AUTOVAGÃO: A AUTOMAÇÃO FERROVIÁRIA NA LOGÍSTICA SUCRO-CANAVIEIRA A automação de vagões ferroviários, cujo modelo denominado de Autovagão, é que se propõe para superar o paradoxo das ferrovias tradicionais, deixar de ser o pior para ser o melhor serviço no transporte terrestre de carga seca. O baixo custo das ferrovias é propriedade dos excepcionais materiais ferroviários: o atrito de rolamento é 1/20 do rodoviário, a vida útil e a produtividade do investimento do material ferroviário são expressivamente superiores. O verdadeiro problema das ferrovias é a ineficiência do modelo de operação em comboios. A hipótese em teste é a eliminação do uso de locomotivas, na medida em que o uso de locomotiva configura-se como a principal restrição à melhoria da qualidade do serviço prestado ao cliente de carga geral ou de curta distância. O desenvolvimento da unidade piloto aguarda pedido PIPE II junto à FAPESP. Caso atendido o pedido, em meados de 2015 a unidade estará operacional para o desenvolvimento dos sistemas de gerenciamento e controle de aceleração, frenagem e posicionamento, isto nas oficinas de operadora ferroviária, em Ribeirão Preto. A unidade contará com motorização elétrica de 210 kW (286 cv), inversor de frequência, motogerador estacionário, baterias, sistema de freios a disco compactos com gerenciamento digital, mais sistema de geo-posicionamento e de comunicação de dados. Os dados sobre o transporte de cana nas últimas safras indicam que o uso de autovagão na logística da cana de açúcar tem promissor potencial de redução do custo da produção industrial no setor. As oportunidades de implantação dependem de análise dos fatores intrínsecos de cada caso real em razão dos fatores de distribuição espacial de cana coletada, custo da recuperação do ramal, estado físico de ramal ferroviário, etc. Duas análises foram feitas, a primeira demonstrar os benefícios na percepção dos usuários, em duas formas de se transportar cana, cana embarcada em caminhões e cana embarcada em caçambas. A segunda análise é uma avaliação dos benefícios para o operador ferroviário de autovagões, feita com base no modelo custo-volume-lucro. Os resultados das análises indicam que se a automaçã oferecer um serviço logístico de máxima eficiência e de produtividade, seu custo poderá ser 61% inferior ao rodoviário para cana em caçambas e de 37% inferior para cana no caminhão. O custo atual estimado de 0,253 R$/TKU poderá ser feito por algo próximo de 0,098 e 0158 R$/TKU, respectivamente. O operador ferroviário cobrará do usuário apenas 0,08 R$/TKU, e, se atingida produtividade meta, a ferrovia produzirá um ROI superior ao custo de capital. A análise de ponto de equilíbrio indica que é possível obter uma atividade sustentável com uma frota relativamente pequena, dado se houver produtividade elevada, baixo investimento por unidade e volume de carga que sature a capacidade da estrutura. Temática: II- Automação Agrícola AUTOVAGÃO: A AUTOMAÇÃO FERROVIÁRIA NA LOGÍSTICA SUCRO-CANAVIEIRA Sérgio Pinheiro Torggler1; Dr. Marcelo Saido Nagano2, Kemen Sander Suen3; Francisco Teodoro de Morais4 Universidade Paulista – UNIP Ribeirão Preto, MOOC P&D Ltda. 2 ESC/USP 3 SUEN Computadores, SP; 4Centro Universitário Moura Lacerda 1 a) Introdução; Os paradoxos existem quando se encontra um conflito entre o que se espera e a realidade que se observa. O material ferroviário é insuperável em termos de propriedades físicas e de custos. Para uma mesma carga, ele consome só 1/20 da energia que o caminhão consome no atrito de rolamento, sua vida útil e a capacidade de carga são muito superiores as do eixo rodoviário. Por tudo isso, esperava-se que o mercado de transporte de cargas gerais fosse dominado pelas ferrovias, o paradoxo é que isso não ocorre. As ferrovias que se dedicam a carga geral são inviáveis e destroem riqueza da sociedade (ALL, FCA e Transnordestina apresentam EVA operacional negativo, spread (ROI-Ki) negativo). O paradoxo ferroviário, segundo Torggler et al (2012), existe porque há uma barreira de acesso ao enorme benefício dos materiais. Essa barreira, segundo os autores, é o paradigma, o modelo de negócio, a forma de operar usando locomotivas. Esse modelo é incapaz de ser produtivo na operação com cargas variadas, de muitas origens para muitos destinos, o padrão da carga moderno. A incompatibilidade do modelo se expressa pela improdutividade, a baixa velocidade média mensal nessas ferrovias, que muitas vezes não supera 3 km/h. A improdutividade não é fruto de má gestão mas sim das regras e das limitações operacionais impostas pelo modelo de tráfego com locomotivas. O problema das ferrovias de carga geral nunca foi e nem será de custo variável, porque o baixo custo variável é propriedade dos materiais. Isso se confirma pela margem de contribuição de 80% que se pratica na atividade ferroviária de carga gera, tal como ocorre com a América Latina Logística (Tabela 1, no item d). Assim, os problemas são sim da reduzida produtividade e de baixo valor dos serviços. A saída proposta desse paradoxo é a automação de vagões. A automação permitirá tratar a carga como se passageiro fosse, oferecendo o melhor serviço do mercado, ao custo do serviço ferroviário. b) O Autovagão O autovagão será composto por um vagão plataforma de 16,5m, equipado com motorização híbrida e sistemas de freios a disco, ambos acionados por interfaces digitais. Veja Figuras 1 e 2. Esse sistema será aplicado na forma de um quite, para qualquer tipo de vagão existente. A motorização híbrida será integrada pela Eletrabus Industrial. O conjunto de dispositivos será uma adaptação do material utilizado em trólebus articulado de 40 t. O sistema de freios a disco é de fabricação da KenorrBremse. O sistema de transmissão entre o motor e os eixos ferroviários, bem como dos adaptadores de freios a disco serão integrados por empresa de ferramentaria, segundo projeto da MOOC P&D, nas oficinas de operadora ferroviária local. O financiamento da unidade piloto está em submissão no programa PIPE II da FAPESP. Figura 1. Embarque de caminhão, até 8x2. Figura 2. Embarque de container/caçamba O projeto original do Autovagão é orientado para operação ferroviária de carga geral em rede ramificada. Nele se prevê que a eficiência global da operação só será plena se mudanças simultâneas ocorrerem no traçado dos pátios de manobra e nas plataformas/docas. No caso de um ramal para cana, linear, dedicado ao suprimento de cana-de-açúcar, os parâmetros construtivos se reduzem a pátios lineares menores, com apenas duas chaves automáticas e duas docas, uma para carga suspensa e outra para veículos. O transporte ferroviário por autovagão não substituirá totalmente o transporte rodoviário, isto porque o alcance previsto da influência será limitado geograficamente às áreas próximas aos ramais ferroviários, tal como ilustrado na Figura 3. As chaves de vias obedecem ao pedido de destino do Autovagão. O geoposicionamento e aproximação deverão ser consistidos por sistemas independentes e redundantes. Também haverá sistema de pânico de acionamento automático. Quadro 1. Especificações ITEM Velocidade de deslocamento Máxima Cruzeiro Rampa máxima Peso máximo carregado Peso médio carregado Ciclo de operação: Tempo de aceleração Tempo de percurso Tempo de frenagem Rotação do eixo (D = 0,83m): Máxima Cruzeiro Percurso médio mensal de cada Autovagão: Pessimista Esperado Otimista Tensão de alimentação exter. Tipo de alimentação Sinal de comando ao motor O inversor/motor O freio a disco Sinal de comando aos freios. Geoposicionamento e comunicação OnixSat Figura 3. Área de influência do Autovagão na logística canavieira Caso o ramal faça conexão com via ferroviária principal, a infraestrutura permitirá que outras cargas de interesse da usina também sejam movimentadas pelo ramal, principalmente para escoamento da safra para porto. Assim, o ramal poderá ser de múltiplo uso. A unidade será capaz de corrigir sua velocidade para ajustá-la ao fluxo e aos parâmetros determinados para o local e para a aproximação e controle de distância das outras unidades. Tudo supervisionado e gerenciado por sistema central, através de comunicação remota da OnixSat. Veja especificações no Quadro 1. Carregado, o autovagão se orienta para o local de destino da carga, vazio é orientado pela central para se posicionar no ponto de maior demanda. ESPECIFICAÇÃO 90 km/h 70 km/h 2% 80t 60t 2min 45min 2min 500 RPM 400 RPM 8.000 km/mês 12.000km/mês 16.000km/mês 600 V Híbrido Serial = difrinet, can, ethernet, profibus, bodibus. WEG 210kW Compactos KnorrBremse Serial = difrinet, can, ethernet, etc. idp680 e sistema de comunicação O modelo ferroviário só será competitivo e terá valor para os usuários se o acesso e a saída forem expressos e com o mínimo de manuseio. Desta forma a operação dos pátios de embarque e desembarque é um fator crítico para a atividade. A solução que se pretende aplicar para atingir-se a excelência do serviço será, além da automação, a utilização de dois tipos de docas. Docas para veículos e docas para container/caçambas. Conforme Figura 4, a seguir. O embarque e desembarque de veículos poderá ser feito em poucos minutos em sistema de rampa. O embarque e desembarque de container ou caçamba será feito por sistema de barras suspensas, de tal forma que o embarque e desembarque poderão consumir segundos para liberar a o autovagão. Este sistema é uma adaptação de modelo de gestão de cargas automatizadas da Kiva Systems e de pátio de container no porto de Hamburgo. Figura 4. Pátio com docas para veículos e docas container/caçambas. R$ 0,104. A separação entre custos fixos e variáveis é uma forma de abordagem que produz informação relevante para a avaliação dos benefícios que se pretende conferir aos usuários. Os gastos com peças de manutenção foram considerados como variáveis para a comparação com o autovagão. Espera-se que quase a totalidade do custo variável seja economizáveis quando a carga estiver sobre trilhos, conforme figuras 5. Custos VARIÁVEIS - R$ 0149/TKU 0,003 0,009 A armazenagem em barras suspensas nas docas de container/caçambas permitirá liberar a unidade transportadora, enquanto o pátio executa a transferência da carga das barras suspensas para o pátio e vice versa. O uso de caçambas intercambiáveis caminhão-vagão deverá ser uma atividade mais eficiente do que transportar a cana embarcada com o caminhão, pois tal arranjo tem o efeito de reduzir o uso dos caminhões nas atividades improdutivas. Pedágio 0,020 Combustível Lubrificantes 0,040 Pneus Veículo Pneus Equip. 0,053 Peças/aces.Veic. Peças/aces.Equip. 0,016 0,008 Lavagem e lubrif. 0,001 Custos VARIÁVEIS economizáveis 0,003 c) Análise de viabilidade; A lógica da análise de viabilidade é a comparação do modelo corrente versus o modelo esperado para Autovagão. Pressupondo que autovagão será qualitativamente semelhante ou superior ao transporte rodoviário. A dimensão mais significativa será a econômica, pois é aquela reflete os benefícios percebidos pelos usuários em termos de ganho de eficiência competitiva para o setor. Assim, a vantagem do autovagão no transporte de cana e outros itens na atividade sucro-canavieira é feita em duas partes. A primeira é a análise do custo rodoviário tradicional para se interpretar quais deverão ser os ganhos percebidos pelo transportador, na cadeia produtiva, com o uso do autovagão. A segunda análise é a de sustentabilidade da operação ferroviária, segundo modelo de custo-volumelucro. O custo de transporte rodoviário de cana utilizado nas análises foi de R$ 0,253 por TKU. Tal valor se refere ao custo médio estimado segundo metodologia da NTC (2001) para transporte de média distância e veículo com 7 eixos. O custo total foi dividido para análise em custos variáveis de R$ 0,149 e em custos fixos de Imediato 0,073 0,073 Médio prazo Sem benefício Figura 5- Composição dos custos variáveis rodoviário, total 0,149 e fração economizável de 0,146 R$/TKU. Conforme Figura 5, a economia com custos variáveis pode chegar a R$ 0,146 por TKU, em qualquer das modalidades, para cana em caminhão, em caçamba ou de containers. Aparentemente, os custos de peças e manutenção são custos fixos e inalteráveis, mas, se considerarmos que o caminhão embarcado se desgastará como se parado estivesse, o uso de oficina e o consumo de peças de manutenção se reduzirão à demanda de veículo parado. A avaliação do quanto dos valores fixos pode ser reduzido para a atividade de transporte canavieira foi estimado através interpretação de quanto de cada componente será afetado pelo uso do autovagão, tal como apresentado na Figura 6, a seguir. Desta forma, quando o transporte da cana for de caminhão embarcado, somente o custo de oficina e o custo de reposição do veículo podem ser computados como melhoria da eficiência, ou seja, apenas 0,028 R$/TKU. Custos FIXOS rateados - R$ 0,104/TKU para cana embarcada em caçambas ou para o custo de transporte de containers. Considerando que o transporte da cana por Autovagão terá um custo de 0,080 R$/TKU para o usuário, o resultado líquido para o transportador é mostrado na Tabela 1. O Autovagão pode produzir uma redução de custo do transporte de 37% para cana em caminhão e 61% para cana em caçamba. O baixo custo de caçamba também vale para containers. 0,000 0,003 0,005 Salário Mecânico 0,009 Reposição V 0,006 Salário Motorista 0,019 0,013 Retorno Capital V Licenciam.V Seguro V 0,001 Reposição E 0,022 0,025 Retorno Capital E Licenciam.E Seguro E Otimização dos Custos Fixos para transporte de caminhão e de caçambas-containers 0,015 0,028 ganho p/ caminhão ganho p/ caçambacontainer não otimizável Tabela 1. Resumo dos benefícios esperados. Custo Rodoviário 0,149 Custos variáveis 0,104 Custos fixos 0,253 Custos totais por TKU Economia e otimização do rodoviário caçamba/ Cana transportada em caminhão container Economia variáveis -0,146 -0,146 Otimização de fixos -0,028 -0,089 Total benefícios -0,174 -0,235 Custo Líquido dos Benefícios 0,078 0,018 Custo do Autovagão 0,080 Custo do Autovagão Custo final com Autovagão Benefício líquido Redução s/ o custo rodoviário 0,158 0,094 37,3% 0,098 0,155 61,4% 0,061 Figura 6- Potencial de redução de custo fixos para o usuário, com o Autovagão. Aparentemente, os demais custos fixos não se reduziriam para o transportador, quando se compara as opções de transporte da cana rodoviário e ferroviário, pois estes custos são fixos, e continuariam existindo no curto prazo. Já, no caso de cana embarcada em caçambas e no transporte de containers, os custos fixos de motorista e de gastos com o veículo podem ser evitados pela realocação dos caminhões em outras atividades, ou até mesmo pela redução da frota. O benefício percebido com melhoria da eficiência do custo fixo poderão somar até 0,089 R$/TKU. Em resumo, o benefício total percebido pelo transportador, somado os variáveis e os fixos, pode chegar a 0,174 R$/TKU para cana embarcada em caminhões e a 0,235 R$/TKU d) O desempenho econômico esperado e o ponto de equilíbrio da operação com autovagão. O comportamento econômico da atividade ferroviária, segundo metodologia custovolume-lucro, matematicamente se comporta como uma função de reta (1), F(x) = - a + bx (1) onde a é o montante de custos fixos, b é a margem de contribuição unitária do serviço e x será a quantidade de serviço em TKU. Se x for a receita do negócio, b será a margem de contribuição em percentual. Por este modelo pode-se estimar os resultados a partir da receita esperada e da estimativa do montante de custo fixo, definido por meio de projeto executivo detalhado. Para os cálculos de viabilidade da operação ferroviária considerou-se que a receita praticada será equivalente a tarifa ferroviária praticada pela América Latina Logística, ou seja 0,08 R$/TKU, conforme Tabela 2, a seguir. Tabela 2. Analise de custeio variável da América Latina Logística (ALL). Net Period Earnings R$ MM Load TKU MM Variable Variable CONTRIBUTION Net MARGIN Earnings Cost R$ MM Cost R$/TKU Comb. Ponta R$/TKU R$/TKU % margin 1T 2010 626,1 8.975 0,070 -115,2 -29,9 -0,0162 0,054 76,8% 2T 2010 823,6 10.987 0,075 -138,5 -27,9 -0,0151 0,060 79,8% 3T 2010 686,0 12.002 0,057 -131,6 -18,2 -0,0125 0,045 78,2% 4T 2010 570 11.176 0,051 -126,1 -28,1 -0,0138 0,037 72,9% 1T 2011 661,2 9.339 0,071 -113,2 -36,7 -0,0161 0,055 77,3% 2T 2011 931,7 11.963 0,078 -147,8 -30,0 -0,0149 0,063 80,9% 3T 2011 766,9 13.151 0,058 -143,2 -16,7 -0,0122 0,046 79,1% 4T 2011 623,3 13.265 0,047 -126,9 -9,2 -0,0103 0,037 78,2% 2T 2013 901,7 11.264 0,080 -156,1 -7,2 -0,0145 0,066 81,9% Fonte analise do autor com dados disponíveis nos relatórios trimestrais da ALL. Na Tabela 2, a análise de custeio variável indica também que o percentual de margem de contribuição praticada pela empresa é da ordem de 82%, isto significa que, de cada 0,08 de receita, sobram 0,066 para pagar os custos fixos e gerar lucro. A figura 7, a seguir, ilustra que a tarifa escolhida está entre as maiores do setor ferroviário. As menores tarifas são das ferrovias mais rentáveis, posto que o custo variável ferroviário, formado por combustível e serviço de embarque e desembarque, é realmente baixo, entre 0,01 e 0,02 R$/TKU. Tabela 2. Margem de contribuição 1, autovagão em função da produtividade. TARIFA - R$/TKU (atual da ALL) CUSTO VARIÁVEL POR TKU Margem de Contribuição 1 por TKU Produtividade KM/MÊS CARGA ÚTIL média (t) SERVIÇO PRESTADO - TKU/MÊS Margem de Contribuição 1 - por AUTOVAGÃO O percentual de margem de contribuição utilizada nesta análise foi de 67,5%, 12,5% menor que a margem de 80% praticada nas ferrovias de cargas gerais. Na Tabela 2, a seguir, com a estimada a receita de um autovagão, apurou-se a margem de contribuição mensal de um único autovagão, que variou em função da produtividade esperada de R$ 21.870,00 até R$ 36.450,00. 0,080 0,026 0,054 Pessimista 9.000 45 405.000 Esperada 12.000 45 540.000 Otimista 15.000 45 675.000 21.870,00 29.160,00 36.450,00 Em seguida, estima-se a margem de contribuição 2, ou seja, a margem de contribuição de uma unidade, descontados os custos e despesas fixas identificados com essa respectiva unidade. Os custos fixos foram estimados na Tabela 3, a seguir. Entre os custos fixos identificados, destaque-se que o lucro desejado foi estimado para se obter um ROI bruto de 18% ao ano, ou 1,5% ao mês. Tabela 3. Margem de contribuição em função da produtividade e do investimento. Custos fixos identificados com AUTOVAGÃO Investimento por unidade de AUTOVAGÃO ROI bruto desejado (% ao mês) Lucro desejado por AUTOVAGÃO Despesa de Depreciação para 15 anos Despesa de Manutenção mensal de 0,5% TOTAL CUSTOS FIXOS IDENTIFICADOS Margem de Contribuição 2 - por AUTOVAGÃO Produtividade pessimista 8000 10000 Produtividade esperada 12000 14000 Produtividade otimista 16000 Figura 7. Tarifa média das ferrovias brasileiras. Fonte: o autor com dados da ANTT (2011) por (500.000,00) 1,50% (7.500,00) (2.777,78) (2.500,00) (12.777,78) (750.000,00) 1,50% (11.250,00) (4.166,67) (3.750,00) (19.166,67) 13.142,22 19.622,22 26.102,22 32.582,22 39.062,22 6.753,33 13.233,33 19.713,33 26.193,33 32.673,33 (1.000.000,00) 1,50% (15.000,00) (5.555,56) (5.000,00) (25.555,56) 364,44 6.844,44 13.324,44 19.804,44 26.284,44 A margem de contribuição 2 por autovagão representa o montante de recursos mensais que a unidade deve gerar para pagar os custos e despesas fixos mensais comuns, aqueles custos e despesas que existem para operar um ramal ferroviário e, após isso, gerar o lucro desejado. Verifica-se na Tabela 3 que a margem de contribuição 2 é fortemente influenciada pelo investimento unitário, ou seja, pelo valor do investimento de um autovagão. Nossas estimativas preliminares indicam que o custo unitário de um autovagão poderá ficar bem mais próximo do valor inferior, algo por volta de R$ 550 mil. O consumo de capital (CAPEX) em bens de uso comum e na via fixa foi orçado na Tabela 4, a seguir. Tabela 4. Cálculo do investimento da depreciação e do CAPEX. equilíbrio variam inversamente à produtividade das unidades. INVESTIMENTOS DO OPERADOR 45 40 Quantidade de Autovagões Investimentos COMUNS 2.000.000,00 Lucro Bruto desejado para os investimentos COMUNS, 1,5% a.m. 30.000,00 Depreciação 15 anos 11.111,11 35 40 40 40 37 37 37 25 25 25 19 15 12 19 15 19 30 25 INVESTIMENTO NA LINHA FIXA 35 KM 20 Valor de reposição 140.000.000,00 Valor depreciável 70.000.000,00 Depreciação mensal da linha fixa em 30 anos=CAPEX 194.444,44 Remuneração do capital médio a 0,5% ao ano 525.000,00 Total 719.444,44 15 10 Produtividade km/mês 8000 10000 12000 14000 16000 Limte da linha 5 - (500.000) (750.000) (1.000.000) Investimento por Autovagão (R$) Tabela 5. Custos fixos de ramal ferroviário 35km, com dois pátios. ITENS DE CUSTOS E DESPESAS FIXOS COMUNS Folha+encargos dedicados ao ramal Manutenção Produção Administração Depreciação ativos comuns Rem uneração do Investim entos Com uns TOTAL DE CUSTOS FIXOS DA OPERAÇÃO 100.000,00 30.000,00 15.000,00 15.000,00 11.111,11 30.000,00 171.111,11 MANUTENÇÃO DA VIA FIXA (CAPEX=DEPRECIAÇÃO) CUSTO DA OCIOSIDADE SAZONAL 4/12 POR MÊS 194.444,44 121.851,85 CUSTO FIXO TOTAL MENSAL DO OPERADOR 487.407,41 REMUNERAÇÃO CAPITAL DA VIA FIXA (0,5%) CUSTO DA OCIOSIDADE SAZONAL DA VF 525.000,00 175.000,00 Figura 8. Pontos de Equilíbrio Econômico (tamanho de frota) só do operador. Para o operador ferroviário que atingir a produtividade de 12.000 km mensais, a frota necessária para atingir o ponto de equilíbrio ficará entre 19 e 37 unidades, volume relativamente pequeno e compatível com espaços de pátios e com a capacidade da linha fixa singela. A sustentabilidade só será conquistada quando todos os recursos forem remunerados satisfatoriamente. A remuneração do capital na linha fixa, normalmente é feita para a União, verdadeira proprietária dos bens públicos. Como é previsto reinvestimento igual à depreciação, estimou-se que remuneração satisfatória mínima para a União seria algo como 6% ao ano, equivalente ao rendimento da poupança. 60 Quantidade de Autovagões Na Tabela 5, a seguir, estima-se para um ramal ferroviário de 35 km de extensão, que opere 24 horas, um consumo mensal de R$ 487 mil em custos e despesas comuns da operação, para os meses de safra. Nos custos fixos foram considerados os efeitos da sazonalidade da produção, uma vez que os custos fixos existem em todos os meses do ano e a atividade canavieira se faz em oito meses. Assim os meses de operação normal devem gerar margem para cobrir os custos do mês corrente mais 1/8 dos custos de quatro meses de entre safra. 50 53 40 30 20 53 40 Produtividade km/mês 53 40 40 36 36 35 27 27 27 21 18 21 8000 10000 12000 14000 16000 10 Limte da linha - (500.000) (750.000) (1.000.000) Investimento por Autovagão (R$) REMUNERAÇÃO SUSTENTÁVEL 700.000,00 Conhecidos o custo fixo mensal e a margem de contribuição 2 por unidade de autovagão, estimou-se os pontos de equilíbrio em quantidade de autovagões, conforme apresentado nas Figuras 8 e 9 a seguir. Observa-se nas figuras que os pontos de equilíbrio aumentam significativamente com o valor do investimento unitário, e os pontos de Figura 9. Pontos de Equilíbrio de Sustentabilidade (tamanho de frota). A sustentabilidade, para uma produtividade de 12.000 km mensais, será obtida com uma frota entre 27 e 59 unidades. Isto significa que a sustentabilidade não será obtida facilmente se o investimento unitário for elevado. Tabela 5. Custos operacionais anuais agrícolas da Assovale em 2009 (Barbosa, 2010). O CEPEGE (2011, p.45), no relatório de acompanhamento da safra 2012/13, não apresenta o custo do transporte desagregado do custo de CCT (corte, carregamento e transporte), indica somente o valo total de 25,22 R$/t. Neste caso, se 27% do CCT corresponda ao transporte, este seria de 6,81 R$/t. E ainda, se a distância média for de 25 km, o custo médio do transporte seria de 0,27 R$/TKU. O custo rodoviário de 0,25 R$/TKU utilizado na argumentação não deve ser entendido como um valor absoluto. Ele representa apenas uma média provável. Na indústria (população), algumas situações devem ser mais vantajosas e outras menos, dependendo de cada usina. Além disso, poucas informações existem numa mesma unidade para comparação direta. Borba e Bazzo (2009) apresentam o custo do transporte em R$/ha. Barbosa et al (2010) Apresenta os custos por tonelada por distância do trajeto. Os custos apresentado por Barbosa et al (2010) puderam ser convertidos na unidade de R$/TKU, tal como se utiliza neste estudo. Os valores são apresentados na Figura 10. 1,20 1,00 Custo em R$/TKU e) O transporte no custo logístico canavieiro A atividade de transporte de cana-deaçúcar para a usina é responsável por considerável consumo de recursos no custo da produção. Tanto assim, que as usinas mantêm registros identificados sobre os recursos consumidos direta e indiretamente no transporte da cana. Segundo Barbosa et al (2010), os custos do transporte representam 27% do custo da cana na esteira da usina ASSOVALE, tal como apresentado na Tabela 5. Na análise de COT(custo operacional total), feita por Kabbach (2010, p60), o custo do transporte varia de 29% a 39% do CCT (corte, carregamento e transporte), quando comparado corte com e sem limpeza da palha, respectivamente. 0,80 0,60 2009 0,40 referência 0,20 0,00 2,50 7,50 12,50 17,50 22,50 27,50 32,50 37,50 Distância média da usina em km Figura 10, Custo de transporte por TKU em estudo de caso da Assovale. Fonte: gráfico do autor, com dados de Barbosa (2010). Na mesma figura, percebe-se que o custo por TKU varia inversamente com a distância. Este comportamento está relacionado ao custo primário ser calculado por hora e os trajetos mais curtos consumirem relativamente mais horas em atividades que não agregam valor, e assim recebem mais custos fixos que o TKU de trajeto mais longo. No custo do transporte estão inclusos os custos fixos e variáveis, tais como os de salários, combustíveis, lubrificantes, limpeza, oficina, peças de manutenção, depreciação e custos indiretos relacionados. Outros dados dos custos do transporte de cana própria, incorridos na safra 2013-14, em 9 usinas apontam para um custo do transporte da ordem de 0,187 R$/TKU. Leituras de valores individuais devem representar o resultado obtido em condições particulares, a eficiência produtiva destas usinas pode estar relacionado a fatores particulares. Não se tem a composição do custo destas usinas, e pode não estar contemplado nele o custo de oportunidade do capital, mas apenas os incorridos. f) Discussão e Conclusões; O material ferroviário é a fonte do baixo custo do modelo de autovagão. A automação é a forma de se ofertar serviços de qualidade com estes materiais. É um modelo de negócio ferroviário com objetivo de conquistar o cliente de carga pela qualidade superior e baixo custo. As análises indicam que o transporte ferroviário pode se tornar atraente e rentável para os usuários e sustentável para o operador ferroviário. O Autovagão é uma proposta que se apresenta para transferir os benefícios dos materiais ferroviários ao aumento da competitividade da cadeia produtiva sucrocanavieira. Uma unidade piloto deverá ser posta em ensaios de desempenho e de desenvolvimento de software até junho de 2015. O projeto aguarda análise junto à FAPESP. O modelo de ramal canavieiro é a etapa subsequente ao desenvolvimento da unidade de transporte. O projeto não se resume à automação de vagão, mas de soluções integradas entre unidade, trilhos e pátios. Os sistemas de embarque e desembarques devem ser expressos e rápidos, liberando as unidades em minutos ou menos. O autovagão deverá ser de múltiplo uso, para veículos, container ou caçambas. A modelagem identifica que o principal ganho para as usinas deverá advir da redução do custo de frete consumido na captação da cana, uma economia que se refletirá na cadeia produtiva e aumentará a competitividade do setor. O ganho líquido por TKU, já computado o custo do Autovagão, deverá ser de 37% para cana transportada em caminhão e de 61% para cana transportada em caçambas/containers. O efeito na cadeia produtiva dependerá de quanto de transporte rodoviário se converterá em ferroviário, na área das usinas. Haverá os ganhos ambientais pela melhor eficiência energética, consumir 75% menos diesel por TKU. Deverá aliviar as rodovias do tráfego dos caminhões. Economias secundárias devem surgir nos ramais que façam o acesso ao transporte ferroviário tradicional, utilizado para longas distâncias e para exportação. Assim, poderá trazer redução de custo para as exportações e a viabilidade de exportação por containers, na medida que se terá um transporte com custo ferroviário e rapidez de rodoviário. Também poderá ocorrer economia com outras cargas de demanda da usina, tais como as incorridas com máquinas, fertilizantes, mudas, vinhoto, bagaço, torta de filtros, etc. Durante décadas, o porte da indústria sucroalcooleira aumentou até as maiores se estabilizar num porte de usina da ordem de 5 a 8 milhões de toneladas ano. O principal limite ao aumento da escala é o custo logístico, o que impede a captação de cana à distância média superior a 25Km-30 Km. Com a nova tecnologia, o raio de influência de uma usina poderá se ampliar para 45 a 50 km. As usinas poderão chegar ao porte de 10 a 15 milhões de toneladas ano. Esta concentração da produção é uma forma de criar vantagens competitivas através do aumento da eficiência no uso dos ativos especializados da atividade industrial: ganhos térmicos em caldeiras, centrais energéticas mais eficientes, linhas de distribuição, etc, diluindo os custos fixos ao limite de outros fatores. g) Referências ANTT (2011). Agência Nacional de Transportes Terrestres. Relatórios anais de acompanhamento das concessões ferroviárias. Disponível em: http://www.antt.gov.br/relatorios/ferroviario/ relatoriosFerrovias.asp. Acesso em 15/dez/2011. Barbosa, A.; Saigh, C.; Gomes, E.; Speglich, J. Análise de Corte, Carregamento e Transporte (CCT) de Cana de açúcar no Estado de Mato Grosso. Departamento de Economia, Administração e Sociologia - LES 0642 – Transporte e logística de sistemas agroindustriais. ESALQ-USP, 2010. Disponível em: www.economia.esalq.usp.br/intranet/ uploadfiles/439.pdf Borba M. M. Z. e Bazzo, A.M. Estudo econômico do ciclo produtivo da cana-de-açúcar para reforma de canavial, em área de fornecedor do estado de São Paulo. 47º SOBER, Porto Alegre, 2009, NTC Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística. Manual de Cálculo de Custos e Formação de Preços do Transporte Rodoviário de Cargas, 2001. Disponível em: www.ntc.org.br e http://www.abti.com.br/valor_gris.htm. Acesso em 19/junho/2011. PECEGE. Custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar e etanol no Brasil: Acompanhamento da safra 2010/2011 - Centro-Sul. Piracicaba: Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas/Departamento de Economia, Administração e Sociologia. 2011. 63 p. Torggler, S.T.; Nagano, M.S.; Suen, K.S. Vagões autômatos, uma solução para aumento da produtividade ferroviária no transporte de múltiplas cargas. CONINFRA 2012 - 6º Transportation Infrastructure Conference, 2012 São Paulo – Brasil h) CONTATOS MOOC P&D Ltda. [email protected]