ANÁLISE DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NA
CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA
Leandro Caetano dos Santos1
Reginaldo Fernandes Ferreira2
ISSN 2178-5007
RESUMO
O trabalho desenvolvido se detém na análise de custos na cadeia produtiva da carne,
desenvolvida através da produção conjunta, bem como a formação de preços de venda, o
resultado obtido e a tomada de decisões gerenciais. Dessa forma, os objetivos empregados no
desenvolvimento compreendem comparar e analisar os métodos de formação do preço de
venda na cadeia produtiva da carne. Os estudos revelam que há uma dificuldade em trabalhar
com os custos da produção conjunta, os custos conjuntos, e por isso, o fator preponderante
que determina o preço de venda é o mercado, através da demanda e da oferta, observada a
demanda sazonal da carne. Os resultados são analisados visualizando o conjunto da venda dos
produtos, não de forma individual.
Palavras-chave: Contabilidade gerencial, análise de custos, contabilidade de custos.
1. INTRODUÇÃO
Na cadeia produtiva da carne, estabelecer preços obedecem algumas particularidades. Como
as empresas desse ramo trabalham com produção conjunta – vários produtos originados de
uma mesma matéria-prima – os custos dispostos na produção são custos conjuntos, que são
trabalhosos de serem apropriados aos produtos. Portanto, formar os preços seguindo a ordem
dos custos pode se tornar um problema.
____________________
1
Acadêmico de Ciências Contábeis pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí – Pr.
e-mail: [email protected]
2
Mestre em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP; Professor e
coordenador do curso de graduação em Ciências Contábeis da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e
Letras de Paranavaí – Pr. e-mail: [email protected]
No desenvolvimento do estudo em questão será abordado a produção conjunta das indústrias
frigoríficas de bovinos, da desossa industrial e do varejo da carne. Serão compreendidos os
custos, métodos de custeio, decisões gerenciais, bem como métodos de formação do preço de
venda.
As análises terão como pilares os métodos científicos conhecidos sobre a questão,
devidamente elucidados no estudo, empreendidos para levar a luz, a formação do preço de
venda de um processo de produção particular, como é a produção conjunta. A necessidade do
conhecimento em questão se explica pela ampla contribuição da atividade que é destaque no
sistema produtivo do país, tanto no mercado interno, quanto em termos de exportação.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Conceitos de custos
Custo, segundo Horngren, Datar e Foster (2004, p. 26) é um “recurso sacrificado ou
renunciado para conseguir um objeto específico”. Custo é um gasto para obtenção de um
produto. Os custos recebem tratamento diferente pela contabilidade de acordo com a forma
como se relacionam com o produto. São os custos fixos, custos variáveis, custos diretos e
indiretos.
Para Crepaldi (2004, p.18) custos diretos “são os que podem ser diretamente (sem rateio)
apropriados aos produtos, bastando existir uma medida de consumo”. Os custos indiretos,
segundo Martins (2006, p. 49) “não oferecem condição de medida objetiva e qualquer
tentativa de alocação tem de ser feita de maneira estimulada e muitas vezes arbitrária”.
Horngren, Datar e Foster (2004, p. 28) dizem que “o custo fixo [grifo do autor] permanece
inalterado no total por um dado período de tempo, apesar de mudanças amplas no nível
relativo da atividade ou volume total”. Custos variáveis são os custos que variam conforme o
volume produzido. Segundo Horngren, Datar e Foster (2004, p. 28) “o custo variável [grifo
do autor] muda no total em proporção as mudanças no nível relativo de atividade ou volume
total”.
223
2.2 Custeio Variável
O custeio variável surgiu da necessidade de se desconsiderar os custos fixos, que são alocados
aos produtos de forma arbitrária, através de rateios.
A justificativa desse método é de que os custos fixos existem independentemente do volume
produzido, qualquer que seja a quantidade produzida. Mesmo que os produtos não venham a
ser vendidos, os custos fixos ocorrem no mesmo montante. Portanto, os custos fixos
representam, em sua essência, muito mais um encargo que a empresa deve cobrir a partir da
sua capacidade de produção e de geração de receita, do que custos que sejam alocados aos
produtos por rateios. Segundo Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 184) “os elementos variáveis
são diretamente responsáveis pela produção, enquanto os custos e despesas fixos dizem
respeito muito mais à capacidade de produzir do que à produção propriamente dita”.
Atendendo a solução dessas questões, o custeio variável aloca aos produtos somente o que é
variável, tanto os custos variáveis, quanto as despesas variáveis. Os custos fixos são
considerados despesas do período e vão diretamente para o resultado. Martins (2006, p. 198)
afirma que “no Custeio Variável, só são alocados aos produtos os custos variáveis, ficando os
fixos separados e considerados como despesas do período, indo diretamente para o Resultado;
para os estoques só vão, como conseqüência, custos variáveis”.
A demonstração do resultado é feita a partir da receita líquida, que deduzida dos custos
variáveis e das despesas variáveis (como as despesas de vendas e comissões) resulta na
margem de contribuição. Da margem de contribuição serão deduzidos, enfim, os custos fixos
e as despesas fixas, chegando ao valor do lucro líquido.
2.2.1 Margem de contribuição
Margem de contribuição é o valor responsável por cobrir os custos e despesas fixas. É um
valor que vai contribuir para o abatimento dos custos fixos e formar o lucro. Segundo diz
Crepaldi (2004, p. 231), “todos os custos e despesas variáveis (inclusive as despesas de
224
vendas e administração) são deduzidos da Receita de vendas, embora as despesas variáveis
não façam parte do custo do produto, resultando na Margem de Contribuição [grifo do
autor]”.
O uso da margem de contribuição permite que sejam tomadas decisões coerentes em cortar
um produto, estimular a venda de outro, investir em publicidade, a montar estratégias de
preço, já que os produtos que oferecem maior margem de contribuição são os mais rentáveis,
pois têm maior capacidade de geração de receita. É por conta da margem de contribuição que
é possível definir o volume mínimo a ser produzido para que haja lucro (ponto de equilíbrio),
bem como é capaz de fornecer informações inerentes a relação custo, volume e lucro.
3. METODOLOGIA
O trabalho é desenvolvido sobre a forma de uma abordagem sistêmica, com uma metodologia
orientada para um conhecimento mais aprofundado na cadeira produtiva da carne bovina,
compreendendo os métodos dedutivos, empírico-analíticos, estudos de caso e estudos
exploratórios. Para tanto, é feito um conhecimento com base na pesquisa bibliográfica, de
forma a dotar os resultados encontrados no contexto prático da pesquisa com embasamento
teórico e científico.
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DO CASO
4.1.PRODUÇÃO CONJUNTA DA CARNE BOVINA
O segmento da carne bovina, tanto a indústria de abate e desossa quanto no varejo da carne,
trabalham na forma de produção conjunta. Produção conjunta acontece quando no processo
produtivo de uma mesma matéria-prima, resultam vários produtos, os produtos conjuntos –
co-produtos, subprodutos e sucatas.
Os Co-produtos são os maiores responsáveis pelo faturamento da empresa. Possuem grande
capacidade de retorno em receita, ou seja, têm venda certa. Os subprodutos também
contribuem para o faturamento da empresa, porém, com menos relevância que os co-produtos.
As sucatas não tem valor de venda certo, nem sempre as sucatas são vendidas.
225
A indústria de abate processa a matéria-prima (boi ou vaca vivo) em duas ½ carcaças que as
transformam nos co-produtos dianteiro, ponta de agulha e traseiro. Os co-produtos da
indústria de abate são matérias-primas tanto para o processo de desossa industrial, quanto para
o varejo (casa de carnes). Ambos irão processar o dianteiro, ponta de agulha e traseiro em
diversos co-produtos vendidos no atacado após desossa industrial e ao consumidor pela casa
de carnes.
Todos os custos envolvidos nesse processo são custos conjuntos. Custos conjuntos são os
custos de processamento dos produtos conjuntos, até o ponto onde esses produtos são
separados e identificados isoladamente. Segundo Maher (2001, p.333) custo conjunto é o
“custo relacionado com um processo de produção que resultam dois ou mais produtos”. No
processo do abate, os subprodutos e sucatas são extraídos e restam as carcaças, conforme
mostra a figura 1.
Figura 1. Transformação do bovino em carcaças
Os subprodutos e as sucatas são produzidos simultaneamente com processo de transformação
do bovino. São resultantes da limpeza e de sobras provenientes do processo. A carcaça,
matéria-prima ainda em processamento, será convertida em co-produtos (figura 2).
Figura 2. Conversão da carcaça em co-produtos
Fonte: Ferreira (2006, p.90)
226
A carcaça processada em dianteiro, ponta de agulha e traseiro são convertidos em proporções
diferentes, como mostra a figura 2. Lembrando que essas proporções podem sofrer alterações
devido a raça do animal, ao corte utilizado no frigorífico. Nesse momento, onde os coprodutos são separados e podem ser identificados, está o ponto de separação e os co-produtos
passam a recebem custos individualmente. Se a indústria continuar o processamento através
da desossa – visando a venda no atacado ou exportação – ou quando a casa de carnes adquire
os produtos da indústria – para o varejo – novamente teremos uma mesma matéria-prima
(dianteiro, traseiro ou ponta de agulha) sendo processados em vários produtos (acém, alcatra,
patinho, picanha, etc.)
Quadro 1. Processamento da matéria-prima
Dianteiro
Acém
Cupim
Músculos
Paleta
Peito
Peixinho
Pescoço
Desossa industrial
Traseiro
Ponta de Agulha
Alcatra
Costela minga
Capa de filé
Contra minga
Contra filé
Costela ripa
Coxão duro
Coxão mole
Filé mignon
Lagarto
Músculos
Patinho
Picanha
Dianteiro
Músculo
Peixinho
Paletão
Retalho
Ponta de peito
Acém fino
Miolo acém
Casa de carnes
Traseiro
Bisteca com filé
Bisteca sem filé
Músculo
Patinho
Picanha
Filé mignon
Posta vermelha
Alcatra
Fraldinha
Coxão mole
Retalho
Ponta de Agulha
Costela minga
Contra minga
Costela ripa
Os co-produtos da desossa industrial e da casa de carnes são diferentes, embora o processo de
desossa seja praticamente o mesmo, pois o varejo demanda, conforme a região, menos
produtos, em comparação ao atacado. A nomenclatura dos produtos também sofre variação.
4.2 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA
A formação do preço de venda é uma complexa atividade de vital importância para a empresa.
A estratégia utilizada pela empresa deve procurar obter o maior lucro possível, respeitando os
limites do mercado.
4.2.1 Fatores que influenciam a formação do preço
Um dos fatores que influencia na formação do preço são as pessoas que consumirão o produto
colocado à venda, os compradores, ou clientes. O ponto a ser tratado, é a capacidade dos
227
clientes de procurar preços mais baixos. Os clientes possuem uma percepção quanto ao preço
do produto diferente de quem o vende e se tiver a sensação de que o preço de determinado
produto está alto, seja essa percepção em função do próprio mercado, a partir da concorrência
ou pela necessidade que tem pelo produto, ou em função do que considera “preço justo”, o
cliente irá procurar um produto semelhante a um preço mais atraente.
A influência dos concorrentes na formação do preço se faz basicamente pela disputa pelo
mercado. Se existem muitos vendedores oferecendo ao mercado produtos semelhantes
(concorrência perfeita), o estabelecimento do preço de venda será com base na disputa de
preços entre os concorrentes.
Formar preços com vistas nos custos envolve alcançar um valor suficiente para cobrir os
custos totais em obter o produto destinado a venda. A presença dos custos na precificação
define o teto-mínimo que a empresa pode vender seus produtos, sem que ocorram prejuízos.
O teto-máximo quem define é o mercado.
O composto de marketing opera basicamente nos processos de comercialização dos produtos
de acordo com quatro aspectos principais: o produto; a praça; o preço; e a promoção, Esses
quatro aspectos estão resumidos no quadro abaixo.
Quadro 2. Os “4Ps” do composto de marketing
Produto
Características do
produto, diferenciação,
desempenho, qualidade,
design, ciclo de vida do
produto.
Praça
Alcance físico do
mercado consumidor,
localização, canais de
distribuição, logística.
Preço
Alcance de vários
mercados, boa imagem
da empresa, condições e
prazos de pagamento.
Promoção
Comunicação com o
mercado, divulgação,
visibilidade, ações
promocionais.
Existem ainda alguns detalhes importantes na formação de preço. São levados em
consideração fatores como a quantidade do produto em relação às necessidades do mercado
consumidor, a existência de produtos substitutos a preços mais baixos, a demanda que se
esperado do produto, o mercado em que atua o produto, os níveis de produção e de vendas
que se pretende ou que se tem condições de operar, os custos de fabricar, administrar o
comercializar o produto, os níveis de produção e vendas desejados (SANTOS, 2009, p. 139).
4.2.2 Métodos de formação de preços de venda
228
Diante das várias metodologias de precificação, Wernke (2005, p. 147) salienta que “há dois
caminhos básicos que podem ser escolhidos: (1) formação de preços de venda ou (2) análise
dos preços de venda praticados”. Para formar preços de venda, a empresa deve ter condições
de impor seu preço ao mercado consumidor (WERNKE, 2005, p. 148). Porém se a entidade
não tem condições de impor seu preço ao cliente, seja pela alta concorrência, ou pelas
características do mercado ou produto, a empresa passa a analisar os preços de venda
praticados e verificar a rentabilidade do preço de venda praticado, ou seja, seu preço estará
condicionado àquele encontrado no mercado, com poucas alterações, com adição ou redução
(WERNKE, 2005, p. 148).
4.2.2.1 Método do mark-up
Mark-up significa valor acrescido sobre um custo, o que sugere que esse método funciona
adicionando uma margem de lucro pretendida sobre o custo unitário, como explica Souza e
Diehl (2009, p. 293), esse método “consiste basicamente em adicionar uma margem de lucro
pretendida sobre a venda aos custos unitários dos produtos. Essa margem pode ser padrão –
igual para todos os produtos –, diferente por linha de produtos ou específica para cada um”. É
o método mais utilizado.
4.2.2.2 Método do preço-alvo
Segundo Souza e Diehl (2009, p. 300) o método do preço-alvo “parte do preço que o
comprador está disposto a pagar e, por meio desde e dos volumes a serem produzidos,
determina um custo-máximo, chamado de custo-alvo [grifo do autor]”. Para calcular o preço
de venda a partir desse método é estimado um custo para o volume de produção previsto que
vai ser comparado com o custo-alvo, estabelecido através de pesquisa de mercado. Se o custo
estimado é maior que o custo-alvo, são realizadas políticas de redução de custo, ou quando o
custo-alvo está inalcançável, a empresa desiste do produto.
4.2.2.3 Método do preço de mercado
229
Nesse método o preço de venda é definido pelo mercado. É realizado um conhecimento
acerca dos preços praticados pelos concorrentes do mesmo segmento, com o qual servirá de
base para a formação do preço. É usado quando os custos não são facilmente identificáveis,
ou quando os produtos são muito semelhantes e padronizados em relação aos concorrentes.
Souza e Diehl (2009, p. 302) salientam que o método do preço de mercado “pode ser usado
quando os custos são de difícil mensuração, pela natureza da atividade ou pelo pequeno porte
da organização.”
Mesmo que seja difícil mensurar os custos, a obtenção do lucro utilizando esse método para
formar o preço de venda é medida pela receita da venda, que deve ser maior que os custos
totais, ou os custos dos recursos, como materiais, mão-de-obra, insumos; mesmo que o custo
unitário seja desconhecido.
4.3 FORMAÇÃO E ANÁLISE DO PREÇO DE VENDA APLICADO À INDÚSTRIA,
DESOSSA E VAREJO DA CARNE BOVINA
4.3.1 Formação do preço de venda na produção conjunta pelo custeio variável
Como os custos conjuntos não apresentam relação direta com os co-produtos, eles não serão
rateados aos co-produtos, dada a arbitrariedade caso seja feito rateio.
Depois de formado o preço, do valor total da receita com os co-produtos será deduzido os
custos conjuntos e formará a margem de contribuição total. De forma geral, a receita total
deve ser maior que os custos conjuntos, para formar uma margem de contribuição suficiente
para cobrir os custos fixos.
4.3.2 Método de formação do preço de venda
Como em produção conjunta os custos são de difícil alocação aos produtos, a decisão do
preço de venda não leva em conta os custos conjuntos no sentido de usá-los como base para
serem acrescentados um mark up e chegar ao preço de venda. O fator preponderante que vai
determinar o preço de venda é o mercado. O preço, principalmente no setor do varejo, é
estabelecido com base no mercado, mediante o método do preço de mercado. É realizado
230
um conhecimento do preço no mercado, observando os concorrentes, a demanda e a oferta
dos produtos e a partir desses dados levantados é formado o preço. Souza e Diehl (2009, p.
302), explica que o método do preço de mercado “pode ser usado quando os custos são de
difícil mensuração, pela natureza da atividade ou pelo pequeno porte da organização”. Além
dos custos serem de difícil mensuração, existe outros pontos que explicam o método utilizado.
A carne bovina é um produto que possui demanda sazonal. Há épocas, como as festas
natalinas, que a demanda pelo produto aumenta, fazendo com que se elevem os preços
também. E há certos períodos em que a demanda diminui, como na quaresma. Há também
períodos do ano em que a procura pelas carnes de primeira, provenientes do traseiro, aumenta
em períodos quentes, onde consumidor prefere consumir as carnes assadas, como nos
feriados. Nos períodos de inverno, a demanda por carnes de segunda, extraídas do dianteiro,
aumenta, pela preferência pelos molhos e carnes cozidas, devido à estação fria. Esses fatores
justificam o uso do método de preço de mercado.
4.3.3 Análise da margem de contribuição
A análise da margem de contribuição se faz necessária para verificar se o preço de venda
estipulado pelo mercado é viável ou não. A análise na indústria de desossa compreende a
margem de contribuição com a venda dos produtos resultantes do processo da desossa. A
tabela 1 mostra a discriminação das receitas com a venda dos produtos obtidos.
Tabela 1. Segregação da receita obtida com a venda dos produtos da desossa
Itens (Duas peças)
Traseiros:
Coxão mole
Alcatra
Contra filé
Patinho
Coxão duro
Músculos
Lagarto
Capa de filé
Filé mignon
Picanha
Ossos
Sebo
Dianteiros:
Acém
Paleta
Pesos (Kg)
127,66
17,63
14,53
14,01
12,72
12,45
9,34
7,26
5,45
5,18
4,10
21,15
3,82
101,06
17,90
16,34
Preço $
4,80
6,80
6,30
4,20
4,30
3,10
4,90
3,50
8,90
8,80
0,15
0,45
3,40
3,40
Valor Total
549,41
84,63
98,78
88,28
53,41
53,52
28,96
35,59
19,09
46,14
36,12
3,17
1,72
253,86
60,86
55,54
231
Pescoço
15,31
Peito
11,66
Músculos
6,75
Peixinho
6,24
Cupim
2,46
Ossos
19,05
Sebo
5,36
Pontas de Agulha
37,23
Carne
28,24
Ossos
6,61
Sebo
2,38
Perda*
4,05
Total de produtos (carne)
207,58
Total de subprodutos (sebo e osso)
58,37
TOTAL
270,00
*Perda – Diferença da carcaça quente e carcaça resfriada
Fonte: Adaptado de Ferreira (2006, p. 100)
2,80
3,10
2,80
3,80
4,30
0,15
0,45
3,18
0,15
0,45
42,87
36,16
18,90
23,70
10,57
2,86
2,41
91,88
89,81
0,99
1,07
882,92
12,22
895,14
A tabela 1 representa as receitas geradas com o processamento de uma unidade de matériaprima, ou seja, uma cabeça de boi vivo. A tabela abaixo mostra, portanto, a margem de
contribuição obtida a partir de uma cabeça de boi vivo, que equivale a duas carcaças de
casado.
Tabela 2. Margem de contribuição na desossa
Itens
Receitas
Venda de co-produtos
Venda de sub-produtos
(-) Custos conjuntos
Matéria-prima
(=) Margem de contribuição
Fonte: Adaptado de Ferreira (2006, p. 102)
Valores (R$)
895,14
882,92
12,22
(864,00)
(864,00)
31,14
Analisaremos a margem de contribuição obtida com a venda dos co-produtos da casa de
carnes. A casa de carnes trabalha praticamente da mesma forma que a desossa, levando ao
mercado produtos um tanto parecidos, observada a demanda de cada um. O ponto diferencial
está na matéria-prima. A casa de carnes não faz o abate de boi ou vaca, tarefa essa
responsável pelo frigorífico de abate de bovinos, que pode somente abater os animais e
processar a matéria-prima em traseiro, dianteiro e ponta de agulha, vendendo assim esses
produtos à casa de carnes, ou então o frigorífico pode continuar o processo de desossa
(desossa industrial). A casa de carnes ao comprar a matéria-prima do frigorífico, tem os
custos expostos na tabela 3.
232
Tabela 3. Preço de venda da indústria de abate de bovinos
Itens
Dianteiro
Traseiro
Casado
Preço (R$/Kg)
4,00
6,00
5,10
TOTAL
-
Na indústria de abate, não há mercado para se vender a ponta de agulha separadamente a um
preço satisfatório. Com isso, a indústria vende as peças do traseiro e da ponta de agulha
juntos. O produto casado encontrado na tabela 3 se refere à meia-carcaça do bovino
compreendendo o dianteiro, a ponta de agulha e o traseiro numa mesma peça.
Tabela 4. Segregação da receita da venda dos co-produtos pela casa de carnes
Itens
Traseiros:
Bisteca com filé
Bisteca sem filé
Músculo
Patinho
Picanha
Filé mignon
Posta Vermelha
Alcatra
Fraldinha
Coxão mole
Retalho
Ossos e sebo
Dianteiros:
Músculo
Peixinho
Paletão
Retalho
Ponta de peito
Acém fino
Miolo acém
Ossos e sebo
Pontas de Agulha
Costela
Perda*
Total de co-produtos
Total de sucatas
TOTAL
Peso (Kg)
43,496
5,866
5,662
2,618
3,696
1,275
1,611
4,350
3,600
1,924
5,900
2,164
4,870
30,235
3,114
0,878
4,800
0,328
5,165
3,620
4,430
7,900
9,230
9,230
Preço (R$/Kg)
12,80
9,80
8,90
10,90
22,00
23,50
9,80
13,99
8,90
11,99
6,00
7,90
8,90
8,90
6,00
5,99
8,50
8,50
7,90
Total
450,90
75,08
55,49
23,30
40,29
28,05
37,85
42,63
50,36
17,12
70,74
12,98
0,00
176,47
24,60
7,81
42,72
1,97
30,94
30,77
37,66
0,00
72,92
72,92
6,039
70,191
12,770
89,000
-
700,29
700,29
* Perda referente à diferença de peso entre o casado quente e resfriado.
A tabela 4 representa a análise da receita gerada com venda de uma peça casado. A casa de
carnes fatura R$ 700,29 com a venda de uma única peça casado. Para que seja alcançada a
233
margem de contribuição, os custos conjuntos dispostos na tabela 5 compreendem o custo de
aquisição junto à indústria de abate visto na tabela 3.
Tabela 5. Margem de contribuição obtida pela casa de carnes
Itens
Receitas
Venda de co-produtos
(-) Custos conjuntos
Matéria-prima
(=) Margem de contribuição
Valores (R$)
700,29
700,29
(453,90)
(453,90)
246,39
A análise feita a partir da tabela 5 evidencia que cada casado desossado e vendido pela casa
de carnes contribui com R$ 246,39 para que sejam cobertos os custos fixos do período.
Na análise feita aqui, estão sendo considerados somente os custos de aquisição de matériaprima. As despesas adicionais, como impostos, fretes, mão-de-obra, ficaram fora do cálculo
devido às suas diversidades de incidência entre uma entidade e outra, o que não vem a
influenciar negativamente os exames feitos aqui, pelo fato da matéria-prima ser o custo
principal e de maior relevância.
4.3.4 Lucro na produção conjunta da carne bovina
O lucro passa a tomar forma no momento em que a margem de contribuição cobre todos os
custos e despesas fixas do período. Em termos gerais, Santos (2008, p. 10) diz que “o lucro
operacional de uma empresa começa a nascer [grifo do autor] a partir do momento em que o
custo total (fixo e marginal) estiver coberto pelas receitas de vendas. Isto é, quando a receita
total começar a superar o custo total”. A parcela de receita total responsável por superar o
custo total, é a margem de contribuição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em produção conjunta, os custos conjuntos não são alocados aos produtos. Não faz sentido
apropriar os custos conjuntos, visto que qualquer método de apropriação de custos conjuntos é
dotado de certo grau de arbitrariedade. Com isso, é irrelevante fazê-lo para fins gerenciais, de
234
tomada de decisões e de controle. A explicação está no fato de que em produção conjunta,
para se obter um produto, obtém-se todos os outros no mesmo processo; todos os produtos são
decorrências naturais do processo. Assim, o resultado não será avaliado individualmente, pois
o que interessa é o valor total da receita da venda de todos os produtos em contrapartida com
o custo total de obtê-los.
Em função disso, tanto no frigorífico quanto na desossa e no varejo, a análise do resultado é
feita observando-se o conjunto. Da receita com a venda dos produtos são deduzidos os custos
conjuntos, formando a margem de contribuição conjunta.
O preço de venda é determinado pelo mercado. Não é ideal se basear em custos, pela difícil
mensuração unitária, sendo então feita uma orientação pelas demandas do mercado, pela
concorrência, pela oferta e pela demanda sazonal da carne bovina. Há épocas em que a
demanda cresce, e períodos em que diminui.
Formado o preço, do valor total da receita com os co-produtos serão deduzido os custos
conjuntos e formará a margem de contribuição total (conjunta). A margem de contribuição
encontrada deve ser suficiente para cobrir os encargos fixos do período.
REFERÊNCIAS
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Análise de custos e formação de preços na cadeia