A LEITURA FAZENDO A DIFERENÇA À PRODUÇÃO TEXTUAL ORAL E ESCRITA NA EJA LINCK, Ieda Márcia Donati1; FOGLIATTO, Naira2; LIMA, Márcia2. Palavras chave: Construção. Motivação. Oralidade. Conhecimento. Introdução O domínio da língua oral e escrita é fundamental para a participação afetiva do sujeito na sociedade em que se insere, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso às informações, expressa e defende seu ponto de vista, partilha ou constrói visões de mundo e produz conhecimento. Nessa perspectiva, este texto discute um projeto de ensino desenvolvido com o objetivo de oportunizar situações capazes de desenvolver a reflexão, a análise e a produção textual nos educandos, a fim de melhorar os seus conhecimentos, valorizando as produções em sala de aula, mesmo que simples e iniciais. Este texto apresenta uma prática realizada durante o Estágio em Língua Portuguesa na Totalidade T3 e T4, modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma Escola Municipal de Cruz Alta/RS. Nele, foi trabalhado a percepção e a capacidade de entendimento das leituras previstas e das produções textuais, tendo como base textos diversos, criativos, acessíveis e envolventes. Para o desenvolvimento do projeto foram feitas observações para diagnosticar quais seriam as deficiências e as possibilidades da turma. Contatou-se muito desinteresse pela disciplina de Língua Portuguesa. Diante dessa situação, procuramos realizar um trabalho diferenciado para motivar e despertar o gosto pela leitura, e incentivar ao alunos à produção textual. Acreditamos, pois, que “o meio social é muito importante para assimilação cognitiva e o aluno só alcança a acomodação, ou seja, a fixação do conteúdo se estiver motivado, interessado verdadeiramente na aula, quer por motivos profissionais, quer por motivos pessoais” (PIAGET, 1995, p. 27). 1 Docente da Unicruz. Doutoranda em Linguística- UFSM. Mestre em Educação. Mestre em Linguística. Pesquisadora do GPEHP/Unicruz e do Corpus/UFSM. Email: [email protected] 2 Acadêmicas do sexto semestre de Letras Parfor/ Unicruz. Isso mostra que o professor deve considerar a vivência de cada aluno, seu conhecimento construído por conta de sua história de vida. Considerar a caminhada do aluno EJA para que ele fale, expresse seus sentimentos, opiniões melhorando sensivelmente a produção de texto, tanto oral como escrito. Em relação ao ensino-aprendizagem, é papel do professor a formação de leitores que sejam também capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e ortograficamente bem escritos. O ambiente da sala de aula deverá ser agradável, buscando sentimentos de respeito entre educandos e professores. Para podermos fazer a diferença, temos de estudar muito sobre o ensino de língua, em especial as diferenças entre a língua falada e a escrita. Elas são coisas diferentes. Precisamos nos convencer de que a questão não é falar certo ou errado, não é apenas uma questão da correção da forma, mas de sua adequação do uso, da utilização eficaz da língua, e que falar bem é falar adequadamente, é produzir efeito, é comunicar-se. Para Bagno (2001. p, 219), é preciso “levar o aluno a refletir a língua que fala, conhecer melhor essa língua, que constitui parte essencial de sua identidade para que se comunique consigo mesmo e com os outros e para conhecer o mundo” . Nessa perspectiva, cabe ao professor estimular nos alunos o desejo de ler, para que ele, partir dessa leitura, consiga ampliar sua visão de mundo. Métodos e Metodologias No projeto de Língua Portuguesa realizado na EJA, inicialmente foi aplicado um questionário preliminar para conhecer melhor cada aluno, suas experiências de vida; depois fizemos um relatório das observações e por último aplicamos o projeto com atividades diversificadas, com diferentes gêneros textuais. Dessa forma, a interação, o gosto do aluno com o estudo e a produção textual na língua portuguesa, foi o objetivo que norteou o nosso planejamento inicial. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais está posto que “eleger a língua oral como conteúdo escolar e exige o planejamento da ação pedagógica de forma a garantir, na sala de aula, atividades sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua” (BRASIL, 1998, p. 49). Ao repensar o ensino de Língua na EJA, a partir do diagnóstico feito, buscamos diferenciadas formas para incentivar os alunos a melhorarem a leitura, e sanar as limitações percebidas nas produções escritas, inclusive na ortografia, bem como encontrar um meio de atraí-los em sua dispersão e desinteresse nas aulas de português. Percebemos a necessidade de planejarmos aulas criativas, divertidas nas quais todos os alunos pudessem participar, demonstrando interesse. Assim, trabalhamos com dinâmicas variadas para que os alunos interagissem, e as aulas tornassem mais prazerosas. Procurou-se trabalhar com filmes em forma de documentário, notícias de jornal, poemas, textos diversificados, gravações, declamações, debates, muita leitura e produção textual. Pelos resultados obtidos, uma coisa é certa: o objetivo das aulas não deve apenas ser o de repassar informações, mas tornar o aluno capaz de interpretar os diferentes textos que circulam socialmente, de ele assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações. Devemos construir o conhecimento, pois de acordo com Orlandi (1986, p.17): O homem procura dominar o mundo em que vive. Uma forma de ele ter esse domínio é o conhecimento. Esse é um dos motivos pelos quais ele procura explicar tudo o que existe. Ao procurar explicar a linguagem, o homem está procurando explicar algo que lhe é próprio e que é parte necessária de seu mundo e da sua convivência com os outros seres humanos. Então, para que a aprendizagem aconteça, o professor deverá planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno, diante da mediação do sujeito e objeto. Resultados e Discussões O professor deve planejar aulas que despertem o interesse dos alunos, sendo isso fundamental para haver ensino-aprendizagem. O principal objetivo deste trabalho foi justamente isso: o desenvolvimento da leitura, escrita, discussões onde pudessem expor suas opiniões, partindo para a realização das produções textuais. Devemos mostrar a importância do hábito de ler para os alunos, a fim de ampliar sua visão de mundo, pois é através do domínio da leitura e da escrita que eles aprenderão as outras disciplinas. E mais, a leitura e a escrita aproximam o ser humano das práticas sociais, proporcionando a troca de saberes, sendo um instrumento importante na comunicação e no relacionamento entre pessoas. É a leitura que instiga o aluno a falar mais, a argumentar. Com o desenvolvimento das oficinas, constatamos o crescente interesse dos educandos pelas atividades. Estabelecemos com eles uma relação de confiança por meio da qual se mostrou o quanto à leitura e a escrita são importantes. Discutimos a questão de que progredir não significa apenas adquirir novos conhecimentos, mas repensar suas atitudes em relação ao aprendizado que buscam. A relevância do trabalho desenvolvido está em mostrar que o professor da EJA, como todos os demais, tem o dever de aguçar o desejo de seus alunos em estudar, pois muitos deles ainda não descobriram a importância de concluir seus estudos, como forma de exercer a sua cidadania e perceber-se que cada um é sujeito no contexto social. Como educadores devemos considerar que todos aprendem, mas que o tempo e a forma de cada um é diferentes, e que estudar é a grande oportunidade de melhorar sua qualidade de vida. Conclusão A escola é uma instituição que deve proporcionar um espaço de interação entre professores e alunos para aquisição de ensino-aprendizagem. Isso porque, “a educação de jovens e adultos requer do educador conhecimento específico no que diz respeito ao conteúdo, metodologias, avaliação, atendimento para trabalhar com essa clientela heterogenia e tão diversificada culturalmente” (ARBACHE, 2001, p.19). Ou seja, a questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido. A eficácia educacional, independente da modalidade, depende do professor e da sua prática pedagógica cotidiana. Por isso, precisamos nos preparar muito para cumprirmos com nossa missão. No mínimo, devemos apostar de forma séria, ética e comprometida na educação de jovens e adultos, pois isso é dar oportunidade igual para todos no exercício da cidadania. Isso fará a diferença na formação de pessoas críticas e criativas. Referências Bibliográficas BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa: 4ºed. São Paulo: Parábola, 2004. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1985. GOMES, Maria Lúcia de Castro. Metodologia do Ensino se Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 2009. KATO, Mary. No mundo da escrita. Uma perspectiva sociolinguística. São Paulo: Cortez, 2005. ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1986. BRASIL. PCNs Língua Portuguesa - Ensino Fundamental Brasil. Secretaria de Educação. Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa 3º e 4º ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998. PIAGET, Jean. Epistemologia Genética: São Paulo: Abril Cultural, 1978.