PADRÃO NÍVEL DE ACTIVAÇÃO MUSCULAR NUM NOVO CICLOERGÓMETRO Roberto Aguado-Jiménez1, Miriam González-Izal1, Jon Navarro1, Esteban Gorostiaga1, Mikel Izquierdo1 Centro de Estudos, Investigação e Medicina Desportiva do Governo de Navarra1 INTRODUÇÃO A empresa Goicontini SL, concebeu um protótipo de cicloergómetro, que em comparação com o desenho convencional, modifica a posição do eixo de pedalada, assim como o comprimento da biela. No que se refere à posição do eixo de pedalada, constatamos que nas bicicletas convencionais a sua posição é entre 240 e 260 mm à frente da vertical do assento e que a biela tem um tamanho não superior a 200mm. No que refere ao protótipo analisado, a posição do eixo de pedalada está situado entre 185 e 200mm atrás da vertical do assento, sendo o comprimento das suas bielas de 300mm. O desenho deste ergómetro supunha que uma localização posterior do eixo de pedalada, bem como um maior comprimento de biela, poderia aproximar o padrão de movimento ao executado durante a corrida e por isso assemelhar-se a esta. Se este padrão se confirmasse, sugerir-se-ia a sua utilização como substituição da corrida naqueles casos em que se desaconselha o impacto provocado pela passada larga. MÉTODOS Para comprovar os pressupostos apresentados pelo projectista, concebeu-se um estudo comparativo do protótipo de cicloergómetro, com outro cicloergómetro convencional, ao mesmo tempo que ambos eram comparados com a actividade realizada num tapete rolante. Para poder comparar os efeitos dos três ergómetros nos indivíduos, determinou-se igualar o trabalho realizado em cada um a 2,4 w·kg-1 de massa corporal. Para o caso dos cicloergómetros, a carga de trabalho foi controlada através da instalação de uma roda pedaleira instrumentalizada modelo SRM, a qual foi ligada a um computador ia transmitindo em tempo real o trabalho realizado. Relativamente ao cálculo do trabalho realizado no tapete rolante, foi determinado através do cálculo do trabalho vertical realizado: Trabalho = [Peso (kg) * Força Gravidade (m·s-2) * Velocidade (m·s-1) * Inclinação (%)] O trabalho realizado no tapete rolante foi feito a duas velocidades diferentes a fim de se comprovar se existia semelhança de alguma delas com a pedalada no protótipo. Estudo de Validação Previamente realizou-se um teste de repetibilidade e validação do sistema de resistência que o protótipo tinha incorporado para o controlo da carga, através de um sistema de 8 ímanes. Este estudo foi realizado em duas fases, uma de validação mecânica e outra de validação humana. Validação Mecânica. Através de um motor de 1200 w adaptou-se uma engrenagem suplementar junto ao eixo da roda metálica posterior. Através de uma corrente convencional ligou-se este eixo à roda pedaleira secundária do sistema SRM. Desta forma foi possível realizar um vasto número de repetições em que se fez girar a roda pedaleira entre 20 e 150 rpm de modo a determinar se existiam diferenças num mesmo dia depois de várias repetições, bem como entre vários dias diferentes. Validação Humana. Através da participação de 4 indivíduos, foram analisados os efeitos que as diferentes resistências de que o protótipo dispunha tinham sobre o registo de potência de trabalho registada através do software de SRM a diferentes cadências, de modo a comprovar se existiam diferenças entre os diferentes resultados de vários indivíduos. Individuos No presente estudo participaram 9 pessoas (7 homens e 2 mulheres; 72±10 kg peso corporal; 29±3 anos), de diferente condição física, voluntários, e previamente informados sobre o protocolo a desenvolver, bem como das possíveis consequências e riscos que os testes propostos poderiam implicar. Protocolo O estudo consistiu na realização de 4 testes de 3 minutos, levados a cabo em cada um dos ergómetros seleccionados: Pedalada no protótipo de cicloergómetro a 50 rpm (PCE), pedalada no cicloergómetro convencional a 50 rpm (SRM), corrida a 7 km·h-1 em tapete rolante com uma inclinação de 12,5% (7km), e corrida a 17 km·h-1 em tapete rolante com una inclinação de 5% (17km). A ordem destes testes foi aleatória a fim de evitar qualquer possível efeito de um sobre os outros. Antes do início dos testes, os indivíduos realizaram um aquecimento a 100 w no cicloergómetro convencional, a uma cadência livre e durante 10 minutos. Variáveis Com a finalidade de estabelecer similitudes e diferenças entre os protocolos descritos, foram analisadas diferentes variáveis durante a execução de cada um deles: Carga de Trabalho: Determinada a partir de uma carga constante de 2,4 w·kg-1 de massa corporal. Frequência Cardíaca (HR): Registada durante a totalidade de cada um dos testes, foi analisada a cada 15 segundos com cardiofrequencímetro (Polar®. Finlândia) Sinais electromiográficos (EMG): Foram registados entre o minuto 2:00 e o 2:30 com uma frequência de 1 kHz. Os músculos registados foram, em todos os casos, os da perna direita: Vasto Lateral (VL), Recto Femoral (RF) Psoas Ilíaco (PS), Vasto Interno (VM), Glúteo Maior (GM), Semimembranoso (SM), Gastrocnémio (G) e Soleo (S). Mediante a análise da electromiografia determinou-se a voltagem de activação média (MAV) de cada músculo. Este valor foi calculado a partir da integrada EMG/Tempo em cada uma das contracções e é representado como percentagem do valor máximo alcançado numa contracção isométrica máxima (flexão ou extensão do joelho). Também foi determinada a pendente de EMG (RER) nos 75 ms iniciais, calculada como o incremento de ∆EMG/∆Tempo, e também é representada como percentagem da MAV numa contracção isométrica máxima. Por último, analisou-se a média da frequência de activação (MDF) calculada como a frequência de activação muscular mais repetida em cada uma das contracções. Padrão de contracção muscular: Foi analisado para todos os protocolos, a fim de se determinar a ordem em que se contrai cada um dos músculos analisados em cada um dos testes realizados. Frequência de Movimento: Contracções por minuto de cada um dos músculos analisados. Duração Média da Contracção: Média do tempo que cada um dos músculos analisados durante o teste se mantém contraído. Raio de Movimento: Analisado a partir da angulação existente nas articulações da coxa e do joelho entre uma flexão e uma extensão máxima requerida em cada ergómetro. Esta análise foi realizada exclusivamente nos dois cicloergómetros. RESULTADOS Estudo de Validação Validação Mecânica. Para a validação do ergómetro foram realizados 8 testes de medição cadência/potência, cada um deles de forma incremental com uma resistência magnética de 7 (mínima resistência). A partir de cada um dos testes determinou-se a recta de regressão que relacionava os dois parâmetros, sendo a média do quociente de correlação R=0,99±0,1. Conhecida a recta de regressão calcularam-se os valores teóricos de cadência para obter potências de 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 w de acordo com cada um dos testes previamente realizados, obtendo-se resultados de 43±1, 56±2, 70±2, 83±3, 97±3, 110±4, 124±5 e 137±6 rpm respectivamente Estimativa da cadência necessária para produzir uma Potência Determinada a partir das rectas de regressão de 8 testes prévios Cadência Estimada (rpm) Cadencia Estimada (rpm) Estimación de Cadencia necesariapara producir una Potencia Determinada a partir de las rectas de regresion de 8 test previos 160 Test 1 Test 2 Test 3 Test 4 Test 5 Test 6 Test 7 Test 8 140 120 100 80 60 40 20 0 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 Potência Determinada (watt) Potencia Determinada (vatios) Validação Humana. A recta de regressão obtida a partir dos valores de cadência/potência, calculados nas diferentes posições das resistências magnéticas do PCE mostraram um coeficiente de correlação médio de R=0,94±0,4. As cadências estimadas a partir destas rectas de regressão, para determinar potências de trabalho foram calculadas com resistências 7, 5, 3 e 2 (da maior à menor distância dos ímanes à roda) sendo para 100 w (71,1±2; 57,4±2; 32,7±1;18,8±1 rpm respectivamente), para 150 w (98,6±6; 76,5±3; 46,3±1; 28,1±1 rpm respectivamente) e para 200 w (126,1±10; 95,6±4; 59,8±2; 37,4±1 rpm respectivamente) Cadência estimada para produzir uma potência de 200 W a diferentes resistências. Sujeto 1 Cadencia estimada para producir una Potencia de 200 vatios a distintas Resistencias Sujeto 3 Sujeto 4 Cadencia estimada para producir una Potencia de 150 vatios a distintas Resistencias Cadencia estimada para producir una Potencia de 100 vatios a distintas Resistencias Sujeto 2 120,0 160,0 80,0 140,0 70,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 Cadencia de Pedaleo (rpm) Cadencia de Pedaleo (rpm) Cadencia de Pedaleo (rpm) 100,0 80,0 60,0 60,0 50,0 40,0 30,0 Cadência de pedalada. 40,0 20,0 20,0 20,0 10,0 0,0 0,0 1 2 3 4 5 6 7 Resistencias Magnéticas Medições durante o Protocolo 0,0 1 2 3 4 5 6 7 Resistencias Magnéticas 1 2 3 4 5 6 Resistencias Magnéticas Resistência magnética. Carga de Trabalho: CT em PCE (170±22w) não foi diferente de SRM (169±17w), nem foi diferente de 7Km (171±23w) nem de 17Km (170±23w). Frequência Cardíaca: HR em PCE (151±13bpm) foi maior que em SRM (136±15bpm) (p<0,05) e menor que em 17Km (170±23w) (p<0,05), ainda que não tenha sido diferente da obtida em 7Km (154±11bpm). 7 Carga de trabalho em … . Carga de trabajo en diferentes ergómetros 2,4 w·kg-1 * 250 * 200 180 Carga de Trabajo (w) 225 200 171 151 154 160 140 136 120 175 100 80 150 60 40 125 20 Frecuencia Cardiaca (b.p.m) Carga de trabalho (W) Frequência cardíaca (bpm) 0 100 SRM PCE 7km/h 17Km/h Evolução da Frequência Cardíaca medida em PCE, SRM, 17KM e 7Km num teste de igual carga de trabalho (2,4 w·kg1 de massa corporal) (*) Frequência cardíaca Diferente de PCE (p<0.05) Sinais electromiográficos (EMG): MAV: Na musculatura extensora do joelho e flexora da coxa em PCE foi 45% maior que em SRM (p<0,05) e 49% maior que em 7Km, ainda que na musculatura flexora plantar em PCE fosse 106% menor que em SRM e 307% menor que em 17Km Tapete rolante V. Interno Prototipo PCE SRM convencional tapiz rodante RER: Na musculatura flexora plantar foi 34% menor que em SRM (p<0,05) e 290% que em 17Km, sendo e PCE 126% menor na musculatura extensora do joelho e flexora da coxa. MDF: Não se observaram diferenças entre os testes. Padrão de contracção muscular: Não se encontraram diferenças entre SRM e PCE, ainda que ambos tenham sido diferentes dos padrões descritos em ambos os testes de corrida. Padrão de Activação Pedalada PROTÓTIPO PCE Padrão de Activação Pedalada CONVENCIONAL SRM Padrão de Activação Corrida 7km/h 12,5% Inclinação Padrão de Activação Corrida 17km/h 5% Inclinação Frequência de Movimento: Analisada em VL em SRM, PCE, 7km e 17km, foi de 49±0,9; 49±0,8; 76,2±2,9; e 89,6±4,6 contracções por minuto respectivamente. Duração Média da Contracção: Medida nos músculos extensores do joelho observase que em PCE foi maior que em SRM em RF, PI e VL (34,7±5,6; 44,1±1,0; 25,6±4,4 vs 27,1±1,8; 35,9±1,4; 24±3,2 s·min-1) (p<0,05), estes valores foram maiores que os obtidos durante os protocolos de corrida em todos os músculos (p<0,05) Raio de Movimento: Medido na articulação do joelho, verificámos que em PEC foi de 111º (44º-155º) enquanto que em SRM foi de 51º (84º-135º). Medido na articulação da coxa verificámos que em PEC foi de 83º (62º-145º) enquanto que em SRM foi de 41º (65º-104º) CONVENCIONAL SRM Máxima extensão da coxa (104,0º) e joelho PROTÓTIPO PCE Máxima extensão da coxa (145,2º) e joelho (154,4º) CONVENCIONAL SRM Máxima flexão da coxa (65,5º) e joelho (83,7º) PROTÓTIPO PCE Máxima flexão da coxa (62,2º) e joelho (43,9º) CONCLUSÕES Uma mesma carga de trabalho exercida em PCE e 7km produzem idêntica frequência cardíaca enquanto que esta intensidade em SRM produz um ritmo cardíaco mais baixo e mais elevado em 17km. O ritmo cardíaco mais elevado em PCE comparado com SRM poderia ser devido à maior duração da contracção nos músculos extensores do joelho possivelmente produzida por um maior raio de movimento como consequência de atrasar o eixo de pedalada e aumentar o comprimento da biela. Este estudo demonstra que pedalar em PCE produz uma activação dos músculos extensores do joelho e do flexor da coxa idêntico a correr a 17km•h-1, e uma activação mais alta que pedalar num cicloergómetro convencional. Não obstante, a activação dos músculos flexores plantares do tornozelo pedalando em PCE era mais baixa que pedalando num cicloergómetro convencional ou durante a corrida a alta velocidade. As diversas respostas observadas poderiam ser explicadas, em parte, por diferenças na activação muscular. Coloca-se a possibilidade de estudar o efeito do protótipo para os propósitos de treino e de reabilitação, devido a sua alta activação muscular, inclusive dos músculos em que a activação através de um cicloergómetro convencional é mais difícil. RECOMENDAÇÕES Estudo de Validação 1. Analisados os resultados coloca-se a possibilidade de alterar o sistema de deslocação dos ímanes, devido a que em algumas ocasiões precisa de ser manipulado de modo a colocá-los na sua posição correcta. Análises do Movimento 1. O amplo percurso da musculatura da perna, provocado pelo comprimento das bielas poderia produzir lesões na musculatura flexora da coxa. 2. É possível que uma biela de menor comprimento produza efeitos similares. 3. Seria preciso conceber uma elevação do selim que não reduza a distância entre a vertical do assento e o eixo de pedalada, a fim de que todos os utilizadores possam dispor de características biomecânicas idênticas.