UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA EFEITO DO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO PECUÁRIAFLORESTA NA RECUPERAÇÃO DE LARVAS INFECTANTES DE NEMATOIDES TRICOSTRONGILÍDEOS DE OVINOS Eduardo Ferreira Faria Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia. Área de concentração: Zootecnia. Sinop, Mato Grosso Novembro de 2014 EDUARDO FERREIRA FARIA EFEITO DO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO PECUÁRIAFLORESTA NA RECUPERAÇÃO DE LARVAS INFECTANTES DE NEMATOIDES TRICOSTRONGILÍDEOS DE OVINOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia. Área de concentração: Zootecnia. Orientador: Prof. Dr. Luciano Bastos Lopes Sinop, Mato Grosso Novembro de 2014 ii Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. iii iv Dedico este trabalho a minha amada esposa Paula Rodrigues Pinto Faria e ao meu filho Jorge Rodrigues Faria. v AGRADECIMENTOS A Deus, por todas as dádivas recebidas. À Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Sinop, pela oportunidade de realização do curso de mestrado. Ao Dr. Luciano Bastos Lopes, por ter me orientado mesmo estando ciente das minhas limitações de tempo e por ter viabilizado a realização deste estudo nas dependências da Embrapa Agrossilvipastoril. Obrigado pela confiança e por suas considerações sempre pertinentes a respeito deste trabalho. Ao meu coorientador, Dr. Artur Kanadani Campos, por toda a sua dedicação a este estudo desde a elaboração do projeto até a concessão de seu laboratório e de sua equipe para a realização das análises. Não poderia deixar de agradecer por compartilhar muito de seu conhecimento comigo. Ao Dr. Douglas dos Santos Pina pela generosa contribuição para a realização deste trabalho. A médica veterinária Daniela dos Reis Krambeck e a toda equipe do Laboratório de Parasitologia Veterinária do HOVET-Sinop, por sua dedicação inquestionável para que este estudo fosse realizado. Aos amigos Dr. Bruno Gomes de Castro e Dr. Ian Philippo Tancredi, os quais considero grandes exemplos e também pelo estímulo ao ingresso no meio científico. Aos meus colegas de centro cirúrgico, Prof. Dr. Domingos de Faria Júnior e Profa. Dra. Elaine Dione Venêga da Conceição, por compreenderem minhas ausências durante os dias de coleta. Obrigado pelo incentivo! vi “ Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge, para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me toquem, tendo olhos não me vejam e nem mesmo em pensamento possam me fazer mal.” Trecho da Oração de São Jorge vii BIOGRAFIA Eduardo Ferreira Faria, filho de Carlos Magnus Faria e Marcia Ferreira Nunes Faria, nascido em 07 de agosto de 1982 no Rio de Janeiro-RJ. No ano de 2000 ingressou no curso de Bacharelado em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato grosso, no município de Cuiabá-MT. Obteve a graduação em outubro de 2005. Deste período a setembro de 2008, atuou como médico veterinário na iniciativa privada. Em outubro de 2008 ingressou, por meio de concurso público, no corpo de técnicos administrativos em educação da Universidade Federal de Mato Grosso- Campus Sinop, atuando no Hospital Veterinário desta instituição. Ingressou no curso de especialização Lato Sensu em Gestão Hospitalar na UNINTER em agosto de 2011 e conclui o mesmo em setembro de 2012 obtendo assim o título de especialista. Em março de 2013 ingressou no curso de Pós-Graduação Strictu Sensu, nível de mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso-Campus Sinop. viii RESUMO FARIA, Eduardo Ferreira. Dissertação de Mestrado (Zootecnia), Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, Novembro de 2014, 48 f. Efeito do sistema de integração pecuária-floresta na recuperação de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos de ovinos Orientador: Prof. Dr. Luciano Bastos Lopes. Coorientador: Prof. Dr. Artur Kanadani Campos. Os nematoides tricostrongilídeos são vermes capiliformes que parasitam o trato gastrointestinal de ruminantes causando graves injúrias, como gastroenterites severas e quadros agudos de anemia. A espécie ovina apresenta grande susceptibilidade a estes parasitas, inclusive em animais adultos. O controle desta doença parasitária no rebanho ovino é tradicionalmente feito com o uso de antihelmínticos. Entretanto, diversos métodos alternativos de controle vem surgindo como opções e entre eles encontra-se a utilização do sistema de integração pecuária-floresta. O objetivo deste estudo foi avaliar comparativamente a recuperação de larvas de nematoides tricostrongilídeos (L3) de ovinos em sistema integração Pecuária-Floresta (Tratamento A) e monocultivo de pastagem (Tratamento B), avaliando a influência das quatro estações do ano. O estudo foi implantado no campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, município de Sinop/MT, sendo realizado entre os meses de dezembro de 2013 e setembro de 2014. A cada estação do ano, cada tratamento recebeu trinta amostras de fezes com aproximadamente 20 gramas e 60.000 ovos de nematoides tricostrongilídeos. Ao final de quatorze dias, foram recolhidas as fezes remanescentes no campo, o solo abaixo da área de deposição e a forragem adjacente as fezes. Este material foi encaminhado ao laboratório para a determinação do número de larvas infectantes por quilograma de matéria seca (L3/Kg MS) nos três materiais coletados. A recuperação de larvas infectantes foi possível em todas as estações de coleta em todos os materiais. Houve interação entre os tratamentos e as estações do ano (P<0,05). O tratamento A apresentou maiores contagens de L3/Kg MS em forragem nas coletas de primavera, verão e inverno. As fezes coletadas no inverno foram o material que apresentou as maiores contagens de L3/Kg MS no estudo, com 30.199 para o Tratamento A e 22.020 para o Tratamento B, havendo diferença significativa entre estas (P<0,05). O solo também apresentou este comportamento com 6.112,74 L3/Kg MS no Tratamento A e 4.847,56 no tratamento B com diferença significativa entre estas (P<0,05). ix ABSTRACT FARIA, Eduardo Ferreira. Master Thesis (Animal Science), Federal University of Mato Grosso, Campus of Sinop, November 2014, 48 f. Effect of livestock-forest integration system in the recovery of infective larvae of nematodes of sheep trichostrongylids Advisor: Prof. Dr. Luciano Bastos Lopes. Co advisor: Prof. Dr. Arthur Kanadani Campos. The trichostrongylids nematodes are capiliformes worms infecting the gastrointestinal tract of ruminants causing serious injuries, such as severe gastroenteritis and acute cases of anemia. The ovine species has great susceptibility to these parasites, including adult animals. The control of this parasitic disease in herd sheep is traditionally made with the use of anthelmintics. However, several alternative methods of control is emerging as options and among them is the utilization of livestock-forest integration system. The objective of this study was to comparatively evaluate the recovery of larvae of nematodes trichostrongylids (L3) of sheep integration Livestock-Forest system (Treatment A) and pasture monoculture (Treatment B), evaluating the influence of the four seasons. The study was implemented in the experimental field of Embrapa agrosilvopastoral, Sinop / MT, being held between the months of December 2013 and September 2014. Each season, each treatment received thirty fecal samples with approximately 20 grams and 60,000 trichostrongylids nematode eggs. At the end of fourteen days, the remaining faeces were collected from the field, the soil below the deposition area and the adjacent fodder feces. This material was sent to the laboratory for determining the number of infective larvae per kilogram of dry matter (L3 / kg MS) in the three collected materials. The recovery of infective larvae was achieved at all sampling stations in all materials. There was an interaction between treatments and seasons (P <0.05). The treatment A had higher counts of L3 / kg MS in forage in the spring collection, summer and winter. Feces collected in winter were the material that had the highest scores of L3 / kg MS in the study, with 30 199 to 22 020 for Treatment A and Treatment B, with significant difference between them (P <0.05). Soil also showed this behavior 6112.74 L3 / kg MS in Treatment A and Treatment B 4847.56 in a significant difference between these (P <0.05). x ANEXOS Tabela 1. Temperatura (ºC) e umidade (%) relativa do ar em seus valores médios, máximos e mínimos, nos períodos em que as fezes contaminadas com ovos de nematoides tricostrongilídeos permaneceram no campo em meio à pastagem durante três estações do ano (Outono, Inverno e Primavera) no ambiente com pastagem monocultivada. 27 Tabela 2. Temperatura e umidade relativa do ar em seus valores médios, máximos e mínimos, nos períodos em que as fezes contaminadas com ovos de nematoides tricostrongilídeos permaneceram no campo em meio à pastagem durante três estações do ano (Outono, Inverno e Primavera) no sistema integração pecuária-floresta. 28 Figura 1. Sistema de integração pecuária-floresta com renques triplos de eucalipto e espaçamento entre renques de quinze metros. 29 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1. Médias de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por quilograma de matéria seca recuperadas de forragem em coletas realizadas nas quatro estações do ano, quatorze dias após a deposição de amostras fecais de ovinos com ovos de nematoides tricostrongilídeos, em meio à pastagem em sistema de integração pecuária-floresta e pastagem a pleno sol. 21 Tabela 2. Médias de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por quilograma de matéria seca recuperadas de solo em coletas realizadas nas quatro estações do ano, quatorze dias após a deposição de amostras fecais de ovinos com ovos de nematoides tricostrongilídeos, em meio à pastagem em sistema de integração pecuária-floresta e pastagem a pleno sol. 22 Tabela 3. Médias de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por quilograma de matéria seca recuperadas de fezes em coletas realizadas nas quatro estações do ano, quatorze dias após a deposição de amostras fecais de ovinos com ovos de nematoides tricostrongilídeos, em meio à pastagem em sistema de integração pecuária-floresta e pastagem a pleno sol. 22 xii LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES L1 Larvas de primeiro estágio L2 Larvas de segundo estágio L3 Larvas de terceiro estágio ou infectantes L4 Larvas de quarto estágio L5 Larvas de quinto estágio/ adultos Trat. Tratamento MT Mato Grosso et al. E outros L3/Kg MS Larvas infectantes por quilograma de matéria seca ml Mililitros OPG Ovos por grama de fezes mm Milímetros iLP Integração lavoura-pecuária iPF Integração pecuária-floresta iLF Integração lavoura-floresta iLPF Integração lavoura-pecuária-floresta VG% Volume globular cm Centímetros ºC Graus Celsius xiii SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 1- NEMATOIDES TRICOSTRONGILÍDEOS 02 1.1-Nematoides tricostrongilídeos 02 1.2- Principais gêneros de nematoides tricostrongilídeos 04 1.3- Fontes de variação para a recuperação de larvas na pastagem 05 1.4- Utilização de bolo fecal como reservatório de larvas no campo 07 2- SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUÇÃO 09 2.1- Caracterização 09 2.2- Influências dos sistemas integrados sobre a população de nematoides 11 3- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13 CAPÍTULO 1 16 Resumo 17 Abstract 18 1. Introdução 19 2. Material e métodos 19 2.1- Campo experimental 19 2.2- Obtenção de fezes com ovos de nematoides tricoostrongilídeos 19 2.3- Módulos experimentais 20 2.4- Deposição das fezes 20 2.5- Coleta do material e Exames laboratoriais 20 2.6- Análise estatística 20 3. Resultados e Discussão 21 4. Considerações finais 24 5. Referências 24 xiv INTRODUÇÃO GERAL A cadeia da ovinocultura apresenta números expressivos. IBGE (2010) contabilizou o rebanho ovino nacional em aproximadamente 17.380.581 cabeças, sendo o estado do Mato Grosso responsável por cerca de 3,2% do rebanho nacional, com cerca de 549.484 cabeças. Os números referentes a esta atividade demonstram seu potencial para a geração de alimento, emprego, renda e faturamento. A sanidade do rebanho é um dos maiores gargalos da cadeia da ovinocultura. Entre todos os problemas sanitários que possam acometer animais da espécie ovina, podemos destacar as parasitoses gastrointestinais, com especial atenção as infestações causadas por nematoides tricostrongilídeos. Estas nematodioses podem causar prejuízos diretos com a morte dos animais ou a diminuição em seu desempenho, mas também causam prejuízos indiretos a cadeia produtiva, com os gastos referentes à aquisição e dosificação de fármacos antihelmínticos. A utilização de métodos alternativos de controle de nematoides pode ser uma opção para a redução nos custos com utilização de antihelmínticos. Entre os diversos métodos alternativos, podemos destacar a utilização de sistema de integração pecuária-floresta. O potencial deste sistema para a redução da carga ambiental de nematoides parasitas de bovinos está sendo apontado por alguns autores (SOCA et al. 2002; SOCA et al. 2003; SOCA et al. 2007). Diante deste cenário, o objetivo deste estudo foi avaliar comparativamente a recuperação ambiental de larvas de nematoides tricostrongilídeos parasitas de ovinos entre os sistemas integração pecuária-floresta e concencional com monocultivo de pastagem. O produto final deste estudo será apresentado no Capítulo 1 sob forma de artigo científico, ainda não traduzido, de acordo com as normas do periódico Agroforestry Systems ISSN: 1572-9680. 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1 1.1 - NEMATOIDES TRICOSTRONGILÍDEOS Nematoides tricostrongilídeos Os tricostrongilídeos são nematoides parasitas pertencentes a Superfamília Trichostrongyloidea e Família Trichostrongylidae. Os tricostrongilídeos são vermes pequenos e quase sempre filiformes no grupo com presença de bolsa copuladora, que com exceção ao verme pulmonar Dictyocaulus, parasitam o trato alimentar de mamíferos e aves. Estes nematoides possuem bolsa copuladora bem desenvolvida e espículos, cuja configuração é utilizada para a diferenciação entre espécies. A distribuição geográfica destes parasitas é mundial, apresentando grande importância nas regiões tropicais e subtropicais (Taylor et al.,2011) De acordo com Bowman et al. (2010) os tricostrongilídeos são comuns e patogênicos especialmente para ruminantes a pasto. Porém, os suínos, equinos, felinos e pássaros também são espécies de hospedeiros importantes. Os autores afirmaram que o abomaso e o intestino delgado são os principais locais de parasitismo nos ruminantes e o período pré-patente destes nematoides pode variar entre três a cinco semanas, dependendo da espécie envolvida. O ciclo biológico dos nematoides tricostrongilídeos se inicia com a eliminação de ovos nas fezes do hospedeito definitivo. Em condições favoráveis de temperatura e umidade, as larvas de primeiro estágio se desenvolvem. Esta fase larvar é liberada no conteúdo fecal se alimentando de organismos em decomposição passando pelos estágios segundo e terceiro em cerca de sete dias após a eliminação das fezes com ovos no ambiente. Os hospedeiros definitivos se contaminam ao ingerir as L3 que são o estágio infectante. No rúmem do animal, as larvas perdem a cutícula remanescente de L2 que as impedia de se alimentar e se dirigem 2 ao local de parasitismo que varia conforme a espécie de nematoide envolvida, podendo ser no abomaso ou intestino delgado onde passam aos estágios quarto e quinto e se tornam adultos. Fixam-se no local, copulam e então ocorre a postura pela fêmea (Monteiro et al., 2011). Com relação a importância em Medicina Veterinária, Monteiro et al. (2011) afirmaram que os tricostrongilídeos causam enfermidade grave, com considerável mortalidade e alta morbidade, principalmente em ruminantes. Estes autores atribuíram alta susceptibilidade aos bovinos jovens e um certo grau de imunidade aos adultos. Na espécie ovina, os autores afirmaram que mesmo em adultos podem ocorrer infecções graves, com a presença de diversos agentes em uma mesma infestação. Dentre os gêneros mais importantes, estão Trichostrongylus spp., causador de severa gastroenterite com diarreia negra e fétida, causando grave impacto econômico a produção; e o Haemonchus spp., que possui hábito hematófago e pode ingerir até 0,05 mL de sangue por dia. Em altas infestações por este parasita animais adultos podem perder até 250 mL de sangue por dia, podendo levar a quadros de anemia extremamente agudos; Cooperia, que promove irritação das vilosidades intestinais com consequente aumento do peristaltismo causando diarreia e grandes prejuízos. Em relação a identificação de alguns nematoides tricostrongilídeos, Bowman et al. (2010) afirmaram que Trichostrongylus são capiliformes com menos de sete milímetros de comprimento, sem aumentos cefálicos e virtualmente sem cápula bucal. Os espículos são curtos, torcidos e normalmente pontudos. Ostertagia e Teladorsagia medem menos de quatorze milímetros, apresentam coloração marrom, cavidade bucal curta e larga e dois ou três espículos curtos e pontudos, sendo praticamente indistinguíveis entre si. Haemonchus apresentam até trinta milímetros de comprimento e cavidade bucal munida de lanceta. Os machos possuem um raio dorsal assimétrico em sua bolsa e espículos curtos em forma de cunha. As fêmeas possuem o útero branco, preenchido com ovos, que em espiral em torno do intestino repleto de sangue, dá a aparência conhecida por “bastão de barbeiro”. A vulva fica 3 localizada a cerca de um quarto do comprimento do parasito e pode ou não ser guarnecida por um apêndice vulvar. Cooperia possui menos de nove milímetros, sua cutícula é transversalmente estriada e levemente inflada na região do esôfago, a cavidade bucal é pequena e os espículos são curtos e tem sulcos em suas extremidades. Amarante et. al. (1997) avaliaram a especificidade em relação aos hospedeiros de nematoides tricostrongilídeos de bovinos e ovinos. No estudo, ocorreu infecção cruzada por nematoides entre as espécies bovina e ovina, e com o passar do tempo os animais eliminavam os gêneros de nematoides que não eram adaptados a sua espécie. A respeito de tratamento e profilaxia de infecções por nematoides tricostrongilídeos, Taylor et al. (2011) afirmaram que medidas como o monitoramento constante do número de ovos por grama de fezes (OPG) dos ovinos e a utilização eficaz de anti-helmínticos com verificação constante da regulagem dos dosadores, evitando subdosagens, bem como o monitoramento constante do perfil de sensibilidade aos anti-helmínticos e a escolha adequada as espécies envolvidas na infecção do rebanho são estratégias eficientes para o controle destes nematoides. Os autores também afirmaram que práticas de manejo também são importantes neste controle. A utilização de pastejo consorciado entre bovinos e ovinos e a vermifugação de ovelhas próximas ao parto também podem ser incluídas em programas de prevenção e controle da infecção por nematoides tricostrongilídeos. 1.2 - Principais gêneros de nematoides tricostrongilideos Torres et al. (2009) comprovaram a importância dos gêneros Haemonchus spp. e Trichostrongylus spp. em um experimento com diferentes estratégias de pastejo rotacionado com bovinos e ovinos, onde foi encontrado um número decrescente de larvas L3 em pastagem de capim Tanzânia de Haemonchus spp; Trichonstrongylus spp; Oesophagostomum spp; 4 Strongyloides spp. e Cooperia spp. Demonstrando assim, que a prevalência destas espécies é superior às demais. Em um estudo comparando grupos de ovinos sob sistema de pastejo rotacionado com e sem bovinos, Fernandes et al. (2004) demonstraram que houve predominância do gênero Haemonchus spp. nas coproculturas, inclusive nas realizadas após a administração de antihelmínticos, comprovando a resistência desta espécie aos fármacos. O percentual médio de Haemonchus spp. foi de 97% e 95% nas ovelhas manejadas com e sem bovinos, respectivamente. Amarante et al. (1996) avaliaram a contaminação por L3 em pastagens utilizadas por bovinos e ovinos no período de um ano e realizaram exames coproparasitológicos periódicos nos animais durante este período. Os autores relataram que as contagens mais elevadas de OPG dos bezerros nos primeiros meses de seu experimento foram de Haemonchus, Cooperia e Oesophagostomum. Nas ovelhas verificou-se em ordem decrescente de contagem de OPG, os seguintes gêneros: Haemonchus, Trichostrongylus, Cooperia e Oesophagostomum. 1.3 – Fontes de variação para a recuperação de larvas na pastagem O estudo da relação entre a variação de condições ambientais e a migração de larvas infectantes (L3) em pastagens foi tema de inúmeras pesquisas. Rocha et al. (2007) relataram que o microclima criado nos diversos tipos de pastagens tem alta correlação com a quantidade de larvas infectantes recuperadas nas mesmas. Os mesmos autores relataram um comportamento sazonal na recuperação de L3 em virtude das variações climáticas entre as estações do ano. Krecek et al. (1991) apud Silva (2007) estudaram os efeitos da hora do dia e das estações do ano nos números de larvas no terceiro estágio de H. contortus e H. placei, em 5 pastagem irrigada na África do Sul. Além disso, avaliaram a distribuição das larvas nos diferentes estratos do capim. De acordo com os resultados obtidos, os autores recuperaram número maior de larvas de H. contortus do que de larvas de H. placei. As maiores recuperações de larvas de H. contortus ocorreram no verão e outono, enquanto as de H. placei ocorreram em maior número na primavera e verão. As larvas das duas espécies foram recuperadas em maior número na forragem localizada acima do solo do que da matéria vegetal morta localizada sobre o solo ou do próprio solo. Estes autores também relataram não haver variação no número de larvas recuperadas ao longo do dia. Com relação à importância do clima no ciclo de vida dos nematoides, diversos estudos já demonstraram que o aumento nos índices pluviométricos encontrado nos meses de verão é um fator responsável pela maior recuperação de larvas infectantes nas pastagens (Lima et al., 1997; Niezem et al., 1998; Rocha et al., 2007) O clima brasileiro apresenta as estações seca e chuvosa bem demarcadas. Analisando dados históricos de pluviosidade no estado de Mato Grosso, Marcuzzo et al. (2010) afirmaram que os maiores índices pluviométricos neste estado foram registrados nas estações primavera e verão entre os meses de outubro e março. Os mesmos autores também afirmaram que entre os meses de julho e agosto são registrados os menores índices pluviométricos. Estes também caracterizaram os meses de abril e setembro como meses de transição e mudança de comportamento hídrico em Mato Grosso. A pluviosidade está frequentemente relacionada com a oscilação da população de helmintos em ruminantes. A interação entre pluviosidade e ambiente fecal associada à contaminação das pastagens por larvas de nematoides já havia sido caracterizada como aspecto de grande relevância na epidemiologia das helmintoses por Roberts et al. (1952) apud Amarante et al. (1996). Estes autores afirmaram que as chuvas não seriam necessárias para o desenvolvimento de ovos e larvas até o estágio infectante em ambiente fecal bovino, 6 uma vez que a umidade existente nas fezes seria suficiente para propiciar este desenvolvimento. Entretanto, as chuvas seriam necessárias para a ocorrência da migração das larvas para as pastagens. 1.4 - Utilização de bolo fecal como reservatório de larvas no campo A dinâmica populacional dos helmintos gastrintestinais sofre grande influência de fatores climáticos e ambientais, principalmente nos estágios de vida livre. Quinelato (2010) afirmou que o conhecimento das interações entre estes componentes é fundamental para o desenvolvimento de programas de controle de helmintos eficientes, visto que possibilitam a avaliação do risco de infecção para os animais. Um dos pontos chave no ciclo de vida de alguns parasitas é o bolo fecal. As fezes do hospedeiro são fundamentais para a dispersão e maturação dos ovos, desenvolvimento das larvas até seu estágio infectante e manutenção de condições microclimáticas necessárias para a sobrevivência de ovos e larvas no ambiente durante a época seca do ano. Catto (1982) apud Amarante et al. (1996) afirmaram que o bolo fecal de bovinos oferece condições a evolução e sobrevivência de larvas infectantes durante toda a estação seca do ano. Niezem et al. (1998) identificaram uma correlação inversa entre a velocidade de degradação das fezes com a disponibilidade de larvas contaminantes nas pastagens. Em relação à influência da umidade sobre a atividade parasitária relacionada ao bolo fecal, Stromberg (1997) afirmou que seria necessário um nível adequado deste fator para a realização da migração das larvas das fezes para a pastagem. De acordo com o autor, em casos de muita chuva o bolo fecal sofre uma maior desintegração promovida pelo impacto das gotas de água, sendo esse fator o responsável por uma degradação mais rápida das fezes. Este possível benefício pode ser compensado negativamente pela dispersão que a chuva promove 7 às larvas por uma maior área. O autor também citou que em casos de ressecamento do bolo fecal, parte das larvas pode migrar para o solo abaixo da placa fecal em decorrência de uma maior umidade retida por este material. Starke et al. (1992) em seu estudo de sobrevivência de larvas de nematoides de bubalinos, afirmaram que as massas fecais avaliadas, nos períodos secos, permaneceram por mais tempo como reservatórios de larvas infectantes (10 a 18 semanas) do que nos períodos chuvosos e todas elas forneceram larvas para o capim. No período chuvoso, as massas fecais permaneceram com larvas de 4 a 7 semanas e apenas 69% delas foram responsáveis pela contaminação do capim. Lima et al. (1997) avaliaram a dinâmica anual das helmintoses em bovinos de leite em pastagens formadas por gramínea do gênero Brachiaria. Com base nos resultados do estudo, os autores afirmaram que os animais utilizados no estudo foram infectados durante todo o ano. O autor atribuiu este fato às condições de umidade oferecidas pelo bolo fecal para a manutenção e desenvolvimento dos estágios de vida livre dos nematódeos. O mesmo autor afirmou que um baixo índice de precipitação foi suficiente para a migração das larvas das fezes para as pastagens. Amarante et al. (1996) encontraram número expressivo de larvas infectantes em pastagens formadas por gramínea da espécie Cynodon dactylon mesmo durante um severo período de seca com precipitações mensais inferiores a 23 mm entre os meses de junho a agosto. Os autores creditaram parte deste efeito à sobrevivência de ovos e larvas em condições microclimáticas favoráveis no ambiente fecal. Quanto à variabilidade de espécies que utilizam o ambiente fecal como meio de proteção das intempéries ambientais, Boom e Sheat (2008) analisaram a dinâmica parasitária em diferentes distâncias do bolo fecal através de colheita de capim, em diferentes estações do ano e em diferentes topografias. No estudo, a distância do bolo fecal e o componente 8 topográfico não afetaram a proporcionalidade das espécies que haviam na amostra inicial. Por outro lado, houve uma interferência na proporcionalidade de espécies de acordo com as estações do ano, sugerindo que as condições climáticas também exercem pressão de seleção nestes parasitas. 2 2.1 SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUÇÃO Caracterização Os sistemas silvipastoris ou agrossilvipastoris trazem grandes possibilidades de aproveitamento das áreas de pastagens já abertas. Após anos de derrubada de árvores para abertura dessas áreas, o plantio de árvores ou permissão da regeneração de espécies nativas por meio de roçadas seletivas proporciona novas formas de exploração. Os sistemas integrados de produção podem se enquadrar em quatro modalidades de sistemas integrados, sendo elas: iLP ou agropastoril descrito com um sistema que integra os componentes agrícola e pecuária em regime de sucessão, rotação ou consórcio em uma mesma área durante apenas uma safra agrícola ou então em safras múltiplas; iPF ou silvipastoril, caracterizada como uma modalidade em que o sistema florestal está consorciado ao componente pecuário; iLF ou silviagrícola, sendo este um sistema em que são integrados os componentes florestal e agrícola por meio de consórcio; por fim o sistema iLPF ou agrossilvipastoril, sendo caracterizado com um sistema de produção em que existe a integração de componentes florestais, agrícolas e pecuários em regimes de rotação, consórcio ou sucessão na mesma área. Neste, o componente agrícola pode ser utilizado apenas na fase inicial de implantação dos componentes pecuária e/ou floresta, pode ser utilizado 9 periodicamente a cada safra ou também pode ser utilizado para a recuperação de solo das áreas que já receberam muitos ciclos de pecuária (Balbino et al., 2011). Diversos autores apontam uma série de benefícios que a introdução de sistemas integrados podem contribuir para a cadeia pecuária. Destacam-se entre eles o aumento no conforto térmico proporcionado aos animais pela presença de sombreamento nas áreas de pastagens; incremento no ciclo orgânico nestas áreas principalmente quando se utilizam espécies fixadoras de nitrogênio para arborização; fornecimento de insumos como lenha, postes, mourões e madeira para a propriedade rural e para comércio ou consumo próprio; controle de erosão em áreas degradadas; oferta de pastagem de melhor qualidade no período da seca em razão da maior retenção de água em solos submetidos a este tipo de sistema (GARCIA E ANDRADE, 2001; BALBINO et al. 2011). Hernández et al. (2008) concluíram que solos de áreas submetidas a sistema silvipastoril foram mais férteis do que solos monocultivados. Os autores atribuíram este fato a uma maior incorporação de matéria orgânica e outros indicadores químicos ao solo. Este fato corrobora as informações sobre a melhor qualidade das pastagens destes sistemas. Franchini et al. (2011) avaliaram economicamente um sistema integrado envolvendo pecuária leiteira, lavoura e floresta de Eucalipto urograndis. Estes autores afirmaram que a margem bruta obtida neste tipo de sistema foi alta e a renda bruta foi superior às obtidas com soja e Eucalipto maculata. De acordo com os resultados de seu estudo, estes concuíram que Sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta constituem adequada oportunidade para aumentar a produtividade da terra, proporcionando múltiplos produtos, além de contribuir na conservação de recursos ambientais. Os sistemas integrados de produção são sistemas dinâmicos e seu estudo está intimamente ligado ao sucesso na implantação dos mesmos. A sanidade animal é um fator importante a ser considerado devido aos grandes prejuízos que podem ser causados pela ação 10 de microorganismos e parasitas quando se deseja fazer qualquer modificação em um sistema pecuário. Bianchin (1991) afirmou que no Brasil, devido ao clima tropical com presença de calor e umidade durante boa parte do ano, as parasitoses gastrointestinais se destacam como um dos problemas sanitários que causam maior prejuízo ao pecuarista. Este fator se deve não somente aos efeitos patogênicos destes parasitas, mas também ao aporte financeiro consumido para o tratamento dos rebanhos parasitados, pois cerca de 80% das aplicações de antihelmínticos realizadas por criadores são ineficazes devido à aplicação realizada em época errada, tratamento de categoria animal inapropriada e até mesmo por problemas com resistência aos princípios ativos utilizados. Bianchin (1996) estimou que no Brasil se gasta cerca de 130 milhões de dólares por ano com fármacos antihelmínticos, demonstrando assim o impacto financeiro que os helmintos causam a atividade pecuária. 2.2 - Influências dos sistemas integrados sobre a população de nematoides A compreensão da tríade parasita-hospedeiro-ambiente é de importância fundamental quando se tem por objetivo o controle das parasitoses. A fase de vida livre dos nematoides parasitas de ruminantes apresenta grande susceptibilidade às condições climáticas e também a outros fatores como predadores e competidores presentes no ecossistema. Alguns estudos demonstrararm que pastagens integradas a componentes florestais podem reduzir a carga parasitária dos rebanhos submetidos a este tipo de sistema. Destacamse entre os fatores responsáveis por promover este fenômeno a melhor condição corporal dos animais que pastejam nestas áreas pela maior qualidade das forragens destes locais e o enriquecimento da biodiversidade destas áreas com a atração de coleópteros e outros predadores de larvas de nematódeos, além de besouros coprófagos que competiriam por 11 substrato com as larvas de helmintos parasitas (Soca et al., 2003; Soca et al., 2007). Estes coleópteros promovem um enterramento e consumo das fezes no campo diminuindo a disponibilidade de material para o desenvolvimento de larvas infectantes de nematoides (Soca et al., 2002). Silva e Vidal (2007) observaram que besouros da família Scarabaiedae são extremamente benéficos em áreas de criação de bovinos pelo enterramento de massas fecais com diminuição da disponibilidade das mesmas a diversos parasitas que se utilizam deste material. Da mesma forma, a implantação de sistemas silvipastoris no Brasil também demonstrou a atração de uma maior fauna edáfica para estes ambientes corroborando as afirmações dos autores supracitados (Campiglia, 2002). Em outro estudo também realizado no Brasil, Auad e Carvalho (2011) demonstraram que o sistema silvipastoril apresentou abundância de indivíduos benéficos a áreas de criação de gado bovino, assim como predominância de famílias com representantes de hábito alimentar compatível com o controle de pragas. Por outro lado, outros autores demonstraram que em boas condições de temperatura e umidade a presença de besouros coprófagos pode, ao contrário do que já foi relatado, aumentar a disponibilidade de larvas infectantes. Supõe-se que isso ocorra devido a uma maior oxigenação dos ovos de helmintos promovida pela formação de galerias nas massas fecais (Chirico et al., 2003). Mendonça (2009) em um estudo conduzido na região leste do estado de Minas Gerais, observou que novilhas Girolanda submetidas a sistema silvipastoril com arborização nativa da pastagem com predominância da espécie Pterodon pubescens, não obtiveram ganho de peso superior nem tampouco reduziram as contagens de OPG em relação às novilhas submetidas a sistema convencional de pastagem. 12 Diante do exposto, com a demonstração de antagonismo entre as informações referentes ao comportamento dos nematoides parasitas de animais submetidos a sistemas integrados, o presente estudo objetivou avaliar comparativamente a recuperação de larvas de nematoides tricostrongilídeos entre um arranjo de sistema integrado pecuária-floresta e pastagem monocultivada. Avaliou-se também a influência das estações do ano sobre a recuperação das referidas larvas. 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Parasitologia veterinária. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. 15 CAPÍTULO 1 Efeito do sistema de integração pecuária-floresta na recuperação de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos de ovinos 16 Efeito do sistema de integração pecuária-floresta na recuperação de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos de ovinos Eduardo Ferreira Faria1, Daniela dos Reis Krambeck1, Douglas dos Santos Pina2, Artur Kanadani Campos3 e Luciano Bastos Lopes4 Resumo Os nematoides tricostrongilídeos são vermes capiliformes que parasitam o trato gastrointestinal de ruminantes causando graves injúrias, como gastroenterites severas e quadros agudos de anemia. A espécie ovina apresenta grande susceptibilidade a estes parasitas, inclusive em animais adultos. O controle desta doença parasitária no rebanho ovino é tradicionalmente feito com o uso de antihelmínticos. Entretanto, diversos métodos alternativos de controle vem surgindo como opções e entre eles encontra-se a utilização do sistema de integração pecuáriafloresta. O objetivo deste estudo foi avaliar comparativamente a recuperação de larvas de nematoides tricostrongilídeos (L3) de ovinos em sistema integração Pecuária-Floresta (Tratamento A) e monocultivo de pastagem (Tratamento B), avaliando a influência das quatro estações do ano. O estudo foi implantado no campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, município de Sinop/MT, sendo realizado entre os meses de dezembro de 2013 e setembro de 2014. A cada estação do ano, cada tratamento recebeu trinta amostras de fezes com aproximadamente 20 gramas e 60.000 ovos de nematoides tricostrongilídeos. Ao final de quatorze dias, foram recolhidas as fezes remanescentes no campo, o solo abaixo da área de deposição e a forragem adjacente as fezes. Este material foi encaminhado ao laboratório para a determinação do número de larvas infectantes por quilograma de matéria seca (L3/Kg MS) nos três materiais coletados. A recuperação de larvas infectantes foi possível em todas as estações de coleta em todos os materiais. Houve interação entre os tratamentos e as estações do ano (P<0,05). O tratamento A apresentou maiores contagens de L3/Kg MS em forragem nas coletas de primavera, verão e inverno. As fezes coletadas no inverno foram o material que apresentou as maiores contagens de L3/Kg MS no estudo, com 30.199 para o Tratamento A e 22.020 para o Tratamento B, havendo diferença significativa entre estas (P<0,05). O solo também apresentou este comportamento com 6.112,74 L3/Kg MS no Tratamento A e 4.847,56 no tratamento B com diferença significativa entre estas (P<0,05). Palavras chave: Sistema iPF; Ovinocultura; Infecção parasitária 1 Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Zootecnia-ICAA- UFMT; Avenida Alexandre Ferronato nº 1200 Setor Industrial, Sinop-MT; (66) 3531-1663; [email protected], [email protected]. 2 Professor Adjunto, Curso de Zootecnia, ICAA- UFMT. Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200 Setor Industrial, Sinop-MT; (66) 3531-1663; [email protected]. 3 Professor Adjunto, Departamento de Veterinária, UFV; Avenida Peter Henry Rolfs, s/n - Campus Universitário, Viçosa – MG; (31) 3899-2200; [email protected]. 4 Pesquisador A em Sanidade Animal, Embrapa Agrossilvipastoril, Sinop-MT; Rodovia MT, nº 222, Km 2,5, Zona Rural, Sinop-MT; (66) 3211-4241; [email protected]. 17 Effect of integration livestock-forest system in the recovery of infective larvae of nematodes trichostrongylids of sheep Abstract The trichostrongylids nematodes are capiliformes worms infecting the gastrointestinal tract of ruminants causing serious injuries, such as severe gastroenteritis and acute cases of anemia. The ovine species has great susceptibility to these parasites, including adult animals. The control of this parasitic disease in herd sheep is traditionally made with the use of anthelmintics. However, several alternative methods of control is emerging as options and among them is the utilization of livestock-forest integration system. The objective of this study was to comparatively evaluate the recovery of larvae of nematodes trichostrongylids (L3) of sheep integration Livestock-Forest system (Treatment A) and pasture monoculture (Treatment B), evaluating the influence of the four seasons. The study was implemented in the experimental field of Embrapa agrosilvopastoral, Sinop / MT, being held between the months of December 2013 and September 2014. Each season, each treatment received thirty fecal samples with approximately 20 grams and 60,000 trichostrongylids nematode eggs. At the end of fourteen days, the remaining faeces were collected from the field, the soil below the deposition area and the adjacent fodder feces. This material was sent to the laboratory for determining the number of infective larvae per kilogram of dry matter (L3 / kg MS) in the three collected materials. The recovery of infective larvae was achieved at all sampling stations in all materials. There was an interaction between treatments and seasons (P <0.05). The treatment A had higher counts of L3 / kg MS in forage in the spring collection, summer and winter. Feces collected in winter were the material that had the highest scores of L3 / kg MS in the study, with 30 199 to 22 020 for Treatment A and Treatment B, with significant difference between them (P <0.05). Soil also showed this behavior 6112.74 L3 / kg MS in Treatment A and Treatment B 4847.56 in a significant difference between these (P <0.05). Keywords: IPF system; Sheep; parasitic infection 18 1- INTRODUÇÃO Os nematoides tricostrongilídeos são vermes capiliformes que em geral parasitam o trato gastrointestinal de ruminantes causando injúrias graves com consideráveis taxas de morbidade e mortalidade, sendo responsáveis por causar grandes prejuízos econômicos à atividade pecuária. A espécie ovina apresenta grande susceptibilidade a estes parasitas, inclusive em animais adultos. Os ovinos podem sofrer infecções graves com o envolvimento de múltiplos gêneros de nematoides tricostrongilídeos e os animais infectados por estes parasitas podem desenvolver diversos quadros clínicos. Dentre eles, destacam-se a anemia aguda causada por vermes do gênero Haemonchus e a severa gastroenterite causada pelos vermes do gênero Trichostrongylus (Monteiro et al., 2011) Taylor et al. (2011) afirmaram que o monitoramento constante do número de ovos por grama de fezes (OPG) dos ovinos para avaliar a carga parasitária e a realização de vermifugações criteriosas podem promover o controle das infestações por nematoides tricostrongilídeos. Estes autores também afirmaram que diferentes estratégias de manejo também podem ser utilizadas de maneira eficiente para a obtenção da prevenção e/ou controle de infecções por estes parasitas. O sistema de integração pecuária-floresta está sendo apontado como um possível método alternativo no controle destas parasitoses devido a capacidade que este tipo de sistema tem de atrair uma maior fauna edáfica que incluiria predadores de helmintos e competidores por substrato, diminuindo assim a carga parasitária disponível no ambiente (Soca et al., 2002; Auad e Carvalho, 2011). Esudos demonstraram que este tipo de sistema produtivo pode causar benefícios aos animais principalmente com relação ao conforto térmico, com menor incidência de radiação solar, temperaturas mais amenas e maior retenção de umidade (Garcia e Andrade, 2001; Balbino et al. 2011). Entretanto, as temperaturas amenas e a manutenção da umidade também podem favorecer o desenvolvimento e a manutenção de larvas de nematoides no ambiente. Diante deste cenário, este estudo teve por objetivo avaliar de modo comparativo a recuperação de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos oriundos de hospedeiros da espécie ovina entre os sistemas integração pecuária-floresta e pastagem convencional com monocultivo de forrageira. 2- MATERIAL E MÉTODOS 2.1- Campo experimental O projeto foi implantado no campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, localizados no município de Sinop–MT, latitude 11 51’ 43’’ Sul, longitude 55 35’ 27’’ Oeste e 384 m de altitude em relação ao nível do mar. De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região é Aw (clima tropical com concentração de chuvas no verão e inverno seco). A área do estudo é composta por piquetes formados com Brachiaria brizantha cv Piatã, no qual foram avaliados o tratamento A: Pastagem monocultivada a pleno Sol e tratamento B: Integração pecuária-floresta com renques triplos de eucalipto (Eucalyptus urograndis - clone H13) e espaçamento entre renques de 15 metros. As áreas avaliadas no estudo não foram utilizados anteriormente por nenhuma outra categoria ou espécie animal, sendo assim livres de contaminação por nematoides tricostrongilídeos. Da mesma forma, durante a condução do trabalho, nenhum animal teve acesso aos piquetes em avaliação. 2.2- Obtenção de fezes com ovos de nematoides tricostrongilídeos. 19 As amostras de fezes com ovos de nematoides tricostrongilídeos foram obtidas de 10 ovinos mestiços naturalmente infectados, pertencentes ao Setor de Parasitologia Veterinária do Hospital Veterinário vinculado ao Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Mato Grosso Campus Sinop. Foram realizadas coproculturas periódicas destes animais de acordo com a técnica descrita por Ueno & Gonçalves (1998) para a verificação da manutenção das populações de nematoides tricostrongilídeos. A coleta de fezes tinha início três dias antes das deposições para que se obtivesse um volume fecal adequado. Os animais receberam bolsas coletoras que foram recolhidas 2 vezes ao dia sendo então identificadas e armazenadas sob refrigeração e protegidas contra a desidratação. O produto destas coletas gerou as amostras que foram inoculadas no campo, sendo que estas possuíam vinte gramas e aproximadamente 60.000 (sessenta mil) ovos de nematoides tricostrongilídeos. 2.3- Módulos experimentais Com a finalidade de uniformizar a altura da pastagem, em momento prévio a cada deposição de fezes, a área de deposição em ambos os tratamentos foi roçada para que a pastagem apresentasse uma altura padrão de 30 cm. Nestas áreas, de maneira aleatória, foram demarcados por meio de bandeiras numeradas, 30 módulos por tratamento. Sendo estes os locais de deposição das fezes em meio a pastagem. 2.4- Deposição das fezes Durante o período do estudo, com intervalos regulares de noventa dias, foram realizadas as deposições de fezes. Deste modo, garantiu-se que cada tratamento recebesse deposição em cada uma das quatro estações do ano. As fezes foram depositadas sobre o solo em meio a gramínea em cada um dos módulos previamente marcados, sendo a deposição realizada sempre no mesmo horário (8:00 h). 2.5- Coleta do material e Exames laboratoriais Quatorze dias após a deposição das fezes, em três horários distintos (às 06:00, 12:00 e 18:00 horas) foram coletadas as amostras do campo, sendo estas compostas por fezes remanescentes, 2 cm de solo abaixo das mesmas e pastagem adjacente às fezes em um raio de 10 cm delimitado por um aro de metal. O diâmetro do aro foi determinado com base no relato de que aproximadamente 90% das larvas não migram lateralmente além de 10 cm de distância das fezes como o descrito por Skinner e Todd (1980) apud Rocha et al. (2008). As larvas foram extraídas destas amostras pela técnica de Baerman modificada de Ueno (Ueno & Gonçalves, 1998). Após 24 h nos aparelhos de Baerman, as amostras (forragem, solo e fezes) foram colocadas em sacos de papel com o peso previamente conhecido e depois foram transferidas para uma estufa a 100 ºC por 24 horas, para a determinação de matéria seca de acordo com Silva e Queiroz (2002). As larvas recuperadas foram contadas sob microscopia óptica e então obteve-se o quantitativo de larvas infectantes por quilograma de matéria seca (L3/ Kg MS). As larvas recuperadas das amostras foram identificadas de acordo com Ueno & Gonçalves (1998), o que permitiu o monitoramento da contaminação por outros nematoides. 2.6- Análise estatística O estudo foi delineado de maneira inteiramente casualizada obedecendo um arranjo fatorial 2 X 4 com dois tratamentos e quatro estações de coleta. A interação entre os tratamentos e as estações do ano foi analisada nos três tipos de materiais avaliados, sendo eles forragem, solo e fezes. Os dados passaram por transformação logarítmica (Log X) depois foram analisados através do Proc Mixed do SAS System®. Para melhorar a compreensão, serão apresentadas nas tabelas as médias aritméticas. 20 3- RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados obtidos, foi possível verificar que a interação entre os tratamentos e as estações do ano foi significativa (P<0,05) em relação ao número de larvas recuperadas para todos os materiais avaliados. Verificou-se também a possibilidade de recuperação de larvas infectantes em todos os materiais nos quatro períodos de coleta. Foram obtidas expressivas contagens de L3/Kg MS em forragem nas coletas de primavera e verão, que correspondem a estação chuvosa na Região Norte de Mato Grosso. Tal resultado é condizente com o demonstrado por outros autores (Lima et al., 1997; Niezem et al., 1998; Rocha et al., 2007). A maior contagem de L3/Kg MS em pastagem foi obtida na coleta do outono na gramínea proveniente do sistema convencional com 5.870,20 L3/Kg MS (P<0,05). Entretanto, o sistema integração pecuária-floresta apresentou superioridade nas contagens (P<0,05) das demais estações de acordo com os resultados descritos na Tabela 1. Este resultado demonstrou que o sistema pecuária-floresta pode ser apontado como um fator de risco para a ingestão de maior quantidade de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos oriundos de hospedeiros ovinos. A coleta do inverno, que corresponde ao ápice da estação seca no Norte de Mato Grosso, apresentou recuperação de larvas infectantes em forragem significativamente inferior as demais estações (P<0,05). Este resultado corrobora o demonstrado por Ndamukong e Ngone (1996) que em estudo realizado em Camarões, também observaram maior recuperação de larvas durante a estação chuvosa daquela região. Os referidos autores consideram a chuva como o fator climático de maior importância para o desenvolvimento e sobrevivência de larvas no campo. Rocha et al. (2007) observaram ausência de recuperação de larvas infectantes em forragem nos meses em que não ocorreram fenômenos pluviométricos. Boom e Sheat (2008) chegaram a afirmar que as condições climáticas diferenciadas a cada estação do ano podem promover pressão de seleção, interferindo assim, com a variabilidade entre as espécies de nematoides tricostrongilídeos recuperados no ambiente. Dijk e Morgan (2011) afirmaram ser provável que a correlação positiva entre o surgimento de contaminação nas pastagens e a chuva seja decorrente da liberação destas larvas de um meio reservatório. Tabela 1. Médias de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por quilograma de matéria seca recuperadas de forragem em coletas realizadas nas quatro estações do ano, quatorze dias após a deposição de amostras fecais de ovinos com ovos de nematoides tricostrongilídeos, em meio à pastagem em sistema de integração pecuária-floresta e pastagem a pleno sol. Sistema iPF Pleno Sol Estação do ano Primavera 4.889,68Ab 3.887,76Bb Verão 5.667,87Aa 2.924,45Bc Outono 4.607,28Bb 5.870,20Aa Erro Padrão da Média Inverno 749,09Ac 385,85Bd 292,59 Médias seguidas por mesma letra, não diferem entre si (p<0,05). Letras minúsculas comparam valores nas linhas e maiúsculas comparam valores nas colunas. Khadijah et al. (2013) atribuíram grande importância à capacidade de retenção de umidade pelo solo para a manutenção da vida de larvas infectantes. O presente estudo também verificou este fenômeno, com a 21 observação de larvas nas camadas superficiais do solo durante todos os meses de coleta. No mês correspondente ao ápice da seca na região de realização do estudo, foram recuperadas as maiores quantidades de L3/Kg MS em solo(P<0,05). Estes resultados podem ser observados na Tabela 2. Tabela 2. Médias de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por quilograma de matéria seca recuperadas de solo em coletas realizadas nas quatro estações do ano, quatorze dias após a deposição de amostras fecais de ovinos com ovos de nematoides tricostrongilídeos, em meio à pastagem em sistema de integração pecuária-floresta e pastagem a pleno sol. Sistema iPF Pleno Sol Estação do ano Primavera 2.259,64Ac 2.421,28Ac Verão 2.731,61Bb 3.336,56Ab Outono 1.131,47Bd 2.301,59Ac Erro Padrão da Média Inverno 6.112,74Aa 4.847,56Ba 130,28 Médias seguidas por mesma letra, não diferem entre si (p<0,05). Letras minúsculas comparam valores nas linhas e maiúsculas comparam valores nas colunas. O material fecal apresentou as maiores recuperações de L3/ Kg MS na coleta do inverno para ambos os tratamentos(P<0,05), sendo estas médias da ordem de 30.199 para o sistema integrado e 22.020 para o sistema convencional, havendo diferença significativa entre as mesmas (P<0,05). Os resultados são descritos na Tabela 3. Tabela 3. Médias de larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por quilograma de matéria seca recuperadas de fezes em coletas realizadas nas quatro estações do ano, quatorze dias após a deposição de amostras fecais de ovinos com ovos de nematoides tricostrongilídeos, em meio à pastagem em sistema de integração pecuária-floresta e pastagem a pleno sol. Sistema iPF Pleno Sol Estação do ano Primavera 3.839,85Ac 4.025,79Ac Verão 1.638,84Bd 2.578,18Ad Outono 5.316,97Bb 6.140,71Ab Erro Padrão da Média Inverno 30.199,00Aa 22.020,00Ba 922,06 Médias seguidas por mesma letra, não diferem entre si (p<0,05). Letras minúsculas comparam valores nas linhas e maiúsculas comparam valores nas colunas. A observação de maior concentração (P<0,05) de L3/Kg MS na matéria fecal remanescente no mês de junho (coleta de inverno) demonstra que este material também pode servir como reservatório para a permanência destas larvas no campo até que o índice de umidade seja favorável a manutenção das mesmas na pastagem. Este resultado foi condizente com o obtido por Silva (2007), que também verificou a presença de larvas em fezes de ovino no mês de junho em estudo semelhante a este. O bolo fecal contaminado pode promover ambiente ideal para estas larvas de helmintos, assegurando-lhe umidade e temperatura adequadas a manutenção da vida até que esta condição seja restabelecida no ambiente (Starke et al., 1992; Lima et al., 1997; Stromberg ,1997; Almeida et al., 2005). Por outro lado, Amarante et al. (1996) encontraram número expressivo de larvas infectantes nas pastagens mesmo durante um severo período de seca com precipitações mensais inferiores a 23 mm entre os 22 meses de junho a agosto. Os autores creditaram parte deste efeito à sobrevivência de ovos e larvas em condições microclimáticas favoráveis no ambiente fecal. A manutenção da viabilidade de ovos e larvas de nematoides tricostrongilídeos em fezes de ovinos, a eliminação das cíbalas fecais de maneira dispersa (cobrindo uma grande área durante a defecação) e o tempo de permanência das fezes no campo, que de acordo com Yeates et al. (2007), pôde ser observado durante um período de pelo menos cinquenta dias, são características que demosntram o potencial que este material possui para a contaminação ambiental. A coleta de verão foi a única a demonstrar um padrão de comportamento em relação as contagens de larvas infectantes. Nesta, as contagens de L3/ Kg MS em forragem foram de 5.667,87 no sistema de integração pecuária-floresta e de 2.924,45 no sistema com monocultivo de pastagem. Observou-se assim, o comportamento esperado quando estes dados são confrontados aos dos meios reservatórios com as médias de 2.731,61 e 3.336,56 para solo e 1.638,84 e 2.578,18 para fezes em sistema integrado e convencional respectivamente, verificando assim uma proporcionalidade inversa. O pareamento destes dados permitiu a verificação do deslocamento da concentração de larvas infectantes dos meios reservatórios para a forragem na época em que o ambiente propicia melhores índices de umidade para a manutenção das mesmas. Quando componentes florestais são associados a áreas de pecuária, a interação entre rebanhos domésticos e animais silvestres torna-se um fator de importância para o controle da sanidade destes. ChintoanUta et al. (2014) avaliaram o potencial que os cervídeos silvestres possuem em se contaminar por nematoides abomasais oriundos de bovinos e ovinos. Os autores concluíram que os referidos animais podem apresentar risco potencial por se contaminarem com este tipo de nematoide. Aliados aos dados do presente estudo, sugere-se o monitoramento da presença de tais cervídeos em ambientes de integração pecuária-floresta. O enriquecimento ambiental obtido neste tipo de sistema pode propiciar o aparecimento de diversas espécies de animais silvestres, dentre eles os cervídeos, que poderiam aumentar a contaminação deste ambiente por larvas de nematoides tricostrongilídeos e também servir como reservatório para populações de nematoides promovendo uma contaminação constante do ambiente. Neste caso, mesmo que o rebanho tenha recebido dosificações de antihelmíntico de maneira adequada, logo estaria recontaminado por estas larvas de origem silvestre. De posse das supracitadas informações, novas estratégias de manejo podem ser desenvolvidas para uma melhor utilização de sistemas com integração entre pecuária e floresta. Dentre estas, podemos destacar a realização de monitoramento constante do número de ovos por grama de fezes e as verfifugações estratégicas das categorias mais susceptíveis como sugerido por Taylor et al. (2011) e a adoção de manejos com diferentes espécies de animais, com o objetivo de promover a descontaminação do campo com base no princípio da especificidade parasitária, que na espécie Haemonchus foi considerada alta em um estudo realizado por Silva et al. (2014). Neste, os autores identificaram alta especificidade de H. placei e H. similis aos bovinos e de H. contortus aos ovinos. A diminuição na contaminação das pastagens por larvas de nematoides tricostrongilídeos através da utilização de manejos com diferentes espécies já foi descrita pela literatura, sendo os estudos realizados em diferentes forrageiras e com diferentes arranjos podendo ser em regime de sucessão entre bovinos e ovinos ou até 23 mesmo com as duas espécies pastejando juntas na mesma área com bons resultados de descontaminação (Fernandes et al., 2004; Torres et al., 2008; Torres et al., 2009). 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema integração pecuária-floresta demonstrou ser um fator de risco para a recontaminação de ovinos com larvas infectantes de nematoides tricostrongilídeos por apresentar contagens superiores de L3/ Kg MS em forragem, em comparação ao sistema de pastagem monocultivada nas coletas de primavera, verão e outono. Estratégias de manejo voltadas para o controle das nematodioses de ovinos submetidos a este tipo de sistema devem ser elaboradas para uma utilização mais eficiente dos mesmos. A verificação da dinâmica parasitária de nematoides parasitas de bovinos em sistema de integração pecuária-floresta é sugerida, para que de posse destas informações, estratégias de manejo entre as espécies bovina e ovina sejam elaboradas. A avaliação de outros arranjos de sistemas de integração pecuária-floresta com diferentes espaçamentos entre renques e utilização de outras espécies arbóreas torna-se importante para a verificação dos resultados. Os sistemas integrados são dinâmicos, podendo obedecer diversos arranjos, oferecendo assim condições microclimáticas e ambientais variadas que possivelmente seriam suficientes para a obtenção de resultados diferentes aos do presente estudo. 5- REFERÊNCIAS Almeida, LR, Castro, AA, Silva, FJM, Fonseca, AH (2005) Desenvolvimento, sobrevivência e distribuição de larvas infectantes de nematoides gastrintestinais de ruminantes, na estação seca da Baixada Fluminense. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária 14: 89-94. Amarante, AFT, Padovani, CR, Barbosa, MA (1996) Contaminação da pastagem por larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais parasitas de bovinos e ovinos em Botucatu- SP. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária 5: 65- 73. Auad, AM, Carvalho, CA (2011) Análise faunística de coleópteros em sistema silvipastoril. Ciência Florestal 21: 31-39. 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Média 25,84 27,88 27,83 26,48 25,48 26,88 26,83 28,95 28,32 27,45 26,24 28,69 29,40 Máxima 29,44 37,70 39,63 37,78 35,99 40,14 38,39 41,44 41,09 40,83 33,52 41,97 37,78 Mínima 23,40 22,44 21,44 19,82 22,03 19,39 21,03 21,65 22,37 22,30 22,66 21,96 22,08 29/05/14 30/05/14 31/05/14 01/06/14 02/06/14 03/06/14 04/06/14 05/06/14 06/06/14 07/06/14 08/06/14 09/06/14 10/06/14 11/06/14 25,57 26,71 27,94 28,59 23,09 28,02 28,77 28,41 29,15 27,96 27,66 27,14 26,24 26,88 39,32 41,77 43,74 47,22 25,67 44,26 44,17 44,14 45,12 43,10 44,38 42,09 42,15 42,51 18,63 16,44 16,32 17,34 20,72 19,15 19,48 18,91 18,18 18,41 16,56 16,77 14,70 15,10 29/08/14 30/08/14 31/08/14 01/09/14 02/09/14 03/09/14 04/09/14 05/09/14 06/09/14 07/09/14 08/09/14 09/09/14 10/09/14 25,62 28,48 28,43 28,35 29,86 29,83 29,06 27,17 26,94 28,09 28,90 27,18 29,72 29,54 44,69 45,15 44,04 43,13 44,91 44,44 42,95 36,53 40,26 41,65 42,24 44,23 19,87 19,03 19,60 19,29 19,72 18,79 20,58 19,44 19,41 19,96 18,25 15,18 15,84 27 UMIDADE Média 80,26 76,94 76,25 78,19 86,43 80,52 78,78 75,59 77,97 81,03 83,74 76,50 70,84 Máxima 90,58 95,44 97,35 97,31 98,42 98,35 98,53 97,72 98,11 98,55 97,74 98,15 98,31 Mínima 65,91 43,68 40,53 44,79 53,06 41,20 44,96 38,83 41,95 40,31 57,68 38,75 45,26 70,65 66,80 66,90 68,69 93,51 74,29 71,27 70,07 68,97 68,32 66,81 64,77 63,66 65,47 93,30 96,82 97,31 97,17 98,90 99,53 98,96 98,68 97,79 98,08 98,63 97,00 97,12 96,25 32,89 27,25 26,86 26,28 84,18 29,14 29,36 27,03 25,27 26,09 25,29 25,54 20,32 26,35 66,50 66,84 63,75 68,04 62,25 62,59 65,17 76,63 71,11 67,53 51,83 50,41 47,85 97,06 99,20 94,23 95,88 98,77 97,32 93,07 98,56 99,41 98,09 97,17 88,05 90,21 43,00 23,08 24,77 27,92 26,49 26,11 23,64 28,94 35,84 30,10 18,08 17,28 16,68 Tabela 2. Temperatura e umidade relativa do ar em seus valores médios, máximos e mínimos, nos períodos em que as fezes contaminadas com ovos de nematoides tricostrongilídeos permaneceram no campo em meio à pastagem durante três estações do ano (Verão, Outono e Inverno) no sistema integração pecuária-floresta. Inverno Outono Verão TEMP. UMIDADE Data 26/02/14 27/02/14 28/02/14 01/03/14 02/03/14 03/03/14 04/03/14 05/03/14 06/03/14 07/03/14 08/03/14 09/03/14 10/03/14 Média 26,40 26,56 25,78 25,67 24,41 25,42 25,63 27,22 26,42 25,78 25,15 26,97 27,72 Máxima 28,39 32,33 32,00 35,34 29,59 34,23 32,98 35,77 34,65 32,56 29,07 33,84 34,31 Mínima 24,82 23,09 21,34 21,32 22,44 20,46 21,68 22,51 22,78 22,63 22,80 22,20 22,94 Média 76,99 78,53 78,36 78,77 84,75 80,47 79,35 76,48 77,42 78,75 80,44 75,73 70,44 Máxima 81,50 87,95 88,23 88,17 88,15 88,33 87,99 87,72 85,00 85,00 85,14 85,17 84,76 Mínima 70,31 58,48 59,26 57,66 70,26 55,54 59,63 55,44 55,57 59,12 70,52 55,64 43,08 29/05/14 30/05/14 31/05/14 01/06/14 02/06/14 03/06/14 04/06/14 05/06/14 06/06/14 07/06/14 08/06/14 09/06/14 10/06/14 11/06/14 25,45 25,11 25,70 26,53 22,78 25,19 26,53 26,43 26,59 26,16 25,87 25,44 24,13 25,07 32,61 34,60 35,08 35,90 24,39 34,10 35,80 36,50 36,25 35,64 35,69 35,21 35,85 35,26 20,56 18,44 18,39 19,34 21,51 20,56 20,53 20,01 19,77 19,29 18,70 18,11 17,03 16,94 70,48 69,82 70,64 73,65 95,97 82,77 77,53 75,84 75,26 73,04 71,68 67,42 68,98 69,81 88,50 94,49 93,68 96,23 99,43 100,00 97,76 97,65 97,47 97,07 96,75 94,35 95,40 95,00 47,57 38,68 39,35 42,62 85,29 49,22 44,10 40,24 40,65 36,71 37,71 31,84 27,86 35,21 29/08/14 30/08/14 31/08/14 01/09/14 02/09/14 03/09/14 04/09/14 05/09/14 06/09/14 07/09/14 08/09/14 09/09/14 10/09/14 24,94 28,79 28,67 28,92 30,55 30,02 29,20 26,28 26,69 28,97 30,62 29,13 30,77 31,69 44,91 43,47 44,81 45,56 44,29 42,12 37,23 37,10 41,85 45,69 44,57 45,44 21,41 19,87 20,67 20,98 20,70 20,75 21,87 20,48 20,41 20,27 20,96 17,34 18,27 80,61 66,04 62,73 66,09 60,05 60,33 64,03 77,67 72,21 65,10 48,94 46,60 45,42 92,93 97,04 89,73 90,51 94,99 91,23 86,73 95,17 97,60 95,80 89,05 80,08 82,18 43,59 24,82 28,87 28,47 26,02 26,61 31,51 40,65 41,59 32,06 17,11 15,86 17,62 28 Figura 1. Sistema de integração pecuária-floresta com renques triplos de eucalipto e espaçamento entre renques de quinze metros. 29