38 A OMC E OS TRABALHADORES A abertura indiscriminada do setor de serviços pode agravar a precarização do mercado de trabalho e a vulnerabilidade do Brasil. 6 RETROSPECTIVA IOS Em 2007 o Instituto Observatório Social completa dez anos de atividade em defesa dos direitos dos trabalhadores. 16 RAIO-X SINDICAL O que pensam os trabalhadores sobre Trabalho Decente, Responsabilidade Social das Empresas e Meio Ambiente. 27 PERSPECTIVA IOS O presidente do IOS, Artur Henrique, e o ex-presidente Kjeld Jakobsen escrevem sobre os planos para o futuro da organização. 30 ENTREVISTA Artur Henrique: “IOS é um poderoso instrumento para os sindicatos” 32 TRABALHO INFANTIL NA MINERAÇÃO Basf firma compromisso com a Rede de Trabalhadores na América do Sul, a Icem e o IOS de reavaliar o monitoramento da sua cadeia produtiva. 34 Biocombustíveis e Inclusão Social Seminário com mais de cem pessoas debate questões ligadas ao tema. 4 43 TERCEIRIZAÇÃO NA SAÚDE O Observatório Social estudou a globalização e a terceirização das atividades em hospitais da Região Metropolitana de São Paulo. 46 ISO 26000, A NORMA DA RSE O IOS participou na Austrália da Conferência que avançou na construção da diretriz de Responsabilidade Social das e se prepara para a Conferência de Viena. 51 METODOLOGIA EM DEBATE Oficinas realizadas em 2006 e 2007 servem de reflexão sobre os desafios e possibilidades de atuação dos pesquisadores do IOS. 54 MULTINACIONAIS E MEIO AMBIENTE O Projeto AMA, que avalia o comportamento sócioambiental de quatro corporações na América Latina, terá resultados apresentados em novembro. 56 PESQUISA E AÇÃO SINDICAL Em Salvador, 6ª Conferência Internacional abordou a Responsabilidade Social das Empresas sob o ponto de vista da sociedade civil. 64 ALMANAQUE EM REVISTA O O compositor Paulinho da Viola costuma dizer que não vive no passado, o passado é que vive nele. É com este espírito que recordamos dez anos de existência do Instituto Observatório Social, a serem comemorados em novembro de 2007. Sem saudosismo, mas cientes de que olhar para trás nos ajuda a saber quem somos e aonde vamos. Nossos estudos, balizados pelas Convenções da OIT, monitoram direitos fundamentais no trabalho, em articulação com o conceito de Trabalho Decente da OIT: aquele que é adequadamente remunerado, exercido com liberdade, eqüidade e segurança, e capaz de garantir uma vida digna. Em uma década de atividades pela globalização dos direitos, o IOS contribuiu para melhorar a vida de quem trabalha e para mudar comportamentos empresariais. Essa trajetória, construída por uma equipe pequena e dedicada, tem apoio das entidades parceiras e dos sindicatos de trabalhadores, nosso público prioritário. O retrospecto, os desafios do momento e as perspectivas estão nas próximas páginas. Em pesquisa inédita no 9º Congresso Nacional da CUT, os entrevistados opinaram sobre Trabalho Decente, Meio Ambiente, Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e informatização. Os resultados servem de subsídio para ações de articulação e formação. Nossa 6ª Conferência Internacional Pesquisa e Ação abordou a RSE sob o ponto de vista dos sindicatos de trabalhadores e de outras organizações da sociedade civil. Também estamos acompanhando os eventos que formulam as diretrizes internacionais sobre o assunto. Relações internacionais são foco da atenção do IOS. É o caso do artigo sobre o impacto negativo das negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio) no setor de serviços no Brasil. Mostramos como a abertura indiscriminada pode agravar a precarização do mercado de trabalho. Realizamos uma pesquisa sobre transnacionalização e terceirização da saúde em hospitais do estado de São Paul. Estamos concluindo o Projeto AMA – Multinacionais e Meio Ambiente –, que avalia quatro corporações na América Latina. E fazendo na Amazônia um amplo estudo sobre a cadeia produtiva do alumínio. Ainda sobre cadeia produtiva, um avanço: um ano depois da publicação, em nossa revista, de reportagem sobre a exploração de trabalho infantil por fornecedores de três multinacionais, a Basf concordou em reavaliar seu sistema de monitoramento. No futuro próximo, estaremos envolvidos em dois grandes desafios: monitorar o comportamento das multinacionais brasileiras no exterior e acompanhar os impactos do comércio entre China e Brasil. A cooperação com o mundo acadêmico também vai se estreitar a partir de 2008 com o início, na Unicamp, de um curso da Universidade Global do Trabalho. Você também é parte da nossa festa de dez anos. Boa leitura! Conselho Editorial 5 Observatório Social, O utubro de 1997, praia de Ponta das Canas, Florianópolis. Uma reunião realizada na sede da Escola Sindical Sul – uma iniciativa da Central Única dos Trabalhadores – traçava os primeiros esboços de um projeto inédito pela originalidade e ousadia: criar uma instituição para monitorar o comportamento social e trabalhista das empresas multinacionais no contexto da globalização. A idéia não nasceu de um dia para outro – vinha sendo amadurecida no movimento sindical havia três anos, em função da conjuntura brasileira e internacional. Em 1994, uma conferência da OIT (Organização Internacional do Trabalho) colocou em debate a polê- mica proposta de adoção de “clásulas sociais” pela recém-criada OMC – Organização Mundial do Comércio. Os países desenvolvidos alegavam sofrer competição injusta por parte dos que exploravam mão-de-obra barata. Mas a proposta foi rejeitada pelos países em desenvolvimento por ser uma “barreira protecionista”, recorda um dos participantes daquela conferência, Kjeld Jakobsen, então secretário de Relações Internacionais da CUT e atual assessor da presidência do Observatório Social. O movimento sindical cutista adotou uma posição coerente e cautelosa: o que vier para fortalecer os direitos dos trabalhadores é bem-vindo, mas quem vai dizer quem está violando esses direitos? Em busca da resposta a essa indagação surgiu o Observatório Social. 1994 Início das discussões na Escola Sul da CUT (Florianópolis). 1997 Outubro – Nasce o Observatório Social. Elaboração do projeto-piloto. Definição de missão, objetivos, natureza institucional e interinstitucional (CUT/Escola Sul, Dieese, Unitrabalho, Cedec). 1998 Janeiro – Relatório da pesquisa- piloto na Sadia. Fevereiro – Detalhamento do projetopiloto. Março – Início da implantação e teste do projeto. Definição do organograma e das funções diretivas política e técnica. Mercosul é o foco inicial. Setembro – Intercâmbio de experiência nos Estados Unidos, a convite do Centro de Solidariedade do AFL-CIO. Construção da metodologia de referência para a ação técnica. 1999 Março – Relatório da pesquisa-piloto na Kibon. Julho – Início da etapa de consolidação do projeto. Seminário nacional de parceiros define novo foco: observar o comportamento sócio-trabalhista das empresas multinacionais com atuação no Brasil. 6 Parceiros e financiadores O projeto nascido na Escola Sindical Sul da CUT teve suporte fundamental do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea) e da Unitrabalho (Rede Inter-Universitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho). As quatro entidades-sócias traçaram as linhas gerais de atuação do Observatório e contribuíram com aportes em suas competências específicas. De início a proposta era construir um “Observatório do Mercosul”, centrado nas relações de trabalho no Brasil ano dez Dauro Veras* Em outubro de 2007 o Instituto Observatório Social (IOS) completa uma década de atividades dedicadas à globalização dos direitos. Um breve retrospecto mostra que houve contribuições importantes para a vida de quem trabalha e para mudanças no comportamento das empresas. Conheça os principais marcos dessa história e as perspectivas para o futuro. e nos países vizinhos. Em 1999, definiuse o novo foco de atuação da entidade: observar o comportamento social e trabalhista das empresas multinacionais com atuação no Brasil, principalmente em relação às cláusulas da OIT. Dois financiadores internacionais apoiaram a viabilização do projeto: a FNV, federação sindical holandesa, e a DGB, central sindical alemã. Outras instituições, em diferentes momentos, também cooperaram: o Centro de Solidariedade da AFL-CIO (Estados Unidos), as fundações Hans Böckler e Friedrich Ebert (Alemanha), a central sindical LO (Noruega), o Sask – Centro de Solidariedade Sindical da Finlândia, a ISP – Internacional do Serviço Público, a Oxfam (Reino Unido), a OIT. * Colaborou Alessandra Pires. Prossegue o desenvolvimento metodológico. 2000 Março – Definição do modelo de gestão: Direção, Equipe Técnica, Sedes, Conselho Consultivo. Implantação da sede nacional em Florianópolis e de sedes regionais no Rio de Janeiro e em São Paulo. Organização da infra-estrutura. Avança o desenvolvimento da metodologia, com a definição de Temas e metodologia Os estudos passaram a monitorar os seguintes temas vinculados aos direitos fundamentais no trabalho: liberdade sindical; negociação coletiva; trabalho infantil; trabalho escravo; discriminação de gênero e de raça; saúde e segurança no trabalho; e meio ambiente. Balizam as pesquisas as convenções da OIT relativas a esses temas. Mais recentemente, o IOS tem feito um esforço de articular as Convenções ao conceito de Trabalho Decente da OIT: um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, eqüidade e segurança, e capaz de garantir uma vida digna. Em 2003 foi incorporado o tema Responsabilidade Social das Empresas, de relevância crescente nos debates sobre o papel das corporações. Os estudos também levam em conta os Códigos de Conduta Voluntários das Empresas, as Diretrizes da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre Empresas Multinacionais, as Cartas Sociais, o Pacto Global da ONU, os Acordos Marcos Globais e as convenções ambientais, bem como as normas defendidas pelos Secretariados Profissionais Internacionais e pela recém criada Confederação Sindical Internacional (CSI). Para padronizar o trabalho dos pesquisadores, foram desenvolvidos termos de referência. São textos produzidos por especialistas com base nas Convenções da OIT. Seu objetivo é interpretar e contextualizar as normas internacionais à luz da realidade brasileira e complementá-las com as normas e padrões nacionais de conduta empresarial. A metodologia, em permanente aperfeiçoamento, prevê como primeira etapa o levantamento de informações divulgadas publicamente em web sites e na mídia – por exemplo, o controle acionário, histórico da empresa, denúncias ambientais e questões trabalhistas. Na seqüência são realizadas entrevistas com trabalhadores, dirigentes sindicais e, quando possível, com empresários e diretores. A análise dos resultados leva em consideração os marcos de referência já citados. diferentes modalidades de observação de empresas. Junho - Relatório Wal-Mart. 2001 Janeiro – Participação no I Fórum Social Mundial (Porto Alegre). Abril – Constituição de personalidade jurídica e estatuto. Junho – Relatório Bompreço/Ahold. Julho – Criação do projeto Observatório Social Europa, parceria CUT-FNV-DGB. Relatório Parmalat. Relatório Santander. Relatório Embratel. Agosto – Relatório Honda e Light. Setembro – 1º seminário Pesquisa e Ação: Promoção dos Direitos Fundamentais no Trabalho e Proteção ao Meio Ambiente / exposição fotográfica de Rosane Lima sobre mineiros de Criciúma (Florianópolis). Inauguração do web site. 7 Reportagens investigativas O Observatório Social também adotou as reportagens jornalísticas como complementos às pesquisas. Embora menos aprofundadas, as reportagens são uma alternativa mais rápida de identificar problemas urgentes envolvendo violações de direitos dos trabalhadores e levá-los a debate. A publicação periódica “Observatório Social Em Revista” passou a ser o carro-chefe desse recurso. Utilizar os recursos do jornalismo investigativo se mostrou uma decisão acertada. Em setembro de 2002 uma reportagem sobre o café mapeou as precárias condições de trabalho no campo e a concentração global da renda do produto nas mãos de cinco multinacionais. Ela serviu de apoio para uma campanha mundial da Oxfam em defesa dos agricultores familiares, lançada simultaneamente em 22 países. O tema teve continuidade em outras duas publicações. O pacto contra o trabalho escravo na siderurgia, firmado em agosto de 2004, é outro marco na história da organização. Semanas antes o Observatório Social publicara a reportagem “Escravos do Aço”, mostrando que siderúrgicas exportadoras de ferrogusa para fabricação de aço se beneficiavam de mão-de-obra escrava em carvoarias na Amazônia. Uma articulação envolvendo o Observatório, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, a OIT e o Ministério Público do Trabalho convenceu diversas siderúrgicas a assinarem a carta-compromisso. Essa política adotada pelas siderúrgicas provocou a melhoria das condições de trabalho em muitas carvoarias. Seu cumprimento foi posteriormente avaliado pelo IOS. Os pesquiOutubro – Implantação de sucursal do Banco de dados da PSRU (Public Services International Research Unit). 2002 Janeiro – Lançamento da publicação Observatório Social Em Revista. Participação no II Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Exposição fotográfica coletiva Construindo a Globalização dos Direitos, com dez 8 ções. Em dezembro de 2003, “Mineração Predatória na Amazônia Brasileira”, realizada no Amapá, ganhou na categoria Informação Ecológica o Prêmio Esso de Jornalismo – o mais importante dessa categoria profissional no Brasil. Em outubro de 2006, “A Idade da Pedra”, sobre trabalho infantil na cadeia produtiva das multinacionais Faber-Castell, ICI Paints e Basf, recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Faber-Castell e ICI reagiram prontamente à denúncia e suspenderam a aquisição da matéria-prima de seu fornecedor em Ouro Preto (MG). A Basf insistiu na tese da inexistência de trabalho infantil para a produção de talco, embora posteriormente adotasse a mesma medida das demais e reconhecesse numa reportagem da revista Exame que a auditoria dos seus fornecedores havia falhado neste caso. Depois da publicação da reportagem e de sua repercussão internacional, o governo ampliou o número de vagas do Peti – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – no município. sadores constataram que, apesar de avanços significativos no estado do Maranhão, ainda havia falhas na eficácia do monitoramento no sul do Pará. O tema continua atual, já que a agência Bloomberg noticiou no final de 2006 o uso de mão-de-obra escrava na cadeia siderúrgica, questionando as políticas de responsabilidade social das montadoras americanas Ford e GM. Uma reportagem publicada em maio de 2006 apontou o envolvimento da empresa holandesa C&A com a subcontratação de fornecedores de vestuário que utilizavam o trabalho de imigrantes bolivianos em situação de semi-escravidão na cidade de São Paulo. Embora não seja a única empresa do comércio varejista de vestuário a se utilizar deste expediente, ela foi flagrada em diligências policiais e citada numa investigação da Câmara de Vereadores da cidade. Sua resposta à denúncia foi acelerar a implementação de uma auditoria social de seus fornecedores no Brasil. A C&A também se dispôs a cooperar com uma pesquisa em execução pelo IOS nas suas lojas. Essa pesquisa havia sido demandada pelos comerciários da CUT. Duas reportagens tiveram seus méritos reconhecidos com premia- Uma das primeiras atividades Internacionais do IOS foi um seminário de Gênero realizado pela CUT e pela OIT. Na oportunidade o IOS apresentou sua proposta para essas áreas e também dados comparativos fotógrafos. Relatório Unilever: Arisco e Cica. Lançamento do CD-ROM Você tem direitos. Fevereiro – Relatório Vicunha. Junho – 2º Seminário Pesquisa e Ação Sindical: Redes Sindicais e a Organização no Local de Trabalho nas Empresas Multinacionais (Florianópolis). Julho – Relatório Nokia. Agosto – O Observatório Social se desvincula da Escola Sindical Sul. Setembro – Criação do Banco de Notícias sobre Empresas Multinacionais. Publicação Café do BraZil: o sabor amargo da crise e exposição fotográfica de Sérgio Vignes, em parceria com a Oxfam. Relatório Nestlé. Outubro – Oficina Técnica Metodológica Pesquisa em Cadeia Produtiva e Direitos Fundamentais. Relatório Alcan e Alcoa. Novembro – Criação do Banco de Gênero e raça em relação a gênero para uma audiência que incluía representantes da ONU, OIT e organizações de combate à discriminação de gênero de diversos países. No Fórum Social de 2002, a questão racial e a responsabilidade social foram debatidas por iniciativa do IOS e do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). “Também participamos, em 2005, do grupo de especialistas da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM) para criar o programa Pró Eqüidade”, lembra a pesquisadora Mércia Consolação da Silva, do IOS. “Nesse mesmo ano tivemos muitas discussões informais com a Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) sobre o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial e realizamos uma oficina de gênero e raça”. O projeto AMA – Multinacionais e Meio Ambiente – é outra iniciativa de cooperação internacional voltada para a integração de trabalhadores. Seu objetivo é acompanhar o comportamento social e ambiental de quatro multinacionais do setor de alimentos e bebidas na América Latina: as européias Unilever e Nestlé, a brasileira Ambev e a norte-americana Coca-Cola. A sigla AMA se refere aos Acordos Multilaterais Ambientais que têm relação com o comércio internacional. Desenvolvido pelo Observatório Social com mais quatro parceiros, o projeto tem como área de abrangência Argentina, Brasil, Colômbia, Equador e Peru. O método da pesquisa explora dois eixos principais: meio ambiente e relações de trabalho. A questão da sustentabilidade será estudada por meio de um instrumento de pesquisa com base nos protocolos ambientais em cada país. No caso das relações de trabalho, está sendo acompanhado o comportamento social e trabalhista de cada empresa por meio de um instrumento desenvolvido pela RedLat. São parceiros neste projeto a ong Plades, do Peru, a central sindical CTA, da Argentina, e a Escola Nacional Sindical (ENS) da Colômbia. Fotos: Elizabeth Avelino Projeto AMA Fábrica D’Anafria/Nestlé, em Lima Fábrica da Alicorp/ Unilever, em Lima Imagens. Relatório ABN. Relatório Ambev. Dezembro – Relatório Norske Skog Pisa. Relatório Akzo Nobel. Observatório Social em Revista 2. 2003 Janeiro – Participação no III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Exposição fotográfica Mineração Predatória na Amazônia. Reedição das exposições fotográficas Trabalhadores do café e Construindo a Globalização dos Direitos. Relatório Norsk Hydro. Fevereiro – Relatório Bompreço/ Ahold. Março – Relatório Elkem. Abril – Mudança da sede nacional das instalações da Escola Sindical Sul para o centro de Florianópolis. Maio – Relatório Shell. Publicação Café e pobreza, estudo sobre a Sara Lee em parceria com a Oxfam. Junho – Intercâmbio Sindical Brasil- Fábrica da Coca-Cola, em Lima Holanda. Publicação Mineração Predatória na Amazônia Brasileira. Observatório Social em Revista 3, sobre a contaminação ambiental pela Shell. Julho – Seminário Internacional sobre Responsabilidade Social de Empresas e séries de oficinas. Início da publicação do Boletim Rede Sindical. Relatório ThyssenKrupp. Setembro-outubro – Intercâmbio Sindical Brasil-Alemanha. Publicação 9 Monitor de Empresas Panorama Setorial do Alumínio. Outubro – Observatório Social em Revista 4, sobre Responsabilidade Social Empresarial. Intercâmbio entre sindicalistas brasileiros e noruegueses. Novembro – 3º Seminário Pesquisa e Ação Sindical: Sindicalismo e Responsabilidade Social de Empresas (São Paulo). Lançamento do projeto Conexão Sindical. Dezembro – Mineração Predatória na 10 Observatório Social Europa Desde 2004 o Observatório Social participa da Red Puentes, que visa a promoção de uma cultura de responsabilidade social empresarial na América Latina a partir de uma visão de organizações da sociedade civil. No Brasil, também integram a Red Puentes o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor). A RedLat, criada em outubro de 2005, visa realizar pesquisas sobre o mundo do trabalho para organizações sindicais por meio de institutos e centros de estudo em sete países: Cilas (México), CUT Chile, CUT Colômbia, ENS (Colômbia), Plades (Peru), PIT-CNT (Uruguai), Instituto Cuesta Duarte (Uruguai), CTA (Argentina), Orit, CUT Brasil e Observatório Social. Seu objetivo é realizar pesquisas comparativas em multinacionais que atuam no continente quanto a temas ligados aos direitos dos trabalhadores, ao meio ambiente e à responsabilidade social. As primeiras seis empresas escolhidas para serem pesquisadas pela RedLat são Unilever, Shell, Telefônica, Santander, BBVA e Endesa. Também será analisado o setor agroexportador. Os estudos devem reunir os elementos comuns e divergentes que caracterizam a ação econômica, social e ambiental das empresas nos distintos países em que operam. Sind. Químicos do ABC Red Puentes e RedLat balhadores devido Outro projeto ao processo de importante de cooreestruturação peração internaciopermanente a nal é o Monitor de que estão sujeitas, Empresas, financiacom demissões, do pela FNV e cobaixos salários, ordenado pela ong terceirização e diholandesa Somo ficuldades de mo(Centro de Pesquinitorar suas ressa sobre CorporaFábrica da Akzo Nobel em São Bernardo do Campo, SP pectivas cadeias ções Multinacionais). Seu objetivo é apoiar a criação de produção. Na segunda fase, de 2004 a 2006, de redes entre os trabalhadores em multinacionais de origem holandesa, mais duas multinacionais foram adiciopor meio de pesquisas sobre o com- nadas: ABN Amro e Heineken. A Coréia do Sul deixou de participar, mas portamento social e trabalhista. A primeira fase aconteceu entre Peru, Gana, Índia e Indonésia entra2001 e 2003 com pesquisas nas em- ram nas pesquisas. Nessa etapa houpresas Unilever, Philips, Akzo Nobel ve uma investigação mais complexa de e Ahold – no Brasil, México, África cadeia produtiva – tema de destaque do Sul, Polônia, República Tcheca e crescente para o Observatório Social. Coréia do Sul. Entre as conclusões, Nas empresas Akzo Nobel, Philips, constatou-se que, apesar de as empre- Unilever e Banco ABN Amro estão sas disporem de políticas corporativas sendo desenvolvidas novas pesquisas globais, sua implementação em dife- cujo foco central é Saúde e Seguranrentes contextos traz riscos para os tra- ça do Trabalho. Trabalhadoras na linha de produção da Philips em Manaus Amazônia Brasileira conquista Prêmio Esso de Jornalismo na categoria Informação Científica, Tecnológica e Meio Ambiente. Primeira oficina de treinamento do projeto Conexão Sindical. Relatório Basf. 2004 Janeiro – Criação da Biblioteca Virtual. Participação no IV Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Integração à Red Puentes de Responsabilidade Social Empresarial. Fevereiro – Relatório Unilever. Publicação Responsabilidade Social Empresarial: perspectivas para a atuação sindical. Publicação Globalizar direitos - sindicatos e relações trabalhistas no Brasil, na Holanda e na Alemanha, do Observatório Social Europa. Março – Intercâmbio Sindical Alemanha-Brasil-Holanda. Relatório Philips. Observatório Social Em Visita à Mineração Rio Norte, Intercâmbio Sindical, Brasil, 2006 Revista 5, sobre a mulher no mercado de trabalho.Relatório Bayer Abril – Relatório Veracel: perfil RSE. Maio – Relatório Cadeia Produtiva da Philips. Publicação Café: vida, produção e trabalho - agricultores familiares e assalariados rurais, em parceria com a Oxfam. Junho – Relatório Unilever América Latina. Relatório Bosch. Julho – 4º Seminário Pesquisa e Ação Sindical: Sindicatos, Multinacionais e a Globalização da Economia (São Paulo). Observatório Social Em Revista 6, sobre trabalho escravo. Agosto – Siderúrgicas assinam pacto pela erradicação do trabalho escravo em sua cadeia produtiva. Novembro – Observatório Social Em Revista 7, sobre liberdade sindical. Dezembro – Participação no III Learning Forum do Pacto Global, em Nova Lima (MG); o IOS apresentou os re- Sind. Químicos de Vinhedo, SP Reunião com a Ahold, Intercâmbio Sindical, Holanda, 2003 condições de trabalho dos empregados efetivos e dos terceirizados. O Observatório Social promoveu diversos intercâmbios sindicais no Brasil e na Europa. Esses encontros foram decisivos para que os trabalhadores brasileiros, alemães e holandeses passassem a atuar de maneira mais articulada diante da reestruturação produtiva das grandes corporações – que quase sempre é sinônimo de demissões e precarização das condições de trabalho. A CUT vem promovendo nos últimos anos a criação de redes e comitês nacionais por empresa, dentro do Projeto Ações Frente às Multinacionais. Seu objetivo é organizar os sindicatos que representam os trabalha- Intercâmbio com os trabalhadores da Akzo Nobel do Brasil, México e Holanda, 2005 dores no Brasil, para melhorar a organização sindical e concentrar as negociações coletivas em um Comitê Sindical Nacional para cada empresa. A iniciativa tem gerado bons resultados. Hoje há cerca de 25 redes em funcionamento. Uma parte delas conta com o apoio do Observatório Social para o desenvolvimento de pesquisas que aglutinem os sindicatos de trabalhadores e as respectivas confederações. Frank Maia são na política de treinamento e prevenção de acidentes. Na Philips o estudo apontou que, apesar dos trabalhos da empresa na área de saúde e segurança, havia problemas relacionados a Lesões por Esforços Repetitivos – LER – e no ruído excessivo nos locais de trabalho. Também foram detectadas falhas no fornecimento de informações ao sindicato e grandes diferenças entre as Cornelia Girndt Três outros marcos na história do Observatório Social foram a pesquisa realizada na Zona Franca de Manaus, a articulação de intercâmbios internacionais de trabalhadores e a criação da RedLat – Rede LatinoAmericana de Pesquisa em Empresas Multinacionais. Essas iniciativas permitiram a ampliação da abrangência das atividades em termos regionais e continentais. A pesquisa no Amazonas focalizou três multinacionais: Nokia, de origem finlandesa, Philips, de capital holandês e a japonesa Honda. Ela contribuiu para facilitar o diálogo social. Na Nokia foram constatados problemas nas condições de terceirização. A empresa não quis colaborar com o estudo, mas a repercussão dos resultados na imprensa finlandesa terminou levando a um posterior diálogo com o Observatório e com os sindicatos para a melhoria dos direitos dos trabalhadores. A pesquisa da Honda recomendou, entre outras medidas, a abertura de uma agenda de negociação com os representantes dos trabalhadores para viabilizar os direitos à liberdade sindical e negociação coletiva, bem como a realização de um estudo para verificar as causas da desigualdade de oportunidades para as mulheres. Também foi recomendada uma revi- Banco de Imagens IOS Zona Franca, intercâmbios e redes sultados da pesquisa da Basf. 2005 Janeiro – Mudança da sede nacional de Florianópolis para São Paulo. Três publicações do Observatório Social Europa: Multinacionais Holandesas, Bayer - de Leverkusen a Belford Roxo e ThyssenKrupp - de Düsseldorf a Guaíba. Maio – Relatório Dana. Julho – Relatório Veracel. Outubro – Fundação da RedeLat - 11 Conexão Sindical Fotos: Marcos Lima / Sind. Quím. ABC O projeto Conexão Sindical, lançado pelo IOS em novembro de 2003, é uma iniciativa inovadora para a inclusão digital dos dirigentes de sindicatos de trabalhadores. Uma comunidade virtual na internet (www.os.org.br/conex) possibilita aos usuários registrados compartilhar informações, interagir em fóruns, conversar online e ler notícias atualizadas. Dezenas de oficinas de treinamento já foram realizadas em diversos estados para familiarizar os trabalhadores com as novas tecnologias de comunicação e informação. Elas também incluem treinamento para uso do Banco de Dados de Denúncias de Práticas Anti-Sindicais, desenvolvido pelo Observatório Social e pela CUT. Os mais de 900 usuários registrados na Conexão Sindical já enviaram milhares de colaborações, por meio de fóruns de debate, e informes redigidos a partir da experiência em seus sindicatos e sobre outros temas. A participação é gratuita, mediante preenchimento de um formulário simples. São em média 60 mil páginas vistas todos os meses, com crescimento constante, o que consolida a comunidade como um meio efetivo de integração para o sindicalismo. Os três ramos mais ativos são os papeleiros, comerciários e serviços públicos. Em seguida vêm químicos, bancários, metalúrgicos, trabalhadores em alimentação, extração mineral, têxteis e vestuário. Oficina com o Sindicato dos Químicos do ABC, SP, maio de 2006 Sérgio Vignes Mesa de abertura do 1 o Seminário Pesquisa e Ação Sindical (2001) Público do 2 o Seminário Pesquisa e Ação Sindical (2002) Rede Latino- Americana de Pesquisa em Empresas Multinacionas Lançamento do Banco de Denúncias de Práticas Anti-Sindicais. 5ª Conferência Internacional Pesquisa e Ação: Investimentos diretos na América Latina: Desafios Sindicais à Globalização (São Paulo). Observatório Social Em Revista 8, sobre negociação coletiva. Novembro – Relatório Carrefour. Relatório Acesita. Início da pesquisa 12 Os seminários anuais Pesquisa e Ação Sindical têm sido espaços privilegiados para o debate sobre os temas vinculados às atividades do IOS. “Promoção dos Direitos Fundamentais no Trabalho e Proteção ao Meio Ambiente” foi o tema do primeiro evento, em 2001. No ano seguinte foram discutidas as “Redes Sindicais e a Organização no Local de Trabalho nas Empresas Multinacionais”. Em 2003, “Sindicalismo e Responsabilidade Social de Empresas”. Em 2004, “Sindicatos, Multinacionais e a Globalização da Economia”. Em 2005, em função do aumento no número de interessados em ou- tros países, o evento foi transformado em Conferência Internacional e abordou o tema “Investimentos diretos na América Latina: Desafios Sindicais à Globalização”. Em dezembro de 2006 a 6ª Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical debateu, em Salvador, a visão dos trabalhadores sobre o movimento de Responsabilidade sobre a Cadeia do Alumínio na Amazônia. 2006 Janeiro – Início do Projeto AMA – Multinacionais e Meio Ambiente na América Latina. Participação no VI Fórum Social Mundial na Venezuela. Segunda reunião da RedeLat para discussão de metodologia de pesquisa (Caracas). Observatório Social Em Revista 9, sobre trabalho infantil. Março – Relatório Asica: Responsabilidade Social das Empresas Siderúrgicas na Cadeia Produtiva do Ferro-Gusa na Região de Carajás: os Produtores de Carvão Vegetal. Maio – Observatório Social Em Revista 10, sobre trabalho precário. Junho – Terceira reunião da RedLat, durante o ConCUT, em São Paulo, para ajustes na metodologia. Julho – Pesquisa no ConCUT sobre Marques Casara Rosane Lima Eventos Recepção do 3 o Seminário Pesquisa e Ação Sindical (2003) Social Empresarial. O Observatório Social também tem levado o tema dos direitos fundamentais dos trabalhadores a outros eventos, como o Fórum Social Mundial, as conferências do Instituto Ethos de Responsabilidade Social e a Rede Global de Pesquisas Sindicais (GURN - Global Union Research Network), iniciativa da OIT que conta com a participação de 80 instituições de 40 países. O objetivo da GURN é proporcionar às organizações sindicais mais acesso a pesquisas na área e estimular a troca de informações. Dauro Veras Alguns resultados Ana Iervolino Público do 4o Seminário Pesquisa e Ação Sindical (2004) Ana Iervolino 5 o Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical (2005) 6 o Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical (2006) trabalho decente, responsabilidade social e meio ambiente. Setembro – Quarta reunião da RedLat, em Lima, Peru, para discussões internas. Projeto da Universidade Global do Trabalho (GLU) é apoiado pelo IOS, que envia pesquisador Felipe Saboya para mestrado na Alemanha. Outubro – Reportagem “A idade da pedra”, sobre trabalho infantil, recebe menção honrosa no Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Hu- Nesses quase dez anos de atividade o Observatório Social elaborou aproximadamente 40 relatórios sobre empresas brasileiras, americanas, japonesas e principalmente européias que atuam na mineração, indústria, serviços e agroindústria do Brasil. Os principais setores econômicos estudados foram bancos, comércio varejista, telecomunicações, eletroeletrônico, farmacêutico, higiene, metalúrgico, mineração, papel e celulose, químico e petroquímico, utilidades públicas, têxtil e vestuário, alimentos e bebidas, automotivo e agricultura. Muitos desses relatórios foram utilizados pelos sindicatos para negociar melhores condições de trabalho, pois o fato de as informações serem levantadas por uma entidade externa e de forma acurada tem dado maior credibilidade a elas. Nos casos em que as empresas optam por participar das pesquisas, os comitês bipartites que usualmente se formam para acompanhá-las acabam se tornando os catalisadores de importantes negociações coletivas. As pesquisas iniciadas em 2002 em três empresas alemãs – Bayer, Bosch e ThyssenKrupp – e três holandesas – Akzo Nobel, Philips e Unilever –, todas em operação no Brasil, são exemplos de resultados concretos advindos da atividade do IOS. Apoiado pela União Européia, o projeto incluiu intercâmbio entre sindicatos da Alemanha, Brasil e Holanda. Graças aos esforços dos sindicatos alemães e holandeses, as matrizes orientaram as filiais no Brasil a cooperar, negociando com os sindicatos locais e o IOS o monitoramento prolongado do comportamento empresarial. Dessa forma, resolveram-se diversos problemas que anteriormente não se solucionavam por causa da inexistência de canais permanentes de contato entre as partes. Impediram-se demissões na unidade da Philips em Manaus. A Akzo Nobel reconheceu o Comitê Sindical Nacional de sindicatos e trabalhadores. Na ThyssenKrupp e na unidade da Bayer em Belford Roxo (RJ) foram estabelecidas negociações regulares entre sindicatos e empresa, uma conquista do direito de liberdade sindical. Em 2005, a ThyssenKrupp anunciou in- manos. Observatório Social Em Revista 11, sobre os riscos do trabalho. Novembro – Oficina de metodologia de pesquisa encerra série de seis eventos realizados no ano. Seminário Cadeia Produtiva do Alumínio no Brasil (Belém). Dezembro – 6ª Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical: O Movimento de Responsabilidade Social Empresarial hoje. Quinta reunião da RedLat, para monitoramento das pes- quisas e definição do plano de trabalho para 2007 (ambos os eventos em Salvador). Participação no Seminário internacional “Mulheres, trabalho e cidadania ativa: desafios para as políticas de igualdade”. 2007 Janeiro – Participação no VII Fórum Social Mundial (Nairobi, Quênia). Participação na 4ª Conferência da ISO 26000 de Responsabilidade Social em Sydney, Austrália – parte da delegação 13 vestimentos para modernização de sua fábrica no estado do Rio de Janeiro, onde haviam sido constatados vários problemas de saúde e segurança no trabalho. A Mapol, empresa dinamarquesa com uma fábrica em Sorocaba (SP), tinha sérios problemas no relacionamento com o sindicato dos trabalhadores. Em função do relatório do Observatório Social e das gestões que o sindicato dinamarquês realizou junto à matriz da empresa, passou-se a estabelecer uma relação mais respeitosa de diálogo com a criação de um comitê para a discussão dos lesionados (quase todos com LER). A exceção neste projeto foi a Unilever, na qual não houve nenhuma evolução especial das relações de trabalho. Em 2002-03, a empresa chegou a reconhecer o Comitê Sindical, mas depois voltou atrás. Desde então, a multinacional passa por processos de reestruturação tão violentos que é quase impossível estabelecer qualquer mecanismo de diálogo e negociação mais permanente. Essas políticas de reestruturação produtiva permanente têm levado ao fechamento de empresas e a demissões em massa não apenas no Brasil como no Chile, Colômbia e Argentina. As pesquisas também têm servido para fundamentar reclamações junto ao “Ponto de Contato Nacional” (PCN) das Diretrizes para Empresas Multinacionais da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os PCN devem ser instalados em cada país membro da OCDE e também nos países que, apesar de não serem membros, aderiram às Diretrizes – é o caso da Argentina, Brasil, Chile e Eslovênia. No Brasil o Observatório Social, junto com a CUT, o Dieese e o Ibase, tem apoiado a iniciativa por meio da promoção de seminários. As Diretrizes abrangem as normas fundamentais de trabalho da OIT e também uma série de aspectos mais amplos sobre meio ambiente, promoção de emprego, ética empresarial, transparência, entre outros. Isto possibilita aos sindicatos desenvolver uma atuação mais abrangente e trabalhar junto com outras organizações sociais. Em janeiro de 2005, para melhor atender a demanda por seus serviços, o Observatório Social transferiu a sede nacional de Florianópolis para São Paulo. A organização conta atualmente com uma equipe interdisciplinar na capital paulista e no Rio de Janeiro (já houve núcleos de pesquisa em Manaus e em Salvador). São duas dezenas de profissionais das áreas de ciências sociais, políticas e econômicas, relações internacionais, jornalismo, história, informática, secretariado, tradução e serviços de apoio. A qualificação permanente da equipe é uma das prioridades. Em agosto de 2006 o engenheiro de produção Felipe Saboya, pesquisador do Observatório Social na sede do Rio de Janeiro, foi um dos dois brasileiros que inauguraram um projeto inovador na Alemanha: o programa de mestrado em Políticas do Trabalho e Globalização, da Universidade de Kassel. Criado em 2004, o mestrado foi o primeiro passo para a construção de uma ambiciosa rede de treinamento chamada Universidade Global do Trabalho (em inglês, GLU – Global Labour University). Outros dois pesquisadores do IOS também estão cursando mestrado por meio deste projeto: Daniela Sampaio, na África do Sul, e Luciana Hachmann, na Alemanha. Em retrospecto, as melhores pesquisas realizadas pelo Observatório Social – no sentido de obtenção de informações e de resultados para os problemas identificados – foram aquelas em que as empresas tiveram participação ativa. “Nossa expectativa para o futuro é convencer as empresas a colaborarem mais”, diz Kjeld. “Como elas têm uma imagem a preservar, gostaríamos que percebessem que é vantajoso para elas se submeter à análise”. Outra meta do IOS é ampliar as atividades em redes de pesquisa e ação na América Latina e em outros continentes. “A perspectiva de termos informações em nível continental e a possibilidade de ações concretas a partir dessas informações pode permitir, em médio prazo, termos um sindicalismo com ações internacionais comuns e negociações coletivas da mesma forma”, comenta. Ele também espera uma aproximação maior com os sindicatos de trabalhadores. brasileira na categoria observadora – stakeholder Trabalhadores. Fevereiro – Pesquisadora Daniela Sampaio, do IOS, segue para a África do Sul para cursar mestrado pelo projeto GLU (Global Labour University, Universidade Global do Trabalho). Março – Sede Regional Florianópolis é desativada. Participação na V Semana da Mulher, na Unesp de Marília, SP, e no seminário “A criação do Programa de Prevenção e Atendimento à Violência Doméstica contra a Criança e o Adolescente”, em São Paulo. Abril – Apresentação do artigo “Índice de Trabalho Decente nas Empresas: proposições para uma metodologia”, em seminário da GLU (Global Labour University, Universidade Global do Trabalho) na África do Sul. Maio – I Seminário Internacional para Apresentação de Dados Parciais do Projeto Multinacionais e Meio Ambiente (AMA). Constituição de um grupo de reflexão sobre RSE com dirigentes sindicais e assessores. Junho- Artur Henrique assume a Presidência do IOS em substituição a Kjeld Jakobsen. Participação na Conferência Internacional do Instituto Ethos sobre RSE. Participação no seminário “A Agenda Nacional de Trabalho Decente e os trabalhadores”, promovido por OIT-Brasil e Actrav e organizado pelo Dieese. Participação no seminário “A Agenda Nacional de Tra- 14 Presente e futuro C onstruir um instituto de pesquisas para monitorar o comportamento de corporações foi um desafio enorme, recorda Odilon Luís Faccio, coordenador institucional do Observatório Social até 2005. Por um lado havia um contexto favorável, com debates sobre a vinculação entre comércio e direitos. Por outro, lidar com multinacionais requeria uma sofisticada competência técnica. “Lidávamos com empresas gigantescas contando com uma equipe pequena, poucos com dedicação exclusiva”, lembra. Odilon considera que a parceria com o mundo acadêmico – via Cedec e Unitrabalho – foi decisiva, pois trouxe profissionais de grande qualificação. Assim foi possível criar parâmetros de pesquisa que garantiram resultados confiáveis. Era necessário compatibilizar as expectativas dos sindicatos, de curto prazo, com a natureza dos estudos, que requer tempo, recursos e resultados fidedignos: “A multinacional só negocia quando se cria confiança entre as partes, isto é, quando se trata dos temas de maneira madura e responsável”, diz. Essa equação foi re- Uma história de desafios solvida com o desdobramento da metodologia em vários tipos de pesquisa, para lidar com a diversidade da estrutura produtiva das empresas. Repercussões internacionais Os resultados geraram excelentes repercussões: “Hoje as centrais sindicais de diversos países –Holanda, Alemanha, França, Itália, Estados Unidos, Chile, Argentina – reconhecem o Observatório como uma experiência inédita realizada com competência e qualidade”. A “latinização” por meio de parcerias nos países vizinhos é apontada por ele como um avanço importante. Odilon Faccio atualmente é diretor do Instituto Primeiro Plano, que lida com Responsabilidade Social Em- presarial e desenvolvimento sustentável. Ele propõe para o Observatório Social um desafio para o futuro: reforçar alianças com os consumidores. “O que mais afeta a empresa é a hora da venda, quando se gera resultado e lucro, e isso é decisivo para o trabalho dentro das fábricas”. Dieese O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, também tem acompanhado de perto a trajetória da organização – foi coordenador técnico por vários anos. Ele aponta três dimensões importantes: “Em termos de movimento sindical o Observatório representou a construção de um novo instrumento para apoiar a luta dos sindicatos na regulação das relações de trabalho com as empresas; para o Dieese foi um desafio criar uma metodologia de pesquisa que permitisse um olhar técnico sobre a performance sócio-ambiental das empresas sob a ótica dos trabalhadores; foi também muito importante a oportunidade que o Observatório criou, na sua institucionalidade, de trabalhar de forma cooperada com instituições de perfil acadêmico, sindical e de pesquisa”. Saiba mais Um resumo das principais informações sobre o Observatório Social está organizado em uma página web na forma de perguntas e respostas. Caso você tenha outras dúvidas, deixe sua questão e ela será respondida. http://www.os.org.br/portal/faq-ios.htm balho Decente e os trabalhadores”, promovido por OIT-Brasil e Actrav e organizado pelo Dieese. Agosto – Seminário sobre biocombustíveis e inclusão social. Novo site do projeto Conexão Sindical. Setembro – Sexta Reunião da RedLat, em Lima, Peru. Incorporação de novos projetos, preparação dos novos estudos e discussão de apoio a ações sindicais. Pesquisadora Luciana Hachmann, do IOS, segue para a Alemanha para cursar mestrado pelo projeto GLU (Global Labour University, Universidade Global do Trabalho). Outubro - Relatórios da pesquisa sobre a cadeia produtiva do alumínio na região Norte.Participação no seminário “A Agenda estadual de Trabalho Decente da Bahia e os trabalhadores”, promovido por OIT-Brasil e Actrav e organizado pelo Dieese. Novembro - Participação na 5ª Confe- rência da ISO 26000 de Responsabilidade Social, em Viena, Áustria. Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical. Sétima reunião da RedLat. Seminário Internacional do Projeto AMA – Multinacionais e Meio Ambiente. Organização do seminário do projeto IOS/OIT sobre Monitoramento dos Signatários do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Comemoração dos dez anos do IOS. 15 Pesquisa Inédita O que pensam os trabalhadores sobre Trabalho Decente, Responsabilidade Social das Empresas e Meio Ambiente. O levantamento realizado pelo Instituto Observatório Social no 9º ConCUT também verifica a inclusão digital. Metade dos entrevistados aponta a reforma sindical e a trabalhista como temas prioritários na agenda da CUT. O conceito de Trabalho Decente é associado a salário adequado, trabalho produtivo e tratamento digno no emprego. 16 Raio-X sindical U ma pesquisa do Instituto Observatório Social1 com os delegados presentes ao 9º Congresso Nacional da CUT (ConCUT), realizado de 5 a 9 de junho de 2006, em São Paulo, registrou a percepção dos dirigentes sindicais quanto aos temas do Trabalho Decente, Meio Ambiente e Responsabilidade Social Empresarial. Também foram incluídas questões sobre o grau de informatização dos sindicatos. Uma das conclusões é que os dirigentes sindicais sabem o que é Trabalho Decente, mesmo sem conhecer o conceito da OIT (Organização Internacional do Trabalho). O interesse demonstrado indica que estariam abertos a participar das agendas nacionais e internacionais relativas ao tema. A pergunta sobre o que entendem por trabalho decente teve duas principais respostas: 1. salário adequado e trabalho produtivo; 2. tratamento digno no emprego. Percebe-se que a Ana Yara Paulino, Lilian Arruda, Regina Queiroz, Ronaldo Baltar * abordagem dos temas relacionados ao meio ambiente nos sindicatos cutistas ainda precisa ser amadurecida. A inserção do item meio ambiente nas negociações coletivas ainda é pequena e são poucas as categorias que conseguem incluir cláusulas ambientais em seus acordos coletivos. Os sindicatos, internamente, discutem pouco a questão. Sobre Responsabilidade Social das Empresas (RSE), 82% dos respondentes entre todos os ramos afirmaram que seus sindicatos nunca foram procurados por empresas para tratar de ações relativas ao tema. Entretanto, em alguns ramos, como o dos urbanitários, 42% dos entrevistados disseram que foram procurados. A pesquisa demonstra a fragmentação de opiniões que os trabalhadores têm a respeito do movimento de RSE. Isto se dá principalmente porque há vários graus de comprometimento, eficiência e propósito das empresas ao estabelecerem suas políticas de RSE. Uma busca sistemática por formação e informação a respeito poderia qualificar o debate. UNIVERSO DA PESQUISA O 9º. CONCUT recebeu 2.491 delegados, representando 1.633 entidades. Quatrocentos delegados foram entrevistados de forma aleatória pela equipe do IOS com um questionário padrão. A pesquisa tem margem de erro de quatro pontos percentuais e meio para cima ou para baixo. Foram entrevistados delegados sindicais de dezessete ramos da CUT. Mais de 70% dos entrevistados têm origem nos ramos da Administração Pública, Rurais, Financeiro, Comércio e Serviços e Metalúrgicos. Quase 70% eram do sexo masculino e 80% tinham entre 30 e 49 de idade. A distribuição dos dirigentes por raça/cor da pele foi pesquisada segundo a autodeclaração, de acordo com o sistema de classificação do IBGE. A desigualdade da distribuição dos delegados entrevistados por gênero também foi observada em relação à raça/cor. A proporção de homens por mulheres varia de 1,9 homem para cada mulher declarada branca; e de 2,1 homens para cada mulher entre os que se disseram pardos e de 3,6 homens negros para cada mulher negra. MULHERES NEGRAS ESCOLARIDADE Excluindo-se a proporção de pessoas autodeclaradas como indígenas e amarelas, pela baixa representação na amostra, a variação da proporção entre brancos e pardos estava em dois homens para cada mulher no 9º ConCUT. Entre os que se disseram negros, a proporção sobe para 3,6 homens por mulher, revelando uma baixa participação de mulheres negras em comparação com as demais classificações por raça/cor da pele. O número de brancos é mais concentrado nos ramos Educação Privada, Vestuário, Comunicação e Informação, e Alimentação. Nos ramos Construção e Madeira, Rurais, Saúde Privada, Químicos e Transporte, os brancos, negros e pardos, indígenas e amarelos estiveram melhor distribuídos. Nos ramos Administração Pública e Urbanitário estão mais próximos da média amostral; no de Extração Mineral há maior concentração de negros e pardos. Do total de entrevistados, 11,6% possuíam formação fundamental; 32,9% nível médio; 55,4% tinham nível superior, dos quais 44,3% graduação e 11,1% pós-graduação. Entre aqueles com menos de 29 anos e com 60 anos ou mais, quase não há dirigentes com formação de nível fundamental. Os ramos que apresentam maior índice de delegados com escolaridade de nível superior são Educação Privada, Financeiro, Comunicação e Informação, Administração Pública, Seguridade Social e Químico. Os ramos Rurais; Extração Mineral; Transporte; Construção e Madeira; e Vestuário têm maior número de dirigentes com nível fundamental. Se confrontada a escolaridade com a distribuição de raça/cor da pele, verifica-se que os ramos com maior índice de negros e pardos são os que têm menos dirigentes com formação superior. *Sociólogos pesquisadores do Instituto Observatório Social. 1 Participaram em diferentes etapas dessa pesquisa – da concepção à análise dos resultados –, os seguintes técnicos do Observatório: Alexandre Barbosa, Ana Iervolino, Ana Yara Paulino, Daniela Sampaio de Carvalho, Darlene Ramos Dias, Amarildo Dudu Bolito, Elizabeth Avelino, João Paulo Veiga, Lilian Arruda, Luciana Hachmann, Marco Sayão Magri, Mônica Corrêa Alves, Regina Queiroz, Ronaldo Baltar, Vicente Gomes Macedo Neto e Walter André Pires; o apoio de Ana Luiza Cernov e Jeanine Will também foi fundamental. 17 O QUE VOCÊ ENTENDE TRABALHO DECENTE NA AGENDA Segundo a OIT, Trabalho Decente é aquele exercido de forma digna, sem discriminação de qualquer espécie, em condições de segurança, remunerado de forma adequada, em ambiente seguro, com liberdade, resguardando os laços de sociabilidade e diálogo social, fomentando a eqüidade e valorizando os direitos fundamentais do trabalho. Essa definição foi estabelecida na Agenda Hemisférica de Trabalho Decente, apresentada em maio do ano passado em Brasília na XVI Reunião Regional Americana da entidade e reiterada na 95ª Conferência Internacional do Trabalho (Genebra, 31 de maio a 16 de junho de 2006). O conjunto de questões sobre o Trabalho Decente tinha por objetivo captar a forma como os dirigentes compreendiam o conceito e qual a relação que estabeleciam com a agenda sindical. Em primeiro lugar, perguntou-se aos delegados do ConCUT o que eles entendiam por Trabalho Decente, sem estímulo ou comentários adicionais. As respostas reforçam a idéia de que as pessoas sabem, sim, do que se trata e/ou desejam quando se referem a Trabalho Decente. E que, independentemente da tradução do termo para o português, ele tem consistência de expressão em si mesmo. As 400 respostas foram analisadas e posteriormente classificadas segundo dez subtemas. Em primeiro lugar, 35,3% dos entrevistados mencionaram salários adequados e trabalho produtivo; 34,5%, tratamento digno no emprego. Se a esses acrescentarmos proteção social (13,9%), alcançamos 83,8% dos en- 18 ALGUMAS RESPOSTAS: “Todo trabalho de uma categoria organizada é um trabalho decente”. “Trabalho com menor mais valia possível”. “Trabalho feito com democracia e autonomia sindical”. “Trabalho feito com responsabilidade, transparência (finanças) e democracia”. “[Trabalho Decente] É tudo que não temos. Deve ser trabalho com qualidade, que seja estimulante. É o contrário do que temos”. “Um trabalho que gera orgulho e não gera vergonha”. “Trabalho com condições dignas, com salário justo e num ambiente democrático”.. trevistados! Diálogo social e relações no ambiente de trabalho (4,4%), jornada decente (3,9%) e trabalho seguro (3,6%), somados aos anteriores, alcançam 95,6% das respostas! Em resumo, para os delegados cutistas Trabalho Decente pode ser assim definido, tomando-se as palavras de dois sindicalistas: - “Poder entrar na empresa, dizer ‘bom dia’ou ‘boa tarde’ e poder executar suas tarefas de cabeça erguida. Ter liberdade para beber água, boas relações com o patrão, bom ambiente”; e - “Com carteira assinada, ambiente de trabalho que não seja insalubre, garantia de alguns direitos, mesmo que não sejam da CLT – plano de saúde, transporte etc. – e com liberdade de organização”. POR TRABALHO DECENTE? CONVERGÊNCIA DE PROPÓSITOS A metodologia de pesquisa do Instituto Observatório Social visa o aprimoramento constante da forma de se verificar o comportamento de empresas nacionais e multinacionais quanto aos direitos fundamentais dos trabalhadores (liberdade sindical, negociação coletiva, discriminação de gênero e raça, trabalho forçado e infantil). E, ainda, saúde e segurança no trabalho de acordo com as convenções da OIT, mais a visão sindical sobre o comportamento sócio-trabalhista e ambiental da empresa. Assim, a possibilidade de verificar o comportamento empresarial dentro das dimensões do conceito de Trabalho Decente converge com o propósito do Observatório. O foco da agenda proposta pela OIT para o Trabalho Decente orientase fortemente para países onde as garantias dos direitos fundamentais do trabalho não estão asseguradas, como os da América Latina, África e Ásia. No Brasil, as questões do Trabalho Decente aparecem mais vivamente nos problemas relacionados à violação dos direitos humanos – principalmente o trabalho forçado e o tra- balho infantil – , no problema da redução da pobreza e nas questões referentes às desigualdades – sobretudo de discriminação de gênero e de raça/ cor da pele. INTERESSE NO TEMA Apesar de terem respondido espontaneamente de forma tão coerente sobre Trabalho Decente, quando perguntados se conhecem o conceito de Trabalho Decente da OIT, a maioria dos sindicalistas declarou pouca familiaridade com ele. O grau de desconhecimento do conceito da OIT é de aproximadamente 80% tanto para homens quanto para mulheres. A diferenciação no conhecimento do conceito se dá nos ramos. Os delegados dos Químicos e Educação Privada apresentam grau de conhecimento acima da média da amostra. A pesquisa aponta que há muito interesse e espaço para aprofundar a discussão em torno do conceito de Trabalho Decente no meio sindical pois, do total de entrevistados, 97% declararam que gostariam de conhecer mais sobre o tema. Percebem também que os que podem se beneficiar com o tema são os sindicatos, federações, confederações e centrais de trabalhadores. Isto é, há bastante disposição para campanhas, oficinas de formação e outras ações. Este tema não aparece para os dirigentes como exclusivo para beneficiar empresas ou governos, com exceção dos delegados do ramo do Vestuário. 19 SINDICATOS E MEIO AMBIENTE No 9º. Concut, o tema Meio Ambiente foi pesquisado tendo como base a Comissão Nacional de Meio Ambiente, criada pela CUT em 1991, vinculada à Secretaria de Políticas Sociais da CUT Nacional. Em 1992, com a realização de seminários preparatórios para a ECO92 e depois com a Conferência Nacional de Santos, foram feitas diversas deliberações de caráter político e organizativo para a ação sindical em relação ao meio ambiente. O objetivo da pesquisa foi avaliar se, depois de 14 anos, tais deliberações se tornaram objeto efetivo da ação sindical, refletida nos acordos coletivos ou em medidas indicadas na Conferência de 1992. A maioria dos ramos pesquisados não conseguiu incluir, nos acordos coletivos, cláusulas ligadas às novas 20 tecnologias de redução de poluição: entre 16 ramos, sete responderam afirmativamente. As categorias que conseguiram resultados mais favoráveis foram os Metalúrgicos e os Químicos. Mesmo nas categorias que conseguiram incluí-las, entre os entrevistados a resposta afirmativa foi minoria: metalúrgico, 31,2%; Químico, 26,3%; Transporte, 22,2%; Construção e Madeira, 20%; Comunicação e Informação, 16,7%; Rural, 15,8%; Comércio e Serviços, 14,3%; Administração Pública, 12,3%; Educação, 12,5%; Alimentação, 10%; Urbanitários, 5,3% e Financeiro, 2,6%. A inclusão de cláusulas ambientais não diretamente relacionadas às novas tecnologias também não teve avanço significativo nos ramos. Elas foram adotadas em menos de 30% dos acordos coletivos. Os ramos que conseguiram resultados mais expressivos foram, mais uma vez, o Químico (58%) e o Metalúrgico (46,9%). POLÍTICA INDUSTRIAL E ENERGÉTICA Foram, também, poucos os sindicatos que conseguiram aprofundar a discussão sobre política industrial e energética, com o total de 26,6% de respostas afirmativas. Os maiores índices estão entre os Urbanitários (42%), os Químicos (31,5%) e os Metalúrgicos (25%), que são categorias tradicionalmente bem organizadas e atuam em setores da indústria de grande impacto ambiental. Quanto à elaboração de mapas de risco ambiental em conjunto com a sociedade civil, a pesquisa detectou uma atuação menos tímida dos sindicatos: o total geral de respostas afirmativas chegou a 32,2%. As porcentagens mais expressivas foram: 40% no ramo da Alimentação, 33,3% em Comunicação e Informação, 40% no setor de Construção e Madeira, 37,5% em Educação Privada, 33,3% em Extração Mineral, 53,1% entre os Metalúrgicos, 42,1% entre os Químicos, 38,6% entre os Rurais, 57,1% no ramo de Seguridade Social e 47,4% entre os Urbanitários. Quando se fala na implantação de comissões estaduais e regionais nas instâncias cutistas os números tornam-se mais expressivos ainda: a proporção é de 42,7% de respostas afirmativas. Os ramos que se destacaram foram: Administração Pública (44,7%), Comunicação e Informação (50%), Construção e Madeira (50%), Educação Privada (75%), Extração Mineral (66,6%), Metalúrgicos (50%), Químicos (47,3%), Rurais (45,6%), Seguridade Social (57,1%), Urbanitários (52,6%) e Vestuário (57,1%). Por fim, em relação à formação sindical em temas ambientais, as proporções de respostas afirmativas são as seguintes: Administração Pública, 44,7%; Alimentação, 30%; Comércio e Serviços, 34,3%; Comunicação e Informação, 50%; Construção e Madeira, 50%; Educação Privada, 75%; Extração Mineral, 66,7%; Financeiro, 23,7%; Metalúrgico, 50%; 47,4% entre os Químicos, 45,6% entre os Rurais, 33,3% entre os dirigentes de Saúde Privada, 57,1% no ramo de Seguridade Social, 11,1% no setor de Transporte, 52,6% entre os Urbanitários, 57,1% entre os dirigentes do ramo de Vestuário. A proporção global de resposta afirmativa a esse tema foi de 42,7%. SINDICATOS E RSE A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) foi tratada nesta pesquisa de modo a buscar a percepção dos dirigentes sindicais em relação a um tema colocado recentemente na pauta e que, justificadamente, está sendo tratado com bastante precaução pelo movimento sindical. Apesar de a amostra ter coberto todos os ramos de atividade, os ramos com maior número de entrevistados foram o da Administração Pública e o Rural. Esta informação é relevante quando se trata de RSE, uma vez que as políticas relativas a esse tema são ainda muito tímidas nestes setores. Em função disso, será dado destaque, quando necessário, às respostas dos ramos Comércio e Serviços, com 9,1% dos entrevistados, Financeiro (9,6%), Metalúrgico (8,1%), Químico (4,8%) e Urbanitário (4,8%) onde a implementação de atitudes de RSE é mais incisiva. A primeira abordagem do tema foi perguntar como o entrevistado/a avaliava seu conhecimento sobre RSE: 62,9% do total o consideram “regular”. Entre os ramos de destaque citados acima, 25,2% consideram “bom” o seu conhecimento sobre o tema. Esta incidência está acima do total, que é de 21,3%. Pode-se considerar, portanto, que existe uma aproximação com o tema. POUCO CONHECIMENTOS SOBRE INICIATIVAS A pesquisa buscou saber sobre uma questão central na relação entre empresas que implantam políticas de RSE e a informação para os sindicatos. Foi perguntado se alguma empresa, alguma vez, procurou o sindicato para apresentar as iniciativas em RSE. Oitenta e dois por cento dos respondentes entre todos os ramos responderam “não”. Esta informação reforça a reclamação generalizada dos dirigentes sindicais de que não são procurados pelas empresas sobre suas políticas de RSE, e também confirma a fragilidade das declarações das empresas que afirmam respeitar o direito de representação dos trabalhadores. Entretanto, nos ramos de destaque, a média de resposta “sim” (foram procurados pelas empresas) é de 30,3% o que é quase o dobro das respostas “sim” do total, 17,8%. Maior relevância ainda está nos ramos dos urbanitários, no qual 42,1% disseram ter sido procurados pelas empresas para falar sobre suas iniciativas de RSE. O conhecimento de que empresas de sua base têm iniciativas sobre o tema, nos ramos de destaque, é de 70,3% – muito superior ao total (37,2%). Portanto, pode-se afirmar que os dirigentes do ramo de destaque têm um bom conhecimento da existência das iniciativas de RSE nas empresas de sua base, mesmo não sendo informados formalmente. A extensão das políticas de RSE para a cadeia produtiva é um dos itens de maior avanço deste movimento. Potencialmente, contribui para uma articulação sindical efetiva e também como uma possibilidade de melhoria das condições de trabalho dos assalariados rurais. 21 OPINIÕES DIVERSAS Ficou demonstrada claramente a fragmentação de opiniões que os trabalhadores têm a respeito do movimento de RSE. Isto se dá principalmente porque há vários graus de comprometimento, eficiência e propósito das empresas ao estabelecerem suas políticas de RSE. Portanto, opiniões mais consolidadas não serão alcançadas tão cedo, caso não haja uma busca sistemática por formação e informação sobre o tema. Além disso, as perguntas realizadas por esta pesquisa trataram o tema de forma geral, não pontuando somente as políticas empresariais direcionadas ao público interno (trabalhadores) nem tampouco focalizando áreas importantes como meio ambiente, cadeia produtiva, comunidades e consumidores que, em última análise, são de interesse de articulação do movimento sindical e da classe trabalhadora. A pesquisa abordou outro tema importante dentro de RSE: a extensão das iniciativas para a cadeia produtiva liderada pelas empresas âncoras. Entende-se por empresa âncora aquela que é a mais importante em uma cadeia produtiva (faz o produto final), cujo poder de compra é essencial para os seus fornecedores. A SEGUIR, TODAS AS ALTERNATIVAS APRESENTADAS AOS ENTREVISTADOS E O PERCENTUAL GERAL DE RESPOSTAS: • Acham que é bom e se envolvem - 13,7%; • Acham interessante, mas não se envolvem - 24%; • Acham que é coisa só para as chefias - 1,7%; • Acham que é só propaganda e/ou marketing 18,3%; • Não entendem bem essas atitudes - 9,1%; • Não são informados sobre RSE - 6,9%; • Outros - 16%; e, • São indiferentes - 10,3%. 22 INICIATIVAS PRIORITÁRIAS PARA OS TRABALHADORES Finalmente, foi solicitado aos delegados sindicais que indicassem, por ordem de prioridade, três iniciativas de RSE que deveriam ser desenvolvidas pelas empresas. Nesta questão, dos 400 questionários aplicados, foram respondidos 296 na prioridade um, 274 na prioridade dois e 227 na prioridade três. É provável que a ausência de respostas na última questão esteja ligada à dificuldade de eleger ações das empresas por não saber exatamente do que se trata o movimento de RSE. Essa dificuldade é bem compreendida, uma vez que, por princípio, as atitudes empresariais no âmbito da RSE não devem ser confundidas e tampouco substituídas pelas pautas de reivindicações nos processos de reivindicação e negociação inerentes ao movimento sindical. Pela importância das respostas, uma vez que demonstram a expectativa dos dirigentes sindicais em relação à RSE, apresenta-se um resumo de incidências da primeira prioridade citada, por ramo: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – 87 respostas: cerca de 30 respostas indicam questões relativas ao mundo do trabalho (salário, condições de trabalho, geração de emprego, participação nos lucros e resultados, qualificação dos trabalhadores, emprego para jovens, creche); sete respostas sobre saúde e seguranças dos trabalhadores; e várias outras referindo-se a acesso à cultura, preocupação com meio ambiente, habitação, saneamento básico entre outras gerais. ALIMENTAÇÃO – 7 respostas: distribuídas entre empregos, condições de trabalho e meio ambiente. Comércio e Serviços – 26 respostas: 13 respostas com referência aos direitos dos trabalhadores (salário, qualificação, negociação coletiva etc.) e uma incidência relevante em questões sociais, predominantemente, assistencialistas (ajuda a menor carente, apoio a programas sociais com esporte, apoio às ações beneficentes, entre outras). COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO – 4 respostas: distribuídas entre iniciativas sociais, diálogo com os empregados e qualificação, reflorestamento de áreas degradadas. CONSTRUÇÃO E MADEIRA – 10 respostas: metade aponta questões dos trabalhadores (qualificação, segurança, melhor tratamento aos trabalhadores), as outras estão distribuídas entre apoio às questões sociais e ambientais. EDUCAÇÃO PRIVADA – 7 respostas: apenas duas direcionadas aos trabalhadores (como saúde e segurança ocupacional) e o restante predominantemente relacionadas às questões sociais-assistenciais. EXTRAÇÃO MINERAL – 2 respostas: plano de saúde e preservação do meio ambiente. FINANCEIRO – 31 respostas: 13 respostas relacionadas aos trabalhadores (salário digno, não demissão, política de primeiro emprego, creche, valorização dos funcionários) e uma predominância relevante sobre meio ambiente. METALÚRGICO – 30 respostas: 14 respostas estão relacionadas aos trabalhadores (cuidar da dignidade do trabalhador, creche, qualificação, respeito), as outras respostas estão distribuídas entre questões sociais e meio ambiente. QUÍMICOS – 17 respostas: 13 relacionadas aos trabalhadores (condições de trabalho, criação de emprego, combate ao trabalho infantil na cadeia produtiva, garantia de emprego, redução de horas extras etc.) e o restante relativas ao meio ambiente. RURAL – 39 respostas: 23 respostas relativas aos trabalhadores (qualificação, cumprimento de acordo, respeito, segurança, oportunidade para os jovens etc.) e o restante relativas ao meio ambiente. SAÚDE PRIVADA – 2 respostas: uma não sabe, outra saúde para a comunidade. SEGURIDADE SOCIAL – 6 respostas: todas relacionadas aos trabalhadores (condições de trabalho, qualificação, assistência médica). TRANSPORTE – 5 respostas: quatro relacionadas aos trabalhadores (qualificação, participação nos lucros) e uma sobre meio ambiente. URBANITÁRIOS – 14 respostas: cinco relacionadas aos trabalhadores (respeito ao acordo coletivo, qualificação, condições de trabalho, segurança) e as outras relacionadas ao meio ambiente. VESTUÁRIO – 7 respostas: cinco relacionadas aos trabalhadores (saúde e segurança, jornada menor, políticas contra trabalho infantil), uma sobre meio ambiente e outra sobre melhoria da saúde da comunidade. Conclui-se, portanto, que há uma expectativa de usar o espaço de políticas de RSE para reforçar as reivindicações sindicais, o que merece uma atenciosa discussão por parte dos sindicatos. Note-se que a maioria das sugestões de RSE reforçam a plataforma de Trabalho Decente, analisada anteriormente. Deve ser ressaltada também a incidência de respostas indicando expectativas de implementação de iniciativas no meio ambiente por parte das empresas. Isso demonstra uma visão dos dirigentes sindicais de que a responsabilidade frente aos impactos com o meio ambiente é mais prioritária do que as empresas se envolverem com questões sociais que, na maioria das vezes, são assistencialistas, descontinuadas e apartadas das verdadeiras necessidades das comunidades do entorno. USO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Desde 2002 o Observatório Social desenvolve iniciativas voltadas à inclusão digital dos dirigentes sindicais e à disseminação do uso de tecnologia da informação para a ação sindical. Um bom exemplo disso é o projeto Conexão Sindical (www.os.org.br/ conex), que conta com uma comunidade virtual onde os dirigentes sindicais publicam informes e trocam experiências. São mais de 90 mil acessos mensais. Nessa perspectiva, o levantamento de dados no 9º ConCUT procurou acompanhar o grau de apropriação da informática pelo movimento sindical por meio de dois indicadores básicos: a existência de e-mail (endereço eletrônico) e de homepage (sítio na internet) do sindicato. A existência de e-mail, por si só, não é um indicador de difusão da tecnologia da informação, uma vez que se trata de um recurso básico e disseminado há mais de uma década no país. 23 Contudo, a não-existência de e-mail no sindicato aponta a exclusão dos recursos digitais de comunicação e informação. Apenas 43,3% de dirigentes informaram o e-mail do sindicato ao qual pertencem. Este dado não revela a ausência efetiva da informática no cotidiano sindical, mas pode ser tomado como um indicativo de que os recursos de informática para os sindicatos parecem ainda não se constituir em um instrumento disseminado como ferramenta de ação sindical. Este dado é corroborado pelo número de dirigentes que soube informar a homepage do seu sindicato. Mais de 30% dos dirigentes do OS TEMAS PRIORITÁRIOS PARA A CUT Os temas principais que, na opinião dos delegados presentes ao Congresso, deverão compor a próxima agenda da CUT, em grande parte coincidem com assuntos voltados ao Trabalho Decente. Em primeiro lugar, metade dos sindicalistas indica as reformas sindical e trabalhista, que poderão possibilitar novas formas de organização dos trabalhadores. Em seguida, em ordem decrescente de importância, são citados: jornada de trabalho, emprego, salário, saúde e, reforçando a primeira prioridade, outras questões sindicais. Outros temas de peso apontados dizem respeito a agricultura e reforma agrária, formação sindical, política nacional e internacional, terceirização e organização no local de trabalho (OLT). CONCLUSÕES A análise dos dados obtidos na Pesquisa do Observatório Social junto aos Delegados do 9º. ConCUT ainda pode ser desdobrada em novos cruzamentos de variáveis. Pode-se aprofundar as informações por ramo e as respostas às questões abertas, nas quais os dirigentes eram convidados a expressar com suas palavras o que pensavam sobre Trabalho Decente, Meio Ambiente e Responsabilidade Social Empresarial (RSE), bem como apontar suas prioridades de luta. ramo Administração Pública a indicaram, mas, mesmo assim, 70% dos entrevistados neste ramo não souberam dizer ou indicaram que não havia homepage no sindicato de origem. Nos demais ramos, a média de indicação de homepage é menor que 6%. Isso demonstra que há espaço para se aprofundar as atividades de disseminação da tecnologia da informação como meio auxiliar para que os sindicatos, dirigentes e trabalhadores possam agilizar as formas de comunicação e articulação. 24 É importante lembrar que o tema geral do Congresso foi “Trabalho e democracia: emprego, renda e direitos para todos os trabalhadores e trabalhadoras”. No caderno das Resoluções aprovadas no 9º. ConCUT, os temas abordados na pesquisa do IOS estão todos presentes: Trabalho Decente (p. 6 e 64), Meio Ambiente (no Eixo 3 Democratização do Estado, políticas públicas e universalização de direitos” e p. 64, 74, 75 e 76), Responsabilidade Social Empresarial (no Eixo 4 – Fortalecimento da estrutura sindical e organização da CUT, p. 67-68). Os desafios estão colocados para a CUT. Com a pesquisa, o Instituto Observatório Social busca contribuir com novos elementos para subsidiar a reflexão, discussão e decisão sobre futuras práticas da maior central sindical brasileira. 25 O futuro do Observatório Social Neste ano de 2007, quando o Instituto Observatório Social (IOS) cumpre dez anos de funcionamento e apresentação de suas primeiras pesquisas, vale a pena fazermos um balanço sobre o trabalho realizado e as perspectivas para o futuro. Um dos princípios mais relevantes do Observatório sempre foi trabalhar em consonância com os sindicatos e as entidades da estrutura vertical da CUT, além de servir à própria central. Isso o torna uma instituição bastante peculiar, pois as pesquisas realizadas, além de serem feitas com a participação dos próprios interessados, em tese contribuem para aprimorar a própria ação sindical deles. Nas dezenas de relatórios que apresentamos desde 1998, via de re- gra, apareceram violações dos princípios da liberdade sindical, práticas de discriminação de gênero e raça, bem como o registro de uma alta incidência de Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Doenças Ósseo-Musculares Relativas ao Trabalho (DORT). Estas ocorrências foram detectadas nas empresas centrais, principalmente multinacionais, de diferentes cadeias produtivas, onde os salários e condições de trabalho são em geral superiores à realidade brasileira. Porém, nas pesquisas que cobriram as cadeias produtivas (fornecedores) destas empresas, freqüentemente encontramos violações de direitos de toda ordem, chegando no limite a detectar trabalho informal, infantil e escravo. Artur Henrique da Silva Santos Presidente do Instituto Observatório Social Kjeld Jakobsen Assessor especial do Instituto Observatório Social ARTIGO 27 Há uma lista expressiva de pesquisas cujos resultados os sindicatos souberam utilizar como fundamento para lutar e melhorar as condições de trabalho, bem como para garantir os direitos dos trabalhadores que representam. As pesquisas nas empresas com mais de uma unidade de negócios também ajudaram a organizar redes sindicais nacionais e a estabelecer contatos com os sindicatos das empresas matrizes no exterior. Infelizmente, houve também as pesquisas que não contribuíram diretamente para que ocorressem as mudanças esperadas no comportamento das empresas. Fosse porque os problemas verificados eram muito complexos, fosse porque as empresas dificultaram ao máximo a solução deles ou fosse porque os sindicatos não conseguiram desenvolver uma estratégia para enfrentá-los e estes são os atores fundamentais para a transformação da realidade no local de trabalho. O Observatório somente produz a informação e não as ações. Embora tenhamos realizado importantes pesquisas em empresas da Zona Franca de Manaus, no setor têxtil cearense, na produção de papel e celulose na Bahia e no setor da alimentação de Pernambuco, a maioria das que foram realizadas nos setores da indústria, serviços e agricultura ocorreram nas regiões Sul e Sudeste do país. Isto é compreensível porque acompanhamos a geografia empresarial brasileira, mas queremos diversificar este trabalho no futuro para contribuir com o fortalecimento da ação sindical em todas as regiões, particularmente as mais distantes e carentes. ALIANÇAS As conclusões das pesquisas que realizamos somente recebem tratamento se as entidades sindicais decidem aplicá-lo e isto ocorre na medida em que as empresas focadas fazem parte de suas prioridades de ação. Para aprimorar este entrosamento, a última reunião do Conselho Diretor do IOS decidiu que, entre os oito integrantes apontados pela Executiva Nacional da CUT, pelo menos quatro deles deverão ser representantes de algumas de suas confederações. Isto permitirá uma incidência maior dos ramos da CUT nas atividades do Observatório Social. Há muitas organizações sociais no mundo que acompanham as atividades de empresas multinacionais, uma vez que elas são o “motor” da globalização que afeta tanto a vida das pessoas no mundo todo e, infelizmente, muitas vezes também são as responsáveis por graves problemas sociais e ambientais. Quem não se lembra do desastre ambiental e das mortes causadas pela empresa Dupont em Bhopal, na Índia, para dar apenas um exemplo? TRABALHO DECENTE Porém, o objeto das pesquisas e a metodologia adotada pelo IOS são quase que únicos no mundo e adquiriram reconhecimento e respeitabilidade muito grande. Mesmo assim, acreditamos que sempre podemos melhorar e neste sentido estamos atualizando a metodologia para, além da análise das normas fundamentais de trabalho, também incorporar toda a agenda de trabalho decente da OIT, Sérgio Vignes RESULTADOS Estas várias constatações nos estimulam a buscar cada vez maior proximidade com os sindicatos, as redes nacionais e internacionais, inclusive as Federações Sindicais Internacionais, bem como integrar o planejamento do trabalho do Observatório com as atividades do projeto das multinacionais da CUT (CUT-Multi). MEIO AMBIENTE Um outro tema que tem sido tratado pelo IOS é a análise do comportamento O Observatório fez reportagem investigativa sobre a produção de carvão vegetal na região de Carajás 28 que considera aspectos como salário, segurança no trabalho, entre outros. Esta agenda foi reconhecida pelo Brasil e pela maioria dos países industrializados membros da OIT. Esperamos, a partir das pesquisas iniciadas em 2007, verificar como as empresas aplicam este conceito no seu funcionamento, pois isto significa implementá-lo na prática e com isto estimular os sindicatos a também ampliar sua agenda de trabalho. Tivemos uma experiência muito positiva nos últimos anos ao realizar reportagens investigativas que apontaram violações graves de direitos humanos e sindicais. Foi o caso das reportagens sobre produção de carvão vegetal na região de Carajás, no Norte do país, na mineração precária de talco em Ouro Preto – Minas Gerais e o trabalho de imigrantes bolivianos nas confecções terceirizadas na cidade de São Paulo que fornecem vestuário para grandes redes de comércio varejista, inclusive multinacional. Queremos repetir a experiência de fazer pesquisas temáticas, pois ainda há muitos nichos onde a utilização do trabalho de crianças é intensivo, como olarias, coleta de resinas, mineração, certas atividades agrícolas, entre outros. A cadeia produtiva de um importante setor agroexportador, a carne bovina, ainda é responsável por mais de 90% das incidências de trabalho escravo ou análogo a ele. Com isto queremos fortalecer o aspecto sócio-político da ação sindical, pois em muitos destes casos não há sindicatos que possam responder adequadamente aos problemas encontrados, como foi e continua sendo o caso particular dos 40 mil imigrantes bolivianos (estimativa) de São Paulo que estão praticamente abandonados à própria sorte. Eles não têm proteção nem do Estado nem de qualquer sindicato. Seria uma boa oportunidade para a CUT assumir uma iniciativa em relação a este tema que, aliás, está se tornando uma questão cada vez mais corriqueira internacionalmente. MONITORAMENTO EXTERNO Para garantir que de fato haja o cumprimento das regras estabelecidas, legal ou voluntário, é necessário que haja monitoramento externo como o que o Observatório faz. Este aspecto é fundamental para não desmoralizar os instrumentos Dauro Veras das empresas multinacionais frente aos Acordos Multilaterais Ambientais (AMAs). Estes, entre outros objetivos, visam reduzir o aquecimento global, prevenir acidentes químicos maiores e combater a destruição da camada de ozônio, preocupações que ocuparam grande espaço na mídia durante o mês de fevereiro, fruto do Relatório Global do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). Este relatório chamou a atenção para a elevação da temperatura terrestre nas próximas décadas e as graves conseqüências climáticas como secas, inundações, furacões e outras que deverão ocorrer. A lógica do trabalho que fazemos e as ações promovidas pelos sindicatos, além de lutar pelo respeito aos direitos básicos e imediatos dos trabalhadores, visa também fortalecer o controle social sobre as empresas. Defendemos que as empresas estejam a serviço do ser humano e não o contrário, como ocorre hoje. Achamos importante quando as empresas declaram que aderem a determinados tratados internacionais, como o Pacto Global da ONU e as Diretrizes para Empresas Multinacionais da OCDE. Da mesma forma quando assinam “Acordos Marco” com as Federações Sindicais Internacionais ou quando anunciam que implantarão políticas de Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Como estes tratados e acordos são de adesão voluntária, a obrigação de cumpri-los aumenta, pois alguém sempre pode argumentar que não cumpriu a lei porque não foi suficientemente coagido a fazê-lo e quando se trata de uma regra onde a adesão foi voluntária, não há justificativa para não ser coerente com o compromisso auto-assumido. As empresas têm responsabilidade sobre o comportamento de seus fornecedores de matéria-prima criados com o objetivo de fortalecer a responsabilidade social das empresas. Muitas companhias até contratam empresas de auditoria, às vezes a peso de ouro, para acompanhar o comportamento de seus fornecedores. O problema é que os auditores no fundo são empresários também e não priorizam os aspectos trabalhistas, sociais e ambientais na relação com as empresas terceirizadas e freqüentemente nem têm experiência nisto. Aí ocorrem as falhas como no caso que levantamos da ocorrência de mão-de-obra infantil na cadeia produtiva do talco, que beneficiava três importantes companhias multinacionais. Já passamos pela experiência de monitorar o comportamento de empresas com a colaboração das mesmas para a realização das pesquisas. Foi positivo porque, além de facilitar a obtenção de informações, criava um ambiente favorável para a solução de eventuais problemas. Uma vez que as pesquisas eram acompanhadas pelos sindicatos e pelas empresas, não havia como negar os problemas que eram revelados e a única alternativa era resolvê-los. Este aspecto funciona ainda melhor quando conseguimos incluir toda a cadeia produtiva nas pesquisas, pois as empresas principais têm responsabilidade sobre o comportamento de quem elas adquirem matéria-prima, peças e serviços e têm também poder para convencer os fornecedores a se comportarem corretamente. O IOS se originou do debate sobre a relação entre regras de comércio e normas internacionais de trabalho e possui uma dimensão internacional muito importante. Recentemente produzimos estudos sobre o impacto de certas negociações em andamento na Organização Mundial do Comércio (OMC) como o Acordo Geral de Comércio e Serviços (GATS) e o Acesso a Mercados Não Agrícolas (NAMA), assuntos que deveríamos continuar acompanhando devido ao seu impacto sobre emprego e direitos nos países em desenvolvimento. ATUAÇÃO GLOBAL Há dois outros temas de grande dimensão onde devemos nos envolver também no futuro próximo. Um é o monitoramento do comportamento das empresas multinacionais brasileiras no exterior e o outro é o acompanhamento dos impactos das relações comerciais da China com o Brasil. A Rede Latino-Americana de Pesquisas em Multinacionais (RedLat), que começamos a estabelecer em 2005 com participantes do México, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Uruguai, além do IOS, apresentará seus primeiros relatórios este ano. Necessitamos ampliar o número de pesquisas desta rede e estar preparados para ampliá-la quando for possível. Também estamos envolvidos com a criação de uma “Wikipedia” sobre empresas multinacionais junto com institutos de pesquisas sindicais e universidades dos Estados Unidos, Inglaterra, Colômbia e Holanda – deverão se agregar também algumas instituições da África do Sul e Hong-Kong. Por fim, junto com a CUT e a Unicamp, apoiamos a criação da Universidade Global do Trabalho (GLU), que oferece cursos de mestrado em economia e trabalho para dirigentes e assessores sindicais em cursos que se realizam na Alemanha e África do Sul. Em 2008, deverá ter início o curso na Unicamp e o IOS se responsabilizará pela disciplina “Trabalho e Multinacionais”. Amplia-se assim a possibilidade de maior cooperação com o mundo acadêmico internacionalmente, como já teve início através do convênio assinado com o Institute for International Studies (ISS) da Holanda. 29 ENTREVISTA “O IOS é um poderoso instrumento ARTUR HENRIQUE Presidente do Instituto Observatório Social O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, assumiu a Presidência do Instituto Observatório Social em junho de 2007. Substituiu Kjeld Jakobsen, que esteve à frente da organização durante quase dez anos. Técnico eletrotécnico, sociólogo, Artur iniciou sua atividade sindical em 1983. Foi presidente do Sindicato dos Eletricitários de Campinas, secretário de formação da CUT São Paulo e secretário nacional de organização da CUT, dentre outras atividades. Nesta entrevista ele faz um balanço dos dez anos do Observatório e fala sobre suas prioridades à frente da organização. 30 IOS – Por que o Instituto Observatório Social é importante para a CUT e para os trabalhadores? Artur – Assim como o capital está globalizado, é necessário que haja uma articulação consistente entre os trabalhadores de empresas que atuam em diferentes países. Esse é um elemento importante da atuação do IOS, pois ele faz essa articulação. Outro ponto é que desenvolvemos uma metodologia científica de acompanhamento da atuação das empresas quanto à legislação, às convenções internacionais e às práticas ambientais. O Observatório não envolve apenas a CUT; também uma série de parceiros importantes, como ongs e universidades. É claro que esse trabalho não substitui a ação sindical. Mas o Observatório é um poderoso instrumento para as organizações sindicais, pois elas podem utilizar os resultados das pesquisas como forma de aprimorar as relações de trabalho. IOS - Na sua avaliação, quais foram as principais conquistas do Observatório Social nesses dez anos de existência? Artur – O Observatório conseguiu chamar a atenção para diversos aspectos ligados às cadeias produtivas de grandes empresas. Eu destacaria a identificação de trabalho precário na confecção das roupas da C&A, a ocorrência de trabalho infantil na base da cadeia produtiva de multinacionais como Basf, FaberCastell e ICI, a ocorrência de trabalho escravo no setor siderúrgico. A divulgação desses problemas deu grande visibilidade ao Observatório Social. Isso permitiu que a CUT realizasse ações conjuntas com o Ministério do Trabalho, Ministério Público e Organização Internacional do Trabalho (OIT) no enfrentamento para os sindicatos” do problema e pressionasse as empresas para acabar com formas de trabalho indecente. Atualmente, o Observatório Social é uma organização com imensa credibilidade. IOS – Qual é a sua visão sobre os passos que o Instituto deve dar nos próximos dez anos? Artur – Em primeiro lugar, seguir em frente com a linha de trabalho que está sendo realizada. Depois, ampliar as parcerias, de modo que a organização não fique dependente de poucas fontes de financiamento, como acontece atualmente. Também devemos ampliar o espectro de pesquisas, incluindo não apenas multinacionais, mas também empresas nacionais. IOS – Como os sindicatos, federações e confederações de trabalhadores poderiam utilizar melhor os serviços do IOS? Artur – Temos que realizar pelo menos duas ações fundamentais para que isso aconteça. A primeira é fortalecer a comunicação. Devemos utilizar cada vez mais instrumentos de comunicação para que trabalhadores, sindicatos e federações tenham acesso ao trabalho desenvolvido pelo Observatório. Eu destacaria como ferramentas principais a revista, o portal de internet e o Conexão Sindical, um instrumento fundamental para o movimento sindical e para a CUT. A gente sabe da fragilidade em que se encontra grande parte dos nossos dirigentes em relação à informática e à internet. Estamos numa geração de dirigentes que não estão familiarizados com as novas tecnologias da informação. Muitos deles têm medo da internet. O projeto Conexão Sindical é um instru- mento de grande utilidade para o movimento sindical. A segunda ação e ampliar a representação dos ramos da CUT, seja do comércio, da indústria, de serviços ou da agricultura. Se a gente conseguir trazer a representação dos ramos para dentro do Observatório, o trabalho será melhor aproveitado pelo movimento sindical. IOS – Que avaliação você faz sobre sua gestão como presidente da CUT? Artur – Conseguimos, nesse primeiro ano de mandato, retomar a iniciativa de, mantendo a autonomia, unificar e articular tanto a mobilização quanto o processo de negociação. Iniciamos o mandato com a luta pelo trabalho de unificar, junto às demais centrais, uma agenda do desenvolvimento. Queremos um crescimento com distribuição de renda, valorização do trabalho e respeito ao meio ambiente. Também começamos a campanha pela pauta dos trabalhadores, que incluía a luta contra a chamada emenda três, quase uma reforma trabalhista em quatro linhas. Outra luta que estamos realizando é a contrariedade a algumas ações do governo federal, como o projeto que limita o gasto do funcionalismo público em 1,5%. Conseguimos vencer uma batalha bastante grande em relação a isso. Também atuamos na ratificação da convenção 151 da OIT, uma bandeira histórica da CUT, que é a garantia da negociação coletiva no setor público. Também pretendemos fazer no final do ano uma grande marcha a Brasília envolvendo as demais centrais sindicais, cujo tema deve ser a redução da jornada de trabalho, o combate à informalidade e a geração de empregos formais. 31 Trabalho Infantil Basf aceita reavaliar monitoramento da cadeia produtiva O compromisso foi firmado pela empresa com a Rede de Trabalhadores na América do Sul, a Icem e o Observatório Social Um ano depois da publicação, pelo Instituto Observatório Social, de reportagem sobre a exploração de trabalho infantil em Ouro Preto (MG) por fornecedores de três multinacionais, a Basf concordou em reavaliar o monitoramento de sua cadeia produtiva. O compromisso da empresa de origem alemã com a Rede de Trabalhadores Basf na América do Sul, com a Icem (Federação Internacional dos Trabalhadores das Indústrias Químicas, Energia e Mineração) e com o IOS foi firmado em documento no dia 1º de fevereiro. As partes definiram em comum acordo que s e r ã o apresentadas e debatidas sugestões para aprimorar o programa 32 AQF – Avaliação e Qualificação de fornecedores, utilizado há muitos anos pela empresa. "Se necessário, o instrumento será alterado", diz a nota conjunta. Ficou acordado que os temas Fornecedores e Terceirização continuarão sendo pontos permanentes no Diálogo Social Regional. Basf, Rede de Trabalhadores, Icem e IOS reafirmam sua disposição de "manter e aperfeiçoar o diálogo aberto e transparente, assegurando a melhoria contínua". Também se concordou que, no futuro, esse tipo de denúncia, antes de ser divulgada publicamente, deva ser objeto de uma análise da empresa e da Rede, com o objetivo de adotar medidas eficazes para coibir qualquer prática inadequada. Fotos: Sérgio Vignes Entenda o caso Em fevereiro de 2006, uma reportagem do Observatório Social mostrou como a exploração de mão-de-obra infantil em minas de talco, na região de Ouro Preto (MG), entrava na cadeia produtiva das multinacionais alemãs Basf e Faber-Castell e da britânica ICI Paints, controladora da Tintas Coral. A existência de trabalho infantil no município é fato notório há pelo menos uma década. Tintas Coral e Faber-Castell decidiram romper relações com os fornecedores de talco, tomaram medidas para reforçar o controle da cadeia produtiva e repudiaram com veemência o uso de trabalho infantil. A FaberCastell também fez doações de material didático para as escolas da região. A Basf, entretanto, informou que preferia aguardar manifestação das autoridades sobre a veracidade dos fatos antes de tomar quaisquer medidas. Em agosto uma liminar da Justiça de MG mandou apreender a revista em que foi publicada a denúncia, atendendo pedido do Ministério Público Estadual. A alegação era que a reportagem e as fotos teriam sido "forjadas", expondo as crianças a constrangimento e causando prejuízos à comunidade. O Observatório Social considera a liminar um ato de censura e recorreu da decisão. Em outubro a reportagem recebeu menção honrosa no Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, o mais importante do gênero no país. Em novembro o Ministério Público do Trabalho (MPT) de Minas Gerais confirmou a autenticidade da denúncia. Também intimou as três multinacionais a firmar compro- misso de monitoramento de seus fornecedores. Repercussão: trabalhadores "A coordenação da Rede de Tr a b a l h a d o r e s sente-se recompensada pela realização dessa reunião e os compromissos assumidos, já que o caso da denúncia do trabalho infantil envolvendo a cadeia produtiva do talco foi marcado por algumas posturas incompreensíveis por parte da empresa", diz nota divulgada pela Rede Sul-Americana após a assinatura do documento. A participação dos trabalhadores no monitoramento da cadeia produtiva era uma reivindicação da Rede desde o 12º Diálogo Social, realizado em dezembro de 2005 em Lima (Peru). Na época, segundo a Rede, já existiam denúncias de que alguns fornecedores da Basf não estavam cumprindo os direitos fundamentais do trabalho. Os trabalhadores enfatizam que a Basf é signatária do Pacto Global, um acordo promovido pela ONU que busca promover um processo de globalização econômica sustentável com inclusão social. "No 13º Diálogo Social, em abril de 2006 na Argentina", prossegue a nota, "a Rede apresentou uma proposta de monitoramento da cadeia produtiva, prevendo a criação de procedimentos e ações pós-constatação para amenizar o estrago social. Mas após longo debate, a empresa afirmou que não era seu papel fiscalizar os fornecedores e que já cumpria todas as obrigações previstas na legislação. Diferente da Basf, os trabalhadores entendem que as empresas são, sim, responsáveis pelo monitoramento de sua cadeia produtiva, e não só o Estado". 33 SEMINÁRIO Biocombustíveis O Seminário Biocombustíveis e Inclusão Social, realizado no dia 24 de agosto no Hotel Braston, em São Paulo, reuniu mais de cem pessoas para debater questões ligadas ao tema. Com representantes do governo federal, ONGs, sindicatos e Petrobras, o evento tratou tanto do biodiesel quanto do etanol como instrumentos para a inclusão social brasileira. A realização foi do Instituto Observatório Social, com apoio da CUT e patrocínio da Petrobras. O painel “O Biodiesel como Alternativa Energética e de Apoio à Agricultura Familiar” contou com a presença do gerente de comunicação da Petrobras, Wanderley Antunes Bezerra; do coordenador-geral de biocombustíveis do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Jânio Rosa; do secretário de Políticas Agrícolas da Contag, Antoninho Rovaris; da coordenadora da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, Elisângela Santos Araújo e do coordenador de Direito à Alimentação da ActionAid Brasil, Celso Marcatto. Tanto a Petrobras quanto o Ministério do Desenvolvimento Agrário se detiveram em mostrar o número de famílias beneficiadas com programas sociais como o Selo Combustível Social, que visa inserir a agricultura familiar entre os fornecedores de cana. De acordo com Wanderley Antunes Bezerra, a Petrobras já compra de 70 mil famílias localizadas próximo às suas plantas em Candeias, na Bahia, Montes Claros, em Minas Gerais e Quixadá, no Ceará. Jânio Rosa, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, tratou de explicar que o programa Selo de Combustível Social tem enfoque regional e pretende oferecer aos participantes uma complementação de renda, mas com segurança no arranjo produtivo e participação das organizações. A decisão governamental, de acordo com Rosa, é que ao menos 50% da produção nordestina deverá ser comprada. No Sul e Sudeste, o mínimo é de 30% e no Norte e Centro-Oeste, de 10%. Para Elisângela Santos Araújo, da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, é importante que a participação da agricultura familiar seja assegurada. A coordenadora da Fetraf destacou que o selo social é uma oportunidade de ampliação na participação das famílias e também uma forma de reduzir a emissão dos gases poluentes. Para as famílias participantes, o selo trará geração de renda, ampliação na produção das culturas alimentícias e assessoria técnica e educacional. DESAFIOS Apesar de tantos pontos positivos, Elisângela mencionou os desafios a serem enfrentados por todo o setor sucroalcooleiro em sua expansão, como a mudança da matriz tecnológica tendo como princípio a prática agro-ecológica; 34 evitar a competição da produção de energia baseada na monocultura; privilegiar a soberania alimentar com foco em um banco de sementes; garantir preços que assegurem renda; ter mais debate com o governo e a obtenção de mais informações da relação do governo com as empresas participantes. Antoninho Rovaris, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), afirmou que a agricultura familiar nunca deterá o monopólio da produção de biocombustíveis, mas deve lutar pelo seu espaço. Ele destacou que até 2010 mais 56 usinas estão planejadas para estarem em pleno funcionamento, com possibilidade de produção de cerca de três milhões de litro. No entanto, ele acredita que o preço do diesel será o limite para o avanço do biodiesel. Rovaris destacou ainda que a agricultura familiar não e inclusão social Por Adriana Franco pode abrir mão da participação nos leilões de energia. Na opinião da Contag, muitas coisas ainda devem ser melhoradas. Rovaris citou como exemplos a defasagem no zoneamento, falta de sementes de qualidade, ausência de crédito e seguro à produção de oleaginosas, falta de pesquisas e sistemas de produção, falta de experiência no cultivo e pouca organização produtiva da agricultura familiar. Em contraponto propôs organizar as famílias em cooperativas, levar conhecimento do mercado para diminuir os custos e aumentar a produção. Celso Marcatto, da ONG Action Aid, e afirmou ser importante não só ampliar a demanda como também controlá-la. Para ele, a evolução do setor vai trazer mudanças definitivas para o País, como a entrada de transnacionais na compra e construção de usinas; a corrida internacional pelo biocom- 35 bustível e a internacionalização/desnacionalização das terras. Por isso, ele acredita que a sociedade civil e os movimentos sociais devem estar preparados para os conflitos que virão. O segundo painel, Uma política para o etanol: acesso a mercados com inclusão social, contou com a presença do professor adjunto da Universidade Federal de São Carlos, Francisco José da Costa Alves; do diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações (Ícone), André Nassar; do presidente da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), Élio Neves e do diretor da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Roberto Smeraldi. MODELO Francisco Alves começou dizendo que este é apenas mais um momento no setor, igual ao momento de ascensão anterior, o Proálcool. O professor levantou questões relevantes como se este modelo do agronegócio que está colocado é o que queremos. Já que, para ele, este modelo traz passivos tanto nas questões ambientais como trabalhistas e que não podem ser mantidos. Ele lembrou que tanto antes quanto agora o álcool é o produto principal, mas que no primeiro momento – devido à ditadura – a sociedade civil não podia discutir. O professor ressaltou ainda que já naquela época a criação de microdestilarias havia sido pensada, mas nunca fora colocada em prática. “O que foi imposto foi o agronegócio em um segundo momento do Pró-álcool.” afirmou. André Nassar, do Ícone, disse que em breve a questão do pagamento será resolvida porque o setor vai entender que é preciso solucioná-la. Para ele, o problema das queimadas também ficará para trás porque a maior questão é a da monocultura, em termos de meio ambiente. Nassar acredita que a questão ambiental da cana é a mesma dos outro biocombustíveis. “A gente jamais vai poder ver a mamona e a soja como substitutos do petróleo.” declarou. Para ele, a oportunidade do etanol está quando olhamos para a China e para a Índia, que possuem 20% da população mundial. “A discussão de combustível versus comida é um debate da China e da Índia porque o total de terra cultivável que eles têm não é suficiente para produzir alimento para toda a sua população” reiterou. O diretor-geral do Ícone ainda afirmou não conseguir ver outro modelo do agronegócio ou da agricultura familiar para o etanol. Destacou que a pressão ambiental vinda dos consumidores ainda está em processo de entendimento e aprendizado por parte dos usineiros e do agronegócio. “Se não olharmos o setor como agronegócio não encontraremos solução porque fizemos uma escolha no passado que está determinando todo o nosso futuro” concluiu. O Pesidente da Feraesp, Élio Neves, acredita que precisamos nos aprofundar cada vez mais no assunto, mas sempre pensando no País que queremos. Para ele, o capital estrangeiro está entrando aqui e nada tem a ver com o interesse do povo, tem a ver apenas com o poder porque os usineiros estão vendendo suas terras em um momento de grande valorização do mercado. “Nós adotamos um modelo terrível que chamamos de desenvolvimento e agora pagamos o preço.” disse Neves. “O que há de concreto são ape- 36 nas contratos de terra. E quem controla o setor – todo ele – são os usineiros, então os trabalhadores e fornecedores estão de fora.” Roberto Smeraldi, da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, acredita que temos que assumir nossa competitividade. Por isso, ele defende que, se tivermos que encarar a sustentabilidade, as empresas terão que encarar os custos. Smeraldi defendeu que determinados padrões deverão ser construídos pelas empresas, pois ainda não existem. Destacou que este é o momento propício para todas as discussões porque há o interesse em sentar na mesa de negociação devido ao estímulo de crescimento do setor. 37 Serviços Q Alexandre de Feitas Barbosa * Bco. Imagens / Observatório Social uando se fala das negociações da OMC no Brasil, geralmente a análise se concentra sobre os setores industrial e agrícola. Pouco se discute sobre os impactos negativos sobre os serviços. A abertura indiscriminada do setor pode agravar a precarização do mercado de trabalho e a vulnerabilidade externa do país. * Pesquisador do IOS. Texto elaborado com base no relatório final da pesquisa “OMC, Negociações de Serviços e os Riscos de Aprofundamento da Abertura para o Brasil” por solicitação do Grupo de Serviços da Rebrip (Rede Brasileira pela Integração dos Povos), em junho de 2006. 38 A OMC e os O Instituto Observatório Social vem desenvolvendo uma série de pesquisas sobre as negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e os impactos para os trabalhadores brasileiros. Depois de um primeiro estudo ter apresentado os riscos de uma “segunda abertura” decorrentes da redução de tarifas industriais, de acordo com a proposta dos países desenvolvidos nas negociações de NAMA (sigla em inglês de acesso a mercado de bens não-agrícolas) da atual Rodada Doha – para a quantidade e qualidade dos postos de trabalho gerados pela indústria brasileira; um segundo estudo focou sobre o setor de serviços, também negociado nesta organização internacional, mas de menos conhecimento do público em geral. No âmbito do Acordo Geral de Comércio de Serviços (GATS), assinado em 1995, junto com a criação da OMC, todos os países tiveram que fazer ofertas de liberalização dos seus setores de serviços. Os países desenvolvidos lograram incluir tanto serviços como propriedade intelectual, em troca da abertura do seu comércio agrícola. Hoje as negociações opõem os países em desenvolvimento que defendem os bens industriais – especialmente os que compõem o NAMA-11, com a participação do Brasil – e aqueles que continuam hesitando em abrir os seus mercados agrícolas, com a forte presença dos principais países desenvolvidos. Por outro lado, os países em desenvolvimento, que já abriram seus setores industriais e de serviços, continuam sendo “convidados” a aprofundar o processo de liberalização. As negociações de serviços, ainda que não estejam na linha de frente, podem avançar caso o restante da pauta seja destravada. Antes de vermos os riscos envolvidos, é o caso de nos perguntarmos por que os países desenvolvidos pressionam pela abertura deste setor. riscos para os trabalhadores Flexibilização e privatização aval da OMC, no âmbito das negociações da GATS. Apesar de aparentemente mais flexível que o comércio de bens, as ofertas consolidadas dos países em serviços são irreversíveis ou contam com pesadas retaliações caso um país decida, num segundo momento, “voltar atrás”. Assim se explica o princípio da “liberalização progressiva” que fundamenta o GATS. Como a maré liberalizante vem refluindo nos países em desenvolvimento, torna-se fundamental encontrar anteparos na legislação internacional, onde o “poder de fogo” dos países desenvolvidos revela-se inquestionável. Por isto, a cada cinco anos, devem se realizar negociações de serviços. Depois de 1995, iniciaram-se novas negociações em 2000, as quais foram integradas à rodada Doha. Inicialmente apenas as grandes empresas de serviços dos Estados Unidos, já nos anos setenta, defendiam a abertura do setor. A partir dos anos noventa, a União Européia soma-se à potência norte-americana, na rabeira da flexibilização e privatização dos monopólios públicos dos seus países. Essas grandes corporações norte-americanas e européias passam a buscar novas fontes de acumulação de capital, dirigindo os seus olhares para a periferia e pregando uma abertura máxima com Estado mínimo. Atuam basicamente de duas formas. Por meio da defesa de governos liberais nos países desenvolvidos em desenvolvimento, os quais produzem um conjunto de regulamentações que aumentam o raio de manobra do setor privado na definição das políticas públicas, afetando o poder aquisitivo das pessoas e o potencial de desenvolvimento econômico de um país. E também por meio da pressão liberalizante com o Sérgio Vignes Serviços estratégicos Estudo do Observatório Social focou sobre o setor de serviços O risco destas negociações – aliás, não-desprezível – especialmente para os países em desenvolvimento com mercados internos mais diversificados, é o de mais uma vez conseguir ganhos apenas módicos ou até mesmo imperceptíveis em bens agrícolas, os quais seriam aliás aproveitados por apenas algumas economias; em troca de uma especialização regressiva de suas indústrias e de uma internacionalização dos seus serviços estratégicos, sem aumento correspondente dos investimentos. No caso de serviços, ainda que a participação nas negociações plurilaterais – segundo o novo formato definido na reunião ministerial de Hong Kong, de dezembro de 2005 – não seja obrigatória, corre-se o risco de que um acordo no “apagar das luzes” da Rodada Doha acabe por abrir segmentos importantes da indústria de serviços dos países em desenvolvimento, reduzindo bastante a sua capacidade regulatória. No caso da oferta brasileira em serviços, esta tem se mostrado distante do que querem os países desenvolvidos, até mesmo quando se compara com o maior apetite negociador do país em bens industriais. A oferta revisada do Brasil em serviços não avança 39 nos setores financeiro e de telecomuo realizado sobre o GATS deve ser nicações, além de não haver disposifeito sobre os poderes Executivo e “Uma maior ção negociadora em energia elétrica, Legislativo no plano nacional, para que abertura do setor tendo o país se retirado das negocianão se chancele – primeiro, no plano serviços traria ções plurilaterais de educação e sernacional, e depois no internacional – impacto negativo viços audiovisuais. O governo tende a abertura indiscriminada do comérconsiderável sobre o a abrir o setor serviços em modo 3 – cio e dos investimentos externos no potencial de presença externa de multinacionais por setor serviços. meio de investimentos externos diredesenvolvimento tos – em vários segmentos. Por outro tecnológico nacional lado, em regulamentação doméstica, e sobre a qualidade o país atua junto com outros países dos empregos O melhor exemplo deste desem desenvolvimento, de modo a asgerados no país.” compasso se encontra no setor de edusegurar uma maior margem de manocação. Este setor tem sido aberto para bra aos poderes públicos na definição o setor privado, inclusive transnaciode regras de concorrência, subsídios, metas de universalização e parâmetros para os fornece- nal, sem qualquer tipo de controle de regulação por parte do Estado brasileiro. A educação, segundo a abordagem dores do setor privado. Quer dizer que a sociedade civil brasileira não tem o economicista predominante, tem se transformado num que temer com as negociações da OMC? Antes pelo con- mero insumo, perdendo qualquer significado em termos trário, existe o risco de que o Brasil flexibilize a sua posi- de manutenção dos valores culturais nacionais ou de conção, em virtude da própria dinâmica das negociações da tribuição para a afirmação da cidadania. Ora, soa no mínimo como um paradoxo que o goOMC, as quais podem ser retomadas a qualquer momenverno brasileiro se retire das negociações deste setor to. Vale ressaltar ainda que a oferta consolidada do Brasil no âmbito da OMC, enquanto aqui as empresas transna OMC avança no sentido de paulatinamente legalizar nacionais impõem seus parâmetros a entidades naciono plano internacional as reformas implantadas no setor nais do setor, aproveitando-se do vácuo jurídico exisao longo dos anos noventa. Ou seja, o Itamaraty apenas tente para avançar inclusive por meio da presença cotem oferecido aquilo que já se pratica no plano nacional. mercial no setor universitário, sem qualquer tipo de Isto significa que um acompanhamento tão rigoroso quanto controle ou regulação. Educação e transnacionais Exportações, Importações e Saldo Comercial do Brasil no Comércio Internacional de Bens e Serviços (em US$ milhões) - 2005 Fonte: Bacen 40 Mas quais seriam os riscos de um aprofundamento da abertura do setor serviços? Um está relacionado à deterioração do balanço de pagamentos. Trata-se, portanto, de um risco sistêmico e que afeta ao conjunto da economia e da sociedade. Observa-se, a partir do gráfico da página anterior, que enquanto no ano de 2005 o país possuía um superávit de US$ 28,5 bilhões em agricultura e de US$ 14,1 bilhões nos bens enquadrados como NAMA, o déficit no setor de serviços situava-se na casa de US$ 6,1 bilhões. Um cálculo aritmético diria que para ganhar em agricultura se abre espaço em indústria, onde nosso saldo é menor, e em serviços onde nossas deficiências competitivas são mais evidentes. Porém, as nações não são feitas à base de aritmética. Existem encadeamentos intersetoriais e um déficit de serviços mais elevado poderia elevar nossa vulnerabilidade externa, trazendo como conseqüência as mesmas políticas de sempre: juros mais elevados e maior superávit fiscal. Uma maior abertura do setor serviços traria ainda um impacto negativo considerável sobre o potencial de desenvolvimento tecnológico nacional e sobre a qualidade dos empregos gerados no país. almente dos autônomos. De outro lado, cerca de 10% dos trabalhadores do setor de serviços (4,8 milhões ou 9,5% do total), encontram-se na categoria de serviços profissionais e auxiliares. O resultado aqui se revelaria algo contraditório. Uma pequena parcela – a “elite” mais qualificada – poderia ser privilegiada com a abertura do modo 4, fornecendo serviços diretamente nos países desenvolvidos. Entretanto, uma parcela talvez mais numerosa perderia com a concorrência de prestadores de serviços mais qualificados – alguns até com rendimentos inferiores, como no caso indiano. Além disso, junto com o aumento do emprego e da renda de uma pequena elite de “trabalhadores” altamente qualificados, o país se veria às voltas com a fuga de cérebros – geralmente formados em universidades públicas – sem ter inclusive o efeito correspondente do ingresso de reservas. Setores ameaçados O impacto mais grave de uma expressiva liberalização do setor de serviços – seja na OMC, seja por conta de um abrandamento ainda maior do marco regulatório nacional – se faria sentir sobre os trabalhadores da administração pública e serviços sociais, de um lado, e dos De acordo com os dados levantados na pesquisa do serviços estratégicos de troca e circulação (telecomuniIOS, o Brasil possuía, no ano de 2004, cerca de 50 mi- cações, financeiro, energia elétrica, gás e água e translhões de trabalhadores empregados no setor de serviços, portes), de outro. Estes dois grandes subgrupos do setor representando 60% do total de postos de trabalho exis- serviços respondem por 24% e 10% dos empregos geratentes no país. Desde total de trabalhadores, observa-se dos nos setor de serviços (12,2 milhões e 4,8 milhões de que 57% (quase 30 milhões de pessoas) estão alocados trabalhadores, respectivamente). Destacam-se pelos em atividades geralmente precárias, caracterizadas pela maiores níveis salariais, de qualificação e de sindicalizabaixa remuneração e pela qualificação inferior à média ção dos trabalhadores. do mercado de trabalho. EncontramNo primeiro caso, a abertura por se aqui os trabalhadores autônomos, enquanto mostrou-se tímida. Este pride serviços pessoais, os empregados meiro subgrupo – administração púdomésticos e boa parte dos trabalhablica e serviços sociais – participou “O risco das dores do setor comércio, dominado por com entre 30% e 45% dos empregos negociações para os pequenos empreendimentos. formais gerados no setor serviços no países em A presença do capital externo período recente graças em grande desenvolvimento é o mostra-se aqui limitada. Portanto, uma medida às vinculações constitucionais de conseguir ganhos maior abertura do setor de serviços estabelecidas pela Constituição de apenas módicos em teria um impacto negativo indireto, pois 1988 para os serviços sociais, mas bens agrícolas em o excedente estrutural de força de tratambém à maior demanda por estes troca da balho seria ampliado, aumento o núbens; já nos serviços de troca e cirmero de trabalhadores informais ou culação, o quadro foi de saldo negatiinternacionalização subempregados. Ou seja, aumentaria vo de empregos formais na segunda dos serviços a concorrência, havendo uma pressão metade da década de noventa – duestratégicos.” para a queda do rendimento, especirante a onda de privatização com Trabalho informal 41 Distribuição do Estoque de Investimentos Externos Diretos no Setor de Serviços no Brasil por Segmentos no ano 2000 (em %) Fonte: Unctad. internacionalização – os quais foram apenas parcialmen- abertura plena no âmbito da OMC impediria a execução te recuperados nos quatro primeiros anos da presente dé- de uma política de re-regulamentação destes serviços já cada. privatizados com melhoria das relações de trabalho. O que diferencia este segundo subgrupo é justamente O modelo implantado de “agências reguladoras” – o processo de privatização com internacionalização que Banco Central, Agência Nacional de Telecomunicações levou a uma demissão generalizada com terceirização. (Anatel) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Na maior parte dos casos, não se gestaram investimentos – trouxe prejuízos para os consumidores, para vários dos à frente da demanda e nem se baratearam os serviços fornecedores das cadeias produtivas e especialmente para fornecidos. O crédito ficou mais caro, assim como as ta- os trabalhadores destas empresas. Relações de trabalho rifas de luz e telefone. precárias, terceirização generalizada, problemas sérios em Soma-se a este cenário os custos do trabalho meno- termos de saúde e segurança do trabalho e limitações à res – por uma combinação de novas tecnologias com pre- organização sindical foram as evidências apuradas pelo carização do emprego – e os níveis de rentabilidade das IOS, a partir das pesquisas realizadas junto a algumas novas empresas privatizadas vão às alturas. das novas empresas transnacionais de serviços que aporNo ano de 2000, após a onda de privatizações, os taram no Brasil na seqüência das privatizações. segmentos de serviços financeiros, de eletricidade, gás e Em síntese, este cenário de frágil regulação do setor água e de telecomunicações respondiam por mais de 60% público com precarização do emprego e das relações de do capital externo total investido no trabalho em setores acometidos pela setor de serviços. privatização com internacionalização Ou seja, uma abertura generalipode se generalizar para outros ser“O impacto mais zada do setor serviços poderia se faviços, além de se consolidar nos segrave da liberalização zer refletir sobre o nível de emprego tores analisados. Trata-se de um risseria sobre os de alguns setores da administração co concreto que sofre o Brasil, caso trabalhadores da pública, os quais seriam passíveis de não promova uma re-regulamentação privatização, e dos serviços sociais, os do setor público no que diz respeito administração quais passariam a se pautar pela diao funcionamento dos serviços nos pública, serviços nâmica do mercado, precarizando e segmentos considerados estratégicos sociais, demitindo trabalhadores, e fornecen– especialmente sociais e de infra-estelecomunicações, do acesso seletivo aos seus serviços. trutura – ou caso o país se curve às financeiro, energia Nos segmentos do setor de tropressões dos países desenvolvidos na elétrica, gás, água e ca e circulação, onde a privatização atual rodada de negociações da transportes.” já avançou total ou parcialmente, uma OMC. 42 Pesquisa Terceirização na saúde Ana Yara Paulino O Observatório Social desenvolveu uma pesquisa exploratória sob o título Transnacionalização e terceirização dos serviços de saúde: mapeamento das empresas de serviços fornecedoras de uma amostra de hospitais do estado de São Paulo. O estudo começou em agosto de 2006. Foi encomendado pelo ISP-Brasil (Internacional de Serviços Públicos) e financiado por vários sindicatos dos trabalhadores da saúde. O que motivou essa demanda pelos dirigentes sindicais foi a percepção da presença crescente de trabalhadores terceirizados nos locais de trabalho e a previsão de que haverá uma forte investida de empresas multinacionais de serviços no Brasil, especialmente na região Sudeste, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Algumas dessas corporações já estão presentes entre nós e vêm consolidando sua posição no ramo da saú- Observatório Social estudou a globalização e a terceirização das atividades em hospitais da Região Metropolitana de São Paulo. de: é o caso da francesa Sodexho e da inglesa RMSA (Medirest), entre outras. Um dos principais caminhos de penetração dessas multinacionais foi a expansão dos planos de saúde privados, que convivem com o SUS (Sistema Único de Saúde, criado em 1989). Por outro lado, as mudanças contínuas na legislação federal e estadual, que permitem a subcontratação dos serviços públicos desde o final dos anos de 1980, também vêm legitimando a expansão da terceirização na saúde, tais como: o PAS (Plano de Atendimento à Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo, que vigorou de 1995 a 2001), as OSs (Organizações Sociais, em 1998), as OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, de 1999), as PPPs (Parcerias Público-Privadas, de 2004) e especialmente os AMAs (Ambulatório Médico Assistencial) e ATAs (Centro de Triagem), a partir do ano passado na cidade de São Paulo. Objetivos e metodologia Os principais objetivos da pesquisa do IOS foram: 1) levantar as tendências de transnacionalização do setor de serviços de saúde e de suas principais fornecedoras em segmentos selecionados, avaliando a presença de empresas líderes multinacionais no mercado brasileiro; 2) mapear os principais fornecedores daqueles segmentos, por meio de pesquisa de campo, em uma amostra de dez hospitais (três públicos estaduais, três públicos municipais e quatro privados) da Região Metropolitana de São Paulo; 3) sistematizar alguns desafios para o movimento sindical brasileiro frente ao processo de terceirização da saúde. A metodologia da pesquisa incluiu a realização de entrevistas abertas com representantes sindicais e dos hospitais por eles indicados, levantamento de fontes secundárias e consultas a sites da Internet. Os pri- 43 44 Os serviços terceirizados A terceirização nos hospitais, que em alguns segmentos já atinge 40% dos trabalhadores, ocorre majoritariamente nas atividades de limpeza, segurança, cozinha ou serviços de nutrição e dietética (SND), serviços de apoio diagnóstico (imagem, laboratórios, bancos de sangue), entre outros. Também vem se estendendo para os serviços de transporte (remoção e/ou transferência de pacientes), manutenção de equipamentos, homecare (auxiliares e técnicos de enfermagem para cuidados domiciliares), serviços administrativos em geral, contabilidade, recepção e call centers. Mas há que frear sua extensão para as atividades consideradas fim, ou seja, de tratamento direto aos pacientes. É conhecida a luta sindical pela ampliação e manutenção dos direitos trabalhistas em nosso país. Se a terceirização de atividades – como estratégia de flexibilização das relações de trabalho para a diminuição de custos das empresas – parece irreversível na conjuntura capitalista atual, não precisa necessariamente trazer consigo a sua precarização. As cláusulas obtidas nos acordos coletivos da categoria da saúde podem ser estendidas a todos os trabalhadores da base, sejam eles contratados diretos (celetistas ou funcionários públicos) Arte a partir de foto de Marcos Meira meiros resultados obtidos foram socializados para o público sindical e convidados (destaque para participantes do SEIU americano, o Sindicato Internacional dos Empregados em Serviços) durante seminário organizado pelo ISP e IOS, na sede da ORIT (Organização Regional Interamericana de Trabalhadores), em São Paulo, em 16 de novembro de 2006. Na ocasião, também foram relatadas as inúmeras dificuldades dos pesquisadores para o acesso a informações mais precisas sobre a terceirização da saúde – número de trabalhadores terceirizados, identificação das entidades que forneciam esses serviços, se havia participação de empresas multinacionais etc. Foi sugerido pelos participantes a ampliação do escopo do projeto, com a finalidade de aprofundar as informações obtidas, através da consulta a bases de dados dos contratos de terceirização firmados pelas administrações públicas – estadual e municipal. Para isso, o IOS contou com a colaboração das lideranças do PT (Partido dos Trabalhadores) na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municipal de São Paulo, respectivamente. De toda a forma, a identificação das entidades que prestam serviços terceirizados é uma busca de “agulha em palheiro”, detetivesca mesmo, porque há um processo constante de ocultamento de suas ações, através de sucessivas fusões e incorporações, mudança de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), de sede etc. Como fontes de informações adicionais que possibilitassem a consulta nas bases de dados das administrações públicas, o IOS vem levantou informações na Junta Comercial, em cartórios de RTD (Registro de Títulos e Documentos), na Receita Federal e Agência Nacional de Saúde (ANS). Foram pesquisadas 25 entidades, das quais cinco declaradas sem fins lucrativos e 20 empresas (das quais, pelo menos as duas multinacionais citadas), todas elas nomeadas pelos entrevistados. ou terceirizados. Imagine-se o drama cotidiano vivido por esses trabalhadores sob diferentes contratos e diferentes direitos no mesmo local de trabalho, no mesmo hospital, no mesmo centro de saúde! A Agenda Internacional do Trabalho Decente da OIT (Organização Internacional do Trabalho) pode ser uma das estratégias utilizadas pelo movimento sindical a seu favor, principalmente no caso de empresas multinacionais. Torna-se também urgente a adoção de mecanismos de controle social sobre essas contratações de entidades terceiras para atividades de responsabilidade dos governos, o que começa com o acesso democrático às informações das finanças públicas, pois, como diz nossa Constituição Federal de 1988, “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”. A divulgação do relatório final do IOS dar-se-á a qualquer momento. Acredita-se que essa pesquisa-piloto poderá ser paradigmática para outros estudos que abordem a terceirização de atividades econômicas, pela utilização combinada de fontes de pesquisa não-tradicionais no mundo acadêmico e nos manuais de metodologia científica, mas bastante familiares àqueles que buscam a transparência na esfera pública. 45 ARTIGO ISO 26000 – Diretrizes para Responsabilidade Social Etapas da construção Regina Queiroz Bco. Imagens / Observatório Social A coordenadora do projeto de Responsabilidade Social Empresarial do IOS participou da Conferência da ISO 26000, em Sydney, Austrália, como observadora na representação dos trabalhadores brasileiros. Neste artigo ela relata como está sendo o processo de elaboração da diretriz e que prepara a 5ª Conferência Internacional, em novembro, em Viena. Ao centro, Regina Queiroz (Observatório Social), com o grupo de participantes da conferência 46 Em uma visão panorâmica da mais recente reunião do Grupo de Trabalho que está construindo as diretrizes internacionais para Responsabilidade Social – ISO 26000 –, ressalta-se o esforço metodológico que está sendo feito para reproduzir a crescente complexidade da sociedade mundial. Mais que especular sobre a implementação e os resultados, exitosos ou não, das diretrizes ora em discussão, o foco é sobre o processo adotado. Ele permite a oportunidade de aprendizado, aperfeiçoamento e preparação para outros eventos no cenário internacional, que estão rápida e tardiamente batendo à nossa porta – veja as questões relacionadas ao aquecimento global, por exemplo. Como chegar a um consenso ao discutir questões que sempre estiveram em pauta no jogo de interesse entre segmentos empresariais da sociedade, entre países, governos, trabalhadores, ambientalistas, consumidores? Como retomar questões históricas já superadas em sua legislação e fazê-las verdades concretas, como por exemplo, a Declaração dos Direitos Humanos da ONU, as Convenções Fundamentais do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho, a Declaração da Rio 92? Apoiados nos princí- pios como a ética, a transparência, o respeito à diversidade, a responsabilidade na prestação de contas a expressão Responsabilidade Social pode galgar o patamar de melhoramento das condições da sociedade e não ser somente um discurso bem intencionado. Para tal desafio, a dinâmica colocada em prática no processo de construção da ISO 26000, que inovou o processo de estabelecimento das normas ISO ao respeitar os elementos constitutivos da iniciativa de Responsabilidade Social – o envolvimento dos stakeholders, é um difícil e oportuno exercício cujo resultado poderá mostrar a maturidade social que nos encontramos. Panorama A 4ª Conferência do Grupo de Trabalho da ISO 26000 foi realizada entre 29 de janeiro e 2 de fevereiro de 2007 em Sydney, na Austrália. Esse Grupo de Trabalho é constituído por especialistas nas áreas de atuação dos stakeholders – trabalhadores, governo, indústria, consumidores, ongs e organismos de normalização e consultores independentes. Fazem parte, também, observadores dessas categorias e representantes de organismos internacionais e nacionais interessados no tema, como Organização Internacional do Trabalho, Confederação Internacional de Sindicatos, Pacto Global – ONU, Instituto Ethos, Global Reporting Initiative (GRI), Consumers International, Red Puentes, OCDE, Social Accountability International (SAI), entre outros. A 4ª Conferência contou com aproximadamente 300 participantes: 90 da indústria, 76 de organismos de normalização e consultores independentes, 67 de governos, 63 de ongs, 41 dos consumidores e 24 dos trabalhadores. Por gênero, estiveram 62% de homens e 38% de mulheres. Participaram representações de 37 países desenvolvidos e 28 de países em desenvolvimento. Entre os especialistas, a distribuição ficou com 141 vindos de países desenvolvidos e 159 de países em desenvolvimento. Processo e Objetivo O processo ISO para constituição de uma norma ou diretriz, como é o caso da ISO 26000, inicia com a decisão de estabelecer a norma ou diretriz e segue com várias reuniões/conferências com especialistas que constroem o consenso sobre o tema. Depois segue afunilando para decisões de comitês específicos, votação por país e, finalmente, a norma/diretriz é estabelecida pelo comitê máximo da ISO – International Standard. No caso da ISO 26000 PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO Nos dias 27 e 28 de janeiro, também em Sydney, foi realizada a reunião preparatória dos países em desenvolvimento e em economias em transição (DEVCO - Developing Countries, EIT – Economies in Transition). A iniciativa teve como objetivos revisar o estado atual da participação desses países no processo; identificar oportunidades para assegurar participação mais efetiva destes países; avaliar os riscos e oportunidades que a ISO 26000 deve apresentar para estes países; capacitar os participantes para atuar eficiente e efetivamente nos Grupos de Trabalho; e compartilhar experiências de outras iniciativas de responsabilidade social. Entre os vários tópicos de debate, dois ganharam relevância: as preocupações quanto a uma possível utilização da futura norma como restrição ao comércio internacional e a pequena participação de representantes de consumidores e de trabalhadores nas delegações nacionais destes países. de Responsabilidade Social, vários grupos são formados para cumprirem diferentes funções. Os especialistas estão distribuídos por seis grupos de força tarefa (TG – Task Group) que abarcam os seguintes tópicos: TG1 Financiamento e Engaja- mento dos stakeholders; TG2 - Comunicação; TG3 Procedimentos operacionais; TG4 - Abrangência, Contexto e Princípios; TG5 - Temas Fundamentais; e, TG6 – Orientação para Implementação. O estágio atu- al é aquele em que os especialistas elaboram uma minuta (WD – working draft) do que serão as diretrizes e buscam o consenso. Além desses e também organizados com especialistas e representantes de organismos nacionais e internacionais estão o Comitê de Edição, o Grupo de Conselho dos Coordenadores (CAG – Chairman’s Advisory Group), o Grupo de Ligação (LTF - Liaison Task Force) e mais quatro grupos de tradução para o árabe, russo, francês e espanhol. Cada país membro deve organizar um Grupo Espelho, semelhante ao grupo do processo internacional, para ampliar a discussão, envolver maior número de stakeholders interessados e divulgar o trabalho que está sendo realizado. Este Grupo Espelho deve ser instituído pelo organismo de normalização do país; no caso do Brasil, é a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. O material de trabalho nas reuniões internacionais e nos intervalos entre elas é a minuta elaborada pelos especialistas. Em cada minuta são aceitos comentários em todos os tópicos, independentemente do TG que o especialista está inscrito. Deve ser não somente a contribuição individual do especialista, mas princi- 47 palmente a síntese da discussão do stakeholder do país a que ele ou ela pertence. É neste momento que a participação ampla de todos os segmentos deve ser valorizada e efetivada. Para tanto, há reuniões periódicas convocadas pelos organismos normalizadores e discussões exclusivas de cada stakeholder. A segunda minuta (WD2), que era o objeto de discussão da 4º Conferência Internacional, recebeu mais de 5 mil comentários nas 67 páginas que a constituíam. O Grupo de Ligação elaborou uma síntese das questões relevantes (Key Topics) e enviou antecipadamente aos especialistas dos países para que discutissem com seus pares e suas delegações. Os objetivos da reunião internacional eram solucionar o maior número possível de questões relevantes e avançar na estrutura operacional para aumentar a participação, assim como a responsabilidade, transparência e credibilidade do processo. Durante a reunião em Sydney foram realizadas três sessões plenárias, três dias de reuniões dos seis TGs para discussão de suas questões relevantes específicas, encontros de stakeholders, reuniões das delegações por país, reuniões dos grupos ad hoc 48 (veja abaixo) e várias outras dos outros grupos que fazem parte do Grupo de Trabalho. Conteúdos Em sua versão final as Diretrizes para a Responsabilidade Social ISO 26000 deverá conter sete capítulos e anexos. Os capítulos são: Escopo, Referências Normativas, Termos e Definições, O contexto da responsabilidade social em que operam as organizações, Princípios de Responsabilidade Social, Diretrizes em questões fundamentais de RS (temas relevantes) e Diretrizes para a Implementação. Muitos conteúdos que compõem estes capítulos ainda estão em discussão, ou em sua essência e importância ou na sua forma de redação. Por exemplo, o tamanho e a forma do documento final é alvo de debates na medida em que deve garantir o maior número de informações (diretrizes), claras o suficiente para que o usuário e o beneficiário, mesmo os não familiarizados com o tema e aplicação de Responsabilidade Social, sintamse encorajados a adotar tais diretrizes. Como as diretrizes não são certificáveis, deve haver absoluta clareza para que não sejam re-interpretadas e adaptadas segundo interesses específicos. Conter ou não requisitos mínimos como ponto de partida para a aplicação das diretrizes é um tópico extremamente relevante. Diz respeito a estabelecer que o patamar mínimo são o cumprimento das leis nacionais e a observância das normas internacionais como as Convenções da OIT e a Declaração dos Direitos Humanos. As diferentes posições sobre este tópico pendem entre identificar claramente os requisitos mínimos citados nas referências internacionais e a sugestão de que a aplicação das diretrizes deve ser completamente voluntária, de acordo com a natureza de cada organização – boas práticas poderiam ser citadas como exemplos a serem seguidos. Apesar de já amplamente difundida a palavra stakeholder e, aparentemente, não haver dúvida quanto ao entendimento como parte interessada, como é traduzido para o português, esta definição ainda está por ser concluída. Atualmente, na minuta do documento aparece como “indivíduo ou grupo de indivíduos afetados por, ou quem pode afe- tar, a organização”. Entretanto, como a organização deve priorizar e estabelecer relações, definir políticas e apresentar atitudes com seus stakeholders, esta definição deve ser mais acurada e ser feita sob um critério acordado entre os diferentes representantes dos stakeholders participantes do processo. Outros dois importantes conceitos serão alvo de debate e busca de um resultado acordado: cadeia produtiva e esfera de influência. Ambos são relevantes para a consecução das responsabilidades das organizações em estender e influenciar positivamente outras instituições de suas relações a engajarem-se nos processos de responsabilidade social. Há manifestações de que o termo cadeia produtiva gera uma percepção de estar limitada às atividades comerciais; e esfera de influência ser um termo largamente usado no contexto dos direitos humanos e que atualmente está sob revisão da ONU. O capítulo das Diretrizes em questões fundamentais para RS (temas relevantes) abordará sete temas: Governança organizacional, Meio ambiente, Direitos humanos, Práticas trabalhistas, Práticas leais de operação, Questões dos consumidores, Envolvimento da comunidade/Desen- S Seis oficinas realizadas em 2006 serviram de reflexão sobre os desafios e possibilidades para os pesquisadores do Observatório Social. Em 2007 estão na pauta meio ambiente, grupos focais, termos de referência e trabalho decente. Ao longo de 2006, seis oficinas metodológicas foram realizadas entre os pesquisadores do Observatório Social, com a contribuição de alguns convidados. Durante os encontros, os participantes refletiram e discutiram sobre a metodologia tradicionalmente utilizada nas pesquisas do Observatório, suas possibilidades e limites. A partir daí, a equipe se debruçou sobre os novos desafios que as pesquisas em realização exigem e avançou na abordagem de outras formas pluridisciplinares de se realizar pesquisas. O objetivo principal das oficinas, segundo sua coordenadora Ana Yara Paulino (cientista social do Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - e do Observatório Social) é a formação técnica da equipe por meio da socialização das experiências dos participantes, que têm formações acadêmicas diversas, e a reflexão coletiva sobre elas. “A formação serve para todos os pesquisadores menos ou mais maduros nessa atividade - pois a reflexão é permanente”, diz Ana Yara. “Não existe uma única forma de se ‘fazer pesquisa’, mas o exercício contínuo de decisões a partir de uma prática diferenciada sempre em processo de apropriação pela equipe”. Ela lembra que as oficinas também funcionaram como espaço de reunião dos pesquisadores que desempenham suas atividades em várias cidades do país, o que foi uma conseqüência, não prevista, mas muito positiva. Metodologia em debate Primeira oficina: abril Realizada em 26 de abril de 2006, a primeira oficina partiu de como é e como foi construída a metodologia desenvolvida pelo IOS, que pode assim ser resumida: busca de concordância da empresa em foco (para facilitar o diálogo social), levantamento de dados secundários, análise documental, realização de entrevistas abertas com representantes sindicais, de CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes), de trabalhadores, das empresas e, se possível, aplicação de questionários junto a seus funcionários. A retomada da metodologia se deu, principalmente, por conta da reestruturação da equipe de pesquisa da entidade. Nesse primeiro evento, os pesquisadores João Paulo Veiga, Maria Lúcia Vilmar e Ronaldo Baltar foram os responsáveis pela exposição. Como produto efetivo da reunião, a equipe retrabalhou o questionário padrão, voltando-o para os dirigentes sindicais e trabalhadores nas pesquisas da RedLat. O mesmo depois foi discutido e modificado com os parceiros latino-americanos. Outro instrumento que recebeu atenção especial foi o da pesquisa AMA - Multinacionais e Meio Ambiente. Oficina metodológica realizada em 21 de setembro de 2006. 51 A segunda oficina, em 31 de maio e 1º de junho, focou nos indicadores das condições de trabalho nas empresas multinacionais. O objetivo era repensar a proposta de indicadores do Observatório voltados aos direitos fundamentais dos trabalhadores em grandes empresas e tentar adequá-los às questões do trabalho decente da OIT, que os engloba. Era preciso entender o conceito e, para isso, o Observatório Social contou com a parceria do Dieese. Entre os palestrantes do Dieese estavam Wilson Amorim (especialista no tema), Clóvis Scherer (supervisor do Escritório Regional do Distrito Federal e exsupervisor técnico do IOS) e Ademir Figueiredo (coordenador de desenvolvimento e estudos, membro da direção técnica). Sugeriu-se uma parceria com o Dieese e com a CUT para entender melhor tudo o que pode estar envolvido no trabalho decente. Um dos instrumentos para isso é o Fórum das Centrais Sindicais de Acompanhamento da Agenda Nacional do Trabalho Decente, que tem o Dieese indicado para a coordenação. No segundo dia, antes de a equipe do IOS retomar a proposta dos indicadores de trabalho decente, esteve atenta à palestra de Ronaldo Baltar sobre noções básicas de metodologias quantitativas, incluindo a elaboração, atribuição de pesos ou valores e validação de indicadores. As avaliações 52 Fotos: Adriana Franco Segunda oficina: maio/junho Oficina metodológica realizada em 09/11/2006, com o tema Abordagens ergológicas das situações do trabalho (São Paulo) Terceira oficina: junho Os indicadores do trabalho decente em empresas multinacionais voltaram a ser tema na terceira oficina, no final de junho (dia 28). Cada técnico do IOS analisou as propostas já feitas e sugeriu outras, a partir das dez dimensões que englobam o conceito de trabalho decente da OIT: oportunidades de emprego; não ao trabalho inaceitável (trabalho escravo e trabalho infantil); salários adequados e trabalho produtivo; jornada de trabalho decente; estabilidade e garantia do trabalho; equilíbrio entre trabalho e vida familiar; tratamento digno no emprego; trabalho seguro; proteção social; diálogo social e relações no ambiente de trabalho. Os presentes aproveitaram para avaliar a série de oficinas e seus resultados. Para a recém-chegada Manoela Justo, da sede do Rio de Janeiro do Observatório Social, a oficina foi o dia em que ela mais aprendeu: “Depois de quinze dias lendo, hoje eu entendi como funciona o Observatório”. Os mais experientes de casa fizeram um uníssono e acharam as oficinas muito importantes, como é o caso dos pesquisadores João Paulo Veiga, Ronaldo Baltar e Maria Lúcia Vilmar. João Paulo Veiga avalia que a equipe avançou muito e as oficinas uniformizaram as conversas. Para ele a oficina sobre Responsabilidade Social Empresarial (RSE) foi muito importante e, apesar de o termo de referência não estar desenvolvido, a equipe já tem uma forma definida de olhar sobre o assunto. Quarta oficina: agosto Ainda dando continuidade à apropriação do trabalho decente pelos pesquisadores, a quarta oficina voltou à construção dos indicadores em pequenos grupos, a partir de uma sistematização do tema apresentada por Ana Yara Paulino. Na ocasião, a pesquisadora do IOS Regina Queiroz falou sobre a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e sugeriu uma nova versão para o termo de referência. A quarta oficina foi realizada nos dias 23 e 24 de agosto. Quinta oficina: setembro A quinta oficina, em 21 e 22 de setembro, veio como uma resposta às necessidades recentes das pesquisas do Observatório e abordou o tema Saúde e Segurança no Trabalho. Os pesquisadores contaram com palestras de Leda Leal Ferreira, da Fundacentro, e de Laerte Idal Sznelwar, professor de Engenharia de Produção da Poli/ USP, sobre análise coletiva do trabalho e saúde e psicodinâmica do trabalho, respectivamente. Também se discutiu na ocasião os instrumentos e estratégias do novo estudo do IOS sobre condições de trabalho em empresas de alumínio na Amazônia, coordenado por Maria Lúcia Vilmar. Animado com os conhecimentos adquiridos é como Ronaldo Baltar sempre sai das oficinas, por isso acha importante aplicar concretamente tudo que aprende nas pesquisadas do Observatório. “A oficina é importante para sempre estimular nossa reflexão” conclui. “A troca de experiências é muito valiosa, assim como esse diálogo que nos faz refletir sobre nossa metodologia” complementa Maria Lúcia Vilmar. Para a pesquisadora, deve-se incorporar rapidamente as questões discutidas, pois não é possível partir para outra pesquisa com os mesmos questionamentos. A pesquisadora Leila Zidan acredita que ainda falta fazer reuniões para saber o que cada um fez com o que absorveu. Para ela, a equipe ganhou muitas coisas, mas não incorporou outras tantas e deve fazer isso. Sua colega Regina Queiroz acredita que o desafio é Sexta oficina: novembro Para fechar o ano de 2006, a sexta oficina, em 9 de novembro, tratou da abordagem ergológica das situações de trabalho e a interlocução dessa metodologia com a do IOS. Os participantes contaram com a exposição de Rémy Jean, professor e pesquisador do Departamento de Ergologia da Université de Provence, em Aix, França, e da tradução consecutiva de Maria Lúcia Salles Boudet, através do apoio do Instituto Ação Educativa. A presença do professor visitante em São Paulo foi possível pelo esforço de várias entidades, entre as quais, além do IOS, Dieese, Prefeitura Municipal de Santo André, Universidade de Brasília (UnB) e a própria universidade francesa. A parceria do Observatório com o Departamento de Ergologia não é recente. As duas instituições desenvolveram juntas, no biênio em 2003-05, um estudo comparativo internacional em uma rede multinacional de supermercados. incorporar os temas para entendê-los. Ela sugere que a equipe tome uma pesquisa e “disseque” em grupo o processo, a análise e as dificuldades. Regina avalia como positivo investir na formação da equipe, mas destaca como foi difícil se disciplinar e participar das atividades. O pesquisador Vicente Gomes também defende a formação, principalmente porque a equipe foi reformulada e é bastante jovem. As próximas oficinas metodológicas do Observatório Social vêm sendo definidas, com alguns assuntos já agendados: meio ambiente, metodologia de grupos focais, análise dos termos de referência do IOS revistos e documentos sobre trabalho decente, entre outros. É certo que elas trarão muitos outros ganhos para a equipe e, conseqüentemente, se refletirão no aprimoramento dos estudos do Observatório. 53 SEMINÁRIO INTERNACIONAL Multinacionais e Meio Ambiente Ambiente Meio Adriana Franco Projeto AMA avalia o comportamento sócioambiental de quatro corporações – Ambev, Coca-Cola, Nestlé e Unilever – em suas fábricas na América Latina. 54 E m novembro de 2007 será realizado um seminário internacional para apresentação dos resultados finais do Projeto AMA – Multinacionais e Meio Ambiente. A pesquisa, realizada pelo Observatório Social em parceria com organizações de mais quatro países na América Latina, visa acompanhar o comportamento sócio-ambiental de quatro multinacionais no setor de alimentos e bebidas: as européias Unilever e Nestlé, a brasileira Ambev e a norte-americana CocaCola. As primeiras oficinas sindicais no Brasil ocorreram no segundo semestre de 2006. Em torno de trinta questionários foram respondidos por trabalhadores e dirigentes sindicais de três das empresas participantes: Nestlé, Coca-Cola e Ambev. Em 23 de novembro, durante o evento Viva Vida, voltado à Saúde e Segurança e desenvolvido pelo Sindicato da Alimentação do Espírito Santo, em Vila Velha, trabalhadores da multinacional suíça Nestlé discutiram suas condições de trabalho. Com 21 trabalhadores presentes – cinco cipeiros, seis dirigentes sindicais e dez trabalhadores de base –, dois questionários integrantes ao AMA foram aplicados: um com metodologia desenvolvida pela RedLat (Rede LatinoAmericana de Pesquisa em Empresas Multinacionais) sobre direitos, saúde e segurança e condições de trabalho e outro específico sobre meio ambiente, tema central da pesquisa. No dia 26, em Recife, foi realizada outra oficina, na sede do Sindicato de Bebidas do Pernambuco (Sindbed). Coca-Cola e a Ambev, que juntas pos- suem quatro fábricas no estado, foram o foco. O número reduzido de participantes – seis dirigentes sindicais – permitiu que houvesse uma discussão mais detalhada sobre as duas empresas. mento dos resíduos como, segundo as declarações públicas, acontece com as outras duas empresas: na Ambev e na Nestlé. As quatro empresas multinacionais também dizem que desenvolvem acordos e projetos de educação ambiental, que incluem treinamentos periódicos de funcionários. A Unilever e a Coca-Cola declaram que também realizam atividades para conscientização da população. das por essas empresas e os compromissos assumidos são de fato colocados em prática nos países latino-americanos onde elas atuam e se os trabalhadores participam do processo. Marcos Scheppa / Sindialimentação AS QUESTÕES AMBIENTAIS SEMINÁRIO Todas as multinacionais pesquisaNos dias 8 e 9 de maio de 2007, das pelo projeto possuem uma Política em São Paulo, foi realizado o I Semináde Gestão Ambiental, ou seja, dizem se rio Internacional para a Apresentação preocupar com as questões ambientais de Dados Parciais, no qual foram apree sociais, visto que estes fatores influsentados os primeiros resultados da enciam direta ou indiretamente seus pesquisa, foi feito um balanço das ativinegócios. dades e os parceiros indicaram sugesCOMPROMISSOS O elemento natural que mais reEntre os acordos reconhecidos tões para a continuidade dos trabalhos. cebe a atenção das empresas é a água, mundialmente na área ecológica, UniO evento contou com a presença essencial nas suas cadeias produtivas. lever, Ambev, Coca-Cola e Nestlé ado- dos seguintes pesquisadores e particiPor isso, a Ambev, a Nestlé e a Coca- tam o Compromisso Empresarial para pantes: Cola declaram que reaproveitam a água Reciclagem (Cempre). Sílvia Barrientos, pesquisadora do utilizada em seus processos de produO Pacto Global, iniciativa desen- CFES/LASOS da Argentina; Francine ção. Já a Unilever afirma desenvolver volvida pela Organização das Nações Modesto, pesquisadora-estagiária; Lílian parcerias em áreas de manejo susten- Unidas, que visa promover valores fun- Arruda, pesquisadora e coordenadora tável de água. damentais nas áreas de direitos huma- do projeto; João Paulo Veiga, consultor Em suas declarações públicas, a nos, trabalho e meio ambiente, só não é técnico, representante do Instituto Unilever diz se preocupar com a emis- adotado pela Coca-Cola. Observatório Social, Brasil; Jana são de poluentes dos caminhões forneA Nestlé assina a Carta Comer- Silverman, pesquisadora da Escola cedores. A Ambev informa que procu- cial para o Desenvolvimento Sustentá- Nacional Sindical de Medellín, ra diminuir a emissão de gás carbônico vel da Câmara Internacional de Comér- Colômbia; Victor Lopez, consultor na atmosfera, utilizando-se, para isso, o cio, um documento que exige a adoção independente, Equador; e Limberg biogás, fonte de energia abundante, não de políticas, programas e práticas que Chero, pesquisador do Plades, Peru. poluidora e de baixo custo. A Nestlé diz assegurem a condução de operações Todos os países já finalizaram as que utiliza filtros de ar e substitui o óleo com respeito ao meio ambiente. pesquisas de campo e a conclusão dos combustível por gás natural no procesO Projeto AMA pretende verifi- relatórios com análises e comparações so de geração do vapor. car se as políticas ambientais divulga- das informações está prevista para 31 A Coca-Cola informa ao público de outubro de 2007. O objetivo é elaboque substitui o gás CFCrar um relatório geral 12 pelo HFC-134, sem que engloba todos os cloro e inofensivo à carelatórios dos países mada de ozônio, apesar parceiros e um relatóde contribuir para o rio executivo que conaquecimento global. terá informações reTambém declara exigir sumidas e comparatique seus franqueados vas. realizem manutenção de O Seminário seus equipamentos coInternacional para a letando os gases refrigeDivulgação dos Darantes em cilindros para dos Finais deverá serem reciclados e reuocorrer em novemtilizados. bro de 2007, juntaA reciclagem é remente com o Semializada pelas quatro emnário de Pesquisa e presas, porém a CocaAção de comemoraCola e a Unilever não ção dos dez anos do Primeira oficina sindical no Brasil do Projeto AMA, efetuam o aproveitaObservatório Social. realizada em Vila Velha, ES (novembro/2006), com o Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação de Vila Velha 55 Pesquisa & Nos dias 7 e 8 de dezembro de 2006, em Salvador, Bahia, o Instituto Observatório Social promoveu a sua sexta Conferência Internacional de Pesquisa & Ação Sindical, para discutir a Responsabilidade Social Empresarial com sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais. O tema ainda é pouco debatido e apresenta grandes desafios. Por isso, se faz necessária uma discussão ampla e aberta para fortalecer a posição de dirigentes sindicais na negociação coletiva com as empresas. Com apoio da executiva nacional da CUT, a conferência foi ao encontro do crescente interesse pelo tema por parte de empresas, principalmente multinacionais, que desenvolvem cada vez mais programas, políticas e ações de RSE. A iniciativa também foi apoiada pelo Centro de Solidariedade da AFLCIO, dos Estados Unidos; FNV, da Holanda; DGB e Fundação Friedrich Ebert, da Alemanha. O local do evento – Salvador – foi escolhido em função de dois critérios: pela preocupação em tirar a Conferência do eixo Rio–São Paulo e permitir um debate qualificado com sindicatos e movimentos sociais locais. E porque a capital baiana recebeu entre 10 e 12 do mesmo mês outro evento de grande porte com o mesmo tema: a IV Conferência Interamericana sobre RSE, patrocinada pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). CONFERÊNCIA SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A capital baiana foi sede da 6ª Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical, promovida pelo IOS para debater a RSE sob o ponto de vista dos trabalhadores e movimentos sociais. CONCEPÇÃO E PÚBLICO A Conferência foi elaborada com objetivo de promover a troca de experiência entre países latino-americanos, apresentar casos de empresas e entender como os movimentos sindical e social (ambientalistas e consumidores) se posicionam sobre o tema. Com a presença do presidente da CUT-Bahia, Martiniano Costa, e do consultor da FNV, Patrício Sambonino, e de Terri Lapinsky, representante da AFLCIO no Brasil, o então presidente do IOS, Kjeld Jakobsen, abriu a Conferência agradecendo o apoio da CUT-Bahia 56 ao evento. Saudou os trabalhadores pela conquista do governo da Bahia, fato inédito no histórico daquele estado, com a expressiva votação obtida pelo candidato do PT Jaques Wagner. Kjeld Jakobsen imprimiu o tom da Conferência ao indagar se as iniciativas de Responsabilidade Social são coerentes com a maneira com que as empresas tratam seus empregados e o meio ambiente de onde retiram insumos para produzir bens e serviços. Para que o movimento sindical possa se po- sicionar e atuar, deve entender do que trata a RSE, como funciona na prática e quais são seus objetivos, afirmou. Patrício Sambonino, consultor da FNV, explicou que a central sindical holandesa tem aproximadamente 1,2 milhão de afiliados em nove grandes sindicatos e que um dos grandes eixos do plano estratégico de 2007 a 2010 é a Responsabilidade Social Empresarial. Na América Latina, este projeto se concretiza, principalmente no Brasil, com o trabalho do IOS, que desde 2003 auxi- Ação Sindical lia o movimento sindical ao realizar pesquisas sobre esse tema. Para a FNV, a RSE não é apenas uma política com ações e programas, mas um princípio que deve balizar todas as operações das empresas e as políticas sindicais, e servir de parâmetro para todos os movimentos sociais preocupados com a melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Dessa forma, há um empenho, por parte da FNV, em revalorizar o sentido da palavra social. O termo foi muito desgastado, mas poucos conhecem o seu verdadeiro sentido. A FNV acredita que uma tarefa importante do movimento sindical é ajudar na reconstrução da dimensão ‘social’ que envolve as empresas e os movimentos sociais, buscar as implicações e desafios para a ação dos sindicatos, dentro de políticas e programas concretos. Para Sambonino, a FNV precisa introduzir o tema não só no setor empresarial, mas também entre os dirigentes e atores sociais, como as organizações sindicais. No próximo plano estratégico da FNV, a discussão sobre RSE não deve resultar apenas em uma estratégia de posicionamento por parte dos sindicatos, mas em um princípio utilizado quase como uma forma de vida que consiga envolver todos os atores sociais. Martiniano Costa, presidente da CUT/BA, apresentou a abrangência e importância daquela CUT estadual – a segunda no Brasil depois de São Paulo, em número de sindicatos (cerca de 500), com mais de quatro milhões de trabalhadores filiados. O presidente da CUT/BA mostrou-se otimista com a janela de oportunidades que a vitória do governador Jacques Wagner traria para a classe trabalhadora do Estado. A Bahia, segundo Martiniano, é um estado marcado por indicadores históricos de desigualdade como o de apresentar um dos piores índices de distribuição de renda do país. Ele citou as regiões do semi-árido, onde os plantadores de sisal, por exemplo, estão relegados à própria sorte e em péssimas condições de trabalho. Enfatizou a luta pela valorização de salário mínimo. Acrescentou que a maioria do povo baiano é negro e é essa maioria pobre que sempre foi relegada pelas elites que dominaram o estado desde sempre. Defendeu que o combate à discriminação racial deve ser uma política que passe por toda a estrutura de governo e, dessa forma, influencie toda a sociedade. Terri Lapinsky, representante da AFL-CIO no Brasil, elogiou a conquista do Prêmio Herzog de Anistia e Direitos Humanos pelo IOS com a reportagem sobre o trabalho infantil na cadeia produtiva do talco, em Minas Gerais. Em seguida, explicou que nos Estados Unidos e no Brasil é cada vez mais abrangente o tema da RSE. Nos Estados Unidos, a idéia começou nos anos 80 com a definição de princípios, e com o primeiro código de conduta empresarial e anti-discriminatório. Entretanto, esse movimento não impede que empresas como o Wal-Mart desenvolvam políticas anti-sindicais e permitam que boa parte dos seus trabalhadores nos EUA fique sem assistência à saúde. Ela contou que em 2005, durante a 5ª Conferência Pesquisa e Ação, falou sobre a Gerdau que, aqui no Brasil, é uma empresa premiada em todas as revistas sobre RSE. No entanto, nos Estados Unidos, sete fábricas da Gerdau continuam sem negociação coletiva, sem a organização de sindicatos e sem a negociação de contratos coletivos. Para Terri, o fundamental no debate sobre RSE é a questão de coerência, isto é, a empresa não pode desenvolver um projeto de RSE sobre saúde ou meio ambiente dentro da comunidade e continuar a poluir, sem benefícios ou plano de saúde para os trabalhadores. Uma empresa não pode doar parte de seus lucros no dia de Natal, depois mostrar que vai ampliar a produtividade e o voluntariado dos próprios trabalhadores e, por outro lado, permitir o emprego de crianças por fornecedores inescrupulosos. Outra questão oportuna é aquela que diz respeito à inclusão e participação dos empregados. A maioria dos projetos de RSE nos EUA não tem relação com o trabalhador, o qual só conhece o projeto se for exigido dele o trabalho voluntário, o que acontece, muitas vezes, por pressão da empresa, de uma forma bastante sutil. Nos Estados Unidos, a expectativa é a de que você deve trabalhar voluntariamente mesmo no horário em que deveria estar com a família. Essa “disposição” vai indicar as chances de sucesso na trajetória profissional do empregado dentro da empresa. As empresas americanas sempre destacam nos programas e ações de RSE em que, por exemplo, cerca de 60% dos trabalhadores são voluntários. “Seria importante saber qual é o status dos outros 40%, e como são distribuídas as oportunidades de promoção para eles se não participam diretamente do projeto”, disse. Da mesa forma, a questão da igualdade de oportunidades e as políticas anti-discriminação não entram nos programas, políticas e ações de RSE das empresas americanas. Não fazem parte do discurso empresarial e não aparecem como tema de negociação coletiva. Essas são atitudes que deveriam fazer parte da responsabilidade de uma empresa americana, mas isso não acontece. Da perspectiva do movimento sindical, o maior desafio é enfrentar as empresas que começam a afirmar serem responsáveis e desenvolverem programas e ações nesse sentido. O movimento sindical nos Estados Unidos usa todos os tipos de instrumentos também utilizados no Brasil para pressionar as empresas – as redes de sindicatos, os comitês globais, os acordos marco, as campanhas de mobilização, a denúncia etc. Terri afirmou ainda que apóia esse tipo de seminário porque a capacitação de dirigentes e pesquisadores é fundamental neste esforço de produzir massa crítica sobre RSE. Além disso, serve como uma porta de entrada, não só para as reivindicações dos tra- 57 balhadores, como também para uma mudança profunda no comportamento das empresas que resulte em um mundo mais justo e fraterno. “É importante conhecer boas práticas, dispor de algum mecanismo de averiguação dessas práticas – saber se são ‘boas’ e, assim sendo, divulgálas aos quatro cantos para que outras empresas as adotem”, disse. A OPINIÃO DOS TRABALHADORES SOBRE RSE A pesquisa do IOS com os delegados do 9º ConCUT, segundo Regina Queiroz, responsável pela área de RSE no IOS, mostra que a expressão “Responsabilidade Social”, como é amplamente divulgada, conduz a diferentes interpretações porque remete à idéia de ter responsabilidade com a sociedade de maneira geral. Entretanto, no momento em que é adjetivada pelo “empresarial”, e o conceito aparece como Responsabilidade Social Empresarial, fica mais claro o objeto de discussão. RSE é um movimento que nasce nas empresas, é articulado e desenvolvido pelas empresas, na grande maioria dos casos de forma voluntarista e sem consulta à sociedade. Em outras palavras, na prática, as empresas definem o recheio do conceito de RSE a partir de seus próprios interesses, sem levar em consideração outros atores. É esse recorte que o movimento sindical está fazendo do conceito de RSE, e é isso que aparece nos resultados da pesquisa. No entanto, o que antes era voluntário hoje está se tornando quase uma imposição do próprio capitalismo, que acaba criando instrumentos de mercado para conhecer as empresas mais “socialmente responsáveis”. Projetos, programas e ações passam a ser objeto de consideração de órgãos de avaliação de risco e do mercado de capitais, onde as ações de empresas supostamente responsáveis passam a ter maior valor, e o tema faz as empresas competirem umas com as outras. Além disso, as ações, programas e políticas de RSE começam a ser questionadas pela sociedade. É nesse momento que o tema, embora de domínio das empresas, abre uma janela de oportunidades para a sociedade e os movimentos sociais também dizerem se as empresas são ou não são socialmente responsáveis. Aqui entra o movimento sindical para denunciar as empresas que desenvolvem ações e programas de RSE mas que, na prática, desrespeitam direitos sociais e trabalhistas e destroem o meio ambiente. Outro aspecto destacado por Regina é de que é senso comum também entre os trabalhadores que RSE é apenas marketing. Essa idéia está propagada porque grande parte das atitudes tomadas pela empresas são ações sociais de ordem filantrópica sobre as quais a empresa faz muita propaganda e divulgação. Essa atitude nada tem a ver com todo o conceito de RSE que, em última análise, deve estar calcado nos princípios de transparência e da sustentabilidade sobre as operações da empresa. De fato, a percepção dos trabalhadores está correta porque filantropia não é RSE. Filantropia são ações pontuais, que não visam o lucro – fora, OS PAINÉIS Na Conferência foram realizados quatro grandes painéis sobre RSE que abordaram o tema de diferentes perspectivas: a questão das cadeias produtivas, a articulação das empresas com a sociedade civil, além das informações atualizadas sobre RSE quanto às Diretrizes da OCDE e à ISO 26000. O IOS apresentou, pela primeira vez, parte da pesquisa realizada com os delegados sindicais no 9º ConCUT – realizado em junho de 2006, quando foram levantadas opiniões dos trabalhadores sobre RSE, o conceito de Trabalho Decente e as deliberações históricas da CUT sobre a questão do Meio Ambiente. Todos os painéis foram seguidos por debates e um grande número de contribuições dos participantes. 58 portanto, das operações e da gestão da empresa, motivadas por razões humanitárias, isoladas de um contexto mais amplo de preocupações com a sustentabilidade e a transparência corporativa. O conceito de RSE é muito mais amplo. Trata das operações e da própria gestão da empresa. É essa perspectiva que permite uma intervenção da sociedade e dos movimentos sociais para avaliar se essas ações e programas são efetivamente responsáveis. Uma dúvida permanece na cabeça do dirigente sindical e do trabalhador de base. Pode realmente existir uma empresa socialmente responsável? A resposta é não. O sistema capitalista não comporta todas as exigências para uma empresa ser socialmente responsável. As empresas preocupadas com o tema vão tentar alcançar o grau máximo de sustentabilidade mas, no limite, esse patamar não pode esbarrar com a necessidade de se sustentar no próprio sistema. Dito de outra forma, as empresas não podem ser socialmente responsáveis se os programas e ações de RSE colocarem sua rentabilidade em risco. Isso não significa que não haja margem para a pressão da sociedade e os movimentos sociais não devam realizar intervenções para corrigir o comportamento das empresas. O monitoramento feito pelos trabalhadores e pelos sindicatos é a forma mais eficaz de verificar se uma empresa está cumprindo o seu compromisso de RSE. A RSE NA CADEIA PRODUTIVA A responsabilidade sobre sua cadeia produtiva é um dos compromissos mais importantes que uma empresa deve assumir quando define sua política de RSE. Apesar dessa idéia, em tese, ser de total aceitação, sua prática é totalmente embrionária por parte das empresas. Poucas conseguem abarcar a cadeia produtiva em suas ações de RSE. Essa é uma grande oportunidade para os sindicatos de trabalhadores disporem de uma nova ferramenta de negociação junto às empresas. É uma arma de pressão poderosa que está sendo utilizada de forma bem sucedida pelo movimento sindical cutista em algumas empresas multinacionais. No mesmo painel, experiências internacionais também foram discutidas. Marco Kremerman, do Observatório Laboral do Chile, apresentou a cadeia produtiva na salmonicultura, a terceira mais importante do Chile, o maior exportador de salmão do mundo (4,4% do total das exportações do país). Essa cadeia opera em regiões produtoras como uma monocultura, ou seja, tudo gira ao redor dos interesses das empresas processadoras de salmão para exportação. Na produção (criação) de salmão, às vezes se utiliza antibióticos proibidos. Os mercados de destino são países desenvolvidos como o Japão e os EUA. Existem outros problemas como conflitos territoriais e problemas de alimentação – já que, para produzir um salmão cultivado, são necessários 10 quilos de salmão silvestre. Os trabalhadores não conhecem a cadeia produtiva do salmão. Boa parte deles não tem os direitos sociais e trabalhistas respeitados. Apenas 17,3% dos trabalhadores diretos da salmonicultura estão sindicalizados. Também há muita informalidade no cultivo e processamento do salmão. Para verificar o que fazem as empresas exportadoras, que ficam com a maior parte do valor do negócio, foi criado um Observatório Laboral específico para monitorar a região do salmão. Jana Silverman, da Escuela Nacional Sindical (ENS), da Colômbia, fez uma exposição sobre a cadeia produtiva de flores, o produto de exportação mais importante do país. A produção aumentou muito nos anos 90, quando recebeu incentivos dos Estados Unidos como compensação pela participação na guerra contra o narcotráfico. A Colômbia é o primeiro exportador de flores para os Estados Unidos e o segundo no mundo, atrás apenas da Holan- Um Balanço dos Resultados da Pesquisa ConCUT João Paulo Veiga, consultor do IOS, informou que foram entrevistados 400 delegados presentes ao ConCUT sobre quatro perguntas de responsabilidade social. A conclusão é a de que os dirigentes reconhecem a RSE como uma questão fora do âmbito do movimento sindical. Entre os trabalhadores do ramo químico, 90% dos dirigentes reconhecem o que são as atitudes de RSE das empresas, o setor com o número de respostas mais elevado. Quanto à opinião dos dirigentes sobre as ações de RSE, quase 40% não têm, a princípio, uma visão negativa ou se colocam de forma contrária à RSE. Por outro lado, quase 20% dos dirigentes acham que as políticas de RSE constituem pura propaganda ou “marketing”, isto é, só servem para dar visibilidade às empresas na condição de “boazinhas e preocupadas” com o ‘social’ e o ‘ambiental’. A conclusão geral é a de que o movimento sindical cutista está bem mais próximo do tema do que se imagina. No entanto, para boa parte dele, RSE ainda não é vista como uma oportunidade de mobilização, fica restrita ao âmbito empresarial como filantropia e/ou marketing. O debate foi enriquecido com informações que davam conta de que no Chile, por exemplo, a discussão está bem avançada no campo empresarial, mas o movimento sindical chileno rechaça totalmente essas iniciativas; no Peru, o movimento de RSE é ainda incipiente e o movimento sindical não reconhece ainda as oportunidades de mobilização que possam ser usadas contra as empresas. Também foi levantada a idéia de algumas “bandeiras” que compõem os indicadores de RSE fazem parte do movimento de reivindicação dos trabalhadores há décadas. Da mesma forma, foi observado que a prioridade do movimento sindical é a discussão salarial e não a RSE, o que não quer dizer que o tema não deva ser acompanhado pelos sindicatos. Observou-se ainda que no contexto da globalização o papel do Estado foi reduzido e restou um enorme terreno de demandas sociais não atendidas. As multinacionais se tornaram muito poderosas e, por esse motivo, passaram a ter maior atenção da sociedade e dos governos. Tornaram-se também mais vulneráveis, e para não serem atacadas acabam desenvolvendo políticas, programas e ações de RSE. 59 da. A produção está concentrada em torno das duas maiores cidades do país: Bogotá e Medelín. A indústria da floricultura colombiana possui 111 mil trabalhadores diretos e 94 mil indiretos. Cerca de 60% são mulheres e 57% têm entre 30 e 49 anos de idade. A maioria ganha um salário mínimo, 408 mil pesos mensais (equivalentes a US$ 207 ou R$ 380 – setembro de 2007). Em torno de 66% dos trabalhadores têm contratos diretos com as empresas, 34% são terceirizados (21% de agências temporárias, 8,7% de cooperativas de trabalho associado e 4,3% de contratistas). O setor floricultor colombiano apresenta problemas como o pagamento de horas extras e o respeito aos direitos fundamentais do trabalho. Os trabalhadores que não cumprem as metas produtivas são vítimas de perseguições por parte de seus supervisores. Apenas 14% dos trabalhadores são sindicalizados. A maioria dos sindicatos é controlada diretamente pelas empresas. E a tentativa de formar sindicatos independentes é sempre combatida com violência. Das 173 empresas na cidade de Bogotá, 143 exigem o teste de gravidez como condição para o vínculo trabalhista. Os trabalhadores sofrem de muitas doenças profissionais, como a lesão por esforço repetitivo, doenças respiratórias e de pele, relacionadas ao contato permanente com agrotóxicos (20% dos quais são proibidos nos EUA). Há casos de mulheres grávidas que perderam seus bebês por conta do uso de produtos químicos. O setor possui normas de RSE. Um programa criado e dirigido pela Asocolflores (Associação Colombiana de Exportadores de Flores) certifica empresas que cumprem certas normas ambientais, sociais e trabalhistas. Cento e quarenta e sete empresas participam do programa, 56 delas com um código de conduta. Existem nove princípios fundamentais: administração de pessoal, saúde ocupacional, formação e desenvolvimento, insu- 60 mos, ar, paisagem, resíduos, solo e aquecimento global. O programa não garante os direitos fundamentais da liberdade sindical e da negociação coletiva. Também não oferece proteção para trabalhadoras grávidas. Não existe um monitoramento independente que vigie o seu cumprimento. A principal empresa, a norte americana Dole, fechou a planta no local onde havia maior sindicalização, apenas para não negociar com os sindicatos. No entanto, a Dole se propõe a ser uma empresa transparente e com boas práticas de RSE. A empresa proíbe a discriminação e garante normas de saúde e segurança do trabalho. Contudo, não manifesta publicamente o direito dos trabalhadores à liberdade sindical e à negociação coletiva. Por esses motivos, existe um grande ceticismo acerca da RSE nas empresas colombianas porque, na prática, ela não é desenvolvida pelas empresas. Em 2005, uma enquete da Associação Nacional de Empresários de Colômbia sobre RSE constatou, em uma amostra de 157 empresas, que 98,7% delas reconhecem a importância da RSE e 66,9% elaboram balanços sociais ou informes da gestão social. De qualquer forma, existe um enfoque filantrópico assistencialista pois 81,9% delas realizam suas ações de RSE através de doações em espécie e 66,7% através de patrocínios, com 91,2% fazendo investimentos em habitação e 80,9% em saúde. Só 54,2% investem na proteção do meio ambiente e 13,6% no desenvolvimento produtivo (gestão do negócio). Além do mais, há pouco reconhecimento das chamadas partes interessadas (stakeholders), além dos empregados e da comunidade – somente 45,8% das empresas desenvolvem ações de RSE com os fornecedores e apenas 41,5% atuam junto ao governo (apoio a políticas públicas). Existe pouco envolvimento por parte dos consumidores colombianos – somente 34% deles preferem produtos de companhias que fazem um esforço para proteger o meio ambiente e os direitos sociais. João Paulo Veiga, do IOS, apresentou três casos de empresas para refletir sobre as possibilidades de ação sindical na cadeia produtiva: o Carrefour no segmento de hortifrutigranjeiros, a Unilever na cadeia do tomate em Goiás, e a Basf. Segundo ele, esse tema traz uma possibilidade de intervenção real do movimento sindical porque as multinacionais não têm controle total sobre suas próprias cadeias produtivas. No caso do Carrefour, foram entrevistados pequenos proprietários na região da grande São Paulo que produziam verduras e legumes. A empresa exigia dos produtores certos padrões trabalhistas como respeito à legislação, padrões de trabalho como refeitórios, vestiário para a troca de roupas, banheiros individuais - feminino e masculino. No entanto, a política de preços do Carrefour era totalmente inconsistente. A formação dos preços de compra era definida por cada loja/região, e seguia os preços dos mercados atacadistas. Dessa forma, havia muita incerteza por parte do produtor acerca de quanto receberia pelos hortifrutis. Em razão desse problema, o produtor não podia contratar outros pequenos produtores para aumentar o volume de entrega, já que não tinha segurança de quanto receberia. O concorrente Pão de Açúcar, para quem o produtor também entregava hortifrutis, tinha uma política de preços centralizada, oferecia um preço mais elevado com menor oscilação e, com isso, o produtor conseguia remunerar outro produtor ao subcontratar parte da produção para aumentar o volume de entrega. Dessa forma, esse pequeno produtor conseguia formalizar a relação com os seus empregados na medida em que tinha garantia de preços do comprador sustentada, em última instância, pelo Pão de Açúcar. Como o Carrefour tinha uma política de centralizar a compra pelas lojas, cada unidade oferecia um preço diferente. No período de baixa, o fornecedor não conseguia remunerar o produtor que, por sua vez, acabava precarizando a relação com seus subcontratados. Resultado: o Carrefour promovia a fragilidade em toda a cadeia de produção de hortifruti e fazia com que pequenos produtores não conseguissem se sustentar de maneira a legalizar a relação de trabalho com os contratados para a colheita. Outro caso interessante relacionado à produção de insumo e matériaprima no meio rural é a pesquisa com fornecedores de tomate para a Unilever, realizada em 2002. O Brasil é um dos cinco países do mundo que fornece tomate para a Unilever. Havia um risco de trabalho infantil entre as famílias que trabalhavam na colheita de tomate, segundo a pesquisa do IOS. Naquela época, a empresa disse que se houvesse trabalho infantil não era problema da Unilever, e sim do governo que tinha a obrigação de fiscalizar. Menos de um ano depois, a empresa voltou atrás e deu início a dois projetos de apoio às famílias com crianças em idade escolar: promoveu a construção de uma creche junto à rodoviária para que os pais possam deixar os filhos antes de trabalhar e criou uma escola rural em condições de a criança estudar sem precisar de transporte para se deslocar, um esforço grande em determinadas áreas rurais. O Observatório Social tem dois outros casos bem sucedidos sobre a situação de cadeias produtivas de grandes empresas. Um deles, amplamente divulgado, refere-se à ocorrência de trabalho infantil na mineração do talco comprado por três grandes multinacionais: Faber-Castell, Basf e ICI. Com a repercussão deste fato a Faber-Castell e a ICI suspenderam suas compras e intervieram no processo da região onde a situação estava presente (região de Ouro Preto, Minas Gerais); entretanto, naquela ocasião, a Basf não reconheceu o fato. Em fevereiro deste ano a Basf A articulação da sociedade civil e a RSE A articulação de vários segmentos da sociedade civil organizada sempre mostrou grande potencial de encaminhamento de questões de interesse geral. No caso de RSE esta oportunidade está colocada em torno dos sindicatos, movimento de consumidores e movimento ambientalista, uma vez que estes são considerados, no conceito de RSE, como partes interessadas das empresas, isto é, aquelas partes com as quais as empresas devem ser responsáveis pelos impactos causados em função de sua operação (produtos e serviços). Entretanto, esta articulação ainda é débil para lidar com o RSE. Apresentaram suas considerações Gilberto Pereira do Sindicelpa da Bahia, Roberto Smeraldi da ong Amigos da Terra e Ciro Torres pela Red Puentes Brasil. Os palestrantes defenderam a necessidade desta articulação. Também falaram sobre a dificuldade, em função das importantes pautas de ação e, conseqüentemente, de grandes problemas que cada segmento enfrenta. Clara também é a necessidade de desenvolver uma estratégia que dê oportunidade para parcerias, uma atitude que precisa ser desenvolvida e experimentada. Os três segmentos que se apresentaram têm históricos de luta importantíssimos. No caso do movimento ambientalista e da Red Puentes, já contam, em sua própria gênese, com as características de existirem em função de questões amplas. O movimento ambientalista atua dentro de contexto em que vários atores estão presentes; a Red Puentes, que é um fórum de discussão e articulação sobre Responsabilidade Social, reúne também vários atores envolvidos com o tema. O movimento sindical, apesar de existir em função da relação trabalho e capital, há muito definiu um papel muito mais amplo na sociedade. Portanto, o movimento de RSE pode ser mais uma oportunidade de concretizar articulações pontuais. firmou compromisso concordando em reavaliar o monitoramento de sua cadeia produtiva. A NORMALIZAÇÃO DA RSE E AS DIRETRIZES DA OCDE A normalização em Responsabilidade Social está ocorrendo de forma irreversível. E o Brasil lidera este processo, tanto no estabelecimento de uma norma brasileira quanto na liderança das discussões acerca da definição de uma norma internacional. Diretrizes legitimadas nos últimos anos, mas que não carregam a identificação e o carimbo de RSE – como são as Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais, o Pacto Global da ONU e as diretrizes da OIT para multinacionais –, acabam por reforçar seu papel e uso. Elas contêm todos os elementos constitutivos da RSE elaborados por órgãos reconhecidamente relevantes para o sistema econômico mundial. Para apresentar as características dessas normas e diretrizes estiveram presentes Clóvis Scherer, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconô- micos) e representante do movimento sindical na elaboração da NBR 16000 e da ISO 26000, e Hilda Sanchez do escritório da Orit (Organização Regional Interamericana de Trabalhadores) no México. Scherer apresentou dois processos acerca da RSE que estão ocorrendo no momento: um nacional e outro internacional. O nacional refere-se à elaboração das normas da série ABNT NBR 16000. A NBR 16001 trata do Sistema de Gestão em Responsabilidade Social e a NBR 16003 sobre requisitos para acreditação de organismos de certificação em Responsabilidade Social. Estes são os sistemas de certificação em RSE pelo Inmetro com um manual para a elaboração de auditorias. Já o interna-cional refere-se à elaboração da norma de diretrizes na ISO 26000. A norma ISO 26000 possui um grupo de trabalho com liderança brasileira através da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e da Suécia através do SIS – o órgão normalização daquele país. O início dos trabalhos ocorreu em março de 2005 durante a 1ª Plenária realizada em Salvador. Foi então decidida a realização de Plenárias Internacionais semestrais com 61 comitês espelho nos países participantes do grupo de trabalho. Até maio de 2006, o grupo de trabalho tinha 315 especialistas – com poder de voz e veto – e observadores. A Responsabilidade Social, segundo as definições provisórias, são as ações da organização para assumir a responsabilidade pelos impactos de suas atividades na sociedade e no meio ambiente, onde essas ações forem consistentes com o interesse da sociedade e do desenvolvimento sustentável, baseadas em comportamento ético, no cumprimento das leis aplicáveis e dos instrumentos governamentais e integradas nas atividades cotidianas da organização. As questões centrais em torno da RS versam sobre os direitos humanos, as relações de trabalho e práticas trabalhistas, governança organizacional, práticas empresariais justas e leais, envolvimento comunitário e desenvolvimento social, questões dos consumidores, direitos fundamentais no trabalho, saúde ocupacional e segurança, condições de trabalho dignas e desenvolvimento de recursos humanos. Quanto à norma NBR 16001, Scherer afirmou que as entidades sindicais não participaram na elaboração da norma. Houve pouca participação das ongs que atuam sobre o tema da RSE. O próximo passo é realizar um manual de recomendações para a realização de auditorias e o ponto mais importante é o engajamento das partes interessadas e métodos para se realizar as auditorias. Para ele, os desafios serão manter um mecanismo de consulta e de discussão com o movimento sindical bra- 62 sileiro sobre as próximas versões da ISO 26000; intervir com qualidade nos debates do grupo de discussão; ampliar o posicionamento da ABNT nos estágios futuros da norma; e ampliar a norma NBR 16001, de forma a capacitar dirigentes para agir em casos de certificação, além de desenvolver outras atividades de disseminação de informações e de capacitação no tema. As Diretrizes para empresas multinacionais da OCDE e a atuação dos sindicatos foram apresentados por Hilda Sanchez, do escritório da Orit do México. Vale destacar que o movimento sindical sempre teve maior identificação, respeito e interesse nas Diretrizes da OCDE do que com o novo movimento de RSE. Os princípios gerais das Diretrizes da OCDE, criados na década de 1970 e revisados em 2000, contêm a maioria dos componentes de RSE. Encontram-se ali, entre outros, a indicação de respeito aos Direitos Humanos, o fomento à formação de capital humano mediante a criação de empregos e oferecimento de formação aos empregados. Na mais recente revisão (2000) foram acrescentados temas que ampliam a abrangência da responsabilidade das empresas, como a publicação de informações, emprego e relações trabalhistas, meio ambiente, corrupção, concorrência, consumidores e tecnologia. No capítulo das Relações Trabalhistas estão incorporados os Direitos Básicos Fundamentais da Declaração da OIT, de 1998, sobre sindicalização, negociação, discriminação, trabalho forçado e trabalho infantil. Como forma de implementarem as Diretrizes, os governos estabelecem os Pontos de Con- tato Nacionais, que devem ser responsáveis também pela informação para a sociedade, realizar reuniões de intercâmbio entre empresas, sindicatos e ongs e receber as denúncias de descumprimento das Diretrizes. Nos anos recentes a Orit acompanha e promove várias atividades dos PCNs da América Latina (Brasil, Chile, Argentina, México) em conjunto com o Tuac – Comitê Consultivo Sindical da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Em levantamento sobre os casos de descumprimento das Diretrizes por empresas multinacionais endereçadas aos PCNs, a Orit relata os seguintes dados: 18 casos apresentados, que representam 15% dos casos mundiais. No total resultam 22 apresentações porque um caso teve quatro simultâneas; desses, 12 foram apresentados por organizações sindicais, nove por organizações não governamentais e um por ambas. A avaliação de resultados sempre é complexa e alguns continuam tramitando. Um caso claramente exitoso foi o da Euskadi, no México; os dois casos chilenos (Nutreco e Unilever), aparecentemente são exitosos, embora houvesse um retrocesso; as pré-denúncias (BNL na Argentina e Bompreço, no Brasil) também podem ser consideradas exitosas. Outros, independentemente dos resultados alcançados, podem ser considerados relativamente positivos no sentido de que obrigaram o PCN a atuar: são os casos da Parmalat no Brasil e Ação Bancária na Argentina.No caso da Parmalat, as autoridades notificaram a empresa sobre o seu comportamento. 63 ALM ÍNDICE DE TRABALHO DECENTE Em abril o IOS apresentou na África do Sul, em seminário da GLU (Global Labour University, Universidade Global do Trabalho), o artigo “Índice de Trabalho Decente nas Empresas: proposições para uma metodologia”, de autoria dos pesquisadores Ana Yara Paulino, Maria Lúcia Vilmar e Ronaldo Baltar. O artigo aborda a discussão feita pelo IOS sobre o possível desenvolvimento de um Índice de Trabalho Decente capaz de verificar e monitorar a qualidade e as condições de trabalho nas empresas brasileiras. Disponível em www.os.org.br AGENDA DE RSE O projeto Responsabilidade Social Empresarial do IOS esteve presente em inúmeras conferências, seminários e oficinas relacionadas ao tema; tais eventos ocorreram em espaços sindicais, empresariais e de universidades. O Observatório Social participou apresentando sua experiência metodológica, os conteúdos dos debates com os trabalhadores e também em eventos direcionados à divulgação do processo ISO 26000. Ao longo do ano o tema foi apresentado pelo IOS a dirigentes sindicais e outros públicos, como alunos de engenharia de produção da Poli-USP; eletricitários de Furnas; no Curso de Gestão Estratégica para Sustentabilidade na Fundação Dom Cabral; e no 1º Simpósio latino-americano de transparência nos negócios da Universidade Federal Fluminense. No momento, o IOS se prepara para a participação na 5ª Conferência do Grupo de Trabalho da ISO 26000, que ocorrerá em novembro em Viena, Áustria. CONEXÃO SINDICAL EM NOVA FASE O projeto Conexão Sindical, iniciado em 2003 pelo Instituto Observatório Social, em parceria com a DGB - Alemanha, entrou em nova em agosto de 2007. A plataforma foi aprimorada para oferecer aos usuários uma ferramenta de informática útil, repleta de informações e de fácil manuseio. Uma das novidades é a possibilidade da formação de redes virtuais entre os usuários, equipe do IOS e entidades parceiras sobre os direitos fundamentais dos trabalhadores, meio ambiente e comportamento de empresas multinacionais. Atualmente o Conexão tem em torno de 15 mil notícias indexadas no Banco de Notícias, 1.100 informes de usuários, mil documentos na Biblioteca Virtual, mais de 900 usuários registrados emais de 90 mil acessos mensais. Acesso em www.os.org.br/conex 64 PROJETO AMA NO PERU A pesquisadora Lilian Arruda representou o IOS no VII Encontro Nacional de Sindicatos do Grupo de Viso em Empresas Transnacionais, Lima, Peru, 29 a 31 de março, organizado pelo Plades. Ela apresentou um resumo da história e do trabalho do IOS, falou sobre a parceria com o Plades e sobre o Projeto AMA – Multinacionais e Meio Ambiente. No encontro foram aplicados, entre os dirigentes peruanos presentes, os questionários da pesquisa do projeto. NA QUE CADEIA DO ALUMÍNIO Um amplo estudo sobre a cadeia produtiva do alumínio no Brasil está sendo realizado pelo Observatório Social, com o apoio da central sindical alemã DGB. É a primeira vez que isso é feito abrangendo vários ramos de atividade de uma mesma cadeia. A fase um enfoca a Amazônia. Abrange cinco empresas privadas, uma estatal e cinco sindicatos de trabalhadores. Somente na região norte do país, o setor reúne mais de sete mil contratados e aproximadamente o mesmo número em trabalhadores terceiriza- dos. Um aspecto inédito no estudo é sua contribuição por reunir muitas categorias e ramos de atividade, como os mineiros, químicos, metalúrgicos e eletricitários. Os relatórios estarão finalizados em outubro. REUNIÃO DA REDLAT Realizou-se no dia 25 de setembro em Lima, no Peru, mais uma reunião da RedLat – Rede Latino-Americana de Pesquisa em Empresas Multinacionais -, da qual participa o Observatório Social. O evento foi organizado pelo Plades (Programa Laboral de Desenvolvimento), simultaneamente a um seminário da Rede Global e uma reunião da FNV com seus cooperantes do continente americano. Discutiu-se a finalização dos estudos em curso e o encaminhamento das pesquisas que devem se iniciar ainda este ano (Shell, Santander, Endesa e setor agroexportador dos países que compõem a rede). 65 66 67 68