RESENHA1
BIDERMAN, Ciro; COZAC, Luis Felipe L.; REGO, José Marcio. Conversas com
Economistas Brasileiros. Maria da Conceição Tavares. São Paulo: Editora 34, 1996 p. 127151.
A quarta entrevistada de Conversas é Maria da Conceição de Almeida Tavares, única
mulher dentre os economistas selecionados. Nascida em Portugal em 24 de abril de 1930,
Tavares graduou-se em Matemática na Universidade de Lisboa em 1953. Em 1954 mudou-se
para o Brasil e, em 1960, formou-se em Ciências Econômicas na atual UFRJ (então
Universidade do Brasil).
A entrevistada foi, por um longo período (de 1961 a 1974), colaboradora da
CEPALONU, na América Latina. Em 1972, Tavares lançou a coletânea de artigos Da
Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro e em 1975, obteve seu Doutorado na
UFRJ com a tese Acumulação de Capital e Industrialização no Brasil. Além disso, foi uma das
fundadoras do primeiro curso de pós-graduação em Economia da UNICAMP.
Tavares teve sua formação como economista dentro de duas escolas de pensamento
antagônicas: de um lado a UFRJ, monetarista, e de outro a CEPAL, estruturalista. Ela afirma
que isso só foi possível graças ao fato de ambas as escolas serem, fundamentalmente, ambas
institucionalistas. Segundo ela, “Eu tive a grande sorte de ter bons professores de direita e
grandes professores de esquerda, todos heréticos” (TAVARES in BIDERMAN et al. Conversas
com Economistas Brasileiros, 1996, p. 113).
A entrevistada é enfática em ressaltar que, na sua concepção, a Matemática não tem
utilidade alguma na Economia. Também ressalta que para se fazer uma pesquisa econômica é
necessário possuir um conjunto de hipóteses inferidas de alguma realidade histórica, isenta de
“achismos” e pontos de vista próprios.
Tavares conclui que um dos principais problemas do método científico na pesquisa
econômica brasileira é que se tenta aplicar certas teorias em campos para os quais elas não
foram feitas.
Para a entrevistada, os grandes autores de Economia, principalmente os mais
tradicionais, devem ser relidos sempre. Segundo ela, a “evolução” não implica que os princípios
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Esta resenha foi produzida pelos acadêmicos de ciências econômicas da Faculdade de Economia da UFJF
Gustavo Oliveira Martins e Túlio Mesquita Belgo sob orientação do professor Lourival Batista de Oliveira Júnior
dentro das atividades do programa Jovens Talentos para a Ciência da CAPES.
fundamentais tenham perdido a importância, isto é, se os autores são grandes, é porque disseram
algo extremamente relevante no passado.
Tavares afirma que, apesar da realidade econômica ser algo redutível, é preciso tomar
certo cuidado ao fazê-lo. Como exemplo, cita Adam Smith e David Ricardo: o primeiro,
segundo ela, pode ser lido até hoje por se tratar de um autor institucionalista; já a leitura do
segundo, requer uma extensa pesquisa teórica, dado o grande espírito teórico do autor. Em
seguida, Tavares explica que a economia não existe sem as instituições, uma vez que o próprio
mercado é um conjunto delas.
Sobre o fato de sermos colonizados academicamente, a entrevistada diz ser difícil fazer
algo a respeito, afirmando que a capacidade de produzir pensamento autóctone tanto de direita
como de esquerda tem diminuído no país. Por fim, Tavares condena o ensino “pela metade” de
grandes autores, onde só o mais importante é considerado, ignorando-se o conjunto da obra.
Nas palavras dela: “Sempre que você faz um modelo simplificado em cima de um grande autor,
é quase certo que você está liquidando, distorcendo tudo. Porque não tem jeito, não dá pra meter
[tudo] em um modelinho” (TAVARES in BIDERMAN et al. Conversas com Economistas
Brasileiros, 1996, p. 147).
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CcEB 07 Maria da Conceição Tavares FINAL