Abertura Boas Vindas Tema do Congresso Comissões Sessões Programação Áreas II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores Títulos Trabalho Completo INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO AMAZONAS: MODELOS DE PROFESSORES EXPRESSO NO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO DAS LICENCIATURAS Deuzilene Marques Salazar, Arminda Rachel De Botelho Mourão, Jocélia Barbosa Nogueira Eixo 1 - Formação inicial de professores para a educação básica - Relato de Pesquisa - Apresentação Oral Esta pesquisa situa-se no campo da formação inicial dos professores e resulta de uma das etapas iniciais para a tese de doutoramento em educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas. Nesta etapa, objetiva-se a análise do projeto pedagógico dos cursos de Licenciatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM), identificando os modelos de professores. A fonte principal desta pesquisa consiste nos projetos pedagógicos dos cursos de licenciatura em Ciências Biológicas, Química, Física e Matemática, privilegiando-se nessa investigação os objetivos e os fundamentos da matriz curricular. Para fundamentar e enriquecer as análises estabeleceu-se diálogo com o autor Contreras (2002) que ao discutir as dimensões da profissionalidade do professor busca elucidar elementos teóricos sobre a autonomia do professor, analisando os modelos de professores fundamentados na racionalidade técnica, na racionalidade prática, no intelectual crítico e, por fim, aponta a concepção da autonomia profissional. Os resultados desta análise apontam que o eixo basilar da formação inicial de professores no IFAM fundamenta-se na racionalidade prática na qual a docência não é percebida como prática política bem como o texto não explicita a potencialidade da educação como meio para a transformação da realidade social. 2508 Ficha Catalográfica INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO AMAZONAS: MODELOS DE PROFESSORES EXPRESSO NO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO DAS LICENCIATURAS Deuzilene Marques Salazar; Arminda Rachel Botelho Mourão; Jocélia Barbosa Nogueira. Universidade Federal do Amazonas, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Amazonas. INTRODUÇÃO O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) criado pela lei nº 11.892, de 29/12/2008, se constitui mediante a integração do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CEFET-AM) e suas unidades descentralizadas e as Escolas Agrotécnicas Federais de Manaus e de São Gabriel da Cachoeira. Estas instituições tradicionalmente desenvolveram a educação profissional de nível básico e técnico sendo que a partir de 2001 iniciam a oferta de cursos de ensino superior, ainda como Centro de Educação Tecnológica do Estado do Amazonas. A problemática que suscitou essa pesquisa parte da seguinte proposição como professora formadora do IFAM: como uma instituição tradicionalmente reconhecida como instituição de educação profissional definiu sua política de formação de professores para o Amazonas? Quais os modelos de professores subjacentes nos projetos pedagógicos de curso? Nessa perspectiva procura-se compreender a inserção do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF) na sua proposição sobre os modelos de formação de professores, buscando no referencial de José Contreras (2002) estabelecer caminhos para a construção de uma análise sobre os projetos pedagógicos de curso que definem uma política de formação docente para a educação básica no contexto amazônico. A temática proposta neste artigo desenvolveu-se como parte das discussões sobre as políticas de formação docente inserida na construção da tese de doutoramento na linha de pesquisa “Educação, Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional” do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas. A investigação ao analisar um texto – projeto pedagógico do curso - considera a existência de outros textos circulando simultaneamente e precisam ser lidos tendo como referência o tempo e o contexto particular onde foram produzidos. Investigar os discursos nos projetos pedagógicos dos cursos de licenciatura, como política de formação de 1 2509 professores, requer o entendimento sobre as reinterpretações múltiplas quanto às similaridades, diferenças e singularidades produzidas no texto. Nesse sentido, far-se-á uma incursão sobre o processo de criação e organização do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas numa perspectiva de contextualizar o local de onde se desenvolve a pesquisa. Para subsidiar a discussão teórica apresenta-se como referencial teórico os modelos de professores fundamentados em Contreras (2002) e por fim identifica-se o modelo de professor subjacente no texto do projeto pedagógico de curso das licenciaturas do IFAM. 1 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO AMAZONAS: CRIAÇÃO E ORGANIZAÇÃO Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF) integram a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (RFEPT) assim como a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ) e as Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais, sendo que, com exceção das Escolas Técnicas, as demais instituições possuem natureza jurídica de autarquia, detentoras de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. No estudo de Palladino (2012), a formação da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (RFEPT) se constitui em duas fases distintas: primeiro momento de 1909 até 1996 onde ocorre a mudança de um país agrícola para industrial e as necessidades de mão-de-obra decorrentes dessa transformação e, em um segundo momento, de 1996 até os dias de hoje, quando da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9.9394/1996 e o Decreto 2.208 de 1997 que regulamenta a educação profissional e cria o Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP. Ao longo desse período (1909-1996) estas instituições receberam variadas nomenclaturas. Em 1937, são conhecidas como Liceus Industriais, porém, em 1942, são denominadas Escolas Técnicas. Em 1959, essas escolas são federalizadas. Em 1972 surgem os Colégios Agrícolas e, em 1979, as Escolas Agrotécnicas Federais. No ano de 1978 ocorre a primeira transformação de algumas Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET). Em 2005, o CEFET-PR transforma-se na primeira Universidade Tecnológica Federal do país. Com a homologação da Lei nº 11.892, de 29/12/2008, os Centros Federais de Educação Tecnológica passam a serem denominados de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, junto com as Unidades Descentralizadas, agora como 2 2510 campi, e entre eles, o CEFET do Amazonas agora denominado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM). A configuração do IFAM abrange a educação básica, profissional e superior, pluricurricular e multicampi, especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino. Dentre seus objetivos destaca-se também a oferta de “cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional”, prevendo 20% das suas vagas para cursos de licenciatura, cujo percentual pode ser ajustado com justificativa no Conselho Superior. Nesta condição o IFAM integra os seguintes campi: Campus Coari, Campus São Gabriel da Cachoeira, Campus Presidente Figueiredo, Campus Maués, Campus Parintins, Campus Lábrea e Campus Tabatinga, Campus Manaus Centro, Campus Manaus Distrito Industrial, Campus Manaus Zona Leste. Atualmente, o IFAM oferta quatro cursos de licenciatura: ciências biológicas, química, física e matemática e também participa do Sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e do Programa Nacional de Formação de Professores para a Formação Básica (PARFOR), com o oferecimento de cursos superiores na modalidade a distância e presencial. Os cursos das licenciaturas funcionam apenas no campi Manaus-Centro no turno vespertino e anualmente são oferecidas 160 vagas, sendo 40 para cada um dos cursos de licenciatura do Campus Manaus-Centro. O IFAM ao assumir os cursos de licenciatura e de formação pedagógica definiu modelos de formação docente que se delineia no discurso manifesto no Projeto Pedagógico de Curso, bem como nas práticas educativas incorporadas e desenvolvidas pelos professores formadores. Os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) materializam as diretrizes, filosofias e pressupostos das políticas pedagógicas propostas pela instituição e devem estar interrelacionados com o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) 1 e o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2. O documento que acompanha a Portaria nº 300/2006 propõe-se a definir as concepções dos PPI, PDI, projeto pedagógico de curso (PPC), de currículo e vai mais longe, acreditando que: [...] dois desafios devem ser superados pelas IES na construção coletiva de seus projetos e planos: 1) a conjugação do PPI com os PPC, considerando que, apesar da diversidade de caminhos, não há distinção hierárquica entre eles, devendo ambos constituir um processo dinâmico, intencional, legítimo, transparente, em constante interconexão com o contexto da IES; 2) o PDI , em consonância com o PPI, deve apresentar a forma como a IES pretende concretizar seu projeto educacional, definindo as metas a serem alcançadas nos períodos de tempo 3 2511 definidos, e os recursos humanos e materiais necessários à manutenção e ao desenvolvimento das ações propostas (BRASIL , 2006, p. 33). Conforme diz o documento orientador da referida Portaria, o PPI é um “[...] instrumento político, filosófico e teórico-metodológico que norteará as práticas acadêmicas da IES [...]” (BRASIL, 2006, p. 34). Explicita que se assuma a visão de mundo, a compreensão do papel da educação superior e o entendimento que a instituição tem de sua contribuição e importância em âmbito local e mais amplo, quando se definirem condições para tanto. O PPI também destaca a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. O IFAM se constitui em uma instituição educacional que alicerça sua existência e os documentos orientadores de sua organização e funcionamento em consonância com as orientações emanadas dos organismos políticos e econômicos que determinam a política educacional brasileira que, por sua vez, acabam por ser expressas na produção do texto – projeto pedagógico de curso – e nas práticas efetivadas no trabalho docente. Assim, discutir os modelos de professores assumidos pelo IFAM através dos projetos pedagógicos de curso torna-se trabalho de pesquisa relevante para se compreender os processos formativos que envolvem a formação inicial de professores para o ensino de ciências e matemática no contexto local. 2 MODELOS DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DE CONTRERAS Ao se propor a discussão sobre os modelos docentes no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) buscou-se em Contreras (2002) um referencial que orientasse a análise dos objetivos dos cursos de licenciatura nos projetos pedagógicos de curso. O autor nesta obra visa esclarecer o significado da autonomia dos professores, buscando estabelecer a relação da autonomia do professor com a sociedade e, por conseguinte, do papel da mesma com respeito à educação. Nesse sentido, o autor discute três tradições diferentes com respeito à profissionalidade de professores: a que entende os professores como técnicos, a que defende o ensino como uma profissão de caráter reflexivo e a que adota para o professor o papel de intelectual crítico. O modelo de racionalidade técnica, segundo Contreras (2002, p.90), entende os professores como técnicos, ou seja, os professores aplicam um conhecimento teórico e técnico na solução de problemas, logo a ação profissional docente deve ser constituída por ações técnicas estabelecidas à margem da decisão sobre as finalidades pretendidas, ou seja, “à margem dos contextos humanos e sociais nos quais tais práticas ocorrem, e 4 2512 de suas consequências sobre eles”. Todavia, a racionalidade técnica não somente exerce seu poder pela forma com que se estabelece a relação entre finalidades e técnicos, como também como um procedimento pelo qual as políticas públicas ficam de fora de todo o debate ao serem fixadas como razões científicas ou técnicas. A segunda tendência – professor reflexivo e professor-pesquisador – Contreras (2002) traz à tona as concepções de Donald Schön e Lawrence Stenhouse. Donald Schön, na década de 1980, reconstrói a dimensão reflexiva da prática que ficara excluída sob a racionalidade técnica legitimando-a como racional “artística”. Schön distingue “conhecimento na ação” e “reflexão na ação”. No “conhecimento na ação” o conhecimento não se aplica à ação, mas está tacitamente personificado nela. A “reflexão na ação” supõe uma reflexão sobre a forma com que “habitualmente entendemos a ação que realizamos, que emerge para podermos analisá-la em relação à situação na qual nos encontramos, e reconduzi-la adequadamente” (CONTRERAS, 2002, p.107). Na visão de Schön, o profissional nesta perspectiva “tende a fazer emergir não só os pressupostos e as técnicas, mas também os valores e propósitos presentes no conhecimento organizacional” (SCHON apud CONTRERAS, 2002, p.110), portanto o profissional desenvolve seus questionamentos sobre a estrutura do conhecimento organizacional na qual está inserido seu trabalho docente. Stenhouse (1984 apud Contreras, 2002, p.117) comenta que as finalidades ajudam os docentes a dirigir os processos de ensino em sala de aula. E são a análise e a crítica sobre sua prática que permite ao professor melhorar sua atuação e sua capacidade de criar situações educativas. Segundo Stenhouse (1984 apud Contreras, 2002, p.117) é sobre os critérios implícitos em sua prática que os professores devem refletir, possibilitando tornar consciente os “hábitos” de construção pessoal de habilidades para aperfeiçoar a prática. Nessa concepção, a ideia do professor como pesquisador está associada à necessidade dos professores de pesquisar e experimentar sobre sua própria prática enquanto expressão de determinados ideais educativos. Uma das consequências da proposta reflexiva, segundo Contreras (200), é que a deliberação ou a reflexão sobre as situações educativas deve vir das instâncias que a praticam, ou seja, a educação não pode ser determinada a partir de fora. Contudo, há uma limitação nessa premissa, uma vez que surge o problema do direito da comunidade na intervenção sobre um assunto público que é a educação. Ao deliberarem sobre sua prática os docentes: [...] adotam decisões que estão em consonância com suas próprias perspectivas e valores, e se a assunção, por resolução só pode ser feita a partir de uma deliberação e julgamento profissional autônomo, parece que se está reconhecendo que, inevitavelmente, a comunidade fica 5 2513 excluída de sua participação nas decisões educativas. (CONTRERAS, 2002, p.130) Por isso, ao deixar as decisões educativas sob a responsabilidade da decisão profissional consiste em resolver de modo unilateral o que é uma decisão coletiva e social, pois a comunidade e os professores são sujeitos participantes na discussão pública sobre as finalidades do ensino e sua organização. A definição da prática dos professores se encontra prejudicada pela configuração que sua prática educativa estabelece no contexto mais amplo, como, a escola e as políticas públicas locais, nacionais e internacionais. Contreras (2002) discute uma outra tendência de modelo de professor pautado na justificativa da necessidade de dispor de uma análise teórica, uma teoria crítica, que permitisse ao professor perceber que a reflexão por si não os levaria a analisar sua experiência como condicionada por fatores estruturais, ou sua mentalidade como dependente do contexto da própria cultura e socialização profissionais. Assim, é preciso que os professores intelectualizem seu trabalho, questionando criticamente sua concepção de sociedade, da escola e do ensino, o que significa assumirem o compromisso de transformação do pensamento e da prática dominantes. Portanto, o trabalho dos professores como intelectual crítico deve promover o desenvolvimento sobre o ensino que reconheça e questione sua natureza socialmente construída e o modo pelo qual se relaciona com a ordem social, analisando também as possibilidades de transformação implícitas no contexto social das aulas e do ensino. Para Kemmis (1987 apud Contreras, 2002, p.163) refletir criticamente significa colocar-se no contexto de uma ação, na história da situação, participar de uma atividade social e ter uma determinada postura diante dos problemas. Significa explorar a natureza social e histórica, tanto de nossa relação como atores nas práticas institucionalizadas da educação, quanto da relação entre nosso pensamento e ação educativos. Ao desenvolver um percurso teórico sobre os modelos de professores, Contreras (2002) desenvolve argumentos suficientes para defender as chaves de uma posição sólida sobre a autonomia dos professores. O autor mostra que a autonomia, no contexto da prática do ensino, “deve ser entendida como um processo de construção permanente no qual devem se conjugar, se equilibrar e fazer sentido muitos elementos”. Contreras (2002, p.193) faz um percurso que entrelaça os aspectos pessoais (os próprios compromissos profissionais) com os de relacionamento (já que o ensino se realiza sempre em um contexto de relações pessoais e sociais); as tentativas de compreensão e equilíbrio social com a defesa profissional de valores educativos, e a independência de juízo com participação social. 6 2514 Considerando os modelos de professores apresentados por Contreras (2002), cujas bases epistemológicas representam as concepções de sociedade, de homem e de educação buscar-se-á analisar os projetos pedagógicos de curso analisando os discursos expressos para a formação inicial do professor. 3 MODELOS DE PROFESSORES NO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO DAS LICENCIATURAS NO IFAM A partir de 2002, o IFAM assumiu os cursos de licenciatura na área de ciências (Química, Ciências Biológicas e Física) e de Matemática. Os cursos de licenciatura em Química e Ciências Biológicas iniciaram em 2002 e neste ínterim foi desenvolvido dois projetos pedagógicos de curso, sendo um em 2002 (ano de implantação do curso no IFAM) e sua reformulação em 2008 proveniente das novas regulamentações oriundas do Ministério da Educação. Os cursos de licenciatura em Matemática e Física iniciaram em 2008 e mantém até hoje o projeto pedagógico de curso originário de sua implantação no IFAM. No projeto pedagógico de curso (PPC) os objetivos expressam-se nos seguintes elementos discursivos: • “Formar um professor-pesquisador competente, comprometido e ético, que atenda aos anseios e as demandas sociais” (IFAM, PPC da Licenciatura em Física, 2008). • “Formar professores-pesquisadores com sólidos conhecimentos científicopedagógicos na área de Química para atuarem na Educação Básica, comprometidos de forma crítico-reflexiva com a qualidade do ensino, a transformação social e a produção e disseminação de conhecimento científico e tecnológico na Amazônia” (IFAM, PPC da Licenciatura em Química, 2008). • “Formar profissionais capacitados para o exercício do magistério, atuando na Educação Básica (de 5ª a 9ª série do Ensino Fundamental e Ensino Médio) pautando-se em uma leitura crítica contextualizada e interdisciplinar sobre os diversos aspectos que constituem a formação da sociedade, de forma que atenda a oferta de trabalho e o potencial socioeconômico regional” bem como “Articular a formação pedagógica com os diversos segmentos da ciência, superando a dicotomia teoria/prática numa perspectiva construtivista” (IFAM, PPC da Licenciatura em Matemática, 2008). 7 2515 • “Formar professores-pesquisadores sujeitos de sua formação e prática didático-científica, aptos a atuar no Ensino de Ciências-Biologia referenciados por critérios éticos e legais, comprometidos com a qualidade de ensino na Educação Básica e empenhados na preservação e melhoria da qualidade de vida do planeta” (IFAM, PPC da Licenciatura em Ciências Biológicas, 2008). Da mesma forma, encontra-se na Proposta Pedagógica dos PPC’s dos cursos de licenciatura a proposta de “Ensinar e Aprender Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias na Educação Básica” constituída a partir dos seguintes princípios: a) Formar professores-pesquisadores, capazes de resolver problemas e atuar a partir da reflexão-ação-reflexão de forma contextualizada, interdisciplinar e transversal, constituindo-se como sujeitos de sua formação na construção de sua identidade profissional, a partir da práxis no contexto escolar; b) Desenvolver um processo de formação que valorize a relação dialógica entre professores formadores e professores em formação, estimulando a criticidade na perspectiva da transformação social; c) Promover reflexão a respeito do homem e do universo em sua complexidade e totalidade, valorizando o contexto amazônico e propiciando o desenvolvimento da autoeco-organização. Constata-se, portanto, que o eixo basilar dos objetivos dos cursos de licenciatura nos projetos pedagógicos de cursos fundamenta-se na perspectiva do professor pesquisador e do professor reflexivo. Vê-se que há uma ênfase na instrumentalização dos futuros professores quanto aos aspectos didáticos e metodológicos que possibilitem uma reflexão sobre o fazer pedagógico do professor, alijando-o das questões sociais, político e ideológicas que envolvem a educação escolar. O modelo de formação inicial de professores para a realidade local esboça uma epistemologia pautada na racionalidade prática, destacada não somente nos objetivos como também na matriz curricular que é concebida a partir de quatro contextos: educação e contexto bio-psico-social (conhecimentos didático-pedagógicos gerais e aplicados e disciplinas complementares), conhecimentos essenciais (Conteúdos básicos: química, ciências biológicas e ciências exatas e da terra), conhecimentos complementares (disciplinas optativas, disciplinas de livre escolha e trabalho de conclusão de curso) e conhecimentos da prática profissional (estágio supervisionado, atividades complementares e prática como componente curricular). Observa-se que as disciplinas de cunho didático-pedagógicos e da prática profissional abrangem um percentual de 23% da carga horária total do curso, denotando uma certa distribuição equânime nos contextos que constituem a matriz curricular. 8 2516 Zeichner (2008) discutindo a ideia da prática reflexiva na formação docente em relação ao desenvolvimento real dos professores aponta quatro aspectos que criam uma ilusão do desenvolvimento docente mantendo, de maneira sutil, a posição de subserviência do professor. Primeiramente quanto a associação do termo “reflexivo” como ajuda ao professor para reproduzir melhor um currículo ou um método de ensino. Outro aspecto encontra-se na exclusão do professor no processo reflexivo sobre os fins da educação e os aspectos moral e ético do ensino, permitindo apenas o ajuste dos meios para se atingir objetivos definidos por outras pessoas. Também, ao enfatizar as reflexões sobre o próprio ensino e sobre os estudantes, o professor acaba por desconsiderar as condições sociais da educação escolar que tanto influenciam o trabalho docente em sala de aula. E, por fim, o ensino reflexivo ao focar sobre a reflexão que os professores fazem sobre si mesmos e seu trabalho leva muitos professores a considerarem seus problemas como exclusivamente seus, desviando a atenção dos professores de uma análise crítica das escolas e das estruturas do trabalho docente e da educação escolar. Todos esses aspectos criam, segundo Zeichner (2008), uma situação em que existe meramente uma ilusão do desenvolvimento docente e da transferência de poder para os professores. Portanto, torna-se imprescindível que o curso de formação inicial de professores propicie um trabalho docente que ajude os estudantes a compreenderem as intencionalidades subjacentes às escolhas realizadas na sala de aula, criando espaços de diálogo entre professores formadores, professores das escolas e estudantes das licenciaturas para discutir as relações entre as prática de ensino, as necessidades dos estudantes da educação básica e as lutas por justiça social que diminuam as lacunas na qualidade da educação disponível aos estudantes de diferentes perfis. Na perspectiva de Zeichner (2008), os professores precisam saber o conteúdo acadêmico, saber como aprender sobre seus estudantes, saber como explicar conceitos complexos, conduzir discussões, avaliar a aprendizagem discente, conduzir uma sala de aula e, principalmente, analisar as consequências políticas que as diferentes escolhas no trabalho pedagógico docente. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao desenvolver esta investigação buscou-se identificar o modelo de formação de professores para a educação básica no estado do Amazonas assumido pelo IFAM, uma vez que esta instituição tradicionalmente ofertava a educação profissional no nível básico, técnico e tecnológico. Para isso, partiu-se do texto do projeto pedagógico de curso (PPC), como documento que define uma identidade para a instituição e como elemento 9 2517 norteador que estabelece os processos metodológicos e organizativos que orientam o trabalho pedagógico da instituição educativa. Este olhar sobre a produção dos textos permite a apresentação de algumas constatações iniciais. A primeira, observa-se que o modelo de professor no texto do PPC atende aos ditames do Ministério da Educação forjado nas suas regulamentações que acatam os direcionamentos impostos pelos organismos multilaterais para a formação docente, principalmente às políticas direcionadas aos países da América Latina e Caribe, pautada na racionalidade prática, onde o professor torna-se o responsável principal pelo processo educativo, desconsiderando o contexto social e político que estruturam a educação escolar. Uma segunda constatação é o caráter político e ideológico subjacente aos objetivos do curso de licenciatura orientado e marcado pelos “resultados” que impregnam a política de avaliação do ensino superior constituindo-se, muitas vezes, de impedimentos para projetar a formação dos profissionais de educação para lidar com a educação de novas gerações e a construção de uma nova sociedade. Por isso, é imprescindível a retomada sobre os fins da educação, trazendo para o debate a questão dos projetos de sociedade e de mundo que se quer formar e se educar. Enfim, o modelo de professor fundamentado na racionalidade prática ainda se faz presente no texto do PPC. Por isso, há necessidade de se caminhar para uma proposta que fortaleça os conhecimentos profissionais do professor contribuindo com a valorização do trabalho docente e com a qualidade do ensino que contribua com uma nova sociedade que supere a fragmentação, estratificação e desumanização do homem. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n. 300, de 30 de janeiro de 2006. Aprova, em extrato, o Instrumento de Avaliação Externa de Instituições de Educação Superior do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES Disponível em: <http://www.inep.gov.br/download/superior/2006/avaliacao_institicional. Acesso em 20 ago. 2010. ______. Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília: Ministério da Educação, 2008. CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. PALLADINO, Antonio Airton. Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica: considerações sobre a expansão no estado de São Paulo. São Paulo: Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, 2012. Dissertação (Mestrado em Tecnologia: Gestão, Desenvolvimento e Formação) - Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, São Paulo, 2012. 10 2518 ZEICHNER, Kenneth M. Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante na formação docente. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 29, n. 103, p. 535-554, maio/ago. 2008. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br. 1 O Projeto Pedagógico Institucional é um instrumento teórico-metodológico que define as políticas para a organização administrativa e pedagógica das instituições de ensino, norteando as ações voltadas para a consecução de sua missão e de seus objetivos. 2 O Plano de Desenvolvimento Institucional é o documento de planejamento de uma instituição, é o espaço em que se delineam seus objetivos de longo prazo e as medidas reais necessárias à consecução de tais objetivos. Articula-se ao PPI como sua orientação e deve apresentar os seguintes eixos temáticos: perfil institucional; gestão institucional; organização acadêmica; infraestrutura; aspectos financeiros e orçamentários e avaliação e acompanhamento do desenvolvimento institucional. 11 2519