O que fazemos por nossa Saúde Mental nos Tempos Modernos?
Luciana Aparecida de Moraes 1
Mateus Gatto Spinardi 2
No dia 10 de outubro, comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental.
Esta data propõe uma reflexão sobre educação, conscientização e defesa da Saúde
Mental, tanto no aspecto coletivo, pela articulação de setores da saúde e da sociedade,
quanto no âmbito familiar e individual.
É com esta proposta que convidamos você a pensar sobre a importância da saúde
mental enquanto forma de o indivíduo se relacionar, fazer escolhas e conhecer seus
limites e, ainda, como vivencia emoções, como alegria, tristeza, raiva e frustrações,
procurando enfrentar os desafios e as mudanças da vida com equilíbrio. Também
fazemos um alerta para os riscos que o distanciamento e negação da vida psíquica
podem acarretar.
DALGALARRONDO (2008) traz contribuições importantes para o campo da
Saúde Mental, com reflexões sobre as vivências, os estados mentais e os padrões
comportamentais que apresentam uma especificidade psicológica e as conexões sobre o
que é considerado normal. O conceito de saúde e normalidade em psicopatologia é
controverso, pois há casos nos quais a delimitação entre comportamentos e formas de
sentir normais e patológicas são difíceis. Isso traz implicações também sobre o conceito
do que é saúde e doença mental, levando a pesquisas a diversas áreas da saúde mental:
forense, epidemiológica, planejamento em saúde mental e políticas de saúde, orientação
e capacitação profissional, além da prática clínica, em que é necessária a capacidade de
discriminar, para avaliação e intervenção, se tal fenômeno é patológico ou normal.
Percebemos que algumas particularidades culturais da sociedade moderna
promovem o distanciamento da subjetividade e trazem uma dinâmica mental com
mecanismos defensivos pouco desenvolvidos. Na experiência da clínica surgem, então
configurações ligadas à dificuldade para respeitar as diferenças, à competitividade
desenfreada, ao empobrecimento afetivo, à dificuldade para tolerar perdas, sentimentos
de frustração e desamparo. Isso tudo tem gerado prejuízo às relações, nas quais
predominam a desconfiança, a agressividade, a lógica do princípio do prazer e, assim, o
potencial de desenvolvimento subjetivo do aparelho mental perde condições básicas.
A capacidade para suportar a dor e o sofrimento, para entrar em contato com a
“tragédia” presente na história de cada ser humano é um aspecto fundamental para o
desenvolvimento de nosso alfabeto emocional. A psicanálise nos apresenta isso pela
importante busca por significados das experiências para aproximação ao nosso
“verdadeiro self.” A psicanálise não promete dissipar o mal, não promete nenhum bem,
mas proporciona um meio diferenciado de posicionamento do sujeito frente ao mal-
estar” (ALBERTI; FIGUEIREDO, 2006). Cada contato psíquico, no dia a dia do nosso
trabalho, apresenta-se como um espaço necessário para os ritmos naturais dos processos
mentais humanos a fim de ampliar o encontro do indivíduo consigo mesmo, a partir do
vínculo que é estabelecido. A procura da psicoterapia muitas vezes chega sem um
contorno claro do seu real motivo, trazendo inicialmente uma queixa psicopatológica
que pode ser a denúncia de uma desordem bem mais profunda.
A complexa tarefa de lidar com pulsões, ambivalência, desejo de expulsar
fenômenos mentais que nos habitam e geram estranheza, a possibilidade de administrar
nossos recursos mentais e vivenciar uma passagem com redescobertas, reencontros e
resgate do eu para remanejar a vida, encontrar as riquezas e dar-se conta da miséria
presente em cada um, são vivências que trazem propostas para pensar a saúde mental e
o trabalho em psicoterapia psicanalítica.
Em vista disso, é extremamente importante nos perguntar “a quantas anda a nossa
capacidade de tolerar frustrações e conviver com as diferenças, desde as relações mais
íntimas até o âmbito social?” Trata-se de respeito básico conosco e com o próximo, que
pode ser alcançado.
Assim, como a música “Epitáfio” que diz: “...cada um sabe a alegria e a dor que
traz no coração...”, entendemos que, ao mergulhar em nosso mundo interno, podemos
encontrar e valorizar nosso potencial emocional para que saibamos nos encontrar e nos
respeitar, tanto com as dores quanto com as alegrias.
Saúde Mental, vamos pensar sobre isso?
REFERÊNCIAS
ALBERTI,S. ; FIGUEIREDO, A.C. Psicanálise e saúde mental: uma aposta. Rio de
Janeiro, Companhia de Freud: 2006.
BRITTO, S. Epitáfio. Disponível em: http://letras.mus.br/titas/48968/. Acesso em 03
Out. 2015.
DALGALARRONDO, P. Definição de psicopatologia e ordenação de seus
fenômenos. In: ______ Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2008. p.27-30.
______ O conceito de normalidade em psicopatologia. In: Psicopatologia e
semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 31-34.
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1
Psicóloga, Membro agregada ao NPMR
2
Psicólogo, Especialista em Psicoterapia Psicanalítica e membro agregado ao NPMR.
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Dia da Saúde Mental