 138 - 631 769 20 20 41 81 P.O.- Total 21 21 268 310 P.O-Assalariado Salários (R$1000) Unidade P.O.- Total P.O-Assalariado Salários (R$1000) 3 - 216 219 22 - 2.029 2.051 50 80 28 50 80 9 63 307 126 163 467 163 403 211 1.992 2.606 Fonte: IBGE, Cidades@, Estrutura Empresarial, http://www.ibge.gov.br/Cidades@at/default.php. Acesso em: 10/12/2008. 2006. Disponível em: No que se refere aos salários, destaca-se uma grande diferenciação inter setorial. No Secundário, concentrado em Almeirim, eles atingem o maior índice médio (equivalente a 100 em números índice), caindo para o índice 38,3 no setor Primário (também concentrado em Almeirim), e com índices ligeiramente inferiores para a Construção Civil (32). Para as atividades terciárias – onde há grande predominância do Comércio, o salário médio despenca para o índice 9,3. Para o município de Laranjal do Jari, com 723 ocupados assalariados – 9,9% do total da bacia, a maior porção (451 ou 62,4%) atua no comércio, resultando numa renda salarial extremamente rebaixada, se comparado com Almeirim. O mesmo se verifica com Vitória do Jari, com 158 ocupados assalariados – 2,2% do total da bacia, que se dividem principalmente entre a Construção Civil, o Comércio e os Transportes. Hydros EP518.RE.JR201 4.6.1.8.1 139 Síntese da Estrutura Produtiva A estrutura produtiva presente na bacia do rio Jari é pouco densa e está concentrada em seu baixo curso – a planície sedimentar que sucede o Escudo das Guianas, onde o acesso aos recursos naturais foi facilitado pelo relevo plano e a navegabilidade dos rios. Na grande porção mais ao sul, grosso modo correspondente ao alto e médio curso do rio Jari, com relevo mais acidentado e hidrografia encachoeirada e pouco propícia à navegação – e carente de outras vias de acesso, é muito reduzida a antropização, sendo elevado o grau de preservação da cobertura vegetal nativa. Na sequência apresenta-se uma síntese da estrutura produtiva destas duas porções, destacando-se alguns processos em andamento e que poderão alterar os cenários atualmente predominantes: - Porção Norte – Alto e Médio curso do rio Jari: essa porção, em sua quase totalidade, está englobada em Unidades de Conservação, algumas delas instituídas recentemente, e Terras Indígenas. Esse estatuto contribuiu, adicionalmente, para inibir frentes de penetração (tanto madeireiras como de exploração mineral) e minimizar e manter dispersa a exploração de seus recursos naturais. Além de garimpos e do corte seletivo de madeiras nobres (ambos ilegais), as principais atividades produtivas atualmente desenvolvidas estão voltadas para a extração florestal praticadas por comunidades ribeirinhas dispersas. Tanto essas populações, como os grupos indígenas, praticam também a agricultura – roças, a caça e a pesca. Trata-se, não obstante, de uma situação provisória e que tende a alterar-se, tendo-se identificado vetores neste sentido que atingem particularmente a Reserva Biológica Maicuru, a Floresta Estadual do Paru e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru: Em relação à Reserva Biológica Maicuru, onde previamente à sua implantação a empresa de mineração Rio Tinto realizava atividades de pesquisa na cabeceira do rio Curuá (fora da bacia em estudo) – estimando-se a presença de grandes reservas de bauxita, encontra-se em processo uma demanda para redução de sua área com o objetivo de dar continuidade às pesquisas e viabilizar a exploração mineral. Também estão sendo feitas pela mesma empresa pesquisas dentro da FLOTA do Paru – cujo estatuto legal comporta diversas modalidades de exploração de seus recursos naturais, e que igualmente são indicativas da presença de importantes reservas do mesmo mineral. Outro vetor que se orienta para esta Floresta Estadual, já tendo atingido suas bordas, é a frente madeireira. A principal atividade econômica do Pará é ainda a madeireira, respondendo este estado por quase 50% da produção nacional e a frente madeireira se origina das regiões produtoras tradicionais, como Paragominas, por exemplo, onde os estoques estão escasseando em função da exploração predatória. É importante considerar, neste contexto, que a recente instituição desta FLOTA – 2005, está vinculada a uma estratégia de disciplinamento e controle da exploração dos recursos naturais, especialmente dos recursos madeireiros. Seu território pode ser objeto de concessão para a exploração deste bem e de outros produtos florestais e existe a possibilidade de que venha a se tornar um grande pólo de produção madeireira através de projetos de exploração sustentável. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, no médio curso do rio Jari, em sua margem esquerda, além de garimpos clandestinos – presentes com maior intensidade no entorno do rio Cupuxi, comporta uma crescente exploração da castanha-do-brasil, assim como da copaíba, andiroba e do camu-camu. Organizados através de uma cooperativa, a COMARU, os castanheiros locais já industrializaram a Hydros EP518.RE.JR201 140 produção de óleo de castanha e tem contrato de fornecimento de longo prazo para a empresa Natura, para a fabricação de cosméticos. A atividade tem se mostrado rentável e outras empresas vêm se mostrando interessadas, existindo a possibilidade de importante ampliação dessa atividade. Vizinha a esta Reserva, localiza-se dentro da bacia do rio Jari uma pequena porção do Projeto de Assentamento Agro-Extrativista Maracá, onde 36 comunidades se dedicam às atividades extrativistas e desenvolvem iniciativas de agregação de valor aos produtos florestais. Verifica-se, neste contexto, que a porção mais ao norte da bacia, parcela englobada por Unidades de Conservação de Proteção Integral e Terras Indígenas, malgrado a presença de algumas atividades clandestinas e das demandas para diminuir suas áreas, tende a manter seu atual elevado grau de preservação, conservando sua destinação para usufruto das etnias indígenas e para a preservação e estudo de seus recursos naturais. Já para áreas institucionais que permitem usos sustentáveis, existe um grande potencial para a ampliação das atividades antrópicas, com ênfase para a produção mineral, a exploração sustentada da madeira e para as atividades agro-extrativistas. O município de Laranjal do Jari é exemplar no sentido de ostentar claros limites e condicionantes institucionais à apropriação da fronteira de recursos, pois do montante de 31.170,30 km² de seu território: - 16.474,04 km² (ou 52,8%) pertencem ao Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque – com o uso legal das terras ainda em definição, - 538,84 km² (2,69%) pertencem à Terra Indígena Parque do Tumucumaque e 3.580 km² (11,48%) à Terra Indígena Waiãpi, com uso de seus recursos naturais destinado ao usufruto dos povos indígenas, - 6.174,80 km² (19,81%) estão incorporados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru – destinada a práticas produtivas sustentáveis, especialmente o extrativismo da castanha-do-brasil, - 866,53 km2 (2,78%) pertencem à Estação Ecológica do Rio Jari – com uso totalmente restrito, - 1.962,23 km² (6,29%) pertencem à Reserva Extrativista do Rio CaJari e, - 216,37 km² (0,69%) são ocupados pelo Projeto de Assentamento Extrativista do Maracá. - Esse conjunto de perímetros institucionais totaliza 96,5% da superfície municipal e a maior parcela da população rural está assentada em 9 comunidades ou setores localizados na porção restante (1.325,49 km² ou 4,25%) que é tratada como propriedade da Jari Celulose, restando ainda à gleba patrimonial urbana (32 km²), que abriga a sede municipal e o assentamento Maria de Nazaré Mineiro. - Porção Sul – baixo curso do rio Jari: nesta porção verifica-se a presença e constante expansão de um forte núcleo empresarial voltado à exploração e beneficiamento de recursos florestais e minerais. As empresas que o compõem são altamente verticalizadas, produzem insumos industriais e estão voltadas para o mercado externo e em menor proporção para o mercado nacional e, desse modo, não provocam encadeamentos produtivos locais. A implantação e expansão dessas empresas em um território com muito baixo grau de ocupação demográfica e econômica, apesar de seu elevado grau de autarquia, provocou um forte adensamento em seu entorno. Hydros EP518.RE.JR201 141 Destaca-se, nesse sentido, o surgimento de duas aglomerações populacionais que vieram a se tornar sedes municipais e que se desenvolveram, tendo por principal função a prestação de serviços para atender demandas diretas e indiretas – isto é, tanto voltadas à produção como à força de trabalho diretamente mobilizada pelas empresas. Desse modo, o núcleo de produção moderna gerou, num primeiro momento, o surgimento e expansão de atividades comerciais e de prestação de serviços marcadas pela precariedade – um grande número de pequenos estabelecimentos com alto grau de informalidade e prestadores de serviços autônomos. Num segundo momento – dado principalmente às flutuações na demanda de força de trabalho por parte do núcleo empresarial e ao continuado afluxo populacional, provocou a expansão das atividades agro-extrativistas. Sem alternativa de subsistência, verificou-se por parte de uma parcela dos residentes locais, uma retomada das atividades tradicionais e seu adensamento produtivo. Nessa porção da bacia, é evidente a predominância do núcleo empresarial sobre o conjunto da base econômica e seu impacto direto nas atividades denominadas de tradicionais, tanto comerciais e de prestação de serviços, como agro-extrativistas. Essa relação também está presente na atividade produtiva do núcleo empresarial, especialmente nas atividades de reflorestamento e exploração florestal sustentada. No que se refere por último às diretrizes do zoneamento ambiental e ecológicoeconômico para o uso e ocupação do solo, na porção sul elas são semelhantes para as duas margens do rio Jari, centrando-se na preservação, proteção e estudo da biodiversidade e em usos sustentáveis. Já para a porção situada mais abaixo, verificam-se orientações diferenciadas. Na margem esquerda, com ainda pequeno índice de antropização do território, a ênfase atual é nas atividades extrativistas e no fortalecimento da agricultura familiar. Na margem direita, com maior índice de antropização, a diretriz é de intensificação/ consolidação das atividades produtivas Hydros EP518.RE.JR201 4.6.2 142 RECURSOS E POTENCIALIDADES Para o diagnóstico socioambiental dos recursos e das potencialidades, um primeiro aspecto que se destaca é o fato de que grande parte da bacia apresenta baixo grau de antropização, com grandes porções de territórios incluídos em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Considerando o conjunto do estado do Amapá, observa-se que somente 1% dos 14,3 milhões de hectares da superfície foi desmatada, conservando-se sua biodiversidade praticamente intacta. Mais de dois terços do território são ocupados por florestas e o restante por cerrados e várzeas. Mais de 23% da área está protegida por oito unidades de conservação que ocupam 14% do território e duas reservas indígenas. Em consonância com este contexto, o governo estadual vem implantando ações que associam desenvolvimento e preservação ambiental, tendo criado em 1995 o Programa de Desenvolvimento Sustentável. Em 1997, foi colocada em vigor a lei que regula o acesso à biodiversidade, o uso de recursos genéticos e o emprego da biotecnologia e bioprospecção e, em 1999, foi criada a Universidade Estadual do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. No estado do Pará, grandes parcelas de seu território, especialmente na Calha Norte, também foram instituídas enquanto parques nacionais, reservas biológicas e terras indígenas, formando grandes corredores conservacionistas. Levando em consideração esse conjunto de condicionantes, destacam-se na área em estudo como principais potenciais econômicos, as reservas e/ou condições existentes dos recursos minerais, florestais e hidro-energéticos, bem como o turismo e o estudo e exploração da biodiversidade. Cabe destacar, no que se refere às condições hedafoclimáticas e à aptidão agrícola das terras para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, que o potencial é baixo, entre outros motivos porque os solos são de baixa fertilidade, com predomínio dos Latossolos Amarelo e Vermelho-Amarelos. - Potencial Mineral: no que se refere a este potencial destaca-se o Distrito BauxitíferoCaulínico de Almeirim/Jari, observando-se a presença no município de Vitória do Jari, além das jazidas de caulim do Morro do Filipe, de depósitos de bauxita refratária da Serra do Acapuzal. As reservas nacionais de caulim são estimadas atualmente em 1,7 bilhões de toneladas, 70% das quais localizadas no Pará e Amapá, verificando-se que: Uma ampla porção dos municípios de Laranjal do Jari-AP e Almeirim-PA está englobada na Província Metalogenética do Amapá/NW do Pará e, além das áreas já exploradas, observa-se à presença de unidades geológicas com vocação mineral representadas pelas sequências tipo Greenstone Belt com destaque para a ocorrência de ouro; É nesse sentido que a planta da bacia do rio Jari encontra-se quase inteiramente recoberta por requerimentos de pesquisa, que atingem as duas margens sendo, no entanto, mais concentrados no médio curso da margem direita, onde já foi liberado número significativo de autorizações de pesquisa. Verifica-se também a presença de Requerimentos de lavra garimpeira (ouro) na margem esquerda no município de Vitória do Jari, no médio curso na margem direita, no município de Almeirim e mais acima, na margem esquerda. Afora onde os recursos minerais estão sendo explorados, ainda não são disponíveis informações relativas a reservas, pois os estudos são ainda exploratórios; Existem também Requerimentos de Lavra na margem direita, no baixo curso, a jusante dos grandes reflorestamentos. Fontes qualitativas indicam que para Vitória do Jari e Hydros EP518.RE.JR201 143 para Laranjal do Jari o ouro, proveniente de garimpos, representa uma das principais fontes de geração de riqueza da economia municipal. - Potencial Madeireiro: a floresta densa presente na bacia do rio Jari representa um grande potencial madeireiro e abriga inúmeras variedades de espécies nobres. Além dos castanhais, destacam-se seringueiras, essências florais e açaizais. A concentração de madeira comercializável equivale a 170 metros cúbicos por hectare, destacando-se as seguintes espécies: açapú, macacaúba, andiroba, pau-mulato, cedro, maçaranduba, angelim, sucupira, entre outras. - Extrativismo Vegetal: Existe também um grande potencial para essa atividade que constitui uma vocação econômica tradicional da região, atualmente reforçada pela presença de grandes reservas e projetos de extrativismo sustentado. Entre as sementes oleaginosas destacam-se a andiroba, o ucuuba e o pracaxi, sendo que a bacia do rio Jari é ainda considerada uma das principais regiões produtoras da castanha-do-brasil, Castanha-do-brasil: estudo da EMBRAPA, contratado pela Agência de Desenvolvimento do Amapá, relativo à cadeia produtiva da castanha-do-brasil e que é realizado através do acompanhamento de 150 famílias residentes em Laranjal do Jari, Vitória do Jari e em Mazagão, estima para esta área uma produção anual média de 50 mil hectolitros do produto. O resultado dessa pesquisa que é financiada com recursos do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD deverá fornecer insumos para programas de desenvolvimento da região, voltados ao fortalecimento da agricultura familiar. O Governo do Amapá desenvolve ainda em Laranjal do Jari o projeto Açaí da Amazônia, que visa promover a melhoria da qualidade do vinho, possibilitando aos produtores e seus familiares alternativas de renda, através do aproveitamento do resíduo sólido (o caroço) e da culinária regionalizada com o açaí. - Uso das águas: o potencial hídrico presente na bacia é elevado, podendo-se destacar os seguintes usos: abastecimento urbano, abastecimento rural, navegação, pesca, recreação, além dos usos diversificados que as populações ribeirinhas historicamente desenvolvem com o rio. A hidrogeração proporcionada pelo desnível entre o planalto e a bacia amazônica é, não obstante, o principal desses potenciais. Pecuária: um último potencial significativo é a pecuária, pois o Amapá conta com aproximadamente 180 mil cabeças de búfalos – o segundo rebanho da Amazônia, e de acordo com Paulo Meireles – pesquisador da EMBRAPA-AP em texto publicado no site oficial da EMBRAPA (acessado em 11/09/2008) este estado possui “16.709 km2 de pastagens nativas de terras inundáveis e algumas centenas de milhares de hectares de pastagens nativas nos cerrados, pastagens que representam a principal fonte de alimentação dos rebanhos. A integração dos sistemas de pastejo dos campos inundáveis com os de cerrados, tem grande potencial para incrementar a produção pecuária do Amapá, sem a necessidade de desmatar áreas de floresta densa”. Trata-se de aspecto que em parte se aplica ao conjunto da bacia em estudo, confirmando o potencial de crescimento dessa atividade, desde que dentro de boas técnicas de manejo. Hydros EP518.RE.JR201 4.6.3 144 RECURSOS FINANCEIROS No Amapá, em função de sua instituição ainda recente como Unidade da Federação, bem como de sua base econômica ainda muito pouco densa e com baixa agregação de valor, quase 75% das receitas públicas vem do governo federal, por meio de transferências e convênios com os ministérios. Os principais projetos financiados com esses recursos estão sendo aplicados nas áreas profissionalizantes da segurança e da saúde. Na parte de investimentos do Orçamento Geral da União, o Amapá também vem sendo um dos estados mais agraciados, sendo os recursos destinados à rede rodoviária, infraestrutura portuária, saúde, infraestrutura básica nos municípios mais carentes, e ao turismo. Não obstante, muito pouco desses recursos chegam até a bacia do rio Jari. O eixo principal da economia estadual do Amapá, em 2007, ainda é aquele herdado da estrutura vinculada à extração e exportação do manganês, e privilegia os municípios de Santana e Macapá, que são inclusive objeto de uma Área de Livre Comércio a (ALCMS) além de se beneficiarem (isoladamente no conjunto do estado) dos incentivos fiscais e extrafiscais da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUFRAMA. Os dois municípios da margem esquerda da bacia do rio Jari são vistos principalmente como bolsões de miséria, e que são produto e alimentam uma riqueza que irriga apenas a outra margem da fronteira estadual, que se beneficia dos impostos gerados pelas atividades produtivas que ocasionaram o surgimento das aglomerações que deram origem àqueles municípios. Apenas a alta densidade populacional (relativa) de Laranjal do Jari – atualmente o terceiro mais populoso município do Amapá e, portanto, o seu terceiro colégio eleitoral, contribui de maneira decisiva para atrair a atenção do poder público estadual. Quanto à margem direita, o município de Almeirim, considerado um enclave industrial privado e um município rico – até recentemente entre as dez maiores arrecadações no Pará, também não vem sendo objeto de investimentos maiores por parte do governo estadual. Desse modo, os recursos com que conta à bacia do rio Jari são essencialmente aqueles derivados das finanças públicas de seus municípios, dos eventuais investimentos de grandes empresas instaladas na região – como poderá ser o caso da construção da UHE Santo Antonio, e dos incentivos fiscais criados para potenciar a atrair novos investimentos. Começando por esses últimos, entre as potencialidades econômicas da bacia do rio Jari, cabe considerar os diferentes incentivos destinados a atrair novos recursos para o desenvolvimento das atividades produtivas. Destacam-se aqueles proporcionados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA que são extensíveis a toda a Amazônia Ocidental e incorporam a isenção de IPI e do imposto de Exportação. Colocados sob a administração da Agência de Desenvolvimento da Amazônia - ADA, esses incentivos possibilitam a redução do Imposto de Renda para projetos de modernização, ampliação e diversificação aprovados, assim como o acesso aos recursos do Fundo de Investimento da Amazônia – FINAM. Conforme observado, esses incentivos são válidos apenas para a margem direita da bacia. Resta ainda citar os incentivos do Fundo Constitucional do Norte que são realizados através do Banco da Amazônia S.A. e abrangem o conjunto da bacia. Na sequência apresentam-se os incentivos identificados, segundo a alçada institucional concedente: 1 Incentivos federais administrados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus SUFRAMA e destinados a empreendimentos industriais que se localizam na Zona Franca de Manaus e são extensíveis à Amazônia Ocidental: Hydros EP518.RE.JR201 145 - Isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI; - Crédito do Imposto sobre Produtos Industrializa dos – IPI; - Isenção do Imposto sobre Exportação – IE; - Programa Especial de Exportação da Amazônia Ocidental – PEXPAM; - Portaria Interministerial MF/MPO n° 300 de 20/12/1996. 2 Incentivos federais administrados pela Agência de Desenvolvimento da Amazônia – ADA: - Redução do Imposto de Renda – IR, para empreendimentos com projetos de modernização, ampliação e diversificação, aprovados; - Repasse de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FINAM; 3 Incentivos federais administrados pelo Banco da Amazônia – BASA: - Repasse de recursos do Fundo Constitucional do Norte – FNO, para microempresas e para projetos do PRONAF. 4 Incentivos Federais válidos para a margem esquerda: - Suspensão do IPI – Imposto de Importação, sobre as mercadorias estrangeiras destinadas ao consumo e venda na ALCMS, beneficiamento do pescado, pecuária, recursos minerais e matérias-primas de origem agrícola ou florestal, agropecuária e piscicultura, instalação e operação de atividades de turismo e serviços de qualquer natureza, exportação e reexportação. - Suspensão do IPI nas entradas de mercadorias nacionais destinadas a consumo e venda dentro da ALCMS; - Isenção do PIS e do COFINS nas exportações. 5 Incentivos estaduais do Amapá, válidos para a margem esquerda: - Redução de base de cálculo de ICMS em até 80% nas operações de interesse econômico do estado; - Redução de base de cálculo do ICMS em até 100% nas entradas de bens do ativo imobilizado de origem nacional ou estrangeira para estabelecimentos industriais e agropecuários, concedida mediante aprovação de projeto; - Saídas interestaduais de produtos industrializados no Amapá com carga tributária final reduzida a 4%, concedida mediante aprovação de projeto; - Saídas interestaduais de mercadorias importadas sem os benefícios da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana, ALCMS com tributação total e final de 4% e prazo para recolhimento do imposto até 90 dias (Corredor de Importação); - Crédito presumido de ICMS igual ao valor pago na origem, nas aquisições interestaduais de produtos industrializados destinados à comercialização na ALCMS - Alíquota de ICMS diferenciada (12% em vez de 17%) nas importações beneficiadas pelo regime suspensivo da ALCMS; - Redução de carga tributária a 7% nas saídas internas de produtos industrializados no Amapá; - Tratamento diferenciado e simplificado para os produtores rurais e pessoas físicas (RICMS/AP). Hydros EP518.RE.JR201 146 Cabe relatar que não foram localizadas avaliações quanto à utilização ou quanto à eficiência ou eficácia desse conjunto de incentivos. Como se trata em grande parte de benefícios tributários e fiscais destinados a aumentar o grau de atratividade para novos investimentos, o segmento mais capacitado para beneficiar-se é o de caráter empresarial, concentrado em poucas unidades situadas na margem direita. Para os pequenos e micro-produtores, amplamente predominantes na margem esquerda, apenas os recursos do Fundo Constitucional do Norte, repassáveis pelo BASA para microempresas e para produtores rurais (projetos PRONAF) tendem a ser mais acessíveis. Para a análise das finanças públicas dos municípios englobados na bacia do rio Jari verificaram-se dificuldades para reunir dados significativos. O IBGE só dispunha dos dados de 2004 relativos ao município de Vitória do Jari. Para Almeirim só foram conseguidas informações relativas ao ano de 2003 (SEPOF-PA) e para Laranjal do Jari não foram conseguidos dados comparáveis. Com essas limitações, no que se refere às finanças públicas municipais, verifica-se (Tabela 4.6.3–1, intitulada “Finanças Públicas dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em milhões de reais)”) que as transferências constitucionais (federal e estadual), injetadas nos orçamentos públicos, constituem as principais fontes de recursos das administrações municipais. Comparativamente às receitas correntes, elas respondem por respectivamente, 59,1% no caso de Almeirim e por 92,5% e 72,5%, respectivamente, nos casos de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, com origens qualitativamente diferenciadas. Para Almeirim as transferências mais importantes foram àquelas provenientes do governo do estado, relativas à Cota Parte Municipal do ICMS, pois a presença das grandes empresas proporciona elevada geração de Valor Adicionado Fiscal, que se traduz em elevado coeficiente de participação na parcela do ICMS recolhido e redistribuído aos municípios. As transferências provenientes da União, apesar de menores, são proporcionalmente elevadas comparativamente à população municipal – pois a hierarquia urbana da sede e a população são os principais critérios para a definição do valor da prestação do Fundo de Participação dos Municípios – FPM. Isto se deve à agregação em seu montante, dos valores relativos aos royalties gerados pela atividade mineradora, a Compensação Financeira Pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Esta compensação é devida aos municípios como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios, não se constituindo em tributo e tendo caráter indenizatório. Idealmente se relaciona à promoção de políticas de justiça intergeracional. Constitui fato gerador da Compensação Financeira a saída por venda do produto mineral das áreas da jazida, mina, salina ou outros depósitos minerais, o mesmo se verificando com a transformação industrial do produto mineral ou mesmo o seu consumo por parte do minerador. O pagamento da Compensação Financeira é efetuado mensalmente e é distribuído da seguinte forma: 12% para a União (DNPM e IBAMA); 23% para o estado onde for extraída a substância mineral; e 65% para o município produtor. Hydros EP518.RE.JR201 147 Tabela 4.6.3-1 – Finanças Públicas dos Municípios Total ou Parcialmente Englobados na Bacia do Rio Jari, 2006 (em milhões de reais) Rubricas Receita realizada Receita corrente Receita tributária IPTU ISSQN ITBI Taxas Receita patrimonial Transferências correntes Transferências da União Transferências do estado Transferência de capital Despesas realizadas Despesas correntes Outras despesas correntes Investimento Pessoal e encargos Almeirim (PA)* Laranjal do Jari (AP) Vitória do Jari (AP) Abs. 38,80 4,39 0,01 3,80 0,03 0,01 2,08 % 100,0 11,3 9,8 5,4 Abs. 19,56 19,89 0,69 0,00 0,45 0,00 0,02 0,43 % 101,7% 100,0% 3,5% 0,0% 2,3% 0,0% 0,1% 2,2% Abs. 14,40 14,01 1,00 0,00 0,73 0,00 0,03 0,09 % 97,3% 100,0% 7,1% 0,0% 5,2% 0,0% 0,2% 0,6% 22,93 59,1 18,39 92,5% 10,16 72,5% 9,57 24,7 8,24 41,5% 4,10 29,2% 13,36 34,3 2,26 11,4% 2,15 15,4% - 1,36 6,9% 1,44 10,3% - 18,83 94,7% 17,47 124,7% - 16,09 80,9% 12,81 91,4% - 6,19 31,1% 4,15 29,6% - 2,47 9,90 12,4% 49,8% 4,65 8,66 33,2% 61,8% * os dados relativos à Almeirim são do ano de 2003. Fontes: IBGE, 2007 / SEPOF-PA, 2004. Para Laranjal do Jari e Vitória do Jari, com pequena geração de Valor Adicionado Fiscal, as transferências da União, apesar de menores em termos absolutos, comparativamente a Almeirim, são superiores (especialmente para o primeiro) em termos proporcionais, elevandose respectivamente para 41,5% e 29,2% do total das receitas correntes, contra 11,4% e 15,4% das transferências do estado do Amapá. O recolhimento dos tributos próprios (municipais) – Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, e Impostos sobre a Transmissão de Bens Intervivos – ITBI, são em geral pouco significativos. Essa afirmação só não se aplica ao município de Almeirim, especificamente no caso do Imposto sobre Serviços – ISSQN, que alcançou 3,8 milhões em 2003, respondendo por 86,6% das receitas tributárias próprias, cuja participação se elevou a 11,3% das receitas correntes. Nos casos de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, essa participação limitou-se a, respectivamente, 3,5% e 7,1% das receitas correntes. No que se refere às despesas, em especial aos investimentos, as informações disponíveis se referem apenas aos municípios da margem esquerda. Para Vitória do Jari, os investimentos realizados em 2006 foram extremamente significativos – equivalendo a 33,2% das receitas correntes, tendo sido coberto Hydros EP518.RE.JR201 148 em cerca de duas terças partes do seu valor, por transferências de capital, de modo que as Despesas Realizadas superaram as Receitas Correntes em cerca de 25%. Já no caso de Laranjal do Jari, os investimentos foram da ordem de 12,4% das Receitas Correntes, índice que de modo geral pode ser considerado como positivo. Hydros EP518.RE.JR201 4.6.4 149 COMPARTIMENTAÇÃO EM SUBÁREAS De acordo com o Manual da Eletrobrás as subáreas são definidas como recortes territoriais contínuos, estabelecidos através da análise de similaridades ou diferenciações, devem ainda estar assentadas numa visão integrada das atividades existentes e potenciais e de seus elementos estruturantes. Sua descrição deve conter a explicitação dos processos particulares e distintivos que caracterizam as diversas porções da bacia, bem como as relações com a dinâmica da base econômica do conjunto e das demais porções. Como a antropização do território da bacia do rio Jari é reduzida espacialmente e concentrada, com uma ampla predominância de áreas com cobertura vegetal primária, além de este território estar em grande parte englobado em áreas institucionais – Unidades de Conservação e Terra Indígenas, as estatísticas de base municipal são insuficientes para caracterizar espaços econômicos específicos. Os municípios são muito extensos e apenas parcialmente contidos na bacia. Dificuldade semelhante se verifica em relação tanto aos recursos econômicos potenciais, como em relação às finanças públicas municipais. Os recursos potenciais foram ainda pouco estudados e sua densidade e distribuição espacial não delimitam territórios específicos, mesmo que potenciais, fornecendo apenas indicadores de qualificação. As finanças públicas municipais também se mostraram de pouca utilidade para o delineamento de áreas específicas e mesmo para sua qualificação. Nesse contexto, a delimitação e a descrição de Subáreas apoiaram-se na pesquisa e identificação de variáveis capazes de caracterizar suas especificidades, considerando tanto os aspectos relevantes do componente-síntese Base Econômica, como os de outros componentessíntese, em especial o uso e ocupação do solo e as características das áreas institucionais. Em relação ao uso e ocupação do solo, destaca-se claramente a porção mais antropizada da bacia. Como o rio Jari é navegável apenas até a Cachoeira Santo Antônio, a cerca de 110 km da foz, o povoamento e a abertura de atividades produtivas concentrou-se neste trecho. Os dados disponíveis indicam que atualmente vivem nesta porção cerca de 70 mil pessoas, em sua maioria residente nas sedes distritais e municipais de Monte Dourado, Laranjal do Jari e Vitória do Jari. No distrito de Monte Dourado, localiza-se a sede da empresa Jari Celulose e de outras duas grandes empresas, originalmente do mesmo grupo empresarial, a CADAM e a Mineração Santa Lucrecia. A primeira beneficia o caulim, sendo a extração do minério realizada em território do Amapá, e a segunda produz bauxita refratária crua e calcinada. Estas empresas são responsáveis tanto pelo surgimento e existência das aglomerações populacionais citadas, como pela animação econômica atual de toda essa porção da bacia, conforme explicitado na síntese da base econômica. À montante desta porção, uma série de cachoeiras impede a navegação e a ausência de qualquer outra infraestrutura viária, dificulta a penetração de atividades produtivas mais capitalizadas. Um segundo fator que atua no mesmo sentido é a forte presença de áreas institucionais, que por diferentes estatutos limitam ou excluem o avanço das atividades produtivas. A partir dessas limitações e características, optou-se por utilizar como variáveis delimitadoras: (i) os perímetros das áreas institucionais (TIs e UCs); e (ii) os aspectos estruturantes da organização produtiva das áreas não submetidas a limitações especiais de uso. Hydros EP518.RE.JR201 150 Nesse contexto, a bacia do rio Jari foi inicialmente subdividida em dois compartimentos territorialmente contínuos, englobando o primeiro os territórios ao sul e pertencentes ao baixo curso, mais antropizados e com menores limitações institucionais de uso dos recursos naturais. O segundo, comportando aproximadamente quatro quintos da superfície da bacia, os territórios ao norte, pertencentes a Unidades de Conservação e Terras Indígenas, e que atualmente apresentam muito tênue diferenciação em relação às respectivas bases econômicas, que se caracterizam muito mais pela ausência/dispersão e falta de densidade de atividades produtivas sistemáticas. O mesmo pode ser dito em relação a seus recursos potenciais, com destaque para os florestais e minerais. A partir de uma avaliação das principais tendências dos vetores regionais de avanço da fronteira de apropriação dos recursos naturais – especialmente as frentes madeireiras e de exploração mineral, confrontadas com os estatutos e vocações das áreas institucionais, procedeu-se a uma subdivisão da grande porção sul, considerando separadamente as Unidades de Conservação de Proteção Integral, as Terras Indígenas e as Unidades de Conservação com Uso Sustentável. O PA Agro-Extrativista Maracá, pela dimensão reduzida de sua porção englobada na bacia, foi englobado no último grupo. A bacia do rio Jari foi compartimentada em quatro subáreas distintas, conforme o desenho Nº EP518.A1.JR-08-037 (Fig. 091), intitulado “Mapa de Subárea – Componente-Síntese: Base Econômica - Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. 4.6.4.1 Subárea I – Alto Potencial Para Exploração Econômica em Unidade de Conservação de Proteção Integral A Subárea I é formada por 3 diferentes perímetros correspondentes às porções englobadas na bacia de Unidades de Conservação de Proteção Integral, sendo dois deles – o PARNA Montanhas do Tumucumaque e a REBIO Maicuru, localizados no alto curso do rio Jari e com territórios contínuos. O terceiro perímetro, a ESEC do Rio Jari, situa-se na porção final do escudo das Guianas, aparecendo parcialmente como divisor entre as UCs com Uso Sustentável e a bacia sedimentar, não englobada em áreas institucionais. Esses três perímetros apresentam atualmente elevados graus de preservação da cobertura vegetal e pressão antrópica reduzida, devendo manter essas características, pois além de serem de difícil acesso, comportam usos muito limitados, especialmente recreação e turismo ecológico, devendo ser mantidos intocados seus recursos naturais. É possível que ocorram alterações no traçado desses perímetros, especialmente na REBIO Maicuru, pois o estatuto legal dessa área admite este tipo de revisão e já existem demandas neste sentido. Não obstante, essas eventuais alterações tendem a ser localizadas, não devendo alterar substancialmente a abrangência das áreas de Proteção Integral. 4.6.4.2 Subárea II – Alto Potencial de Exploração Econômica em Área de Terra Indígena A Subárea II também é formada por 3 diferentes perímetros, sendo os mesmos correspondentes às porções englobadas, na bacia, das Terras Indígenas Parque do Tumucumaque, Rio Paru D’Este e Waiãpi. Essas porções estão localizadas nas bordas da bacia do rio Jari, a primeira no seu extremo noroeste, a segunda no extremo oeste e a terceira Hydros EP518.RE.JR201 151 e maior entre elas, a TI Waiãpi, no extremo leste. Desse modo formam um bloco compacto com as duas maiores UCs de Proteção Integral e, apesar de apresentarem perfil atual de ocupação antrópica e de recursos potenciais semelhante, foram consideradas como subárea à parte em função de seu estatuto específico. Observa-se, nesse sentido, que a Constituição Federal destina o usufruto dos recursos naturais presentes nas TIs à subsistência e bem-estar das etnias indígenas, sem outras restrições. Nesse contexto, especialmente em áreas de fronteira já consolidada, vem se verificando uma grande diversidade nas modalidades – assim como nas intensidades, no uso dos recursos naturais presentes em diversas TIs, constatando-se inclusive o arrendamento de grandes extensões para agricultura mecanizada, entre outros usos intensivos dos recursos naturais realizados por não-indígenas ou em consórcio com os mesmos. Essas práticas, se bem que ainda localizadas, chamam a atenção para as diferenças na proteção dos recursos naturais garantida por esses dois tipos de áreas institucionais, que em médio prazo poderão resultar em diferenças significativas. 4.6.4.3 Subárea III – Alto Potencial de Exploração Ecocômica em Unidade de Conservação de Uso Sustentável De modo semelhante às anteriores, esta subárea também é composta por três perímetros que correspondem às porções englobadas, na bacia, de duas Unidades de Conservação de Uso Sustentável e de um Projeto de Assentamento Agro-Extrativista. Trata-se, respectivamente, da Floresta Estadual do Paru e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, que formam um território contínuo ocupando o médio curso do rio Jari, bem como de pequena porção do vizinho PA Maracá. Nessas unidades, existe um elevado potencial madeireiro e os respectivos territórios comportam inúmeros títulos minerários de autorização de pesquisa. Desse modo, esta subárea se individualiza das anteriores na medida em que seus recursos naturais potenciais podem ser legalmente explorados, tanto por populações tradicionais organizadas em cooperativas e associações de trabalhadores através de atividades agroextrativistas, como por segmentos empresariais, interessados principalmente em recursos madeireiros e minerais. Na RDS do Rio Iratapuru e no PA Maracá encontram-se em expansão as atividades agroextrativistas cujos núcleos são a coleta e o beneficiamento da castanha-do-brasil. A densidade dessa ocupação é ainda muito reduzida, porém tende a se elevar e a incorporar novas práticas agro-extrativistas sustentáveis. A Floresta Estadual do Paru começou recentemente a ser atingida pelo avanço da frente madeireira e, como a exploração sustentável dos recursos florestais é um dos seus usos permitidos, tem alta probabilidade de vir a sediar esta atividade e, de acordo com o rumo que assumir seu zoneamento, poderá até se transformar em novo pólo madeireiro. As atividades de pesquisa mineral vêm também identificando potenciais significativos, que poderão levar à implantação da mineração em alta escala, com destaque para exploração da bauxita. 4.6.4.4 Subárea IV – Bacia Sedimentar Esta subárea comporta um núcleo empresarial significativo. A Jari Celulose, com área de 1,7 milhões de hectares, além de sua planta industrial e unidade termoelétrica, mantém um reflorestamento de eucaliptos de 58 mil hectares (12 mil hectares no Amapá, município de Vitória do Jari e o restante em Almeirim no Pará) e explora 500 mil hectares com manejo Hydros EP518.RE.JR201 152 sustentado de madeira nativa. Oitenta por cento de sua produção é orientada para a Europa e o restante para os Estados Unidos e para o mercado interno. A CADAM, por sua vez, respondia até recentemente por 35,8% da produção nacional de caulim, sendo que 94% da mesma era destinada ao mercado externo. Por último, a Mineração Santa Lucrécia, produtora de bauxita refratária crua e calcinada, completa o rol de grandes unidades que exploram de forma empresarial os recursos minerais e florestais dessa porção, e que são exportados através de uma importante estrutura portuária de propriedade da CADAM. As atividades extrativistas e da economia tradicional, de forma diferente e desenvolvidas de modo disperso, estão diretamente relacionadas ao mercado local e regional, cujas comercializações dos produtos estão integradas em fluxos centralizados pela cidade de Santarém. Destacam-se a coleta e beneficiamento da castanha-do-brasil e do açaí, a extração da madeira, bem como a pecuária extensiva e a agricultura de subsistência. Estão também presentes nesta porção os três únicos núcleos urbanos existentes na bacia, as sedes municipais de Vitória do Jari e Laranjal do Jari, a sede distrital de Monte Dourado, além da pequena localidade de Bandeira. Na economia urbana há forte predomínio das atividades terciárias, com destaque para o comércio, serviços e os serviços sociais e administrativos das municipalidades. A tabela a seguir apresenta as subáreas e as características mais relevantes consideradas para a compartimentação. Hydros EP518.RE.JR201 153 Quadro 4.6.4-1 –Subáreas da Base Econômica Almeirim e Laranjal do Jari Municípios Indicadores Fatores Distintivos 1. Atividades Primárias 2. Atividades Secundárias 3. Atividades Terciárias 4. Potencial de Recursos Naturais 5. Tendências de Acesso ao Potencial de Recursos Naturais Existem registros de grupos nômades que praticam o extrativismo Almeirim e Laranjal do Jari 6.Finanças Públicas Municipais 1.Atividades Primárias 2. Atividades Secundárias 3. Atividades Terciárias 4. Potencial de Recursos Naturais 5. Tendências de Acesso ao Potencial de Recursos Naturais 6.Finanças Públicas Municipais Almeirim, Laranjal do Jari e Mazagão I – Alto Potencial Para Exploração III – Alto Potencial de Exploração Ecocômica II – Alto Potencial de Exploração Econômica Econômica em Unidade de Conservação de em Unidade de Conservação de Uso Sustentável em Área de Terra Indígena Proteção Integral Subáreas 1. Atividades Primárias 2. Atividades Secundárias 3. Atividades Terciárias 4. Potencial de Recursos Naturais 5. Tendências de Acesso ao Potencial de Recursos Naturais 6.Finanças Públicas Municipais Sem registro Sem registro Elevado potencial de recursos florestal e mineral Perímetros de difícil acesso e com estatuto de uso restrito, admitindo como atividade econômica apenas ecoturismo controlado Sem registro de geração de receitas ou de ser objeto de custeio/ investimento municipais; os perímetros das UC’s são de responsabilidade da União e do Estado do Pará Presença de grupos indígenas que praticam o extrativismo vegetal e agricultura de subsistência Sem registro Sem registro Elevado potencial de recursos florestal e mineral Perímetros de difícil acesso e com estatuto de uso exclusivo dos povos indígenas; atualmente predomina incerteza quanto ao rumo e intensidade da exploração desses recursos no médio e longo prazo Sem registro de geração de receitas ou de ser objeto de custeio/ investimento municipais; os perímetros das TI’s são de responsabilidade da União Presença de comunidades que praticam o extrativismo vegetal e agricultura de subsistência; é significativa a produção de castanha Beneficiamento da castanha-do-brasil e de outros produtos florestais Sem registro Elevado potencial de recursos florestal e mineral Perímetros comportam o agro-extrativismo e outras formas de uso sustentável, constatando-se a tendência de que a exploração dos recursos florestais seja acentuada e que seja implantada a exploração madeireira e mineral; existe incerteza quanto à intensidade dessas explorações Sem registro de geração de receitas ou de ser objeto de custeio/ investimento municipais Hydros EP518.RE.JR201 Subáreas 154 Municípios Indicadores Almeirim, Laranjal do Jari e Vitória do Jari IV – Bacia Sedimentar 1. Atividades Primárias 2. Atividades Secundárias 3. Atividades Terciárias 4. Potencial de Recursos Naturais 5. Tendências de Acesso ao Potencial de Recursos Naturais 6.Finanças Públicas Municipais Fatores Distintivos Intensa atividade de reflorestamento e exploração madeireira sustentada desenvolvida de forma empresarial; extração mineral desenvolvida de forma empresarial, extrativismo florestal e atividades agropecuárias praticada por pequenos produtores com pouca expressão comercial Presença de empresas verticalizadas dedicadas ao beneficiamento da madeira e mineral, com elevada produção destinada principalmente ao mercado externo; presença de pequenas unidades de beneficiamento da produção do extrativismo florestal e de pequenos estabelecimentos voltados para a construção civil Núcleos de atividades comerciais e de serviços, com destaque para a Administração Pública, dado à presença de duas sedes municipais e de uma sede distrital – predomínio de atividades tradicionais Elevado potencial de recursos florestal e mineral Intensa exploração dos recursos madeireiros e mineral nas áreas controladas pelo núcleo empresarial moderno; no restante do território a ocupação é ainda dispersa, assim como a exploração dos recursos naturais Parcela substancial dos tributos gerados nos três municípios considerados é gerada nesta subárea, especialmente na porção paraense; receitas e despesas municipais significativas ocorrem apenas nesta porção Hydros EP518.RE.JR201 155 4.7 POPULAÇÕES INDÍGENAS 4.7.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA Neste trabalho, a apreensão de como populações indígenas têm organizado e garantido sua reprodução sociocultural tem como finalidade indicar o nível de sustentabilidade dos seus modos de vida no presente. Sustentabilidade, conforme Lima e Pozzobon (2005), diz respeito à possibilidade de manutenção de uma tradição ou história ecológica, considerada como o modo como ocupam, exploram e concebem a relação com o meio ambiente. Relação esta influenciada por características da formação social dos povos, tais como a orientação da produção econômica, o grau de envolvimento com a economia de mercado, além da posse de uma cultura ecológica (LIMA; POZZOBON, 2005). Este enfoque exige a análise do impacto exercido sobre o ambiente, mostrando as transformações e continuidades derivadas das relações estabelecidas com outras populações em seus modos de vida e de reprodução da vida social. Tem-se como premissa que a manutenção de padrões socioculturais de organização e estrutura social, ordenação no território, assim como sistemas de crenças e valores, são fortemente afetados pelas condições materiais de sobrevivência (condicionantes ambientais do território, usos que fazem dos ecossistemas, relações de troca e comércio, etc.). É fundamental observar que a identidade étnica das sociedades aqui analisadas se mantém, mesmo em se encontrando traços culturais (língua, religião, técnicas, modo como ocupam e exploram o meio ambiente, etc.) fortemente alterados pelo contato com a sociedade nacional, em outras palavras, traços que se apresentem com baixo nível de sustentabilidade. O critério da identidade étnica é explicitado por Carneiro da Cunha (1986): “Grupos étnicos distinguem-se de outros grupos... na medida em que se entendem a si mesmos e são percebidos pelos outros como contínuos ao longo da história, provindos de uma mesma ascendência e idênticos malgrado separação geográfica. Entendem-se também a si mesmos como portadores de uma cultura e de tradições que os distinguem de outros. Origem e tradições são, portanto, o modo como se concebem os grupos: em relação ao único critério de identidade étnica, o de serem ou não identificados e de se identificarem como tais, origem e tradição são, porém, elaborações ideológicas, que podem ser verdadeiras ou falsas, sem que com isso se altere o fundamento da identidade étnica”. Primeiramente, apresenta-se a identificação dos povos indígenas que vivem na região na bacia do rio Jari, considerando-se as três Terras Indígenas existentes, filiação linguística e tamanho populacional e, a seguir, a trajetória histórica dos povos indígenas da região desde suas origens, de acordo com conhecimento disponível sobre o tema, o que inclui o conhecimento arqueológico na área em estudo. Discute-se a trajetória dos grupos que ocupam predominantemente a bacia em estudo, bem como daqueles que estariam próximos à mesma e que transitam na área de estudo de forma mais frequente que outros grupos. Hydros EP518.RE.JR201 156 Na elaboração deste documento foram priorizadas as informações oficiais disponibilizadas pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Fundação Nacional da Saúde - FUNASA, Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena - IEPÉ, Instituto Socioambiental – ISA, Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná CEPA/UFPR, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Amapá - SEMA, e outras fontes secundárias. Na literatura utilizada para subsidiar os dados antropológicos é de particular importância o trabalho realizado pela antropóloga Dominique Tilkin Gallois, que vem desenvolvendo, ao longo das últimas décadas, pesquisas sobre povos indígenas que habitam a região da bacia do rio Jari, particularmente sobre os Waiãpi. 4.7.2 IDENTIFICAÇÃO DOS POVOS DA BACIA DO RIO JARI De acordo com os dados oficiais obtidos por meio de consulta à Administração Executiva Regional de Macapá/AP, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, e dados divulgados no site oficial deste órgão, há na bacia três Terras Indígenas (doravante TI), situadas duas no estado do Amapá e uma no Pará, a saber: - TI Waiãpi: habitada pela etnia Waiãpi (denominação também grafada Wajãpi, Uaiampi, Waiampi, Oiampi). Abrange os municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Pedra Branca do Amapari, no estado do Amapá. - TI Parque do Tumucumaque: habitada pelas etnias Aparai e Wayana, Txutyana, Kaxuyana, Tiriyó, um pequeno grupo Waiãpi, e há registro de povos isolados. Abrange o município de Laranjal do Jari, no Amapá, e os municípios de Almeirim, Oriximiná, Óbidos, Alenquer, no estado do Pará. - TI Paru D’Este: habitada pelas etnias Aparai e Wayana, e Waiãpi. Abrange os municípios paraenses de Monte Alegre, Almeirim e Alenquer. É importante ressaltar que o reconhecimento do direito dos povos indígenas a seus territórios no Amapá não foi diferente de outros povos e atualmente, todas as terras aí reivindicadas por populações indígenas estão demarcadas e homologadas. Hydros EP518.RE.JR201 4.7.3 157 CONHECIMENTO ARQUEOLÓGICO DA REGIÃO A análise dos sítios arqueológicos existentes na região busca a compreensão dos padrões de localização dos grupos, indicando como era feita a escolha de locais de assentamento, ou de acampamentos provisórios, e como eram desenvolvidas as atividades, individualmente e como grupo organizado. Conforme aponta Neves (1995), “... o processo de descrição, análise interpretação dos vestígios arqueológicos é nada mais que uma tentativa de se reconstituir ao menos algumas dessas atividades dinâmicas do passado – e se possível seu contexto sócio-cultural – a partir da realidade estática dos sítios arqueológicos”. A presença da população indígena na região remonta a períodos pré-históricos, a cerca de 12.000 anos AP (antes do Presente). Embora não existam números precisos, há estimativas indicando que a região amazônica, sobretudo, no baixo rio Amazonas e atual estado do Pará, sempre foi densamente povoada. Conforme aponta o historiador e arqueólogo Neves (1995), “sabe-se hoje que os povos indígenas que habitam o continente sul-americano descendem de populações que aqui se instalaram há dezenas de milhares de anos, ocupando virtualmente toda a extensão desse continente”. No caso da bacia hidrográfica do rio Jari, estudos realizados pelo CEPA/UFPR identificaram vários sítios arqueológicos, comprovando que a região em estudo foi anteriormente ocupada e com alta possibilidade de ter sido densamente povoada. Esses sítios localizam-se na porção sul da bacia hidrográfica, mais especificamente nos municípios de Laranjal do Jari/AP e Vitória do Jari/AP, no entorno da Cachoeira Santo Antônio e no distrito de Monte Dourado, localizado no município de Almeirim/PA, conforme indicado no desenho No EP518.A1.JR.08-042 (Fig. 093), intitulado “Mapa dos Sítios Arqueológicos – Planta”, do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos. Todos os sítios identificados na região estão relacionados a grupos ceramistas, que correspondem a ocupações indígenas e neobrasileiras. A partir da análise de padrões de cerâmicas produzidas – partindo-se do princípio de que estes são culturalmente determinados – procura-se estabelecer trajetórias de difusão ou migração, assim como os aspectos sócio-políticos e religiosos da cultura, e particularmente as atividades relacionadas com subsistência. O uso de cerâmica, frágil para ser facilmente transportada, é um indicador seguro de adoção de algum sedentarismo e de práticas de horticultura. De acordo com informações a respeito da etno-história da região em que se encontra a bacia do rio Jari, Chymz (2006) afirma que “... diversos grupos indígenas ocuparam o território, que hoje corresponde ao Estado do Amapá”. Em relação aos grupos que habitaram a região do baixo curso do rio Jari, embora as informações sejam escassas, principalmente no que diz respeito ao período anterior à ocupação do território pelos colonizadores europeus, há evidências de semi-sedentarismo e da prática de caça, coleta e horticultura incipiente (CHYMZ, 2006). Muitos fragmentos e peças cerâmicas apresentam grafismos na cor vermelha ou sem grafismos, lisos. Alguns resquícios encontrados permitem vincular culturalmente os povos que habitaram a região com os povos indígenas do Xingu. Segundo Chmyz e Sganzerla (2006a), “Embora a amostragem dos sítios arqueológicos indígenas seja pequena, é possível reuni-los em dois grupos: um representado pelo sítio AP-2 e, outro, pelos Hydros EP518.RE.JR201 158 sítios AP-3, AP-4, AP-5, AP-6, AP-7 e AP-9. O primeiro poderia ser relacionado à fase Aristé; os do segundo grupo à fase Mazagão.” Relacionado à fase Mazagão, Hilbert (1975 apud NUNES FILHO, 2005) afirma que: “Entre os séculos XV e XVI, grupos da fase Mazagão, provavelmente, oriundos do Amazonas ou alguns de seus afluentes, imigraram para a parte sul do atual Estado do Amapá, ocupando a área limitada ao norte pelo rio Araguari-Amapari, e ao sul pelo rio Jari. Posteriormente concentraram-se no rio Vilanova, entrando em contato com a fase Maracá, da qual copiaram alguns padrões de cerâmica.” Quanto à fase Aristé, Nunes Filho (2005) afirma que está relacionada temporalmente à fase Mazagão, pois “...os grupos indígenas desta fase cerâmica estabeleceram-se no extremo norte do Amapá, na mesma época em que os grupos da fase Mazagão se estabeleceram na parte sul do Estado”. Um dos sítios foi estudado apenas após um morador da região o apontar em uma audiência pública referente ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a implantação da BR-156, que liga a localidade de Rio Preto a Laranjal do Jari (CHMYZ, 2006). “A pendência criada pela inusitada intervenção foi solucionada em seguida, através do levantamento de trechos selecionados ao longo do traçado rodoviário, inclusive naqueles já abertos, localizando-se 10 sítios. O apontado pelo castanheiro, foi considerado na pesquisa de constatação e, após entendimentos mantidos com técnicos da obra e pequena alteração no traçado da rodovia, foi poupado” (CHMYZ, 2006). Outros sítios foram identificados pelo CEPA no entorno de Monte Dourado-PA, durante a realização de estudos ambientais para um empreendimento hidrelétrico, e em Vitória do Jari/AP, a partir de informações dos funcionários da Companhia Florestal Monte Dourado em áreas que já haviam sido reflorestadas. 4.7.3.1.1 Localização dos Sítios Arqueológicos O quadro a seguir apresenta os sítios arqueológicos na porção sul da bacia, identificados e estudados pelo CEPA. Os sítios em sua maioria estão em áreas onde foram encontradas peças e fragmentos cerâmicos de utensílios utilizados pelos antigos povos indígenas que habitaram a região ou que passaram por ela. Segundo o CEPA esses fragmentos cerâmicos podem ser classificados como neobrasileiros. Hydros EP518.RE.JR201 159 Quadro 4.7.3 -1 – Sítios Arqueológicos Item Nome do Sítio Arqueológico Distrito Município Local Material levantado 1 AP-9: Igarapé do Meio Laranjal do Jari/AP Propriedade do castanheiro Antônio Ramos Sítio cerâmico fragmentos de utensílios e recipientes 2 AP-Felipe-1: Igarapé do Quiquió Vitória do Jari/AP Área da Companhia Florestal Monte Dourado Sítio cerâmico fragmentos de vasilhas e recipientes 3 AP-Felipe-2: Igarapé do Marimbondo Vitória do Jari/AP Área da Companhia Florestal Monte Dourado Sítio cerâmico fragmentos de vasilhas e recipientes Sítio cerâmico fragmentos de utensílios Sítio-habitação fragmentos cerâmicos de objetos e alimentos ressecados 4 PA-Jari-1: rio Pacanari Monte DouradoAlmeirim/PA Área da Companhia Florestal Monte Dourado (entorno da margem esquerda da Cachoeira Santo Antônio) 5 PA-Jari-2: igarapé Caracaru Monte DouradoAlmeirim/PA Área da Companhia Florestal Monte Dourado Fonte: Revista do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da UFPR, 2006 Entre os sítios listados no Quadro 4.7.3-1, intitulado “Sítios Arqueológicos”, destaca-se o AP9-Igarapé do Meio, que apresenta associação à fase Mazagão. Localiza-se na propriedade de Antônio Ramos, morador extrativista cujo protesto na audiência pública levou à alteração do desenho da BR-156, em Laranjal do Jari/AP. Outros de destaque são os sítios PA-Jari-1, no entorno da margem esquerda da cachoeira Santo Antônio, ponto turístico da região, e o PA-Jari-2, ambos em área reflorestada do município de Monte Dourado, e pertencente à Companhia Florestal Monte Dourado. No último foi encontrado material arqueológico relacionado à alimentação dos povos que haviam habitado a região. “Em alguns pontos do leito das estradas foram encontradas bases de fogões, com muito carvão vegetal e pedaços de resina de jataí-açu alterados pelo calor do fogo. Duas massas ressecadas, interpretadas como “pães de farinha de mandioca dos índios” pela população atual, foram registradas em um trecho da estrada.” (CHMYZ; SGANZERLA, 2006b). Os sítios arqueológicos apontados indicam que as peculiaridades físicas locais apreciadas pela população indígena, em geral, são platôs, que, segundo Chmyz e Sganzerla (2006b) podem apresentar funções diferenciadas. Muitos sítios também se localizavam em áreas de terrenos inundáveis, próximo aos rios e igarapés. Hydros EP518.RE.JR201 160 De acordo com o material encontrado em diversas localidades pelos pesquisadores do CEPA/UFPR, há “sítios-habitação” e “sítios-acampamento”. Estes mostram locais onde ocorriam atividades de plantio e onde pequenos grupos residiam por períodos temporários (CHMYZ; SGANZERLA, 2006b). Já os sítios-habitação, situados em platôs, estariam relacionados às grandes aldeias de onde partiam os pequenos grupos para caçar, pescar, coletar ou desenvolver atividades agrícolas. O sítio-habitação cerâmico na bacia é o PA-Jari-2, localizado a cerca de 3.000 m da margem direita do igarapé Caracaru e a aproximadamente 500 m da margem esquerda de um outro igarapé. Ocupava uma parte de um platô, ao lado de seu flanco íngreme, de onde se tinha uma visão panorâmica da área, inclusive do vale, por onde passa o curso do igarapé Caracaru. 4.7.4 POVO WAIÃPI Para fins de análise, considerou-se os grupos cujas aldeias estão atualmente na bacia do rio Jari, e, outros com aldeias fora da bacia, porém próximas aos limites da área de estudo. A TI Waiãpi, em que este inventário se baseou, ocupa parcialmente a bacia do rio Jari. Na Guiana Francesa, os Waiãpi residem na faixa de fronteira com o Brasil, na margem esquerda do rio Oiapoque. Co-habitavam também com famílias do povo Aparai e Wayana nas Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e Paru D’Este (GALLOIS; GRUPIONI, 2003). 4.7.4.1 A Situação Legal do Território Waiãpi Os Waiãpi tiveram sua terra homologada em 1996, após a conclusão da demarcação física, num processo em que todas as aldeias tiveram participação efetiva (ver desenho Nº EP518.A1.JR.08-006 (Fig. 092), intitulado “Mapa das Terras e Aldeias Indígenas Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos). Tabela 4.7.4-1 – Informações da Terra Indígena Waiãpi Nome Terra Indígena Waiãpi Situação Jurídica Homologada / Regularizada Data da criação 23 de maio de 1996 Área (ha) 607.017 Área inserida na bacia 348.127 Pedra Branca do Amapari/AP Laranjal do Jari/AP Mazagão/AP Municípios - UF Povo que a habita Waiãpi População* (hab) 779 Fonte: *FUNASA-DSEI Macapá-AP, 2007; *FUNAI-AER Macapá-AP, 2007 Hydros EP518.RE.JR201 161 O pólo regional mais próximo da bacia é Macapá, distante 234 km da TI. O acesso é pela BR 210 (Perimetral Norte), em trecho de terra com início no posto da FUNAI e que continua na BR 156, asfaltada até Macapá. Meios de comunicação também são os rios da região, particularmente o Jari. 4.7.4.2 Trajetória Histórica até o Presente A trajetória histórica dos Waiãpi é marcada por momentos importantes que são descritos a seguir: a chegada de colonizadores em sua região de origem no baixo Xingu e a migração à região de ocupação atual; a invasão dessa região por frentes extrativistas que quase levam o povo Waiãpi à extinção; a abertura do posto da FUNAI e a recuperação; a autonomia conquistada com a homologação da TI e a luta por representação junto à sociedade nacional. Os Waiãpi, predominantes na bacia do rio Jari, são remanescentes de um povo outrora muito mais numeroso, constituído por vários grupos independentes com população total estimada, para o início do século XIX, em cerca de seis mil pessoas. A etnia Waiãpi originou-se “em um complexo cultural maior, de tradição e língua tupi-guarani, hoje representado por diversos povos, distribuídos entre vários estados do Brasil e países adjacentes” (IPHAN, 2006). Sua trajetória histórica é marcada por movimentos migratórios conhecidos desde o século XVII, quando ocupavam o rio Xingu, até se deslocarem para a área que ocupam hoje (ver Figura 4.7.4-1, intitulada “Mapa das Migrações Waiãpi”). Fonte: D. Gallois e Ricardo (1983) Figura 4.7.4-1 – Mapa das Migrações Waiãpi Hydros EP518.RE.JR201 162 Segundo D. Gallois e Ricardo (1983), os Waiãpi foram citados pela primeira vez em 1665, em relatos de jesuítas, referidos como “Guaiapi” e incluídos entre vários povos de fala TupiGuarani que habitavam a região do baixo Xingu. Há sobre eles relatos de estudiosos que ali passaram no século XVII. Essa região do rio Xingu é hoje ocupada por grupos como os Araweté e Asurini (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Há evidências de que entre 1680 e 1720 os Waiãpi iniciaram a migração, a partir do rio Xingu. Embora crenças religiosas sobre a existência de uma “terra sem males”, como sugerem várias etnografias dos povos Tupi-Guarani, possam ter dado forma a esses movimentos, a razão mais importante para a migração teria sido o contato desastroso com os colonizadores europeus que em 1650 começaram a ocupar a área mais baixa do Xingu. Forçados a se tornarem a principal mão de obra para esses colonizadores, e expostos à epidemia de sarampo que golpeou a área no período, os Waiãpi iniciam a migração, segundo aparece em documentos de exploradores do século XVIII: do baixo Xingu sobem para atravessar o rio Amazonas e alcançar o rio Jari. Este movimento até o rio Jari é primeiro capturado por suas narrativas orais. Do médio Jari, continuam sua migração, ao longo do século passado, abandonando os grandes eixos e penetrando por vias navegáveis cada vez menores até se estabeleceram na área que hoje ocupam. Conforme D. Gallois, 1986: “Nestas regiões, experimentaram diferentes processos de relações intertribais e interétnicas, que resultaram na diferenciação dos atuais subgrupos Waiãpi.” Já no século XVIII, os Waiãpi chegaram até o alto do Araguari e alto do Oiapoque, onde guerrearam com e contra outros povos. Segundo D. Gallois e Ricardo (1983), chegaram a fazer aliança com os portugueses, que teriam fornecido armas de fogo em troca da ajuda para penetrar no território. Assim, o território ocupado historicamente pelos Waiãpi “estendia-se do rio Jari ao rio Araguari, limitado ao sul pelo alto Iratapuru e ao norte pelos rios Oiapoque e Camopi, margem francesa. Nessa região mantiveram contatos intermitentes com diversas frentes – cabanos, extrativistas, colonos – desde o início do século XIX” (GALLOIS, D.; GRUPIONI 2003). No final do século XVIII e início do XIX havia três grandes ocupações Waiãpi: na bacia do Oiapoque, na bacia do Jari e no interflúvio dos rios Paru e Jari. No século XX, alguns Waiãpi do Oiapoque migram para a Guiana Francesa, aí constituindo uma quarta ocupação básica. A transposição de fronteira resulta do hábito de perambulação da população indígena, que não considera os limites geopolíticos dos brancos64. O forte isolamento que resultou desses processos os levou a serem considerados quase extintos, já nas décadas de 1930 e 1940. Localizavam-se então no médio rio Oiapoque; em aldeias dispersas no rio Cuc e afluentes; e no alto Oiapoque, onde mantinham-se isolados. Conforme D. Gallois e Ricardo (1983), nesse período o povo se espalhara em diversos subgrupos pelos rios da região. Havia grupos habitando, além dos rios Cuc e Oiapoque, os rios Aimã, Felício, alto Amapari, Aroã e Inipuku. A migração em ondas sucessivas levou à ocupação de regiões geográficas distintas e a diferentes experiências de contatos intertribais, o que acabou por consolidar sua subdivisão 64 O termo “brancos” é utilizado para designar a população não indígena. Hydros EP518.RE.JR201 163 em três subgrupos principais, com diferenças culturais entre si: o do Jari/Cuc, o do Oiapoque, e os subgrupos do Amapari. Os Waiãpi do Oiapoque absorveram aspectos das culturas Caribe, com que têm contato próximo. Os Waiãpi do Amapari – foco principal de estudo neste inventário, de outro lado, permaneceram mais isolados do que outros grupos e ainda retém a cultura considerada a mais autêntica do povo Waiãpi. Seu modo de vida e tradições diferenciam-se significativamente daqueles dos povos da Guiana Francesa, em função do padrão de adaptação ecológica à região de serras do noroeste do Amapá, e não às margens de rios, caso dos Waiãpi do Oiapoque. O saldo do contato com os brancos, principalmente com os caçadores de animais (para venda de peles) e os garimpeiros, que viveram inclusive em aldeias Waiãpi, foi o alastramento de epidemias. Já no final da década de 1960 muitos subgrupos Waiãpi haviam sido dizimados, e alguns foram extintos. O contato oficial – isto é, por equipe de atração da FUNAI – ocorreu em 1973, com os indígenas do Amapari; a equipe preparava os trabalhos de abertura da rodovia Perimetral Norte (BR 210), que atravessaria horizontalmente o estado de Amapá, a partir de Macapá, para atingir o Pará, cruzando áreas ocupadas pelos Waiãpi. A estrada, juntamente com uma fiscalização inadequada, abriu as terras dos Waiãpi aos invasores: após os caçadores de peles chegaram os garimpeiros e, mais recentemente, empresas de mineração, interessadas nas ricas jazidas de ouro, manganês, cassiterita e tântalo da região. A pressão também aumentava nos limites da área, em face das margens da rodovia estarem sendo ocupadas por serrarias, fazendas e garimpos, cujas provisões vinham dos centros urbanos mais próximos (Serra do Navio, a 90 km da área indígena, e Macapá, a 370 km). Os graves conflitos que se seguiram entre os Waiãpi e os invasores resultaram na interrupção dos trabalhos de construção da estrada, embora um grande trecho de cerca de 30 km já penetrara a região (GALLOIS, D., 1997). O posto da FUNAI, implantado na data do contato para prover assistência à educação e à saúde dos indígenas, introduziu mudanças significativas no modo de vida dos Waiãpi, de um lado devido ao paternalismo da instituição e de outro, em razão do forte aumento na incidência de doenças provocadas pelo contato com a população branca. A principal mudança ocorreu no padrão tradicional da ocupação: de múltiplas aldeias dispersas ao longo de bacias fluviais, para um padrão concentrado, no entorno de postos de assistência. O novo padrão “...facilitava aos índios o acesso à atenção médico-sanitária de que tanto precisavam...” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Ao mesmo tempo, as áreas tradicionais eram deixadas desocupadas e abertas à invasão por brancos, particularmente pelos garimpeiros que já haviam provocado epidemias. É somente na década seguinte, de 1980, que os Waiãpi começaram gradativamente a recuperar suas áreas tradicionais, estimulando a diversificação da atividade de extrativismo e tomando, eles próprios, iniciativas para expulsar os garimpeiros. Famílias mais suscetíveis aos impactos da rodovia – entre eles o esgotamento dos recursos naturais – e à super população das aldeias começam a retornar aos locais tradicionais, distantes dos postos da FUNAI, assim como da missão de fé atuante na área, a Missão Novas Tribos do Brasil - MNTB, que atua por meio da Sociedade Internacional de Linguística - SIL, ou se dispersam em pequenas aldeias num raio de 5 a 20 km dos postos (GALLOIS, D., 1997). Como parte do processo de busca de autonomia na defesa de seus interesses, começa na década de 1990 a constituir-se a relação política formal dos Waiãpi com a sociedade nacional. De modo a que tivessem representação efetiva junto aos brancos, é fundado, em 1994, o Conselho das Aldeias Waiãpi, formado por chefes de família. Hydros EP518.RE.JR201 164 Iniciam-se, paralelamente, ações para demarcação do território Waiãpi: em 1990 a FUNAI interdita área de 543 mil ha nos municípios de Almeirim/PA, Mazagão/AP e Macapá/AP. A autodemarcação física começa em 1994, com apoio do Centro de Trabalho Indigenista – CTI e da Agência Alemã de Cooperação – GTZ65, em convênio com a FUNAI (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003), e a homologação do território é obtida em 1996. A TI Waiãpi, situada no oeste do estado do Amapá, região do médio rio Jari, nos municípios de Pedra Branca do Amapari e Laranjal do Jari, corresponde à área de ocupação tradicional. Este é o motivo principal deles proclamarem esta região como o “berço dos Waiãpi”. Para que a garantia de autonomia e uso exclusivo da TI fosse eficaz, os Waiãpi definem estratégias de retomada das áreas tradicionais de modo a impedir a entrada de invasores. Revertendo o processo de centralização das aldeias, abrem pequenas aldeias próximas aos limites do território; implantadas ao longo de rios e igarapés, mantêm relações com as “aldeias velhas”, as “aldeias centrais” já existentes. Além disso, organizam ações de defesa do território, descritas por D. Gallois e Grupioni (2003): “... desde o final da demarcação física de sua terra, organizaram-se para fazer a limpeza das picadas anualmente, e vêm mantendo uma intrincada rede de trilhas, de acampamentos e de aldeias novas, instaladas nas zonas mais atingidas pelas invasões que prosseguem nos limites sul e leste da sua terra.” A atuação dos próprios indígenas no desenvolvimento dessas ações, e integradamente a suas atividades tradicionais, é fundamental para a proteção efetiva da terra: “A integração dos trabalhos de fiscalização de limites no ciclo de atividades econômicas de cada povo, como vem acontecendo na região, é um fator extremamente positivo, tendo em vista que as experiências acumuladas no Brasil já demonstraram que a efetiva proteção das terras indígenas e de seus recursos não pode ser mantida em caráter permanente senão pela efetiva intervenção dos grupos indígenas” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). 4.7.4.2.1 Unidade Étnica A unidade étnica se expressa no reconhecimento da composição e organização de famílias, casas e aldeias, nos laços parentescos que une as diversas aldeias em que o povo Waiãpi se distribui e que todos sabem nomear. É expressa particularmente pela mitologia, considerada como o ponto de convergência dos múltiplos aspectos da experiência e dos sentimentos que movimentam a cultura de um povo: relações com o ambiente natural, relações de parentesco, relações políticas (IPHAN, 2006). O termo Waiãpi é reconhecido por seus portadores como designação inclusiva para todos os subgrupos, falantes da Tupi-Guarani, que vivem na área delimitada pelos rios Oiapoque, Jari e 65 GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit GmbH): empresa pública de direito privado criada em 1974, é responsável pela implementação da contribuição alemã no gerenciamento de projetos de cooperação técnica, visando expandir sua capacidade de ação no contexto das metas de desenvolvimento Essasacordadas entre os Governos do Brasil e da Alemanha. Hydros EP518.RE.JR201 165 Araguari, no Amapá. Corresponde, portanto, à autodenominação do povo, pois os subgrupos se reconhecem como parentes entre si. “Hoje, “Waiãpi” é um marcador étnico definido por conteúdos e usos políticos em constante transformação. Essa autodenominação refere-se à língua compartilhada por todos os subgrupos distribuídos entre o Pará, o Amapá e a Guiana Francesa e seu uso crescente vem agregando outros elementos selecionados como distintivos de sua cultura” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Alguns Waiãpi consideram distintos os sub-grupos que apresentam pequenas diferenças nos dialetos; de acordo com D. Gallois e Grupioni (2003) “...os Waiãpi do Amapari, por exemplo, consideram-se pertencentes a pelo menos cinco grupos distintos, com trajetórias históricas diferenciadas e pequenas diferenças dialetais”. Outra auto-designação é a expressa pelo termo iane, que significa “nós”. Nos mitos de origem, os Waiãpi situam-se como uma etnia diferenciada, globalmente, dos outros povos por eles conhecidos: os brasileiros (karai-ku), os franceses (parainsi-ku) e os grupos indígenas vizinhos (Wayana-Aparai, Tiriyó, Karipuna, Galibi e Palikur). A tradição estabelece que, no tempo mítico, todos os povos viviam juntos e devido a conflitos entre eles foram separados, por intervenção do herói criador, Ianejar (“nosso dono”). Após a separação, as outras etnias se distanciaram e, desde então, os Waiãpi consideram que habitam o “centro da terra”. Ali, eles se dividiram em diferentes grupos que se reconhecem como “parentes”. A construção histórica da etnia Waiãpi é continuamente lembrada, reforçada e atualizada na narrativa oral sobre o longo período de migração desde o baixo Xingu e na atribuição de um “berço” de origem a uma região: a localizada no médio rio Jari, onde a maioria dos Waiãpi atualmente vive, e não em outras regiões ou mesmo em outras TIs (as do Parque Tumucumaque e Paru D’Este), ou na Guiana Francesa, habitadas por alguns subgrupos. Assim, o berço, a região do médio Jari foi, para a maioria, o ponto de chegada na trajetória de migração, enquanto para outros, ponto de parada na continuação para o norte, através de diferentes caminhos. Uma das manifestações tradicionais que começa a ser utilizada como expressão de identidade grupal, em razão das transformações recentes a que estão sujeitos os Waiãpi, consequentes ao crescente contato com a sociedade nacional, é a rica linguagem de grafismos empregada no corpo e em objetos, como será visto adiante. A língua e suas particularidades regionais podem vir a perder seu significado como identificador do grupo, visto que avançam rapidamente, não somente o conhecimento e o domínio do português, mas a preferência por este idioma, por parte dos Waiãpi, principalmente entre a população masculina jovem, com idade entre 15 e 35 anos. Os mais velhos, no entanto, raramente dominam o português. E, em razão do tipo de organização social em que as mulheres têm papel maior na esfera privada, elas, assim como as crianças, somente dominam o tupi-guarani. Hydros EP518.RE.JR201 166 Fonte: Igreja Presbiteriana Independente Figura 4.7.4-2 – Crianças Indígenas em Aula Já na Guiana Francesa o tupi-guarani falado apresenta diferenças por ter sido influenciado pelo Karib, predominante naquela região. A segunda língua é o francês. Entre os Waiãpi do Oiapoque, a maioria dos adultos do sexo masculino fala francês e muitos conhecem também a língua Wayana (GALLOIS, D., 1997). 4.7.4.3 Aspectos Demográficos Em duas das três Terras Indígenas na bacia hidrográfica do Rio Jari em que atualmente estão distribuídos os Waiãpi, vivem também outros grupos. Consideram-se aqui os dados demográficos referentes apenas aos Waiãpi, os quais foram obtidos por meio de revisão de trabalhos acadêmicos e consulta à FUNAI, à FUNASA, ao IEPÉ e ao ISA. Segundo D. Gallois e Ricardo (1983), o período compreendido aproximadamente entre 1900 e 1960, foi aquele em que a população Waiãpi sofreu maior impacto, havendo sido registradas diversas mortes em consequência do contato com a população não-indígena que se introduzira no seu meio. Em 1926, foram registradas cerca de mil mortes. Entre 1969 e 1970, há registro de morte de indígenas ocasionada por gripe, na região do igarapé Água-Preta, e em 1972, varias mortes provocadas por sarampo, com origem no contato com garimpeiros (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). Já a partir dos meados dos anos 70, os Waiãpi apresentaram crescimento populacional constante, sendo que a taxa de natalidade cresceu muito nos anos seguintes ao contato com a FUNAI, em 1973 (GALLOIS, D., 1997). Censos realizados ao longo de 14 anos por D. Gallois mostram 498 indivíduos no Brasil (censo de 1994) e 412 na Guiana Francesa (censo 1992), podendo-se inferir que o total da população Waiãpi chegava a pouco mais de 910 indivíduos. Em 1997 havia 13 aldeias, além de acampamentos dispersos na área indígena (GALLOIS, D., 1997). É importante remarcar que este processo de recuperação demográfica, após um período de perdas populacionais ocasionadas por conflitos, como mortes em guerras, por doenças e pela Hydros EP518.RE.JR201 167 escravidão, ocorre entre populações indígenas de diversas regiões colonizadas por europeus. É também notável que os protagonistas desse processo são os próprios povos indígenas, que procuram todos os meios para preservar sua identidade, distinguindo-se de outros, particularmente da sociedade nacional (GALLOIS, D., 1997; AZEVEDO, 2000). Tabela 4.7.4-2 – Evolução Populacional do Povo Waiãpi, 1985-2007 Ano População* 1985 308 1987 343 1989 374 1991 406 1993 444 1995 461 2003 640** 2007 779*** Fonte: *Azevedo (2000); **APINA (2003) apud D. Gallois e Grupioni (2003); *** FUNASA, 2007. 900 800 700 600 500 400 300 200 100 2007 2003 2001 1999 1997 1995 1993 1991 1989 1987 1985 0 Gráfico 4.7.4-1 – Evolução Populacional do Povo Waiãpi, 1985 – 2007 Analisando-se a Tabela 4.7.4-2, intitulada “Evolução Populacional do Povo Waiãpi, 1985 2007” e o Gráfico 4.7.4-1, intitulado “Evolução Populacional do Povo Waiãpi, 1985 - 2007”, verifica-se que os Waiãpi apresentaram crescimento populacional de mais de 100% entre 1985 e 2003. De acordo com o último censo, realizado em 2007 na TI Waiãpi pela FUNASA, a população total de 779 pessoas distribuía-se em 49 aldeias, 19 das quais dentro da bacia hidrográfica do Hydros EP518.RE.JR201 168 rio Jari. Considerando a hipótese de distribuição uniforme, a densidade média é de 16 índios por aldeia. Na Guiana Francesa, há mais de mil indígenas Waiãpi, em diversas aldeias ao longo do rio Oiapoque. É importante discutir as consequências do rápido crescimento populacional de grupos indígenas, que ocorre após o intenso declínio do período imediatamente pós-contato. Como mostra M. Azevedo (2000), esse crescimento é claramente resultado da forte redução nas taxas de mortalidade, decorrente da introdução de serviços modernos de saúde, como programas de vacinação. Conforme discute L. Medeiros (2000), embora o crescimento populacional possibilite a sobrevivência de povos indígenas, por manter o tamanho da população acima do mínimo necessário para manutenção da cultura, também pode representar uma ameaça em razão das pressões que coloca sobre recursos naturais. Além disso, pode levar a mudanças culturais drásticas, visto que valores e práticas culturais são fortemente relacionados com o nível populacional. Estudando os Waiãpi, embora não identifique o ponto em que o crescimento demográfico pode tornar-se uma desvantagem, Medeiros (2000) mostra que, ao contrário da evidência etnográfica apontada por D. Gallois (1997), já pode estar operando entre os Waiãpi um processo de declínio das taxas de fertilidade. Este declínio é frequentemente encontrado por demógrafos em populações em que ocorre redução das taxas de mortalidade, e é explicado como um reajuste que torna o crescimento populacional mais sustentável. Mesmo com a diminuição da idade do casamento e a maior permissividade sexual entre os Waiãpi – efeitos possíveis do contato com a sociedade brasileira moderna – o autor (MEDEIROS, 2000) sugere que tem ocorrido um reajuste do comportamento reprodutivo do Waiãpi às menores taxas de mortalidade, pois a idade da mãe na gestação do primeiro filho pode ter aumentado ao longo dos anos, assim como o espaçamento entre as gestações. O autor acredita que podem estar ocorrendo comportamentos que confirmem as evidências que faltam para a comprovação desses fatos, quais sejam: o aumento do uso de uma combinação de métodos modernos contraceptivos com métodos tradicionais (abortos e infanticídio) sobre os quais os Waiãpi não falam abertamente. 4.7.4.4 Aspectos Etno-ecológicos 4.7.4.4.1 Conceito de Território e “Fronteira de Expansão” É relevante notar que os povos indígenas não concebem a terra como um bem, passível de compra e venda, conceito este que vieram aprender com o contato com a sociedade nacional. Para os indígenas, a relação com a terra é remetida ao espaço de sobrevivência, não somente física, mas simbólica. É o local específico que guarda a memória de eventos passados, onde descansam os antepassados, e mitos e rituais sagrados são representados. É onde se criou o universo e foi gerada a cultura que aí, e não em outro local, pode ser realizada. Em segundo lugar, é do território que provém a alimentação dos grupos indígenas, ou seja, onde estão os animais para caçar, os frutos para coletar e os rios para pescar e navegar, os materiais para construir habitações e confeccionar adornos e as ervas curativas. A demanda pelo território é aquela que responde pelas expedições de caças, coletas e perambulação. De Hydros EP518.RE.JR201 169 um lado, o território tradicional é único e insubstituível, e de outro, suas fronteiras, fluidas e dilatadas, não guardam correspondência com os marcos cartográficos estabelecidos pela geopolítica moderna. Os Waiãpi, no entanto, pertencem a um grupo de povos que Seeger e Viveiros de Castro66 (1979) apud C. Gallois (2004) consideram ter menor enraizamento simbólico com seu território e não definir sua identidade a partir de uma geografia determinada. As razões são que ocupam extensivamente seus territórios (explorando diversos nichos ecológicos) e fazem parte dos povos “em processo de expansão”, em oposição, por exemplo, aos povos do Alto Xingu, cujos recursos estão mais concentrados, em lagoas e rios piscosos. A condição dos Waiãpi é a que tornaria mais difícil o “confinamento” em reservas. A região abordada neste inventário caracteriza-se por constituir uma área de fronteira multiétnica: “representa menos uma linha divisória, que uma faixa de conjunção, interseção ou transição” (VIDAL; GALLOIS, D., 1995), reunindo, além das várias etnias indígenas, grupos sociais de diversas matrizes culturais, como franceses, ingleses e africanos. Grupos distantes perambulam atualmente e perambulavam no passado pela bacia. Mesmo antes de qualquer delimitação geográfica instituída pelo Estado, os grupos humanos que habitam essa região mantinham entre si as mais diversas transações – de intercâmbio comercial, de parentesco, de alianças. A extensa rede de relações assim formada e que se mantém até os dias atuais, cruzam a fronteira com a Guiana. Em contraste, a criação de uma TI, que destina seus recursos naturais para uso exclusivo da população indígena, ao mesmo tempo fixa uma fronteira definida para perambulação. 4.7.4.4.2 Mobilidade e Agricultura de Roçado De acordo com C. Gallois (2004) o atributo “mobilidade” é o que melhor define o princípio norteador das relações sociais e ambientais em sociedades em que a movimentação geográfica em seus territórios é constante. O foco aqui não é a mobilidade no processo migratório, em que se busca distanciamento do colonizador, mas a mobilidade intrínseca à prática extensiva do sistema de agricultura denominada de corte e queima (o roçado), cujo caráter diversificado e itinerante diz respeito a uma gama de técnicas desenvolvidas para aproveitar o capital energético da floresta em recomposição. Há evidências de que a sustentabilidade desses sistemas, quando praticados tradicionalmente e sob baixas densidades populacionais, não só mantém, como promovem a biodiversidade local (PEDROSO Jr et al, 2008). A mobilidade no sistema decorre do período de pousio, necessário para recuperação de fertilidade e em que novas roças são abertas, refletindo, no âmbito da organização social, os processos de formação de novas aldeias. A complexidade característica da floresta tropical não é perdida nesse sistema, em face do plantio altamente diversificado: no roçado mantém-se a estrutura da floresta tropical, substituindo-se espécies naturais por aquelas que podem ser utilizadas para alimentação ou confecção de utensílios. 66 SEEGER, A.; VIVEIROS DE CASTRO, E. Terras e territórios indígenas no Brasil. Revista Encontros com a Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, n. 12, jun. 1979. Hydros EP518.RE.JR201 170 Associadas ao roçado, a caça é comumente praticada na mata secundária que se forma nas roças abandonadas em processo de regeneração, durante o pousio. A prática no lidar com uma pletora variada de espécies, com suas variações de comportamento de acordo com estações do ano e fase de desenvolvimento, e com as relações entre elas, incluindo o ser humano, formam uma importante base para a fundação de uma mitologia sobre os seres que habitam as diferentes porções da terra. Diversidade biológica, e para os Waiãpi, diversidade que em seu sistema classificatório inclui o que a sociedade moderna considera “seres inanimados”, é claramente expressa em sua cosmologia, e transmitida e continuamente atualizada por meio das expressões existentes de comunicação – os grafismos e a narrativa oral. O sistema se sustenta mediante uma extensão de território necessária para a expansão derivada do crescimento populacional, mas há evidências de que técnicas de manejo adequadas o tornam sustentável no longo prazo, como mencionado acima. O confinamento da população dos Waiãpi num território demarcado e a alteração do padrão de ocupação das aldeias podem, no entanto, trazer um risco ao sistema. 4.7.4.4.3 Cosmologia - Valores e Crenças Como todos os povos indígenas a cosmologia dos Waiãpi diz respeito ao seu modo de definir a estrutura e funcionamento do universo. Mitos de criação explicam as origens do universo, do espaço e do tempo e dos seres que habitam o universo. Dão lógica às suas trajetórias históricas, e à existência do outro, os grupos com quem vem a se relacionar, como parentes, amigos ou inimigos. De acordo com D. Gallois e Grupioni (2003) a cosmologia e vida ritual dos povos da região do Amapá e norte do Pará mostram recorrências, a destacar: (i) a concepção da origem do mundo como associada à origem do espaço e do tempo; antes havia a “indiferenciação das camadas” e a “imutabilidade”; “tudo era como a gente”, para um Waiãpi, portanto a origem de todos os seres é humana e os seres surgem num processo de separação das “espécies” ou “especiação”; (ii) a criação do universo é atribuída a um herói mítico; (iii) sozinho no mundo o herói acaba por criar uma mulher e procriar; seus descendentes formam uma primeira humanidade, imperfeita por isso destruída e substituída por outra, em que conflitos são resolvidos pela separação: cada um em seu lugar. No mito de criação Waiãpi, a origem está no meio do rio Jari, onde vivia o herói mítico Janejar que, com seus descendentes diretos criam a primeira humanidade: brasileiros, franceses e os ancestrais dos Waiãpi que viviam juntos, em conflito. Janejar destrói esta primeira humanidade e cria a atual, em que brasileiros vivem no sul, franceses no norte e os Waiãpi no “centro da terra”, onde se dividiram em diferentes grupos que se reconhecem como “parentes” (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). Percebe-se no mito a interpretação da experiência vivida e a solução possível dos conflitos. Esta forma de entender a origem da humanidade, por etapas de acontecimentos, em que tudo tem um “antes” e um “depois”, uma causa e um efeito, está presente no sistema cognitivo de outros povos da região. As condições atuais da humanidade são partes de um processo em andamento: “as mazelas da condição humana, tais como a dor, o envelhecimento e a morte” são resultado de erros cometidos no passado, mas sucessivas metamorfoses são possíveis. Metamorfoses, inúmeras na mitologia relativa à gênese da criação, especialmente em relação à humanidade, solucionam desequilíbrios, tais como a terra estar “povoada em demasia”, ou com “excesso de Hydros EP518.RE.JR201 171 conflitos, ou pela falta de medida dos homens em seu comportamento” (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). A explicação de como foram repartidos e organizados os espaços como habitat das espécies que povoam as águas, a floresta, as montanhas, os céus e as bordas da terra, provê um lugar para a humanidade, específico, mas “... sempre instável, já que os homens não encontraram pronto seu domínio, tendo que forjá-lo, alterando o ambiente para criar roças, aldeias e caminhos”. Para isso têm o apoio dos animais, que ensinaram como viver na floresta e transmitiram seus repertórios musicais e padrões decorativos. Para os Waiãpi, os animais têm alma e vida social semelhante à dos humanos, em contínuo desenvolvimento. Janejar significa “nosso dono”. Tudo e todos, plantas, homens, pedras, etc., têm seus donos, cuja principal atribuição é cuidar de suas criaturas, ensinando como se reproduzirem mantendo a indispensável diversidade, um pressuposto importante na cosmologia Waiãpi. Cada porção do universo conhecido define-se como a moradia de um desses donos e das espécies que cria e controla. As relações dos humanos com os donos de animais e de plantas manifestam-se por meio de cooperação, identificação e cura de males, mas também de agressão: o dono da caça, por exemplo, revida quando há intervenção exagerada em seu domínio. Os humanos não são donos da diversidade existente na terra e a ruptura no respeito e comedimento nas relações com os múltiplos domínios e ambientes terrenos ameaça a atual humanidade. Esta será, um dia, substituída por outra, composta a partir das almas dos mortos, que vivem juntos de Janejar. Na vida dos Waiãpi do Amapá, a presença de seres não humanos, que compartilham modos de vida social e transitam nos “mesmos espaços”, está posta desde a origem dos tempos. Nas atividades diárias nas roças e na floresta, nos modos de preparar alimentos, nos cuidados com crianças, nas restrições alimentares e de acesso a certos ambientes, nos sonhos, na música etc., manifesta-se um elo profundo entre todos os seres que compartilham os mesmos ambientes. 4.7.4.4.4 Sistema de Grafismos e Narrativa Oral Os conhecimentos sobre práticas que envolvem relações sociais, crenças religiosas e tecnologias, incluindo valores e padrões morais, são como que “catalisados” por duas formas principais e complementares de expressão: o sistema gráfico, ou kusiwa – grafismos usados para decorar corpos e objetos, combinando padrões que nunca se repetem – e a narrativa oral. Altamente desenvolvidos, ambos, têm a capacidade de “condensar, transmitir e renovar” a cosmologia dos Waiãpi. Não somente expressam taxonomias, crenças e sentimentos, também guardam a história de suas relações com outros grupos da região, e com a população nãoindígena. “São, portanto, os operadores por excelência de saberes acumulados e sempre atualizados na memória coletiva dos Wajãpi do Amapá, a respeito das interrelações entre todos os distintos seres – humanos e não humanos, Wajãpi e não Wajãpi – que compartilham seu mundo” (IPHAN, 2006). Os grafismos não foram criados como decoração, ou como expressão de identidade étnica, nem para tornarem-se “patrimônio cultural”. Têm, sobretudo, eficácia simbólica: estabelecem “comunicação com uma realidade de outra ordem, que somente se pode conhecer na mitologia e pelo elenco codificado de padrões”, atualizando “permanentemente um modo diferenciado de pensar e de experimentar a relação com o outro, seja este animal, vegetal, humano ou não humano, índio ou não índio, parceiro ou inimigo” (IPHAN, 2006). Hydros EP518.RE.JR201 172 O uso dessas formas de expressão como expressão de identidade emerge a partir dos impactos das transformações a que vêm sendo submetidos os Waiãpi, fortalecendo a compreensão do significado de sua condição de “índios”, em face dos “não- índios”. Segundo documento do IPHAN (2006), a arte gráfica e as tradições orais passam assim a ser reconhecidas como “suportes exemplares de expressão de um repertório diferenciado de saberes percebidos como exclusivas do grupo, consensualmente aceitos e transmitidos há gerações”. São representações construídas que diferenciam os Waiãpi do Amapá, não apenas da população não-indígena da região, mas dos demais grupos indígenas, o que inclui “seus distantes parentes Waiãpi da Guiana Francesa”. 4.7.4.5 Condições Materiais de Sobrevivência 4.7.4.5.1 Apropriação dos Recursos Naturais A apropriação dos recursos naturais se dá por meio do plantio, caça, pesca e extrativismo de acordo com as características da região. Estas atividades dependem da variação sazonal, conforme relato de D. Gallois e Grupioni (2003): “O cultivo de roças bem como a caça pesca e coleta constituem a base da subsistência dos povos da região. Tais atividades são regidas por duas estações: o “verão”, estação seca que se estende, aproximadamente, de julho a dezembro; e o “inverno”, estação das chuvas, que ocorre aproximadamente entre janeiro e junho. Esse ciclo anual orienta não só o calendário sazonal das atividades ligadas à abertura, derrubada, limpeza, coivara, plantio e colheita das roças, como determina as espécies de animais, peixes e frutos disponíveis em cada época e local.” A agricultura segue um calendário que resulta da somatória de experiências vividas pelos Waiãpi, ao longo de sua história, e baseadas no ciclo de corte, queima, plantio e pousio. Este tipo de agricultura é uma adaptação altamente eficiente às condições em que o trabalho, e não a terra, é o fator limitante mais significativo na produção (BOSERUP, 196567 apud PEDROSO et al, 2008). De julho a novembro preparam-se as áreas para o cultivo, o plantio ocorre no início das chuvas, a partir de dezembro, e a colheita é realizada durante todo o ano, pois varia com a maturação da espécie plantada. Os locais para plantio são escolhidos pelo tipo de solo: os solos formados de terra preta ou vermelha, que se encontram misturados com areia, são considerados ideais para a realização do plantio das culturas tradicionais. Há uma grande diversidade de espécies plantadas: milho, macaxeira, batata-doce, banana, cará, jerimum, cana-de-açúcar, abacaxi, caju, melancia, limão, laranja, pimenta, cacau, fumo, urucum, flecha, algodão e cabaças, em geral de mais de um tipo. Um cultivo particular entre 67 BOSERUP, E. The Conditions of Agricultural Growth: The Economics of Agrarian Change Under Population Pressure. London: G. Allen and Unwin, 1965. Hydros EP518.RE.JR201 173 os Waiãpi é o da pupunha, “... desempenhando um papel importante tanto na identificação dos sítios de ocupação histórica quanto como complemento nutricional” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Caça, pesca e coleta são menos dependentes de estação, podendo ocorrer simultaneamente. No entanto, dependem da disponibilidade e abundância de frutos, que constituem base de alimentação para muitos animais e peixes. Na pesca variam as espécies de peixes conforme o período de cheia ou de estiagem; no último, que os rios tornam-se bastante secos, a pesca é facilitada. Uma grande quantidade de peixes são pescados pelos Waiãpi, com destaque para o trairão, muito apreciado pela carne. O período de seca, no auge do verão, também facilita localizar ninhos de ovos de tracajá, jacaré e camaleão, muito apreciados pelos Waiãpi. A sazonalidade das árvores que fornecem frutos permite aos Waiãpi não somente praticar a coleta dos frutos para alimentação, mas também identificar e escolher os roteiros para as atividades de caça. Os frutos das espécies vegetais são atrativos para diversas espécies de animais caçados pelos Waiãpi. Para os Waiãpi, a produção local tradicional da agricultura é suficiente para suprir suas necessidades básicas, produtos de auto-subsistência. É executada por unidade familiar, para o consumo cotidiano. O excedente é destinado ao consumo interno da aldeia, às visitas, e às ocasiões de festas e grandes festivais coletivos, quando se oferecem bebidas à base de mandiocas ou frutas fermentadas (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). No contexto regional, os Waiãpi necessariamente desenvolvem uma multiplicidade de atividades: “... na região como um todo, nenhuma família indígena obtém ou produz os elementos necessários à sua manutenção e os recursos monetários de que necessita através de uma única atividade, mas através da conjugação da quase totalidade dela” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). É importante salientar que os Waiãpi desenvolvem atividades adequadas à escala familiar, na medida em que podem ser desenvolvidas durante o período de perambulação ou deslocamentos que as famílias realizam no território. É o caso do extrativismo, em que coletam seivas, sementes, espécies vegetais para consumo direto ou produção de artesanatos. Quanto à diversificação da produção para a comercialização, é incipiente a produção de “artesanato” escoado por meio de associação de comércio de produtos indígenas existente em Macapá68. Nessas atividades se envolvem principalmente jovens, cujo interesse em grande parte deriva dos ganhos em dinheiro e possibilidade de adquirir produtos comprados nos mercados modernos. Destaca-se que as condições de sobrevivência das populações indígenas atualmente estão estritamente ligadas ao território demarcado e destinado a seu uso exclusivo, sem concorrer com outros usos, desenvolvidos por não índios. Desta forma, a regularização fundiária constituiu a condição essencial para a garantia da sobrevivência da identidade étnica Waiãpi, com a possibilidade de manutenção de seu modo de vida. 68 Observação in loco pela Hydros Engenharia em janeiro de 2008. Hydros EP518.RE.JR201 4.7.4.5.2 174 Divisão Social do Trabalho A unidade de produção da sociedade Waiãpi é a família nuclear, as atividades sendo organizadas para suprir a família cotidianamente. Há, no entanto, um sistema de trocas e reciprocidades, em que o excedente da produção é compartilhado, sendo também decorrente da limitação no armazenamento de produtos. Dependendo da sua natureza, atividades também podem ser compartilhadas. O caso dos cuidados aos filhos, por exemplo, é de responsabilidade da mãe biológica e suas irmãs. Seus papéis são equivalentes, em consonância com o sistema de residência pós-casamento e a terminologia dravidiana de parentesco (predominante entre os povos indígenas da Amazônia), em que não há termo específico para irmã da mãe. Na sociedade igualitária Waiãpi, a divisão social do trabalho limita-se ao critério de gênero e faixa de idade, sem qualquer especialização. Para os homens, há subordinação ao pai da esposa, pelo menos temporariamente, ou até que consiga formar o próprio grupo. Mas o chefe local tem os mesmos tipos de deveres que os outros homens. Tipicamente os homens fazem serviços mais pesados, considerados perigosos e que exigem deslocamento, como a caça e pesca para as quais se organizam expedições, a derrubada, queimada e limpeza de roças, e construção de casas nos novos assentamentos; também executam a cestaria utilizada para carregamento de frutos, sementes e outros alimentos, além de abanos, recipientes, tipiti, etc (Figura 4.7.4-3, intitulada “Indígena Preparado para Caçar”). Serviços muito pesados ou que exigem coordenação, são realizados em mutirão. As mulheres, que permanecem após o casamento, próximas à sua família de origem, têm menor mobilidade devido à dependência das crianças pequenas, o que naturalmente favorece suas atividades na esfera doméstica (Figura 4.7.4-4, intitulada “Mulheres Preparando Alimento Trazido da Caça”). Atividades exclusivamente femininas estão relacionadas ao aprisionamento da água e do fogo, ao preparo dos alimentos (processamento de tubérculos, produção de farinha, beiju e bebidas fermentadas), à produção de panelas de cerâmica e fornos para torrar beiju e farinha, e produção de algodão, para confecção de redes, tipóias, e outros produtos. As mulheres executam os trabalhos necessários para as festas (preparo de bebidas e alimentos), enquanto é papel dos homens sua organização (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Durante o difícil período da seca, homens e mulheres compartilham as mesmas atividades de obtenção de alimentos: coleta, plantio e colheita dos produtos da roça e de pescarias, mantendo-se uma clara divisão de trabalho por gênero: os homens são responsáveis pela limpeza e preparo da terra e as mulheres pelo plantio. A pesca também é praticada por ambos, mas “...as mulheres pescam com anzóis pequenos, à beira de lagoas próximas às aldeias ou acampamentos; os homens, na estação propícia, realizam expedições mais distantes, em que usam anzóis e tarrafas” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). No âmbito mais amplo que o da unidade básica de produção (a família local), há atividades, como expedições para caça e pesca, que reúnem mais de uma aldeia, e eventualmente até outros povos. Essas atividades têm como base regras de cooperação e reciprocidade que não só referem-se à obtenção de alimentos, mas ao controle territorial e equilíbrio sócio-político (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Hydros EP518.RE.JR201 175 Fonte: Igreja Presbiteriana Independente Figura 4.7.4-3 – Indígena Preparado para Caçar Fonte: Igreja Presbiteriana Independente Figura 4.7.4-4 – Mulheres Preparando Alimento Trazido da Caça 4.7.4.5.3 Dinâmica Sócio-econômica da Região Quanto à dinâmica sócio-econômica da região inter-étnica, os Waiãpi entrelaçam uma série de atividades sociais e econômicas vinculadas ao modo de vida da maioria dos povos indígenas do estado do Amapá e norte do estado do Pará. Seu modo de viver inclui também intercâmbio entre grupos que D. Gallois e Grupioni (2003) descrevem: “...antes dos colonizadores, os povos da região não viviam isolados, mas mantinham intensos intercâmbios entre si e que isto é uma das principais riquezas da história do Amapá.” Hydros EP518.RE.JR201 176 O contato de muitos anos com a sociedade envolvente os introduziu na economia de mercado. Alguns bens industrializados são adquiridos nos mercados das cidades mais próximas, sendo incorporados às atividades tradicionais de subsistência. Exemplos desses produtos são: arma para caça, tecidos, relógio, mochila. Como em todas as culturas indígenas, após o contato, os tradicionais utensílios e ferramentas são substituídos por implementos modernos mais eficientes. Porém, não há indicações na literatura de que seus sistemas de produção tenham sido fortemente afetados. 4.7.4.6 Organização Social, Cultural e Política 4.7.4.6.1 Unidades Sociais Básicas - Relações de Parentesco A sociedade tradicional dos Waiãpi é basicamente igualitária, a diferenciação social limitando-se aos critérios de sexo e idade. Cada aldeia atua como uma entidade politicamente autônoma e seu chefe é o fundador da aldeia. Não há autoridade central, isto é, a figura de um chefe geral, ou cacique, de todas as aldeias. A aldeia é tipicamente formada por um “grupo local” composto por diversas famílias nucleares ligadas por laços de parentesco consanguíneo e por afinidade, que passam de geração a geração. Alianças entre aldeias são importantes para coibir pressões externas. Com o aumento destas, as alianças tornam-se mais e mais necessárias. Na TI Waiãpi, por exemplo, há vários grupos de caráter político, chamados wanã, maiores que os grupos familiares constituintes das aldeias (APINA; APIWATA, 2005). Alianças também existem como resultado de relações de parentesco, reforçadas nos casamentos com indivíduos de fora do grupo local. O sistema de descendência é bilateral, o que significa que um indivíduo está relacionado simetricamente, e de modo não diferenciado, aos parentes paternos e maternos. Não existem grupos de descendência, como linhagens, nem classes de idade ou de festas cerimoniais. A terminologia de parentesco é basicamente dravidiana. Nela os laços de parentesco são muito mais expandidos do que na sociedade industrializada moderna e são distintos de acordo com a geração, gênero e tipo de relação (por afinidade, ou consanguínea): um Waiãpi típico pode se considerar relacionado a aproximadamente metade da população da aldeia (CAMPBELL, 199569 apud MEDEIROS, 2005). As pessoas chamam alguns de seus parentes por afinidade por termos de parentesco cognático (por exemplo, “tio” e “sogro” são a mesma palavra). A terminologia de parentesco dravidiana implica na regra de casamento de primos cruzados (entre filhos de um irmão e de uma irmã real ou classificatória), normalmente dentro do mesmo grupo local, consequentemente, assegurando sua integridade (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). A regra de residência é uxorilocal: imediatamente após o casamento o casal muda para a casa dos pais da esposa, e depois construirá sua própria casa na mesma vila. Isto significa que, se a 69 CAMPBELL, A. T. Getting to know Waiwai: an Amazonian Ethnography. New York, NY: Routledge, 1995. Hydros EP518.RE.JR201 177 esposa e o marido são de grupos locais diferentes, o marido deve mudar para a aldeia da esposa e servir ao pai da esposa. A exceção é o filho do chefe da aldeia, que nela permanece. Além disso, os pais do marido tentam sempre fazer com que o casal permaneça em seu próprio grupo local, o que gera tensões, às vezes solucionadas por meio de moradia provisória em outra vila (GALLOIS, D., 1986). Uma consequência de mulheres permanecerem na aldeia da família de origem é a pouca distinção dos papéis atribuídos às irmãs. O papel da mãe, por exemplo, é extensivo às suas irmãs; todas cuidam do filho, o que se reflete na inexistência de nome que corresponda à “tia” da sociedade moderna. A formação de novos grupos ocorre tipicamente pela associação de dois ou mais irmãos que conduzem suas respectivas famílias a um novo território. Contudo, um único adulto pode formar um grupo local com suas respectivas esposas, filhas e genros – sua família extensa. O líder do grupo local é o fundador da aldeia, a pessoa que escolheu um local adequado para iniciar uma roça (onde mandioca, o alimento básico dos Waiãpi, será produzido) e atraiu um número de pessoas que permite tornar o grupo independente, pelo menos em relação à subsistência. Embora a autoridade deste líder seja baixa, ele possui algum prestígio dentro do grupo, prestígio este determinado, em grande parte pelo número de genros que é capaz de atrair para compor o grupo (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). A prática da poliginia existe, mas não é generalizada; é privilégio do chefe da aldeia, o qual deve demonstrar a capacidade para liderar um número maior de pessoas, e portanto, é quem consegue atrair genros que o sirvam. As aldeias Waiãpi se distribuem próximas a cursos d’água, no espaço limitado por um igarapé, rio e/ou roças. Há um pátio central onde são realizadas as atividades sociais. Cada família ocupa uma casa, que, de acordo com C. Gallois (2004), não são construídas para ter longa duração, nem para fixar seus moradores em um mesmo lugar. São concebidas de modo a possibilitar a mobilidade territorial. A composição da aldeia varia de acordo com as estações, pois os membros circulam entre as aldeias e casas provisórias construídas junto às roças. Estações do ano determinam o ciclo agrícola, o período e local apropriados à caça. A composição da aldeia varia também em função das reuniões com outros grupos, problemas como cisões políticas, surtos de doenças e mortes. Por se localizarem próximas aos corpos d’água, as casas tradicionais são de palafita. Atualmente estão dando lugar às grandes construções baixas, sem paredes. Entre os Waiãpi há casas que servem para atividades coletivas, não só para festas, como cozinha coletiva, onde as mulheres se reúnem para o preparo de alimentos. 4.7.4.6.2 Cerimônias religiosas Nas aldeias Waiãpi, cerimônias sagradas se configuram como rituais coletivos organizados para marcar ciclos produtivos ou períodos de passagem do ciclo de vida (Figura 4.7.4-5, intitulada “Jovens Waiãpi Tocam as Flautas Turé para a Apreciação dos Mais Velhos”). Hydros EP518.RE.JR201 178 Fonte: D. Gallois e Grupioni, 2003 Figura 4.7.4-5 – Jovens Waiãpi Tocam as Flautas Turé para a Apreciação dos Mais Velhos Segundo D. Gallois e Grupioni (2003), “... os rituais indígenas na região podem ser compreendidos como rituais de celebração das diferenças que povoam o mundo, porque envolvem a busca de interação entre uns e outros, próximos e distantes, amigos e inimigos, vivos e mortos, visíveis e invisíveis. E é assim que falar de vida ritual na região é falar de festas, inúmeras e intensas, regadas à bebida cerimonial típica na região, o caxiri, às danças e aos cantos rituais acompanhados de flautas de diversos tipos.” Estas festas comemoram os bons momentos, principalmente relativos às boas colheitas e caçadas e são acompanhadas de danças e bebida alcoólica, preparada a partir da mandioca fermentada, e é servida normalmente pelas mulheres. Como as colheitas e caçadas ocorrem de acordo com o ciclo da chuva, as principais festas ocorrem também obedecendo a esse ciclo: a festa do milho ocorre no inverno e as festas do mel e as danças dos peixes ocorrem no verão. D. Gallois e Grupioni (2003) descrevem outras comemorações acompanhadas de danças, como a dança do Turé e a festa do Pacu, que se refere “...ao momento em que os peixes, que eram “gente” caem n’água e se transformam em alimento para os homens.” Rituais de passagem – relativos à iniciação dos meninos para entrada na fase adulta – são realizados alternando obrigações no âmbito privado, de controle familiar, como o retiro por que passam os iniciantes, ao âmbito público, coletivo, com celebração em cerimônias festivas ou solenes. Estas em geral são exclusivas da iniciação de meninos, as meninas restringindo-se aos rituais privados. Cerimônias podem se circunscrever a uma aldeia ou envolver outras aldeias convidadas, caso em que alianças e relações são reforçadas (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Na esfera da religião, há atividades xamânicas, desenvolvidas por um membro que detém conhecimentos sobre a natureza, como rituais mágico-religiosos, e que têm influência na comunidade onde vivem. Conforme D. Gallois (2003), são “... mais discretas e pouco ritualizadas. Ocorrem em domínios mais restritos que envolvem tensões entre famílias ou entre aldeias, mas dificilmente envolvem o conjunto das aldeias de um povo inteiro.” Hydros EP518.RE.JR201 179 Fonte: Igreja Presbiteriana Independente Figura 4.7.4-6 – Brincadeiras entre os Indígenas Waiãpi 4.7.4.6.3 Organizações de Representação na Sociedade Nacional Os Waiãpi atualmente se relacionam com a sociedade envolvente por meio da representação organizada pelas associações que reúnem integrantes dos Waiãpi de diversos lugares. Com sedes em Macapá, capital do estado do Amapá, o diálogo com as representações políticas da sociedade envolvente é favorecido. Essas organizações indígenas fundadas nos últimos anos no Brasil ganham visibilidade no cenário nacional e no exterior, levando a questão indígena a vários foros de debate. São as seguintes essas associações APINA – Conselho das Aldeias Waiãpi: tem origem no conselho criado em 1994, registrado somente em 1996. APINA é o nome de um antigo subgrupo Waiãpi, conhecido por sua valentia (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). APIWATA – Associação dos Povos Indígenas Waiãpi do Triângulo do Amapari: surge em 1998 após a saída de alguns líderes da APINA um grupo local denominado Wiririry wan. Reúne alguns membros desse grupo local, que se localiza entre algumas aldeias no interior da TI Waiãpi (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Desde a década de 1990 vêm sendo estabelecidos convênios de organizações com órgãos do governo para implementação de projetos que beneficiem as comunidades indígenas Waiãpi, em diversos setores, como saúde, educação e também relacionadas a alternativas econômicas. Destacam-se os seguintes projetos, coordenados pelo CTI: Projeto Educação Wajãpi, desenvolvido entre 1994 e 2002, com apoio da Fundação Mata Virgem da Noruega, deu continuidade a um programa de formação de professores indígenas e apoio à implantação de escolas diferenciadas nas aldeias da Terra Indígena Waiãpi que havia sido iniciado em 1992, com apoio pontual de diversas instituições. Atividades relacionadas foram educação escolar e capacitação de jovens e adultos Waiãpi, de modo a enfrentarem com autonomia os desafios e demandas colocados pela intensificação de suas relações com a sociedade envolvente. O projeto permitiu a consolidação do Programa de Educação Wajãpi, cujos programas de formação de professores e agentes de saúde continuam sendo Hydros EP518.RE.JR201 180 desenvolvidos com apoio de outras instituições, como a Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena do MEC, o setor de educação da FUNAI, o Ministério da Saúde e, especialmente, a Secretaria de Estado de Educação do Amapá, que mantém um convênio com o Iepé para garantir a continuidade da formação dos professores Waiãpi. Programa de Saúde Wajãpi, iniciado em 1996 em parceria com o Conselho das Aldeias Wajãpi e a Secretaria de Estado de Saúde do Amapá, inicialmente incluía atividades de atenção à saúde em todas as aldeias da Terra Indígena Waiãpi e atividades educativas, inclusive a formação de agentes de saúde indígenas. Com a criação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Amapá e Norte do Pará, em 1999, as ações de atenção à saúde passaram à responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde, mas manteve-se parceria com a equipe do Programa Wajãpi para o desenvolvimento de programas de formação e capacitação para índios e não índios que atuam no atendimento às comunidades indígenas. Atualmente o Programa de Saúde Wajãpi é desenvolvido por convênio entre o Ministério da Saúde e o APINA. Diagnóstico Ambiental da Terra Indígena Waiãpi, realizado em 2002, em parceria com o Fundo Nacional de Meio Ambiente / MMA, deu continuidade a levantamento dos conhecimentos dos Waiãpi a respeito dos ambientes que ocupam, iniciado em 2000 com apoio da Fundação Mata Virgem da Noruega, e permitiu a elaboração pelos próprios índios de plano de gestão territorial hoje em fase de implementação. Formação em Gestão para os Wajãpi, iniciado em 1999 como parte do Projeto Educação Wajãpi financiado pela Fundação Mata Virgem da Noruega. A partir de 2003 estruturou-se como programa autônomo, que inclui atividades de capacitação de jovens e adultos articuladas a uma assessoria permanente ao APINA. Em 2005 e 2006, a APINA e a APIWATA elaboraram dois documentos em que expõem opiniões políticas a respeito da gestão da TI Waiãpi, além de reivindicar ações de órgãos como a FUNAI, o IBAMA e a FUNASA. Entre essas reivindicações estão: a consulta aos Waiãpi quando da tomada de decisões do governo sobre ações que envolvam os Waiãpi; o fornecimento de armas e munição para a caça e de obras de melhoria em uma pista de pouso dentro da TI Waiãpi; e a construção de outra pista de pouso em outra aldeia (APINA; APIWATA, 2005; APINA; APIWATA, 2006). Essas associações têm tido papel importante no relacionamento com outros grupos étnicos e com a sociedade envolvente, o que lhes têm favorecido no suprimento de suas necessidades e atendimento de suas aspirações enquanto indivíduos e enquanto grupo. A representação política dos Waiãpi junto à sociedade envolvente inclui os grupos que vivem nas TI Paru D’Este e Parque do Tumucumaque. Hydros EP518.RE.JR201 4.7.5 181 POVO APARAI E WAYANA Os territórios dos Aparai e Wayana – TI Parque do Tumucumaque, e TI Paru D’Este – localizam-se predominantemente na bacia do rio Paru de Este, bacia vizinha à de estudo. No entanto, pequenas porções desses territórios (5% e 7% respectivamente, de suas áreas totais) adentram a bacia do rio Jari (ver desenho Nº EP518.A1.JR-08-006 (Fig. 092), intitulado “Mapa das Terras e Aldeias Indígenas – Planta”, apresentado no Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos). Reconhecendo-se que para a população indígena, o território é aquele onde se vive, com possibilidade de caça, pesca roça e desenvolvimento de suas atividades sociais, culturais e políticas, considerou-se necessário analisar esses povos, selecionando-se os Aparai e Wayana que tem as aldeias situadas ao longo do rio Paru de Este, concentradas no seu trecho mais próximo à bacia do rio Jari. 4.7.5.1 Situação Legal do Território Aparai e Wayana As duas TIs onde vivem os Aparai e Wayana foram demarcadas em 1997 e homologadas pelo Decreto 213 de 4 de novembro de 1997, conforme a tabela a seguir. A regularização das duas TIs foi concluída em 1998, após a demarcação física por empresas de engenharia contratadas, ao contrário do modelo seguido na Terra Indígena Waiãpi Não há acesso a essas TIs por estradas. Os índios utilizam navegação fluvial, intercalada com caminhadas para atingir núcleos mais próximos. Há também uma pista para pequenos aviões, que era utilizada por missionários e hoje por agentes da FUNAI, principalmente. Tabela 4.7.5-1 – Informações das Terras Indígenas Nome Terra Indígena Paru D’Este Terra Indígena Parque do Tumucumaque Situação Jurídica Homologada / Regularizada Homologada / Regularizada Data da criação 03/11/1997 03/11/1997 Área (ha) 1.195.785,79 3.071.067,87 Área inserida na bacia (ha) 68.155,80 138.132,66 Municípios - UF Almeirim/PA, Alenquer/PA Oriximiná/PA, Óbidos/PA, Alenquer/PA, Almeirim/PA, Laranjal do Jari/AP Povo que a habita Aparai, Wayana, Waiãpi Txutyana, Aparai e Wayana, Waiãpi**, Kaxuyana, Tiriyó, Isolados População* (hab) 990 1976 Fonte: *FUNASA-DSEI Macapá-AP, 2007; *FUNAI-AER Macapá-AP, 2007; ** D. Gallois e Grupioni, 2003. Hydros EP518.RE.JR201 4.7.5.2 182 Trajetória Histórica até o Presente Os Aparai e Wayana, embora tenham nomes distintos, são encontrados em muitas referências como uma única etnia, resultado da fusão social, econômica e cultural que ocorreu em razão de casamentos entre si e co-habitação nas mesmas aldeias. Neste inventário serão analisados como uma unidade, devido a co-habitarem nas aldeias de interesse. A controvérsia sobre sua identidade como um só grupo é abordada no item “Unidade étnica – Língua”. O processo de formação das etnias indígenas da região da fronteira do Brasil com o sudeste da Guiana tem sido descrito na literatura como um processo de fusão de etnias remanescentes de períodos em que foram dizimadas ou desapareceram, mais do que de subdivisão de grupos que na trajetória de migração adaptam-se a novas regiões. Em parte o processo de fusão resultou de uma política de concentração de grupos locais antes dispersos em torno de sedes de missões e postos indígenas. A sociedade Aparai e Wayana é um exemplo de fusão, destacado na literatura (MELATTI, 1997). Segundo relatos de estudiosos, outros grupos com quem ambos (ainda duas etnias distintas) se relacionavam desde os séculos XVI e XVII, contribuíram para sua constituição étnica. Em relação aos Aparai, de acordo D. Gallois e Ricardo (1983) suas origens estão no médio e baixo Paru, pois as primeiras informações e relatos sobre eles, apresentadas por Crevaux e datadas entre 1877 e 1878, mencionam que estavam distribuídos no Paru em oito aldeias, onde já mantinham relações pacíficas com os Wayana, enquanto tinham atritos com os Waiãpi. Estudos posteriores de Barbosa e Morgado (2003) mostram evidências de que os Aparai seriam originários da margem direita do rio Amazonas, ocupando, por volta do século XVI, áreas onde hoje estão as cidades de Macapá e Belém. Na mesma época, alguns Aparai também eram encontrados na região do baixo Paru de Este e no leste do rio Jari. Relacionavam-se com dois grupos considerados seus ancestrais: os Apama e os Aracaju, povos possivelmente de língua tupi que viveram no entorno do hoje município de Almeirim. Com os Apama, grupo que se isolou na região do rio Maicuru, mantiveram relações matrimoniais e materiais até a década 60. Os Wayana, de acordo com Barbosa e Morgado (2003), parece que tiveram como área de ocupação original a região do rio Paru de Este, seu afluente Citaré, o alto Jari, além dos rios Litani, Paloemeu e afluentes. Fizeram parte da formação étnica dos Wayana, grupos como os Kukuyana, Opagwana e Kumarawana, que ocupavam a região de fronteira com o Suriname. É possível, a partir das indicações acima, sugerir que os locais de origem dos dois grupos eram os mesmos, ou muito próximos, tendo em vista a característica de perambulação. Há evidências do contato entre eles, no entanto, somente a partir do início do século XVIII é que os Wayana teriam penetrado nas regiões habitadas pelo povo Aparai e com eles estreitado relações, passando a compartilhar o mesmo território e realizar casamentos interétnicos, em um processo de fusão social. É a partir de então que a literatura começa a mencioná-los como uma única etnia. Há também relatos de que entre os séculos XVIII e XIX, os Wayana do alto Maroni estavam em processo de fusão com os Upurui do baixo Jari, os quais mais tarde seriam extintos (MORGADO, 2003). Há ainda relatos de ocupação de áreas distintas na década de 1950: o grupo Aparai ocupava áreas ao longo dos rios Paru de Este, Jari, Maicuru e alto Curuá do Alenquer e o grupo Wayana ocupava os médios e altos cursos dos rios Paru de Este e Jari, além dos rios Litani Hydros EP518.RE.JR201 183 (Guiana Francesa) e Paloemeu (Suriname) (BARBOSA; MORGADO, 2003; GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). 4.7.5.2.1 O Contato com a Sociedade Nacional Até o final do século XIX as relações com outros grupos não foi prejudicial aos Aparai e Wayana. Assim foi o contato, durante todo esse século, com negros que imigravam maciçamente das plantações de cana-de-açúcar da antiga Guiana Holandesa. Esses exescravos forneciam mercadorias principalmente aos Wayana e Tiriyó, que as repassavam a outros grupos indígenas como os Aparai e os Waiãpi. O comércio durou até o final do século XIX e foi benéfico aos Aparai e Wayana. Conforme afirma Barbosa e Morgado (2003), “... os contatos dos Aparai e Wayana com segmentos da sociedade envolvente (não-índios) foram esporádicos e indiretos, e a disponibilidade de bens industrializados relativamente limitada, o que permitiu aos Aparai e Wayana familiarizar-se gradativamente com estes bens, sem comprometer sua cultura e modos de vida”. Já a partir do século XX essa situação se altera: primeiro, os Aparai e Wayana se envolvem com os caboclos extrativistas da região, que era de fácil acesso e oferecia algum comércio. O resultado foi sua sujeição ao trabalho de coleta de castanha e balata, em troca de mercadorias ou dinheiro. Em 1960, foi aberta uma pista de pouso próximo às aldeias Maruakpa e Itapeké, para o escoamento da balata. No período, a área foi invadida por castanheiros, o que acabou afetando as aldeias, com a inserção de Aparai e Wayana nos trabalhos de extrativismo (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). Entre as décadas de 1950 e 1970, chegam garimpeiros à região, e começa a contaminação com doenças que os povos indígenas não tinham resistência, o que resultou em epidemias e forte redução da população. A presença de diversos pontos de garimpagem em que os Aparai e Wayana trabalhavam é constatada na década de 1970, no alto e médio curso do rio Paru de Este. Desta forma, essas frentes de trabalho extrativista ocasionaram o abandono das aldeias dos rios Jari, Maicuru e baixo Paru de Este, e mudança para o médio e alto curso do rio Paru de Este, onde havia a garimpagem e que veio a configurar gradativamente o atual território destes povos no Brasil (BARBOSA; MORGADO, 2003). O contato oficial com os povos indígenas da região dos Aparai e Wayana teve início em 1970 e foi atribuição da Força Aérea Brasileira – FAB, pela necessidade de reconhecimento das fronteiras nacionais e elaboração de um quadro dessa parte ainda desconhecida do território. Na ocasião, os modos de vida e a cultura indígena já sofriam profundas transformações em razão do processo de evangelização a que eram submetidos pelas missões protestantes que em 1963 haviam se estabelecido na região em estudo. Essas missões, vinculadas ao Summer Institute of Linguistics – SIL passam a prover assistência quase total aos indígenas, desencadeando alterações em todos os aspectos de sua cultura (BARBOSA, 2002). A criação do posto da FUNAI em 1973 marca um importante momento dessa trajetória: tem início o processo de demarcação de terras e os Aparai e Wayana são isolados das frentes Hydros EP518.RE.JR201 184 extrativistas formadas por balateiros, garimpeiros e gateiros. Os contatos passando a se restringir a poucos funcionários da FUNAI e missionários protestantes. “Em contrapartida, a ideologia ocidental penetra de forma mais pungente na sociedade Wayana-Aparai, graças à nova situação de Área Indígena criada para assistir os Aparai e Wayana dispersos em pequenos assentamentos” (MORGADO, 2003). De um lado, a assistência da FUNAI foi necessária em face da fragilidade, no momento, da população indígena. De outro, seu caráter paternalista não favorece a possibilidade de sobrevivência autônoma dessa população. O posto da FUNAI na aldeia Apalai atrai a população indígena carente de cuidados. Abandonando suas aldeias tradicionais, os Aparai e Wayana concentram-se no entorno do posto. Com a melhora da saúde e o gradual crescimento demográfico, revertendo à queda do período anterior, começa a recuperação das áreas abandonadas, mas agora o padrão de assentamento difere do tradicional. As novas aldeias mantêm proximidade à aldeia Apalai, “... trata-se de uma dispersão"polarizada", ou seja, na qual todas as novas aldeias fundadas mantêm laços estreitos com o pólo social e econômico que se desenrola em Apalai; com o comércio de objetos destinados a Artíndia (cantina do Jaké), com o posto de saúde (da FUNAI) e, mais recentemente, com a escola dos missionários” (MORGADO, 1994). Fonte: Agencia O Globo (1973) in ISA (2008) Figura 4.7.5-1 – Índios Aparai do Rio Citaré mudando-se para Bona (antigo nome da Aldeia Apalai) No âmbito regional, o abandono, a partir de 1980, de várias bacias hidrográficas (Curuá de Alenquer, Maicuru e Jari, alto e baixo curso do Paru de Este e igarapés Capucu, Uruaratia, Kustuné, Arakoepina, Ipitinga, Curuapi, Ximin-Ximin, Mapahoni e Aramaepo) leva a uma redução significativa da área ocupada anteriormente pelos Aparai e Wayana. Em 1984 é constatada apenas uma aldeia Aparai, próxima à confluência dos rios Jari e Ipitinga, não imediatamente polarizada por Apalai (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). No início da década de 2000, segundo Barbosa e Morgado (2003): Hydros EP518.RE.JR201 185 “... os Aparai e Wayana estão distribuídos em três grupos territoriais definidos pelos eixos fluviais do rio Paru de Leste, no Brasil, do rio Marouni, na Guiana Francesa e do rio Tapanahoni no Suriname. Enquanto a grande maioria dos Aparai se encontra em território brasileiro, os Wayana também se distribuem pela Guiana Francesa e Suriname. Essa configuração em três conjuntos territoriais distintos é resultado de sua longa história de contato com não-índios, marcada por migrações, processos de fissão e fusão com outros povos indígenas. De qualquer modo, a distância espacial não representa um obstáculo para a interação entre esses conjuntos territoriais, que se dá, fundamentalmente, com base em laços de parentesco e de parcerias formais de troca”. 4.7.5.2.2 Unidade Étnica A unidade étnica dos Aparai e Wayana é controversa na literatura sobre o tema. Embora diversos autores definam os Aparai e Wayana como uma só etnia, inclusive os denominando Wayana-Aparai, outros autores enfatizam as distinções derivadas de suas trajetórias históricas e que permanecem até hoje. As mais evidentes são distinções nas narrativas míticas, cantos, concepções cosmológicas e valores estéticos. Mencionam-se também diferenças na língua e em diversos costumes e práticas, mas não há precisão etnográfica sobre como essas diferenças operam nos modo de reprodução sociocultural das aldeias. Van Velthem (197670 apud MELATTI, 2007) mostra que este é um caso de fusão interétnica: depois de seis ou sete gerações de casamentos interétnicos, os Aparai e Wayana formam um grupo único. É relevante a concepção dos próprios indígenas sobre sua unidade ética; de acordo com Van Velthem (apud BARBOSA, 2003): “Os Aparai e Wayana jamais utilizam essa expressão, ‘Wayana-Aparai’, para se referir à sua população como um todo ou aos indivíduos que descendem de casamento misto”. As denominações étnicas “Aparai” e “Wayana” resultam, assim, do processo de interação das etnias com a população envolvente, e pelo reconhecimento por parte do Estado nacional como um único grupo. a) Língua Os Aparai e Wayana são povos cujas línguas pertencem à família linguística Caribe. Falam também línguas de outros povos da fronteira entre o Brasil, o Suriname e a Guiana Francesa, com quem mantêm relações. Assim, fala-se de duas a três línguas: além de aparai e wayana, podem falar tiriyó, waiãpi (também da família Caribe), aluku, crioulo (creole) e português (BARBOSA; MORGADO, 2003). 70 VELTHEM, Lucia Hussak van. Representações gráficas Wayâna-Aparaí. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Nova Série, Antropologia 64, 1976. Hydros EP518.RE.JR201 186 A língua aparai é também utilizada por membros de grupos que foram alfabetizados por missionários atuantes na área de 1968 a 1992 e que utilizavam, para alfabetizar os indígenas, o aparai além do português – este apenas em livros e cultos (BARBOSA; MORGADO, 2003). A despeito do domínio da língua aparai entre os Aparai e Wayana, o wayana, nos últimos anos, passou a ser utilizada com mais frequência entre os jovens, por admitir a comunicação entre os grupos Wayana e os Tiriyó. Os Tiriyó vivem em sua grande maioria do outro lado da fronteira no Suriname e na Guiana Francesa, e apenas algumas famílias convivem com os Aparai e Wayana (BARBOSA; MORGADO, 2003; GRUPIONI, 2005). 4.7.5.3 Aspectos Demográficos A inexistência de dados consistentes da mesma fonte pode levar a erros na análise da evolução demográfica. Os dados existentes sugerem, no entanto, tendência que se repete na história da maioria dos povos indígenas: após forte declínio populacional, decorrente do contato com frentes extrativistas, a população Aparai e Wayana se estabiliza em meados dos anos 60 e começa a crescer gradativamente, com pequena oscilação em 1982, e a um ritmo cada vez mais acelerado nos últimos cinco anos do período considerado. A tabela e o gráfico, a seguir, mostram como ocorreu essa evolução populacional do povo Aparai e Wayana. Tabela 4.7.5-2 – Evolução Populacional do Povo Aparai e Wayana, 1963-2003 Ano 1963 1968 1972 1978 1981 1982 1983 1984 1988 1989 1990 1992 1993 1998 2003 População 241 165 172 203 250 241 254 250 234 281 303 325 332 355 363 415 5521 Fonte Cognac apud Morgado (1994) Lapointe apud Morgado (1994) Schoepf apud Morgado (1994) Schoepf apud Morgado (1994) FUNAI apud Morgado (1994) FUNAI apud D. Gallois e Ricardo (1983) Oliveira apud Morgado (1994) Oliveira apud D. Gallois e Ricardo (1983) Van Velthem apud Morgado (1994) Van Velthem apud Morgado (1994) FUNAI apud Morgado (1994) Morgado (1994) Morgado (1994) Morgado (1994) Camargo apud Morgado (1994) FUNAI apud Barbosa (2002) D. Gallois e Grupioni (2003) Hydros EP518.RE.JR201 187 600 500 400 300 200 2003 1998 1992 1993 1988 1989 1990 1981 1982 1983 1984 1978 1972 1968 1963 100 Gráfico 4.7.5-1 – Evolução Populacional do Povo Aparai e Wayana, 1963 – 2003 Embora não seja alto o incremento de 380 indivíduos até 2003, após a instalação da FUNAI em 1972 (crescimento a uma taxa anualizada de 3,96%) é relevante a maior concentração da população no território, em comparação à época anterior à demarcação. É também relevante o fato do ritmo de crescimento aumentar para 7, 39% a.a. nos últimos cinco anos do período considerado. O marco do aumento da concentração da população foi a abertura do posto da FUNAI em 1973 na aldeia Apalai, comentada no item anterior. O aumento ao redor do posto intensificase até 1981, ano em que 60% da população total da área, ou 161 indivíduos, residiam nessa aldeia. A recuperação de áreas abandonadas começa então: em 1982 já havia 14 aldeias; mais sete no ano seguinte, caindo para 30% a proporção de pessoas na aldeia Apalai. Em 1984 há 19 aldeias, número que se mantém por pelo menos dez anos (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983; MORGADO, 1994). Nos anos seguintes, entre 1995 e 2000, os Aparai e Wayana estavam distribuídos em 16 aldeias: Maxipurimo, Makuatirimo-eny, Fazendinha, Apalai, Mureí, Opahtopohpo, Arawaka, Tapauku, Zakareimo-eny, Xuixuimeny, Azamuaka, Makuxi-eny, Ananapiary, Itapeky, Pururé, Parapara71 (BARBOSA, 2002). 71 A aldeia Zakare eukurutary era considerada abandonada na época (BARBOSA, 2002). Hydros EP518.RE.JR201 188 Exceto por Apalai, as novas aldeias, como as tradicionais, abrigavam uma média de 10 a 20 pessoas. Média que aumenta em 1998 para 26 pessoas e em 2003 para 35. Embora números baixos e curtos períodos de tempo possam levar a erros de interpretação, pode-se inferir que há uma tendência para o crescimento populacional dos Aparai e Wayana manter-se em ritmo acelerado. Este crescimento, juntamente com a perda de território tradicional, a polarização entorno à aldeia onde está o posto da FUNAI e o crescente número de pessoas por aldeia indicam mudanças na forma de utilização do território. 4.7.5.4 Aspectos Etno-ecológicos 4.7.5.4.1 Conceito de Território Características do território dão especificidade ao modo como é por apreendido pelos indígenas. Os Aparai e Wayana são considerados “povo do rio”, visto que suas aldeias se localizam próximas aos rios, em um terraço aluvial ou numa ilha não inundável, e são encontrados deslocando-se frequentemente em suas canoas monóxilas feitas de jatobá. Os rios desempenham função importante no dia-a-dia dos Aparai e Wayana, pois constituem o canal de circulação e de comunicação com demais grupos e aldeias (GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). O território delimitado segundo os critérios da cartografia ocidental difere do território na concepção indígena: a TI fixa uma fronteira definida para perambulação, enquanto a terra para o indígena pressupõe fronteiras de expansão, fronteiras móveis, em cuja definição entram os territórios e a mobilidade dos outros grupos étnicos, aliados ou inimigos. De um lado, a mobilidade tradicional é dada pela dinâmica da agricultura de roçado, e de outro, pela característica multi-étnica da fronteira, já mencionada em item anterior sobre os Waiãpi (VIDAL; GALLOIS, D., 1995). A região reúne várias etnias indígenas e representantes de várias nações em uma extensa rede de relações e fluxos de intercâmbio que ultrapassavam as fronteiras nacionais. 4.7.5.4.2 Cosmologia – Valores e Crenças Elementos básicos da cosmologia de todos os povos da região do Amapá e norte do Pará estão presentes entre os Aparai e Wayana: a origem do mundo se dá após um período de “indiferenciação” e “imutabilidade”, no tempo e no espaço. Grandes heróis criadores, Mopó (para ao Aparai) Ikujuri (para os Wayana), são responsáveis pela origem dos seres e dos elementos da natureza. E como entre os Waiãpi, em que uma primeira humanidade, imperfeita, é destruída (GALLOIS; GRUPIONI, 2003), para os Aparai e Wayana, uma vez concluída a criação das coisas, os heróis se cansam da desobediência dos seres por eles criados, vão para o céu superior, “perdendo definitivamente contato com os homens” (MORGADO, 2004). Ikujuri, que cria e age sobre o mundo natural, é chamado por termos de parentesco consanguíneo (“pai”, “avô”, “irmão”), enquanto Mopó, que age sobre o mundo dos homens, criando instrumentos para eles e os ensinando como transformar a natureza, é chamado sempre pelo termo afim para “cunhado”, o qual denota uma relação tensa. Morgado (1994) Hydros EP518.RE.JR201 189 levanta a hipótese sobre o que o mito revela: que o princípio da criação/transformação, ao atuar no plano do mundo natural, “...não cria uma situação de tensão ou conflito, enquanto que ao atuar no plano das relações humanas, engendra estados de conflito ou de competitividade”. A cosmologia Aparai e Wayana espelha, assim, o “modelo de relações sociais vigente nas Guianas, em que o par afinidade/consanguinidade se expressa por relações de tensão/reciprocidade” (MORGADO, 2004). No processo de separação das “espécies” todos os povos surgiram em uma montanha próxima à Serra do Tumucumaque, entre os rios formadores do Paru de Este e do Parumu, a qual liga dois céus, “o mais baixo e o mais alto”. O céu mais baixo é a residência do herói Mopó e lá também moram os jorokó e os kurumu (urubu). Esse céu ocupa um lugar importante na cosmologia Aparai e Wayana, para quem os urubus são de suma importância: são “gente no céu” e várias distinções são feitas entre espécies de urubus, algumas sendo respeitadas e outras temidas. Os mitos em torno dos urubus explicam a forte ligação com a arte de caçar (BARBOSA; MORGADO 2003), O céu mais alto constitui a morada de Ikujuri e outros seres extraterrenos que vivem no espaço cósmico. O Ikujuri possui um princípio transformador que rege os ciclos de vida – criação/morte/recriação de todos os elementos, como rios, plantas e animais. Os Aparai e Wayana têm uma relação forte com os animais, seres da mata e dos rios, cujo princípio vital permite que tomem a forma de espíritos. Por isso, no passado, antes das caçadas eram sempre eram realizados ritos e preces destinados aos animais. Os seres inanimados (montanhas, rochas, rios, água, etc.) também têm espírito, e é vital que haja equilíbrio entre todos os seres, todos os espíritos. O xamã tem a tarefa de reparar desequilíbrios, quando ocorrem. A despeito do xamanismo ser considerado uma prática importante, na atualidade o número de pajés que o praticam têm se reduzido, em grande parte em razão da incidência cada vez maior de doenças adquiridas no contato com não-indígenas, para as quais os tratamentos tradicionais não têm eficácia. 4.7.5.5 Condições Materiais de Sobrevivência 4.7.5.5.1 Apropriação dos Recursos Naturais Os Aparai e Wayana pertencem ao grupo de populações indígenas que ao longo de sua trajetória histórica vieram a desenvolver sistemas de produção altamente adaptados à floresta tropical. Assim como os Waiãpi, descritos anteriormente, praticam a agricultura de roçado – ou agricultura itinerante –, um sistema de rotação de áreas de cultivo e áreas em pousio que, em face do crescimento populacional e necessidade de abertura de novas roças, pressupõe a existência de uma frente de expansão. A queima superficial da vegetação libera nutrientes para os solos pobres da floresta tropical e permite sua regeneração no período de pousio. Há evidências de que o sistema contribuiu para o aumento da diversidade biológica dos ecossistemas florestais. A variedade de espécies plantadas atesta para a manutenção da complexidade da floresta tropical: os Aparai e Wayana plantam cerca de 20 variedades de mandioca, 10 de cará, 12 de Hydros EP518.RE.JR201 190 batata-doce, 15 de banana, 4 de milho, além de pimenta, cana-de-açúcar, abacaxi, mamão, jerimum, melancia, caju, mandubi, fava, tabaco e outras plantas, como o algodão e o curauá, utilizadas na confecção de artefatos, e o urucum como tintura (VAN VELTHEM, 1980 apud GALLOIS, D.; RICARDO, 1983). Segundo o autor referido, ao redor da aldeia são ainda plantadas árvores frutíferas de origem não indígena como limão, laranja, manga e outras nativas como tabaco, pimenta, cuia, cabaça e plantas medicinais. Caça e coleta são praticadas num raio de aproximadamente 15 km no entorno da aldeia. Animais caçados são: tapires, cervídeos, roedores, macacos, porcos do mato, aves, jacaré, lagarto, entre outros. A forma de caça já não segue a tradição, de arco e flecha, mas utilizam a espingarda. Produtos coletados são: mel silvestre, açaí, bacaba, larvas de insetos, ovos de tracajá, arumã para confecção de cestaria, resinas vegetais, barro e argila para a confecção de cerâmica e tinturas minerais. A pesca contribui mais para a subsistência dos Aparai e Wayana do que para os Waiãpi. Cerca de 40 espécies de peixe são pescadas, utilizando-se arco e flecha, linhas de náilon e anzóis metálicos e uso de timbó. Os Aparai e Wayana não costumam criar animais para servir como fonte de alimentação. Os animais criados são: cachorro do mato para caçar e comercializar com outros grupos, galinha e pato, cujos ovos são consumidos apenas em situação de escassez e algumas espécies silvestres como mutuns, jacamins, tucanos e araras. Vale salientar que conforme D. Gallois e Ricardo (1983), e Barbosa e Morgado, (2003), os Aparai e Wayana produzem alimentos apenas para o consumo próprio, não havendo excedentes a serem comercializados, com exceção de pequenas quantidades de farinhas que, em 1920 a 1960, eram vendidas aos trabalhadores da região. 4.7.5.5.2 Divisão Social do Trabalho Na sociedade tradicional Aparai e Wayana, a divisão social do trabalho obedece apenas a critérios de gênero e idade, inexistindo especializações. Os homens fazem as tarefas relacionadas à caça, pesca, abertura de roças, construção de casas e produção dos artigos domésticos em cestarias. As mulheres são responsáveis pelas roças (desmatamento e preparo são tarefas masculinas), providenciar água e fogo, preparo de alimentos, processamento de tubérculos e a produção em cerâmica e algodão. Algumas atividades de coleta, plantio e pescarias com timbó são também realizadas por ambos os sexos. Há atividades coletivas entre homens para atividade que exigem maior esforço ou cooperação e também expedições para locais mais distantes que reúnem inclusive grupos de diversas etnias, como os Aparai, os Wayana, os Zoé e os Waiãpi. 4.7.5.5.3 Dinâmica Socioeconômica da Região Essa região indígena é tipicamente região de fronteiras entre diversos grupos que historicamente mantiveram relações entre si e que ultrapassam os limites físicos da bacia. Os Aparai e Wayana relacionavam-se particularmente com os Tiriyó e os Zoé que vivem no Pará, além de outros povos indígenas que vivem na Guiana Francesa. Hydros EP518.RE.JR201 191 O contato com a economia de mercado vem acontecendo gradualmente, desde séculos anteriores, tal como relatado na trajetória histórica dos Aparai e Wayana. No início do século XX começam as relações com as frentes extrativistas, que se intensificam até as décadas de 1950 e 1960, quando cada empregador contratava em torno de 15 indígenas para trabalhar por 2 a 3 meses como balateiros, castanheiros, gaiteiros, garimpeiros e guias. A remuneração era feita diretamente em troca de mercadorias como munição, pano, faca, panela, sal, etc., utilizando-se também o dinheiro. A partir da década de 1970, esse contato passou a ser menos frequente, em função da diminuição da atividade extrativista da região e pela intervenção da FUNAI que impedira esse tipo de contrato. A inserção propriamente na economia de mercado é mais recente e tem sido estimulada por políticas públicas. Segundo Barbosa e Morgado (2003) destacam-se: “... o estímulo à produção e comercialização de artesanato, a instalação de cantinas e postos de vendas de mercadorias industrializadas em algumas aldeias, a contratação de índios para prestação de serviços temporários ou definitivos”. Um desses programas de governo (o PD/A-PPG772) foi implantado em 1997, por meio de financiamento à APITU, dando início ao projeto Tykasahmo, cujo objetivo foi incentivar a produção e venda do artesanato indígena. Já de imediato percebe-se a radical alteração no significado dos produtos indígenas, agora transformados em ‘artesanato’, perdendo-se aos poucos a função que desempenhavam, na medida também em que os produtos vão sendo substituídos por artigos industrializados. O resultado é a dependência cada vez maior à economia de mercado, que traz a moeda para as transações dentro das comunidades e acelera o abandono de atividades tradicionais de subsistência, desencadeando profundas transformações nas formas de realização de atividades sociais e rituais. Esse processo de transformações é explicado por Morgado (1994): “Ao dedicarem grande parte de seu tempo na confecção de ‘artesanato’, os homens deixam de pescar ou de caçar tanto como faziam e não têm muito tempo para cuidarem da manutenção de suas casas e da reposição contínua de seu mobiliário. Atraídos cada vez mais pela aquisição de bens industriais, tornam-se, pouco a pouco, prisioneiros da atividade de artesanato que, a priori, deveria facilitar seus trabalhos. O comprometimento das atividades tradicionais chega a ser tanto que na aldeia Apalai há períodos em que seus membros diante da falta de comida aguardam terminar a confecção de um cesto para trocá-lo na loja da aldeia por um quilo de açúcar ou de farinha de milho”. 72 O Subprograma Projetos Demonstrativos - PD/A, é parte do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA), com o objetivo de capacitar as populações locais da Amazônia e das regiões de domínio da Mata Atlântica na geração de modelos inovadores e na aquisição de novos conhecimentos com respeito à preservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Desenvolvido com a cooperação do governo da Alemanha. Hydros EP518.RE.JR201 192 Outro modo de inserção na sociedade nacional tem sido por meio de trabalho assalariado em garimpos ou para órgãos governamentais como a FUNAI, FAB ou o Governo do Estado do Amapá. A contratação de indígenas foi intensificada em 1994 a partir de convênios entre a Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque - APITU e o Governo do Estado do Amapá. Indígenas passaram então a prestar serviços relativos à assistência à saúde e à educação da população indígena (como professores, enfermeiros, monitores de saúde), além de outros como o de pilotos e “proeiros” de barcos, monitores para a confecção de artesanato, etc. 4.7.5.6 Organização Social, Cultural e Política 4.7.5.6.1 Unidades Sociais Básicas Os Aparai e Wayana se distribuem tradicionalmente em aldeias – formadas por unidades residenciais, uma casa de reunião e roças ao redor, cada uma constituindo uma unidade política independente e auto-suficiente economicamente. Ocupadas por uma ou mais famílias, cujo número aumenta pela agregação de parentes, que podem ser irmãos ou irmãs, e suas respectivas famílias. Em geral os homens são agregados, em vista da regra ideal de residência, a uxorilocalidade, ou seja, o casal passa a viver na localidade da mulher. Essa regra, assim como a regra de casamento, entre primos cruzados bilaterais, é comum entre os povos do grupo Caribe. Em decorrência dessas regras, o chefe da aldeia corresponde normalmente a um “pai-sogro”, reunindo na suas aldeias seus filhos e filhas solteiros, filhas casadas, genros, além dos netos. Chefes com mais prestígio também conseguem manter seus filhos e trazer as noras para a aldeia, pois para ele não se aplicaria a regra uxorilocal, mas isto se dá num contexto de disputa por prestígio e gera tensões entre grupos (BARBOSA; MORGADO, 2003; MORGADO, 1994). O chefe de aldeia também pode ser uma xamã, com tarefas espirituais. As aldeias mantêm laços de parentesco construídos pelos intercâmbios matrimoniais (primos cruzados em geral residem em diferentes aldeias), que são a base das relações de solidariedade e das alianças que se formam na defesa de interesses comuns em que toda a comunidade pode ser incluída. Nesses casos, o chefe da aldeia, cuja liderança não ultrapassa os limites da aldeia, pode exercer papel de destaque (MORGADO, 1994). Essas relações podem cruzar as fronteiras: “É comum que os moradores das aldeias mais próximas mantenham relações mais estreitas de intercâmbio de bens e de intercasamentos, mas não raramente esses intercâmbios ocorrem também entre moradores de aldeias distantes, tanto localizadas no Brasil quanto na Guiana Francesa e Suriname, onde também existem aldeias da maioria dos povos que vivem no lado brasileiro, como é o caso dos Galibi do Oiapoque, Palikur, Waiãpi, Wayana, Aparai e Tiriyó” (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003). Entre os Aparai e Wayana há relações importantes com outras etnias indígenas e nãoindígenas (denominadas “conferências”), decorrentes de contatos firmados ao longo de extensos deslocamentos. No deslocamento do rio Paru de Este até o Tapanahori (Suriname) encontram-se as aldeias Tiryió e Litani, na Guiana Francesa, e assentamentos de não-índios. Hydros EP518.RE.JR201 193 Aproveitam, também, para ir às cidades na margem do rio Maroni, na Guiana Francesa, ou a Paramaribo, capital do Suriname (BARBOSA; MORGADO, 2003). Nesse percurso, o tempo é empregado para atualizar informações e trocar bens e costumes culturais. Os Aparai e Wayana procuram também firmar alianças nas cidades mais próximas como Macapá, Belém e Almeirim. Nessas visitas, os Aparai e Wayana procuram diversificar as parcerias não se limitando somente aos órgãos assistenciais. Segundo Barbosa e Morgado (2003): “... em virtude da estadia, mais ou menos frequente, de alguns indivíduos nas cidades de Macapá e Belém, os Aparai e Wayana têm mantido relações com outros grupos, antigos inimigos (como os Waiãpi meridionais) ou desconhecidos (como os Gavião e os Kayapó)”. A relação entre crescimento populacional das aldeias e capacidade de prover recursos para subsistência é um fator que pode levar à sua subdivisão, mas isso ocorre como um fato sóciopolítico, isto é, por meio de um homem que demonstra ter prestígio suficiente para atrair um número de pessoas para moradia em nova área: o “dono da aldeia” ou “chefe” (tuisa ou homem que possui prestígio) tem, entre essas pessoas, um número de genros que trabalham para ele, garantindo a autonomia do grupo; o primeiro passo para a formação da aldeia é a abertura de nova roça (MORGADO, 1994). Fonte: Daniel Schoepf (1972 apud ISA, 2008) Figura 4.7.5-2 – Moqueando Peixe 4.7.5.6.2 Cerimônias Religiosas Cerimônias religiosas entre os Aparai e Wayana correspondem aos rituais coletivos em que se celebram ciclos da vida ou ligados à natureza, como a época de colheita. Festas ligadas ao calendário agrícola ocorrem principalmente na entressafra da mandioca, um dos alimentos básicos dos Aparai e Wayana e são regadas com bebida feitas a base de mandioca. Acontecimentos considerados positivos na vida de um membro, ou para a comunidade, são motivos para festas e a decisão sobre elas, e sua organização, é papel do chefe da aldeia. Hydros EP518.RE.JR201 194 Iniciadas, em geral, no pátio da aldeia ao entardecer, as festas duram cerca de três a quatro dias, com algumas interrupções. Podem ser realizada em uma só aldeia ou com convite a outras, e são as formas sociais pelas quais redes de solidariedade e alianças são articuladas. Exemplo de festa importante nesse sentido é aquela, denominada okomo em que os meninos são iniciados para a vida como jovens; os ritos de passagem a que são submetidos podem se prolongar além do período da festa (Figura 4.7.5-3, intitulada “Preparando os Olok (em Wayana; Orokó em Aparai), Adornos para a Festa de Okomo”) (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003; BARBOSA; MORGADO, 2003). Fonte: Lucia H. van Velthem (1975) in ISA (2008) Figura 4.7.5-3 – Preparando os Olok (em Wayana; Orokó em Aparai), Adornos para a Festa de Okomo Hydros EP518.RE.JR201 195 Fonte: Eliane Camargo (GALLOIS, D.; GRUPIONI, 2003) Figura 4.7.5-4 – Cerimônia Aparai e Wayana Com o contato com funcionários do governo e missionários, desde a década de 60, as festas vêm sendo reduzidas, passando a permanecer apenas na memória, na forma de alguns nomes ou em vagas lembranças. Já prevalece a adoção do calendário de festas cristãs, comemorandose o Natal e a Páscoa. A missão mais significativa é a vinculada ao SIL, de orientação protestante, que difundiu o Novo Testamento na língua Aparai e que formou pastores indígenas, que hoje ministram cultos nas aldeias. Fonte: Daniel Schoepf (1972 apud ISA, 2008) Figura 4.7.5-5 – Índia Fazendo Beiju Aparai Wayana 4.7.5.6.3 Organizações de Representação na Sociedade Nacional A representação dos Aparai e Wayana perante os governos estadual e federal se dá por meio da Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque – APITU, que representa os grupos Aparai, Wayana, Tiriyó e Kaxuyana, entre outros, que vivem nas TI Parque Indígena do Tumucumaque e Rio Paru de Este. Hydros EP518.RE.JR201 196 A maior parte da população indígena não conhece o funcionamento da associação. Consideram que seus membros podem se tornar mais envolvidos com a sociedade dos brancos que com os próprios grupos. Esta situação faz com que a autoridade do presidente da associação não se sobreponha à dos chefes de aldeia. De fato, o presidente da associação precisa do consentimento dos chefes de aldeia para tomar decisões (BARBOSA; MORGADO, 2003). As associações procuram garantir unidade política e uma representatividade visível na sociedade envolvente (Figura 4.7.5-6, intitulada “Reunião Realizada pela Hydros Engenharia com os Waiãpi no Posto da FUNAI em Novembro de 2007”), de modo a obter o atendimento de suas necessidades junto a órgãos governamentais e não governamentais. Figura 4.7.5-6 – Reunião Realizada pela Hydros Engenharia com os Waiãpi no Posto da FUNAI em Novembro de 2007 Hydros EP518.RE.JR201 4.8 197 COMPARTIMENTAÇÃO SÍNTESE EM SUBÁREAS Na compartimentação síntese em subáreas do Estudo de Inventário Hidrelétrico do Rio Jari é apresentada uma síntese integrada das subáreas, recuperando os elementos de caracterização mais relevantes de cada componente-síntese, que resultou na definição e descrição de cada subárea síntese. Não é necessário destacar que os atributos físicos e a população indígena, embora não tenham sido objetos de definição e caracterização de subáreas, fizeram parte integrante da análise, interferindo na montagem da síntese socioambiental da bacia em estudo. Foram seguidas algumas etapas básicas para a compartimentação em subáreas síntese: 1 - Seleção de atributos físicos que tiveram maior relevância em cada componente-síntese; 2 - Sobreposição das subáreas dos componentes-síntese, combinando par a par os componentes-síntese afins; 3 - Identificação de subáreas comuns e distintas resultantes da sobreposição de subáreas afins; 4 - Ajuste da delimitação de subáreas, agrupadas por componentes-síntese afins, considerando os atributos físicos selecionados no item 1; 5 - Ajuste de delimitação de todas as subáreas combinadas, considerando a delimitação inicial, intermediária e a final, considerando os atributos físicos que foram selecionados como os mais relevantes para cada componente-síntese e para a bacia; 6 - Caracterização de cada subárea síntese, resultante do item 5; 7 - Avaliação e caracterização das subáreas síntese com a equipe técnica multidisciplinar; 8 - Ajuste final da delimitação e caracterização final das subáreas síntese. Desta forma, a partir da análise integrada de informações e subáreas de cada componentesíntese, foram identificadas quatro subáreas síntese, conforme espacializado no desenho Nº EP518.AI.JR-08-046 (Fig. 094), intitulado “Mapa Síntese de Subáreas – Planta”, do Volume 2/9 – Relatório Geral – Desenhos, cujas descrições encontram-se a seguir. 4.8.1 SUBÁREA I A subárea I compreende a porção norte da bacia em estudo, onde o relevo predominante pertence à unidade geomorfológica Colinas do Amapá e onde as altitudes são as mais altas da bacia. As altitudes predominantes são 300 a 400 m, com presença no entanto de algumas regiões com 500 a 700 m de altitude, principalmente nas áreas limítrofes, próximas à fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e o Suriname. O substrato geológico é constituído pelas rochas ígneas da suíte Intrusiva Água Branca e pelas rochas metamórficas do Complexo Tumucumaque, constituição esta que condiciona a hidrogeologia da região que está inserida no domínio cristalino, onde se desenvolve aquífero do tipo fissural. Na subárea I, as margens do rio Jari, especialmente as próximas ao Suriname, comparecem Argissolo Vermelho–Amarelo e Latossolo Vermelho-Amarelo. Nessa subárea, os rios são bastante meandrantes, com presença de quedas e cachoeiras, de pouca acessibilidade. Hydros EP518.RE.JR201 198 A cobertura vegetal predominante é a Floresta Ombrófila Densa, condicionada pelo clima Equatorial Quente Úmido, e associada à homogeneidade dos substratos (geomorfológico, pedológico, edáfico) que cobrem toda a região, formando um continuum vegetacional. Nesse cenário, a fauna de vertebrados terrestres é rica em espécies, apresentando elevado número de táxons, sendo a qualidade da água considerada ótima. Esta área é considerada estável e medianamente estável à erosão em função da sua pluviosidade, geomorfologia, pedologia e cobertura do solo. Esta subárea engloba a parte norte dos municípios de Almeirim e Laranjal do Jari, não ocorrendo ocupação humana, sendo muito rarefeita (somente população indígena). Em termos de organização territorial, em função do difícil acesso à área e ocupação antrópica quase inexistente, também inexiste qualquer estrutura organizacional significativa, resultando na rica biodiversidade tanto vegetacional como faunística. Em termos de medidas governamentais, a política adotada é de restrição à ocupação humana e, portanto, inibe qualquer tipo de exploração econômica e implantação de infraestrutura organizacional. O seu objetivo é a conservação integral do espaço territorial e os recursos ambientais nele contidos, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos naturais, não envolvendo qualquer consumo, coleta, dano ou destruição de recursos naturais. Desta forma, do ponto de vista do componente-síntese Base Econômica, apesar da sua grande potencialidade madeireira e minerária, não há possibilidade legal de exploração, cabendo como potencialidade somente o turismo, além de desenvolvimento de atividades científicas. Assim, deu-se lugar à política de proteção integral, seja ela associada à conservação indigenista, que é traduzida em demarcação de Terras Indígenas, ou da biodiversidade, traduzida na implantação de Unidades de Conservação de Proteção Integral. As Unidades de Conservação de Proteção Integral presentes são o PARNA Montanhas do Tumucumaque, a REBIO Maicuru e a ESEC do Jari, sendo a última localizada mais ao sul da bacia, no limite do Planalto com a Bacia Sedimentar. Entre as Terras Indígenas são encontradas a TI Parque Indígena do Tumucumaque, a TI Paru D’Este e a TI Waiãpi. 4.8.2 SUBÁREA II A subárea II compreende a porção central da bacia em estudo, abrangendo o médio rio Jari, onde a geologia é constituída predominante por gnaisses e granitóides do Complexo Tumucumaque, Alaskito Urucupatá e granitóides de unidades diversas. Seu solo predominante é o mesmo da subárea I, Latossolo Vermelho-Amarelo predominantemente e Argissolo Vermelho-Amarelo nas áreas próximas aos limites leste da bacia. Sob o ponto de vista geomorfológico, a região é bastante diversificada com predomínio de relevos pertencentes à Depressão Periférica da Amazônia Setentrional cujas altitudes variam entre 150 e 250m, ocorrendo serras pertencentes à unidade dos Planaltos residuais do Amapá, cujos picos alcançam até 500m nas cabeceiras do Iratapuru e mais de 600m no interflúvio IpitingaJari. Os rios ainda são meandrantes, apresentando o traçado noroeste-sudeste. A diferença com a subárea I é que em termos geomorfológicos, os Planaltos Residuais do Amapá comparecem predominantemente na margem direita do rio Jari até o limite leste da bacia. Logo ao sul, a Depressão Periférica da Amazônia Setentrional comparece ocupando toda a extensão de leste a oeste da bacia. É onde se pode encontrar o médio rio Jari, os trechos do rio Ipitinga muito próximos à sua confluência com o rio Jari, além dos rios Carecuru, rio Noucouru e rio Iratapuru. Hydros EP518.RE.JR201 199 A cobertura predominante é a Floresta Ombrófila Densa, condicionada pelo clima Equatorial Quente Úmido e pela homogeneidade de substratos, apresentando uma área contínua como na subárea I. A fauna terrestre é também rica em espécies e possui elevado número de táxons, como na subárea I, sendo a qualidade da água considerada ótima. E é a área considerada estável e medianamente estável à erosão, em função da sua pluviosidade, geomorfologia, pedologia e cobertura do solo. Esta subárea, como na subárea I, ainda não apresenta ocupação antrópica. O acesso é igualmente difícil, apresentando, no entanto, certa facilidade na sua porção mais ao sul. Esta subárea engloba a porção média dos municípios de Almeirim, Laranjal do Jari e parte do município de Mazagão. Ao contrário da subárea I, esta subárea não apresenta qualquer estrutura organizacional de território, pois não possui nenhuma aldeia indígena nem núcleo populacional. Desta forma, a subárea apresenta alto grau de preservação, com rica diversidade florística e faunística. Em termos de medidas governamentais, a política adotada é de restrição à ocupação humana, mas de uso sustentável, ao contrário da subárea I, que é de proteção integral. Isto significa a permissão de exploração dos recursos naturais de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos. Seu objetivo é manter a biodiversidade e os principais atributos ecológicos, de forma a atender a chamada justiça social e viabilidade econômica sustentável da população. Desta forma, do ponto de vista do componente-síntese base econômica, a potencialidade econômica ali existente pode ser explorada, desde que de forma sustentável, devendo seguir as diretrizes e normas estabelecidas pelo plano de manejo. O extrativismo nestas áreas é admitido num sistema de exploração baseado na coleta e extração de recursos naturais renováveis, devendo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de seus recursos naturais. De sustentabilidade se entende a compatibilização entre o desenvolvimento, a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida. Isto significa que a política ambiental não se deve erigir em obstáculos ao desenvolvimento, mas em um de seus instrumentos, propiciando a gestão racional dos recursos naturais, os quais constituem a sua base principal. Estes questões deram lugar à política de proteção aos recursos naturais com sustentabilidade, traduzida em demarcação e implantação da FLOTA do Paru e da RDS Rio Iratapuru. 4.8.3 SUBÁREA III A subárea III corresponde à porção sul da bacia, localizada no Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas e parte do Planalto do Uatumã-Jari. Abrange o baixo rio Jari, onde este começa a se alargar, em função da baixa altitude de cerca de 100 a 200m, e da declividade baixa. A sua geologia é variada, que vai desde a Formação Ererê, Formação Maecuru, Grupo Barreiras, Grupo Curuá e Grupo Trombetas. Os solos predominantes nesta subárea III são também variados, apresentando quase todos os tipos de solo encontrados na bacia em análise: Argissolo Vermelho-Amarelo, Latossolo Amarelo, Latossolo VermelhoAmarelo, Latossolo Vermelho-Escuro e Neossolo Litólico. Em função da diversidade de solos, embora seja a área predominantemente antropizada principalmente em sua porção sul, nesta subárea podem ser encontradas manchas de cobertura vegetal constituída por Florestas Ombrófilas Densas intercaladas com Vegetação Secundária, além de Florestas Ombrófilas Densas de Terras Baixas. Com relação à fauna, um grande número de táxons se associa aos cursos d’água sendo relativamente menor o número de Hydros EP518.RE.JR201 200 espécies associadas com a terra firme. Embora esta subárea seja a área mais antropizada da bacia, a qualidade da água é considerada boa. É a área onde se verificam as melhores terras para o cultivo, considerada também como áreas com estabilidade mediana. Esta subárea apresenta uso predominantemente rural, como silvicultura, pecuária e cultura temporária. A área da silvicultura é a mais extensa de todas as atividades rurais, em função da presença da empresa Jari Celulose S.A, do grupo Orsa. A grande parte dos núcleos urbanos e rurais presentes nesta subárea estão ali em função das atividades das empresas Jari Celulose S.A e Caulim da Amazônia S.A. Dentre os núcleos urbanos, existem vilas planejadas pelas empresas que montaram a infraestrutura necessária para seus funcionários (vila de Monte Dourado e núcleo de Munguba, localizados no município de Almeirim) e os núcleos não planejados que são as sedes municipais de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, que surgiram de forma espontânea e sem planejamento, originárias do “Beiradão” e “Beiradinho”. Embora as atividades desenvolvidas sejam majoritariamente relacionadas à exploração de eucalipto e de minério do Projeto Jari, cabe destacar que a população predominante na bacia é urbana (cerca de 90,82% se forem considerados somente os dois municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, e cerca de 74,03% se forem considerados os três municípios, de Almeirim, Laranjal do Jari e Vitória do Jari). Esta população se concentra nas sedes municipais Laranjal do Jari e Vitória do Jari, além da vila Monte Dourado e núcleo de Munguba (áreas de maior desenvolvimento da região por constituírem a sede da Jari Celulose S. A e a fábrica de Caulim da Amazônia S.A). E a população tradicional, de pouca expressão diante da população urbana, encontra-se nos aglomerados rurais ou nas comunidades isoladas, distribuindo-se entre os usos agrícolas e pastoris ou junto às margens dos rios. Algumas comunidades têm atividades econômicas baseadas não só na coleta de castanha-do-brasil, mas na extração de derivados e plantação de mandioca e banana, onde podem contar com apoio de Associações e Cooperativas. A população total dos dois municípios mais representativos em termos de localização de sedes municipais (Laranjal do Jari e Vitória do Jari) é pequena, totalizando 37.075 pessoas. Em termos de organização territorial, é nesta subárea que se encontram os principais sistemas de circulação e transportes, alguns criados para atender às necessidades das empresas. Como a infraestrutura de transporte era deficiente para o escoamento de seus produtos, foram implantadas novas estradas e aeroporto, além de aproveitadar vias existentes, como a hidrovia. A subárea conta com três sistemas de comunicação e transportes: hidroviário, aeroviário e rodoviário. A população tradicional se serve preferencialmente com o transporte fluvial e estradas vicinais de terra. Embora os modos de vida da população de cada município possam diferir um do outro, de forma geral há poucas diferenças quando se refere à população tradicional. A leste desta subárea encontra-se parte da RESEX do rio Cajari, onde estão localizadas as comunidades tradicionais que desenvolvem atividades extrativistas sazonais. As atividades desenvolvidas na bacia de forma empresarial influenciam diretamente o PIB dos municípios, como o de Almeirim/PA, onde se localiza a empresa Jari Celulose, que é de 405,0 milhões de reais, sendo o mais alto, e o de Laranjal do Jari/AP (152,0 milhões de reais) e o de Vitória do Jari (48,0 milhões). Nesta subárea não se verifica nenhuma Terra Indígena e nenhuma Unidade de Conservação de Proteção Integral. Hydros EP518.RE.JR201 4.8.4 201 SUBÁREA IV A subárea IV compreende o extremo sul da bacia em estudo, caracterizada por estar localizada no Planalto de Uatumã e Planície Amazônica. Em termos de geologia, conta com a presença predominante de Alter do Chão e de Terraços Holocênicos e Aluviões Halocênicos. Como solos, a subárea é representada por Latossolos Amarelos e Gleissolo. Por estar localizada na Planície, a sua altitude é praticamente nula, quase no nível do mar. Esta subárea é onde o rio Jari vai desenhando a sua desembocadura com o rio Amazonas, constituindo uma área bastante alagável e apresenta uma grande diversidade de ambiente fluvial. Em termos de cobertura vegetal, estão presentes a Floresta Ombrófila Densa Aluvial e Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas. Embora esta subárea represente a porção mais baixa do rio Jari, a jusante da ocupação antropizada da subárea anterior, a qualidade de água é considerada boa. Em termos de estabilidade do solo, esta subárea é considerada moderadamente instável a muito instável. Em função das características físicas principalmente alagáveis, esta subárea apresenta poucos núcleos que são ribeirinhos. É também área onde comparece aptidão agrícola regular, boa e alta. Estima-se que embora não seja economicamente significativa, a população ribeirinha desenvolve agricultura de subsistência, usufruindo das vantagens do alagadiço. Em termos de uso do solo, a atividade presente nesta sub-bacia é rural. No lado paraense é desenvolvida a pecuária e no lado amapaense é encontrada parte da RESEX do Rio Cajari, onde as comunidades locais desenvolvem atividade extrativista sazonal. Em função das características apresentadas, a ocupação antrópica é rarefeita. Em termos de infraestrutura, existe somente o sistema hidroviário e rodoviário. Este é quase insignificante, pois corresponde a duas estradas vicinais de terra que fazem ligação com o Pará e com a margem direita do rio Amazonas. Hydros EP518.RE.JR201 202 CAPA / LEGENDA Meandro do Alto curso do rio Rio Jari - Corredeira do Urucupatá Rio Jari em Vitória do Jari Rio Jari - Corredeira Macaquara Hydros Engenharia Ltda. Rua Fiação da Saúde, no 40 - conj. 93 São Paulo - SP - Brasil CEP 04144-020 Fone/Fax 55 - 11 - 5583.25.05 / 55 - 11 - 5581.68.18 e-mail [email protected] Hydros