ÜCB b/Q^ VXH^A Jornal Informativo da Fraternidade Povo da Rua - São Paulo - Mar/Abr 2001 - N9 3 ü povo prachü da raíorsíiü wrbüsíí m A implantação do projeto neoliberal, que coloca a economia brasileira a serviço dos interesses norte-americanos, tem avançado no Brasil. Sob o comando do FMI e do Banco Mundial, o governo federal adota políticas de corte de gastos na área social para o pagamento da dívida externa, de privilégios concedidos às multinacionais com a diminuição do controle do Estado sobre a econuiiila, de supitüiiudu do capital financeiro etc, produzindo o crescimento da miséria e da exploração dos trabalhadores. Os reflexos dessa política, contrária ao povo brasileiro, salta aos olhos na cidade de São Paulo, sendo suficiente um rápido passeio pelas ruas e avenidas para detectar que o número de pessoas sem teto/sem nada aumenta na mesma medida em que o desemprego cresce e os salários diminuem. Hoje existe no país um mínimo de 74,4 milhões de sem teto e muitos milhões de desempregados. A diferença entre a vida da elite e a dos trabalhadores é assustadora e visível na divisão territorial da cidade. O solo é ocupado de forma desordenada, seguindo os interesses econômicos da classe dominante e não os interesses coletivos. As famílias dos trabalhadores são aglomeradas nas periferias, favelas, cortiços, albergues e ruas da cidade, sobrevivendo em péssimas condições e sem estrutura urbana. Suas casas muitas vezes não têm instalação adequada de água, esgoto ou luz elétrica. Não há coleta de lixo ou pavimentação. Os serviços públicos de saúde, educação e transporte são precários, além de faltar opções de lazer. A poluição e a destruição ambiental, por sua vez, são enormes, havendo poucas árvores e muitos córregos cheios de esgoto e detritos industriais. Enquanto isso, a classe dominante mora em bairros bemestruturados, com grandes parques, rede de transporte, coleta de lixo, segurança particular... A especulação imobiliária e a diminuição dos salários têm contribuído para o afastamento dos pobres para as áreas mais periféricas, criando um verdadeiro apartheid social e econômico. Os trabalhadores vivem sufocados pela miséria e pela falta de alternativas, sem conseguir desenvolver suas potencialidades, manter relacionamentos saudáveis e progredir. A degradação do ser humano caminha a passos largos, concretizandose em violência gratuita, uso de drogas e o cultivo de valores destrutivos como individualismo, competição, desamor. Em resposta, o Poder Público atua de forma limitada, esquecendo-se da complexidade dos problemas urbanos. O caos da periferia é tratado como simples problema habitacional, e sua solução se restringe a projetos de financiamentos de moradia subordinados aos interesses das grandes empreiteiras. O povo tem que se contentar com apartamentos semelhantes a caixas de fósforos, prestações sem fim, altos juros e a eterna ameaça de despejo. Essa é a reforma urbana de mercado, que trata as necessidades do povo como um meio de se ganhar dinheiro e deixa à margem da discussão a falta de trabalho. escola, saúde, áreas de lazer, alimentação saudável, enfim, a falta de dignidade. Na contramão, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) busca uma reforma urbana que organize o espaço, fortalecendo a regulamentação do uso do solo, a partir da utilização de áreas vazias que não cumpram sua função social e da cobrança do IPTU progressivo. Acreditamos que a redistribuição demográfica da população é essencial para transformarmos a cidade na medida em que há inúmeras terras ociosas e rurais próximas à cidade. A luta pela reforma urbana começa pela conquista dos assentamentos "rururbanos", transformando tanto a. vida das pessoas quanto a própria cidade. É dessa proposta que falamos nesta edição, com a esperança de que seja um marco de uma nova vida na cidade. Naveen Manikkompel 1 ? O QUE E ASSENTAMENTO Fraternidade Povo da Rua Fraternidade Povo da Rua Mõc^ Terra/ "Quem/ quiser retgatcw H^O/dX^vxldade/ tem/ que/ partir para/ a/ lata/, lutar em/ grupo-, ye/ unir, lotar." Ao acariciar os seios da ferra, preparando para fecundação. Ao deixá-la ansiosa, à espera para acontecer a nova fecundação, a noite chega, a chuva cai, a terra estremece e salta ansiosa. Cresce com os beijos da chuva. Lentamente umedece suas entranhas. A terra se abre e penetra a semente. Já sabe, tem vida. Em teu ventre. Ah, mamãe! estou grávida. Oh! estou grávida. Sem medo de sentir, pois foi fecundada. Cresce sem demora o seu fruto. Espera, já chega a hora do parto, a colheita. E o fruto éseu filho. Será a comida e não deixará seus filhos passarem fome, pois serve de alimento para nós. Nos mantém vivos. Por isso é que devemos nos unir para cuidar de você, mamãe. Prometo cuidar de você. Pois você é tudo que eu tenho. Te adoro, terra em que eu nasci. Assembléia de Formação no Brás No começo de abril, aconteceu a Assembléia de Formação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) na capital paulista, reunindo cerca de 80 pessoas no Centro de Formação do Movimento dos Sem-Terra (MST) - Brás. O tema principal do encontro foi a proposta de "Assentamentos Rururbanos" (ler matéria ao lado), acolhida pela maioria dos participantes como uma solução concreta para sérios problemas sociais como moradia, trabalho, saúde e qualidade de vida. Em seguida, o Coletivo de Saúde do MST expôs os trabalhos desenvolvidos em prol da saúde dentro dos acampamentos e assentamentos rurais. O grupo também combateu a atual política pública de Saúde, implantada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a liberação dos alimentos transgénicos. Patrícia S. Oias Centro de Formação do MST - Brás Por último, foi apresentado o tema "Revolução Cultural", incluindo a discussão da educação, da escola pública e da intervenção da elite globalizada na cultura popular. Ilustração: Valfran hJettc*/ luto/ ctbe^içcrcuicL/ ocyvwforçoy e/ oorcu^m/ prcmeguÁr noi^Jorncula/! yj EXPEDIENTE O jornal Srito Pela Vida é uma publicação bimestral da Fraternidade Povo da Rua, com o apoio da Inspetoria Salesiana de São Paulo. Tiragem: 10 mil exemplares. Distribuição gratuita. Redação: Immaculada Lopez Diagramação: Cloves Reis Costa Colaboração: Juliana Ribeiro Fotollto e impressão: SALE CIAMOS nspetoria Salesiana > São Paulo Direção da Fraternidade Povo da Rua: Antonia Alaires Farias Gomes, Célia Roberfa de Souza Araújo, Diocene de Oliveira Francisco, João Gonçalves Moreira, João Sebastião Makuédia, José Luiz de Lima, Luciana Bedeschi, Luciana Maria de Lima, Ir. Maria Itikawa, Maria Telina de Paula Sarmento, Ir. Rosely Maria Paini, Pe. Naveen Manikkompel FRATERNIDADE POVO DA RUA Rua Campos Sales, 88 03041-090 - Brás São Paulo - SP Fone: (11) 3277-3276 E-mail: po vodarua@aol. com A proposta de assentamento rururbano visa construir uma organização comunitária em grandes áreas de terra que não estejam cumprindo sua função social na região metropolitana das grandes cidades. Ela será conquistada com a efetiva participação popular e visa criar condições para que os direitos básicos das pessoas sejam garantidos: Moradia - A terra será dividida em lotes para que cada pessoa ou família possa construir sua casa e ter um lugar digno para morar. Comida - Parte da terra será destinada à plantação e criação de animais, sempre visando uma alimentação saudável para todos. Trabalho - O direito ao trabalho será assegurado pela formação de cooperativas, garantindo renda e autonomia para todos os moradores. Saúde - Além de um posto de saúde para atendimento básico e emergencial, será cultivada um horta medicinal coletiva. Educação - Haverá uma escola para as crianças, como também para os jovens e adultos que quiserem continuar estudando. Lazer e Cultura - Será construído um centro comunitário de lazer e cultura e uma quadra de esportes, onde todos possam se reunir, praticar esportes, fazer festas... A idéia de assentamentos rururbanos está sendo defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, conhecido pela sigla MTST. Seu objetivo é reunir e organizar todas as pessoas interessadas em discutir as necessidades do povo de rua, a reforma urbana e os caminhos para a conquista de seus direitos. Continuamente esses assuntos são debatidos na Fraternidade Povo da Rua, e mais de 200 pessoas já se cadastraram para participar do MTST. Elas estão dispostas a lutar para conquistar na região metropolitana seu direito à moradia, trabalho, educação, saúde e alimentação saudável. Ao mesmo tempo que os adultos participam de reuniões semanais, as crianças da Casa do Pequeno Cidadão também participam de uma conversa mais crítica e aberta sobre a realidade urbana, seus problemas e soluções. Todas as conquistas serão fruto de um trabalho coletivo e um espírito de solidariedade. Serão incentivados os valores de partilha e união, acreditando nas pessoas e na sua capacidade de construir uma comunidade diferente, para que os assentamentos sejam a semente de uma nova sociedade. "Quando- vcunoypor a/ mãct na/ WWLMO/?" "Nestas simples linhas queremos parabenizar o segundo número do Grito Pela Vida pelas belíssimas reportagens, especialmente o perfil estatístico, que nos dá um parâmetro para o trabalho, e o emocionante depoimento do companheiro Itamar. Que ele possa ser o espelho para o outro, pois pessoas como ele de decisões firmes (como parar de beber) contribuem e muito para o estímulo de outra a mudarem também. Parabéns especial ao Itamar e ã toda equipe do Grito Pela Vida." Professor Caliba Jornal Grito Pela Vida JJ "A am4£ruçú& dfr cxywuAnld^^ Francisco Luís Barbosa v_ Rua Professor Batista de Andrade, 224 Brás - São Paulo -SP-CEP 03041-020 Telefone: (11) 3313-0379 E-mail: [email protected] -\3 L)CÜS3 Quem tem direito â Previdência Social? Outro benefício possível é o Benefício da Assistência Continuada, previsto na Constituição Federal, destinado a idosos e deficientes físicos que nunca contribuíram para a Previdência Social. Este benefício pode ser estendido à pessoa com Aids, não segurada do INSS, desde que esteja em estado bastante crítico da doença, seja considerada incapaz para o trabalho e não conte com nenhum outro benefício ou renda. Neste caso, ele é equiparada ao deficiente físico. Para requerer qualquer um dos três benefícios acima, a pessoa, segurada ou não da Previdência Social, deve procurar o posto de benefícios mais próximo à sua residência. Deve levar seus documentos pessoais, carteira de trabalho, comprovante de residência, exame positivo para o HIV e laudo médico. De qualquer maneira, em todos os casos, é a perícia médica indicada pela Previdência Social quem determina a capacidade ou incapacidade para o trabalho, a concessão ou não do benefício requerido. Luciana Bedeschi, advogada da Fraternidade Povo da Rua õ Se tiver qualquer dúvida, procure o plantão jurídico da Fraternidade Povo da Rua, Rua Campos Sales, 88 - Brás. rro Mais de 300 pessoas participaram do encontro de formação com o Frei Betfo, que falou sobre "A Luta Social e a Mística nos Movimentos Populares". Os portadores de HIV e as pessoas com Aids têm direitos previdenciários regulamentados pela Lei 7.670/88. Esta lei prevê o auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez para o segurado da Previdência Social e o saque do FGTS e PIS para a pessoa em tratamento médico comprovado. Para conseguir o auxílio doença ou a aposentadoria por invalidez, é preciso que a pessoa esteja com Aids e seja segurada da Previdência Social. Isto quer dizer que se ela não estiver empregada com registro em carteira profissional deverá ter sido há pelo menos um ano. Caso contrário, não é considerada segurada e não tem direito ao auxílio ou aposentadoria. ?te\ O administrações populares, que é a prática do que buscamos. Para Frei Betto, quem está fora dessas esferas não está dentro da luta. E o processo de mudança no país passa necessariamente pelo trabalho nessas cinco esferas. OS "MIUTONTOS" Ainda falando nas esferas de atuação do militante. Frei Betto Frei Betto, assessor dos movimentos populares observou que muitas pessoas se gabam por fazerem parte de muitas - até de No último dia 3 de março, todas - as esferas. Para Betto, estas mais de 300 pessoas, entre pessoas não são militantes, mas os freqüentadores da "militontos", por atrapalharem a Fraternidade Povo da Rua e militantes caminhada, tirando muitas vezes o de mais de 70 grupos organizados de lugar de outro participante. E, por direitos humanos, se encontraram no desgaste, com o acúmulo de Centro de Formação do MST, para junto tarefas, que nem sempre fazem a com o escritor e frade dominicano Frei contento, acabam abandonando Betto, refletirem sobre a Luta Social e a completamente a luta. Mística nos Movimentos Populares. A causa deste erro é, na sua Em sua exposição. Frei Betto fez opinião, o de não trabalharmos a um resgate histórico dos tempos da mística da militãncia. Estamos em ditadura até os dias de hoje, formação permanente, tendo classificando a militãncia das pessoas sempre que nos adequar às novas comprometidas com os interesses do conjunturas. Por isso, temos que povo em cinco esferas de atuação: os nos qualificar naquilo que fazemos, movimentos pastorais (especialmente verificando em qual das esferas as comunidades eclesiais de base iremos, de fato, atuar e levando CEBs); os movimentos populares; vários aspectos em consideração. movimento sindical, novos partidos políticos; e administração popular. DIMENSÕES DE LUTA Frei Betto lembrou que a porta da entrada para a luta social foram as CEBs e que, a partir delas que se iniciou a militãncia de muitos companheiros e companheiras, que tinham no Novo Jeito de Ser Igreja, a sua bandeira de luta e de evangelização, com o método VER - JULGAR - AGIR. As demais esferas começaram a aparecer a partir do momento em que a militãncia foi extrapolando as paredes da Igreja, para recuperar a obra do Criador, que quer saúde, educação, trabalho e moradia digna para todos. Daí surgiram os movimentos populares para lutar pela melhoria das condições de vida, o movimento sindical, pela melhoria das condições de trabalho; os partidos políticos, para a elaboração de um projeto social e, finalmente, as PONTOS DE REFLEXÃO Primeiro, temos que considerar a nossa prática, pois não há formação sem prática. É a participação que nos forma. Segundo: a reflexão, pois não existe ação transformadora individual, mas só comunitária. Terceiro: o equilíbrio entre a vida social, militãncia e convivência familiar. Não podemos fazer da luta uma fuga de outras instâncias de nossas vidas. Quarto: a espiritualidade, que é aquilo que somos em nosso íntimo e que deixamos transparecer na luta. É isto, na verdade, que nos dá força para olhar o mundo - não com os olhos do sistema - mas com os olhos de Deus. Frei Betto finalizou alertando que neste momento em o Brasil passa por crise política, com a iminência de um racha entre os partidos que compõem o governo federal (PSDB - PFL - PMDB), nós temos que tomar alguns cuidados. Não podemos desacelerar a militãncia nos movimentos populares pensando no que vai acontecer em 2002 e precisamos intensificar a solidariedade entre as cinco esferas, sendo inconcebível, por exemplo, que um movimento faça uma manifestação sem que outros participem. Mais de 300 pessoas participaram do encontro. No destaque, José Rainha Júnior, do MST João Carlos Comes