6. AS CARTAS PAULINAS AUTENTICAS Francisco Niño Súa, Pbro. ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO CURSO DE ATUALIZAÇÃO PARA O CLERO ANO PAULINO 2008-2009 Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 1 Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 2 CARTAS PAULINAS AUTÊNTICAS • Primeira carta aos • • • • • • Tessalonicenses Primeira carta aos Coríntios Segunda carta aos Coríntios Gálatas Romanos Filipenses Filemon Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 3 GENERALIDADES DAS CARTAS Objetivo: consolidação das comunidades fundadas (?) por Paulo. Seu conteúdo revela os processos de Paulo. Gênero literário: carta - epístola. Contexto:Tradição do judaísmo helenista (midrash – retórica). Destinatários: usualmente pessoas simples, humildes, de origem judia e pagano-cristã Diversidade temática: Doutrina Moral Vida comunitária e fraterna Apologia e polêmica Vida comunitária e eclesial Exortação – advertência Agradecimento - reconciliação Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 4 1. I TS Data: 51 d.C. Lugar: Corinto, poucos meses depois da passagem de Paulo por Tessalônica Finalidade: renovar o diálogo do apóstolo com a recém fundada comunidade. Destaca a responsabilidade testemunhal dos que crêem. Destinatários: cristãos de origem humilde e procedência mista (gentil e judia). Contexto: Tessalônica. Os temerosos de Deus são de novo os primeiros convertidos. Outra vez os judeus provocam dificuldades e os missionários são acusados por alguns instigadores. Têm que pagar una fiança e fogem para Beréia (1Tes 1,7). Paulo escreverá aos tessalonicenses defendendo sua vocação e sua missão frente aos adversários (At 17,1ss). Transfundo de literatura e filosofia moral popular da época. Manifesta interesse por temas que preocupam a autores pagãos. Problemas particulares: alguns pensam que 5, 1-11 é uma adição. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 5 É como uma vista epistolar. Começa com um cumprimentos ampliada (Pablo, Silvano e Timóteo à Igreja dos tessalonicenses) e termina com uma saudação de despedida (1 Ts 5, 26), concluída com bênçãos (5, 23s.28). Ao título de cabeceira segue uma certa captação de benevolência, que toma a forma de ação de graças a Deus pelos progressos que fez aquela comunidade (v.3ss). No corpo da carta, e como é próprio de um texto pastoral, existem seções narrativas, doutrinais e exortativas. Precisamente, porque narração, instrução e exortação em geral, encontra-se nesta ordem própria do discurso greco-latino: exordio, narratio, argumentatio, peroratio: Ação de graças: 1 Tes 1,2 y 2, 13. Descrição (2, 1-12), sobre o estado da comunidade. Final do fragmento (3, 11-13) Ensinamento doutrinal: os distintos anúncios da vinda do Senhor (4,13-5,11; 4,9-12). Exortação na última seção (5, 12-22) y (4, 1-8). Conclusão (5,23-28). Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 6 ESTRUTURA Encabeçamento / Fórmula introdutória (1,1) Ação de graças 1, 2-5 ó 1, 2-10 Corpo da carta: • 2,1 – 3,13 (ó 1,6 – 3,13): Indicativo paulino 2, 1-12: A atuação de Paulo 2, 13-16: Sofrimento dos tessalonicenses 2, 17-20: Captatio benevolentia 3,1 - 3, 10: Antecedentes da carta 3, 11-13: Desejo de amor e santidade. • 4, 1- 5, 22: Imperativo paulino Primeira exortação (4, 1-8) Deus quer santidade. Primeira instrução (4, 9-12) Sobre o amor fraterno. Segunda instrução (4, 13-18) Sobre os defuntos. Terceira instrução (5, 1-10) Sobre o dia a hora da vinda do Senhor Segunda exortação (5, 12-22)Visão rápida da marcha da Igreja. Segundo final epistolar (5, 23-28) Todo seu ser tem que preparar-se para a vinda do Senhor. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 7 MEGA TEMAS • Perseguição: Paulo e os novos cristãos em Tessalônica experimentaram • • • • perseguições por causa de sua fé em Cristo. O mesmo passa com todo aquele que crê. Mas, é necessário permanecer firmes, sustentados pelo Espírito. Graças a Ele pode-se manter o caráter moral em meio das provas. O ministério de Paulo: Inclusive em meio das calunias Paulo se manifesta sensível, preocupado, generoso. Esperança: A esperança cristã vai além da morte. Clarificar as próprias compreensões escatológicas. Estar preparados: Uma das maiores insistências de Jesus é reiterada por Paulo: Nossa vida moral deve caracterizar-se pela santidade. Nunca descuidar as responsabilidades diárias. O evangelho não é só o que cremos, mas também o que devemos viver. O ministro (2, 3-12): fala a verdade e tem motivações puras (v. 3); está atento ao que agrada a Deus, não aos homens (v. 4); não adula nem cobiça (v. 5); não busca a glória humana (v. 6); amável como uma mãe com seus filhos (v. 7); ama aos crentes até dar a vida (v. 8); trabalha duro para não ser carga, para não fazer-se servir (v. 9); se comporta santa, justa e irrepreensivelmente (v. 10); trata a comunidade como um bom pai trata a seus filhos (v. 11); exorta, anima, exige caminhar para a santidade (v. 12) Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 8 PAULO NA IGREJA DE CORINTO Missão: plantar a semente do Evangelho e colocar as bases, para edificar: “A Igreja de Deus que está em Corinto” (1,9). Permanece um ano e meio aqui. Os tementes de Deus são seu apoio frente aos problemas com os judeus, que o acusam ante Galião de inimigo do Estado. Provoca-se um tumulto em que Paulo e sua comunidade saem livres. Depois disto, com Áquila e Priscila vai a Éfeso, para depois continuar só em Palestina e Antioquia e voltar novamente a Éfeso. Pelas Cartas que Paulo dirige a Éfeso, se conhece a comunidade de Corinto que ele fundou. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 9 2. I COR Data: até 54-56 d.C Lugar: Éfeso. Finalidade: construir a comunidade; grande diversidade de temas. Corinto era uma cidade moderna e florescente, centro de comércio e comunicações por sua situação geográfica. Paulo faz tendas junto com Áquila e se hospeda em sua casa. Uma primeira carta foi perdida (cf. 5, 9) Integridade: não existe interpolações importantes ainda que se discuta o cap. 13 e 14, 3435 (mulheres, ver nota BJ) Unidade: Não se discute, mas se pensa que a epístola foi composta por etapas e que em meio ao processo, chegou a Paulo nova informação desde Corinto. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 10 ESTRUTURA Saudação – fórmula introdutória. (1,1-3) Ação de graças (1, 4-9) Corpo da carta: 1, 10-16,8 Seção I: divisão e facções na comunidade (1,10-4,21) Seção II: Problemas de conduta, o que Paulo escutou e o que lhe perguntam; incesto, pleitos, comportamento sexual (5,1-6,20) Seção III: matrimônio e vida de solteiro. (7,1-40) Seção IV: os cristãos e a carne de sacrifícios ante os judeus. (8,111,1) Seção V: participação na assembléia cristã. (11,2-14,40) Seção VI: A ressurreição dos mortos. (15,1-58). Despedida (16,1-18) Fórmula conclusiva (16,19-24) Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 11 MEGA TEMAS Lealdade: As lealdades humanas conduzem ao orgulho intelectual e criam espírito de divisão Imoralidade: o ambiente hedonista pode conduzir a condutas equivocadas que são facilmente justificáveis. O legal nem sempre é moral. Liberdade: Existem ações e condutas não expressamente proibidas na Escritura. A liberdade cristã deve alimentar-se da sensibilidade frente aos outros. Culto: desordem e confusão em relação com os papeis e as práticas. O critério básico é o que constrói a comunidade. Ressurreição: alguns negam a ressurreição ou entendem-na equivocadamente (reencarnação). O significado de “a cruz de Cristo”, (1,17ss) não dá espaço ao falso orgulho ou à atitude de “sabe tudo”. Dons e carismas. O amor, maior don. O futuro escatológico. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 12 3. II COR Data: até 54-57 d.C. Lugar: Éfeso, Macedônia Destinatários: a Igreja de Acaia. Unidade: Pode ser combinação de várias cartas (de duas a cinco). Integridade: alguns pensam que 6, 14-7,1 (sobre os infiéis) é uma interpolação não paulina. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 13 ESTRUTURA Saudação – fórmula introdutória. (1,1-2) Ação de graças (1,3-11) Corpo da carta: 1, 12-13,10 – Seção I: Relações de Paulo com os cristãos de Corinto Parte I: A visita posposta e a “carta das lágrimas” (1,12-2,13) Parte II: Ministério de Paulo (2,14-7,16) – Seção II: Coleta para a Igreja de Jerusalém (8,1-9,15) – Seção III: Paulo responde às dúvidas sobre sua autoridade apostólica (10,1-13,10). Fórmula conclusiva: saudações, bênçãos (13,1113) Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 14 MEGA TEMAS Provas: Paulo experimentou grande sofrimento, perseguições e oposições em seu ministério; lutou também contra sua debilidade pessoal. Apesar de tudo afirmou a fidelidade de Deus. A Disciplina na Igreja: Paulo defendeu o caráter da disciplina eclesial. Não se pode ignorar nem a imoralidade nem os falsos ensinamentos. Nem negligência, nem legalismo. Aos problemas, devem-se enfrentar, não ignorar. O propósito da disciplina é a correção, não a vingança e o critério é o amor. Esperança: Enfrentar as dificuldades sem desânimo. Constância. Solidariedade: Compromisso inclusive econômico por parte de todos os crentes, incluindo os ministros. Ortodoxia. Os falsos mestres destroem a Igreja. A autoridade não é para deixar que cada um faça o que quer. Saber repreender: ser firme; defender o que é bom; ser cuidadoso e honesto; reconhecer os atos; fazer acompanhamento depois do confronto; ser amável e firme; ser reflexo da mensagem de Cristo, não das próprias idéias; recorrer a castigos e penas somente quando foram esgotadas todas as possibilidades. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 15 FUND-RAISING NA IGREJA Saber pedir para poder dar (2Cor 8, 4-22) Informar-se das necessidades (v. 4) Entusiasmo (7-8.11) Ser claro no propósito (4) Persistência (2ss) Prontidão e vontade na resposta (9,7) Honestidade e diafaneidade (21) Dedicação (5) Levar e dar contas (9,3) Liderança (7) Dinamizadores de processos (18-22) Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 16 ESTRUTURA Saudação e ação de graça em forma de bênção (1,1-14,) I. Paulo e os Coríntios, alegrias e tristezas (1,15-2,13) II. O ministério da Nova Aliança (2,144,6) III. A novidade de Jesus (4,7-6,10) IV. Conclusão da primeira parte (6,117,16) V. Coleta (8,1-9,15) VI. Paulo Apóstolo (10,1-13,10) Conclusão final (13,11-13). Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 17 4. GL Data: até 55-57 d.C. Lugar: Éfeso. Destinatários: Igrejas em torno a Ancira (atual Ankara) ou as evangelizadas na primeira viagem. Não se discute seriamente nem a autenticidade, nem a unidade, nem a integridade. Os gálatas provinham da Europa, eram agricultores e criadores de gado supersticiosos; tinham notáveis diferenças sociais e mantinham a escravidão. O contexto da polêmica era si os gentios deviam circuncidar-se e guardar as leis judias; contraposição entre graça e lei. Convite recusar as falsas mensagens. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 18 ESTRUTURA Introdução (1,1-5) Ação de Graças (não ha) Corpo da Carta(1,6-6,10) Admoestação: descreve o tema, os adversários e a seriedade do assunto (1,6-10) Narração: Paulo descreve sua trajetória missionária para defender o Evangelho (1,11-2,14) Debate com os oponentes; o evangelho de Paulo (2,15-21) Argumentação. Provas da justificação pela fé e não pela lei (3,1-4,31) • A experiência da nova vida (3,1-5) • A experiência de fé de Abraão (3,6-14) • A promessa permanece apesar da lei (3,15-18) • O papel da lei (3,19-24) • Revestidos de Cristo: libertados das leis escravizantes (3,25-4,11) • As boas recordações da amizade (4,12-20) • Herdeiros de uma linhagem de livres (4,21-31) Exortação ética: caminhar de acordo com o Espírito (5,1-6,10) • Manifestação da liberdade na prática da justiça (5,1-12) • Vivendo a liberdade orientados pelo espírito (5,13-6,10) Conclusão: (6,11-18). Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 19 MEGA TEMAS A Lei: Paulo opõem-se aos mestres judeus que insistiam em que os não judeus deviam obedecer às normas e práticas judias. A lei, que é expressão dos mínimos, foi superada no mandamento do amor e na pessoa de Cristo. A Fé: Somos salvados não por nossa iniciativa, nossas opções ou boas obras, mas, pela iniciativa de Deus. A liberdade: A experiência do amor de Deus em Jesus Cristo dá-nos liberdade, não para desobedecê-lo ou para praticar a imoralidade, mas, para ressucitar a uma vida nova. O Espírito Santo: Pelo dom do Espírito Santo, os cristãos são chamados filhos de Deus. O Espírito Santo impulsiona e orienta a praticar a justiça sem necessidade de uma lei exterior. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 20 AS OBRAS DA CARNE E O FRUTO DO AMOR Copiar Gl 5, 19-26 “Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdias, divisões, inveja, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei. Pois os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta. Não sejamos cobiçosos de vanglória, provocando-nos uns aos outros e invejando-nos uns aos outros.” bíblia de Jerusalém. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 21 5. RM Data : inverno de 56-57/57-58 d.C. Lugar: Corinto Destinatários: cristãos de origem mista que conformam a Igreja de Roma, onde Paulo nunca esteve, mas que a muitos deles os conheceu. Unidade: Uma minoria sustenta que a carta é fusão de duas missivas separadas; uma minoria mais ampla afirma que o cap. 16 foi agregado posteriormente. Integridade; Além do cap. 16, outros rejeitam os caps. 9-11 como não autenticamente paulinos. Tema: A fé em Cristo como caminho de salvação. Estilo: síntese de um pensamento maduro. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 22 ESTRUTURA Saudação e fórmula introdutória: (1,1-7). Ação de graças e súplica (1, 8-15). Corpo da carta (1,16-15, 13). Seção doutrinal (1, 16-11,36) • Primeiro bloco: pecado e justificação (1,16-4,25). • Segundo bloco: um novo caminho esta aberto. (5,112-8,39). • Terceiro bloco: a salvação de judeus e gentios. (9,1-11-36). Seção parenética: grande exortação moral (12,1-15,19a) • Primeiro bloco: Avisos vinculantes para a vida cristã (12, 113,14). • Segundo bloco: O forte deve amar ao débil (14,1-15,13) Epílogo (15,14-16,27) Planos de viagem de Paulo e bênçãos (15,14-33). Recomendações de Febe e saudações à gente de Roma (16, 1-23) Doxologia final (16,25-27). Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 23 MEGA TEMAS O pecado: significa a rejeição da vontade de Deus e o fracasso no cumprimento de Sua vontade. A vida cristã significa uma luta constante contra o pecado com a força do Espírito Santo. Salvação: Sem falsos imanentismos, a salvação começa no presente; do contrário, a religião seria verdadeiro ópio. A salvação é para os pecadores, não para os perfeitos. Crescimento em graça: fortalecendo a relação com Cristo, o Espírito Santo atua para livrar-nos do pecado na tentação. Soberania de Deus: A Igreja não é uma seita, pelo contrário, tem uma vocação católica. Sua proposta é fazer visível a soberania de Deus na vida daquele que crê. Serviço: O serviço unifica aos que crêem e os capacita para ser amorosos e atentos com os demais. Os cristãos devem ser uma sinfonia de serviço a Deus. Conceitos cruciais: Eleição; justificação; propiciação; redenção; santificação; glorificação. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 24 A FE E AS OBRAS No século IV deu-se a “controvérsia pelagiana”. Pelágio foi um monge de origem inglesa que viveu entre os anos 360 e 422. Em reação contra o maniqueísmo, corrente que havia atraído a numerosos crentes no século III, Pelágio enfatizava a importância da liberdade e da vontade do homem e minimizava a da graça divina, que considerava como algo não indispensável para a salvação. Em conseqüência, seriam as obras do crente, seu esforço e seus méritos os que lhe garantiam a salvação. Esta tendência foi refutada com energia por Santo Agustinho, que proclamou a primazia da graça de Deus, que capacita ao crente para evitar o mal e para fazer o bem. O Pelagianismo como doutrina equivocada subsistiu de maneira constante na historia e na vida de muitos cristãos com características matizadas que se denominam semipelagianismo, e que, como seu nome o indica, evidenciam uma tendência, explícita ou matizada, que crê que o mais importante é “ter méritos” aos olhos de Deus para alcançar a salvação. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 25 A FÉ E AS OBRAS A controvérsia pelagiana foi radicalizada pela doutrina de Lutero e Calvino no século XVI e pelos jansenistas no século XVII. Um dos princípios da Reforma protestante que serviu como bandeira para o cisma do Ocidente, foi a proclamação da “sola fides” (“só a fé”) como caminho de salvação, absolutizando textos paulinos, especialmente algumas passagens da Carta aos Romanos; segundo a percepção deles, o sistema eclesial suprimia o contato direto do homem com Deus na consciência e na fé pessoal, para fazer depender, a salvação, das mediações sacramentais. Assim termina por desvirtuar o ensinamento de São Paulo quando afirmava que “o justo viverá pela fé” (Rom 1, 17), e que quando criticava as obras e a segurança nelas depositada, referia-se às obras que davam cumprimento à lei mosaica e à infinita quantidade de prescrições que haviam aparecido no judaísmo. Como reação, muitos teólogos católicos passaram a enfatizar a doutrina da Carta de Santiago quando afirma: “Mostra-me tua fé sem obras, e eu te mostrarei minha fé pelas obras” (Sant 2, 18). Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 26 A FE E AS OBRAS Por isto seria necessário conhecer mais a Declaração conjunta católicoluterana sobre a justificação, assinada em 1998, que afirma que quando se fala de que somos salvados pela fé ou pelas obras, no fundo se trata de duas perspectivas de uma mesma realidade: “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tim 2, 4), e por isto, capacita interiormente ao crente pela força da graça, para que como fruto da fé responda e manifeste com suas obras que aceita seu projeto salvífico e manifesta-o em sua vida. Com este documento, que é fruto de um longo caminho de diálogos ecumênicos sustentados na segunda metade do século passado, se articula uma interpretação comum da justificação pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, e consegue-se um consenso sobre o tema, demonstrando que as diferentes explicações que eram fonte de divisão, já não dão lugar a condenações doutrinais. Santiago e Paulo não se opõem em seus planteamentos, pelo contrário, complementam-se e ambos convidam a assumir a fé e a encarnar, nas obras, a salvação que nos foi dada gratuitamente em Cristo. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 27 6. FL Data e lugar: até 56 em Éfeso (ou 61-63 em Roma ou 58-60 em Cesaréia) Destinatários: a comunidade de Filipos, importante centro comercial na Vía Egnatia, evangelizado por Paulo até 50 em sua segunda viagem missionária. At 16: Paulo inicia a evangelização pelos tementes de Deus. Os judeus provocam um conflito. Paulo e Silas são açoitados e detidos. Aqui se convertem Lídia e também o carcereiro. Era uma colônia romana onde os veteranos recebiam terras para se assentar depois das batalhas Unidade: Muitos a defendem. Outros consideram que um redator mudou dois ou três cartas para formar o texto atual. O principal argumento está no fato de que a seção (3,1b-4,1), apresenta um contraste bastante brusco, nos temas e nos tons, (4,1020), fala diretamente da ajuda que lhe haviam enviado os Filipenses em parte era o que motivava a Paulo a enviar-lhes esta carta de agradecimento. Integridade e unidade: não disputam, ainda que alguns hajam proposto o hino cristológico (2, 6-11) como uma interpolação. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 28 ESTRUTURA (1,1-2) Saudação (1,3-11) Ação de graças. (1,12-4,20) Corpo da carta. (1,12-26) Paulo na prisão. Atitude ante a morte. (1,27-30 ) Exortação a que se mantenham na fé. (2,1-11) Hino cristológico. (2,12-18) Exortação à concórdia e ao desinteresse (2,19-3,1ª) Notícias pessoais (3,1b-4,1) Advertência contra os falsos mestres (4,2-9) Nova exortação à concórdia (4,10-20 )Agradecimento pela oferta (4,21-23) Despedida e fórmula conclusiva Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 29 MEGA TEMAS Humildade: Aquele que crê deve imitar a atitude humilde de Cristo servindo aos outros, superando os próprios interesses e servindo com alegria, amor e bondade. Auto sacrifício: À imitação de Cristo e de Paulo, os líderes e os crentes devem caracterizar-se pela capacidade de morrer para si mesmos. Unidade: Em cada Igreja, as divisões constituem o mútuo inimigo dos que crêem. Orgulho e prepotência devem ser vencidos pela necessidade de construir a comunidade. A vida cristã: A exitosa semeadura do evangelho na vida cristã exige autodisciplina, esforço e obediência à Palavra. Alegria: Os crentes devem caracterizar-se por ter profunda serenidade e paz em meio das dificuldades. A alegria deve dar-se inclusive em meio das dificuldades. A alegria é um dom do Espírito. A vida cristã é uma carreira e estamos chamados a chegar à meta. Ajuda mútua: deve ser dada no momento oportuno. O afetivo é o efetivo. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 30 7. FLM Data e lugar: Até 56 em Éfeso (ou 61-63 em Roma ou 58-60 em Cesaréia). Destinatários: Filemon, um cristão convertido por Paulo, Apia (sua mulher?) e Onésimo, também convertido à fé cristã por Paulo e escravo de Filemon; centro de polêmicas em torno à relação entre o cristianismo nascente e o sistema escravista. Não se discute nem sua autenticidade, nem sua unidade, nem sua integridade. Esta carta, ainda que muito pessoal, trata de uma situação específica, é uma mostra das relações cristãs e da necessidade de falar a verdade no amor. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 31 ESTRUTURA Saudação (1-3) A: Ação de graças (4-7): Exordium. Corpo da carta (8-22): Confrimatio. B: A nova relação de Paulo-Onésimo e intercessão por Onésimo (8- 15) C : Afirmação da fraternidade em Cristo (16) C”: Afirmação da relação Paulo Filemon (17-21) (17-21). B”: Orações da comunidade por Paulo e visita (22) C”: Saudações, despedida (23-25):Peroratio Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 32 MEGA TEMAS • Perdão: Paulo pede para não castigar a Onésimo mas recuperá-lo como um irmão na fé. Toda interação na comunidade suscita conflitos e problemas que requerem perdão. Não é só esquecer, mas reconhecer que aquilo que me ofereceu, vale mais que a falta cometida. • Igualdade: o amor cristão supera qualquer barreira. Na Igreja não ha diferenças raciais, econômicas ou políticas que possam separar aos que crêem. Antes de qualquer diferença existe uma comum dignidade de cristãos. • Respeito: Paulo foi amigo tanto de Filemon como de Onésimo; Paulo apela mais ao amor fraterno que às ordens que possa dar. Persuasão e respeito valem mais que qualquer autoritarismo. • Reconciliação: Tão importante como pedir perdão é saber concedê-lo. O papel da mediação. Pablo, Francisco Niño Súa, Pbro. 33