A Formação Inicial de Professores de Matemática nos Cursos de Licenciatura em Educação do Campo Aldinete Silvino de Lima1 GD7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática Resumo Apresentamos nesta comunicação um recorte da pesquisa em fase inicial de desenvolvimento que tem por objetivo investigar relações entre a Educação Matemática e a Educação do Campo, estabelecidas por professores formadores de Matemática de Cursos de Licenciatura em Educação do Campo. Refletimos inicialmente sobre os modelos de formação de professores de Matemática no Brasil, o surgimento dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo, o objeto da pesquisa e o percurso metodológico delineado. Entendemos que na formação inicial do professor de Matemática, o professor formador além de ensinar conteúdos específicos e didático-pedagógicos poderá constituir relações com o contexto social dos alunos, entre eles, o modo de vida dos camponeses, a cultura, a produção agroecológica, a luta pela Reforma Agrária, dentre outros aspectos do campesinato. Sendo assim, destacamos elementos em torno desta problemática e elucidamos que o debate sobre esses tipos de relações na formação do professor de Matemática não é algo muito comum. Palavras-chave: Formação de Professores. Educação Matemática. Educação do Campo. Prática do Professor Formador. Introdução No âmbito da educação brasileira o professor enfrenta distintos desafios para exercer a prática de sala de aula. Entre eles encontram-se a desvalorização profissional, a falta de infraestrutura das escolas, as precárias condições de trabalho e os próprios limites da docência, oriundos da formação inicial e continuada. No que se refere à formação de professores de Matemática é aguçado o ensino de conteúdos do tipo referência à matemática pura (SKOVSMOSE, 2008) nos cursos de licenciatura. Isso implica dizer que o uso de exercícios repetitivos com regras e conceitos matemáticos desarticulados ao contexto social é predominante na formação docente. Quando se trata de relações entre os paradigmas da Educação Matemática e da Educação do Campo compreendemos que as tensões e desafios da formação de professores tornam-se ainda maior. Sobre esse aspecto, o professor geralmente não tem acesso a essa discussão na 1 Universidade Federal de Pernambuco, e-mail: [email protected], orientadora: Profa. Dra. Iranete Maria da Silva Lima. licenciatura em Matemática ou mesmo na formação continuada e reproduz, conforme afirma Silva (2001), os mesmos procedimentos dos seus formadores. Sendo assim, mantem-se a aplicação de exercícios culturalmente ensinados nos cursos de Matemática em diferentes épocas, o que indica a urgência quanto à reflexão crítica da prática docente com base nas heranças adquiridas durante o percurso formativo. Logo, concordamos com Valente (2008, p. 11) ao ilustrar que “ao saber quem são seus avôs, bisavôs e mesmo tataravôs profissionais, o professor de matemática passa a ver o trabalho de seus colegas contemporâneos, e seu próprio fazer docente, de outro modo”. Nessa perspectiva, destacamos que apesar da matemática pura prevalecer no ensino contemporâneo como reflexo da prática dos seus formadores, a Educação Matemática vem sendo propagada desde o final do século XIX e atualmente ocupa um espaço internacional de debate com questões diversas de investigação. Nesse universo vem surgindo diferentes correntes teóricas e filosóficas que discutem a relação do ensino com o contexto social, a exemplo, da Etnomatemática “programa de pesquisa em história e filosofia da Matemática, com implicações pedagógicas” (D’AMBRÓSIO, 2008, p.7) e da Educação Matemática Crítica (SKOVSMOSE, 2001) que pressupõe o processo de ensino e aprendizagem da Matemática por meio do cenário de investigação. No que diz respeito à criticidade, Skovsmose (2008) afirma que a Educação Matemática pode propiciar o “empowerment” de estudantes com o debate crítico da educação. Assim, entendemos que o ensino de conteúdos matemáticos escolares pode ser articulado ao modo de vida, a cultura, a produção agroecológica, a luta pela Reforma Agrária dos camponeses. Consideramos que a elaboração de um cenário de investigação (SKOVSMOSE, 2008) no ensino de Matemática relacionado à prática social não é algo fácil de ser produzido. A formação do professor de Matemática, apesar das mudanças sofridas em seu percurso, não atende as necessidades requeridas para a docência na educação básica e menos ainda quando se trata da formação profissional para atuar em escolas do campo. Quanto às produções acadêmicas sobre a formação inicial de professores de Matemática envolvendo os dois paradigmas, não existem trabalhos publicados nas duas últimas edições do Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM), 2010/2013 e do Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática (SIPEM), 2009/2012. No X ENEM realizado em Salvador – BA, no ano de 2010, foram publicados 141 trabalhos sobre a formação de professores de Matemática. Desse total, 52 trabalhos foram apresentados no GT 9 – Educação Matemática no Ensino Superior e 89 no GT 18 – Formação Inicial de Professores. Já no XI ENEM, realizado no ano de 2013 em Curitiba – PR, a produção acadêmica sobre o Eixo Formação de professores foi de 471 trabalhos incluindo os subeixos: a) aprendizagem de conceitos matemáticos na Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental e formação de professores; b) políticas públicas curriculares e formação de professores de Matemática para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio; c) formação inicial de professores que ensinam Matemática; d) parceria universidade e escola na formação de professores que ensinam Matemática; e) formação de professores de Matemática e Tecnologia e f) trabalho docente e professores formadores que ensinam Matemática. Entre os 471 trabalhos de formação de professores do evento, 2 deles destacam as relações entre a Educação Matemática e a Educação do Campo: Educação Matemática em diálogo com a Educação do Campo (LIMA; LIMA; 2013) e Educação do Campo nas 10 edições do Encontro Nacional de Educação Matemática: uma retrospectiva (BARBOSA; CARVALHO; ELIAS; 2013). Mesmo com objetos distintos de investigação os dois trabalhos citados apontam para a articulação entre os paradigmas em debate, porém, nenhum deles se refere à discussão anunciada na formação de professores. Nos anais do IV SIPEM realizado em Taguatinga – DF em 2010 foram publicados 23 trabalhos no GT 4 – Educação Matemática no Ensino Superior e 26 no GT 7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática. No V SIPEM, realizado em 2012 na cidade de Petrópolis – RJ os dois GT citados publicaram 20 produções, porém, também não há debate sobre a articulação da Educação Matemática e da Educação do Campo na formação de professores. Frente a esse cenário, apresentamos um recorte do projeto de pesquisa2, em fase inicial de desenvolvimento, que tem por objetivo investigar as relações entre a Educação Matemática 2 Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (EDUMATEC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). e a Educação do Campo, estabelecidas por professor formador de Matemática de cursos de Licenciatura em Educação do Campo. Destacamos, a seguir, elementos que envolvem a formação inicial de professores de Matemática, os cursos de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Matemática, o objeto de pesquisa, o percurso metodológico e algumas considerações sobre este estudo. A formação inicial de professores de Matemática Para Tanuri (2000), a formação inicial, independente do tipo de licenciatura: Ciências, Geografia, História, Matemática, Química, Pedagogia, entre outras, ainda é um desafio para os futuros professores. Saviani (2009), por sua vez, chama a atenção quanto aos limites e as mudanças da formação docente no país com base em aspectos históricos e teóricos desde a criação de Escolas Normais no período de 1827 a 1890 ao surgimento dos Institutos Superiores de Educação e das Escolas Normais Superiores entre os anos de 1996 a 2006. De acordo com os estudos desse autor, no contexto brasileiro foram configurados dois modelos de formação de professores. O primeiro denominado modelo de conteúdos culturais-cognitivos que se relaciona ao ensino de conteúdos específicos da disciplina e o segundo, modelo pedagógico-didático que se contrapõe ao primeiro e discute o preparo pedagógico para o exercício da docência. Diante desse cenário antagônico, Saviani (2009) constatou a predominância do primeiro modelo sob o segundo nas universidades e demais instituições de ensino superior com a oferta de cursos de formação de professores para os anos finais e médio. Consequentemente, o segundo modelo prevaleceu sob o primeiro apenas na formação de professores dos anos iniciais. Trazendo esse debate para o contexto atual notamos que os modelos citados ainda estão presentes nos cursos de formação de professores, principalmente, nas licenciaturas em Matemática, uma vez que, na proposta de formação inicial, muitos cursos destacam a formação de bacharel em detrimento ao licenciado. Sendo assim, Fiorentini (2008) defende em seus estudos a ruptura entre as relações dicotômicas da formação pedagógica e da formação matemática do professor ao considerar que, [...] a formação pedagógica do professor como aquela que trata das relações professor-aluno-sociedade e, sobretudo, do sentido formativo ou educativo do que ensinamos e aprendemos o que, a rigor, não pode ser pensado independentemente do conteúdo do ensino (FIORENTINI, 2008, p. 50). Concordamos com esse autor e entendemos que na formação inicial além das relações entre conteúdos e práticas pedagógicas faz-se necessário estabelecer relações com o contexto social para que a articulação seja inserida no ensino de Matemática da educação básica. Fiorentini e Oliveira (2013) além de enfatizar críticas referentes aos currículos das disciplinas específicas, as metodologias das aulas e a fragmentação do ensino entre teoria e prática na formação docente discutem o lugar da matemática na formação inicial do licenciando com base no papel social da licenciatura do futuro professor de Matemática. Os autores esclarecem que, “para pensar a formação necessária ou fundamental para esse profissional, cabe, antes, analisar e discutir a prática social do educador matemático, pondo em evidência os saberes mobilizados e requeridos por essa prática” (FIORENTINI, OLIVEIRA, 2013, p. 920). Nesse sentido, entendemos que a discussão sobre a prática social dos camponeses nos cursos de Licenciatura em Educação do Campo poderá ser articulada ao ensino de conteúdos matemáticos, sem reduzir o estudo dos conteúdos escolares previstos para a formação inicial. Logo, [...] o professor de matemática precisa conhecer, com profundidade e diversidade, a matemática enquanto prática social e que diz respeito não apenas ao campo científico, mas, sobretudo, à matemática escolar e às múltiplas matemáticas presentes e mobilizadas/produzidas nas diferentes práticas cotidianas. O domínio desses conhecimentos certamente proporcionará condições para o professor explorar e desenvolver, em aula, uma matemática significativa, isto é, uma matemática que faça sentido aos alunos, ao seu desenvolvimento intelectual, sendo capaz de estabelecer interlocução/conexão entre a matemática mobilizada/ produzida pelos alunos e aquela historicamente produzida pela humanidade (FIORENTINI, OLIVEIRA, 2013, p. 924). Dessa forma, compreendemos que o ensino de conteúdos matemáticos na formação inicial do professor de Matemática, seja em cursos de Licenciatura em Educação do Campo ou em demais cursos, deverá ser aprofundado e articulado à dimensão social e política do projeto de sociedade e de campo do país, sem estabelecer hierarquias e/ou dicotomias entre conteúdos específicos e didático-pedagógicos. Os cursos de Licenciatura em Educação do Campo A discussão da Educação do Campo, apesar de existir com experiências não escolares advindas da Educação Popular, vem sendo pautada na educação escolar de maneira articulada no final da década de 1990 com a realização da 1ª Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo no ano de 1998. A aprovação das Diretrizes Operacionais de Educação Básica para as Escolas do Campo (BRASIL, 2002a) é fruto desta Conferência e da articulação nacional por uma escola pública de qualidade que valorize o modo de vida dos camponeses. O debate ampliou-se para a inserção da educação superior e de práticas não escolares nas ações do movimento, promovendo a realização da 2ª Conferência Nacional por uma Educação do Campo em 2004 e a elaboração da proposta para formar os profissionais da Educação do Campo criada pelo Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), do Ministério da Educação (MEC) em 2005. Posteriormente, a política de formação inicial de educadores do campo, segundo Molina e Sá (2011), teve início com a materialização do Programa de Apoio às Licenciaturas em Educação do Campo (PROCAMPO), promovido pela SECAD a partir do ano de 2007. Em 2008, as universidades públicas: UFMG; UnB; UFBA e UFS desenvolveram uma experiência piloto que foi instituída, em seguida, por outras instituições de ensino superior através do PROCAMPO. Os cursos de Licenciatura em Educação do Campo têm como precedentes os cursos de Pedagogia da Terra realizados para os trabalhadores assentados promovidos pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Registra-se na minuta original das Licenciaturas em Educação do Campo que o perfil profissional do licenciado deverá abranger as seguintes aprendizagens: a) Docência Multidisciplinar em uma das áreas de conhecimento (Linguagens, Artes e Literatura; Ciências Humanas e Sociais; Ciências da Natureza e Matemática; Ciências Agrárias); b) Gestão de processos educativos escolares; c) Gestão de processos educativos comunitários (BRASIL, 2006). Sobre esse cenário Caldart (2011) questiona qual o lugar da docência por área do conhecimento e discute a dimensão do conhecimento integrada ao processo educativo mais amplo. Para a autora é necessário refletir o conhecimento na formação humana além do conhecimento necessário para exercer a docência. Em relação ao ensino de Matemática nas licenciaturas em Educação do Campo, Britto (2011) afirma que educadores/pesquisadores envolvidos nessa área tomam por base as categorias: “dialogicidade, problematização, contradição e interdisciplinaridade como orientadoras das reflexões/ações na prática educativa desenvolvidas na interface entre as teorias freireanas, currículo e Educação” (BRITTO, 2011, p. 170). Nesse sentido, compreendemos que o ensino de Matemática abordado na área supracitada pode ocorrer articulado ao cenário de investigação, problematização e criticidade do projeto de campo que atenda aos interesses dos camponeses. Sobre isso, Britto (2011) aponta ainda como a relação entre os conteúdos escolares e o campesinato vem incidindo na organização curricular do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O segundo módulo – Fundamentos das Ciências concentra o cerne da área CN e MTM, que perpassa da 3ª a 6ª fases, assim temos respectivamente: Ciências da Natureza e Matemática: Relações com o campo I, II, III e IV; Produção do Conhecimento I, II, III e IV e Aprofundamento Temático I, II, III e IV. Especificamente na 5ª e 6ª fase temos a inclusão do Estágio Docência e Projetos Comunitários I e II (Tempo Comunidade) e do Laboratório I e II. O conjunto de componentes curriculares nesse módulo está articulado pela Biologia, Química e Matemática (BRITTO, 2011, p. 171). O exemplo da proposta curricular da UFSC indica que há relações entre os conteúdos escolares referentes à Biologia, Química e Matemática e o contexto social dos camponeses com atividades realizadas no Tempo Comunidade e Tempo Escola. De acordo com Molina e Sá (2011) esse tipo de organização também habilita o educador para a gestão de processos educativos escolares e para gestão de processos educativos comunitários. Por outro lado, é válido destacar que abordar as relações entre a Educação Matemática e a Educação do Campo nas licenciaturas em Educação do Campo não significa afirmar que essa é a única maneira das relações serem constituídas. Ao contrário disso, defendemos que é possível estabelecer relações entre os dois paradigmas na educação básica ou em qualquer licenciatura, uma vez que, a Educação do Campo é um paradigma que deve ser inserido no perfil profissional de futuros professores independente da habilitação. A pesquisa e o percurso metodológico delineado Partimos do pressuposto que é possível constituir relações entre o paradigma da Educação Matemática e o paradigma da Educação do Campo. Desse modo, pretendemos investigar que relações são estabelecidas entre a Educação Matemática e a Educação do Campo por professores formadores dos componentes curriculares de Matemática de cursos de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Matemática de universidades públicas do Nordeste? Buscando elementos de resposta à questão de pesquisa supracitada, traçamos os seguintes objetivos específicos: (i) Mapear os cursos de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Matemática do Nordeste brasileiro; (ii) Identificar as relações entre a Educação Matemática e a Educação do Campo nos Projetos Políticos Pedagógicos dos Cursos e nas ementas dos componentes curriculares de Matemática dos cursos selecionados; (iii) Identificar as relações estabelecidas pelos professores formadores entre a Educação Matemática e a Educação do Campo nas atividades realizadas durante as aulas do curso; (iv) Analisar as relações que são estabelecidas pelos professores formadores entre a Educação Matemática e a Educação do Campo. Para obter os objetivos anunciados serão selecionados professores formadores dos componentes curriculares de Matemática e coordenadores pedagógicos de duas universidades públicas do Nordeste que oferecem cursos de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Matemática. Elegemos a universidade pública por oferecer o curso permanente de Licenciatura em Educação do Campo, uma vez que, nas demais instituições superiores o curso está sendo ofertado em turma única. Para a seleção das universidades utilizamos os seguintes critérios: a) ser universidade pública localizada no Nordeste brasileiro; b) ter implantado o curso de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Matemática na modalidade presencial implantado no período de 2008 a 2011; c) oferecer o maior número de disciplinas e carga horária referente à Matemática. Por conseguinte, buscaremos realizar a análise documental das diretrizes nacionais para formação de professores da educação básica (BRASIL, 2002b), a minuta original dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo (BRASIL, 2006), os Projetos Políticos Pedagógicos e as ementas dos componentes curriculares de Matemática dos cursos em investigação. Além disso, realizaremos a entrevista do tipo semiestruturada com os sujeitos da pesquisa e a observação direta da prática do professor formador. A análise dos documentos selecionados e dos dados revelados pelos sujeitos seguirá com base na análise temática apresentada por Bardin (2011). Para a autora, “o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado seguindo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura” (BARDIN, 2011, p. 135). Assim, levaremos em conta o referencial teórico e os objetivos da investigação para a definição das categorias analíticas com a pretensão de obter a descrição precisa e a interpretação do fenômeno. Destacamos, também, a opção pela maneira mista, segundo Franco (2008), de construir as categorias, considerando a base teórica a partir do problema anunciado e preservando uma abertura para construir outras categorias perante as implicações dos dados. Afinal, entendemos que esse processo é dinâmico e imprevisível. Considerações A pesquisa exibida nesta comunicação situa-se no seio da formação de professores de Matemática de cursos de Licenciatura em Educação do Campo. O interesse por esta problemática surgiu da dissertação de mestrado intitulada: Educação do Campo e Educação Matemática: relações estabelecidas por professores e camponeses do Agreste e Sertão de Pernambuco (LIMA, 2014) apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea da Universidade Federal de Pernambuco do Centro Acadêmico do Agreste. Os resultados da pesquisa indicaram que há um fracionamento entre o ensino dos conteúdos matemáticos escolares e as atividades produtivas dos camponeses em escolas do campo do Agreste e Sertão de Pernambuco, conforme orienta os princípios da Educação do Campo quanto à articulação entre o conhecimento escolar e o contexto social dos camponeses. Por outro ângulo, a pesquisa também aponta os limites da formação do professor para articular os conteúdos matemáticos com as atividades produtivas dos camponeses frente à luta pela transformação social. Sendo assim, voltamos nossos olhares para a formação inicial do professor de Matemática, sobretudo, para a prática do professor formador de cursos de Licenciatura em Educação do Campo que articulam as fronteiras entre os paradigmas da Educação Matemática e da Educação do Campo. Apresentamos, portanto, parte das nossas inquietações e reflexões iniciais sobre a problemática explicitada, um recorte dos aspectos que envolvem a formação de professores de Matemática, a implantação e o funcionamento dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo, o objeto de pesquisa e o percurso metodológico. Referências BARBOSA, L.; CARVALHO, D; ELIAS, H. Educação do campo nas 10 edições do encontro nacional de educação matemática: uma retrospectiva. In: Anais do XI Encontro Nacional de Educação Matemática. Curitiba: SBEM, 2013. p. 1-15. Disponível em:< www.sbem.esquiro.kinghost.net/anais/XIENEM/pdf/211_199_ID.pdf >. Acesso em: 08 dez. 2013. BARDIN, L. Análise de conteúdo. 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