UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E BIOLOGIA
CELULAR
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO NEUROCIÊNCIAS
ELIZA MARIA DA COSTA BRITO LACERDA
Avaliação Psicofísica Visual Cromática e Acromática de Sujeitos Expostos de
Forma Crônica Ocupacional à Mistura de Solventes Orgânicos
BELÉM, PARÁ
2010
ii
ELIZA MARIA DA COSTA BRITO LACERDA
Avaliação Psicofísica Visual Cromática e Acromática de Sujeitos Expostos de
Forma Crônica Ocupacional à Mistura de Solventes Orgânicos
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa
de
Pós-graduação
em
Neurociências e Biologia Celular (Área de
Concentração
Neurociências)
da
Universidade Federal do Pará como
requisito parcial para obtenção do grau de
mestre em Ciências
Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos de Lima
Silveira
BELÉM, PARÁ
2010
iii
ELIZA MARIA DA COSTA BRITO LACERDA
Avaliação Psicofísica Visual Cromática e Acromática de Sujeitos Expostos de
Forma Crônica Ocupacional à Mistura de Solventes Orgânicos
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa
de
Pós-graduação
em
Neurociências e Biologia Celular (Área de
Concentração
Neurociências)
da
Universidade Federal do Pará como
requisito parcial para obtenção do grau de
mestre em Ciências
Data da Avaliação: 24 de fevereiro de 2010
Comissão Avaliadora:
Prof. Dr. Luiz Carlos de Lima Silveira- Orientador
Faculdade de Medicina, Instituto de Ciências da Saúde, UFPA
Núcleo de Medicina Tropical, UFPA
Prof. Dr. Antônio José de Oliveira Castro
Faculdade de Nutrição, Instituto de Ciências da Saúde, UFPA
Prof. Dr. Bruno Duarte Gomes
Faculdade de Biotecnologia, Instituto de Ciências Biológicas, UFPA
Profa. Dra. Dora Selma Fix Ventura
Instituto de Psicologia, USP
Dr. Anderson Raiol Rodrigues- Suplente
Instituto de Ciências Biológicas, UFPA
BELÉM, PARÁ
2010
iv
Lacerda, Eliza Maria da Costa Brito
AVALIAÇÃO PSICOFÍSICA VISUAL CROMÁTICA E ACROMÁTICA
DE SUJEITOS EXPOSTOS DE FORMA CRÔNICA OCUPACIONAL À
MISTURA DE SOLVENTES ORGÂNICOS. Belém, Pará, UFPA/ICB, 2010. xxi,
175 f
Dissertação: Mestre em Ciências (Neurociências)
1. Solventes orgânicos. 2. Psicofísica visual. 3. Visão de cor. 4. Visão espacial. 5.
Visão temporal. 6. Campo visual. 7. Neurotoxicologia. I. Universidade Federal do
Pará/ Instituto de Ciências Biológica. II. Título.
v
vi
A vida sem ciência é uma espécie de morte.
(Sócrates)
vii
Para Heitor Lacerda Souza
viii
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Luiz Carlos de Lima Silveira que é um excelente orientador, para
quem eu jamais conseguiria agradecer de forma justa somente em duas linhas.
À Profa. Dra. Dora Fix Ventura pelos conselhos e orientações sempre tão
simpáticos ao longo deste projeto de pesquisa.
Ao Prof. Dr. Givago da Silva Souza, pela incansável orientação, presteza e
dedicação durante todo o desenvolvimento deste trabalho. Seu incentivo foi de
fundamental importância para que eu realizasse o mestrado.
Ao Dr. Anderson Raiol Rodrigues por contribuir com dados controle para este
trabalho e sempre ter arranjado tempo para ajudar no que fosse necessário. Suas
contribuições foram inúmeras.
Ao MSc. Claúdio Eduardo Corrêa Teixeira por contribuir com dados controle
para este trabalho e pelo olhar crítico importante para a busca de melhorar cada vez
mais tudo que é feito.
Ao Prof. Dr. Bruno Duarte Gomes por sempre procurar responder as minhas
dúvidas.
À Monica Gomes Lima, pela parceria durante todos estes anos de universidade.
Ao Dr. Lauro José Barata de Lima por fazer a avaliação clínica oftalmológica
dos sujeitos desta pesquisa.
A todos os membros do Laboratório de Neurologia Tropical que contribuíram
com discussões, incentivos, correções, apoio técnico e intelectual, e principalmente por
formarem um ambiente tão prazeroso para trabalhar. Gosto de todos como minha
família.
A Universidade Federal do Pará por ter propiciado a minha formação acadêmica.
ix
Aos órgãos de fomento a pesquisa CNPq, CAPES e FINEP IBN-Net pelo apóio
financeiro.
À todos os frentistas que foram voluntários nesta pesquisa pela generosidade,
paciência e cavalheirismo durante a realização dos testes.
À Maria Glauciane de Oliveira Brito por cuidar com tanto carinho do meu filho
enquanto eu trabalhava. A qualidade deste trabalho se deve em muito a tranqüilidade
que ela me proporcionou.
Agradecerei por toda minha vida aos meus pais Fernando Antônio Gama
Lacerda e Raimunda Luzia da Costa Brito Lacerda que são maravilhosos, que me deram
tudo o que sei e o que sou de melhor. Aos meus irmãos Fernando da Costa Brito
Lacerda e Felipe André da Costa Brito pelas conversas amigas e os momentos de
distração que me deram leveza para pensar. Ao casal Maria Glagean e Braz Souza, pelo
incentivo para realização deste mestrado. O convívio com toda minha grande e
diversificada família me ajudou muito a trabalhar com humanos, obrigada.
x
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Neurologia Tropical, Núcleo de
Medicina Tropical, Universidade Federal do Pará, sob orientação do prof. Luiz Carlos
de Lima Silveira. O autor recebeu bolsa de mestrado CNPq durante a realização deste
trabalho. Estavam em vigências os seguintes suportes financeiros: CNPq-PRONEX/
SECTAM-FUNTEC / FADESP no 1079; CNPq-PRONEX/ FAPESPA/ UFPA/
FADESP Convênio no 2268; CNPq Edital Universal no 471815/2004-7 e 486351/20068, CNPq EDITAL MCT/CT-INFRA/CTENERG no 620248/2006-8 e 620037/2008-3;
CAPES-PROCAD no 182/2007; CNPq EDITAL MCT/CT-SAÚDE no 550671/2007-2;
FINEP/FADESP Rede Instituto Brasileiro de Neurociências (IBN Net), Ref no 4191/05,
Proc. no 01.06.0842-00, Convênio no 1723.
xi
RESUMO
Objetivos: Avaliar através de métodos psicofísicos visão cromática e acromática de
sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos.
Métodos: Foram testados 30 frentistas (31,3 ± 8,5 anos de idade) de postos de
distribuição de combustível com tempo de trabalho médio de 47,3 meses (±64,25).
Testes psicofísicos usados: discriminação de cores pelo método de Mollon-Reffin (MR)
(n=17) cujos parâmetros utilizados foram o diâmetro do circulo equivalente a área da
elípse (D), elipticidade (a/b) e inclinação da elipse (α); ordenamento dos 100 matizes de
Farnsworth-Munsell 100 (FM–100) (n=26) cujos parâmetros usados foram valor de erro
e pontos médios, função de sensibilidade ao contraste espacial (SCE) e temporal (SCT)
de luminância (n=25); e os protocolos central 10-2, central 30-2 e periferia 60-4 da
perimetria estática de Humphrey (PEH) (n=21) cujos parâmetros usados foram valores
de sensibilidade, MD e PSD. Os resultados de cada frentista e os valores médios deste
grupo foram comparados com intervalos de tolerância e de intervalo de confiança do
grupo controle que foi dividido na faixa etária de 16 a 30 anos, 31 a 45 anos e 46 a 60
anos. Para avaliar diferenças entre o grupo de frentistas e o grupo controle utilizou-se o
teste-t e para avaliar correlações entre tempo de exposição e desempenho nos testes
utilizou-se o índice de correlação linear de Pearson sempre considerando α=0.05.
Resultados: MR: Oito frentistas (41,1%) apresentaram pelo menos uma das 5 elipses
com valores de D acima do limite de tolerância superior em geral com o correspondente
valor de a/b também fora do intervalo de tolerância, no entanto, a média dos valores de
todos os parâmetros do grupo de frentistas está dentro do intervalo de confiança do
grupo controle. Existe diferença estatística entre os valores de D (em E1, E3, E4); a/b
(em E3, E5) e α (E2, E3, E5) entre o grupo de frentistas e o grupo controle. Não houve
correlação entre tempo de exposição e desempenho neste teste. FM-100: Dezenove
frentistas (73,1%) apresentaram valores de erro acima do limite de tolerância superior
do grupo controle. A média dos valores de erro deste grupo está acima do limite de
confiança superior do grupo controle. Existe diferença estatística entre os valores de
erro do grupo de frentistas e o grupo controle. Não houve correlação entre tempo de
exposição e o desempenho neste teste. SCE: Treze frentistas (52%) apresentaram
valores de SCE de luminância abaixo do limite de tolerância inferior do grupo controle.
A média dos valores da função de SCE de luminância estão abaixo do limite de
confiança do grupo controle nas freqüências espaciais de 0,8cpg, 20 cpg, 30 cpg na
faixa etária de 16 a 30 anos, 20 cpg e 30 cpg na faixa etária de 31 a 45 anos e 4 cpg, 6
xii
cpg, 10 cpg, 15 cpg, 20 cpg e 30 cpg na faixa etária de 46 a 60 anos. Existe diferença
estatística entre os valores da SCE de luminância entre grupo de frentistas nas
freqüências espaciais de 20 e 30 cpg. Não houve correlação entre tempo de exposição e
desempenho nos testes. SCT: somente dois frentistas (8%) apresentaram valores de SCT
de luminância abaixo do limite de tolerância inferior do grupo controle. A média dos
valores da função de SCT de luminância estão dentro do intervalo de confiança do
grupo controle. Não existe diferença estatística entre os valores da SCT de luminância
entre grupo de frentista e o grupo controle. Não houve correlação entre tempo de
exposição e desempenho neste teste. PEH: Seis frentistas (28,57%) apresentaram
valores de sensibilidade acromática menor que o grupo controle na região 100 a 600 de
ângulo visual. A média dos valores de sensibilidade acromática foi menor que o limite
inferior de confiança do grupo controle na região de 20 0 a 45 0 na faixa etária de 16 a 30
anos e na região de 100 a 600 na faixa etária de 31 a 45 anos. Existe diferença estatística
para a média de sensibilidade acromática na região de 100 a 300 de ângulo visual entre o
grupo de frentistas e o grupo controle. O PSD no Protocolo central 10-2 e central 30-2
foi menor que o grupo controle, e o MD do protocolo central 30-2 foi maior que grupo
controle. Houve correlação entre tempo de exposição e sensibilidade acromática de 0 0 a
3,30 de ângulo visual e de 100 a 200 de ângulo visual. Conclusão: 25 dos 29 (86,2%) dos
sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos apresentam algum
tipo de alteração visual. Os frentistas apresentaram perda de sensibilidade cromática do
tipo difusa, diminuição da SCE de luminância nas freqüências espaciais mais altas de
diminuição da sensibilidade acromática na região do campo visual de 10 0 a 30 0 de
ângulo visual caracterizada com uma ilha de visão irregular. Existe correlação entre
tempo de exposição e sensibilidade acromática na região central do campo visual.
Houve maior dano para visão cromática que para visão acromática.
Palavras chave: Solventes orgânicos, psicofísica visual, visão cromática, visão
acromática, neurotoxicologia.
xiii
ABSTRACT
Purpose: To evaluate achromatic and chromatic vision from chronically solventexposed workers using psychophysical methods. Methods: Thirty chronically solventexposed workers (31.3 ± 8.5 years age) with mean labour time: 47.3 ± 64.25 months
were evaluated. Psychophysical tests used were Mollon-Reffin test (MR) (n = 17)
whose results were expressed circles diameter (D), ellipticity (a/b) and ellipse’s
inclination (α); Farnsworth-Munsell 100 (FM-100) (n = 26) where the parameter used
was error value and medium point; spatial and temporal contrast sensitivity functions (n
= 25) and visual automated computerized perimetry (n = 21), where the parameter used
was sensibility value, MD and PSD parameters. The results of the workers were
compared with tolerance interval and interval of confidence age-matched control group
aged 16 to 30 years, 31 to 45 years, 46 to 60 years. To test the difference between the
work group and control group used t test and to test the correlation between exposure
time and result test it was used the Pearson linear correlation index (α=0.05). Results:
MR: Eight workers (41.1%) showed at least one ellipse with D and a/b above of the
upper tolerance limit of the control group. Solvent-exposed workers group showed all
parameters in the interval of confidence of control group. There was statistical
difference in the D (E1, E3, E4); a/b (E3, E5) and α (E2, E3, E5) values between the
solvent exposed-workers and control group. There was no correlation between the
exposure time and test results. FM-100: Nineteen workers (73.1%) showed error above
the upper tolerance limit of the control group. Solvent-exposed workers group showed
errors higher than normal group. There was statistical difference between the solventexposed workers and control group. There was no correlation between the exposure
time and test results. Spatial contrast sensitivity function: Thirteen workers (52%)
showed contrast sensitivity lower than the lower tolerance limit for at least one spatial
frequency. The solvent-exposed workers group had lower contrast sensitivity than the
control group at 0.8, 20 and 30 cpd for 16-30 years-old range; at 20 and 30 cpd for 3145 years-old range; and 4, 6, 10, 15, 20 and 30 cpd for 46-60 years-old range. There was
statistical difference for spatial contrast sensitivity between the solvent-exposed workers
and control group at 20 and 30 cpd. There was no correlation between exposure time
and test result. Temporal contrast sensitivity function: Two workers (8%) showed
contrast sensitivity lower than the lower tolerance limit of the control group. Solventexposed workers group had contrast sensitivity in the interval of confidence of the
xiv
control group and there was not statistical difference between both groups. There was
no correlation between the exposure time and test results. Visual automated
computerized perimetry: Six workers (28.57%) showed achromatic sensitivity lower
than control group at 100 and 600 visual field. The mean achromatic sensitivity value
was lower than the limit of confidence at 200 and 450 for 16-30 years-old range; at 100
and 60 0 for 31-45 years-old range. There was statistical difference between mean
achromatic sensitivity of the solvent-exposed workers and control groups. PSD in the
10-2 and 30-2 central protocols and MD of 30-2 central protocol were lower than the
control group. There was correlation between the exposure time and test results to
achromatic sensitivity at 0 0 and 3.30 and 100 a 200 of visual field (R2 = 0.263).
Conclusion: 25 of 29 (86.2%) workers showed some visual alteration. There were color
vision, spatial contrast sensitivity and visual field losses. The visual field showed
irregular vision loss. There was statistical correlation between exposure time and
achromatic sensitivity in the central visual field (R2 = 0.223). There was more damage
in the chromatic vision than achromatic vision.
Keywords: Organic solvent exposition, visual psychophysics, chromatic vision,
achromatic vision, neurotoxicology.
xv
SUMÁRIO
RESUMO
xi
ABSTRACT
xiii
LISTA DE FIGURAS
xvii
LISTA DE TABELAS
xx
1 INTRODUÇÃO
1
1.1 SOLVENTES ORGÂNICOS
1
1.2 O SISTEMA VISUAL COMO INDICADOR DE INTOXICAÇÃO NO 9
SISTEMA NERVOSO
1.3 PSICOFÍSICA VISUAL
10
1.4 LUMINÂNCIA
26
1.5 CAMPO VISUAL
27
1.6 COR
32
1.7 PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO VISUAL
43
1.8 OBJETIVO
58
2 MATERIAL E MÉTODOS
59
2.1 SUJEITOS
59
2.2 TESTES DE AVALIAÇÃO VISUAL
63
2.3 ANÁLISE DOS DADOS
88
3 RESULTADOS
89
3.1 DETERMINAÇÃO DOS LIMIARES DE DISCRIMINAÇÃO DE 89
CORES PELO MÉTODO DE MOLLON-REFFIN
3.2 DISCRIMINAÇÃO DE CORES PELO TESTE DE ORDENAMENTO 95
DO 100 MATIZES DE FARNSWORTH-MUNSELL
3.3 DETERMINAÇÃO
DA
FUNÇÃO
DE
SENSIBILIDADE
AO 99
SENSIBILIDADE
AO 103
CONTRASTE ESPACIAL DE LUMINÂNCIA
3.4 DETERMINAÇÃO
DA
FUNÇÃO
DE
CONTRASTE TEMPORAL DE LUMINÂNCIA
3.5 AVALIAÇÃO DE CAMPO VISUAL ACROMÁTICO ATRAVÉS DA 106
PERIMETRIA ESTÁTICA DE HUMPHREY
4 DISCUSSÃO
4.1 EFEITOS NA VISÃO CROMÁTICA
115
116
xvi
4.2 EFEITOS NA VISÃO ACROMÁTICA
122
4.3 CARACTERÍSTICA DO PROCESSAMENTO VISUAL PARA OS 126
RESULTADOS OBTIDOS
4.4 CARACTERÍSTICAS DA EXPOSIÇÃO
5 CONCLUSÃO
128
130
6 PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA GERADA A PARTIR DESTA 132
DISSSERTAÇÃO
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
147
ANÉXO 1
171
APÊNDICE 1
172
APRÊDICE 2
174
APÊNDICE 3
175
xvii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Porcentagem de detecção em função da intensidade do estímulo 14
para um limiar ideal
Figura 2 Porcentagem de detecção em função da intensidade do estímulo 17
para um limiar real
Figura 3 Registro dos passos no procedimento em escada
19
Figura 4 Função psicométrica obtida pelo método de escolha forçada
21
Figura 5 Registro dos passos procedimentos PEST
24
Figura 6 Esquema do campo visual monocular normal
29
Figura 7 Gráfico da densidade de fotorreceptores na retina
30
Figura 8 Representação esquemática da ilha de visão normal
31
Figura 9 Espectro visível da radiação eletromagnética
33
Figura 10 Diagrama de cromaticidades da CIE 1931
36
Figura 11 Representação esquemática do sistema de classificação de cor de 39
Munsell
Figura 12 Eixos de confusão de cor representados no diagrama de 42
cromaticidade da CIE 1976
Figura 13 Tipos neurais básicos da retina de mamíferos
45
Figura 14 Curva da absorção espectral dos fotorreceptores
46
Figura 15 Esquema da circuitaria da retina com ênfase para os canais de 48
oponência
Figura 16 As 6 camadas do Núcleo Geniculado Lateral de macaco
53
Figura 17 Vias retino-genículo-cortical em humanos
54
Figura 18 Organograma dos procedimentos realizados com os sujeitos 62
expostos de forma ocupacional a solventes orgânicos
Figura 19 Modelo dos optotipos de Snellen
64
Figura 20 Placas de Ishihara
66
Figura 21 Estímulos típicos usados no teste de limiar de discriminação de 69
cores pelo método de Mollon-Reffin
Figura 22 Elipses de discriminação de cores obtidas no teste de discriminação 73
de limiares de cor pelo método de Mollon-Reffin
Figura 23 Esquema do estímulo para o teste de ordenamento de 100 matizes 75
xviii
de Farnsworth-Munsell
Figura 24 Gráfico polar do teste de ordenamento dos 100 matizes de 78
Farnsworth-Munsell de um sujeito exposto de forma crônica
ocupacional a solventes orgânicos
Figura 25 Esquema do estimulo do teste de determinação da função de 81
sensibilidade ao contraste espacial de luminância
Figura 26 Esquema do estimulo do teste de determinação da função de 84
sensibilidade ao contraste temporal de luminância
Figura 27 Esquema da matriz de pontos testados no campo visual pela 87
perimetria estática de Humphrey
Figura 28 Gráfico da média de valores de diâmetro do círculo equivalente a 94
área da elipse obtido do teste de discriminação de cores pelo
método de Mollon-Reffin do grupo exposto de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos comparado com o
Intervalo de confiança do grupo controle
Figura 29 Gráfico da média de valores de erro no teste de ordenamentos dos 98
matizes de Farnsworth-Munsell do grupo exposto de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos comparado com o
Intervalo de confiança superior do grupo controle
Figura 30 O gráfico da média de valores de sensibilidade ao contraste 102
espacial de luminância do grupo exposto de forma ocupacional a
solventes orgânicos comparado com o Intervalo de confiança do
grupo controle
Figura 31 O gráfico da média de valores de sensibilidade ao contraste 105
temporal de luminância do grupo exposto de forma crônica
ocupacional à mistura de solventes orgânicos comparado com o
Intervalo de confiança do grupo controle
Figura 32 O gráfico da média de valores do limiar de sensibilidade 111
acromático em anéis concêntricos do grupo exposto de forma
crônica ocupacional à mistura de solventes orgânicos comparado
com o intervalo de confiança do grupo controle.
Figura 33 O gráfico da média de valores de MD para os dois protocolos de 112
avaliação central (Protocolo 10-2 e 30-2) do grupo exposto de
xix
forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
comparado com o intervalo de confiança do grupo controle
Figura 34 O gráfico da média de valores de PSD para os dois protocolos de 113
avaliação central (Protocolo 10-2 e 30-2) do grupo exposto de
forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
comparado com o intervalo de confiança do grupo controle
Figura 35 Gráfico da Correlação de Pearson para valores de limiar 114
acromático do grupo exposto de forma ocupacional a mistura de
solventes orgânicos e o tempo de exposição em meses
xx
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Resposta hipotética para estímulos apresentados em quatro 16
tentativas ascendentes e a porcentagem de detecção de cada
estímulo baseado nestes resultados
Tabela 2 Coordenadas do ponto central das elipses de discriminação de 70
cores, segundo o Diagrama de cromaticidade da CIE 1976
Tabela 3 Valores do diâmetro do círculo equivalente a área da elipse dos 91
sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos
Tabela 4 Valores da elipticidade (a/b) da elipse dos sujeitos expostos de 92
forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
Tabela 5 Valores de p do diâmetro do círculo equivalente a área da elipse 93
(D), elipticidade (a/b) e ângulo de inclinação (α) da elipse do grupo
exposto a mistura de solventes orgânicos quando comparados ao
grupo controle
Tabela 6 Valores de erro e pontos médios dos sujeitos expostos de forma 96
crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
Tabela 7 Valores de sensibilidade ao contraste espacial de luminância em 101
cada uma das freqüências espaciais estudadas (em cpg) dos
sujeitosa expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos
Tabela 8 Valores de p para os valores de sensibilidade ao contraste espacial 101
de luminância do grupo exposto a mistura de solventes orgânicos
quando comparados ao grupo controle em cada uma das
freqüências espaciais (cpg)
Tabela 9 Valores de sensibilidade ao contraste temporal de luminância em 104
cada uma das freqüências temporais estudadas (em Hz) dos sujeitos
expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos
Tabela 10 Valores de p para os valores de sensibilidade ao contraste temporal 104
de luminância do grupo exposto a mistura de solventes orgânicos
comparados ao grupo controle em cada uma das freqüências
xxi
espaciais (Hz)
Tabela 11 Somatória dos valores de sensibilidade acromático dos anéis
109
concêntricos do campo visual estudado (em dB) de sujeitos
expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos
Tabela 12 Valores de p para os valores de sensibilidade acromático dos anéis
109
concêntricos do campo visual estudado (graus de ângulo visual) do
grupo exposto a mistura de solventes orgânicos quando
comparados ao grupo controle
Tabela13 Valores dos índices globais dos sujeitos expostos de forma crônica
110
ocupacional a mistura de solventes orgânicos
Tabela 14 Valores de p para os Indices Globais (IG) do grupo exposto a
mistura de solventes orgânicos quando comparados ao grupo
controle
110
1
1
1.1
INTRODUÇÃO
SOLVENTES ORGÂNICOS
Solvente pode ser definido como um líquido que tem a habilidade para dissolver,
suspender ou extrair outros materiais sem alterar a química do material ou do solvente. Os
solventes orgânicos são compostos voláteis ou misturas que são quimicamente estáveis e que
existem em estado líquido na temperatura de 0 a 2500 C e são compostos basicamente por
átomos de hidrogênio e carbono (OSHS, 1998). A base de classificação de solventes
orgânicos é sua composição química, os membros de uma mesma classe apresentam, em
geral, características similares e mesma ação química, porém é comum ocorrerem importantes
variações de efeitos tóxicos dentro de um mesmo grupo de solventes (NOHSC, 1990).
Os solventes orgânicos são largamente aplicados nas mais diversas etapas da
produção industrial. Sua versatilidade vai da produção de bebidas à composição de
cosméticos, produtos farmacêuticos, desinfetantes, tintas, vernizes, combustíveis de motores,
adesivos, preservativos, explosivos, plásticos, pesticidas, extração de óleos e materiais
medicinais, uso em várias reações químicas e procedimentos laboratoriais (NOHSC, 1990;
HSE, 1999). Uma variedade de produtos como solventes industrializados, materiais de pintura
e combustíveis são compostos especificamente por tricloroetano (TCA), xileno, tolueno,
metiletilcetona (MEK), benzeno e cloreto de metileno. O grande uso desses agentes requer a
disponibilização de um enorme volume deles a cada ano e representa uma intermitente fonte
de exposição para a população em geral que pode ocorrer tanto no ambiente urbano quanto
rural, em casa ou no trabalho, através da contaminação do ar, da água ou de alimentos
(LEMASTERS et al., 1997).
2
1.1.1
Neurotoxicidade dos solventes orgânicos sobre o sistema nervoso central e
periférico
Os estudos sobre os efeitos de solventes nos sistemas orgânicos são cada vez mais
comuns em medicina do trabalho, tendo em vista que uma grande parte das contaminações
prejudiciais aos organismos ocorre por exposição ocupacional (HANNINEN et al., 1976;
MERGLER et al., 1990; AHMADI et al., 2002; BOECKELMANN e PFISTER, 2003;
SEMPLE et al., 2007). A maioria dos trabalhadores contaminados são aqueles expostos a
misturas de solventes (HANNINEN et al., 1976; MIKKELSEN, 1980; OLSEN et al., 1980;
PFISTER et al., BOECKELMANN e PFISTER, 2003). A inalação é a principal via de
contato do organismo humano com os solventes orgânicos no ambiente de trabalho; além
desse, o contato pode ocorrer por absorção através da pele sem que necessariamente haja um
dano direto à própria pele. A ingestão é relativamente o contato de menor significância na
exposição ocupacional (NOHSC, 1990). O contato também pode se dar pelo uso abusivo de
determinados solventes orgânicos devido as propriedades narcóticas que possuem
(AMADUCCI et al., 1982; CHANCELLOR et al., 1993; SMARGIASSI et al., 1999).
Os solventes orgânicos são perigosos, pois são facilmente dissolvidos e absorvidos
pelo corpo e têm grande capacidade de afetar o sistema nervoso já que são fortemente
lipofílicos, em outras palavras, eles apresentam grande facilidade de se distribuir em órgãos
ricos em lipídios como o cérebro (ROSENBERG, 1989). A exposição a solventes orgânicos
pode resultar em uma variedade de sérios danos a saúde (BAELUM et al., 1982; CHEN et al.,
2001; DICK, 2007) causando efeitos tanto no sistema nervoso central quanto no sistema
nervoso periférico levando a diferentes distúrbios nas funções neuropsicológicas
(BOCKELMANN et al., 2002 ). Os efeitos dos solventes orgânicos no sistema nervoso são
observados em estruturas lipídicas do tecido nervoso, mais precisamente na bainha de mielina
dos axônios e membrana celular (BOECKELMANN e PFISTER, 2003).
3
Existe uma forte relação entre a exposição aguda e crônica a solventes orgânicos e
características neuropsicológicas. O neuroticismo de pintores é significativamente mais alto
que em controles e tal característica está relacionada a sintomas neuropsicológicos em todos
os sujeitos (CHEN et al., 2001). O aumento do neuroticismo é diretamente proporcional ao
tempo de exposição aos solventes orgânicos (CHEN et al., 2001).
As mudanças cognitivas e neuropsicológicas são comuns a este tipo de intoxicação
(BAKER, 1994) que podem produzir uma série de mudanças em estádos mentais, como
ansiedade, irritabilidade, depressão e fadiga (BAELUM et al., 1982; GREGERSEN et al.,
1984; LINZ et al., 1986; GREGERSEN et al., 1987; MORROW et al., 1989; NOHSC, 1990).
Pode ocorrer dificuldade na concentração (BAELUM et al., 1982), perda de memória (LEE e
LEE, 1883), mudança de personalidade, perda de motivação (BAELUM et al., 1982;
NOHSC, 1990), perda cognitiva até demência completa, como relatado para o n-hexano e
metil butil cetona (ROSEMBERG, 1989) e outros solventes (DICK et al., 2002), além de
promoção ou agravamento de distúrbios do sono em caso de exposição crônica a mistura de
solventes orgânicos (VIAENE et al., 2009).
Trabalhadores expostos por tempo prolongado a baixos níveis de solventes
orgânicos voláteis, principalmente n-hexano e tolueno, apresentam efeito deletério central
envolvendo regulação postural em situações de conflito sensorial (HERPIN et al., 2009). Isto
porque a exposição crônica a solventes orgânicos voláteis causa efeitos adversos no sistema
nervo central levando à perda da atividade das vias vestibulares (HERPIN et al., 2009). O uso
abusivo crônico de tolueno produz diminuição da massa cinzenta em relação ao grupo
controle em diversas regiões do cérebro; no entanto, somente a diminuição do volume da
massa cinzenta no córtex frontal e parietal dos usuários crônicos está relacionada com
deficiência cognitiva (AYDIN et al., 2009). Encefalopatias e alterações visuais são outros
acometimentos observados na intoxicação aguda e crônica por solventes (RAITTA et al.,
4
1981; BAELUM et al., 1982; MERGLER et al., 1990; LEE e LEE, 1993; BAKER, 1994;
FELDMAN et al., 1999) sendo o tolueno um dos compostos responsabilizados por esses
efeitos (ROSENBERG, 1989; GOBBA et al., 1992). Tem sido descrita também uma
neuropatia ocupacional causada pela exposição crônica a 2-t-butil-2-hidroxi-5-metilexano
(BHMH), sendo que alguns sintomas desaparecem quando a exposição é descontinuada
(HORAN et al., 1985).
A exposição crônica ao n-hexano e metil n-butil cetona é associada com a
degeneração de células nervosas no sistema nervoso periférico resultando em sintomas como
cansaço das pernas, mialgia, dor, fraqueza e hipoestesia dos membros (NOHSC, 1990).
Irritações nos olhos, nariz e garganta também podem ocorrer em decorrência da exposição a
misturas de solventes (CHEN et al., 2001).
Mudanças genotóxicas pequenas podem ocorrer depois da exposição aguda a
baixos níveis de solventes e combustíveis (LEMANSTER et al., 1997) e alguns estudos
epidemiológicos têm sugerido que a exposição crônica a solventes orgânicos pode ser um
fator de risco na maior parte das doenças neurológicas, incluindo doença de Parkinson
(SMARGIASSI et al., 1990), esclerose múltipla (AMADUCCI et al., 1982; FLODIN et al.,
1985)
e miastenia
grave (ROSENBERG,
1989;
GUNNARSSON et al.,
1992;
CHANCELLOR et al., 1993; SCHULTE et al.,1996; GRAHAM et al., 1997). Existe
evidência que o polimorfismo genético afetando a atividade enzimática de determinadas
cascatas bioquímicas possa influenciar o risco de neurotoxicidade aos solventes (AHAMADI
et al., 2002). Estudos humanos e em outros primatas demonstram que severas intoxicações
com metanol podem provocar danos nos núcleos cinzentos da base do cérebro, principalmente
do putâmen, provocando distúrbios motores semelhantes à doença de Parkinson (SHARPE et
al., 1982; LE WITT e MARTIN, 1988). Estudos com tomografia computadorizada e
ressonância magnética mostram que sujeitos expostos cronicamente a metanol apresentam
5
necrose do putâmen com ou sem hemorragia e lesões na matriz branca subcortical (BLANCO
et al., 2006).
In vitro, compostos de hexacarbono em concetrações relativamente altas são
inibidores de várias enzimas glicolíticas, incluindo enolase, fosfofrutocinase e gliceraldeído3-fosfato dehidrogenase (SABRI et al., 1979; HOWLAND et al., 1980; GRIFFTS et al.,
1981). In vivo, a exposição crônica a 2,5 hexanodiona não tem efeitos em enzimas hepáticas e
cerebrais (PEREIRA et al., 1991), no entanto diminui enolases específicas contidas no tronco
cerebral (KARLSSON et al., 1993) e aumenta a fosforilação de proteínas gliais no hipocampo
de rato (PEREIRA et al., 1994); outro importante efeito da 2,5 hexanodiona e algumas
cetonas alifáticas é a indução de alterações no sistema colinérgico, aparentemente inibindo a
acetilcolinesterase (PEREIRA et al., 1995; 2004). Apesar da base bioquímica da
neutoxicidade da 2,5 hexanodiona não ser ainda completamente entendida, sabe-se que a
primeira lesão no sistema nervoso depois de uma exposição crônica envolve modificações
covalentes das proteínas dos microtúbulos nos axônios (COHEN et al., 1997).
1.1.2
Neurotoxicidade dos solventes orgânicos sobre o sistema visual
A função visual tem sido usada como importante indicador de neurointoxicação por
solventes orgânicos (BAELUM et al., 1982; HORAN et al. 1985). A visão de cores anormal
está relacionada e pode apresentar os sintomas mais precoces de neuropatias ópticas (ROSEN,
1965), encefalopatias (PAALYSAHO et al., 2007), perdas cognitivas (DICK et al., 2004),
além outros efeitos neurotóxicos (MUTRAY et al., 1995; IHRIG et al., 2003). Os solventes
orgânicos são responsáveis por mudanças em diferentes partes do sistema visual, incluindo os
componentes do sistema óptico, as camadas da retina e o nervo óptico (TILL et al., 2001).
Em trabalhos sobre o efeito do metanol no sistema visual de rato, tem também sido
mostrado prolongamento da latência e diminuição da amplitude dos componentes P20 e N30
6
do potencial cortical provocado visual por flash e virtual eliminação dos componentes do
eletrorretinograma. Esses efeitos podem ser devidos à ocorrência de acidose metabólica
devida à metabolização do metanol em ácido fórmico (EELLS, 1991). A ação tóxica do
metanol no sistema visual pode ser causada pela acumulação do ácido fórmico no humor
aquoso e na retina, a qual parece ser seletiva quando comparado com a acumulação noutras
regiões do sistema nervoso central, mostrando uma relação entre a acidemia e os distúrbios
visuais. Outro achado relevante mostra que o efeito retinotóxico do metanol pode ser
reversível com a descontinuação da intoxicação (EELLS, 1991). A intoxicação aguda pelo
solvente orgânico em que este é metabolizado ao monóxido de carbono produz um padrão
típico de degeneração da retina e infarto dos núcleos cinzentos da base do cérebro em adição à
encefalopatia descrita (MCCORD, 1931).
Dados baseados em oftalmoscopia e evidências histológicas mostram que a retina e
o nervo óptico são os locais onde primariamente ocorrem lesões provocadas pelo formato
decorrente da metabolização do metanol, as quais geralmente são reconhecidas como edemas
no disco óptico e na retina (SHARPE et al., 1982). Estudos histopatológicos de macacos
intoxicados por metanol revelam degeneração da camada nuclear externa e camada de células
ganglionares da retina (POTTS et al., 1955). Também tem sido relatado em macacos
alterações intraxonais, alterações mitocondriais e desintegração neurotubular no disco óptico
sem alterações observáveis na retina (HAYREH et al., 1980).
A visão é muito sensível à exposição a solventes orgânicos e diversos trabalhos
mostram que a exposição crônica de forma ocupacional à solvente orgânicos no período
gestacional origina crianças com perda da visão de cores, sensibilidade ao contraste e
acuidade visual (TILL et al., 2001; 2005). As discromatopsias adquiridas são sintomas
comuns em indivíduos expostos cronicamente a misturas de solventes orgânicos (MERGLER
et al., 1988; MERGLER et al., 1990; GOBBA et al., 1992; ZAVALIC et al., 1998; DICK et
7
al., 2000) assim como a solventes específicos como o n-hexano, estireno e tolueno (RAITTA
et al., 1981; CAMPAGNA et al., 1995; CAMPAGNA et al., 2001) e, diferentes das
discromatopsias congênitas, elas apresentam variabilidade e complexidade, dependem da
idade, podem ser monoculares ou localizadas igualmente nos dois olhos, podem ser de
natureza progressiva ou regressiva e as perdas podem ser classificadas no verde-vermelho, no
azul-amarelo ou, ainda, classificadas por sua severidade (MOLLON, 2003).
Até mesmo a exposição aguda ou crônica a pequenas concentrações de solventes
orgânicos como o estireno podem levar à deficiência na percepção de cores (MULTTRAY,
1997; ISSEVER et al., 2002; SCHREIBER et al., 2002). A maioria das deficiências
adquiridas na visão de cores, no entanto, são subclínicas e reportam a alterações na percepção
do azul-amarelo (RAITTA et al., 1981; MERGLER et al., 1988; MERGLER et al., 1990;
GOBBA et al., 1991; FALLAS et al., 1992; CAMPAGNA et al., 1995; EGUCHI et al., 1995;
MULTTRAY, 1997; ZAVALIC et al., 1998; ISSEVER et al., 2002; SCHAPER et al., 2004;
LEE et al., 2007). Podem também progredir para uma deficiência na visão de verde-vermelho
em alguns casos (MERGLER et al., 1990; PAALYSAHO et al., 2007; LACERDA et al.,
2008). As alterações na visão de cores apresentam correlato com a concentração de
metabólitos de solventes orgânicos na urina (GOBBA et al., 1991, EGUCHI et al., 1995,
GONG et al., 2003), no entanto, são contraditórios os resultados que revelam se o tempo de
exposição está relacionado ao maior prejuízo na visão de cores. Semple et al. (2000) com
estudo em pintores expostos de forma crônica a mistura de solventes, verificaram que o
aumento na média de exposição a solventes orgânicos aumenta o risco de deficiência na visão
de cores, mas Gobba et al. (1991) e Eguchi et al. (1995) mostram que as exposições crônica e
aguda de estireno, respectivamente, em trabalhadores não apresentavam correlação entre
tempo de exposição e uma visão de cores pior.
8
Em estudo com exposição crônica ao n-hexano ocorre associação de diminuição da
percepção de cor com maculopatias e danos no receptor lipídico (RAITTA et al., 1978).
Outros estudos usando animais experimentais também correlacionam a exposição ao nhexano com a constrição do campo visual, atrofia do nervo óptico e neurite retrobulbar
(YAMAMURA, 1969; LACERDA et al., 2009). A neuropatia óptica está associada com
polineuropatia em trabalhos com alcoolismo, intoxicação por metanol, estireno, tolueno,
tricloroetileno e mistura de solventes (GRANT e SCHUMANN, 1993). Estudos com ratos
revelam que a exposição ao álcool durante o desenvolvimento fetal induz alterações
persistentes na organização colunar cortical e seletividade de orientação reduzida no córtex
visual, que é uma propriedade crucial para visão de contraste de luminância normal
(MEDINA et al., 2005). Existem indícios de que isto ocorra devido ao álcool promover uma
supressão aguda da função dos receptores NMDA (SAVAGE et al., 1992) e aumento da
função dos receptores GABA (HSIAO et al., 2002), além do aumento da fosforilação CREB
(CONSTATINESCU et al., 1999).
Além disso, diminuição da sensibilidade ao contraste espacial de luminância
associada a uma acuidade normal parece ser um indicador de deficiência visual induzida em
resposta à exposição crônica ao estireno, exposição aguda ao tetracloroetileno e exposição
aguda e crônica a trietilamina (CAMPAGNA et al., 1995; JARVINEN e HYBARINEN,
1997; SCHREIBER et al., 2002) e a exposição crônica a misturas de solventes orgânicos
(FRENETTE et al., 1991; BROADWELL et al., 1995; BOELCKELMANN e PFISTER,
2003; GONG et al., 2003, LACERDA et al., 2008 ). A diminuição na sensibilidade ao
contraste espacial de luminância é significante nas freqüências espaciais de 6 a 12 ciclos /
grau, a perda pode ser dependente da intensidade da exposição e geralmente ocorre sem
alteração da acuidade visual (MERGLER et al., 1991; IREGREN et al., 2002, GONG et al.,
2003).
9
1.2
O SISTEMA VISUAL COMO INDICADOR DE INTOXICAÇÃO DO SISTEMA
NERVOSO
O monitoramento da exposição da população a agentes químicos constitui, hoje, um
importante aspecto para saúde pública. Partido do princípio de que conhecimentos a respeito
desta exposição podem prevenir ou minimizar os prejuízos decorrentes da interação de
substâncias químicas com organismos humanos, o estudo dessa interação pode ser também o
primeiro passo para a criação de normas ambientais para um contaminador químico presente
no meio ambiente.
Muitos fatores limitam o estabelecimento de indicadores para avaliar a ação
neurotóxica de substâncias químicas, como a própria complexidade das funções nervosas, a
inacessibilidade de tecidos e a variabilidade dos eventos múltiplos de neurotoxicidade
(AMORIM, 2003). Dentro deste contexto, o estudo da percepção visual apresenta-se como
um importante informador a respeito do funcionamento do sistema nervoso, pois as alterações
visuais podem ser um sinal precoce de um efeito de neurotoxicidade (ROSEN, 1965;
BAELUM et al., 1982; HORAN et al. 1985, MUTRAY et al., 1995; IHRIG et al., 2003;
DICK et al., 2004; PAALYSAHO et al., 2007). Vários estudos mostraram que a exposição
prolongada a metais pesados tais como o mercúrio, drogas de uso médico como a cloroquina e
agentes químicos como os solventes orgânicos presentes nos combustíveis apresentam um
forte fator de contaminação no sistema nervoso e este tipo de contaminação pode ser
primariamente inferido com a percepção de alterações da visão destes pacientes (VENTURA
et al., 2003; PARAMEI et al., 2004; RODRIGUES et al., 2007). O uso de avaliação visual
através de técnicas psicofísicas, apresenta-se como um importante indicador de
neurotoxicidade com enfoque neurocomportamental que tem como vantagens a identificação
de efeitos precoces de neurotoxicidade e a não necessidade de procedimentos invasivos para a
realização dos testes.
10
1.3
PSICOFÍSICA VISUAL
A psicofísica enfoca a relação entre os aspectos físicos de um estímulo e a
experiência sensorial. (GARDNER e MARTIN, 2003). A psicofísica visual é desta forma, um
campo de estudos que relacionam os estímulos físicos da visão, como comprimento de onda,
freqüência e energia com a experiência consciente de visão. A sensação e a percepção são os
pontos de partida para a pesquisa moderna dos processos mentais. Sensação é o processo de
detecção de um estímulo (ou algum aspecto dele) no ambiente. É necessário colecionar
informações sobre o mundo para que a percepção aconteça. Percepção é a via de interpretação
da informação captada pelos sentidos e processada (LEVINE e SHEFNER, 2000). A
sensibilidade é um conceito que compartilharia três passos comuns - estímulo físico, um
conjunto de eventos que transformam este estímulo em impulso nervoso e uma resposta para
este sinal na forma de percepção ou experiência consciente da sensação (LEVINE e
SHEFNER, 2000).
A percepção é dependente de um estímulo, e na percepção visual este estímulo é o
contraste que ocorre na informação luminosa. Isto acontece porque o sistema visual humano
apresenta elementos ópticos e neurais preparados para detectar contraste. A capacidade de
distinção de um dado estímulo varia de acordo com a intensidade do contraste e o estudo
dessa variação de sensibilidade pode ajudar a compreender como o sistema visual utiliza a
informação luminosa para gerar percepção do mundo (SILVEIRA et al., 2004).
1.3.1
Contraste
O contraste pode ser descrito como a amplitude da diferença (seja de luminância ou
de cor) entre áreas adjacentes. É uma propriedade física dos objetos que se refere à quantidade
de luz emitida ou refletida por diferentes partes de um objeto ou cena e é um importante
parâmetro na avaliação visual (CAMPBELL e MAFFEI, 1974; KAPLAN e SHAPLEY,
11
1986). De forma mais clara os objetos e sua periferia apresentam diferença de contraste que
pode ser definido a partir da fórmula:
=
(
−
)
Onde C indica o valor do contraste absoluto, Lo luminância do objeto e Lf a
luminância do fundo no qual o objeto está inserido. Geralmente são usados padrões de grade
para medir limiar de intensidade diferencial. Neste caso, contrate é definido pela razão:
=
(Lmax − Lmin)
(Lmax + Lmin)
Onde C indica o valor do contraste de Michelson, Lmax é o valor da luminância
máxima do estímulo e Lmin é o valor da luminância mínima do estímulo. O valor de C varia
entre 0 e 1.
O tamanho das barras da grade pode ser expresso em termos de número de ciclos
por grau de ângulo visual, onde um ciclo na grade é composto de uma barra clara seguida de
uma barra escura, ou de uma barra verde seguida de uma barra vermelha, por exemplo. Esta
repetição de ciclos é chamada de freqüência espacial da grade. É possível determinar a
sensibilidade do sistema visual em função do tamanho de cada grade. Quanto maior a
quantidade de barras numa área, maior a freqüência espacial. A unidade de medida pode ser
ciclos por grau (cpg) (CAMPBELL e MAFFEI, 1974).
A variação de contraste pode ocorrer no domínio do tempo, onde um estímulo claro
é seguido por um estímulo escuro em momentos diferentes (o mesmo acontece para contraste
de cor), esta variação é chamada freqüência temporal. É possível medir a sensibilidade do
sistema visual para cada variação no tempo, quanto maior é a variação no tempo, maior a
freqüência. A unidade pode ser ciclos por segundo ou Hertz (Hz).
O contraste limiar é o mínimo contraste percebido pelo indivíduo, sendo entendido
como o limite entre a percepção ou não do estímulo físico (FARELL e PELLI, 1999). A
12
sensibilidade ao contraste é definida como o inverso do contraste limiar (WATSON e
AHUMADA, 1985):
=
1
Onde S indica sensibilidade e CL indica contraste limiar.
A estimativa da sensibilidade ao longo das freqüências espaciais e temporais é
chamada de função de sensibilidade ao contraste espacial ou temporal, respectivamente (DE
VALOIS e DE VALOIS, 1988). A função de sensibilidade ao contraste mostra quais os
pontos no espaço ou no tempo em que o sistema apresenta maior sensibilidade e onde sistema
deixa de perceber os contrastes (pontos de fusão).
1.3.2
Limiar
Os primeiros trabalhos em psicofísica foram devotados para conhecer o quão bem
uma pessoa ou animal pode detectar um estímulo (contraste). Estas foram pesquisas para
investigar a capacidade dos sistemas sensórios, a mínima quantidade de contraste que ele
poderia detectar. Este mínimo é chamado de contraste limiar ou simplesmente, limiar. O
limiar é uma média que cruza o limite da não detecção para a detecção (FARELL e PELLI,
1999; LEVINE e SHEFNER, 2000).
Em visão, por exemplo, se existe uma luz que é extremamente fraca a ponto de não
ser visível e se aumentarmos a intensidade dessa luz invisível para um ponto em que ela
eventualmente se torne visível, então este ponto é o limiar. Dada a noção de que o contraste
limiar pode ser medido, existem numerosas maneiras de se realizar esta medida.
O limiar ideal foi postulado como a sensibilidade para um determinado contraste
em um estímulo no qual um contraste menor que o contraste limiar ideal nunca será visto e
um contraste maior que o contraste limiar ideal sempre será visto. Neste caso um gráfico entre
13
porcentagem de detecção e intensidade do estímulo pode ser representada por uma mudança
abrupta da função em um passo (Figura 1).
Porcentagem detectada
14
100
50
0
P0 P2 P4 P6 P8 P10 P12
Intensidade
Figura 1: Porcentagem de detecção em função da intensidade do estímulo para um limiar
ideal. A porcentagem de detecção de intensidade do estímulo é representada pela mudança
abrupta da função em um passo. O eixo vertical indica a porcentagem de vezes que o estímulo
é detectado. O eixo horizontal indica a intensidade do estimulo. P indica o número de passos
para se chegar ao estímulo. A seta indica o limiar ideal. Modificado de LEVINE e SHEFNER
(2000).
15
1.3.2.1
Métodos psicofísicos clássicos para obtenção do limiar
A-
Método dos limites
Foi o mais antigo método de avaliação de limiar aplicado em psicofísica. O sujeito
deve responder se vê ou não o estímulo respondendo sim ou não. O teste pode começar com
estímulo não detectado, e gradualmente aumenta a intensidade do estímulo em pequenos
passos até o sujeito detectá-lo. Este é chamado de limite ascendente. No limite descendente o
estímulo aparece bem acima do limiar e é gradualmente diminuído até o sujeito não detectar o
estímulo (Tabela 1) (BI e ENNIS, 1998).
A resposta em cada tentativa não é necessariamente a mesma. O limiar é aquele
superior ao mais fraco que nunca é visto e inferior ao mais forte que sempre é visto. Neste
caso, o ponto de detecção da porcentagem versus a intensidade do estímulo não pode ser
representada por uma mudança abrupta e sim por uma mudança gradual de passo como
mostra a Figura 2. Geralmente o limiar corresponde a 50% da detecção na função
psicométrica (LEVINE e SHEFNER, 2000)
16
Tabela 1: Resposta hipotética para estímulos apresentados em quatro tentativas ascendentes e
a porcentagem de detecção de cada estímulo baseado nestes resultados. S=Sim, percebe o
estímulo. N= Não, não percebe o estímulo. Modificado de LEVINE e SHEFNER (2000).
Porcentagem
Estímulo
Tentativa 1
Tentativa 2
Tentativa 3
Tentativa 4
de detecção
1
N
N
N
N
0
2
N
N
N
N
0
3
N
N
N
N
0
4
N
N
N
N
0
5
N
N
N
N
0
6
S
N
N
N
25
7
N
S
N
50
8
N
S
75
9
S
100
10
100
11
100
12
100
Porcentagem detectada
17
100
50
0
P0
P2
P4 P6 P8 P10 P12
Intensidade
Figura 2: Porcentagem de detecção em função da intensidade do estímulo para um limiar
real. O gráfico figura um teste hipotético. Função psicométrica na condição geralmente
encontrada nos testes para obtenção de limiares. O eixo vertical indica a porcentagem de
vezes que o estímulo é detectado. O eixo horizontal indica a intensidade do estimulo. P indica
o número de passos para se chegar ao estímulo. A seta indica o limiar. Modificado de Levine
e Shefner (2000).
18
B-
Método do ajuste
É uma variação do método dos limites em que o sujeito participa ativamente tendo
controle da intensidade do estímulo. Quando o estímulo é sublimiar, o sujeito pressiona um
botão que aumenta a intensidade do estímulo, quando o estímulo é visível pressiona um botão
diferente para diminuir a intensidade do estímulo. O limiar é obtido de forma semelhante ao
método dos limites (BI e ENNIS, 1998).
C-
Método de escada
Deriva do método dos limites em que as medidas ascendentes e descendentes são
feitas alternadamente numa mesma tentativa (BI e ENNIS, 1998) (Figura 3). O estímulo pode
ser apresentado inicialmente de forma sublimiar e é realizado um procedimento ascendente
até a visualização do estímulo, deste ponto inicia-se um procedimento descendente até a não
visualização do estímulo. Este procedimento de ascendência e descendência de contraste é
realizado um determinado número de vezes visando aumentar a precisão das respostas para a
obtenção do limiar.
Intensidade do estímulo
19
S
N
N
N
S
S
S
N
S
N
N
N
N
Sequência de apresentação
Figura 3: Registro dos passos no procedimento em escada. Este esquema mostra que o
método varia com passos de mesmo tamanho e apresenta procedimento ascendente e
descendente numa mesma tentativa. O eixo vertical indica a variação da intensidade do
estímulo e o eixo horizontal indica a seqüência de apresentação do estímulo. S=sim, o
estímulo é visto. N=não, o estímulo não é visto.
20
D-
Método do estímulo constante
Este método tem uma forma de apresentação diferentes dos demais estímulos, não
é que o estímulo de fato permaneça constante, o que acontece é que os estímulos variam em
passos de intensidade randomizados. O resultado do experimento com estímulo constante é
semelhante a uma função psicométrica (Figura 2). O valor do limiar é dado no valor de onde
estímulo é detectado em 50% das tentativas.
A função psicométrica demonstra que existe uma maior probabilidade de acerto
na detecção do sinal físico em pontos de maior intensidade de estimulação e uma menor
probabilidade em pontos de menor intensidade. Esta relação entre estimulação física e
percepção não segue o comportamento de uma função degrau (Figura 1), onde a detecção do
sinal salta de 0% para 100% a partir de um determinado momento, representando o limiar
como um ponto de transição precisa entre a percepção e a não percepção. (BI e ENNIS,
1998).
E-
Método da escolha forçada
São apresentados ao sujeito duas ou mais alternativas de resposta, e ele deve
escolher uma mesmo que não tenha detectado o estímulo. Ocorrem duas diferenças entre a
função psicométrica resultante deste teste e a da Figura 2. Primeiro, existe 100% de detecção
para valores de estímulo que não foram detectados em 100% das vezes no experimento 1
(Figura 4). Este método gera um limiar mais baixo que no método dos limites. Isto acontece
porque força o sujeito a escolher uma resposta que em outros casos seriam simplesmente
“não” se o sujeito não tiver certeza. A segunda diferença é que a função perimétrica derivada
dos experimentos de escolha forçada nunca cairá para 0 pois o sujeito testado sempre terá
50% de chance de escolher a resposta certa por acaso num estímulo que ele não vê (BI e
ENNIS, 1998).
Porcentagem detectada
21
100
75
50
25
0
S0
S2
S4 S6 S8 S10 S12
Intensidade
Figura 4: Função psicométrica obtida pelo método de escolha forçada. O gráfico figura um
teste hipotético. O eixo vertical indica a porcentagem de vezes que o estímulo é detectado. O
eixo horizontal indica a intensidade do estimulo. P indica o número de passos para se chegar
ao estímulo. A seta indica o limiar. Modificado de LEVINE e SHEFNER (2000).
22
A série progressiva de apresentação de estímulos por alguns métodos cria no
sujeito testado a expectativa da magnitude do próximo estímulo a ser apresentado, em outras
palavras, o sujeito tem como saber se o próximo estímulo é de maior ou menor intensidade.
Este tipo de erro é conhecido como erro de antecipação é mais comum no método do ajuste e
método dos limites é evitado no método do estímulo constante. Além disso, quando o sujeito
responde “sim, eu vejo” ou “não, não vejo” o experimentador não tem controle sobre o
critério usado pelo sujeito para responder. Um sujeito pode dizer “sim” para estímulos
somente quando o estímulo é bastante óbvio, e outro sujeito pode responder “sim” mesmo
quando o estímulo ainda não é tão claro. O sujeito pode ainda alterar estes critérios no meio
do teste. Este erro é conhecido como erro da habituação.
Para diminuição desses erros as instruções do método devem ser claras e
acompanhadas de demonstrações (FALMAGNE, 1986; BI e ENNIS, 1998).
1.3.2.2
Métodos psicofísicos adaptativos para obtenção do limiar
Na psicofísica clássica o problema central era a detecção do estímulo. A pergunta
era: “O sujeito pode ver o estímulo presente?”. O limiar para detecção é chamado de limiar
absoluto. Contudo, o limiar absoluto não é a única forma de limiar. Pode-se perguntar se o
sujeito consegue perceber diferenças entre dois estímulos. A detecção do limiar das diferenças
é chamada de limiar diferencial (DIXON e MOOD, 1948).
A-
Procedimentos PEST
Este método varia o tamanho do passo de apresentação de estímulo, buscando
aumentar a objetividade da medida com estimulação através de passos cada vez menores. A
variação do tamanho do passo é realizada de acordo com um conjunto de regras heurísticas,
sendo o valor do limiar originalmente tomado como a última intensidade de apresentação do
23
estímulo, quando o valor do passo fica abaixo de um valor predefinido (KAPLAN, 1975)
(Figura 5).
24
Intensidade do estímulo
S
S
S
S
N
N
S
N S N S N S
N
N
Sequência de apresentação
Figura 5: Registro dos passos no procedimento PEST. Este esquema mostra que o método
varia com passos de tamanho variados e de acordo com a resposta do sujeito testado e
apresenta procedimento ascendente e descendente numa mesma série. O eixo vertical indica a
variação da intensidade do estímulo e o eixo horizontal indica a seqüência de apresentação do
estímulo. S=sim, o estímulo é visto. N=não, o estímulo não é visto.
25
B-
Procedimentos de determinação da probabilidade máxima.
Envolve procedimentos de escolha forçada e PEST, com mudanças na estimação
de limiar e modo de escolha da intensidade do estímulo. A partir dos valores de todas as
tentativas realizadas e o conseqüente cálculo do limiar é feita o construção de uma curva
psicométrica (LEEK, 2001).
A sensibilidade visual pode ser prejudicada ou mesmo perdida devido inúmeros
fatores que vão desde a evolução normal do organismo, no caso do envelhecimento
(FIORENTINI et al., 1996), a alterações visuais congênitas, como o daltonismo
(GONÇALVES, 2006) e alterações visuais adquiridas causadas por doenças crônico
degenerativas, como o diabetes (FEITOSA-SANTANA, 2005); infecções, como a
toxoplasmose (CARVALHO, 2009) e intoxicações por agentes químicos na exposição
acidental ou ocupacional a metais pesados ou outros químicos poluentes como os solventes
orgânicos (RODRIGUES et al., 2007; LACERDA et al., 2009). O conhecimento destes
fatores tem levado os testes de psicofísica visual à clínica oftalmológica e neurológica como
complementação diagnóstica, pois permite avaliar a percepção visual de uma forma mais
detalhada, de maneira a demonstrar alterações visuais subclínicas. A psicofísica visual
permite avaliar vários parâmetros da percepção visual como forma, movimento, cor,
luminância, etc.
Este trabalho empregará testes psicofísicos que avaliem especificamente a
sensibilidade ao contraste de luminância através de testes que determinam a função de
sensibilidade ao contraste espacial e temporal de luminância e a sensibilidade acromática no
campo visual e também avaliará a sensibilidade para cor, usando testes de ordenamento de
matizes e discriminação de cromaticidades.
26
Os procedimentos de detecção de limiares citados anteriormente são utilizados em
gama de testes que avaliam a sensibilidade dos diferentes parâmetros visuais. Quatro dos
cinco testes psicofísicos estudados por este trabalho utilizam métodos de obtenção de limiares
para avaliação visual: a estimativa da sensibilidade ao longo das freqüências espaciais e
temporais (método de escada clássico), avaliação de campo visual e (método de escada
diferencial) obtenção determinação dos limiares de discriminação de cores pelo método de
Mollon-Reffin (Método de escada diferencial).
1.4
LUMINÂNCIA
A luminância é uma medida fotométrica de luz por unidade de área. As medidas
fotométricas levam em consideração o efeito do estímulo físico sobre o sistema visual
humano (BRIGELL et al., 1998). Descreve uma quantidade de luz que atravessa ou é emitida
de uma superfície em questão e decai segundo um ângulo sólido (VIANNA e GONÇALVES,
2001). Observando parte de uma superfície iluminada, a intensidade luminosa refletida por
uma superfície dividida pela área visível denomina-se luminância e pode ser descrita pela
seguinte equação:
L =
Ω
Onde Lv é a luminância medida em cd/m2, F é o fluxo liminoso em lumens, dS é o
elemento de superfície considerado em m2, dΩ é o elemento de ângulo sólido em
estereorradiano e θ é ângulo entre a normal da superfície e a direção considerada.
Os raios luminosos de uma fonte luminosa não podem ser vistos, é estímulo de
claridade que essa superfície produz nos olhos que é transmitida para o cérebro. Já que os
objetos possuem diferentes capacidades de reflexão da luz, pode-se obter diferentes
luminâncias para uma mesma iluminância.
27
1.5
CAMPO VISUAL
Outra importante forma de entender a sensibilidade ao contraste de luminância é
através da avaliação do limiar de luminância no campo visual. O campo visual, segundo
Smythies (1996), é a disposição espacial de estímulos visuais disponíveis a um observador
que diz respeito a objetos físicos e fontes luminosas que estimulam a retina. O campo visual
monocular normal possui limite superior de 60° de ângulo visual, limite inferior de 70°
ângulo visual, limite lateral nasal de 60° de ângulo visual e lateral temporal de 90° de ângulo
visual (Figura 6). As diferentes regiões do campo visual apresentam variação na sensibilidade
devido a forma como a retina está organizada, este fato é responsável por como a cena visual
é representada. No centro da retina, na região da fóvea se concentra a maior densidade de
cones (mais sensíveis em condições fotópicas), com a excentricidade ocorre diminuição dessa
concentração e a distribuição de cones se torna irregular. Os cones S (que têm maior
sensibilidade a comprimentos de onda curtos) não apresentam distribuição na fóvea enquanto
os cones M e L (maior sensibilidade para comprimentos de onda médios e longos,
respectivamente) apresentam alta concentração foveal (ROORDA e WILLIAMS, 1999). Não
existe distribuição de bastonetes (mais sensíveis em condições escotópicas) no centro da
fóvea, sua distribuição, ao contrário dos cones, aumenta com a excentricidade, seu pico está
por volta de 200 de ângulo visual da fóvea e depois diminui gradativamente (RODIECK,
1998) (Figura 7). Por volta e 150 de ângulo visual da fóvea se localiza a implantação do nervo
óptico, esta região é caracterizada pela ausência de células fotorreceptoras. O resultado
fisiológico dessa distribuição é que no campo visual para pontos de luz acromáticos em
observadores saudáveis, a fóvea é a região de maior sensibilidade visual e é representada pelo
pico da sensibilidade visual. Conforme aumenta a excentricidade do campo visual, a
sensibilidade visual diminui, e na região de projeção do nervo óptico não há sensibilidade
para estímulos visuais. Esta região sem sensibilidade visual é chamada de ponto cego
28
(WALSH, 1996). Esta variação de sensibilidade ao longo do campo visual pode ser
representada de forma tridimensional. O modelo espacial de representação tridimensional do
campo visual é chamado de ilha de visão. O contorno da borda representa vários níveis de
sensibilidade na retina (Figura 8) (WANI et al., 2005).
29
Superior
600
Fóvea
Nasal
600
150
Ponto cego
Temporal
900
700
Inferior
Figura 6: Esquema do campo visual monocular normal. A borda externa indica os limites
aproximados do campo visual com os valores em graus de ângulo visual. O contorno
tracejado intermediário indica a excentricidade de 150 onde aproximadamente está situado o
ponto cego (representado pelo circulo preto). O contorno tracejado mais interno indica a
região da fóvea, localizada no centro do campo visual.
BASTONETES
180
CONES
160
140
120
DISCO ÓPTICO
DENSIDADE DE RECEPTOR (mm-2 x 10 3 )
30
100
80
60
40
20
0
70 60
50 40 30 20
TEMPORAL
10
0
10 20 30 40 50 60 70
FÓVEA
80 90
NASAL
EXCENTRICIDADE EM GRAUS
Figura 7: Gráfico da densidade de fotorreceptores na retina. Na fóvea ocorre o pico de
densidade de fotorreceptores cones e à medida que a excentricidade aumenta sua a densidade
diminui drasticamente enquanto a densidade de fotorreceptores bastonetes aumenta e
apresenta seu pico por volta de 20 0 de ângulo visual. Em torno de 15 0 de ângulo visual da
retina nasal localiza-se o disco óptico onde ocorre ausência de fotorreceptores. Modificado de
Hoorda e Williams (1999).
31
FÓVEA
PONTO CEGO
Sensibilidade visual
FÓVEA
PONTO CEGO
600
00
150
900
Excentricidade do campo visual
Figura 8: Representação esquemática da ilha de visão normal. O esquema superior mostra a
representação tridimensional e o esquema inferior mostra um corte bidimensional da ilha de
visão. O eixo vertical indica sensibilidade visual crescente no sentido da seta e o eixo
horizontal indica a excentricidade do campo visual. O pico da ilha de visão indica região de
maior sensibilidade visual localizada a 00 de ângulo visual (fóvea) o declínio na ilha de visão
indica região de ausência de sensibilidade visual, localizada a cerca de 150 de ângulo visual
(ponto cego). A borda externa da ilha de visão indica os limites do campo visual.
32
1.6
COR
Devido a sensibilidade dos fotorreceptores da retina, a percepção não é a mesma
para todo o espectro eletromagnético, logo, a cor não é uma propriedade inerente aos objetos e
sim fruto da percepção. Psicofisicamente podemos dizer que a cor é constituída de três
aspectos perceptuais: matiz, saturação e brilho. O matiz define o aspecto dos comprimentos de
ondas da luz, é a cor espectral e o que popularmente se conhece como cor. A saturação é a
quantidade de branco que se mistura ao matiz. E o brilho é a quantidade de energia percebida
da cor. O matiz e a saturação juntos constituem o que se conhece como cromaticidade
(KAISER e BOYNTON, 1996).
A faixa visível do espectro eletromagnético corresponde aproximadamente à faixa
de 370 a 740 nanômetros (nm). As cores percebidas nesta faixa variam entre o violeta e o
vermelho (KAISER e BOYNTON, 1996) (Figura 9).
Na tentativa de classificar as cores de forma precisa surgiram as representações
gráficas que levam em consideração a visão de cores normal do ser humano. Os testes
psicofísicos de avaliação de cor neste trabalho seguem duas representações gráficas: O
diagrama de cromaticidade da CIE e o Sistema de cor de Munsell.
33
Figura 9: Espectro visível da radiação eletromagnética.
34
1.6.1
Representação gráfica das cores
1.6.1.1
Diagrama de cromaticidade da CIE
O Diagrama de cromaticidades da CIE (Commission Internationale de
I’Eclairage) classifica as cores em um plano de coordenadas cartesianas, onde a cor é
representada por um par de coordenadas no plano ou no espaço. Esta é uma das
representações gráficas mais bem sucedidas e aceitas internacionalmente.
Ele leva em consideração o principio da teoria tricromática de Young e Helmholtz
(YOUNG, 1802; von HELMHOLTZ, 1867) que diz que qualquer cor vista por um tricromata
normal é resultado da combinação de três cores primárias. O modelo de representação de
cores deve ser baseado na relação entre três informações de entrada, correspondente a cada
uma dessas cores primárias: vermelho, verde e azul. Estas proporções foram dadas por
funções de equiparação de cores (Color Matching). As primárias utilizadas para elaboração do
diagrama não existem fisicamente e são representadas por X, Y e Z que foram baseadas em
primárias reais e deveriam seguir algumas condições como: produzir conjuntos positivos de
valores tri-estímulo, permitir a representação de qualquer cor, ter mesma luminância para
todas as cores do diagrama e o produzir o brando com valores iguais (NAKANO, 1996).
A primeira representação foi feita em 1931, onde as cores eram determinas por
um conjunto coordenadas x, y e z que são obtidas da seguinte forma:
=
=
=
+
+
+
+
+
+
Onde X, Y e Z são as funções de mistura de cor obtidas das cores primárias e x, y
e z são as coordenadas de cromaticidade.
35
Na borda exterior do diagrama estão dispostos os matizes, representando cores
com maior saturação (Cores espectrais ou puras), essa região é conhecida como lócus
espectral. Na região interna localizam-se as cores oriundas de misturas cuja saturação é
menor que na borda e no centro se localiza o branco que corresponde a valores iguais das três
coordenadas. A luminância é a mesma em todas as coordenadas do diagrama e a distância do
branco para o lócus espectral representa a proporção de saturação. O diagrama de
cromaticidades da CIE passou por duas revisões, uma em 1960 (CIE uv) e outra 1976 (CIE
u’v’) (NAKANO, 1996) (Figura 10). Atualmente o diagrama CIE mais usado é o 1976 e
todos são transformações lineares das coordenadas de 1931.
Para passar do espaço x,y para o espaço u’,v’ usa-se a seguinte transformação:
′
=
4
(−2 + 12 + 3)
′
=
9
(−2 + 12 + 3)
36
y
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0,0 0,1 0,2
0,3 0,4
0,5
0,6
0,7 0,8
x
Figura 10: Diagrama de cromaticidades da CIE 1931. Sistemas de representação
coordenadas x, y e z.
37
1.6.1.2
Sistema de cor de Munsell
O espaço de cor de Munsell foi criado pelo professor Albert H. Munsell na
primeira década do século XX. Ele pode ser representado cilindricamente e é baseado em três
dimensões de cor: matiz (medida por graus em círculos horizontais próximos), valor ou brilho
- medida verticalmente de 0 (preto) para 10 (branco) - e croma ou pureza ou saturação da cor
(medida radialmente saindo do eixo vertical cinza) (Figura 11 ). Foi o primeiro espaço de cor
que separava matiz, valor e croma em dimensões percentualmente uniformes e independentes
e o primeiro a separar as cores em três espaços dimensionais. Este espaço é decorrente de uma
rigorosa medida da resposta visual humana para cor. O arranjo não é necessariamente
limitado a um espaço cilíndrico; às vezes o sistema é lembrado como um arranjo que se
assemelha a uma "árvore de cores" (KUEHNI, 2002).
O parâmetro de cor conssite em 5 cores de base e 5 cores secundárias:
Vermelho (R)
Amarelo (Y)
Verde (G)
Azul (B)
Violeta (P)
Laranja (YR)
Verde-amarelo (GY)
Azul-verde (BG)
Azul-violeta (PB)
Vermelho-violeta (RP)
O parâmetro valor varia de 0 a 10 em que 5 é o valor médio e 10 é o branco e o
parâmetro croma ou saturação varia de 0 a 12 ou mais.
38
As core são especificadas conforme o formato M V/C onde M é o código do
matiz, V é o valor e C é o croma. O código da cor violeta, por exemplo é 5P 5/10. Em que o
5P é o código do matiz violeta, 5 significa valor e 10 é a saturação, o que revela alto grau de
pureza (KUEHNI, 2002).
39
BRANCO
10
VALOR
SATURAÇÃO 12
COR
NEUTRA 0
CROMA
MATIZ
0
PRETO
Figura 11: Representação esquemática do sistema de classificação de cor de Munsell. Este
sistema usa três dimensões. A linha vertical representa o valor ou brilho, a linha horizontal
representa a classificação da saturação e variando de forma angular em torno do eixo do
brilho está o matiz. A representação a esquerda mostra a localização esquemática dos
parâmetros e a representação a direita mostra a “árvore de cor”. Modificado de Geller e
Hundnell (1997).
40
1.6.2
Classificação das alterações na visão de cores
As alterações na visão de cores são denominadas de discromatopsias, a ausência
de visão de cor é acromatopsia. As discromatopsias podem ser herdadas geneticamente ou
adquiridas em decorrência de uma grande variedade de condições patológicas. A classificação
das discromatopsias é realizada com base no diagrama de cromaticidades da CIE. Geralmente
os indivíduos que apresentam determinados tipos de alteração de cor apresentam dificuldade
de discriminação de cores específicas. Desta forma foi possível traçar linhas no digrama de
cromaticidades da CIE que correspondem às regiões onde estes indivíduos apresentam maior
dificuldade de discriminação. Estas linhas são chamadas de linhas ou eixos de confusão e para
cada tipo de discromatopsia existe um conjunto de linhas de confusão característico (DAIN,
2004; MOLLON, 2003).
Os eixos de confusão protan encontram-se no extremo representado pelo
vermelho e são chamados pontos compunctais protan. Esta discromatopsia envolve alteração
dos cones L, responsáveis por absorver comprimentos de onda longos. Os eixos de confusão
deutan se encontram num extremo fora do diagrama e resultam de alterações dos cones M,
responsáveis pela absorção dos comprimentos de onda médios. Os eixos de confusão tritan se
encontram num ponto do diagrama de cores que corresponde ao azul, esta discromatopsia
resulta de alterações nos cones S, responsáveis pela absorção de comprimentos de onda curtos
(DAIN, 2004) (Figura 12).
É muito importante diferenciar discromatopsias congênitas de discromatopsias
adquiridas. As discromatopsias adquiridas diferentes das discromatopsias congênitas
apresentam variabilidade e complexidade, dependem da idade, podem ser monoculares ou
localizadas igualmente nos dois olhos, podem ser de natureza progressiva ou regressiva e as
perdas podem ser classificadas no eixo verde-vermelho ou no eixo azul-amarelo, e ainda
podem ser classificadas por sua severidade (MOLLON, 2003).
41
Alterações no eixo azul-amarelo são comumente causados por alterações ópticas
(nas estruturas pré-receptoras) ou nos fotorreceptores (retina externa) e as alterações no eixo
verde-vermelho são causadas por alterações de estruturas pós-receptorais como retina interna,
nervo ótico, quiasma, Núcleo Geniculado Lateral e/ ou córtex (MOLLON, 2003).
42
0,6
0,5
0,4
A
0,3
0,2
0,1
0,0
Coordenada v’
0,6
0,5
0,4
B
0,3
0,2
0,1
0,0
0,6
0,5
0,4
0,3
C
0,2
0,1
0,0
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Coordenada u’
Figura 12: Eixos de confusão de cor representados no diagrama de cromaticidade da CIE
1976. As linhas convergem para pontos compunctais que representam cores imaginárias
capazes de estimular seletivamente apenas um dos cones encontrados na retina humana.
Modificado de Regan e colaboradores (2004).
43
1.7
PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO VISUAL
1.7.1
Retina
A retina é uma estrutura trilaminada com cinco tipos de neurônios. Ela é composta
de três camadas de corpos celulares separadas por duas camadas de processos neurais
(axônios e dendritos). Das três camadas celulares a primeira é chamada de camada nuclear
interna e é composta dos corpos celulares dos fotorreceptores (cones e bastonetes). A próxima
é a camada nuclear interna, que contém o corpo celular dos interneurônios da retina, estes
incluem células horizontais, células bipolares e células amácrinas. A última camada é a
camada de células ganglionares, que é o local onde os axônios dos neurônios da retina
formam o nervo óptico. Esta é a via de saída da retina para o sistema nervoso central
(DACEY, 1999) (Figura 13).
De forma direta, os receptores captam informação luminosa, esta informação vai
para as células bipolares e desta para as células ganglionares, é neste processo que se inicia a
representação visual da imagem ponto a ponto e as interações espaciais de centro-periferia do
campo receptor. As células horizontais e amácrinas fazem a interação lateral da retina
(DACEY, 1999).
O processamento da informação visual começa com absorção de luz pelos
fotorreceptores da retina onde a luz é convertida por uma reação fotoquímica em um sinal
elétrico. Existem dois tipos de fotorreceptores: os cones, responsáveis pela absorção de luz em
níveis fotópicos e os bastonetes responsáveis pela absorção de luz em níveis escotópicos. Os
fotorreceptores cones são divididos em três subtipos: cones S, cones M e cones L. Os cones S
têm pico de absorção em comprimentos de onda curtos, os cones M têm pico de absorção em
comprimentos de onda médios e os cones L apresentam pico de absorção em comprimentos
de onda longo. Assim fótons de diferentes comprimentos de onda têm diferentes afinidades
sendo absorvidos pelos diferentes cones (MICHAELIDES et al., 2005).
44
Em 1878, Ewald Hering postulou que a visão de cor humana é caracterizada por
oponência perceptual em que o azul e o amarelo causam efeitos antagônicos em um
mecanismo de cor, enquanto o verde e o vermelho causam efeitos opostos em outro
mecanismo de cor. A experiência visual resulta da interação de três canais oponentes, um
canal de oponência de luminância (oponência preto-branco) e dois de oponência de cor (o
azul-amarelo e verde-vermelho). Existe uma grande inconsistência entre a teoria de oponência
de cor de Hering (HERING, 1878) e a teoria tricromática de Young-Helmholtz (YOUNG,
1802; VON HELMHOLTZ, 1867).
Seguindo o princípio da univariância de Rushton, os fotorreceptores medem
somente o número de isomerizações que ocorre em determinada janela e não pode distinguir
entre os fótons de diferentes energias que são absorvidos. Os fótons que apresentam uma dada
energia são absorvidos com diferentes probabilidades, e o pico do espectro de absorção
depende de forças microelétricas provenientes de opsinas existentes na periferia do
retinaldeído (proteína responsável pela fotossensibilidade nos fotorreceptores). A atividade
elétrica do mosaico fotorreceptor é diretamente relacionada com a captura de fótons, a
densidade dos fotorreceptores limita a resolução espacial e o tempo de curso do potencial dos
fotorreceptores configura a resolução temporal da resposta visual. No entanto, o
processamento oponente começa somente nas células ganglionares (DACEY et al., 1996)
(Figura 14).
45
Figura 13: Tipos neurais básicos da retina de mamíferos. A informação dos fotorreceptores é
transmitida as células bipolares e destas para as células ganglionares. As células horizontais e
amácrinas são interneurônios que modulam a atividade das demais células. Retirado de
Masland (2001).
46
420
498
534
Cone S
Cone M
Cone L
Bastonete
564
Absorção normalizada
100
50
0
400
500
600
700
Comprimento de onda (nm)
Figura 14: Curva da absorção espectral dos fotorreceptores. O eixo vertical indica a absorção
espectral e o eixo horizontal indica comprimento de onda em nanômetros (nm). Modificado
de Bowmaker e Dartnall (1980).
47
A convergência de diferentes sinais de cones e bastonetes para as células
ganglionares ocorre por meio de múltiplas classes de células bipolares de cones. (BOYCOTT e
WASSLE, 1991). No entanto convergem informação para as células ganglionares de forma
indireta. Os bastonetes se conectam às classes de células bipolares de bastonetes, estas têm
input com uma classe específica de células amácrinas, as células amácrinas do tipo AII que são
responsáveis por transferir o sinal dos bastonete para as células bipolares de bastonetes para
bipolares de cone. Determinando uma ligação de cones e bastonetes numa mesma via (KOLB e
FAMIGLIETTI, 1974) (Figura 15).
As células ganglionares têm somente duas vias sinápticas para eventos de
fototransdução e representam uma ligação entre a circuitaria da retina e altos níveis do
processamento cerebral (KUFFLER, 1953; ENROTH-CUGELL e ROBSON, 1966).
As células ganglionares apresentam uma organização centro-periferia e algumas
delas com propriedade de respostas distintas. Os sinais recebidos no centro e na periferia do
campo receptor das células ganglionares são originados de diferentes classes de cones.
Combinando características cromáticas e espaciais, os campos receptores podem ser agrupados
em quatro subclasses: centro vermelho on/periferia verde off, centro verde on/periferia
vermelho off, centro vermelho off/periferia verde on, centro verde off/periferia vermelho on
(LEVENTHAL et al., 1981; PERRY et al., 1984). As células ganglionares podem ser divididas
em duas categorias, as que respondem com uma polaridade para vermelho e com oposição de
polaridade no verde, estas têm um ponto nulo em amarelo na região do espectro. Outro grupo é
composto de células com uma polaridade para o azul e com oposição de polaridade para o
amarelo, estas têm um ponto nulo na região verde do espectro (GOURAS, 1968; DE
MONASTERIO e GOURAS, 1975).
Estas diferentes classes de células ganglionares são o inicio do processamento
visual em paralelo.
48
Cone M
Bastonete
Cone S
Cone L
Cél. Bipolar
de bastonete
Bipolar
de cone
Cél. amácrima
AII
Cél. Ganglionares
Cél. Ganglionares
Figura 15: Esquema da circuitaria da retina com ênfase para os canais de oponência. Este
esquema exclui as células horizontais e os demais tipos de células amácrinas. Os cones se
conectam com as células ganglionares por meio de células bipolares específicas para cone. Os
bastonetes se conectam com células bipolares específicas para bastonetes, estas não realizam
sinapse com as células ganglionares. As células bipolares de bastonetes conectam com células
amácrinas do tipo AII e estas realizam sinapse com células bipolares de cones. Desta forma o
sinal dos bastonetes chega às células ganglionares, determinando a ligação de cones e
bastonetes em uma mesma via.
49
1.7.2
Vias visuais paralelas
Como já foi mencionado, existem diferentes classes de células ganglionares na
retina e cada uma delas com morfologia celular, padrões de projeção e propriedade de resposta
visual diferentes.
A classe de células ganglionares mais numerosas da retina são as células anãs, elas
correspondem a cerca de 80% do total de células ganglionares. As células anãs apresentam
pequeno corpo celular, axônio esparso e pequena árvore dendrítica (DACEY e LEE, 1994), elas
se projetam para a camada mais dorsal do Núcleo Geniculado Lateral (NGL) chamada de
camada Parvocelular que mantém correlação com estas características, por isso comumente as
células anãs são também conhecidas como células P. Esta ligação constitui a via Parvocelular
ou Via P.
O campo receptor das células P apresenta antagonismo centro periferia on-off. Se o
centro tem uma resposta on ou off, sua periferia responde com polaridade oponente. Os sinais
recebidos no centro e na periferia do campo receptor das células ganglionares são originados de
diferentes classes de cones, M e L, resultando na oponência de cor verde-vermelho.
(LEVENTHAL et al., 1981; PERRY et al., 1984). Esta classe de células apresenta resposta
eletrofisiológica com componente sustentado, estes componentes são importantes na percepção
de forma (KREMERS, 1999). Respondem para estímulo acromático de médios e altos
contrastes. Sua resposta não satura, ou apresenta pequeno grau de saturação com o aumento do
contraste. Em particular as células P contribui para percepção de luz acromática (VALBERG et
al., 1986) ou discriminação de estímulos supralimiares (POKORNY e SMITH, 1997), no
entanto são mais sensíveis a cor que a contraste acromático (VAN HATEREN et al., 2002).
Em menor proporção que a classe de células P, as células parassol apresentam
corpo celular grande e árvore dendrítica grande e densa. Estas células se projetam para a
50
camada magnocelulares do NGL, aí as células mantém características similares as células
ganglionares, constituindo a via magnocelular ou via M (SHAPLEY e PERRY, 1986).
As células M apresentam importante papel no processamento visual acromático. As
células M são mais sensíveis a contraste que as células P, mas sua resposta satura para níveis de
contraste relativamente baixos. (LEE et al., 1988, 1993). As informações de posição das células
M são mais precisas que as células P, especialmente para baixos contrastes. Dada a
excentricidade, as células M tem menor resposta temporal que P (SOLOMON et al., 2002),
logo, os sinais das células M tem melhor precisão temporal que as células P. (SILVEIRA e
MELLO JR., 1998).
A classe de células em menor proporção entre as células ganglionares são as células
K. As células K correspondem morfologicamente às células biestratificadas de campo pequeno
(DACEY e LEE, 1994) e projetam para as camadas koniocelulares do NGL (MARTIN et al.,
1997), elas constituem um grupo heterogêneo de células ganglionares (DE MONASTERIO e
GOURAS, 1975). O tamanho de seu campo receptor é similar as células M (DE
MONASTERIO e GOURAS, 1975) e correlaciona-se com o tamanho do campo dendrítico
(DACEY, 1999). Estas células ganglionares tem sinalização do cone S (MERIGAN, 1989).
Apresentam oponência para azul-amarelo (azul on/amarelo off) sem uma clara organização do
campo receptor (DE MONASTERIO e GOURAS, 1975). As células K também apresentam
importância para o processamento acromático.
As células P, M e K convergem os sinais dos cones e bastonetes para o NGL com
diferentes intensidades. Essas classes de células recebem significante sinalização dos
bastonetes sendo que as células M recebem fortes sinalização dos batonetes, as células P
recebem fraca sinalização dos bastonetes (LEE et al., 1997). As células M e P codificam baixos
e altos níveis de contrate, respectivamente, e trabalham sinergicamente para suportar a visão
acromática e níveis intermediários de contraste (POKORNY e SMITH, 1997).
51
As propriedades das células M e P podem mudar drasticamente com a
excentricidade (SILVEIRA e DE MELLO JR., 1998). O contraste temporal na freqüência de
fusão de flicker das células M e P na retina e no NGL aumenta com o aumento da
excentricidade da retina. (KILAVIK et al., 2003). As células P não apresentam oponência de
cor com a excentricidade (DACEY, 1999).
As células M são de 8 a 10 vezes mais sensíveis ao contraste que as células P, mas
sua resposta satura em baixos contrastes e as células P são insensíveis para contraste, mas sua
resposta apresenta pouca saturação com aumento do contraste. Além disso, as células M
conduzem impulso com mais velocidade que as células P (VAN HATEREN et al., 2002).
1.7.3
Tálamo
O campo receptor das células ganglionares de ambos os olhos tem sua metade
projetada para o lado oposto do cérebro. Este cruzamento se dá através do quiasma óptico. No
quiasma os axônios da metade nasal da retina cruzam para junto metade temporal da retina do
outro olho, em outras palavras, a retina temporal projeta-se para o hemisfério ipsilateral
enquanto a retina nasal projeta-se para o hemisfério contralateral (Figura 16). Através do trato
óptico, os axônios da retina chegam ao núcleo geniculado lateral (NGL), localizado no tálamo
(DE MONASTERIO e GOURAS, 1975; KAPLAN E SHAPLEY, 1986; MARTIN et al.,
1997).
O NGL é constituído de seis camadas principais, as quatro camadas
parvocelulares localizam-se mais dorsalmente e recebem input do olho contra e ipsilateral em
ordem de contra, ipsi, contra e ipsi. As camadas magnocelulares se localizam mais
ventralmente e recebem input em ordem ipsi e contralateral. As camadas 1 e 2 são
magnocelulares e camadas 3,4,5 e 6 são parvocelulares. Tais camadas são separadas por
células interlaminares ou zonas Koniocelulares (CASAGRANDE, 1999). As células das
52
camadas magnocelulares, parvocelulares e koniocelulares do NGL apresentam propriedades
morfológicas e
fisiológicas semelhantes às
suas correspondentes retinianas (DE
MONASTERIO e GOURAS, 1975; KAPLAN E SHAPLEY, 1986; MARTIN et al., 1997).
O principal alvo das fibras do NGL é o córtex visual primário, também
denominado de córtex estriado ou V1 (CHATTERJEE e CALLAWAY, 2003) (Figura 17).
53
Figura 16: As 6 camadas do Núcleo Geniculado Lateral de macaco. As quatro camadas
parvocelulares no topo (6, 5, 4 e 3) recebem input do olho contra e ipsilateral na ordem
contra, ipsi, contra e ipsi. As duas camadas magnocelulares (2 e 1) recebem input ipsi e contra
lateral respectivamente. Entre estas camas principais estão as camadas koniocelulares.
Modificado de Hubel e Wiesel (1977).
54
Figura 17: Vias retino-genículo-cortical em humanos. Os axônios do nervo óptico da retina
nasal cruzam o quiasma óptico e se juntam aos axônios da retina temporal do outro olho.
Juntos, esses axônios contralateral e ipsilateral compõem o trato óptico e se projetam pata o
NGL. Cada uma das 6 camadas do NGL recebe input de somente um olho. Os axônios do
NGL constituem a radiação óptica e se projetam para o córtex estriato. Modificado de Reid e
Usrey, (2008).
55
1.7.4
Córtex
O principal alvo das fibras do NGL é o córtex visual primário, também
denominado de córtex estriado ou V1 (CHATTERJEE e CALLAWAY, 2003).
Anatomicamente, V1 é estruturado em camadas 1, 2, 3, 4A, 4B, 4Cα, 4Cβ 5 e 6. A
característica fundamental da organização de V1 é o agrupamento espacial de neurônios com
funções semelhantes e isto ocorre tanto na forma de camadas quanto de colunas (HUBEL e
WIESEL, 1968, 1974; CALLAWAY, 1998). As fibras magnocelulares conectam com
neurônios localizados, principalmente, nas camadas 4B, 4Cα e 6Cβ (HENDRICKSON et al.,
1978). A maiorias dos neurônios parvocelulares se projetam para camadas 4Cβ, 4A e 6, e
neurônios das camadas koniocelulares do NGL projetam-se para áreas (“blobs”) ricos em
citocromo oxidase (CO), nas camadas 1, 2, 3 (CALLAWAY, 2005). Alguns autores
propuseram que estas vias permanecem segregadas em V1 (LIVINGSTONE e HUBEL 1988;
ROE e TS’O 1999). Visto isso, V1 está relacionado com o processamento da maior parte da
informação visual, seja de luminância ou de cor.
O processamento visual prolonga-se para o córtex visual secundário (V2) que é
constituido por duas faixas (uma faixa espessa e uma faixa fina) e uma interfaixa também
chamada de faixa pálida. As faixas espessas têm um mapa de orientação visual, as faixas finas
têm um mapa de cor e as interfaixas têm um mapa de disparidade. A via magnocelular
projeta-se para as camadas 4B de V1 e desta para as faixas espessas de V2, a via parvocelularblob projeta-se dos blobs de V1 para as faixas finas de V2 e a via parvocelular-interblob
projeta-se da região inetrblob para as interfaixas (TOVÉE, 1996).
A área visual 3 (V3) recebe projeção da via magnocelular vindo da camada 4B de
V1 através das faixas espessas de V2. A maioria das células de V3 são seletivas a orientação e
acredita-se que elas estejam relacionada com o processamento dinâmico de formas (TOVÉE,
1996). Além de ser uma especialização na percepção de visão de profundidade (BACKUS et
56
al., 2001), e especificamente V3a está relacionada na percepção da visão de movimento
(DUKELOW et al., 2001). Na área visual 4 (V4) sugere-se duas divisões da via Parvocelular
vindas das faixas finas -cor- e interfaixas -forma (TOVÉE, 1996). Estudos sugerem que
algumas células de V4 são seletivas para cor, mas estas células não respondem a
comprimentos de onda e sim para a cor deles, fenômeno conhecido como constância de cor
(ZEKI, 1983).
A área médio temporal (MT) ou área visual 5 ou V5 recebe projeção da via
magnocelular vindo da camada 4B de V1 através das faixas espessas de V2 e faz o
processamento da informação de movimento e profundidade esterioscópica (TOVÉE, 1996).
A área visual 8 (V8) fortemente relacionada ao processamento da informação de cor
(WANDELL, 1999).
O córtex parietal (VP) é uma das áreas ativadas no processamento da visão de
profundidade (BACKUS et al. 2001). O córtex occiptotemporal ventral (VO) também tem
uma importante influência no processamento da informação de cor (WANDELL, 1999). A
área médio supero temporal (MST) é um dos importantes aspectos no processamento visual
do movimento (DUKELOW et al., 2001). A área occipital-cinética (KO) é especializada no
processamento da cinética de bordas criadas por descontinuidades na direção do movimento
(DUPONT et al., 1997).
A área sulco superior temporal (STS) são também seletivamente ativadas durante
a visão do movimento de figuras de movimentos pontuais (GROSSMAN e BLAKE, 2002).
Esta via também é ativada por outros tipos de movimentos biológicos, como o de uma pessoa
andando (PELPHREY et al., 2003), ou movimento de olhos e mãos (PUCE e PERRETT,
2003). Três importantes grupos de regiões são seletivas a objetos e compõem várias áreas:
complexo occipital lateral (LOC), relacionada principalmente a imagens de objetos familiares
57
e não familiares, complexo occipito temporal (VOT), ativada preferencialmente para faces
(WANDELL, 1999).
Em primatas, quase que 50% do córtex está envolvido com o processamento
visual (TOVÉE, 1996), mas ainda não está bem esclarecido como ocorre a integração das
informações segregadas pelo córtex para a geração da percepção consciente, o que não
impede o estudo e mensuração de como interpretamos as informações que chegam à retina e
tornam-se consciência.
58
1.8
OBJETIVO
1.8.1
Objetivo geral
Investigar com métodos psicofísicos as repercussões funcionais causadas no
sistema visual humano pela exposição crônica ocupacional a misturas de solventes orgânicos
de trabalhadores de postos de distribuição de combustíveis.
1.8.2
Objetivos específicos
Examinar sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos presentes em combustíveis de motores avaliando: a sensibilidade ao contraste
espacial e temporal de luminância, campo visual acromático, capacidade de discriminação e
ordenamento de matizes.
Correlacionar tempo de exposição crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos com desempenho na avaliação psicofísica visual dos sujeitos expostos.
59
2
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo seres
humanos do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará como parte
integrante do projeto “Perdas sensoriais causadas pela Intoxicação por Solventes: Estudos
Psicofísicos, Neuropsicológicos e Neurofisiológicos” cujas diretrizes atenderam as exigências
da resolução Nº075/2006-CEP/NMT (Anexo 1).
2.1
SUJEITOS
Este estudo avaliou 30 sujeitos, 28 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, com
idade compreendendo de 18 a 48 anos (média = 31,3 ± 8,5 anos de idade). Os sujeitos
trabalhavam como frentistas de postos de distribuição de combustíveis e foram recrutados em
7 postos da cidade de Belém mediante convite e esclarecimento do projeto de pesquisa. O
tempo de trabalho destes sujeitos variou de 1 mês a 22 anos (média = 47,3 ± 64,25 meses de
trabalho) e o tempo de exposição semanal variou de 36 a 48 horas de trabalho (média = 45,23
± 4,4 horas semanais).
Após o recrutamento os sujeitos foram atendidos no Laboratório de Neurologia
Tropical do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará onde foram mais
uma vez esclarecidos a respeito do objetivo da pesquisa e da metodologia aplicada e
indagados sobre o desejo de fazer parte da amostra, estes sujeitos foram informados ainda
sobre a possibilidade de deixar a pesquisa conforme sua vontade. Após concordar em ser
voluntário, o sujeito assinou um termo de livre esclarecido para o uso de seus dados neste
trabalho (Apêndice 1).
Depois desta etapa o voluntário passou por uma anamnese contendo questões
sobre sua identificação e contato, histórico profissional, histórico clínico pessoal e familiar,
histórico oftalmológico (Apêndice 2). Em seguida passou por dois testes de triagem: os
60
optotipos de Snnellen e as Placas Pseudoisocromáticas de Ishihara para avaliação da acuidade
visual do paciente e possível existência de discromatopsia congênita. Considerando os
critérios de inclusão, o voluntário realizou a bateria de testes psicofísicos, que foi constituída
de dois testes de avaliação cromática (Discriminação de cores pelo método de Mollon-Reffin
e Ordenamento das 100 matizes de Farnsworth-Munsell) e três testes de avaliação acromática
(Sensibilidade ao contraste temporal de luminância, sensibilidade ao contraste espacial de
luminância e avaliação de campo visual pela técnica da perimetria estática de Humphrey). A
avaliação psicofísica foi realizada de acordo com a disponibilidade dos sujeitos ocorrendo
casos em que foi realizado apenas um dos testes psicofísicos. Em seguida o sujeito foi
encaminhado ao oftalmologista que fez uma bateria oftalmológica de rotina e que avaliou o
erro de refração, fundo de olho e pressão ocular (Figura 18).
Foram considerados como critérios de exclusão: relato de histórico de doenças
oftalmológicas como catarata, glaucoma, retinose pigmentar, etc; relato de histórico de
doenças neurológicas como esclerose múltipla, esquizofrenia, aneurisma, etc; relato de
doenças sistêmicas crônicas como diabetes, hipertensão arterial, etc; histórico de malaria ou
de doenças cujo tratamento fosse realizado com o uso de cloroquina ou derivados, histórico de
toxoplasmose e historio de exposição a outros contaminantes ambientais como mercúrio. Para
que o sujeito fosse incluso na amostra deveria também ter a acuidade visual estimada através
dos optótipos de Snellen normal ou corrigida para até 20/30 e resultado normal para teste das
placas pseudoisocromáticas de Ishihara.
Os testes psicofísicos foram realizados em apenas um dos olhos, o olho de melhor
acuidade. Quando ambos os olhos apresentavam mesma acuidade a escolha foi realizada de
forma aleatória da seguinte forma: quando o olho direito era escolhido para um paciente, o
próximo paciente testaria o olho esquerdo.
61
Os sujeitos testados informaram trabalhar com gasolina, diesel, álcool e
lubrificantes. Destes sujeitos, quando questionados sobre algum tipo de equipamento de
proteção individual (EPI), 3 relataram o uso de máscara, 1 relatou o uso de luva e 26
informaram não usar qualquer tipo de proteção. Quando indagados sobre algum tipo de
informação a respeito das substâncias a que estavam expostos, somente 1 apresentou algum
conhecimento.
62
ORGANOGRAMA
1º DIA
(?)
2º DIA
(2-3 h)
RECRUTAMENTO
↓
ESCLARECIMENTO
→
TERMO DE LIVRE
ESCLARECIENTO E
CONSENTIMENTO
TESTES DE TRIAGEM
LABORATÓRIO DE
NEUROLOGIA
TROPICAL
TESTES PSICOFÍSICOS
↓
3º DIA
(2-3 h)
4º DIA
(?)
5º DIA
(≈30min)
6º DIA
(?)
POSTO DE
DISTRIBUIÇÃO DE
COMBUSTÍVEIS
TESTES PSICOFÍSICOS
↓
TESTES PSICOFÍSICOS
↓
AVALIAÇÃO
OFTALMOLÓGICA
↓
ENTREGA DO LAUDO
→
→
CLÍNICA
OFTALMOLÓGICA
PARTICULAR
LABORATÓRIO DE
NEUROLOGIA
TROPICAL
Figura 18: Organograma dos procedimentos realizados com os sujeitos expostos de forma
ocupacional a solventes orgânicos. O lado esquerdo mostra a quantidade de vezes que foi
necessário contato dos sujeitos com a nossa equipe de pesquisadores e o tempo aproximado
de cada contato entre parênteses, nos parênteses onde há um ponto de interrogação significa
que o tempo despendido variou bastante de acordo com o sujeito. No centro, os quadros
pretos mostram o esquema dos procedimentos realizados e a direta, nos quadros brancos, o
local onde cada procedimento ocorria.
63
2.2
TESTES DE AVALIAÇÃO VISUAL
2.2.1
Testes de triagem
2.2.1.1
Teste de acuidade visual com optótipos de Snellen
O teste de acuidade visual com optótipos de Snellen indica se os indivíduos
apresentam acuidade visual (máxima freqüência espacial distinguível) normal e é
obrigatoriamente realizado em ambiente iluminado. Para realização do teste foi utilizada uma
placa contendo os optótipos. O teste foi realizado monocularmente em ambos os olhos, a uma
distancia de 6 metros (20 pés x 30,48 cm) entre o indivíduo e a placa dos optótipos de
Snellen. Os optótipos de Snellen constituíram um quadro contendo um conjunto de letras
ordenadas em fileiras no sentido horizontal (escala optométrica) sendo apresentadas em
diferentes dimensões e formatos em cada linha, dificultando a capacidade de identificação das
letras pelo indivíduo (Figura 19).
O indivíduo foi instruído a olhar para os optótipos de Snellen começando das
fileiras superiores (letras grandes) para as inferiores (letras pequenas) e indicar sempre
verbalmente quais letras consegue ver.
A acuidade visual por sua vez foi representada como uma fração, sendo o
numerador a distância em que o observador esteve do estímulo e o denominador, a distância
máxima legível do quadro. O resultado foi determinado pelo valor de escala relacionado a
última fileira que o indivíduo conseguiu discriminar. O padrão de normalidade preconizado
para este teste foi 20/30.
64
0,1
1
0,2
2
0,3
3
0,4
4
0,5
5
0,6
6
0,7
7
8
9
10
11
0,8
0,9
1,0
NORMAL
1,2
Figura 19: Modelo dos optótipos de Snellen. A esquerda o modelo para pacientes
alfabetizados e a direita o modelo para pacientes não alfabetizados. A numeração a esquerda
mostra a proporção entre a distância máxima que o paciente viu os optótipos de snellen e a
distância máxima que ele idealmente deveria ver. A numeração a direita mostra o número de
linhas nas quais os estímulos diminuem gradativamente.
65
2.2.1.2
Teste de Ishihara
A avaliação de discriminação de cores com placas pseudoisocromáticos de
Ishihara é realizada para detectar deficiência de visão de cor congênita no eixo de cor verdevermelho. O teste foi realizado em ambiente iluminado. Para realização do teste foi utilizado
um livro contendo as pranchas pseudoisocromáticas. As pranchas foram constituídas de um
estímulo formado de círculos com vários discos de diferentes tamanhos e cores levemente
distintas gerando um ruído de luminância (Figura 20). Dentro de cada círculo havia um
conjunto de discos que diferiam em cor com o fundo e revelavam um número. Neste trabalho,
o teste foi constituído de um total de 25 pranchas.
Estas pranchas foram apresentas a uma distância de 75 cm dos indivíduos e este
foi instruído a responde qual número estava vendo. O resultado foi obtido comparando a
resposta do paciente com a planilha de acompanhamento do teste que continha o resultado
esperado do paciente (Apêndice 3). O indivíduo foi considerado normal quando apresenta no
máximo 6 erros na resposta.
66
A
C
B
D
Figura 20: Pranchas de Ishihara. (A) Representação do primeiro estímulo apresentado ao
paciente, este estímulo pode ser visualizado por sujeitos normais e com discromatopsias, ele
não apresenta configuração pseudoisocromática, serve para verificar se o sujeito entendeu o
comando. (B) e (C) são estímulos para avaliação de discromatopsias protans e deutans. (D)
Representação de um dos estímulos utilizados para fazer diagnóstico diferencial entre
discromatopsia do tipo protan e discromatopsia do tipo deutan. Devido às limitações no
processo de impressão, esta figura não deve ser tomada como representando exatamente as
cromaticidades usadas no teste.
67
2.2.2
Testes de avaliação psicofísica
2.2.2.1
Determinação dos limiares de discriminação de cores pelo método de Mollon-
Reffin
Este teste foi realizado para avaliar a sensibilidade cromática nos três eixos de
confusão de cor: protan, deutan e tritan.
O equipamento utilizado foi plataforma IBM POWERStation RISC 6000, modelo
RISC 6000 320H, com 64 MB de RAM e disco rígido de 400 MB, placas gráficas IBM
POWER GT4-24bits-3D, com paleta de cores de 24 bits (8 bits por canhão), sendo os padrões
gráficos apresentados em monitor de vídeo modelo IBM 6091 19i, com resolução espacial de
1280 x 1024 pixels, freqüência horizontal de 81,32 kHz, freqüência de varredura vertical de
77 Hz. Foi realizada a correção gama dos monitores, a fim de linearizar a saída dos canhões
com a voltagem aplicada sobre eles. Os testes utilizados foram desenvolvidos em linguagem
de programação C++.
O teste foi realizado monocularmente em ambiente pouco iluminado cuja a
iluminação proveio unicamente do monitor do teste.
O teste utilizou um estímulo de configuração pseudoisocromática. A configuração
pseudoisocromática é um mosaico caracterizado pela presença de uma série de elementos
(neste caso círculos) espacialmente separados com diferentes luminâncias em torno da
luminância média e diferentes tamanhos. A presença de cromaticidades diferentes em arranjos
de determinados elementos gera a sensação de um desenho. O estímulo foi constituído de um
conjunto de círculos que formaram um alvo (desenho) e pelo restante do mosaico (fundo). O
alvo foi uma figura semelhante ao C de Landolt com diâmetro externo de 4,3º de ângulo
visual, diâmetro interno de 2,2º e abertura de 1º. O alvo foi constituído por cromaticidades
localizadas em oito diferentes direções cromáticas igualmente espaçadas da cromaticidade do
fundo no diagrama da CIE1976 em cada série. A luminância média entre o alvo e o fundo
68
foram iguais e se mantiveram constante ao longo dos testes. A luminância dos discos do
estímulo foi modificada aleatoriamente a cada apresentação para um de seis níveis prováveis
no intervalo de 12 cd/m2 a 20 cd/m2 gerando um ruído de luminância que obrigava o sujeito a
realizar a tarefa baseado somente na percepção da matiz (REGAN et al., 1994) (Figura 21).
69
PROTAN
DEUTAN
TRITAN
Figura 21: Estímulos típicos usados no teste de limiar de discriminação de cores pelo método
de Mollon-Reffin. Os painéis, de cima para baixo, mostram os estímulos dos testes protan,
deutan e tritan, respectivamente de cima para baixo. Os estímulos à esquerda em cada par são
saturados e seriam mostrados próximo do começo do teste; os estímulos menos saturados à
direita representam uma discriminação mais difícil. Devido às limitações no processo de
impressão, esta figura não deve ser tomada como representando exatamente as cromaticidades
usadas no teste. Modificado de Regan et al. (1994).
70
Foram realizadas cinco séries de testes, nos quais a cromaticidade do fundo
apresentou uma cromaticidade específica e constante no diagrama da CIE 1976 em cada série
(Tabela 2).
Tabela 2: Coordenadas do ponto central das elipses de discriminação de cores, segundo o
Diagrama de cromaticidade da CIE 1976.
Elipse 1
Elipse 2
Elipse 3
Elipse 4
Elipse 5
u’
0,215
0,219
0,225
0,175
0,278
v’
0,531
0,481
0,415
0,485
0,472
A sensibilidade cromática foi medida ao longo destes diferentes eixos do espaço
de cor usando um procedimento de escada. O computador mantinha um procedimento em
escada para cada direção do eixo de cor sendo testada. A tentativa de cada uma das linhas de
confusão foi aleatoriamente misturada. A diferença cromática entre alvo e fundo ao longo de
uma dada linha de confusão foi adaptativamente aumentada ou diminuída de acordo com o
desempenho do sujeito na apresentação prévia naquela linha. O teste realizou um
procedimento de escada onde o contraste aumentava ou diminuía a metade do contraste
anteriormente visto até a mínima possibilidade de divisão, esta medida foi determinada como
o limiar de sensibilidade cromático do sujeito.
Os padrões foram apresentados seqüencialmente para que os sujeitos
respondessem para qual direção a abertura do C estava apontando (cima, baixo, esquerda,
direita). O tempo de apresentação de cada figura foi de 1,5 s. O teste foi realizado a três
metros de distância entre o sujeito e o estímulo. O tempo para cada um dos 8 eixos estudados
foi de aproximadamente 10 minutos.
As respostas dos indivíduos forma registradas pelo experimentador através do
teclado do computador, sendo considerados incorretos tanto os erros de orientação quanto as
respostas ausentes.
71
Após o termino do teste, os dados foram extraídos da estação de teste e
alimentaram uma planilha do Excel automatizada, que utilizava os pontos avaliados para a
construção de 5 elipses, que representam uma área fisiologicamente indistinguível da
cromaticidade do fundo do estímulo (Figura 22). Das elipses foram retiradas informações
quantitativas que permitiram a análise dos resultados, este trabalho avaliou o diâmetro do
círculo equivalente a área da elipse (D), a razão entre o eixo maior e menor (a/b) e o ângulo
de inclinação do eixo maior da elipse (α).
Os significados fisiológico desses parâmetros são:
Diâmetro do círculo equivalente a área da elipse (D) indica a capacidade de
discriminação do indivíduo. Quanto maior o D, menor é a capacidade de discriminação.
Razão entre o eixo maior e menor da elipse (a/b) indica elipticidade, tendência a
um determinado eixo de confusão de cor. Quanto maior a elipticidade, maior é a tendência de
erro para um determinado eixo de confusão de cor. Este trabalha considera que se a
elipticidade for maior que o normal, a perda cromática é difusa.
Ângulo de inclinação do eixo maior da elipse (α) revela qual eixo de confusão é
mais é predominante nos erros.
Os ângulos de inclinação do eixo maior das elipses foram medidos em escala de
00 a 1800. No entanto para avaliação estatística foi necessário converter os valores angulares
para valores positivos ou negativos até 900. Para este teste os sujeitos expostos de forma
ocupacional a solventes orgânicos foram comparados a grupos controle de mesma faixa etária.
Os grupos controles etários foram constituídos como segue:
- Faixa etária de 16-30 anos: 51 sujeitos (20,8 ± 3,1 anos de idade).
- Faixa etária de 31-45 anos: 21 sujeitos (36,9 ± 4,4 anos de idade).
- Faixa etária de 46-60 anos: 16 sujeitos (51,9 ± 3,7 anos de idade).
72
Para analisar o tipo de alteração de cor apresentada pelos indivíduos foram
necessários dados que classificassem os sujeitos com alterações difusas ou predominantes
para o eixo de confusão de cor protan, deutan ou tritan. Estas normas foram retiradas de dados
de sujeitos protan e deutan em que foi utilizado o mesmo equipamento que este trabalho e
classifica alterações cromáticas para o eixo protan e deutan das cinco elipses também
estudadas aqui (GONÇALVES, 2006). Este grupo está constituído como segue:
- Grupo protan: 18 sujeitos (32,5 ± 11,5 anos de idade).
- Grupo deutan: 29 sujeitos (30,8 ± 9,2 anos de idade).
Para análise, primeiro foi avaliado se o sujeito apresentava diâmetro do círculo
equivalente a área da elipse normal. Somente quando os valores do diâmetro do círculo
equivalente a área da elipse estivam acima do normal é que a razão entre o eixo maior e o eixo
menor da elipse foi avaliada, somente se elipticidade da elipse era estatisticamente maior que
o normal é que o ângulo de inclinação da elipse foi avaliado.
73
LIMIAR DE DISCRIMINAÇÃO DE CORES
Sujeito Teste
0.6
E1
E2
E3
E4
E5
0.525
v'
C1(0,215, 0,531)
C2(0,219, 0,481)
C3(0,225, 0,415)
C4(0,175, 0,485)
C5(0,278, 0,472)
0.45
0.375
0.3
0
0.075
0.15
0.225
0.3
0.375
0.45
u'
Figura 22: Elipses de discriminação de cores obtidas no teste de discriminação de limiares de
cor pelo método de Mollon-Reffin. A legenda identifica as elipses através das representações
de cores e das coordenadas do ponto central segundo o diagrama de cromaticidade da CIE
1976.
74
2.2.2.2.
Discriminação de Cores pelo Teste de Ordenamento das 100 matizes de
Farnsworth-Munsell
Este teste foi realizado para avaliar a capacidade de discriminar matizes nos três
eixos de confusão de cor: protan, deutan e tritan.
O equipamento utilizado foi um microcomputador IBM-compatível modelo
Pentium IV 1.7GHz, com 512MB de RAM e disco rígido de 40GB, placa gráfica
ANNIHILATOR 2, da CREATIVE, com paleta de cores de 24 bits (8 bits por canhão). Os
padrões gráficos são apresentados em monitor de vídeo modelo SONY Multiscan G420, de 19
polegadas, com resolução espacial de 1024 x 768 pixels, freqüência horizontal de 98,8kHz e
freqüência de varredura vertical de 120Hz Foi realizada a correção gama dos monitores, a
fim de linearizar a saída dos canhões com a voltagem aplicada sobre eles. Os testes utilizados
foram desenvolvidos em linguagem de programação C++.
O teste foi realizado monocularmente em ambiente pouco iluminado onde a
iluminação proveio unicamente do monitor do teste.
O teste consistiu de quatro séries formadas por 85 estímulos ao todo. O estímulo
era constituído por um círculo com raio de 1º de ângulo visual, 30% de pureza de cor e
luminância média de 41,75 cd/m2. Os círculos apresentaram diferentes matizes, mesma
saturação e mesma luminância e foi instruído ao paciente que os estímulos teriam que ser
organizados seqüencialmente em função de seus matizes. Cada círculo apresentou um número
de ordenamento, o qual era desconhecido pelo sujeito testado (Figura 23).
75
A
B
C
Figura 23: Esquema do estímulo para o teste de ordenamento de 100 matizes de
Farnsworth-Munsell. (A) representa estímulo inicial do teste onde o sujeito vê uma série de
círculos seqüenciados com graduais mudanças de matizes e saturação constante. (B)
representa os círculos misturados. (C) Representa o reordenamento das peças. Devido às
limitações no processo de impressão, esta figura não deve ser tomada como representando
exatamente dos matizes usados no teste.
76
O teste foi realizado a distância de 1 m entre o sujeito e o estímulo. O sujeito foi
instruído sobre o teste e foi dado um tempo para a familiarização da tarefa, em seguida, as
peças eram espalhadas aleatoriamente, ficando posicionadas corretamente somente as peças
com os matizes extremos e o sujeito deveria reordenar as demais peças o mais próximas
possível da organização inicial. O procedimento foi repetido para as várias configurações
cromáticas e foi contabilizado o número de erros na ordenação dessas várias configurações.
Não foi estabelecido tempo limite para a execução do teste, cada sujeito foi estimulado a
realizar a tarefa com atenção. No fim de cada seqüência o paciente informou se havia
necessidade de correção da posição de qualquer uma das peças. O resultado foi obtido com
base no valor de erro cometido para cada peça. O valor de erro de uma peça foi contabilizado
pela soma das diferenças entre o número da peça e o número das peças adjacentes a ela
(FARNSWORTH, 1957).
Os resultados foram processados por meio de uso de um programa específico para
este fim gerando resultados gráficos e numéricos. Os gráficos dos indivíduos com tendência
de erro para um eixo de confusão de cor apresentava pontuações maiores concentradas em
duas regiões aproximadamente opostas no gráfico. O gráfico no qual foi representado o
resultado do teste foi apresentado em forma de círculo. Cada linha que representa um ponto
no eixo das ordenadas identifica um matiz segundo o sistema de notação de corres de Munsell
(Figura 24).
A pontuação média de cada indivíduo ou grupo de indivíduos nos hemisférios
superior, inferior, esquerdo, direito no gráfico polar do espaço de cor de Munsell foi
representado pelos respectivos pontos médios, correspondendo ao matiz no qual apresentam
pior desempenho na tarefa do ordenamento das cores.
Os matizes começaram a ser enumerados do matiz número 1, no ponto referente
ao ângulo de 900, de tal forma que o hemisfério superior não apresentou continuidade de
77
valores em toda extensão. Essa característica distorce os valores e média e desvio padrão do
ponto central superior. Para evitar essa situação, os valores do ponto central superior foram
convertidos para outra escala, subtraindo-se dos valores de erro o número 85 e adotando-se
valores negativos. Os valores do ponto médio superior (S) recalculado como descrito a pouco
foram chamados de ponto central superior* (S*).
Os parâmetros analisadas neste trabalho foram os valore de erro, e quando este
estava alterado, os pontos médios também foram estudados.
Para este teste os sujeitos expostos de forma ocupacional ã solventes orgânicos
foram comparados ao grupo controle normal de mesma faixa etária. Os grupos controles
etários foram constituídos como segue:
- Faixa etária de 16-30 anos: 83 sujeitos (20,8 ± 2,8 anos de idade).
- Faixa etária de 31-45 anos: 28 sujeitos (35,3 ± 3,9 anos de idade).
- Faixa etária de 46-60 anos: 27 sujeitos (50,9 ± 4,2 anos de idade).
Para analisar o tipo de alteração de cor apresentada pelos indivíduos foram
necessários dados que classificassem os sujeitos com alterações difusas ou predominantes
para o eixo de confusão de cor protan e deutan, para tanto as normas foram retiradas do grupo
de dados utilizou o mesmo equipamento que este trabalho e classifica alterações cromáticas
para o eixo protan e deutan nos mesmos parâmetros estudadas neste trabalho (Gonçalves,
2006). Este grupo está constituído como segue:
- Grupo protan: 18 sujeitos (32,5 ± 11,5 anos de idade).
- Grupo deutan: 29 sujeitos (30,8 ± 9,2 anos de idade).
78
TESTE DE ORDENAMENTO DE CORES DE FARNSWORTH-MUNSELL
1
1
20
2
3
4
5
6
85
84
83
82
81
19
7
80
18
8
9
79
78
17
16
10
77
15
11
76
14
12
75
Pureza = 30%
Estímulo = 1º
13
13
74
12
14
73
11
10
15
72
9
16
71
8
7
17
70
6
18
5
69
Erro: 208
4
19
68
3
20
67
R
21
66
P
Y
22
65
23
64
G
B
24
63
25
62
26
61
27
60
28
59
29
58
30
Pontos médios:
E = 19
D = 64
S = 84
I = 47
57
31
56
32
55
33
54
34
53
35
52
36
51
37
50
38
49
39
48
40
41
42
43
44
45
46
47
Figura 24: Gráfico polar do teste de ordenamento dos 100 matizes de Farnsworth-Munsell de
um sujeito exposto de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos. Este gráfico é
originado de um programa específico criado para este fim. Os números em torno do círculo
representam a posição correta de cada matiz. As linhas de contorno representam o valor de
erro do sujeito em cada posição. À direita os dados mostram na seguinte ordem, porcentagem
de pureza e tamanho de cada um dos 85 estímulos, valor de erro e pontos médios esquerdo
(E), direito (D), superior (S) e inferior (I).
79
2.2.2.3
Determinação da função de sensibilidade ao contraste espacial de luminância
O objetivo deste teste foi avaliar a sensibilidade ao contraste espacial de
luminância.
O equipamento utilizado foi um microcomputador IBM-compatível modelo
Pentium IV 1.7GHz, com 512MB de RAM e disco rígido de 40GB, placa gráfica
ANNIHILATOR 2, da CREATIVE, com paleta de cores de 24 bits (8 bits por canhão). Os
padrões gráficos são apresentados em monitor de vídeo modelo SONY Multiscan G420, de 19
polegadas, com resolução espacial de 1024 x 768 pixels, freqüência horizontal de 98,8kHz e
freqüência de varredura vertical de 120Hz Foi realizada a correção gama dos monitores, a
fim de linearizar a saída dos canhões com a voltagem aplicada sobre eles. Os testes utilizados
foram desenvolvidos em linguagem de programação C++.
O teste foi realizado monocularmente em ambiente pouco iluminado onde a
iluminação proveio unicamente do monitor do teste.
O estímulo utilizado consistiu de uma rede de barras verticais claras e escuras,
isocromáticas com variação senoidal de luminância no espaço sem modulação temporal
(estacionária). A luminância média do estímulo foi de 43,5 cd/m2 durante toda a realização do
teste. Foram utilizadas 11 freqüências espaciais: 0,2 cpg, 0,5 cpg, 0,8 cpg, 1 cpg, 2 cpg, 4 cpg,
6 cpg, 10 cpg, 15 cpg, 20 cpg, 30 cpg. O padrão exibido foi retangular, correspondendo à 6,5º
por 5º de ângulo visual à 3 m de distância (Figura 25).
Para estimar a sensibilidade ao contraste espacial de luminância utilizou-se o
método de escada. As freqüências espaciais foram mostradas em uma seqüência ascendente
partindo de contrastes subliminares, foram realizadas 10 reversões. Os resultados foram
mostrados em valores de sensibilidade ao contraste, correspondente ao inverso do contraste
limiar. Para cada sujeito foi realizada uma tentativa do teste de sensibilidade ao contraste nas
onze freqüências espaciais.
80
Para este teste os sujeitos expostos de forma ocupacional a solventes orgânicos
foram comparados a grupos controle de mesma faixa etária. Os grupos controles etários foram
constituídos como segue:
- Faixa etária de 16-30 anos: 59 sujeitos (21,2 ± 2,8 anos de idade).
- Faixa etária de 31-45 anos: 28 sujeitos (36,2 ± 3,9 anos de idade).
- Faixa etária de 46-60 anos: 27 sujeitos (53,3 ± 4,3 anos de idade).
81
B
C
∆ CONTRASTE
A
∆S
Figura 25: Esquema do estimulo do teste de determinação da função de
sensibilidade ao contraste espacial de luminância. E A, B e C temos diferentes representações
de freqüências espaciais de grades acromáticas onde o estímulo muda senoidalmente entre
claro e escuro. (A) Representa menor freqüência espacial. (B) Representa freqüência espacial
média. (C) Representa maior freqüência espacial. Os quadrados superiores mostram o
estímulo com alto contraste e os quadrados inferiores mostram o mesmo estímulo com
contraste menor.
82
2.2.2.4.
Determinação da função da sensibilidade ao contraste temporal de luminância
O objetivo deste teste foi avaliar a sensibilidade ao contraste temporal de
luminância.
O equipamento utilizado foi um microcomputador IBM-compatível modelo
Pentium IV 1.7GHz, com 512MB de RAM e disco rígido de 40GB, placa gráfica
ANNIHILATOR 2, da CREATIVE, com paleta de cores de 24 bits (8 bits por canhão). Os
padrões gráficos são apresentados em monitor de vídeo modelo SONY Multiscan G420, de 19
polegadas, com resolução espacial de 1024 x 768 pixels, freqüência horizontal de 98,8kHz e
freqüência de varredura vertical de 120Hz Foi realizada a correção gama dos monitores, a
fim de linearizar a saída dos canhões com a voltagem aplicada sobre eles. Os testes utilizados
foram desenvolvidos em linguagem de programação C++.
O teste foi realizado monocularmente em ambiente pouco iluminado onde a
iluminação proveio unicamente do monitor do teste. O estímulo utilizado consistiu de um
quadrado isocromático espacialmente homogêneo com proporções de 2,5ºpor 2,5º de ângulo
visual em um fundo de 6,5º por 5º de ângulo visual a 3 metros de distância, com variação
senoidal de luminância no tempo. A luminância média do estímulo e do fundo foi de 43,5
cd/m2 durante toda a realização do teste. Foram utilizadas 7 freqüências temporais: 0,5 Hz ,1
Hz, 2 Hz, 4 Hz, 8 Hz, 16 Hz, 32 Hz. As freqüências temporais foram mostradas em uma
seqüência ascendente (Figura 26).
Para estimar a sensibilidade ao contraste espacial de luminância utilizou-se o
método de escada, iniciando-se a partir de contrastes subliminares, foram realizadas 10
reversões. Os resultados são mostrados em valores de sensibilidade ao contraste,
correspondente ao inverso do contraste limiar. Para cada sujeito foi realizada uma tentativa da
sensibilidade ao contraste nas sete freqüências temporais.
83
Para este teste os sujeitos expostos de forma ocupacional a solventes orgânicos
foram comparados a grupos controle de mesma faixa etária. Os grupos controles etários foram
constituídos como segue:
- Faixa etária de 16-30 anos: 12 sujeitos (26,3 ± 7,8 anos de idade).
- Faixa etária de 31-45 anos: 11 sujeitos (39,5 ± 3,6 anos de idade).
- Faixa etária de 46-60 anos: 10 sujeitos (53,6 ± 4,3 anos de idade).
84
∆t
Figura 26: Esquema do estimulo do teste de determinação da função de
sensibilidade ao contraste temporal de luminância. A figura mostra horizontalmente a
variação do estímulo no tempo e verticalmente mostra a variação senoidal entre claro e
escuro.
85
2.2.2.5.
Avaliação de campo visual acromático através de perimetria estática de
Humphrey
O equipamento utilizado foi um campímetro computadorizado do tipo Humphrey
Field Analyzer Segunda edição – model 745 (Humphrey Systems, Dublin, CA, USA).
O teste foi realizado monocularmente em ambiente pouco iluminado, com
iluminação proveniente unicamente do monitor de teste. O programa escolhido apresentava
estímulo com mira III, de padrão acromático e luminância média de 31,5 ASB. Foram
utilizados 3 protocolos de testes do Humphrey Field Analyzer, o protocolo acromático central
10-2, acromático central 30-2 e acromático periférico 60-4. No protocolo acromático central
10-2 foi selecionada a estratégia SITA-Fast, enquanto no protocolo acromático central 30-2 e
acromático 60-4 foi selecionada a estratégia SITA-Standard (Figura 27).
Os valores de intensidade dos estímulos foram apresentados em apostilbs (ASB),
onde 1 ASB é cerca de 0,32 cd/m² e esta unidade de medida é inversamente proporcional a dB
que é uma unidade que compara duas grandezas logarítimicas. O equipamento projetou
estímulos que podiam variar a intensidade de brilho em uma escala de 5,1 log de unidades, em
outras palavras 51 dB, entre 0,08 e 10 000 asb, sendo que 10000 ABS foi o brilho máximo.
Somente a intensidade de brilho do estímulo variou durante os testes.
Para monitorar a fixação do olhar do paciente foi utilizada a câmera do
equipamento além do monitoramento automático da direção do olhar que ocorre
periodicamente durante a realização dos testes.
A medida do limiar foi feita com um procedimento de escada em que o estímulo
era inicialmente levemente brilhante. Se o paciente visse o ponto, a intensidade do estímulo
diminuia em 4 dB em passos subseqüentes até que o paciente não o visse mais. Então a
intensidade voltava a aumentar 2 dB até que o paciente visse novamente. Se o paciente não
visse o primeiro estímulo, o mesmo processo era realizado de forma inversa.
86
As estratégias de teste escolhidas proporcionaram o teste de 68 pontos do campo
visual até 10 0 de ângulo visual, 76 pontos do campo visual até 300 de ângulo visual e 60
pontos do campo visual entre 300 e 60 0 graus de ângulo visual. Estes pontos eram testados
randomicamente com cada intensidade do estímulo.
Os resultados do teste foram apresentados em decibel (dB) e analisados pelo
pacote estatístico STATPAC, gerando dados de comparação do resultado ponto por ponto
testado com um banco de dados normais de mesma faixa etária do paciente que vem no
próprio equipamento permitindo a detecção de defeitos de campo visual bem como a
acompanhamento de resultados do mesmo paciente em momentos diferentes. Os resultados do
paciente foram liberados em diferentes tipos de gráfico, foram considerados como dados para
este trabalho somente o gráficos com os valores do limiar de sensibilidade para cada ponto
testado (Threshold) e os parâmetros globais: Desvio médio ou MD (Mean Deviation ) e
Desvio padrão padronizado ou PSD (Patter Standard Deviation). Os três protocolos
estudados foram divididos em 8 anéis. O protocolo central 10-2 foi dividido em anéis de 0 0 a
3,30, de 3,30 a 6,60 e de 6,60 a 100 de ângulo visual. O protocolo central 30-2 foi dividido em
anéis de 00 a 100, de 100 a 20 0 e de 200 a 300 de ângulo visual. O protocolo periferia 60-4 foi
dividido em anéis de 300 a 450 e de 45 0 a 600 de ângulo visual.
Para este teste os sujeitos expostos de forma ocupacional a solventes orgânicos
foram comparados a grupos controle de mesma faixa etária. Os grupos controles etários foram
constituídos como segue:
- Faixa etária de 16-30 anos: 12 sujeitos (26 ± 2,6 anos de idade).
- Faixa etária de 31-45 anos: 10 sujeitos (38,5 ± 4,1 anos de idade).
- Faixa etária de 46-60 anos: 7 sujeitos (51,7 ± 4,6 anos de idade).
87
100
6,70 3,30
A
300
200
100
B
600
450
300
C
Figura 27: Esquema da matriz de pontos testados no campo visual pela perimetria
estática de Humphrey. (A) Pontos testados no protocolo central 10-2. (B) Pontos testados no
protocolo central 30-2. (C) Pontos testados no protocolo periferia 60-4. O triangulo vermelho
representa o ponto cego localizado a cerca de 150 de ângulo visual. O protocolo central 30-2
foi dividido em anéis de 00 a 100, de 10 0 a 200 e de 200 a 30 0 de ângulo visual. O protocolo
periferia 60-4 foi dividido em anéis de 300 a 450 e de 450 a 600 de ângulo visual.
88
2.3.
ANÁLISE DE DADOS
Todos os dados foram analisados mediante comparação entre o grupo exposto a
solventes orgânicos e grupo controle de mesma faixa etária.
Foram utilizados os seguintes testes estatísticos:
1-Cálculo do intervalo de tolerância, utilizado para verificar se o resultado
individual dos sujeitos expostos a solventes orgânicos estavam dentro dos parâmetros de
normalidade em cada teste.
2-Cálculo do intervalo de confiança, para verificar se a média dos valores
resultantes de cada teste do grupo exposto a solvente orgânicos estão dentro do parâmetros de
normalidade.
3-Teste t, para avaliar diferença entre as médias do grupo expostos a solventes
orgânicos e o grupo controle.
4-Cálculo do coeficiente de correlação linear de Pearson, para analisar a força da
correlação entre o tempo de exposição e o desempenho dos sujeitos no teste e força da
correlação entre os desempenhos em cada teste.
Foi considerado α=0,05.
Os testes estatísticos foram realizados com suporte do pacote estatístico BioEstat
5.0.
89
3
RESULTADOS
3.1
DETERMINAÇÃO DOS LIMIARES DE DISCRIMINAÇÃO DE CORES PELO
MÉTODO DE MOLLON-REFFIN
Foram avaliados 17 sujeitos expostos de forma crônica ocupacional à mistura de
solventes orgânicos com o teste de determinação dos limiares de discriminação de cores pelo
método de Mollon-Reffin distribuídos em três faixas etárias, 8 sujeitos na faixa etária de 16 a
30 anos, 7 sujeitos na faixa etária de 31 a 45 anos e 2 sujeitos na faixa etária de 46 a 60 anos.
Os parâmetros tomados para estudo neste teste foram o valor do diâmetro do
círculo equivalente a área da elipse (D), razão entre eixo maior e eixo menor da elipse
conhecido como elipticidade (a/b) e ângulo de inclinação da elipse (α) retirados de 5 elipses
obtidas no testes (E1, E2, E3, E4, E5), primeiro era avaliado o valor de D, quando este
apresentava valores superiores ao controle era feita análise da elipticidade e se este estivesse
fora dos padrões normais é que α era avaliado.
Os valores de α estudados foram comparados a dois grupos com deficiência de cor
(grupo protan e grupo deutan).
Na análise desse teste foi excluída a elipse 4 do paciente GJS070621D devido ter
ocorrido uma falha aquisição dos dados brutos referentes a coordenadas da quarta série de
teste por parte do programa o que impediu a construção da elipse tornando impossível a
análise desses dados para este paciente.
Foi encontrado que 8 (47,1%) sujeitos expostos de forma crônica ocupacional à
mistura de solventes orgânicos apresentaram valor do D acima do limite de tolerância superior
do grupo controle da faixa etária relativa em pelo menos uma das elipses, considerando =
0,05. Destes, 4 eram da faixa etária de 16 a 30 anos e 3 eram da faixa etária de 31 a 45 anos e
1 era da faixa etária de 46 a 60 anos (Tabela 3). Foi analisado a/b desses 8 sujeitos, e todos
apresentaram elipticidade maior que limite de tolerância superior do grupo controle (Tabela
90
4). Na comparação com os grupos protans e deutans, os valores de α dos sujeitos expostos de
forma crônica ocupacional à mistura de solventes orgânicos não se encaixaram em nenhum
intervalo de tolerância representante das duas classificações.
91
Tabela 3: Valores do diâmetro do círculo equivalente a área da elipse dos sujeitos expostos
de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos. E1=elipse 1, E2= elipse 2,
E3= elipse 3, E4= elipse 4, E5= elipse 5. * Representa valores fora do intervalo de tolerância
do grupo controle.
Sujeitos
EJN070412E
EJS070321D
GXA081119E
JCS081118D
KCF070622D
MAS090318D
MSB080417E
OOS070517E
ACC090325D
GJS070621D
JS080402E
JSM090317D
LOS070302E
MAS081112D
MJM090311E
CAS070518E
RJM070524D
Idade
25
20
23
28
23
28
27
20
42
37
37
45
44
31
35
48
47
E1
18.896
25.188
19.436
36.489*
24.310
34.419*
15.496
19.415
19.061
29.092
19.910
41.013*
13.080
26.164
18.593
18.713
35.908
E2
12.200
17.357
19.067
40.470*
20.386
19.371
11.927
22.696
19.797
53.021*
24.664
40.380*
17.277
19.242
21.424
14.245
40.104*
E3
14.075
22.116
19.103
40.090*
25.112
31.307*
31.714*
23.448
23.030
60.026*
29.437
45.711*
29.566
22.350
23.399
20.156
30.998
E4
12.337
17.227
17.728
33.560*
25.074
30.118*
16.691
22.182
40.784*
excluído
22.441
38.311*
24.313
25.460
25.891
15.300
29.161
E5
11.631
18.031
15.646
40.052*
23.474
27.373
22.086
32.240*
27.575
36.242
23.897
38.530*
18.306
28.679
26.396
24.430
27.288
92
Tabela 4: Valores da elipticidade (a/b) da elipse dos sujeitos expostos de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos. E1=elipse 1, E2= elipse 2, E3= elipse 3, E4=
elipse 4, E5= elipse 5. * Representa valores fora do intervalo de tolerância do grupo controle.
Sujeitos
Idade
EJN070412E
25
EJS070321D
20
GXA081119E 23
JCS081118D
28
KCF070622D 23
MAS090318D 28
MSB080417E 27
OOS070517E 20
ACC090325D 42
GJS070621D
37
JS080402E
37
JSM090317D 45
LOS070302E 44
MAS081112D 31
MJM090311E 35
CAS070518E 48
RJM070524D 47
E1
1.235
2.582
1.575
2.035
3.094
4.098
1.897
1.965
1.604
6.902
1.332
1.567
1.195
1.604
1.675
1.821
1.594
E2
1.249
1.143
2.232
2.588*
2.524
1.209
1.336
1.389
1.263
3.829*
2.026
2.321
1.072
1.35
1.357
1.376
3.841*
E3
2.158
4.002
2.368
2.108
3.648
3.792*
2.915*
3.307
2.13
4.053*
1.595
5.229*
4.278
1.756
3.143
2.413
1.778
E4
2.707
1.839
3.898
1.766
1.626
1.461
1.546
1.44
6.236*
excluído
1.323
1.859
2.514
2.73
2.157
1.38
1.376
E5
6.813
2.939
1.637
1.775
2.009
2.114
2.086
2.235*
2.05
5.618
1.748
1.379
3.468
1.619
1.163
2.33
1.478
93
A média do valor do diâmetro do circulo equivalente a área da elipse e da
elipticidade obtidas do teste de discriminação de cores pelo método de Mollon-Reffin do
grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos está dentro do
intervalo de confiança do grupo controle em todas as (Figura 28) considerando = 0,05.
Existe diferença estatística nos valores do diâmetro do círculo equivalente a área
da elipse dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos e os
valores do grupo controle em E1, E3 e E4, considerando = 0,05, o valor de p encontrado foi:
p= 0,0061; p=0,0211 e p=0,0353 respectivamente. Existe diferença estatística entre os valores
de elipticidade dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos e os
valores do grupo controle em E3 e E5, considerando = 0,05, o valor de p encontrado foi: p=
0,0004 e p=0,0296 respectivamente. Existe diferença estatística entre os valores do ângulo de
inclinação da elipse dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos
e os valores do grupo controle em E2, E3 e E5, considerando = 0,05, o valor de p encontrado
foi p= 0,0164; p=0,0007 e p=0,0345 respectivamente (Tabela 5).
Tabela 5: Valores de p do diâmetro do círculo equivalente a área da elipse (D), elipticidade
(a/b) e ângulo de inclinação (α) da elipse do grupo exposto a mistura de solventes orgânicos
quando comparados ao grupo controle.. E1=elipse 1, E2= elipse 2, E3= elipse 3, E4= elipse 4,
E5= elipse 5.
D
a/b
α
E1
0.0061
>0.05
>0.05
E2
>0.05
>0.05
0.0164
E3
0.0211
0.0004
0.0007
E4
0.0353
>0.05
>0.05
E5
>0.05
0.0296
0.0345
O coeficiente de correlação de Pearson não mostra correlação estatística
significativa entre o tempo de exposição a misturas de solventes orgânicos e valores de
diâmetro do círculo equivalente a área da elipse ou a elipticidade considerando = 0,05.
94
60
A
50
Diâmetro do círculo equivalente a área da elipse
40
D
D
Diâmetro do círculo equivalente a área da elipse
60
30
20
10
0
B
50
40
30
20
10
0
0
E1
E2
E3
E4
E5
15
0
E1
E2
E3
E4
E5
15
D
Diâmetro docírculo equivalente a área da elipse
60
C
50
40
Intervalo de Confiança (Controle)
30
Média e Desvio Padrão (Expostos)
20
10
0
0
E1
E2
E3
E4
E5
15
Figura 28: Gráfico da média de valores de diâmetro do círculo equivalente a área da elipse
obtido do teste de discriminação de cores pelo método de Mollon-Reffin do grupo exposto de
forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos (representados pelo círculo verde)
comparado com o Intervalo de confiança do grupo controle (linha pontilhada vermelha). (A)
Representação para faixa etária de 16 a 30 anos. Em B representação para faixa etária de 31 a
45 anos. Em C representação para faixa etária de 46 a 60 anos. E1=elipse 1, E2=elipse 2, E3=
elipse 3, E4=elipse 4, E5=elipse 5.
95
3.2
DISCRIMINAÇÃO DE CORES PELO TESTE DE ORDENAMENTO DOS 100
MATIZES DE FARNSWORTH-MUNSELL
Foram avaliados 26 sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos com o teste de ordenamento de matizes de Farnsworth-Munsell
distribuídos em três faixas etárias, 13 sujeitos na faixa etária de 16 a 30 anos, 11 sujeitos na
faixa etária de 31 a 45 anos e 2 sujeitos na faixa etária de 46 a 60 anos.
Os parâmetros tomados para estudo neste teste foram o valor de erro obtido do
gráfico polar, pontos médios superior e inferior para classificar os sujeitos como tendo
alterações de cor sem tendência de erro ou com tendência de erro a determinado eixo de
confusão de cor, e pontos médios esquerdo e direito, caso houvesse necessidade de classificálo quanto a tendência de erro de confusão de cor. Os pontos centrais só eram avaliados
quando os sujeitos apresentavam valor de erro acima do normal.
Foi encontrado que 19 (73,1%) sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a
mistura de solventes orgânicos apresentaram valor de erro maior que o intervalo de tolerância
superior do grupo controle de cada faixa etária considerando = 0,05 . Destes, 11 eram da
faixa etária de 16 a 30 anos (média de valor de erro= 141±52), 7 eram da faixa etária de 31 a
45 anos (média de valor de erro= 141±52) e 1 era da faixa etária de 46 a 60 anos (média de
valor de erro= 156±74). Os pontos médios do estudo do gráfico de erro no espaço de cor de
Munsell desses sujeitos se apresentaram dentro do desvio padrão de grupo controle normal.
Não apresentando tendência de erro para nenhum eixo de confusão de cor. Os pontos médios
desses sujeitos foram estudados (Tabela 6).
96
Tabela 6: Valores de erro e pontos médios dos sujeitos expostos de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos. E= ponto médio esquerdo, D= ponto médio
direito, S= ponto médio superior, I= ponto médio inferior. * Representa valores fora do
intervalo de tolerância do grupo controle.
Sujeitos
Idade
DPX080410E
18
EJN070412E
25
EJS070321D
20
FSM080423D 28
GXA081119E 23
JCS081118D
28
JPS080707E
29
LCC090414E
23
MAP080625D 29
MAS090818D 28
MSB080417E 27
OOS070517E
20
RCL080627E
23
ACC090325D 42
JLM080407D
39
JMA080630D 34
JS080402E
37
JSM090317D
45
LOS070302E
44
MAS081112D 31
MJM090311E 35
PRO080626D 37
RCB081127E
31
RVM081111D 34
CAS070518E
48
RJM070524D 47
Erro
156*
176*
128*
108*
132*
160*
128*
84
104*
160*
56
260*
156*
60
156*
104
236*
172*
152*
164*
72
96
160*
180*
104
208*
E
18
29
31
22
29
27
21
23
20
22
18
25
33
32
33
32
23
23
36
22
22
24
32
23
25
19
D
30
63
62
60
65
60
67
71
66
67
25
68
60
63
60
63
63
65
58
62
67
67
63
68
62
64
S
62
82
80
5
78
83
81
85
9
84
66
82
80
82
80
81
81
80
76
81
84
77
84
75
78
84
I
82
43
40
46
45
46
44
42
43
44
72
37
44
52
44
48
51
45
48
51
44
47
41
46
44
47
97
Todos os sujeitos com valor de erro alterado apresentaram pontos médios superior
e inferior dentro do desvio padrão da média de pontos no grupo controle.
A média do valor de erro do grupo exposto de forma crônica ocupacional a
mistura de solventes orgânicos está acima do limite de confiança superior do grupo controle
nas três faixas etárias (Figura 29) considerando = 0,05. A média dos pontos médios superior
e inferior do grupo exposto de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos é semelhante
a média desses pontos no grupo controle e encontra-se dentro do desvio padrão do mesmo.
Houve diferença estática entre os valores de erro do grupo exposto de forma
crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos (média= 141 ± 50) e o grupo controle
(média= 86 ± 6) considerando = 0,05, o valor de p encontrado foi p < 0,0001. O coeficiente
de correlação de Pearson encontrado foi r2= 0,1495 e p= 0,0509, considerando = 0,05 não
existe correlação significativa entre o tempo de exposição a mistura de solventes orgânicos e
valores de erro do teste FM-100 de sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura
de solventes orgânicos.
98
250
250
A
B
200
Valor
Valorde
de erroerro
Valor
Valor de
de erro erro
200
150
100
50
150
100
50
0
0
250 Média
DP
LC
Média do grupo exposto
Média
DP
LC
Média do grupo exposto
C
Valor
Valor de
de
erro erro
200
Média (Controle)
150
Desvio padrão (Controle)
Limite de confiança (Controle)
100
Média e Desvio Padrão (Expostos)
50
0
Média
DP
LC
Média do grupo exposto
Figura 29: Média de valores de erro no teste de ordenamentos dos matizes de FarnsworthMunsell do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
(representados pelo círculo) comparado com o Intervalo de confiança superior do grupo
controle (linha contínua verde). (A) Representação para faixa etária de 16 a 30 anos (média de
valor de erro= 139±50). Em B representação para faixa etária de 31 a 45 anos (média de valor
de erro= 141±52). Em C representação para faixa etária de 46 a 60 anos (média de valor de
erro= 156±74). Linha verde – intervalo de confiança superior da média de erros do grupo
controle; Linha vermelha – média de erros do grupo controle; Linha azul – desvio padrão de
erros do grupo controle.
99
3.3
DETERMINAÇÃO DA FUNÇÃO DE SENSIBILIDADE AO CONTRASTE
ESPACIAL DE LUMINÂNCIA
Foram avaliados 25 sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos com o protocolo para estimativa da função de sensibilidade ao contraste
espacial de luminância distribuídos em três faixas etárias, 12 sujeitos na faixa etária de 16 a
30 anos, 11 sujeitos na faixa etária de 31 a 45 anos e 2 sujeitos na faixa etária de 46 a 60 anos.
Foi encontrado que 13 (52%) sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos apresentaram pelo menos uma freqüência espacial de luminância abaixo
do limite inferior de tolerância do grupo controle de cada faixa etária. Destes, 5 sujeitos
estavam na faixa etária de 16 a 30 anos e apresentaram alterações nas freqüências de 0,8; 1; 2;
6 e 20 cpg, 6 sujeitos eram da faixa etária de 31 a 45 anos e apresentaram alterações nas
freqüências de 0,2; 2; 4 e 20 cpg e 2 eram da faixa etária de 46 a 60 anos e apresentaram
alterações nas freqüências de 1; 2;4;6;10;15;20 e 30 cpg (Tabela 7).
Todas as faixas etárias do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura
de solventes orgânicos apresentam a média de sensibilidade ao contraste espacial de
luminância nas freqüências espaciais de luminância de 20 cpg e 30 cpg abaixo do limite
inferior de confiança, na faixa etária de 16 a 30 anos do grupo exposto de forma crônica
ocupacional a solventes orgânicos também os valor de sensibilidade na freqüência de 0,8 cpg
está abaixo do limite de tolerância inferior do grupo controle e na faixa etária de 46 a 60 anos
do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos apresenta
também a média de sensibilidade ao contraste espacial de luminância nas freqüências
espaciais de luminância de 4 cpg, 6 cpg, 10 cpg e 15 cpg também abaixo do limite inferior de
confiança (Figura 30).
Houve diferença estatística entre os valores de sensibilidade ao contraste espacial
de luminância do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
100
orgânicos e o grupo controle nas freqüências de 20 e 30 cpg considerando = 0,05, o valor de
p encontrado foi p=0, 0011 e p= 0,0002, respectivamente (tabela 8). O coeficiente de
correlação de Pearson não mostra correlação estatística significativa entre o tempo de
exposição a misturas de solventes orgânicos e valores de sensibilidade ao contraste espacial
de luminância considerando = 0,05.
101
Tabela 7: Valores de sensibilidade ao contraste espacial de luminância em cada uma das
freqüências espaciais estudadas (em cpg) dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional
à mistura de solventes orgânicos. * Representa valores fora do intervalo de tolerância do
grupo controle.
Sujeitos
Idade
0.2
0.5
DPX080410E
18
25
20
28
23
28
29
23
29
28
27
23
42
39
34
37
45
44
31
35
37
31
34
48
47
0.907
0.885
0.527
0.775
0.897
1.275
0.732
0.753
0.712
0.656
0.85
0.692
0.578
0.775
0.592
0.639
0.524
1.018*
0.712
1.012
1.012
0.692
0.775
1.261
0.605
1.752
1.687
1.465
1.208
2.12
2.053
1.576
1.576
2.053
1.752
2.354
1.752
1.354
1.752
1.752
1.354
1.752
1.687
1.275
2.178
2.053
1.752
2.053
1.687
1.752 2.053 2.354 2.178
2.164 2.164 2.767 2.767
1.562 2.164 1.863 1.863
1.451* 1.451* 1.752* 1.752
2.479 2.479 2.655 2.53
2.178 2.655 2.655 2.655
2.178 2.354 2.655 2.655
1.752 2.053 2.354 2.655
2.053 2.178 2.655 2.655
2.053 2.178 2.354 2.178
2.178 2.655 2.655 2.655
2.053 2.053 2.178 2.178
1.451 1.752 2.053 2.178
2.178 2.354 2.354 2.354
2.178 2.178 2.354 2.354
2.053 2.053 2.655 2.655
2.053 2.053 2.178 2.354
2.164 2.289 2.289 2.289
1.451 1.576* 1.752* 2.053
2.354 2.655 2.655 2.655
2.178 2.354 2.655 2.655
2.053 2.053 2.178 2.178
2.053 2.354 2.655 2.655
1.687*
1.164*
EJN070412E
EJS070321D
FSM080423D
GXA081119E
JCS081118D
JPS080707E
LCC090414E
MAP080625D
MAS090318D
MSB080417E
RCL080627E
ACC090325D
JLM080407D
JMA080630D
JS080402E
JSM090317D
LOS070302E
MAS081112D
MJM090311E
PRO080626D
RCB081127E
RVM081111D
CAS070518D
RJM070524D
0.8
1
6
10
15
20
30
1.576*
2.766
1.687
1.752
2.53
2.655
2.655
2.354
2.354
2.178
2.354
2.178
2.178
2.354
2.354
2.354
2.354
2.289
2.053
2.655
2.655
2.178
2.354
1.354
1.863
1.562
1.576
2.451
2.354
2.655
2.053
2.053
1.752
2.053
2.053
2.053
1.752
2.178
2.354
2.053
2.289
1.752
2.655
2.354
2.053
2.354
1.354
1.562
1.05
1.576
1.672
2.177
2.655
1.576
1.576
1.208
1.576
1.15
1.451
1.053
2.177
1.275
1.208
1.687
1.275
2.479
1.451
1.15
1.576
0.592
0.626
0.065
1.012
1.316
1.15
0.94
0.94
0.712
0.09
0.41
0.088
0.411
0.754
0.034
0.444
0.712
0.017
0.017
0.357
0.488
0.017
0.017
1.099
0.017
0.017
0.841
0.0173
0.823
0.674
0.488
0.186
1.465*
1.164*
0.783*
0.548*
0.088*
2.164 2.465 2.767 2.465 2.289 2.164 1.562
1.21
0.386
1.863*
2
1.863*
4
1.687*
0.007*
0.007*
1.053
0.423*
0.368*
0.607
1.752
0.065*
0.007*
1.123
0.142
1.752
1.576
0.423*
Tabela 8: Valores de p para os valores de sensibilidade ao contraste espacial de luminância
do grupo exposto a mistura de solventes orgânicos quando comparados ao grupo controle em
cada uma das freqüências espaciais (cpg).
Frequência
p
0.2
0.5
0.8
1
2
4
6
10
15
20
30
>0,05 >0,05 >0,05 >0,05 >0,05 >0,05 >0,05 >0,05 >0,05 0.0011 0.0002
3
A
2.5
3
B
2.5
2
1.5
2
1.5
1
0.5
1
0.5
0
0.1
1
10
100
Frequência espacial de luminância (cpg)
Sensibilidade
ao contraste
10)
Sensibilidade
ao contraste (Log (Log
10)
Sensibilidade ao contraste (Log 10)
Sensibilidade
ao contraste (Log 10)
Sensibilidade
contraste (Log 10)(Log 10)
Sensibilidade
aoaocontraste
102
Freqüência espacial de luminância (cpg)
0
0.1
1
10
100
Frequência espacial de luminância (cpd)
Freqüência espacial de luminância (cpg)
3
C
2.5
2
Intervalo de Confiança (Controle)
1.5
Média e Desvio Padrão (Expostos)
1
0.5
0
0.1
1
10
100
Frequência espacial de luminância (cpg)
Freqüência espacial de luminância (cpg)
Figura 30: O gráfico da média de valores de sensibilidade ao contraste espacial de luminância
do grupo exposto de forma ocupacional a solventes orgânicos (representados por círculos)
comparado com o Intervalo de confiança do grupo controle (linhas tracejadas). Em A
representação para faixa etária de 16 a 30 anos. Em B representação para faixa etária de 31 a
45 anos. Em C representação para faixa etária de 46 a 60 anos.
103
3.4
DETERMINAÇÃO DA FUNÇÃO DA SENSIBILIDADE AO CONTRASTE
TEMPORAL DE LUMINÂNCIA
Foram avaliados 25 sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos com o protocolo para estimativa da função de sensibilidade ao contraste
espacial de luminância distribuídos em três faixas etárias, 12 sujeitos na faixa etária de 16 a
30 anos, 11 sujeitos na faixa etária de 31 a 45 anos e 2 sujeitos na faixa etária de 46 a 60 anos.
Foi encontrado que 2 (8%) sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos apresentaram pelo menos uma freqüência espacial de luminância abaixo
do limite inferior de tolerância do grupo controle de cada faixa etária. Destes sujeitos com
alterações, 1 era da faixa etária de 16 a 30 anos e teve a sensibilidade ao contraste temporal de
luminância diminuído nas freqüências de 0,5; 1 e 2 Hz e 1 sujeito era da faixa etária de 31 a
45 anos e teve a sensibilidade ao contraste temporal de luminância diminuído na freqüência
de 0,5 Hz (Tabela 9).
A média dos valores de sensibilidade ao contraste temporal de luminância do
grupo expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos estão dentro do
intervalo de confiança do grupo controle em todas as faixas etárias (Figura 31).
Não houve diferença estatística entre os valores de sensibilidade ao contraste
temporal de luminância do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos e o grupo controle, considerando α=0,05 (tabela 10). O coeficiente de
correlação de Pearson não mostra correlação estatística significativa entre o tempo de
exposição a misturas de solventes orgânicos e valores de sensibilidade ao contraste espacial
de luminância considerando = 0,05.
104
Tabela 9: Valores de sensibilidade ao contraste temporal de luminância em cada uma das
freqüências temporais estudadas (em Hz) dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional
a mistura de solventes orgânicos. * Representa valores fora do intervalo de tolerância do
grupo controle.
Sujeitos
Idade 0.5
1
DPX080410E 18 1.594* 1.628*
EJN070412E
25
1.862 1.929
EJS070321D
20
1.385 1.503
FSM080423D 28
1.804 2.008
GXA081119E 23
1.708 1.707
JCS081118D
28
2.106 1.929
JPS080707E
29
2.009 2.407
LCC090414E
23
1.862 1.93
MAP080625D 29
2.106 2.106
MAS081112D 31
1.708 1.708
MSB080417E 27
1.753 1.753
RCL080627E
23
2.106 2.106
ACC090325D 42 1.667* 1.628
JLM090407D
39
2.106 2.008
JMA080730D 34
1.93 1.929
JS080402E
37
1.629 1.561
JSM090317D
45
1.862 1.708
LOS070302E
44
1.804 1.862
MAS081112D 31
1.429 1.531
MJM090311E 35
1.753 1.862
PRO080626D 37
2.23 2.407
RCB081127E 31
1.753 1.708
RVM081111D 34
1.666 1.708
RJM070524D 47
1.929 2.009
CAS070518E
48
1.804 1.93
2
1.862*
1.929
1.628
1.929
1.667
2.009
2.23
2.009
2.106
1.708
1.93
2.106
1.708
2.009
2.23
1.561
1.862
1.804
1.666
2.009
2.106
2.009
1.666
1.804
1.862
4
2.009
2.106
2.009
2.009
1.862
2.106
2.23
2.106
2.106
2.007
2.23
2.106
1.862
2.009
2.106
1.708
1.929
1.929
1.804
2.106
2.407
2.106
1.561
2.106
2.009
8
2.106
2.009
1.93
2.009
1.93
2.106
2.407
2.106
2.23
2.009
2.23
2.407
1.93
2.009
2.106
1.863
2.009
2.009
1.863
2.009
2.23
2.106
1.753
2.23
2.106
16
1.804
1.594
1.667
1.708
1.667
1.93
1.929
1.862
1.93
1.753
1.93
1.862
1.594
1.862
1.804
1.531
1.862
1.407
1.407
1.708
1.929
1.708
1.452
2.106
1.862
32
1.429
1.365
1.327
1.429
1.365
1.628
1.594
1.452
1.503
1.452
1.531
1.429
1.309
1.452
1.628
1.245
1.407
1.327
1.176
1.429
1.629
1.452
1.216
1.385
1.429
Tabela 10: Valores de p para os valores de sensibilidade ao contraste temporal de luminância
do grupo exposto a mistura de solventes orgânicos comparados ao grupo controle em cada
uma das freqüências espaciais (Hz).
Frequência
p
0.5
>0,05
1
>0,05
2
>0,05
4
>0,05
8
>0,05
16
>0,05
32
>0,05
5
A
4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
0.1
1
10
100
Sensibilidade
ao contraste
10)
Sensibilidade
ao contraste (Log (Log
10)
Frequência temporal (Hz)
Freqüência temporal de luminância (cpg)
5
Sensibilidade
ao contraste
10)
Sensibilidade
ao contraste (Log (Log
10)
Sensibilidade
ao contraste
10)
Sensibilidade
ao contraste (Log(Log
10)
105
5
B
4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
0.1
1
10
100
Freqüência temporal (Hz)
Freqüência temporal de luminância (cpg)
C
4
3
Intervalo de Confiança (Controle)
2
Média e Desvio Padrão (Expostos)
1
0
0.1
1
10
100
Freqüencia temporal (Hz)
Freqüência temporal de luminância (cpg)
Figura 31: O gráfico da média de valores de sensibilidade ao contraste temporal de
luminância do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
(representados por círculos) comparado com o Intervalo de confiança do grupo controle
(linhas tracejadas). Em A representação para faixa etária de 16 a 30 anos. Em B representação
para faixa etária de 31 a 45 anos. Em C representação para faixa etária de 46 a 60 anos.
106
3.5
AVALIAÇÃO DE
CAMPO VISUAL ACROMÁTICO ATRAVÉS DE
PERIMETRIA ESTÁTICA DE HUMPHREY
Foram avaliados 21 sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos em três protocolos da perimetria estática de Humphrey, 12 sujeitos na
faixa etária de 16 a 30 anos, 8 sujeitos na faixa etária de 31 a 45 anos e 1 sujeito na faixa
etária de 46 a 60 anos.
Seis (28,57%) sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos apresentaram valores do limiar de sensibilidade acromático abaixo do
limite de tolerância inferior do grupo controle: 4 sujeitos da faixa etária de 16 a 30 anos
apresentaram esta diminuição da sensibilidade no anel de 200 a 300 de ângulo visual, sendo
que 1 desses sujeitos também apresentou diminuição da sensibilidade nos anéis de 300 a 450 e
de 450 a 60 0 de ângulo visual; 2 sujeitos na faixa etária de 31 a 45 anos apresentaram a
sensibilidade diminuída nos anéis de 30 0 a 450 e de 450 a 600 graus de ângulo visual sendo
que 1 desses sujeitos também apresentou a sensibilidade diminuída no anéis de 100 a 20 0 e de
20 0 a 30 0 graus de ângulo visual (Tabela 11). Oito (38,1%) sujeitos expostos de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos apresentaram valores de índices globais fora do
intervalo de tolerância do grupo controle: 3 sujeitos da faixa etária de 16 a 30 anos
apresentaram o valor do MD abaixo do limite de tolerância inferior do grupo controle no
protocolo central 30-2 sendo que entre esses 1 apresentou valor de PSD acima do limite de
tolerância superior do grupo controle e além desses, 1 sujeito apresentou somente o valor de
PSD acima do limite de tolerância superior do grupo controle; 2 sujeitos da faixa etária de 31
a 45 anos apresentaram o MD abaixo do limite de tolerância inferior do grupo controle no
protocolo central 10-2, 1 apresentou valor de PSD acima dos limite de tolerância superior do
grupo controle sendo que este também apresentou valor de MD abaixo do limite de tolerância
inferior do grupo controle no protocolo central 30-2 e 1 apresentou somente valores de PSD
107
do protocolo central 30-2 acima do limite de tolerância superior do grupo controle (Tabela
13).
Na faixa etária de 16 a 30 anos a média dos limiares de sensibilidade acromático
dos anéis concêntricos de 200 a 300 e de 300 a 450 de ângulo visual do grupo exposto de forma
crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos está fora do intervalo de confiança do
grupo controle. Na faixa etária de 31 a 45 anos a média dos limiares de sensibilidade
acromático dos anéis concêntricos de 100 a 200, de 200 a 300, de 300 a 450 e de 450 a 600 de
ângulo visual do grupo exposto a solventes orgânicos está fora do intervalo de confiança do
grupo controle. A média dos valores dos índices globais dos protocolos central 10-2 ficou fora
do intervalo de confiança do grupo controle na faixa etária de 31 a 45 anos e a média dos
valores dos índices globais dos protocolos central 30-2 ficou fora do intervalo de confiança do
grupo controle nas faixas etárias de 16 a 30 anos e de 31 a 45 (Figura 32). Os valores médios
de MD (-1,04±0,96; para os protocolos central 30-2 na faixa etária de 16 a 30 anos; 1,38±1,02 e -2,34±1,37, respectivamente para os protocolos central 10-2 e central 30-2 na
faixa etária de 31 a 45) ficaram abaixo do intervalo de confiança inferior do grupo controle e
os valores médios de PSD (2,01± 0, 38 para os protocolos central 30-2 na faixa etária de 16 a
30 anos ; 1,24±0,28 e 2,38±1,84, respectivamente para os protocolos central 10-2 e central 302 na faixa etária de 31 a 45) ficaram acima do limite de confiança superior do grupo controle
(Figura 33 e Figura 34).
Houve diferença estatística entre os valores do limiar de sensibilidade acromático
do grupo expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos e os valores
de limiar de sensibilidade acromático do grupo controle nos anéis de 100 a 200 e de 200 a 300
de ângulo visual, considerando α=0,05, os valores de p encontrados foram p=0,0259 e
p=0,0113 respectivamente (Tabela 13). No protocolo central 10-2 houve diferença estatística
entre os grupo exposto a solventes orgânicos e o grupo controle para os valores de PSD, o
108
valor de p encontrado foi p=0,0344. No protocolo central 30-2 houve diferença estatística
entre os grupo exposto a solventes orgânicos e o grupo controle para os valores de MD e PSD,
os valores de p encontrados foram p=0,0107 e p=0,0364, respectivamente (Tabela 14).
O coeficiente de correlação de Pearson mostra fraca correlação estatística
significativa entre o tempo de exposição a misturas de solventes orgânicos e valores de limiar
de sensibilidade acromática nos anéis de 00 a 3,3 0 e de 100 a 200 de ângulo visual,
considerando = 0,05, os valores do coeficiente de correlação de Pearson e p encontrados,
respectivamente, foram: R2= 0,2632; p=0,0173 e R2= 0,2229; p=0,0306 (Figura 35).
109
Tabela 11: Somatória dos valores de sensibilidade acromático dos anéis concêntricos do
campo visual estudado (em dB) de sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura
de solventes orgânicos. * Representa valores fora do intervalo de tolerância do grupo controle.
Paciente
EJN070412D
EJS070321D
FSM080423D
GXA081109E
LCC090414E
MAP080625D
MAS090318D
MSB080417E
RCL080627E
JCS081118D
PVM080626D
JPS080707E
ACC090325D
JLM080407D
JMA080630D
JS080402E
MAS081112D
MJM090311E
RCB081127E
RVM081111D
CAS070518E
Idade
28
20
28
29
23
29
28
27
23
28
21
29
42
39
34
37
31
35
31
34
48
3,30 3,30 - 6,60 6,60- 100
36.25
35.08
34.13
33.75
33.08
32.38
35.58
34.08
33.75
36
34.83
34.25
35.67
34.75
34.44
34.08
32.5
31.72
34.75
33.63
33.38
35
33.96
32.79
34.5
33.63
33.29
35.5
34.63
33.69
33.58
32.92
32.03
33.42
33.25
32.59
33.25
32.46
32.78
33.75
33.08
32.84
33.08
33
32.31
32.25
32.25
31.31
35.08
33.96
33.09
33.75
32.67
31.63
32.67
32.92
32.94
32
31
29.84
34.25
33.5
32.81
00-100 100-200 200-300
34
29.63 27.63*
32.75 29.25
26.25
33.75 29.88
28.78
32.92 29.92
28.95
34.92 30.46
28.78
32.17
28.5
29.08
33.92 30.25
30.5
32.33 29.42
27.7*
31
28.21
27.3*
34.08 31.04
29.48
31.92 28.92 28.15*
33.25 29.71
29.43
31.17 27.54
26.45
31.92 29.29
29.28
31.67 25.5* 21.15*
31.42 26.58
25.18
32.42 28.04
26.03
29.92
27.5
28.25
31.58 29.17
29.35
30.42 27.25
27.18
32.17 28.63
29.38
300-450
25.29
24.46
26.79
27.75
25.04
23.33
27.29
25.5
18.71*
27.67
24.58
28.08
24.71
27
15.79*
21.67*
25.54
27.04
27.25
23.96
26.33
450-600
20.25
17.78
19.64
22.92
18.64
18.97
19.64
19.83
14.61*
20.86
17.78
23.89
20.89
22.81
10.44*
12.67*
18.75
19.92
23.33
15.89
21.03
Tabela 12: Valores de p para os valores de sensibilidade acromático dos anéis concêntricos
do campo visual estudado (graus de ângulo visual) do grupo exposto a mistura de solventes
orgânicos quando comparados ao grupo controle.
Anéis
p
3,3
3,3 - 6,6 6,6 - 10
>0,05
>0,05
>0,05
0-10
>0,05
10-20
0.0259
20-30
0.0113
30-45
>0,05
45-60
>0,05
110
Tabela 13: Valores dos índices globais dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a
mistura de solventes orgânicos. MD 10-2= Desvio médio no protocolo central 10-2. PSD 102= Desvio padrão padronizado no protocolo central 10-2. MD 30-2 Desvio médio no
protocolo central 30-2. PSD 30-2= Desvio padrão padronizado no protocolo central 30-2. *
Representa valores fora do intervalo de tolerância do grupo controle.
Paciente
Idade MD 10-2 PSD 10-2 MD 30-2 PSD 30-2
EJN070412D
28
0.47
1.02
-0.8
2.67
EJS070321D
20
-1.73
1.05
-2.16*
2.64
FSM080423D 28
-0.19
1.16
-0.66
2,04
GXA081109E 29
0.06
1.03
-0.98
2.02
LCC090414E 23
0.13
1.07
-0.21
2.15
MAP080625D 29
-1.9
1.1
-1.47*
2.05
MAS090318D 28
-0.72
1.04
0.32
1.65
MSB080417E 27
-0.71
1.18
-1.37
2.06
RCL080627E 23
-1.07
1.1
-2.82*
1.97
JCS081118D
28
-0.03
1.02
0.23
1.8
PVM080626D 21
-2.09
1.14
-1.94*
1.54
JPS080707E
29
-1.37
1.51
-0.62
1.55
ACC090325D 42
-0.26
1.13
-1.98*
1.5
JLM080407D 39
-0.59
0.83
-0.4
1.38
JMA080630D 34
-1.43
1.6
-4.97*
6.71*
JS080402E
37
-2
1.42
-3.07*
2.75
MAS081112D 31
-0.39
0.93
-2.39*
2.45
MJM090311E 35
-1.59
1.58
-2.29*
1.65
RCB081127E 31
-1.36
1.23
-1.01
1.52
RVM081111D 34
-3.38*
1.19
-2.63*
1.07
CAS070518E 48
0.16
1.06
0.26
2.02
Tabela 14: Valores de p para os Indices Globais (IG) do grupo exposto a mistura de solventes
orgânicos quando comparados ao grupo controle.
IG MD 10-2 PSD 10-2 MD 30-2 PSD 30-2
p
>0,05
0.0344
0.0107
0.0364
111
40
A
Limiar
acromático (dB)
Limiar acromático (dB)
Limiar
acromático (dB)
Limiar acromático (dB)
40
35
30
25
20
15
10
5
B
35
30
25
20
15
10
5
0
0
0
10
20
30
40
50
60
Anéis concêntricos (graus de ângulo visual)
Anéis concêntricos (graus)
70
0
10
20
30
40
50
60
70
Anéis de concêntricos (graus de ângulo visual)
Anéis concêntricos (graus)
Intervalo de Confiança (Controle)
Média e Desvio Padrão (Expostos)
Figura 32: O gráfico da média de valores do limiar de sensibilidade acromático
em anéis concêntricos do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos (representados por círculos) comparado com o intervalo de confiança do grupo
controle (linhas tracejadas). Em A representação para faixa etária de 16 a 30 anos. Em B
representação para faixa etária de 31 a 45 anos. A faixa etária de 46 a 60 anos não está
representada nestes gráficos por apresentar somente um sujeito.
112
0.5
0
0.5
A
0
-0.5
Valor
deMDMD
Valor de
-0.5
Valor
MD
Valorde
de MD
B
-1
-1.5
-2
-2.5
-1
-1.5
-2
-2.5
-3
-3
-3.5
-3.5
-4
-4
Protocolo 10-2
Protocolo 10-2
Protocolo 30-2
Protocolo
30-2
Protocolo 10-2
Protocolo 10-2
Protocolo 30-2
Protocolo
30-2
Intervalo de Confiança (Controle)
Média e Desvio Padrão (Expostos)
Figura 33: O gráfico da média de valores de MD para os dois protocolos de avaliação central
(Protocolo 10-2 e 30-2) do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos (representados por círculos) comparado com o intervalo de confiança do
grupo controle (linhas tracejadas). Em A representação para faixa etária de 16 a 30 anos. Em
B representação para faixa etária de 31 a 45 anos. A faixa etária de 46 a 60 anos não está
representada nestes gráficos por apresentar somente um sujeito.
113
4.5
4.5
4
4
3.5
3.5
3
3
Valor de PSD
Valor de PSD
A
2.5
2
B
2.5
2
1.5
1.5
1
1
0.5
0.5
0
0
Protocolo 10-2
Protocolo 30-2
Protocolo 10-2
Protocolo 30-2
Figura 34: O gráfico da média de valores de PSD para os dois protocolos de avaliação central
(Protocolo 10-2 e 30-2) do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos (representados por círculos) comparado com o intervalo de confiança do
grupo controle (linhas tracejadas). Em A representação para faixa etária de 16 a 30 anos. Em
B representação para faixa etária de 31 a 45 anos. A faixa etária de 46 a 60 anos não está
representada nestes gráficos por apresentar somente um sujeito.
114
A
B
37
R² = 0.263
35
35
33
33
Limiar acromático (dB)
Limiar acromático (dB)
37
31
29
R² = 0.222
31
29
27
27
25
25
23
23
0
50
100
150
200
Tempo de exposição (meses)
250
300
0
50
100
150
200
250
300
Tempo de exposição (meses)
Figura 35: Gráfico da Correlação de Pearson para valores de limiar acromático do grupo
exposto de forma ocupacional a mistura de solventes orgânicos e o tempo de exposição em
meses. A linha vermelha revela a tendência dos valores. R2 significa o quadrado do
coeficiente de correlação de Pearson. (A) Representação para o anel de 00 a 3,30 graus de
ângulo visual. (B) Representação para o anel de 100 a 20 0 de ângulo visual.
115
4
DISCUSSÃO
Uma série de estudos mostra que a exposição a solventes orgânicos causa
distúrbios em diferentes funções do sistema nervoso no qual as funções visuais se revelam
bons “termômetros” do grau de intoxicação dos sujeitos expostos já que muitas vezes são as
primeiras funções a demonstrarem sofrimento com as agressões sofridas pela intoxicação
(ROSEN, 1965, BAELUM et al., 1982; HORAN et al., 1985, DICK et al., 2004;
PAALYSAHO et al., 2007). De forma geral o grande alvo dessas pesquisas é a exposição
ocupacional, principalmente de trabalhadores de fábricas, pintores, trabalhadores na área de
limpeza, pois apresentam uma séria e clara forma de exposição (MIKKELSEN, 1980;
SCHREIBER et al., 2002; BOECKELMANN E PFISTER, 2003; SEMPLE ET AL., 2007;
LEE AT AL, 2007). No entanto, a exposição ocupacional a solventes orgânicos abrange um
grupo muito maior e mais sutil de sujeitos expostos que trabalham em diversas atividades as
quais aparentemente são inofensivas, primeiro por não se saber o potencial intoxicante das
substâncias com as quais se trabalha, segundo devido a suposição de que a quantidade do
agente tóxico com o qual se trabalha é incapaz de provocar dano a saúde. É com atenção a
esse grupo de trabalhadores que este trabalho buscou, através de métodos psicofísicos,
técnicas de avaliação de diferentes parâmetros visuais que pudessem mostrar mesmo que
minuciosas alterações visuais em frentistas de postos de distribuição de combustíveis que
tecnicamente seguem as leis ambientais.
Dos 30 sujeitos recrutados expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos 1 foi excluído da amostra por ser daltônico.
O resultado mostra que 25 dos 29 (86,2%) sujeitos estudados expostos de forma
crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos através do trabalho com combustíveis
apresentaram algum tipo de alteração visual, seja na percepção de cor ou na percepção de
luminância.
116
4.1
EFETOS NA VISÃO CROMÁTICA
Análise do limiar de discriminação de cores obtido pelo método de Mollon-Reffin
foi feita com base no valor do círculo equivalente a área da elipse, que mostra a sensibilidade
do indivíduo a cores. A elipticidade e o ângulo de inclinação da elipse também foram
avaliados, mas somente quando o primeiro era alterado. Por considerar neste trabalho que se a
sensibilidade no limiar de cor é normal, torna-se desnecessário classificar se existe ou qual é a
tendência de erro para cor tendo em vista que é nosso objetivo classificar as alterações
encontradas e não a normalidade dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a
solventes orgânicos. Existem dados na literatura que sugerem a utilização de somente uma
elipse para avaliação do limiar de cor, no entanto existe discordância sobre qual seria a elipse
mais indicada para essa avaliação (GONÇALVES, 2006), por este motivo, as cinco elipses
foram adotadas para análise em conjunto neste trabalho, mesmo todas elas oferecendo dados
que permitem a avaliação dos três eixos de confusão de cor.
Os resultados mostram que 8 dos 17 dos sujeitos avaliados no teste de obtenção
do limiar de discriminação de cores pelo método de Mollon-Reffin apresentam diminuição da
sensibilidade a cor (Tabela 3). Destes, todos aparentavam tendência de erro a um determinado
eixo de confusão de cor (Tabela 4). Para avaliar qual possível eixo apresentava mais erros, os
valores de α dos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos foram comparados aos valores de α de sujeitos protan e deutan. Esta escolha foi
realizada devido estes sujeitos terem sido avaliados utilizando mesmos equipamentos,
programas e população que este trabalho. Esta comparação pode mostrar que se existia
tendência para eixos de confusão de cor nos sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a
mistura de solventes orgânicos, estas não se localizavam no eixo protan ou deutan, em outras
palavras, não eram localizadas no eixo verde-vermelho. Por não apresentarmos um grupo de
sujeitos com alteração específica somente no eixo tritan não se pode fazer a separação entre
117
grupo com alteração de cor do tipo difusa (perda de sensibilidade no eixo de confusão de cor
verde-vermelho e azul-amarelo) e grupo com alteração de cor do tipo tritan (tendência de erro
para eixo de oponência de cor azul-amarelo). Apesar disso, a análise visual do gráfico e a
consideração de todas as elipses para montagem do diagnóstico, permite-nos classificar os
sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos sem
alterações do tipo protan e deutan e com valores de erro maior que o limite de tolerância
superior do grupo controle como sujeitos com alteração de cor do tipo difusa.
Quando considerados enquanto grupo, os sujeitos expostos de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos não apresentam perda grave da sensibilidade a
cor, tendo em vista que a média dos valores do diâmetro do círculo equivalente a área da
elipse se encontra dentro do intervalo de confiança do grupo controle (Figura 28), no entanto,
existe diferença estatística entre o grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos e o grupo controle para os valores de diâmetro do círculo equivalente a
área da elipse de E1, E3 e E4, mostrando que o grupo exposto de forma crônica ocupacional a
mistura de solventes orgânicos mesmo não apresentando alterações clínicas claras apresenta
sensibilidade a cor diminuída em relação à população normal. Apesar de E3 e E5
apresentarem elipticidade maior que o normal e E2, E3 e E5 apresentarem valores de α
também diferentes do normal, quando pesquisadas, a alteração na visão de cor dos sujeitos
expostos não apresentou tendência clara a um eixo específico de confusão de cor.
A análise do ordenamento dos 100 matizes de Farnsworth-Munsell foi realizada
com base no valor de erro, obtido do reordenamento dos estímulos do teste e os valores dos
pontos médios superior, inferior, esquerdo e direito do gráfico polar resultante das respostas.
O valor de erro é uma variável inversamente proporcional a capacidade discriminativa do
indivíduo testado a cor, podendo indicar a sensibilidade cromática dos sujeitos testados. Os
valores dos pontos centrais representam a região do gráfico onde se localiza o valor médio de
118
erro, ele demonstra a tendência de erro em diferentes eixos de confusão de cor. Como já foi
mencionado em Material e Métodos, os parâmetros estudados no teste de ordenamento dos
100 matizes de Farnsworth-Munsell do grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura
de solventes orgânicos foram comparados a dados do grupo controle com visão normal e a
dados de sujeitos protan e deutan quando houve necessidade. Esta escolha foi realizada por
motivos já esclarecidos anteriormente.
A conversão do ponto central superior permitiu que o trabalho fosse desenvolvido
usando uma escala contínua de valores, evitando sobreposição de resultados unicamente por
artifícios matemáticos. Os pontos centrais superior* e inferior demonstram importância para a
distinção entre sujeitos normais e discromatópsicos (do tipo protan e deutan). O grupo
controle normal estudado teve tendência erro maior na direção do eixo de confusão tritan,
conforme é encontrado na literatura (DAIN, 2004). O eixo tritanópico tem orientação vertical
e é importante para sujeitos normais ou com formas de deficiência na visão de cor com
tendência de erro no eixo de oponência de cor azul-amarelo. Por não apresentarmos um grupo
de sujeitos com alteração específica no eixo tritan não se pode fazer a separação entre grupo
com alteração de cor do tipo difusa e grupo com alteração de cor do tipo tritan. Apesar disso,
a análise visual do gráfico polar de cada um dos sujeitos permite com certa tranqüilidade
classificarmos os sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes
orgânicos sem alterações do tipo protan e deutan e com valores de erro maior que o limite de
tolerância superior do grupo controle como sujeitos com alteração de cor do tipo difusa.
Os pontos médios esquerdo e direito são considerados importantes no estudo de
alterações no eixo verde e vermelho (protan e deutan), pois é nessa região que estão dispostos
os eixos de confusão de cor de oponência verde e vermelho. Considerando o ponto médio
esquerdo o grupo protan, deutan e normal apresentaram diferenças significativas em qualquer
associação feita, indicando a possibilidade de uso dessa variável como um fator de distinção
119
entre as alterações no eixo verde–vermelho (protan ou deutan), no entanto, na classificação
gerada a partir do ponto médio esquerdo ocorre sobreposição de dados entre os intervalos do
grupo deutan e protan, por isso para confirmação de um desses diagnósticos é necessário o
uso do ponto central direito.
Os pontos médios só foram analisados quando os valores de erro dos sujeitos
expostos de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos estavam acima do normal, pelos
mesmos motivos que já foram explicados. Os resultados mostram que 19 dos 26 sujeitos
avaliados no teste de ordenamento das 100 matizes de Farnsworth-Munsell apresentaram
diminuição da sensibilidade a cor (Tabela 5). Todas essas alterações podem ser classificadas
como difusas. Quando considerados enquanto grupo, os sujeitos expostos de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos apresentam nítida perda da sensibilidade a cor,
ocorrendo clara diferença estatística entre o grupo exposto de forma crônica ocupacional a
mistura de solventes orgânicos e o grupo controle (Figura 29). Quando os pontos médios
foram estudados, eles eram semelhantes aos do grupo controle, revelando uma perda difusa de
percepção de cor para os sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos.
É importante esclarecer nesta discussão que apesar deste trabalho ter utilizado
sujeitos com defeito na visão de cor hereditária do tipo protan e deutan para classificação da
perda de visão de cor, em nenhum momento se cogitou que a amostra de sujeitos expostos de
forma crônica ocupacional a solventes orgânicos apresentasse este tipo de alteração genética,
tendo em vista que todos os sujeitos testados já haviam passado por teste de triagem que
excluíam daltônicos da amostra. Os sujeitos protans e deutans serviram unicamente como
controle para alterações de cor com tendência de erro para o eixo de confusão de cor verdevermelho.
120
Na avaliação da capacidade de discriminação de cores observou-se que o teste de
ordenamento dos 100 matizes de Farnsworth-Munsell (FM-100) apresentou uma quantidade
maior de alterações na capacidade de discriminar cores que o teste de discriminação de cores
pelo método de Mollon-Reffin, estes dados estão de acordo com o que já vem descrito na
literatura onde o FM-100 aparece como um dos testes mais indicados para avaliação de visão
de cor de sujeitos expostos a solventes orgânicos (ou outras substâncias neurotóxicas) devido
sua alta sensibilidade a minuciosas alterações na visão de cor e confiabilidade dos resultados
(EGUCHI et al., 1995; ISSEVER et al., 2002).
Vários estudos já demonstraram que indivíduos expostos a solventes orgânicos
podem apresentar importantes déficits visuais, de maneira mais comum, alterações na visão
de cor (ROSEN, 1965; RAITTA et al., 1981; MERGLER et al., 1988; MERGLE et al., 1990;
GOBBA et al., 1992; CAMPAGNA et al., 1995, MULTTRAY, 1997; ZAVALIC et al., 1998;
DICK et al., 2000; CAMPAGNA et al., 2001; ISSEVER et al., 2002; SCHREIBER et al.,
2002). As alterações de cor geralmente reportam perda de sensibilidade inicialmente no eixo
azul-amarelo chegando secundariamente a alterações também no eixo verde-vermelho como
as alterações reportadas neste trabalho (RAITTA et al., 1981; MERGLER et al., 1988;
MERGLE et al., 1990; GOBBA et al., 1992; FALLAS et al., 1992; CAMPAGNA et al.,
1995; EGUCHI et al., 1995; MULTTRAY, 1997; ZAVALIC et al., 1998; DICK et al., 2000;
CAMPAGNA et al., 2001; ISSEVER et al., 2002; SCHREIBER et al., 2002; SCHAPER et
al., 2004; LEE et al., 2007; PAALYSAHO et al., 2007) O mecanismo exato de como esse
tipo de alteração visual é causada ainda não está completamente claro, mas já é bem
conhecida a propriedade lipofílica dos solventes orgânicos o que explicaria a preferência
desses solventes por tecidos como o do sistema nervoso e conseqüentemente o sistema visual,
tecidos ricos em lipídeos (ROSENBERG, 1989).
121
A discromatopsia adquirida pode resultar de alterações na estrutura ocular ou nas
vias neuronais. A perda de visão de cor que acontece com a idade pode ocorrer primariamente
devido a uma maior opacidade das lentes e secundariamente por uma degeneração macular
(POKORNY et al., 1979; BOWMAN, 1982). No entanto, este trabalho assim como outros
estudos com trabalhadores expostos a solventes orgânicos não apresenta relato de nenhuma
grande anomalia na estrutura ocular (MERGLER et al., 1987; PAALLISAHO et al., 2007),
estes achados suportam a idéia de que a perda de visão de cor associada a exposição a
solventes orgânicos resulta de mudanças no funcionamento neural das vias visuais
(MERGLER et al., 1987; PAALLISAHO et al., 2007). Estudos com ratos demonstram que a
ação do metanol no sistema visual, por exemplo, pode ser uma conseqüência da acumulação
seletiva de formato (um dos metabólitos do metanol) no humor vítreo e na retina comparado a
outras regiões do sistema nervoso central (EELLS, 1991). Tais dados estão de acordo com os
achados onde a retina e o nervo óptico são reportados como primeiros locais de lesão
provocada por formato em exposição a metanol (HAYREH et al., 1980) e existem, ainda,
evidências de degeneração da camada nuclear externa e camada de células ganglionares da
retina em macacos intoxicados por metanol (POTTS et al., 1955). Estes dados, em adição a
achados que serão discutidos mais adiante, sugerem que alterações no funcionamento da
retina podem ser uma das causas das alterações na visão de cor encontrada neste e em
inúmeros outros trabalhos que descrevem intoxicação por solventes orgânicos.
A localização cromática (diminuição da sensibilidade no eixo de confusão de cor
verde-vermelho e ou no eixo azul-amarelo) de discromatopsias adquiridas pode indicar qual a
área do dano neural. De acordo com Kollner (VERRIEST, 1964) a presença de diminuição da
sensibilidade a cor no eixo azul-amarelo reflete alterações nas camadas da retina externa,
enquanto a perda envolvendo o eixo verde-vermelho reflete alterações nas camadas da retina
interna ou do nervo óptico. Muttray e colaboradores (1997) reportam que a deficiência de cor
122
azul-amarelo em trabalhadores expostos a solventes orgânicos geralmente afeta as camadas da
retina externa.
A discromatopsia relatada na exposição a solventes orgânicos tem sido mais
especificamente atribuída a alterações maculares, dano nos fotorreceptores cones, células
ganglionares e desmielinização das fibras do nervo óptico por interferência dos solventes em
receptores lipídicos dessas células (RAITTA et al., 1978; SCHAUMBERG e SPENCER,
1978, RAITTA et al., 1981). É sugerido que a perda de sensibilidade se inicia com alterações
para o azul-amarelo e evolui para uma deficiência de visão de cor incluindo alterações para
verde-vermelho refletindo progressiva deterioração que se origina da retina externa até o
nervo óptico (BLAIN e MERGLER, 1986).
Além do exposto, os solventes orgânicos podem agir mais centralmente causando
alterações nas camadas corticais envolvidas no processamento visual. (RAITTA et al.,1978;
SCHAUMBERG e SPENCER, 1978; RAITTA et al., 1981; MERGLER et al., 1988;
MERIGAN, 1989; SCHILLER et al., 1990; MERIGAN et al., 1991).
No presente trabalho as discromatopsias foram do tipo difusas ou complexas,
definidas por perda da sensibilidade em ambos os eixos de confusão e cor (azul-amarelo e
verde-vermelho). Este tipo de perda de visão de cor geralmente acomete sujeitos com alta
exposição a solventes orgânicos (MERGLER e BLAIN, 1987; MERGLER et al., 1988).
4.2
EFEITOS NA VISÃO ACROMÁTICA
Treze dos 25 sujeitos testados no teste de determinação da função de sensibilidade
ao contraste espacial de luminância apresentaram clara diminuição da sensibilidade ao
contraste em freqüências baixas, médias e altas (Tabela 6). Mesmo os demais sujeitos não
apresentando alterações tão nítidas, na análise de grupos, o grupo exposto de forma crônica
ocupacional à mistura de solventes orgânicos apresenta em média valores de sensibilidade que
123
não pertencem ao grupo controle nas freqüências espaciais de 0,8; 4; 6; 10; 15, 20 e 30 cpg
(Figura 30) mostrando que mesmo os sujeitos considerados com sensibilidade ao contraste
espacial de luminância normal apresentam sensibilidade diminuída. Isto fica mais claro com a
comparação entre as médias de sensibilidade ao contraste espacial de luminância dos dois
grupos, o qual é revelado que o grupo exposto de forma crônica ocupacional a solventes
orgânicos apresenta sua média de sensibilidade ao contraste espacial de luminância
estatisticamente menor que a média do grupo controle nas freqüências mais altas (20 e 30
cpg), mesmo com cerca de metade dos sujeitos sem alterações clínicas graves.
Somente 2 dos 25 sujeitos testados no teste de determinação da função de
sensibilidade ao contraste temporal de luminância apresentaram diminuição da sensibilidade
ao contraste temporal, estas alterações ocorreram para as freqüências temporais mais baixas
(0,5, 1 e 2 Hz) (Tabela 7). Na análise de grupos, o grupo exposto de forma crônica
ocupacional a mistura de solventes orgânicos apresenta em média valores de sensibilidade
dentro do grupo controle em todas as freqüências temporais estudadas (Figura 31), com a
comparação entre as médias de sensibilidade ao contraste espacial de luminância dos dois
grupos é possível se observar que o grupo exposto de forma crônica ocupacional a solventes
orgânicos apresenta sua média de sensibilidade ao contraste temporal de luminância
estatisticamente igual a média do grupo controle em todas as frequências temporais estudadas,
o que mostra que alterações nas freqüências temporais de luminância não é uma característica
que se mantém para todo o grupo de exposição a solventes orgânicos.
Na literatura encontramos que baixa sensibilidade ao contraste espacial de
luminância em freqüências baixas e médias possivelmente reflete alterações neurais, como
tem sido sugerido para exposição a substâncias neurotóxicas como solventes orgânicos
(BOECKELMANN e PFISTER, 2003; JÄRVINEN e HYVARINEN, 1997). As alterações
nas freqüências mais altas são descritas como decorrentes de alterações ópticas
124
(BOECKELMANN e PFISTER, 2003; JÄRVINEN e HYVARINEN, 1997). No entanto neste
estudo os sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
passaram por avaliação clínica do olho onde se avaliou a estrutura óptica dos sujeitos além de
ter-se aferido a acuidade visual, e em ambas análises os sujeitos apresentaram resultados
normais. Este fato leva a crer que as alterações de sensibilidade ao contraste espacial de
luminância (tanto nas freqüências baixas e médias quanto nas freqüências mais altas) nos
sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos são
decorrentes de alterações neurais.
É importante notar que a medida da sensibilidade ao contraste espacial, no
presente trabalho, pode detectar alterações da visão espacial que a medida da acuidade visual
não foi capaz. Dados de diminuição da sensibilidade ao contraste espacial de luminância sem
alteração da acuidade visual dos sujeitos expostos a solventes orgânicos estão de acordo com
a literatura e são também encontrados em outros trabalhos com exposição a mistura de
solventes, percloroetileno, tetracloroetileno, trietilamina, (FRENETTE et al., 1991;
MERGLER et al., 1991; BROADWELL et al., 1995; CAMPAGNA et al., 1995; JARVINEN
e HYBARINEN, 1997; IREGREN et al., 2002; SCHREIBER et al., 2002; BOECKELMANN
e PFISTER, 2003; GONG et al., 2003).
A análise da avaliação do campo visual acromático através da perimetria estática
de Humphrey foi realizada com base nos valores de limiar acromáticos em diversos pontos do
campo visual, estes dados mostram a sensibilidade do sujeito nos diferentes locais do campo
visual. Também foram estudados os valores de MD, que é a média em dB de quanto o sujeito
testado se afastam dos valores de sensibilidade acromático dos dados normais de sujeitos
controle de mesma faixa etária presentes no banco de dados do equipamento e foram
estudados os valores de PSD, que é a mediada de pontos do campo visual que mostra a
irregularidade das respostas em cada ponto testado do campo visual medido do paciente
125
mostrando o quanto ele se afasta do normal em sujeitos controle de mesma faixa etária
provenientes do banco de dados do equipamento. É importante esclarecer que um MD baixo
indica perda de sensibilidade acromática no campo e um MD alto indica valores de
sensibilidade maiores que o normal, bem como um PSD baixo revela uma ilha de visão
achatada de forma homogênea e um PSD alto indica ilha de visão irregular. O campo visual
foi dividido em anéis de 00 a 3,30, de 3,30 a 6,6 0 e 6,60 a 100 graus de ângulo visual (protocolo
central 10-2), de 0 0 a 10 0, de 100 a 200 e 200 a 300 graus de ângulo visual (protocolo central 302), de 30 0 a 450, de 45 0 a 60 0 graus de ângulo visual (protocolo perifera 60-4) para ajudar a
localizar as possíveis alterações encontradas.
Seis dos 21 sujeitos que realizaram a avaliação do campo visual acromático
através da perimetria estática de Humphrey apresentaram diminuição do limiar acromático
nas regiões do campo visual superiores a 100 de ângulo visual, os valores de MD e PSD
caracterizam estas alterações por perda de campo não generalizada e ilha de visão irregular
(Tabela 8 e Tabela 9). A média dos valores do limiar acromático do grupo exposto de forma
crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos ficaram fora do intervalo de confiança
do grupo controle nos protocolos centrais 30-2 e 60-4, o que significa que em média, a
sensibilidade acromática é menor que a do grupo controle na região de 10 0 a 600 de ângulo
visual do campo visual (Figura 32). Existe diferença estatística entre o grupo exposto de
forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos e o controle para os valores de
limiar acromáticos nos anéis de 10 0 a 20 0 e de 20 0 a 300 ângulo visual do campo visual, esses
dados revelam que mesmo que a maioria dos sujeitos expostos não tenham apresentado grave
perda de campo visual, sua sensibilidade é mais baixa do que seria o normal na região que vai
de 100 a 30 0 graus de ângulo visual. Essa menor sensibilidade foi caracterizada por baixo
valor de MD e alto valor de PSD (Figura 33 e Figura 34), mostrando que uma perda de campo
não generalizada com ilha de visão irregular, o tipo de perda encontrada manteve limiar na
126
região da mácula normal (não foram observadas irregularidades no campo até 100 de ângulo
visual), assim como os limites do campo visual foram mantidos, mas ocorreu diminuição da
sensibilidade cromática em diversos pontos espalhados pelo campo visual. De forma geral se
observou uma constrição de campo visual onde os piores resultados se localizaram de 10 0 a
30 0 graus de ângulo visual.
Estes achados de alteração de campo visual são semelhantes ao encontrado na
literatura (YAMAMURA, 1969) e promovem um indício de neuropatia óptica já descrito para
metanol, estireno, tolueno, tricloroetileno e misturas (GRANT e SCHUMAN, 1993).
4.3
CARACTERÍSTICAS
DO
PROCESSAMENTO
VISUAL
PARA
OS
RESULTADOS OBTIDOS
Existem evidências de que as células da via parvocelular e magnocelular juntas
formem a grande maioria (provavelmente mais de 90%) da via retino-geniculado na fóvea de
primatas (MARTIN, 2004), e que o sinal cromático verde-vermelho na via anãs-parvocelular
parece ter uma dimensão de sinal visual adicional que também transmite sinal de altas
freqüências espaciais para o córtex visual (MARTIN, 2004). Neste arranjo do processamento
do sinal no sistema visual humano é sugerido que a diminuição da habilidade de discriminar
cor detectada nos sujeitos exposto de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos
testados neste estudo possivelmente indica dano nas vias parvocelular e koniocelular.
Em adição para o sinal cromático verde-vermelho, os neurônios da via
parvocelular respondem extremamente bem para altos contrastes de estímulos de freqüência
temporal baixa e freqüência espacial alta (MERIGAN et al., 1993). Desta forma, é razoável
supor que a possibilidade de lesões na via parvocelular, bem como lesões na matriz de
fotorreceptores poderia reduzir a sensibilidade ao contraste para estímulos de altas freqüências
127
espaciais e baixas freqüências temporais e diminuição do limiar acromático do campo visual
na região de 100 a 300 de ângulo visual.
Por estar baseada, em um provável modelo visual de multicanais (KAPLAN e
SHAPLEY, 1986; SILVEIRA, 1996), alterações na sensibilidade ao contraste de luminância
geralmente aparecem secundariamente a alterações na visão de cor e são mais difíceis de se
manifestar, explicando a menor proporção de sujeitos com alteração nas funções de
sensibilidade ao contraste de luminância que na sensibilidade a cor encontrados neste
trabalho. Este trabalho também demonstra que a função de sensibilidade ao contraste espacial
de luminância apresenta uma maior proporção de alterações que a função de sensibilidade ao
contraste temporal. Sugere-se que este acontecimento se deva, associado com o
comprometimento da visão de cores, ao fato de que a visão de cor e de contraste espacial de
luminância é mais dependente da via parvocelular que o processamento da informação
temporal, cuja principal via responsável pelo processamento é a via magnocelular (KAPLAN
e SHAPLEY, 1986; LEE et al., 1988; 1993). As respostas tônicas da via parvocelular podem
exigir um maior gasto metabólico da célula, tornando-as mais sensíveis ao estresse metabólico
causado pela presença de solventes orgânicos no organismo.
Estudos prévios em eletrorretinograma de animais experimentais evidenciam que
a exposição aguda ao tolueno e estireno afetam a onda c da resposta do eletrorretinograma
(SKOOG et al., 1981) e a exposição aguda a metanol afeta a onda b do eletrorretinograma e
causa alterações nos componentes P20 e N30 do potencial provocado visual (EELLS, 1991).
Estes dados apoiam a evidência também de que a exposição a solventes orgânicos causa
alterações desde estruturas na retina até regiões mais centrais do processamento da
informação visual.
Evidências de estudos de imagem com humanos mostraram que a percepção
cortical de cor vai além do córtex visual primário em múltiplas áreas de córtex
128
occiptotemporal ventral. Lesões vasculares localizadas bilateralmente que atingem córtex
occiptotemporal causam danos severos na habilidade de discriminar cores quando da
realização do FM-100, por exemplo. Portanto uma possível localização para danos causados
em sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos, além da
retina e das vias paralelas de processamento visual, sejam estas áreas seletivas para cor no
córtex, não necessariamente córtex visual primário (BEAUCHAMP et al., 1999).
4.4.
CARACTERÍSTICAS DA EXPOSIÇÃO
O presente trabalho mostra fraca correlação entre o tempo de exposição aos
solventes e sensibilidade acromática na região central do campo visual até 3,30 e na região de
10 0 a 200 de ângulo visual (Figura 35).
A concentração de solventes orgânicos ou metabólicos no organismo exposto não
necessariamente está relacionada a tempo de exposição, sabe-se da existência de genes que
codificam enzimas responsáveis pelo metabolismo dos solventes orgânicos e que o
polimorfismo modifica absorção e o risco de efeitos neurotóxicos entre os indivíduos
(SÖDERKVIST et al., 1996). Fatores de suscetibilidade incluindo idade e diferenças inter
individuais no padrão de absorção a solventes orgânicos estão envolvidos no metabolismo e
processos compensatórios o que explica, também, a diferença de resultados entre os sujeitos
expostos a mistura de solventes orgânicos (SCHREIBER et al., 2002).
É importante ressaltar que este trabalho mostra alterações visuais em sujeitos
expostos de forma crônica ocupacional a misturas de solventes orgânicos observada em uma
ambiente de trabalho dentro dos padrões legais exigidos para exposição ocupacional,
sugerindo que estes padrões estão inadequados para proteção da função visual dos
trabalhadores, dados semelhantes são também apresentados em outros trabalhos com mistura
129
de solventes orgânicos, estireno, percloroetileno e benzeno (MUTTRAY et al., 1997;
GOBBA, 2000; ISSEVER et al., 2002).
Estes achados se tornam ainda mais relevantes considerando o fato de que um dos
desafios no estudo neurotoxicologia está em poder identificar alterações neurofisiológicas em
trabalhadores expostos antes de danos sérios e irreversíveis no sistema nervoso. Os achados
de alteração visuais, principalmente na visão de cor estão associados a déficit cognitivo
(DICK et al., 2004), encefalopatias (PÄÄLLYSAHO et al., 2007), e em muitos casos a
deficiência na visão de cor pode representar o primeiro sinal de uma neuropatia ótica
(ROSEN, 1965) e danos no sistema nervoso periférico pois pode ser detectada antes de
desabilidade funcional (GRANT, 1980). Motivo também que possibilita a visão ser um
importante marcador de neurointoxicação por solventes e torna mais graves os achados nos
sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos.
130
5
CONCLUSÃO
25 dos 29 (86,2%) sujeitos expostos de forma crônica ocupacional a mistura de
solventes orgânicos estudados neste trabalho apresentaram algum tipo de alteração visual
adquirida, seja na visão de cor ou na visão de luminância.
O grupo de sujeitos exposto de forma crônica ocupacional a solventes orgânicos
apresenta diminuição da sensibilidade à cor nos dois eixos de confusão e cor: azul-amarelo e
verde-vermelho, diminuição da sensibilidade ao contraste espacial de luminância nas
freqüências mais altas e diminuição da sensibilidade acromáticas nas regiões de campo visual
que vão de 10 0 a 300 de ângulo visual, estas alteração de campo caracterizam-se por uma ilha
de visão irregular. Não se encontrou diferença estatística entre a média de sensibilidade ao
contraste temporal de luminância do grupo exposto de forma crônica ocupacional a solventes
orgânicos e o grupo controle.
Os resultados de avaliação de cor mostram que o teste de ordenamento dos 100
matizes de Farnsworth-Munsell é mais sensível a alterações de cor que o teste de
discriminação de limiares de cor pelo método de Mollon-Reffin.
O pior desempenho dos indivíduos expostos a solventes foi na avaliação da sua
visão de cor. Apesar da porcentagem de indivíduos com visão de cor afetada ser maior que a
de indivíduos com alterações de campo, os resultados apresentaram grande diferença
estatística entre o grupo exposto a mistura de solventes orgânicos e o grupo controle.
Houve correlação significante entre tempo de exposição a mistura de solventes
orgânicos e a sensibilidade acromática na região central até 3,3 0 de ângulo visual e de 10 0 a
20 0 de ângulo visual.
O grupo exposto de forma crônica ocupacional a mistura de solventes orgânicos
trabalhava em ambiente que seguia a fiscalização exigida pelos parâmetros legais em vigor,
131
sugerindo que estes parâmetros estão inadequados para proteção da função visual dos
trabalhadores.
Os resultados do presente trabalho mostram que a exposição ocupacional a
solventes orgânicos em frentistas de postos de distribuição de combustíveis causam
diminuição da sensibilidade ao contraste de luminância, perda de campo visual e alterações
sérias na visão de cor. Nossos resultados sugerem que essa investigação seja ampliada para
um grupo maior de indivíduos e que a avaliação visual usada neste trabalho seja empregada
para monitorar o estado de saúde desses indivíduos e também de outros trabalhadores da
escala produtiva de combustível.
132
6
PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA ORIGINADA GERADA A PARTIR
DESTA DISSERTAÇÃO
Este trabalho gerou as seguintes publicações:
1
LACERDA, E.M.C.B.; LIMA, M.G.; SOUZA, G.S.; RODRIGUES, A.R.;
TEIXEIRA, C.E.C.; VENTURA, D.F.; SILVEIRA, L.C.L. Avaliação psicofísica de pessoas
expostas de modo crônico ocupacional a solventes orgânicos: sensibilidade ao contraste
espacial e temporal de luminância, discriminação de cores e perimetria estática de humphrey.
I Congresso IBRO / LARC de Neurociências da América Latina, Caribe e Península
Ibérica, Búzios, Rio de Janeiro. Anais. No do programa D.03.047. 2008.
2
LACERDA, E.M.C.B.; LIMA, M.G.; VENTURA, D.F.; SILVEIRA, L.C.L.
Avaliação de campo visual através da perimetria estática de humphrey em sujeitos expostos
ocupacionalmente a solventes orgânicos. Resumos da XXIV Reunião Anual da Federação
de Sociedades de Biologia Experimental, Águas de Lindóia, São Paulo CD-ROM. No do
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Neurotoxicidade dos solventes orgânicos. Neurociências, v. 5, p. 165-173, 2009.
133
D.03.047
AVALIAÇÃO PSICOFÍSICA DE PESSOAS EXPOSTAS DE MODO CRÔNICO OCUPACIONAL A
SOLVENTES ORGÂNICOS: SENSIBILIDADE AO CONTRASTE ESPACIAL E TEMPORAL DE
LUMINÂNCIA, DISCRIMINAÇÃO DE CORES E PERIMETRIA ESTÁTICA DE HUMPHREY
Lacerda, E.M.C.B.1; Lima, M. G.1; Souza, G. S.1; Rodrigues, A. R.1; Teixeira, C. E. C.1; Ventura, D.
F.2; Silveira, L. C. L.3 - 1Universidade Federal do Pará - Instituto de Ciências Biológicas; 2USP –
Instituto de Psicologia; 3Universidade Federal do Pará - Núcleo de Medicina Tropical
Objetivo: Investigar as repercussões visuais causadas pela exposição ocupacional crônica a
solventes orgânicos em frentistas (28±11,8 anos de idade) de postos de distribuição de combustível
(54,6±74,5 meses de trabalho).
Métodos: Foram estudadas a função de sensibilidade ao contraste espacial (FSCE) e temporal
(FSCT) de luminância (n=10), a discriminação de matizes pelo teste de Farnsworth-Munsell 100 (FM–
100) (n=11) e a perimetria estática de Humphrey (PEH) (n=4). Os resultados de cada frentista foram
comparados com intervalos de tolerância de sujeitos controles (FSCE, FSCT, FM-100) ou à análise
Statpac do PEH. O teste-t (α=0,05) foi realizado para comparar o grupo de frentistas e o grupo
controle e o índice de correlação linear de Pearson para tempo de exposição ou idade no
desempenho dos testes.
Resultados: FSCE: o grupo de frentistas teve sensibilidade ao contraste espacial de luminância
diminuída em 30 cpg. Cinco sujeitos tiveram sensibilidade ao contraste diminuída em pelo menos
uma freqüência espacial. FSCT: o grupo de frentistas teve diminuição sensibilidade ao contraste
temporal de luminância diminuída em 2 Hz. Quatro sujeitos apresentaram sensibilidade ao contraste
diminuída em pelo menos uma freqüência temporal. FM–100: o grupo de frentistas apresentou
valores de erro maiores que sujeitos normais. Oito sujeitos obtiveram valores de erros acima dos de
referência. Nenhuma correlação foi observada entre tempo de exposição ou idade com o
desempenho nos testes (p > 0,05). Não houve alteração nos resultados do protocolo 10-2 da PEH.
No protocolo 30-2 da PEH, os defeitos de profundidade médios foram de 1,32±1,21 no campo
temporal superior, 1,82±1,17 no campo temporal inferior, 0,84±0,75 no campo nasal superior e
1,17±0,75 no campo nasal inferior. No protocolo 60-4 da PEH, os defeitos de profundidade médios
foram de 0,6±1,34 no campo temporal superior, 1,2±0,84 no campo temporal inferior, 3±4,51 no
campo nasal superior e 5±4,36 no campo nasal inferior.
Conclusão: O grupo de frentistas apresentou comprometimento na discriminação de matizes e pouco
comprometimento da visão de contraste de luminância. Os campos visuais periférico nasal e central
temporal foram os mais comprometidos.
Palavras-Chave: Intoxicação por solventes, psicofísica visual, contraste espacial, contraste temporal,
visão de cores, perimetria
Apoio Financeiro: CAPES, CNPq, CNPq / FUNTEC PRONEX, FINEP-IBN Net
I IBRO/LARC CONGRESS OF NEUROSCIENCES OF LATIN AMERICA, CARIBBEAN AND IBERIAN PENINSULA
September 1-4, 2008, Búzios, RJ, Brazil
877
134
XXIV
Reunião
Anual
da
FeSBEResumoID:2326-1
Área: Visão / Oftalmologia
AVALIAÇÃO DE CAMPO VISUAL ATRAVÉS DA PERIMETRIA ESTÁTICA DE HUMPHREY EM
SUJEITOS EXPOSTOS OCUPACIONALMENTE A SOLVENTES ORGANICOS
Eliza Maria da Costa Brito Lacerda (UFPA); Monica Gomes Lima (UFPA); Dora Fix Ventura (USP);
Luiz Carlos de Lima Silveira (UFPA)
Resumo
OBJETIVOS:
Objetivo: Avaliar o campo visual através da perimetria estática de Humphrey em sujeitos expostos
ocupacionalmente
a
solventes
orgânicos.
MÉTODO:
Material e Métodos: 20 frentistas (31,9±7,7 anos de idade) de postos de distribuição de combustível realizaram
o teste monocular de perimetria estática de Humphrey. Protocolos central 10-2 (SITA-Fast), central 30-2 (SITAStandard) e periferia 60-4 (SITA-Standard); Threshold Test; Estímulo III White; iluminação de fundo 31,5 Asb.
RESULTADOS:
Resultados: Um sujeito foi excluído do protocolo 30-2 e um sujeito foi excluído do protocolo 60-4 por não
apresentarem bons índices de confiabilidades. Protocolo 10-2. 6 frentistas apresentaram Mean Deviation (MD)
com p<10% (média= -2,2±0,6 dB) e 5 frentistas apresentaram Pattern Standard Deviation (PSD) com p<10%
(média 1,5±0,08 dB). 18 frentistas apresentaram pelo menos um ponto do gráfico de Desvio Padrão com
diferença estatística em relação ao grupo controle (p<5%), média -3,3±0,5 dB no campo superior esquerdo e
profundidade do defeito média de 0 dB; -3,9±1,2 dB e 6±1 dB no campo superior direito; -3,9±1,2 dB e 5±1 dB
no campo inferior esquerdo; -3,8±0,8 dB e 6±1 dB no campo inferior direito. Protocolo 30-2. 8 frentistas
apresentaram MD com p<10% (média -2,9±1,1 dB) e 3 frentistas apresentaram PSD com p<10% (média
4,3±2,2 dB). 17 sujeitos apresentaram pelo menos um ponto do gráfico de Desvio Padrão com diferença
estatística em relação ao grupo controle (p<5%), média -7,3±3,2 dB no campo superior esquerdo e
profundidade do defeito média de 8,3±3,1 dB; -6,8±3,9 dB e 7,7±4,1 dB no campo superior direito; -8,5±5,5 dB
e 9±5,3 dB no campo inferior esquerdo; -7,3±3,6 dB e 7,7±3,5 dB. Protocolo 60-4. 18 frentistas apresentaram
pelo menos um ponto alterado no gráfico de profundidade do defeito (p<5%), média 9,4±4,2 dB no campo
superior esquerdo; 9,1±4,3 dB no campo superior direito; 10,5±5,3 dB no campo inferior esquerdo; 9,8±5,4 dB
no
campo
inferior
direito.
CONCLUSÃO:
Conclusão: 95% dos sujeitos expostos ocupacionalmente a solventes orgânicos apresentaram diminuição nos
limiares de sensibilidade em todo campo visual. Os valores de MD indicam perda de sensibilidade em partes do
campo visual concordando com o PSD que mostra uma ilha de visão irregular. Tais resultados estão de acordo
com estudos de sensibilidade ao contraste que mostram perda sensibilidade em sujeitos expostos a misturas de
solventes orgânicos (Boeckelmann e Pfister, J. Occup. Environ. Med. 45: 25, 2003; Mergler et al.,Toxicol. 49:
341, 1988).
135
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169
187 VENTURA, D.F.; SILVEIRA, L.C.; NISHI, M.; COSTA, M.F.; GUALTIERI, M.; DOS
SANTOS, R.M.A.; PINTO, C.T.; MOURA, A.L.A.; RODRIGUES, A.R.;
SAKURADA, C.; SAUMA, M.F.L.C.; DE SOUZA, J.M. Color vision loss in
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188 VIAENE, M.; VERMEIR, G.; GODDERIS, L. Sleep disturbances and occupational
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189. VIANNA, N. S.; GONÇALVES, J. S. Iluminação e Arquitetura. VIANNA, N. S.;
GONÇALVES, J. S (Eds). São Paulo, Brasil: Virtus S/c Ltda, 2001.
190 VON HELMHOLTZ, H. Handbuch der Physiologischen Optik. Voss: Hamburg and
Leipzig, 1867.
191 WANI, J.S.; MIR, M.S.; NASTI, A.R. Automated Perimetry-- Interpreting the Data. v.
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192 WALSH, T.J. Visual fields: examination and interpretation. American Academy of
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195 YAMAMURA, Y. N-hexane polyneuropathy. Folia Psychiatrica et Neurologica
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196 YOUNG, T. The Bakerian lecture: On the theory of light and colours. Philosophical
Transaction of Royal Society London, v. 92, p. 12-48, 1802.
170
197 ZAVALIC, M.; MANDIC, R.; TURK, R.; BOGADI-SARE, A.; PLAVEC, D.; GOMZI,
M.; SKENDER, L.J. Assessment of colour vision impairment in male workers
exposed to toluene generally above occupational exposure limits. Occupational
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198 ZEKI, S. Colour coding in the cerebral cortex. The reaction of cells in monkey visual
cortex to wavelengths and colour . Neuroscience, v. 9, p. 741-756, 1983.
171
ANEXO 1
172
APÊNDICE 1
TERMO DE LIVRE CONSENTIMENTO
Universidade Federal do Pará
Centro de Ciências Biológicas
Núcleo de Medicina Tropical
Laboratório de Neurofisiologia Tropical
Termo de Consentimento
Título do Projeto: Perdas Sensoriais Causadas Pela Intoxicação por Solventes: Estudos
psicofísicos, neuropsicológicos e neurofisiológicos.
Responsável: Professor Doutor Luiz Carlos de Lima Silveira.
A visão é uma função muito importante na vida de cada pessoa, por isso os
problemas na visão podem atrapalhar várias atividades do dia-a-dia, além disso, podem atingir
outras atividades relacionadas à memória, atenção e comando dos movimentos.
Estes problemas podem ser causados por fatores genéticos (aqueles com os quais
a pessoa já nasce); por doenças como diabetes, pressão alta; por causa de alguns remédios; ou
ainda, por causa de contaminação por mercúrio, zinco, agrotóxicos, solventes, etc.
Para verificar como está a visão de cada pessoa, existem exames que avaliam
como cada um vê o mundo, e ainda, como o cérebro dessa pessoa funciona quando ela está
vendo as coisas no seu dia. Estes exames não são invasivos (ou seja, não têm nada
relacionado a cortes, injeções, colheita de sangue; nada desse tipo!). este laboratório realiza
este tipo de teste.
O objetivo deste trabalho é pesquisar quais as conseqüências causadas por
doenças no sistema visual do ser humano. Os testes serão de avaliação psicofísica e métodos
comuns na rotina das consultas de visão.
Será realizada uma avaliação de voluntários que sejam frentistas de postos de
gasolina expostos aos solventes orgânicos presentes nos combustíveis.
Todos estes exames serão explicados detalhadamente antes de sua realização e
conforme a pessoa a ser testada apresente dúvidas durante ou após os testes.
Os exames serão realizados colocando a pessoa sentada a frente de um
computador que mostra figuras. A resposta do paciente é registrada com a pessoa
respondendo se vê ou não.
O possível desconforto do projeto para a pessoa que será testada está em ela ter
que comparecer em média três vezes no local do teste para realizar todos os exames
psicofísicos necessários e ainda fazer a consulta com o oftalmologista (médico que cuida da
visão), isto pode ser difícil por exigir transporte e ausência no trabalho.
173
Para diminuir estes problemas garantimos o valor em dinheiro para o transporte,
conforme a pessoa tenha necessidade, e atestado médico para justificar as possíveis faltas.
Os benefícios para a pessoa que participará voluntariamente da pesquisa é que ela
terá uma avaliação visual completa e acompanhada por um médico.
Para a ciência, o benefício será o de ter conhecimento da ação do solvente na
visão e no sistema nervoso.
Deixamos claro que as pessoas testadas serão voluntárias (ou seja, não receberão
dinheiro, que não seja para transporte, e nem serão obrigadas a participar da pesquisa) e
poderão desistir em qualquer parte do processo de avaliação visual.
Esclarecemos que todos os dados dos pacientes serão usados em uma pesquisa
que servirá para a melhoria de métodos de diagnóstico de doenças que acometem o ser
humano.
Garantimos a privacidade e o anonimato das pessoas testadas no uso dos dados na
pesquisa científica.
Diante do que foi esclarecido à pessoa a ser testada, esta declara que
concorda participar dos testes, e assina o termo de consentimento.
Belém,
de
de
.
_________________________________
174
APÊNCIDE 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE MEDICINA TROPICAL
LABORATÓRIO NEUROLOGIA TROPICAL
Av. Generalíssimo Deodoro, 92 – Belém/PA
Anamnese
1 Dados de Identificação
Código:
Procedência –
Nome:
Sexo: F( ) M( )
Idade:
anos
Cor: Branco ( ) Pardo ( ) Negro ( ) Índio ( )
Amarelo ( )
Estado Civil : Solteiro ( )
Divorciado ( )
Casado ( )
Viúvo ( )
Residência atual:
Residência anterior:
Escolaridade:
2 Histórico
Profissão atual:
Tempo de exposição por semana (horas):
Tempo de trabalho:
Tipo de material com que trabalha:
Uso de EPI: Não ( ) Máscara de proteção ( ) Outros
Profissão anterior:
Dificuldade em discriminar cores: sim ( )
não ( ) (S.I.C)
Familiares com problemas em discriminar cores: sim ( )
Doenças oculares (antecedentes pessoais e familiares):
Doenças neurológicas:
Medicamentos em uso:
3 Doenças da fase adulta e infantil
4 Observações
não ( )
Fone:
175
APÊNDICE 3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE MEDICINA TROPICAL
LABORATÓRIO NEUROLOGIA TROPICAL
Av. Generalíssimo Deodoro, 92 – Belém/PA
Teste das Lâminas Pseudoisocromáticas de Ishihara
Tabela 1 – Planilha para acompanhamento do teste de Ishihara
Placa Normal
Discriminação
Resposta do Sujeito
Deficiente
Ausente
D
1
12
12
12
2
8
3
X
3
6
5
X
4
29
70
X
5
57
35
X
6
5
2
X
7
3
5
X
8
15
17
X
9
74
21
X
10
2
X
X
11
6
X
X
12
97
X
X
13
45
X
X
14
5
X
X
15
7
X
X
16
16
X
X
17
73
X
X
18
X
5
X
19
X
2
X
20
X
45
X
21
X
73
X
Protan
Deutan
grave leve
grave
leve
22
26
6
(2) 6
2
(2) 6
X
23
42
2
(4) 2
4
(4) 2
X
24
35
5
(3) 5
3
(3) 5
X
25
96
6
(9) 6
9
(9) 6
X
Conclusão:
Acuidade Visual (Optotipos de Snellen – 6 metros):
OD:
OE:
E
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Eliza Maria da Costa Brito Lacerda