Estamos aqui para homenagear a Lena pela honra que lhe foi concedida, a distinção pontifícia de Dama da Ordem de S. Silvestre Papa, cabendo-me a mim a incumbência de falar em nome dos seus familiares mais próximos, irmãos e irmã, cunhadas e cunhado, sobrinhos e sobrinhas e as duas sobrinhas netas que embora não percebendo nada do que se passa vão gostar muito da festa. A Ordem de São Silvestre Papa é uma ordem honorífica do estado do Vaticano, regulamentada pelo Papa Pio X em 7 de Fevereiro de 1905, tendo mais recentemente o papa João Paulo II alargado esta ordem também às senhoras. A atribuição desta distinção é feita directamente pelo Papa aos católicos cujas actividades mais se notabilizem, sendo, no caso da Lena, distinguidos os seus relevantes serviços prestados à Igreja Diocesana no sector da Catequese de infância, juventude e fundamentação básica da fé de adultos. Temos consciência da importância desta distinção e do seu carácter singularíssimo, só possível para quem desempenhe actividades de excepcional relevância mas também, e certamente não menos relevante, para quem tenha um carácter que seja um exemplo e um modelo. É para nós, irmãos e familiares, um motivo de uma enorme honra que uma de nós tenha tido este reconhecimento público ao nível mais alto que se pode aspirar e, também, que a Lena seja assim. Entendemos nós que, nesta cerimónia, devíamos dar um curto testemunho de como vemos a Lena, já que somos aqueles que a conhecemos há mais tempo, entre um pouco menos de 60 e um pouco mais de 40 anos só para falar nos irmãos, e em todas os seus diferentes ambientes de vida e actividades. Certamente que corremos o risco de podermos ser acusados do pecado da vaidade ou imodéstia, mas esperamos que nos absolvam tendo em conta a singularidade desta cerimónia e o orgulho com que a encarámos. Não distinguiremos a sua actividade no âmbito mais circunscrito da família, da sua actividade profissional que desenvolveu na escola e da que desenvolve no seio da comunidade em que se insere, especialmente na paróquia e a na diocese, porque nós as sentimos como indissociáveis e impregnadas da mesma atitude e dos mesmos valores. De entre os aspectos mais marcantes do seu carácter, e sem ter a preocupação de os ordenar, conta-se o seu contagiante optimismo, ou fé, que faz com que não existam dificuldades insuperáveis e que a impele a responder afirmativamente e com entusiasmo aos desafios que se lhe deparam. Um tabuleiro de xadrez é, evidentemente para ela, um quadro branco com quadrados pretos. Mesmo de muletas ou de braço ao peito, e sabemos como é por vezes desastrada na procura de tudo fazer, encara estas situações como evidentemente transitórias e que não a impede de continuar a sua actividade quase como se nada tivesse acontecido. A todas as suas actividades empresta uma enorme dedicação garantindo-nos que serão realizadas de forma diligente e atempada. Esta atitude será talvez o resultado dos hábitos que a nossa mãe nos inculcou desde pequenos, estimulando-nos a cumprir as nossas obrigações, escolares, religiosas ou domésticas. A esta dedicação podemos ainda associar a sua fina inteligência que potencia todo o seu trabalho permitindo uma avaliação rigorosa das situações e a variedade de tarefas, às vezes quase simultâneas. Não é raro ausentar-se por momentos durante o almoço de domingo para ir realizar, num instantinho, uma tarefa que está pendente ou que a chama. A não menor de todas as suas qualidades é a permanente disponibilidade, acompanhada de um espírito de solidariedade e atenção aos outros, envolvida num espírito de caridade como S. Paulo a caracteriza, e que descreve bem o modo como a Lena vive: “A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Deve-se também referir o seu comedimento, mesmo em termos afectivos ou emotivos, por vezes podendo ser confundida com frieza, talvez uma herança do nosso pai, que reflecte uma estabilidade e segurança e que lhe permite uma eficácia de actuação mesmo em ambiente ou situações mais difíceis. E tudo impregnado de uma enorme sabedoria, podendo-se dizer que muitas das qualidades que referi resultam dessa sabedoria. No livro dos provérbios do Antigo Testamento diz-se que "Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire entendimento; pois melhor é o lucro que ela dá do que o lucro da prata, e a sua renda do que o ouro". (Prov. 3:13-14). No mesmo sentido dizia Montaigne que “O sinal mais seguro da Sabedoria é a constante serenidade”. Por outro lado Santo Inácio de Loyola dizia que “Muita sabedoria unida a uma santidade moderada é preferível a muita santidade com pouca sabedoria”. Aqui está como vemos a Lena. Gostaríamos aqui, neste momento, de lembrar os nossos pais e como receberiam esta notícia. Para a nossa mãe, que rejubilava com cada um dos nossos pequenos êxitos, esta distinção atribuída à Lena seria seguramente uma das suas maiores alegrias e motivo de incontido orgulho. Para o nosso pai certamente que não seria muito diferente, mas muito mais comedido como acima já aludi, provavelmente manifestar-se-ia disfarçando o orgulho com alguma graça, talvez citando uma frase do seu irmão mais velho dirigindose a um filho “ E não tens medo de passar o céu para o outro lado?”. Esta foi a forma que encontrámos para dizer como gostamos de ti , como és para nós um exemplo, como esta atribuição é uma merecida honra e que é para nós um grande grande orgulho ter uma irmã assim.