EAD
LIBRAS
TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS
CRÉDITOS
Reitor
José Carlos Pettorossi Imparato
Pró-Reitora de Graduação e Extensão
Elaine Marcílio Santos
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Renato Amaro Zangaro
Pró-Reitor Administrativo
Darcy Gamero Marques Filho
Pró-Reitora Adjunta de Graduação e Extensão
Mara Regina Rösler
Diretor Acadêmico
Gustavo Duarte Mendes
Coordenadora do Curso de Administração
Adamaris Izaura Cavalcanti
Coordenadores de Polo
Mariangela Camba (Santos)
Paulo Cristiano de Oliveira (São Paulo)
Paulo Roberto Marcatto (Descalvado)
Professor(a) Autor(a)
Andrea Itiro
Professor(a) Revisor(a)
Daniele dos Santos Ramos
Revisora
Maria Ivone de Ávila Oliveira
Equipe do Núcleo de Educação a Distância - NEaD
Coordenação Geral
Magali Polozzi
Supervisor de Design
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Suporte técnico
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autorais, de acordo com a licença Creative Commons.
SUMÁRIO
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
TEMA 4: ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
4.1 - A importância de uma língua materna para aquisição de uma segunda língua_______ 13
4.2 - Vantagens e desvantagens da aquisição de uma segunda língua na educação surda____
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SUMÁRIO
DESTAQUES
Durante o texto, você encontrará algumas informações em destaque. Preste atenção:
SAIBA MAIS:
Serve para apresentar
conteúdos, explicações
e observações a fim de
que você compreenda
melhor o tema estudado.
IMPORTANTE:
Indica conceitos ou explicações que merecem
destaque. Fique atento!
ANOTAÇÕES:
Espaço destinado para
suas anotações a respeito do tema estudado.
REFLITA:
São questionamentos
acerca de aspectos
centrais do texto.
OBJETIVOS:
Indicam os conhecimentos a serem desenvolvidos por você
durante o estudo
de cada tema.
A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
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TEMA 4
TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Iniciando nosso diálogo
Prezado aluno,
Buscaremos no tema quatro, apresentar os autores que abordam a importância de uma
língua materna para a aquisição de uma segunda língua. Mostraremos também, quais são as vantagens e as desvantagens da aquisição de uma língua na educação surda.
OBJETIVOS
Tendo por objetivo:
• importância da uma língua materna para a aquisição de uma segunda língua;
• Vantagens e desvantagens da aquisição de um língua na educação surda.
Vamos iniciar nosso aprendizado!
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A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
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TEMA 4
TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
SAIBA MAIS
•
Lev Vygotsky:
Vygotsky
(1896-1934)
4.1 - A IMPORTÂNCIA DE UMA LÍNGUA MATERNA PARA
AQUISIÇÃO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA
Lev
foi
professor e pesquisador e
contemporâneo de Piaget.
Construiu sua teoria tendo
por base o desenvolvimento
do indivíduo como resultado
de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da
linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimen-
Na aquisição de uma segunda língua, precisamos, antes, ter
uma língua materna estruturada, pois é preciso considerar o conhecimento já existente para a ele se acrescentarem novos. Isso ocorre na
relação do novo com o já existente na estrutura cognitiva do educando.
No aprendizado de uma segunda língua, o educando se baseia
nas regras já adquiridas durante a apropriação da sua língua materna.
Dessa forma, ele cria estratégias durante o processo de aprendizagem
da segunda língua.
to. Sua questão central é a
aquisição de conhecimentos
pela interação do sujeito
com o meio.
• Mikhail Bakhtin: Mikhail
REFLITA
Entretanto, como surge essa língua materna que estrutura a
constituição do sujeito e seu conhecimento?
Bakhtin (1895-1975) foi filósofo da linguagem. Para ele,
o sujeito é interativo, social
e partícipe na construção de
seu conhecimento. Ele considera que apenas o nascimento físico do individuo não
lhe permite o ingresso na
história: o homem só existe
após seu nascimento social.
Lev Vygotsky e Mikhail Bakhtin defendem a visão de um sujeito interativo, social e participativo na construção do conhecimento.
Para eles, a linguagem compreende o reflexo das relações sociais. Para
Vygotsky, o conhecimento surge a partir das comparações realizadas
entre as informações adquiridas anteriormente e as novas. Nesse sentido, a soma de pequenos acontecimentos contribui para que o indivíduo
se desenvolva.
O sujeito precisa interagir com o outro para que, por meio da
linguagem, as funções mentais superiores (percepção, memória, pensamento) se desenvolvam. Sem a interação social, o conhecimento cultural não é transmitido.
Quando falamos de percepção, memória e pensamento, falamos de estruturas interligadas, pois, no processo de aquisição de língua
(signos), a criança apresenta mudanças psicológicas de origem social,
que contribuem para seu desenvolvimento individual. Nesse processo,
surge a memória de origem social, a qual recebe influência direta dos
estímulos externos.
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A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
TEMA 4
Além disso, temos a memória mediada que se estende da área psicológica para dimensões
biológicas do individuo. Esse tipo de memória interfere no comportamento humano. A memória é
mais que pensamento: ela faz parte do desenvolvimento do indivíduo dando-lhe a capacidade de
se lembrar de acontecimentos durante toda sua vida e de ir além do abstrato. Com isso, temos a
percepção, que é a capacidade de reconhecer signos ou acontecimentos em um apanhado de informações.
Tal conhecimento sobre si mesmo e o meio proporciona a elaboração/reelaboração de conceitos, possibilitando a mediação do sujeito com o conhecimento adquirido. Dessa forma, cumprem-se as funções que a linguagem tem para Vygotsky: a de se comunicar com o outro e a de refletir
sobre o conhecimento adquirido.
A existência de um sujeito interativo e socialmente participante na construção de seu conhecimento também é defendida por Bakhtin. Para ele, o homem só existe após o nascimento social.
Somente como integrante da sociedade, membro de um grupo, ele interage e participa de uma realidade histórica e de uma produtividade cultural. Duas considerações importantes defendidas pelo
autor são: “... a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos...” e “... as palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações
em todos os domínios” (2004, p.41).
Para Vygotsky e Bakhtin, o conhecimento não é autônomo, mas resultado da multiplicidade
de vozes existentes nos conceitos e discursos que integram nossa sociedade. Isso nos leva a pensar que aprender outra língua significa ampliar nossas relações sociais. Esse aprendizado proporciona, automaticamente, a construção/reconstrução do sujeito.
Nesse sentido, percebemos que a apropriação da língua não se resume à construção de
frases ou orações prontas. Antes, é o resultado de uma interação social. Por essa razão, o ensino
de língua não se limita a ensinar palavras ou frases fora de um determinado contexto real de uso.
Caso isso seja feito, a aprendizagem está fadada a transformar-se em aulas de dicionário, o que
será, além de redutor, praticamente inútil ao usuário numa verdadeira situação comunicativa e de
interação verbal.
Isso comprova que a organização das ideias não é dependente do ato de ouvir palavras, mas
da construção de uma linguagem interna, elaborada pelo sujeito, em interação com o seu meio, pela
qual ele fixa e combina informações.
REFLITA
Se for assim, como o surdo se apropria da língua?
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TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
SAIBA MAIS
As estudiosas Karnopp e Quadros, em suas pesquisas, concluíram que:
• Karnopp: Lodenir Becker
...o processo das crianças surdas adquirindo
a língua de sinais ocorre em período análogo à
aquisição de linguagem em crianças adquirindo
uma língua oral-auditiva. Assim sendo, mais uma
vez, os estudos de aquisição de linguagem indicam universais linguísticos. O fato de o processo
ser concretizado através de línguas visuais-espaciais, garantindo que a faculdade de linguagem
se desenvolva em crianças surdas, exige uma
mudança nas formas como esse processo vem
sendo tratado na educação de surdos (KARNOPP e QUADROS, 2001, p. 221).
Karnopp, gaúcha, residente
em Canoas (região metropolitana de Porto Alegre),
licenciada em Letras, Especialista em Língua Portuguesa, Mestre e Doutora
em Letras e Linguística pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS/ 1999). Durante o
curso de doutorado, estudou
na Universidade de Leiden
(Holanda), no Departamento de Linguística (Doutorado
Sandwich).
• Quadros: Ronice Quadros,
gaúcha, filha de pais surdos
(CODA - Children of Deaf
Adults), professora e pesquisadora da língua de sinais.
A falha no “desenvolvimento da faculdade de linguagem”, citada
pelas autoras, (2001, p. 221), não está na surdez, mas nas consequências dela . Por exemplo: crianças nascidas em uma família ouvinte,
apesar de possuírem capacidade linguística, não estão expostas a um
ambiente adequado para o seu desenvolvimento, o que, muitas vezes,
dificulta a aquisição de uma língua.
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade de
Caxias do Sul (1992), mestrado em Linguística e Letras
pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do
Sul (1995) e doutorado em
Linguística e Letras pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(1999), com estágio na University of Connecticut (19971998).
• Pantomimas: Pantomimas
é a capacidade artística de
expressar ideias e emoções
por meio de gestos, recurso
usado em teatro. E como na
língua de sinais não temos
frases, mas sim cenas, a
pantomima é usada a todo
o momento para expressar
ideias e emoções.
Dessa forma, quando detectada a surdez, o bebê deve ser exposto à língua visual-espacial o mais rápido possível e permanecer nela
até o nível superior para que haja a aprendizagem completa em todas
as etapas da sua formação.
Tanto os professores de surdos como as suas famílias não devem se limitar a conhecer sinais. O ideal seria que as pessoas que
convivem com o surdo fossem fluentes na língua de sinais para que a
criança tivesse acesso pleno às informações, já que a língua de sinais
não serve apenas para exemplificar a língua oral, ou para oferecer explicações simplificadas aos surdos.
Pelo contrário, a língua de sinais é completa. Ela representa um
sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos oriundos do meio
em que se vive não se limitando à mímica (pantomimas). Apesar disso,
o reconhecimento formal do status linguístico da língua de sinais é muito
recente. A UNESCO, somente em 1984, declarou: ”A língua de sinais é
um sistema linguístico legítimo e deveria merecer o mesmo status que
os outros sistemas linguísticos”.
A falta de reconhecimento do sistema linguístico da língua de
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A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
sinais e da sua importância para o desenvolvimento do sujeito surdo
tem gerado a imposição, já por vários anos, de ensinar o surdo a ler e
a escrever em português. Essa prática não é totalmente incorreta, uma
vez que o surdo é um cidadão ativo na sociedade, logo ele precisa ter
acesso a todos os meios de comunicação disponíveis que, no caso,
são voltados para atender à maioria linguística: os ouvintes.
TEMA 4
SAIBA MAIS
• Léxico:
é o conjunto de
vocábulos pertencentes a
uma língua.
• Sintaxe: é a área da gra-
O erro acontece quando não se leva em consideração que, para
haver escrita, primeiro, é preciso identificar o som nos seus diversos
contextos sonoros conforme sua posição nas palavras. Junto a ações
motoras, temos a tradução dos sons para grafemas (sinais escritos).
Esse processo não ocorre automaticamente em quem tem um grau
elevado de perda auditiva.
mática que trata da estrutura
da sentença. E nesse momento estamos olhando a
sintaxe pelo aspecto de que
língua é uma relação simbólica que se estabelece por
meio do pensamento e de
Devido aos bloqueios de ordem auditiva, os surdos não adquirem línguas orais-auditivas pelo processo de aquisição de língua materna e nem a usam, fluentemente, como vários nativos. Além disso,
em razão da proibição do uso da língua de sinais, muitos surdos não
desenvolvem seu potencial linguístico. Já os deficientes que mantêm
contato com associações de surdos, normalmente conseguem adquirir
uma língua de sinais.
A consequência do problema apresentado é que, até hoje, muitos surdos chegam às escolas sem uma língua materna. Se a língua
surge durante a interação com os outros, a escola busca, muitas vezes,
realizar um desvio de função: tentar ensinar uma língua materna dentro
da sala de aula e, ao mesmo tempo, ensinar ao surdo a escrita da língua oral.
Esse processo é longo e árduo e, com raras exceções, os surdos adquirem um conhecimento truncado da Língua Portuguesa. Em
consequência disso, é comum que os deficientes auditivos sejam tachados como tendo graves problemas linguísticos.
O principal problema da escrita do surdo não se refere ao conhecimento do léxico, mas sim da sintaxe.
Se a língua se define pela sintaxe, se a função geradora está
contida no campo sintático, a dificuldade em se apropriar da estrutura
do idioma compreende a maior dificuldade durante o processo de escrita do surdo. Em razão disso, seus textos, muitas vezes, tornam-se
incompreensíveis.
No início deste texto, mencionamos que, ao aprendermos uma
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sons/gestos.
TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
SAIBA MAIS
• Fonemas: Na fonética, estudamos sons e gestos (LS)
segunda língua, apoiamo-nos em nossa língua materna a fim de criarmos estratégias durante o processo de aprendizagem. Consideraremos, a seguir, como a língua de sinais interfere no processo de aprendizagem de uma segunda língua pelo surdo.
das línguas humanas em
seus aspectos físicos. A esse
som que tem valor linguístico
chamamos fonema. O som
4.2 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DA AQUISIÇÃO
DE UMA SEGUNDA LÍNGUA NA EDUCAÇÃO SURDA
de um fonema em uma determinada língua nem sempre é fonema em outro idioma, por isso podemos dizer
que a representação escrita
de uma língua é baseada em
sons constantes e comuns à
maioria dos usuários.
• Ferdinand Saussure: Ferdinand Saussure foi um suíço que viveu até 1913. Ainda
Para iniciar nossa discussão sobre a interferência da Língua de
Sinais (LS) na aquisição de uma segunda língua pelo surdo, precisamos, primeiramente, definir que esse ensino, no sistema educacional
atual, consiste em aprender a escrita da língua oral, ou seja, não se
refere ao aprendizado de uma língua de sinais de outro país.
É preciso ressaltar que a escrita alfabética que temos hoje constitui um sistema funcional complexo, cuja origem nos remete à análise
dos sons da linguagem e de sua transformação em fonemas constantes e generalizados.
hoje é considerado o pai da
linguística moderna. Para
ele, a língua é um sistema
abstrato, que se opõe à fala.
Nesse momento, a função integrada do sistema áudio-articulatório cria a potencialidade para a escrita que é seguida pela identificação
desses sons nos diversos contextos sonoros em que aparecem, e pela
análise de dependência, ou seja, pela relação que estabelecem entre
si, pelos valores que assumem em um determinado sistema linguístico
e pelas posições que ocupam nas diferentes palavras.
É importante enfatizar que, no desenrolar desse complexo funcionamento, participam as conexões preliminares que consistem na relação com a linguagem interna de cada indivíduo. Essas conexões, por
meio de feedbacks contínuos, alimentam e regulam todo o processo.
Esse feedback acontece por meio de duas unidades inseparáveis no processo de formação de língua, apresentadas por Ferdinand
Saussure (defensor da sociolinguística): significado e significante. Juntas, essas unidades constituem o signo linguístico, ou seja, o morfema
(o menor signo linguístico). O fonema não tem significado. Como o morfema é constituído de significado e significante, ele forma o signo, isto
é, os vocábulos (as palavras de um idioma).
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A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
TEMA 4
REFLITA
O que são significado e significante que dão origem ao morfema?
Significado “é um conceito ou representação mental que temos de um objeto, de um evento,
de uma sensação. O significante é uma representação mental acústica (no caso das línguas orais)
ou ótica (no caso das línguas de sinais).” (VIOTTI, 2008, p. 45). Todo esse processo ocorre nas funções superiores (percepção, memória, pensamento), as quais são estimuladas pela interação com o
outro.
Como os estímulos linguísticos do surdo não são sonoros, mas visuais, sua comunicação
não ocorre por palavras, mas por cenas (imagens). Na sala de aula, durante o processo de aquisição
da escrita (alfabetização) de uma segunda língua de modalidade oral, o fato de ele ter sua estrutura
linguística construída por cenas não é levado em consideração.
Às vezes, o surdo pode até conhecer as palavras, mas, de acordo com o contexto, ele não
compreende o sentido em que elas foram empregadas. Podemos pensar na palavra banco. Dependendo do contexto, ela pode ter o sentido de um prédio comercial em que uma instituição financeira
presta determinado tipo de serviço ou pode representar a própria instituição financeira. Outras vezes, representa um assento no ônibus ou na praça. Isso evidencia que o uso nos traz o sentido da
palavra de acordo com o contexto. Essa percepção não é automática quando não se é falante nativo
da língua. Para o surdo, conhecer muitas palavras não é a solução dos problemas de interpretação
textual se ele não conseguir considerar o contexto.
Quando escrevemos um texto, nosso objetivo é que ele seja lido e compreendido. Assim,
somos motivados a escrever a partir dessa vontade e/ou necessidade. Entretanto, para os surdos,
essa motivação costuma ser prejudicada em razão da maneira como ele aprende a língua oral.
Para os deficientes auditivos, o processo de aprendizagem da língua oral não se baseia no
conhecimento da estrutura linguística de uma língua materna. Assim, o esforço do aprendiz, usado
para aprender a pronúncia e os fonemas, compromete a aquisição da gramática e de seu uso.
Além disso, há outro fator capaz de complicar o ensino da escrita: a surdez não é homogênea, isto é, os diferentes graus de perda auditiva interferem nesse processo.
Leia, a seguir, o texto extraído do site saci.org.br/, em 22/03/2009. Ele apresenta os diferentes graus de perda auditiva e a base legal de tal classificação:
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TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Deficiência Auditiva:
De acordo com o Artigo 4º do Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de
1999, considera-se deficiência auditiva a perda parcial ou total das possibilidades
auditivas sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte: de 25 a 40 decibéis considera-se surdez leve; de 41 a 55 db, surdez moderada; de 56 a 70 db,
surdez acentuada; de 71 a 90 db, surdez severa; acima de 91 db, surdez profunda
e anacusia.
A deficiência auditiva traz muitas limitações para o desenvolvimento do
indivíduo. Considerando que a audição é essencial para a aquisição da linguagem
falada, sua deficiência influi no relacionamento com os outros e cria lacunas nos
processos psicológicos de integração de experiências, afetando o equilíbrio e a
capacidade normal de desenvolvimento do indivíduo.
Disponível em saci.org. br/ acesso em: 22 de março de 2009.
Convivemos com múltiplas identidades surdas que se apresentam em diferentes facetas.
Há surdos oralizados que não consideram necessária a oficialização das línguas de sinais. Em contrapartida, há surdos, cujos pais são deficientes auditivos, que utilizam a língua de sinais e não se
consideram deficientes.
As especificidades estruturais das línguas orais são muito diferentes daquelas empregadas
nas línguas gesto-visuais. Observando essas interferências, podemos detectar vários problemas
decorrentes de diferentes visões de mundo veiculadas pelas especificidades linguísticas de cada
língua, as quais, de certa forma, orientam a estruturação linguística do conhecimento.
Segundo Lenvison (1996: p.178), os filtros que impõem restrições na maneira como pensamos sobre certos domínios incluiriam pelo menos:
a) A estrutura intrínseca do domínio (em relação ao nosso uso dele);
b) Restrições da comunicação e da estrutura linguística intrínseca (incluindo restrições pragmáticas);
c) Nossas propensões perceptuais e cognitivas.
Os filtros citados interferem na aquisição de uma segunda língua. Ao considerarmos um surdo aprendendo uma segunda língua de modalidade oral, podemos acrescentar outra interferência: a
diferença de modalidade de língua, isto é, da oral para a gesto-visual.
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A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Para compreendermos as diferenças entre as duas modalidades, podemos citar as expressões espaciais. Essas expressões localizam referentes em relação a outros referentes.
Observe:
(1) Ele encontrou o amigo no parque.
TEMA 4
SAIBA MAIS
• Expressões: Expressões
Espaciais
consistem
em
montar o cenário e posicionar as pessoas na cena.
• Referentes: Referente são
Podemos identificar as seguintes referências: ele, o amigo e o
parque.
As expressões espaciais, segundo Fillmore C. (1982), podem
localizar os seres de diversas maneiras:
a) em cima/em baixo: dado pelo polo de gravidade;
b) à direita/à esquerda: refere-se ao eixo egocêntrico;
c) frente/atrás: representa o eixo antropocêntrico.
As expressões dos itens A e B não variam tão livremente, de língua para língua, quanto as que localizam os seres no eixo frente/atrás.
Neste ultimo caso, em se tratando de objetos que não possuam frente
e nem costas, a localização depende muito da língua: pode seguir uma
estratégia ego-oposta ou uma estratégia ego-alinhada.
Em português, a estratégia adotada é a ego-oposta, enquanto
que, em LIBRAS, utiliza-se a estratégia ego-alinhada.
Quando falamos das estratégias ego-oposta e ego-alinhada,
retomamos a sintaxe da língua, tanto das línguas de sinais como das
línguas orais. Essas estratégias centram-se na questão da ordem dos
constituintes da sentença.
Nas línguas orais, na estrutura ego-oposta (SVO), temos o sujeito, o qual aparece antes do verbo; e os objetos, tanto direto como
indireto, os quais aparecem depois do verbo. Já nas línguas de sinais,
a estrutura adotada é a ego-alinhada (OSV), na qual a sentença mostra
alteração, muitas vezes acompanhada de marcações não manuais (expressão facial).
Faça a cena mental do exemplo a seguir.
Exemplo, em português:
(1) Eu vi a mulher subindo a montanha.
20
as pessoas posicionadas na
cena. Pronomes.
TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Esse trecho, em português, quando interpretado para a língua de sinais, será apresentado
em ordem inversa, porque o usuário da língua de sinais irá visualizar primeiro a “montanha”; em seguida, identificará o objeto que está na frente da montanha, ou seja, “a mulher”; e, por último, será
feita a referência ao usuário da língua (eu).
Tal estrutura está relacionada às especificidades linguísticas, influenciada por uma estrutura
cognitiva específica. Isso deve ser levado em consideração ao ensinar a escrita de uma língua oral
para os surdos, pois eles utilizam a estratégia ego-oposta como vimos no exemplo acima.
A dificuldade que os surdos sentem para se expressar na escrita de uma língua oral pode ser
comparada aos desafios enfrentados pelos ouvintes quando estes estão aprendendo um segundo
idioma.
Nesse caso, a tendência é simplificar a estrutura para conseguir passar a mensagem. Entretanto, nem sempre as palavras mais adequadas são empregadas e, por isso, é comum que os
enunciados não reflitam as ideias desejadas.
Podemos observar que as mensagens não perderiam sua significação se ocorresse uma
transferência de significados dentro da língua dos surdos, já que estes não têm consciência nata das
operações linguísticas da língua oral.
Nesse sentido, os professores não devem depender de uma determinada metodologia de
ensino, pois nenhuma, por si só, daria conta da heterogeneidade do universo de nossos alunos. É
preciso aproximar professor e aluno a fim de criar um ambiente de inovação e autoconstrução. Só
assim, eles se perceberão como vozes heterogêneas, imprescindíveis à elaboração do conhecimento.
Dessa forma, eles poderão reconhecer a importância da aquisição de habilidades linguísticas/interacionais na comunicação fluente do dia a dia para a utilização de habilidades de ordem
pragmática no processo de estruturação de texto falado ou escrito.
O papel das metodologias de ensino empregadas no processo de aprendizagem da escrita
da língua oral aos surdos é permitir que o processo de compreensão e de produção linguística seja
o mais contextualizado, funcional e espontâneo possível.
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A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
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TEMA 4
TEMA 4
ESTRUTURA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
RECAPITULANDO
Neste tema você pode aprender como ocorre a aquisição da língua materna e a segunda língua para o surdo. Para que esse processo aconteça precisamos nos certificar que a língua materna
está estruturada no sujeito surdo, para assim acrescentar uma segunda língua.
Vimos também, a definição da deficiência auditiva de acordo com o artigo 4º do decreto
3.298, de dezembro de 1999. E, os conflitos que ocorrem no processo de aprendizado da língua
falada.
23
REFERÊNCIAS
24
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004.
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PADDEN, Carol; HUMPHRIES, Tom. Deaf in America: voices from a culture. Cambridge, Massachusets e Londres: Harvard University Press, 1988.
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REFERÊNCIAS
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VYGOTYSK, L. S. Pensamento e Linguagem. Lisboa: Antídoto. 1979.
74
Anotações
ANOTAÇÕES
Chegou a sua vez!
Aproveite o momento para sintetizar o que foi abordado neste tema, identificando as ideias
principais. Lembre-se de que essa é uma atividade de sistematização dos conceitos compreendidos, por isso você pode desenvolvê-la aqui em Anotações, ou se preferir, em seu
Diário Reflexivo, disponível no Ambiente Virtual da Disciplina.
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Anotações
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