GOIÂNIA, ____ / ____ / 2015
PROFESSOR: Daniel
DISCIPLINA: Literatura
SÉRIE: 1º ano
ALUNO(a):_______________________________
No Anhanguera você é
NOTA:
+ Enem
LISTA DE EXERCÍCIOS – P1 4 º BIMESTRE
Publicado em 1938, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é o mais importante romance regionalista da
segunda fase do nosso Modernismo. Escrito em terceira pessoa, com várias passagens em discurso
indireto livre, a narrativa começa com a família – Fabiano, sinhá Vitória e os dois filhos –
acompanhada do papagaio e da cachorra Baleia, fugindo da seca, a caminho do Sul. Pulando de uma
fazenda a outra, trabalhando sempre em caráter provisório, Fabiano e a família não se fixam em lugar
algum. Assim como começara, o romance termina com uma fuga, mas desta vez porque Fabiano se
julgara roubado pelo patrão.
Vamos ler o início do capítulo (“Contas”), no qual se narra uma das situações em que Fabiano é
ludibriado pelo dono da terra.
Texto I - Vidas secas
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha
roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia de feira ,
desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é
do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo,
cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar
os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão
descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia
conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchado.
De repente estourava:
— Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão não se
trepa.
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais
nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das
contas davam-lhe uma ninharia.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a
transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro,
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sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou somas e
diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as
operações de sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação
habitual: a diferença proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era
bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o
erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de
mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra
fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito
palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu
lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim, senhor, mas sabia respeitar os
homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até
estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler ( um bruto, sim senhor ) acreditara na velha. Mas
pedia desculpa e jurava não cair noutra.
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. Na porta, virando-se,
enganchou as rosetas das esporas, afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no chão
como cascos.
Foi até a esquina, parou, tomou fôlego. Não deviam tratá-lo assim. Diante da bodega de seu Inácio
virou o rosto e fez uma curva larga. Depois que acontecera aquela miséria, temia passar ali. Sentou-se
numa calçada, tirou do bolso o dinheiro, examinou-o, procurando adivinhar quanto lhe tinham furtado.
Não podia dizer em voz alta que aquilo era um furto, mas era. Tomavam-lhe o gado quase de graça e
ainda inventavam juro. Que juro! O que havia era safadeza.
01. (Fuvest-SP) O texto, assim como todo o livro de que foi extraído, está escrito em terceira pessoa.
No entanto, o recurso freqüente ao discurso indireto livre, com a ambiguidade que lhe é característica,
permite ao autor explorar o mundo interior do personagem.
Assinale a alternativa em que a passagem é nitidamente discurso indireto livre:
a) “Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia.”
b) “Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano.”
c) “ Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos.”
d) “ Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada.”
e) “ O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo.”
02. (Fuvest-SP) O texto, no seu conjunto, revela que Fabiano:
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a) ousou enfrentar o branco provando-lhe que as contas dele estavam erradas.
b) ao perceber que era lesado, defendeu com êxito seus direitos.
c) conscientizou-se de que fora vítima de safadeza, e conseguiu justiça.
d) concluiu que era explorado na venda do gado e nas contas.
e) indignou-se com sua situação mas voltou às boas com o patrão.
03. (Fuvest-SP) A respeito de sinha Vitória, a mulher de Fabiano, é possível afirmar que:
a) tinha miolo, não errava nas operações e tentava atenuar os conflitos do marido com o patrão.
b) era mesmo ignorante; quando Fabiano percebeu seu erro, foi pedir desculpas ao patrão.
c) além de errar nas contas, irritava-se com a diferença dos juros.
d) suas contas sempre diferiam das do patrão, mas ela pedia a Fabiano que se conformasse.
e) era o único apoio do vaqueiro, mas infelizmente sua ação não tinha efeito.
04. Um dos temas mais importantes de Vidas secas é a dificuldade de comunicação verbal das
personagens centrais. Identifique uma passagem do trecho lido que revela essa dificuldade.
05. Essa dificuldade de comunicação leva à quase animalização das personagens. Identifique no texto
uma comparação que sugere essa idéia.
06. O entendimento de qualquer tipo de comunicação simbólica – assim como ocorre na comunicação
verbal – exige grande esforço das personagens. Identifique uma passagem que trata desse assunto.
07. Fabiano considera que, se dominasse determinada habilidade, não seria mais considerado bruto.
De que habilidade se trata?
O romance Gabriela, cravo e canela é um dos mais populares de Jorge Amado. Narra a história de
amor entre Gabriela e Nacib, tendo os traços exóticos da região de Ilhéus como cenário. Disputas
políticas, especialmente entre os coronéis conservadores e o exportador Mundinho Falcão entremeiam
a história. Nas entrelinhas, o narrador condena o falso moralismo vigente.
O trecho que você vai ler mostra Gabriela abandonando o sertão para viver na cidade.
Texto 2 – Gabriela, cravo e canela
Só Gabriela parecia não sentir a caminhada, seus pés como que deslizando pela picada muitas
vezes aberta na hora a golpes de facão, na mata virgem.Como se não existissem as pedras, os tocos, os
cipós emaranhados. A poeira dos caminhos da caatinga a cobria tão por completo que era impossível
distinguir seus traços. Nos cabelos já não penetrava o pedaço de pente, tanto pó se acumulara. Parecia
uma demente perdida nos caminhos. Mas Clemente sabia como ela era deveras e o sabia em cada
partícula de seu ser, na ponta dos dedos e na pele do peito. Quando os dois grupos se encontraram no
começo da mata virgem, a cor do rosto de Gabriela e de suas pernas era ainda visível e os cabelos
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rolavam sobre o cangote, espalhando perfume. Ainda agora, através da sujeira a envolvê-la, ele a
enxergava como a vira no primeiro dia, encostada numa árvore, o corpo esguio, o rosto sorridente,
mordendo uma goiaba.
— Tu parece que nem veio de longe...
Ela riu:
— A gente tá chegando. Tá pertinho. Tão bom chegar.
Ele fechou ainda mais o rosto sombrio:
— Num acho não.
— E por que tu não acha? – levantou para o rosto severo do homem seus olhos ora tímidos e
cândidos, ora insolentes e provocadores. — Tu não saiu para vir trabalhar no cacau, ganhar dinheiro?
Tu não fala noutra coisa.
— Tu sabe por quê – resmungou ele com raiva. — Pra mim esse caminho podia durar a vida toda.
Num me importava...
No riso dela havia certa mágoa, não chegava a ser tristeza, como se estivesse conformada com o
destino:
— Tudo que é bom, tudo que é ruim também termina por acabar.
Uma raiva subia dentro dele, impotente. Mais uma vez controlando a voz, repetiu a pergunta que
lhe vinha fazendo pelo caminho e nas noites insones:
— Tu não quer mesmo ir comigo pras matas? Botar uma roça, plantar cacau junto nós dois? Com
pouco tempo a gente vai ter roçado seu, começar a vida. A voz de Gabriela era cariciosa mas
definitiva:
— Já te disse minha tenção. Vou ficar na cidade, não quero mais viver no mato. Vou me contratar
de cozinheira, de lavadeira ou pra arrumar casa dos outros...
Acrescentou numa lembrança alegre:
— Já andei de empregada em casa de gente rica, aprendi cozinhar.
— Aí tu não vai progredir. Na roça, comigo, a gente ia fazendo seu pé-de-meia, ia tirando pra
frente...
Ela não respondeu. Ia pelo caminho quase saltitante. Parecia uma demente com aquele cabelo
desmazelado, envolta em sujeira, os pés feridos, trapos rotos sobre o corpo. Mas Clemente a via
esguia e formosa, a cabeleira solta e o rosto fino, as pernas altas e o busto levantado. Fechou ainda
mais o rosto, queria tê-la com ele para sempre. Como viver sem o calor de Gabriela?
08. No primeiro parágrafo, há duas Gabrielas: a vista pelo narrador, e a vista por Clemente. Explique.
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09. “Só Gabriela parecia não sentir a caminhada.” Que expectativa sustenta a marcante resistência de
Gabriela?
10. Os olhos de Gabriela são reveladores de algumas de suas características. Identifique-as,
empregando apenas substantivos abstratos.
11. “Ela riu:
— A gente tá chegando. Tá pertinho. Tão bom chegar.
Ele fechou ainda mais o rosto sombrio:
— Num acho não.”
Identifique os objetivos opostos de Gabriela e Clemente.
12. Transcreva do texto as expressões que denotam a sensualidade de Gabriela.
Texto 3 – Jeca Tatu, de Monteiro Lobato
Na descrição de Jeca Tatu, Monteiro Lobato despe-o da idealização que, para ele, marcava a
representação da figura do caboclo:
"(...) a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e
metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de
cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé.
Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as
características da espécie.
De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa.
De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para "aquentá-lo", imitado da mulher e
da prole.
Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra
posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras. (...)
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a
natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher (...)
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço - e nisto vai longe.
(...)
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem
flores - nada revelador de permanência.
Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a
outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque...
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Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e
cuspilha.
— Não paga a pena.
Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra.
Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive."
13. O narrador sugere que a figura do caboclo é idealizada indevidamente. Transcreva o trecho em que
isso é demonstrado.
14. Explique por que o narrador critica essa idealização.
15. O texto ironiza o desempenho de Jeca Tatu em três papéis: o de mercador, o de lavrador e o de
filósofo. Como Jeca se sai em cada um deles?
16. Que aspecto se destaca na descrição do "jeca", feita pelo narrador?
17. Essa caracterização do caboclo, vista por muitos como "preconceituosa", valeu inúmeras críticas a
Monteiro Lobato. Para você, a imagem construída pelo autor denotação preconceito em relação ao
sertanejo? Comente.
18. De que maneira a crítica à idealização do caboclo reflete um desejo de retratar um Brasil mais
"verdadeiro"?
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literatura p1 iv bimestre