1. Leitura, análise e interpretação de textos Técnicas são procedimentos operacionais que servem para a realização da pesquisa. Existem várias técnicas que podem ser utilizadas por diferentes metodologias mesmo baseadas em diversos fundamentos epistemológicos. Abordaremos nestas notas as técnicas de leitura e documentação. Os maiores obstáculos do estudo e da aprendizagem nas ciências em geral estão diretamente relacionados com a dificuldade que os estudantes encontram na compreensão dos textos teóricos. Habituados (ou não...) aos textos literários, os estudantes, ao se defrontarem com textos científicos, encontram dificuldade que os leva a uma atitude de desânimo geralmente acompanhada de um juízo de valor depreciativo em relação ao pensamento teórico. É possível melhorar a capacidade de leitura, análise e interpretação de textos por meio da aprendizagem de alguns conceitos e práticas. Documentação é toda forma de registro e sistematização de dados e informações capaz de colocá-los em condições de usufruto pelo pesquisador. Por meio do domínio de conceitos e técnicas, a atividade de documentação pode ser feita de maneira eficiente e eficaz. No caso dos textos de pesquisa, é necessário acompanhar com raciocínio rigoroso a apresentação dos dados objetivos sobre os quais os textos estão fundados. Os dados e fatos levantados pela pesquisa e organizados por técnicas específicas às várias ciências permitem ao leitor acompanhar o encadeamento lógico dos fatos. No caso de pesquisa teóricas, o raciocínio costuma ser dedutivo e cabe ao leitor usar a sua razão reflexiva, o que exige disciplina intelectual para que a mensagem possa ser compreendida e aproveitada para o andamento do processo de pesquisa. Assim, é preciso criar condições de legibilidade para os textos, aplicando alguns recursos que auxiliam ao leitor na análise e na interpretação dos textos. Antes de abordar as diretrizes de leitura e análise de textos é importante situar os textos no âmago da área da Comunicação (ou Semiótica). A comunicação se dá sempre que uma mensagem é transmitida de um emissor para um receptor. “Todo texto é portador de uma mensagem concebida e codificada pelo autor e destinada a um leitor quem, para aprendê-la, precisa decodificá-la e entendê-la no seu objetivo subjacente.” Considera-se o emissor como uma consciência que transmite uma mensagem para outra consciência. O texto pode ser considerado como um meio pelo qual duas consciências se comunicam. Esta é a grande função da linguagem. Ela funciona como código. Diretrizes metodológicas para a leitura A leitura analítica é um método de estudo que tem como objetivos: Favorecer a compreensão global do significado do texto; Treinar o leitor na compreensão e na interpretação crítica dos textos; Auxiliar no desenvolvimento do raciocínio lógico (voltado à atividade de pesquisa); Fornecer os instrumentos para o trabalho intelectual desenvolvido nos processos de pesquisa. Seus produtos básicos são os seguintes: A. Delimitação da unidade de leitura Consiste na delimitação de um setor do texto com unidade de sentido (seções, capítulos,...). A leitura deve ser feita por etapas. Apenas após terminada a análise de uma unidade é que pode-se passar para a seguinte. Terminado o processo, o leitor estará em condições de refazer o raciocínio global do livro, por exemplo, reduzindo-o a uma forma sintética. B. Análise textual Consiste na primeira abordagem do texto com vistas à preparação da leitura. Realiza uma leitura rápida e atenta do texto em questão. Busca obter uma visão de conjunto. Procura levantar autores citados, vocabulários específicos, doutrinas, fatos relevantes para a compreensão do texto. Permite a esquematização do texto, evidenciando a sua estrutura de composição. C. Análise temática Consiste na busca da compreensão da mensagem do autor. Busca identificar o tema, o problema, a idia central e as ideias secundárias da unidade, a tese, o raciocínio empregado. Procura refazer a linha de raciocínio do autor, o seu processo lógico de pensamento. Permite a captação da estrutura lógica do texto, a sequência de ideias. D. Análise interpretativa Na análise interpretativa busca-se a interpretação mais robusta da mensagem do autor. Em termos específicos, busca-se situar o autor num contexto filosófico e identificar as suas influências (“escolas”), os seus pressupostos, as suas associações de ideias. Aproximam-se as ideias expressas pelo autor com outras ideias relacionadas à mesma temática de conhecimento do leitor. Busca-se exercer uma atitude crítica diante das exposições do autor, m termos de: 1. coerência interna da argumentação; 2. validade dos argumentos empregados; 3. originalidade do tratamento dado ao problema; 4. profundidade da análise do tema; 5. alcance (grau de generalidade) das conclusões; 6. apreciação e juízo pessoal das ideias defendidas (posicionamento do autor). E. Problematização Na problematização, ocorre o levantamento e a discussão dos problemas relacionados com a mensagem do autor. Esta fase viabiliza o aproveitamento dos resultados disponíveis pela ciência. As eventuais falhas, os procedimentos metodológicos, os resultados e as limitações e/ou recortes descritos nos textos lidos e revisados determina novos objetos e/ou processos de pesquisa relacionados. F. Síntese pessoal A síntese consiste na reelaboração da mensagem do texto lido com base na compreensão e nas reflexões do autor. A síntese pessoal consiste em um resumo crítico. Ele deve ser capaz de integrar a descrição fiel do conteúdo do texto lido (contexto, objeto, procedimentos, ...) com os resultados das reflexões que colocam associações, questionamentos, dúvidas, juízos de valor, ... Nesta situação, os conectivos linguísticos emergem com importância. 2. Documentação a. Conceitos No contexto de elaboração de uma pesquisa, documentação é uma técnica de levantamento, identificação e exploração de documentos fontes de informação sobre o objeto estudado e de registro das informações retiradas destas fontes a ser utilizado ao longo do processo de pesquisa. “Nas ciências, documento é todo objeto (livro, jornal, estátua, escultura, edifício, ferramenta, monumento, foto, filme, vídeo, disco, CD,... ) que se torna suporte material (pedra, madeira, metal, papel,... ) de uma informação (oral, escrita, gestual, visual, sonora,...) que nele é fixada mediante técnicas especiais (escritura, impressão, incrustação, pintura, escultura, construção, ...). Nessa condição, transforma-se em fonte durável de informação sobre objetos e fenômenos.” A documentação é uma forma bastante difundida como técnica de apoio ao estudo. No entanto, muitas vezes, esta atividade não é realizada de forma a aproveitar todo o seu potencial, da maneira mais eficiente. Pouco serve, para o propósito de apreender, assistir a aulas e nem ler livros-texto. Isso só tem valor na medida em que os processos de leitura se transformam em documentação pessoal. O saber é constituído pela capacidade de reflexão. A reflexão determina a necessidade da documentação da informação. Todo registro feito no processo de pesquisa deve ser mantido para permitir consulta posterior, mesmo aqueles registros que contêm idias descartadas num momento dado. No processo de pesquisa, a documentação deve ser fita por mio de fichas (documentos de texto, bancos de dados,...) b. Documentação temática A documentação temática visa coletar elementos relevantes para o estudo dentro de uma determinada área. A documentação temática deve seguir um plano sistemático construído a partir dos temas subtemas do texto, que se transformam em títulos e subtítulos das fichas. De forma simples, a documentação temática consiste em registrar, nas suas palavras com as relações que o leitor considerar importantes, as principais ideias do texto. c. Documentação bibliográfica A documentação bibliográfica consiste no registro dos dados de forma e de conteúdo de um documento escrito (livro, capítulo, artigo, dissertação, ...). As informações a constarem nas fichas de documentação bibliográfica devem ser registradas paulatinamente. À medida em que o litor vai se aprofundando na compreensão do livro (por exemplo), ele vai adicionando itens de informação à ficha. No começo, colocam-se o título o subtítulo e, também, a citação bibliográfica, que deverá estar de acordo às normas usadas no contexto do litor que assumirá o papel de autor numa fase posterior do processo de pesquisa. Em seguida, apresenta-se uma visão de conjunto, lendo-se: o sumário, as orelhas, o prefácio e a introdução. A melhor informação para este tipo de ficha é a da documentação temática, apenas com a diferença de esta ser, aqui, um dos tipos de informação necessários. Embora deva ser realizada de forma sistemática, o fichamento não precisa ser realizado na ordem estrita em que os capítulos, seções, ... ocorrem no livro. Sempre que houver oportunidade, novo material será registrado na ficha, sempre com os cuidados de colocar “entre aspas” trechos extraídos literalmente do texto lido e, sempre que houver trechos literais, registrar o número da página do livro onde foi achado. Isto crucial para a documentação e a escrita científica.