Problemas do Idoso: Novas Respostas
Estenose da Válvula
Válvula Aórtica
Aórtica
Dr. Rui Teles
O maior avanço da cardiologia da última década.
A reparação das válvulas do coração recorrendo à implantação de
próteses aórticas
aórticas por cateterismo.
Caso real: Operar o meu coração aos 79 anos.
Quando me diagnosticaram que uma válvula do meu coração estava
entupida e não havia outra solução senão repará-la fiquei assustado. Há
mais de dez anos haviam realizado uma cirurgia cardíaca com bypass
para ultrapassar entupimentos coronários que me apareceram sob a
forma de um peso enorme no peito. Tinha melhorado muito do cansaço
mesmo tendo que tomar cinco comprimidos por dia. Também já me
tinha colocado um stent numa artéria do pescoço pois tinha ali um
aperto crítico que arriscava provocar uma trombose cerebral.
Mas agora era diferente! Tinham que me reoperar. O risco era
considerável mas o cansaço surgia muito forte e provocava-me outra
vez aquela impressão no peito. Felizmente o meu médico lembrou-se
que talvez já houvesse uma alternativa. Enviou-me para o Hospital de
Santa Cruz. Falaram-se na possibilidade de reparar a válvula através de
um procedimento inovador com um corte de 6 mm na virilha. Não
hesitei, apesar de saber que fui uma das primeiras 100 doentes a ser
tratada em Portugal por este novo método.
Correu bastante bem. Fiz o procedimento e no próprio dia estive à
conversa com a família. No dia seguinte já andava pois não tinha dores.
Após uma semana regressei a casa. Um ano depois a vida é basicamente
como qualquer outra pessoa que tenha 80 anos.
O que é a estenose aórtica?
Um em cada 15 Portugueses com mais de 80 anos apresentam estenose
da válvula aórtica. Trata-se de um aperto desta válvula cuja função é
evitar que o sangue bombeado pelo coração volte para trás. Quando
está apertada o sangue passa com dificuldade.
Que problemas provoca o aperto da válvula?
O cansaço, a dor no peito e os desmaios são os sintomas mais
frequentes. As melhorias produzidas pelos medicamentos são limitadas
e sobretudo não evitam as complicações mais graves provocadas pela
claudicação cardíaca que, após os primeiros sintomas e nos apertos de
alto grau, conduz à morte de metade dos doentes no primeiro ano.
Como aparece este aperto?
A maioria das vezes trata-se de um processo degenerativo, que surge
após os 70 anos com o envelhecimento. Em algumas pessoas, mais
jovens, a válvula aperta em consequência de defeitos a nascença ou
após infecções bacterianas graves com atingimento cardíaco.
Como se trata uma estenose aórtica?
A única solução é a reparação da válvula com uma prótese que vai
substituir aquela que esta a funcionar mal. Um terço
terço dos doentes não
chega a ser operado pois consideraconsidera-se que o risco operatório é
excessivo.
Até agora a cirurgia cardíaca convencional era a única solução. Exige
abrir o esterno e requer circulação sanguínea artificial durante a
substituição valvular sob anestesia profunda. Demora quatro horas e a
recuperação prolonga-se após a alta ate aos 2 meses ou mais.
Cateter transportador da válvula aórtica percutânea ainda recolhida no seu interior
Válvula aórtica percutânea no início da sua libertação
Qual a inovação de que se fala?
Por um orifício muito pequeno, através da própria circulação do doente,
consegue-se posicionar uma prótese valvular no local da que estava
entupida e retomar o funcionamento normal do coração. Pode ser
realizado por via transfemoral (virilha) ou por via transapical (pequena
incisão sob a mama). Demora hora e meia e pode fazer-se quase sem
anestesia, com uma recuperação em apenas duas semanas. É preciso
tomar a medicação habitual e incluir aspirina e clopidogrel durante seis
meses.
Válvula aórtica percutânea implantada no coração através de cateterismo.
Porque não este novo tratamento para todos?
Talvez no futuro. Actualmente a questão essencial é que ainda não se
sabe exactamente como se comportam, daqui a dez anos, estas novas
válvulas que, como as convencionais, são feitas com uma membrana
altamente tratada do coração bovino ou porcino.
Trataram-se até hoje por este método inovador cerca de 10.000
doentes em todo o mundo. Têm sido seleccionados os doentes mais
graves ou até inoperáveis. Na maioria dos centros os resultados são
muito bons, com complicações duas ou três vezes menores que na
cirurgia convencional, embora ainda surjam complicações graves em
10% dos casos.
Qual o panorama português?
O centro com experiência mais vasta é o Serviço de Cardiologia do
Hospital de Santa Cruz, do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Em
2008 desenvolveu com o Serviço de Cirurgia Cardíaca um programa
multidisciplinar dedicado ao tratamento por cateterismo que passou a
incluir, alem da válvula mitral, esta nova tecnologia para a válvula
aórtica.
Esta técnica iniciou-se, em Portugal, em 2007 no Centro Hospitalar de
Vila Nova de Gaia. Mais recentemente outros centros em Lisboa e no
Porto iniciaram ou estão prestes a lançar esta técnica.
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Rui Teles - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE