Claudine Maria Alves Feio A Euterpe oleracea (açaí) modifica o metabolismo de esteróis e atenua a aterosclerose induzida experimentalmente Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Doutor em Ciências São Paulo 2011 Claudine Maria Alves Feio A Euterpe oleracea (açaí) modifica o metabolismo de esteróis e atenua a aterosclerose induzida experimentalmente Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Doutor em Ciências Orientador: Prof. Dr. Francisco Antonio Helfenstein Fonseca Co-orientador: Profa. Dra. Maria Cristina de Oliveira Izar Co-orientador: Profa. Dra. Silvia Saiuli Miki Ihara São Paulo 2011 Feio, Claudine Maria Alves A Euterpe oleracea (açaí) modifica o metabolismo de esteróis e atenua a aterosclerose induzida experimentalmente / Claudine Maria Alves Feio ; orientador, Francisco Antonio Helfenstein ; co-orientadoras, Maria Cristina Oliveira Izar, Silvia Saiuli Miki Ihara. - 2011 xiii, 53 p. Tese (doutorado)-Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Cardiologia. São Paulo, 2011. Título em inglês: Euterpe oleracea (açai) modifies sterol metabolism and attenuates experimentally-induced atherosclerosis 1. Euterpe olerácea. 2. Aterosclerose. 3. Lípides. 4. Desmosterol. 5. Fitosteróis. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA – DISCIPLINA DE CARDIOLOGIA Chefe do Departamento: Reinaldo Salomão Coordenador do Curso de Pós Graduação: Valdir Ambrósio Moisés Claudine Maria Alves Feio A Euterpe oleracea (açaí) modifica o metabolismo de esteróis e atenua a aterosclerose induzida experimentalmente Presidente da Banca: Prof. Dr. Francisco Antonio Helfenstein Fonseca Banca Examinadora: Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Aprovada em: ____ / _____/ ______ DEDICATÓRIA Aos meus queridos pais Antonio e Fernanda, (in memoriam), pelo amor incondicional e dedicação durante tantos anos. Ao Max, meu marido, meu amigo e companheiro obrigada por todo o amor, respeito e felicidade durante todos esses anos . Ao meu filho e amigo Thiago obrigada pelo incentivo, amor e carinho ii AGRADECIMENTOS Um agradecimento especial ao meu orientador Prof. Dr. Francisco Fonseca, por toda a confiança depositada em mim, pelo apoio constante e amizade, pela paciência, orientações pertinentes e incentivo. Que Deus o conserve sempre assim e lhe dê toda a felicidade que o senhor merece; À minha querida co-orientadora e amiga Prof. Dra. Maria Cristina Izar, por toda a paciência, ajuda e incentivo, sempre disposta a ajudar os mais necessitados; À minha amiga e co-orientadora Prof. Dra. Sílvia Saiuli Miki Ihara, sempre disponível e interessada na pesquisa; Ao prof. Dr. Antonio Carvalho pela confiança e oportunidade deste doutorado; A minha querida amiga e colaboradora Soraia Kasmas, pela inestimável ajuda; Aos meus irmãos (ãs), cunhadas (os) e sobrinhos pela ajuda e compreensão em todos os momentos; À Universidade Federal do Pará (UFPA) pela oportunidade deste Doutorado; À Universidade do Estado do Pará (UEPA) pela oportunidade deste Doutorado; À professora Eliete da Cunha Araújo, Coordenadora do Instituto Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará pela ajuda e incentivo na realização deste Doutorado; À professora Tânia de Fátima D’Almeida Costa, Diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará; À professora Laélia Feio Brasil pela ajuda e apoio na realização deste projeto Ao professor Paulo Amorim pela inestimável ajuda na concretização deste estudo; Aos queridos amigos e funcionários do setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular (UNIFESP); À secretária da pós-graduação a Sra. Christina Almeida, pela paciência e disponibilidade; Ao laboratório Paulo Azevedo pela grande ajuda na realização da bioquímica dos coelhos em especial à pessoa do Dr. Paulo Azevedo e a Dra. Lígia; iii Às minhas queridas amigas Maria Elizabeth Caetano, Sonia Conde Cristino e Heloisa Guimarães pelo constante incentivo e ajuda; Aos meus colegas, professores da Disciplina de Cardiologia da UFPA, pela compreensão e ajuda; Aos meus colegas, professores da Disciplina de Propedêutica Médica da UEPA, pela compreensão e ajuda; Ao doutorando Luís Antonio Maués pela importante contribuição na realização dos exames; Às alunas Luana Relvas, Thais Tapajós e Daniel Charone, pela importante contribuição em todas as fases da realização deste projeto; À bibliotecária do Instituto de Ciências da Saúde, Sra. Vilma Bastos, pela inestimável ajuda, durante todo este tempo; A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste projeto. iv Este trabalho foi realizado, em parte, com auxílio financeiro da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) processo: 2008/55443-6. Aprovado pelo Comitê de Ética animal em Pesquisa da UFPA sob o número 002/2006. v SUMÁRIO DEDICATÓRIA _______________________________________________ ii AGRADECIMENTOS _________________________________________ iii LISTA DE FIGURAS _________________________________________ viii LISTA DE TABELAS _________________________________________ ix LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS _________________________ x RESUMO __________________________________________________ xii ABSTRACT________________________________________________ xiii 1 INTRODUÇÃO _____________________________________________ 1 1.1 EPIDEMIOLOGIA ___________________________________________________ 1 1.2 FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR ______________________________ 2 1.3 FISIOPATOLOGIA DA ATEROSCLEROSE ______________________________ 7 1.3.1 Indução de Aterosclerose em coelhos ______________________________ 10 1.3.2 Evolução da Aterosclerose em Humanos ____________________________ 12 1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EUTERPE OLERACEA ____________________ 13 2 OBJETIVOS ______________________________________________ 18 2.1 OBJETIVOS GERAIS ______________________________________________ 18 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS _________________________________________ 18 3 MÉTODOS________________________________________________ 19 3.1. DESENHO EXPERIMENTAL ________________________________________ 19 3.2 ANIMAIS ________________________________________________________ 21 3.3 DIETA __________________________________________________________ 21 3.4 INDUÇÃO DE HIPERCOLESTEROLEMIA ______________________________ 22 3.5. EUTERPE OLERACEA (AÇAÍ)_______________________________________ 22 3.5.1 Composição Química da Euterpe Oleracea_________________________ 22 3.6 PARAMETROS AVALIADOS NO PROTOCOLO EXPERIMENTAL ___________ 24 3.6.1 Aspectos laboratoriais ___________________________________________ 24 3.6.1.1 Dosagens bioquímicas __________________________________________ 24 3.6.1.2 Metodologia empregada ________________________________________ 24 3.6.1.3 Lípides _______________________________________________________ 24 3.6.1.4 Quantificação dos Esteróis ______________________________________ 25 3.7 SACRFÍCIO DOS ANIMAIS __________________________________________ 25 3.7.1 Aspectos cirúrgicos - Retirada da Artéria Aorta _______________________ 25 vi 3.7.2 Análise Histopatológica das Aortas ___________________________________ 26 3.7.2.1 Avaliação Macroscópica ________________________________________ 26 3.7.2.2 Avaliação da Extensão das Lesões Ateromatosas ___________________ 26 3.7.2.2.1 Avaliação Microscópica _______________________________________ 27 3.7.2.2.2 Avaliação Histológica por Microscopia óptica _____________________ 27 3.7.3 Estudo Imuno-histoquímico _______________________________________ 27 3.7.4 Estudo Histopatológico __________________________________________ 28 3.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA ___________________________________________ 29 4 RESULTADOS ____________________________________________ 30 5 DISCUSSÃO ______________________________________________ 36 6 CONCLUSÕES ____________________________________________ 39 REFERÊNCIAS _____________________________________________ 40 ANEXOS _____________________________________________________ Anexo 1: Parecer do Comitê de Ética Institucional ____________________ Anexo 2: Manuscrito _____________________________________________________ vii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mecanismo de ação do fitosterol________________________________33 Figura 2: Palmeira do Euterpe oleracea (açaí)_____________________________33 Figura 3: Cachos e frutos do Euterpe oleracea (açaí)_______________________33 Figura 4: Euterpe oleracea (açaí) sendo despolpado_______________________33 Figura 5: Extrato (vinho) do Euterpe oleracea (açaí)________________________33 Figura 6: Organograma do desenho experimental_________________________33 Figura 7: Box plots da área de placas no arco aórtico e relação íntima/média___33 Figura 8: Box plots da área das placas mensuradas por planimetria__________34 Figura 9: Box plots de imagens representativas de aortas coradas pelo Sudam III__________________________________________________________________35 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Composição química da Euterpe oleracea_____________________22 Tabela 2. Pêso dos animais nas semanas 12 e 24________________________29 Tabela 3. Perfil lipídico e glicemia nas semanas 12 e 24__________________30 Tabela 4. Desmosterol, campesterol e beta-sitosterol ao final do estudo____31 Tabela 5. Composição das placas das aortas ao final do estudo por grupo__32 ix LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AVC: Acidente vascular cerebral CT : Colesterol total DAC: Doença arterial coronariana DCNT: Doenças crônicas não transmissíveis DCV: Doenças cardiovasculares DHA: Ácido graxo docosahexaenóico DM2: Diabetes mellitus tipo 2 DNA: Ácido desoxirribonucleico ECA: Enzima conversora de angiotensina EDTA: Ácido etilenodiamino tetra-acético EMI: Espessura médio-intimal eNOS: Óxido nítrico sintetase endotelial EPA: Ácido graxo eicosapentaenóico FR: Fatores de risco H2O2: Peróxido de hidrogênio HÁ: Hipertensão arterial HDL: Lipoproteína de alta densidade HE: Hematoxilina e eosina I/M: Relação íntima média IAM: Infarto agudo do miocárdio ICAM-1: Molécula de adesão inter-celular 1 IgG: imunoglobulinas G IMC: Índice de massa corpórea ICAM-1: Molécula de adesão intercelular 1 x LDL: Lipoproteína colesterol de baixa densidade LDLox: Lipoproteína de baixa densidade oxidada NCEP: Programa de Educação Nacional do Colesterol NF-KB: Fator nuclear kappa B NPC1L1: Proteína Niemann-Pick C1 Like 1 PBS: Tampão fosfato salino PCR: Proteína C-reativa PECAM-1: Molécula de adesão de plaquetas/célula endotelial RI: Resistência a insulina SEM: Erro padrão da média SM: Síndrome metabólica VCAM-1: Molécula de adesão ao endotélio vascular VLDL: Lipoproteína de muito baixa densidade WHO: Organização mundial de saúde xi RESUMO Introdução: Euterpe oleracea (açaí) é uma fruta da região amazônica, cuja composição química pode ser benéfica para indivíduos com aterosclerose. Nós hipotetizamos que o consumo de Euterpe oleracea poderia reduzir o desenvolvimento da aterosclerose por uma redução na absorção e síntese de colesterol. Métodos: Coelhos machos Nova Zelândia foram alimentados com uma dieta enriquecida em colesterol (0.5%) por 12 semanas, quando foram aleatoriamente distribuídos para tratamento com Euterpe oleracea ou água além de dieta enriquecida em colesterol (0,05%) por 12 semanas adicionais. Fitosteróis plasmáticos e desmosterol foram determinados por cromatografia líquida de alto desempenho e espectrometria de massa. As lesões ateroscleróticas foram estimadas por planimetria computadorizada. Resultados: Ao sacrifício, os animais tratados com Euterpe oleracea tiveram menores níveis de colesterol total (p=0.03) e de colesterol não-HDL (p=0.03) em comparação aos controles. Estes animais tiveram menores areas de aterosclerose em suas aortas ((p=0.001) e menor relação íntima/média (p=0.002) em comparação aos controles. Ao final do estudo, os valores plasmáticos de campesterol, β-sitosterol, e desmosterol não diferiram entre os grupos. Entretanto, os animais tratados com Euterpe oleracea mostraram menores valores para as relações desmosterol/campesterol (p=0.026) e desmosterol/β-sitosterol (p=0.006) em comparação aos controles. Conclusões: Consumo do extrato de Euterpe oleracea marcadamente melhora o perfil lipídico e atenua a aterosclerose. Estes efeitos foram em parte relacionados a um melhor balanço entre síntese e absorção de esteróis. Palavras-chave: Euterpe oleracea, aterosclerose, lípides, desmosterol, fitosteróis. xii ABSTRACT Background: Euterpe oleracea (açaí) is a fruit from the Amazon region, whose chemical composition may be beneficial for individuals with atherosclerosis. We hypothesized that consumption of Euterpe oleracea would reduce therosclerosis development by a decrease in cholesterol absorption and synthesis. Methods: Male New Zealand rabbits were fed a cholesterol-enriched diet (0.5%) for 12 weeks, when they were randomized to receive Euterpe oleracea extract or water plus a 0.05% cholesterol-enriched diet for additional 12 weeks. Plasma phytosterols and desmosterol were determined by ultra performance liquid chromatography and mass spectrometry. Atherosclerotic lesions were estimated by computerized planimetry. Results: At sacrifice, animals treated with Euterpe oleracea had lower levels of total cholesterol (p=0.03) and non-HDL-cholesterol (p=0.03) as compared to controls. These animals had smaller atherosclerotic plaque area in their aortas (p=0.001) and a smaller intima/media ratio (p=0.002) in comparison with controls. At the end of the study, campesterol, β-sitosterol, and desmosterol plasma levels did not differ between groups. However, animals treated with Euterpe oleracea showed lower values for the desmosterol/campesterol (p=0.026) and desmosterol/β-sitosterol (p=0.006) ratios as compared to controls. Conclusion: Consumption of Euterpe oleracea extract markedly improved the lipid profile and attenuated atherosclerosis. These effects were related in part to a better balance in the synthesis and absorption of sterols. Key words: Euterpe oleracea, atherosclerosis, lipids, desmosterol, phytosterols xiii 1 INTRODUÇÃO 1.1 EPIDEMIOLOGIA As doenças cardiovasculares (DCV) assumem importante destaque na mortalidade mundial, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, sendo responsáveis por aproximadamente 50% das mortes em países ocidentais. Desde a década de 1970 a taxa de mortalidade por idade foi reduzida pela metade em países industrializados, inclusive nos Estados Unidos, talvez devido ao maior controle de fatores de risco como hipercolesterolemia, hipertensão arterial e tabagismo (FORD et al., 2007; CAPEWELL et al., 2010). Estima-se que 2/3 das mortes por DCV ocorram em países em desenvolvimento, como o Brasil, taxa que corresponde ao dobro da observada em países desenvolvidos (LAURENTI; BUCHALLA, 2001). No Brasil, a principal causa de morte ainda é o acidente vascular cerebral (AVC), entretanto em alguns locais, como o Estado de São Paulo o perfil de mortalidade se assemelha ao de países mais desenvolvidos, ou seja, a maior mortalidade decorre da doença coronária aterosclerótica (DAC) e o AVC ocupa o segundo lugar (LOTUFO; LOLIO, 1993; LOTUFO, 2005; WHO, 2008). A doença cardiovascular tem custo mais elevado em países em desenvolvimento que em países desenvolvidos (MARTINEZ et al., 2003; RIBEIRO et al., 2005), e a previsão para esses países é de piora desse quadro nos próximos anos se não conseguirmos realizar o controle adequado dos fatores de risco. (LUZ et al., 2003; SCHERR; RIBEIRO, 2009; SPOSITO et al., 2007; BLASI, 2008), elas são responsáveis por grande parte da mortalidade dos brasileiros, correspondendo a 31% do total, sendo proporcionalmente maior nas mulheres em relação aos homens (BERTOLAMI, M; BERTOLAMI, A, 2006). Essas doenças representam um crescente encargo para a sociedade, para a família e para o indivíduo (MURRAY; LOPEZ, 1996; WHO, 2005). Entre os 58 milhões de óbitos mundiais em 2005, 35 milhões foram causados pelas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), o que representa o dobro do número total de óbitos por todas as doenças de notificação obrigatória. Em 2006 a World Health Statistics apontou que entre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), as doenças circulatórias despontam como a 2 principal causa de óbito, responsável por 31% de todos os casos, cerca de 17,5 milhões de óbitos (WHO, 2006). A experiência de países desenvolvidos indica que intervenções sustentadas na prevenção primária e secundária da doença aterosclerótica podem reduzir em até 4% a mortalidade média anual em pessoas na faixa etária entre 60 - 69 anos, e em até 3% na faixa etária entre 70 - 79 anos. Essas faixas etárias, após intervenções contínuas, foram as que mais evidenciaram queda na mortalidade em vários países na década de 1990 (YACH, 2004; Australian Institute of Health And Welfare (AIHW), 2006; STRONG; MHATERS; BONITA, 2007). Além das medidas de intervenção na prevenção primária e secundária, a efetiva implementação dos resultados de vários ensaios clínicos aleatorizados, como, por exemplo, o uso de drogas trombolíticas, de novas drogas antitrombóticas, a anticoagulação na fibrilação atrial crônica, a disseminação de unidades de AVC, e a endarterectomia carotídea conseguiram reduzir em até 80% a incidência de AVC (SILVA; LIMA, 2002; FONSECA et al., 2003; WALD; LAW, 2003). Apesar dos grandes avanços nas áreas de diagnóstico e tratamento das doenças cardiovasculares, a prevenção continua sendo o principal caminho para combater esse problema. A prevenção tem como base o conhecimento dos fatores de risco que levam à doença aterosclerótica, e entre esses fatores, a dislipidemia destaca-se como um dos mais importantes, pois, representa um dos seus principais desencadeantes, sendo o aumento dos níveis de colesterol o principal fator envolvido no seu desenvolvimento (JALDIN et al., 2006). 1.2 FATORES DE RISCO Na primeira metade do século passado, experimentos com animais e observações clínicas hipercolesterolemia, ligaram ao risco certas condições, aumentado de como eventos por exemplo, a aterotrombóticos (BRAUNWALD, 2002). Após a avaliação de desfechos de estudos clássicos, como o de Framingham e o Seven Countries Study, houve melhor compreensão das doenças cardiovasculares e também, da relação entre alguns fatores e o risco de desenvolver doenças cardiovasculares (DCV) (KEYS, 1970; PETER et al., 1998; GORDON et al., 1981). A partir de então, a lista desses fatores continua crescendo, 3 dentre estes já implicados na patogênese da aterosclerose, podemos listar: idade, sexo, hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus tipo 2 (DM2), dislipidemia, história familiar de infarto precoce do miocárdio, resistência periférica à insulina (RI), obesidade e sedentarismo. Atualmente outros fatores, como níveis séricos aumentados de homocisteína, lipoproteína (a), fibrinogênio e proteína C reativa, bem como algumas infecções crônicas por organismos do gênero Chlamydia vêm sendo investigados quanto a suas possíveis implicações neste processo (BRAUNWALD et al., 2002; RIDKER et al., 2009), assim como também, a idéia de que tais fatores possam ter uma etiopatogenia comum, pois, um hábito de vida sedentário, um ambiente ansiogênico e uma alimentação hipercalórica rica em carboidratos e gorduras saturadas, ao longo do tempo, podem levar à obesidade, aumento gradual da resistência a insulina (RI), dislipidemia, hipertensão arterial (HA), diabetes mellitus tipo 2 e síndrome metabólica (SM) (KANNEL, 2000; NCEP, 2002; SILVA; LIMA, 2002; LINDSAY; HOWARD, 2004; TEIXEIRA et al., 2005; BRANDÃO et al., 2005; MICHA et al., 2010; CHEN et al., 2010). Alguns estudos mostram os benefícios do controle dos FR, como o estudo de Ciorlia e Godoy, com seguimento de até 20 anos (CIORLIA; GODOY, 2005), o de Caterina, demonstrando a relação entre a redução do colesterol e a incidência de AVC (DE CATERINA et al., 2010). No Brasil, por meio dos dados do estudo AFIRMAR, foi verificado que a maioria dos fatores de risco (FR) para infarto agudo do miocárdio (IAM) é passível de prevenção (PIEGAS et al., 2003). Outros estudos no Brasil, também enfatizam a grande importância do controle dos fatores de risco na prevenção do infarto agudo do miocárdio (AVEZUM; PIEGAS; PEREIRA, 2005; BERTOLAMI, M; BERTOLAMI, A, 2006). O INTERHEART (YUSUF, 2004), um estudo destinado ao exame de fatores de risco para doença arterial coronariana, foi desenvolvido em 262 centros de 52 países dos cinco continentes, onde pacientes com infarto do miocárdio nas primeiras 24 horas foram comparados com um grupo controle e se verificou que nove fatores de risco explicaram mais de 90% do risco para o infarto do miocárdio. O tabagismo e a dislipidemia representaram mais de dois terços deste risco. Em outro estudo que incluiu 22 países e 6.000 pessoas, metade das quais tinha sofrido um acidente vascular cerebral, os investigadores identificaram dez fatores de risco 4 comuns, entre os quais tabagismo, pressão arterial e gordura abdominal, apresentado no World Congresso of Cardiology (O’DONNELL et al., 2010). Dentre os fatores de risco encontrados no estudo INTERSTROKE, cinco foram mais prevalentes a hipertensão arterial, o tabagismo, o consumo de álcool, a gordura abdominal e a má alimentação que são fatores de risco passíveis de intervenção. De acordo com uma revisão feita pela American Heart Association (AHA), três classes de compostos encontrados nas frutas e vegetais como os esteróis, flavonóides e compostos contendo enxofre, ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) e poliinsaturados (AGPI), de vitaminas e minerais com ação antioxidante (A, C, E, Se), de ligninas, podem ser importantes na redução do risco de arteriosclerose (MOREIRA et al., 2006; NAGAO; YANAGITA, 2008; O’DONNELL et al., 2010). Os esteróis vegetais ou fitosteróis são substâncias de origem vegetal, cuja estrutura química é muito similar à do colesterol. A sua ação hipocolesterolêmica parece resultar da inibição da absorção do colesterol no intestino delgado, resultante do fato de haver competição entre os fitosteróis e o colesterol na solubilização da micela, alterando a atividade de enzimas envolvidas no metabolismo e excreção do colesterol. Os fitoesteróis são mais hidrofóbicos e têm maior afinidade pelas micelas do que o colesterol, logo estes são menos absorvidos e mais excretados (Fig.1). Os principais tipos de fitoesteróis são o β-sitosterol, sitostanol e campesterol. O βsitosterol, principal fitosterol extraído dos óleos vegetais, e o sitostanol-éster, produto de sua esterificação, reduzem a absorção do colesterol alimentar, em torno de 30 a 40% (ROBERFROID; CALDERON, 1994; LOTTENBERG, 2002; LU, 2007). Alguns estudos clínicos e também experimentais têm mostrado que a adição de 3 g/dia de fitoesteróis na dieta pode reduzir os níveis plasmáticos tanto do colesterol total como da fração LDL-colesterol, mas as concentrações Fig.1 Mecanismo Ação do Fitosterol de HDL-colesterol e de triglicérides não apresentam modificações significativas (SANTOS, 2001; SALGADO et al., 2008). O consumo diário de 1,6g de esteróis vegetais reduziu eficazmente o LDL-colesterol em indivíduos com hipercolesterolemia moderada sem efeitos deletérios nos biomarcadores de stress oxidativo (LOTTENBERG et al., 2002; HANSEL et al., 2007). O EPIC NORTFOLK, estudo realizado com mais de 22 mil pessoas, observou 5 que quanto maior o consumo de fitosteróis, menor é o valor plasmático do LDL, tanto em homens quanto em mulheres (ANDERSSON et al., 2004). Uma metanálise que envolveu mais de 6.000 pacientes observou que o consumo de aproximadamente 2,0 g/dia de fitosterol levou a uma redução de 10% do nível do LDL-C plasmático e que existe uma relação linear, de forma que quanto maior o consumo de fitoesterol maior é a redução do LDL, até 3,0 g/dia, consumidos num único período ou ao longo do dia (DEMONTY et al., 2009). Os transportadores responsáveis pela eliminação do colesterol e fitosteróis são ABCG5 e ABCG8, devolvendo estes esteróis à luz intestinal. Foram também descritos no fígado, onde secretam na bile, pela mesma via, os fitosterois e o colesterol, mecanismo este diferente da ação da ezetimiba que também reduz a absorção do colesterol, mas por meio da inibição do transportador NPC1L1 que é o responsável pela absorção de esteróis livres na parede intestinal (KATRAGADDA; RAI; ARORA, 2010). Os fitosteróis, quando associados à estatina podem reduzir em até 17% o colesterol plasmático (BLAIR et al., 2000). Os flavonóides têm estruturas químicas variadas e são encontrados nas frutas, vegetais, nozes e sementes. Alguns têm mostrado efeito antioxidante, outros possuem efeitos antiplaquetários. As principais fontes de flavonóides incluem o vinho tinto e os produtos da soja (isoflavonas). O Euterpe oleracea Mart. contém 78mg de fitosteróis por litro do suco da fruta, os habitantes locais costumam consumir até um litro do suco dessa fruta /dia (ROGEZ, 2000), que contém 1,28 g de flavonóides por litro de suco, sendo o principal a cianidina-3 glucosídeo, comprovadamente três a cinco vezes mais forte do que o trolox (análogo da vitamina E) e um volume 10 a 30 vezes maior de antocianinas que o vinho tinto (ROGEZ, 2000; O’DONNELL et al., 2010). Os compostos fenólicos, ou polifenóis, presentes no Euterpe oleracea Mart., são os grandes responsáveis por sua atividade antioxidante, que atuam na prevenção da aterosclerose reduzindo a oxidação do LDL-colesterol. Também possuem alto teor de lipídios, o que lhes conferem alto valor energético. O Euterpe oleracea Mart. é uma fruta tropical rica em compostos bioativos como carotenóides, antocianinas e compostos fenólicos. Os carotenóides, como o betacaroteno e o licopeno, são pigmentos naturais com algumas propriedades como atividade antioxidante, anticancerígena e pró-vitamina A. As antocianinas pertencem à classe dos flavonóides e possuem ação hipolipemiante, antiplaquetária, antitrombótica e antioxidante. Esta fruta possui aproximadamente 0,2 a 3,8mg/100g de carotenóides totais, 14,0 a 54,0mg/100g de antocianinas e 183,0 a 600 mg/100g 6 de compostos fenólicos e encontra-se entre as frutas que apresentam maior capacidade antioxidante, sendo também rica em proteínas, vitaminas, minerais e fibras, mantendo suas propriedades mesmo sob a forma de polpa congelada (KUSKOSKI et al., 2006; SCHAUSS et al., 2006; ALMEIDA et al., 2006; SANTOS et al., 2008). Estudos experimentais e clínicos mostram ação protetora de vitaminas antioxidantes (beta-caroteno e vitamina E) na aterosclerose (KANG; LEAF, 2000). Os flavonóides também são antioxidantes, encontrados nos alimentos, principalmente verduras, frutas, grãos, sementes, castanhas, condimentos e ervas e também em bebidas como vinho e chá (RIBEIRO; SHINTAKU, 2004). O estudo realizado por Lin mostrou que a suplementação com fitosteróis na dieta pode modificar o metabolismo do LDL-colesterol (LIN et al., 2010), principalmente com o uso de doses mais elevadas (RACETTE et al., 2010). Tão importante quanto os fitosteróis, são as fibras vegetais. Na década de 1970 começaram a surgir estudos relacionando as fibras com a saúde, em pesquisas demonstrando que em comunidades que consumiam poucos alimentos processados industrialmente, eram raras as doenças como hipertensão, infarto do miocárdio, obesidade e distúrbios gastrointestinais, (NEVES, 1997; GONÇALVES, 2007). Em nosso País, não existe uma avaliação precisa do consumo de fibras dietéticas, muito embora, alguns trabalhos já alertem para o baixo consumo de fibras em todas as classes sociais, como conseqüência da ingestão reduzida de frutas e hortaliças (MATTOS; MARTINS, 2000). Estudos realizados tanto com animais (RIBEIRO et al., 1998; ROSA et al., 1998: PIEDADE; CANNIATTI-BRAZACA, 2003; ODETOLA; IRANLOYE, Y; IRANLOYE, O, 2004), quanto com humanos (OLIVEIRA; SICHIERI, 2004; JENKINS et al., 2005; DIKEMAN; MURPHY; FAHEY, 2006; ROGOVIC et al., 2006), permitem evidenciar os efeitos benéficos das fibras solúveis na atenuação da dislipidemia, a partir de diferentes mecanismos de ação, ligados principalmente a redução da absorção intestinal do colesterol dietético, ao aumento da excreção fecal dos ácidos biliares, forçando o fígado a degradar mais colesterol, para produzir novos ácidos biliares, e pela própria inibição da síntese endógena do colesterol pela succinil-CoA, formada a partir do propionato originado do metabolismo das fibras solúveis no intestino (LÓPEZ et al., 1997; RAUP et al., 2000; MARLETT; MCBURNEY; SLAVIN, 2002). 7 Mais recentemente, num estudo transversal de menor porte com cerca de 2.000 mulheres que fizeram parte da população do estudo National Health and Nutrition Examination Survey (1999-2000), onde se avaliou a relação entre a ingestão de grãos integrais e o IMC, demonstrou que mulheres que costumavam consumir mais frequentemente grãos integrais tinham valores de IMC e circunferência da cintura menores, e menor predisposição para terem sobrepeso (SAVAGE; MARINI; BIRCH, 2008; GOOD et al., 2008). Todavia, faz-se necessário um maior número de estudos (GONÇALVES et al., 2007; MELLO; LAAKSONEN, 2009). Várias pesquisas têm demonstrado uma redução da taxa de mortalidade para doenças cardiovasculares após o uso de ácidos graxos poliinsaturados ômega 3 de cadeia longa (EPA, DHA) e de cadeia mais curta (Ácido α-linolênico - ALA) (CONNOR, 2000; MORISE, 2004; RIBEIRO; SHINTAKU, 2004). 1.3 FISIOPATOLOGIA DA ATEROSCLEROSE Estudos experimentais e clínico–epidemiológicos comprovam que a aterosclerose é uma doença multifatorial, e como tal é necessária uma abordagem mais abrangente no controle dos múltiplos fatores de risco cardiometabólicos, dentre estes fatores a hipercolesterolemia exerce um papel muito importante. (KANNEL, 2000; NCEP, 2002; LINDSAY; HOWARD, 2004; TEIXEIRA et al., 2005; BRANDÃO et al., 2005). Atualmente não se discute mais a influência da hipercolesterolemia na doença arterial coronária. Os níveis sanguíneos de colesterol são determinados em grande parte por fatores genéticos e fatores ambientais (NCEP, 2001; POZZAN; POZZAN, R; BRANDÃO, 2005; BAIGENT et al., 2006; GIROLDO; ALVES; BATISTA, 2007; KOLANKIEWICZ; GIOVELLI; BELLINASO, 2008). Atualmente se sabe que a história natural da aterosclerose, vai muito além da dislipidemia (LIBBY, 2002). Ela consiste em um processo crônico, progressivo, sistêmico, degenerativo de etiologia multicausal caracterizada por resposta inflamatória e fibroproliferativa da parede arterial, a qual é determinada por agressões à superfície arterial (SOWERS; EPSTEIN; FROHLICH, 2001). O distúrbio da função do endotélio vascular é o passo inicial para a aterogênese (GORDON et al., 1981; BRAUNWALD, et al.,2002), sendo a hipercolesterolemia um dos seus 8 principais desencadeantes (NCEP, 2002). Em 1999, Russel Ross, um dos principais estudiosos da fisiopatologia da aterosclerose, mostrava a aterosclerose como doença inflamatória (ROSS, 1999), demonstrou que a elevação dos níveis de lipídios e de lipoproteínas, além da elevação de outras moléculas do sangue como a homocisteína, infecções e hipertensão, podem, induzir ou promover inflamações associadas à aterosclerose (ROSS, 1999). Essa pesquisa mudou a visão sobre a aterosclerose, surgindo então o conceito da aterosclerose como uma doença inflamatória crônica de origem multifatorial em resposta à agressão endotelial, uma doença generalizada da parede arterial, que pode evolutivamente progredir, regredir ou estabilizar-se, na dependência de uma série de fatores (AIKAWA; LIBBY, 2004). Esse processo dinâmico é caracterizado por remodelamento na parede arterial que pode permanecer silencioso por muito tempo ou pode manifestar-se como um evento vascular agudo, tornando-se clinicamente aparente, ou seja, a doença vascular aterosclerótica deve ser entendida como um complexo processo fisiopatológico, em que a inflamação crônica vascular se associa com ciclos de agudização da inflamação e de acentuação do estado pró-trombótico (NISSEN et al., 2004; SOLIMAN; KEE, 2008), acomete principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre, é um processo que se inicia na infância, apresenta progressão lenta, acometendo basicamente as artérias elásticas, como a aorta, carótidas e ilíacas e as artérias musculares de grande e médio calibre, como coronárias e poplíteas (ROSS; GLOMSET, 1976; LIBBY, 2002; ENGELHORN et al., 2005; SPOSITO et al., 2007). A American Heart Association classifica as lesões ateroscleróticas em dois grupos: lesões precursoras e avançadas. As lesões do tipo precursoras são silenciosas, discretas e não provocam desorganização da íntima, da média e nem da adventícia, elas podem ainda ser subdivididas segundo um critério predominantemente morfológico em lesões do tipo I, II e III (ZHAN-LONG et al., 2008). As lesões do tipo avançadas envolvem a desorganização da íntima arterial, promovem um aumento significativo de sua espessura, provocando sérios danos como trombose, embolia, necrose, infarto e hemorragia, assim como também o excesso de lipídios pode modificar a morfologia da média e da adventícia. Elas se classificam em lesões do tipo IV a VIII. É indiscutível que as lesões avançadas 9 podem trazer conseqüências deletérias à saúde do indivíduo, entretanto, é importante lembrar que as lesões precursoras provêm o caminho para que as lesões avançadas se desenvolvam (FRANÇA, T; FRANÇA, N, 2001). A formação da placa aterosclerótica tem início com a agressão ao endotélio vascular que pode ocorrer por diversos fatores como, a hipertensão arterial, o tabagismo, a elevação de lipoproteínas aterogênicas que levam a disfunção endotelial, manifesta principalmente por deficiência de óxido nítrico (NO) e prostaciclina e por aumento dos níveis circulantes de endotelina-1 (ET-1), angiotensina II (ang. II) e inibidores do ativador do plasmonogênio-1(PAI-1) (PACKARD; LIBBY, 2008), aumentando assim a permeabilidade da íntima às lipoproteínas plasmáticas favorecendo a retenção das mesmas no espaço subendotelial. O mecanísmo inicial da aterogênese é o depósito de lipoproteínas na parede arterial que ocorre de modo proporcional à concentração dessas lipoproteínas no plasma. Outra manifestação da disfunção endotelial é o surgimento de moléculas de adesão leucocitária na superfície endotelial processo esse estimulado pela presença de LDL minimamente oxidada. Em uma edição de 1989, do New England Journal of Medicine, o pesquisador Daniel Steinberg postulou que os radicais livres alteram ou oxidam o colesterol LDL e que se a esses pacientes fosse fornecido antioxidantes adequados seria possível evitar essa oxidação (STEINBERG, 1989). As moléculas de adesão leucocitária são indutoras da produção de substâncias quimiotáxicas pelos macrófagos, levando a um processo de adesão monocitária e interiorização no espaço subendotelial, ou seja, são responsáveis pela atração de monócitos e linfócitos T para a parede arterial. Os monócitos migram para o espaço subendotelial onde se diferenciam em macrófagos que captam as LDL oxidadas, ficam repletos de lípides e passam a ser chamados de células espumosas, sendo os principais componentes das estrias gordurosas que são as lesões macroscópicas iniciais da aterosclerose. Alguns mediadores da inflamação estimulam a migração e proliferação das células musculares lisas da camada média arterial que ao migrarem para a íntima passam a produzir citocinas, fatores de crescimento e matriz extracelular que formará parte da capa fibrosa da placa aterosclerótica. A placa aterosclerótica é constituída por elementos celulares, componentes da matriz extracelular, núcleo lipídico que é rico em colesterol e uma capa fibrosa rica em colágeno. (LIBBY, 2003; SPOSITO et al., 2007; ARAÚJO, 2007; BLASI, 2008). 10 1.3.1 Indução de aterosclerose em coelhos A primeira investigação sobre indução experimental de aterosclerose ocorreu em 1908 com Ignatowski, que utilizou coelhos alimentados com leite, carne e ovo e observou espessamento da íntima em suas aortas. Logo depois, Lubarsch (1910, 1912) e Steimbiss (1913) desenvolveram aterosclerose em aorta de coelhos com dietas envolvendo fígado, adrenal e músculo (IGNATOWSKI, 1908; MOGHADASIAN, 2002). Na Rússia, em 1912, o pesquisador Nicolai Anitschkov induziu aterosclerose em coelhos alimentados com gemas de ovos misturadas a óleo de girassol. No ano seguinte o próprio Nicolai publicou o que veio a ser o primeiro experimento de reprodução de aterosclerose em animais na história da medicina. Esses trabalhos foram praticamente esquecidos, mas retornaram com toda força por volta de 1954, quando também da Rússia o pesquisador David Kritchevsky confirmou que coelhos alimentados com gorduras e colesterol apresentavam lesões ateromatosas, afirmou também que a administração de gorduras poliinsaturadas tinha provocado diminuição nos níveis de colesterol dos animais pesquisados (KRITCHEVSKY et al., 1989; KRITCHEVSKY, 2001; PUPPIN, 2004). Em 1926, Clarkson e Newburgh, alimentaram coelhos com dieta rica em colesterol e encontraram moderada aterosclerose em 71% dos coelhos alimentados com 507 mg/dia de colesterol por 47-87 dias. Meeker e Kesten (1940-1941) dissolveram 60 ou 250 mg de colesterol em óleo vegetal e acrescentaram à dieta de coelhos por três meses e verificaram que os animais desenvolveram lesões ateroscleróticas típicas, similares àquelas vistas em humanos, permanecendo, deste modo, a teoria de que o colesterol é o precursor para o desenvolvimento de doença vascular aterosclerótica (KRITCHEVSKY, 1995). Para induzir hipercolesterolemia em animais, têm-se utilizado dietas contendo 1% de colesterol em rações, em várias pesquisas, alcançando hipercolesterolemia moderada com níveis de colesterol plasmáticos na faixa de 200 a 800 mg/dl (HOLVOET; COLLEN, 1997; IHARA et al.,2001), mas essas lesões produzidas são topográfica e morfologicamente dissimilares àquelas vistas em humanos, devido em parte, ao fato de que humanos comumente não ingerem grandes quantidades de colesterol, e em geral, seus níveis de colesterol plasmático não excedem 800mg/dl, 11 além do que processam e toleram o consumo de colesterol melhor do que os coelhos (KOLODGIE et al., 1996). Essa indução é para investigarmos substâncias que podem ser viabilizadas, no futuro, como medicamentos no controle do metabolismo lipídico e no desenvolvimento de testes de potenciais terapias e diagnósticos entre diferentes procedimentos experimentais (PERCEGONI et al., 2004; LIMA et al., 2008). As lesões ateroscleróticas observadas são compostas por três componentes maiores, o primeiro é o componente celular, que predominantemente compreende células musculares lisas e macrófagos, o segundo componente é o tecido conectivo matriz e lipídio extracelular e o terceiro componente é o lipídio intracelular, que se acumula dentro de macrófagos, convertendo-se, então, em células espumosas (CROWTHER, 2005). Tem sido observada a presença de leucócitos aderidos ao arco aórtico torácico e abdominal de coelhos após três semanas de dieta enriquecida com 0,2% de colesterol; ao se aumentar o tempo de indução para 3-5 semanas com essa mesma dieta, numerosas células espumosas são encontradas no espaço subendotelial e constituem o desenvolvimento de camadas de gordura na mesma localização em que monócitos aderentes foram observados anteriormente (ROSENFELD et al., 1987). O coelho é a espécie mais estudada, em especial a linhagem Nova Zelândia, citada pela primeira vez por IGNATOWSKI (1908) e isso se deve ao fato desta espécie desenvolver hipercolesterolemia, em poucos dias, quando se administra uma dieta acrescida de colesterol entre 0,1 a 2% por aproximadamente 12 semanas (BOCAN et al., 1993; YANNI, 2004; JALDIN et al., 2006; RIEDMÜLLER et al., 2010). Esse modelo permite a formação de lesões ateroscleróticas nas aortas torácica e abdominal (PATEL et al., 2008; DUCKWORTH et al., 2009) assim como, em carotídas (YANNI, 2004; HERTZEL et al., 2008). Bocan et al (1993) forneceram a coelhos uma dieta composta por níveis variáveis de colesterol, mostrando que a extensão e o tipo de lesão aterosclerótica eram proporcionais à concentração de colesterol plasmático, o qual, por sua vez, aumentava de acordo com a percentagem de colesterol na dieta. As alterações no perfil lipídico ocorriam precocemente, cerca de duas semanas após a introdução da dieta hipercolesterolêmica. Já as lesões nas aortas de coelhos dependiam da concentração do colesterol, assim como também da duração da dieta, sendo que uma baixa concentração de colesterol quando administrada por um longo período provocava lesões na artéria aórtica bastante 12 semelhantes às lesões que ocorrem em humanos (KOLODGIE et al., 1996; FINKING; HANKE, 1997; AIKAWA et al., 1998; SILVA; LIMA, 2002; FONSECA et al., 2003, HELFENSTEIN et al., 2011). A extensão da aterosclerose em aorta de coelhos pode ser quantificada pela superfície de lesões sudanofílicas (STAPRANS et al., 1998) e por análise imunohistoquímica (NAKAZATO et al., 1996). O grau de aterosclerose em coelhos tende a ser maior na aorta abdominal do que na torácica, o que pode ser devido ao efeito hemodinâmico ou pelo fato de que a aorta abdominal de coelhos diminui gradualmente abaixo na bifurcação aórtica e dessa forma, a aorta mais distal pode ter mais lesão em relação à aorta proximal (JOHNSTONE et al., 2001). Mudanças ateromatosas com 08 semanas em coelhos alimentados com colesterol são formadas na aorta torácica e, então, estendem para a aorta abdominal, artéria coronária e outros vasos, predominando lesões concêntricas na aorta torácica e na porção proximal da artéria coronária (KAMIMURA et al., 1999). 1.3.2 Evolução da aterosclerose em humanos A doença aterosclerótica quando clinicamente manifesta progride rapidamente, com conseqüências fatais, logo é fundamental a abordagem preventiva na história natural das doenças cardiovasculares, sendo a prevenção um caminho viável, pois estudos epidemiológicos como os de Framingham, o MRFIT, nos Estados Unidos e o PROCAM na Europa (ASSMANN et al., 1998), já demonstraram claramente a importância dos fatores de risco para o desenvolvimento da aterosclerose e suas complicações e têm identificado fatores de risco que podem ser modificáveis e que levam a redução do risco cardiovascular (GORDON et al., 1981; PETER et al., 1998; NEATON et al., 1981; ASSMANN et al., 1998; NCEP, 2002; BERTOLAMI, M; BERTOLAMI, A, 2006). A importância da redução dos níveis de colesterol e LDL-C elevados na etiologia da doença arterial coronária (DAC) na prevenção tanto primária quanto secundária desta doença já está bem documentada, assim como também níveis elevados de HDL-C relacionados à proteção cardiovascular, tanto na prevenção primária quanto secundária (CASTELLI, 1986; CONSENSUS, 2002; GRUNDY et al., 2004), pois, estudos indicam que o HDL participa do transporte reverso do colesterol, inibindo o processo de aterogênese 13 (CASTELLI et al., 1986) e apesar da escassez de estudos que avaliem o benefício da manutenção dos triglicerídeos abaixo de 150mg/dl, todas as diretrizes aconselham a redução e manutenção como uma medida de prevenção cardiovascular, particularmente nos diabéticos, onde a hipertrigliceridemia em geral se associa a LDL-C pequena e densa e a redução do HDL-C, constituindo uma dislipidemia aterogênica (DUCKWORTH et al., 2009). O consumo de dietas ricas em ácidos graxos monoinsaturadas (ácido oléico) e poliinsaturados, em substituição a gorduras saturadas, assim como também a dieta rica em fitosteróis e fibras exercem efeitos fisiológicos sobre humanos, reduzindo os níveis plasmáticos de colesterol (REBOLLO et al., 1998; TURATTI et al., 1985; DE ANDELIS, 2001; MAGALHÃES;CHAGAS; LUZ, 2002; FEIO et al., 2003; HU, 2003; OPAS, 2003). 1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EUTERPE OLERACEA (AÇAÌ) O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador do açaí, bebida símbolo do país, rica em gorduras mono e poliinsaturadas, em fitosteróis e fibras, produzida a partir dos frutos do açaí. A bebida extraída da fruta é normalmente comercializada à temperatura ambiente ou então na forma congelada (MENEZES; TORRES; SABAA-SRUR, 2008). A Euterpe oleracea (açaí) é uma fruta típica da região Amazônica largamente consumida no Brasil e exportada para muitos países da Europa, Ásia e Américas. Estudos químicos revelam que a Euterpe oleracea é rica em antocianinas e em vários polifenóis (DEL POZO- INSFRAN; BRENES; TALCOTT, 2004; RODRIGUES et al.,, 2006; METENS-TALCOTT et al., 2008; CHIN, 2008; SANTOS, 2008). Alguns estudos demonstram que promove melhora da função endotelial além de aumentar a biodisponibilidade do óxido nítrico e a liberação do fator hiperpolarizante derivado do endotélio (ROCHA et al., 2007). Apresenta na sua composição ácidos graxos de boa qualidade (60% monoinsaturado e 13% poliinsaturado), e é também rico em fibras e vitamina E (EMBRAPA, 2006). Recentemente, alguns benefícios da Euterpe oleracea no perfil lipídico foram demonstrados num estudo envolvendo ratos hipercolesterolêmicos (DE SOUZA et al., 2010). Apesar de todos esses aspectos interessantes, seus efeitos no metabolismo lipídico e na aterosclerose são muito pouco conhecidos. 14 O açaí ocorre predominantemente na região Norte, e entre os estados mais valorizados produtores de açaí podemos citar o Pará, o Maranhão, o Amapá, o Acre e Rondônia, sendo o primeiro, responsável por 95% da produção, calculada em 100 a 180 mil litros/dia em Belém (HOMMA; FRAZÃO, 2002; OLIVEIRA et al., 2002; MENDES, 2003). Atualmente sua expansão econômica, já atinge novos mercados, no próprio país (sudeste) e até mesmo em alguns países da Europa, Estados Unidos, Japão e China (SOUTO, 2001; SILVA, 2002). O açaizeiro (Euterpe oleracea) destaca-se na rica floresta amazônica, como sendo a palmeira mais produtiva desse estuário, tanto em frutos como em gêneros derivados, sendo o fruto o principal produto oriundo da palmeira. Faz parte da família das palmáceas (MENEZES; TORRES; SABAA-SRUR, 2008). Esta palmeira brasileira é uma Figura 2: Palmeira do açaí planta que se desenvolve próxima aos ribeirões, rios, igapó, várzea e nas matas de terra firme, e com menos freqüência, em terrenos mais afastados e locais pantanosos (figura 2). É uma palmeira delgada e alta que pode atingir uma altura de 20 a 25 metros. O açaizeiro apresenta farta perfilhação e alcança, no estado nativo, cerca de 20 palmeiras por "touceira" (das quais pelo menos três em produção). Cada touceira produz entre 6 e 8 cachos com 2,5 kg cada um, representando de 15 a 20 quilos de frutos Figura 3: Cachos e frutos do açaí por palmeira (em duas safras) e de 12 a 25 toneladas de frutos/ano. Os troncos são lisos, roliços, longos, de cor clara, sem espinhos. A palmeira do açaí apresenta folhas grandes, compridas e recortadas em tiras, de cor verde-escura, atingindo até 2 metros de comprimento. As folhas são usadas na cobertura das casas (MATTOS, 1993). A frutificação mais intensa do Euterpe oleracea é de outubro a janeiro (MENEZES; TORRES; SABAA-SRUR, 2008).Os frutos são pequenos, redondos, roxos, quase pretos e agrupados em 15 cachos pendentes. Tem um caroço grande e polpa muito fina (figura 3). O fruto é colhido subindo-se na palmeira com o auxílio de um trançado de folha amarrado aos pés (a peçonha). O principal produto oriundo do fruto é uma bebida de consistência pastosa, denominada açaí. A consistência pastosa da bebida é devido aos elevados teores de Figura 4: Açaí sendo despolpado amido (9,30%) e pectina (0,67%) encontrados na parte comestível do fruto. São necessários cerca de 2,5 quilos de frutos maduros para a produção de um litro de suco de açaí. De cor arroxeada, a bebida é assim extraída: colocam-se os caroços do açaí de molho na água para amolecer a casca fina que os reveste, em seguida os caroços são amassados com certa quantidade de água e com o auxilio de pequenas despolpadeiras (Figura 4), originando assim o extrato de açaí (Figura 5), seu armazenamento se faz em pequenos sacos plásticos lacrados. (EMBRAPA, 2006). Figura 5: Extrato (vinho) de açaí No Estado do Pará existe um consumo extremamente elevado desta bebida que é rica em fibras, fitosteróis, ácidos graxos mono e poliinsaturados e antioxidantes (DEL POZO-INSFRAM; BRENES; TALCOTT, 2004). Segundo Rogez, o açaí possuí, em grande quantidade, o mesmo corante presente nas uvas, a antocianina e, segundo o pesquisador, um litro de açaí médio (entre a consistência fina e grossa) contém 33 vezes mais antocianina que um litro de vinho tinto “francês”. Na região, esta fruta é muito consumida sob a forma de “suco” ou “vinho”, sorvetes, cremes, geléias e etc. (ROGEZ, 2000). Alguns estudos sugerem vários benefícios à Euterpe oleracea (açaí), dentre eles podemos citar a sua ação vasodilatadora, anti-hipertensiva, antiinflamatória, sua ação na redução dos fatores de risco e nas desordens metabólicas como sugeriu 16 Oliveira, que realizou um estudo em que induziu a síndrome metabólica em ratos e observou que no grupo alimentado com a Euterpe oleracea houve uma redução da Síndrome metabólica (de OLIVEIRA et al., 2010). Um estudo realizado por Udani, também observou redução nos fatores de risco para síndrome metabólica ao alimentar 10 adultos que apresentavam sobrepeso, com 100g de Euterpe oleracea ao dia por um período de 30 dias e observou que ocorreu redução dos níveis dos marcadores de risco selecionados para síndrome metabólica (UDANI, et al., 2011). Noratto também sugeriu uma possível ação anti-inflamatória da Euterpe oleracea num estudo realizado em que observou uma inibição da expressão das moléculas de adesão e da atividade do NF-kB, por diminuírem a proteína ICAM-1 e a PECAM 1 (NORATTO et al.,2011). Apesar de possuir um alto teor de gordura, 66% destas gorduras são monoinsaturadas, que são gorduras benéficas ao organismo porque diminuem os níveis de colesterol LDL e ajudam a aumentar os níveis de colesterol HDL, auxiliando, assim, KUTHBERT;SPADY, na proteção 1993; do SESSIONS; sistema cardiovascular SALTER, 1995). (HORTON; Segundo as recomendações nutricionais atuais o perfil ideal é 50% de ácidos graxos monoinsaturados, máximo de 33% de ácidos graxos saturados e 17% de poliinsaturados. No açaí temos a seguinte proporção de gorduras: 60% de gorduras monoinsaturadas, 13% poliinsaturados e < 3% de saturadas. (EMBRAPA, 2006; NEPA-UNICAMP, 2006). O açaí contém 60% de ácido oleico, 22% de ácido palmítico, 12% de ácido linoléico e quanto aos fitosteróis um número recente do Journal of Agricultural and Food Chemistry, publicou uma pesquisa realizada com 12 voluntários saudáveis que consumiam o suco de açaí diariamente. De acordo com a pesquisadora responsável, Dra. Susanne Talcott, o açaí é pobre em açúcares e em sua visão, os benefícios são tantos que a fruta pode ser considerada uma "mistura de vinho tinto e chocolate". O estudo conduzido na Univesidade do Texas conseguiu mostrar que os antioxidantes (antocianinas e vitamina C) do açaí são muito bem absorvidos, o que pode contribuir para a prevenção de muitas doenças e condições como o câncer, os problemas cardiovasculares e o envelhecimento precoce (DEL POZO-INSFRAN; PERCIVAL; TALCOTT, 2006). Outros estudos, também referem importantes propriedades antioxidantes da Euterpe oleracea (METENS-TALCOTT et al., 2008; PACHECO-PALENCIA; MERTENS-TALCOTT; TALCOTT, 2008). 17 O açaí em si é uma fruta de grande valor energético e rico em valores nutricionais e até mesmo funcionais, então a sua ingestão deve ser o mais natural possível e em substituição a pequenas refeições. pois, como vimos na constituição do açaí a concentração de fibras alimentares totais é notavelmente elevada (em torno de 30g/100 g de matéria seca), lipídios totais em torno de 48g / 100g e as antocianinas em torno de 1.28 g em 1 litro de açaí do tipo médio, ou seja 1% da matéria seca. As fibras têm um papel muito importante na regulação do transito intestinal, sendo sua ingestão diária recomendada de cerca de 35g / adulto. A população do Pará consome esta fruta diariamente e em grande quantidade, portanto, atingindo facilmente essa cota, pois 1 litro de açaí do tipo médio contém 31,5 g de fibras alimentares totais, o que corresponde a 90% da recomendação diária, podendo o açaí realmente ser considerado uma excelente fonte de fibras e de lípides, pois, representam cerca de 90% das calorias contidas nessa bebida. Logo, o consumo de açaí permite assegurar um bom aproveitamento em ácidos graxos mono e poliinsaturados, de antioxidantes (flavonóides) e também de proteínas (12,6 g em 1 litro de açaí médio), sendo o valor nutricional muito semelhante ao do ovo (EMBRAPA, 2006). O Açaí é também uma importante fonte de fitoesteróis e apresenta a seguinte proporção: Sitosteróis (78%), stigmasterol (6.5%), campesterol (6.0%), avenasterol (6.5%) e colesterol (2.0%). (LUBRANO; ROBIN; KHAIAT, 1994; LEEDES; HUSSAIN, 1998; SILLBERBERG, 2000; COOK-FULLER, 2000; ROGEZ, 2000; RODRIGUES et al., 2006; SCHAUSS et al., 2006; PACHECO-PALENCIA; MERTENS-TALCOTT; TALCOTT, 2008; CHIN et al., 2008; METENS-TALCOTT et al., 2008). Segundo Rocha, o Euterpe oleracea Mart. melhora a função endotelial, provavelmente por aumentar a vasodilatação endotélio dependente, assim como a biodisponibilidade do óxido nítrico e do fator de hiperpolarização derivado do endotélio (ROCHA et al., 2007). Recentemente, foram relatados alguns benefícios do Euterpe oleracea nos biomarcadores do estresse oxidativo e no perfil lipídico de ratos hipercolesterolêmicos induzidos experimentalmente (de SOUZA et al., 2010). Em outro estudo semelhante, foi observado melhora dos componentes da síndrome metabólica (de OLIVEIRA et al., 2010). 18 2. OBJETIVOS Gerais: Avaliar os efeitos da Euterpe oleracea (açai) na aterosclerose induzida experimentalmente. Específicos: Analisar as modificações induzidas pela Euterpe oleracea (açai) no perfil lipídico e desenvolvimento de aterosclerose, no modelo de coelhos induzido por dieta rica em colesterol. Examinar as modificações na síntese e absorção de colesterol, pelas quantificações plasmáticas de desmosterol e dos fitosteróis (campesterol e sitosterol). 19 3. MÉTODOS 3.1 Desenho Experimental O estudo foi constituído por 30 coelhos, da raça Nova Zelândia, brancos, machos, com cerca de três meses de idade e peso entre 2,5 – 3,0 Kg, que permaneceram os primeiros 15 dias em adaptação. Após este período inicial foram coletados 10 ml de sangue total para as dosagens laboratoriais basais, sendo então a ração normal consumida anteriormente substituída por uma ração enriquecida com colesterol a 0,5%, para indução de hipercolesterolemia e desenvolvimento de aterosclerose, por um período de 12 semanas. Após novas determinações laboratoriais e verificação dos níveis de colesterolemia, os animais foram aleatoriamente alocados em dois grupos, o grupo I (açaí) e o grupo II (controle). Os animais de ambos os grupos passaram a receber dietas enriquecidas com colesterol a 0,05%, para indução de hipercolesterolemia moderada, mas diferenciadas como descritas a seguir: Grupo I – Dieta hipercolesterolêmica (0,05% de colesterol)+ 80 ml de açaí/dia + água Grupo II – Dieta hipercolesterolêmica (0,05% de colesterol) + água Após 12 semanas deste tratamento, novamente foram coletados 10 ml de sangue total para avaliação dos parâmetros. Neste momento, os animais foram sacrificados, retirando-se a artéria aorta em toda a sua extensão para quantificação da área ocupada pelas lesões ateroscleróticas e estudo histopatológico das placas de ateroma. 20 30 Coelhos 1º coleta de sangue - laboratório basal Dieta hipercolesterolêmica ( 0,5% de colesterol) 12 semanas 2º coleta de sangue: Glicemia Lipidograma Randomização dos Animais 15 coelhos Grupo Controle 12 semanas excluído sssssss ss Ração + 0,05% colesterol +água 3 coelhos morreram 12 coelhos controle 15 coelhos Euterpe oleracea Ração + 0,05% CT Euterpe oleracea 12 semanas 15 coelhos Eut.. oleracea 3ª col. de sangue : Glicemia, Lipidograma e Fitosteróis Sacrifício dos animais, retirada das aortas e coloração pelo Sudam III Coloração pelo SUDAM III Análise Histopatológica das Aortas - Avaliação macroscópica - Aval. extensão lesões ateromatosas - Avaliação microscópica - Aval. histológica por microsc. óptica - Estudo Imuno-histoquímico - Estudo Histopatológico Figura 6. – Organograma do desenho experimental do estudo 21 3.2 Animais Os animais foram adquiridos da empresa Criex Cunicultura Ltda / Mogi das Cruzes - São Paulo e durante todo o período do estudo foram alojados no biotério do laboratório de cirurgia experimental da Universidade Federal do Pará, localizado no "Hospital Universitário João de Barros Barreto", mantidos em gaiolas individuais (50 x 50 cm), de ferro galvanizado e pintadas, dispostas lado a lado, com fundo removível, para que não tivessem contato com seus dejetos, sendo higienizadas diariamente. A temperatura local foi mantida constante em torno de 22ºC, com ciclo de luz claro-escuro de 12 h, receberam água à vontade e ração peletizada Nuvilab cobaias (Nuvital, Brasil) nos primeiros 15 dias de adaptação. Posteriormente, como indicado em nosso protocolo, a ração foi enriquecida com colesterol 0,5% nas primeiras 12 semanas e 0,05% nas 12 semanas finais de forma similar em ambos os grupos. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa animal da Universidade Federal do Pará sob o número 002/2006. Todos os dias pela manhã foram recolhidas as sobras de ração do dia anterior, que era pesada para controle da ingestão de colesterol; foi realizado também o controle da ingestão de açaí por animal, diariamente. Os animais foram pesados mensalmente e o consumo de ração também foi controlado mensalmente. 3.3 Dieta A ração oferecida aos coelhos (Nuvilab Cobaias Nuvital, Brasil) apresentava a seguinte composição: milho integral moído, farelo de alfaia, farelo de soja, farelo de trigo, calcário calcítico, fosfato bicálcico, cloreto de sódio e vitaminas A, B, C, D, E, K, microelementos minerais e aminoácidos (DL- metionina). Durante os primeiros 15 dias de adaptação a ração foi oferecida livremente e se calculou a média da quantidade diária consumida por cada coelho que era cerca de 100 g ao dia. Os coelhos passaram então a receber a mesma ração acrescida de colesterol conforme já descrito. O colesterol em pó (Sigma C8503, EUA) foi misturado à ração, após a mesma ser moída, com uma pequena quantidade de água, para hidratá-la, formando então uma massa semi-pastosa que em seguida era colocada em uma 22 máquina industrial de moer carne formando, como produto final, pequenos pellets que foram colocados em uma estufa industrial a 60ºC, por 24 h, para secagem. Após o preparo, a ração foi separada em porções individuais de 100 g, para uso diário, sendo então colocada em sacos plásticos lacrados. Os animais foram pesados mensalmente e o consumo de ração controlado diariamente. 3.4 Indução de Hipercolesterolemia A hipercolesterolemia foi induzida por meio de uma dieta hipercolesterolêmica preparada na proporção de 0,5 g de colesterol em pó para 100 g de ração (0,5%); o colesterol foi obtido junto a empresa Sigma-Aldrich Brasil Ltda, representante exclusivo da Sigma Corporation (Sigma C8503, EUA). Após o preparo, a ração foi separada em porções individuais de 100 g, para uso diário, sendo então colocada em sacos plásticos lacrados. Após 12 semanas de dieta hipercolesterolêmica para o desenvolvimento de aterosclerose, os coelhos foram aleatoriamente designados para compor dois grupos, o grupo I (açaí) e o grupo II (controle). O açaí foi fornecido aos coelhos com base nos estudos realizados anteriormente por CONSTANTINIDES,1960; FANI,1987; JORGE, 1997; IHARA, 2001. 3.5 Euterpe oleracea (Açaí) A Euterpe oleracea foi obtida da região amazônica (Estado do Pará, Brasil). O vinho do açaí do tipo médio foi obtido por meio dos frutos maduros colocados de molho em água morna para que amoleçam e soltem do caroço. Em seguida, foram amassados em pequenas despolpadeiras (máquinas de inox artesanais), diluídos com uma pequena quantidade de água, na proporção de 2,5 Kg desses frutos para 40 ml de água, para se obter um litro do extrato, produzindo-se assim vinho de consistência pastosa e de cor vermelha-arroxeada. Após produzido, o vinho do açaí foi embalado em sacos plásticos que foram lacrados imediatamente para se evitar possíveis contaminações, fornecido pela empresa Francisco Ltda, grande produtora na cidade de Belém, que obedece às normas preconizadas de higienização. O mesmo foi produzido diariamente e enviado ao biotério, sendo oferecido imediatamente aos animais do grupo açaí em vasilhas de vidro, na quantidade de 80 23 ml/dia, puro sem acréscimos de água ou qualquer outra substância, durante 12 semanas. 3.5.1 COMPOSIÇÃO QUÍMCA DA EUTERPE OLERACEA A composição do extrato de Euterpe oleracea é descrita na Tabela 1, conforme dados de ROGEZ (2000). Tabela 1: Composição Química da Euterpe oleracea QT. COMPOSIÇÃO UNIDADE Matéria Seca % 15.00 Proteínas g/100 g(1) 13.00 Lipídios Totais g/100 g(1) 48.00 Gord. monoinsaturada g/100 g(1) 28.8 Gord. Poliinsaturada g/100 g(1) 6.24 Carboidratos g/100 g(1) 1.50 Frutose g/100 g(1) 0.00 Glicose g/100 g(1) 1.50 Sacarose g/100 g(1) 0.00 Fibras g/100 g(1) 34.0 Energia Kcal/100 g(1) 66.3 Cinza g/100 g(1) 3.50 Sódio mg/100 g(2) 56.9 Potássio mg/100 g(2) 932 Cálcio mg/100 g(2) 286 Magnésio mg/100 g(2) 174 Ferro mg/100 g(2) 1.50 Cobre mg/100 g(2) 1.7 Zinco mg/100 g(2) 7.0 Fósforo mg/100 g(2) 124 Vitamina B1 mg/100 g(2) 0.25 Alfa-tocoferol mg/100 g(2) 45.0 (1)Matéria seca; (2)Cálculo por diferença. Fonte: Rogez (2000). DE SECA MATÉRIA 24 Em adição aos dados fornecidos pela EMBRAPA sobre a composição química da Euterpe oleracea (Tabela 1), quantificamos os níveis de fitosteróis da mesma. Observamos uma concentração de 15 mg de fitosteróis por 100 g da fruta, principalmente às custas de β-sitosterol, em nossa análise por espectrometria de massa. 3.6. PARÂMETROS AVALIADOS DO PROTOCOLO EXPERIMENTAL 3.6.1 Aspectos Laboratoriais Para a coleta da amostra de sangue, após jejum de 12-14 horas, foram utilizados escalpes 21G (Becton Dickinson Indústrias Cirúrgicas Ltda), por meio dos quais foram colhidas amostras de sangue da artéria central da orelha dos coelhos que encontravam-se previamente imobilizados em uma caixa de contensão. Utilizouse o EDTA (BD VacutainerTM , Brasil) e o fluoreto de sódio (BD VacutainerTM , Brasil) como anticoagulantes. Foram colhidos 10 ml de sangue que foram centrifugados por 10 min a 3000 rpm para obtenção do soro para dosagens bioquímicas de colesterol total e do HDL-C, assim como dos triglicerídeos e glicemia. As dosagens bioquímicas foram processadas no Laboratório Paulo Azevedo . 3.6.1.1 DOSAGENS BIOQUÍMICAS Foi realizado um total de três coletas sanguíneas para a dosagem do perfil lipídico e glicemia dos animais, a 1ª, logo no início do estudo, para verificar o perfil lipídico basal dos coelhos, a 2ª, após as 12 semanas de indução de hipercolesterolemia, para poder se realizar a randomização dos animais e a 3ª, após as 12 semanas seguintes, no final do estudo. 3.6.1.2 MÉTÓDOS EMPREGADOS 3.6.1.3 LÍPIDES Os lípides foram determinados pelo método enzimático colorimétrico, usando os reagentes apropriados (Olympus) para o colesterol total (CT), HDL- colesterol 25 (HDL-C) e triglicerídeos (TG). Os níveis de glicose no sangue foram dosados pelo método enzimático colorimétrico (Advia, 1650, Bayer, Japan). 3.6.1.4 QUANTIFICAÇÃO DO FITOSTERÓIS Para a quantificação do β-sitosterol e do campesterol (marcadores da absorção do colesterol), assim como do desmosterol (precursor endógeno da síntese do colesterol) foi usada a cromatografia líquida de ultra performance (UPLC) e espectrometria de massas (MS). Estes esteróis foram quantificados em amostras de plasma por um método desenvolvido pela Synchrophar (Campinas, SP, BRASIL). O método consiste na extração líquido a líquido, seguido pela separação no sistema UPLC e detecção com o ion APCI nascente da massa espectrofométrica operando sobre “íon simples monitorados” para cada esterol (β-sitosterol, campesterol e desmosterol). A extração foi realizada com uma mistura de dietil éter e hexanes (80 ∕ 20; v ∕ v) por centrifugação seguida de evaporação da camada orgânica a 50ºC sob um leve vapor de nitrogênio. O resíduo da evaporação foi reconstituído com isoproterenol e injetado no sistema UPLC (Acquity Waters Co.,Milford). O sistema MS (Quattro Premier-XE, Waters Co., Manchester) foi ajustado pela monitoração do íon simples formado pela ionização química da pressão atmosférica (APCI) do íon nascente. Os esteróis foram detectados em suas formas livres e não esterificadas; monitoramos os íons com m ∕ z, 367.30 para desmosterol, 397.25 para β-sitosterol e 383.60 para campesterol. Os níveis dos compostos foram determinados pela comparação da resposta pico sobre uma curva de calibração de 0.5 μg ∕ mL para 10.0 μg ∕ mL. As amostras que apresentaram altos níveis (mais do que 10.0 μg ∕ mL) foram diluídas para comparar com os níveis de calibração. 3.7 SACRIFÍCIO DOS ANIMAIS E RETIRADA DAS AORTAS 3.7.1 Aspectos cirúrgicos do protocolo experimental Ao final do experimento, os animais foram sacrificados retirando-se a artéria aórtica em toda a sua extensão para avaliação da área ocupada por lesões ateroscleróticas e estudo histopatológico das placas de ateroma. Na ocasião do sacrifício os animais foram pesados e anestesiados com cloridrato de cetamina 35 26 mg/kg de peso (Ketalar, Parke-Davis, EUA ) e cloridrato de xilazina 15 mg/kg de (Rompum, Bayer, EUA), por via intramuscular. A anestesia foi potencializada com éter etílico quando necessário. Sob anestesia profunda, os animais foram colocados em uma canaleta para dissecação e realizada incisão mediana toraco-abdominal, sendo obtidas amostras de sangue por punção intra-cardíaca. Em seguida, os órgãos abdominais foram rebatidos para isolamento da aorta que foi seccionada desde o arco aórtico até a bifurcação ilíaca. Foram então perfundidas por uma solução de papaverina a 12% em PBS – 37ºC, abertas longitudinalmente, presas em placas de isopor e fixadas em formol tamponado por 24horas, quando então foram retiradas do isopor e coradas pelo Sudam III, para que o conteúdo lipídico da placa fosse evidenciado. 3.7.2 ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DAS AORTAS 3.7.2.1 Avaliação macroscópica Após a fixação, as aortas foram coradas com Sudam III, para que o conteúdo lipídico da placa fosse evidenciado. As aortas coradas foram analisadas comparativamente em ambos os grupos I e II, para avaliação macroscópica em relação à intensidade de presença de placas gordurosas. 3.7.2.2 Avaliação da extensão das lesões ateromatosas As aortas abertas, fixadas e coradas, foram reproduzidas em folhas de acetato, para quantificarmos a extensão da área de aorta comprometida por meio da planimetria computadorizada, realizada em mesa digitadora acoplada a um microcomputador. Os resultados foram expressos em percentagem de área lesada em relação à área total da aorta. 27 3.7.2.2.1 Avaliação microscópica Foram seccionados nove fragmentos de aproximadamente 5 mm cada, sendo três do arco aórtico, três da aorta torácica e três da aorta abdominal. 3.7.2.2.2 Avaliação histológica por microscopia óptica Estes fragmentos foram embebidos em parafina e obtidos cortes de 4 µm. A histomorfometria foi realizada em cortes histológicos corados por Verhoeff para melhor identificar os limites entre a camada média e a íntima da artéria (SILVA, 2002). As imagens obtidas em um aumento de 6,5 x foram capturadas com auxílio de uma vídeo-câmera Sony CCD-IR15 (Sony, Japão) conectadas a um microscópio Olympus BX-40. As imagens foram então digitalizadas e transmitidas a um microcomputador, e com a utilização de um programa para morfometria, IMAGE TOOL FOR WINDOWS VS 3.0 ( The University of Texas Health Science Center in San Antonio UTHSCSA, EUA), foi mensurada então a maior altura das placas (µm), as áreas das camadas íntima e média (mm2) e calculada a relação íntimamédia(I/M). 3.7.3 Estudo imuno-histoquímico Por meio de reação imuno-histoquímica identificou-se macrófagos e células musculares lisas, utilizando-se os seguintes anticorpos monoclonais: anti- macrófagos de coelhos na diluição de 1:200 em BSA 1% (RAM-11, Dako Laboratories, EUA) e anti-α actina para músculo liso humano na diluição de 1:200 em BSA 1% (HHF-35, Dako Laboratories, EUA). Este ensaio baseou-se no método imunoenzimático indireto em três etapas, utilizando-se o complexo estreptoavidinabiotina-peroxidase. Foram colhidos cortes histológicos com 2 µm de espessura em lâminas silanizadas (Sigma, St Louis, MD) e após serem desparafinizados, foi realizado o bloqueio da peroxidase endógena com uma solução de H 2O2 na concentração de 8% sendo após lavados em PBS (pH: 7,4). Os anticorpos primários foram incubados à 4ºC overnight. Após a lavagem em solução de PBS, as seções foram incubadas com o anticorpo secundário IgG de cabra anti IgG de camundongo biotinilado na diluição de 1:100 (Dako Laboratories, Dinamarca) durante uma hora à 28 temperatura ambiente. Posteriormente, os cortes foram então incubados com a solução do complexo estreptoavidina-peroxidase na concentração de 1:100 (Strept ABComplex, Dako, Dinamarca) por uma hora, seguida de lavagens em PBS. A revelação foi realizada com substrato cromógeno 3,3 diamino-benzidina (DAB) (Sigma, A3648) 0,06% em PBS acrescido de 100 µL de H 2O2 30% (Merck, Alemanha). Após, os cortes foram lavados em água corrente, contracorados com Hematoxilina de Harris e montados em Entellan (Merck-Alemanha). As imagens capturadas foram inicialmente tratadas no programa Corel Photo-paint 9 (Corel, EUA), afim de se isolar as áreas positivamente coradas pela reação de imunohistoquímica. As áreas positivas foram determinadas utilizando-se novamente o programa de morfometria citado anteriormente (ENGELMAN, 2001). De acordo com este programa determinou-se a área marcada positivamente pela reação imuno-histoquimica e a área da íntima na mesma imagem, calculandose a percentagem de área da íntima ocupada por macrófagos ou células musculares lisas. 3.7.4 Estudo Histopatológico Foram analisados os aspectos histopatológicos da placa para a caracterização do seu estágio evolutivo nos fragmentos obtidos da aorta, em cortes de 4 µm corados por HE, sendo avaliados os seguintes parâmetros: maior ou menor celularidade, matriz extracelular, presença de cristais de colesterol, formação de capa fibromuscular com colágeno e células musculares lisas, desestruturação da camada média junto à limitante elástica interna (LEI), desestruturação da camada média junto à limitante elástica externa (LEE) e processo inflamatório na adventícia. A caracterização do estágio evolutivo das placas teve como base a classificação de Stary (STARY, 1994), considerando-se como placas tipo II as lesões nas quais havia predominância de células espumosas dispostas em camadas estratificadas, com predomínio em relação à matriz. As lesões foram consideradas tipo III quando apresentavam lipídeos extracelulares formando cristais confluentes e grande quantidade de matriz extracelular, além da formação de capa fibromuscular. 29 3.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados numéricos foram expressos como média (EPM) ou mediana (interquartis). As variáveis contínuas foram examinadas pela distribuição de normalidade pelo teste kolmogorov-Smirnov. As variáveis com distribuição normal foram comparadas entre os grupos usando o teste t de Student não pareado ou o teste de Mann-Whitney em casos de distribuição não gaussiana. Teste de Friedman foi utilizado para comparar o peso ao longo do estudo. O coeficiente de Spearman foi usado para examinar a correlação entre as variáveis. A significância estatística considerada foi de um risco alfa inferior a 5%. Todas as análises foram analisadas usando o SPSS 17.0 por Windows (SPSS inc, Chicago, IL, USA). 30 4. RESULTADOS 4.1. Dieta e ganho de peso Os animais consumiram uma média de 100 g/dia da dieta e 80 mL de água contendo ou não o extrato da Euterpe oleracea. A dieta e o extrato de Euterpe oleracea foram bem tolerados e os animais ganharam peso ao longo do estudo (p<0,0005, teste de Friedman), em ambos os grupos. A Tabela 2 mostra que não foram observadas diferenças no peso dos animais no momento em que foram aleatoriamente alocados para o tratamento com Euterpe oleracea ou controle com água (semana 12) ou ao final do estudo (semana 24). Tabela 2. Peso dos animais nas semanas 12 e 24. Euterpe oleracea Controle Valor de p N=15 N=12 2893 (137) 2867 (171) 0,44 3108 (197) 2930 (267) 0,07 12 semanas Peso, média (DP) 24 semanas Peso, média (DP) Valores expressos em gramas, DP = desvio-padrão. Diferenças entre os grupos foram analisadas pelo teste de Mann-Whitney. 31 4.2 Modificações no perfil lipídico e glicemia As análises bioquímicas realizadas por ocasião da semana 12 mostraram que a dieta enriquecida de colesterol (0,5%) promoveu expressiva hipercolesterolemia. Os valores de colesterol total, HDL-colesterol, colesterol não-HDL e os triglicérides não diferiram nesta ocasião. Entretanto, ao final do estudo, os animais tratados com a Euterpe oleracea tiveram menores níveis destas variáveis lipídicas, com exceção do HDL-colesterol. Os níveis de glicemia não diferiram entre os grupos (Tabela 3). Tabela 3. Perfil lipídico e glicemia nas semanas 12 e 24 Euterpe oleracea Controle Valor de p N=15 N=12 1124 (96) 1087 (84) 0,31 36 (11) 37 (12) 0,85 1088 (91) 1050 (86) 0,28 12 semanas CT, média (DP) HDL-C, média (DP) Não-HDL-C, média (DP) Triglicérides, média (DP) 305 (234) 424 (282) 0,25 Glicose, média (DP) 124 (13) 139 (36) 0,68 167 (113) 341 (224) 0,03 28 (9) 30 (10) 0,56 139 (109) 310 (220) 0,03 Triglicérides, média (DP) 83 (91) 164 (112) 0,02 Glicose, média (DP) 118 (19) 112 (17) 0,86 24 semanas CT, média (DP) HDL-C, media (DP) Não-HDL-C, média (DP) Valores expressos em mg/dL, DP = desvio-padrão; CT = colesterol total; HDL= colesterol da lipoproteína de alta densidade. Diferenças entre os grupos foram analisadas pelo teste t de Student, exceto para triglicérides e glicose, cujos valores foram comparados pelo teste de Mann-Whitney. 32 4.3. Modificações nos parâmetros de absorção e síntese de colesterol A Tabela 4 mostra, ao final do estudo, que os níveis dos marcadores de absorção de colesterol analisados (campesterol e β-sitosterol) não diferiram entre os grupos. Tampouco houve diferença entre os grupos para o marcador de síntese endógena de colesterol avaliado (desmosterol). Entretanto, observamos menores valores para as relações desmosterol/campesterol e desmosterol/ β-sistosterol para os animais tratados com o extrato de Euterpe oleracea (Tabela 4). Tabela 4. Desmosterol, campesterol e β-sitosterol ao final do estudo Euterpe Controle Valor oleracea N=12 de p N=15 Campesterol, média (DP) 10,5 (11,0) 16,7 (15,6) 0,260 β-Sitosterol, média (DP) 3,00 (2,0) 3,90 (3,2) 0,370 Desmosterol, média (DP) 0,50 (0,6) 1,20 (1,3) 0,140 Desmosterol/campesterol, média (DP) 0,04 (0,04) 0,08 (0,04) 0,026 Desmosterol/β-sitosterol, média (DP) 0,12 (0,12) 0,25 (0,11) 0,006 Valores expressos em mg/dL, DP = desvio-padrão. Diferenças entre os grupos foram analisadas pelo teste de Mann-Whitney. 33 4.4. Parâmetros histomorfométricos Em nosso modelo experimental, os aspectos clássicos da aterosclerose induzida pela dieta foram observados nas aortas dos animais controles. Entretanto, uma marcante redução da aterosclerose foi observada no grupo de animais tratados pela Euterpe oleracea. Nestes animais, uma menor área da placa foi observada, especialmente no arco aórtico e na aorta torácica, bem como menores valores da relação íntima/média, quando comparado com os controles (Figuras 7 e 8). A camada média não diferiu entre os grupos, bem como o percentual das aortas ocupadas por macrófagos e células musculares lisas (Tabela 5). Não foram observadas diferenças nos aspectos histológicos das placas, bem como na composição de fibras elásticas, colágeno, ou no conteúdo de células musculares lisas ou de macrófagos, quanto analisados por histomorfometria (Tabela 5). A Figura 9 mostra as características de espécimes de aortas, representativos destes achados histológicos. Tabela 5. Composição das placas das aortas ao final do estudo, por grupo Componentes da placa Controle Valor Euterpe oleracea N=12 de p N=15 Macrófagos, média (DP) 20,4 (15,5) 22,7 (18,3) 0,56 Célula muscular lisa, média (DP) 13,3 (4,8) 12,7 (7,0) 0,66 0,5 (0,6) 1,2 (1,3) 0,26 Tecido elástico, média (DP) Valores expressos em porcentagens das áreas das aortas; DP = desvio-padrão; Diferenças entre os grupos foram analisadas pelo teste de Mann-Whitney. 34 Figura 7: (A) Box plots da área das placas no arco aórtico. Uma marcada redução deste parâmetro foi observada nos animais tratados com extrato de Euterpe oleracea (p=0.001 x grupo controle, teste de Mann-Whitney). (B) Arco aórtico, relação íntima/média. Os animais tratados com Euterpe oleracea apresentaram menores valores da relação íntima/média (p=0.002 x grupo controle, teste de MannWhitney). Figura 8: Box plots da área da placa mensurada pela planimetria. (A) Box plots da área da placa. Menores áreas de placa foram observadas nas aortas dos animais tratados com extrato de Euterpe oleracea (p=0.005 x grupo controle, teste de Mann-Whitney). (B) Box plots do percentual da área da placa da aorta. Áreas de placas reduzidas foram observadas nas aortas dos animais tratados com extrato de Euterpe oleracea apresentavam menores taxas da relação íntima/média (p=0.0028 x grupo controle, teste de Mann-Whitney). 35 Figura 9: Imagens representativas das aortas coradas pelo Sudam III dos coelhos alimentados de uma dieta com elevado conteúdo de colesterol. (A) Grupo Controle; (B) Animais tratados com Euterpe oleracea. A fotomicrografia mostra as secções da aorta coradas por HE (C e H), Verhoeff para fibras elásticas (D e I magnificadas 100x); a reação de imunohistoquímica para macrófagos (E e J); actina para músculo liso vascular (F e K); e colágeno corado por picrosirius polarizado (G e L; magnificadas 400x). A fotomicrografia nas colunas verticais de C para G são do grupo controle e de H para L são do grupo de que recebeu extrato de Euterpe oleracea. 36 5. DISCUSSÃO O estudo confirmou a nossa hipótese de que o consumo de Euterpe oleracea pode atenuar a aterosclerose. Os mecanismos propostos para explicar a atenuação da aterosclerose são, em parte, mecanismos previamente descritos, como suas propriedades antioxidantes (DEL POZO-INSFRAN; BRENES; TALCOTT, 2004; CHIN et al., 2008; RODRIGUES et al., 2006; PACHECO-PALENCIA; MERTENS; TALCOTT, 2008a), ou a ação na função endotelial (ROCHA et al., 2007). Nosso estudo mostrou adicionalmente, que esta substância tem uma ação sinérgica no metabolismo do esterol, melhorando o balanço entre a absorção e a síntese do colesterol, determinando, portanto, um melhor perfil lipídico. O clássico modelo de indução de aterosclerose em coelhos por meio da dieta é altamente dependente da absorção do colesterol, então a atenuação da aterosclerose poderia ser uma conseqüência da inibição da absorção do colesterol, entretanto não foram observadas diferenças nas taxas de absorção do colesterol, estimadas pelos níveis plasmáticos de campesterol e β-sitosterol. Um segundo mecanismo que poderia estar envolvido seria a inibição da síntese do colesterol, mas não se observou diferença nos níveis plasmáticos de desmosterol. Entretanto, nós observamos uma diferença nas relações entre síntese e absorção de esteróis, evidenciada por redução em ambas as relações desmosterol/campesterol e desmosterol/sitosterol, logo, o consumo da Euterpe oleracea parece ter contribuído em ambas as direções para reduzir as taxas da síntese endógena e da absorção do colesterol. Esses achados interessantes sugerem que outros mecanismos possam estar envolvidos na atenuação da aterosclerose pela Euterpe oleracea, tais como sua ação antioxidante, pelo elevado conteúdo de compostos polifenólicos, além do alto teor em ligninas e outros constituintes (SANTOS et al., 2008). Além dos elementos já citados, a composição química da Euterpe oleracea apresenta um elevado conteúdo de ácidos graxos mono e poliinsaturados, os quais podem ter contribuído para a redução nos níveis de colesterol total e colesterol nãoHDL, possivelmente devido ao aumento da expressão dos receptores LDL (HORTON; CUTHBERT; SPADY, 1993; SESSIONS; SALTER, 1995). 37 Outro mecanismo que pode estar envolvido na atenuação da aterosclerose é a melhora da função endotelial. Rocha et al (2007), mostraram que o extrato de açaí promove um aumento da vasodilatação endotélio dependente, efeito esse reduzido pela adição de NG-nitro-L-arginina (L-NAME) e abolido pelo KCL+L-NAME. Alguns estudos haviam mostrado previamente que a melhora da função endotelial pela estatina ou pelo inibidor da enzima conversora da angiotensina foi acompanhada pela redução da aterosclerose nos coelhos, independentemente das alterações nos níveis plasmáticos do colesterol (SILVA; LIMA, 2002; FONSECA et al., 2003). Recentemente, efeitos favoráveis nos níveis de glicose e da resistência a insulina foram mostrados com o uso do extrato da Euterpe oleracea, num modelo experimental de síndrome metabólica (de OLIVEIRA et al., 2010). Baseado nesses mecanismos e nos achados do nosso estudo, a redução da aterosclerose observada nestes animais provavelmente resultou da ação conjunta dos múltiplos benefícios da Euterpe oleracea, envolvendo redução da síntese e da absorção dos esteróis, redução das modificações oxidativas das lipoproteínas e melhora da função endotelial. 38 Limitações do estudo Nós examinamos os efeitos da Euterpe oleracea em animais com estímulo aterogênico pelos altos níveis de colesterol em suas dietas. É possível que os efeitos benéficos na aterosclerose do extrato dessa fruta neste modelo possam ser mais expressivos do que na aterosclerose em humanos, determinada por outros fatores de risco que não apenas a hipercolesterolemia. Não avaliamos a função endotelial e a ação antioxidante da Euterpe oleracea; é possível que os efeitos benéficos nesses parâmetros tenham contribuído para nossos achados anatômicos. Sumarizando, o consumo da Euterpe oleracea pelos coelhos com hipercolesterolemia induzida pela dieta, marcadamente melhorou o perfil lipídico e reduziu a aterosclerose em suas aortas. Estes efeitos foram observados em parte pelo melhor balanço entre a síntese e a absorção dos esteróis. 39 6. CONCLUSÕES A aterosclerose induzida pela dieta aterogênica em coelhos foi significantemente atenuada pela adição à dieta do extrato de Euterpe oleracea (açaí). O consumo de Euterpe oleracea (açaí) em coelhos recebendo dieta aterogênica, significantemente melhorou o perfil lipídico. A análise de marcadores de síntese (desmosterol) e de absorção de colesterol (campesterol e β-sitosterol) mostrou que as relações entre estes marcadores (desmosterol/campesterol; desmosterol/β-sitosterol) foram significantemente reduzidas nos animais tratados pela Euterpe oleracea. Os resultados em conjunto sugerem que a adição da Euterpe oleracea à dieta, neste modelo experimental, promove marcante atenuação da aterosclerose, em parte, por um melhor balanço dos marcadores de síntese e absorção de esteróis. 40 REFERÊNCIAS AIKAWA, M; LIBBY, P. The vulnerable atherosclerotic plaque: Pathogenesis and therapeutic approach. Cardiovascular Pathology. 2004; 13: 125-138. AIKAWA, M; RABKIN, E; OKADA, Y, et al. Lipid lowering by diet reduces matrix metalloproteinase activity and increases collagen content of rabbit atheroma: a potential mechanism of lesion stabilization. Circulation. 1998; 97:2433-44. ALMEIDA, JMD; SANTOS, RJ; GENOVESE, MI; LAJOLO, FM. 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COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PARECER MED002/2006 Projeto: Efeitos do açaí no perfil lipídico em coelhos hipercolesterolêmicos Coordenador: Prof. Dr. Francisco Antonio Helfstein Fonseca Área Temática: Medicina Vigência: 05/2006 a 05/2010 N0 no CEPAE-UFPA: MED002/2006 O projeto acima identificado foi avaliado pelo Comitê de Ética Em Pesquisa Com Animais de Experimentação da Universidade Federal do Pará (CEPAE). O tema eleito para a investigação e de alto teor científico justificando a utilização do modelo animal proposto. Os procedimentos experimentais utilizados seguem as normas locais e internacionais para tratamento e manipulação de animais de experimentação. Portanto, o CEPAE, através de seu presidente, no uso das atribuições delegadas pela portaria N 0 1568/2005 do Reitor da Universidade Federal do Pará, resolve APROVAR a utilização de animais de experimentação nas atividades do projeto em questão, no período de vigência estabelecido. As atividades experimentais fora do período de vigência devem receber nova autorização deste comitê. Presidente do Comitê de Ética Em Pesquisa Com Animais de Experimentação da Universidade Federal do Pará 1 Journal of Atherosclerosis and Thrombosis Vol.18, No. ● Basic Research Euterpe Oleracea (Açai) Modifies Sterol Metabolism and Attenuates Experimentally-Induced Atherosclerosis Claudine A Feio 1, Maria C Izar 2, Silvia S Ihara 3, Soraia H Kasmas 2, Celma M Martins 2, Max N Feio 1, Luís A Maués 1, Ney C Borges 4, Ronilson A Moreno 4, Rui M Póvoa 2 and Francisco A Fonseca 2 1 Department of Medicine, Federal University of Para, PA, Brazil Department of Medicine, Federal University of Sao Paulo, SP, Brazil 3 Department of Pathology, Federal University of Sao Paulo, SP, Brazil 4 Synchrophar, Campinas, SP, Brazil 2 Background: Euterpe oleracea (açai) is a fruit from the Amazon region whose chemical composition may be beneficial for individuals with atherosclerosis. We hypothesized that consumption of Euterpe oleracea would reduce atherosclerosis development by decreasing cholesterol absorption and synthesis. Methods: Male New Zealand rabbits were fed a cholesterol-enriched diet (0.5%) for 12 weeks, when they were randomized to receive Euterpe oleracea extract (n = 15) or water (n = 12) plus a 0.05% cholesterol-enriched diet for an additional 12 weeks. Plasma phytosterols and desmosterol were determined by ultra-performance liquid chromatography and mass spectrometry. Atherosclerotic lesions were estimated by computerized planimetry and histomorphometry. Results: At sacrifice, animals treated with Euterpe oleracea had lower levels of total cholesterol (p = 0.03), non-HDL-cholesterol (p = 0.03) and triglycerides (p = 0.02) than controls. These animals had smaller atherosclerotic plaque area in their aortas (p = 0.001) and a smaller intima/media ratio (p = 0.002) than controls, without differences in plaque composition. At the end of the study, campesterol, β-sitosterol, and desmosterol plasma levels did not differ between groups; however, animals treated with Euterpe oleracea showed lower desmosterol/campesterol (p = 0.026) and desmosterol/ β-sitosterol (p = 0.006) ratios than controls. Conclusion: Consumption of Euterpe oleracea extract markedly improved the lipid profile and attenuated atherosclerosis. These effects were related in part to a better balance in the synthesis and absorption of sterols. J Atheroscler Thromb, 2011; 18:000-000. Key words; Euterpe oleracea (açai), Atherosclerosis, Lipids, Desmosterol, Phytosterols Introduction Euterpe oleracea (açai) is a typical fruit from the Amazon region, largely consumed in Brazil and exported to many countries in Europe, Asia, and the Americas. Chemical studies revealed that Euterpe oleracea is rich in anthocyanic compounds and several polypheAddress for correspondence: Francisco A Fonseca, Departamento de Medicina, Disciplina de Cardiologia, Rua Pedro de Toledo 276, São Paulo, SP, Brazil E-mail: [email protected] Received: AAA Accepted for publication: AAA nols 1-3). Beyond the presence of compounds with antioxidant properties, Euterpe oleracea improves endothelial function through the action of nitric oxide and release of endothelium-derived hyperpolarizing factor 4). The oil from Euterpe oleracea is composed of fatty acids of nutritional value (60% monounsaturated and 13% polyunsaturated) in addition to fiber and vitamin E 5). Recently, some beneficial effects of Euterpe oleracea on the lipid profile were reported in a study of hypercholesterolemic rats 6); however, these properties for lipid metabolism and atherosclerosis are poorly reported and understood. 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 2 Feio et al . Thus, we decided to investigate the potential benefits of Euterpe oleracea in rabbits with dietinduced atherosclerosis. Beyond the effects of Euterpe oleracea on the lipid profile and atherosclerosis, its effects on markers of cholesterol absorption and synthesis were also examined. These markers and their ratios have been studied in prospective studies and are considered reliable surrogates for measures of cholesterol absorption and synthesis, and predictors of cardiovascular events 7-10). Table 1. Chemical composition of Euterpe oleracea [5] Content Dried matter (%) Proteins (g/100 g) Lipids (g/100 g) Monounsaturated fat (g/100 g) Polyunsaturated fat (g/100 g) Carbohydrates (g/100 g) Fructose (g/100 g) Glucose (g/100 g) Sucrose (g/100 g) Fibers (g/100 g) Energy (kcal/100 g) Ash (g/100 g) Sodium (mg/100 g) Potassium (mg/100 g) Calcium (g/100 g) Magnesium (g/100 g) Iron (g/100 g) Copper (g/100 g) Zinc (g/100 g) Phosphorus (g/100 g) Vitamin B1 (g/100 g) α-tocopherol (g/100 g) Methods Extract of Euterpe Oleracea Fruits from Euterpe oleracea were obtained in the Amazon region (Para State, Brazil) at the same food store. Briefly, the extract was prepared daily by combining water and fruit in a blender. The extract was filtered, separated from the seeds, packed in plastic bags, which were sealed immediately to avoid contamination, and sent daily to the animal facility. Experimental and control animals were immediately offered bowls containing water with and without fresh extract (80 mL) from Euterpe oleracea, respectively. The chemical composition of Euterpe oleracea was provided by EMBRAPA 5) and the plant sterol content was determined in samples of the Euterpe oleracea extract by gas chromatography with flame ionization detection (GC FID) 11) (presented in Table 1). Euterpe oleracea has 15.4 mg plant sterols in 100 g extract, of which 85.0% is β-sitosterol (13.1 mg/100 g), 8.2% stigmasterol (1.3 mg/100 g), and 2.0% campestanol (0.3 mg/100 g), with traces of other plant sterols. Animals and Diet Adult male New Zealand white rabbits (n = 27, age = 3 months, weight = 2,600-3,000 g) were studied. The study protocol was approved by the local ethics committee and all animals received proper care, in compliance with guidelines of the Brazilian College of Experimental Animals. The animals were individually housed and provided with a light/dark cycle. Every day, the cages were cleaned and chow and water (with or without the Euterpe oleracea extract) were changed. The rabbits were weighed at the beginning of the study and thereafter at 12 and 24 weeks. Before sacrifice, the animals were anesthetized with xylazine (5 mg/kg, Rompun; BayerAG, SP, Brazil) and ketamine (35 mg/kg, Ketalar; Parke-Davis, USA). The animals initiated the study protocol after an adaptation period of 15 days. During the first 12 weeks, the animals were fed a regular diet (Nuvilab; Nuvital, Brazil) plus 0.5% cholesterol (C8503; Sigma-Aldrich, San Diego, * Amount* 15.0 13.0 48.0 28.8 6.24 1.50 0.00 1.50 0.00 34.0 66.3 3.50 56.4 932 286 174 1.50 1.70 7.00 124 0.25 45.0 in dried form CA, USA). After this period, the cholesterol content of the diet was reduced to 0.05% and the animals were randomized to receive the Euterpe oleracea extract (n = 15) or water (n = 12) for an additional 12-week period. Biochemical Analyses After a 12-h fasting period, blood samples were collected from the central ear artery of all animals and assayed. Samples were stored at −80 ℃ and defrosted at room temperature for 2 h prior analysis. Measurements were assayed by automated techniques in an Olympus AU-640 system (Olympus, Nagano, Japan). Serum lipids were determined by enzymatic colorimetric methods using appropriate reagents (Olympus) for total cholesterol (TC), HDL-cholesterol (HDL-C) and triglycerides. Non-HDL-cholesterol was calculated by differences between TC and HDL-C. Blood glucose levels were determined by an automated enzymatic method (Advia 1650; Bayer, Germany). β-sitosterol and campesterol (markers of sterol absorption) as well as desmosterol (precursor of endogenous cholesterol synthesis) were measured at week 24 by ultra-performance liquid chromatography (UPLC) and mass spectrometry (MS). Plasma samples 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 3 Euterpe Oleracea (Açai), Lipids and Atherosclerosis were evaluated for these sterols by a method developed at Synchrophar (Campinas, SP, Brazil) 12). This method consisted of liquid-liquid extraction, followed by separation in a UPLC system and detection in an Atmospheric Pressure Chemical Ionization (APCI) ionsource MS operating on “single-ion monitoring” for each sterol (β-sitosterol, campesterol, and desmosterol). Extraction was carried out with diethyl ether and n-hexane (80/20; v/v) by vortex mixing followed by evaporation of the organic phase at 50 ℃ under a gentle N2 stream. After evaporation, the residue was reconstituted with isopropanol and injected onto the UPLC column (Acquity Waters Co., Milford). The MS system (Quattro Premier-XE; Waters Co., Manchester, UK) was adjusted to monitor single ions formed by an APCI ion source. Sterols were detected in their free (non-esterified) forms, monitoring the ions for desmosterol (m/z = 367.30), β-sitosterol (m/z = 397.25), and campesterol (m/z = 383.60). Compound concentrations were determined by comparing the peak response with the linear portion of the calibration curve (0.5-10.0 μg/mL). Samples with concentrations higher than 10.0 μg/mL were properly diluted for comparison with the calibration curve. Results are presented in mg/dL. To evaluate the relation between cholesterol absorption and synthesis, the ratios between desmosterol/campesterol and desmosterol/β-sitosterol were calculated 7). Histopathology and Immunohistochemistry Specimens of the aortas were excised from the ascending arch to the iliac bifurcation and examined as previously reported 13). The aortas were cut longitudinally, fixed in 10% buffered (pH 7.4) formalin (Labsynth, SP, Brazil), and the lipid-enriched areas were identified with 1-[4-(Phenylazo) Phenilazo]-2Naphthol (Sudan red Ⅲ) dye (Science Lab, TX, USA). Plaque-containing areas in the aortas were estimated by computerized planimetry using Image Tool software version 3.0 (University of Texas Health Science Center at San Antonio (UTHSCSA), TX, USA). The percentage of the lesion area was calculated as the ratio between the lesion and the total areas of the aorta. Fragments from the arch, thoracic and abdominal aortas were processed for histology with hematoxylin and eosin (Nuclear, Alkimia, PR, Brazil) staining. Sections (4-μm thick) of these specimens were stained with Verhoeff ’s elastic fiber (Nuclear, Alkimia), evaluated for intima (I) and media (M) areas using Image Tool software version 3.0 and the I/M ratio was then calculated. Monoclonal antibodies were used to determine macrophages (RAM-11; DAKO Corp., CA, USA) and smooth muscle actin (HHF-35; DAKO Corp.). The streptavidin-biotin-peroxidase complex (C-004; DAKO Corp.) method was used; the sections were stained by adding diaminobenzidine solution and counterstained with Harris hematoxylin (Nuclear, Alkimia). For quantification of macrophages and smooth muscle cells in the intima layer, the greatest lesion observed in the histological section was analyzed. Digitalized images of two atherosclerotic plaque sections (magnification: 400) including the most stained areas were recorded using an imaging system QColor3 (Olympus America Inc.), and positively stained areas were determined by morphometric Image Tool software version 3.0. The histological structure of the atherosclerotic lesions was analyzed in HE-stained sections, the collagen content was observed under polarized light in sections stained by Sirius red, and collagen was quantified by a computerassisted image system. All histological analyses were performed in a blinded fashion. Statistical Analysis Numerical data were expressed as the mean (SD). Continuous variables were examined for normal distribution by the Kolmogorov-Smirnov test. Variables with normal distribution were compared between groups using Student’s unpaired t test; in the case of non-Gaussian distribution, the Mann-Whitney U-test was used. The Friedman test was used to compare repeated measures of weight throughout the study. All tests were two-tailed and statistical significance was set at p < 0.05. Analyses were performed using SPSS 17.0 for Windows (SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Results Food Intake and Weight Gain The animals consumed an average of 100 g/day of the diet and 80 mL water with/without Euterpe oleracea extract. The diet and the extract of Euterpe oleracea were well tolerated and the animals gained weight throughout the study (p < 0.0005, Friedman test) in both groups. No difference in animal weight was observed between groups at randomization in week 12 and week 24 (Table 2). Biochemistry The biochemical analyses performed at week 12 (before randomization) showed that the cholesterolenriched diet (0.5%) promoted marked hypercholesterolemia. All lipid values were comparable between groups at this time point. Conversely, at the end of the study, animals treated with Euterpe oleracea extract showed lower serum levels of total cholesterol, non- 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 4 Feio et al . Table 2. Body weight, lipids and glucose serum levels at 12 and 24 weeks, by group Euterpe oleracea (n = 15) 12 weeks Body weight, mean (SD) Total cholesterol, mean (SD) HDL-C, mean (SD) Non HDL-C, mean (SD) Triglycerides, mean (SD) Glucose, mean (SD) 24 weeks Body weight, mean (SD) Total cholesterol, mean (SD) HDL-C, mean (SD) Non HDL-C, mean (SD) Triglycerides, mean (SD) Glucose, mean (SD) Control (n = 12) p values 2,893 (137) 1,124 (96) 36 (11) 1,088 (91) 305 (234) 124 (13) 2,867 (171) 1,087 (84) 37 (12) 1,050 (86) 424 (282) 139 (36) 0.44 0.31 0.85 0.28 0.25 0.68 3,108 (197) 167 (113) 28 (9) 139 (109) 83 (91) 118 (19) 2,930 (267) 341 (224) 30 (10) 310 (220) 164 (112) 112 (17) 0.07 0.03 0.56 0.03 0.02 0.86 Abbreviations: HDL-C: high-density lipoprotein-cholesterol; SD: standard deviation; TC: total cholesterol. Mean values and SD are expressed in mg/dL; comparisons between groups were made using Student’s t test, except for body weight, glucose levels and triglycerides, compared using the Mann-Whitney U-test. Table 3. Plasma markers of cholesterol absorption and synthesis at week 24, by group Campesterol, mean (SD) Sitosterol, mean (SD) Desmosterol, mean (SD) Desmosterol/campesterol, mean (SD) Desmosterol/β-sitosterol, mean (SD) Euterpe oleracea (n = 15) Control (n = 12) p value 10.5 (11.0) 3.0 (2.0) 0.5 (0.6) 0.04 (0.04) 0.12 (0.12) 16.7 (16.7) 3.9 (3.2) 1.2 (1.3) 0.08 (0.04) 0.25 (0.11) 0.260 0.370 0.140 0.026 0.006 SD: standard deviation. Mean values and SD are expressed in mg/dL; comparisons between groups were made using the Mann-Whitney U-test. HDL-C and triglycerides than control animals. Serum glucose levels did not differ between groups at weeks 12 and 24 (Table 2). At the end of the study, plasma levels of campesterol, β-sitosterol, and desmosterol did not differ between groups; however, lower desmosterol/campesterol and desmosterol/β-sitosterol ratios were observed in animals treated with Euterpe oleracea extract (Table 3). Histopathology and Immunohistochemistry In our model, classic atherosclerosis was observed in the aortas of control rabbits challenged by the cholesterol-enriched diet; however, marked attenuation in the degree of atherosclerosis was observed among animals treated with Euterpe oleracea extract. In these animals, a smaller plaque area was observed, especially in the aortic arch and thoracic aorta, as well as smaller intima/media ratios in the same regions than in controls (Fig. 1 and 2). No differences were observed between groups regarding the media layer in the areas of the arch, thoracic or abdominal aortas and the percent areas occupied by macrophages and smooth muscle cells in their aortas (Table 4). No difference was observed either in the histological aspect of the plaques or in plaque composition regarding elastic fibers, collagen, smooth muscle cells, and macrophage content when analyzed by histomorphometry (Table 4). Fig. 3 shows pictures of representative specimens of the aortas from animals in both groups and photomicrographs of the aorta sections. Discussion The present study confirmed our initial hypothe- 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 5 Euterpe Oleracea (Açai), Lipids and Atherosclerosis A B Fig. 1. (A) Box plots of aortic arch plaque area. A marked reduction in this parameter was observed in animals treated with Euterpe oleracea extract (p = 0.001 vs control group, Mann-Whitney U-test). (B) Box plots of the aortic arch intima/media ratio. Animals treated with Euterpe oleracea extract had lower intima/media ratios (p = 0.002 vs control group, Mann-Whitney U-test). A B Fig. 2. Box plots of plaque area as measured by planimetry. (A) Box plots of plaque area. Smaller plaque areas were observed in the aortas of animals treated with Euterpe oleracea extract (p = 0.005 vs control group, MannWhitney U-test). (B) Box plots of the aortic plaque percent area. Reduced plaque areas were observed in the aortas of animals treated with Euterpe oleracea extract (p = 0.028 vs control group, Mann-Whitney test). sis that consumption of Euterpe oleracea can attenuate atherosclerosis. In addition to the previously reported possible antiatherosclerotic properties of Euterpe oleracea, mainly based on the high content of antioxidant compounds in their fruits 14-16), our study has shown that consumption of Euterpe oleracea extract improved the balance between cholesterol absorption and synthesis, decreased serum cholesterol and triglycerides, and attenuated atherosclerosis. It has been reported by Matthan et al. that impaired cholesterol homeostasis, reflected by increased cholesterol absorption and low synthesis markers, is the profile associated with preva- 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 6 Feio et al . A C H D I E J F K G L B Fig. 3. Representative images of the aorta stained by Sudan Ⅲ of rabbits fed a high-cholesterol diet-Euterpe oleracea-treated animal (A) and Control (B). The photomicrographs show histological aorta fragments stained by HE (C and H), Verhoeff for elastic fibers (D and I); immunohistochemical reaction for macrophages (E and J) and SMA (F and K) and picrosirius polarized stain for collagen ( G and L) (magnification 100x). Photomicrographs C to G are from Euterpe oleracea group and H to L are from Control group. HE = hematoxylin & eosin; SMA = smooth muscle actin 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 7 Euterpe Oleracea (Açai), Lipids and Atherosclerosis Table 4. Plaque composition of aortas at week 24, by group Plaque component Macrophages, mean (SD) Smooth muscle actin, mean (SD) Elastic tissue, mean (SD) Euterpe oleracea (n = 15) Control (n = 12) p value 20.4 (15.5) 13.3 (4.8) 0.5 (0.6) 22.7 (18.3) 12.7 (7.0) 1.2 (1.3) 0.56 0.66 0.26 Macrophages, smooth muscle actin and elastic tissue are expressed as the percentages of aortic areas. Comparisons between groups were made using the Mann-Whitney U-test. lent cardiovascular disease in the Framingham Offspring population 8). In addition, in the Prospective Cardiovascular Munster Study high β-sitosterol or campesterol levels were markers of cardiovascular events among middle-aged males 9); however, recent data from the Spanish EPIC cohort have shown that phytosterols levels were inversely associated with incident cardiovascular disease 17). Furthermore, Gylling et al. have demonstrated that cholesterol absorption and synthesis are inherited traits 18). The classic rabbit model of diet-induced atherosclerosis is highly dependent on the rates of cholesterol absorption and the levels of serum cholesterol achieved. Thus, attenuation of atherosclerosis by the Euterpe oleracea extract could be a consequence of decreased absorption of dietary cholesterol; however, this hypothesis appears insufficient to explain our findings, since there were no significant differences between the two groups of animals for markers of cholesterol absorption (β-sitosterol and campesterol). Inhibition of cholesterol synthesis could be the second mechanism involved in the reduced development of atherosclerosis among animals receiving the Euterpe oleracea extract. Again, attenuation of atherosclerosis in animals treated by the Euterpe oleracea extract may not be explained by reduced synthesis of cholesterol, since these animals did not differ in the levels of desmosterol; however, differences in the desmosterol/campesterol and desmosterol/β-sitosterol ratios were observed between groups. Thus, consumption of Euterpe oleracea seems to contribute to a better balance between cholesterol synthesis and absorption. We investigated the content of phytosterols in Euterpe oleracea and found that 15 mg in 100 g extract were plant sterols, of which β-sitosterol was the most abundant. This amount of plant sterols may have contributed, at least in part, to the lower absorption of cholesterol added to the diet, explaining the reduction in total cholesterol observed in our study 19). In fact, previous studies have shown that a high content of fiber and phytosterols can decrease the rate of cholesterol absorption 20, 21). The composition of the extract of Euterpe oleracea, which has these two constituents, may be associated with a lower rate of cholesterol absorption by the small intestine. In addition, part of the benefits in the lipid profile could also be attributed to the fatty acids present in the Euterpe oleracea extract 5). One or more compounds in the chemical composition of Euterpe oleracea, with a high content of monounsaturated and polyunsaturated fatty acids, can reduce cholesterol levels due to increased expression of LDL receptors in the liver 22, 23) followed by cholesterol excretion via the biliary tract. It is also possible that other cholesterol-independent mechanisms of absorption and synthesis are involved in decreased atherosclerosis development, as observed among animals treated with Euterpe oleracea extract. In this context, the high content of antioxidants, mainly polyphenolic compounds, lignans, and other constituents, may have contributed to the decrease in plaque formation 24). Improved endothelial function is another mechanism that might be involved in atherosclerosis attenuation. Rocha et al. 4) showed that Euterpe oleracea extract increases endothelium-dependent vasodilation, an effect that is attenuated by the addition of N?nitro-L-arginine methyl ester (L-NAME) and abolished by the addition of KCl+L-NAME. We previously demonstrated improved endothelial function by statins 25) and by angiotensin converting-enzyme inhibitor 26), accompanied by attenuation of atherosclerosis development in rabbits, independent of changes in serum cholesterol levels. Recently, favorable effects on glucose levels and insulin resistance were reported following the use of Euterpe oleracea extract in an experimental model of metabolic syndrome 27). Based on the findings of our study and the mechanisms discussed above, the reduction of atherosclerosis observed in these animals probably results from the sum of multiple beneficial actions of Euterpe oleracea, including decreased ratios of markers of cholesterol synthesis and absorption, reduced oxidative 㪈㪈㪉㪇㪌㩿㪈㪀㪉㪊㪅㪈㪇㪅㪈㪐 8 Feio et al . modification of lipoproteins, increased expression of LDL receptors, and improved endothelial function. In addition, preliminary data involving the use of Euterpe oleracea extract in humans have shown favorable findings among subjects with metabolic syndrome, which includes improvement in the lipid profile and decreased post-prandial glucose levels 28). Furthermore, a novel anti-inflammatory property of Euterpe oleracea was recently reported, involving inhibition of the gene expression of adhesion molecules and nuclear factor kappa B activation induced by glucose and lipopolysaccharide 29). Study Limitations Our study examined the effects of Euterpe oleracea in animals challenged by an atherogenic diet. It is possible that the beneficial effects observed on atherosclerosis in this model could be of a higher magnitude than on atherosclerosis related to other classic risk factors observed in humans. Our study did not evaluate endothelial function or the antioxidant actions of Euterpe oleracea. Regarding these parameters, the known beneficial effects of antioxidant compounds present in the Euterpe oleracea extract may have contributed to our histological findings. We did not assess intestinal expression of NPC1L1 due to the unavailability of commercial antibodies for rabbits. Conclusion Consumption of Euterpe oleracea extract by rabbits with diet-induced hypercholesterolemia markedly improved the lipid profile and attenuated aortic atherosclerosis. These effects were related, at least in part, to a better balance between synthesis and absorption of sterols, surrogate markers of cholesterol homeostasis. Conflicts of Interests None. Acknowledgements This study was supported in part by the National Council of Science and Technology (CNPq), grant # 2008/57685-7. We acknowledge Dr. Paulo Boschcov, former professor at the Federal University of Sao Paulo, for his assistance with revising the manuscript. References 1) Del Pozo-Insfran D, Brenes CH, Talcott ST: Phytochemical composition and pigment stability of Açai (Euterpe olearcea Mart.). J Agric Food Chem, 2004; 52: 15391545 2) Metens-Talcott SU, Rios J, Jilma-Stohlawetz P, PachecoPalencia LA, Meibohm B, Talcott ST, Derendorf H: Phamacokinetics of anthocyanins and antioxidant effects after the comsumption of anthocyanin-rich acai juice and pulp (Euterpe oleracea Mart.) in human healthy volunteers. 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