Projeto de transformação de uma nova biblioteca e o perfil de um profissional educador Norberto Jesuino Ribeiro do Valle Vieira Bacharel/Especialista em Arquivística em Biblioteconomia pela Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação – FaBiCI / FESPSP. E-mail: [email protected] Resumo: Esse artigo tem como objetivo principal identificar e racionalizar a busca pela formação de uma nova biblioteca mais voltada para a sociedade da informação, mas aquela em que agora o imaterial se torna atividade fim, o indivíduo o produto a ser valorizado. Não caberá mais o acervo privilegiado, e sim a formação da informação contemplando a atuação dos protagonistas em seus locais periféricos contando com um novo perfil de profissional: educador e mediador cultural. Palavras-chave: Biblioteca Escolar; Agente Educador, Mediação Cultural, Biblioteca Educativa. Abstract: This article aims to identify and rationalize the search for the formation of a new library more geared towards the information society, but one in which now becomes immaterial end activity, the individual product to be valued. Will not fit most privileged acquis, but the formation of information contemplating the actions of the protagonists in their peripheral sites relying on a new professional profile: educator and cultural mediator. Keywords: School Library; Agent Educator, Cultural Mediation, Education Library. Introdução A visão com que se pretende construir a nova biblioteca seja ela pública ou escolar será de mais valorização do indivíduo e menos ao objeto. Um novo e revigorador projeto de releitura está em andamento desde o ano passado em toda rede municipal com uma proposta e visão democrática da leitura desde a infância e no lar em que vive até as fases educacionais em que deverá passar ainda no decorrer de sua formação intelectual. Para surgir algo inovador deve-se ter a ruptura. Havendo conflitos e novas inserções culturais o velho se quebra e o presente se transforma em novas realidades sociais, mas cabe lembrar que a nova informação surgida tange agora o imaterial e não mais a velha guarda obsoleta e irrestrita da sabedoria parada em livros e que não se pode mais se restringir frente à evidente cadeia documental via web. O conceito de Estação do Conhecimento tem em sua base reivindicações históricas provindas do passado e não realizadas ainda hoje, como também está ancorada na crítica a discursos que se mostraram e continuam se mostrando obsoletos, mesmo quando bem intencionados, o que nem sempre ocorre. (ROMÃO, 2011, P.14). Quando se fala do método do discurso simplesmente a uma Estação do Conhecimento quer se encontrar uma maneira salutar da leitura ser impregnada no ínfimo do leitor, ou seja, se aprofundar nas raízes do conteúdo empregado na formação do leitor, e não apenas sugestioná-lo nas prateleiras. As ECs são instâncias de mediação cultural, portanto, territórios de negociações simbólicas entre sujeitos, suas singularidades e pluralidades. As ECs são espaços de experiências culturais variadas e de aprendizagens informacionais essenciais, cujos conteúdos remetem à própria informação e à cultura. (PERROTTI, 2008, P.3). Por isso a relação de mediação cultural se faz mais que necessária nessa perspectiva do projeto uma vez que os profissionais envolvidos, tanto bibliotecários e outros, se farão com importantes métodos eficazes de aprendizagem e conhecimento para fortalecer o chamado protagonismo cultural. Por onde o cidadão surgirá naturalmente em seu modo cru e inerente a toda massa cultural e dando ênfase ao seu estado de criação e invenção. Para tanto, uma boa articulação entre todos os envolvidos no projeto, será um caminho informacional atuante e contará com setores, equipes, pessoas, profissionais e cidadãos envolvidos na formação e afirmação da criação e não apenas no vislumbre inebriante do bem cultural. Cultura e educação estão reunidas numa Estação do Conhecimento, assim como informação e formação, mas em sistemas de significação complexas em que possam caminhar em um processo de ensino aprendizagem reativado de forma concisa, forte e integrado. A biblioteca se coloca em posição de aquecimento e reavaliação de seus afazeres, bem como cita o professor da ECs em suas observações. Segundo Perrotti (2008, p.1) As categorias fundantes numa ECs são o acolhimento, lançamento, expressão, memórias, dialogia, identidade, apropriação cultural e a Infoeducação. As identidades e a dialogia principalmente serão sempre preservadas em um reforma educacional, o que se quer é uma revisita nas unidades integradas de educação – CEUS desde sala de leitura até as bibliotecas – como cita ainda a professora: Como primeiro passo o estabelecimento de planos, programas e projetos envolvendo as aprendizagens informacionais que se deseja desenvolver em cada etapa do processo educacional: educação infantil, fundamental, ensino médio e superior. (ROMÃO, 2011, P.22). Na biblioteca as ações determinadas deverão ser atreladas as ações pedagógicas educacionais de todos os envolvidos, bem como as informações deverão ser tratadas com um intercâmbio gerencial entre bibliotecas – públicas e escolares -, via universo formal, informal e suas ocorrências momentâneas em que se podem socializar emoções, situações e compartilhamento de articulações orgânicas e bem situadas. Nessa perspectiva, as bibliotecas públicas e escolares têm suas respectivas esferas de atuação, mas necessitam estar integradas. O objetivamente a formação dos leitores não pode ser responsabilidade exclusiva de uma delas, mas, ao contrário, criteriosamente cuidada por ambas, desde os primeiros anos de vida da criança, ainda na creche ou na Educação infantil, e durante toda a trajetória escolar. (PIERUCCINI, 2008, P.86). Partindo dessa premissa das bibliotecas e visualizando os futuros cidadãos com poder de visão critica e uma elucidação para não virarem meros consumidores culturais, os protagonistas que são as pérolas provenientes da região, a mediação cultural requer entendimento preciso nos significados e no conhecimento baseado na Estação do Conhecimento, mas que precisa de uma junção de forças e somatória de trabalhos. 1 Ação Cultural, Mediação Cultural, Agente Cultural ou Agente Educador (Infoeducador)? Na prática o discernimento desse provável profissional da informação atuante como mediador cultural em tempos de revisitas educativas sócio/cultural requer muita disposição. Antena ligada nos processos de cultura e educação, consumidor voraz de arte e afins em seu âmago total, elaboração de projetos sócio/educativos, articulações bem equilibradas entre urbano e periférico (rural), periférico (marginal) e erudito, formação de coletivos nas comunidades (no papel de difusor/coadjuvante). Atuando firmemente na formação de prováveis cidadãos prodígios em seu estado natural. Dentro de tais características, o infoeducador pode ser, por exemplo, um bibliotecário, proveniente do campo da informação, com interesse e conhecimento das dinâmicas educativas e pedagógicas, como ser um educador, com interesse e conhecimento de questões teóricas e práticas relativas à informação e à cultura. (ROMÃO, 2008, P.27). Outra vertente, agora na premissa da formação do profissional, aquele que - na condição final de graduação - precisa estar bem municiado de categorizações prováveis das situações encontradas pós curso da graduação também precisam ser levadas em conta na atuação dele no âmbito humanitário e de como atuar em mediações e ações culturais na comunidade Hoje, no Brasil, estão sendo criados os Planos Municipais do Livro e Leitura – PMLL. Então, precisamos saber desses instrumentos legais. Eu tenho ido muito a reuniões na periferia, onde estamos construindo demandas específicas junto aos coletivos de saraus e periféricos... Mas, os cursos de biblioteconomia no Brasil precisam ser remodelados, eles sofrem uma influencia muito “americanizada ainda”, visando muito ao objeto e não ao sujeito. Mesmo na USP, não se pensava a biblioteca comunitária como um local de atuação do bibliotecário. (ANTUNES, 2014). Fica claro e evidente que uma remodelação no formato e na carreira acadêmica – inclusive até especializações também – seria de suma importância na averiguação e descoberta com maior rigor na averiguação de perfis e características para trabalhar na educação comunitária, em especial regiões periféricas de São Paulo. Não se pode negar, porém um estado de domesticação alienante que alcança a eficiência extraordinária no que venho chamando “burocratização da mente”. Um estado refinado de estranheza, de “autodemissão” da mente, do corpo consciente, de conformismo do indivíduo, de acomodação diante de situações consideradas fatalistamente como imutáveis. É a posição de quem encara os fatos como algo consumado, como algo que se deu porque tinha que se dar da forma como se deu, é a posição de quem assume como fragilidade total diante do todo-poderosismo dos fatos que não apenas se deram porque tinham que dar, mas que não podem ser “reorientados” ou alterados. Não há, nesta maneira mecanicista de compreender a história, lugar para a decisão humana. (FREIRE, 2011, P.111). Nesse ínterim dos fatos o professor Paulo Freire demonstra claramente no ínfimo interno do profissional – no mercado saturado de muitos técnicos e poucos humanistas, haja vista que o difusor cultural atua fortemente em periferias - que não se deve aceitar de modo contumaz – ainda que falte perfil para atuação – a não percepção e clareza que a robotização torna o homem menos humano e mais próximo das antevisões de tempos outros, naqueles que acreditavam em mistificação da leitura e seus leitores. Aliás, a descentralização e polarização de outros eixos bem como uma melhor adequação de espaços culturais em pólos da periferia acrescentariam uma distribuição mais equilibrada para todos, inclusive para um mediador cultural canalizar num sentido mais direcionado e robustecido por uma política cultural. A difusão cultural acontece em bolsões restritos, sem corresponder á expectativa da maioria das pessoas. Essa centralização termina por não incentivar a circulação e produção cultural no conjunto da cidade, o que mostra a falta de uma política cultural. Temos produção cultural nas periferias, mas ela fica restrita ao seu território, não circula pela cidade. “A maioria da população estudantil acessa o que são considerados equipamentos culturais pela primeira vez via escola. O problema é que essas ações são vistas como complementares à educação e não como parte, como núcleo, da formação das crianças e jovens.” Falta uma política cultural de Difusão e Acesso. “E também, uma política urbanística que preveja, além da moradia, outros equipamentos sociais, como centros culturais”. (PEREZ, 2013, P.19) Mas, o que se pretende nesse momento é do mediador/agente cultural como atuar, precisamente nesse momento das elucidações, com as ações culturais, com políticas públicas direcionadas, talvez uma interação multidisciplinar com vários profissionais, uma dedicação extrema na aplicação e amplitude em projetos. Pois como diz a própria Estação do Conhecimento tudo vai requer tempo, amadurecimento, companheirismo e equilíbrio nas ações que são intangíveis na aplicação e condicionamento desejado O que é vital à ação cultural é a operação com os princípios da prática em arte, fundados no pensamento divergente e no pensamento organizado, e movido pela possibilidade, pelo vira-ser. É esse na verdade o tipo de pensamento que altera os estados transforma o estado em processo, questiona o que existe e o coloca em movimento na direção do não conhecido. A proposta, portanto, é usar o modo operativo da arte- livre, libertário, questionador, que carrega em sim o espírito da utopia – para revitalizar laços comunitários corroídos e interiores individuais dilacerados por um cotidiano fragmentante. (COELHO, 2011, P.32). No estado natural das coisas, os bens tangíveis e intangíveis, tudo se deve figurar como atrativos simbólicos e subjetivos para todos os protagonistas da comunidade atuantes em suas funções de redescobrimento de memórias já expostas, bem como redefinir suas posturas perante uma visão que os ponha e os fortaleçam em suas descobertas e auto-estima na sociedade da informação. Ainda sobre como fazer sem fins mercadológicos o autor define: A fabricação é um processo com um início determinado, um fim previsto e etapas estipuladas que devem levar ao fim preestabelecido. A ação, de seu lado, é um processo com um início claro e armado, mas sem fim especificado e, portanto, sem etapas ou estações intermediárias pelas quais se deva necessariamente passar – já que não há um tempo terminal ao qual se pretenda ou espere chegar. (COELHO, 2011, P.12). Assim avaliações periódicas, reuniões de grupos e coletivos, consentimentos e dúvidas surgidas durante o projeto deverão ser harmoniosamente equilibrados para um consenso de eficácia para que não se tenha dúvidas em práticas meramente banalizadas e massificadas às ações a serem desenvolvidas. O processo extático é uma ação autêntica, parte-se de um modo determinado, mas não há indícios sobre o ponto de chegada, nem das estações por onde se passará – mesmo porque as estações na são fixas, mas móveis, imprecisas, imateriais. (COELHO, 2011, P.29). No quesito projetos culturais de uma biblioteca, um sarau poderá ser uma ação já definida e permanente na programação mensal sendo temático e aproveitando um elo de organização pedagógica com as escolas, comunidade e artistas da região. Também com ações fora do eixo rural periférico, ainda surgindo outros micro-grupos nesse já formado, trazendo experiências do urbano metropolitano e fazendo aquela antropofagia que se pretende para criação e surgimentos mais heterogêneos. Um sarau poético musical, por exemplo, poderá ampliar numa integração de interesses, não só da área de Comunicação e Expressão, mas também de História e Geografia, na medida em que é possível contextualizar as produções poéticas e musicais em seus movimentos históricos acontecidos num determinado espaço geográfico, pesquisando dados com auxílio dos recursos informacionais disponíveis. (ROMÃO, 2008, P.22). Para tanto também será imprescindível o registro histórico de tudo, no projeto, em questão. A criação de um memorial de guarda - seja textual ou de imagens - e resgate servirá para tais serviços e aferições registradas em todas as ações que os próprios protagonistas realizarem e servirão de resgate de suas aparições e incentivos a outros futuros candidatos a pesquisas e continuidades do processo. A mediação é um trabalho de grande importância, pois lida com a produção de sentidos, com os processos de significação de toda essa informação. As práticas de mediações culturais colocarão o sujeito enquanto ator, protagonista cultural nos processos de produção de sentidos, constituindo mecanismos de apropriação cultural e simbólica da informação de imagens. O ato de criação cultural humano passa a se concretizar de forma intensa e plurissignificativa. (OLIVEIRA, 2013, P.11). Portanto, e para esse efeito cultural com os protagonistas e suas atuações nos vários suportes da informação as avaliações dos serviços e produtos servem exatamente para saber das opiniões e questionamentos dos usuários e com que perspectivas estão observando esses novos quadros de estruturação material e imaterial da informação, seja em acervos das escolas ou bibliotecas. 2 Biblioteca Educativa Em uma nova dinâmica de continuísmo histórico das bibliotecas, agora vai além de escolar, pública e mais adiante de ser uma hipotética biblioteca hibrida, está surgindo, ou melhor, tentando se posicionar frente a todo esse contingente de formação da informação onde o sujeito acondicionado melhor no mundo com seus significados e maior formalidade de relações de contexto social. Mais uma vez a importância máxima de envolvimento maciço de todos os profissionais das áreas educacionais, uns já trazem experiência em pedagogia prática e teórica, outros estarão se inserindo num processo de multidisciplinaridade de etnias, credos e aptidões culturais. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e em indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo me educo, Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 2011, P.30). Quando Paulo Freire propõe essa construção coletiva entre todos, a valorização do próprio educador e educando se reinventam numa sintonia conjunta, mas o método de exploração do indivíduo em sua potencialidade ainda, talvez desconhecida, só faz acreditar no campo da pesquisa e com ela novas transformações surgirão mutuamente, portanto um projeto bem elaborado e reavaliado mensalmente com indicadores de avanços, ou percalços, mas que implicará em novos testes e outras ações. Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender, o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. (FREIRE, 2011, P.30). Corroborando com a tese freiriana o perfil desse novo bibliotecário educador, alinhado com outros educadores, também deve avançar numa linha evolutiva de pesquisa de campo, textos acadêmicos e artigos científicos nas observações de ações culturais e atuação constante na formação dessa nova biblioteca junto da comunidade e em percepção de sua magnitude na arte de ensinar e aprender também. “Durante muito tempo, no Brasil, o livro foi enxergado como veículo da propaganda política oficial. Então sempre, esteve desse ponto de vista, sob censura, e o que havia era uma política do livro, não havia uma política da leitura. O que acontece muito em São Paulo, nesses movimentos autônomos – falo principalmente de saraus, mas as bibliotecas já são mais de cem, concentradas na zona sul-, é que eles têm começado a trabalhar com o livro como um instrumento vivo: ‘vamos dar voz a ele vamos usar a nossa voz’.” (ANTUNES, 2014). Nota-se a importância clara da investida da valorização de linguagens seja ela oral visual e textual, mas com conteúdo de apropriação do imaterial, seu significado real e histórico. A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blá-blá-blá e a prática, ativismo. (FREIRE, 2011, P.24). Nessa nova fomentação social cultural deve-se levar em conta uma postura mais agressiva em relação aos usuários e atraí-los de forma continua e não meramente acesso do acervo, mas sim contextualizar e enraizar seus saberes e diagnosticar hipóteses, necessidades e soluções para com eles mesmos, os cidadãos pensadores críticos e atuantes em seus territórios de origem. A nova biblioteca terá que buscar essa posição com parcimônia e uma missão combinada entre gestores, educadores e comunidades. Também conhecer especificamente cada região e com ela identificar seus dilemas, dificuldades e negociar com sabedoria sabendo ouvir e ter autonomia para aplicar um plano de ação bem equilibrado e heterogêneo com as diferentes linguagens encontradas. Algumas situações que podem ser flexibilizadas, como estas: • Encontros nos meios de comunicação de rádios da região, • Encontros dentro da biblioteca em reuniões de projetos culturais, • Encontros externos na sede de outros parceiros (delimitar territórios), • Encontros de artes, culturas e etnias diferentes, • Promoção e intercâmbio com protagonistas da região, • Promoção de gincanas com circulação externa, • Promoção incessante de oficinas de leitura para todas as idades, • Intensificação maciça do boca a boca, ainda a formalidade melhora a relação, • Visitação aos lares com família reunida e amigos para contemplação, • Relação de confiança e credibilidade com o indivíduo, • Noção de superação e melhoria da autoestima de todos. Como aplicar com eles novas técnicas e deixar saber seus gostos, seus repertórios, suas preferências e orientá-los na busca do que querem e precisam mostrar que sabem fazer, nos seus modos operantes, mas com seus olhares e reinventá-los e reinventar no aprendizado. Um processo que oferece condições para que as pessoas envolvidas descubram sua capacidade de criar, inventar e reinventar seus objetivos, uma vez que as atividades não lhes são impostas nem dirigidas para alcançar determinados resultados. (CARVALHO et al 2007, P.33). Quando se fala na biblioteca educativa como um centro de protagonismo cultural e se pensa na junção principalmente do papel do professor e bibliotecário mediador cultural fundindo os dois nesse contexto da função de educar e gratuidade de ações – perfil do agente - esperando espontaneidade das trocas recebidas é pensar numa construção de reciprocidade e empenho entre ambos. A mediação de leitura pode ser feita dentro da biblioteca, mas nas comunidades também existem outros lugares onde pode ser bem bacana fazer essa atividade: no centro comunitário, embaixo de uma árvore, numa praça, na casa dos moradores, no início de uma reunião, enfim, a mediação pode acontecer em muitos momentos e principalmente, para muitos públicos. (GUIMARÃES, 2007). Como se percebe existe inúmeras possibilidades dessa ação ocorrer dentro e fora da biblioteca, mas sempre criando vínculos e territórios conquistados com os cidadãos e suas características, além do que sempre se descobrem novos atores com talentos e geralmente ricos em histórias da sua região. É esse descobrimento do sujeito como papel principal e a informação que lhe cerca na relação constante de valor no exercício livre do individuo se apoderar e conscientizar-se da natureza da formação intrínseca do universo que lhe cerca. A biblioteca educativa deverá ser gerida nesses alicerces de discussão, participação e generosidade em construção e apoderação do novo saber. “Há alguns anos, empreguei a expressão Biblioteconomia Guerrilheira e, em seguida, as expressões Biblioteca Guerrilheira e Bibliotecário Guerrilheiro. O conceito tinha duas grandes vertentes: uma voltada para a sociedade como um todo e a outra voltada para os intestinos da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. As informações que circulam, todas elas, não são neutras. Estão prenhas de significados, concepções, ideias, conceitos, interesses, desejos, necessidades, ideologias. A informação não está completa quando exteriorizada, ao contrário, ela vai se construindo em todo o processo de sua existência. Se ela é formada na construção, não pode ser mercadoria, não pode ser coisa. Ela morre quando, apropriada, se transforma em conhecimento. Um mesmo e único conhecimento? Não, o conhecimento é individual, mas construído apenas e tão somente na relação (do sujeito com o mundo, do sujeito com os sujeitos). (Os significados, conceitos, interesses, ideologias, etc., que ela traz em si, vão se debatendo na arena do processo de sua existência.) ( ALMEIDA JUNIOR, 2014). Assim sendo, o sentido de luta é de mais aproximação formal, mistura heterogênea e antropofagia do conhecimento, seja ele resquícios de memórias tangíveis – historiografia de lugares, territórios e geologia – tal como a informação intangível essa carregada de genuíno, ingênuo e não pasteurizada nas regiões de origem de cada individuo. 3 Públicos da Biblioteca Educativa Quando da elaboração do projeto – quem serão os novos usuários? em sua formulação na parte intrínseca que está inserido todo o grande elo de todo esse aparato chamado perfil do cidadão freqüentador e como reconquistálo em suas atuações e performances, na biblioteca, com a biblioteca e para a comunidade integrada. Como nas pesquisas de campo, observadas por Mario de Andrade em suas pesquisas folclóricas regionais, a observação e análise quantificada se fará necessário na medida de exteriorizar as possíveis características genuínas dos cidadãos de Parelheiros. Ainda mais, quando se sabe que não estão em contato com o meio urbano e mantém regionalidades, peculiaridades responsáveis por sua miscigenação local e de outros. Na concepção da gênese do indivíduo e suas constituições étnicas culturais da região – influenciada por imigrantes japoneses, alemães e outros - mas, com nítida aptidão em áreas rurais e apropriações que são recriadas a todo momento. Refletindo com cautela, entretanto, logo perceberemos que sobre essas diferenças, alguns valores e concepções são implementados socialmente, através de complexos mecanismos de produção e divulgação de idéias, como se fossem, ou devessem se tornar, os modos de agir e de pensar de todos. È essa na verdade uma das funções mais importantes (embora não é a única) das escolas, das igrejas, dos museus e dos meios de comunicação de massa. (ARANTES, 2006, P.10). Numa comunidade onde tamanhas diferenças sócio/culturais se sobressaem – desde o matuto genuíno popular até o já mecanizado com a cultura imposta pelos canais midiáticos - a importância de mapeamento e identificação dos potenciais, claro sem aniquilações forçadas e o despertar inebriante de conhecimento do novo, a curiosidade do desconhecido e aquele que vai agregar outras formas, linguagens e artes num plano estético aglutinador. Ainda que muitas vezes de modo indireto e implícito, essas agências procuram aproximar o que é efetivamente dissemelhante, legitimando a supremacia de alguns modos particulares de “saber” sobre os demais. (ARANTES, 2006, P.12). Por isso o cuidado na averiguação num modo de dialoga, assimilação, apropriação conhecendo aqueles que transitam pela biblioteca e pela identidade legitima de seus conhecimentos, elevando sempre sua autoestima – quase sempre combalida por estarem longe do urbano - com reafirmações de protagonismo e a introdução aos poucos e meticulosamente de ações culturais elevadas e de arte num todo. Quem são os prováveis públicos dessa nova biblioteca que se assume como educativa, e agora mais do que nunca na medida em que pode estar em todos os lugares inimagináveis da comunidade. Numa ação isolada, em ações em grupos – externa ou internamente – em casa com a família, aliás, essa também deve estar presente em conluio com experiências em conjunto, ações revestidas em um grupo familiar podem resultar em saudáveis criações genuínas surgidas no lar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA JUNIOR, O. F de. Biblioteconomia Guerrilheira. Infohome, São Paulo 30 jan 2014. Disponível em:<HTTP:/www.ofaj.com.br>. 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