COOPERATIVISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: UMA EXPERIÊNCIA NO AGRESTE PERNAMBUCANO [email protected] POSTER-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria MANUELLA CAROLINA COSTA DE OLIVEIRA; FILIPE AUGUSTO XAVIER LIMA; MARIA LUIZA LINS E SILVA PIRES. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO, RECIFE - PE - BRASIL. Cooperativismo e Desenvolvimento Local: Uma experiência no Agreste Pernambucano Cooperative and local development: An Experience in rural Pernambuco Resumo Constitui como principal objetivo deste trabalho analisar como se dá a inserção dos atores locais nos mercados, por meio da organização das cooperativas. Também constitui como fonte do nosso interesse observar se a ampliação da capacidade produtiva, de preços e de escoamento da produção está contribuindo para fortalecer o dinamismo local. Com efeito, o movimento cooperativo vem crescendo em meio a uma realidade cada vez mais globalizada. Questiona-se, nesse sentido, num cenário competitivo de globalização, se as cooperativas podem ser identificadas como instrumentos capazes de permitir a inserção da pequena produção nos mercados, contribuindo para superar momentos de crise? A criação de cooperativas é um fator importante para produção, organização e comercialização da produção? O movimento cooperativista permite a construção de oportunidades e de melhores condições de vida para os atores locais mobilizando capacidades? Tais questões estão sendo analisadas tendo como referência a COOPLESA, sediada no município de Sanharó, PE. Palavras-chave: Cooperativismo; Desenvolvimento Local; Mercados; Produção. Abstract Constitutes the main objective of this work analyze how the insertion of local actors in the markets, trough the organization of cooperatives. Also constitutes a Source of our interest to see whether the expansion productive capacity price and flow of production is contributing strengthen the local dynamism. Indeed, the cooperative movement is growing amid an increasingly global reality. Wonders in that sense a competitive landscape of globalization, if the cooperative can be identified as tools to allow the insertions of small production in the markets be helping to overcome moments of crises? The creation of cooperatives is an important factor in production, organization and marketing of production? The cooperative movement allows the construction of opportunities and better living conditions for local actors mobilize capabilities? Such issues are being examined with reference to the COOPLESA headquartered in the city of Sanharó, PE. Keys Word: Cooperative; Local Development; Markets; Productions. Introdução Em um mundo cada vez mais competitivo, marcado pelos diferentes efeitos da globalização, a busca por alternativas que possam enfrentar certas conseqüências são almejadas pelas sociedades contemporâneas. Nesse sentido, o cooperativismo vem sendo apontado como um importante mecanismo de sobrevivência ao atual modelo capitalista mundial (FUSFELD, 2001 apud DA SILVA E RATZMANN HOLZ, 2008). Além disso, Lenz (2002) afirma que a cooperativa é um sistema de colaboração total, e não se restringe tão somente as práticas produtivas dos seus membros, abrangendo assim as demais atividades associativas de forma coletiva. Por conseguinte, a prática cooperativista é utilizada como ferramenta de auxílio para a superação das dificuldades individuais, além de revelar uma competitividade reduzida, gerando benefícios de extrema importância para esse tipo de organização, sobretudo no setor agrícola, e especialmente na produção de agricultores (LAGO et. al., 2006). No meio rural, as cooperativas agrícolas, além de concebidas como organizações de natureza econômica, são também identificadas como espaço de participação democrática, capazes de estimular a criação de redes e o desenvolvimento local (PIRES, 2003). Para tanto, a organização de uma cooperativa agrícola “busca implementar a agroindustrialização da produção por meio de uma estrutura empresarial com base na exploração racional das atividades, estabelecimento de cargos e competências funcionais, sob um sistema administrativo de disciplina, controle e execução do trabalho” (Silveira, 2003 apud Santalucia e Hegedus 2005, p. 102). Com efeito, a literatura indica que o cooperativismo caracteriza-se pela sua forte capacidade de organizar o espaço e a produção rural, de aumentar o volume de produção, de permitir a geração de uma renda, melhoria de vida dos produtores e de servir como instrumento importante na busca de alternativas capazes de superar momentos de crise e de revitalização dos territórios (Pires, 2004; Santos, 2002). “A organização social de produtores rurais é, e sempre foi apoiada enquanto instrumento de empoderamento e emancipação social (RIOS E CARVALHO, 2007)”. No Brasil, a cooperativa agrícola surge como um instrumento de organização econômica de agricultura exportadora e capitalizada direcionada para uma agricultura de abastecimento interno (RIOS, 2007). Nesse sentido, em 1932, o Estado tinha como principal objetivo promover a expansão agrícola, devido a uma preocupação em abastecer os centros urbanos que vinham sofrendo um rápido crescimento populacional, consolidando-se a criação da cooperativa no país (FLEURY, 1983 apud SILVA E CALAÇA, S.d.). Frente a isso, os movimentos coletivos tornaram-se, segundo BOSCHI (1987), o elemento-chave na dinâmica da mudança social no país. Nesta perspectiva, o cooperativismo brasileiro, vai ser colocado por Pires (2004) como política e projeto de modernização executado por um Estado autoritário. As cooperativas brasileiras, com o passar dos anos, vão se caracterizar pelo vínculo de pequenos produtores com o objetivo de aumentar seus lucros, visando eliminar a presença dos atravessadores na comercialização dos seus produtos (SILVA E CALAÇA, S.d.). Especificamente na região Nordeste, o cooperativismo teve como base a desigualdade econômica, social, e dominação política e difundiu-se pela exploração dos pobres pelos mais ricos (RIOS, 2009). Pires (2004) afirma que o cooperativismo nordestino reproduzia um modelo de prática coronelista e elitista com objetivo de controle social e político, desvinculando-se das necessidades de seus membros. A mesma autora destaca ainda, as dificuldades encontradas pelas cooperativas na região, principalmente na metade do século XX, pela falta de planejamento a curto e médio prazo, ligado a baixos investimentos de capital e utilização de mão-de-obra sem qualificação, decisões centralizadas e baixa participação dos associados. Porém, os recentes estudos sobre cooperativismo e associativismo vêm apontando para um novo cenário. Atualmente as estratégias usadas por muitas cooperativas agrícolas começam a sinalizar alternativas para várias e boas performances econômico-produtivas na economia globalizada (PIRES, 2004). Diante dessa realidade e dos constantes desafios impostos às cooperativas agrícolas e aos seus associados, a busca pelo desenvolvimento local vem sendo destacado tanto pela academia como pelo próprio Estado. Vale ressaltar que a idéia de desenvolvimento local emerge com bastante complexidade e ainda sem uma definição precisa (Oliveira, 2006). Mas, de uma forma genérica, o desenvolvimento local está vinculado à melhoria das condições de vida, promoção de mudanças, a partir da utilização de recursos endógenos e visando a mobilização da sociedade em defesa de interesses coletivos (Idem, 2006). Para melhor compreender a relação entre cooperativismo e desenvolvimento local, Santos (2002) afirma que, estas formas de organização econômica e social propõem alternativas fundamentadas em iniciativas coletivas, que tentam, de certa forma, valorizar o local. Assim, a formação de cooperativas é particularmente importante por permitir, através de cooperação, a introdução de novas tecnologias e a inserção dos produtores nos mercados locais e globais, ajustando-se as novas exigências do mercado e a necessidade de diversificação de produção. Metodologia O trabalho foi estruturado a partir de uma abordagem qualitativa, através da seleção de um estudo de caso. A pesquisa foi realizada também, através de atividades desenvolvidas na realidade empírica, por meio de observações da dinâmica de uma cooperativa e entrevistas com sua equipe gestora. Para realização deste trabalho, além de ampla revisão bibliográfica, utilizou-se como objeto de pesquisa a experiência de uma cooperativa situada no Agreste de Pernambuco: A Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó (COOPLESA), situada no município de Sanharó. A visita a COOPLESA aconteceu no dia 21 de dezembro de 2009. Durante a pesquisa empírica, houve a realização de entrevistas semi-estruturadas junto aos gestores da cooperativa, com abertura para conversas livres, bem como a observação direta da rotina de seus trabalhos, como a produção do queijo e da manteiga e sua comercialização (observação participante). Em seguida, uma discussão aprofundada sobre o caso observado foi realizada no intuito de situar a relação entre os conceitos estudados e a prática, tendo como referência a cooperativa analisada e seus impactos locais. Procuramos, num segundo momento, verificar as possibilidades permitidas para ampliação de produção dos produtores cooperados por meio dela, bem como os seus impactos sobre o desenvolvimento local e ampliação de mercados. Resultados e Discussão A pesquisa na Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó (PE) vem nos permitindo avaliar o conjunto de estratégias (internas) utilizadas entre os associados, conselho de administração e gerência e as estratégias (externas) utilizadas entre cooperativa e demais instâncias, dentro de um esforço permanente do grupo na adoção de estratégias que permitam maior valor agregado ao leite, o que, por conseguinte, vem definindo uma performance econômico-financeira da empresa e uma dinâmica peculiar aquela região. O aprendizado do grupo no que se refere às exigências dos diversos mercados quanto à produção, embalagem e comercialização dos queijos e a compreensão dos valores que permeiam a produção e a comercialização dos produtos, reafirma os valores e princípios do cooperativismo, remetendo-nos a outros indicadores de desenvolvimento para além de uma perspectiva meramente econômica. Dessa forma, fica evidente que o cooperativismo tem como principal finalidade agrupar os associados permitindo sua inserção econômica e social. As formas de organização da comercialização fortalecem a mutualidade entre os produtores, permitindo, ao mesmo tempo, um maior dinamismo local. Muitas vezes, como no caso estudado, a cooperativa, tornar-se uma referência importante na região em que está inserida, na medida em que permite diversificar as atividades, ampliar os acessos aos mercados, garantindo a melhoria da qualidade de vida dos seus associados. Nessa perspectiva, a experiência da Cooperativa dos Produtores de Leite de Sanharó (COOPLESA) parece sinalizar para aspectos importantes do cooperativismo como um instrumento de fundamental importância para a ampliação da comercialização dos pequenos produtores e para a qualidade dos produtos como forma de identificação. Referências Bibliográficas BOSCHI, R. R. A arte da Associação: Política de Base e Democracia no Brasil. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1987. DA SILVA, Leonardo Xavier; RATZMANN HOLZ, Viviane. El cooperativismo y su comportamiento frente al capitalismo. In: Revista Cooperativismo & Desarrollo: julio – diciembre 2008. LAGO, A.; HEGEDÜS, P. de; MACHADO, J. A. D. ; FAGAN, S. . Principais causas do não associativismo entre agricultores familiares do município de Nova Palma (RS, Brasil) e estratégias de extensão. In: XLIV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 2006, Fortaleza-CE. 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