DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E SUAS RECORRÊNCIAS NA ESCOLA PÚBLICA: UM ESTUDO DE CASO PEREIRA, Wilson Roberto Francisco1 Resumo: O presente trabalho propõe um convite à reflexão sobre acontecimentos verificados com uma criança de dez anos de idade, matriculada no 4.º ano do Ensino Fundamental, de uma escola pública, estudante classificado não oficialmente com “dificuldade de aprendizagem”. Devido a isso, o mesmo é marginalizado nos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos. Assim, inicia-se um trabalho de investigação e posterior diagnóstico sob os auspícios teóricos da Epistemologia Convergente, com uma visão sistêmica e integradora entre a Psicanálise, a Epistemologia Genética e a Psicologia Social. Ainda, se propõe para esta reflexão, o entendimento do conceito de ensino-aprendizagem à luz da Análise do Comportamento, o de dificuldade de aprendizagem conforme a visão Psicopedagógica. Pretende-se como objetivo refletir sobre o que pode se passar na escola, com um estudante que apresenta dificuldades nesse sentido. A justificativa se dá com a educação inclusiva e centrada na aprendizagem. A metodologia utilizada para a construção deste trabalho associa a observação direta e a revisão bibliográfica. Concluindo, verifica-se que parte dos impedimentos para a aprendizagem está relacionada, em parte, com a deficiência oftalmológica e às ausências de interações social, familiar e na escola. Palavras-chave: ensino-aprendizagem; epistemologia convergente; epistemologia genética; psicologia social; escola pública; dificuldade de aprendizagem. 1 Licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional UNINTER, em licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa; especialista em Metodologia do Ensino Superior e Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Internacional UNINTER; Mestrando em Educação: Tecnologias Educacionais do Centro Internacional UNINTER. [email protected] 1382 Introdução É de certa recorrência, nos meados da segunda década do século XXI, em conversa entre professores, os comentários sobre alunos que aprendem ou não, graças as estratégias utilizadas, dos recursos oferecidos ou não pela escola, pela dedicação ou irresponsabilidade dos pais, pelo interesse ou falta deste pelos estudantes, etc. Também o é, nas conversas entre pais, as análises, ainda que subjetivas, qualificando escolas e profissionais da educação, em relação ao sucesso ou fracasso escolar envolvendo seus filhos. Isso ocorre num momento em que os pais saem para o trabalho deixando a tutela dos seus rebentos com a escola e os trabalhadores ali existentes, que de maneira eficiente, ou nem tanto, terão que dar conta do processo educativo a ela, escola, outorgada pela sociedade, com o direito à educação, garantido pela legislação vigente. O aluno matriculado nessa escola, além de ter o seu aprendizado influenciado por políticas e tendências educacionais também pode ser afetado na aprendizagem por fatores: alimentares, de saúde, de distúrbios que comprometem a cognição, de ruídos nas relações professor-aluno, de problemas na formação docente, de burocracia equivocada, etc. É, portanto, com relação à aprendizagem, que o presente trabalho trata do caso de um aluno de escola pública, tido como alguém com dificuldade de aprendizagem (LEAL E NOGUEIRA, 2011), para quem essa escola não via possibilidade de êxito imediato. Mesmo assim, é ali que esse estudante deverá avançar em seus conhecimentos, Embora que, com possíveis problemas de aprendizagem somados à indisciplina, à rebeldia e à possível desinteresse, de certa forma, esse aluno já esteja praticamente marginalizado dos processos de ensinoaprendizagem desenvolvidos. Com a solicitação de amparo psicopedagógico, para o aluno, de agora em diante conhecido como A, inicia-se um trabalho de investigação e posterior diagnóstico fundamentado na Epistemologia Convergente com uma visão sistêmica e integradora entre a Psicanálise, a Epistemologia Genética e a Psicologia Social de 1383 Riviére (NOGUEIRA e LEAL, 2011). Também, traz-se para esta reflexão, algumas conceitos sobre ensino e aprendizagem à luz da Análise do Comportamento, sobre dificuldade de aprendizagem conforme a visão Psicopedagógica e da escola pública como espaço voltado à garantia da aprendizagem O objetivo é refletir sobre a caminhada e as possibilidades que um aluno que não aprende pode ter na escola já descrita É um trabalho que se justifica pelo fato da educação inclusiva e centrada na aprendizagem se tornar relevante durante a formação docente e pelos resultados que esse foco pode trazer para o processo de ensino-aprendizagem. Para alcançar tal objetivo, a metodologia utilizada na construção deste trabalho reúne observação direta e revisão bibliográfica. Sobre a dificuldade de aprendizagem se pressupõem que ela ocorre porque o dito processo não se completa por uma ou mais razões, porque encontra algum ruído pelo caminho ou, ainda, quando não há o desejo de aprender. Saviani (2014). Todavia, Barbosa (2006, p. 53) propõe que, Estar com dificuldade de aprendizagem [...] significa estar diante de um obstáculo que pode ter um caráter cultural, cognitivo, afetivo ou funcional e não conseguir dar prosseguimento à aprendizagem por não possuir ferramentas, ou não poder utilizá-las, para transpô-lo. Uma boa contribuição nessa conceituação ocorre com Drouet (2000, p. 93). Todos os distúrbios – da fala, da audição, emocionais, do comportamento, etc. – têm sua origem em causas diversas, porém todos eles se constituem em obstáculos à aprendizagem, prejudicando-a ou mesmo impedindo-a. São, portanto, problemas dentro do processo de ensino-aprendizagem. Convém, para a compreensão do processo de ensino-aprendizagem no contexto educacional brasileiro entender que, Uma criança ao nascer não está geneticamente programada para viver em sociedade: não sabe falar, andar, ir ao banheiro ou usar as técnicas para a sua subsistência e proteção. É necessário ensinar-lhe como se comportar, como viver em sociedade; é preciso humanizá-la, civilizá-la, e a educação formal e informal servem justamente para realizar o trabalho de inserção da criança no meio sociocultural ao qual ela pertence. (LEAL e NOGUEIRA 2011, p. 29). 1384 A saber, diversas são as concepções que tratam do processo de desenvolvimento e aprendizagem. Dentre estas, a concepção de Freud, de Skinner, de Piaget e a de Vygotsky. A escola busca por solução Para a escola o aluno não estava conseguindo aprender, portanto foi agendado um encontro para um possível atendimento psicopedagógico ao estudante conhecido por A. Conforme combinado, na data em questão, houve o contato com as professoras que tiveram envolvimento com A e depois com o próprio. Mesmo sem um diagnóstico, para a escola A, até aquele momento, era alguém com dificuldade de aprendizagem e este foi um momento para conhecê-los, e iniciar a construção de uma idéia do que se passava, pois, entender aquela situação demandava observação, investigação, coletar dados e analisá-los a procura de causas. A primeira conversa se deu com as professoras, sobre os problemas apresentados por A. Nessa oportunidade, ficou a impressão que tais dificuldades pareciam atreladas ao aluno, à sua família, ao seu modo de vida e não à escola, às professoras, à direção, à relação ensino-aprendizagem, etc. Na situação, o aluno parecia um foco de problemas. Terminada essa conversa, a ação seguinte foi observar o aluno a sua revelia, o que ocorreu durante o intervalo das aulas. Em visitas posteriores, os passos foram conhecer A, a partir de uma estratégia composta de observações e agendamentos para falar com os pais e solicitar autorização. O que se observou a princípio foi o que se encontra costumeiramente em alguns discursos, nos quais os alunos não aprendem por falta de interesse próprio, de irresponsabilidade familiar, da condição socioeconômica e cultural dessa família, etc. Todavia, ao menos na perspectiva da educação inclusiva, a escola atual, ainda que ineficiente em alguns pontos de sua prática educativa deve saber incluir, integrar e sociabilizar. Oportunamente, veio a observação desse aluno na sala de aula. Ao adentrar o recinto, lá estavam: o aluno a ser investigado, seus pares e a professora, que também ocupava a direção. A e os colegas que já haviam sido informados da razão 1385 daquela visita pareceram ter recebido de maneira tranqüila àquela possibilidade. Tratava-se, naquela circunstância, de uma observação que não pretendia interferir no andamento da aula ou no comportamento dos alunos, mas, sim, verificar o que ocorria naquele espaço envolvendo professora, colegas e o próprio A. Os estudantes foram tomando seus lugares como de costume e A ocupou o seu, na fileira próxima às janelas, na terceira carteira. A professora sem demora dirigiu-se ao quadro negro passando algumas tarefas sobre pronomes enquanto faria a chamada. Iniciando as atividades do dia, procurando ler o que estava escrito na lousa, A fechava o olho direito para enxergar com o esquerdo com algum esforço, inclusive procurando o ângulo mais adequado para a leitura. Nas leituras posteriores, mesmo sendo um poema em um livro, observou-se o mesmo. Esse fato poderia ser um problema relacionado à visão. Durante o intervalo, A aproximou-se dos seus colegas de sala, à mesma mesa, que conversavam animadamente, enquanto o próprio permaneceu isolado e olhando para o teto, sem que houvesse algum diálogo entre aquele aluno e seus pares, repetindo o que ocorreu durante a observação na aula. Após o lanche, os discentes foram para o laboratório de informática, onde as atividades dadas foram a leitura e a escrita de frases, com a primeira letra maiúscula. Na oportunidade foi verificada a dificuldade no ler, a leitura da própria escrita e a escrita com troca de algumas letras. Desde a entrada no laboratório até a saída que coincidiu com o final da aula, não houve qualquer conversa entre A e seus companheiros. Nesse episódio, a intervenção docente se fez necessária em várias oportunidades e, pareceu reforçada a necessidade de algum recurso ótico. Algumas informações O estudante A nasceu em 2003 e sua idade na época dessa investigação era dez anos e cinco meses, uma criança do sexo masculino, cursando a quarta série do Ensino Fundamental I e sem histórico de repetência escolar. Convivia com a mãe, o padrasto e dois irmãos, aguardando o terceiro. A irmã, com idade imediatamente abaixo de A, estudava na mesma escola, todavia, apresentava bom desempenho 1386 nos estudos. Segundo a mãe, os problemas cognitivos, sociais e afetivos, surgiram desde passar a estudar naquela instituição. Sobre as queixas, para as professoras envolvidas, o aluno apresentava erros de escrita incompatível com sua idade e série escolar, escrevia somente com letra em caixa alta e ilegível, tinha dificuldades com o raciocínio e com a matemática, lia e interpretava com dificuldades os textos estudados, incluindo a troca de algumas letras, e também, apresentava desestímulos para aprender e algum déficit de atenção. Por parte da escola, as referências foram: a não assimilação e internalização dos conceitos trabalhados, embora distintas estratégias e metodologias tenham sido empregadas; a negação do aluno em desenvolver as tarefas e desafios propostos; as crises de nervosismos e rebeldias nas cobranças feitas quanto ao desenvolvimento da escrita na forma cursiva e legível; a falta de atenção durante as aulas; o mal cuidado com o material escolar e com o uniforme; Por parte da mãe a reclamação abordou os desentendimentos com ela e os irmãos, com relativa freqüência. A fala com as professoras foi relevante para se inteirar das queixas, das relações interpessoais nas quais este aluno estava envolvido, do andamento do processo de ensino-aprendizagem e como o discente era visto pelos que o cercavam. Isso se deu porque o professor é o agente mediador entre o aluno e a sociedade, e o aluno, o sujeito ativo na construção do conhecimento, embora do que se ouviu, os possíveis problemas impeditivos pareciam prevalecer às, talvez, qualidades existentes. Para a Anamnese, que é a história de vida, por motivo de viagem à trabalho do padrasto somente a mãe compareceu. Da conversa soube-se que a gravidez foi bem aceita, pois, tratava-se de um filho desejado; tendo feito o pré-natal, durante a gravidez sugiram complicações e, dentre elas, a anemia; o parto, cesariana, apresentou dificuldades, com a mãe se sentido mal durante o procedimento; desse parto, a criança nasceu pesando, aproximadamente, 5 kg, e bastante chorosa. Sob o cuidado dos pais, desde os primeiros dias, A teve um desenvolvimento normal, apesar disso, quando bebê, A não dormia bem e agora têm pesadelos recorrentes com cobras; sobre doenças, e era periodicamente acometido por dor de barriga de origem desconhecida; passou, há algum tempo, a apresentar tiques no olho direito; 1387 entrou para a escola com seis anos de idade, com boa adaptação e bom rendimento escolar; sobre a sexualidade do menino, a mãe disse que a família exercia total controle, pois, o menino “sofreu abusos” quando mais novo. Foram mencionadas ainda brincadeiras prediletas como: futebol e “uno”; o que mais gostava de fazer, além de brincar com os irmãos, era assistir ao programa Chaves e a novela Chiquititas; apresentava deficiência na atenção; os amigos referidos como os colegas de escola, com idades entre sete e dez anos; seus medos incluíam o de escuro; a mãe reconheceu melhora na aprendizagem, chamou a atenção para a agressividade, porém, não reconheceu responsabilidades suas nos comportamentos da criança. Até esse momento, mesmo com algumas suspeitas, não seria possível afirmar que A trazia consigo dificuldades em aprender, entretanto, direção e professoras precisavam de preparo para os desafios atuais e vindouros, até que, se necessário, houvesse vaga no municipal para um encaminhamento apropriado. Dependendo do lugar, são recorrentes, os casos nos quais apoios assim, ou demoram ou não chegam e, aos docentes cabem satisfazer tais necessidades. Diagnóstico psicopedagógico clínico No caso em questão, para o diagnóstico psicodedagógico clinico foi utilizado o modelo defendido por Visca na Epistemologia Convergente. Com isso foram aplicados a A: entrevista inicial, anaminese, entrevista operativa centrada na aprendizagem E.O.CA, o uso de testes, provas do diagnóstico operatório, provas projetivas, de caixa de trabalho e, extrapolando este método, a observação lúdica (NOGUEIRA e LEAL, 2007). Sobre o trabalho clínico, conforme Bossa (2000, p. 95): Nesse trabalho clínico, que se dá em consultórios e hospitais, o psicopedagogo não só compreender o “porque” de o sujeito não aprender algumas coisas, mas “o que” e “como”. A busca desse conhecimento iniciase no processo diagnóstico, momento em que a ênfase é a leitura da realidade daquele sujeito, para então proceder à intervenção, que é o próprio tratamento ou encaminhamento. As alterações no aprender, o fracasso escolar e as diferentes sob as quais os problemas o problema de aprendizagem se apresenta, em alta proporção, na população em geral e particularmente na infância, requerem uma análise cuidadosa de sua etiologia e particularidade. A tarefa diagnóstica, tanto em nível institucional quanto clínico, é indispensável ao terapeuta. 1388 Evitando certos detalhes, mas para uma idéia, na observação exploratória, ou seja, na observação lúdica e na E.O.C.A., apresentados os materiais oferecidos como material de desenho, massa de modelar, quebra cabeça, jogos, etc., A mostrou-se, a princípio, fascinado e ansioso por manipulá-los. Para mostrar o que sabia, escolhendo somente papel e lápis preto, com traços bem infantis e atitudes sonhadoras em suas feições, desenhou um sol com raios luminosos, escreveu o nome do astro com letra inicial maiúscula, escreveu os nomes dos irmãos e dos amigos, um deles com duas letras a menos e algumas contas de multiplicar dispostas na forma horizontal, na qual A se confundiu entre produto e soma. Enquanto construía seu desenho, parava para pensar e decidir a próxima ação. Sorridente e aparentemente orgulhoso findou a tarefa. Dos dados obtidos da anamnese, da informação social, da E.O.C.A. e das queixas, a investigação encaminhou-se com a elaboração de algumas hipóteses. Na hipótese cognitiva, entendeu-se que o estudante necessitava de mais ou outras explicações, um tempo mais longo para refletir e, então, assim, internalizar o conceito trabalhado, pois, percebeu-se durante os testes que, entendida por ele a proposta, a resposta surgia imediatamente e correta. Dependia de alguma paciência. Na hipótese afetiva, pareceu que apegar-se a professora e aos amigos, que aparentemente não o aceitam, lhe tem trazido a segurança que buscava, embora, em muitas oportunidades, se referia aos familiares com carinho. Na, hipótese funcional, pareceu que as abordagens por parte do professor precisavam ser particularizadas, uma vez que os hiatos nas aprendizagens desta criança mostraram-se muitos e careciam ser adequadamente preenchidos para que houvesse raciocínio organizado sobre as ações propostas. Pareceu também, que setores da escola como, por, social e comunicação lhe apresentavam dificuldades. Em relação à Área Cognitiva, dentro do previsto, foram aplicadas a A, algumas provas operatórias piagetianas, pois, conforme Nogueira e Leal (2011, p.88) “elas objetivam obter dados para o conhecimento do funcionamento e desenvolvimento das funções lógicas da criança”. No que toca à Quantificação de Inclusão de Classes, a princípio tinha-se a idéia de que as respostas seriam do nível 2, entretanto, com um pouco de paciência e reformulação da pergunta chegou-se ao nível 3, pois, A possuía conduta de 1389 classificação inclusiva. Quanto a Intersecção de Classes A respondeu adequadamente as perguntas de nível 3 incluindo as questões suplementares e as de interseção, enquanto na Conservação das quantidades de líquido – transvasamento, nível 3. Segue, pois, a Conservação de quantidade de matéria com conduta conservativa com resposta de nível 3; a Conservação de volume, com conduta intermediária de nível 2; a Conservação de comprimento com condutas conservadoras de nível 3; na Seriação de palitos A possuía seriação em nível 3. Na Área Emocional, considerando os resultados obtidos até então, optou-se por avaliar as variáveis emocionais aplicando técnicas projetivas, divididas em vínculos escolares (técnicas 1 e 2), familiares (técnicas 3 e 4) e vínculos consigo mesmo (técnicas 5, 6 e 7). Neste caso concorda com Nogueira e Leal (2011, p. 156) para as quais: Quando o nosso objetivo é analisar e explicar as variáveis emocionais que condicionam positiva ou negativamente a aprendizagem, os testes das provas projetivas são amplamente utilizados como técnicas capazes de indicar uma rede de vínculos que o sujeito estabelece com três grandes domínios: a escola, a família e consigo mesmo. Na técnica Par Educativo, o desenho poderia significar o vínculo negativo com o processo ensino-aprendizagem; a professora maior que o aluno poderia ser de certa importância; o fato de ter desenhado um colega em seu lugar poderia ter o significado da sua negação ao processo de ensino-aprendizagem. Na técnica Eu e Meus Companheiros, o desenho poderia significar que A dava importância a essas amizades e se considerava com a mesma importância dos demais colegas, além de parecer-se satisfeito, principalmente pelo título dado: “brincar no parque”. Em vez de responder perguntas, preferiu focar-se no desenho e não escrever estória. Na técnica Família Educativa, o avaliando desenhou o pai e a mãe trabalhando e os três filhos brincando, sob o título “A mãe na casa, o pai trabalhando e nós brincando”, relacionando desenho e fala, aparentemente ele possuía vínculo com o processo de aprendizagem formal e informal. Na técnica Os Quatro Momentos do Dia, pelo tamanho representado no desenho 1, A possivelmente se via como mais velho que seus irmãos, entretanto, 1390 nos demais desenhos, além de ficar evidente o seu isolamento, pareceu associar a isto, o seu vínculo negativo com as etapas do dia. Na técnica O dia do Meu Aniversário, pareceu que a criança se encontrava nos parâmetros da normalidade, ansiando por crescer e aprender coisas novas. Na técnica Minhas férias, pelo desenho equilibrado e com a proximidade das pessoas, A sugeriu ter com eles uma boa integração. Na técnica Fazendo o que mais gosta A representou os irmãos proporcionalmente e os incluiu na brincadeira, significando um bom vínculo entre eles ou imposição para cuidado com os menores enquanto os adultos desempenhavam outros afazeres. Em relação à área funcional, A apresentou boas respostas para as questões sobre lateralidade, esquema corporal e as orientações espacial e temporal. Nesta área o avaliando mostrou, não exatamente uma dificuldade, porém necessitou de algum tempo para estabelecer esquerda e direita; sua predominância era o lado direito; no seu esquema corporal não se detectou problemas e o espacial pareceu bem desenvolvido; quanto à orientação temporal, desempenhou melhor em relação a si e alguma dificuldade quando em relação a outros ou objetos. Durante a prova de realismo funcional, na escrita de algumas palavras faltavam de imediato, algumas letras. Porém, muitos dos equívocos eram percebidos e autonomamente corrigidos. Apenas em alguns casos deu-se a necessidade de intervenções. A atividade foi desenvolvida com entusiasmo e confiança. Nesse sentido, entendeu-se que A lia e escrevia com alguma dificuldade, necessitando de supervisão e alguma orientação. Na prova de orientação temporal, A saiu-se bem sobre dia, mês, ano, ontem, hoje, estações do ano, etc. Algumas coisas, alegou não saber como, por exemplo, anteontem, semana passada, depois de amanhã, dentre outras. Observou-se que o avaliando entusiasmava-se quando dominava o assunto tratado, porém, dispersavase ou mudava o foco quando indagado sobre o que não desconhecia. Cabendo, portanto, alguma investigação sobre os hiatos contidos na construção de conhecimento deste aluno. Quanto ao teste de informação social, A respondeu corretamente seu nome e sua idade, número da casa e bairro, os nomes da mãe, pai e irmãos, entretanto, 1391 somente soube a idade da irmã. Afirmou gostar de brincar, de ver TV, de ir à escola, de estar com os amigos da escola citando três deles. Em análise, observou-se que A é um garoto tímido, que, ansiava por boas relações com os que o cercavam, mesmo sendo encontrado amiúde, em isolamento. Coisas que não respondeu como a idade do pai, da mãe e do irmão poderiam significar que informações desse tipo não teriam tanta importância no convívio familiar. Ainda, A não falou muito e preferiu apegar-se a quem lhe ofereceu atenção e respeitou seus saberes e suas atitudes. Tal apanhado sugeriu melhor investigação sobre a sociabilização de A. Procedendo a uma análise mais abrangente, percebeu-se que A possuía certa dificuldade na comunicação, na autonomia, nas habilidades acadêmicas e carece de melhorar auto-cuidado, vida familiar, social e lazer. Mesmo tendo dez anos de idade, em alguns momentos A parecia caminhar pelo estágio pré-operatório principalmente pela dificuldade em reversibilidade e organização lógica de objetos. Talvez, coubesse neste caso observações neurológicas, uma vez que, segundo Leal e Nogueira (20011, p. 93), destas se pode compreender as dificuldades perceptivas, cognitivas e dificuldades com a aprendizagem. No informe psicopedagógico clínico, considerando a área pedagógica, na matemática, as quatro operações ainda não tinham sido bem assimiladas. Percebeu-se que o aluno se confundia ao trabalhar com adição e produto; na leitura: A conseguia ler razoavelmente, com alguma dificuldade e lentidão e sem muita noção de pontuação. No entanto, conseguia entender e falar do que lia; na escrita preferia escrever em caixa alta, trocava ou esquecia algumas letras com freqüência, porém, na maioria das vezes procedia às correções autonomamente, com certa lentidão. Levando em conta a área cognitiva, Era perceptível em A, o bom nível cognitivo para a sua faixa etária, mesmo demandando mais tempo nas resoluções das tarefas propostas, bem como, em alguns casos, necessitava que estas lhe fossem explicadas com mais pormenores. Assim se sucedeu, também, nas provas piagetianas; apresentando uma boa linguagem, e expressando interesse em aprender coisas novas. 1392 Observando a área afetiva, o educando buscava se relacionar bem com os que o cercavam e demonstrava gostar da família, dos amigos e da professora. Em se tratando da área social, a criança procurava se relacionar bem com sua família e com a sociedade, mas, sua estrutura familiar parecia comprometida pela pobreza, pela falta de conhecimento geral e outras condições de dificuldades vivenciadas. Já na área psicomotora, A possuia bom desenvolvimento motor. No prognóstico de A soube-se que o educando possuía um razoável desenvolvimento intelectual, que necessitava ser estimulado para as atividades que envolvessem leitura, escrita, raciocínio lógico e resolução de problemas, em níveis que lhe permitissem avançar em seu aprendizado. Decorreu disso algumas indicações: para a família, ações como: organizar horários para o momento de família; estudo e verificação de tarefas; compreender as dificuldades da criança, ampará-la e protegê-la. Para a escola, tomar decisões sobre o processo de aprendizagem do educando considerando suas dificuldades. Quanto ao diagnóstico, examinando todos os levantamentos feitos para esta investigação e analisando as informações obtidas, tornou-se possível compreender que: na área cognitiva, mesmo com as limitações apresentadas foi perceptível que esse aluno aprendia, todavia, seu aprendizado demandava estratégias particularizadas, aproveitando os conhecimentos anteriores nas associações com os novos saberes; o seu desempenho não era satisfatório porque lhe faltava preencher hiatos nos aprendizados anteriores e, devido a isso, ao professor caberia verificar constantemente a possível internalização dos conceitos propostos. Ao ser condizudo à oftalmologista, iniciou-se uma série de cuidados, pois foi encontrado em A, uma visão de apenas 30% no olho esquerdo e alto comprometimento no direito, demandando o uso de óculos e exercícios. Considerações finais A história de A, longe de ser um fato isolado, é um exemplo de tantos episódios ocorridos nas escolas públicas e casos como esse exigem profissionalismo, boa vontade e empenho, além de preparo docente conforme as necessidades existentes. A diferença nessa situação foi o fato de a escola extrapolar 1393 a falta de recursos da prefeitura e buscar auxílio no meio social como psicopedagogo, consultas, óculos, etc. Cuidar dos procedimentos na esperança de auxiliar o referido discente demandou tempo e método na busca de entender seus problemas, como aprendia, etc. Do que foi investigado chegou-se a um informe psicopedagógico esclarecedor e contribuidor. Para maior contentamento, o aluno, também percebeu a própria melhora. Aprovado para o 5º ano, a nova professora de A acatou o informe psicopedagógico. Os demais alunos, que também se beneficiam das atividades desenvolvidas, auxiliam monitorando desde o uso dos óculos por A até os estudos e, as relações de amizades têm florescido. Em recente visita à escola, a surpresa ficou por conta do entusiasmo da professora e da direção quanto à evolução de A, embora ele ainda precise de amparo e monitoramento, principalmente, da escola e da família. Referências BARBOSA, L. M. S. Psicopedagogia: um diálogo entre psicopedagogia e a educação .2. ed. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 2006. BOSSA, N. A. Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. DROUET, R. C. R. Distúrbios da Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2000. LEAL, D; NOGUEIRA, M. O. G. Dificuldade de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Ibpex, 2011 NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Psicopedagogia Clínica: caminhos teóricos e práticos. Curitiba: Ibpex, 2011. SAVIANI, D. Aprender-a-aprender-um-slogan-para-a-ignorancia. Disponível em http://5dias.net/2011/05/27/aprender-a-aprender-um-slogan-para-a-ignorancia/. Acesso em:10/08/2014. 1394