Página 1 de 4 Voltar DIGESTIBILIDADE DOS NUTRIENTES EM OVINOS RECEBENDO DIETAS COM DIFERENTES NÍVEIS DE SUBPRODUTO DO MARACUJÁ1. FERNANDO HENRIQUE M.A.R. ALBUQUERQUE2, MARCOS CLAÚDIO PINHEIRO ROGÉRIO3, IRAN BORGES4, HELOÍSA DE OLIVEIRA SALIBA SIMÕES4, ANDRÉ GUIMARAES MACIEL E SILVA5, GILBERTO DE LIMA MACEDO JUNIOR5, NORBERTO MARIO RODRIGUEZ6, JOSÉ NEWMAN NEIVA7. 1 Projeto financiado pelo CNPq/PROCADI. Trabalho pertencente a Tese de Doutorado do terceiro autor. Estudante de mestrado da UFMG, Belo Horizonte, MG. [email protected] 3 Professor Assistente da UVA, CE. 4 Professores Adjunto do Departamento de Zootecnia da UFMG, Bolsista CNPq. 5 Estudantes de Doutorado da UFMG, Belo Horizonte, MG. 6 Professor Titular do Departamento de Zootecnia da UFMG, Bolsista CNPq. 7 Professor da Universidade Federal do Tocantins, TO. Bolsista CNPq. 2 RESUMO: O presente estudo foi conduzido objetivando avaliar a influência da inclusão do subproduto do processamento de maracujá (Passiflora edulis) sobre os coeficientes de digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, extrato etéreo, fibra detergente neutro, fibra detergente ácido, hemiceluloses, celulose e energia de dietas experimentais isofibrosas e isoprotéicas contendo o subproduto de maracujá. Vinte ovinos machos, inteiros foram distribuídos em quatro níveis de inclusão do subproduto (zero; 18%; 31%; 47%), em delineamento inteiramente ao acaso, com cinco ovinos por tratamento. Quando o subproduto de maracujá foi incluído em 47% do total dietético houve aumento da digestibilidade da celulose em relação ao tratamento 18%. O subproduto de maracujá apresenta potencialidade como alimento para ruminantes quando a inclusão do subproduto for de 18% do total dietético. PALAVRAS-CHAVE: dieta, fibra, frutas, nutrição, ovinos, ruminantes NUTRIENT DIGESTIBILITY IN SHEEP RECIEVING DIFFERENT LEVELS OF PASSION FRUIT BY-PRODUCT ABSTRACT: The work was conducted to evaluate the effect of inclusion of passion fruit by-product (Passiflora edulis) on the coefficients of digestibility of dry matter, organic matter, crude protein, ethereal extract, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, hemicellulosis, cellulosis and energy of diets containing passion fruit by-product with the same level of fiber and protein. Twenty male ovine, distributed in four levels of inclusion of the sub product (0; 18%; 31%; 47%), in a randomized design with five animals for treatment. With 47% of by-product there was increase of the digestibility of CEL in relation to treatment 18%. The passion fruit sub product presents potentiality as feed for ruminants in the level of 18%. KEYWORDS: Diets, fiber, fruits, nutrition, ovine, ruminants INTRODUÇÃO O gênero Passiflora, da família Passifloraceae, contém mais de 500 espécies tropicais, sendo o Brasil o centro de origem da maioria delas. O maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa, Deuger) é a principal variedade cultivada, sendo responsável pelo fornecimento de matéria-prima para indústria processadora, bem como para comercialização de frutas frescas. A file://D:\8_Ruminantes\1315.htm 17/08/00 Página 2 de 4 cultura apresenta um vasto potencial para o aproveitamento do subproduto em virtude da proporção da casca em relação ao total do fruto. No entanto, atenção especial deve ser tomada, particularmente com relação à inclusão da semente (rica em óleo) na composição da dieta, na medida em que altos níveis de extrato etéreo dietéticos podem inibir a digestibilidade das frações fibrosas (Starling et al., 1997). A digestibilidade dos alimentos não é constante para todos os animais ou para todas as condições de alimentação, mas a principal fonte de variação decorre das diferenças na sua estrutura, composição química e estágio de maturidade da planta. Com o presente ensaio avaliou-se os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes das dietas experimentais fornecidas a ovinos em crescimento contendo subproduto da indústria processadora de maracujá. MATERIAL E MÉTODOS O subproduto agroindustrial era composto basicamente pela casca e sementes após a extração do suco e, após secagem ao sol, picado grosseiramente. A dieta formulada e sua composição química e energética constam na Tabela 1. Houve dificuldade para, com os alimentos utilizados, se atingir a exigência de energia. Desta maneira, procurou-se estabelecer um nível de fibra dietético máximo, idêntico para os quatro tratamentos, de modo que os níveis de energia se aproximassem do prescrito pelo NRC (1985). Foram utilizados 20 cordeiros machos e inteiros com seis meses de idade e peso vivo médio de 28,5 kg, distribuídos em quatro tratamentos (0%, 18%, 31% e 47% de inclusão do subproduto do maracujá). Os ovinos foram previamente everminados e alojados em gaiolas de metabolismo com dispositivos apropriados para colheita e separação de urina e fezes. O período de adaptação dos animais às dietas e às gaiolas foi de 10 dias, sendo o período experimental de 7 dias. Os 20 carneiros foram pesados no início do período de adaptação. O peso foi utilizado para o cálculo do consumo em gramas por unidade de tamanho metabólico (UTM). As dietas foram divididas em duas refeições iguais. A colheita e pesagem total de fezes diária sendo reservada uma alíquota de 20% deste peso. O volume total de urina foi pesado retirando-se para cada carneiro uma alíquota de 20% do volume total colhido a cada dia. A determinação dos coeficientes de digestibilidade foi feita conforme Silva e Leão (1979). O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos (quatro níveis de inclusão do subproduto) e cinco repetições (animais) por tratamento.As médias foram comparadas utilizando-se os testes t e SNK, em nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferenças significativas (P>0,05) quanto aos coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS), da matéria orgânica (MO) e da proteína bruta (PB) entre os tratamentos experimentais. Já para o extrato etéreo (EE) houve aumento (P<0,05) da digestibilidade para toda inclusão do subproduto de maracujá. A explicação mais plausível pode estar na forma física e na cristalinização dos componentes da parede celular (Van Soest, 1994). O valor médio de digestibilidade da MS para as dietas que incluíram o subproduto de maracujá foi de 66,28%, valor relativamente alto, em se tratando de um subproduto, comparável àquele encontrado para o capim Tifton 85, 66,30% citado por Valadares Filho et al. (2002). Contribuiu para isso os altos valores de digestibilidade do extrato etéreo, média de 87,9%, para os tratamentos que incluíram o subproduto. O valor médio de digestibilidade da proteína bruta para as dietas que incluíram o subproduto de maracujá foi de 58,76%. O efeito quadrático ascendente revelou superioridade de digestibilidade do extrato etéreo a partir do primeiro nível de inclusão do subproduto (18%) (tabela 2).Quanto às digestibilidades da FDA e das hemiceluloses não houveram diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos a partir do incremento dos níveis de subproduto de maracujá. A digestibilidade da FDN foi inferior (P<0,05) nos tratamentos que incluíram o subproduto em 31 e 47% do total dietético em relação à dieta controle. O tratamento 18% teve valor semelhante aos demais. A digestibilidade da celulose foi superior no tratamento 47% em relação ao tratamento 18%, mas equivaleu-se aos tratamentos zero e 31%, os quais assemelharam-se à digestibilidade encontrada no tratamento 18%. A digestibilidade média da FDN das dietas experimentais que incluíram o subproduto de maracujá foi file://D:\8_Ruminantes\1315.htm 17/08/00 Página 3 de 4 de 55,92%, comparável àquela encontrada por Lousada Júnior (2003) para o subproduto de maracujá fornecido exclusivamente para ovinos (56,24%). A digestibilidade da FDA, média de valores médios dos tratamentos que incluíram o subproduto de maracujá, foi de 44,02%, comparável ao encontrado para a silagem de milho (43,44%), com percentual de lignina de 4,86% (%MS), e para o feno de alfafa (45,6%), com percentual de lignina de 9,04% (%MS) (Valadares Filho et al., 2002). De acordo com Van Soest (1994), a perda de pectina neste processo e sua relativa disponibilidade nutritiva são evidências da ausência de ligações covalentes com a matriz lignificada. Ainda segundo este autor, a pectina faz parte da parede celular, entretanto é rapidamente fermentável e completamente degradável pelas bactérias ruminais. De acordo com Van Soest (1994), os pequenos ruminantes, em relação aos grandes ruminantes, compensam a baixa capacidade digestiva evitando o consumo de alimentos de baixa qualidade por meio da seleção de alimentos. Como todo subproduto agroindustrial, o subproduto de maracujá como substituto do capim elefante pode representar, conforme Mertens (2001), uma redução no nível de fibra fisicamente efetiva na dieta. Dentre os modelos testados para os dados de digestibilidade das frações fibrosas, apenas a digestibilidade da FDN teve ajuste significativo (P<0,05) e com coeficiente de determinação superior a 45%. O efeito quadrático descendente observado revelou a redução da digestibilidade da FDN a partir da inclusão do subproduto de maracujá. Provavelmente esta redução ocorreu em virtude da influência negativa dos altos níveis de ligninas presentes nas dietas experimentais. Não se pode descartar totalmente o efeito dos lipídeos da dieta sobre a queda nesta digestibilidade, entretanto, as dietas (Tabela 1) não ultrapassaram o máximo de lipídeos recomendado (sete a oito por cento) para ruminantes sem efeitos deletérios sobre a digestibilidade da fibra descritos por Van Soest (1994). CONCLUSÕES Quando o subproduto do maracujá foi incluído em 47% do total dietético houve aumento da digestibilidade da celulose em relação ao tratamento com 18%. Estudo mostrou que com 18% de inclusão de subproduto do maracujá obteve-se os melhores resultados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LOUSADA JUNIOR,J.E. Digestibilidade aparente de subprodutos do processamento de frutas em ovinos. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2003. 94p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Ceará, 2003. 2. MERTENS, D.R. Physical effective NDF and its use in formulating dairy rations. In: Simpósio Internacional em Bovinos de Leite, 2, 2001, Lavras. Anais… Lavras: UFLA-FAEPE, 2001. p.25-36. 3. SILVA, J.F.C. e LEÃO, M.I. Fundamentos da nutrição de ruminantes. Piracicaba, Livroceres, 1979. 380p. 4. STARLING, J.M.C., RODRIGUEZ, N.M., MOURÃO, G.B. Avaliação da semente de maracujá (Passiflora edulis) em ensaio de digestibilidade da matéria seca, fibra em detergente ácido, hemicelulose e celulose. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.49, n.1, p.6374, 1997. 5. 6. VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. Ithaca, New York (USA): Cornell University Press, 1994. 476p. Tabela 1. Composição centesimal e bromatológica das dietas contendo subproduto de maracujá e ofertadas a ovinos em base de matéria seca Tratamentos Propostos 0% Capim Elefante 31,28 file://D:\8_Ruminantes\1315.htm Milho 49,47 Torta de Algodão 19,25 %MS 70,33 %PB 14,72 %NDT1 69,56 %FDN 38,80 17/08/00 Página 4 de 4 15,31% 30,61% 45,92% 1 20,85 11,62 0 47,43 40,50 43,35 16,41 17,27 10,73 76,89 82,26 90,03 14,72 14,72 14,72 68,59 66,53 66,67 38,80 38,80 38,80 Estimado segundo Cappelle et al. (2001) Tabela 2 - Médias (%) e equações de regressão dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), matéria orgânica (DMO), proteína bruta (DPB), extrato etéro (DEE), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (HEMICEL) e celulose (CEL) das dietas contendo quantidades crescentes de subproduto de maracujá fornecidas a ovinos Variáveis 0% 18% 31% 47% Equação de Regressão CV (%) R2 (%) DMS Y:NS 5,05 69,54a 64,96a 67,00a 66,88a a a a a DMO Y:NS 4,54 73,81 68,98 70,89 70,69 a a a a DPB Y:NS 7,99 56,83 55,28 60,60 60,41 b a a a DEE Y:NS 6,51 77,10 85,06 87,05 91,59 a ab b b 2 DFDN 8,62 0,57 66,32 59,67 55,50 52,59 66,37 - 0,43X + 0,003X DFDA Y:NS 16,30 54,90a 46,78a 43,43a 41,84a HEMICEL Y:NS 7,93 73,11a 69,24a 67,45a 64,73a ab b ab CEL 12,55 0,52 50,59 51,26 60,68 62,86a 77,33 + 0,43X - 0,0028X2 a Médias com letras iguais na mesma linha não diferem significativamente pelo teste SNK (P>0,05) X = Nível de inclusão do subproduto de maracujá (%) file://D:\8_Ruminantes\1315.htm 17/08/00