LEVANTAMENTO DA OFERTA TURÍSTICA: uma ferramenta de planejamento
turístico
Por:
Maria José Scassiotti de Souza, PUC-Minas campus Poços de Caldas
Gestão e Conhecimento, v. 2, n. 2, Art. 3, março/junho 2006
http://www.pucpcaldas.br/graduacao/administracao/gestaoeconhecimento.htm
LEVANTAMENTO DA OFERTA TURÍSTICA: uma ferramenta de planejamento turístico
Maria José Scassiotti de Souza
RESUMO
O turismo foi estabelecido como fonte alternativa de geração de renda e emprego para
cidades e regiões. O presente artigo busca demonstrar que sua existência só é possível
através de um levantamento de sua oferta, para basear um planejamento com a devida
articulação entre os setores envolvidos: público, privado e sociedade civil.
Palavras-chave: levantamento da oferta turística, planejamento do setor turístico,
desenvolvimento local e regional.
ABSTRAC
Tourism was established as an alternative resource of income and employment generation
to both towns and regions. The actual article seeks for demonstrating that its existence
becomes possible only by means of a survey of its supply to ground a planning with a due
articulation among the involved sectors: the public, the private and the civil society.
Keywords: survey of the tourist supply, planning of the tourist sector, local/regional
development.
1 - Base de um planejamento turístico
O turismo tem demonstrado, ao longo dos anos, que não é a solução para
desemprego, nem mesmo fator determinante para o crescimento econômico de todas as
regiões. Muitos dos postos de trabalho apregoados são de baixa remuneração e temporários.
Ainda como atividade econômica-fim de muitos municípios, enfrentam, entre a alta e a
baixa temporada, um declínio acentuado, o que exige uma reestruturação através de um
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bom planejamento e acrescentar outros setores. Isso não significa que a atividade turística é
complementar diante do desemprego crescente apresentado pelas cidades industrialmente
assentadas, mas implanta-se o turismo como solução para absorver a mão de obra ociosa.
Diante das características do turismo, só e possível sua implantação pela lógica da
sua rentabilidade. As questões que se apresentam são, portanto, pertinentes a todas as
atividades econômicas: retomo de investimento, maximização do lucro, geração de receita
fiscal e outras.
A idéia ultrapassada de cidades notadamente turísticas, industriais ou agrícola,
propostas como solução para a implementação turística, não sobrevive diante da
possibilidade de se transformar em roteiros turísticos as demais atividades. Exemplo disso,
é a visita a distritos industriais ou mesmo o turismo rural, que abrange diversas atividades,
desde o processo de uma colheita, até um passeio bucólico pelo campo.
Entretanto, o turismo aclamado como solução para muitas cidades exige um
levantamento sério e profissional dessa viabilidade, do ponto de vista socIal, econômico,
financeiro e político.
Os agentes envolvidos na sua disseminação são os mesmos de qualquer atividade
econômica, com apenas uma diferença: a comunidade-anfitriã, essa tem obrigatoriamente
de ser consultada, pois é de seu comportamento que se pode perceber a sua aceitação ou
não. O cidadão não aceita ser invadido por um "bando" de turistas que atrapalha sua vida
no tráfego, nas lojas ou mesmo na utilização dos equipamentos de lazer. Portanto, um bom
planejamento é inicialmente consultar a população do município no qual vai desenvolver a
atividade turística, seja como forma de convencimento ou não.
Como fazer um bom planejamento no setor turístico? Pode-se estabelecer quatro
requisitos básicos: avaliação das condições, definição dos objetivos, previsão das
alternativas e predominância da ação.
É o primeIro requisito básico estabelecido para um processo de planificação a base
informativa em que será desenvolvida esse artigo.
A informação é importante para estabelecer objetivos, identificar as melhores
atividades turísticas e os recursos necessários e formular linhas de ação especificas, pois o
planejador pode incorrer no risco de subestimar ou superestimar a demanda futura. E, sua
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principal base informativa no turismo é o levantamento da oferta turística.
A oferta é definida como as várias quantidades possíveis de bens e serviços
econômicos que os empresários estão aptos e dispostos a colocar no mercado sob
determinadas condições de preços e por um espaço de tempo. A oferta turística portanto,
enquanto setor de serviços, recebe essa mesma definição, mas como é feito esse
levantamento? A EMBRATUR (Fundação Brasileira de Turismo) estabeleceu a sua
classificação em três componentes: l) o levantamento dos atrativos turísticos; 2) O
levantamento dos equipamentos turísticos; 3) o levantamento da infraestrutura de apoio às
atividades turísticas.
O primeiro dos componentes da oferta turística: levantamento dos atrativos
turísticos, que deve abranger a contagem numérica dos diversos atrativos turísticos e a
classificação por tipo, como forma precisa de obter informações da real capacidade do
município de seu potencial de atratividade.
Segundo Lage e Milone (2000), entre os principais atrativos turísticos podemos
destacar:
1 – Recursos naturais: montanhas, planaltos, planices, costas ou litoral, terras
insulares, hidrografia, pântanos, quedas de água, fontes fitotermais e/ou
hidrominerais,. Parques, reservas de flora e fauna, grutas, cavernas, áreas de
caça e pesca, etc.
2 – Recursos histórico-culturais: monumentos, sítios, instituições culturais de
estudo, pesquisa e lazer (museus, bibliotecas, festas, comemorações,
gastronomia, artesanato, folclore, musica, dança, feiras, compras, etc) inclui
também todos os recursos em matéria de hospitalidade.
3 – Realizações técnicas e cientifico - contemporâneas: exploração de minério,
exploração industrial, obras de arte e técnica (usinas, barragens) centros
científicos e tecnológicos (zoológicos, jardins botânicos) etc.
4 – Acontecimentos programados: congressos e convenções, feiras e
exposições, realizações diversas (desportivas, artísticas, culturais, sociais,
gastronômicas, cientificas) etc.
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A classificação dos atrativos turísticos demonstra a necessidade de políticas
publicas claras e definidas para o setor, visto que a preservação do patrimônio e meioambiente, orientação para tipos de indústrias da cidade e tantos outros são mantidas e
mesmo construídas pelo Poder Público, a quem caberá também a concessão de alguns
desses atrativos para exploração pela iniciativa privada.
O primeiro elemento pois, denota a profunda necessidade do entendimento do setor
público e privado para implantação da atividade turística, com qualidade e eficiência.
O segundo componente para o levantamento da oferta turística, segundo os mesmos
autores, Lage e Milone (2000) são os equipamentos e serviços turísticos ou superestrutura,
que fornecem a base física necessária para atender os turistas, ou seja:
1 - Meios de hospedagem: estabelecimentos hoteleiros (hotéis, motéis,
pousadas, pensões, acampamento, etc.)
2 - serviços de alimentação: restaurantes, bares, lanchonetes, casa de chá,
confeitarias, cervejarias, etc.
3 - entretenimentos: áreas de recreação e instalações desportivas (parques,
praças, clubes, pistas de esqui, estádios, autódromos, mirantes, marinas),
estabelecimentos noturnos (boates, casa de espetáculos), cinemas, teatros, etc.
4 - Outros equipamentos e serviços turísticos: operadoras e agências de
viagens, transportadoras turísticas, postos de informação, locadora de imóveis,
locadora de veículos, comércio turístico (lojas de artesanato e souvenir), ca,sas
de câmbio e bancos, locais de convenções e exposições, cultos, representações
diplomáticas, etc.
Percebe-se aqui uma maior participação do setor privado, mas que não deixa de
precisar dos serviços ou de construções realizadas pelo poder público para desenvolver a
atividade turística. Essa intersetorialidade pública e privada pode tanto ser fator positivo,
como de profundo antagonismo, quando a iniciativa privada não consegue perceber
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políticas públicas direcionadas para o setor.
O poder público também se depara com a construção de determinados
equipamentos que devem, ao mesmo tempo, servir à população e incrementar o turismo.
O terceiro componente da oferta turística relacionada por Lage e Milone (2000) é a
infra-estrutura de apoio turístico, formada pela estrutura básica necessária ao
desenvolvimento da atividade turística, bem como da população em geral:
1 – Informações básicas do município: postos de informação, oficinas de
turismos, etc.
2 – Sistemas de transportes: terrestres (rodovias, terminais, estações
rodoviárias e ferroviárias), aéreos (aeroportos, e serviços aéreos), hidroviários
(portos, estações e serviços fluviais) e marítimos. Inclui os equipamentos de
transportes: carro, ônibus, táxi, trem, navios, avião e outros veículos.
3 - Sistemas de comunicações: agencias postais e telegráficas, postos
telefônicos, etc.
4 – outros sistemas: saneamento, água, gás, eletricidade, etc.
5 - Sistemas de segurança: delegacia de polícia, postos da policia rodoviária,
corpo de bombeiros, etc.
6 - Equipamento médico-hospitalar: Prontos-socorros, hospitais, clinicas,
maternidades, etc.
A determinação dessa base informativa é indispensável para o planejamento do
turismo, mas envolve ações anteriores tanto do setor público como do privado em sinergia
de objetivos, visto a dificuldade principalmente do setor público em fornecer determinada
infra-estrutura até mesmo para a população local. Privilegiar essas infra-estruturas de forma
a atender aos turistas não é uma ação política recomendável.
A diversidade regional e local pode apresentar também outros componentes não
relacionados, mas que aos olhos atentos de um profissional de turismo devem ser
levantados.
Quando um município ou região oferece turismo, exige-se uma completa cadeia de
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serviços, muitos não especificamente formados para o setor, mas por ele utilizado, visto que
vender o produto engloba uma amalgama, como hospedagem, alimentação, transporte e
entretenimento.
O levantamento da oferta turística de um município, segundo o modelo da
EMBRATUR, exige um investimento em recursos humanos e financeiros que deveria atrair
parcerias também entre a iniciativa privada e as Universidades. Entretanto, quando os
municípios têm órgãos responsáveis pelo turismo, secretarias ou conselhos, buscam as
Universidades para o referido levantamento e até implantação do setor, encontrando sérias
dificuldades para associar-se aos empresários do setor, que desconhecem a importância
desse levantamento para um futuro levantamento municipal e mesmo regional, o que pode
agregar valor ao produto turístico ofertado.
2. Planejamento regional: ferramenta imprescindível para cidades de pequeno
e médio porte.
A rápida urbanização exigiu mudanças inovadoras para as cidades se manterem em
processo de desenvolvimento, aliado não somente ao aspecto econômico, mas
fundamentalmente em melhoria de qualidade de vida para população.
A "mão invisível" do mercado de Adam Smith, não foi suficientemente capaz de
resolver macroeconomicamente os problemas decorrentes da concentração de pessoas e de
renda nas cidades, o modelo de desenvolvimento não foi suficiente para atender ás
diversidades existentes. Assim, um modelo global não era suficiente para atender aos
anseios locais.
As diferentes cidades exigiam também novos modos de vivência e convivência, as
comunidades começaram a aprender a participar da organização de seu espaço de vida e,
portanto, a decidir os seus próprios destinos. Para Dowbor (1999: 36) “nas cidades não cabe
simplesmente as pequenas decisões quanto ao destino do lixo, ou melhoria das praças, mas
a participação democrática dos novos rumos para o desenvolvimento econômico e social".
Alcançar um nível superior de desenvolvimento exige mudança para um novo
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paradigma, que leva em consideração o conhecimento, a inovação através da afirmação da
importância do capital social, que se dispõem como regulador para obtenção da qualidade
de vida. Nesse processo lento, porém, gradual, a atividade turística inseriu-se como fonte
geradora e renovável de desenvolvimento, não somente local mas regional.
A proposta de um desenvolvimento regional exige que características comuns
possam ser estabelecidas para obtenção das metas e retornos esperados. As dificuldades são
inerentes, pois envolvem não somente governos municipais, mas diversas instituições:
empresas, universidades que competem entre si, e não para a geração de uma cadeia de
valor que possam compartilhar entre si. Esforços individuais acabam inviabilizando a
implementação do setor turístico em cidades de pequeno porte, pois o potencial de
atratividade não é suficiente para obtenção dos resultados econômicos e financeiros a
médio e longo prazo, o que estigmatiza o turismo como atividade sazonal, que preenche as
lacunas em períodos de crise nos demais setores, notadamente no industrial, no que diz
respeito à geração de renda e empregos.
Como todo processo de desenvolvimento, a articulação entre a iniciativa privada e o
setor público pode também ser um entrave sério. A criação de clusters pode ser uma saída
viável, pois congrega tanto as instituições como a sociedade covil organizada, que buscam
resolver problemas comuns. Essa nova forma de direcionamento para a solução das
dificuldades da região não é uma resposta definitiva, mas exige um grau de
amadurecimento que vem aumentando diante da certeza de que somente as pessoas
envolvidas, independente se alocadas no setor publico ou privado, são as maiores
interessados em viver bem em uma cidade que possui em seu entorno outras cidades
também prósperas.
Pensar regionalmente é a forma possível de desenvolvimento auto-sustentável,
porque extrapola as barreiras geográficas e econômicas, para que os recursos possam ser
utilizados eficientemente pelas atuais e futuras gerações de pessoas.
Para atingir o desenvolvimento é necessário planejar de forma criativa as direções
que as cidades, alinhadas regionalmente, possam ter como vantagens comparativas, quais
setores refletem melhor seu projeto de desenvolvimento e integrá-los aos demais. Os dados
obtidos com o levantamento da oferta turística regional devem se transformar em
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informações que poderão lastrear as futuras ações em conjunto, definindo a implementação
do turismo, em consonância com todos os agentes envolvidos: turistas, empresários, poder
publico e comunidade-anfitriã.
3 – Considerações finais.
O levantamento da oferta turística é um bom planejamento não são suficientes para
estruturar o turismo como atividade econômica e social isenta de problemas e dificuldades.
Reunir em objetivos comuns a diversidade de interesses que fluem no setor é uma tarefa
árdua e continua, mas que deve permear a atuação do profissional em turismo como agente
integrador e inovador.
Ao utilizar o planejamento como orientação para o desenvolvimento local/regional,
a participação das pessoas deve ser fator preponderante, pois são elas as responsáveis pela
implementação e isso exige discussões continuas e necessidade de transformação da própria
cultura instalada nos locais, para que as mudanças possam ser viabilizadas.
Quando os turistas fazem suas escolhas de locais para o seu lazer, a infra-estrutura
turística
deve surpreender, pois turismo não tem amostra grátis, ele é vivenciado
diretamente e seu sucesso ou fracasso determina sua ampliação e/ou redução como
atividade econômica de uma cidade e/ou região.
Bibliografia:
LAGE, B; MILONE, P. Economia do Turismo. 2ed. São Paulo. Papirus. 1996
GREENHALGH, Leonard. Relacionamentos estratégicos: A chave para o sucesso nos
negócios. São Paulo: Negócio Editora, 2002. Tradução Elaine Pepe.
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LAGE, Beatriz Helena Gela; MILONE, Paulo César (Organizadores). Turismo: teoria e
prática. São Paulo: Atlas, 2000.
DOWBOR, Ladislau. .Da Globalização ao Pode Local: a nova hierarquia dos Espaços. In:
FREITAS, Marcos Cezar. A reinvenção do futuro São Paulo: Cortez, 1996.
___ . A Invenção dos Governos Locais no Processo de Desenvolvimento. In. BAVA, S. C.
Polis - Desenvolvimento Local N. 25 São Paulo: Pólis, 1996.
___ . A Reprodução Social. Proposta para uma gestão descentralizada. Petrópolis: Vozes,
1998.
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