8 O outro lado de... Maria José Maia Mais conhecida como a mãe de Lena Maia, Maria José é uma mulher belíssima e multifacetada, que continua a imprimir uma dedicação extrema a tudo o que faz. Diz que é perguiçosa, mas sempre foi uma mulher muito dinâmica: Hoje pinta, faz ginástica e continua a olhar pelo futuro das suas filhas. Encontrámo-la no Jardim a passear com Lena, contornando os obstáculos do caminho, com a mesma determinação com que sempre fez durante toda a vida. Chamo-me Maria José Gonçalves Pereira Rodrigues Maia, nasci a 12 de Março de 1937, na freguesia de Monteiras, concelho Castro de Aire, distrito de Viseu. Sou a segunda de sete irmãos. A infância foi passada entre lá e cá (Lisboa). Estive em Monteiras até aos 9 anos, onde fiz a 3ª classe. Depois vim para Lisboa, para o histórico bairro de Alfama durante um ano, onde fiz a 4ª classe, ao pé da igreja de s. Vicente. Entretanto, aos 12 anos regressei a Monteiras, onde permaneci até aos 16, altura em que regressei definitivamente, Como foi o seu percurso em Lisboa? Como tinha conhecimentos e instrução, inscrevi-me em enfermagem, na Escola das Franciscanas Missionárias de Maria. Acabei o curso em 58 e fiquei a trabalhar na maternidade Alfredo da Costa até 1965. Em 58 conheci o meu marido, durante o estágio no Hospital de Santa Maria. Casámos em 59 e fomos morar para Benfica, onde vivemos 40 anos, de 60 até 2001. Com o casamento surgiram os filhos… A nossa primeira filha, Maria Manuela, nasceu em 1960 e logo 16 meses depois nasceu a Lena (Maria Helena). Nasceu bem, boa vitalidade, grande: 3750gr. Dois meses depois teve uma meningoencefalite, subiu-lhe muito a temperatura e os danos foram irreversíveis. A parte motora ficou afectada, embora no momento ela até tenha recuperado bem da crise… Eu é que comecei a notar as diferenças… Não se equilibrava… Falei com o médico, depois com outro para ouvir segunda opinião : as sequelas eram muito graves… A Lena tinha seis meses. Começaram os tratamentos com radiações ultra-violetas, depois procurei outros, mas antigamente não havia quase nada. Ela andou durante três anos numa casa particular, na zona de Alvalade, que tinha médicos e enfermeiras, fazia lá fisioterapia e piscina para tentar desenvolver e manter as capacidades motoras. 9 Precisou de muito apoio, não é assim? No início, tive apoio da família: pais, irmãs e um pouco dos meus sogros. Tive também algumas empregadas, até que consegui arranjar uma pessoa quando tinha a Lena 7 anos, que trabalhou para mim 35 anos. Tratava da Lena tão bem como eu. Depois da Lena ficar interna no Cacém (em 2000, o pai faleceu em 1999), a Isilda já só precisava de trabalhar 1 ano… Paguei-lhe o ordenado e a caixa. Se não fosse ela eu nunca podia ter trabalhado até atingir a minha reforma completa. Como conjugou a sua vida pessoal e profissional? Em 65 fui para o hospital da Cruz Vermelha, em Benfica, perto de onde morava. Fiquei até à altura da reforma, em Agosto de 2001. No início em serviço de bebés, depois em cirurgia geral, medicina, serviço de transplantes renais. Terminei como enfermeira- chefe, em serviço polivalente. Tinha a Lena, ia com ela para todo o lado, para a praia... As férias da família eram passadas na Caparica. Em 99, o meu marido, Vítor Manuel Vasconcelos Rodrigues Maia, faleceu, aos 63 anos, com enfarte de miocárdio. Ainda chegou a estar internado nos cuidados intensivos no hospital da Cruz Vermelha. Depois da sua morte, fiquei em Benfica durante algum tempo mas, entretanto, já reformada, comprei a casa no monte da Caparica, para estar perto da família. Na primeira fase da minha reforma, dediquei-me mais à família, a dar apoio às minhas irmãs e ‘meti-me’ num curso de pintura e artes decorativas, em 2005, numa dependência da Casa Pia. Uma experiência diferente? É uma coisa que gosto de fazer, tinha curiosidade, mas não tinha tempo! Hoje leio, faço ginástica, hidro-ginástica, gosto muito de experimentar mas sou preguiçosa, depois desisto… Gosto de jogar computador (cartas e outros) e palavras cruzadas. Como contactou com a Associação? Conheci através de uma colega do hospital. Apresentou-me uma pessoa que trabalhava na CERCI dos Olivais mas a Lena já tinha 31 anos e só aceitavam utentes mais jovens. Depois tentei a APPACDM, em Benfica, mas estava cheia. Entretanto, na CERCI ficaram com os dados e disseram-me que se descobrissem alguma coisa diziam. Um dia recebi uma carta da APADP, de Chelas, para marcar uma entrevista se estivesse interessada. Isto foi em 97. Hoje faço parte da Direcção, como suplente. O meu pelouro seria o da saúde, mas eu também não posso muito estar lá… E sonhos para o futuro? Sonhos por realizar… Continuar a ter saúde para cuidar da minha filhas, da Lena e da irmã - que felizmente, tem a sua vida bem encaminhada. Em resumo, como qualquer mãe, tudo o que desejo é que as minhas filhas sejam felizes.