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O epigrama de Bocage / Isabella Tardin Cardoso
Caro Aluno:
Essa atividade pós-exibição é a quarta, de um conjunto de propostas,
que têm por base o segundo episódio do programa de áudio Frases
Célebres. As atividades pós-exibição são compostas por textos e
softwares que retomam os programas e encaminham sugestões de
atividades a serem realizadas por vocês. Recomendamos que elas sejam
feitas após a exibição em sala de aula desse episódio.
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O epigrama de Bocage / Isabella Tardin Cardoso
Atividade
O epigrama de Bocage
Episódio Epigramas
Programa Frases Célebres
Desse tal de Bocage
eu já ouvi falar...!
Ué... ele escreveu
epigramas também?
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O epigrama de Bocage / Isabella Tardin Cardoso
O epigrama de Bocage
Manuel Maria Barbosa du Bocage realmente deu o que falar! Ele é considerado o maior
poeta português do século XVIII. Nasceu em Setúbal, em 1765, e aos dez anos, ficou
órfão de mãe. Na juventude, serviu, já em Lisboa, o exército e a marinha de Portugal,
embarcando para a Índia em 1786. Viveu ainda no Brasil (Rio de Janeiro), em Goa,
Damão e Macau, sempre numa vida boêmia e dissoluta. Retorna à pátria em 1790,
quando então fica sabendo que seu irmão se casara com Gertrudes, a paixão juvenil do
poeta (ela aparece em seus poemas com o nome de Gertrúria). Triste e desgostoso, se
entrega mais ainda à vida de boêmio. É nessa época também que passa a fazer parte da
Academia de Belas Artes (também chamada Nova Arcádia), publicando, em 1791, suas
obras Rimas e Idílios Marítimos recitados na Academia de Belas-Artes de Lisboa. Como
era hábito entre os poetas árcades, adota um pseudônimo: Elmano Sadino (“Elmano” é
um anagrama de Manuel, seu prenome, e Sadino é formado a partir de Sado, rio que
banha sua terra natal, Setúbal).
Em 1797, fica por algum tempo na prisão, para onde fora mandado principalmente por
razões políticas, mas também pela inveja que despertava o seu talento poético.
É... como prefeito,
sei que a política
está
em
tudo
mesmo...
Depois de libertado, publica, em 1799 e 1804, respectivamente, um segundo e um
terceiro volume das Rimas, vindo a falecer em 1805, com a saúde debilitada pela vida de
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O epigrama de Bocage / Isabella Tardin Cardoso
excessos e boemia. Depois de sua morte, são ainda publicados dois volumes de poemas
intitulados Obras Poéticas (1812 e 1813) e o volume Verdadeiras Inéditas Obras Poéticas
(1814). É, porém, em 1853 que sai a edição considerada a mais completa da obra do
poeta, intitulada Poesias de Manuel M. du Bocage e organizada por Inocêncio Francisco
da Silva em seis volumes, contendo inclusive poemas autênticos jamais publicados.
A obra de Bocage é considerada de transição, pois possui um conjunto de poemas que se
filiam ao Arcadismo, então vigente em Portugal, e um conjunto que prenuncia já
características do Romantismo, razão pela qual é classificado como pré-romântico.
Quanto aos gêneros poéticos, cultivou tanto a poesia satírica quanto a lírica, compondo
em formas diversas: odes, epigramas, idílios, elegias, canções, cantatas, cançonetas,
epístolas, sonetos etc. Nesta última forma, o soneto, é considerado, junto de Camões e
Antero de Quental, um dos melhores da literatura portuguesa.
Apesar de não ser a forma em que se notabilizou, interessa-nos mais aqui o Bocage autor
de epigramas. São cerca de 109 poemas desse tipo, se levarmos em conta os que foram
agrupados sob essa denominação em sua poesia reunida. A influência do epigramatista
Marcial (já conhecido de todos através dos textos e atividades do Episódio 1) é evidente,
sobretudo nos temas, até porque Bocage chega mesmo a citar nominalmente o poeta
latino. A sátira à figura do médico, por exemplo, presente na grande maioria dos
epigramas de Bocage, fora já realizada por mais de uma vez na poesia de Marcial.
Autores:
Isabella Tardin Cardoso (Coordenadora)
Lilian Nunes da Costa
Mariana Musa de Paula e Silva
Robson Tadeu Cesila
Exercício 1
Um exemplo de epigrama de Marcial imitado por Bocage é o seguinte, que satiriza um
barbeiro muito lento, um barbeiro que executa o seu serviço em ritmo tão lento que...
bem, não vamos estragar a graça do poema: vamos deixar que o próprio texto nos revele
seu final humorístico. O nome do barbeiro é Eutrápelo (um nome de origem grega) e o
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de seu cliente é Luperco:
Quando Eutrápelo a barba perfaz de Luperco,
no outro lado outra barba já cresceu.
(Marcial, Epigramas, VII.83. Trad. Robson T. Cesila)
Tente agora responder às seguintes perguntas:
a) O que significa a palavra “perfaz”, do primeiro verso? Para ajudá-lo, vamos dar
algumas dicas: o prefixo “per-“ exprime, nessa palavra, a ideia de algo acabado,
completo (como em “permanecer” = ficar por completo, ficar até o fim, “perdurar” =
durar por completo, durar até o fim); já o verbo “faz” é, como você sabe, a terceira
pessoa do singular do verbo “fazer”. Se, ainda com essas dicas, não conseguir inferir
o significado de “perfaz”, consulte o dicionário.
b) Explique o epigrama em poucas palavras.
Veja agora o epigrama de Bocage (note que o próprio poeta português nos informa que
imitou um epigrama de Marcial):
(Imitado de Marcial)
Barbeiro demorador
Não me pilhas outra vez
Mal haja o pai que te fez:
Devera ser malfeitor.
Com a barba em sangue, em fogo,
Tanto tempo aqui sentado,
Que outra nova tem brotado:
Mal que a rapas, cresce logo.
José Feliciano de Castilho
Barreto. Manoel Maria du Bocage, excerptos Rio de Janeiro: Garnier,
1867, vol. III, p. 153
Bocage, Manuel Maria Barbosa du; Noronha,
Depois de ler esse poema, responda:
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c) Há duas semelhanças entre esse epigrama e o de Marcial que justificam a afirmação
de que Bocage imitou o poeta latino. Quais são essas semelhanças?
d) Você já aprendeu que o conceito literário de “imitação” não significa cópia, plágio
ou imitação servil do modelo adotado. No epigrama acima, Bocage retoma temas e
imagens de Marcial, mas organiza esse material de modo próprio e até faz alguns
acréscimos em seu texto. Releia o poema de Bocage e indique passagens que trazem
alguns desses acréscimos.
Releia agora este epigrama de Bocage sobre os maus médicos, declamado pelo professor
no programa de rádio:
Epitáfio
Aqui jaz um homem rico
nesta rica sepultura;
escapava da moléstia,
se não morresse da cura.
Bocage, Manuel Maria Barbosa du; Noronha, José Feliciano de Castilho Barreto. Manoel Maria
du Bocage, excerptos Rio de Janeiro: Garnier, 1867, vol. I, p. 290.
Trata-se de um dos muitos epigramas do autor português que satirizam os médicos de
sua época, profissionais (ou nem tanto) que, de acordo com os poemas de Bocage,
cobravam caro por seus serviços e não curavam as enfermidades de seus pacientes, antes
causavam ou apressavam a morte dos mesmos.
Já Marcial escrevera epigramas atacando tais “profissionais”, como este, que satiriza um
médico chamado Diaulo:
Diaulo outrora era médico, agora é coveiro:
o que o coveiro faz fazia o médico.
(Marcial, Epigramas, I.47. Trad. Robson T. Cesila)
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O epigrama de Bocage / Isabella Tardin Cardoso
Responda agora às seguintes perguntas:
e) Explique brevemente o primeiro epigrama.
f) Explique brevemente o segundo epigrama.
g) Embora os dois epigramas sejam semelhantes no plano temático (falam de maus
médicos, que causam a morte de seus pacientes, ao invés de curá-los), são diferentes
no plano formal. Compare-os brevemente quanto à sua forma (número de sílabas nos
versos, quantidade de versos, presença ou ausência de rima etc.).
BIBLIOGRAFIA
DEZZOTI, J. D. O epigrama latino e sua expressão vernácula. Dissertação de Mestrado.
São Paulo: USP, 1990.
BOCAGE. Obras de Bocage. Porto: Lello e Irmãos, 1968.
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du; Noronha, José Feliciano de Castilho Barreto.
Manoel Maria du Bocage, excerptos Rio de Janeiro: Garnier, 1867, vol. I-III.
MOISÉS, MASSAUD. A literatura portuguesa através dos textos. 29ª. ed. São Paulo:
Cultrix, 2004.
_____________. A literatura portuguesa. 33ª. ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
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