EFEITOS DE SUCOS DE FRUTAS SOBRE A DUREZA DO ESMALTE DE
DENTES BOVINOS.
Ana Flavia Machado Fahd1
Universidade Federal de Uberlândia - Av. Dr. Laerte Vieira Gonçalves n 842 - apto 102.
Bairro Santa Mônica. Uberlândia Minas Gerais. CEP: 38408-174.
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Evonete Maria de Oliveira Marra2
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Carla Silva Siqueira1
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Marila Rezende Azevedo2
Universidade Federal de Uberlândia – Rua tabajaras 201, Vigilato Pereira. Uberlândia –
M.G. Cep: 38408-408; [email protected]
Resumo: O presente trabalho objetivou avaliar a microdureza do esmalte de dentes
bovinos submetidos à ação de diferentes tipos de sucos de frutas: Abacaxi, Cajú, Maracujá
e Uva. Foram utilizados 45 dentes, divididos aleatoriamente em 9 grupos com 5 dentes
cada, de acordo com os seguintes tratamentos: sucos diluídos com água e adoçados com
adoçante dietético ou com açúcar e controle Os espécimes foram imersos nos diferentes
tipos de sucos, de acordo com condições acima descritas por durante 5 minutos, 3 vezes ao
dia, por 7 dias e armazenados água deionizada e submetidos a análise de microdureza em
Microdurômetro FM 700 – Future- Tech-Japan. Os testes foram realizados por meio da
aplicação de uma carga de 50g por 15 segundos, em cinco pontos, selecionados
aleatoriamente, na superfície do corpo de prova, por meio de um Indentador Knoop.
Observou-se que os sucos de Uva e de Cajú apresentaram menor média de dureza do
esmalte quando utilizou-se o adoçante dietético (19,14 e 40,11 Kg/mm2, respectivamente ).
No grupo adoçado com açúcar a menor média de dureza foi obtida pelo suco de Maracujá
(25,79 Kg/mm2) que apresentou diferença estatisticamente significante às apresentadas
pelos sucos de Cajú (58,58 Kg/mm2) e de Abacaxi (43,51Kg/mm2). Os sucos de Maracujá e
de Uva apresentaram médias de dureza do esmalte semelhantes (25,79 e 36,84 Kg/mm2,
respectivamente). No grupo adoçado com adoçante dietético a menor média de dureza foi
obtida pelo suco de Uva (19,14 Kg/mm2), seguido pelo de Maracujá (21,57Kg/mm2), sendo
que ambos apresentaram médias de dureza do esmalte semelhantes. A dureza do esmalte
submetido ao suco de Uva foi menor estatisticamente às apresentadas pelos sucos de
Abacaxi (39,25 Kg/mm2) e de Cajú (40,11 Kg/mm2). Todos os sucos apresentaram menor
valor de pH quando foram adoçados com adoçante dietético (Uva:1,2; Maracujá:1,5;
Abacaxi: 2,1; Cajú: 2,9), quando os valores foram comparados com açúcar (Uva:2,3;
Maracujá:2,5; Abacaxi: 2,7; Cajú: 3,4). Concluiu-se, portanto, que todos os sucos
contribuíram para a dissolução do esmalte, uma vez que os valores de dureza foram
menores, estatisticamente ao apresentado pelo esmalte não exposto a sucos (140,55
Kg/mm2). Os sucos apresentaram a mesma tendência, com relação ao pH,
independentemente do tipo de agente adoçante utilizado, ou seja, o suco de Uva apresentou
menor valor, seguido pelo de Maracujá, Abacaxi e Cajú. O pH dos sucos, influenciado
pela adição de agentes adoçantes principalmente o adoçante dietético, exerce uma
influência significativa sobre a dureza do esmalte, reduzindo-a, significativamente.
Palavras – Chaves : Microdureza; Esmalte; Sucos; Açúcar; Adoçante.
1- INTRODUÇÃO
A ingestão de sucos de frutas industrializados ou não, tem sido motivo de
preocupação pelos pesquisadores e profissionais da área da Odontologia, haja vista as
conseqüências que podem advir desse hábito. Observa-se uma tendência da substituição da
água por sucos de frutas e ou refrigerantes na dieta dos indivíduos de diferentes faixas
etárias, devendo-se alertar aos pais e aos cuidadores sobre os perigos destas bebidas sobre a
dentição (SMITH; SHAW, 1987; TOUMBA; DUGALL, 1999; CAVALCANTI et al.,
2006). Gonçalves e Celaro relataram que as gestantes ingerem em média de um a três copos
suco por semana. Mais de 50% das gestantes consomem sucos industrializados.
Os sucos de frutas são apreciados pela população do mundo inteiro (PINHEIRO et
al. 2006 ). No ano de 2003, foram consumidos, no Brasil, 2,2 bilhões de litros de sucos e,
deste valor 579 mil L foram de sucos integrais. Os sucos de maior preferência de consumo
foram o de Cajú - 51% e o de Maracujá - 24% (ESTRELA, 2004).
Lopes et al. (2005) ao avaliarem a dieta de acordo com os grupos de alimentos e
freqüência de consumo diário, semanal e esporádico, observaram que uma elevada
porcentagem de pacientes consomem diariamente alimentos com potencial cariogênico,
como sucos adoçados (76,1%) e refrigerantes (49,2%). Os sucos de frutas apresentam,
geralmente, elevado conteúdo de açúcar natural, em cuja composição destaca-se
principalmente a glicose, a frutose, várias pentoses e as pectinas (GONZALEZ; ZEPKA,
2005). Os sucos cítricos podem ser potencialmente danosos ao esmalte, em função dos
níveis de citrato ou ácido cítrico que apresentam, ou seja, quanto maior o nível de citrato,
maior é a queda de pH da placa. (DUKE; MOLYNEUX; JACKSON, 1988).
No Brasil, geralmente, não existem critérios para a administração sucos para as
crianças, adolescentes ou adultos, preparados in natura, no domicílio ou industrializados.
Isto se torna mais preocupante quando leva-se em conta relatos como o de Johanson et al.
(2001), que a alta ingestão de sucos e frutas ácidas por crianças pode constituir possível
fator etiológico e ou agravar, para um nível severo e de progressão relativamente mais
rápida, as erosões dentárias. Sobral et al. (1979), ao analisarem bebidas industrializadas e
sucos observaram que ambos apresentaram valores abaixo do pH crítico de dissolução da
estrutura dental, sugerindo a possibilidade de favorecerem a desmineralização. Diante
disso, julgaram importante proceder a orientação quanto à dieta ácida para a prevenção das
lesões de erosão dental.
Segundo JÄRVINEN et al. (1991), pessoas que consomem frutas cítricas mais que
duas vezes ao dia apresentam um risco 37 vezes maior de desenvolverem lesões por erosão
do que aquelas que não consomem. O consumo de vinagre de maçã (10 vezes maior),
bebidas para esportistas (4 vezes maior) ou refrigerantes (4 vezes maior), quando
consumidas diariamente, promovem efeitos parecidos. Ressalta-se que o potencial erosivo
de uma bebida ácida depende de seu pH, bem como da capacidade de tamponamento, das
propriedades de quelação do ácido nela contido, além da freqüência e duração da ingestão
(FARIAS et al., 2000).
Grenby et al. (1990), ressaltaram que poucas pesquisas têm sido realizadas para
avaliar as bebidas específicas de crianças e que muitas questões importantes carecem de
esclarecimentos como: considerando a variedade de produtos de diferentes sabores
disponíveis, comercializados por vários fabricantes, qual é a composição, a acidez e o
conteúdo de açúcar presentes nos mesmos? Qual é o seu efeito sobre o tecido dental com
relação à etiologia da cárie ou à erosão dentária? As bebidas infantis mostram qualquer
superioridade sobre as dos adultos, quando usadas com o mesmo propósito? Levando-se em
conta a escolha dos sabores e combinação de sucos de frutas nas bebidas e se estas
requerem ou não diluição antes do uso, podem ser dadas orientações sobre quais deles
oferecem melhores perspectivas para a saúde dental? Para responder essas perguntas os
autores desenvolveram uma pesquisa com 18 bebidas infantis de cinco fabricantes,
examinando o conteúdo de carboidrato, cálcio, fósforo e ácido e seu ataque sobre a
estrutura dental, das quais sete foram comparadas com as de adultos. Observaram que
apesar de haver diferenças consideráveis entre as várias bebidas infantis, quando analisadas
como um grupo, mostraram níveis de acidez e desmineralização menores do que aquelas
consumidas por adultos.
Na tentativa de minimizar as conseqüências da ingestão de sucos de frutas com
potencial erosivo sobre a superfície de esmalte, considerando sua disponibilidade ao
público em geral a adição de alguns elementos a essas bebidas como o cálcio (HUGHES et
al., 1999; WEST et al., 1999; ATTIN et al, 2003); o fosfato e o flúor (ATTIN et al, 2003) e
o xilitol e o fluoreto isolados ou associados (CHUNMUANG et al., 2007), pode contribuir
para a prevenção ou redução da erosão dental em grupos suscetíveis (WEST et al., 1999).
Considerando os costumes das famílias com relação ao uso freqüente de sucos de
frutas e o desconhecimento da agressão que os mesmos podem provocar sobre a dentição,
devido ao modo de preparo, como a adição de açúcar ou adoçantes dietéticos torna-se
necessário avaliar os efeitos de sucos de frutas diluídos sem e com a adição de açúcar ou
adoçantes, sobre os tecidos dentários.
2 - MATERIAL E MÉTODO
Para a execução deste estudo, foram utilizados 4 tipos de sucos concentrados
diluídos em água (Maguary). Utilizou-se ainda 45 dentes incisivos centrais inferiores
bovinos, divididos aleatoriamente em 9 subgrupos de 5 dentes cada, de acordo com os
tratamentos do esmalte estabelecidos, conforme ilustrado no Quadro 1. Os dentes foram
extraídos imediatamente após o sacrifício dos animais em frigoríficos locais. Após a coleta
foram lavados e inspecionados visualmente quanto à presença de trincas e danos originados
no ato da extração e armazenados em Timol a 0,1.
Quadro 1: Distribuição dos grupos segundo tipos de sucos e de agentes adoçantes
Sucos
Tipo de adoçante
Sucos adoçados com
sacarose (açúcar cristal)
Sucos adoçados com
adoçante dietético
Controle
Abacaxi
Cajú
Maracujá
Uva
IA
IC
IM
IU
IIA
II C
II M
II U
C
Os sucos foram diluídos na seguinte proporção, de acordo com as recomendações
do fabricante: Abacaxi - 1 copo de suco para 3 de água; Cajú - 1 copo de suco para 9 de
água; Maracujá– 1 copo de suco para 3 de água; Uva - 1 copo de suco para 2 de água. Os
sucos concentrados após a diluição foram adoçados na proporção de ¼ xícara de chá de
açúcar (40 g) para cada 500 ml de suco. Com relação ao adoçante, foram utilizadas 35 gotas
do Doce Menor para 500 ml de suco.
Os dentes foram seccionados com brocas diamantadas (2310 e 2215) em alta
rotação, sob refrigeração constante, a fim de eliminar a porção radicular, a incisal e as
proximais e obter fragmentos medindo 8 mm x 8 mm, da superfície vestibular coronária.
Em seguida incluiu-se os fragmentos em resina acrílica e procedeu se ao aplainamento da
face vestibular em Politriz, para a remoção de irregularidades da superfície vestibular. O
aplainamento foi realizado com disco de lixa circular, sob refrigeração, em Politriz
acionada em baixa velocidade, com lixas em ordem decrescente de granulação: 320, 400,
500 e 600. Todo o cuidado foi tomado para padronizar a profundidade de desgaste do
esmalte entre os espécimes, de modo a obter uma superfície plana e lisa na face vestibular.
Os espécimes foram então lavados em água deionizada e armazenados em 100% de
umidade, até a leitura.
Os fragmentos foram imersos em 500 ml de suco de fruta preparados conforme as
condições já descritas e distribuição apresentada no Quadro 1, onde foram mantidos por
cinco minutos, três vezes ao dia, por sete dias. Após cada exposição foram lavados com
água destilada e armazenados em água deionizada à temperatura ambiente.
Para avaliação da microdureza superficial do esmalte após a imersão nos sucos,
utilizou-se o Microdurômetro FM 700 – Future- Tech-Japan. Os testes foram realizados por
meio da aplicação de uma carga de 50 g por 15 segundos, em cinco pontos, selecionados
aleatoriamente, na superfície do corpo de prova, por meio de um Indentador Knoop.
3 -RESULTADOS
Os dados obtidos estão apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3 e Quadro 2.
Tabela 1 - Valores médios de dureza (kg/mm2) obtidos pelos grupos imersos em sucos
adoçados com açúcar.
Uva
Abacaxi
Cajú
Maracujá
1
26,84
24
50,56
58,62
2
28,16
3
34,66
40,3
62,44
54,58
58,78
35,52
59,62
4
22,08
31,36
33,16
52,1
5
17,14
29,76
35,88
67,98
Total
25,77
36,84
43,51
58,58
Tabela 2 - Valores médios de dureza (kg/mm2) obtidos pelos grupos imersos em sucos
adoçados com adoçante dietético.
Maracujá
Uva
Abacaxi
Cajú
1
26,52
5,9
38,76
34,46
2
29,08
25,58
31,92
36
3
17,84
16,52
33,28
35,54
4
19
23,48
58,52
53,46
5
15,42
24,24
33,78
41,1
Total
21,57
19,14
39,25
40,11
Tabela 3- Valores médios de dureza (kg/mm2) obtidos pelo grupo de controle
1
2
3
4
5
Média
103,92
134,76
156,14
162,06
138,58
140, 55
Quadro 2 – Distribuição das Médias do pH dos quatro tipos de sucos analisados, segundo
os tipos de agentes adoçantes.
Abacaxi
Maracujá
Uva
Cajú
Com adoçante dietético 2,1
1,5
1,2
2,9
Com açúcar
2,7
2,5
2,3
3,4
Análise estatística
Com o objetivo de verificar a existência ou não de diferenças, estatisticamente
significantes, entre os valores médios de dureza, obtidos com os sucos de maracujá, Uva,
Abacaxi e Cajú, adoçados com açúcar e também entre os valores médios de dureza, obtidos
com os mesmos adoçados com adoçantes, foi aplicado o teste U de Mann-Whitney
(SIEGEL, 1975), às séries de dados, comparadas duas a duas. O nível de significância foi
estabelecido em 0,05, em um teste bilateral. Os resultados estão demonstrados na Tabela 4.
Tabela 4 – Probabilidades encontradas, quando da aplicação do teste de Mann-Whitney aos
valores médios de dureza obtidos com os sucos de maracujá, Uva, Abacaxi e Cajú, quando
adoçados com açúcar e quando adoçados com adoçantes, comparadas as séries de dados,
duas a duas.
Variáveis Analisadas
Probabilidades
Probabilidades
Açúcar
Adoçante
Maracujá x Uva
0,117
0,602
Maracujá x Abacaxi
0,016*
0,009*
Maracujá x Cajú
0,009*
0,009*
Uva x Abacaxi
0,251
0,009*
Uva x Cajú
0,047*
0,009*
Cajú x Abacaxi
0,076
0,347
(*) p < 0,05
De acordo com os resultados demonstrados na Tabela 4, foram encontradas
diferenças, estatisticamente significantes, entre os valores médios de dureza obtidos pelos
sucos de Maracujá e de Abacaxi adoçados com açúcar, sendo que os valores mais elevados
foram obtidos pelo suco de Abacaxi; os resultados dos sucos de Maracujá e de Cajú
adoçados com açúcar também diferiram entre si, estatisticamente, sendo que os valores
mais elevados foram obtidos pelo suco de Cajú; ao comparar-se os valores dos sucos de
Uva e de Cajú, também observou-se diferença entre ambos, sendo que os valores mais
elevados foram obtidos pelo suco de Cajú.
Com relação à comparação dos resultados dos quatro sucos adoçados com adoçante
dietético observou-se diferença estatística entre os sucos de Maracujá e de Abacaxi, sendo
que os valores mais elevados foram obtidos com Abacaxi; entre os sucos de Maracujá e de
Cajú, sendo que o segundo apresentou os maiores valores; entre os sucos de Uva e Abacaxi,
sendo que a menor média ocorreu para o suco de Uva; entre os sucos de Uva e Cajú, sendo
que os valores mais elevados foram obtidos pelo suco de Cajú.
Com o objetivo de verificar a existência ou não de diferenças, estatisticamente
significantes, entre os valores médios de dureza, obtidos com os sucos de maracujá, Uva,
Abacaxi e Cajú, adoçados com açúcar e com adoçantes, foi aplicado o teste U de MannWhitney (SIEGEL, 1975), às séries de dados, comparadas duas a duas. O nível de
significância foi estabelecido em 0,05, em um teste bilateral. Os resultados estão
demonstrados na Tabela 5.
Tabela 5 – Probabilidades encontradas, quando da aplicação do teste de Mann-Whitney aos
valores médios de dureza, obtidos com os 4 sucos adoçados com açúcar e com adoçante
dietético, comparadas as séries de dados, duas a duas.
Variáveis Analisadas
Probabilidades
Maracujá
Uva
Abacaxi
Cajú
(*) p < 0,05
0,347
0,028*
0,465
0,016*
De acordo com os resultados demonstrados na Tabela 5, foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes, nos valores médios de dureza obtidos pelos sucos
de Uva e de Cajú, ao comparar-se os resultados obtidos com açúcar e com adoçante
dietético, sendo que os valores mais elevados, para ambos os sucos, ocorreram estes foram
adoçados com açúcar.
Para comparar os valores médios de dureza, obtidos com os sucos de maracujá,
Uva, Abacaxi e Cajú, adoçados com açúcar ou com adoçantes, com os obtidos pelo grupo
controle aplicou-se o teste U de Mann-Whitney. Os resultados foram iguais, nos oito casos,
sendo p = 0,009*. Estes valores indicam a existência de diferenças estatisticamente
significantes, entre todos os valores comparados, sendo que os valores mais elevados foram
obtidos com o grupo controle, nos oito casos.
4 - DISCUSSÃO
Avaliou-se, nesta pesquisa os efeitos de 4 tipos de sucos industrializados
concentrados, os quais foram diluídos e adoçados com açúcar cristal ou adoçante dietético.
Os dados obtidos pelos sucos, nas duas condições foram comparados entre si e com a média
de dureza obtida com o grupo controle (dentes não imersos em sucos). Dos sucos
analisados três são classificados como tropicais, em função da natureza da fruta (Maracujá,
Cajú e Abacaxi). O suco de Uva é classificado como ‘‘outro’’.
Ao comparar-se as condições adoçados com açúcar com adoçante dietético, para
cada suco, verificou-se que os sucos de Uva e de Cajú apresentaram menor dureza do
esmalte quando utilizou-se o adoçante dietético. Não houve influência do tipo de adoçante
sobre a dureza do esmalte para os sucos de Abacaxi e de Maracujá. Ao comparar-se as
médias de pH entre adoçante dietético e açúcar, para cada suco, observou-se que o dietético
apresentou os menores valores, isto é, apresentou maior acidez, sendo que, entre todos, o
suco de uva adoçado com adoçante dietético apresentou a menor média. A influência do
adoçante dietético sobre a redução do Ph e sobre a dureza superficial do esmalte torna-se
preocupante uma vez que, na atualidade, por razões estéticas, os adoçantes dietéticos têm
sido utilizados de forma abusiva pela população.
Grando et al., (1996) ao investigarem o efeito de bebidas industrializadas e suco
cítrico sobre a erosão do esmalte, por meio de Microscópio Eletrônico de Varredura,
verificaram diferentes graus de solubilização dos prismas, que afetaram inicialmente a
bainha e a cabeça dos prismas e depois sua cauda. Quanto maior foi o tempo de contato do
esmalte com as bebidas, mais severas foram as erosões encontradas.
A análise dos resultados obtidos para os sucos adoçados com açúcar permitiu
verificar que foram encontradas diferenças estatisticamente significantes, entre os valores
médios de dureza obtidos pelos sucos de Maracujá e de Abacaxi, sendo que os valores mais
elevados foram obtidos pelo suco de Abacaxi (Tabela 4). Os resultados dos sucos de
Maracujá e de Cajú também diferiram entre si, estatisticamente, sendo que os valores mais
elevados foram obtidos pelo suco de Cajú. Observou-se também diferença entre os valores
dos sucos de Uva e de Cajú, cujos valores foram mais elevados para o segundo. É
importante ressaltar que os menores valores de dureza encontrados nesta condição
ocorreram para os grupos que apresentaram média de pH menor. Desta forma, pode-se
inferir, que quanto menor o pH dos sucos maior é a suscetibilidade do esmalte à dissolução.
De fato, Smith, A. J,; Shaw, L. (1987), relataram que uma queda de Ph de 7 a 4 aumenta em
7 vezes a solubilidade da hidroxiapatita.
Sobral et al, (2000) ao analisarem o pH de diferentes tipos de frutas maduras
processadas, incluindo Maracujá, Cajú, Uva e Abacaxi, obtiveram valores entre 2,13
(Limão) e 4,86 (Manga) com média de 3,48. O suco de Maracujá apresentou o menor valor
de pH, estando de acordo com o resultado deste trabalho. Os autores ressaltaram que,
considerando-se apenas o Ph, qualquer das frutas estudadas pode causar erosão do esmalte
já que todas mostraram-se ácidas com valores de pH abaixo de 5,0 e, portanto, são
potencialmente erosivas.
O valor de pH observado no presente estudo é semelhante, tambbém, ao encontrado
por Castro et al. (2007), ao verificarem que os sucos de Cajú analisados apresentaram
valores de pH na faixa de 3,38 a 3,78. Na presente pesquisa o valor de pH se refere a sucos
diluídos adoçados, enquanto esses autores estudaram sucos integrais. Segundo esses autores
a acidez expressa em ácido cítrico, situou-se entre os valores de 0,73 e 1,06 g/100g e os
açúcares totais apresentaram teores variando entre 4,7 a 8,28 g/100g. Pinheiro et al. (2006),
também encontraram no estudo por eles desenvolvidos valores de pH na faixa de 3,17 a
4,06 em sucos integrais de Cajú.
Quanto às análises dos sucos de Maracujá concentrados Castro et al (2007)
demonstraram que os valores médios de pH variaram na faixa de 2,88 a 2,94, entre as
marcas. A acidez expressa em ácido cítrico variou de 2,89 a 3,5g/100g. Pinheiro et al
(2006) obtiveram valores de pH próximos variando entre 2,72 e 3,17.
A média de dureza encontrada para o dente de bovino, nesta pesquisa, sem nenhum
tratamento foi de 140, 55 Kg/mm2 (Tabela 4). Isso demonstra que mesmo os sucos
adoçados com açúcar ou adoçante dietético provocaram perda mineral ou a sua
instabilidade na superfície do esmalte, fato comprovado pelos baixos valores de dureza
obtidos.
Na cavidade bucal os efeitos dos sucos de frutas ácidos podem ser substancialmente
mais prejudiciais aos tecidos dentários do que observado in vitro. De fato, tem sido
amplamente discutido que a exposição do esmalte a substâncias ácidas pode levar à erosão
dental que resulta da combinação do amolecimento da superfície do esmalte, provocado
pelo agente erosivo e da abrasão da superfície dentária por insultos mecânicos (AMAECHI
et al., 2003; VIEIRA et al., 2006) como a fricção, a atrição e a abrasão pela escovação que
removem, em diferentes graus, a camada amolecida da superfície dentária (VIEIRA et al.,
2006).
O esmalte amolecido é altamente instável e pode ser removido facilmente até
mesmo por uma ação física leve e rápida. A escovação excessiva remove, in vivo a camada
de esmalte amolecida pela ação de ácidos de origem alimentar, quase completamente
(WEIGAND et al., 2006). Segundo Eccles (1979) a escovação imediata após o consumo de
sucos de frutas cítricas deve ser evitada a fim de evitar a fácil pela abrasão de minerrias do
esmalte desorganizado. Consideram importante um enxágüe prévio da boca com uma
solução alcalina. Outras sugestões são representadas pelo uso de canudo para a ingestão de
sucos de frutas e o corte da fruta em pedaços antes de ser consumido.
Como objetivo de reduzir as conseqüências do contato prolongado de sucos de
frutas ácidos sobre a superfície de esmalte, tem sido proposto a adição de alguns elementos
a estas bebidas como o cálcio, o fosfato e o flúor (ATTIN et al, 2003) e o xilitol e o fluoreto
isolados ou associados (CHUNMUANG et al., 2007).
5 - CONCLUSÃO
De acordo com a metodologia utilizada e os resultados obtidos observou-se que:
- os sucos de Cajú e de Uva apresentaram menores média de dureza do esmalte
quando utilizou-se o adoçante dietético;
- no grupo adoçado com açúcar a menor média de dureza foi obtidas pelo suco de
Maracujá, que apresentou diferença estatisticamente significantes às apresentadas pelos
sucos de Cajú e de Abacaxi. Os sucos de Maracujá e de Uva apresentaram médias de
dureza do esmalte semelhantes;
- no grupo adoçado com adoçante dietético a menor média de dureza foi obtida pelo
suco de Uva, seguido pelo de Maracujá. A dureza do esmalte submetido ao suco de Uva foi
menor estatisticamente às apresentadas pelos sucos de Abacaxi e de Cajú. Os sucos de
Maracujá e de Uva apresentaram médias de dureza do esmalte semelhantes;
- todos os sucos apresentaram menor valor de pH quando foram adoçados com
adoçante dietético;
- todos os sucos contribuíram para a dissolução do esmalte, uma vez que os valores
de dureza foram menores, estatisticamente ao apresentado pelo esmalte nãoo exposto a
sucos.
Concluiu-se, portanto, que o pH dos sucos, influenciado pela adição de agentes
adoçantes principalmente o adoçante dietético, exerce uma influência significativa sobre a
dureza do esmalte, reduzindo-a, significativamente.
.
6 - AGRADECIMENTOS:
À Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação pela aprovação do projeto e atenção
durante a execução do mesmo;
7 - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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EFFECTS OF FRUIT JUICE ON THE HARDNESS OF THE ENAMEL OF
TEETH OF CATTLE
Ana Flavia Machado Fahd
Federal University of Uberlândia - Av. Dr. Laerte Vieira Gonçalves, 842 - apto 102, Santa
Mônica. Uberlândia, Minas
Gerais, Brazil. Zip Code: 38408-174.
[email protected]
Evonete Maria de Oliveira Marra
Federal University of Uberlândia - St. General Câmara, 236, Tabajaras. Uberlândia, Minas
Gerais, Brazil. Zip Code:
38400-276.
[email protected]
Carla Silva Siqueira
Federal University of Uberlândia - Av. Pará, 1720 - Block 2U, Umuarama. Uberlândia,
Minas Gerais, Brazil. Zip Code:
38401-136.
[email protected]
Marila Rezende Azevedo
Federal University of Uberlândia - St. Tabajaras, 201, Vigilato Pereira. Uberlândia, Minas
Gerais, Brazil. Zip Code:
38408-408.
[email protected]
Abstract: This study aimed to evaluate the microhardness of enamel of bovine teeth
subjected to the action of different types of fruit juices: pineapple, cashew, passion fruit
and grape. We used 45 teeth were randomly divided into 9 groups of 5 teeth each,
according to the following treatments: juices diluted with water and sweetened with
artificial sweetener or sugar diet and control specimens were immersed in different types of
juices, in accordance with conditions above for 5 minutes, 3 times daily for 7 days and
stored in deionized water and subjected to analysis of microhardness Microdurometer FM
700 - Future-Tech, Japan. The tests were performed by applying a load of 50g for 15
seconds at five sites randomly selected on the surface of the specimen by means of a Knoop
indenter. It was observed that the juice Grape and Cashew had lower average hardness of
enamel when used the dietary sweetener (19.14 and 40.11 Kg/mm2, respectively). In group
sweetened with sugar the lowest average hardness was obtained by Passion Fruit Juice
(25.79 Kg/mm2) that differ significantly between those given by the juices of Cashew (58.58
Kg/mm2) and Pineapple (43.51 Kg / mm2). Passion Fruit Juices and Grape averages of
hardness of enamel similar (25.79 and 36.84 Kg/mm2, respectively). In group dietary
sweetener sweetened with the lowest average hardness was obtained by Grape juice (19.14
Kg/mm2), followed by Passion Fruit (21.57 Kg/mm2), which both had means of similar
hardness of enamel. The hardness of the enamel before the grape juice was statistically
lower than presented by the pineapple juice (39.25 Kg/mm2) and Cashew (40.11 Kg/mm2).
All juices showed lower pH value when they were sweetened with artificial sweetener diet
(Grape: 1.2; Passion: 1.5; Pineapple: 2.1; Cashew: 2.9), when values were compared with
sugar (Grape: 2.3; Passion: 2.5; Pineapple: 2.7; Cashew: 3.4). We conclude therefore that
all the juices have contributed to the dissolution of the enamel, since the hardness values
were lower, statistically the enamel made by unexposed juices (140.55 kg/mm2). The juices
showed the same trend with respect to pH, regardless of the type of sweetener used agent,
or grape juice had lower value, followed by Passion Fruit, Pineapple and Cashew. The pH
of the juices, influenced by the addition of sweetening agents mainly dietary sweetener,
exerts a significant influence on the hardness of enamel, reducing it significantly.
Keywords:
Microhardness;
enamel;
juices,
sugar,
sweetener.
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ic2009-0363