Rio
Riode
de Janeiro
Janeiro
2009
2009
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência da República
Dilma Vana Rousseff
Secretária-Executiva da Casa Civil da Presidência da República
Erenice Alves Guerra
Diretor-Geral do Arquivo Nacional
Jaime Antunes da Silva
Coordenadora-Geral de Acesso e Difusão Documental
Maria Aparecida Silveira Torres
Coordenadora de Pesquisa e Difusão do Acervo
Maria Elizabeth Brêa Monteiro
EQUIPE TÉCNICA
Curadoria e textos
Cláudia Beatriz Heynemann
Maria do Carmo Teixeira Rainho
Coordenação de Pesquisa e Difusão do Acervo
Assistente de curadoria e textos
Denise de Morais Bastos
Pesquisa de imagens e textos
Beatriz Helena Biancardini Scvirer, Maria Elizabeth Brêa
Monteiro, Mariana Lambert, Renata William Santos do
Vale, Viviane Gouvêa
Assistentes de pesquisa
Fernanda de Souza Antunes, Gabriela de Souza Gonçalves,
Viviane de Oliveira Lima
Revisão de texto
José Claudio Mattar
Iluminação
Marcello Camargo, Sergio Penha
(Coordenação de Recursos Logísticos)
Coordenação de Preservação do Acervo
Mauro Domingues
Laboratório de Digitalização
Flávio Lopes (supervisão), Cícero Bispo, Adolfo Galdino, Janair
Magalhães, Fábio Martins, Luiz Fernando Nascimento
Laboratório de Conservação e Restauração
Lúcia Peralta, Paulo Cesar Gouvêa, Francisco Gomes da Costa,
Alice de Jesus Nunes, Alda Arcoverde de Freitas, Paulo
Fernando Alves Vieira, Álvaro Cesar Moura Carvalho, Tiago
Cesar da Silva, Leila Ianne Pires
Programação Visual e Design Gráfico
Santa Sucata
Jac Carrara, Maristela Pessoa, Cecília Gilson (assistente)
Painéis de bambu
Recicla Três Rios
Manipulação de imagens e reprodução
Pixel Trade Comércio e Serviços Ltda.
Climatização das vitrines
João Batista Francisco & Cia. Ltda.
Agradecimentos
José Luiz Macedo de Faria Santos e Maria Lúcia Cerutti Miguel
(Coordenação de Documentos Audiovisuais e Cartográficos),
Mauro Domingues e Flávio Lopes (Coordenação de Preservação
do Acervo), Coordenação de Consulta ao Acervo
Projeto gráfico e diagramação do catálogo
Alzira Reis
Imagem da capa do catálogo
Santa Sucata
O Aeróstato e Propulsor sistema de José Passos de Faria que
denomina o Balão Brasil. Rio de Janeiro, 22 de junho de 1873.
Coleção Privilégios Industriais
Brasil: o Império nos trópicos
O Império do Brasil situa-se entre dois exílios, o
do príncipe do Antigo Regime tangido pela Revolução Francesa e o do monarca que tantas crises
sucessivas empurram para a França. A chegada de
Leopoldina, a partida de Pedro I, são deslocamentos que não foram exclusivos da família imperial.
Outros mais trágicos foram feitos a bordo dos navios que se ocupavam “do negócio da escravatura”, além das viagens de naturalistas, artistas e de
outros que vinham para ficar, os imigrantes.
Arquivo Nacional (Brasil)
Brasil: o império nos trópicos / Curadoria e textos de Cláudia
Beatriz Heynemann e Maria do Carmo Teixeira Rainho. - Rio de Janeiro :
Arquivo Nacional, 2008.
52 p.: il.color., retrs., fac-síms., mapas; 21cm
ISBN: 978-85-60207-21-3
1. Brasil - História - Império, 1822-1889 2. Brasil - História Século XIX. 3. Arquivo Nacional (Brasil). - Fontes - Exposições I.
Heynemann, Cláudia Beatriz. II. Rainho, Maria do Carmo. III. Título
CDD 981.04
O período assinala o nosso século XIX, tal como
o percebemos seguindo a escrita da história e as
“pegadas” deixadas em papel. No acervo do Arquivo Nacional, que comemora 170 anos de sua
criação, seguimos pela diversidade da correspondência manuscrita, manifestos impressos, fotografias, gravuras, livros raros, mapas e plantas.
De origem pública ou privada, eles descrevem
parte de um tempo e de uma geografia. Entre a
continuidade do projeto ilustrado luso-brasileiro e a ruptura que enuncia um esboço de Nação,
o Império se construiu sobre lutas violentas; a
unidade garantida pela ordem escravocrata, a
identidade com a natureza opulenta, o espelhamento com a Europa, entre tantas apostas e contradições. Com esse olhar segue-se também pelo
diploma escolar, pelas notícias da febre amarela,
vistas do Rio de Janeiro, pela Guerra do Paraguai e a Abolição, desenhos botânicos, projetos
urbanos, portos, ferrovias, cartas familiares, cartas de liberdade, exposições internacionais. Também se renovam aqui documentos fundadores
como a Constituição de 1824, a Lei Áurea, e a
carta que eleva o Brasil a Reino Unido em 1815.
Esse é o século das multidões, do nascimento do
socialismo, do ideário romântico; século vitoriano,
da expansão imperialista, tantas vezes evocado
como o século da história. É assim que enxergamos
as contradições próprias ao projeto senhorial: a fórmula do Império nos trópicos ilumina a aspiração
ao modelo europeu conjugada à origem épica americana. E também o que lhe escapa, uma imagem
desafiando a outra, em textos ou na ilimitada produção iconográfica que circula no oitocentos.
Um reconhecido amante da fotografia e viajante
ávido de terras e línguas distantes, d. Pedro II
aparece pela última vez através das lentes do célebre Félix Nadar, síntese de um desfecho. Mas
em outro trecho há um pouco da alegria e do
olhar para o futuro que se anunciaram no oitocentos no dirigível balão Brasil, que tendo à frente
a bandeira do Império, pretendia alçar voo.
Cláudia Beatriz Heynemann
Corte de d. João
Aqui desembarcada a Corte, garante Sérgio Buarque de
Holanda, não havia quem pensasse em ficar além do tempo suficiente para a derrota dos franceses, fato comemorado com luminárias e gala em 1811. Em novembro de
1807 e apenas quando as tropas do imperador dos franceses cruzam a fronteira da Espanha com Portugal, dá-se
a cena no Arsenal de Marinha, permeada pelo caos ou
pela serenidade conforme as descrições e alegorias. A
esquadra britânica os aguarda fora da barra e descreve o
início de uma longa trajetória na história do Império. Era
a Revolução que em todo o continente europeu abalara o
Antigo Regime e que parecia trazer enfim a remissão colonial, perspectiva lançada com a abertura dos portos e a
posterior elevação do Brasil a Reino Unido.
D. João reina em um Rio de Janeiro pouco afeito à sede
da Corte, cabendo ao intendente de Polícia imprimir civilidade à urbe e segurança à costa. Também surgem o
Teatro São João e órgãos como o Real Erário e a jurisdição do físico-mor para as práticas médicas, entre outros.
Eles serão responsáveis, além dos hábitos cortesãos, do
incentivo ao comércio e às manufaturas, pela ideia de que
as Luzes aqui haviam chegado. O Real Horto, instalado
na área da lagoa de Tretas, abastecia-se então do jardim
La Gabrielle, na Caiena ocupada por Portugal em 1809 e
devolvida aos franceses em 1817.
Relato da partida da Corte e da família
real de Portugal em novembro de 1807.
Papéis relativos a vinda da família real
para o Brasil. S.l., 27 de janeiro de 1808.
Negócios de Portugal
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É de um notável membro da Missão Artística Francesa,
remunerada pelo Tesouro Nacional, o “pintor de história” Debret, a autoria das cenas que consolidaram nosso
imaginário sobre a presença do rei aclamado na América
e que, em 1821, parte com a sempre estrangeira Carlota.
7
Planta da cidade de São Sebastião do Rio
de Janeiro, levantada por ordem de Sua
Alteza Real o príncipe regente, Nosso
Senhor, no ano de 1808, feliz e
memorável época de sua chegada à dita
cidade. Rio de Janeiro, 1812. Ministério
da Viação e Obras Públicas
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Registro da carta régia de abertura dos
portos às nações amigas de Portugal,
enviada pelo príncipe regente ao conde
da Ponte. Bahia, 29 de janeiro de 1808.
Alfândega da Bahia
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Pedro I, imperador do Brasil. S.l., s.d.
Gênese do Império
Panfleto distribuído pelos envolvidos no
movimento confederado. S.l., s.d.
Confederação do Equador
O desligamento formal, em 1822, entre o governo
instalado no Rio de Janeiro e aquele sediado em
Lisboa, ambos nas mãos da mesma família, resultou de uma combinação de interesses: a instalação
da estrutura administrativa e a alteração do pacto
colonial, ocorridos em 1808, colocaram o Brasil em
uma situação ambígua, e permitiram alianças em
torno da ideia de independência.
Embora houvesse diferentes concepções de
como seria a colônia após a ruptura, o interesse
comum das elites brasileiras — a manutenção do
escravismo — em muito contribuiu para que as
forças se aglutinassem em torno de d. Pedro e
da proposta de Brasil que ele representava: um
Estado monárquico unificado.
Depois de um processo de independência que fragmentou a América espanhola, o Brasil viu-se cercado por repúblicas com as quais teria que disputar
a integridade da ocupação territorial, herdada dos
tempos da colônia. Acentuava-se a oposição latente entre as repúblicas sul-americanas e o Brasil, um
Império dominado pela presença da escravidão.
Essa oposição se materializa no conflito da Cisplatina, que culmina com a criação de um Estado independente, o atual Uruguai.
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A aglutinação temporária em torno de d. Pedro e do
projeto sustentado pela Corte não significou unanimidade. A dissolução da Assembleia pelo imperador
e a outorga de uma Carta em detrimento da versão
dos constituintes de 1823 reacenderam ânimos rebeldes em diversas províncias, em especial no Nordeste,
onde eclode a Confederação do Equador em 1824.
Na Corte, a animosidade contra o imperador se originava da sua insistência em manter alianças com os
grupos lusitanos, ameaçando a autonomia brasileira e
levando à sua retirada do país em 1831.
Até que o príncipe regente completasse a maioridade, uma regência ocuparia a chefia do Estado,
dando início a um período dos mais violentos,
marcado por instabilidade, alternância de regências
e tentativas de permitir maior liberdade às províncias, descaracterizando o centralismo imposto por
d. Pedro I. Tais experiências fracassaram, e as sangrentas revoltas ocorridas, em especial a Cabanagem e a Farroupilha, ameaçaram esfacelar o Estado e inspiraram receio mesmo entre os ditos liberais que haviam pressionado pela partida de d. Pedro I, fazendo brotar uma campanha pela maioridade antecipada do herdeiro da Coroa, que seria
concedida aos 14 anos de idade.
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Índios
A transferência da Coroa portuguesa para o Brasil promoveu uma série de medidas de força contra os remanescentes tribais localizados próximo à costa brasileira e junto aos principais rios nas regiões de Minas
Gerais, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, para onde se voltava o interesse econômico. Um
esforço continuado visava à desorganização e eventual
dissolução dos aldeamentos e comunidades indígenas
e à consequente alienação de suas terras e absorção
dessas populações como mão de obra.
O caráter repressivo perdurou durante o Império quando as cartas régias que mandavam mover guerra contra os índios e cativá-los deram lugar às portarias, resoluções, decretos e leis pelos quais províncias e governo central legislavam cumulativamente e quase que
caso a caso. A negação do direito dos índios a aspirar
tanto à autonomia cultural e política quanto à posse
das terras ocupadas tradicionalmente é um aspecto
presente ao longo de todo o século XIX.
Carta de d. Fernando
José de Portugal a d.
Rodrigo de Sousa Coutinho
encaminhando ordem do
príncipe regente para o
pagamento de pensão
a dois índios botocudos.
Rio de Janeiro, 22 de
novembro de 1808.
Série Interior
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Ornamentos, utensílios e armas dos
camacã. Alexander Philipp, prinz von
Wied-Neuwied. Reise nach Brasilien in den
Jahren 1815 bis 1817 . Wien: Ben Raul fub
und Kramer, Buchanblern, 1825-1826
A Independência não trouxe mudanças significativas em virtude da ausência de uma política indigenista e da falta de
clareza na definição do ordenamento da posse de terras,
embora várias propostas tivessem sido apresentadas às Cortes Gerais por representantes brasileiros. O plano para civilização dos índios bravos, formulado por José Bonifácio de
Andrada e Silva, apesar da importância política de seu autor
e do caráter humanístico do projeto, não se sobrepôs aos
interesses dos grandes proprietários de terras que garantiram a manutenção dos velhos métodos indigenistas e o “silêncio” na Constituição quanto às populações indígenas.
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O Brasil é geralmente
representado por uma
índia tupi. Richard
Francis Burton.
Explorations of the
highlands of the Brazil:
with a full account of the
gold and diamond mines:
also canoeing down 1500
miles of the great river
São Francisco, from
Sabará to the sea.
London: Tinsley Brothers,
1869. Frontispício do
volume 2
14
Naturalistas em aldeia dos coroados.
Johann Baptist von Spix; Karl Friedrich
Philipp von Martius. Reise in Brasilien
auf Befehl Sr. Majestat Maximilian
Joseph I Königs von Bairen in den Jahren
1817 bis 1820 gemacht und beschrieben.
Munchen: Gedruckt bei M. Lindauer,
1823-1831
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Livros da natureza
Peixes Serranus carauna / Serranus niveatus / Serranus
ouatabili / Centropristis nebulosus. Francis de la Porte, Comte
de Castelnau. Expedition dans les parties centrales de
l’Amerique du Sud, de Rio de Janeiro a Lima, et de Lima au
Para: executée par ordre du gouvernement francais pendant
les années 1843 a 1847 . Paris: Chez P. Bertrand, LibraireE’diteur, 1850-1857
Prope Jundicuara Praedium in Districtu Ubatuba, Prov. Rio de
Janeiro. Karl Friedrich Philipp Von Martius. Flora brasiliensis:
sive enumeratio plantarum in Brasilia hactenus detectarum
quas cura musei caes. reg. palat. vindobonensis suis
aliorumque botaniorum studiis descriptas et methodo naturali
digestas. Vindobonae, Lipsiae: Apud Frid. Beck, Apud Frid.
Fleischer in comm., 1840-1873
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A imagem do grande livro da natureza marca a época
moderna; para Galileu ele está escrito em números e significa, sobretudo, a atitude reflexiva do homem como
sujeito do conhecimento. Mas os livros da natureza são
também o inventário, a apreensão extensiva e que se consolida essencialmente em torno do sistema de classificação e da nomenclatura de Lineu. Apresentam-se como
herbários, jardins botânicos, coleções de peixes, conchas,
insetos. Desenhos científicos como os do brasileiro frei
Veloso, que, reproduzidos em livros, popularizaram-se
para além das academias e universidades, conservando o
fascínio que desde sempre exerceram. A partir do primeiro quartel do século XIX, empreendem-se as viagens até
então restritas: membros da Missão Austríaca, filiados a
Alexandre von Humboldt, são responsáveis por paisagens
demonstrativas da composição vegetal, de sua fisionomia,
sem descurar das sociedades indígenas. Já no Império consolidado, chegam exploradores como o conde de Castelnau, que a partir de 1843 vai do Rio de Janeiro ao Amazonas, ou Descourtilz que nos anos de 1850 produziu pranchas de beija-flores nativos. Porém, o grande livro da natureza oitocentista é a Flora Brasiliensis, projetada por Karl
F. Von Martius. Publicada ao longo de seis décadas, espécie de romance de formação da natureza brasileira, inclui a
cultura do café, os sítios urbanos, as florestas e nestas cenas os escravos, lembrando que também de Martius é o
premiado ensaio Como se deve escrever a história do Brasil.
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África no Brasil
O oitocentos inaugura-se com a passagem da então colônia à sede de um Império Ultramarino. Império de muitas
“nações”: cabindas, monjolos, minas, nagôs, benguelas,
moçambiques, convertidas em braços que nas lavouras
açucareiras do Nordeste, nas minas de ouro, já decadentes, nos cafezais do Vale do Paraíba, sustentaram a economia brasileira em mais de trezentos anos de escravidão.
Negócio lucrativo, o tráfico de escravos fez fortunas
dos dois lados do Atlântico, e resistiu, com fôlego, às
pressões inglesas pelo seu fim, mantendo-se por alguns anos na clandestinidade, após a lei proibitiva de
1851. Atravessando o Atlântico nos porões dos navios
negreiros, a violência que funda a escravidão manifesta-se nos açoites, troncos, máscaras de ferro, prisões
que buscam fazer frente à resistência escrava, fartamente
documentada nos registros policiais.
A escravidão inscreve-se no corpo, submetendo à
marca comum da propriedade, indivíduos que exibem as diferentes marcas de suas terras. Apartados
de sua cultura, inseridos à revelia em uma sociedade
estrangeira, os diversos grupos étnicos reorganizam
suas identidades, reinventando “nações” na experiência compartilhada do cativeiro.
Compartimentos de um navio negreiro.
R. Walsh. Notices of Brazil en 1828
and 1829. London: Frederick Westley;
A. H. Davis, 1830.
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O cotidiano da escravidão ganha vida nos anúncios de
escravos fugidos e nas aquarelas do viajante europeu.
Mais raramente, encontramos registros inusitados,
como a carta escrita pelo escravo Zacarias pedindo um
empréstimo para uma causa, cada vez mais comum no
último quartel do XIX: a compra de sua liberdade.
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Maria Rita Meireles da Costa Pinto
com a ama de leite Benvinda. Salvador,
1880. A.Lopes Cardoso. Carte Cabinet .
Coleção Fotografias Avulsas
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Uma rua da Bahia. François Auguste
Biard. Deux annes au Bresil . Paris:
Librairie de L. Hachette et Cie., 1862
Lista de africanos
livres transportados
no brigue Ganges ,
aprisionado por
tráfico ilegal de
escravos, constando
nome, nação
e marcas no corpo.
Rio de Janeiro, 15 de
junho de 1839.
Diversos (SDH)
- Códices
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21
Arquivo Nacional
e instituições
A centralidade conferida às artes, ciência, literatura, história e geografia no Brasil, ao longo do
século XIX, deriva da busca de construção de
uma identidade nacional aliada à tentativa de vincular o país às “nações civilizadas”.
Neste contexto do estabelecimento de uma pauta
civilizatória inspirada em modelos europeus, são
criadas várias instituições científicas e culturais, entre as quais destaca-se o Arquivo Público do Império, hoje Arquivo Nacional. Fundado em 1838 com
o objetivo de preservar o patrimônio documental
da nação, suas atividades iniciais consistiam em recolher a documentação gerada pela administração
pública e os documentos do período colonial, então dispersos pelas várias províncias. Este trabalho
visava amparar as ações empreendidas por parte
do Estado e também subsidiar a pesquisa histórica,
segundo a prática em voga nos demais arquivos
nacionais surgidos na Europa no século XIX.
O Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, criado
em 1838 por um grupo de políticos e letrados, distingue-se por processar o passado histórico da nação e
por fortalecer o próprio campo disciplinar da história
em sua recém-encampada busca por cientificidade.
Diploma de sócio efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico do Brasil
concedido a Eusébio de Queirós.
Rio de Janeiro, 15 de abril de 1839.
Arquivo Eusébio de Queirós
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Arquivo Público do Império. Rio
de Janeiro, S.d. Arquivo Nacional
A Academia Imperial de Belas Artes do Rio de
Janeiro, fundada em 1816 no âmbito da chamada Missão Artística Francesa, foi responsável pela
formação dos artistas que iriam disseminar as
imagens da nação que se formava.
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Saúde
Rótulo de Hygia, xarope
vegetal de Araújo Góes.
Pelotas, 1876. Junta
Comercial do Rio
de Janeiro
Receita de remédios para o conselheiro
Teixeira Jr. pelo doutor Torres Homem.
Rio de Janeiro, 8 de abril de 1885.
Arquivo Visconde do Cruzeiro
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Em um século devastado por várias epidemias – febre amarela, varíola, cólera, tuberculose, malária –,
diversas medidas foram tomadas para a melhoria do
saneamento, da limpeza pública, do abastecimento
de água, e da salubridade do ar, em consonância com
as teses médicas vigentes no oitocentos. Amparado
pelos estudos desenvolvidos na Academia Imperial
de Medicina, o governo criou algumas instituições
para melhor controle e fiscalização da saúde pública, como a Junta Central de Higiene Pública, e intensificou a vigilância dos portos, por onde várias
epidemias penetravam em solo brasileiro.
A criação das faculdades de medicina contribuiu de
forma singular para a regulamentação da profissão de
médico e para a tentativa, embora não muito bem-sucedida, de eliminar as práticas de curandeirismo que
vigoravam entre os tratamentos mais populares. Hospitais para os mais pobres, lazaretos para isolamento
de casos graves, e hospícios para atendimento dos alienados – sendo o primeiro e mais exemplar o de Pedro II, no Rio de Janeiro – auxiliavam no tratamento
dos doentes e no desenvolvimento da saúde mental no
Brasil. No entanto, prevalecia o risco iminente de surtos epidêmicos nas maiores cidades, frutos da miséria
e insalubridade em que vivia a maioria da população.
Quanto aos indivíduos da classe senhorial, mesmo com
mais recursos, a doença rondava suas casas, como a do
escritor José de Alencar e a dos que se valem de um
arsenal composto de bicarbonato, valeriana, estricnina, xaropes vegetais e águas minerais.
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Educação
Carta de bacharel passada a Julio
Cesar Berenguer de Bittencourt
pela Faculdade de Direito de Olinda.
Olinda, 14 de outubro de 1844.
Itens Documentais
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Escudo de Minerva. Jornal manuscrito
dos alunos do Imperial Colégio de Pedro II.
Rio de Janeiro, 18 de maio de 1848.
Arquivo Visconde do Cruzeiro
Em um país no qual a maior parte da população
era analfabeta, a educação reproduzia as hierarquias da sociedade, sendo o acesso ao estudo
bastante limitado de modo geral e vedado aos
escravos. As aulas do ensino primário, dever das
províncias e do Estado, eram em sua maior parte “domésticas”, dadas normalmente nas casas
dos mestres ou nas poucas escolas primárias para
meninos e meninas separadamente, enquanto
alguma atenção foi dispensada ao ensino dos
meninos cegos e dos surdo-mudos em institutos
voltados para esse fim. Criado para ser o modelo de escola secundária no país, o Imperial Colégio de Pedro II, embora admitisse alunos pobres
gratuitamente, foi um instrumento por excelência para a formação dos futuros estadistas.
O ensino superior nas faculdades de direito e
de medicina era considerado um privilégio para
poucos cidadãos e as escassas escolas técnicas e
normais não interessavam aos membros da classe senhorial, que preferiam as carreiras de Estado, e não favoreciam a entrada dos mais pobres, limitados pelos cursos preparatórios e
concursos de ingresso. O século XIX representou uma época de poucos avanços, na qual a
educação serviu muito mais como um elemento de “distinção” do que propriamente de formação dos cidadãos. Assim, o ensino laico e a
separação entre o Estado e a Igreja tiveram que
esperar o programa republicano.
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Arte e ciência
No século XIX, enquanto o imperador brasileiro é chamado de cientista de cetro e coroa, a ciência e as artes
são incorporadas ao programa da civilização. A ciência
segue a trilha vitoriosa das Luzes, ao passo que o ideário
romântico dominará a cena por boa parte do período,
assistindo-se ainda a uma certa contaminação mútua entre romantismo e realismo.
É assim que o eclipse total do sol em 1858, fenômeno raro
visível no Brasil, foi estudado por uma expedição organizada pelo Observatório do Rio de Janeiro, contando com a
presença de Emmanuel Liais, renomado astrônomo do
Observatório de Paris. Em 1870, Carlos Gomes estreia O
guarani, no Rio de Janeiro, após bem-sucedidas apresentações na Europa. Baseada em livro de José de Alencar, a
ópera se alinha com a busca de construção de uma identidade nacional, evidenciando o tema dos índios.
No teatro, delineia-se uma dramaturgia própria, com a
construção de novos locais de encenação, apuro nas
montagens, cenografia e figurinos, organização de elencos brasileiros e sensibilização do público.
Ainda na literatura, os cenários naturais vão paulatinamente cedendo espaço ao meio urbano na forma de romances que escrutinam a vida da cidade, suas modas e
modos. A formação de um público leitor impulsiona a
abertura de bibliotecas e livrarias.
Cartão com a representação do eclipse
total do sol. Rio de Janeiro, 7 de outubro
de 1858. Série Educação
- Observatório Astronômico.
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O desenvolvimento da imprensa periódica e ilustrada enseja a circulação de jornais satíricos e de humor, fazendo
florescer a arte das charges e caricaturas e criando um
novo espaço para pintores e desenhistas.
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Cena, recitativo e balada
da ópera O guarani, de
Antonio Scalvini e Carlos
Gomes. Milão, 30 de agosto
de 1866. Itens Documentais
Desenho de Bordallo
Pinheiro para O Besouro,
em homenagem à
encenação de O guarani ,
de Carlos Gomes.
Rio de Janeiro, 1878
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Fotografia e vida privada
Retrato de criança.
Salvador, [1867-1882].
Alberto Henschel & Co.
Carte de visite. Coleção
Fotografias Avulsas
Com seu custo acessível, os retratos deixam de ser
exclusividade dos pintores; fotógrafos e estúdios proliferam também no Brasil. Em 1888, o Almanaque
Laemmert registrava mais de trinta fotógrafos com
endereço fixo na Corte, e em cidades como Salvador,
Recife, Porto Alegre, São Paulo e Curitiba o número
de fotógrafos também era expressivo. Boa parte desses profissionais era integrada por estrangeiros que
fugiam da concorrência em seus países de origem.
Outra prática comum era que os fotógrafos oferecessem seus serviços em cidades do interior, começando, naturalmente, pelos proprietários de terras.
Interior da sala do
imperador na sede da
Fazenda Santa Mônica.
[18—]. Marc Ferrez.
Estereoscopia. Arquivo
Família Vieira Tosta
Casas Evoneas. Habitações
populares. Rio de Janeiro,
10 de janeiro de 1882.
Ministério da Justiça e
Negócios Interiores
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A apresentação do daguerreótipo na França, em 1839,
marco da emergência da fotografia, conduz a uma ruptura no modo como os indivíduos são representados e
se dão a ver. Ao mesmo tempo em que rompe com os
padrões de representação visual, tributários da pintura,
fornecendo à imagem um estatuto técnico, a fotografia
aponta para a singularidade de cada um, normatizando
ainda comportamentos e condutas. Se o ano de 1841 dá
início à produção dos retratos, é graças à carte de visite,
patenteada por André Disdéri, que a fotografia se populariza, possibilitando que toda pessoa que se “prezasse”
posasse para o seu retrato ao menos uma vez na vida.
Desenho da casa da família
de Fernandes da Cunha Filho
em fazenda no sertão
da Bahia, com anotações
sobre a casa e as lembranças
do cotidiano familiar,
dedicado a seu pai. 1881.
Arquivo Joaquim Jerônimo
Fernandes da Cunha
A fotografia vai permitir assim que o retrato, até
então restrito às paredes das residências mais abastadas, se reproduza e se difunda, ainda que se mantenha como um elemento sagrado, com os álbuns
de família tendo como altar as salas das casas.
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Ordem econômica
Na fumaça dos trens que começavam a cortar o
Império, no café armazenado nos portos que ainda
se abriam para o mundo, no comércio crescente nas
cidades que se espalhavam pelas províncias, nas obras
de remodelamento das cidades e da Corte, nos salões das exposições, o Brasil dava mostras da modernidade que buscava alcançar no século XIX.
Rural e arcaico, o Império pretendia mostrar-se moderno, civilizado, urbano, sem abrir mão de sua estrutura social marcada pela exclusão e pela hierarquia.
Nesse século, o Brasil conheceu uma de suas lavouras
mais importantes, e pela qual mais se faria lembrar: o
café; porém também perdeu uma de suas atividades
mais lucrativas: o tráfico de escravos. Marca do atraso, a escravidão era indispensável para a manutenção
das engrenagens econômicas e sociais que trariam o
progresso à nação. No contexto do fim do tráfico e
expansão do café, empreendeu-se uma tentativa de
industrialização marcada pelos esforços do barão de
Mauá, ao passo que as ferrovias adentravam o país,
levando o progresso e os imigrantes que vinham lentamente substituir a mão de obra escrava.
Porto e Docas de Manutenção da Bahia. S.d.
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A Europa servia ao Brasil como espelho e vitrine para
nosso progresso peculiar. As exposições eram o palco das disputas entre as nações, lugar de exibir seus
produtos naturais e industriais, de demonstrar seu
progresso. O Brasil ainda era a natureza exuberante e
exótica, mas também as novas máquinas que surgiam.
Entre avanços e recuos, o século XIX representou
um largo passo rumo à modernização do país.
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Elevated Tramway - Perspectiva.
Rio de Janeiro, 2 de maio de 1881.
Ministério da Indústria,
Viação e Obras Públicas
Fachada do pavilhão do Brasil na
Exposição Internacional de Paris.
Álbum da Exposição Universal
de Paris: exposição brasileira.
[1889]. Coleção Fotografias Avulsas
Café do Brasil - Pavilhão do Brasil na
Exposição Internacional de Filadélfia.
[1876] Centennial Photographic
Company. Coleção Fotografias Avulsas
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Cultura do café. Cultura coffeae - in
praedio inter oppidum Magé et Montes
Serra dos Orgãos. Karl Friedrich Philipp
von Martius. Flora brasiliensis : sive
enumeratio plantarum in Brasilia
hactenus detectarum quas cura musei
caes. reg. palat. vindobonensis suis
aliorumque botaniorum studiis descriptas
et methodo naturali digestas.
Vindobonae, Lipsiae: Apud Frid. Beck,
Apud Frid. Fleischer in comm., 1840-1873
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Estado e Nação
D. Pedro II foi coroado imperador de uma nação ainda por se constituir. Sobre ele eram depositadas esperanças de estabilização de um país
que atravessava, com as regências, um período
de indefinição política e questionamentos ao
poder central. Os primeiros anos do seu reinado
ainda presenciam a eclosão de revoltas liberais,
em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco.
Contudo, as décadas seguintes seriam marcadas por um certo equilíbrio político calcado na
imagem de um poder real vinculado ao Estado
brasileiro e à própria nação. Nesse processo, o
fazer político tornava-se um negócio para poucos, para as elites, a “boa sociedade”, que surgia
como uma força capaz de levar a cabo este projeto. Construiu-se um imaginário que relacionava diretamente a unidade nacional à centralização, e estas, ao poder monárquico.
Uniforme do Corpo da Cavalaria
da Guarda Nacional. Litogravuras
aquareladas. Rio de Janeiro,
s.d. Litografia Imperial
de Heaton e Rensburg
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Paralelamente, estrutura-se em todo o território nacional um sistema eleitoral baseado
em relações clientelistas e intimidações abertas, e a Guarda Nacional, força militar integrada por todos os cidadãos e que representa
a ordem. A política surgia como um teatro,
que reforçava a existência desse Estado centralizado e unificado. Era através dele que as
instituições nas quais a política imperial se
sustentava — o Senado, as câmaras locais —
ganhavam existência material.
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Charge satirizando a excessiva
centralização do Estado imperial.
O Mequetrefe. Rio de Janeiro, [188-]
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Medalhas da Ordem Imperial do Cruzeiro.
Ordens Honoríficas. S.l., s.d.
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Abolição
Como poderá haver uma Constituição liberal e duradoura em
um país continuamente habitado por uma multidão imensa de
escravos brutais e inimigos? O dilema de José Bonifácio,
em 1825, resume a contradição entre o pensamento
liberal e a escravidão, que se acirraria ao longo do século XIX. No entanto, a crítica ao cativeiro ainda não
encontrava eco na sociedade brasileira.
Papel decisivo no combate ao tráfico de escravos cumpriu a Inglaterra, pioneira na Revolução Industrial, cujo
interesse na expansão de mercados e em novas tecnologias de produção determinou a perseguição ferrenha aos
navios negreiros até a extinção do tráfico transatlântico
em 1850. A partir da década de 1860, despontam no parlamento propostas de reformas no sistema escravista que,
aliadas à participação massiva de escravos na Guerra do
Paraguai, e aos efeitos do fim do tráfico, refletem-se numa
maior propensão da opinião pública à causa antiescravista. Em 1871, a Lei do Ventre Livre, ao libertar os nascidos de mulher escrava, condena a escravidão no Brasil.
Somente nos anos de 1880, entretanto, o movimento
abolicionista passa a defender a abolição imediata e sem
indenização. Fugas em massa, rebeliões, quilombos, compras de alforria e ações cíveis de liberdade multiplicamse e ganham nos abolicionistas notáveis aliados.
Honra e glória ao Ministério de 7 de
março pela Lei do Ventre Livre. [1871]
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Lei Áurea, carta de lei n° 3.353 pela qual
a princesa regente Isabel declara extinta a
escravidão no Brasil. Rio de Janeiro, 13 de
maio de 1888. Secretaria de Estado dos
Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas
Cartaz pregado nas ruas de Recife
favorável à abolição da escravidão
no Ceará. [Recife,1884]. Série Justiça
Antecipando o país em quatro anos, o Ceará é a primeira
província a libertar seus escravos. Marco da extinção da escravidão, a Lei Áurea, que completou 120 anos, é sancionada pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, oficializando o embate que já se vencia nas senzalas e ruas do Império.
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Guerra do Paraguai
O maior conflito bélico internacional ocorrido nas
Américas foi um divisor de águas para os países envolvidos: Uruguai, Argentina e Brasil lutaram contra
o Paraguai, o que no caso do Império brasileiro acabou contribuindo para a sua derrocada. Os custos financeiros e humanos do conflito, ocorrido entre 1864
e 1870, esvaziaram os cofres públicos e a credibilidade do governo, incapaz de dar um fim rápido à contenda. Além disso, se no início da guerra o exército
imperial mostrou a sua fragilidade, ao seu fim era uma
força reestruturada que recuperava o seu prestígio,
ideologicamente marcada por ideias republicanas.
Ocorrida em um período de definição dos Estados nacionais latino-americanos, a Guerra do Paraguai integra
um complexo processo de consolidação territorial destes países e o fortalecimento das suas instituições. O recorrente intervencionismo brasileiro no Uruguai, cujo
território em parte constituíra a província Cisplatina,
serviu como gatilho para uma guerra total. Milhares
morreram em consequência dos combates, das epidemias e da fome. No final da guerra as forças aliadas,
esvaziadas dos exércitos argentino e uruguaio, ocuparam um Paraguai arrasado e territorialmente diminuído.
Famílias paraguaias desabrigadas pela
guerra. S.l., [1867]. Arquivo Polidoro
da Fonseca Quintanilha Jordão
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Posição do exército aliado em frente
a Uruguaiana no dia 18 de setembro
de 1865. Ministério da Guerra
O exército imperial em defesa dos interesses comerciais e territoriais do Brasil na região do Prata logrou derrotar um inimigo moderno, numeroso e treinado. Contudo, a guerra viria a expor as fragilidades
do Estado imperial, incapaz de contar com o mesmo tipo de força armada, dependente da escravidão
e isolado em um continente republicano.
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Família imperial
Reunidos na Floresta da Tijuca, cenário exemplar da
Corte e iniciativa ímpar do governo de Pedro II, retratados pelo estúdio Alberto Henschel em 1887, os membros da família imperial parecem se despedir do século. Este ainda hesita em acabar, aguardando a Lei Áurea, a República, a Exposição Internacional de Paris.
Do Rio de Janeiro onde nasceu em 1825, por onde
viaja o imperador, com seus hábitos frugais, rabiscos e divagações em reuniões no Paço de São Cristóvão? Dali também se vai a Petrópolis, a Filadélfia,
ou em expedição ao Egito.
Desenho a lápis feito pelo imperador
Pedro II durante uma reunião.
Acompanha um pequeno texto
explicativo por José Clemente Pereira.
Rio de Janeiro, 23 de novembro de
1868. Coleção José Clemente Pereira
Imperador Pedro II e imperatriz Teresa
Cristina, com membros da família
imperial na Tijuca. Rio de Janeiro,
[1887]. Henschel & Co .
Coleção Fotografias Avulsas
Bilhete da princesa Isabel, condessa d’Eu,
convidando Maria Eufrásia e sua família
para uma dança. Rio de Janeiro, 1º de
março de 1867. Itens Documentais
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Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador
Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel
Gabriel Rafael Gonzaga sobe ao trono com apenas
quinze anos, em uma virada conservadora e, entre
outros papéis, detém o Poder Moderador, “a chave
de toda organização política” conforme a Constituição. Considerado por muitos um erudito, homem
interessado na ciência, nos inventos como o telefone, na fotografia, membro de academias e institutos
no Brasil e no exterior, alcançou grande popularidade, sobretudo após o término da escravidão.
Com a Proclamação da República em 1889, precedida
pelo famoso baile da Ilha Fiscal, cujo luxo despertou a
crítica e a ironia, o monarca foi exilado com toda a sua
família para Portugal. No mesmo ano, faleceu a napolitana Teresa Cristina com quem era casado desde 1843.
Sob um banimento que seria revogado apenas em 1920,
Pedro II faleceu na França em 1891.
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Princesa Isabel com seus filhos. [188-].
Arquivo Família Vieira Tosta
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Lunch oferecido à distinta oficialidade do
encouraçado Almirante Cochrane . Rio de
Janeiro, 1º de novembro de 1889.
Coleção Festas Chilenas no Rio de Janeiro
Notícia sobre a Proclamação da República
no Brasil. Diário Popular . São Paulo, 16
de novembro de 1889, ano 6, n. 1999
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Heloisa Ferreira
Irina Aragão
Pendentes em prata 950,
cobre e acrílico
Luiza Bomeny
Pendente e anel
em prata 950,
cobre e citrino
Fotografia póstuma do Imperador Pedro II. [Paris]. 1891.
Felix Nadar. Coleção fotografias avulsas
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Ao escolher a fotografia como tema para
a criação de adornos pessoais contemporâneos,
o grupo Teor 950, integrado por Aderval Cobal,
Hans Stahr, Heloisa Ferreira, Irina Aragão,
Leonardo De Aguiar, Luiza Bomeny e Paulino,
dá continuidade à proposta iniciada em 2005,
de interpretar momentos importantes da
história brasileira e fluminense, no século XIX.
No processo de criação, os artesãos e designers
adotam a prata, combinada aos mais diversos
materiais, experimentando novos conceitos
e expressões. Para a exposição Brasil: o império nos
trópicos, o grupo buscou o diálogo com as fotografias
do acervo do Arquivo Nacional e cada autor escolheu
uma imagem que orientou a interpretação do período
e a criação das peças: rendas dos vestidos nos retratos
das senhoras da boa sociedade oitocentista, as belas
paisagens do Rio de Janeiro, as locomotivas,
as curiosas molduras aplicadas em torno
das fotografias e as câmeras fotográficas.
Pendente e anel em
prata 950, cobre,
fotografia e
brilhantes
Hans Stahr
Anéis em prata 925 com turmalina melancia
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Paulino
Pulseira e colar em prata 925,
com quartzo branco, fumê e
bicolor, pérolas brancas e negras
Leonardo De Aguiar
Anel e colar em prata 950 e
quartzo transparente
Aderval Cobal
Colar e pulseira em prata 950,
renda e acrílico
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Download

Catálogo virtual da exposição Brasil: o império