Tecnologia a mais, coração a menos
Corria o ano de 2055. Numa época em que a tecnologia era muito avançada e todos
eram dependentes dela (todos sem exceção, se calhar até os animais), havia na cidade do
Porto uma grande escuridão. Não se via ninguém nas ruas, as lojas estavam fechadas, os
bares e as discotecas quase não eram frequentados. As pessoas já nem saíam à rua para
comprar comida, pois faziam tudo através do computador ou do telemóvel.
Nessa mesma cidade, havia um rapaz que, por vezes, já nem ia à escola e ficava em
casa a jogar computador. Um dia, o professor de português telefonou à mãe do rapaz e
disse-lhe para avisar o filho de que a segunda-feira seguinte iria ser um dia dedicado às
tecnologias. O rapaz, quando soube da notícia ficou entusiasmadíssimo com a ideia e na
segunda-feira foi para a escola, a jogar no seu telemóvel. Como já há alguns dias que não ia
à escola, nem reparou que o passeio estava em obras, tropeçou numa pedra e caiu em cima
do pé. Ao fim de algumas tentativas para se pôr de pé desistiu e resolveu ligar à sua mãe,
mas esta não o atendeu.
Algum tempo depois, viu um colega da sua turma e chamou:
- Manuel! Manuel!
Este nem o ouviu, pois estava a ouvir música com o volume do telemóvel no
máximo. Resolveu ligar outra vez à mãe mas, de repente, olha para o ecrã do seu telemóvel
e vê: “Bateria Descarregada!”.
Pouco tempo depois vê ao longe o seu vizinho do 2º andar. Aquele vizinho já de
alguma idade, a quem ele nunca ajudava a carregar os sacos das compras e fingia nem ouvir,
pois estava sempre com pressa para se ir sentar em frente ao computador a jogar. Mas
resolveu chamá-lo:
– Senhor Augusto!
O senhor foi o mais depressa que conseguiu para o pé dele e perguntou:
– O que te aconteceu, rapaz?
– Tropecei numa pedra do passeio, torci o pé e agora não consigo levantar-me. Será
que podia ajudar-me, por favor?
– Claro, meu jovem.
– Obrigado. Desculpe, será que eu podia fazer uma chamada do seu telemóvel,
porque o meu ficou sem bateria?
O senhor Augusto ajudou-o a levantar-se e disse-lhe que iam já ao hospital para ver
se ele não tinha nada partido. Também emprestou o telefone ao rapaz para ele avisar a mãe,
que agradeceu muito a ajuda do vizinho, principalmente por ter-se oferecido para levar o
filho ao hospital.
No hospital, disseram que o jovem tinha realmente o pé partido e o senhor
Augusto ficou sempre com ele. Quando a mãe chegou, o vizinho fez-lhe companhia e
insistiu que iria esperar para os levar a casa. O rapaz percebeu, nessa altura, que a amizade e
espírito de ajuda entre as pessoas não se aprende no telemóvel, nem nos jogos de
computador.
Na semana seguinte, quando chegou à escola, já todos sabiam o que lhe tinha
acontecido, e ele contou que quem o tinha ajudado tinha sido o vizinho, o Sr. Augusto, a
quem ele costumava chamar “velho marreco”. Até o Manuel lhe pediu desculpa por tê-lo
ignorado e todos juraram que não iam estar tanto tempo ao computador e a jogar no
telemóvel, e iam prestar mais atenção aos seus verdadeiros amigos.
Escola Básica de Mafra
Concurso literário "Palavras aos Contos"
Ano letivo de 2014/15
2º lugar
Conto escrito por uma aluna do 7º A
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