Carta Maior - Luís Carlos Lopes - Crimes, machismo e vinganças
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Colunistas | 10/07/2010 | Copyleft
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DEBATE ABERTO
Crimes, machismo e vinganças
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Os brasileiros mais atentos sabem que inúmeras mulheres apanham, algumas são
torturadas, outras mortas e todas são desvalorizadas diariamente pelas grandes e
pequenas mídias. Nestas, são tratadas como carne, bichos ou brinquedos
masculinos.
O conflito entre Colômbia e
Venezuela
Deixo aqui mais uma consulta
para vocês responderem: qual
deve ser a posição do Brasil
diante do conflito entre a
Venezuela e a Colômbia ? 28/07/2010
Luís Carlos Lopes
As grandes mídias já esqueceram os crimes rumorosos de ontem e já
escolheram um novo para continuar o espetáculo de sangue e de ódio. Afinal,
o show não pode parar. A idéia é esta: juntar a oportunidade ao script de
sempre. Os ingredientes são bem conhecidos, tornam-se ainda mais fortes
quando se trata de pessoas que já haviam alcançado alguns degraus da fama
e do dinheiro fácil.
Os grandes assuntos que perpassam estes acontecimentos funestos estão
presentes nas palavras usadas para noticiar os fatos. Mas, esta presença não
é interpretada, o que interessa é narrar o horror e ganhar audiência com os
detalhes sórdidos. Estes atraem o grande público, já corrompido com a lógica
irracionalista do mundo cão do cotidiano de suas vidas e o descrito no
universo alucinado das reportagens.
.
Leia no La Jornada:
.
Leia no Pagina/12:
.
Destaques
Quando menos se esperava, o Brasil parou. Parece que agora só existe um
crime e que aquele fato é o único assunto a ser consumido. A cobertura das
emissoras de Tv e de rádio, dos jornais e das revistas impressas é cerrada.
Tudo ecoa na Internet, repetindo-se interminavelmente até o cenário final do
julgamento. Ninguém é poupado dos detalhes, por mais escabrosos que
sejam. Os operadores da Justiça e da Polícia dão inúmeras entrevistas focando
o drama deste último caso, como ocorreu nos anteriores. Tudo se repete
melancolicamente, sem qualquer reflexão.
que se deliciavam com a literatura de
Saramago e com suas aparições
públicas não deixarem que a máquina
midiática tente apagar o mais
importante do que ele legou à
humanidade: a luta obstinada pela
razão esclarecida.
O crime escolhido agora para representar o Brasil nas mídias tem o poder
aparente de se fazer esquecer de todo o resto. Não há mais uma eleição em
curso. A tragédia do Golfo do México sumiu do mapa midiático. A Copa do
Mundo acabou, porque o Brasil foi desclassificado. Os mil e um problemas do
Brasil são reduzidos a um único episódio, com farta mobilização das pessoas
• Sem saída, José? - A sabedoria do
senso comum já aprendeu que a pior
imoralidade é condenar o povo, depois
de séculos, a continuar a ser
explorado, a não ter onde morar, o que
comer, a viver em um estado de
miséria e ignorância.
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4703[29/07/2010 13:02:48]
• Em defesa da razão - Cabe a todos
Luís Carlos Lopes
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19/06/2010
Carta Maior - Luís Carlos Lopes - Crimes, machismo e vinganças
que clamam por justiça e gritam xingamentos para os acusados que desfilam
frente às câmeras. A catarse, obtida com muita emoção alienada, paralisa o
pensamento, impedindo qualquer espaço para o advento de uma visão
racional.
O grito arcaico de vingança é fortemente estimulado e as pessoas acreditam
que haverá justiça unicamente com a necessária punição daqueles culpados.
O contexto onde o crime brutal foi cometido desaparece do cenário. Ele é
ocupado pelos arquétipos do mal e do bem, personalizados pela bela e a fera,
esta última é, com razão, estigmatizada como fosse única e solitária. Com
isto, os verdadeiros problemas sociais, econômicos, políticos e culturais que
permitiram a barbárie deste fato, como a de muitos outros, são colocados
para baixo do tapete.
A violência deste último crime foi radical e impressionante. Entretanto,
infelizmente, tratar violentamente mulheres é um esporte nacional. Não
casualmente, foi feita uma lei – Maria da Penha – para tentar coibir e punir
fatos desta natureza. Não são poucas mulheres que são assassinadas pelo
‘crime’ de serem mulheres. Ainda há um contexto social que apóia e considera
normal o sexismo de muitos homens que se acreditam como superiores às
mulheres e com o direito de dispor delas como quiserem.
A solidariedade masculina vista no episódio é habitual, atingindo, igualmente,
a um grande conjunto de mulheres que aceitam sem qualquer problema o
machismo de seus parceiros. O sexismo é uma ideologia, não tem sexo,
idade, cor ou classe social. Esta solidariedade explicaria a inação das
autoridades que foram alertadas deste crime anunciado pela própria vítima,
que registrou o problema em uma longa entrevista incriminadora dada à
maior rede de Tv do país e deu queixa às autoridades. Tudo isto faz com que
se compreenda sua ingenuidade relativa de vítima traída por quem poderia
ajudá-la: as instituições de Estado.
Gilson Caroni Filho
- O que é realmente uma imprensa
livre ? A que temos no Brasil é
prisioneira do poder econômico,
controlado pelas classes
endinheiradas. Rigorosamente
aprisionada dos preconceitos e visões
destas classes. Imprensa livre de
quem, então ? A preferência dos barões
da mídia é escandalosa. Há uma
unanimidade contra a candidata de
Lula. Exceção feita, nas revistas de
circulação nacional, à Carta Capital.
Exceção que também se verifica na
chamada mídia alternativa, porém
extremamente pulverizada e de
escassa circulação nacional. Com todo
o heroísmo que significa a sua
sustentação. O artigo é de Beto
Almeida.
Política
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19/06/2010
•
- A “comunidade ocidental” procura
tranqüilizar - nos informando que hoje
há 40 mil armas nucleares menos que
nos tempos críticos da Guerra Fria. O
que eles nos dizem é: durante a guerra
fria a capacidade nuclear existente
poderia destruir o mundo centenas de
vezes. Mas, agora, todos podem se
acalmar pois os lideres mundiais, que
são muito racionais, informam que
fizeram um acordo e o mundo poderá
ser destruído apenas algumas dezenas
de vezes. Nesse terreno estamos mais
próximos do Teatro do Absurdo do que
propriamente da política internacional.
O artigo é de Reginaldo Nasser.
Internacional
A violência de indivíduos ou de bandos não sai de uma cartola mágica. Ela
surge de um processo complexo, onde ela é disseminada, desde a mais tenra
idade. Homens ou mulheres violentas não são necessariamente loucos. As
pesquisas de Breton e de outros mostram que a loucura explicaria a violência
de alguns indivíduos de um mesmo bando de facínoras. Seria incapaz de fazer
compreender a violência extrema de todos.
Flávio Aguiar
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4703[29/07/2010 13:02:48]
19/06/2010
•
Philippe Breton, falando dos episódios de violência terríveis conhecidos em
casos como o do nazifascismo e das guerras dos últimos cem anos,
desenvolveu a hipótese da lógica da vingança. Este se aplica a este caso, com
as diferenças de não se tratar de um bando organizado de grandes
proporções e de um massacre étnico ou político específico. Mas, nele pode se
ver os ovos da serpente chocando sem maiores problemas.
A maioria dos violentos sofreria de uma espécie de divisão psíquica. Esta seria
cultivada desde cedo no ambiente familiar, nas comunidades onde se vive,
nas instituições que recolhem menores e adultos, nas escolas, nos grupos de
camaradagem e, hoje, com grande força, na exposição diária às mídias que
exploram a violência de modo sistemático e radical. As mídias isoladamente
não transformariam ninguém em pessoa violenta, mas dariam uma boa ajuda.
O ambiente econômico-político geral seria um outro fator facilitador da
explosão de violência radical.
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19/06/2010
• Saramago nos eternos campos de caça
-
Ave, Saramago. Que não descanses
em paz, mas que continues, na tua e
na nossa memória, a luta pela boa
literatura, a liberdade e um mundo com
menos injustiças que este nosso.
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18/06/2010
• Mídia e Copa: o mundo reduzido ao
futebol - Um amigo chama minha
atenção para a cobertura “enviesada”
que a grande mídia está fazendo,
nestes dias de Copa do Mundo, do
gigantesco vazamento de óleo
provocado pela empresa “inglesa”
Bristish Petroleum, no golfo do México.
Venício Lima
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18/06/2010
• Futebol, um esporte vendido à TV - Na
mesma semana da estreia do Brasil, os
vereadores de São Paulo deram uma
guinada espetacular e mantiveram o
veto do prefeito Kassab à lei, por eles
mesmos aprovada, que proibia jogos
Carta Maior - Luís Carlos Lopes - Crimes, machismo e vinganças
de futebol na cidade com início depois
das 21h15.
O primitivismo arquetípico da vingança contra uma pessoa simboliza, nesse
caso, o ato de um pequeno grupo masculino que empunhou o ódio contra
gênero feminino. Este visto como inferior e sem qualquer direito. As coisas
saíram do controle e chegaram ao extremo. Todavia, os brasileiros mais
atentos sabem que inúmeras mulheres apanham, algumas são torturadas,
outras mortas e todas são desvalorizadas diariamente pelas grandes e
pequenas mídias. Nestas, são tratadas como carne, bichos ou brinquedos
masculinos.
Laurindo Lalo Leal Filho
entrevista, em 1998, Saramago disse
que não tinha tempo para pensar na
morte porque tinha muitas coisas que
lhe faziam viver. E que não flertava
com arrependimento: "Se tivesse que
reviver tudo de novo, mesmo com o
que há de triste, de mal, de feio, ainda
assim, viveria tudo de novo".
Washington Araújo
Arte & Cultura
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18/06/2010
- Que fazer ? Da literatura à ecologia,
da fuga das galáxias ao efeito de
estufa, do tratamento do lixo às
congestões do tráfego, tudo se discute
neste nosso mundo. Mas o sistema
democrático, como se de um dado
definitivamente adquirido se tratasse,
intocável por natureza até à
consumação dos séculos, esse não se
discute. Ora, se não estou em erro, se
não sou incapaz de somar dois e dois,
então, entre tantas outras discussões
necessárias ou indispensáveis, é
urgente, antes que se nos torne
demasiado tarde, promover um debate
mundial sobre a democracia e as
causas da sua decadência
Luís Carlos Lopes é professor e escritor.
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Arte & Cultura
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18/06/2010
COMENTÁRIOS (14 Comentários)
Opinião Comentário
Parcerias
Brilhante o conteúodo da ex...
Autor
jardel lopes
Data
19/07/2010
Penso que temos várias caus...
lise carvalho
18/07/2010
Excelente o texto do ilustr...
Flora Augusta Vare...
17/07/2010
Excelente artigo. Consegue ...
Ricardo Mainieri
15/07/2010
Machismo é algo que existe ...
Jorge Ernesto Cout...
14/07/2010
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4703[29/07/2010 13:02:48]
18/06/2010
•
O ódio de qualquer natureza é algo mortal e avesso a qualquer racionalidade.
Só se justifica em situações de defesa de uma forte opressão. Ao adotá-lo de
modo frívolo e inconseqüente, os personagens do crime em tela optaram por
algo vazio e sem sentido. Deverão pagar exemplarmente pelos seus crimes,
assim todos os brasileiros conscientes esperam. Todavia, este, bem como
outros crimes, deveria também servir para que se compreendessem melhor
vários aspectos problemáticos da sociedade brasileira.
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• - É a melhor despedida que um
escritor pode ter. Leitores e amigos de
todos os cantos do mundo fazem suas
homenagens, compartilhando a certeza
de haverá sempre muito para ler e
reler. E reler, como ensinou José
Saramago, é uma das armas para
enfrentar a presença e o avanço da
barbárie no mundo. A melhor maneira
de homenagear Saramago e honrar o
seu legado é mantendo suas palavras
vivas, circulando pelo mundo. É essa a
homenagem que a Carta Maior quer
prestar neste momento, dedicando o
editorial desta semana à palavra e ao
exemplo de vida deixado pelo escritor
português.
Nas classes médias, onde elas têm mais poder, facilmente, a vingança
feminina se materializa, com a ajuda das instituições de Estado, no fundo
conservadoras e defensoras da ordem tradicional. O fenômeno da alienação
parental afeta homens e mulheres. Entretanto, o mais comum que esta
prática seja mais feminina do que masculina. A única solução para as relações
de gênero equilibradas é que elas sejam pautadas pela real afetividade e não
por interesses mesquinhos, como se viu no crime em tela.
18/06/2010
• O homem que dizia não - Em uma
Não deveria causar espanto a ninguém a possibilidade de acontecer o que
aconteceu. Não é segredo que o machismo seduz a consciência feminina
brasileira. É bastante comum que muitas mulheres, principalmente, mas não
unicamente as mais pobres, achem que o comportamento masculino sexista e
avesso ao amor seja natural e correto. Infelizmente, a consciência crítica do
problema é indigente, tanto para os homens, como para uma grande parte
das mulheres. Como estas são as mais fracas, tendem a sofrer mais. Mas, há
situações onde as coisas se invertem e a vingança feminina aparece com todo
o seu furor.
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