Editor: Instituto Politécnico de Santarém
Coordenação: Gabinete coordenador do projecto
Ano 5; N.º180; Periodicidade média semanal; ISSN:2182-5297; [N.6]
FOLHA INFORMATIVA Nº13-2012
O Projecto Educativo da Cultura Avieira
“Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os
homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo.”
Paulo Freire – Pedagogia do Oprimido
Com o Projecto Educativo da Cultura Avieira - PECA - pretende-se criar ligações duradouras
entre as comunidades escolares e o património material e imaterial das comunidades Avieiras
promovendo, através da educação não-formal, o seu conhecimento, a sua compreensão e a
sua valorização.
O PECA será desenvolvido em Escolas Básicas, Secundárias e de Formação Profissional das
regiões banhadas pelo Tejo, desde Lisboa até Abrantes, assim como no Sado, nelas incluindo
Alcácer do Sal e Grândola, e em Vieira de Leiria. Uma das primeiras acções deste projecto
educativo ocorreu na Escola Secundária D. Dinis, em Lisboa, e dele vos damos conhecimento.
Objectivo geral
Promover o património avieiro, como elemento constitutivo da identidade comunitária das
regiões envolvidas e facilitador do respeito pela alteridade.
Objectivos específicos
1. Conhecer o património avieiro, nas suas diversas dimensões;
2. Reconhecer o património avieiro como identitário e diferenciador;
3. Alertar para o papel que as actividades ligadas ao património avieiro podem desempenhar
no desenvolvimento sociocultural e económico;
4. Promover as aldeias avieiras e estabelecer boas práticas no domínio da preservação e
recuperação do património avieiro no seu todo;
5. Reconhecer a importância da história, hábitos, costumes, tradições e riqueza etnográfica
avieira na sua interacção com a diversidade regional;
6. Contribuir para ligar a cultura avieira com os projectos educativos escolares e destes com as
comunidades alargadas em que se inserem;
7. Estimular o desenvolvimento de práticas cooperadoras, altruístas e filantrópicas na
comunidade escolar;
8. Contribuir para ligar as comunidades escolares na região-alvo, potenciando o surgimento de
uma nova mentalidade aberta aos outros e às particularidades culturais.
Duração
Para alcançar os objectivos acima delineados, definiu-se que o projecto vai estender o seu raio
de acção por um período de 3 anos, com início em 2011 prolongando-se até 2014.
Ao longo deste tempo serão, essencialmente, trabalhadas cinco temáticas, aqui designadas
por áreas de intervenção.
Áreas de intervenção
Casa avieira – barco com tolde, barraca, palhota ou palafita;
Barco – nas suas diferentes tipologias;
Redes e artes de pesca;
Gastronomia;
Oralidade e religiosidade.
Metodologia de Intervenção
Após pesquisa e definição do termo Património e deste enquanto factor de identificação e
pertença, os estabelecimentos de educação e ensino aderentes, deverão enquadrar a temática
avieira na época do neorrealismo, identificando, reconhecendo e evidenciando as relações
entre a área patrimonial referida e o escritor Alves Redol e a sua obra Avieiros.
Posteriormente, os participantes deverão analisar comparativamente o património em que
estão a trabalhar com o de outras regiões piscatórias no litoral do país, apontando as
principais semelhanças e diferenças, procurando entender o Património como facilitador da
aceitação do Outro e como factor de desenvolvimento humano, com base neste recurso
cultural único e inimitável.
A Escola Secundária D. Dinis, em Marvila - Lisboa
Actividades a promover
As planificações das actividades serão ajustadas com vista ao cumprimento do objectivo do
Projecto.
1ª Actividade - “Viagem-guiada” por uma exposição fotográfica e de cartazes sobre os 3
pilares que constituem a base da Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional e da
UNESCO: barco (com as artes de Pesca), casa e gastronomia.
2ª Actividade – “Oficina da Oralidade” onde é desenvolvida com os alunos uma actividade
sobre a tradição oral, recorrendo a uma maleta pedagógica construída no âmbito do Projecto
Nacional da Cultura Avieira e que envolve vídeos e/ou entrevistas a “porta-vozes da cultura
avieira”, homens e mulheres que narram as suas estórias de vida, gravadas em suporte áudio
e vídeo. Nesta actividade pretende-se dar a conhecer e valorizar o património cultural
imaterial da comunidade Avieira.
3ª Actividade – “Fórum-debate” com exibição de Filmes e/ou diapositivos, e convidados
ligados ao Projecto Nacional da Cultura Avieira e à Associação para a Promoção da Cultura
Avieira - APCA.
4ª Actividade (a realizar mais tarde em sala de aula, com os respectivos professores) Trabalhos de escrita criativa e/ou de desenho tendo em conta algumas palavras-chave, que
serão “encontradas” nas fotografias e entrevistas, e que irão ser posteriormente divulgados
em Folha Informativa do Projecto Nacional da Cultura Avieira.
5ª Actividade – Workshop criativo e formativo sobre os resultados produzidos, dedicado às
direcções dos Agrupamentos e Instituições de Formação Profissional e de Ensino Superior dos
territórios envolvidos.
“Alves Redol e a Cultura Avieira” na Escola D. Dinis em Lisboa
“A escola muda, mudando a sua relação com a comunidade (...); a escola enquanto sistema
de comportamento não é um mundo estanque e isolado da comunidade local... Os alunos
são a comunidade dentro da escola”. (Canário, R. 1992, pg. 79)
Para retomar a acção educativa do Projecto da Cultura Avieira fomos, enquanto
voluntários, no dia 5 de Março de 2012, montar uma exposição fotográfica à Escola
Secundária de D. Dinis, unidade escolar que está integrada na Direcção Regional de
Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DRELVT), na Rede Nacional de Bibliotecas Escolares, e
ainda na rede de escolas ENIS (Rede Europeia de Escolas Inovadoras). Esta exposição está
inserida na temática global “Alves Redol e a Cultura Avieira”.
Aspectos da exposição
Esta exposição serviu para fazer o enquadramento teórico a uma sessão debate, realizada no
dia 9 de Março.
Do painel de interlocutores fizeram parte o Sr. José Gaspar membro da Associação para a
Promoção da Cultura Avieira – APCA, a Dr.ª Filomena Siva, Professora de Português, o Dr.
Rogério Mota, nosso interlocutor directo, o Dr. José Antunes Sousa, Presidente do Conselho
Directivo e a Dra. Lurdes Véstia em representação do Gabinete de Coordenação da Cultura
Avieira do Instituto Politécnico de Santarém.
Estiveram presentes mais de 120 alunos na sessão da Escola D. Dinis, em Lisboa
De um modo em geral, a pouca valorização do património cultural dá-se pelo
desconhecimento que a maior parte da população possui de um tema que ainda não é tratado
nas escolas. Segundo a nossa perspectiva, trabalhar o património cultural nas escolas fortalece
a relação dos jovens com as suas heranças culturais, estabelecendo um melhor
relacionamento daqueles com estes bens, responsabilizando-os pela valorização e preservação
do património, fortalecendo a vivência real com a cidadania, num processo de inclusão social.
O princípio básico da educação patrimonial diz que:
(…) se trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho
educacional centrado no património cultural como fonte primária de
conhecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato
direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus
múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de educação
patrimonial procura levar as crianças e adultos a um processo ativo de
conhecimento, apropriação e valorização da sua herança cultural,
capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a
geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de
criação cultural (Horta; Grumberg; Monteiro, 1999, p. 06).
Desta forma, a educação para a sensibilização patrimonial possibilita a interpretação dos bens
culturais, convertendo-se num instrumento importante de promoção e vivência da cidadania e
concludentemente, gera responsabilidade na procura, valorização e preservação do
património cultural.
Se o sistema educativo tem como objectivo levar os/as alunos/as a utilizarem as suas
capacidades intelectuais para a aquisição e o uso de conceitos e aptidões, então a educação
patrimonial permite provocar situações de aprendizagem sobre o processo cultural e, a partir
das suas manifestações, despertar nos/as alunos/as o interesse para a resolução de questões
significativas para a sua própria vida pessoal e colectiva.
O património e o meio em que está inserido provocam nos/as alunos/as sentimentos de
surpresa e curiosidade, levando-os a querer conhecer mais sobre eles, e é nesse sentido que
podemos falar no “passado”, para compreendermos melhor o “presente” e projectarmos o
“futuro”. O estudo do passado motiva a compreensão e avaliação do modo de vida e os
problemas enfrentados pelos que nos antecederam, as soluções que encontraram para
enfrentar esses problemas e desafios, e a compará-las com os desfechos que encontramos
para resolver problemas similares. Podemos facilmente comparar essas soluções, discutir as
causas e origens dos problemas identificados e projectar as soluções ideais para o futuro, num
exercício de consciência crítica e de cidadania.
O trabalho com o património cultural e histórico é mais facilmente
compreendido no âmbito das disciplinas que mais comumente
abordam o tema, como a História ou os Estudos Sociais, mas no caso
específico da Escola D. Dinis, este trabalho foi levado a cabo na
disciplina de Português e na interacção entre o escritor neorrealista
Alves Redol e a sua obra “Avieiros” e a cultura avieira. Daqui se pode
depreender que os objectos patrimoniais materiais ou imateriais são
um recurso educacional importante, pois permitem a aprendizagem de temas e a manipulação
de ferramentas que serão importantes para a vida dos alunos. Desta forma, podem ser usados
como motivadores para qualquer área do currículo escolar ou inclusive para unir áreas
aparentemente distantes no processo ensino/aprendizagem.
Num auditório com mais de 120 alunos/as e respectivos/as professores/as levou-se a cabo
uma acção de promoção da cultura avieira, do seu conhecimento, da sua compreensão e da
sua valorização, através da educação não-formal.
Mesa de apresentação do projecto: dois membros da APCA - Associação para a
Promoção da Cultura Avieira -, José Gaspar e Lurdes Véstia
A sessão constou de uma exposição em diapositivos do ideário do Projecto Nacional da Cultura
Avieira apresentada pela Dra. Lurdes Véstia, e do filme “ A Aldeia Avieira da Barreira da Bica”,
disponível em http://www.youtube.com/watch?v=uhdYOCPb1qg., da responsabilidade do Sr.
José Gaspar.
Após a sessão abriu-se o debate aos jovens que colocaram as perguntas que lhes interessava
ver respondidas.
Por fim foi lançado o desafio para que as 5 turmas envolvidas fizessem um trabalho de grupo
sobre a temática apresentada para serem posteriormente divulgados não só pela comunidade
educativa, como através de uma Folha Informativa do Projecto Nacional da Cultura Avieira.
Os organizadores da acção educativa: José Gaspar e Lurdes Véstia (APCA); Rogério Mota e Filomena Silva
(professores da Escola D. Dinis) e José Antunes Sousa (presidente do Conselho Directivo).
Estão agendadas mais acções educativas das quais iremos dando o pertinente realce, pois tudo
leva a crer que esta será uma aposta necessária e autêntica - porque mais importante do que
estar-se envolvido e empenhado no projecto que se integra e no respetivo contexto, é
fundamental que se esteja ciente das razões que levam as pessoas a intervir.
Convém, igualmente, salientar que este conjunto de acções educativas, ao propor actividades
conjuntas de promoção e divulgação do património cultural avieiro, procura simultaneamente
contribuir para o fortalecimento das identidades culturais e para o desenvolvimento
económico e social das comunidades ribeirinhas envolventes.
É importante considerar que a educação patrimonial contribui muito para a formação de
professores e estudantes, tornando-os sujeitos activos e conscientes, atentos ao seu meio
envolvente, “no mundo e com o mundo” e exercendo de facto uma cidadania activa.
Lurdes Véstia
Mestranda na ESES (Escola Superior de Educação de Santarém),
no curso de Intervenção Comunitária
Referências bibliográficas
CANÁRIO, R. (org). (1992). Inovação e Projecto Educativo de Escola. Lisboa: Educa.
FREIRE, Paulo. (1987). Pedagogia do Oprimido. 17ª Edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra.
HORTA, Maria de Lurdes Parreiras; GRENBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiróz.(1999)
Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília, Instituto do Património Histórico e
Artístico Cultural, Museu Imperial.
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