1 AVALIAÇÃO DA LUCRATIVIDADE DE SEGMENTOS DE MERCADO A VALOR PRESENTE: ESTUDO DE CASO EM FÁBRICA DE REFRIGERANTES Autores: Rodney Wernke; Marluce Lembeck; Ivones Junges; Débora Damian; Cleyton Oliveira Ritta. E-mail para contato: [email protected] Área temática: A4 - Gestão de custos e gestão do valor Palavras-chave: Valor presente; Margem de contribuição; Estudo de caso. Metodologia de investigação: M2 – Case/Field Study; 2 AVALIAÇÃO DA LUCRATIVIDADE DE SEGMENTOS DE MERCADO A VALOR PRESENTE: ESTUDO DE CASO EM FÁBRICA DE REFRIGERANTES Resumo: A avaliação da lucratividade de segmentos de mercado é um procedimento que proporciona informações gerenciais relevantes. Para tanto, a literatura especializada costuma recomendar o uso da margem de contribuição, mas esse conceito geralmente é apurado a valores nominais, sem considerar o “valor do dinheiro no tempo”. Por isso, nessa pesquisa se pretendeu evidenciar como apurar a margem de contribuição a valor presente e destacar os benefícios informativos que essa forma de avaliação propicia no contexto de uma fábrica de refrigerantes. Para tanto, foi utilizada metodologia do tipo descritiva, pelo procedimento de estudo de caso, com abordagem qualitativa do problema. Em termos de resultados, foram elaborados relatórios gerenciais que apuraram a rentabilidade (a valor nominal e a valor presente) dos produtos vendidos, além de mensurar a lucratividade por sabor, por canal de distribuição, por território de vendas e por vendedores. Ainda, foram evidenciadas as diferenças de valores apuradas entre as duas formas de cálculo (com e sem valor presente) e os respectivos efeitos no que tange à posição ocupada na ordem de rentabilidade em cada segmento. Concluiu-se pelo atingimento do objetivo do estudo, de vez que restou nítido o efeito dos prazos dos fatores utilizados no cálculo da margem de contribuição dos segmentos avaliados. Palavras-chave: Valor presente; Margem de contribuição; Estudo de caso. Área temática: A4 - Gestão de custos e gestão do valor 1 Introdução Nas empresas que trabalham com gama diversificada de produtos em seu mix de vendas a importância de contar com informes gerenciais sobre o desempenho comercial dos segmentos se acentua. Ou seja, assume relevância a obtenção de respostas a questionamentos acerca da rentabilidade de produtos, linhas, territórios de venda, vendedores etc., com objetivo de direcionar decisões de cunho operacional, tático ou estratégico, conforme as necessidades de cada companhia. Para essa finalidade, a literatura de custos costuma recomendar a utilização do conceito de margem de contribuição, que mostra o quanto cada produto contribuiu para absorver os gastos fixos do período e, posteriormente, gerar lucro. Porém, o conceito 3 tradicional de margem de contribuição não leva em conta os efeitos do “valor do dinheiro no tempo” (expressão tradicional da área econômica para evidenciar o impacto da inflação e/ou dos juros em relação a determinado investimento que envolva valores monetários e prazos). Assim, se o fabricante vender um produto, pelo mesmo preço de venda (em R$), com prazo para o cliente de 45 dias ou com prazo de 30/45/60 dias, não haveria qualquer distinção em termos do lucro a ser proporcionado por essa venda pelo cálculo tradicional da margem de contribuição. Uma vez que essa igualdade efetivamente não ocorre, mas não é destacado contabilmente, surge a pergunta que esta pesquisa almeja responder: como evidenciar para os gestores de uma empresa industrial os efeitos dos prazos relacionados com os fatores computados para determinar a margem de contribuição? Para tanto, determinou-se como objetivo principal proporcionar à entidade pesquisada relatórios de rentabilidade de segmentos que considerem o efeito do “valor do dinheiro no tempo” (trazendo a valor presente os fatores considerados) e que mensurarem as possíveis alterações nos resultados alcançados. O artigo está estruturado em cinco seções, considerando esta introdução. A segunda seção apresenta a revisão da literatura sobre margem de contribuição. Na terceira seção descreve-se a metodologia da pesquisa utilizada para a realização do trabalho. Na quarta mostram-se os resultados do estudo de caso. Por fim, a quinta seção trata das considerações finais. 2 Revisão da literatura Esta pesquisa discorre acerca do uso da margem de contribuição a valor presente na avaliação do desempenho dos segmentos de mercados com os quais uma entidade fabril atua. Nesse sentido, um segmento de mercado é uma parte da empresa que pode ser atribuída a um gerente responsável pelo lucro como, por exemplo, “os territórios de vendas, os produtos, os vendedores, os canais de distribuição e os tipos de clientes”, conforme Warren et al (2001, p. 146). Esses autores pugnam também que uma análise periódica do desempenho deve ser executada pelos gestores de vendas e de marketing a fim de determinar a rentabilidade proporcionada pelos segmentos de mercado. Corroborando esse posicionamento, Beulke e Bertó (2009) aduzem que a partir da evidenciação da performance de rentabilidade de cada produto ou segmento, torna-se possível o conhecimento do desempenho de clientes específicos e de determinadas negociações. Tal 4 fato constitui, indubitavelmente, um instrumento de vantagem competitiva na atual conjuntura de negócios, caracterizada pela alta dinamicidade, segundo tais autores. Salientando a importância de se analisar a rentabilidade dos segmentos de mercado, Peleias (2002, p. 26) afirma que “avaliação de resultados é a aferição das decisões tomadas pelos gestores sobre eventos e transações que ocorrem na empresa, evidenciando no que os esforços foram aplicados e o que se obteve”. Para tanto, argumenta que devem ser considerados todas as receitas e custos variáveis relativos aos eventos e transações, e suas implicações no resultado econômico. Além disso, essas informações devem ser desdobradas por produto, cliente, região, entre outras possibilidades, evidenciando a eficácia nas decisões tomadas, através das margens de contribuição, e a eficiência no consumo de recursos em cada segmento. Leone (2000, p. 354) defende que, ao optar por avaliar o desempenho de suas operações, a gerência deverá definir de que modo deseja subdividi-las. Ressalta que a subdivisão pode ser por função (pesquisa de mercado, propaganda, crédito, venda, armazenagem, transporte, faturamento, cobrança, serviço de produtos), por produto (grandes linhas ou famílias de produtos), por territórios (zonas de vendas e regiões), por tipos de clientes (governo, indústrias, consumidores, crianças, estudantes), por canal de distribuição (atacadistas, varejistas, consumidores diretos, lojas próprias, lojas de terceiros) e por tamanho de pedido (pedidos de grandes volumes, pedidos médios e pequenos pedidos). Binghan Jr. e Raffield (1990) argumentam que os gerentes necessitam conhecer quais segmentos de mercado (linhas, produtos, territórios, clientes etc.) proporcionam o melhor resultado e, em razão disso, definir quais estratégias mercadológicas devem utilizar para cada segmento abrangido. Entre as opções disponíveis na literatura financeira para essa avaliação encontra-se a margem de contribuição. Acerca disso, Guerreiro (2011, p. 51) menciona que referido conceito é o mais utilizado para essa finalidade, ou seja, os principais pesquisadores e estudiosos do campo da contabilidade de custos e contabilidade gerencial defendem “que o processo de análise e decisão envolvendo rentabilidade de produtos e de negócios deve estar fundamentado em informações baseadas no método de custeio variável e na utilização do conceito de margem de contribuição (...)”. Souza e Rocha (2010, p.9) descrevem a margem de contribuição como o “excesso do preço de venda líquido em relação aos custos e despesas variáveis, destinando-se a amortizar os custos e despesas fixas e a formar o lucro da empresa.” Salientam que esse conceito se 5 aplica a cada produto da empresa, a cada família de produtos, às unidades de negócio e à empresa toda. Biasio (2009, p. 159) afirma que a “determinação da margem é importante, pois é ela que estabelece o valor que cada produto contribui para pagar os custos e as despesas fixas e, ainda, gerar o lucro da empresa”. Souza (2011, p.83) aduz que a margem de contribuição é calculada pela diferença entre o preço de venda de um produto e seus custos e despesas variáveis. Pode ser entendida como “a contribuição dada por esse produto para cobrir o montante de despesas e custos fixos da empresa, e uma vez superado esse valor, o saldo é a contribuição para a geração de lucro.” Mendes et al (2010, p.2) afirmam que é possível entender a margem de contribuição como “a quantidade gerada pelas vendas capaz de cobrir os custos e despesas fixas e ter como resultado o lucro. Em princípio, trazem maior lucro para a empresa aqueles produtos que alcançarem margem de contribuição maior do que os demais.” Quanto ao uso da margem de contribuição como instrumento para avaliar a rentabilidade de segmentos de mercados vários autores têm opinião favorável a respeito. Nesse sentido, Guerreiro (2011, p. 73) defende que Na análise de rentabilidade é preciso utilizar o instrumento correto tendo em vista os atributos que se pretende medir e avaliar. Fazendo uma correlação dos elementos de custos com os elementos temperatura e pressão, podemos dizer que a rentabilidade dos produtos equivale a um problema de temperatura. Existem produtos bem quentes, outros mais mornos e alguns até gelados. Assim, é preciso um instrumento para medir a temperatura dos produtos. Esse instrumento é o conceito de margem de contribuição através da utilização do custeio variável. Beulke e Bertó (2009) citam como exemplo dos benefícios do uso da margem de contribuição o emprego desse conceito em uma rede de supermercados. Ao mensurar o desempenho de cada unidade interna (açougue, padaria, hortifrutigranjeiros etc.) foram estabelecidas metas de contribuição por unidade interna. Tal medida, combinada com um plano de participação dos empregados (se atingidas as metas propostas), implicou substancial aumento no índice de resultado da organização. Referidos autores sugerem, também, a mensuração do desempenho de segmentos de mercado como produtos, regiões de venda, canal de distribuição, tipos de clientes etc. Collins (2006) menciona exemplos de empresas consideradas ícones de seus setores de atuação que optaram por priorizar a avaliação de desempenho em determinados segmentos de mercado, como Gillette e Philip Morris. Por sua vez, Lambert (2008) exemplifica os benefícios oriundos da avaliação da rentabilidade de segmentos de mercado ao citar que nem 6 todos os clientes devem receber a mesma atenção por parte da empresa, pois alguns são mais rentáveis que outros. No que diz respeito às limitações associáveis ao conceito de margem de contribuição, Santos (2005) afirma que embora existam benefícios informativos pelo uso da margem de contribuição, pode ser perigoso utilizá-la sem as devidas cautelas, pois os gestores podem concentrar toda a atenção sobre as contribuições marginais de cada produto e desprezar a necessidade de recuperar os custos fixos. Wernke (2010) menciona que o cálculo dos preços de venda realizado somente com dados da Margem de Contribuição pode resultar em valores que não cubram todos os custos e despesas necessários para manter as atividades da companhia a longo prazo. Um segundo aspecto a salientar é que a margem de contribuição é útil para tomada de decisões de curto prazo, mas pode levar o gestor a menosprezar a importância dos gastos fixos, caso este decida somente com base na margem de contribuição (uma vez que esta considera apenas os custos e despesas variáveis). Como os gastos fixos tendem a aumentar em muitos segmentos empresariais (com a evolução tecnológica, acordos trabalhistas, especulação imobiliária etc.), tal procedimento pode acarretar problemas futuros para recuperar o capital aplicado pelo investidor. Atendo-se ao aspecto contábil, Passarelli e Bomfim (2004, p. 40) asseveram que uma das limitações inerentes é a de que “somente pode ser utilizado no Brasil gerencialmente, o que significa que, para fins contábeis fiscais, é obrigatória a aplicação do custeio por absorção”, que implica na consideração dos custos fixos, ao contrário do que se sucede com a margem de contribuição. Nessa pesquisa, contudo, é salientado um aspecto que pouco é ressaltado na literatura de contabilidade gerencial/custos. Ou seja, o uso da margem de contribuição para avaliar o desempenho de segmentos sem trazer os fatores que integram-na a “valor presente” implica ignorar o conceito econômico de “valor do dinheiro no tempo”. Nessa mesma direção, Heymann e Bloom (1990) afirmam que os relatórios financeiros, para efeitos gerenciais, devem expressar os valores contábeis em termos de fluxo de caixa. Isso implica, segundo tais autores, que usuários desses relatórios devem dispor de valores econômicos traduzidos a valor presente a partir de informações contábeis. Por sua vez, Lemes Júnior et al (2002, p.96) descrevem o significado dessa expressão da seguinte forma: O dinheiro recebido hoje tem mais valor do que a mesma quantia de dinheiro recebida amanhã. Mesmo que não exista inflação, que os preços permaneçam constantes, que as necessidades das pessoas não mudem, a possibilidade de comprar um produto hoje, fazer um investimento hoje, desfrutar um serviço hoje, vale mais do que a mesma possibilidade amanhã. 7 Essa é a Teoria da Preferência pela Liquidez. Como o dinheiro vale mais hoje do que amanhã, então quem tem o recurso, o agente superavitário, só abre mão do consumo hoje se for receber um valor maior no futuro. [...] O que faz os recursos aplicados hoje aumentarem de valor no futuro? As taxas de juros. Em virtude desse raciocínio é razoável assumir que o valor a receber daqui a 45 dias, oriundo de uma venda mercantil, não terá naquela data o mesmo poder aquisitivo que teria hoje. Assim, para aprimorar a avaliação da performance dos segmentos de mercado efetuada com base na margem de contribuição, adaptou-se a expressão “valor do dinheiro no tempo” ao contexto desta pesquisa. Por isso, para conhecer o efetivo valor atual do montante a receber ao final desse prazo é necessário empregar a fórmula do “valor presente”. No que tange à “taxa de juros”, Martins, Diniz e Miranda (2012, p.279) citam que “representa a remuneração decorrente exclusivamente do fator tempo, na inexistência de inflação e de risco”. Por sua vez, referindo-se à utilização da taxa de juros em equações matemáticas, Puccini (2004, p. 5) comenta que a “taxa de juros por período de capitalização é expressa em porcentagem e sempre mencionando a unidade de tempo considerada (ano, semestre, trimestre, mês ou dia)”. Quanto ao fator “prazo”, Kuhnen (2006, p.4) menciona que nas equações da matemática financeira este costuma ser expresso por n, “devendo expressar sempre o período a que se refere a taxa de juros”. O Valor Futuro (também conhecido como Valor Nominal ou Montante), para Puccini (2004, p.40), é o valor “resultante da aplicação de um principal (PV), durante n períodos de capitalização, com uma taxa de juros i por período, no regime de juros compostos”. Segundo esse autor, o Valor Futuro é obtido pela equação [FV = PV (1+i)^n], onde “a unidade referencial de tempo da taxa de juros i deve coincidir com a unidade referencial de tempo utilizada para definir o número de períodos n”. Também conhecido como Valor Atual, para Tosi (2000, p.101) o Valor Presente pode ser entendido como o valor que “representa os valores atuais de uma série uniforme de capitais futuros, descontados a uma determinada taxa de juros compostos, por seus respectivos prazos”. A fórmula utilizada para determinar o Valor Presente, conforme Beulke e Bertó (2009, p. 263), é dada por: VP = VF [1/(1+i)^n]; onde “VF” equivale ao Valor Futuro (ou Valor Nominal), “i” é a taxa de juros e “n” é o prazo da operação. Essa equação do valor presente foi utilizada nos relatórios gerenciais elaborados durante o período de pesquisa, conforme detalhado nas próximas seções. Para Wernke (2010, p. 184), com esse procedimento de apurar a margem de contribuição a valor presente seria possível mensurar o efeito do “valor do dinheiro no tempo”. Essa iniciativa consegue aprimorar as informações de cunho gerencial obtidas com o 8 cálculo na forma “tradicional” (com valores nominais) e mostrar a importância de gerenciar os prazos atrelados aos componentes da margem de contribuição da melhor maneira possível. Convém destacar, também, que o emprego da margem de contribuição associada ao valor presente já foi abordado em estudo anterior (Wernke, 2008), mas no contexto de empresa distribuidora de mercadorias. 3 Método de pesquisa empregado Em relação aos aspectos metodológicos desta pesquisa, acerca da tipologia quanto aos objetivos, esta pode ser classificada como descritiva. Referida modalidade visa, segundo Gil (1999), descrever características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relação entre as variáveis. Nessa direção, Andrade (2002) destaca que a pesquisa descritiva preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sem a interferência do pesquisador. Pelo aspecto dos procedimentos adotados, a pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, pois se concentra em única empresa e suas conclusões limitam-se ao contexto desse objeto de estudo. De acordo com Yin (2005, p. 32), "um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos". No âmbito da forma de abordagem do problema a pesquisa pode ser classificada como “qualitativa”, que é como Richardson (1999, p. 80) denomina os estudos que “podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”. A respeito da coleta de dados, Serra, Costa e Ferreira (2007) abordaram os aspectos fundamentais referentes aos projetos de pesquisa com estudos de caso quanto à coleta de dados de pessoas e de organizações. Mais específico, Yin (2005) sugeriu diversas fontes para a coleta de dados em estudos de caso: documentos e registros; entrevistas; observação direta e participante; evidências físicas etc. Para obter os dados utilizados nesse estudo foi empregada inicialmente a técnica de entrevistas informais (não estruturadas) com os gestores da entidade, visando conhecer a situação vigente no que tange aos controles internos adotados. As perguntas feitas relacionavam-se principalmente aos procedimentos administrativos utilizados; quanto aos produtos ofertados; estrutura organizacional utilizada; gastos mensais; mercados atendidos etc. As respostas obtidas foram suficientes para conhecer o contexto da organização e a profundidade dos controles internos mantidos. Em seguida, iniciou-se a coleta dos dados 9 necessários sobre execução do trabalho em documentos obtidos nos controles existentes, além de outras informações mais específicas. 4 Estudo de caso A pesquisa foi realizada na empresa “ABCDEF” (nome fictício por solicitação dos administradores), que produz refrigerantes em embalados em garrafas plásticas (PET). Situada em município do sul de Santa Catarina (Brasil), sua fundação ocorreu na década de 50 e, por ocasião do estudo, podia ser classificada como empresa de pequeno porte e contava com o trabalho de 52 funcionários dispersos nas áreas fabris e nos departamentos administrativos. Segundo informações dos gestores, a concorrência no setor tem aumentado muito nos últimos anos, prejudicando a expansão das atividades e reduzindo os resultados operacionais. Esse acirramento concorrencial foi causado, principalmente, pela nova estratégia do principal competidor mundial do setor, que passou a visar também o público de baixa renda e cidades de menor porte que antes não atendia ou não priorizava. Além disso, o aumento na fiscalização reduziu as possibilidades de trabalhar informalmente, contribuindo também para a diminuição das margens de lucro desse ramo de negócio. No que tange à avaliação de segmentos de mercados atendidos, a gerência da empresa analisava o desempenho exclusivamente com base no faturamento mensal. Porém, essa análise estava circunscrita somente aos produtos, desdenhando de outras formas de segmentação de mercado. Conforme informado pelo gerente comercial da entidade essa metodologia não conseguia suprir a necessidade de informações dos administradores, além de não explicar os motivos da redução dos recursos disponíveis mesmo em meses nos quais ocorria aumento de faturamento. Por isso, em abril de 2012, a gerência do empreendimento permitiu aos pesquisadores avaliar o desempenho de seus segmentos de mercado de forma a responder questões acerca de quais produtos, sabores ou linhas, por exemplo, eram efetivamente os que mereciam mais incentivos de cunho promocional para sua comercialização. Nesse sentido, foram coligidos os dados disponíveis abrangendo o mês de março de 2012, conforme descrito a seguir, com a maioria dos valores monetários (R$) arredondados (sem os centavos). 4.1 Levantamento de dados 10 Na primeira etapa do estudo foi realizado o levantamento dos dados necessários para apurar a margem de contribuição dos itens comercializados pela empresa no período pesquisado, conforme exemplificado na Tabela 1 para o produto “P-2L-Limãoz.”. Tabela 1 - Dados levantados – Produto P-2L-Limãoz. Fatores Vlr. Unit. - R$ Quantid. Total - R$ (VF) Prazos (dias) Taxa (%) Vendas 10,15 20.082 203.832 35,00 2,84 Desp. Variáveis 3,38 20.082 67.804 22,14 2,84 Matéria-prima 5,14 20.082 103.221 13,22 2,84 Custo fabril 0,93 20.082 18.636 2,84 MC fabril 0,71 20.082 14.171 2,84 Fonte: Elaborada pelos autores. Total - R$ (VP) 197.280 66.417 101.956 18.636 10.272 Inicialmente esse cálculo consistiu na dedução do custo de matérias-primas, das despesas variáveis (tributos e comissões) e do custo fabril do preço de venda de cada produto, como consta da coluna 2 da tabela acima. A forma de cálculo utilizada diverge da literatura contábil tradicional, que defende que não se deve computar os custos indiretos unitários nessa equação (somente os custos e despesas variáveis deveriam ser considerados). Contudo, Anthony e Govindarajan (2002, p.445) entendem que para avaliar a efetiva rentabilidade dos segmentos visados a empresa deve apurar a “margem de contribuição revista”. Ou seja, referidos autores entendem que do valor da margem de contribuição cabe que seja subtraído o custo dos serviços utilizados para atender um cliente, por exemplo. Adaptando-se essa prática à realidade encontrada na empresa em lume, da margem de contribuição foi subtraído o valor do custo fabril unitário para obter o efetivo resultado propiciado pelos produtos. Em seguida, os valores unitários foram multiplicados pela quantidade vendida no período pesquisado, obtendo o valor total de cada fator envolvido no cálculo da margem de contribuição do produto. Por último, com o intuito de aperfeiçoar os relatórios confeccionados, buscou-se demonstrar o efeito do “valor do dinheiro no tempo” evidenciando as alterações resultantes dos prazos associados aos fatores computados para apurar a margem de contribuição. Para tanto, foi utilizada taxa de juros de 2,84% ao mês, a título de custo de oportunidade, por ser esta a taxa que a empresa vinha pagando para captar recursos. Referido cálculo está representado nas quatro últimas colunas da Tabela 1. Com isso, chegou-se ao valor presente das vendas e da margem de contribuição total de cada produto comercializado pela empresa no período, a valor futuro (VF) e a valor presente (VP), conforme exposto na Tabela 2 a seguir. 11 Tabela 2 – Vendas e Margem de Contribuição Total por Produto Produtos Vendas - VF MCF - VF Vendas - VP P-2L-Limãoz. 203.832 14.171 197.280 P-2L-L.Light 3.644 961 3.550 P-2L-Guar. 95.836 12.613 91.723 P-2L-G.Geng. 4.588 572 4.411 P-2L-Tanger. 72.116 8.639 69.798 P-2L-Framb. 82.073 7.097 77.602 P-2L-Abac. 54.039 2.480 52.644 P-2L-Laranja 58.829 (430) 58.174 P-2L-Cola C. 44.975 1.763 44.102 P-2L-Cola Z. 4.517 796 4.372 P-1L-Limãoz. 151.170 29.730 146.311 P-1L-Guar. 74.355 31.090 71.965 P-1L-Tanger. 54.915 13.040 53.498 P-1L-Laranja 10.530 1.567 10.078 P-1L-Framb. 27.315 5.834 25.827 P-1L-Abac. 17.430 3.291 16.980 P-600-Limãoz. 56.851 19.005 54.513 Totais 1.017.015 152.218 982.828 Fonte: Elaborada pelos autores. MCF - VP 10.272 910 9.916 460 7.257 4.058 1.731 (526) 1.411 712 26.757 29.616 12.242 1.263 4.798 3.037 17.426 131.344 Os dados da Tabela 2 serviram de base para os relatórios comparativos comentados nas próximas seções. 4.2 Diferenças entre valor futuro (VF) e valor presente (VP) em valor (R$) e percentual A Tabela 3 evidencia as diferenças encontradas em valor monetário (R$) e percentual entre os valores futuros e o cálculo a valor presente de cada produto exposto. Tabela 3 - Diferenças entre VF e VP (em R$ e %) Produtos Vendas-Diferença - R$ MCF-Diferença - R$ Vendas-Diferença - % MCF-Diferença - % P-2L-Limãoz. 6.552 3.899 3,21% 27,52% P-2L-L.Light 94 50 2,58% 5,25% P-2L-Guar. 4.114 2.697 4,29% 21,38% P-2L-G.Geng. 176 112 3,84% 19,57% P-2L-Tanger. 2.318 1.381 3,21% 15,99% P-2L-Framb. 4.470 3.038 5,45% 42,81% P-2L-Abac. 1.394 749 2,58% 30,21% P-2L-Laranja 655 97 1,11% 22,49% P-2L-Cola C. 873 352 1,94% 19,94% P-2L-Cola Z. 145 83 3,21% 10,46% P-1L-Limãoz. 4.859 2.973 3,21% 10,00% P-1L-Guar. 2.390 1.474 3,21% 4,74% P-1L-Tanger. 1.417 798 2,58% 6,12% P-1L-Laranja 452 303 4,29% 19,36% P-1L-Framb. 1.488 1.036 5,45% 17,76% P-1L-Abac. 450 253 2,58% 7,70% P-600-Limãoz. 2.339 1.579 4,11% 8,31% Totais 34.186 20.875 3,36% 13,71% Fonte: Elaborada pelos autores. 12 A segunda coluna da Tabela 3 apresenta as alterações encontradas em valores monetários (R$) no que tange às vendas de cada produto no período, quando apurado o valor presente respectivo. Ou seja, foram verificadas alterações entre R$ 94 (produto “P-2LL.Light”) e R$ 6.552 (produto “P-2L-Limãoz.”), enquanto que a oscilação total das vendas atingiu R$ 34.186 no comparativo com as vendas a valores nominais. Nesse sentido, a variação mais significativa foi apresentada pelo produto “P-2L-Limãoz.”, com alteração de R$ 6.552, sendo que tal valor é maior que as vendas totais atingidas por três produtos comercializados pela empresa (“P-2L-G.Geng.”, “P-2L-L.Light” e “P-2L-Cola Z.”), conforme exposto anteriormente na Tabela 2. Já os percentuais de vendas revelaram uma média de variação entre os produtos abrangidos de 3,36%. Entre aqueles que apresentaram maior alteração estão “P-1L-Framb.” e “P-2L-Framb.” – ambos com variação de 5,45% – e “P-1L-Laranja” e “P-2L-Guar.” – com variação de 4,29% cada. Contudo, em termos de margem de contribuição total, considerando os valores monetários (R$) apresentados na terceira coluna da Tabela 3, as alterações entre VF e VP compreenderam o intervalo entre R$ 50 (produto “P-2L-L.Light”) e R$ 3.899 (produto “P-2LLimãoz.”). O total da oscilação encontrada nos valores (R$) do cálculo da margem de contribuição foi de R$ 20.875. Em termos percentuais a última coluna à direita da Tabela 3 exibe uma média de variação bastante representativa (13,71%) na linha “Totais”. Nesse parâmetro de comparação o produto “P-2L-Framb.” teve a maior variação, com redução de 43,81% na margem de contribuição apurada pela metodologia tradicional (ou seja, a Valor Futuro). Tal produto foi seguido pelo “P-2L-Abac.”, que teve variação de -30,21% e pelo “P-2L-Limãoz.” com variação de -27,52%. Por outro lado, o produto que apresentou menor variação na atualização de valores da margem de contribuição total foi o “P-1L-Guar.” (com redução de 4,74%). Ainda, foi possível constatar que dos 17 produtos abrangidos na pesquisa, mais de 75% (13 deles) tiveram reduções maiores que 10% entre o valor inicial da margem de contribuição (VF) e o resultado a valor presente. O expressivo valor da diferença encontrada entre a margem de contribuição total a valor futuro e a valor presente (R$ 20.875) por si só evidenciam a importância de apurar o “valor do dinheiro no tempo”. Ao desconsiderar o efeito dos prazos, o gestor seria induzido a concluir que o resultado bruto das vendas seria de R$ 152.218, quando deveria considerar somente o valor de R$ 131.344 (valores sem computar centavos). 13 4.3 Margem de contribuição unitária em valor (R$) e percentual (%) A margem de contribuição unitária permite identificar quais produtos são os mais lucrativos a cada unidade vendida, quer em valor monetário (R$), quer em percentual (%). Nesse sentido, a Tabela 4 demonstra os dados referentes às margens de contribuição unitária dos produtos abrangidos pelo estudo e expõe as variações em valor (R$) e porcentagem ao realizar o cálculo desses parâmetros a valor presente. Tabela 4 - Margem de contribuição unitária (em R$ e %) MCF Unit. MCF Unit. MCF Unit. MCF Unit. Produtos VF - R$ VP - R$ VF - % VP - % P-2L-Limãoz. 0,706 0,511 6,95% 5,21% P-2L-L.Light 2,676 2,535 26,36% 25,64% P-2L-Guar. 1,336 1,050 13,16% 10,81% P-2L-G.Geng. 1,266 1,018 12,47% 10,43% P-2L-Tanger. 1,216 1,021 11,98% 10,40% P-2L-Framb. 0,878 0,502 8,65% 5,23% P-2L-Abac. 0,466 0,325 4,59% 3,29% P-2L-Laranja (0,074) (0,091) -0,73% -0,90% P-2L-Cola C. 0,398 0,319 3,92% 3,20% P-2L-Cola Z. 1,788 1,601 17,61% 16,30% P-1L-Limãoz. 2,950 2,655 19,67% 18,29% P-1L-Guar. 6,272 5,975 41,81% 41,15% P-1L-Tanger. 3,562 3,344 23,75% 22,88% P-1L-Laranja 2,232 1,800 14,88% 12,54% P-1L-Framb. 3,204 2,635 21,36% 18,58% P-1L-Abac. 2,832 2,614 18,88% 17,89% P-600-Limãoz. 4,713 4,322 33,43% 31,97% Fonte: Elaborada pelos autores. Difer. em R$ 0,194 0,140 0,286 0,248 0,194 0,376 0,141 0,017 0,079 0,187 0,295 0,297 0,218 0,432 0,569 0,218 0,392 Difer. em % 1,75% 0,72% 2,35% 2,04% 1,58% 3,42% 1,30% 0,17% 0,72% 1,32% 1,38% 0,66% 0,86% 2,34% 2,78% 0,99% 1,46% Os valores expostos na segunda coluna da Tabela 4 evidenciam que os valores de margem de contribuição unitária variam entre R$ 6,272 (produto “P-1L-Guar.”) a R$ -0,074 (produto “P-2L-Laranja”), sem considerar os prazos (VF). Porém, após o cálculo da margem de contribuição unitária a valor presente foram obtidos os valores que oscilavam entre R$ 5,975 (produto “P-1L-Guar.”) e –R$ 0,091 (produto “P-2L-Laranja”), conforme mencionado na terceira coluna da tabela 4. As colunas 4 e 5, por sua vez, apresentam os percentuais de margem de contribuição unitária nas duas formas de cálculo (VF e VP). Com isso, constatou-se que no critério sem considerar o efeito dos prazos (VF ou nominal), há cinco produtos que têm margem de contribuição percentual superior a 20% (P-1L-Guar, com 41,81%; P-600-Limãoz. com 33,43%; P-2L-L.Light, com 26,36%; P-1L-Tanger. com 23,75%; P-1L-Framb. com 21,36%). Contudo, ao utilizar o critério de valor presente para o mesmo parâmetro, constata-se que os percentuais foram reduzidos, respectivamente, para 41,15%; 31,97%; 25,64%; 22,88% e 18,58%). 14 Por último, as duas colunas mais à direita da Tabela 4 demonstram a variação em valor (R$) e em percentual resultantes da apuração do valor presente da margem de contribuição unitária de cada produto. Em termos de valores monetários, as reduções mais significativas ocorreram com os produtos P-1L-Framb e P-1L-Laranja, com R$ 0,569 e R$ 0,432, respectivamente. Em termos percentuais, contudo, as alterações mais representativas ocorreram com os produtos P-2L-Framb. (com 3,42%) e P-1L-Framb. (com 2,78%). 4.4 Participação na margem de contribuição total Uma das formas mais adequadas, segundo a literatura técnica, para avaliar o desempenho dos produtos consiste averiguar a participação percentual de cada um na margem de contribuição total conseguida no período. Referida forma de avaliação foi realizada conforme consta da Tabela 5. Tabela 5 - Participação na Margem de Contribuição Fábrica Total MCF Total Partic. MCF Total Partic. Produtos VF - R$ Percent. VP - R$ Percent. P-2L-Limãoz. 14.171 9,31% 10.272 7,82% P-2L-L.Light 961 0,63% 910 0,69% P-2L-Guar. 12.613 8,29% 9.916 7,55% P-2L-G.Geng. 572 0,38% 460 0,35% P-2L-Tanger. 8.639 5,68% 7.257 5,53% P-2L-Framb. 7.097 4,66% 4.058 3,09% P-2L-Abac. 2.480 1,63% 1.731 1,32% P-2L-Laranja (430) -0,28% (526) -0,40% P-2L-Cola C. 1.763 1,16% 1.411 1,07% P-2L-Cola Z. 796 0,52% 712 0,54% P-1L-Limãoz. 29.730 19,53% 26.757 20,37% P-1L-Guar. 31.090 20,42% 29.616 22,55% P-1L-Tanger. 13.040 8,57% 12.242 9,32% P-1L-Laranja 1.567 1,03% 1.263 0,96% P-1L-Framb. 5.834 3,83% 4.798 3,65% P-1L-Abac. 3.291 2,16% 3.037 2,31% P-600-Limãoz. 19.005 12,49% 17.426 13,27% Totais 152.218 100,00% 131.344 100,00% Fonte: Elaborada pelos autores. Diferença VF => VP 1,49% -0,06% 0,74% 0,03% 0,15% 1,57% 0,31% 0,12% 0,08% -0,02% -0,84% -2,12% -0,75% 0,07% 0,18% -0,15% -0,78% - Quanto maior a participação percentual do produto na margem de contribuição total, melhor o seu desempenho, pois evidencia a capacidade que o item vendido possui de gerar recursos para cobrir os custos fixos e proporcionar lucro ao empreendimento. Nesse sentido, a Tabela 5 mostra que, ao aplicar o conceito de valor presente aos cálculos, os valores da margem de contribuição fabril dos produtos tiveram participação percentual alterada em relação ao total, no comparativo com os valores nominais (VF). 15 Ou seja, alguns produtos passaram a ter uma participação percentual menor, como é o caso do produto “P-2L-Limãoz.”. Em valores nominais esse produto respondia por 9,31% do total da margem de contribuição fabril e passou a representar 7,82% ao ter seu valor apurado considerando os prazos associados (VP). Outros produtos, no entanto, tiveram sua participação aumentada. É o caso do produto “P-1L-Guar.” que respondia por 20,42% da participação total (em termos de valores nominais ou futuros), e passou a representar 22,55% do total do período quando a margem de contribuição foi apurada a valor presente. Para evidenciar melhor essas alterações, foi calculada a diferença entre VF e VP, em termos de participação no total para cada produto, conforme expresso na última coluna à direita da Tabela 5. Referida coluna mostra que 10 (dez) dos produtos apresentados acabaram diminuindo a participação percentual na margem de contribuição do período quando utilizado o critério de valor presente, enquanto outros sete tiveram um aumento nesta participação. Essa variação encontrada mostra que considerar o valor presente no cálculo da margem de contribuição pode revelar de forma mais confiável quais os produtos são mais representativos quando relacionados ao total obtido no período. 4.5 Desempenho por sabor A gerência da empresa pesquisada também gostaria de conhecer o desempenho relacionado com as linhas de produtos, que no caso eram os sabores dos refrigerantes comercializados. Então, isso foi apurado conforme consta na Tabela 6, onde são mencionados os valores (em R$) da margem de contribuição total em termos de valor futuro e valor presente, a porcentagem (%) média da margem de contribuição dos produtos com determinado sabor e a participação percentual (%) de cada sabor na margem de contribuição total (tanto a VF quanto a VP). MCT Sabores VF - R$ Abacaxi 5.771 Cola 2.559 Framboesa 12.931 Guaraná 44.276 Laranja 1.137 Limãozinho 63.866 Tangerina 21.679 Totais 152.218 Fonte: Elaborada pelos autores. Tabela 6 - Desempenho por sabores MC % Partic. MCT Média MCT – VF VP - R$ 8,07% 3,79% 4.769 5,17% 1,68% 2.124 11,82% 8,49% 8.857 25,33% 29,09% 39.993 1,64% 0,75% 737 15,37% 41,96% 55.365 17,07% 14,24% 19.500 14,97% 100,00% 131.344 MC % Média 6,85% 4,38% 8,56% 23,79% 1,08% 13,78% 15,82% 13,36% Partic. MCT – VP 3,63% 1,62% 6,74% 30,45% 0,56% 42,15% 14,85% 100,00% 16 A Tabela 6 permitiu conhecer os sabores que mereciam maior atenção do gestor em razão da respectiva capacidade de gerar lucros. Assim, verificou-se que o sabor “Laranja”, por exemplo, teve a pior performance em todos os critérios adotados, independente se avaliado a valor futuro ou a valor presente. No caso da margem de contribuição total, o valor proporcionado pelo conjunto de produtos com esse sabor foi de R$ 1.137 (a VF) e de R$ 737 (a VP). Em termos de margem de contribuição percentual média entre os produtos comercializados com esse aromatizante, apurou-se 1,64% (a VF) e 1,08% (a VP). Além disso, participação percentual na margem de contribuição total do período foi de apenas 0,75% (a VF) e 0,56% (a VP) para os produtos com esse sabor. No lado oposto, constatou-se que os melhores resultados foram obtidos pelos sabores “Limãozinho” e “Guaraná” que mostraram ser responsáveis, considerando os valores nominais/futuros, por R$ 63.866 e R$ 44.276 do total da margem de contribuição (ou 41,96% e 29,09%, respectivamente, de participação no resultado do período). Os mesmos sabores, com os cálculos considerando o valor presente, tiveram sua participação reduzida para R$ 55.365 e R$ 39.993. Mesmo com essa diminuição, tiveram a participação percentual na margem de contribuição total elevada para 42,15% e 30,45%, respectivamente. Porém, no critério de margem de contribuição percentual “média”, o sabor com melhor resultado foi o “Guaraná”, com 25,33% (a VF) e 23,79% (a VP). Esse desempenho ficou muito acima da média final dos sabores vendidos pela empresa no período da pesquisa, que foi de 14,97% no caso da margem de contribuição a valor nominal/futuro e 13,36% no critério a valor presente. 4.6 Desempenho de territórios de vendas Outra possibilidade para mensurar o desempenho executada nesta pesquisa levou em conta os territórios de vendas atendidos pela empresa, conforme exposto de forma detalhada na Tabela 7. Tabela 7 - Desempenho dos territórios de vendas Mercado atendido MCF – VF % do Total MCF – VP % do Total SC 55.956 36,76% 49.016 37,32% PR 26.940 17,70% 22.373 17,03% RS 69.321 45,54% 59.955 45,65% Totais 152.218 100,00% 131.344 100,00% Fonte: Elaborada pelos autores. Dif.- R$ 6.941 4.568 9.366 20.875 Dif. - Part. % -0,56% -0,66% -0,11% - Os valores apresentados mostram que o “RS” é o território responsável pela maior parte da margem de contribuição alcançada pela empresa (45,54%). O território “SC” aparece 17 em segundo lugar (36,76%) e a última posição coube ao território “PR” a quem coube a participação de 17,70% da margem de contribuição total a valor futuro/nominal. O estado do “RS”, responsável primeiramente por R$ 69.321 da margem de contribuição total, passou a somar R$ 59.955 (diferença de R$ 9.366 ou 0,11%) quando calculado a valor presente. Já a região de “SC” somava R$ 55.956 e passou a representar R$ 49.016 quando considerado o valor presente (diferença de R$ 6.941 ou 0,56%). Por fim, o território do “PR” que participava com R$ 26.940 em valores nominais, passou a participar com R$ 22.373 a valor presente (diferença de R$ 4.568 ou 0,66%). Essa forma de avaliação pode ser aprimorada ao considerar a performance conseguida pelos vendedores que atuam em cada território de vendas, conforme evidenciado na Tabela 8. Tabela 8 - Desempenho dos Vendedores do Território de SC Vendedores MCF - VF - R$ MCF Média MCF - VP - R$ MCF Média AJQ 8.844 26,04% 7.631 23,25% LS 8.707 10,98% 7.513 9,80% EZM 7.141 20,00% 6.161 17,86% ML 12.534 19,88% 10.815 17,75% CLW 11.310 26,48% 9.759 23,64% AR 4.871 8,89% 4.203 7,93% SW 2.551 20,33% 2.934 25,02% Total – SC 55.956 17,37% 49.016 15,77% Fonte: Elaborada pelos autores. Dif. MCF Média 2,79% 1,18% 2,14% 2,13% 2,84% 0,95% -4,69% 1,61% Tomando como exemplo somente o território “SC” (por restrição de espaço), o total da margem de contribuição sofreu alteração de R$ 6.940, passando de R$ 55.956 (a VF) para R$ 49.016 (a VP). Dos vendedores desse território, o melhor desempenho ficou com o vendedor “ML”, que trouxe R$ 12.534 (conforme consta da coluna 2 da Tabela 8). Contudo, pelo critério de margem de contribuição média, o vendedor “CLW” foi o que apresentou o maior índice (com 26,48%). Esse percentual elevado indica que vendeu produtos com margens de lucro maiores que o vendedor “ML”, que atingiu 19,88% de margem média. Na conversão dos valores monetários para valor presente, o posicionamento se manteve, mas com reduções da margem média para 23,64% (CLW) e 17,75% (ML). 4.7 Desempenho de canais de distribuição A empresa em estudo faz uso de diversos canais de distribuição. Dessa forma, o desempenho alcançado, em termos de margem de contribuição total foi mensurado conforme consta da Tabela 9. 18 Tabela 9 - Desempenho dos Canais de Distribuição Canais de distribuição MCF - VF - R$ % MCF MCF - VP - R$ % MCF Dif.- R$ Supermercados 83.994 55,18% 70.061 53,34% 13.933 Distribuidores 53.499 35,15% 48.300 36,77% 5.199 Associações/Clubes 13.621 8,95% 11.999 9,14% 1.622 Outros 1.104 0,73% 984 0,75% 120 Totais 152.218 100,00% 131.344 100,00% 20.875 Fonte: Elaborada pelos autores. Dif. - Part. % 1,84% -1,63% -0,19% -0,02% 0,00% Considerando os valores nominais, o canal de distribuição “Supermercados” detinha mais de 55% da margem de contribuição total (R$ 83.994 de R$ 152.218). Após o cálculo do valor presente, este canal de distribuição sofreu redução de R$ 13.993, passando a representar 53,34% do total do período. Com a redução da participação dos “Supermercados”, os outros canais de distribuição passaram a ter uma parcela de participação maior em termos de valor presente. O canal “Distribuidores” possuía 35,15% de participação em valores nominais (R$ 53.499) e passou a representar 36,77% quando mensurado o valor presente (R$ 48.300). Por seu turno, os canais “Associações/Clubes” e “Outros” passaram de 8,95% e 0,73% (a VF) para 9,14% e 0,75% (a VP), respectivamente. 5 Conclusões da pesquisa O estudo de caso relatado neste artigo evidenciou algumas possibilidades da utilização da margem de contribuição na avaliação da rentabilidade de segmentos de mercado numa empresa industrial. Pelos relatórios gerenciais descritos nas seções anteriores, restou nítido que a margem de contribuição pode auxiliar os gestores a mensurar adequadamente o desempenho dos diversos segmentos com os quais a empresa enfocada operava. Além disso, a consideração do “valor do dinheiro no tempo”, apurando os resultados proporcionados pelos segmentos visados também a valor presente, mostrou o impacto dos prazos associados aos fatores que compõem a margem de contribuição. Esse procedimento conseguiu aprimorar as informações gerenciais obtidas e mostrou a importância de administrar os prazos atrelados aos componentes da margem de contribuição da melhor maneira possível. Atesta essa relevância o fato de que o valor total da diferença entre a “margem de contribuição fábrica” total a valor nominal e a valor presente foi de R$ 20.875 no mês em tela. Essa quantia representou um resultado 13,71% inferior àquele inicialmente mensurado a valor nominal (ou apresentado pela contabilidade). Em que pese os diversos benefícios informativos proporcionados pelos relatórios gerenciais elaborados, que mostraram a rentabilidade dos principais segmentos de mercado nos quais a empresa atuava, tanto a valor nominal quanto a valor presente, duas restrições 19 aplicáveis à metodologia utilizada devem ser apontadas. A primeira é quanto à taxa de juros empregada na pesquisa. Foi usada a taxa de captação de recursos para capital de giro que a empresa vinha pagando por ocasião do estudo. Essa taxa foi utilizada pela facilidade de obtenção e também porque representaria o atual estágio da situação financeira da empresa pesquisada (captadora de recursos para manter o capital de giro necessário para financiar suas vendas). Entretanto, talvez fosse interessante considerar a alternativa de se usar outra taxa a título de “custo de oportunidade”. O segundo ponto diz respeito ao uso da margem de contribuição “revista”, como enfatizado na seção 4.1. Pelo estudo ter sido realizado numa empresa industrial optou-se por avaliar a rentabilidade após a dedução do custo de fabricação. Mesmo contrariando as definições tradicionais sobre margem de contribuição, entendeu-se que essa forma de avaliação representaria mais escorreitamente a realidade encontrada na companhia fabril em lume. Além disso, não foi aplicado o conceito de valor presente ao fator “custo de fabricação” (pela dificuldade associada em termos de prazos a considerar). Referências ANDRADE, M. M. de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ANTHONY, R. N.; GOVINDARAJAN, V. Sistemas de controles gerenciais. São Paulo: Atlas, 2002. BACIC, M. J. Gestão de custos: uma abordagem sob o enfoque do processo competitivo e da estratégia. Curitiba: Juruá, 2010. BEULKE, R.; BERTÓ, D. J. Precificação: sinergia do marketing e das finanças. São Paulo: Saraiva, 2009. BIASIO, R. Sistema de apoio à decisão para definição de mix de produtos em empresas comerciais varejistas. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração, Programa de Pós-graduação em Administração. Porto Alegre: UFRGS, 2009. BINGHAN Jr., F. RAFFIELD, B. T. Business to business marketing management. Boston: Richard D. Irwin Inc., 1990. COLLINS, J. 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