ID: 41249509 13-04-2012 Tiragem: 46977 Pág: 2 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,28 x 30,05 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 ALFREDO DA COSTA Ministério pode “fazer o que quiser” do edifício da maternidade Neto do fundador garante que “não há obrigação nenhuma” para que edifício só seja usado como maternidade. Ministro diz que o vai manter para a área da saúde João d’Espiney S e o Ministério da Saúde quiser vender o edifício da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) pode fazê-lo à vontade. Carlos Monjardino, neto do fundador da maior maternidade do país, Augusto Monjardino, garante que o ministério “pode fazer o que quiser” das instalações, contrariando assim a informação vinda a público de que o Estado estaria obrigado, nos termos da doação do edifício, a mantê-lo para fins de assistência materno-infantil. “Fui consultar os manuscritos do meu avô sobre a história da maternidade e verifiquei que não há obrigação nenhuma para o Estado”, revelou Carlos Monjardino ao PÚBLICO. O gabinete de Paulo Macedo garantiu ontem, porém, que “é intenção do Ministério manter as instalações da MAC na área da Saúde”. “O fim exacto ainda não foi decidido, nem podia ter sido, dado que o processo ocorrerá até ao final da legislatura”, acrescentou, sem confirmar a informação já veiculada informalmente de que poderiam transferir serviços do Ministério para a MAC. A informação revelada pelo descendente do obstetra, fundador e amigo de Alfredo da Costa contraria assim a informação dada no dia 5 à TVI por Jorge Branco, ex-presidente do conselho de administração da MAC, segundo a qual o edifício “foi doado para um fim bem específico: a assistência materno-infantil”. O PÚBLICO tentou obter uma reacção e mais esclarecimentos por parte de Jorge Branco, mas sem sucesso. Na mesma reportagem da TVI, e quando confrontado com esta informação, o secretário de Estado adjunto, Leal da Costa, respondeu que, “se assim for, o ministério saberá adaptar-se a essa situação e resolver a questão da melhor maneira”. Na terça-feira – ainda antes de ter falado com Carlos Monjardino - o PÚBLICO tentou confirmar esta informação e saber se não poderiam vir a quebrar o compromisso assumido. Nesse mesmo dia, o gabinete de Paulo Macedo respondeu que como ainda não havia “decisão sobre o que fazer das instalações onde funciona a MAC não se pode concluir pela quebra de qualquer condição legal ou estatutária”. Questionado sobre se algum dos herdeiros da família de Monjardino já tinha levantado a questão, o gabinete do ministro garantiu que não. “Nem faz sentido levantar a questão se o ‘fim’ da doação não foi alterado”. Sem respeito pelo edifício Na terça-feira, em declarações à TSF, Carlos Monjardino chegou a lamentar o facto de ir ser retirada a “actividade para que aquela instituição foi criada”, mas “tendo em conta as dificuldades do país”, compreendia “que aqueles serviços, noutro lugar, podem ser bem Costa reúne-se com ex-director da MAC ARS nega ameaça de processos disciplinares D epois de a RTP ter noticiado ontem que o presidente da Câmara de Lisboa tinha visto “cancelada” uma visita à Maternidade Alfredo da Costa (MAC), a Administração Regional de Saúde (ARS) da capital garantiu que a notícia era “falsa” e que o convite partira do ex-administrador, “sem legitimidade” para representar a instituição. Também o presidente da Câmara, António Costa, negou ter sido impedido de entrar na MAC, esclarecendo que teve “uma reunião de trabalho” com o ex-director Jorge Branco e com o ex-director clínico. Segundo António Costa, “nada mais houve do que um equívoco, já esclarecido”. Em comunicado, a ARS de Lisboa e Vale do Tejo explicou que, “com a integração da maternidade no Centro Hospitalar de Lisboa Central, Jorge Branco deixou de exercer funções dirigentes”, pelo que “não tem legitimidade para formular qualquer tipo de convite”. A ARS negou ainda que “tenha havido qualquer ameaça de procedimento disciplinar contra funcionários da MAC ou que os mesmos tenham sido proibidos de prestar declarações à comunicação social”. ID: 41249509 13-04-2012 MIGUEL MANSO Tiragem: 46977 Pág: 3 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,28 x 30,19 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 De acordo com os últimos dados, relativos a 2009, realizaram-se 5256 partos na Maternidade Alfredo da Costa Especialistas em obstetrícia lembram que maternidades isoladas são modelo do passado Andrea Cunha Freitas e Alexandra Campos C om o anunciado encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), se avançar a fusão das duas unidades de Coimbra só restará no mapa do país uma maternidade (a de Júlio Dinis, no Porto) fisicamente isolada do centro hospitalar em que está inserida. Em Coimbra o processo de transferência das duas maternidades (Bissaya Barreto e Daniel de Matos) para o Centro Hospitalar Universitário (CHUC) já está em estudo. As medidas de reorganização da oferta destes serviços merecem a aprovação dos especialistas. A polémica à volta do fecho da MAC trouxe relatos cheios de emoção sobre a importância do “lugar onde se nasce”. Mas os especialistas insistem na defesa da importância da integração destas unidades em hospitais centrais por questões de segurança, eficácia e gestão de recursos. Lisa Vicente, responsável pela divisão de saúde reprodutiva da Direcção-Geral da Saúde, recorda que “as maternidades como um centro isolado eram o modelo no século aproveitados e rentabilizados”. A garantia dada ontem pelo Ministério afasta a hipótese, como chegou a acusar o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, de que por trás da decisão do encerramento da MAC estariam “interesses obscuros” ligados ao sector imobiliário. O encerramento da MAC até ao final desta legislatura foi anunciado esta segunda-feira pelo ministro da Saúde, depois da polémica suscitada a semana passada pelo presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Cunha Ribeiro, que comunicou à administração da MAC que a unidade iria ser encerrada no âmbito da reestruturação da rede hospitalar. Na base desta decisão está a abertura do novo hospital de Loures, que vai retirar cerca de 600 partos/ano ao hospital de Santa Maria e 1500 à MAC, e o excesso de capacidade instalada para o número de partos que estão a ser feitos na área de Lisboa. Anteontem, durante o debate parlamentar, o ministro da Saúde argumentou ainda que “um hospital monovalente não tem razão de existir”. “Respeito pela MAC todos temos. Pelos profissionais todos temos também. Pelo edifício não tenho”, afirmou Paulo Macedo, salientando que a MAC sofreu uma redução de 6000 para 3000 partos anuais e que a existência de nove maternidades públicas em Lisboa põe em risco os 1500 partos necessários para a classificação da maternidade do Santa Maria. A directora do Serviço de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal da MAC, Ana Campos, desmentiu depois o ministro ao garantir que a MAC assistiu nos últimos três anos a um aumento do número de partos. O Centro Hospitalar de Lisboa Central – onde a MAC está integrada – esclareceu ontem que o número de partos só aumentou devido à transferência de casos não urgentes do Hospital D. Estefânia, e reafirmou que irá realizar 3000 este ano. passado”. Admitindo vantagens na integração destes serviços nos centros hospitalares, considera, no entanto, que “o que produziu aqui [na MAC] uma enorme instabilidade foi a questão incompreensível do encerramento quase sem planos”. Já Luís Graça, presidente da Sociedade de Portuguesa de Obstetrícia e director do serviço no Hospital de Santa Maria (em Lisboa), concorda sem reservas com o encerramento anunciado da MAC. “Uma unidade monotemática é um conceito ultrapassado”, diz. Apesar de compreender o “peso simbólico” que a MAC Sollari Allegro diz que o “ideal” seria a integração da maternidade no centro hospitalar do Porto representa, defende que “já não tem sustentabilidade em termos económicos e técnicos”. “Uma mulher com uma perfuração da bexiga precisa de um cirurgião, uma mulher com uma embolia pulmonar tem de ser transferida para um hospital”, exemplifica. No caso de Lisboa, Luís Graça nota que a abertura do Hospital de Loures, que tem um serviço de obstetrícia com capacidade para 2500 partos por ano, provocou muitas “redundâncias” e agora é preciso “solucionar rapidamente” o problema. E denuncia: “Toda a gente quer ficar com o filet mignon. A obstetrícia dá sempre dinheiro”. Ontem, à Lusa, o ex-ministro da Saúde Correia de Campos voltou a defender que “uma maternidade deve estar cada vez mais integrada num hospital geral”, mas optou por concordar com a continuidade da MAC “nem que seja como forma de pressão” para que seja construído o futuro Hospital Oriental de Lisboa. A concretizar-se o fecho da MAC e a fusão das maternidades de Coimbra no CHUC, o Porto fica com a única maternidade fisicamente isolada do centro hospitalar em que está inserida. “O ideal seria que estivesse fisicamente integrada para uma melhor gestão das eventuais complicações, mas tentámos diluir os riscos da separação [500 metros] com a colocação de um internista e cirurgiões na Maternidade Júlio Dinis”, afirma Sollari Allegro, presidente da administração do CHP. Mas, em quatro anos de experiência, só houve necessidade de transferir uma mulher. Cidade de Lisboa com cerca de 35% dos partos feitos no privado Catarina Gomes A s cinco maiores unidades privadas com blocos de parto da capital fizeram no ano passado 7946 partos. Não existem números actualizados em relação às unidades públicas, mas, se tivermos em linha de conta os nascimentos de 2009, o sector privado na cidade de Lisboa absorverá cerca de 35% dos partos realizados. Se no universo forem incluídas maternidades da Grande Lisboa a fatia do privado fica, ainda assim, em cerca de 23%. À cabeça dos nascimentos na cidade de Lisboa no privado está o hospital Cuf Descobertas, onde em 2011 nasceram 2693 crianças, o Hospital da Luz realizou no mesmo ano 2051 partos, nos Lusíadas foram 1570, na Cruz Vermelha cerca de 1000 e no hospital dos SAMS (serviços de assistência médica do sector bancário) 632, um total de 7946 nascimentos. De acordo com os últimos dados existentes para o sector público, de 2009, realizaramse nas quatro unidades com bloco de partos da cidade 13.113 partos, com a Maternidade Alfredo da Costa a liderar a lista com 5256, seguida do São Francisco de Xavier (2990), Santa Maria (2764) e Estefânia (cujos partos foram entretanto transferidos para a MAC) com 2103. Se na conta forem incluídas unidades da Grande Lisboa (hospitais do Barreiro, Garcia de Orta, Cascais, Amadora-Sintra e Vila Franca) somam-se 24.513 partos. Neste cenário não entram ainda os números do recém-aberto Hospital de Loures, onde se estima passarem a nascer 2200 crianças por ano. A percentagem de mulheres que optam por unidades privadas para ter um filho estava a crescer nos últimos anos. Em 2009 quase 15% dos partos registados no continente foram no sector privado. Mas esse crescimento parece estar a abrandar. Alguns dos operadores privados que forneceram ao PÚBLICO dados evolutivos parecem dar conta da desaceleração. Por exemplo, na Cuf Descobertas o máximo de nascimentos foi atingido em 2008 com 2934, no ano passado foram menos 241. ID: 41249509 13-04-2012 Tiragem: 46977 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 5,31 x 7,30 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Ministério promete manter edifício da MAC na área da Saúde Doação do edifício não impede Governo de vender imóvel, mas ministro diz que ficará na área da Saúde p2/3