SENSIBILIDADE A FUNGICIDAS DE Lasiodiplodia theobramae ASSOCIADOS A FRUTOS DE MAMÃO (Carica papaya). Jean Herllington Araújo Monteiro1, Marcelo Bezerra da Silva2, Francisco José Teixeira Gonçalves3, Marcos Paz Saraiva Câmara4, Péricles Albuquerque Melo Filho5 Introdução O mamoeiro, (Carica papaya L.), é originário do continente americano e encontra-se amplamente cultivado e consumido em vários países nas regiões tropical e subtropical. Possui frutos aromáticos, ricos em vitamina C, recomendados em dietas alimentares pelo seu valor nutritivo e digestivo. O Brasil ocupa o primeiro lugar com uma produção de 1.898.000t, seguido pelo México (800.000t), Nigéria (765.000t), Índia (700.000t) e Indonésia (645.000t) [1]. As perdas que ocorrem na fase pós-colheita de frutos em função do aparecimento de podridões, normalmente oriundas do campo, são um dos principais problemas enfrentados pelos produtores de frutas e hortaliças. Em geral, os agentes causadores de podridões em póscolheita apresentam uma característica comum, que é a capacidade de se estabelecerem no fruto imaturo e permanecerem em estado latente, sem o aparecimento de sintomas, até que haja condições para que o processo de infecção tenha lugar [2]. A podridão peduncular também apresenta essa característica, e os sintomas normalmente aparecem com o amadurecimento do fruto, fato que parece ocorrer com todos os patógenos associados a essa doença. Por se tratar de uma doença em que os sintomas nem sempre são percebidos até a fase avançada de maturação dos frutos, é recomendado que o controle, nesse caso, seja efetuado antes da fase de maturação desses frutos [3]. As medidas de controle empregadas para as podridões pedunculares incluem prevenção e erradicação de infecções; evitar ferimentos e supressão do desenvolvimento e disseminação da doença; tratamento pós-colheita com imersão dos frutos em água quente e/ou fungicidas além de armazenamento em condições que retardem ou diminuam o apodrecimento de frutos sem afetar a qualidade dos mesmos e pulverizações com fungicidas no campo [4]. De acordo com o Ministério da Agricultura há vários fungicidas registrados para a cultura do mamoeiro, porém, o único registrado para o controle da podridão peduncular causada por L. theobromae é o tiabendazol, pertencente ao grupo dos benzimidazóis. O objetivo de conhecer a sensibilidade de L. theobromae a diferentes fungicidas, considerada a importância da cultura do mamão para a produção interna e externa. . Material e métodos A) Coleta das amostras com sintomas e isolamento Os isolados foram obtidos de frutos de mamão de variedades Golden, Havai, Baixinho de Santa Amélia, Calimosa e Formosa naturalmente infectados, adquiridos de pomares das propriedades agrícolas da região nordeste do Brasil (Fig. 1). Os frutos foram transportados para o laboratório de micologia, onde foram mantidos em caixas plásticas a temperatura de 25 °C e diariamente observados para a verificação do desenvolvimento das lesões da podridão peduncular dos frutos. Após o desenvolvimento das lesões, procedeu-se aos isolamentos retirando blocos de 4 mm2 dos locais lesionados. Esses blocos foram desinfestados em solução de hipoclorito de sódio a 1% por 1 minuto, depois, colocados em álcool a 70% por 1 minuto e, em seguida enxaguados com água destilada e esterilizada. Após a desinfestação, procedeu-se a secagem dos blocos em papel esterilizado e, logo depois, foram transferidos para as placas de Petri de 9 cm de diâmetro, contendo o meio batata, amido, dextrose e agar (56g de batata, 10g de amido, 5g de dextrose e 17g de agar). Em seguida, procedeu-se a incubação em câmara de crescimento ajustada a temperatura de 25 °C a escuro, até o surgimento de estruturas fúngicas, procedeu-se a repicagem e a transferência para outra meio (BDA) [3]. B) Sensibilidade a fungicidas in vitro Para os estudos de sensibilidade a fungicidas empregouse colônias com sete dias de idade como fonte de propágulos. Estas colônias foram obtidas por meio da transferência de fragmentos de meio contendo estruturas do fungo dos tubos para placas de Petri contendo BDA comercial, as quais foram mantidas a temperatura ambiente (28±2 °C). A sensibilidade a fungicidas de L. theobromae foi estimada por meio do cultivo dos 180 isolados em BDA comercial contendo 0,3 µg de i.a. mL-1 de três fungicidas selecionados para estudo [ingrediente ativo (i.a.) / grupo químico]: prochloraz / imidazol; benomyl e tiabendazol / Benzimidazol. Destes, o tiabendazol é registrado para uso no controle de L. theobromae na cultura do mamoeiro no país e os inibidores da biossíntese de ergosterol (IBEs), prochloraz e imazalil, para controle de outros patógenos da _________________________________________________ 1. Jean Herllington Araújo Monteirto, Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Fitopatologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE. CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Marcelo Bezerra Silva, aluno de Graduação em Agronomias, UFRPE. 3. Francisco José Teixeira Gonçalves Mestrando do Programa de Pós- Graduação em Fitopatologia, UFRPE 4. Marcos Paz Saraiva Câmara é Agrônomo do Departamento de Agronomia, Área de Fitossanidade, UFRPE. 5. Péricles Albuquerque Melo Filho é Agrônomo do Departamento de Agronomia, Área de Fitotecnia, UFRPE. E-mail: [email protected] cultura. O Benomyl não é registrado para uso no mamoeiro. Cada isolado foi cultivado nas concentrações de cada fungicida: 0 (controle, sem adição de fungicida) e 0,3 µg de i.a. mL-1. Para preparo das concentrações, os fungicidas foram solubilizados em dimetil sulfóxido (DMSO) e adicionados a BDA fundido entre 50 a 60 °C, o qual foi em seguida depositado em placas de Petri. Em todas as concentrações, inclusive no controle, o volume de DMSO adicionado ao meio foi de 1% (v/v). Discos de meio (5 mm de diâmetro) contendo estruturas fúngicas de cada isolado foram depositados em placas de Petri contendo BDA mais o fungicida, sendo quatro repetições por concentração. Os isolados foram incubados por trinta horas a 25±2 °C, no escuro. Em seguida, procedeu-se a mensuração do crescimento da colônia. A inibição de crescimento micelial (ICM) para cada concentração foi expressa em porcentagem e calculada como: ICM = 100 – (raio da concentração x 100)/raio da concentração da testemunha. Para isto, construiu-se uma matriz de dissimilaridade pela aplicação da distância de Mahalanobis para os dados de CE50 dos fungicidas IBEs e efetuou-se análise de agrupamento aos pares utilizando médias aritméticas (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic mean – UPGMA). Resultados e discussão A avaliação quanto à sensibilidade a fungicidas possibilitou a separação dos isolados testados neste experimento em cinco populações. Com base na análise de agrupamento pelo método UPGMA, observou-se que apesar da coleta dos isolados de L. theobroma terem sido realizadas nos principais pólos produtores de frutos de mamão da região nordeste do Brasil, a sensibilidade a fungicidas possibilitaram o agrupamento de isolados obtidos de estados diferentes no mesmo grupo, onde a população A formada pelos isolados de Santa Rita-PB, Pitimbu-PB, Petrolina-PE, São José do Mipibu-RN e Juazeiro-BA (Fig. 1). Verifica-se que houve alta variabilidade entre os isolados testados, indicando que, apesar dos mesmos terem sido coletados em diferentes estados da região nordeste brasileira, podem pertencer a uma mesma população. Convém ressaltar que o L. theobromae não se reproduz de forma sexuada no fruto de mamão, fato que já representa uma limitação para o patógeno alcançar níveis de variabilidade expressivos. Os resultados aqui relatados, além de demonstrar variação de populações de L. theobromae patogênicas a mamoeiros, em relação à sensibilidade aos prochloraz / imidazol; benomyl e tiabendazol / Benzimidazol sinalizam para outros aspectos práticos quanto à diagnose e ao controle do agente da podridão póscolheita. Assim, para recomendações sobre o uso de fungicidas fica evidenciada a dependência do conhecimento prévio da existência e predominância de estirpes resistentes em cada região e ano de cultivo. É importante considerar, ainda, que o presente trabalho representa um estudo exploratório inicial, com grande número de isolados. Um estudo mais acurado da população do patógeno no tempo e no espaço permitirá uma visão mais clara de sua dinâmica populacional. Este aspecto torna-se relevante para o melhoramento genético visando resistência à doença, tendo em vista ser possível, caso a população do patógeno seja uniforme, reduzir o número de experimentos ou concentrá-los em regiões específicas. Agradecimentos Ao CAPES pelo apoio financeiro e a UFRPE pela infraestrutura do laboratório, onde foi desenvolvida a pesquisa. Referências [1] FAO. FAOSTAT – Agricultural statistics database. Rome. World Agricultural Information Center. 2007. Disponível em: < http:// apps.fao.org.> Acesso em: 12 ago. 2009. [2] BLEINROTH, E. W. In: GAYET, J. P.; BLEINROTH, E. W.; MATALLO, M.; GARCIA, E. E. C.; GARCIA, A. E.; ARDITO, E. F. G.; BORDIN, M. R. Mamão para exportação: procedimentos de colheita e pós-colheita. Brasília: EMBRAPA-FRUPEX, 1995. 38 p. [3] NERY-SILVA, F. A.; MACHADO, J. da C.; LIMA, L. C. O.; RESENDE, M. L. V. Controle químico da podridão peduncular de mamão causada por Colletotrichum gloeosporioides. Ciências e agrotecnologia, v. 25, n.3, p. 519-1524, 2001. [4] OLIVEIRA, S.M.A, TAVARES, S.C.C.H, DANTAS, S.A.F Diagnose e Manejo de Doenças das Fruteiras Tropicais no Nordeste Brasileiro. In: Michereff SJ, Barros R (Eds.) Proteção de plantas na agricultura sustentável. Recife. Imprensa Universitária da UFRPE. pp. 183-223. 2001. [5] FINCH, H.C.; FINCH, A.N. 1974. Los hongos comunes que atacan cultivos en america latina .México, 1:34-35. [6] BARNETT, H.L.; HUNTER, B.B. 1998. Ilustrated Genera of Imperfect Fungi. St. Paul, Minnesota. 1:188-189. Figura 1 Dendrograma mostrando o agrupamento dos isolados de Lasiodiplodia theobromae segundo o método UPGMA.