UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Campus de Rosana - SP CAROLINA BRANDÃO BARBOSA TUURRIISSM MO O EE EEX XTTEEN NSSÃ ÃO OU UN NIIV VEER RSSIITTÁ ÁR RIIA A: ANÁLISE DO PROJETO UNESP EM CAMPO ROSANA-SP. 2011 CAROLINA BRANDÃO BARBOSA TUURRIISSM MO O EE EEX XTTEEN NSSÃ ÃO OU UN NIIV VEER RSSIITTÁ ÁR RIIA A: ANÁLISE DO PROJETO UNESP EM CAMPO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo. Orientador: Profª Drª Patrícia Alves Ramiro ROSANA-SP. 2011 [FOLHA DE APROVAÇÃO CAROLINA BRANDÃO BARBOSA TUURRIISSM MO O EE EEX XTTEEN NSSÃ ÃO OU UN NIIV VEER RSSIITTÁ ÁR RIIA A: ANÁLISE DO PROJETO UNESP EM CAMPO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo. Orientador: Profª Drª Patrícia Alves Ramiro Data de aprovação: ___/___/____ MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Nome e título Universidade. Membro Titular: Nome e título Universidade. Membro Titular: Nome e título Universidade. Local: Universidade Estadual Paulista UNESP – Campus Experimental de Rosana Dedico este trabalho à Aparecida Lemos, mais conhecida como minha avó e a Rosely Brandão, mais conhecida como minha mãe, porque sempre acreditaram em mim e nunca desistiram disso. Obrigada por tudo. AGRADECIMENTOS E se a memória me trair em algum momento, desde já peço desculpas. Agradeço a DEUS, não só aqui como todos os dias de minha vida, pois Ele me permitiu viver esta vida, viver com esta família, conhecer quem eu conheci, e por me dar perfeitas condições de seguir este caminho que escolhi. Agradeço em primeiro lugar a minha avó e a minha mãe, que sempre tiveram papel fundamental em minha vida, foram elas e, somente, por elas que consegui chegar até aqui e sei que com elas eu posso muito mais, obrigado pelos abraços, sorrisos e por entender minhas lagrimas, enfim por tudo e EU AMO VOCÊS. Agradeço ao meu irmão Henrik e a minha prima Fernanda, duas pessoas muito mais que especiais, muito mais que parte da família pra mim, sei que com eles eu posso sempre contar em qualquer momento, obrigado por vocês existirem em minha vida e por fazerem parte dela. Não tem como não agradecer a minha Tia Cleide, minha madrinha Elaine, Tó, Dito, Fabio, Fô e Ney que sempre me apoiaram e vibraram juntos as minhas conquistas, agradeço de coração pelo apoio, vocês fazem parte do que sou. Sempre ouvi dizer que “Amigos são a família que nos permitiram escolher”, e foi em Primavera que descobri o verdadeiro sentido desta frase. Em Primavera pude escolher uma família maravilhosa, e claro que para começar a falar desta família, tenho que falar primeiramente do Rodrigo, que é muito mais que um amigo confidente e fiel, ele entrou na minha vida de certo modo que, hoje, já nem me lembro como era antes. Eu sempre me lembro de uma aula, logo no primeiro ano, em que ele me contou a sua história de vida e eu emocionei muito, lembra Rô? Ele me conquistou desde o primeiro semestre da faculdade, se não me engano, fomos morar juntos no segundo semestre e a partir de então, me falta palavras para descrevê-lo e descrever tantos momentos que passamos juntos, momentos bons e outros nem tanto, más que se fizeram necessários para construir nossa amizade. Rodrigo só tenho que agradecer por sua amizade, por dividir comigo os melhores quatro anos da minha vida e claro, por me agüentar todo esse tempo, pois sei que não deve ter sido fácil. Não posso deixar de falar do Sino, do 3D e do Justin que fizeram parte desta família de Primavera. Nem sei como descrever tudo o que vivemos, é tanta história e loucura mais saibam que independente de tudo, vocês são muito, muito, muito especiais de verdade e desde já agradeço pela amizade e paciência durante esses anos. Mainnã e Thaís, jamais eu esqueceria de vocês. Nossa amizade surgiu “pósestágio”, na adorável e bela praia de Mariscal, Santa Catarina, tantas histórias, né, amigas? Caramba nem tenho o que falar de vocês, de verdade, me faltam adjetivos para tentar exemplificar o que vocês significam pra mim e se eu for contar aqui o que já vivemos juntas, daria um TCC. Só tenho uma certeza, de que nossa amizade não acaba junto com a faculdade, e que teremos ainda tantas outras histórias e paranóias juntas. Obrigado amigas por tudo de verdade. Amo vocês. Letícia, vulgo Pinda, também amiga “pós-estágio”. Amiga lembra que no seu primeiro ano de “bichete” aqui em Primavera, nem nos falávamos? Mas em Juquehy descobrimos afinidades e desde então a parceria começou. Agradeço a amizade e confiança. Sei que essas experiências de estágios, morar em outra cidade longe, muito, mais muito mesmo longe de casa, e tantas outras coisas me tornaram o que sou hoje, me transformaram totalmente. E claro que esta mudança positiva na minha vida, minha grande amiga Lorena, pode perceber, acompanhar e me apoiar sempre. Obrigada amiga. E claro que não tenho como não agradecer o Édico, pela amizade e paciência antes e durante a faculdade. Obrigado por tudo. Vocês dois são essenciais em minha vida. Diego, vulgo Rabo, caramba, foi meu primeiro “bicho” e hoje, muito mais que um simples amigo. Já nos conhecíamos antes da faculdade, porém, somente em Primavera tivemos o contato suficiente e muita intimidade para enraizar esta amizade. O mal da humanidade é a intimidade e você sabe bem isso. Sei que com você posso falar de tudo e sobre tudo sem medo, pois sei que você sempre me entenderá por mais difícil que parece. Diego obrigado por sua amizade. Isabela, caramba três anos se passaram de faculdade e somente no ultimo ano tive o prazer de conhecer a pessoa amiga, carinhosa, especial, estudiosa, espiritualizada que você é. E agradeço muito a essa amizade. Você é uma grande parceira, amiga para todas as horas e gosta de falar, né, eu sei bem disso. Temos muitas histórias ainda, mesmo assim, obrigado por surgir em minha vida e obrigado por deixar eu fazer parte da sua. E claro que por ultimo, não menos importante, agradeço a toda VII Turma que apesar dos pesares, de discussões, risos, visitas técnicas inesquecíveis, sentirei tanta falta. Obrigado. E em especial à Camila, Nadja, Tista, Sá, Marcelo, Ná, Laura, Zazá, Meu Bem e enfim todos. Vocês fizeram a diferença nos meus dias em Primavera. Tantas coisas aconteceram, foram quatro anos maravilhosos e quero agradecer em especial o pessoal da Pássus Jr e do C.A, através destas duas entidades pude aprender muito mais, não só no profissional, más como pessoa também. Obrigado. Agradeço ao senhor Sérgio Taveira que me ajudou muito com este trabalho e que me ajuda todo dia a crescer. Meus sinceros agradecimentos. Agradeço também, o professor Serginho pela amizade, a professora Patrícia pelas orientações, pela ajuda, incentivo. Agradeço a todos os outros professores que contribuíram sem dúvidas em minha formação e a todos os funcionários. Obrigada por tudo, sem vocês, com certeza, eu não seria parte do que sou. A todos meus sinceros e emocionados agradecimentos. Obrigada. “(...) que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio [...] Porque metade de mim é partida, más a outra metade é saudade” (Oswaldo Montenegro). RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo sobre o projeto de extensão Unesp em Campo a partir das perspectivas de três atividades executadas, em conjunto com a AMANP, no assentamento Nova Pontal, no município de Rosana/SP. Essa pesquisa buscou através do projeto Unesp em Campo, interpretar o que as assentadas e envolvidos nas atividades, pensam sobre a atividade turísticas no assentamento e relacionar com possível viabilidade da atividade turística como alternativa complementar de renda nãoagrícola e se a partir destas iniciativas as assentadas conseguem se organizar. Visto que o turismo no espaço rural esta diretamente ligado a atividades agrárias, a natureza, a cultura peculiar e a processos produtivos. Este trabalho priorizou o tempo de respostas da comunidade local perante as atividades propostas buscando assim, desenvolver parte de um trabalho continuo. A fim de atingir os objetivos deste trabalho, foi necessária pesquisa bibliográfica sobre a temática geral, de turismo no espaço rural, e, ainda uma pesquisa de campo, na qual utiliza-se de métodos observacionais, bem como registros fotográficos, conversas informais, entrevistas semi-estruradas e aplicação de questionários. Assim, para que a atividade turística seja viável para o assentamento Nova Pontal e que esta pequena comunidade rural possa gerir e se beneficiar com o turismo é necessário, que se leve em consideração o que a própria comunidade pensa sobre, visto que a mesma se apresenta sempre pró-ativa perante as atividades. Palavras-chave: Turismo no espaço rural; Assentamentos rurais; Alternativa complementar de renda não-agrícola. ABSTRACT This paper presents a study on the extension project Unesp em Campo from the perspectives of three activities performed, together with AMANP, in the settlement Nova Pontal in the municipality of Rosana/SP. This research sought throughout project Unesp em Campo, interpret what the settled and engaged in activities, think on the tourist activity in the settlement and can relate to viability of tourism as an alternative complementary off-farm income and these initiatives from settled can be organized. Since tourism in rural areas this directly linked agricultural activities, nature, culture peculiar and production processes. This work prioritized the response time local community before activities proposals seeking thus, develop part of an ongoing work. In order to achieve the objectives this work was necessary literature on the subject general, rural tourism, and also a field in which makes use of observational methods and records photographic, informal conversations, semi-structure and use of questionnaires. Thus, for the tourist activity is feasible for the settlement Nova Pontal and this small community rural to manage and benefit from tourism is necessary that consider what the community thinks about itself, since the always presents herself before the proactive activities. Keywords: Rural Tourism; Rural Settlements; Alternative complementary off-farm income. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1.1 – Localização do Município de Rosana/SP ................................................... 6 Figura 1.2 – Distribuição dos assentamentos na região do Pontal do Paranapanema .... 7 Figura 1.3 – Divulgação do I Almoço Típico Rural ...................................................... 33 Gráfico 1.1 – Profissão dos visitantes ........................................................................... 41 Gráfico 1.2 – Já tinha visitado um assentamento antes (I Almoço Típico Rural) ......... 42 Gráfico 1.3 – Já tinha visitado um assentamento antes (II Almoço Típico Rural) ........ 42 Gráfico 1.4 – As atividades realizadas podem ser consideradas um roteiro ................. 43 Gráfico 1.5 – O preço da atividade foi acessível (I Almoço Típico Rural) ................... 44 Gráfico 1.6 – O preço da atividade foi acessível (II Almoço Típico Rural) ................. 44 Gráfico 1.7 – Preferências durante a visita (I Almoço Típico Rural) ............................ 45 Gráfico 1.8 – Avaliação geral do I Almoço Típico Rural ............................................. 46 Gráfico 1.9 – Avaliação sobre a estrada de acesso ao assentamento Nova Pontal ....... 46 Gráfico 1.10 – Avaliação sobre a hospitalidade dos assentados ................................... 47 Gráfico 1.11 – Avaliação sobre a infra-estrutura no local do almoço ........................... 47 Gráfico 1.12 – Avaliação se os visitantes voltariam ao local ........................................ 48 Gráfico 1.13 – Avaliação se os visitantes acrescentariam algo nas atividades ............. 48 Gráfico 1.14 – Viabilidade da atividade turística em assentamentos rurais .................. 49 Gráfico 1.15 – Se já tinha visitado algum assentamento que recebesse turistas ........... 54 Gráfico 1.16 – Se gostou da visita ao assentamento Água Limpa ................................ 55 Gráfico 1.17 – Avaliação geral da visita ao assentamento Água Limpa ....................... 55 Gráfico 1.18 – Avaliação sobre as refeições no assentamento Água Limpa ................. 56 Gráfico 1.19 – Se voltaria ao assentamento Água Limpa ............................................. 57 Imagem 1.1 – Trilha no I Almoço Típico Rural ............................................................ 36 Imagem 1.2 – Grupo GRUTAS no I Almoço Típico Rural .......................................... 36 Imagem 1.3 – Conversa com os assentados no I Almoço Típico Rural ........................ 37 Imagem 1.4 – Café da manhã (I Almoço Típico Rural) ................................................ 37 Imagem 1.5 – Assentadas da AMANP .......................................................................... 37 Imagem 1.6 – Lote do Sr Ferreira (I Almoço Típico Rural) ......................................... 38 Imagem 1.7 – Espaço do almoço (I Almoço Típico Rural) ........................................... 38 Imagem 1.8 – Lote do Sr. Dirceu (II Almoço Típico Rural) ......................................... 39 Imagem 1.9 – Trilha até a beira do Rio (II Almoço Típico Rural) ............................... 39 Imagem 1.10 – Contemplação do Rio Paranapanema (II Almoço Típico Rural) ......... 39 Imagem 1.11 – Horta do lote do Sr Ferreira (II Almoço Típico Rural) ........................ 39 Imagem 1.12 – Espaço comunitário do assentamento (II Almoço Típico Rural) ......... 40 Imagem 1.13 – Preparo do almoço (II Almoço Típico Rural) ...................................... 40 Imagem 1.14 – Almoço pronto (II Almoço Típico Rural) ............................................ 40 Imagem 1.15 – Apresentação dos pratos servidos (II Almoço Típico Rural) ............... 41 Imagem 1.16 – Almoço (II Almoço Típico Rural) ....................................................... 41 Imagem 1.17 – Estrada de acesso para o assentamento Água Limpa ........................... 50 Imagem 1.18 – Café da manhã no assentamento Água Limpa ..................................... 51 Imagem 1.19 – Explicação sobre inseminação artificial ............................................... 51 Imagem 1.20 – Explicação sobre o sistema de irrigação ............................................... 51 Imagem 1.21 – Assentado que trabalha como Guia de Turismo ................................... 52 Imagem 1.22 – Trilha Guiada ....................................................................................... 52 Imagem 1.23 – Visita a cachoeira ................................................................................. 52 Imagem 1.24 – Preparo do almoço (cozinha) ................................................................ 53 Imagem 1.25 – Assentadas responsáveis pelo almoço .................................................. 53 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 – Cardápio do I Almoço Típico Rural ........................................................ 34 Tabela 1.2 – Cardápio do II Almoço Típico Rural ....................................................... 35 Tabela 1.3 – Motivação (II Almoço Típico Rural) ....................................................... 45 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMANP – Associação de Mulheres Assentadas do Nova Pontal CESP – Companhia Energética de São Paulo GRUTAS – Grupo de Pesquisa em Turismo de Aventura e Sustentabilidade IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ITESP – Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo LEAR – Laboratório de estudos em assentamentos rurais MST – Movimento dos Trabalhadores sem terra MAST – Movimento dos agricultores sem terra PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio TER – Turismo no Espaço Rural TAR – Turismo em áreas rurais TR – Turismo Rural UNESP – Universidade Estadual Paulista SUMÁRIO 1. Introdução ...................................................................................................... 1 2. Metodologia ................................................................................................... 3 3. Contextualização ............................................................................................ 6 3.1 Unesp em Campo ..................................................................................... 6 4. Pluriatividade e Turismo no Espaço Rural .................................................... 11 4.1 O Campo da Reforma Agrária e a Pluriatividade .................................... 11 4.2 Turismo no Espaço rural .......................................................................... 22 5. Atividades Turísticas no Assentamento Nova Pontal ..................................... 33 5.1 I e II Almoço Típico Rural ........................................................................ 33 5.2 Visita ao assentamento Água Limpa ......................................................... 50 6. Entrevistas ....................................................................................................... 58 7. Considerações Finais ....................................................................................... 65 8. Referências Bibliográficas .............................................................................. 68 1 1. INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta um estudo sobre algumas atividades do projeto de extensão Unesp em Campo, como proposta de um modelo de atividade turística a ser implantada no assentamento Nova Pontal, localizado no município de Rosana-SP. Para tal, este exercício contou com três objetivos específicos: (1) identificar as atividades ligadas ao turismo, realizadas pelo projeto, no assentamento Nova Pontal; (2) coletar informações dentro do projeto sobre estas atividades identificadas; e (3) analisar a relação destas atividades, como proposta de um modelo de atividade turística a ser pensada, implantada e gerida atentando-se, primordialmente, para a sua viabilidade. Pensar em turismo no espaço rural, neste caso, em áreas de reforma agrária, mais especificamente no assentamento Nova Pontal, busca-se enfatizar a consciência de que este processo, deve sempre ser pensando e protagonizado pela comunidade local, focando as suas necessidades e opiniões respeitando o seu próprio tempo, perante o que se pretende, enquanto modelo de desenvolvimento. Desta maneira, este trabalho enfatizou e priorizou o tempo de resposta da comunidade local, frente estas alternativas de atividades que o projeto propôs, visando assim um processo de desenvolvimento de maneira sustentável. Vale destacar que, o presente trabalho só foi proporcionado, pois participei como voluntária do projeto Unesp em Campo e do grupo de estudo LEAR, e partir de então, pude perceber a pré disposição que as assentadas do Nova Pontal, especificamente, a AMANP em desenvolver algum tipo de atividade, relacionada a turismo, no local, o que sem dúvidas, facilitou todas as atividades que foram levantadas e descritas, bem como, a análise das mesmas. Dessa forma, partiu-se de uma situação conflito, a qual consiste no turismo como uma atividade que exige um padrão de qualidade nos serviços prestados e que se pensar nas atuais condições sociais e econômicas em um assentamento, quais as reais possibilidades de pequenas comunidades rurais se tornarem protagonistas dessa prática? Ainda vale questionar, se o turismo no espaço rural seria uma alternativa viável de renda complementar não agrícola para o assentamento Nova Pontal? Sendo assim, partindo destas questões buscou-se justificar a necessidade de viabilidade do turismo através do viés econômico, a fim de complementar a renda 2 familiar, a partir de uma alternativa não agrícola, a fim de esclarecer os processos destas atividades, tais quais, como ocorrem, bem como, as suas possíveis conseqüências. A metodologia aplicada neste trabalho, descrita no capitulo dois, se caracterizou por ser uma pesquisa parte qualitativa e parte quantitativa, através de observações nas atividades do projeto e pelos trabalhos de campo, caracterizado pelas atividades aqui analisadas. Foram levantadas atividades, de caráter turístico no assentamento, bem como imagens destas, pesquisas e relatos, advindos de encontros no respectivo assentamento, na qualidade de voluntária do projeto, além de, entrevistas com os participantes envolvidos nestas mesmas ações. O capitulo três, tem como foco a caracterização do objeto de pesquisa. Descreve-se sobre a região do Pontal do Paranapanema, seus assentamentos, bem como, as iniciativas de ensino e a prática da extensão dentro da universidade e, o projeto de extensão Unesp em Campo em si. A pesquisa bibliográfica, apresentada no capitulo quatro descreve conceitos de turismo e segmentação, mais especificamente o turismo no espaço rural, enquanto recorte do fenômeno turístico que interessa e/ou minimamente apresenta características, possibilidades e usos coerentes com o universo do objeto de estudo, assim como, o processo histórico e evolutivo das discussões e questões sobre o campesinato no Brasil. O capitulo cinco apresenta as três atividades de turismo, desenvolvidas pelo Unesp em Campo, no assentamento Nova Pontal, onde engendrou-se maiores descrições de cada ação, bem como, o feed back, imagens e considerações acerca destas mesmas práticas. Durante este trabalho foram realizadas entrevistas, que se encontram no capitulo seis, na tentativa de “ouvir” e tentar compreender o que alguns envolvidos, diretamente com essas mesmas iniciativas do projeto pensam sobre essas e assim poder relacionar com a proposta da atividade e sua viabilidade. Por fim, no capitulo sete reuni-se todas as idéias e análises coletadas organizando assim, considerações acerca destas atividades e propostas, desta forma busca-se responder a problemática do trabalho, de forma coerente, concisa e embasada. 3 2. METODOLOGIA Metodologia significa viagem que se realiza em busca de um objetivo especifico (SCHLÜTER, 2003). Segundo Goode e Hatt (apud SCHLÜTER, 2003), a ciência é um método que aproxima o mundo empírico com o mundo de experiência do homem, além disso, é uma aproximação que não se diz como última verdade. De acordo com King, Keohane e Verba (apud SCHLÜTER, 2003, p. 29): “(...) todos os métodos – sejam ou não explícitos – têm suas limitações. A vantagem do explicito é que se possam captar tais limitações e, se for possível, saná-las”. Esta pesquisa em turismo no espaço rural tomou como base, conforme Gunn (apud SCHLÜTER, 2003), a função de predizer, prognosticar uma situação segundo Schlüter (2003), é fundamentada na suposição, do futuro incerto, onde é possível se projetar a partir das opiniões das pessoas. A pesquisa teve um caráter, parte, exploratório e, parte, descritivo. Visto que se caracteriza por um planejamento flexível, em geral, com levantamento bibliográfico, entrevistas, questionários, bem como a utilização de métodos observacionais (DENCKER, 2003). O caráter descritivo da pesquisa se propôs numa descrição objetiva e precisa de característica das atividades aqui descritas, realizadas pelo projeto Unesp em Campo em conjunto com a AMANP1. Vale aqui salientar que o projeto, aqui estudado, não tem como intuito organizar ou realizar o turismo, mas sim utilizar espaços de reforma agrária, os assentamentos rurais como objeto de reflexão de pesquisa sobre a viabilidade do turismo no espaço rural como alternativa de renda não agrícola. Sendo assim, a primeira etapa deste trabalho, foi a de identificar quais as atividades do projeto Unesp em campo seriam descritas e analisadas. Tal seleção teve como sustentação minha experiência como voluntária no Unesp em Campo e através da minha iniciação cientifica, por mérito pelo Programa Institucional de bolsas de Iniciação Cientifica em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – PIBITI, o qual teve como titulo: “Universidade e Sociedade: estudo dos impactos da implantação do curso de turismo da UNESP para o turismo rural no município de Rosana”. 1 AMANP – Associação de Mulheres Assentadas do Nova Pontal. 4 A partir das atividades pesquisadas em minha iniciação, bem como as atividades que participei como voluntária no projeto, atividades estas que envolviam atividades de campo no assentamento Nova Pontal, em conjunto com a AMANP, pode-se escolher três. O I e II Almoço Típico Rural e a Visita ao assentamento Água Limpa, em Presidente Bernardes. Concomitantemente à toda pesquisa, foi realizada pesquisa bibliográfica exploratória, com o intuito de um levantamento histórico sobre a temática, a fim de montar de maneira lógica o histórico, definições e marcos teóricos do desenvolvimento do turismo no espaço rural. Dann e Cohen (apud SCHLÜTER, 2003), dizem que a sociologia estuda valores, atitudes e o comportamento dos homens, sendo o interesse pelo turismo recente. Ainda, de acordo com Cohen2, a sociologia com enfoque no turismo utiliza-se, como um de seus estudos, o individualista, partindo do princípio da qualidade das experiências turísticas. Técnica esta adotada nesta pesquisa. Para Castells (apud WHITAKER, 2002, p. 36) “as técnicas [...] são procedimentos criados a partir de e dentro de um determinado campo teórico [...]”. Ou seja, é necessária tanto uma base teórica quanto a pesquisa in loco, sendo que as duas se complementam em si, fazendo com que a pesquisa não seja superficial. Ander-Egg (apud SCHLÜTER, 2003), afirma que este estudo descritivo é utilizado por: (...) aqueles que estão preocupados com a ação, uma vez que permitem elaborar um contexto de estudo a partir do qual se deduz uma problemática ulterior, ou ainda formular um diagnóstico visando carências essenciais e sugerir uma ação posterior (ANDER-EGG apud SCHÜTER, 2003, p. 78). Dentre as modalidades de observação, elencadas por Ander-Egg (apud SCHLÜTER, 2003), foram utilizadas a observação não estruturada, utilizada para familiarizar-se com o estudo e o tema; não participante, visto que embora estivesse em contato com a comunidade, mantive um comportamento de espectador diante das atividades desenvolvidas; individual e efetuada na vida real, ou seja, em trabalho de campo. Importante frisar que essa observação ocorreu de forma gradual, desde quando comecei a participar como voluntária, no ano de 2010, no projeto Unesp em Campo, conforme já citado. 2 Dann e Cohen (apud Schlüter, 2003) 5 No trabalho de campo, com as técnicas de coleta de dados já escolhidas, foram a de questionários e entrevistas, chegou-se a primeira etapa que foi dedicada a observar as atividades e assim, preparar o grupo que será estudado. Ainda na pesquisa de campo, vale destacara que a mesma dividiu-se em etapas, sendo a primeira a de “olhar” e observar o que estava acontecendo; segunda etapa a de “ouvir” o que eles têm a passar e terceira e ultima etapa a de “questionar” o que se fizer necessário. E é muito importante, destacar que as opiniões coletadas são aquelas que os indivíduos consideram como próprias (SCHLÜTER, 2003). E que ainda na pesquisa de campo utilizou-se para a coleta de dados, entrevistas e questionários. A técnica de entrevista foi adotada, pois conforme Dencker (2003), “o pesquisador consta que não há outras fontes seguras para fornecer a informação desejada”. Vale salientar também que durante o trabalho de campo, utilizamos a entrevista gravada, técnica de pesquisa qualitativa, onde é possível documentar e transcrever, fidedignamente, a entrevista e a interação que ocorre durante a mesma (FLICK, 2009), a fim de uma análise mais especifica sobre. A técnica do questionário, alternada com a técnica de entrevista, aqui também utilizada, teve como objetivo obter de uma maneira mais sistemática e ordenada, informações mais quantitativas sobre as atividades do projeto, sendo parte deste questionário composto de perguntas fechadas, a fim de limitar as alternativas de respostas, para que se facilite a análise e tabulação dos dados, e outra parte de perguntas abertas, possibilitando uma análise mais qualitativa (DENCKER, 2003). O questionário torna-se a ferramenta principal, visto que a informação obtida pode ser desde grau de satisfação até preferências (SCHLÜTER, 2003). Na análise retrata-se de maneira fiel o ponto de vista dos “locais”, seu relacionamento com a vida, sua visão do mundo e outros (MALINOWSKI apud WHITAKER, 2002). Por isso que, em qualquer discurso, mesmo sendo em conversas informais, em casos que houveram necessidade de transcrição, foram feitas de forma fidedigna (WHITAKER, 2002). Portanto, a partir destes métodos e técnicas de pesquisa, se elaborou, após a análise e interpretações de dados, responder o problema da pesquisa nas considerações finais e assim, concluí-la de maneira coerente e organizada. 6 3. CONTEXTUALIZAÇÃO 3.1 Unesp em Campo O município de Rosana está localizado no extremo oeste do estado de São Paulo, na região do Pontal do Paranapanema faz divisa com os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, como mostra a figura abaixo. Figura 1.1: Localização do município de Rosana/SP. A região do Pontal do Paranapanema, onde se localiza o município de Rosana, é considerada a segunda região mais pobre do Estado de São Paulo, perdendo para a região do Vale do Ribeira. Esta região é palco de muitos conflitos pela posse de terra, com forte presença de movimentos sociais de luta pela terra (especialmente o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra – e o MAST – Movimento dos Agricultores sem terra), e caracterizada pela concentração da maioria dos assentamentos rurais do estado de São Paulo. Segundo informações da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva” (ITESP) são 107 assentamentos dispersos em 20 municípios da região do Pontal do Paranapanema. No município de Rosana existem quatro projetos de assentamentos implantados: a Gleba XV de Novembro, Nova Pontal, Bonanza e Porto Maria. Na Gleba XV está assentadas 587 famílias, no Nova Pontal, 122, Bonanza, 33 e, por último, no Porto Maria são 41 famílias assentadas. 7 Figura 1.2: Distribuição dos assentamentos na região do Pontal do Paranapanema. O municipio de Rosana apresenta, segundo o IBGE (2003), possui um indice de pobreza de 13,35%, que se justifica pela escassez de dados a respeito de trabalhos informais no municipio. A situação local esta diretamente ligada realidade histórica do município, pois, a construção da usina hidrelétrica Sérgio Motta e da usina de Rosana foram geradores de empregos no município e, sendo assim, foram, responsáveis, pelo crescimento populacional do município na década de 80. O municipio de Rosana foi emancipado no ano de 1990, e faz divisa com o rio Paraná ao norte e ao sul, rio Paranapanema, ponto o qual é de grande atração turistíca. A cidade possui duas usinas hidréletricas, que são responsáveis pela economica local, a usina de Rosana e de Primavera; e desde 2003, o municipio conta a UNESP – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – com o curso de turismo3. Segundo o site da UNESP4: O municipio de Rosana [...] apresentou as melhores condições para receber uma Unidade da Unesp e o curso de turismo [...] Situada na região administrativa de Presidente Prudente, estando distante da capital do Estado em 780 Km. Localiza-se entre 04 importantes cidades brasileiras: Presidente Prudente – SP, Dourados – MS, Londrina e Maringá – PR [...] A criação do Curso de Graduação de Bacharelado em Turismo da Unesp, no Município de Rosana, é justificada pelo interesse do Governo do Estado de São Paulo em implementar políticas de desenvolvimento para a região do Pontal do Paranapanema. Uma destas ações está definida como a instalação de uma nova unidade da Unesp em Rosana; pelo Aproveitamento de infraestrutura existente no local, composta por edificações e laboratórios da CESP na Usina Hidrelétrica de Porto Primavera, complementada por manifestação de interesse da Prefeitura Municipal de Rosana, fruto de futura parceria entre a Unesp, Prefeitura local e CESP (UNESP, SD). 3 4 Fonte: site da Prefeitura Municipal de Rosana. Fonte: http://staa.rosana.unesp.br/int_conteudo_sem_img.php?conteudo=165 8 O caráter de ciência social aplicada do Curso de Turismo, fez surgir, no decorrer dos seis anos de existência, diversas atividades de pesquisa, extensão e docência que envolveram diretamente os moradores das áreas de reforma agrária do Município. Segundo Costa (2003, p. 113) “hoje, conhecer é mais que acumular respostas prontas, é saber lidar com qualquer nova informação transformando-a e aplicando-a em novos conhecimentos”. De acordo com Martins (2010), a educação é fundamental, visto que através dela os indivíduos desenvolvem diversas aptidões essenciais, sendo a “função básica do processo educativo a humanização plena, no sentido de consolidação dessas propriedades”. Nesta linha, Teixeira (apud Mendonça, 2000, p. 136) afirma que: “São as universidades que fazem, hoje, com efeito, a vida marchar. Nada as substitui. Nada as dispensa (...)”. “É significativo que, ao criar, em 1937, a Universidade do Brasil [...] a finalidade, talvez primordial, de controle e padronização do ensino superior no país” (MENDONÇA, 2000, p. 135). Isso nos remete a pensar na finalidade das instituições de ensino superior no país e ainda sobre a relação, complexa, entre a universidade e o Estado, visto que historicamente, a universidade, tem autonomia, particularmente acadêmicas, em relação às demais instituições e, especificamente, com relação ao Estado (MENDONÇA, 2000). Observando o sistema organizacional, hoje, de uma universidade, concordamos com Martins (2010) quando: (...) pressupõe a formação superior como síntese de três grandes processos, quais sejam: processos de transmissão e apropriação do saber historicamente sistematizado, a pressupor o ensino; processos de construção do saber, a pressupor a pesquisa e os processos de objetivação ou materialização desses conhecimentos, a pressupor a intervenção sobre a realidade e que, por sua vez, retornam numa dinâmica de retroalimentação do ensino e da pesquisa (MARTINS, 2010, p. 05). Costa (2003) afirma que hoje as universidades: (...) passam por um processo de transformação, de alguma forma associada a mudanças no comportamento da sociedade – mais crítica, mais questionadora e mais exigente –, o que vem contribuir para o aperfeiçoamento dos processos educacionais e, conseqüentemente, para um maior desenvolvimento educacional no país (COSTA, 2003, p. 111). Desta forma, o principio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão foi, logo, incorporado pelos estatutos e regimentos das instituições de ensino superior, 9 visto que no artigo 8, do decreto 3.860 prevalece que as “universidades se caracterizamse pela oferta regular de ensino, pesquisa e extensão” (MACEDO et al., 2005). Conforme Macedo et al. (2005), se pode interpretar de forma peculiar este conceito de indissociabilidade, visto que: (...) asseguram para si a condição de universidade aquelas instituições que desenvolvem atividades de ensino e atividades de pesquisas e atividades de extensão. É essa presença regular dos três tipos de atividades que garante o status de universidade (Macedo et al., 2005, p. 137). Para Martins (2010), juntamente unidas ao ensino é a pesquisa e a extensão, sendo certamente, a maior expressão do ensino superior. (...) se por um lado, o ensino coloca o aluno em relação com o produto da ciência, a pesquisa o coloca em relação ao seu desenvolvimento, instrumentalizando-o para produzir conhecimentos a partir de sua futura atuação profissional ou em situações planejadas especificamente para este fim (MARTINS, 2010, p. 06). Ainda segundo a mesma autora o ensino, pesquisa e extensão apresentam-se nas universidades públicas como uma virtude e expressão de compromisso social, dado como excelência no ensino superior, fundamentalmente voltado a produção do conhecimento científico (MARTINS, 2010). Severino (apud MARTINS, 2010) afirma que: (...) numa sociedade organizada, espera-se que a educação, como pratica institucionalizada, contribua para integração dos homens no tríplice universo das praticas que tecem sua existência histórica concreta: no universo do trabalho, âmbito de produção material e das relações econômicas; no universo da sociabilidade, âmbito das relações políticas, e no universo da cultura simbólica, âmbito da consciência pessoal, da subjetividade e das relações intencionais (SEVERINO apud MARTINS, 2010, p. 03). Assim sendo, o projeto Unesp em Campo, é um projeto de extensão, ativo dentro do campus experimental de Rosana, da UNESP. Projeto que até o ano de 2009, tinha como nome o Ger(ação) e era coordenado por outro docente, que hoje encontra-se afastado do campus por problemas de saúde. Em 2010, este projeto passa a ser coordenado pela docente Patrícia Alves Ramiro, dando continuidade as atividades e com o atual formato e nome. Segundo Dencker (2002): A flexibilidade é uma dimensão essencial do ensino diante da complexidade e da incerteza que marcam a sociedade atual. A reforma que se processa e as alterações na regulamentação da educação abrem possibilidades reais para que os docentes e alunos possam atuar em um espaço prático e critico (DENCKER, 2002, p. 29). 10 Então, a partir de um estudo sobre algumas atividades de turismo do projeto de extensão Unesp em Campo, se concluirá a eficácia e viabilidade, ou não, do turismo no espaço rural como alternativa de renda não agrícola para áreas de reforma agrária. Visto que para Dencker (2002) o ensino superior contribui para consolidação e disseminação de idéias: (...) já que o ensino superior não é apenas responsável pela transmissão do conhecimento (ensino), mas também pela sua construção (pesquisa) e sua comunicação à sociedade (extensão), influindo na realidade social na qual está condicionado (DENCKER, 2002, p. 35). Ainda a mesma autora, Dencker (2002, p. 32) afirma que o saber científico, aquele produzido dentro da universidade “é um dos saberes que deve ser difundido, cultivado e desenvolvido pelos indivíduos e desempenha importante papel na evolução e transformação da sociedade”. Por fim, Bauer (apud DENCKER, 2002) afirma que: Complexidade não é, de forma alguma, completude; ao contrário, ela diz respeito à impossibilidade de se chegar a qualquer conhecimento ‘completo’. Assim, a complexidade não irá trazer certezas sobre o que é incerto; ela pode apenas proporcionar-se a incerteza, e a dialogar com ela (BAUER apud DENCKER, 2002, p. 33). 11 4. PLURIATIVIDADE E TURISMO NO ESPAÇO RURAL 4.1 O campo da reforma agrária e a pluriatividade No Brasil, a reforma agrária sempre foi considerada como “remenda”, política assistencialista para problemas sociais, políticos e econômicos do campo (MEDEIROS et. al., 1994). Porém, vale lembrar que “ter a terra” representa, também, um lugar de produção e reprodução social (TERRA, 2009). De acordo com Zimmermann (1994, p. 205), os assentamentos de reforma agrária são “espaços de relações sociais, onde as características heterogêneas individuais, homogeneizadas no processo de luta pela terra, ressurgem em novas bases”. Nesse sentido, pode-se afirmar que os assentamentos são oriundos de políticas governamentais, através de movimentos de trabalhadores rurais na luta pela terra, buscando assim, novas identidades, alianças políticas, econômicas e sociais (BUSSINGER, 1994). Segundo Leite (2005), um assentamento se forma através de um grupo de famílias de trabalhadores rurais sem terra, visando assim uma nova constituição produtiva e, segundo Terra (2009), o assentamento vem a ser, ainda, um lugar de diferentes histórias e identidades sociais que se encontram e interagem, transformando o assentamento em um lugar “identitário privilegiado”. Por isso, a reforma agrária deve ser pensada como um método capaz de permitir que estas pequenas propriedades produzam em grande escala e assim, competir de igual para igual no mercado, e não somente, a reforma agrária ser pensada como solução de todos os problemas econômicos e sociais do campo. Leite (2005) afirma que é preciso promover igualdade entre os gêneros, reconhecer suas comunidades e fomentar projetos que valorizem suas tradições. No Brasil, de acordo com Muller (2011), a agricultura familiar e/ou de pequena propriedade, foi sempre um cenário marginalizado na vida política e econômica do país, ao se pensar em todo o processo histórico do campesinato brasileiro, conseguimos observar que este segmento “nasceu sob a precariedade”: Esta precariedade teve suas raízes no modelo colonial da economia, a qual privilegiou a grande propriedade monocultura voltada à exportação. Apesar do caráter regionalizado de sua constituição, à pequena propriedade sempre foi delegado um papel secundário, seja no interior das grandes fazendas, com obrigatoriedade de prestações de serviços, ou circundantes a ela, como também na destinação de terras montanhosas no interior do país, no 12 processo de ocupação do território, demarcando uma situação de grande fragilidade e dependência política e econômica, principalmente no que diz respeito ao acesso e à propriedade da terra (MULLER, 2011, p. 06). Em 1375, revogou-se a Lei das Sesmarias “a qual obrigava a prática da lavoura e o semeio da terra pelos proprietários, arrendatários, foreiros e outros” (RAMOS, 2010). Esta forma de distribuição de terras predominou até meados de 1822, distribuição onde a terra foi dividida em quinze capitanias hereditárias e doadas aos capitães-mores e/ou governadores, os quais faziam parte da nobreza portuguesa, e assim tinham até cinco anos para ocupar essas terras e produzir (RAMOS, 2010). Em 1850, surgiu a Lei n. 601 – conhecida como Lei de terras – onde ficaram reconhecidas todas as terras de títulos de sesmarias ou por título de posse mansa e pacífica, e ainda ficaram proibidas as aquisições de “terras devolutas por outro titulo que não seja o de compra” (RAMOS, 2010). Ramos (2010, p. 78) especificou por terras devolutas as “terras usadas por órgãos públicos, as que não estiverem sob domínio particular; as que não se acharem dadas por sesmarias e as que não se acharem ocupadas por posse”. Pode-se dizer que a Lei de terras acarretou certo fechamento do campo brasileiro, pois consolidou a estrutura fundiária do período colonial e ainda restringiu às pessoas com recursos monetários o direito de se tornarem proprietários fundiários (RAMOS, 2010). Segundo Ramos (2010): Com a condição de acesso apenas através da compra, modificou-se vinculo entre o aspecto jurídico e o econômico da apropriação fundiária no Brasil, o que implicou a ‘absolutização’ do direto da propriedade fundiária no país. Isto perdurou por quase um século, passando intacto pela Abolição e pela Proclamação da República (RAMOS, 2010, p. 79). Em 1964, o Congresso Nacional aprovou a Lei n. 4.504, conhecida como o estatuto da terra, que reforçou a idéia de que cabe a propriedade da terra a função social, assim criando estruturas institucionais para que isso fosse concretizado (RAMOS, 2010). Ramos (2010) ainda diz: O advento da nova Constituição em 1988 e a Lei Agrária de 1993, como tem ficado explícito, também não vem sendo suficientes ou devidamente aplicadas para provocar significativas alterações naquela estrutura, embora após 1985 os governos venham adotando programas de assentamento de trabalhadores (rurais ou não) e procurando dar maior apoio e ampliar a participação da agricultura familiar (RAMOS, 2010, p. 80). 13 Sendo assim, sabe-se que o Brasil tem um dos maiores índices de concentração fundiária e que a desigualdade da distribuição de terras é uma das condicionantes básicas da desigualdade da distribuição de renda na agropecuária (RAMOS, 2010). Malagodi (2011) aponta que no Brasil, de um modo geral, a questão agrária atinge dimensões de questões raciais e étnicas, pois os negros que foram deserdados com a Lei de Terras de 1850: A demarcação das terras dos quilombolas e das terras indígenas parece ser a coisa mais difícil deste mundo. Portanto, apenas aparentemente a questão agrária não é também uma questão de segregação racial, de exclusão de populações nativas, além das questões de gêneros e juventude, que envolve (MALAGODI, 2011, p. 40). E ainda, Ramos (2010) afirma que: Embora após a chamada redemocratização da sociedade brasileira tenham sido tomadas iniciativas para ampliar o acesso de famílias brasileiras à terra, tanto pelo Governo Federal (cabe lembrar o Plano Nacional de Reforma Agrária do Governo Sarney) como pelos governos estaduais, ainda estamos longe de uma situação desejável, o que pode ser constatado quando se tem em conta os recursos alocados por aquele governo para a agricultura patronal e os destinados à agricultura familiar e à ação fundiária no âmbito do MDA (RAMOS, 2010, p. 103). Palmeira (2008) diz que: Mudanças sofridas pelo campo brasileiro foram muito mais amplas que a simples modernização tecnológica, e que, apesar da “modernização”, a questão da propriedade fundiária continua dividindo a sociedade, fazendo com que os sucessivos governos não consigam livrar-se da “reforma agrária”, mesmo quando é evidente a sua falta de motivação para realizá-la (PALMEIRA, 2008, p. 193). Foi a partir de meados dos anos 50 que se observaram as lutas sociais no campo e as alterações de poder do Estado, que antecederam ao golpe de 1964, e que resultaram em uma legislação especifica para o campo. Em 1963, foi criado o Estatuto do Trabalhador Rural, em 1964, veio o Estatuto da Terra, e ainda criou-se também uma legislação previdenciária que trouxe efeitos importantes a partir dos anos 70 (PALMEIRA, 2008). Mesmo com a criação de legislações para o campo, isso não determinou uma política séria, conforme Palmeira (2008): Nos governos que se sucederam após 1964, uma via foi priorizada: a da modernização do latifúndio, em prejuízo daquela que era, aparentemente, privilegiada pela letra do Estatuto: a da formação de propriedades familiares. Para isso, certamente pesaram o lugar estratégico atribuído à especulação financeira e a importância dada à exportação de produtos agropecuários e agroindustriais como fonte de divisas para o país, no modelo de desenvolvimento adotado pelo regime militar (PALMEIRA, 2008, p. 195). 14 Na década de 70, no Brasil, observaram-se exemplos destas políticas agrícolas (engloba políticas de mercado – preços, comercialização – e políticas estruturais – infraestrutura, extensão rural, recursos naturais e meio ambientes) e agrárias (tem como objetivo intervir na estrutura da propriedade e da posse da terra – é eminente que é uma política estrutural, de intervenção direta na estrutura existente), quando a política agrícola levou a um aumento da concentração da posse de terra e propriedades no meio rural (DELGADO, 2008). Segundo Delgado (2008): Num país como o Brasil, e por razões históricas que muito têm a ver com a estrutura fundiária que sempre prevaleceu no campo e com a forma como foi concebido o debate político sobre desenvolvimento econômico e questão agrária no final da década de 1950 – e que culminou no golpe de estado conservador de 1964 – a tendência tem sido, até recentemente, a de estabelecer uma polarização excludente entre esses dois tipos de política (DELGADO, 2008, p. 210). No meio rural e na agricultura há diversas intervenções do Estado, e estas estão diretamente ligadas às diversas condições situações econômicas e sociais destes meios. Sendo assim, a intervenção do Estado na agricultura tem como objetivo fundamental regular os mercados agrícolas, a fim de garantir preços e rendas para os agricultores, estimular a produção e garantir o abastecimento alimentar, e que este não seja comprometido pela escassez de produtos e/ou preços muito elevados (DELGADO, 2008). Conforme Delgado (2008), a interferência estatal na agricultura pode ser nociva ao bem-estar geral, visto que: (...) o pressuposto básico é o de que os mercados competitivos são sempre eficientes, se auto-regulam e auto-reproduzem, e mesmo quando falham são capazes de enfrentar as suas imperfeições melhor que o Estado, cuja intervenção sempre provoca transferência de renda entre os grupos sociais existentes, as quais necessariamente causam distorções, desperdícios e diminuições no bem-estar econômico geral. Assim as ineficiências na alocação de recursos e nas distribuições de bens e serviços numa economia capitalista não se devem a existência de “falhas no mercado” mas, sim, a presença de “falhas do Estado ou do governo” (DELGADO, 2008, p. 202203). Navarro (apud MALAGODI, 2011): Reformas têm o seu tempo histórico, e a agrária surgiu nos anos 50, quando foi entendida como necessária [...] mais não ocorreu, pois após o “milagre brasileiro” o Brasil ressurgiu mais urbano, com sua economia prescindindo da reforma agrária. Mais não apenas isso. No mesmo período, o mundo rural se tornou heterogêneo e a produção de alimentos e matérias-primas, ainda nos anos 80, encontrou-se com a demanda. Assim, reforma agrária para garantir oferta de produtos e uma política que precisasse ser uniforme em todo o país também sumiram do mapa dos argumentos (NAVARRO apud MALAGODI, 2011, p. 49). 15 E ainda, vale salientar que há outro instrumento do Estado de intervenção no meio rural, o chamado de políticas ou programas diferenciados de desenvolvimento rural, este é dirigido especialmente para o segmento empobrecido do campesinato, não integrado a modernização produtiva, assumindo assim um caráter de política de desenvolvimento rural regional (DELGADO, 2008). Os autores Marafon; Ribeiro (2006), dizem que o campo, hoje: Na busca de sua reprodução e sobrevivência tem apresentado características como o trabalho em tempo parcial, em face de diminuição da jornada de trabalho favorecida pela incorporação de tecnologias de produção, e a liberação de membros da família para exercerem outras atividades, agrícolas e não-agrícolas, complementando a renda familiar, fenômeno esse denominado de pluriatividade e que se expandiu, dentre outros fatores, pela revalorização do mundo rural e nas atividades associadas aos setores industriais e de serviços (...). (MARAFON; RIBEIRO, 2006, p. 111). De acordo com Delgado (2008), no caso brasileiro a política agrícola esteve comprometida, a partir do final dos anos 60, com a modernização do setor: Dessa forma, o PIB agrícola brasileiro cresceu a uma taxa média anual de 4-4,5% desde a segunda metade da década de 1950 – tanto em período de vigoroso crescimento industrial (como na segunda metade dos anos 50 e na década de 1970), como em conjunturas de desempenho industrial bastante sofrível (como nos anos 80) – e a agricultura nunca foi um obstáculo à industrialização do país, apesar de que a proteção efetiva dos produtos agrícolas no pós-guerra tenha sido em grande parte ou negativa, ou pelo menos inferior à dos produtos industriais (DELGADO, 2008, p. 214). Assim, de forma geral, a agricultura brasileira foi mais penalizada entre os anos de, 1956 e 1973, contudo esta discriminação atingiu em maior parte os pequenos produtores e trabalhadores rurais, visto que as elites agrárias foram compensadas com as políticas de créditos para subsídios, isenção de impostos, etc. (DELGADO, 2008). O campo brasileiro passou por grandes transformações, Palmeira (2008) diz que: A mudança de base técnica de produção e a interação de setores ponderáveis da produção agropecuária ao chamado “complexo agroindustrial” fizeram com que muitos cientistas sociais pensassem essas mudanças como um processo de “modernização”, ainda que enfatizando os seus efeitos “perversos” e o seu caráter “conservador”. Esse processo teria transformado a reforma agrária, segundo alguns desses estudiosos, numa bandeira obsoleta (PALMEIRA, 2008, p. 193). Para Palmeira (2008): A reforma agrária é posta na ordem do dia pelo primeiro movimento. Não se trata mais de uma política entre outras, que pode ou não pode ser acionada pelos governantes. É uma demanda social que eles não podem ignorar. Daí a dificuldade que tem de se livrar do tema, mesmo quando ele se torna politicamente inconveniente (PALMEIRA, 2008, p. 198). 16 Como explica Baptista (2001), no início do século 20, distinguia-se rural e urbano: (...) estabelecendo a conexão entre os elementos caracterizadores do primeiro e procurando explicar, com base nalgumas variáveis (ocupacionais, ambientais, tamanho das comunidades, densidade populacional, homogeneidade e heterogeneidade das populações, diferenciação, estratificação e complexidade social, mobilidade social, migrações, sistema de integração social), os diferentes graus do rural e do urbano, que se ordenavam no espaço, sem rupturas, num contínuo gradual entre os pólos extremos (BAPTISTA, 2001, p. 55). No caso estudado por Baptista, basicamente a Europa do Sul, o elemento que sobrevive mais forte da diferenciação rural-urbano é o tamanho dos aglomerados populacionais: Dos elementos inicialmente convocados para delimitar a especificidade do rural resta, passado menos de um século da história das sociedades rurais e do percurso da Sociologia Rural, a pequena dimensão dos aglomerados (Newby, 1983). Ler o rural corresponde assim a analisar, em função de um determinado objetivo ou perspectiva, estes povoados, onde, de um local a outro, predominam atividades econômicas e sociais diversas, prevalecem vertentes culturais e relações sociais diferenciadas e a propriedade fundiária ocupa lugares distintos na vida social e política (BAPTISTA, 2001, p 56). Segundo Kageyama (2004): A discussão sobre a definição de rural é praticamente inesgotável, mas parece haver um certo consenso sobre os seguintes pontos: a) rural não é sinônimo de agrícola e nem tem exclusividade sobre este; b) o rural é multissetorial (pluriatividade) e multifuncional (funções produtiva, ambiental, ecológica, social); c) as áreas rurais têm densidade populacional relativamente baixa; d) não há um isolamento absoluto entre os espaços rurais e as áreas urbanas. Redes mercantis, sociais e institucionais se estabelecem entre o rural e as cidades e vilas adjacentes (KAGEYAMA, 2004, p. 382). Sendo assim, devemos destacar que se faz necessário pensar e considerar o espaço rural, conforme Silva (2001), o rural não se opõe ao urbano, sendo o rural sinônimo de atraso. Existe sim, no rural brasileiro, violência, por exemplo, que esta relacionada a diversas razões, como nossa colonização que foi pautada em trabalho escravo. Contudo, isso não é privilégio da área rural, segundo Silva (2001): (...) das 4,3 milhões de famílias pobres residentes em áreas nãometropolitanas (pequenas e médias cidades), 70% não têm também rede coletora de esgoto ou fossa séptica, quase 30% não possui água encanada, embora menos de 5% não tenha luz elétrica no domicilio. Em um terço delas o chefe da família pode ser considerado analfabeto. Fica patente apenas a diferença entre rural e urbano no que diz respeito ao acesso à energia elétrica, que atualmente constitui um dos serviços básicos fundamentais, sem o qual fica difícil falar em modernidade. Infelizmente, essa diferença se explica em grande parte pela possibilidade dos pobres urbanos fazerem ligações clandestinas (gatos) (SILVA, 2001, p. 38). 17 Mattei (2006) afirma que: (...) no Brasil, o processo de estagnação econômica, nas ultimas décadas, provocou efeitos danosos sobre o mundo do trabalho [...] De alguma forma, esse processo atingiu também a agricultura, gerando uma nova dinâmica nas relações econômicas e sociais no meio rural brasileiro, a qual alterou a estrutura e a composição do mercado de trabalho (MATTEI, 2006, p. 135136). Silva (2001) afirma ainda que, hoje, cresce o número de pessoas que residem em área rural no país, porém ocupadas em atividades não-agrícolas: Os dados da PNAD de 1999 também mostram que dos quase 15 milhões de pessoas economicamente ativas no meio rural brasileiro (exceto a região Norte), quase um terço – ou seja, 4,6 milhões de trabalhadores – estavam trabalhando em ocupações rurais não-agrícolas [...] mais importante que isso, as ocupações não-agrícolas cresceram na década de 90 a uma taxa de 3,7% ao ano – mais que o dobro da taxa de crescimento populacional do país. Enquanto isso, o emprego agrícola, em função da mecanização das atividades de colheita dos nossos principais produtos, vem caindo cada vez mais rapidamente. Nossas projeções indicam que a continuar nesse ritmo, no ano de 2014 a maioria dos residentes rurais do país estarão ocupados nessas atividades não-agrícolas. Em alguns estados, como São Paulo, isso já esta ocorrendo atualmente (SILVA, 2001, p. 39). Chayanov (SCHNEIDER, 2009), destaca a importância das atividades rurais não agrícolas no campo, e demonstra que a procura por estas atividades, complementares, não agrícolas sofre variações. Quando uma família possui filhos pequenos, por exemplo, a demanda por trabalhos não agrícolas é menor, visto a capacidade de trabalho dos filhos, mas quando há “sub ocupação da força de trabalho”, as atividades não agrícolas constitui-se em alternativas viáveis. Sobre as atividades não agrícolas, podemos concordar com Chayanov (apud SCHNEIDER, 2009) quando nos diz: (...) o fato de que o desenvolvimento de atividades não agrícolas está relacionado a irregularidade da distribuição do tempo de trabalho na agricultura, pois, em determinadas estações, como no inverno [...] a inatividade pode ser quase total; em segundo lugar, e isso é o principal, em muitas situações não é a falta de meios de produção o que origina as ganhos com atividade não agrícolas, mas uma situação de mercado mais favorável para esse tipo de trabalho, no sentido da remuneração que se obtém pela força do trabalho camponesa, em comparação com aquela derivada da venda de produtos agrícolas. (CHAYANOV apud SCHNEIDER, 2009, p. 89). Assim, as atividades não agrícolas vêem como uma estratégia de trabalho frente às diversas condicionantes produtivas do campo, embora muitas vezes estas atividades não agrícolas sejam exercidas fora da propriedade, isso não compromete seu caráter (CHAYANOV apud SCHNEIDER, 2009). 18 Devido à mecanização no campo, ocupações agrícolas são as que geram menor renda e conseqüentemente, as famílias não conseguem sobreviver apenas de renda agrícola, sendo assim as famílias rurais estão se tornando cada vez mais não-agrícolas (SILVA, 2001). De acordo com Mattei (2006), diversas mudanças ocorreram durante um longo tempo, no campo, o que configurou um “novo rural”. O espaço rural assume outras funções, além daqueles exclusivamente agrícolas, o processo de trabalho modificações, a variável ambiental torna-se elemento decisivo de novas políticas do desenvolvimento rural. Para Carneiro (1998), a pluriatividade: As atividades complementares ou suplementares a produção agrícola exercidas por um ou vários membros de um grupo doméstico são reconhecidas tanto por aqueles que estudam a questão agrária quanto pelos agentes sociais ai implicados (agricultores e técnicos agrícolas) com a noção de pluriatividade. Motivados em compreender (e sobretudo prever) a dinâmica de mudanças que tem ocorrido no campo francês nas ultimas décadas e apreender a natureza das relações entre o mundo rural e a sociedade industrial, os pesquisadores elegem a pluriatividade como objeto privilegiado de análise. (CARNEIRO, 1998, p. 148-149). Por volta da década de 1980, os termos part-time farming e pluriactivité eram utilizados como sinônimos. No entanto, esses termos apresentam mais diferenças, do que simplesmente etimológicas, visto que incorporam diferentes interpretações “de um fenômeno social que passou a ser generalizar na década de 1970” (SCHNEIDER, 2009). Há controvérsias em relação à utilização dos termos part-time farming e pluriactivité, que segundo Schneider (2009): (...) o termo part-time farming refere-se à utilização do tempo de trabalho na propriedade por parte do individuo ou da família, ao passo que a noção de pluriactivité refere-se à combinação de uma ou mais formas de renda ou inserção profissional dos membros de uma mesma família. (SCHNEIDER, 2009, p. 81). Neste sentido, de agricultura, também, foram discutido tipologias como, full time, monoactivité, multiple job holding. Assim, de acordo com Fuller e Brun (apud SCHNEIDER, 2009), o termo pluriatividade implica no trabalho agrícola, não sendo, necessariamente, uma atividade exclusiva ou a mais importante no campo, sendo que outras atividades podem “sustentar a unidade familiar”, também não-relacionadas a, somente, agricultura (SCHNEIDER, 2009). Segundo Silva (2001): Em resumo as famílias agrícolas e pluriativas ficaram mais pobres na segunda metade dos anos 90. E a queda das suas rendas per capita só não foi maior pela ‘compensação’ crescente das transferências sociais de 19 aposentadoria e pensões. É por essa razão que as famílias rurais estão se tornando crescentemente não-agrícolas (SILVA, 2001, p. 42). O chamado agricultor pluriativo começa a ser visto como uma alternativa para as “zonas desfavoráveis”, pois ele não se sustenta mais, exclusivamente, pela atividade agrícola, estendendo assim, também para os agricultores “marginalizados” e traindo aqueles que sofrem os efeitos do modelo modernizador (CARNEIRO, 1998). De acordo com Cazzola (apud CARNEIRO, 1998) se definir todos os rendimentos exteriores a unidade da produção familiar, pode-se considerar que este termo, pluriatividade, sempre esteve presente no meio rural, porém, por outro lado, se focarmos nas características especificas do contexto atual, econômico e social, podemos considerá-la um fenômeno recente. No Brasil, a noção de pluriatividade é voltada mais para a região Sul do país, aonde o trabalho industrial e outras atividades vêm se tornando alternativas para estes agricultores perante as diversas crises do campo, visto como necessidade para os agricultores (CARNEIRO, 1998) Segundo Carneiro (1998), durante os anos de 1890 a 1930 a economia camponesa era considerada polivalente, e estas atividades não-agrícolas não eram consideradas algo inusitado: Neste período, o recurso as atividades não-agrícolas não era considerado algo excepcional, uma ruptura com o modelo de reprodução do campesinato. Ao contrário, esta conjuntura se caracterizou pela polivalência das economias camponesas baseadas na combinação de micro-produções agrícolas com outras fontes de renda: a produção artesanal, as atividades florestais e diversas formas de trabalho remunerado (CARNEIRO, 1998, p. 163). Neste sentido, vale destacar ainda que durante este período distinguisse dois tipos de estratégias familiares: Uma, a predominante, consiste em garantir a reprodução da exploração mantendo ao menos um filho na atividade agrícola – geralmente o filho mais velho. Aos demais, excluídos da partilha da herança, cabia aprender uma outra profissão para conquistar, dentro ou fora da aldeia, um lugar que o nascimento só conferia ao mais velho. A lista de profissões era muito diversificada: ferrador, ferreiro, lapidário, pedreiro, marceneiro, carroceiro, luveiro... Nesses casos, as atividades não-agrícolas eram conseqüência natural do sistema de transmissão dos bens familiares, já que a ideologia de preservação do patrimônio familiar sustentava, ao mesmo tempo, a escolha de um único herdeiro e a inalienabilidade da parte cultivável da propriedade (CARNEIRO, 1998, p. 163-164). Conforme Maluf (2003): A combinação de atividades agrícolas e não agrícolas insere a família rural em diferentes setores e amplia seu papel de atuação e de inserção social e 20 econômica, associando o enfoque de pluriatividade, diretamente, ao da multifuncionalidade (MALUF, 2003, p. 138). Chayanov (apud SCHNEIDER, 2009) destaca a importância das atividades rurais não agrícolas no campo, e demonstra que a procura por estas atividades, complementares, não agrícolas sofre variações. Quando uma família possui filhos pequenos, por exemplo, a demanda por trabalhos não agrícolas é menor, visto a capacidade de trabalho dos filhos, mas quando há “sub ocupação da força de trabalho”, as atividades não agrícolas constitui-se em alternativas viáveis. Sobre as atividades não agrícolas, podemos concordar com Chayanov (1974 apud Schneider, 2009) quando nos diz que: O fato de que o desenvolvimento de atividades não agrícolas está relacionado a irregularidade da distribuição do tempo de trabalho na agricultura, pois, em determinadas estações, como no inverno [...] a inatividade pode ser quase total; em segundo lugar, e isso é o principal, em muitas situações não é a falta de meios de produção o que origina as ganhos com atividade não agrícolas, mas uma situação de mercado mais favorável para esse tipo de trabalho, no sentido da remuneração que se obtém pela força do trabalho camponesa, em comparação com aquela derivada da venda de produtos agrícolas. (CHAYANOV apud SCHNEIDER, 2009, p. 89). Assim, as atividades não agrícolas vêem como uma estratégia de trabalho frente as diversas condicionantes produtivas do campo, embora muitas vezes estas atividades não agrícolas sejam exercidas foram da propriedade, isso não compromete seu caráter (CHAYANOV apud SCHNEIDER, 2009). Entre as atividades não agrícolas, destaca-se a indústria de transformação e a prestação de serviços, que representam quase 15% da PEA ocupada em atividades não agrícolas (SCHNEIDER e FIALHO, 2000). Segundo o mesmo autor, as atividades agrícolas, hoje, já não representam a manutenção de empregos no meio rural, e assim, o número de atividades não agrícolas vem crescendo, o que até tempos atrás eram consideradas marginais, visto sua pequena importância na geração de renda. Entre outras características destas populações rurais, o que vem se destacando, segundo Schneider e Fialho (2000) são os duplo-ativos “pessoas com domicilio rural, que combinam o exercício de trabalho principal, considerado indispensável, com outras formas de obtenção de renda”, sendo assim, vale considerar o turismo como atividade complementar de geração de renda não agrícolas para estes duplo-ativos. Conforme Schneider e Fialho (2000) os dados extraídos de Pesquisa Nacional de Amostra por Domicilio (PNAD), de 1997, mostram que havia mais de 4 milhões de 21 pessoas em domicilio rural no Brasil, e estas estão ocupadas em atividades não agrícolas. Nesse sentido, no espaço rural, a atividade turística vêm como uma atividade não-agrícola como uma alternativa de renda para os agricultores (WANDSCHEER; TEIXEIRA, 2010): Ainda que não se apresente como fenômeno novo5, a exemplo da discussão referente as atividades não agrícolas, recentemente ele ganhou força, sobretudo por sua crescente manifestação, não somente em proporção de fluxo de pessoas, mas também em importância socioeconômica (WANDSCHEER; TEIXEIRA, 2010, p. 51). Segundo Wandscheer; Teixeira (2010): A exemplo do turismo rural, as atividades rurais não agrícolas emergem no espaço brasileiro, sendo apontadas por alguns como a provável face do ‘novo rural brasileiro’. Essas novas atividades estariam introduzindo um conjunto de novas funções ao espaço rural. Uma das conseqüências que essa realidade traz consigo é o aparecimento das famílias pluriativas, as quais combinam vários tipos de atividades e ocupações, proporcionando a seus membros diversas formas de inserção profissional (WANDSCHEER; TEIXEIRA, 2010, p. 52). Para Schneider e Fialho (2000) entre as características da população rural, de hoje, tem-se destacado uma “nova categoria”, a dos duplo-ativos: Trata-se de pessoas com domicilio rural que combinam o exercício de um ‘trabalho principal’, ou aquele considerado indispensável, com outras formas de ocupação ou obtenção de renda (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 28). 5 Schneider (2003) diz que o fenômeno atualmente denominado pluriatividade não representa uma situação nova no modo de funcionamento das economias agrárias. Ruschmann (2004), a exemplo da acepção de Schneider referente à pluriatividade, afirma ainda que o turismo rural não é um fenômeno novo, já se manifesta desde o século XIX, na Europa. 22 4.2 Turismo no Espaço Rural O turismo no espaço rural esta voltado a um segmento de mercado que: (...) em geral se caracteriza pela demanda de qualidade, entendida como visitantes de consciência ambiental e de considerável poder aquisitivo. Assim, atualmente, a demanda nesses espaços apresenta características que podem homogeneizar, determinando um perfil de clientes de classe média, bom nível cultural, profissionais liberais com formação superior, faixa etária entre 25 e 45 anos e de procedência urbana, num raio de até 150 quilômetros (NOVAES, 2000, p. 147). O turismo no espaço rural é uma forma de valorização territorial, contribuindo assim, para a proteção e conservação ambiental e de patrimônios, culturais e históricos (VIEGAS; RAYE, 2010). De acordo com Serrano (2000), o deslocamento dos homens no tempo e no espaço nos afirma que, as sociedades, sempre viajaram, sejam para buscar o “outro”, como para buscar a si mesmo, sempre em movimento, em busca de desconhecido, construindo e reconstruindo territórios, assim aproximando as pessoas e permitindo a troca (ou não) de conhecimentos entre o viajante e a comunidade receptora. Segundo Barreto (1995), o conceito turismo, no mundo, surge no século XVII na Inglaterra e se tratava de um tipo especial de viagens. Ainda, segundo a autora, o turismo no formato contemporâneo surge após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). A primeira viagem organizada aconteceu em 1841, organizada por Thomas Cook, considerado o ‘pai do turismo’. Segundo Lickorish; Jenkins (2000): A contribuição de Thomas Cook foi à organização da viagem completa – transporte, acomodação e atividade ou ‘satisfação’ em um novo e desejado destino – o verdadeiro produto do turismo [...] Ele inventou um novo serviço essencial – um pacote ou excursão individual. Sua inovação foi copiada em todo o mundo (LICKORISH; JENKINS, 2000, p. 30). E assim, foi a partir do Grand Tour, que houve um estimulo na oferta de serviços de hospedagem e surgimento de guias, porém, foi a partir do século XIX que o turismo se expande e se consolida como um setor que mais contribui para a economia, sendo assim, segundo Lickorish; Jenkins (2000): O turismo é, atualmente, a forma mais inclusiva das viagens e acontece dentro de um espaço e tempo disponíveis para o consumo de bens e serviços, afinal, é uma atividade que surgiu e se desenvolveu a partir do capitalismo, passou a ser artifício de consumo mundial, sinal de status social e é “freqüentemente descrito como uma atividade multifacetada” (LICKORISH; JENKINS, 2000, p.9). De La Torre (apud FONTELES, 2004), entende o turismo como: 23 Um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural (De La Torre apud FONTELES, 2004, p.81). Para Andrade (1998) turismo se define como: Conjunto de serviços que tem por objetivo o planejamento, a promoção e a execução de viagens, e os serviços de recepção, hospedagem e atendimento aos indivíduos e aos grupos, for de suas residências habituais (ANDRADE, 1998, p. 38). No Brasil, pode-se afirmar que foi na década de 1970, em plena ditadura militar, que se começou a organizar o turismo nacional, visto como uma solução para os problemas que o país enfrentava (TRIGO; NETTO, 2003). Contudo esta organização do turismo veio a fracassar, por diversos fatores, sendo estes estruturais, ou seja, desastres econômicos gerados pela crise de petróleo e pelo aumento da divida externa do país; e ainda conjunturais, ou seja, os planejadores não se preocuparam com os padrões internacionais de qualidade o que afetou diretamente a operação e a gestão dos serviços, fazendo com que a atividade turística ficasse estagnada até meados de 1990 (TRIGO; NETTO, 2003). De acordo com Trigo e Netto (2003): Com a abertura econômica e a estabilização da democracia ao longo do processo de impedimento do presidente Fernando Collor, sendo substituído por Itamar Franco e depois com o governo de Fernando Henrique Cardoso, duplamente eleito em pleitos direitos e democráticos, o turismo encontrou condições propícias para uma segunda onde de crescimento, dessa vez bem mais estruturada e provavelmente duradoura (TRIGO; NETTO, 2003, p. 94). Ao longo do passar dos anos o turismo nacional teve altos e baixos momentos, e há diversos indicadores para isto, como por exemplo, crise na bolsa de valores, em 2000; em 2001 o atentado terrorista em Nova York (cf. TRIGO; NETTO, 2003). De fato, o turismo teve ao longo do tempo um crescimento bastante real: A verdade é que o turismo não pode ser desvinculado de uma realidade nacional maior e de uma realidade global. No caso da realidade nacional, os problemas são graves e bem delimitados. (TRIGO; NETTO, 2003, p. 9596) Conforme U. Meléndez; Rojas (2000): El turismo es una actividad socieconómica del sector terciario, la cual está en aumento a escala internacional y proporciona una excelente oportunidad como impulsora de las funciones urbanas, ya que representa un importante generador de empleos y fuente de divisas para los países. (U. MELÉNDEZ; ROJAS, 2000, p. 13) 24 Quando se fala em turismo e tudo que é relacionado a ele, há de envolver diversos conceitos e definições, mais basicamente, pode-se dizer que o turismo é em si, movimento de pessoas, uma grande demanda e não uma simples indústria como era colocado a um tempo atrás (LICKORISH; JENKINS, 2000). Lickorish; Jenkins (2000) afirmam que o turismo “é uma combinação de todos os bens e serviços” durante a viagem e que há uma infinidade de motivações, pessoais ou não que levam as pessoas a viajarem. A atividade turística, em si, é um fenômeno multidisciplinar e que depende do aporte de outras áreas, e sua compreensão esta baseada em conceitos e hipóteses oriundos de outras ciências já consolidadas. Tal fato gera a possibilidade de variação ou mesmo a inexistência de um único conceito que seja capaz de abordar o turismo abrangendo toda sua magnitude. As definições sobre que é turismo e ligadas ao setor turístico são insuficientes e/ou incompletas, visto que por vezes não contemplam tudo o que se deseja, assim torna-se indispensável, análises profundas sobre a própria estrutura do turismo. Segundo Andrade (1998, p. 37), “o turismo não é técnica nem ciência com autonomia e independência, pois faz uso permanente de princípios, recursos e conclusões de ciências e técnicas dos mais variados ramos da atividade humana”. Para Barreto (2007, p. 9), “a complexidade e a diversidade inerentes ao turismo originaram uma enorme quantidade de definições, perto de cem, que variam conforme a formação do autor”. Assim, o estudo da atividade estará pautado, principalmente, no foco da observação do autor. Ainda, pode-se afirmar que nem toda a viagem é considerada turismo, devido a uma convenção aceita internacionalmente sobre o que é turismo. Andrade (1998) diz que: Por isso, embora todas as viagens importem em deslocamento físico e espacial e revertam em gastos e lucros, o fenômeno no turismo, em sua concepção ideal pura, é um deslocamento realizado por prazer a locais que despertam algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE, 1998, p. 18). Segundo Trigo; Netto (2003, p. 97), o turismo no Brasil, ainda “exige uma discussão ampla sobre o modelo de desenvolvimento que está por trás da economia e da sociedade como um todo”. Torna-se evidente que há muito ainda para se questionar sobre ações e políticas do turismo e vários problemas devem ser encarados, de acordo com os mesmo autores: 25 Um deles é acabar com o discurso triunfalista ingênuo que só vê qualidades no turismo e condena os críticos [...] Outro problema é tradição anômala e perversa de não preparar as comunidades e os diferentes setores para discutir em conjunto projetos e políticas (TRIGO; NETTO, 2003, p. 99). Sabe-se que hoje a discussão sobre a área do turismo e seus segmentos, cresce cada vez mais e, conseqüentemente, transforma antigos modos de pensar, planejar e analisar a atividade em novos modos. Conforme Lage (1992 apud REJOWSKI; BARRETO, 2009): É muito comum a segmentação do mercado para o turismo ser classificada através de cinco critérios ou variáveis, a saber: geográficas, demográficas, psicográficas, econômicas e sociais. Tal classificação não significa, no entanto, que outros fatores estejam sendo excluídos, aliás, pelo contrário, na pratica a combinação dos critérios apresentados é a regra (LAGE, 1992 apud REJOWSKI; BARRETO, 2009, p. 10). De acordo com Rabahy (apud REJOWSKI; BARRETO, 2009), a segmentação de mercado: (...) visa identificar: os motivos da viagem; a composição do grupo de viagem; o âmbito geográfico da viagem; o local da pratica do turismo; o tipo de transporte e alojamento utilizado; a época e a duração da viagem; os serviços requeridos; as atividades desenvolvidas; o tipo de viagem; o grau de fidelidade do consumidor; os gastos, além das características do comprador como: nível de renda; características demográficas; econômicas; geográficas; e psicográficas entre outras (RABAHY, 2005 apud REJOWSKI; BARRETO, 2009, p. 03). Existem segmentos dentro do turismo devido as diferentes formas de se pensar na atividade turística e nas motivações para se realizar turismo. E esses diversos tipos de segmentos turísticos existem pois, há diversidade de modos de educação, diversidade de gostos, opiniões, classes sociais, oportunidades e outros (cf. ANDRADE, 1998). Durante os últimos trinta anos, surgiram diversos tipos e subtipos de turismo, seja pela iniciativa do mercado, ou pela iniciativa dos turistas em busca de novos destinos e novas vivências (REJOWSKI; BARRETO, 2009). Segundo Rejowski e Barreto (2009): É preciso reforçar que, os seres humanos enquanto seres sociais, multifacetados, não são passíveis de enquadramentos rígidos, portanto toda e qualquer tipologia constitui apenas uma ferramenta epistemológica que os pesquisadores utilizam conforme suas necessidades (REJOWSKI; BARRETO, 2009, p. 15). Sendo assim, ao mesmo tempo, o turismo se expande e se apropria de novos espaços, proporcionando a criação de novas atividades ligadas, direta ou indiretamente, a produção agrícola, por exemplo. Por fim, Andrade (1998) diz que: 26 O mais importante não é o estabelecimento de aspectos teóricos e especulativos, mas a análise da pratica, que leva à utilização dos recursos variados e seus equipamentos específicos, de acordo com a diversidade da natureza e dos tipos dos vários recursos oferecidos pelos diferentes receptivos, que devem ser considerados individualmente e em conjunto, quando entre eles se dá alguma relação funcional em termos administrativos, econômicos ou em razão das manifestações da demanda. Os fenômenos turísticos diversos se interligam, porque são interdependentes e complementares entre si (ANDRADE, 1998, p. 26). O fenômeno turístico no Brasil se deu, como em diversos outros países e devido a nossa colonização, pelo litoral e assim recebe diversas denominações, que segundo Novaes (2000), são: Turismo rural, turismo alternativo, turismo verde, ecoturismo, agroturismo, turismo cultural, turismo de aventura, turismos ambiental etc. Independente da terminologia adotada, parte-se da constatação de que o turismo pode ser um recurso para os espaços rurais, que procuram uma nova alternativa de desenvolvimento local e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de valorizar seu patrimônio, suas paisagens e sua cultura (NOVAES, 2000, p. 139). Segundo Novaes (2000) entendia-se por turismo no espaço rural: Todos os fluxos turísticos que tinham como cenário para seu desenvolvimento o meio não-urbano, independente de suas motivações, atividades, nível de interesse pela cultura rural, vínculos com a população agrária e modalidade de alojamento (NOVAES, 2000, p. 139). E hoje, já se sabe que turismo no espaço rural é muito mais que uma atividade fora da área urbana, entende-se por turismo no espaço rural a atividade turística que permite contato com a cultura rural, suas peculiaridades levando em consideração as diversas motivações dos turistas e seu interesse pelo local visitado. Assim, Santana (2009, p. 132) salienta que o turismo no espaço rural “baseia-se na aplicação combinada de natureza, contato humano e cultura, com pretensões de beneficio mutuo turista-residente e de baixo nível de impactos”. Coriolano (apud PAIXÃO; PAIXÃO, 2010) nos adverte que: O turismo não pode acabar com a pobreza, mas pode oferecer oportunidades [...] para a compreensão da critica sobre o capitalismo excludente, e acrescenta que este eixo do turismo pode ser uma forma de luta, de tomada de consciência e uma forma de comunidades produzirem sua subsistência (CORIOLANO apud PAIXÃO; PAIXÃO, 2010, p. 91). No atual cenário da economia rural brasileira, o turismo no espaço rural como uma alternativa de renda ao campo apresenta características que possibilitem a integração entre locais, bem como o desenvolvimento sustentável. Abramovay (1992, p.57) afirma que “as mudanças sofridas pela produção familiar na agricultura de hoje são tão profundas que não se encaminharam no sentido da diferenciação social”, o que podemos constatar com o aumento da diversificação das 27 atividades de geração de renda no meio rural, bem como a nova forma de consumo adotado pela nossa sociedade. Elesbão (2000) diz que: A procura crescente de formas de lazer associada ao meio rural que iniciou de maneira incipiente na década de 70 e se expandiu com a divulgação do pensamento ecológico, proporciona a ampliação de postos de trabalho para a população rural (ELESBÃO, 2000, p. 251). Neste sentido, Santana (2009, p, 133) afirma que o turismo no espaço rural “acarretou a mercantilização de um espaço já conhecido, posto que era um ambiente utilizado para fugir da rotina e praticar hobbies”. De acordo com Graziano Neto (1982 apud WANDSCHEER; TEIXEIRA, 2010): Ao mesmo tempo que vai ocorrendo o progresso técnico na agricultura, vaise modificando também a organização da produção que diz respeito as relações sociais (e não técnicas) de produção. A composição e a utilização do trabalho modificam-se [...] a chamada modernização da agricultura não é outra coisa [...] que o processo de transformação capitalista da agricultura, que ocorre vinculado às transformações gerais da economia brasileira recente (GRAZIANO NETO; 1982 apud WANDSCHEER; TEIXEIRA, 2010, p. 50). Em Lages – cidade pioneira no turismo em espaços rurais – assim como aconteceu nos países que desenvolveram esse tipo de turismo, o turismo no espaço rural veio como uma alternativa para contornar problemas financeiros decorrentes de crises agrárias (TULIK, 2010). Conforme Tulik (2010): Turismo no Espaço Rural (TER) e Turismo em Áreas Rurais (TAR) são expressões utilizadas, com freqüência, em certos países da Europa e que, segundo alguns autores, são empregadas como sinônimo de Turismo Rural (TR). Nos Estados Unidos, conforme Page e Getz (1997), a expressão turismo rural, a qual foi adaptada da Comunidade Européia, refere-se ao conjunto de atividades na área rural. Ainda, conforme esses autores, caracteriza-se por ser uma expressão genérica que não considera o caráter próprio do meio rural. É que o que se depreende, também, da obra de Cazes et al. (1990), que pesquisaram essa atividade na França. Eles entendem que turismo rural é qualquer forma de turismo no espaço rural (TULIK, 2010, p 04). Assim, o turismo em espaço rural, de um modo geral é um conjunto de componentes basicamente rurais e culturais, alem de elementos da natureza (TULIK, 2010). Neste sentido, a autora afirma que: Nessa perspectiva, TER/TAR e TR são utilizados como sinônimos, ou seja, indistintamente, embora alguns autores entendam que a expressão turismo rural deva ser utilizada de modo mais preciso e aplicada apenas ao turismo que se baseia no conteúdo rural (TULIK, 2010, p 04). 28 Quando falamos em turismo no espaço rural, podemos dizer que tão pouco ainda existe uma definição. De acordo com Pires (2002), o Brasil ainda é um país novato a essa tipologia, de turismo em espaço rural, se comparado ao contexto europeu onde esta atividade já é praticada há muito tempo. Novaes (2000) afirma que o turismo no espaço rural: Apresenta um crescimento continuo na Europa desde os anos 70, tendo sido descoberto por vários países como uma forma de revitalização da economia de zonas rurais. Fora da Europa, outros países como o Canadá, os Estados Unidos e a Nova Zelândia também praticam o turismo rural como uma alternativa para suplementar as receitas das fazendas e proporcionar a conservação do meio ambiente (NOVAES, 2000, p. 140). De acordo com Talavera (2002), o conceito de turismo no espaço rural aqui no Brasil se distingue muito, visto que se confunde, por muitas vezes, entre definir o que significa ou definir o produto que inclui esta atividade. O turismo em espaços rurais não é uma novidade, visto que Cavaco (2003, p. 69) afirma que “(...) basta recordar, para os finais do século XIX, o retorno anual das elites urbanas e fundiárias as suas quintas para retemperamento [...] prolongando tradições seculares”. Crosby (apud NOVAES, 2000, p. 143) ressalta que o turismo no espaço rural deve “harmonizar os interesses do meio ambiente, da comunidade local e do próprio turismo”. Segundo Talavera (2002) o turismo no espaço rural: (...) tiene poco más de uma década, su contenido no es nuevo. El estilo de vida rural se há consolidado como un atractivo basado, sobre todo, en estereotipos y perspectivas diferentes a lo urbano, agregado esto a su desarrollo en un medio ambiente tan idealizado como aquel modo de vida (TALAVERA, 2002, p. 22). O turismo no espaço rural no Brasil esta vinculado diretamente a tentativa de classificá-lo baseado em parâmetros europeus, o que acarreta uma grande imprecisão de conceitos e conseqüentemente, resulta em equívocos por se tratar de realidades distintas e diferentes entre si (RODRIGUES, 2000). O conceito do que é rural, e assim, do turismo no espaço rural, difere muito quando se compara um país com o outro, e até mesmo se comparado entre países europeus, precursores desta modalidade, daí provavelmente, a dificuldade de um conceito para o turismo rural aqui no Brasil. Segundo Joaquim (2003), na Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França, o turismo rural se distingui bastante da cidade, costas e montanhas, sendo relacionado a um povoamento disperso. Já na Itália, apesar 29 da semelhança com o povoamento disperso, também inclui zonas de montanhas. Na Irlanda e Grã-Bretanha, vale salientar que, excluem o conceito de aglomeração para o turismo rural, sendo o sinônimo de countryside, ou seja, campo. E ainda, de acordo com Davidson (apud JOAQUIM, 2003), na Espanha, Portugal e na Grécia turismo rural esta associado ao espaço de produção agrícola, sendo assim, possui uma forte relação o turismo rural com a agricultura. Sirgado (2003) diz que: Os modelos de implantação, organização e desenvolvimento do turismo rural apresentam uma relativa dessemelhança entre Brasil e Portugal. O próprio conceito de Turismo Rural tem, no Brasil, um sentido bem mais abrangente, envolvendo a fruição dos recursos rurais e as atividades esportivas e ecológicas, bem como a dimensão relativamente intangível da cultura e do modo de vida das Comunidades Rurais e/ou Montanha. Por outro lado, a segmentação da oferta turística rural e/ou montanha mostra-se mais evoluída em Portugal, uma vez que o Brasil evidencia carência de uma tipificação e classificação rigorosas da oferta nesses segmentos, englobando as vertentes agrícola, rural, desportiva e ambiental/ecológica, bem como a sua adequada regulamentação. (SIRGADO, 2003, p. 79). Segundo Portuguez (2002), a grande diversidade de termos no turismo no espaço rural, varia conforme cada configuração sócio-espacial, assumindo, assim, características próprias, e sendo assim, não se pode falar em turismo rural, mas sim em praticas turísticas em espaço rural. Visto que turismo no espaço rural, em Portugal, por exemplo, foi adotada para juntar e designar quatro modalidades de turismo no campo, o turismo de habitação, turismo rural, agroturismo e hotel rural (RODRIGUES apud ALMEIDA; FROEHLICH ; RIEDL, 2002). Conforme Joaquim (2003), o termo turismo no espaço rural, bem como a atividade turística no meio rural nasceu na Europa, assim, vale ressaltar que: O pioneirismo da França remonta a 1971, ano em que se constituiu a primeira associação do gênero, exatamente Tourisme em espace rural (Grolleau e Ramus: 1986). Seguida em 1972, pela publicação do já celebre Manifeste de tourisme em espace rural, que o preconiza como ‘um instrumento de reanimação dos campos na óptica de complementaridade entre a agricultura, o turismo e o artesanato, sublinhando que não deve contribuir para a colonização dos campos’ (JOAQUIM, 2003, p. 35). Contudo vale lembrar que o turismo no espaço rural, especificamente, aqui no Brasil, é resultado de diversos acontecimentos no campo. E “é neste sentido que novas experiências vêm sendo implementadas no meio rural, na tentativa de amenizar, pelo menos em partes, seus mais variados problemas” (PORTUGUEZ, 2002, p. 71). Portuguez (2002), ainda ressalta que: Não só no Brasil, como em muitas outras nações do mundo, o processo – mesmo que diferenciado – de urbanização provocou o esvaziamento das áreas rurais, resultando não só em graves problemas sociais para o meio 30 rural, como também para o urbano. O campo passou a depender cada vez mais do governo para manter-se produtivo. (PORTUGUEZ, 2002, p. 68-69) Segundo os mesmo autores, “nas ultimas duas décadas, o meio rural brasileiro vem registrando um aumento de atividades não agrícolas que até pouco tempo eram consideradas marginais” (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 30-31). A título de exemplificação, na Itália, segundo Paixão e Paixão (2010), o turismo no espaço rural: (...) permanece estreitamente ligado ao setor agrícola, confundindo-se, por isso, largamente com o agroturismo. A tênue linha que separa o turismo rural do agroturismo assenta, na realidade, apenas à parte que cabe ao turismo na atividade e nos rendimentos dos agricultores (PAIXÃO; PAIXÃO, 2010, p. 88). Schneider e Fialho (2000) nos apontam que o turismo no espaço rural é a união da exploração econômica com a junção da valorização da cultura local e do ambiente rural, que em grande parte dos casos, são seus principais atrativos turísticos. E, de acordo com Hall (apud SANTANA, 2009), todos os produtos comercializados pelo turismo no espaço rural giram entorno da natureza e cultura peculiares, monumentos, processo produtivo e outros. Conforme Schneider e Fialho (2000), o turismo no espaço rural possui uma variedade de definições, contudo: Independente de qual definição seja a mais apropriada, o aspecto decisivo a ser considerado refere-se ao aproveitamento do ambiente propriamente rural. Deve-se destacar que, no período recente, a definição do que entende por ‘espaço rural’ vem sofrendo alterações, não só pelo crescimento da importância das atividades não agrícolas, que minaram a identidade do rural com a atividade agrícola, mais também pela associação crescente do meio rural com a qualidade de vida. Além disso, o ambiente rural também vem incorporando aspectos relacionados ao lazer e ao ludismo que, em grande medida, estão contribuindo para redefinição de percepções simbólicas da população de extração urbana (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 31). Segundo Rodrigues (2000): O turismo rural estaria correlacionado as atividades agrárias passadas e presentes que conferem à paisagem sua fisionomia nitidamente rural, diferenciando-se das áreas cuja marca persistente é o seu grau de naturalidade, relativo a ecossistemas ricos em biodiversidade (RODRIGUES, 2000, p. 54). De acordo com Elesbão (2000): O lazer é uma ‘nova’ função que vem se tornando cada vez mais importante no país, manifestando-se em formas variadas de turismo em áreas rurais e que se desenvolve sem nenhuma política publica especifica para esse setor [...] a grande questão que deve ser mais estudada é a importância das atividades não agrícolas para o meio rural, mas não somente os empregos e renda das unidades familiares isoladamente, mais sim num sentido mais amplo, de desenvolvimento local (ELESBÃO, 2000, p. 252). 31 Segundo Beni (2007, p. 471), turismo no espaço rural é a “definição dada ao deslocamento de pessoas a espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite para fruição dos cenários e instalações rurícolas”. E Tulik afirma (2003, p.43) que turismo no espaço rural “consiste no conjunto de atividades desenvolvidas no espaço rural”. Numa visão mais antropológica Santana (apud TALAVERA, 2000), acredita que o turismo no espaço rural deve estar relacionado ao uso e aproveitamento dos recursos rurais, com a intenção de gerar efeitos positivos, de inclusão da população local como agentes culturais e de promover encontros espontâneos de contato cultural. Para Almeida e Riedl (2000): Nesse sentido, o turismo rural, juntamente com outras atividades não agrícolas desenvolvidas pela família rural, tem-se revelado como uma opção viável e de significativo retorno econômico em curto prazo. Como em toda inovação, entretanto, os riscos envolvidos com sua implantação também se multiplicam (ALMEIDA; RIEDL, 2000, p. 09). Schneider; Fialho (2000) afirmam que há um número significativo de variedades de definições sobre turismo no espaço rural, e que estas mesclam com outras atividades no meio rural, como agroturismo, ecoturismo e outros: A primeira diz respeito ao potencial econômico gerado pelo turismo rural que não necessariamente exige que a região tenha atrativos extraordinários [...] A segunda característica esta relacionada á facilidade de criar postos de emprego devido á diversidade de atividades ligados ao turismo rural. Muitas dessas atividades tinham outras funções dentro da propriedade agrícola, mas com o turismo rural passam a despertar interesses e são colocados a disposição do comércio6 (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 32). E segundo Schneider; Fialho (2000): Essa gama variada de produtos e serviços deve-se ao fato de que o consumo turístico, devido a sua heterogeneidade, é dirigido para vários segmentos de consumidores simultaneamente, diversificando seus efeitos diretos sobre outros ramos da economia local (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 33). Santana (2009, p. 118) diz que “popularizam-se, assim, na ultima década, os produtos antes apresentados como minoritários, denominados no mercado como ecoturismo, agroturismo, turismo cultural, turismo rural (...)”. Dentre inúmeros conceitos e terminologias utilizadas para classificar e exemplificar a atividade turística no espaço rural é importante destacarmos o 6 Estas duas características acima referem-se respectivamente ao Agroturismo e ao Ecoturismo, atividades que hoje, podem ou não estar agregadas as atividades de turismo no espaço rural. 32 ‘agroturismo’, que em seu conceito é a prática do turismo aliado a “vivência e participação nas atividades agropastoris” (BENI, 2007, p.471). Embora essa definição seja de origem européia e apresente uma realidade diferente no Brasil, Silva et al (apud SILVA; CAMPANHOLA, 2000) definem o agroturismo brasileiro como: Atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade, devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não materiais existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro, etc.), a partir do ‘tempo livre’ das famílias agrícolas, com eventuais contratações de mão-de-obra externa (SILVA apud SILVA; CAMPANHOLA, 2000, p. 07). Como subconjunto das diversas tipologias para a atividade turística, o turismo no espaço rural se configura como: (...) subconjunto dos turismos alternativos, o turista no espaço rural também se configura como um pós-turista neorromântico, proveniente de áreas metropolitanas [...] que busca saciar seus anseios pelo que autóctone e original na experiência, temporariamente delimitada, de uma visita ao campo, ou, ainda, que pretende se diferenciar pelo prestigio que merece em sua sociedade, do restante dos turistas (SANTANA, 2009, p. 134). Zimmermann (apud PORTUGUEZ, 2002) observa que o turismo no espaço rural atende á demanda turística atraída por bens e serviços no ambiente rural produtivo. Entretanto, a implantação do turismo nestes locais, assim como em outros, pode ou não ser aceita por parte da comunidade local e a contribuição esperada para o desenvolvimento social, político, econômico e ambiental, não atinge as expectativas. Vale destacar, também, como alternativa para o turismo no espaço rural, como modelo organizacional, o chamado turismo de base comunitária que é desenvolvido em diversas comunidades é uma atividade em que as peculiaridades locais e regionais são tidas como atrativos e “consumidas” pelos turistas, tornado-se produtos do turismo. Assim, quando bem organizado é considerado promotor de benefícios, tanto para o local quanto para o regional, proporcionando melhoras na situação econômica (cf. MIELKE, 2009). Para Mielke (2009, p. 15), o turismo de base comunitária é um processo que envolve atores sociais de varias esferas: pública, privada e terceiro setor. Esse envolvimento é a chave do sucesso em que cada personagem tem seu papel definido. 33 5. ATIVIDADES TURÍSTICAS NO ASSENTAMENTO NOVA PONTAL 5.1 I e II Almoço Típico Rural Organizado pela AMANP juntamente com o projeto de extensão, até então, Ger(Ação) e coordenado pela docente Patrícia Alves Ramiro, esta primeira edição do almoço rural ocorreu no assentamento Nova Pontal, no dia 12 de setembro de 2009. Seu objetivo principal foi desenvolver uma atividade que contribuísse, financeiramente, para a associação, gerando uma alternativa de renda que ajudasse na organização e fortalecimento da associação, além de proporcionar para os participantes-visitantes, conhecimento sobre a realidade rural vivida na comunidade assentada e um dia de lazer no meio rural. Esse primeiro almoço rural foi divulgado para os discentes, docentes e funcionários do Campus experimental da UNESP de Rosana, sendo cobrado o valor de R$ 10,00 por participante. No valor estava incluso, além de atividades programadas pelo assentamento, café da manhã e almoço rural típico rural, como mostra a figura 1.37 do cartaz de divulgação Figura 1.3: Divulgação do I Almoço Típico Rural Antes da realização do I Almoço típico rural, houve um encontro entre a AMANP e os membros do projeto Ger(ação). Durante a reunião, a associação pode participar de toda a elaboração de roteiro e compreender como iria funcionar a atividade. As mulheres designaram as funções para cada integrante da associação, bem como esclarecimentos em geral, além de decidirem o cardápio a ser servido durante o almoço, visto que a idéia era usar os próprios recursos do assentamento, tudo o que é 7 Disponível em: http://unespemcampo.blogspot.com/2009/08/blog-post.html 34 produzido no local e não comprar mercadorias externas, excetos às necessárias, como: sal, óleo e carne. Abaixo segue tabela 1.1, com o cardápio escolhido pela associação em conjunto com o Ger(ação) bem como, quem seria responsável (das mulheres assentadas) pelo preparo, escolha feita entre as assentadas, por critério de afinidade com o prato escolhido. Almoço Café da manhã/tarde • • • • • • • • • • • • • • • 2 bolos de fubá (Marina) 2 roscas (Maria Cristina) 1 pcte de café e manteiga (Célia) 2L de leite e 1 bolo de milho (Márcia) 2L de leite (Josiane) 1 cx de chá e 2 L de leite (Zilda) 3 L de leite (Andréia) Bolo (Maria Aparecida) 2 queijos e 2 bolos de milho (Lena) 2 pães e 1 bolo (Claudete) 1 rosca de cenoura e 1 bolo de chocolate (Cilene) nozinho e 2 kg de açúcar (Vera) 4 pães de mandioca e 1 bolo com creme branco (Rosário e Karina) 1 achocolatado e 1 bolo (Regina) Manteiga (D. Maria) • • • • • • • • • • • Tutu de feijão Arroz Feijão Couve Berinjela Frango caipira Polenta Mandioca Farofa Alface Suco Sobremesa • • • • Doce de leite (Lena) Doce de abóbora (Rosário) Sorvete (Sônia) Doce de mamão (Lena e família) Responsáveis: Sônia, Marina, Cristina, Rosário, Geni, Célia, Regina Tabela 1.1: Cardápio do I Almoço Típico Rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010. A segunda edição do almoço rural, também organizada pela AMANP juntamente com o projeto de extensão, Unesp em Campo, coordenado pela docente Patrícia Alves Ramiro, ocorreu, também, no assentamento Nova Pontal, no dia 18 de maio de 2011, e teve como objetivo organizar, pela segunda vez, uma atividade que contribuísse, financeiramente, para a associação e ampliasse a discussão coletiva sobre a viabilidade da implantação do recebimento de visitação no espaço do assentamento. Visto que a iniciativa para esta segunda edição veio de uma demanda de duas disciplinas do curso de turismo, disciplinas lecionadas pelas professoras Danielli Cristina Granado Romero e Patrícia Alves Ramiro, ou seja, a fim de complementar o conteúdo de sala de aula, houve a saída a campo que resultou na segunda edição do almoço, que vale ressaltar que esta teve, também, um objetivo pedagógico. Este almoço rural foi divulgado, igual à primeira edição, para os discentes, docentes e funcionários do campus experimental da UNESP de Rosana, em geral, 35 contudo dando prioridade aos alunos matriculados nas disciplinas lecionadas pelas docentes mencionadas acima, e cobrado um valor de R$ 10,00 por participante que incluía, além das atividades pelo assentamento e o próprio almoço rural. Antes da realização do II Almoço típico rural, houve um encontro entre a AMANP e o Unesp em Campo, encontro no qual a associação pode designar funções para cada integrante da associação, bem como esclarecimentos em geral, visto que já sabiam como ocorreria, pois seria desenvolvido conforme a primeira edição, além que durante este encontro, foi decidido o cardápio do almoço, visto que a idéia é usar o próprio recursos do assentamento. Nesta segunda edição, diferente da primeira, ficou decidido não incluir café da manhã e nem o café da tarde, visto que o valor cobrado não seria o suficiente para tanto, conforme avaliado após a primeira edição. Abaixo segue tabela 1.2, com o cardápio escolhido pela associação em conjunto com o Unesp em Campo a ser servido na segunda edição do almoço. Almoço • Feijão • Arroz • Couve • Berinjela • Vaca atolada • Polenta • Mandioca • Farofa • Alface • Suco Tabela 1.2: Cardápio do II Almoço Típico Rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010. A partir de relatórios do grupo e minhas observações durante as atividades desenvolvidas, relato estas atividades de maneira mais ampla e detalhada. A primeira e a segunda edição do Almoço típico rural, que foi organizado juntamente com a AMANP e executado no assentamento Nova Pontal, teve em ambas as edições como objetivo principal organizar a associação para uma atividade turística que contribuísse financeiramente, gerando, assim, uma renda extra, além de auxiliar o grupo a se auto organizar para o turismo, e ainda, um caráter pedagógico. Foram levantados nos arquivos do projeto Unesp em Campo e arquivos do LEAR, pesquisas e relatórios, bem como imagens, sobre a primeira e segunda edição do 36 Almoço típico rural, sobre o perfil dos participantes, suas avaliações sobre as atividades, como mostrado abaixo juntamente com minhas observações. Na primeira edição do almoço, logo após a saída, pela manhã, houve uma parada, às margens do Rio Paranapanema, para que os alunos pudessem observar a beleza cênica, bem como tirar fotografias. Logo em seguida, o percurso continuou, porém os alunos percorreram uma trilha a pé beirando as águas do reservatório da Usina hidrelétrica de Rosana que margeiam alguns lotes, até o local em que foi servido o café. Imagem 1.1: Trilha – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 Vale aqui destacar que houve um grupo de alunos, que fazem parte de um grupo de pesquisa dentro da universidade, chamado GRUTAS, que foram até o assentamento de bike, este grupo tem o objetivo de incentivar atividades turísticas sustentáveis e incentivar a prática de atividades físicas. Imagem 1.2: Grupo GRUTAS – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 A trilha, desta primeira edição do almoço, foi guiada pelos assentados Lena e Dirceu, onde ambos narraram suas histórias perante a terra conquistada, como se deu a divisão dos lotes e área de reserva presente na beira do rio. Em seguida, o grupo chega ao lote onde foi servido o café da manhã típico rural. 37 Imagem 1.3: Conversa com os assentados do Nova Pontal – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 Imagem 1.4: Café da manhã – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 Imagem 1.5: Assentadas da AMANP – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 Logo em seguida a atividade continuou em outro lote, o do Sr Ferreira, onde a visita teve como intuito mostrar aos visitantes a moagem do café, os equipamentos de preparo do mesmo, bem como, a horta existente no lote e os animais de criação. 38 Imagem 1.6: Lote do Sr Ferreira e processo da Garapa – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 Após a visita ao lote do Sr Ferreira, foi servido aos alunos o almoço típico rural, que teve como prato principal a vaca atolada e galinha caipira, acompanhado por arroz, feijão, polenta e salada. Durante o almoço foram vendidos outros produtos produzidos pelas assentadas, como queijos e doces. Imagem 1.7: Espaço do almoço – I Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2010 Na segunda edição do almoço, logo após a saída da universidade, pela manhã, assim que os alunos chegaram ao assentamento, percorreram uma trilha até o lote do Sr Dirceu, assentado que foi liderança atuante do MST e que esteve presente desde a ocupação no Nova Pontal, o mesmo contou suas histórias perante a terra conquistada, divisão do lote, área de reserva na beira do rio e ainda os alunos foram levados até as margens do Rio Paranapanema, para que pudessem observar a beleza cênica, bem como tirar fotografias e compreender de perto as explicações colocadas, visto que especificamente, esta segunda edição do almoço, teve caráter pedagógico como foi colocado anteriormente. 39 Imagem 1.8: Lote do Sr. Dirceu – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.9: Trilha até a beira do Rio, contemplação – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.10: Beira do Rio Paranapanema – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Logo em seguida, o percurso continuou até o lote do Sr Ferreira, e ainda, foi servido aos alunos, no valor simbólico de R$1,00, garapa. Imagem 1.11: Horta do lote do Sr Ferreira – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Após a visita ao lote Sr Ferreira, os alunos foram até o espaço comunitário do assentamento, onde puderam discutir as atividades realizadas até o momento, e ainda tirarem dúvidas pertinentes. 40 Imagem 1.12: Espaço comunitário do assentamento Nova Pontal – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Em seguida o almoço típico foi colocado na mesa e antes dos alunos se servirem, as assentadas da AMANP explicaram aos alunos os pratos servidos e pequenas histórias sobre o mesmo. Neste almoço o prato principal foi vaca atolada, acompanhado por arroz, feijão, polenta e salada. E ainda, durante o almoço foram vendidos outros produtos produzidos pelas assentadas, como queijos e doces. Imagem 1.13: Preparo do almoço – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.14: Almoço pronto – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 41 Imagem 1.15: Apresentação dos pratos servidos – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.16: Almoço – II Almoço típico rural Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Ambas as edições do almoço tiveram bons resultados perante os alunosparticipantes, conforme observado nas pesquisas realizadas após cada edição. O gráfico 1.1 nos mostra a profissão dos visitantes do I almoço rural. Observa-se que 86% eram estudantes, visto que esta atividade foi divulgada, dentro do campus da UNESP de Rosana, caracterizando assim um público-alvo definido para a atividade. Gráfico 1.1: Profissão dos Visitantes Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 As motivações para se praticar o turismo são diversas, desde questões culturais, como visitar museus, ou fatores religiosos, participar de eventos e até intuitos pedagógicos e conhecer as quem são estes turistas e porque eles estão ali é muito importante, pois assim quem os receberá terá o conhecimento de seus interesses e assim, permitirá realizar planejamento da atividade de acordo com os visitantes (cf. OLIVEIRA, 2001). 42 Quando se planeja uma atividade turística, seja ela em meio rural ou não, é de extrema importância se pensar no público-alvo para a atividade desenvolvida, tornando assim, a atividade direcionada aos gostos, preferências e desejos deste público. Como no caso do I e II Almoço típico rural, o grupo foi composto, majoritariamente, por estudantes, consegue-se ver então que ambas as atividades além de, caracterizarem uma atividade de lazer, também tiveram caráter pedagógico e de aprendizagem lúdico. Vale salientar que, em ambas as edições, como foram divulgadas dentro da UNESP, previamente já se sabia quem seriam os participantes destas atividades, ou seja, já se preparava para atender majoritariamente estudantes. Os gráficos 1.2 e 1.3 representam, quantos destes participantes já tinham visitado um assentamento antes, dados que compõem parte das características deste público-alvo que participaram das atividades, pois assim, consegue-se observar se a atividade que foi oferecida era uma experiência nova ou não. Gráfico 1.2: Já tinha visitado um assentamento antes (I Almoço típico rural) Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 Gráfico 1.3: Já tinha visitado um assentamento antes (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Em ambos os gráficos observa-se que a maioria dos visitantes não conheciam, ou nunca tinham visitado um assentamento rural antes, nem tão pouco praticado alguma atividade turística no local. No gráfico 1.2 percebe-se que há uma diferença menor quanto ao número de pessoas que já conheciam um assentamento, comparado ao gráfico 1.3, em que a discrepância é maior. Diferença essa que é explicada pelo fato de que na 43 segunda edição do almoço os alunos que participaram da visita eram, em sua maioria, calouros recém chegados à universidade, vindos de diversas outras cidades com realidades diferentes. O gráfico 1.4 é resultado da avaliação sobre as atividades desenvolvidas durante o I Almoço típico rural. Nesta primeira edição, ocorreram atividades durante o dia todo no assentamento, os visitantes puderam ouvir histórias de ocupação de terra e de vida dos próprios assentados, participaram de caminhadas, conheceram plantações e o modo de vida local, almoçaram comidas típicas e da época, além de saborearem um café da manhã e da tarde com produtos rurais produzidos no próprio assentamento. Gráfico 1.4: As atividades realizadas podem ser consideradas um roteiro turístico Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 De 36 pessoas que responderam a este questionamento, 34 acharam que as atividades desenvolvidas durante o dia no assentamento podem ser consideradas como atividades turísticas. Desta forma, a segunda edição da atividade manteve o mesmo formato, visto a satisfação dos participantes da primeira edição, e contado também com algumas peculiaridades, pois durante o I Almoço típico rural, os visitantes puderam tomar banho de rio, contudo, na segunda edição, esta atividade não pode acontecer devido à época de frio e porque, na segunda edição o caráter pedagógico foi mais evidenciado, visto que esta ocorreu pela demanda de duas disciplinas. Um roteiro turístico ou produto turístico é o conjunto de bens e serviços relacionados ao turismo, formando por componentes como transporte, alimentação, entretenimento que necessitam ser produzidos conforme a disposição para ser consumido (cf. LAGE; MILONE, 2004). Atrativos turísticos vão muito mais além do que belezas naturais e patrimônios históricos, se por acaso, o local for de difícil acesso, oferecer riscos e tiverem custos altos (cf. OLIVEIRA, 2001). Vale também ressaltar que, tanto na primeira como na segunda edição o valor cobrado por foi de R$ 10,00 porém, na segunda edição, não houve café da manhã e nem café da tarde, e esta escolha foi tomada em conjunto pela AMANP e pelo Unesp em 44 Campo, pois observou-se com a primeira edição o valor total arrecado, não foi significativo para a associação devido as despesas com o almoço e os dois café, logo para a segunda edição, se manteve o preço, porém o número de refeições diminuíram, visto que quando os participantes, da primeira edição, foram questionados sobre o preço, as reposta se mantiveram positivas, conforme o gráfico 1.5, assim em consenso, se manteve o preço, visto que o público-alvo seria o mesmo na edição seguinte. Gráfico 1.5: O preço da atividade foi acessível (I Almoço típico rural) Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 Gráfico 1.6: O preço da atividade foi acessível (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Na segunda edição, o gráfico 1.6 mostra a satisfação dos visitantes em relação ao preço cobrado, sendo que a maioria de 78%, que corresponde a 25 pessoas, consideraram “muito bom” o valor cobrado, levando em consideração as atividades desenvolvidas durante o dia. A oferta turística é definida como pelo conjunto de atrativos naturais e artificiais do local, que estão a disposição dos turistas a fim de atender suas satisfações e necessidades (LAGE; MILONE, 2004). Conforme se observa no gráfico 1.7 a seguir, o que mais os visitantes preferiram na primeira edição do almoço. E a tabela 1.1 nos mostra, como resultado da segunda 45 edição do almoço, o que mais os influenciou na hora de optar pela visita ao assentamento. Gráfico 1.7: Preferências durante a visita (I Almoço típico rural) Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 Tabela 1.3: Motivação (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Observa-se através desses dados que na primeira edição do almoço, 46% dos entrevistados preferiram a bela paisagem que o local ofereceu, seguido de 36% que preferiram os pratos servidos, ou seja, do próprio almoço rural. Entretanto, observa-se que em na segunda edição as motivações e preferências foram outras, de acordo com a tabela 1.1 dentre as principais motivações elencadas para participar desta atividade, em primeiro lugar se destacou o almoço rural, e em segundo lugar o conversa com os assentados e em terceiro lugar a paisagem cênica, critério este que antes na primeira edição foi colocado pela maioria como preferência na atividade. Sendo assim, considera-se que esta atividade, em ambas as edições, o almoço em si e a paisagem cênica estão entre as principais preferências e gostos deste público. Fato este que é explicado por Lage e Milone (2004) que classificam como atrativos turísticos como objetos ou acontecimentos de interesse que motivam grupos a conhecer o local, assim, dentre os principais atrativos destacam-se recursos naturais (montanhas, parques, áreas de pescas, etc.), recursos históricos e culturais (monumentos, instituições culturais de ensino, circuitos gastronômicos, etc.) e 46 acontecimentos programados (congressos, realizações diversas como gastronômicas, desportivas, artísticas, etc.). Em ambas as edições dos almoços questionaram-se aos participantes uma avaliação geral sobre as refeições, atendimento, hospitalidade, condições da estrada, infra-estrutura a fim de compreender se de fato estas atividades no assentamento, proporcionam e atendem o que é turismo. Equipamentos e serviços turísticos incluem as principais instalações, conjunto de edificações e os serviços oferecidos, constituídos pelos meios de hospedagem – quando necessário – alimentação oferecida, entretenimento e diversos outros serviços que podem compor a atividade conforme o local onde é oferecida (cf. LAGE; MILONE, 2004). Gráfico 1.8: Avaliação Geral do I Almoço típico rural Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 Gráfico 1.9: Avaliação sobre a estrada de acesso ao assentamento Nova Pontal (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 47 Gráfico 1.10: Avaliação sobre a hospitalidade dos assentados durante o almoço (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Gráfico 1.11: Avaliação sobre a infra-estrutura no local do almoço (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Deste modo, vale considerar que conforme indicado no gráfico 1.8, referente a primeira edição do almoço, os quesitos como o do café da manhã, atendimento, hospitalidade e almoço foram considerados pela maioria como “ótimo”, e os quesitos como sanitário e estrada de acesso, foram considerados pela maioria como “bom”. Contudo na segunda edição do almoço, o quesito, estrada de acesso (gráfico 1.9) foi considerado pela maioria de 55%, regular, ou seja, observa-se a partir disto um problema para esta atividade no assentamento, a estrada de acesso, visto que esta é toda de terra e em épocas de chuva, por exemplo, fica praticamente impossível ter acesso ao assentamento, o que dificultaria a atividade turística no local. Em relação a infra-estrutura no local do almoço, que inclui sanitários, espaço físico, local das refeições, em ambas as edições, os resultados foram positivos, como mostra o gráfico 1.11, onde 56% consideram “boa” e 41% “muito boa”, ou seja, mesmo que o espaço das atividades sejam simples como, nota-se que os visitantes gostaram deste contato menos sofisticado com novo e simples, atingindo assim a idéia principal da atividade, o rústico, o rural, diferenciado da cidade. 48 Partindo deste principio de simplicidade, em ambas as edições, conforme aponta os gráficos 1.8 e 1.10, a questão da hospitalidade oferecida durante toda a atividade se manteve bem positiva, o que afirma que esses visitantes ao participarem desta atividade consideraram toda a simplicidade, acolhimento, o grande diferencial neste tipo de turismo. O gráfico 1.12 a seguir aponta que 97% dos questionados, na segunda edição do almoço, voltariam a realizar este passeio, independente do caráter pedagógico que estas atividades tiveram. Gráfico 1.12: Avaliação se os visitantes voltariam ao local (II Almoço típico rural) Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Gráfico 1.13: Avaliação se os visitantes acrescentariam algo na atividade (I Almoço típico rural) Fonte: Arquivo Unesp em Campo, 2009 Quando questionados sobre o que acrescentariam, conforme no gráfico 1.13, foram apontadas as seguintes sugestões: Passeio de barco, pescaria, redário, conhecer outros lotes produtivos, maior contato com animais, cavalgada (passeio a cavalo), pernoite, tirar leite, venda de produtos, sinalização, acampar por um fim de semana. As atividades mais solicitadas, em ordem de repetição foram: passeio a cavalo, passeio de barco e redário. De maneira geral, em ambas as edições observam-se através desta pesquisa que os visitantes gostaram desta experiência e ainda acrescentariam outras atividades como mostrado acima, ou seja, vale a partir de então, quando se pensar na atividade turística, 49 freqüente, no local, levar em consideração estas outras opções sugeridas, sejam estas de caráter pedagógico ou não. E por fim, o gráfico 1.14 aponta a opinião dos visitantes, da segunda edição do almoço rural, sobre a viabilidade de implantação da atividade turística no assentamento Nova Pontal. E observa-se que 79% consideram o assentamento Nova Pontal, a partir da experiência que tiveram, um local viável para a pratica de atividades turística. Gráfico 1.14: Viabilidade da atividade turística Fonte: Arquivo LEAR, 2011 50 5.2 Visita ao Assentamento Água Limpa No dia 04 de junho de 2011, o projeto Unesp em Campo, organizou uma visita ao assentamento Água Limpa, em Presidente Bernardes, como atividade de pesquisa e extensão para os membros do LEAR e para as assentadas da AMANP do assentamento Nova Pontal, visto que este assentamento oferece um roteiro turístico, como uma alternativa de renda, assim o grupo e a AMANP puderam confrontar idéias sobre o turismo, perceber como funciona esta atividade em um assentamento e amadurecer a idéia de forma pratica e lúdica. Utilizou-se para esta atividade o ônibus da UNESP, saímos de Primavera (distrito de Rosana) por volta das 6 horas da manhã, para facilitar o acesso das mulheres assentadas, passamos em pontos do Assentamento Nova Pontal, previamente combinados com estas, para pegá-las; eram mais ou menos 8 da manhã quando chegamos ao assentamento Água Limpa. Logo pela manhã e na estrada que levava ao lote do assentamento Água Limpa, que nos receberia, consegue-se observar, conforme mostra a imagem 1.17, que há uma semelhança com a estrada de acesso ao Nova Pontal, em Rosana, ambas são estradas de terra, que em épocas de chuva, por exemplo, dificultam a passagem de carros e/ou ônibus,o que implica diretamente a atividade turística. Imagem 1.17: Estrada para o assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Logo pela manhã fomos recepcionados com um café da manhã, conforme havia sido combinado com antecedência quando agendado a visita. Entretanto, este café mostrado na imagem 1.18, não estava pronto e para que este tempo não ficasse ocioso, os assentados anteciparam parte do roteiro e nos levaram para conhecer o lote, curral, o sistema de inseminação artificial que eles utilizam, o sistema de irrigação e assim tirar as duvidas do grupo, conforme as imagens 1.19 e 1.20. 51 Imagem 1.18: Mesa do café da manhã no assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.19: Explicação sobre a inseminação artificial Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.20: Explicação do sistema de irrigação Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Durante as atividades no assentamento, tivemos o acompanhamento de um guia de turismo, um próprio assentado. Sabe-se que o guia de turismo é o responsável por conduzir os grupos, fornecer informações e prestar assistência aos turistas, sendo eles os mais preocupados em preservar o meio ambiente e valorizar a cultura local (cf. BRAZ, 2007). 52 1.21: Assentado como Guia de Turismo durante a visita Fonte: Arquivo LEAR, 2011 A visita ao assentamento Água Limpa incluiu atividades de lazer como trilha, visita ao rio, visita a cachoeira, além do almoço rural oferecido no lote em que fomos recepcionados. A oferta turística se resumi em diversas recursos que o receptivo possui para ser utilizadas em atividades designadas turísticas e podem apresentar as seguintes peculiaridades: o clima, a paisagem natural, fauna e flora, bens históricos, culturais e religiosos, além das infraestruturas, instalações de recepções e ainda a organização para a recepção dos turistas (cf. ANDRADE, 1998). Imagem 1.22: Trilha – Assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.23: Visita a cachoeira – Assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 53 E como um dos principais atrativos durante a visita, foi servido o almoço típico rural do assentamento Água Limpa, momento o qual se pode, de maneira informal, trocar informações, experiências e dúvidas sobre o local, a atividade e outros. Barreto (2000) afirma que: Patrimônio cultural são obras de arte no espaço, ou seja, a pintura, a escultura e a arquitetura. Mas existem outras artes, aquelas que transcorrem no tempo, como a dança, a literatura (o teatro incluído) e música. Também são parte do patrimônio cultural artístico, mas, por não terem a mesma materialidade que os anteriores, é complexa sua qualificação como “bens”, donde sua quase permanente exclusão das preocupações oficiais com a questão do patrimônio. Por outro lado, os seres humanos não produzem apenas obras de artes, produzem ciência, sabedoria, máquinas, remédios, história, vestuário, receitas de cozinha, formas de relacionar-se com os vizinhos, enfim, hábitos, usos e costumes, entre os quais, lamentavelmente, também estão formas de violência e destruição (BARRETOS, 2000, p. 10). Sendo assim, a cultura é o que caracteriza uma comunidade, e no caso da gastronomia, ao se passar de geração em geração se torna identidade (BARRETO, 2000). E este patrimônio gastronômico, em determinados casos, é um dos pilares do desenvolvimento do turismo, por ser construído por mensagens, ingredientes e modos de preparo determinados que revelam aos turistas um modo peculiar local (cf. ÁLVAREZ, 2003). Imagem 1.24: Preparo do almoço – cozinha assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Imagem 1.25: Assentadas do Água Limpa responsáveis pelo almoço servido Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Vale salientar aqui, conforme Moraes; Silva; Barone (2011, p. 120) “A invisibilidade do trabalho feminino está restrita ao trabalho desempenhado pela mulher no interior do lote: tanto na esfera de domicilio, o cuidado da casa, dos filhos (...)”. 54 E esta atitude sobre o trabalho feminino, foi observada durante a visita ao assentamento Água Limpa, visto que nossa Guia de Turismo era um homem, quem nos recebeu era um homem, e as mulheres todo o tempo ficaram dentro da cozinha nos preparos das refeições. De acordo com Moraes; Silva; Barone (2011): É muito importante pensarmos na transformação das relações de dominação presentes no cotidiano. É um trabalho lento e que necessita de mediações. Aqui as organizações são importantes nesta transição de apresentar para os homens e mulheres novas formas de vivencia que não estejam arraigadas na dominação do homem sobre sua família (MORAES; SILVA; BARONE, 2011, p. 121). Como exemplo, o caso da AMANP, no assentamento Nova Pontal, associação composta só por mulheres, sendo estas que planejam, organizam e executam as atividades voltadas ao turismo. Entretanto, no assentamento Água Limpa não se observou nenhuma associação de mulheres ou algo parecido que fortalecesse este grupo, e pelo contrario, as atividades turísticas são planejadas, organizadas e executadas, por um homem, de um único lote que através de “parcerias” com outros lotes e famílias trabalham juntos. No final das atividades no dia, foram aplicados questionários para o grupo, que participou desta atividade, com o intuito de compreender o quanto do objetivo desta visita foi alcançado bem como feed back desta. O primeiro gráfico, o 1.15 nos mostra que de 14 pessoas que responderam a este questionário, sendo parte destas assentadas da AMANP, 75% nunca tinham visitado um assentamento que pratica atividades turística como forma complementar de renda, assim percebe-se que esta atividade no Água Limpa teve um caráter inovador para este grupo. Gráfico 1.15: Se já tinha visitado algum assentamento que recebe turistas Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Visto que para a maioria do grupo, a pratica de atividades turísticas em um assentamento foi totalmente nova, o gráfico 1.16 nos apresenta quais foram às percepções deles sobre esta atividade no assentamento Água Limpa. 55 Gráfico 1.16: Se gostou da visita ao assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 E quando questionados para justificar o porquê da escolha, foram apontadas as seguintes respostas: Por causa do almoço oferecido, hospitalidade, troca de experiências, nova vivência, é um lugar que merece atenção e tem tudo para dar certo, paisagem, conhecer pessoas diferentes, conhecer lugares novos e diferentes do ambiente que estamos acostumados, conhecer realidades do campo e as diversas dificuldades encontradas e superadas, lazer, coisas novas sobre agricultura, vacas, irrigação e inseminação de gado. Segundo Tulik (2003) estas atividades caracterizam o turismo no espaço rural, atividades que mostrem a interação entre turistas e anfitriões, atividades apoiadas ao meio natural e humano, incluindo realidades locais, interagindo assim, com atividades agrícolas e rotineiras da propriedade. Os gráficos 1.17 e 1.18 nos aponta a avaliação geral sobre alguns itens gerais das atividades no Água Limpa e ainda, em especifico, sobre o almoço servido. Gráfico 1.17: Avaliação geral da visita ao assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 Neste caso, observa-se que todos os quesitos avaliados, os mesmo tiveram aceitação, “ótimo” ou “bom”, do grupo, o único quesito em que se apresentaram à alternativa “regular e ruim” foi o da acessibilidade. Entretanto, se consegue justificar, visto que a estrada de acesso até o local é de terra, igual ao acesso ao assentamento Nova Pontal, sendo assim, épocas de chuva, por exemplo, ficaria praticamente impossível ter acesso ao assentamento, o que dificultaria a atividade turística no local, 56 problema este também enfrentado no Nova Pontal. E outra justificativa seria a falta de transporte de dentro do assentamento Nova Pontal, no município de Primavera/Rosana até o assentamento de Água Limpa, no município de Presidente Bernardes, ou seja, as assentadas teriam que ir até a rodoviária de Primavera para pegar um ônibus. Conforme as mesmas apontaram nos questionários, caso não houvesse o transporte da UNESP o acesso a esta atividade, no assentamento Água Limpa ficaria prejudicado, como em tantas outras atividades que não conseguem realizar pela falta de transporte dentro do assentamento. O quesito alimentação apresentado no gráfico 1.17, foi o único em que 100% das respostas do grupo foram “ótimo”, o que, também, se pode confirmar através do gráfico 1.18, onde o grupo fez uma avaliação especifica sobre aparência, higiene, sabor e diversidade, da refeição oferecida e nota-se que em ambos os quesitos a maioria do grupo considerou “Muito Boa”. Gráfico 1.18: Avaliação sobre a refeição oferecida no assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 A gastronomia faz parte da cultura de uma comunidade e o saber-fazer através da pratica resgata e valoriza a culinária local, tornando assim um atrativo da atividade turística, e muitas vezes através desta gastronomia nota-se o valor cultural do local (cf. ÁVAREZ, 2003). O grupo, ainda foi questionado para sobre os aspectos da visita que mais os agradaram, e o que eles mais apontaram foi à refeição oferecida, em primeiro lugar, seguido pelo espaço físico, Cachoeira, lagoa e atendimento, almoço bem servido, animais e as técnicas de irrigação, infra-estrutura, atividades realizadas e hospitalidade dos assentados, paisagem, queda do cavalo e o passeio, trilha, organização e o gado, técnicas de inseminação. E o último gráfico 1.19 nos aponta as respostas do grupo, quando questionados se voltariam a realizar estas atividades do assentamento Água Limpa. 57 Gráfico 1.19: Se voltaria ao assentamento Água Limpa Fonte: Arquivo LEAR, 2011 E quando questionados para justificar a escolha, foram apontados os seguintes motivos: Para observar algumas mudanças e progressos nas atividades, levar a família toda para conhecer, porque gostou da recepção e dos assentados, porque sentiu que voltou às raízes, por causa do custo baixo e o ambiente agradável, localização e paisagem, para sair da rotina, por querer aprender sempre mais e acolhimento dos assentados. Desta forma, consegue-se observar que 100% do grupo voltariam, por diversos motivos, ao assentamento Água Limpa, motivos os quais estão diretamente ligados aos outros questionamentos, elencados anteriormente, todos satisfatórios. Ou seja, conforme o que foi apresentado pelas respostas do grupo, esta atividade foi satisfatória e conseguiu com que o grupo obtivesse outro olhar, diferenciado, sobre o turismo em assentamento, a partir desta experiência. E para finalizar o grupo, ainda, apresentou algumas sugestões, para esta atividade no assentamento Água Limpa, sugestões como: Conhecer outros lotes do assentamento que apresentem outras diversidades, as atividades duraram pouco tempo, passeio a cavalo, andar de charrete, tirar leite da vaca, permanecer mais tempo nos locais visitados como exemplo a trilha e mais lixeiras. 58 6. ENTREVISTAS Para avaliação do I e II Almoço típico rural e a Vista ao assentamento Água Limpa, realizou-se entrevista com dois membros do projeto Unesp em Campo e com algumas assentadas da AMANP a fim de ouvir o que estes pensam sobre estas atividades. A entrevista com as mulheres assentadas teve ainda um intuito de compreender melhor o as mesmas pensam e entendem sobre turismo e se algo tem mudado a partir destas atividades. Abaixo segue nome, idade e outras informações gerais sobre as assentadas entrevistadas, bem como a transcrição de cada entrevista, para algumas delas foram feitas certas perguntas e para outras não, escolha feita de modo aleatório, a fim de ouvir e compreender o máximo de informações de diferentes pontos de vistas. • Maria do Rosário Pereira Procópio – 57 anos Filhos: (X) Sim. Quantos: 07 – sete filhos ( ) Não Estado Civil: ( ) Solteiro (X) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado Outro: ______ Escolaridade: Ensino fundamental completo Estudante? ( ) sim (X ) não Nº. de pessoas no lote: seis • Eusébia Maria da Silva Oliveira – 48 anos Filhos: (X) Sim. Quantos: 02 – dois filhos ( ) Não Estado Civil: ( ) Solteiro (X) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado Outro: ______ Escolaridade: Ensino médio incompleto Estudante? ( ) sim (X) não Nº. de pessoas no lote: duas pessoas e um filho que vem as vezes • Claudete Soares Brandão Santos – 44 anos Filhos: (X) Sim. Quantos: 02 filhos ( ) Não Estado Civil: ( ) Solteiro (X) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado Outro: ______ Escolaridade: Ensino médio completo Estudante? ( ) sim (X) não Nº. de pessoas no lote: três • Leopoldina Ganâncio dos Santos – 42 anos 59 Filhos: (X) Sim. Quantos: 03 filhos ( ) Não Estado Civil: ( ) Solteiro (X) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado Outro: ______ Escolaridade: Ensino fundamental completo Estudante? ( ) sim (X) não Nº. de pessoas no lote: cinco • Maria Cirlene Vieira Ganâncio – 44 anos Filhos: (X) Sim. Quantos: 03 filhos ( ) Não Estado Civil: ( ) Solteiro (X) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado Outro: _____ Escolaridade: Ensino fundamental completo Estudante? ( ) sim (X) não Nº. de pessoas no lote: cinco Pergunta: Quais atividades remuneradas que você desenvolve no lote, de maneira geral? Claudete: Olha eu trabalho aqui na feira, né, vendendo meus produtos e trabalho aqui no sitio, né, trabalho na horta, colhendo café, torrando café pra mim vender. Leopoldina: Eu mais assim, em casa mesmo, em horta, né, as vezes assim também nois colhe muito mandioca, tem dia que é o dia todo só fritando mandioca e cortando, mais essas coisas de agricultura. Maria Cirlene: Eu também trabalho com horta, né, essas coisas de agricultura, com a minha cunhada, nois vai fazer um serviço é tudo junto, grupado. Observa-se que entre essas mulheres que fazem parte da AMANP, as atividades remuneradas que elas citaram como sendo atividades que contribuem financeiramente no orçamento da família, foram atividades agrícolas, ou seja, nota-se que não foi citado em nenhum momento atividades não-agrícolas, como artesanato, pesca e/ou até mesmo atividades turísticas. Pergunta: Desde quando você participa do Almoço típico rural realizado pela UNESP? Claudete: Ta com o que? Dois anos que nois começamos nossa associação, né? Leopoldina: Foi desde o primeiro, né, sempre, acho que já faz uns três anos ou mais. Maria Cirlene: Faz um três anos, desde a primeira vez que teve. Pergunta: Qual é sua atividade/participação dentro do Almoço rural? Claudete: Olha, o trabalho é divido, uma ficam na limpeza, outras ficam pra trabalha na cozinha, outras ficam pra quando termina a atividade, né, fecha a escola, assim. Leopoldina: Eu fico na cozinha, né, faz tudo que precisa. Maria Cirlene: A gente trabalha na cozinha, né, preparando tudo. 60 A partir de então, percebe-se que as atividades dentro do assentamento Nova Pontal, como o almoço rural vem acontecendo desde quando se iniciou a associação e que o trabalho delas são divididos e que elas se organizam conforme a necessidade e que, independente, se ajudam em todas as partes. E ainda, elas foram questionadas sobre o elas pensam sobre estas atividades, conforme mostrado abaixo. Pergunta: O que você acha destas atividades desenvolvidas? Claudete: Nossa, eu acho divertido, legal, ajuda muito as pessoas aqui. Leopoldina: Ai, eu acho que é muito importante, né, eu acho que ajuda muito a associação das muié, né, a participação da Unesp, aqui pra nois, eu acho muito importante. Maria Cirlene: Acho importante, e ajuda bastante a associação, né, porque assim, a gente sente que alguém ta pensando na gente aqui, porque a Prefeita nada, a gente a muito é esquecido aqui, então nois acha assim, que a Patrícia vem, parece que anima, sabe, associação e tudo, né, com esses almoços. Assim, consegue-se observar que estas atividades desenvolvida pelo Unesp em Campo, são observadas de modo positivo e ajuda a associação a se organizar, não só para receber o turismo, como organizar internamente. Aqui vale concordar com Dencker (2002) quando diz que: O que podemos perceber é que o conhecimento, à proporção que é incorporado pelo individuo, transcende as fronteiras nas quais foi concebido e incorpora os valores e vivencias socioculturais transformandose em diferentes leituras, transformando-se em novas unidades de conhecimento (DENCKER, 2002, p. 34). Pergunta: O que é turismo pra você: Maria do Rosário: O turismo, no meu ponto de eu ver, eu acho uma coisa muito interessante, muito boa pras pessoas, que principalmente pessoas que moram em cidade grande, que não tem, né, aquele, aquela liberdade que nos temos aqui, to dizendo o turismo, mas é a gente aqui, o nós aqui, é uma parte, então eu acho uma coisa boa e se realmente tem projetos de se trabalhar na área do turística aqui em Primavera, então eu acho uma coisa boa. Eusébia: Pra mim, se a gente conseguisse implantar o turismo aqui dentro, seria a melhor coisa, porque ai a gente ia pode vender as coisinhas da gente, a gente ia conhecer gente diferente [...] então pra mim se ele se instalasse aqui dentro seria ótimo, a gente luta pra isso e já faz tempo. Claudete: Eu vejo assim, o turismo eu acho que a gente tem que branja bastante, né, assim, por exemplo, nois aqui tem que sai mais e faze visita pros lugar, assim, igual aqui tem o rio, né, igual vocês vem pra cá, né, eu acho legal vocês vim pra cá e a gente, por exemplo aquela outra vez, que nois veio e fico tudo envolta do rio, né, foi assim, tipo de uma aula que nois fizemos, né, foi bem gostoso. Leopoldina: Eu não conheço muito, sabe, que quando tem alguma coisa nois só fica na cozinha mesmo, lá dentro e não teve nem palestra, que colocou, então, eu não entendo muito, tinha que ter uma explicação melhor pra eu entender direito. 61 Maria Cirlene: Eu não entendo muito, eu também, a gente não entende muito, né, quando a gente fala o turismo, né. A partir deste questionamento, consegue-se notar que, mesmo com os encontros que o projeto realiza com as assentadas antes das atividades acontecerem, como o caso do Almoço rural, e também, outros encontros, de diversas outras atividades do projeto, observa-se que ainda não esta totalmente esclarecido e/ou exemplificado para as assentadas o que é turismo, contudo, não se pode desconsiderar ou considerar, em total, que as atividades não tenham tido valia. O turismo para estas assentadas vêm como uma novidade, ou uma atividade totalmente nova e desconhecida, e sendo assim, ainda devese levar em consideração o pré-conceito que já existe para as assentadas sobre o turismo, e que falar, compreender, planejar e executar atividades turísticas não se faz do dia para noite, este é um trabalho continuo. Pergunta: Quais as vantagens e/ou desvantagens do turismo? Maria do Rosário: Perfeito, perfeito nunca vai ser tudo, né, vai ter algumas coisas sim que vai trazer algumas complicações sim, varia com as pessoas, tipos de pessoas, né, com o turismo, você vai receber todos os tipos de gente, né, mais tudo você tem que adaptar, né. Eusébia: A maior vantagem o desenvolvimento, eu acho. E Desvantagem? Eu acho que não tem, nenhum, do meu ponto de vista não. Claudete: Vantagem e desvantagem [...] ai como eu posso expricá? Eu acho assim, que a vantagem é que a gente aprende muita coisa, né, do turismo e a desvantagem, é quando não, a gente não tem assim, quando as pessoas não vem visitar a gente, a gente fica muito triste, a gente queria que isso acontecesse mais, mais vezes, né, porque é bom a gente se ajuntar assim, pra troca experiência. Leopoldina: Eu acho vantagem, pra mim é muito importante, porque sempre que tem uma visita, sempre a gente tem, né, a gente sai, tem uma participação, tem um encontro, encontra outras pessoas, varias pessoas, tipo diferente, né, convivente assim (interrupção – E você vê alguma desvantagem?) Eu acho que não, ao meu modo de pensar não. Maria Cirlene: Nos conheceríamos pessoas, sairia um pouco e acho que só. E a partir deste questionamento, conseguimos afirmar o que já havia afirmado anteriormente, estas atividades do Unesp em Campo, fazem parte de um processo continuo que conforme as assentadas vão compreendendo o que vem a ser o turismo, conseguirão compreender as vantagens e desvantagem da atividade e assim, saberão de fato se é valido, para a realidade delas, investir nesta atividade ou não. Abaixo segue nome e idade dos entrevistados que fazem parte do Unesp em campo, bem como a transcrição de cada entrevista. 62 • Rodrigo Pereira da Silva – 21 anos (Bolsista BAAE I do Unesp em Campo desde 2011). • Isabela Marcantonio Dias – 21 anos (Voluntária do Unesp em Campo desde 2010). Entrevista – Almoço típico rural Carolina: De um modo geral, o que você achou do Almoço Típico Rural? Levando em consideração o dia todo no assentamento, visita aos lotes, conversa com os assentados, o almoço, enfim todas as atividades. Isabela: O almoço rural foi uma atividade que conseguiu expor parte da diferença existente entre campo e cidade, permitiu conhecer um pouco do dia a dia no meio rural, a história de algumas pessoas assentadas no local, bem como, o processo de fazer garapa, a secagem do grãos de café e o tempero especial da comida feita pelas mulheres da associação. De maneira geral, acredito que atividades como essa nos permite conhecer e pensar as diferenças existentes dentro de um mesmo município, e pensar como lidar com elas para a prática e/ou implantação da atividade turística. O saber local, os costumes e o modo de fazer, seja a comida, a garapa, ou o doce, determinam as características singulares que a comunidade possuí e demonstram de maneira sutil os sonhos e desejos, dessas pessoas com as quais podemos conversar. Carolina: Cite algo que, em seu ponto de vista, precisasse melhorar? Isabela: Talvez, fosse interessante pensar o almoço rural a partir de um diagnóstico rural participativo, ou seja, trabalhar oficinas com essas mulheres para que elas conheçam seu espaço, e selecionem o que elas mais acham interessante, proveitoso mostrar, de modo que elas se reconheçam naquele espaço e possam "participar" da organização. Quanto as atividades acho que elas devem ter um cunho educativo, capaz de proporcionar aos estudantes uma avaliação social, econômica, ambiental e até mesmo política, sobre esse lugar. E por fim, acredito que a mescla de projetos e/ou instituições na faculdade, bem como a aliança entre professores, é muito mais proveitoso e produtivo, como o que aconteceu no primeiro almoço rural, onde o pessoal do GRUTAS foi de bike, talvez, se eles fossem de bike, mas tivessem uma orientação anterior sobre a história do lugar, ou sobre pontos específicos do caminho, se tornaria mais interessante. Carolina: Como você vê o turismo em espaços de reforma agrária, como um assentamento? Isabela: Acho essa questão um tanto quanto delicada, acredito que pensar o turismo em qualquer espaço, é difícil, mas, os assentamentos trazem consigo uma dificuldade maior, a essência que lhes é dada, de que devem ser somente agrícola, bloqueia a idéia de que eles também podem pensar em outras alternativas, até mesmo porque, a agricultura hoje, em muitos casos, não é suficiente para manter a família no campo. Contudo, para que essa atividade respeite e esteja dentro dos limites sustentáveis e de respeito social, é preciso em primeiro lugar que a comunidade queira, ou seja, que ele seja pensado e planejado junto aos principais interessados, acredito então, que nesses espaços, o turismo deve ser de base comunitária. Carolina: A partir desta sua experiência, você acha viável o turismo como alternativa de renda, para o assentamento Nova Pontal? Justifique. Isabela: Acredito sim que o turismo é uma alternativa de renda viável, contudo, como já disse na questão anterior, ele só se tornará viável, aplicável e obterá sucesso se for 63 pensado de forma comunitária. Assim sendo, é necessário que haja um interesse dessa comunidade em desenvolver o turismo, se houver, aí sim trabalhar com o diagnóstico rural participativo, com oficinas, de modo que a comunidade se conheça ou reconheça e ela pense a melhor forma de desenvolver a atividade, a partir de seus conhecimentos, anseios e sonhos. Pensar o turismo no gabinete e tentar colocá-lo em prática no campo, não trará resultados concretos, nem duradouros. Entrevista – Visita ao assentamento Água Limpa em Presidente Bernardes Carolina: O que você achou da visita ao assentamento? Rodrigo: A visita foi bastante interessante, dentro do propósito, sobretudo pela possibilidade de troca de experiências entre os assentados do próprio local e de Rosana. Quanto às atividades desenvolvidas, sobretudo às refeições servidas, essas permitiram um verdadeiro retornar no tempo através dos pratos, da forma de por e convidar a mesa, característicos do campo. De modo geral, a organização e a articulação existente, por parte dos assentados que ofertam as atividades são visíveis. Carolina: Sobre a atividade turística que é desenvolvida no assentamento Água Limpa, qual a sua opinião? Rodrigo: As atividades de cunho turístico, desenvolvidas durante a visita foram atrativas, sobretudo em relação aos recursos naturais que dispõe o assentamento, más creio que o elemento cultura, saberes e fazeres locais poderiam ser mais bem aproveitados, visto que, quando o turista busca o contato com o campo, não busca apenas o (re) contato com a natureza, más também um reviver de sua história de vida, com as características e práticas comuns do campo. Carolina: Você acha que há como comparar a atividade turística de Presidente Bernardes, com o caso do assentamento Nova Pontal, em Primavera? Rodrigo: A tentativa de comparação é interessante, ao passo que adaptações e melhorias possam ser feitas para ambos os casos, más o Assentamento Nova Pontal tem condições, recursos e potencial para desenvolver e ofertar atividades ligadas ao turismo, como a visitação, contemplação, intercambio cultural, entre outras, visto que, também dispõe de recursos naturais atrativos, no caso do rio, bem como, práticas tradicionais que podem ser (re) valorizadas, em especial, no que tange à gastronomia típica e aos produtos locais. Carolina: Como você vê o turismo em espaços de reforma agrária, como um assentamento? Rodrigo: Como uma alternativa não-agrícola de geração e complementação de renda, melhoria da qualidade de vida e manutenção do homem nesses espaços, desde que, pensada conjuntamente com os seus maiores interessados – assentados – e formatada para agregar valor à esse espaço, bem como, ao município, enquanto potencial e passível de desenvolvimento com e para o turismo, sobretudo, com relação à determinadas modalidades turísticas, como o turismo de pesca, onde, em geral, o pai se desloca com a família e passa boa parte da estada no local desenvolvendo essa atividade e a mãe e os filhos acabam por não se integrarem, efetivamente, com o local, os moradores, as peculiaridades e atrativos. Carolina: A partir dessas experiências, das atividades do Unesp em Campo, com a AMANP, você acha viável o turismo como alternativa de renda, para o assentamento Nova Pontal? Justifique. 64 Rodrigo: Sim, como dito anteriormente, esse local e seus moradores possuem condições, recursos e atrativos naturais e histórico-culturais, ainda que menos favoráveis, em relação a outros assentamentos visitados considerando a proximidade das cidades, estrutura básica e de apoio à atividade, por parte do município em que está inserido este assentamento, entre outros fatores para tentar visualizar e conceber atividades ligadas à visitação turística, com seus vários focos, entre a prática pedagógica, lazer, educação ambiental, a gastronomia, a compra de produtos típicos locais e/ou a simples contemplação das paisagens e dos recursos naturais. Assim, a partir destas duas entrevistas acima, sobre o almoço rural e sobre a visita ao assentamento Água Limpa, pode-se compreender, através de membros do próprio projeto que a atividade turística no espaço rural é sim, possível e viável, a partir do momento em que a comunidade receptora também esteja a fim de encarar esta alternativa. E que em ambas as atividades que foram desenvolvidas, os mesmos consideraram seus objetivos positivos e se vale pensar no turismo no Nova Pontal como um alternativa de renda não-agrícola. Entretanto, a partir destas entrevistas, consegue-se observar e concordar que o turismo sim é uma alternativa viável para o Nova Pontal, contudo, ainda falta amadurecer esta idéia entre os assentados, do que é turismo, como vai funcionar, o que é bom ou ruim, que esta atividade não pode substituir atividades cotidianas e a partir de então, os próprios assentados, descobrirem se vale ou não esta atividade. 65 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do questionamento inicial desta pesquisa sobre as reais possibilidades de pequenas comunidades rurais se tornarem protagonista dessa prática e se o turismo no espaço rural é uma alternativa viável de renda complementar não-agrícola para o assentamento Nova Pontal; buscou-se através do estudo de três atividades do projeto de extensão Unesp em Campo, se justificar possíveis respostas a estas indagações. Neste sentido vale considerar algumas características levantadas e observadas durante a pesquisa. Quando levantado, analisado e discutido sobre as atividades denominadas de I e II Almoço típico rural consegue-se observar que perante os alunos participantes, de um modo geral, esta atividade teve caráter positivo, visto a aprendizagem durante o dia, atividades recreativas, gastronomia local, preço, hospitalidade e contato com a natureza, fuga da rotina e outros. Entretanto os mesmos conseguem de forma positiva sugerir outras atividades de lazer, e ainda, questionam a infraestrutura do local e a acessibilidade até o assentamento, item este ligado diretamente ao turismo, visto que o acesso até o Nova Pontal se dá por uma estrada de terra, que em épocas de chuva, como já citado, impossibilita a passagem de ônibus, por exemplo. Já quando em entrevista com as assentadas da AMANP, sobre as atividades realizadas pelo projeto no assentamento, observa-se que as mesmas afirmam que gostam da atividade, acham interessante, participam desde a primeira edição, contudo, nestas mesmas respostas elas não nos passaram o que elas vêem de importância e no que estas atividades auxiliam no seu cotidiano, isso, também, não quer dizer que elas não achem importante ou que nada tem mudado a partir destas atividades. Pois consegue-se observar que durante a entrevista, quando questionadas sobre vantagens e desvantagens do turismo, uma assentada nos responde que como desvantagem ela sente falta de quando não há pessoas para visitá-los, ou seja, nota-se através de pequenas respostas e observações as mudanças, mesmo que estas não estejam explicitas nas falas. No caso da atividade de visita ao assentamento Água Limpa, em Presidente Bernardes, nota-se através da pesquisa realizada com os participantes desta atividade que a mesma foi positiva, eles gostaram do roteiro oferecido, voltariam ao local, contudo, no dia da visita, consegui observar certo interesse das assentadas da AMANP sobre assuntos relacionados a agricultura e gado, ou seja, nota-se que apesar da atividade ter sido direcionada ao turismo que existe naquele assentamento, as mulheres 66 da AMANP, ainda, se interessam por assuntos que estão mais ligados ao seu dia a dia no campo. Não quero afirmar aqui que elas não tenham absorvida nada sobre as atividades turísticas lá desenvolvidas, pois quando aplicado o questionário no final da atividade, na pergunta sobre o que acrescentariam no roteiro, por exemplo, observa-se que nestas respostas sugeriu-se atividades que não são realizadas e que poderiam acrescentar no local, ou seja, isso permitiu notar que mesmo elas tendo maior interesse por outras atividades, elas conseguiram absorver algumas coisas sobre as atividades turísticas. E ainda, de acordo com as entrevistas realizadas com dois membros do projeto, notou-se que para ambos, a atividade turística em assentamento é uma atividade viável como uma alternativa complementar de renda, ou seja, que venha agregar valor e não substituir as atividades já existentes. Mediante a estes apontamentos, considera-se que para que a atividade turística seja viável para o assentamento Nova Pontal e que esta pequena comunidade rural possa gerir e se beneficiar com o turismo é necessário, que se leve em consideração o que a própria comunidade pensa sobre o assunto, como ela vê e se a mesma tem esta vontade, pois conseguiu-se observar que todos que participaram das atividades dos almoços rurais, bem como os membros do projeto acreditam na viabilidade do turismo no assentamento Nova Pontal, visto a pró-atividade das assentadas perante as atividades, independente de fatores como acessibilidade, fator este que deve ser sim levado em consideração, contudo, ainda assim, a cultura que estas assentadas nos passa é de que esta idéia ainda não esta amadurecida e esclarecida o suficiente para que os mesmo consigam organizá-la e gerir. Ou seja, a partir das pesquisas aqui realizadas e entrevistas, considera-se o turismo no espaço rural, sim, uma alternativa complementar de renda não-agrícola para o assentamento Nova Pontal. Contudo, diante o atual momento, não se considera que esta pequena comunidade rural, consiga ser o protagonizador desta atividade, vistos as considerações acima. Por fim, não espera-se que aqui se esgote o assunto e se de por concluído os resultados aqui apontados, até mesmo porque, este não é o intuito da pesquisa e, ainda, há necessidade de pesquisas mais direcionadas, focadas para o assuntos ligados diretamente ao planejamento do turismo, como se questionar mais sobre acessibilidade, infraestrutura, capacidade de carga e outros. O intuito da pesquisa foi o de avaliar estas três atividades de extensão do projeto Unesp em Campo e a partir de então, se pensar se estas tem influenciado o 67 cotidiano das assentadas e se através destas atividades existe a viabilidade da atividade turística no local. Sendo assim, vale salientar que estas atividades do projeto de extensão não são atividades insubstituíveis, nem tão pouco, atividades imutáveis, estas são atividades flexíveis e que fazem parte de um processo continuo, sendo este só o começo. 68 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. Estudos Rurais. Rio de Janeiro e São Paulo: UNICAMP e HUCITEC, 1992. ALMEIDA, Joaquim Anécio; RIEDL, Mário (Orgs). Turismo Rural: Ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru, SP: EDUSC, 2000. ANDRADE, João Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo – SP: Ática, Ed. 5, 1998. BARRETO, Margarita. Cultura e turismo: discussões contemporâneas. Campinas/SP: Papirus, 2007. 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