UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO LUCIANA DE OLIVEIRA FARIA DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NUM SISTEMA DE APRENDIZADO: ESTUDO DE CASO DE REDES NORTE/NORDESTE Salvador 2009 LUCIANA DE OLIVEIRA FARIA DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NUM SISTEMA DE APRENDIZADO: ESTUDO DE CASO DE REDES NORTE/NORDESTE Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em Administração. Orientadora: Profa. Dra.Maria Teresa Franco Ribeiro Salvador 2009 Escola de Administração - UFBA F224 Faria, Luciana de Oliveira. Desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas num sistema de aprendizado: estudo de caso de redes Norte/Nordeste / Luciana de Oliveira Faria. - 2009. 297 f. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Teresa Franco Ribeiro. Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Administração, 2009. 1. Pesquisa e desenvolvimento – Brasil, Nordeste. 2. Aprendizagem – Brasil, Nordeste. 3. Inovações tecnológicas. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II. Ribeiro, Maria Teresa Franco. III. Título. CDD 658.57 AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus, pelo milagre da vida e por tudo que me tem proporcionado. A Maria Teresa Franco Ribeiro pelo apoio em todos os momentos; uma orientadora de ouro. À minha família e amigos por todo o carinho e apoio incondicional, sempre. A Carlos pela compreensão e força em todos os momentos. Ao Núcleo de Pós-Graduação em Administração (NPGA) da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (EAUFBA), pelo apoio, a infra-estrutura, competência, a qualidade e simpatia dos professores, pesquisadores e funcionários. A todos aqueles que entrevistei, pela confiança em prestarem seus depoimentos e por doarem parte de seu tempo tão escasso. FARIA, Luciana de Oliveira. Desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas num Sistema de Aprendizado: estudo de caso de Redes Norte/Nordeste. 297f. il.2009. Tese (Doutorado) – Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. RESUMO Cada vez mais, percebe-se o caráter estratégico da capacitação científica e tecnológica e a formação de recursos humanos qualificados na chamada internacionalização da economia. Os recursos para Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), na área de Óleo e Gás no Brasil, têm recebido reforços significativos a partir do Fundo Setorial CT-Petro - criado em 1997 -, e devido à exigência, a partir de 2005, da Cláusula de Investimento em P&D, dos Contratos de Concessão para Exploração, Desenvolvimento e Produção de Petróleo e/ou Gás Natural. O Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 visou fomentar a constituição e consolidação de Redes Cooperativas de Pesquisas, Inovação e Transferência de Tecnologia nas regiões Norte/Nordeste, por meio do apoio a projetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Tal iniciativa provocou a interação formal de instituições de ensino e pesquisa dessas regiões e empresas para desenvolver projetos cooperativos, representando, na maioria dos casos, uma primeira empreitada neste sentido e um grande desafio para todos. O objetivo desta tese é compreender as Redes N/NE e analisar sua atuação no desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas regionais, verificando se favorecem a interação entre os atores e contribuem para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo & Gás. Das 13 redes criadas, optou-se por um estudo de caso múltiplo de duas delas: uma coordenada por universidade federal, focada num produto (Rede Asfalto) e outra, pela única universidade particular dentre as instituições coordenadoras, com foco num processo (Rede de Catálise); ambas na área de Abastecimento, que vem recebendo investimentos crescentes no Brasil. Descreveu-se, para cada rede, seu histórico, atores, organização, modo de gestão, projetos, e foram analisadas as capacitações científicas, tecnológicas, dinâmicas formadas e sua atuação no Sistema de Aprendizado Setorial. Não se trata de um estudo comparativo; o maior interesse foi ressaltar a riqueza e as especificidades de cada um dos casos. A Petrobras, maior operadora no país, está presente em todas as Redes N/NE e, nas redes estudadas, participa em 100% dos projetos das fases atuais. Com o advento das Redes Temáticas e Núcleos de Competência da Petrobras, que vieram cobrir as obrigações exigidas pela já citada Cláusula de Investimento em P&D para essa empresa, na prática, a infra-estrutura e capacidades formadas por meio das redes no Norte e Nordeste são compartilhadas pelos atores e projetos, potencializando sua atuação. A partir deste estudo, pretendeu-se aprofundar o conhecimento das dinâmicas das redes e a sua relação com as trajetórias regionais e nacionais num país periférico, sinalizando indicadores que possam subsidiar análises e estudos e políticas relacionadas às redes e aos Sistemas de Inovação. Como resultado, percebeu-se que, apesar das dificuldades na gestão, as Redes N/NE viabilizaram a seleção e difusão de tecnologias e, em alguns casos, a inovação. No entanto, as relações criadas ainda são pontuais e geram capacidades ainda pouco difusas e sua atuação é limitada no que se refere ao Sistema de Aprendizado, visto que este depende de fatores estruturais e institucionais, decisões políticas e estratégia de governo integradas. Palavras-chave: Sistemas de Aprendizado; capacitação científica e tecnológica; regiões. FARIA, Luciana de Oliveira. Development of Scientific and Technological Capabilities In a Learning System: a case study of North/Northeast Networks. 297 pp. ill.2009. Doctorate Thesis – Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. ABSTRACT Increasingly, we find the strategic character of scientific and technological capabilities, training of qualified human resources in the so-called internationalization of the economy. Resources for Research & Development (R & D) in Oil and Gas in Brazil has received significant reinforcements from CT-Petro Fund - created in 1999 - and mainly due to the requirement, since 2005, of the Investment Clause in R & D Concession Contracts for Oil and Natural Gas Exploration, Development and Production. The CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 announcement had as objective to promote the establishment and consolidation of Cooperative Research Networks, Innovation and Technology Transfer in the North/ Northeast Networks (N/NE Networks), by supporting scientific and technological development research projects. This initiative led to formal interaction of education and research institutions and companies of these regions to develop cooperative projects, representing in most cases, an initial work in this direction and a great challenge for all. This thesis aims to understand the N/NE Networks and examine its role in development of regional scientific and technological capabilities for building and strengthening of the Oil & Gas Learning System. From among thirteen N/NE Networks, it was chosen a multiple case study of two out of them for analysis: one is coordinated by a Federal University with the focus on a product (Asphalt Network) and another, by the only private University among the N/NE Networks coordinator institutions and with focus on a process (Catalysis Network), both in Oil & Gas supply, an area that has received attention and investments in Brazil. For each network its history, players, organization, management mode and projects were described, and the formed scientific, technological and dynamic capabilities and its actuation for building and strengthening of the Sector Learning System were discussed. It is not a comparative study; it was more interested in highlight the richness and particularities of each one of the cases. Petrobras, the largest operator in the country, is present in all N/NE networks and in the networks studied, participating in 100% of projects of the present phases. With the advent of the Thematic Networks and Competence Centers of Petrobras, who came to cover the obligations required by the aforementioned Investment Clause in R & D for the company, in practice, the infrastructure and capabilities formed through these networks in N/NE are shared by actors and projects, increasing their performance. From this study, it was intended to deepen the knowledge of the dynamics of networks and their relationship with national and regional trajectories in the peripheral countries, signaling indicators that can subsidize analysis and studies and policies related to networks and Innovation Systems. As a result, it was realized that despite the difficulties in management, the N/NE Networks have made the selection and dissemination of technologies and, in some cases, innovation. However, the relations created are punctuals, and generate scientific and technological capabilities localized with its role limited in the Learning System, since it depends of institutional and structural factors, political decisions and integrated government strategies. Keywords: Learning Systems; scientific and technological capabilities; regions. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fontes de poder do Setor Produtivo Estatal (SPE).................................................. 31 Figura 2 – Integração vertical da indústria petrolífera, grau de risco e características ............ 38 Figura 3 – Modelos Triple Helix .............................................................................................. 73 Figura 4 – Sistema macro de inovação..................................................................................... 80 Figura 5 – Sistema Setorial de Inovação .................................................................................. 81 Figura 6 – Sistema Regional de Inovação ................................................................................ 83 Figura 7 – Representação simplificada da interação entre competências e Sistemas Nacionais de Inovação (ou aprendizado)................................................................................................... 95 Figura 8 – Relação entre rotinas, competências ,capacidades, aprendizado e conhecimento .. 98 Figura 9 – Visão do Estado (Finep), universidades e Petrobras nas Redes N/NE ................. 139 Figura 10 – Modelo de gestão (funcional) das Redes N/NE .................................................. 141 Figura 11 – Sistema de camadas de um pavimento................................................................ 147 Figura 12 – Refinarias da Petrobras que produzem asfalto .................................................... 149 Figura 13 – Modelo centralizado de gestão de recursos da Rede Asfalto.............................. 164 Figura 14 – Competências científicas/tecnológicas da Rede Asfalto..................................... 168 Gráfico 1 – Evolução da Rede Asfalto (Fase 1 – Fase 2)....................................................... 201 Figura 15 – Foto do Sistran .................................................................................................... 202 Figura 16 – Níveis de capacitação tecnológica na Rede Asfalto - projetos investigados ..... 205 Figura 17 – Modelo descentralizado de gestão de recursos da Recat .................................... 218 Figura 18 – Principais competências científicas/tecnológicas da Rede de Catálise.............. 220 Figura 19 – Níveis de capacitação tecnológica na Rede de Catálise: projetos investigados.. 251 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Caracterização dos Fundos Setoriais ..................................................................... 55 Quadro 2 – Editais CT-Petro: ações verticais........................................................................... 62 Quadro 3 – Dimensões e níveis de capacitação científica e tecnológica: um resumo............ 112 Quadro 4 – Elementos morfológicos e constitutivos das redes interorganizacionais............. 118 Quadro 5 – Dimensões, conceitos-chave, indicadores e fontes de pesquisa .......................... 130 Quadro 6 – As 13 Redes Norte/Nordeste (Edital CT- Petro/CNPq-Finep 03/2001).............. 134 Quadro 7 – Indicadores da Rede Asfalto e foco percebido .................................................... 165 Quadro 8 – Projetos cooperativos da Rede Asfalto................................................................ 174 Quadro 9 – Projetos cooperativos da Rede de Catálise .......................................................... 225 Quadro 10 – Núcleos Regionais, Unidades de Negócio da Petrobras, Estado e Região........ 256 Quadro 11 – Redes Temáticas, respectivas áreas, temas e participantes .............................. 259 Quadro 12 - Infra-Estrutura laboratorial e equipamentos adquiridos na Rede Asfalto por instituição ............................................................................................................................... 293 Quadro 13 - Modelo básico dos questionários organizado por objetivos.................................295 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Redes e valores aprovados pela Finep até novembro/2008 .................................. 136 Tabela 2 – Freqüência das instituições nas Redes N/NE........................................................ 137 Tabela 3 – Número de instituições participantes nas Redes N/NE por região........................ 138 Tabela 4 – Resultados dos indicadores da Rede Asfalto (Fase 2) .......................................... 203 Tabela 5 – Investimentos da Petrobras em instituições de P&D Nacionais 1998-2005 (R$) 254 Tabela 6 – Comparativo das instituições Redes N/NE e Redes Temáticas............................ 260 Tabela 7 – Freqüência das instituições nas Redes Temáticas ................................................ 261 Tabela 8 – No de Instituições participantes nas Redes Temáticas por região. ........................ 262 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Abder Abdib Abeor ABNT ABPV Adeba ANP Anpet ANTT Astef BID BNB BNDE BP C&T CAP Capes CBCat CCR CCT Ceasf Cefet- Campos Cefet-AM Cefet-BA Cefet-RN Cenap Cenpes Ceped Cetem CG CGEE Cide CNI CNP CNPq CNT Cofic Comperj Coppe/UFRJ CTDUT CTEX CT-GAS CVRD Depin Derba Dert DNER Dnit EAP Embasa Embraer Associação Brasileira dos Departamentos de Estradas de Rodagem Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base Associação Brasileira de Distribuidores de Asfalto Associação Brasileira de Normas Técnicas Associação Brasileira de Pavimentação Associação Baiana das Empresas de Obras Rodoviárias Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Associaçáo Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes Agência Nacional de Transportes Terrestres Associação Técnico-Científica Engenheiro Paulo Frontin Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco do Nordeste Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico British Petroleum Ciência e Tecnologia Cimento Asfáltico de Petróleo Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Congresso Brasileiro de Catálise NovaDutra Concessionária Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia Centro de Excelência em Asfalto Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisa do Petróleo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (BA) Centro de Tecnologia Mineral Comitê Gestor Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico Confederação Nacional da Indústria Conselho Nacional do Petróleo Conselho Nacional de Pesquisa Confederação Nacional dos Transportes Comitê de Fomento Industrial de Camaçari Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação Centro Tecnológico em Dutos Centro de Tecnologia do Exército Centro de Tecnologia em Gás Companhia Vale do Rio Doce Departamento Industrial Departamento de Infra-Estrutura de Transportes da Bahia Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes do Ceará Departamento Nacional de Estradas de Rodagem Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes Emulsão Asfáltica de Petróleo Empresa Baiana de Águas e Saneamento Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A 14 Embrapa Embrapa - OC Embrapa - OR Encat Esam ETF-SE Fapesb FCAP FCC FCC FGV Finep Fiocruz FNDCT Funttel FURG FWD GLP GPR GPS Ibama IBP ICMS ICT IEA IEAPM IED IEL IME Impa Inmetro Inpa Inpe INPI INT Ipen IPI IPT IR ISO ITA Itep ITP/Unit Lactec LBA LMP LNLS Lubnor MCT MEV MME MPEG MTB NO Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Ocidental Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental Encontro Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Catálise Atual Ufersa – Universidade Federal Rural do Semi-Árido Escola Técnica Federal de Sergipe (Cefet-SE) Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia Fundação Ciências Agrárias do Pará Fluid Catalytic Cracking Fábrica Carioca de Catalisadores Fundação Getulio Vargas Financiadora de Estudos e Projetos Fundação Osvaldo Cruz Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Fundo de Telecomunicações Fundação Universidade Federal do Rio Grande (RS) Falling Weight Deflectometer Gás Liquefeito de Petróleo Ground Penetrating Radar Global Positioning System Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Petróleo Imposto de Circulação de Mercadorias Instituições Científicas e Tecnológicas International Energy Agency Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira Investimento Estrangeiro Direto Instituto Euvaldo Lodi Instituto Militar de Engenharia Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Instituto Nacional da Propriedade Industrial Instituto Nacional de Tecnologia Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (SP) Imposto de Produtos Industrializados Instituto de Pesquisa Tecnológica Imposto de Renda International Organization for Standardization Instituto de Tecnologia Aeronáutica Instituto de Tecnologia de Pernambuco Instituto de Tecnologia e Pesquisa Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (PR) Programa de Grande Escala da Biosfera – Atmosfera Amazônia Laboratório de Mecânica de Pavimentos Laboratório Nacional Luis Sincrontron Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste Ministério de Ciência e Tecnologia Microscópio Eletrônico de Varredura Ministério de Minas e Energia Museu Paraense Emilio Goeldi Misturador Técnico Brasileiro Óxido de Nitrogênio 15 O&G OECD OGU ON ONU OPEP P&D PADCT Padetec PDVSA PET Petrobras PIB PNB PND Procac Procap Prointec Pronaq PUC-Rio PUC-RS Rara RCT RDM Recat Redepetro Redes N/NE Redetec Reduc Refap Regap Reman Repar Replan Revap Rlam Robô Rapas Robô Saci SBCat SBQ Sebrae Senai Sesi Siembs Sistran SLVC SMS SNI SO2 SPE TCC TCE TCU Teclim Óleo e Gás Organisation for Economic Co-Operation and Development Orçamento Geral da União Observatório Nacional Organização das Nações Unidas Organização dos Países Exportadores de Petróleo Pesquisa e Desenvolvimento Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Parque de Desenvolvimento Tecnológico do Ceará Petróleos de Venezuela S/A Polietileno Tereftalato Petróleo Brasileiro S/A Produto Interno Bruto Produto Nacional Bruto Plano Nacional de Desenvolvimento Programa de Células Combustíveis Projeto de Capacitação em Águas Profundas Programa de Integração Tecnológica Programa Nacional de Química Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Reunião Anual da Rede Asfalto Relacionamento com a Comunidade de C&T (Petrobras) Rio Doce Manganês S/A Rede de Catálise Rede de Fornecedores da cadeia produtiva de Petróleo e Gás Redes Norte e Nordeste Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro Refinaria Duque de Caxias Refinaria Alberto Pascalini Refinaria Gabriel Passos Refinaria de Manaus Refinaria Presidente Getulio Vargas Refinaria do Planalto Paulista Refinaria Henrique Lage Refinaria Landulfo Alves Robô de Avaliação de Pavimentos Asfálticos Robô Sistema de Apoio de Combate a Incêndios Sociedade Brasileira de Catálise Sociedade Brasileira de Química Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa Serviço Nacional da Indústria Serviço Social da Indústria Sistema Integrado de Ensaios para Misturas Betuminosas e Solos Equipamento Laboratorial de Simulação de Tráfego Sistema de Levantamento Visual Contínuo Segurança, Meio ambiente e Saúde Sistema Nacional de Inovação Dióxido de Enxofre Setor Produtivo Estatal Trabalho de Conclusão de Curso Tribunal de Contas do Estado Tribunal de Contas da União Especialização em Tecnologias Limpas 16 TI TIB U-E UEL UEMA UENF UEPA UEPB UERJ UESB UESC UFAL UFAM UFBA UFC UFCG UFES UFF UFJF UFMA UFMG UFOP UFPA UFPB UFPE UFPI UFPR UFRGS UFRJ UFRN UFRRJ UFS UFSC UFSCar UFU UnB UNEB Unesp Unibahia Unicamp Unicap Unifacs Unifei Unifor UNIR Unisinos Unit USP Utam WEO Tecnologia da Informação Tecnologia Industrial Básica Universidade-Empresa Universidade Estadual de Londrina Universidade Estadual do Maranhão Universidade Estadual do Norte Fluminense (RJ) Universidade do Estado do Pará Universidade Estadual da Paraíba Universidade do Estado do Rio de Janeiro Universidade Estadual da Bahia Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia) Universidade Federal de Alagoas Universidade Federal do Amazonas Universidade Federal da Bahia Universidade Federal do Ceará Universidade Federal de Campina Grande Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal Fluminense Universidade Federal de Juiz de Fora Universidade Federal do Maranhão Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Ouro Preto (MG) Universidade Federal do Pará Universidade Federal da Paraíba Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal do Piauí Universidade Federal do Paraná Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Universidade Federal de Sergipe Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de São Carlos (SP) Universidade Federal de Uberlândia Universidade de Brasília Universidade do Estado da Bahia Universidade do Estado de São Paulo Universidade Bahia Universidade Estadual de Campinas Universidade Católica de Pernambuco Universidade Salvador (Bahia) Universidade Federal de Itajubá (MG) Universidade Fortaleza (Ceará) Universidade Federal de Rondônia Universidade do Valo do Rio dos Sinos Universidade Tiradentes (Sergipe) Universidade de São Paulo Universidade de Tecnologia da Amazônia World Energy Outlook SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14 1 CONTEXTO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS NO BRASIL, DIMENSÕES E OS FUNDOS SETORIAIS........................................................................................................... 25 1.1 HISTÓRICO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS NO BRASIL.............................................. 29 1.1.1 Histórico da Empresa estatal monopolista brasileira, dimensão produtiva, institucional e tecnológica .................................................................................................. 35 1.2 TRAJETÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO RELACIONAMENTO COM A COMUNIDADE DE C&T NO SETOR DE ÓLEO E GÁS BRASILEIRO............................ 44 1.3 FUNDOS SETORIAIS: ORIGENS E DESTINAÇÃO ..................................................... 51 1.3.1 O CT-Petro............................................................................................................. 58 2 CONSTRUÇÃO DA PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA ...................... 68 2.1 INOVAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA E AS BASES DA ABORDAGEM DE SISTEMAS DE INOVAÇÃO .................................................................................................. 68 2.1.1 A abordagem de Sistemas de Inovação ............................................................... 76 2.1.1.1 Transposição de conceitos: repensando o Sistema de Inovação para os paises periféricos ......................................................................................................................... 86 2.1.2 Capacidades, competências, rotinas, aprendizado e conhecimento: conceitoschave para a compreensão dos Sistemas de Inovação................................................. 93 2.1.2.1 Conhecimento, aprendizado e rotinas como blocos de construção das capacidades e competências ........................................................................................... 103 2.2 REDES E A ABORDAGEM DE SISTEMAS DE APRENDIZADO ............................. 114 2.3. MÉTODO DE PESQUISA.............................................................................................. 125 3 REDES NORTE/NORDESTE: MODELOS DE GESTÃO, CAPACIDADES E COMPETÊNCIAS ............................................................................................................... 131 3.1 AS REDES NORTE/NORDESTE ................................................................................... 131 3.1.1 Modelo de gestão das Redes N/NE ..................................................................... 138 3.2 A REDE ASFALTO (REDE 13)...................................................................................... 146 3.2.1 Histórico da Rede Asfalto ................................................................................... 152 3.2.2 Gestão da Rede Asfalto ....................................................................................... 161 3.2.3 Os Projetos Cooperativos (PC)........................................................................... 167 3.2.3.1 PC02 (Fase 2) - Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial .......................................................... 176 3.2.3.2 PC01 (Fase 3) - Química e reologia de ligantes asfáticos .................................. 181 3.2.3.3 PC02 (Fase 3) - Definição de metodologias de dosagens e ensaio de misturas asfálticas e da viabilidade do emprego de rejeitos ambientais como materiais para pavimentação .................................................................................................................. 184 3.2.3.4 PC03 (Fase 3) - Estabilização de solos com o uso de rejeitos ambientais para aplicação em pavimentos asfálticos................................................................................ 186 3.2.4 Rede Asfalto: capacidades e competências científicas e tecnológicas ............. 190 3.3 A REDE DE CATÁLISE – RECAT (REDE 11) ............................................................. 207 3.3.1 Histórico da Recat ............................................................................................... 212 3.3.2 Gestão da Recat ................................................................................................... 215 3.3.3 Os Projetos Cooperativos (PC)........................................................................... 219 3.3.3.1 PC01 (Fase 1) - Projeto âncora Rede de Catálise N/NE (Gestão)...................... 226 3.3.3.2 PC03 (Fase 1) - Aditivos para catalisadores de Fluid Catalytic Cracking (FCC) ........................................................................................................................................ 227 13 3.3.3.3 PC04 (Fase 1) - Remoção de enxofre em combustíveis por meio de processos de adsorção .......................................................................................................................... 229 3.3.3.4 PC05 (Fase 2) - Caracterização de catalisadores adsorventes por Espectroscopia Fotolítica (XPS).............................................................................................................. 230 3.3.3.5 PC07 (Fase 2) - Desenvolvimento de Catalisadores para reforma auto-térmica do metano. ........................................................................................................................... 231 3.3.3.6 PC08 (Fase 2) - Síntese e caracterização de catalisadores para reações de watershift em altas temperaturas .................................................................................... 233 3.3.3.7 PC10 (Fase 2) - Oxidação do monóxido de carbono em hidrogênio ................. 234 3.3.3.8 PC12 (Fase 2) - Degradação fotocatalítica de derivados em águas superficiais 236 3.3.4 Rede de Catálise: capacidades e competências científicas e tecnológicas....... 237 3.4 REDES TEMÁTICAS PETROBRAS E NÚCLEOS REGIONAIS DE COMPETÊNCIA: FRONTEIRAS ....................................................................................................................... 253 4 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 263 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 275 APÊNDICES ......................................................................................................................... 289 14 INTRODUÇÃO O desenvolvimento de equipamentos flexíveis e o surgimento de uma geração de conversores de energia que operam com mais de uma fonte energética vêm modificando o cenário energético mundial. A concorrência entre as diversas fontes de energia, que antes se dava no longo prazo, uma vez que envolvia investimentos em toda a cadeia (do equipamento de uso ao equipamento de transformação), está cada vez mais acontecendo em prazos mais curtos. Dessa maneira, de acordo com Pinto Junior e outros (2007, p.7), as fronteiras tecnológicas bem definidas de antes vão aos poucos se diluindo. De acordo com esses mesmos autores, tal movimento ultrapassa a simples diversificação estratégica das empresas de eletricidade, petróleo e gás, as quais procuram estar em várias cadeias e transformam-se em empresas de energia; trata-se de uma convergência tecnológica que constrói uma única indústria, derrubando as fronteiras entre as cadeias e gerando um espaço comum. Diante de todo esse avanço, o petróleo ainda se constitui na principal fonte de energia primária da matriz energética mundial e, devido à sua importância e características peculiares, aqui se considera como parte do setor de Óleo e Gás, cujas fronteiras estão em constante processo de ampliação. A própria utilização do termo “Óleo e Gás” já incorpora os biocombustíveis, por exemplo, como fonte de energia alternativa ao petróleo. A indústria de petróleo é intensiva em capital e possui forte conteúdo tecnológico. Além disso, caracteriza-se pelo alto risco, dentre eles, o risco exploratório. A inovação nesses campos é direcionada, principalmente, por considerações econômicas e, mais recentemente, por preocupações ambientais (ORGANISATION..., 2006). Devido à natureza altamente globalizada dos mercados de óleo, a inovação tecnológica upstream (exploração1 e produção), em Óleo e Gás e na produção em águas profundas, é altamente suscetível ao preço do óleo. Considera-se a indústria do petróleo madura do ponto de vista da fase da inovação em que se encontra, como se verá mais adiante. O petróleo é uma das principais commodities 1 Na indústria do petróleo, a exploração é uma atividade de pesquisa por natureza, na qual se realiza o mapeamento, a análise e a interpretação dos dados geológicos da subsuperfície, para a identificação de áreas com potencial para a produção de petróleo e gás. 15 negociadas no comércio internacional, tendo, no entanto, particularidades por ser um recurso mineral não renovável e devido às condições de oferta e demanda serem fortemente influenciadas pelo cenário geopolítico. O preço é a principal base da concorrência, a produção ocorre em grande escala, bem como há um alto custo de mudança de processos. A ênfase em termos tecnológicos tem sido, predominantemente, em desenvolvimento de tecnologias de processo, muito mais do que de produto. A Petrobras é a maior operadora do setor de Óleo e Gás do Brasil e líder mundial em tecnologia de extração de petróleo em águas profundas (superiores a 400m) e ultra profundas (acima de 2.000m), ou seja, atua no desenvolvimento de tecnologia de ponta em processos. Esse desenvolvimento foi conseguido a partir da competência técnica da Petrobras e das suas relações de cooperação com outras empresas, instituições de ensino e pesquisa, no Brasil e no exterior. Vale observar que no âmbito nacional, suas relações de parceria ocorriam, principalmente, com instituições localizadas nas regiões Sudeste e Sul, o que reflete as desigualdades no sistema brasileiro, cuja capacitação científica, tecnológica e produtiva encontra-se concentrada nessas regiões. Esse cenário vem sendo, aos poucos, modificado com a chegada de grandes empresas nas regiões Norte e Nordeste, com o surgimento de um arcabouço institucional de estímulo à inovação (legislação e organizações, como as fundações de amparo à pequisa estaduais, incentivo a incubadoras de empresas, criação de pólos de desenvolvimento de softwares – como o Porto Digital em Recife), com a interiorização de universidades federais e financiamentos à pesquisa que incluem nos editais a obrigatoriedade de formação de redes cooperativas entre empresas e instituições de ensino e pesquisa, além da reserva de recursos para essas regiões menos desenvolvidas, de forma a assegurar a sua participação. Cada vez mais, percebe-se o caráter estratégico da capacitação científica e tecnológica e a formação de recursos humanos qualificados na chamada internacionalização da economia. Recursos para P&D na área de Óleo e Gás no Brasil têm chegado por meio do Fundo Setorial CT-Petro2 – criado em 1997 – e devido à exigência, a partir de 2005, da Cláusula de Investimento em P&D, constante dos Contratos de Concessão para Exploração, 2 Os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, operacionalizados a partir de 1999, são instrumentos do Governo Federal para financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País. As receitas dos Fundos são oriundas de contribuições incidentes sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, parcelas do Imposto sobre Produtos Industrializados de certos setores e de Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) incidente sobre os valores que remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos tecnológicos/transferência de tecnologia do exterior. O CT-Petro foi o primeiro Fundo Setorial criado no país. 16 Desenvolvimento e Produção de Petróleo e/ou Gás Natural, estabelecidos entre a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e as concessionárias, desde 1998, no momento pós-regulamentação do setor. Esta última exigência culminou, no que se refere à Petrobras, especificamente, na criação em, 2005/2006, do que vem se chamando de Redes Temáticas e Núcleos Regionais de Competência. No decorrer da pesquisa, percebeu-se que, mesmo se tratando de instrumentos de financiamento diferenciados (o CT-Petro envolvendo Finep, empresa e universidades e as Redes Temáticas, a Petrobras e as universidades), na prática, atualmente, quando se trata das regiões Norte/Nordeste, nas redes e projetos particularmente estudados, os recursos estão convergindo em prol da capacitação e formação de competências científicas e tecnológicas. Dessa forma, mesmo sendo o objeto da presente tese as Redes N/NE, são tratadas considerações sobre suas fronteiras com as Redes Temáticas. O Fundo CT-Petro juntamente com a exigência da Cláusula de Investimento em P&D, dos Contratos de Concessão para Exploração, Desenvolvimento e Produção de Petróleo e/ou Gás Natural (esta, com recursos superiores ao Edital do CT-Petro das Redes N/NE), trouxeram um investimento jamais visto em P&D no Brasil. Em relação à Petrobras, ainda a maior operadora atuante no setor, os investimentos em P&D quase dobraram, saltando de R$935 milhões, em 2005, para R$1,58 bilhão, em 2006 (PETROBRAS, 2006a). No ranking da “2007 R&D Scoreboard”3, publicado pelo governo britânico, o Brasil é o único país da América do Sul citado e a Petrobras é a primeira empresa brasileira que aparece na listagem daquelas que mais investem em P&D no mundo, ocupando a 132ª colocação. Da mesma forma que no ano anterior, a listagem traz as brasileiras Companhia Vale do Rio Doce (181º lugar) e a Embraer (581º lugar). Com um investimento de 371,45 milhões de libras (US$ 766,5 milhões), equivalentes a 1% de seu faturamento, e 82% maior do que o de 2005, a Petrobras conseguiu passar, de 2006 para 2007, da 183ª para a 132ª colocação, ultrapassando a British Petroleum (BP) que, apesar de ter aumentado seu faturamento no ano de 2007, reduziu o percentual de investimento em P&D, o que lhe levou a perder 55 (cinquenta e cinco) posições no ranking (Ver APÊNDICE A). O Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 teve como objetivo fomentar a constituição e consolidação de Redes Cooperativas de Pesquisas, Inovação e Transferência de Tecnologia 3 As cinco empresas no mundo que mais investem em P&D são Pfizer (farmacêutica), Ford Motor, Johnson & Johnson, Microsoft e DaimlerChrysler. 17 nas regiões Norte/Nordeste (Redes N/NE), por meio do apoio a projetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Nesse formato, o Estado, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), aporta recursos a fundo perdido, e a empresa investe uma contrapartida financeira no projeto. Dessa maneira, a empresa é estimulada a investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) com um menor comprometimento de recursos; às universidades, cabe a execução do projeto. Devido ao seu histórico como empresa estatal que exerceu monopólio durante quase 50 anos e à percepção da importância estratégica da P&D, com a estruturação do seu Centro de Pesquisas, sua experiência particular em pesquisa compartilhada (tanto no exterior, como internamente com universidades e centros de pesquisa) e sua relação de proximidade com o governo, dentre outros, a Petrobras usufruiu, desde o início, dos recursos disponibilizados pelo CT-Petro. A Petrobras tem uma presença maciça nas Redes N/NE, representando, nos projetos das redes estudadas, 100% de participação. Como o CT-Petro foi o primeiro Fundo Setorial implantado, esse modelo de edital das Redes N/NE foi considerado uma inovação da gestão de políticas públicas no Brasil4. Foram grandes os desafios, dentre eles: criar um ambiente de pesquisa conjunta com instituições que possuíam, em geral, pouca ou nenhuma experiência com interações mais formalizadas entre integrantes da própria academia, e, com o setor produtivo; equipar e capacitar essas instituições de ensino e pesquisa, para se relacionarem com novas áreas e demandas de pesquisas; estimular empresas a participar dessa construção conjunta; criar cultura de cooperação; trabalhar com uma nova estrutura (mais horizontalizada) que exige coordenação e gestão diferenciada; e lidar com controles de instituições financiadoras diferentes, com “times” também distintos (para respostas e verificações) e sobrecarga de trabalho por parte de todas as instituições envolvidas. A Petrobras, mesmo com a experiência acumulada em projetos cooperativos, nunca havia trabalhado de forma mais horizontal com um grande número de universidades das regiões Norte/Nordeste, com pouca ou nenhuma experiência nesse tipo de relação. 4 Antes, porém, em 1996, houve uma experiência na criação do Programa de Desenvolvimento das Engenharias (Prodenge), com participação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Ministério da Educação (MEC), além do CNPq. Houve dois subprogramas aprovados: Reengenharia do Ensino de Engenharia (Reenge) e Redes Cooperativas de Pesquisa (Recope). Neste último subprograma, inicialmente, foram constituídas sete redes prioritárias com 32 sub-redes, envolvendo 164 grupos de pesquisa e 82 empresas (LONGO, 2004, .p.430). Seus resultados serviram de referência para a criação das Redes Norte/Nordeste do CT-Petro. 18 A presente tese tem como Objetivo Geral compreender as Redes N/NE e analisar sua atuação no desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas regionais, verificando se favorecem a interação entre os atores e contribuem para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo & Gás. Nessas redes, são analisadas as capacidades e competências formadas e em formação. As Redes N/NE foram escolhidas como objeto de estudo, uma vez que já possuem histórico de funcionamento desde 2001 e, portanto, uma trajetória que permite uma análise mais abrangente, e, também, porque envolvem as regiões brasileiras menos desenvolvidas e, logo, precisam ser analisadas no sentido de avaliar seus resultados e potencialidades na formação de capacidades e competências regionais. O objeto deste trabalho é pertinente e oportuno, uma vez que, conforme Figueiredo (2004, p.346), muitas formas de apoio financeiro têm sido implementadas para a formação e consolidação de infra-estruturas de tecnologia e inovação no Brasil. Porém, muito pouco tem sido feito em termos de avaliação das reais implicações da construção e do funcionamento de tais infra-estruturas para o desenvolvimento de capacidade tecnológica e científica (grifo nosso) no país. O presente estudo transita em ambientes multi-dimensionais e, a partir da análise da experiência das Redes Norte/Nordeste, pretende-se aprofundar o conhecimento das dinâmicas das redes e a sua relação com as trajetórias regionais e nacionais num país periférico, sinalizando indicadores que possam subsidiar análises e estudos e políticas relacionadas às redes e aos Sistemas de Inovação. O estudo propõe um maior aprofundamento de tais temas, na medida em que discute a dinâmica da inovação e instrumentos existentes para seu processo de internalização e integração, evidenciando sua relação com a comunidade em prol de um compromisso não somente científico e tecnológico, mas sócio-econômico. Compreender como as redes atuam pode gerar indícios que levem a refletir e a contribuir sobre possibilidades para a integração e, para a construção e o fortalecimento de um Sistema de Aprendizado. Busca-se compreender se as capacidades e competências científicas e tecnológicas geradas por meio das Redes N/NE estão criando dinâmicas próprias, condizentes com as tendências do processo de inovação que envolvem o aprendizado, a construção e o fortalecimento do Sistema. 19 Relacionados ao Objetivo Geral, têm-se os seguintes Objetivos Específicos que se busca alcançar na pesquisa: i) Caracterizar as redes em termos de: a) Aspectos internos à rede: histórico, atores, objetivos, organização (estrutura, formalização, divisão do trabalho e recursos envolvidos), modo de gestão e projetos cooperativos; b) Aspectos relacionais: confiança observada, relações universidade-empresa (integração com o setor produtivo) e principais formas e conteúdo da comunicação; c) Desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas (e resultados que refletem esse desenvolvimento): cursos gerados na rede (especialização, mestrado e doutorado), teses e dissertações, publicações (artigos e livros), prêmios conquistados, pedidos de patente gerados, softwares criados, materiais testados, produtos aplicados ou melhoria de processos na indústria, eventos e reuniões realizados, alunos de graduação e pós-graduação envolvidos nas pesquisas, projetos alavancados, consultorias realizadas, novas linhas de pesquisa, intercâmbio e infra-estrutura criada. ii) Analisar a formação de capacidades científicas e tecnológicas obtidas por meio das redes e dinâmicas geradas, discutindo suas implicações para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado Brasileiro em Óleo e Gás; Os objetivos supracitados estão relacionados com as Questões da Pesquisa, quais sejam: As Redes Norte/Nordeste são uma forma de organização que têm possibilitado o desenvolvimento de capacitação científica e tecnológica nessas regiões? Pode-se afirmar que essas redes favorecem a interação entre os atores contribuindo para a constituição e/ou fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás? Há uma preocupação em avaliar os esforços de construção das interações entre os atores a partir de um incentivo institucional do Governo Federal – o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e sua agência, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e se esse 20 estímulo gera o fortalecimento das relações e o aprendizado, contribuindo para a capacidade organizacional e a capilaridade produtiva. A literatura, conforme Dantas e Bell (2006)5, mostra mais frequentemente, a relação entre o formato organizacional em rede e a construção de capacidade nas organizações (indústria), sendo essa capacidade vista como um tipo de tecnologia, de maior ou menor complexidade. Esses autores admitem a relação recíproca existente entre as redes e as capacidades da firma, vez que as capacidades disponíveis limitam os tipos de rede em que há possibilidade de entrada e, ao mesmo tempo, as redes podem contribuir para o desenvolvimento de capacidades necessárias à organização. A presente tese parte de um caminho inicial inverso a esses autores, tendo a preocupação de investigar mais particularmente a contribuição das redes para a construção de capacidades organizacionais (universidades, mais do que a indústria) e institucionais, ou seja, o adensamento das relações entre os atores e o potencial de inovação, reconhecendo, no entanto, também a relação recíproca (capacidade-redes) quando revela que as redes acabaram surgindo onde havia capacidade construída, tanto na Petrobras, que predominou como empresa financiadora das Redes N/NE estudadas, quanto nas universidades, o que é percebido no histórico de formação de cada Rede. Além disso, sinaliza que a natureza coletiva da inovação pode ser incentivada, mesmo em locais onde as trajetórias de inovação são frágeis. Parte-se também da contribuição de Malerba (2003), segundo o qual dependendo do seu processo de aprendizado e seu estoque de conhecimento e capacitações acumuladas no tempo, uma organização pode ser caracterizada por diferentes direções da mudança técnica; nesse sentido, os sistemas setoriais têm uma base de conhecimento, tecnologias, inputs e uma demanda (potencial ou existente) específicos. Esses autores consideram a capacidade científica e tecnológica como dependentes do aprendizado, das bases, da geração de conhecimento e da infra-estrutura criada. Bell e Pavit (1993), mais especificamente, consideram a capacidade tecnológica dependente dos sistemas técnicos físicos, conhecimento e qualificação das pessoas, sistema organizacional e produtos e serviços, como será visto no capítulo teórico. Esta tese constitui-se de uma análise essencialmente qualitativa de um estímulo governamental à formação de capacitações 5 Dantas e Bell (2006) examinam a evolução interativa de longo prazo das capacidades e das redes centradas na Petrobras em mais de trinta anos entre 1960-2000 e que funcionaram como entry tickets para novas redes. 21 científicas e tecnológicas, não somente na indústria, mas na universidade e cujo o foco voltase ao sistema setorial no âmbito regional, portanto, mais específico e adequado aos objetivos da pesquisa. Como Pressupostos têm-se: i) Tanto Albuquerque (1999) como Viotti (2000), a partir de pesquisas, constataram a fragilidade do Sistema de Inovação Nacional. Viotti (2000), considerando em termos gerais, sugere a existência de Sistemas de Aprendizado em países periféricos, embora isso não signifique a inexistência de setores altamente dinâmicos em termos de inovação. Mesmo sendo o Sistema de Aprendizado no Brasil, de uma forma geral, considerado por este autor como passivo, vez que a dinâmica inovacional é ainda restrita a alguns setores e é focada essencialmente na absorção de capacidade de produção, o setor de Óleo e Gás brasileiro possui características de um Sistema de Aprendizado Ativo, vez que nele acontece a inovação, inclusive de ponta. No entanto, nas regiões Norte/Nordeste este mesmo sistema setorial assume características, ainda, de um sistema passivo; na medida em que detém poucos laços entre os atores, e que pode ser um reflexo da fragilidade das organizações e instituições no âmbito local e regional. ii) As redes constituem-se num formato que propicia a interação, o aprendizado, a troca de conhecimento e a inovação, viabilizando o acesso a novas tecnologias e recursos provenientes de parceiros, o que tem sido potencializado com os avanços da tecnologia da informação (TI). As seguintes Hipóteses foram construídas: i) As relações criadas a partir das redes são pontuais e geram capacitações e competências ainda pouco difusas; ii) As redes como formato são importantes para a construção de capacitação, mas ainda são limitadas no que se refere ao Sistema de Aprendizado (tanto setorial como regional) pois este depende de fatores estruturais e institucionais, decisões políticas e estratégias de governo. Devido à inviabilidade de se estudar as 13 Redes N/NE criadas, com o aprofundamento necessário no tempo disponível, optou-se por escolher duas redes para análise, por meio de uma estratégia de estudo de caso múltiplo. As duas redes foram escolhidas a partir de 22 pesquisa realizada em dados secundários e entrevistas exploratórias na Petrobras, em setembro de 2007, e, correspondiam, à época, às redes melhor avaliadas pela Finep em termos de organização e resultados obtidos. Uma delas é coordenada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e possui foco num produto - o asfalto e sua aplicação (Rede 13: Rede Asfalto), e a outra, por uma universidade particular, a Unifacs, única de natureza privada que coordena Redes N/NE, com foco num processo - a catálise (Rede 11: Rede de Catálise - Recat). A Rede Asfalto é a menor rede em termos de quantidade de instituições participantes - formalmente, a compõem dez universidades - e a Rede de Catálise é a maior, com 18 universidades. Ambas as redes atuam no Abastecimento, área que atualmente vem recebendo muita atenção e investimentos na Petrobras. As demais entrevistas ocorreram no ano seguinte, com os representantes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Petrobras, da Recat e Rede Asfalto. As capacitações e competências geradas por meio das Redes N/NE foram compreendidas a partir da análise das entrevistas e de dados secundários recolhidos (relatórios e documentos disponíveis, sites, dentre outros). Para cada rede foram descritos o histórico, atores, objetivos, organização, modo de gestão, projetos cooperativos, aspectos relacionais e a atuação das redes no desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas, pretendendose, dessa forma, apreender, a partir de seu estudo, o que é comum e, principalmente, o que é particular a cada uma delas. No intuito de investigar se as Redes N/NE são uma forma de organização que têm possibilitado o desenvolvimento de capacitação científica e tecnológica nessas regiões, e se favorecem a interação entre os atores, contribuindo para a constituição e/ou fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo & Gás, utiliza-se como base a Abordagem de Sistemas de Inovação. Conforme Cardoso (1971), a relação que propicia o conhecimento do objeto se funda na teorização aceita no momento como dando conta desse, pelo menos parcialmente; o método não pode estar isolado dos conteúdos teóricos e tem estreita relação com o conteúdo sobre o qual é aplicado. A Abordagem de Sistemas de Inovação é derivada da perspectiva neoschumpeteriana a qual considera que o processo inovativo não ocorre somente nos laboratórios de P&D das empresas; pelo contrário, é um processo complexo que pode envolver diversos atores e gerar inovações radicais ou incrementais. Apesar de sua origem em países desenvolvidos, a abordagem possui conceituação bastante ampla, uma vez que considera os processos históricos particulares dos países, sua 23 estrutura político-institucional e a importância das relações. Nesse sentido, tem sido utilizada para compreender a dinâmica de diferentes tipos de sistemas. Como afirmam Johnson e Lundvall (2000, p.90), se acreditarmos que o desenvolvimento de competências está no cerne do progresso, que a interação de fatores é importante e que a integração de políticas é necessária, o conceito de Sistemas de Inovação revela-se uma ferramenta útil. No presente trabalho, consideram-se importantes a constituição e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás por meio da construção de relações, trajetórias de aprendizado e criação de capacidades que permitam alavancar projetos em diferentes escalas. A constituição e o fortalecimento do Sistema dependem de dinâmicas construídas, do planejamento e das necessidades dos diversos atores envolvidos, suas capacitações e criações de competências, inclusive a conscientização de seu papel no sistema e a interdependência em relação aos demais atores, envolvendo políticas públicas e demandas diversas. No que se refere às redes, estas têm sido vistas como um formato organizacional que propicia a interação, o aprendizado, a troca de conhecimento e a inovação, viabilizando o acesso a novas tecnologias e recursos provenientes de parceiros e isso tem sido potencializado com os avanços da tecnologia da informação (TI). A intenção do governo, ao utilizar o recurso das redes, é permitir que a construção das relações setor produtivo-universidades alavanque a pesquisa científica e tecnológica naquelas regiões, e, assim, crie capacidades e competências, valorizando as especificidades regionais e tornando-as capazes de se integrar, com suas particularidades. Esta tese encontra-se organizada em quatro capítulos integrados, além desta introdução. O primeiro capítulo traz um panorama sobre o histórico do setor de Óleo e Gás no Brasil e no mundo, os Fundos Setoriais, o CT-Petro e as Redes N/NE, levando, assim, à questão principal desta tese. O segundo capítulo constrói a perspectiva teórico-metodológica, quando se conceitua aprendizado, inovação e Sistemas de Aprendizado/Inovação, capacitação, competências, rotinas e relações entre ciência e tecnologia e constitui a grade de análise. Nesse capítulo, explicita-se, ainda, a estratégia de pesquisa, com a justificativa do recorte escolhido a partir dos objetivos do estudo, com vistas a traçar o caminho percorrido para atingi-los. No terceiro capítulo, são apresentadas as Redes N/NE, seu histórico, atores, organização, modo de gestão e projetos, bem como são analisados os resultados das pesquisas, as capacitações e competências científicas e tecnológicas observadas à luz do referencial teórico, sendo feito um esforço no sentido de sinalizar indicadores que possam 24 subsidiar análises e estudos e políticas relacionadas às redes e aos Sistemas de Inovação. Trata-se, também, da criação das Redes Temáticas que muito se beneficiaram da experiência das Redes N/NE e que acabaram compartilhando recursos e competências. No quarto e último capítulo, tem-se a conclusão, na qual são tecidas considerações e contribuições para novos estudos. 25 1 CONTEXTO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS NO BRASIL, DIMENSÕES E OS FUNDOS SETORIAIS O setor de energia possui grande importância na economia e cenário internacional. O petróleo constitui-se na principal fonte de energia e sua demanda ainda vem aumentando, principalmente nos países periféricos (mais especificamente, China, Índia e no Oriente Médio), mesmo com o crescimento dos investimentos em outras fontes de energia. (INTERNATIONAL..., 2008). O petróleo, além de matéria-prima para produção de combustíveis e energia, também é utilizado na fabricação de polímeros plásticos, benzina e, até mesmo, medicamentos. A pesquisa envolve elevados custos e complexidade de estudos, na maioria das vezes, interdisciplinares. Além de gerar a gasolina, combustível utilizado em grande parte do transporte em automóveis no mundo, vários produtos são derivados do petróleo como o gás natural, o gás liquefeito de petróleo (GLP), a parafina, produtos asfálticos, nafta petroquímica, querosene, solventes, óleos combustíveis, óleos lubrificantes, óleo diesel e combustível de aviação, dentre outros. Grande parte desses produtos é gerada a partir do refino, que constitui uma série de operações para separar as frações desejadas do petróleo, processá-las e industrializá-las em produtos derivados. Historicamente estratégico e alvo de disputas políticas e econômicas, o petróleo é encontrado no subsolo em profundidades variadas, inclusive abaixo do nível do mar, a mais de três mil metros de profundidade. Constitui-se de uma combinação complexa de hidrocarbonetos, e, assim, como o gás, é um recurso de natureza finita. Como commodity, o óleo tem como uma de suas características a vulnerabilidade a fortes oscilações de preços, tanto pelo poder dos grandes produtores (sobretudo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)), quanto pelo poder de mercado dos grandes compradores, a exemplo dos Estados Unidos. São poucas as indústrias no Brasil que se equiparam à indústria do petróleo, em termos de sua capacidade de induzir a economia como um todo. No âmbito nacional, a participação 26 do petróleo no Produto Interno Bruto (PIB) vem crescendo a cada ano6. O setor de Óleo e Gás, no aparelho produtivo nacional, se dá tanto na condição de fornecedor de combustíveis, derivados, gás natural e matérias-primas, como na de consumidor de bens e serviços especializados e não especializados. Aragão (2005, p.4) destaca os benefícios advindos do setor: em termos de finanças públicas, referentes à balança comercial, emprego, pesquisa e desenvolvimento tecnológico; em termos fiscais, a importância do setor é dada pela multiplicidade de fatos geradores de impostos a ele associados. Além da arrecadação de impostos associada ao montante de negócios realizados pela cadeia produtiva e de fornecedores (Imposto de Renda (IR), Imposto de Produtos Industrializados (IPI), Imposto de Circulação de Mercadorias (ICMS) etc..), destaca-se a arrecadação de royalties que representa, hoje, uma importante fonte de recursos para os estados e, sobretudo, municípios envolvidos nas bacias, além do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), que, financia o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país, e para a Marinha, no caso de poços no mar. Já o impacto sobre as contas externas ocorre, principalmente, pelo crescimento da produção interna de óleo, dando origem a reduções na conta petróleo da balança comercial brasileira. A atividade petrolífera nacional é um importante fator de dinamização do crescimento econômico regional. É conhecido que as atividades de exploração e produção no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, têm significativo peso na geração de emprego e rendas locais, no entanto, deve-se levar em consideração o potencial de agressão ao meio ambiente causado por esse tipo de indústria. O Brasil é a maior economia da América Latina e o 17º maior produtor mundial de óleo. Na América Latina, é o segundo país, após a Venezuela, em reservas de óleo e gás natural, e o maior consumidor de energia, com mais de 40% do consumo da região, em 2007 (BRITISH..., 2007). Desde 2006, o país é considerado autosustentável em consumo de óleo cru, como resultado de investimentos na exploração e produção; ou seja, possui capacidade de produzir o que consome, encontrando-se numa situação relativamente mais favorável no cenário mundial. No Brasil, a demanda maior, no mix de energia, ainda é de óleo. A demanda de gás natural teve aumento, nos últimos anos, devido a uma estratégia do governo para a diversificação energética. 6 Conforme Aragão (2005, p.4), estima-se que a contribuição média da indústria do petróleo ao PIB brasileiro tenha sido de 2,44% (nos anos 60), 2,79% (anos 70), 4,20% (anos 80), 3,36% (1990/1997) e 4,94% (1998/2003). 27 Para se ter uma idéia da importância do petróleo internacionalmente, destaca-se que, dentre as 10 maiores empresas do mundo em faturamento listadas no ranking do Global 500 (2008), seis são empresas conhecidas do ramo: Exxon Mobil (US), Royal Dutch Shell (UK), BP (Britain), Chevron (US), ConocoPhilips (US) e Total (FR). A Petrobras está entre as 100 maiores empresas, ocupando a 63ª posição na listagem, e é a maior empresa brasileira em faturamento, de acordo ainda com a mesma fonte. Há um grande risco do petróleo perder sua importância econômica devido às pressões ambientais (ENERGIA..., 2007). A energia tem uma grande parcela de contribuição na mudança climática global, já que mais de 60% das emissões de gás estufa vêm da produção e uso da energia (INTERNATIONAL..., 2008, p.39). Cada vez, torna-se mais difícil estabelecer limites entre os negócios e a questão ambiental, e o setor petrolífero não é exceção, pelo contrário. Para prevenir danos ambientais de maiores proporções, como o aumento da temperatura global, é necessária uma maior descarbonização das fontes de energia; essa preocupação é percebida, de maneira geral, nas instituições governamentais, o que é refletido nas empresas, que são cobradas, cada vez mais, pela redução ou eliminação de emissões de poluentes no meio ambiente. Além disso, na exploração e produção do petróleo, órgãos, como o Ibama, fiscalizam e são responsáveis, dentre outros, pela concessão da licença ambiental, a qual é condicionada a uma série de exigências. Por causa de sua importância no setor, percebe-se que a questão ambiental vem sendo tema de um número cada vez maior de pesquisas; é um tema transversal. No caso da Rede Asfalto, por exemplo, as pesquisas analisadas apontam para a utilização de resíduos da construção civil e borrachas de pneus nas misturas, dentre outros, aproveitando os dejetos que seriam, em situação normal, descartados na natureza. Na Rede de Catálise, como será visto mais adiante, há a preocupação nos projetos com a questão ambiental principalmente no controle das emissões. O Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, estabeleceu medidas para a redução das emissões no mundo e afirma-se, cada vez mais, devido à forte pressão de seus integrantes, apesar da resistência americana - ainda o maior consumidor mundial de petróleo. Tais medidas influenciam os países e suas relações, levando-os às devidas adequações. No Brasil, a Resolução n. 008 de 06/12/1990, obriga à redução das emissões de SO2 (dióxido de enxofre). Para isso, as empresas adaptam e adotam conversores catalíticos, principalmente nos 28 veículos e nas indústrias, e investem em pesquisas para melhorar a qualidade do combustível, a exemplo do diesel que, apesar de ser mais econômico do que a gasolina, é mais poluente. Devido às fortes exigências ambientais, à necessidade de balancear seu mix de energia e aos interesses diversos na estratégia de negócios, o setor de petróleo vem se expandindo para o desenvolvimento de combustíveis alternativos e novas formas de geração de energia. A própria agência de regulação do setor, a antiga Agência Nacional do Petróleo (ANP) - criada com o Decreto 2.455 de 14/01/1998 -, passou a denominar-se Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (mantendo-se a mesma sigla ANP) e a regular desde a produção do biocombustível até a sua comercialização e armazenagem. A compreensão do setor de Óleo e Gás no Brasil implica no entendimento do contexto em que foi criada a Petrobras - estatal brasileira que exerceu o monopólio do setor por mais de quarenta anos; e sua história - que praticamente se confunde com a gênese da história do setor de Óleo e Gás -, construída por meio das relações que estabeleceu com os diversos atores do sistema ao longo do tempo; e das características inerentes tanto ao Sistema de Aprendizado Brasileiro, de uma forma geral, como ao setor de Óleo e Gás, mais especificamente, e que inclui as diversas cadeias produtivas, direta ou indiretamente, relacionadas. Hoje, a Petrobras ainda é a maior operadora no país, detendo também as maiores áreas sob concessão no présal7 brasileiro. No que se refere ao entendimento do contexto de criação da Petrobras S/A, tem-se que a sua concepção se encontra na origem do chamado Estado Empresário brasileiro, período em que o governo assumiu uma postura empreendedora, com o objetivo de promover e acelerar o desenvolvimento do país, como pode ser visto a seguir. 7 O pré-sal brasileiro corresponde à faixa de petróleo considerado de alta qualidade, que se localiza na costa marinha entre os estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo de uma camada de sal, a cerca de sete mil metros de profundidade. 29 1.1 HISTÓRICO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS NO BRASIL No Brasil, em 1938, Getulio Vargas, preocupado com a crescente dependência da importação de petróleo no país, cria o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) com a atribuição de analisar os pedidos de pesquisa e lavra de jazidas de petróleo, regular as atividades de importação, exportação, transporte, distribuição e comércio de petróleo e seus derivados e o funcionamento da indústria do refino. As jazidas nacionais passaram a constituir patrimônio nacional, e o abastecimento nacional de petróleo foi considerado de utilidade pública. No governo de Eurico Gaspar Dutra, o CNP constituiu uma comissão que elaborou um documento com uma proposta do governo que permitia a participação de grupos estrangeiros na prospecção e lavra. O documento foi enviado ao Congresso, mas a proposta foi rejeitada e arquivada. Devido à incapacidade do setor privado local em assumir os investimentos na área, preocupações com a crescente dependência da importação, adicionado à consciência formada em setores com inserção no sistema de poder, quanto à necessidade de ser exercido controle nacional sobre recursos estratégicos do país, o Presidente Getulio Vargas, pressionado em seu segundo mandato, em outubro de 1953, sanciona a Lei nº 2004, instituindo o monopólio estatal na pesquisa, lavra, refino e transporte do petróleo e seus derivados. Para exercer o monopólio, a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras) foi constituída em 12 de março de 1954 como empresa mista8, para executar as atividades do setor de petróleo no Brasil, em nome da União. No caso da Petrobras, a ação empresarial do Estado surge no Brasil como resultado de um longo debate político, fundado numa ideologia e com recurso a uma intensa mobilização popular em seu apoio. Sua criação teve motivações marcantemente nacionalistas, constituindo o resultado final da bem sucedida, mas conturbada, campanha do “Petróleo é Nosso”. De acordo com Villela (1984, p.30), essas condições serviram para dar a Petrobras legitimidade política, o que foi indispensável, uma vez que a constituição de tais empresas, na época, dependia de uma alocação inicial de recursos, baseada em poupanças forçadas, que 8 Numa sociedade de economia mista, há a colaboração entre o Estado e particulares, ambos reunindo recursos para a realização de uma finalidade, sempre de objetivo econômico. O Estado poderá ter uma participação majoritária ou minoritária, entretanto, mais da metade das ações com direito a voto devem pertencer ao Estado. 30 necessitava ser politicamente justificada, dado o sistema de representação de interesses da época. Foi assim, conforme Martins (1985, p.60), no caso da siderurgia (recursos da Previdência Social), da Petrobras (Imposto Único sobre Combustíveis), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), o adicional do Imposto de Renda, e como foi mais tarde, no caso da Eletrobras. Como empresa mista, a Petrobras nasce sob uma contradição inerente: a do Estado Empresário. Compreendê-la carece de um entendimento da sua dualidade intrínseca, sua dupla lógica, também chamada de ambigüidade estrutural (DAIN, 1986, p.15), ou seja, implica no reconhecimento de um duplo comportamento: que se pretende público, no sentido de estimular outros setores nacionais e promover o desenvolvimento (interesse político); e que se concretiza privado, atendendo aos interesses dos seus acionistas e realizando a mais-valia. Como acrescenta a autora: A empresa estatal é a forma transfigurada do Estado, sua redução a uma dimensão particular no plano econômico. Como tal, sua lógica implica em responder, em simultâneo, e nela mesma, ao interesse geral do capital, bem como ao seu próprio, como forma e manifestação deste capital (DAIN, 1986, p.46). Alveal (1994, p.43) chama esta dualidade de lógica do Jano bifronte9 – uma face estatal e a outra, empresarial. Constitui-se de uma estrutura diferenciada que alia duas lógicas na sua trajetória e que produz uma complexidade intrínseca: a face estatal vincula, organicamente, os atores do Setor Produtivo Estatal (SPE) à rede de atores dos aparelhos do Estado, e os subordina, em tese, à autoridade dos órgãos superiores dos governos. Por outro, a face empresarial vincula os atores do SPE, organicamente, à rede de atores de seus meios privados de intervenção específicos, nos âmbitos nacional e internacional. No entanto, de acordo com Dain (1986, p.68), a natureza pública dessas empresas não está em abrir mão de sua valorização como capital particular. Na órbita da produção, e do ponto de vista de sua racionalidade de mercado, não há contradição aberta entre o político e o econômico, entre a valorização do capital em geral e da fração de capital. A realização do potencial de ativismo político, conforme Alveal (1994, p.44), requer da parte da liderança a construção de uma identidade política, nucleada em torno de um projeto estratégico próprio 9 Jano é uma divindade bifronte da mitologia greco-romana que olha para frente e para trás, Deus dos portais e das transições, dos inícios e fins. É representado por duas faces, uma que olha para o futuro e outra, para o passado. A autora faz uma analogia da dualidade do Jano bifronte com a característica dual da empresa mista: uma face estatal e outra, empresarial. 31 que se vai fazendo ao longo de uma trajetória. A identidade política do ator se expressa na capacidade de adquirir, acumular, reciclar e, sobretudo, mobilizar recursos de poder para implementar, a longo prazo, uma política conscientemente direcionada. O exercício da autonomia e o crescimento das atividades da empresa estatal resultam desse processo. Em primeiro lugar, de acordo, ainda, com Alveal (1994, p.46), os atores do SPE podem adquirir poder em virtude de decisões políticas específicas que legalmente lhes conferem autonomia não só para o exercício de suas atividades, mas, também, porque tais decisões estabelecem limites à interferência externa – dos outros atores públicos e privados – sobre as decisões da empresa. A segunda fonte potencial de poder burocrático reside no desenvolvimento de um âmbito de competência ou monopólio de conhecimento especializado. Tal desenvolvimento é função de três fatores que, também, se distribuem desigualmente entre os atores do SPE: i) a centralidade da atividade-fim do ator, em termos de necessidades ou demandas chave do padrão de industrialização; ii) o grau de incerteza e a qualidade do processo tecnológico; e iii) a complexidade do processo decisório. Fontes de Poder (SPE) Decisões políticas específicas que legalmente lhes conferem autonomia Desenvolvimento de um âmbito de competência (Conhecimento Especializado) Vínculos que os Núcleos Diretores podem cultivar com grupos de interesses estratégicos da esfera estatal Figura 1 – Fontes de poder do Setor Produtivo Estatal (SPE) Fonte: elaboração própria (2008), com base em Alveal (1994). Por fim, a terceira fonte de poder consiste dos vínculos que os núcleos diretores das empresas podem cultivar com os grupos de interesse estratégicos da esfera estatal, dos governos, do meio de intervenção específico e da sociedade, num sentido abrangente (BOSCH; DINIZ, 1978 apud ALVEAL 1994, p.47). No caso da Petrobras, a compra de bens de capital e tecnologia não é apenas uma questão técnica, mas, sobretudo, política, dados os aspectos críticos que a relacionam com o capital internacional. A complexidade do processo 32 decisório vincula-se à própria centralidade econômica ou estratégica dos empreendimentos e ao envolvimento com a aquisição de tecnologias “duras” ou politicamente sensíveis. A Petrobras conseguiu reunir essas três fontes de poder, como se demonstra no estudo de Alveal (1994). O setor de Óleo e Gás, assim como o de energia elétrica e o de siderurgia, que nuclearam o SPE, foram empreendimentos estratégicos para o crescimento industrial do país e exigiam investimentos altíssimos, longo prazo de maturação e retorno lento; o que o capital privado não pôde ou não quis assumir, na época. Para essa autora, o SPE brasileiro não se implantou em setores industriais de tecnologia incerta ou desconhecida. A maciça transferência tecnológica incorporada pelos empreendimentos do SPE, ao longo de quatro décadas, requereu dos núcleos diretores e das tecnoestruturas das empresas, o desenvolvimento de capacidades para comprar e negociar a tecnologia disponível no mercado mundial. A experiência da Petrobras mostra que o desenvolvimento cumulativo do âmbito de competência tecnológica constituiu-se em fonte de poder importante e mais estável, por se poder contar com ela na medida em que esforços foram direcionados para a busca das melhores tecnologias existentes e a capacitação e o desenvolvimento de recursos humanos. O pioneirismo que as lideranças da Petrobras exerceram nesse âmbito levou-a a situar-se na fronteira tecnológica da produção em águas profundas, área em cuja experiência é reconhecida internacionalmente. Dessa forma, pode-se perceber que a importância da formação de competências para a Petrobras - em princípio, sua fonte de poder menos sujeita a intempéries políticas - está além da inovação e da sobrevivência em si, mas em sua própria autonomia como empresa. O fato de se constituir em uma empresa mista, de concentrar fontes de poder que são observadas na sua trajetória histórica e que a levam a assumir uma postura de maior autonomia relativa, quando comparada a outros atores do SPE, traz à tona questões e uma necessidade de reflexão que se relacionam com a sua forma de atuar em iniciativas do Governo Federal para promover a pesquisa e estimular o desenvolvimento do país, papel considerado inerente à sua condição. O traço mais significativo da dinâmica das relações bifaciais de poder dos atores do SPE, sobretudo nas lideranças politicamente identificadas com o projeto estratégico próprio, consiste em que a progressão do jogo de autonomia e poder se nutre da utilização da força da 33 identidade oposta, em face de cada esfera de atores. Com efeito, a liderança estatal apresenta, na esfera pública, sua face de empresário, ao passo que na esfera privada do seu meio produtivo ergue a face de ator público. De modo similar, perante os atores internacionais, apresenta-se nacionalista, enquanto nas suas relações com os empresários privados nacionais exibe a face internacionalista (ALVEAL, 1994, p.65). Apesar das diferentes faces que assume, de acordo com a mesma autora, essas imagens comuns do Estado empresário como ator público, empresário, nacionalista e entreguista não são tão contraditórias como parecem. Isso será percebido mais adiante na sua atuação nas redes. Todas correspondem aos distintos papéis desempenhados por um ator complexo. Porém, existe um papel que reúne a todas: o papel de intermediador. As lideranças ativas do SPE se tornam loci de decisões relevantes para a evolução do padrão de desenvolvimento quando intermediam, por meio de um complexo processo de negociação bifacial, os interesses dos atores de todas as esferas com que elas se relacionam – Estado, governo, empresários nacionais, empresários e organizações estrangeiras (ALVEAL, 1994, p.66). As fontes de poder anteriormente mencionadas, a dimensão da congruência entre a política do governo e a que é desenvolvida pela liderança da estatal, envoltas pelas diversas faces apresentadas pela empresa, principalmente o papel que exerce como intermediador dos diversos interesses dos atores envolvidos, mesmo com a “quebra” do monopólio, permanecem e geram efeitos na economia e no setor de Óleo e Gás como um todo. Essas considerações demonstram, dentre outros, a importância da articulação e a complexidade que devem ser levadas em conta na análise proposta nesta tese. Alveal (1994, p. 59), em seu estudo, constata que as elites empresariais da Petrobras conseguem deter altos graus de autonomia na formulação da sua estratégia empresarial. Melhor, a estratégia da empresa, muitas vezes confundia-se com a política para o setor. A autonomia política adquirida pela direção da empresa redundou na expansão de suas atividades, como resultado da aquisição de novas jurisdições setoriais, extensão do âmbito de competências (novas funções de produção, novos processos tecnológicos, maior complexidade do processo decisório) e da ampliação de seu campo de relações com os atores da esfera produtiva (novos clientes, novos fornecedores de equipamentos e serviços industriais etc.). 34 A expansão de suas atividades pôde ser concretizada, dentre outros, pelo relacionamento com uma rede de atores que detinham capacidades específicas e certas competências necessárias e complementares, inclusive algumas só existiam internacionalmente. Vale lembrar que o setor de Óleo e Gás articula outras cadeias produtivas que ultrapassam os limites setoriais, o que torna ainda mais complexa a sua atuação no Sistema de Aprendizado. A história da Petrobras e do setor de Óleo e Gás no Brasil - logo cedo exigiram um razoável esforço direcionado para a sua capacitação e formação de competências específicas, como se verá mais adiante. 35 1.1.1 Histórico da Empresa estatal monopolista brasileira, dimensão produtiva, institucional e tecnológica Além dos condicionantes que sempre estiveram presentes na vida da Petrobras desde a sua criação - constantes questionamentos a respeito de sua eficácia e eficiência administrativa e do seu monopólio, e o fato de ser vista pelos governos como instrumento da política de curto prazo, quanto à administração de seus preços e investimentos (TEIXEIRA; DAHAB, 1989) -, um grande obstáculo vivenciado pela empresa foi a constatação de que as bacias sedimentares terrestres no território brasileiro não geravam quantidade de petróleo suficiente para atender ao consumo interno. A partir da década de 70, as pesquisas foram intensificadas e passaram a concentrar-se na plataforma continental: nesta época, encontrou-se petróleo na Bacia de Campos (RJ). O choque do petróleo teve reflexos na distribuição dos investimentos da Petrobras; a área de exploração e produção passou a demandar mais recursos, ao passo que, nos anos 60 e início dos anos 70, as maiores inversões ocorriam na área do refino. Na extração de petróleo, de acordo com Villela (1984, p.31), é possível caracterizar três fases em que se acelerou a produção: a primeira foi imediatamente posterior à criação da empresa, quando se desenvolveu o aproveitamento das reservas do Recôncavo Baiano; a segunda ocorreu em meados da década de 60, com a entrada em operação de novos campos na Bahia e em Sergipe; e a última, com a produção em águas profundas, iniciou-se em fins da década de 70, prolongando-se até nossos dias (hoje, já em águas ultra profundas). As recentes descobertas concentram-se na Bacia de Santos e do Espírito Santo e no chamado pré-sal. Algumas subsidiárias foram criadas pela Petrobras. A primeira, Petroquisa, em 1967, cujo objetivo primordial era promover o desenvolvimento da indústria petroquímica nacional, até então, de reduzidas proporções. Na década de 70, houve uma grande expansão da petroquímica brasileira, e foram implantados o Pólo Petroquímico de Camaçari e o Pólo do Sul. O esquema empresarial que sustentou todo esse crescimento associava o capital privado nacional, os recursos financeiros da estatal e a tecnologia das multinacionais. Idealmente, conforme Villela (1984, p.33), a participação de cada parceiro seria igual, sendo, por isso, o esquema conhecido como modelo tripartite. A despeito desse modelo, a redução da participação estrangeira, em termos de propriedade de capital, nos pólos petroquímicos, não 36 significou aumento na autonomia nacional em relação a esses pólos, uma vez que a tecnologia empregada continuava, de acordo com o mesmo autor (1984, p.34-35), sendo importada e propriedade do parceiro estrangeiro. A segunda subsidiária da Petrobras só veio a ser criada em 1971: a Petrobras Distribuidora. O início das atividades da empresa holding no setor de distribuição de derivados deu-se, porém, quase uma década antes, em 1962. Operando em exploração e produção de petróleo desde a sua criação em 1953, a Petrobras acumulou uma experiência de valor inestimável, a qual poderia ser utilizada em áreas propícias à exploração no exterior. Foi pensando dessa forma que se criou, em 1972, a Braspetro, cujo objetivo fundamental era reforçar a produção interna com petróleo produzido pela empresa no exterior. O grupo Petrobras teve entre suas subsidiárias uma trading company: a Interbrás. Criada em 1976 com o desdobramento da Braspetro, o seu objetivo principal era promover as exportações brasileiras, usando o poder de barganha ensejado pelo fato de ser a Petrobras uma das grandes importadoras de petróleo no mundo. Na produção de insumos básicos para a agricultura, a Petrobras atuou por meio de uma outra subsidiária: a Petrofértil, criada em 1976, hoje, Gaspetro. A Petromisa, criada em 1977, e extinta no Governo Collor, atuava na área de pesquisa de potássio e enxofre. Atualmente, o chamado Sistema Petrobras é formado por quatro subsidiárias, quais sejam, a Petrobras Distribuidora, Transpetro, Gaspetro e Petroquisa, além da Petrobras Comercializadora de Energia Ltda e demais empresas controladas ou coligadas. Em relação ao Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás e a seus elementos constitutivos, a criação da indústria de petróleo no Brasil é o principal marco da evolução das empresas nacionais de engenharia consultiva e de montagem industrial. O nível atual dessas empresas no país é comparável ao de empresas de destaque no mercado internacional. “Todas as suas principais conquistas – formação de recursos humanos, assimilação de tecnologia, capacitação na engenharia off-shore – devem muito ao apoio recebido da Petrobras” (VILLELA, 1984, p.139). Além disso, de acordo com o mesmo autor, o estímulo da Petrobras, estabelecendo em suas concorrências uma obrigatoriedade gradativamente maior de participação de empresas brasileiras nos projetos, bem como restringindo a utilização de pessoal estrangeiro na execução dos mesmos, foi, indubitavelmente, um dos alicerces desse desenvolvimento. A fase da inovação em que se encontra o setor de Óleo e Gás, mais particularmente, a indústria do petróleo, é uma fase considerada madura pela classificação de Utterback 37 (1996)10. Como o processo de inovação é muito complexo, deve-se entender essas fases como auxiliares na caracterização do estágio tecnológico em que se encontram os diversos setores. A fase madura, também chamada de fase específica, é aquela na qual se busca com o tempo a elaboração de um produto muito específico, com um altíssimo nível de eficiência. Aqui, o valor da relação qualidade-custo torna-se a base da concorrência. Os produtos dessa fase são altamente definidos e similares no mercado, em sua maioria. Os vínculos entre o produto e o processo são muito estreitos. Qualquer pequena modificação no produto ou no processo, provavelmente, será difícil e cara, exigindo uma mudança correspondente no outro; isso até que ocorra nova onda de inovação, com uma mudança radical no produto/processo. Como madura no aspecto inovação, a indústria de petróleo desenvolve inovações incrementais para seus produtos já existentes, investindo grande parte dos recursos na melhoria dos processos produtivos. No setor de Óleo e Gás há pesquisa de novas fontes de energia, dentre elas, os biocombustíveis, e desenvolvimento de tecnologia de ponta no processo de extração de petróleo em águas profundas (superiores a 400m) e ultra profundas (acima de 2.000m). As fontes de inovação de equipamentos continuam sendo predominância dos fornecedores. Os produtos da indústria do petróleo são, na grande maioria, commodities com pouca ou nenhuma diferenciação. O processo produtivo é capital intensivo, produção em larga escala e exige altos investimentos de entrada, apresentando, portanto, custos altos para mudanças. Utiliza-se automação industrial nos processos, e grande parte dos equipamentos são estrangeiros. Por se tratar de commodities, a base de concorrência é o preço. De acordo com Tigre (2006, p.125), tal padrão de competição confere às inovações um viés de redução de custos. A estratégia tecnológica típica dos produtores de commodities se refere ao aumento de escala produtiva, à otimização dos processos, à redução de impactos ambientais, dentre outros. No caso da indústria petroquímica, conforme Tigre (2006, p.126), os grandes grupos mantêm elevados investimentos em P&D, direcionados, sobretudo, para áreas de catálise 10 Utterback (1996, p.98) identifica duas fases fundamentais da inovação que são anteriores à fase madura, quais sejam: a fase fluida e a fase transitória. Na primeira, ocorre um grande volume de mudanças, simultaneamente, em que o resultado é altamente incerto, em termos de produto, processo, liderança competitiva e a estrutura e gerenciamento das empresas. A fase transitória acontece se o mercado de um novo produto cresce. A aceitação no mercado de uma inovação do produto e o surgimento de um projeto dominante constituem as marcas registradas dessa fase. Nela, a ênfase da concorrência concentra-se na fabricação de produtos para usuários mais específicos, à medida que as necessidades destes tornam-se mais claramente conhecidas. 38 (objeto de uma das Redes N/NE em estudo), modelagem, simulação e melhoramentos incrementais nos processos produtivos existentes, além da diferenciação de produtos. Ocorrem, também, modificações na tecnologia gerencial das empresas por meio da introdução de modelos avançados de gestão e controle de processos associados à automação microeletrônica. De acordo com Alveal (1994, p. 89), razões de ordem econômica mais do que técnica exigem a integração vertical para realizar o elevado potencial de acumulação da indústria petrolífera, dado que os riscos e custos financeiros associados a cada segmento da cadeia produtiva da indústria são diferentes. Assim, a fase de pesquisa/prospecção/produção concentra ônus de enorme risco, a par de exigir vultosos investimentos. O refino é uma atividade industrial que, embora de elevada densidade tecnológica e de investimentos, é, também, altamente lucrativa, situando-se no nível de risco da normalidade de empreendimentos densos em capital e tecnologia. No transporte, tanto a taxa de risco quanto a de densidade caem, e o segmento de distribuição é de longe a atividade de menor risco e densidade, e, portanto, a mais rentável. O refino é o elo central da cadeia, por ser este o pivô viabilizador da estratégia de linha reta da indústria, para frente (transporte/distribuição de derivados) e para trás (pesquisa/prospecção/produção). A Figura 2 a seguir apresenta a integração vertical da indústria petrolífera, grau de risco e suas características. Pesquisa/Prospecção/ Exploração/ Produção Alto Risco Vultosos investimentos Refino Risco normal Grandes investimentos Elevada dens. tecnol. Altamente lucrativa Transporte Risco baixo Baixo investimento Baixa dens. tecnol. Distribuição Risco muito baixo Muito baixa dens. tecnol. Maior rentabilidade Figura 2 – Integração vertical da indústria petrolífera, grau de risco e características Fonte: elaboração própria (2008), com base em Alveal (1994). Ainda conforme Alveal (1994), o fortalecimento do Sistema Petrobras - e, de modo geral, do SPE - foi altamente catalisado pelo animus privado, inovador e internacionalizante 39 infundido ao SPE, devido à coalisão de interesses que assume o Estado após 1964. A singularidade da Petrobras obedeceu, ademais de suas origens privilegiadas e da centralidade econômica e política de suas atividades, à construção de uma identidade particular como ator relevante da modernização capitalista brasileira. Conforme a autora: Essa identidade promoveu sua autonomia decisória na militância da industrialização de ponta do país e na liderança de arranjos políticos, desobstruindo os estreitamentos endêmicos da (in)capacidade do empresariado local nas rotas do crescimento industrial associado ao capital estrangeiro (ALVEAL, 1994, p.131-132). Desde sua criação, inúmeros desafios foram superados pela empresa durante o tempo: questões políticas, legitimação, ingresso e formação de pessoal especializado, organização, sistemas de gestão, capacitação de fornecedores, prospecção e exploração, tecnologias, reestruturações, necessidade de construção do seu Centro de Pesquisas, crescimento, dentre outros. A empresa tinha direitos exclusivos para exploração, produção, refino e transporte de petróleo, derivados e gás natural e, ao longo de quase cinco décadas, tornou-se líder em comercialização de derivados no país. Conforme Teixeira e Dahab (1989, p.9), em relação aos obstáculos de crescimento, a superação destes se deveu ao esforço de aprendizado tecnológico, ao longo dos anos, por meio da política de compras implantada, da formação de recursos humanos e dos investimentos em P&D. Foram 44 anos de monopólio, até que, no governo de Fernando Henrique Cardoso, com o processo maciço de desregulamentações e privatizações, em agosto de 1997, iniciou-se uma nova era na indústria de petróleo no Brasil, a partir da aprovação da Lei 9.478 (mais conhecida como a Lei do Petróleo). Tal lei sancionou a “quebra” do monopólio estatal do petróleo da União sobre as atividades de exploração, produção, refino e transporte de petróleo, derivados e gás natural, possibilitando às empresas operadoras e prestadoras de serviços, nacionais ou estrangeiras, competirem em todos esses segmentos, comumente designado como “do poço ao posto” (ou em inglês from well to wheel), enquanto, até o advento dessa lei, as mesmas só podiam atuar no setor do downstream (distribuição). Assim, apesar do monopólio continuar pertencendo à União, a Emenda Constitucional de no 9/95, permitiu que a União, num modelo de concessão, pudesse contratar empresas estatais ou privadas, observadas as condições estabelecidas em lei, para exercerem as atividades já mencionadas. Coloca-se fim à exclusividade da Petrobras no exercício do monopólio, e surgem novos atores. 40 A Lei do Petróleo, ao prever a aplicação de parcela dos royalties provenientes da produção de petróleo e gás natural para financiar programas de amparo à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico aplicados à indústria do petróleo, bem como ao reconhecer a fragilidade das regiões Norte/Nordeste, determinou, em seu Artigo 49, § 1o que, do total de recursos destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia (referentes à parcela do valor do royalty que exceder a cinco por cento da produção) seriam aplicados, no mínimo, 40% (quarenta por cento) em programas de fomento à capacitação e ao desenvolvimento científico e tecnológico das regiões Norte e Nordeste, incluindo as respectivas áreas de abrangência das Agências de Desenvolvimento Regional (Redação dada pela Lei nº 11.540, de 2007). A intenção desse percentual mínimo é valorizar as especificidades regionais e torná-las capazes de se integrar, com suas particularidades, nas atividades de pesquisa e produção. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) foi criada como órgão regulador governamental, com a função de permitir o funcionamento desse novo mercado. Com a Lei do Petróleo, estabeleceram-se marcos regulatórios legais para a indústria de petróleo no Brasil e permitiu-se a outras empresas envolverem-se na exploração e produção de óleo e gás. Desde então, mais de 50 companhias, a exemplo da Repsol YPF Brasil S/A, Phillips Petroleum Company, OGX, StarFish Oil & Gas S.A., Petrogal, Shell, Statoil, adquiriram direitos de explorar blocos da ANP e produzir óleo e gás no país. No refino, de acordo com informações obtidas na ANP, somente a Refinaria de Manguinhos (Rio de Janeiro - RJ), a Univen (Itupeva - SP) e a Daxoil (Camaçari - BA), atuantes no país, não têm relação direta com a Petrobras. O ingresso de concorrentes no mercado exigiu uma maior flexibilidade nos processos da empresa. As compras, por exemplo, antes fundamentadas na Lei 8.666 de 21 de junho de 1993, puderam ser agilizadas com o Decreto 2.745 de 24 de agosto de 1998, que regulamentou o Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobras. Em 2003, a Petrobras dobrou a sua produção diária de óleo e gás natural, ultrapassando a marca de dois milhões de barris, no Brasil e no exterior. O exercício de 2004 foi caracterizado pelo aumento das reservas de óleo e gás natural, no Brasil e no exterior, em cerca de 20%. A empresa ultrapassou pela primeira vez, em maio de 2005, a marca nacional de 1,8 milhão de barris de produção de petróleo por dia. Em abril de 2006, deu início à produção da plataforma P-50, no Campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, que permitiu ao Brasil atingir a autosuficiência em petróleo. Em outubro de 2006, a produção apresentou recorde de 1.912.733 41 barris de petróleo no Brasil, o que superou, em aproximadamente 30 mil barris, o resultado anterior, de 1 milhão 882 mil barris, ocorrido no final de maio daquele ano. Em novembro de 2006, um novo recorde, agora, de exportação de petróleo nacional: 484 mil barris/dia, totalizando 14 milhões e 520 mil barris no mês. Com a abertura do mercado brasileiro, a partir do fim do monopólio, assim como as outras empresas, a Petrobras buscou o crescimento, no Brasil e no exterior, ampliando seu escopo e tornando-se uma corporação internacional de energia. Atualmente, a empresa atua em 27 países e tem ações negociadas nas principais bolsas de valores do mundo. Novas perspectivas de negócios e inúmeros desafios competitivos para os fornecedores nacionais de bens e serviços da indústria do petróleo se abrem, bem como uma oportunidade para melhor capacitar os recursos humanos. As recentes descobertas de reservas de petróleo anunciadas pela Petrobras nas bacias sedimentares do Espírito Santo, Campos e na Bacia de Santos, cuja profundidade supera sete mil metros (abaixo do nível do mar), o já citado Pré-sal, trouxeram perspectivas positivas para o Brasil devido ao volume de recursos que se espera gerar - inclusive o Governo já lançou proposição de um novo marco regulatório que estabelece o regime de parceria, com garantia de 30% de participação da Petrobras na exploração dos novos blocos - e para o segmento de Óleo e Gás no Brasil, atraindo interesse de empresas nacionais e internacionais e grandes desafios tecnológicos. Esse novo modelo encontra-se em discussão. Os investimentos anunciados, no início de 2008, pela Petrobras, de R$55 bilhões em exploração, produção, refino, comercialização e transporte de petróleo, além da produção de gás natural e outras fontes de energia, são superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) de 107 países, se levados em conta os valores do último Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU). O refino, particularmente, agora recebe atenção especial. Como as refinarias brasileiras foram concebidas na década de 70, quando se importava muito petróleo leve e produzia-se pouco petróleo, também leve, o refino nacional foi projetado para atender essa demanda. (FUTURO..., 2007). Hoje, a produção é, essencialmente, de óleo pesado e o parque de refino precisa adequar-se a essa nova realidade. Todas as 11 refinarias da Petrobras no Brasil, em sua maioria localizadas na região Sudeste, estão sendo ampliadas e reformadas para melhorar a qualidade da gasolina e do diesel e para aumentar de 80% para 90% a participação de petróleo nacional no combustível 42 processado. Além disso, depois de mais de 20 anos sem construir uma nova refinaria, começaram, em 2008, as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, em parceria com a Petróleos de Venezuela S/A (PDVSA)11, companhia estatal venezuelana de petróleo, e que refinará 100% de óleo pesado, o tipo mais extraído no Brasil. Está em andamento a elaboração de projetos para implantação de duas refinarias Premium - uma no Maranhão, com capacidade para processar 600 mil barris diários, e outra no Ceará, para processar 300 mil barris/dia - com investimento total de US$30 bilhões. Em relação à Refinaria Abreu e Lima, a maior parte de sua produção (65%) será de óleo diesel, derivado de maior consumo no Brasil. A Petrobras, com esta refinaria, se prepara para pôr fim às compras externas de diesel, o derivado mais importado pelo país. Além disso, por causa das exigências ambientais cada vez maiores, boa parte do investimento total da área de refino será aplicada em unidades de hidrorefino, um processo com baixa geração de resíduos e baixa toxicidade dos produtos finais (FUTURO..., 2007). Já no novo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que deve entrar em operação em 2012, serão investidos US$ 8,4 bilhões. O Comperj terá capacidade para processar 150 mil barris de óleo pesado nacional por dia, produzindo milhares de toneladas de polímeros, como o polipropileno e o polietileno tereftalato (PET). Esses produtos são as matérias-primas para fabricação de bens de consumo como copos e sacos plásticos, componentes para as indústrias montadoras de automóveis e para linha branca de eletrodomésticos (FUTURO..., 2007). Tal empreendimento marca uma retomada estratégica da Petrobras ao setor petroquímico, com a perspectiva de gerar uma economia para o país por meio da redução da exportação de petróleo bruto e da importação de derivados de produtos petroquímicos. Além do Complexo, o retorno da Petrobras ao setor petroquímico é marcado pela volta da empresa como acionista de grande porte nessa área e pela retomada dos investimentos que passaram de US$1,052 bilhão, na década de 70, a US$211 milhões, na década de 80, e US$472 milhões, na década de 90. Os investimentos recentes deram à companhia um papel central no segmento. Nas reorganizações societárias no setor, parte das participações da Petrobras e da sua subsidiária Petroquisa em empresas petroquímicas foram colocadas dentro 11 A participação acionária será 60% da Petrobras e 40% da PDVSA (PETROBRAS...,2008). 43 das duas maiores companhias brasileiras; a Petrobras ficou com 30% do capital votante da Braskem e 40% da Quattor (FUTURO..., 2007). Em 2008, a Petrobras criou uma nova empresa, a Petrobras Biocombustível. O Governo Federal está estimulando, por meio de benefícios fiscais, empresas que vão operar no setor. Usinas de biodiesel já foram instaladas por todo o país. Da Petrobras, são três: em Quixadá (CE), Candeias (BA) e Montes Claros (MG). Ao todo, são 38 usinas em operação comercial. O biocombustível, mesmo envolto em discussões sobre sua relação com a escassez de alimentos, o desmatamento, más condições de trabalho, queimadas e contaminação de lençóis freáticos, no caso da cana de açúcar, é considerado uma fonte de energia alternativa mais limpa, menos poluente. Parcerias com empresas estrangeiras estão sendo formadas, também, para a criação de novas empresas nessa área, inclusive, para garantir a exportação. Muito investimento em tecnologia ainda terá que ser feito para potencializar os benefícios e reduzir os riscos ambientais. Apesar da crise no final de 2008, que restringiu o crédito e que causou uma reviravolta no mercado com demissões, adaptações e contenção de gastos, a Petrobras anunciou que manterá seus investimentos nos patamares anunciados anteriormente. Diante da grande complexidade do setor de Óleo e Gás, reconhece-se que soluções para as pressões globais quanto à necessidade de energia não são simples: a indústria de energia é um sistema interconectado, integrado horizontalmente ao longo de várias fontes de energia e, verticalmente, ao longo da cadeia de valor (ISAACS; SIMPSON, 2004). Conforme os mesmos autores, essa abordagem integrada da energia resiste à tentação de se argumentar por qualquer solução exclusiva, já que nenhum único tipo de fonte de energia será suficiente para dar conta da demanda mundial. Essa abordagem integrada fortalece a escolha da abordagem dos Sistemas de Inovação. Essas características da indústria e da demanda crescente da energia, de uma forma geral, têm exigido grandes esforços de aprendizagem, capacitação e, desde o início, integração com os diversos setores da economia e com a comunidade acadêmica. Nessa perspectiva que será discutida a atuação das redes no Sistema de Aprendizado. 44 A seguir, traça-se um breve histórico da interação da Petrobras com a comunidade de Ciência e Tecnologia (C&T) e a trajetória da construção do Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás nacional. 1.2 TRAJETÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO RELACIONAMENTO COM A COMUNIDADE DE C&T NO SETOR DE ÓLEO E GÁS BRASILEIRO No início, as atividades de pesquisa aconteciam de forma descentralizada nos diversos órgãos operacionais da companhia. Dessa maneira, à medida em que as parcerias eram necessárias, iniciava-se um processo de interação com a comunidade de C&T. O Centro de Pesquisa da Petrobras foi criado, em 1963, como Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisas do Petróleo (Cenap); em 1973, foi batizado como Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello12 (Cenpes). A sua criação foi resultado da visão dos dirigentes a respeito da importância de se incorporar a pesquisa no interior da empresa, dada a complexidade e os desafios que esta teria que assumir no decorrer de sua trajetória, ou seja, o desenvolvimento tecnológico seria um diferencial para a Petrobras. Aliado a isso, naquela época, conforme Ribeiro (1995, p.63), principalmente com o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), o Estado procura implementar algumas medidas efetivas de apoio às atividades científicas e tecnológicas no país, seja a partir das políticas diretas, como o financiamento à pesquisa e criação de centros de pesquisa, seja por meio da política de compras exercida pelas empresas estatais, que controlavam os setores de energia, telecomunicação e aeroespacial. Dessa forma, o ambiente encontrava-se propício para o desenvolvimento científico e tecnológico, este passando a ser objeto mais específico de política. O Cenpes iniciou seus trabalhos atuando na adaptação das tecnologias importadas às condições geológicas, ambientais, de mercado e de matéria-prima nacionais. A expansão incentivou a transferência e concentração das antigas instalações do Cenap, na Praia Vermelha, e de alguns escritórios no centro da cidade para uma área maior, de 1.200 metros quadrados, cedida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão 12 Em homenagem ao grande incentivador das atividades de pesquisa na companhia. 45 onde está instalado até hoje (encontrando-se em ampliação), no interior da Cidade Universitária. A transferência do Cenpes para as novas instalações, em novembro de 1973, representou uma mudança substancial de escala13, criando condições para o funcionamento de um Centro de Pesquisas exigido por suas complexas atividades operacionais. A centralização da atividade do Cenpes teve grandes repercussões no avanço do processo de aprendizado tecnológico da Petrobras. A criação do Cenpes, num período em que a demanda que predominava no setor era a de derivados de petróleo e não propriamente de tecnologia, conforme Leitão (1986, p.323), resultou em dificuldades para a definição do papel do Centro de Pesquisa e seu relacionamento com os órgãos operacionais, que chegaram a tachá-lo, pejorativamente, de “Torre de Marfim”, desligada da realidade da companhia. Tal “desconexão” acabou por proporcionar tempo suficiente para a preparação das equipes e de recursos materiais importantes. A orientação, logo, foi direcionar o Cenpes para o atendimento do serviço técnico de curto prazo (solução de problemas), em detrimento da pesquisa planejada, de prazo mais longo. A Petrobras, conforme Villela (1984, p.98), foi a primeira empresa estatal a se preocupar seriamente com a nacionalização de suas compras de equipamentos e componentes, tendo, neste sentido, estimulado a criação, em 1954, da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base (Abdib). Paralelamente, foi esta companhia, também, uma das pioneiras no incentivo ao surgimento do setor nacional de empresas de projeto ou engenharia consultiva e de empresas de montagem industrial. Em termos globais, as compras da Petrobras no mercado interno chegaram a 88%, em 1982, tendo oscilado em torno de 80% nos anos 1976/80. O endividamento do Brasil nas décadas de 70 e 80 trouxe a necessidade de reduzir gastos em dólar. Isso levou a Petrobras a estabelecer parcerias com empresas nacionais para substituir equipamentos e produtos químicos importados usados na produção (EXPERIMENTANDO.., 2007). Dessa forma, foram-se instalando os elementos para a formação de um Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás brasileiro. O Cenpes, como parte da estrutura organizacional da Petrobras, foi criado com a finalidade de suprir as necessidades de P&D do Sistema Petrobras, a fim de reduzir a sua dependência tecnológica. “O outro grande objetivo de sua criação foi a elevação dos índices 13 Para se ter uma idéia da mudança de escala, de acordo com Leitão (1986, p.325), basta dizer que o crescimento da área útil foi de 300% e que o número de laboratórios aumentou 460%. 46 de nacionalização dos equipamentos utilizados pela Petrobras, através de uma gradativa substituição de importações” (VILLELA, 1984, p.85). Desde então, o Centro concentra os esforços de P&D da Petrobras e suas subsidiárias, e vem contribuindo com a adaptação das tecnologias à realidade brasileira, inovando e respondendo às demandas tecnológicas. Ao ser criado, o Cenpes ficou subordinado ao Departamento Industrial (Depin), visto serem suas atividades restritas à área de refino; no entanto, em 1967 passou a reportar-se diretamente à Diretoria Executiva, devido à necessidade de estender sua atuação às demais áreas da companhia. O Cenpes atua hoje em todas as áreas de atividade da empresa: exploração, produção, refino, petroquímica, produtos, transporte, distribuição, gás, energia e gestão ambiental, e realiza importantes projetos de pesquisa. Leitão (1986) descreve o processo de aprendizado ocorrido no Cenpes em estágios: 1) aprendizado por operação; 2) absorção de tecnologia importada e seu desempacotamento; e 3) aprendizado por criação. No primeiro estágio, aprendizado por operação, a grande preocupação foi dominar as tecnologias necessárias para operar e gerenciar os empreendimentos industriais. Nessa fase, contribuiu muito para o sucesso a formação de seus quadros técnicos, uma vez que, no início da década de 50, eram mínimas as condições para a implantação e funcionamento de uma indústria, tão complexa como a de petróleo, com seus próprios recursos. A criação do Cenap contribuiu para essa formação, por meio dos cursos de Refino de Petróleo, Geologia, Produção de Petróleo e Manutenção, inicialmente. A segunda etapa do processo, conforme ainda Leitão (1986), referente à absorção da tecnologia importada e ao seu desempacotamento, começou a ser desenvolvida, descentralizadamente, nos órgãos operacionais, à medida que surgiram oportunidades para modificações e melhoramentos. A criação de grupos de acompanhamento de processo nas unidades industriais permitiu o início desta etapa. Foi uma fase mais demorada, uma vez que houve rápido crescimento da industrialização brasileira nas décadas de 60 e 70, o que provocou um aumento da demanda de derivados de petróleo, obrigando a Petrobras a investir na construção de novas unidades industriais. Depois disso, a Petrobras resolveu criar a atividade centralizada de engenharia básica14. 14 A engenharia básica acontece logo após a confecção do anteprojeto e constitui-se numa fase anterior ao detalhamento. É nessa fase que se delineiam os equipamentos essenciais à operação industrial. 47 Devido ao grande potencial acumulado nos anos anteriores, na segunda metade da década de 70, foi iniciada, em paralelo, uma terceira etapa, chamada pelo autor de aprendizado por criação. Nessa fase, o ator mais importante passou a ser a pesquisa tecnológica, embora os outros dois, em especial, a engenharia básica, continuassem essenciais. Essa etapa foi acelerada devido à crise energética e econômica, à modificação do perfil da demanda de derivados, à necessidade de aumentar a produção interna de petróleo e à entrada em mercados externos, aliadas à escassez de recursos. Em tal período, ocorria a adaptação de tecnologias e a criação propriamente dita (inovação). Vislumbrar a inovação em etapas bem definidas, embora de fácil compreensão, pode levar a um entendimento frágil do que seja esse processo. A inovação precisa ser vista como um processo extremamente complexo e, portanto, deve-se perceber que até numa aparentemente simples transferência de tecnologia, acontecem a interação e o aprendizado. As inovações incrementais também são importantes e inserem-se na dinâmica do aprender. Dessa forma, na presente tese, entende-se que o aprendizado na Petrobras ocorreu concomitantemente tanto por operação como por absorção de tecnologia importada e, também, em alguns casos, por criação. Com a crescente importância conquistada, resultado dos esforços em pesquisa, em 1992, a Petrobras passou a destinar 1% de sua renda bruta ao Cenpes; em 2002, este se consolidou como maior Centro de Pesquisa da América Latina. Em 2008, o Cenpes contava com cerca de dois mil empregados, sendo 660 pósgraduados (480 mestres e 180 doutores), e área de 122 mil metros quadrados na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. Suas instalações estão sendo ampliadas em mais 183 mil metros quadrados, o que tornará o Centro um dos maiores complexos de pesquisa aplicada do mundo. Ao todo, são mais de 220 laboratórios que irão atender às diversas áreas de negócio da Petrobras (EXPERIMENTANDO..., 2007, p. 11). A Petrobras é detentora de uma das tecnologias mais avançadas do mundo na produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas e conta com parcerias estratégicas com diferentes atores da sociedade, nacionais e internacionais, o que sinaliza para a complexidade de suas relações e capacitações. 48 Do princípio, quando as iniciativas eram um tanto tímidas, à complexidade que envolveu o Projeto de Capacitação em Águas Profundas (Procap15), o qual capacitou pessoas e desenvolveu tecnologia para exploração de petróleo em lâminas d’água superiores a 400 metros (para explorar as reservas de Albacora e Marlim na Bacia de Campos), hoje, percebese a ampliação quanto à quantidade de parcerias, não somente abrangendo a questão tecnológica, mas outras áreas, como, por exemplo, a questão ambiental, responsabilidade social de uma forma mais ampla e as parcerias formadas com outras empresas de petróleo, para obtenção de concessões para exploração e produção de óleo e gás. De acordo com Furtado e Freitas (2000, p.34), a pesquisa cooperativa agiu como uma maneira de baixar as barreiras tecnológicas de entrada em áreas onde a Petrobras tinha pouca experiência; este foi o caso do Procap. As cadeias produtivas envolvidas nessas parcerias ultrapassam em muito a cadeia de óleo e gás, uma vez que esta possui um grande efeito para trás (insumos utilizados na produção) e para frente (petroquímica e plásticos, dentre outros). As ações de parcerias mais recentes coadunam com um novo tipo de competição, ressaltado por Johnson e Lundvall (2000), no qual a criação de competências e a inovação são ingredientes essenciais para todos os atores nos mercados globais. Dessa forma: Os indivíduos e instituições precisam renovar suas competências mais frequentemente do que antes, pois os problemas que enfrentam mudam mais rapidamente [....] e o aprendizado refere-se ao desenvolvimento de novas competências e ao estabelecimento de novas capacitações, e não apenas ao “acesso a novas informações” (ORGANISATION..., 2000). Principalmente, após a “quebra” do monopólio, foi reduzida a concentração de recursos e atribuições na Petrobras, abrindo-se espaço para os demais atores. A Petrobras, também, está ampliando sua atuação em outros países. Conforme Furtado e Freitas (2000, p.27), a maneira como a Petrobras associou-se com outras empresas, no seu esforço inovativo, variou de acordo com o estágio alcançado pelo processo de aprendizado em seus times de pesquisa e operacional. Esse processo tornou possível uma mudança sensível nos relacionamentos externos da companhia. Passou de um acordo de transferência de tecnologia tradicional com fornecedores estrangeiros para várias formas de acordos tecnológicos de cooperação, que 15 O Procap foi originalmente composto por cerca de 78 projetos, e sua execução foi realizada no período de 1986 a 1991. O Programa teve sua carteira estendida para 109 projetos no decorrer do processo que envolveu 27 universidades e Centros de P&D, 45 empresas de engenharia, 55 indústrias e três companhias petroleiras. O sucesso do programa fez com que este fosse estendido. Assim, surgiu o Procap 2000 e, em seguida, o Procap 3000, com meta de desenvolver a exploração em profundidades de até três mil metros. 49 incluíram diferentes graus de compartilhamento de custos da inovação e de envolvimento externo e in-house nos esforços de inovação. Em relação às parcerias, é importante identificar, selecionar e desenvolver relacionamentos que contribuam para os objetivos estratégicos da empresa e que agreguem competências complementares. Há uma grande articulação com a comunidade científica e tecnológica, no Brasil e no exterior, englobando universidades, centros de tecnologia, empresas de engenharia, empresas petrolíferas, fabricantes de equipamentos e fornecedores. São utilizados diversos meios, a exemplo dos contratos e convênios diretos com universidades e centros de pesquisa, contratos com financiamento externo, redes cooperativas, redes de excelência e projetos multi-clientes. Vale ressaltar, no entanto, que estas parcerias não são recentes, principalmente aquelas que envolvem universidades e centros de pesquisa das regiões Sudeste e Sul. Muitas delas, por exemplo, a parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação (Coppe/UFRJ), data de mais de 40 anos. Devido à natureza do investimento em tecnologia, no qual há inúmeras incertezas, falhas informacionais, altos custos, longo prazo, expectativas sobre receitas futuras, muitas interrogações sobre o sucesso tecnológico do produto e aceitação do mercado, falta de recursos e interesse da indústria nacional, no Brasil, o Estado tem exercido um papel fundamental no financiamento do desenvolvimento científico e tecnológico. No entanto, contrastando com a própria lógica dos investimentos envolvidos e a necessidade de comprometimento de recursos por longos períodos de tempo, não havia, no Brasil, fontes estáveis de recursos para pesquisa e desenvolvimento, e isto representava um grande impasse para o desenvolvimento do país. Os incentivos fiscais existentes, conforme Bastos (2003, p.253), ainda que afetem os gastos em P&D pelos seus efeitos sobre os custos incorridos (quando a decisão de investir em tecnologia já foi tomada), têm potencial limitado em termos de estimular investimentos em P&D, pois não adiantam os recursos e não são modificadores da percepção de risco, além de exigirem, pela Lei de Responsabilidade Fiscal (art.14), a indicação de fontes de recursos compensatórias. O mecanismo de financiamento público de longo prazo tem maior poder de alavancagem, permite direcionamento conforme as prioridades da política governamental e proporciona impactos que independem do porte da empresa. 50 Recentemente, alguns mecanismos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico foram aprovados pela legislação brasileira, ampliando o arcabouço institucional de apoio à inovação. A Lei 10.973/2004 (conhecida como Lei da Inovação), por exemplo, dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, estimulando a construção de ambientes especializados e cooperativos de inovação; à participação das instituições científicas e tecnológicas16 (ICTs) no processo inovativo; à inovação nas empresas e; ao inventor independente. Essa lei, também, autoriza a instituição de fundos mútuos de investimento em empresas cuja atividade principal seja a inovação. A Lei 11.196/2005, mais conhecida como Lei do Bem, beneficia empresas que declaram imposto de renda, com base em lucro real, oferecendo incentivos fiscais para investimento em inovação. De 2006 para 2007, houve um aumento no número de empresas que a utilizam (em 2006, 130 empresas e, em 2007, 320). As empresas de Óleo e Gás também já utilizam este recurso (RELATÓRIO..., 2007) Os incentivos fiscais beneficiam empresas que investem em P&D de forma isolada, é a chamada inovação linear; e não necessariamente estimulam a interação com os outros agentes ou elementos, o que poderia gerar maiores efeitos no Sistema de Aprendizado. Inspirado nos debates sobre as privatizações e no financiamento à P&D, bem como na preocupação do que seria feito com a competência e capacitação formada nos Centros de Pesquisas estatais, além da necessidade da existência de fontes estáveis de recursos, cuja falta prejudicava o sistema como um todo, foram criados pelo Governo os chamados Fundos Setoriais. Dada a importância dos processos interativos para o aprendizado e a inovação, os seus editais privilegiam projetos construídos numa arquitetura em rede, envolvendo diversos atores com objetivos comuns. O CT-Petro, criado em 1997, e operacionalizado a partir de 1999, foi o primeiro dos 14 Fundos Setoriais do Governo Federal. O fundo é financiado por uma parcela de royalties percebidos sobre a produção de petróleo e gás natural no país, com a intenção de reforçar o financiamento das atividades de P&D no setor de Óleo e Gás, criando novos incentivos ao investimento privado. O CT-Petro trouxe mudanças significativas no ambiente da inovação, ao consolidar a necessidade da atuação em parcerias e redes. 16 De acordo com a definição contida na Lei 10.973, ICT é todo órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico. 51 1.3 FUNDOS SETORIAIS: ORIGENS E DESTINAÇÃO Os chamados Fundos Setoriais, na realidade, não são propriamente vários fundos, mas fontes de recursos permanentes, oriundas de contribuições incidentes sobre o faturamento de empresas e/ou sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União e vinculadas ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)17, este, instituído no final da década de 1960. Os recursos do FNDCT não alcançavam os montantes exigidos e havia instabilidade no seu repasse às instituições. Tal situação prejudicava o planejamento e a execução dos projetos apoiados, e agravou-se a partir da década de 1980, comprometendo a capacidade de inovação da economia brasileira. No período 1985/99, conforme Bastos (2003), o orçamento anual do FNDCT foi, em média, de apenas cerca de US$ 50 milhões, alcançando o ponto mais crítico em 1991 e 1992, quando esteve entre US$ 20 e US$ 30 milhões, respectivamente. Ao longo da década de 1990, o agravamento da situação fiscal do país inviabilizava qualquer apoio consistente à área de C&T. A ampliação de recursos para amparar uma ambiciosa política de C&T exigia a identificação de novas fontes. Havia uma preocupação de possível perda das competências e capacitações já formadas, principalmente nas áreas de petróleo e telecomunicações, áreas de atuação do Setor Produtivo Estatal (SPE), com o movimento da privatização e desregulamentação da época. Conforme observa Bastos (2003, p.237), para ter um fluxo estável e previsível de recursos, era fundamental a criação de alguma espécie de tributo que fosse distinto daquele especificado na Constituição e no Código Tributário Nacional, não sujeito, conseqüentemente, às restrições legais à sua criação e vinculação. Além da necessidade de estabilidade da alocação de recursos para o financiamento do desenvolvimento científico e tecnológico, os Fundos Setoriais vieram introduzir um novo paradigma na pesquisa no país, ao propor articular os diversos atores e instituições envolvidos na implementação das políticas setoriais. Propunham, ainda, inovar no que diz respeito à 17 As fontes tradicionais de recursos do FNDCT são: recursos orçamentários, recursos provenientes de incentivos fiscais, empréstimos e doações (Decreto-Lei 719). Este fundo sempre esteve apoiado em recursos do Tesouro Nacional disputados, anualmente, no jogo político da aprovação do Orçamento Geral da União (OGU) e, em menor escala, em empréstimos externos de organismos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os beneficiários tradicionais do FNDCT foram instituições de ensino e pesquisa (sem fins lucrativos), enquanto o financiamento de empresas foi sempre provido pela Finep com fontes próprias (aportes de capital, retorno de financiamentos e empréstimos internos e de organismos multilaterais) (BASTOS, 2003, p.236-237). 52 gestão compartilhada, com estratégias a longo prazo, definição de objetivos e prioridades e voltada a resultados. Suas receitas estão vinculadas à C&T, tanto na captação quanto na aplicação de recursos. Os Fundos Setoriais, criados a partir de 1997, foram lançados com as seguintes diretrizes: modernizar e ampliar a infra-estrutura de C&T; promover maior sinergia entre universidades, centros de pesquisa e setor produtivo; criar novos incentivos ao investimento privado em C&T; incentivar a geração de conhecimento e inovações que contribuam para a solução dos grandes problemas nacionais; e estimular a articulação entre ciência e desenvolvimento tecnológico, através da redução das desigualdades regionais e da interação entre universidades e empresas (no mínimo, 30% dos recursos para projetos a serem implementados nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste). O CT-Petro, particularmente, prevê o mínimo de 40% dos recursos aplicados em programas liderados por instituições das regiões Norte e Nordeste (BRASIL, 2008a). As ações apoiáveis dos Fundos Setoriais são: Estudos de necessidades e prognósticos de oportunidades, realizados, prioritariamente, sob encomenda ou por atuação induzida; Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico; Bolsas de Estudo para capacitação de recursos humanos, associados aos projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico; e Eventos como congressos, seminários e workshops que contribuam para a definição de políticas, a análise de mercados nacional e internacional, o intercâmbio e a transferência de conhecimentos, a avaliação de tecnologias, o estabelecimento de parcerias e alianças estratégicas e a competitividade do setor, entre outros (BRASIL, 2008a). Como itens financiáveis incluem-se, custeio de passagens, diárias, material de consumo, serviços de terceiros, investimento em obras civis, instalações, equipamentos e bolsas de 53 desenvolvimento tecnológico (por meio de acordo firmado com o Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq). As principais novidades introduzidas por este intrumento de política científica tecnológica no Brasil foram a gestão chamada compartilhada e o foco na articulação entre empresas e universidades ou centros de pesquisa. Tal articulação é exigida, desde então, nos editais dos Fundos Setoriais, como condição para aprovação dos projetos. Tradicionalmente, a política de C&T no Brasil possuía uma orientação mais global, portanto, não direcionada para setores específicos, mais ofertista, atendendo às demandas de projetos submetidos pelos pesquisadores. Com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), criado pelo Governo Brasileiro, em 1984, além de outras inovações, já havia iniciado uma mudança de foco, pois este programa incentivava o desenvolvimento científico e tecnológico de setores considerados prioritários, mas carentes de ordem institucional, de infra-estrutura fisica ou que tinham dificuldades de obter recursos financeiros. Os setores apoiados pelo PADCT foram Química e Engenharia Química, Biotecnologia, Geociências, Tecnologia Mineral e Tecnologia Industrial Básica (TIB). O programa visava ampliar, melhorar e consolidar a competência técnico-científica nacional. No novo modelo, o enfoque setorial é claro e as receitas e despesas são, em princípio, vinculadas. Há somente dois Fundos Setoriais, quais sejam, o CT-Infra e o Verde-Amarelo, que são, respectivamente, não vinculado e acadêmico. O CT-Infra é composto de 20% dos recursos de cada um dos fundos setoriais, com vistas a apoiar projetos de implantação, ampliação e recuperação de infra-estrutura de pesquisa das instituições públicas de pesquisa e ensino superior. O Fundo Verde-Amarelo tem seus recursos provenientes de 50% da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), cuja arrecadação advém da incidência de alíquota de 10% sobre a remessa de recursos ao exterior para pagamento de assistência técnica, royalties, serviços técnicos especializados ou profissionais; e 43% da receita estimada do IPI incidente sobre os bens e produtos beneficiados pelos incentivos fiscais da Lei de Informática. Este fundo acabou atendendo os setores de saúde, agronegócios, biotecnologia e indústria aeronáutica, em virtude da incapacidade de estabelecer fontes específicas de recursos para tais áreas. Estes fundos são chamados de horizontais, uma vez que não estão vinculados a nenhum setor de aplicação específico e atendem a vários fundos. Nesse caso, encontra-se também o CT-Amazônia, não vinculado a nenhum setor específico; no entanto, este somente atende à Região Amazônica. 54 Os Fundos Setoriais hoje existentes são: 1) CT-Petro, 2) CT-Info, 3) CT-Energ, 4) CTMineral, 5) CT-Hidro, 6) CT-Espacial, 7) CT-Saúde, 8) CT-Bio, 9) CT-Agro, 10) CT-Aero, 11) CT-Transporte, 12) CT-Amazônia, 13) Verde-Amarelo e 14) CT-Infra. As fontes de recursos vêm da cobrança de contribuições de empresas para o desenvolvimento científico e tecnológico (ver Quadro 1 a seguir); é uma espécie de tributo, que também é destinado ao FNDCT. No caso das telecomunicações, os recursos são direcionados ao Fundo de Telecomunicações (Funttel), e são administrados pelo próprio Ministério de Comunicações. É um recurso que sai do setor produtivo e volta para ele mesmo em forma de incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico. O Quadro 1, a seguir, relaciona os Fundos Setoriais, as leis que os instituíram, o decreto regulamentador, tipo de fundo (se vertical ou horizontal18), origem e aplicação dos recursos. 18 Os editais verticais são direcionados a determinados setores, a exemplo do CT-Petro, que é voltado para o setor de Óleo e Gás. Os editais horizontais não são direcionados a nenhum setor específico, como, por exemplo, o CT-Infra que visa financiar infra-estrutura de laboratórios. Neste, pesquisadores de todas as áreas podem submeter projetos de infra-estrutura, desde que atendam aos requisitos do edital lançado. 55 Fundo Lei geradora CT-Petro 9.478, 6/8/97 Decreto regulamentador 30/11/1998 CT-Info 10.176, 11/1/01 20/4/2001 Vertical CT-Energ 9.991, 24/7/00 16/7/2001 Vertical CT-Mineral 9.993, 24/7/00 16/7/2001 Vertical CT-Hidro 9.993, 24/7/00 19/7/2001 Vertical CTEspacial 10.332, 19/12/01; 9.994, 24/7/00 12/9/2001 Vertical CT-Saúde CT-Bio CT-Agro CT-Aero CT-Transporte 10.332, 19/12/01 10.332, 19/12/01 10.332, 19/12/01 10.332, 19/12/01 9.992, 24/07/00; 10.332, 19/12/01 25/2/2002 07/3/2002 12/3/2002 02/4/2002 06/8/2002 Vertical Vertical Vertical Vertical Vertical CTAmazônia 8.387, 30/12/91; 10.176, 11/1/01 1/10/2002 Horizontal VerdeAmarelo 10.168, 29/12/00; 10.332, 19/12/01 11/4/2002 Horizontal CT-Infra 10.197, 14/2/01 26/4/2001 Horizontal Quadro 1 – Caracterização dos Fundos Setoriais Fonte: Pereira (2005). Tipo Vertical Fonte de recursos 25% dos royalties que excederem a 5% da produção de petróleo e gás natural Mínimo de 0,5% do faturamento bruto das empresas beneficiadas pela Lei de Informática 0,75% a 1% do faturamento líquido das concessionárias 2% da compensação financeira (Cfem) paga por empresas com direitos de mineração 4% da compensação financeira recolhida pelas geradoras de energia elétrica 25% das receitas de utilização de posições orbitais; total da receita de licenças e autorizações da Agência Espacial Brasileira 17,5% da Cide 7,5% da Cide 17,5% da Cide 7,5% da Cide 10% das receitas do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (contratos para utilização de infraestrutura de transporte terrestre) Mínimo de 0,5% do faturamento bruto das empresas de informática da Zona Franca de Manaus 50% da Cide, 43% da receita do IPI incidente sobre produtos beneficiados pela Lei de Informática 20% dos recursos de cada fundo setorial Aplicação de recursos Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Vinculada Nãovinculada Acadêmica 56 A gestão compartilhada, de acordo com Bastos (2003, p.250), distingue-se da tradição de operação do FNDCT e da própria implementação da política de C&T brasileira que, historicamente, foi conduzida isoladamente, sem maiores interfaces. A Finep, agência do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), realiza a gestão executiva dos Fundos Setoriais, e o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) - também agência do MCT - é o responsável pela implementação das Bolsas de Fomento. Cada Fundo Setorial possui um Comitê Gestor (CG), também chamado de Comitê de Coordenação, este é um órgão colegiado responsável pela administração da aplicação dos recursos vinculados aos programas de amparo à pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. O CG é composto por representantes dos diversos órgãos interessados como ministérios, representantes do MCT e suas agências, agências reguladoras, comunidade científica e setor empresarial; daí seu compartilhamento. Os Fundos Setoriais possuem um modelo misto de gestão pois, em sua maioria, congregam um enfoque setorial e uma gestão compartilhada. No entanto, o Governo conta com o maior número de representantes nos Comitês Gestores. Além disso, por ser um modelo que envolve diferentes órgãos em sua gestão, é de difícil operacionalização, o que acaba exigindo um esforço de coordenação “hercúleo” por parte do MCT, conforme Bastos (2003, p.250-251); o que explica, em boa medida, a morosidade na aplicação dos recursos dos Fundos Setoriais. Desde a arrecadação dos recursos até a chegada aos beneficiários finais, percorre-se um longo caminho, envolvendo reuniões de Comitês Gestores; definição de prioridades - inclusive a partir dos trabalhos de um novo órgão, uma organização social de interesse público, cuja criação foi possibilitada pelos novos recursos do FNDCT, o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), com a função de realizar estudos prospectivos e avaliar resultados dos recursos aplicados; lançamento de editais; apresentação de propostas; seleção e julgamento; contratação; liberação dos recursos; acompanhamento e avaliação de resultados; pagamento de consultores; viagens e estadias; dentre outras despesas correntes. Um outro aspecto desse novo modelo de financiamento se refere, conforme Bastos (2003, p. 251), à ênfase dada à articulação entre universidades e empresas, particularmente no caso do FNDCT, como forma de incentivar as parcerias e inovações, tendo como instrumento a transferência de recursos não-reembolsáveis para universidades e instituições de pesquisa, nos casos de projetos cooperativos em conjunto com empresas. Os Fundos Setoriais foram resultado de uma evolução que se iniciou a partir do financiamento de projetos isolados diretamente com a Finep, passando pela preferência de projetos em parcerias universidade- 57 empresas e que culminou na obrigatoriedade para acesso às referidas fontes de financiamento de parcerias com contrapartida de recursos pelas empresas. Os Fundos Setoriais foram criados com o objetivo de atuar como fundos efetivos, não vinculados à execução anual do orçamento federal, mas com uma gestão plurianual. A intenção era, também, desobrigar a devolução ao Tesouro Nacional, no final de cada exercício, de recursos existentes em caixa do FNDCT. Os fundos de energia, espacial, recursos hídricos e mineirais, tranportes terrestres, Verde e Amarelo (ligados ao FNDCT) e o Funttel ficaram desobrigados da devolução dos recursos ao final do ano. No entanto, os fundos de petróleo, infra-estrutura e informática, de acordo com Bastos (2003, p. 239), não contam com isso. Dessa forma, fora os contingenciamentos aos quais se encontram suscetíveis os recursos do CT-Petro, caso os recursos destinados a ele não sejam gastos durante o ano, necessitam ser devolvidos aos cofres públicos. Autores como Bastos (2003, p. 245-246) e Pacheco (2007, p.19) revelam os baixos percentuais de execução orçamentária dos Fundos Setoriais. As ações de contingenciamento de recursos promovidas pelo Governo Federal nos últimos anos, em busca do cumprimento de metas crescentes de superávits primários e ajuste fiscal, não pouparam nem mesmo receitas vinculadas, como é o caso dos Fundos Setoriais de C&T, além da demora na definição de prioridades, atrasos na regulamentação, morosidade do mecanismo de lançamento de editais para seleção de projetos, realização de inúmeras reuniões de Comitês Gestores criados para cada Fundo Setorial e diversas outras instâncias administrativas (Finep, CNPq, MCT...). Mesmo com todas as dificuldades, muitos projetos foram concluídos e aprendizados foram gerados, como se verá adiante. O CT-Petro, como descrito a seguir, foi o primeiro Fundo Setorial criado pelo MCT, em 1997, tendo o início de sua operacionalização em 1999. 58 1.3.1 O CT-Petro No caso do CT-Petro, os programas de amparo à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico são consolidados no âmbito do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural com o objetivo de estimular a inovação na cadeia produtiva do setor, a formação e qualificação de recursos humanos e o desenvolvimento de projetos em parceria entre empresas e universidades, instituições de ensino superior ou centros de pesquisa do país, visando ao aumento da produção e da produtividade, à redução de custos e de preços, e à melhoria da qualidade dos produtos e da vida de todos quantos possam ser afetados por seus resultados. A administração da aplicação dos recursos vinculados aos programas de amparo à pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico aplicados à indústria do petróleo fica a cargo do Comitê Gestor (ou de Coordenação) do CT-Petro, que é composto pelo MCT, ANP, Ministério de Minas e Energia (MME), FNDCT, CNPq, setor privado de petróleo e gás natural e da comunidade de C&T. Em dezembro de 2008, o Comitê Gestor era formado por: Finep, CNPq, ANP, MME, dois representantes do setor produtivo - como titulares, estavam a Petrobras e Abdib - e dois representantes de universidades - como titulares, a Universidade de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os Comitês Técnicos atuam como assessoramento em caráter ad hoc e são coordenados por um membro do Comitê Gestor e integrados por especialistas do setor de petróleo e gás natural e por representantes do MCT, MME, ANP, Finep e CNPq, para a elaboração de editais, avaliação e julgamento de propostas, bem como acompanhamento e avaliação dos programas de amparo à pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico aplicados à indústria do petróleo, podendo utilizarse de subsídios e pareceres de consultores especialmente convocados. Visando ao desenvolvimento dos trabalhos pertinentes ao CT-Petro, o Comitê Gestor estabeleceu um conjunto de diretrizes, dentre as quais se destaca, conforme Pacheco (2007, p.216): direcionar as atividades do programa aos interesses das empresas do setor, com base nas políticas nacionais e em diagnósticos de necessidades e prognósticos de oportunidades da indústria; 59 apoiar projetos com metas objetivas e resultados aplicáveis ao setor, de forma que os resultados possam ser plenamente mensuráveis; avaliar projetos considerando critérios de competitividade, qualidade, gestão e retorno econômico, social e ambiental, além dos tradicionalmente utilizados para os campos científico e tecnológico; estimular projetos de parceria entre centros de pesquisa, universidades e empresas, incentivando a constituição de redes cooperativas de pesquisa; considerar o investimento em P&D das empresas, não admitindo a redução dos níveis habituais de investimento mediante sua substituição por aqueles oriundos do CT- Petro; Tais diretrizes constam no Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural, criado para o período de 1999 a 2003. A alocação de recursos pelo Comitê Gestor se inicia com definição de um Plano Plurianual de Investimentos, elaborado para um cenário de cinco anos, porém, revisto anualmente, e que deve identificar as principais linhas de ação a serem implementadas e os mecanismos de avaliação dos resultados de suas ações. No âmbito do CT-Petro, o Plano Plurianual de Investimentos relativo ao período de 19992003 foi aprovado pelo MCT em 1999. No item Diretrizes Técnicas do Plano, definiu-se a elaboração de estudos, coordenados pela ANP, visando à identificação de áreas temáticas estratégicas e atividades prioritárias para a pesquisa científica e tecnológica. Coordenado pela ANP e sediado no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), o “Projeto CT-Petro Tendências Tecnológicas” objetivou subsidiar a aplicação dos recursos do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor de Petróleo e Gás Natural - CT-Petro, a partir da elaboração de termos de referência de estudos, identificação e contratação de grupos de especialistas em estudos variados (estratégia, prospeção tecnológica, planejamento e gestão, formulação e avaliação de programas), que compõem o corpo final do projeto, e a identificação de tendências tecnológicas para o Setor no país. A identificação de tendências tecnológicas objetivou subsidiar a tomada de decisões para a alocação de recursos e definição de atividades estratégicas, no âmbito do CT-Petro fundo pioneiro do novo modelo de financiamento de C&T no país - para o período 2002/2005, que visasse à capacitação dos agentes dessa cadeia produtiva no Brasil. Seus 60 princípios metodológicos, conforme Neves, Lemos e Maldonado (2002, p.12), pressupõem que, para se fortalecer o Sistema de Inovação do setor, é necessário o envolvimento de todos os agentes que desempenham um papel, direto ou indireto, na promoção e desenvolvimento de inovações: empresas da cadeia produtiva, fornecedores, clientes, instituições de ensino e P&D, bem como agências governamentais reguladoras e financiadoras, além de governos locais e regionais. De uma forma geral, o modelo de financiamento funciona a partir do lançamento do edital; os projetos são encaminhados à Finep para solicitação de recursos e são analisados por essa instituição e mais dois consultores ad hoc, pré-qualificando-os. Depois, o Comitê Técnico se reúne, analisa e ordena as propostas em ordem decrescente de melhores trabalhos e áreas prioritárias. Quando aprovados, os projetos são contratados através de convênio. O CT-Petro exige contrapartida da empresa participante, e o recurso que é colocado pelo governo tem característica não-reembolsável. A capacitação tecnológica é estimulada pelos recursos disponíveis e pela exigência de projetos qualificados e atuação em redes e parcerias Universidades-Empresa e demais organizações. As instituições passíveis de utilização de recursos do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural – CT-Petro são as seguintes: Universidades públicas ou privadas, do país, sem fins lucrativos, podendo ser representadas por Fundações de Apoio, definidas na forma da Lei n. 8.958 de 20 de dezembro de 1994, Centros de Pesquisa, públicos ou privados, do país, sem fins lucrativos. De acordo com o Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural - CT-Petro, anteriormente mencionado, as empresas públicas ou privadas podem e devem ser sempre estimuladas a participar técnica e financeiramente da execução dos projetos apoiados pelo CT-Petro, especialmente, demandando o desenvolvimento científico e tecnológico de novos produtos, processos e serviços às universidades e centros de pesquisa. A seguir, são apresentados todos os editais CT-Petro, ações verticais, que foram lançados desde o seu início, com objetivos, recursos e resultados. 61 EDITAL/PROGRAMA OBJETIVO RESULTADO (RESUMO) RECURSOS PREVISTOS (milhões) EDITAIS VERTICAIS CT-Petro Finep/PADCT/Cenpes/BID/Sinapad/ ANP 01/1999 Edital CT-Petro 01/2000 – Rede de Pesquisa e Monitoramento de Qualidade de Combustíveis Edital CT-Petro 03/2000 – P&D nas Áreas Temáticas Programas voltados para o apoio a projetos de P&D e capacitação institucional em diversas áreas temáticas. 321 propostas aprovadas R$ 133,8 Seleção pública de projetos de implantação de laboratórios de pesquisa e monitoramento da qualidade de combustíveis. 12 propostas aprovadas R$ 16,2 Seleção pública de projetos de pesquisa e desenvolvimento nas áreas prioritárias 126 propostas aprovadas R$ 55,9 4 Carta-Convite às Empresas da Cadeia Produtiva vinculada ao Setor Petróleo e Gás Natural 00/2001 Identificação e seleção de empresas ou consórcios de empresas, dispostas a aplicar recursos financeiros, em conjunto com recursos do CT-Petro, em projeto ou conjunto de projetos de pesquisa aplicada, a serem desenvolvidos em parceria com universidades e centros de pesquisa do país, públicos ou privados, sem fins lucrativos. As empresas devem ser vinculadas à cadeia produtiva relacionada ao setor petróleo e gás natural. Até R$ 50 5 Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 Edital de Convocação para apresentação de propostas de redes cooperativas de pesquisa do setor petróleo e gás natural nas regiões Norte/Nordeste. 2 fases. 1)Apresentação dos anteprojetos de redes e; 2) Estruturação das redes. 6 Edital CT-Petro/Inovação: Finep 04/2001 Fase I e Fase II Inovação tecnológica na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás natural 1º período de cadastramento - 17 empresas interessadas e 14 foram enquadradas e autorizadas a apresentar propostas de projetos; - 152 projetos encaminhados e 134 aprovados 2º período de cadastramento - 9 empresas interessadas e 619 foram enquadradas e autorizadas a apresentar propostas de projetos - 39 projetos encaminhados e 35 aprovados. Foram apresentados 42 anteprojetos de redes e, ao final, houve 13 Redes N/NE aprovadas (Risco Exploratório, Recogas, Rede CT-Petro Amazônia, Recupetro, Petromar, Recam, Geologia e Geofísica de Campos Maduros, Materiais Avançados, Modelagem Computacional, Redic, Recat, Recol e Rede Asfalto) - 20 projetos aprovados na etapa de pré-qualificação; - 8 projetos foram aprovados na Fase I (pré-incubação); - 4 projetos aprovados na Fase II (incubação) 1 2 3 19 Petrobras, Copene, Ecosorb, Itautec, Lubrizol e TAG. R$ 40 R$ 10 62 EDITAL/PROGRAMA OBJETIVO RESULTADO (RESUMO) RECURSOS PREVISTOS (milhões) EDITAIS VERTICAIS 7 Chamada Pública MCT-RBT/Finep/CTPetro 01/2003 8 Chamada Pública MCT/Finep/CT-Petro 02/2003 9 Chamada Pública MCT/Finep/CT-Petro – Temas Estratégicos 01/2006 10 Carta-Convite MCT/Finep/CT-Petro – Incubadoras de Empresas 01/2007 CHAMADA PÚBLICA MCT/Finep/CTPetro – Promove – 01/2008 11 Seleção pública de propostas para apoio financeiro à substituição competitiva da importação de equipamentos, produtos e serviços de interesse da cadeia produtiva de petróleo e gás natural Seleção pública de propostas para apoio financeiro a projetos de parceria universidade-empresa de interesse da cadeia produtiva de petróleo e gás natural 12 projetos aprovados Seleção pública de propostas para apoio a projetos de C,T&I nas linhas temáticas estratégicas de óleos pesados, dutos e gás natural. Seleção pública de propostas para apoio a incubadoras de empresas com atuação na cadeia de petróleo e gás natural. Seleção pública de propostas para apoio a projetos visando a promover a interação das ciências da Engenharia, relacionadas ao petróleo e gás, com o ensino médio. TOTAL DE RECURSOS PREVISTOS 50 projetos aprovados Quadro 2 – Editais CT-Petro: ações verticais Fonte: elaboração própria (2008) e adaptado de www.finep.gov.br . Acesso em: 20 fev. 2008. - De 101 propostas apresentadas, 75 foram pré-qualificadas para avaliação de mérito; - Foram aprovadas 46 propostas 23 instituições selecionadas na primeira etapa. 11 propostas selecionadas R$ 4 Até R$ 22 R$ 40,5 R$ 14 R$ 8 R$ 394,40 63 As demais chamadas nas quais houve participação do CT-Petro foram as transversais e horizontais, de acordo com denominação da Finep. Anteriormente ao lançamento do Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001, foi lançada a Carta-Convite às Empresas da Cadeia Produtiva vinculada ao Setor Petróleo e Gás Natural 00/2001, cujo objetivo era identificar e selecionar empresas ou consórcios de empresas, dispostas a aplicar recursos financeiros, em conjunto com recursos do CT-Petro (não reembolsáveis), em projeto ou conjunto de projetos de pesquisa aplicada, a serem desenvolvidos em parceria com universidades e centros de pesquisa do país, públicos ou privados, sem fins lucrativos. Devido ao caráter desigual e concentrado - principalmente nas regiões Sudeste e Sul -, evidenciado até numa análise superficial dos números referentes aos grupos de pesquisa, número de doutores, bolsas concedidas, projetos financiados, dentre outros, o Edital CTPetro/CNPq-Finep 03/2001 teve como objetivo fomentar a constituição e consolidação de Redes Cooperativas de Pesquisas, Inovação e Transferência de Tecnologia, organizadas como centros virtuais de caráter multidisciplinar nas regiões Norte e Nordeste, por meio do apoio a projetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Os temas foram selecionados a partir das áreas estratégicas estabelecidas no Plano de Ação do CT-Petro para 2001-2003. O Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 compreendeu duas fases: 1) Formação de redes e; 2) Estruturação das Redes. Após o lançamento do edital, centros de pesquisa e empresas articularam-se para formar redes cooperativas de pesquisa. Desse processo associativo, surgiram propostas de formação de 44 redes, que foram submetidas à avaliação de técnicos da Finep, CNPq e de consultores ad hoc, os quais analisaram as propostas com base nos critérios do edital e elaboraram parecer, apresentando-o ao Comitê Técnico. Um workshop foi promovido pelo Comitê para promover a integração das 37 melhores propostas. Após o evento, o Comitê Técnico autorizou a estruturação de 13 Redes Cooperativas de Pesquisa, sendo que a Petrobras participa de todas elas, com coordenadores seus (do Cenpes), designados para cada uma. É bom ressaltar que esse edital foi aberto à toda a comunidade de C&T relacionada ao setor de Óleo e Gás; as 13 Redes Cooperativas de Pesquisa foram criadas a partir da submissão de suas propostas, que precisavam ter a coordenação de uma instituição de ensino superior ou de pesquisa. As Redes N/NE criadas a partir dessa iniciativa foram: 64 1) Risco Exploratório, 2) Gás Natural (Recogas), 3) Rede CT-Petro Amazônia, 4) Recuperação das Áreas Contaminadas (Recupetro), 5) Monitoramento das Áreas Contaminadas (Petromar), 6) Engenharia de Campos Maduros (Recam), 7) Geologia e Geofísica de Campos Maduros, 8) Materiais Avançados, 9) Modelagem Computacional, 10) Instrumentação e Controle (Redic), 11) Catálise (Recat), 12) Combustíveis e Lubrificantes (Recol) e 13) Pesquisa em Asfalto (Rede Asfalto). Como será visto mais tarde, as Redes N/NE possuem objetivos de desenvolver pesquisas, intercambiar informações, desenvolver e aperfeiçoar ferramentas e métodos, desenvolver projetos para aplicações práticas, treinamento e capacitação, aprimorar técnicas para melhoria de processos, criar novas tecnologias, dentre outros, com a pretensão de estimular competências regionais. Portanto, constituem-se em redes que envolvem atores com diferentes competências, cujos objetivos passam pelos fluxos de conhecimento e pelo estímulo ao aprendizado e inovação. Devido à sua estruturação e experiência particular em pesquisa compartilhada (tanto no exterior, como internamente com universidades e centros de pesquisa), a Petrobras usufruiu, desde o primeiro momento, dos recursos disponibilizados pelo CT-Petro. O que deve estimular as empresas é, dentre outros, que esteja clara uma definição dos mecanismos contratuais que a protejam com relação à confidencialidade e ao uso dos resultados, senão, possivelmente, preferirão desenvolver as inovações com recursos próprios. Sem o interesse das empresas em participar do CT-Petro, não haveria sentido no programa. Formalmente, as redes são institucionalizadas a partir da assinatura de um Termo de Cooperação com cada instituição âncora, Finep e empresa, objetivando o desenvolvimento dos projetos de pesquisa que compõem cada uma das Redes. A implementação de cada fase dos projetos vem acontecendo, desde então, mediante a celebração de convênios específicos. Os recursos são direcionados para uma fundação sem fins lucrativos, conveniada da universidade coordenadora do projeto (âncora). Como primeiro Fundo Setorial implantado, o CT-Petro vem servindo como uma experiência importante de parceria universidade-empresa (U-E) no Brasil. Todos os demais fundos pretenderam, como Óleo e Gás tem feito, induzir fortemente a essa parceria. A obrigatoriedade da aplicação dos 40% dos recursos do CT-Petro nas regiões N/NE, conforme 65 exigência da Lei do Petróleo, estimulou a entrada de diversas instituições que nunca haviam trabalhado em parceria com empresas e tampouco com outras universidades, representando sua primeira empreitada neste sentido. Assim, o impacto dos Fundos Setoriais e da necessidade de organização em rede, envolvendo diferentes atores e questões de gestão e de propriedade intelectual, para a grande maioria das universidades do Norte e Nordeste, está representando um grande desafio e vem provocando grandes mudanças no ambiente de troca de aprendizado e conhecimento, como será visto nesta tese. Como o CT-Petro foi o primeiro Fundo Setorial implantado, esse modelo de edital das Redes N/NE foi considerado uma inovação da gestão de políticas públicas no Brasil. Foram grandes os desafios, dentre eles: criar um ambiente de pesquisa conjunta com instituições que possuíam, em geral, pouca ou nenhuma experiência com interações mais formalizadas entre integrantes da própria academia, e, com o setor produtivo; equipar e capacitar essas instituições de ensino e pesquisa para se relacionarem com novas áreas e demandas de pesquisas; estimular empresas a participar desta construção conjunta; criar cultura de cooperação; trabalhar com uma nova estrutura (mais horizontalizada) que exige coordenação e gestão diferenciada; e lidar com controles de instituições financiadoras diferentes com “times” também distintos (para respostas e verificações) e sobrecarga de trabalho por parte de todas as instituições envolvidas. A Petrobras, mesmo com a experiência acumulada em projetos cooperativos, nunca havia trabalhado de forma mais horizontal com um grande número de universidades das regiões Norte/Nordeste, com pouca ou nenhuma experiência nesse tipo de relação. Dado o histórico do setor de Óleo e Gás; a ampliação dos recursos disponíveis em patamares nunca antes vistos; a participação da Petrobras desde o início no CT-Petro; a complexidade da gestão compartilhada; os desafios enfrentados pelas universidades e centros de pesquisa, empresa e a própria Finep, nesse novo modelo em rede que mobiliza diferentes atores em prol de objetivos comuns e; a necessidade de capacitar mais recursos humanos para um setor em crescimento, pergunta-se: As Redes N/NE são uma forma de organização que têm possibilitado o desenvolvimento de capacitação científica e tecnológica nas regiões N/NE? Pode-se afirmar que favorecem a interação entre os atores, contribuindo para a constituição e/ou fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás? 66 Pode-se antecipar que as redes favorecem a construção de relações de aprendizado na medida em que buscam parceiros com competências científicas e tecnológicas complementares, no ambiente externo, e desenvolvem competências de gestão sobre processos. Essas experiências podem constituir-se em redes de aprendizado que surgem em tal dinâmica. A questão principal é se as ações das Redes N/NE têm possibilitado a capacitação científica e tecnológica nessas regiões e se levam à construção e fortalecimento de um Sistema Setorial num país periférico que ainda dispõe, de uma forma geral, de laços frágeis entre os atores, principalmente, em regiões menos desenvolvidas como as do Norte/Nordeste brasileiras. São as relações, a qualidade, intensidade, natureza e conteúdo dos laços e seus resultados em termos dinâmicos que vão gerar e alimentar o sistema. Mais especificamente, o alvo da pesquisa está nas Redes Norte-Nordeste (cuja origem encontra-se no Fundo Setorial CT-Petro, Edital CT-Petro CNPq-Finep 03/2001). As Redes N/NE já possuem histórico (existem desde 2001), o que permite uma análise mais abrangente, envolvendo as regiões brasileiras menos desenvolvidas e que, portanto, precisam ser analisadas no sentido de avaliar sua dinâmica, resultados e potencialidades, para compreender a dimensão dessas ações na formação de capacidades e competências regionais. Devido à inviabilidade, neste momento, de estudar todas as 13 Redes N/NE, optou-se pelo estudo de duas delas. Destas, escolheu-se uma coordenada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com o foco num produto (Rede Asfalto), e outra, pela única universidade particular dentre as instituições coordenadoras das Redes N/NE, a Unifacs, e que tem seu foco num processo (Rede de Catálise), ambas em Abastecimento, área que atualmente vem recebendo muita atenção e investimentos na Petrobras. As redes são descritas neste trabalho e são analisadas as capacitações e competências científicas e tecnológicas desenvolvidas. A partir deste estudo, pretendeu-se aprofundar o conhecimento das dinâmicas das redes e a sua relação com as trajetórias regionais e nacionais em países periféricos, sinalizando indicadores que possam subsidiar análises, estudos e políticas relacionadas às redes e aos Sistemas de Inovação. No próximo capítulo, é apresentada a opção teórico-metodológica escolhida para responder às questões da pesquisa. Para tal, são introduzidos e discutidos alguns conceitos fundamentais: o conceito de inovação, ciência, tecnologia, aprendizado, conhecimento, 67 competências e capacidades científicas e tecnológicas, Sistemas de Inovação/Aprendizado e a abordagem de redes. 68 2 CONSTRUÇÃO DA PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA 2.1 INOVAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA E AS BASES DA ABORDAGEM DE SISTEMAS DE INOVAÇÃO Historicamente, a ciência e a tecnologia percorreram caminhos distintos. As preocupações da ciência tinham um caráter essencialmente filosófico, buscando explicar os fenômenos naturais que despertavam a curiosidade humana. Tigre (2006, p.5) ressalta que as inovações ocorridas nas etapas iniciais da Revolução Industrial eram de natureza essencialmente prática, desenvolvida por mecânicos, ferreiros e carpinteiros engenhosos praticamente sem formação científica. A ciência não constituía resposta ao objetivo de aumentar a produção de bens, de forma a atender às necessidades humanas. O uso comercial da ciência só veio ocorrer efetivamente no final do século XIX, quando surgiram os laboratórios de pesquisa empresariais direcionados a aplicar métodos e conhecimentos científicos ao desenvolvimento de novos produtos e processos. O primeiro laboratório criado com propósitos comerciais foi o de Thomas Edson, conhecido como o inventor da lâmpada; isso só foi possível em função do surgimento de um mercado capitalista com poder de consumo, resultado da primeira Revolução Industrial. Tigre (2006, p.6) observa: “a ciência só passou a influenciar diretamente o progresso técnico quando a tecnologia industrial passou do mundo visível das polias e engrenagens para o campo invisível do eletromagnetismo e das reações químicas”. Karl Marx já apontava que a tecnologia não é neutra e se desenvolve em meio a condições institucionais apropriadas; ela é a alavanca do processo evolucionário do capitalismo. A mudança tecnológica não é um processo automático, pois pode representar resistência natural e a substituição de métodos já estabelecidos, causando prejuízo ao capital investido. É necessário haver uma combinação de fatores que incitem essa mudança e a possibilitem. Da mesma forma, as técnicas, a ciência e a inovação não acontecem num vácuo histórico. 69 Schumpeter, no início do século XX, define a inovação como um fenômeno fundamental da vida econômica capitalista e que dá lugar ao processo de desenvolvimento. Este acontece pela realização de novas combinações. As novas combinações, de acordo com Schumpeter (1934), podem ser: Introdução de um novo bem (com o qual os consumidores não estejam familiarizados) ou de uma nova qualidade de um bem; Introdução de um novo método de produção (um método que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação e pode consistir, também, em nova maneira de lidar comercialmente com uma mercadoria); Abertura de um novo mercado (um mercado em que o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha existido antes ou não); Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez, independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada; Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio ou a fragmentação de uma posição de monopólio. Schumpeter (1934) considera o desenvolvimento um fenômeno inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. Essa mudança espontânea é gerada pela função empreendedora no sistema. Em Economic Theory and Entrepreneurial History, Schumpeter (1954) sintetiza suas contribuições sobre a função empreendedora, ressaltando a importância do empreendedor para o desenvolvimento capitalista, e acrescenta que o empreendedorismo não necessariamente se encontra incorporado numa pessoa. A função empreendedora é essencial ao sistema e pode ser exercida por diversos agentes; o Estado, também, pode ser um agente da inovação. 70 No mesmo texto em que revela a função empreendedora, Schumpeter trata da relevância das condições históricas relacionadas à atividade do empreendedor, o que ele realmente foi e realizou em várias etapas do desenvolvimento histórico; é uma construção ampla, em que o autor ressalta a importância das perspectivas históricas e teóricas desse desenvolvimento. Dessa forma, a história e suas condições, o ambiente onde se localizam as empresas, as forças políticas, competências construídas ao longo do tempo, passam a configurar como elementos capazes de influenciar a capacidade de inovação e o desenvolvimento econômico. A teoria neoschumpeteriana reconhece que os conhecimentos científicos e tecnológicos não são perfeitamente codificáveis e que sua transferibilidade não é perfeita; além disso, há a capacidade limitada dos agentes em adquirir e processar conhecimento. As variáveis envolvidas na inovação são inúmeras, o que revela ser um processo extremamente complexo e fruto, também, de relações institucionais. A tecnologia trabalha com transformações de idéias ou de princípios científicos consagrados em modelos e/ou protótipos que geram aprendizado, em princípio, e podem ou não gerar uma inovação. Da inovação podem ser geradas, por exemplo, novas ferramentas para a produção, as quais poderão ser postas a serviço da técnica. A tecnologia representa o conhecimento sobre as técnicas e envolve, em vários níveis, conforme Dosi e outros (2002, p.11), também, formas tácitas de conhecimento incorporado em indivíduos e procedimentos organizacionais. A técnica pode ser caracterizada pelo exercício de habilidades e envolve aplicações da tecnologia, como conhecimento em produtos, processos e métodos organizacionais, bem como é necessária para manejar máquinas e equipamentos na indústria e no dia-a-dia das pessoas. Os objetivos da técnica são o aumento da confiabilidade dos produtos e resultados, da produtividade e da melhoria do bem-estar da sociedade. A tecnologia não é uma simples aplicação de um saber científico. Nas relações entre a ciência e tecnologia, mais especificamente no que se refere às duas forças indutivas básicas da mudança tecnológica, o modelo invenção-inovação e difusão, recorrente na década de 60, conforme Rothwell (1992), conhecido também como “push”, sugeria que a ciência - cujo objetivo é ampliar a compreensão dos fenômenos num campo, seu entendimento fundamental - levava ao desenvolvimento tecnológico. Este último, entendido, aqui, conforme Cimoli e DellaGiusta (2003), como o desenvolvimento de atividades necessárias para a solução de problemas ou como combinar recursos para produzir produtos desejados, o que inclui formas tácitas de conhecimento incorporadas em procedimentos individuais e organizacionais. 71 O modelo de “pull de mercado”, também predominante na mesma década de 60, já preconizava que a percepção do mercado e suas necessidades impulsionavam o desenvolvimento tecnológico. Stokes (2005, p.39) ressalta que a ciência básica não pode mais ser vista apenas como uma remota geradora de descobertas científicas, movida a curiosidade, descobertas a serem posteriormente convertidas em novos produtos e processos pela pesquisa aplicada e pelo desenvolvimento, nos estágios subsequentes, da transferência tecnológica. Ou seja, a idéia de linearidade presente nos modelos de interação ciência e tecnologia, preconizada pelos modelos “push” e “pull”, nem sempre ocorre na prática; o que há é uma interação entre esses modelos (pensamento predominante a partir da década de 70), permeada por especificidades e contingências e que incluem o âmbito político, econômico e tecnológico, bem como as trajetórias, paradigmas e forças sociais, conforme Dosi e outros (2002), de cada país ou região, as quais concorrem para tal interação. Rothwell (1992) já sugeria que a atual geração estaria associada à emergência de redes horizontais e verticais de transferência de tecnologia, as quais transpassam setores industriais baseados em tecnologias complexas ou emergentes, dando origem a uma sistemática realização das atividades inovativas, caracterizadas pela integração de sistemas, flexibilidade, networking e processamento paralelo de informações. A revolução tecnológica, centrada nas tecnologias de informação, afeta o próprio processo de inovação e sua comercialização, apresentando, conforme Castells (1999, p.6), uma clara descontinuidade com a tradição mais prudente do mundo corporativo: No novo modo informacional de desenvolvimento, a fonte de produtividade reside na tecnologia de geração do conhecimento, processamento de informação e na comunicação simbólica. [...] O que é específico ao modo informacional de desenvolvimento é a ação do conhecimento sobre o conhecimento por si como a principal fonte de produtividade (CASTELLS, 1999, p.17). Mesmo com o reconhecimento da complexidade envolvida no processo inovativo e nas inúmeras possibilidades de combinações que podem existir para inovar, Tigre (2006) observa que, em países de industrialização tardia, a capacidade científica para gerar tecnologias é mais limitada e a capacidade e autonomia das empresas para realizar inovações é menor. Nesses países, portanto, a demanda constitui o principal estímulo à inovação. O Estado tem um papel importante, já que pode incentivar ou desestimular a inovação tecnológica: “[...] é um fator decisivo, na medida em que expressa e organiza as forças sociais e culturais que dominam 72 num dado espaço de tempo” (CASTELLS, 1999, p.13). Nas Redes N/NE estudadas, como se verá adiante, na maioria dos projetos, é a demanda da empresa que estimula a criação dos projetos de pesquisa, que podem envolver pesquisa básica ou aplicada; esta última predominante, mas há um certo espaço para negociação. Deve-se considerar, entretanto, que a capacitação científica nas universidades é importantíssima para a construção da absorptive capability (capacidade de assimilação) dos países periféricos, o que é reforçado por meio da interação entre universidades e empresas. De acordo com Rosenberg (1990), “a pesquisa básica é um tíquete de entrada para uma rede de informação [..] permitindo monitorar a evolução do conhecimento”. Como afirmam Bernardes e Albuquerque: Ciência na periferia é importante para funcionar como uma “antena” para a criação de links com fontes internacionais de tecnologia. Como um “mecanismo de foco”, instituições científicas podem localizar avenidas de desenvolvimento tecnológico que são factíveis para países em desenvolvimento, dadas condições nacionais e internacionais (BERNARDES; ALBUQUERQUE, 2003, p.869). Isso significa que a informação científica é necessária, até para advertir em quais setores industriais a entrada não é possível ou para se definir produtos, processos e/ou equipamentos mais adequados à necessidade em um determinado contexto. Modelos surgiram para explicar a complexidade da interação entre as diversas instituições em seus contextos sociais. O Triple Helix de Etzkowitz e Leydesdorff (2000), por exemplo, apresenta três modelos básicos de interação universidade-empresa-governo. No primeiro deles, o Triple Helix I, o Governo envolve a academia e a indústria e direciona a relação entre eles (um exemplo é o que acontecia na antiga União Soviética). O Triple Helix II é um modelo tipo laissez-faire, em que cada instituição (Estado, academia e indústria) tem seu papel bem definido; atualmente, de acordo com os autores, é utilizado como “terapia de choque” para reduzir o papel do Estado na Triple Helix I. O Triple Helix III é um modelo buscado atualmente pela maioria dos países e que gera uma infra-estrutura de conhecimento em termos de sobreposição de esferas institucionais, em que cada uma assume o papel da outra e são constituídas organizações híbridas, emergindo nas interfaces. O objetivo comum é compreender o ambiente inovativo, o qual consiste de empresas que ultrapassam suas próprias fronteiras (spin-off firms); iniciativas tri-lateriais baseadas no conhecimento, alianças estratégicas entre empresas (pequenas ou grandes, operando em diferentes áreas e com diferentes níveis de tecnologia), laboratórios governamentais e grupos de pesquisa da 73 academia. Esses arranjos são, frequentemente, encorajados, mas não controlados pelo governo, por meio de novas regras do jogo, apoio financeiro direto ou indireto, ou por leis, ou ainda, por novos atores, como instituições que promovem a inovação. A Figura 3, a seguir, ilustra os diferentes modelos Triple Helix de Etzkowitz e Leydesdorff (2000). I II III Figura 3 – Modelos Triple Helix Fonte: Etzkowitz e Leydesdorff (2000). O Modelo Triple Helix III parece traduzir o funcionamento das Redes N/NE, em que o Estado, por meio de sua agência, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), une-se à indústria, como co-financiadores das pesquisas realizadas pela universidade. No caso dessas redes, a indústria, representada pela Petrobras, é uma empresa de capital misto, o que torna esta relação diferenciada, como será visto mais adiante. 74 De acordo com Etzkowitz e Leydesdorff (2000, p.109), há diversos movimentos que são percebidos e que, inclusive, questionam o papel apropriado da universidade na transferência de tecnologia e conhecimento. Ainda conforme esses autores, o Swedish Research 2000 Report, por exemplo, recomenda a retirada das universidades de sua “terceira missão”1, ou seja, de contribuir diretamente para a indústria, e que retorne para suas atividades de ensino e pesquisa, como tradicionalmente concebido. O argumento é que os mecanismos de transferência de tecnologia podem criar custos de transação desnecessários, encapsulando, assim, conhecimentos em patentes que devem fluir, gratuitamente, para a indústria. Um perigo não evidenciado pelos autores é de que, caso as universidades, devido ao aumento da importância do conhecimento da pesquisa para a sociedade do conhecimento, de fato assumam sua “terceira missão”, as pesquisas na universidade acabem sendo direcionadas para a pesquisa aplicada em apenas poucas empresas, e a pesquisa básica, de crucial importância, conforme Pavitt (1991), para o treinamento na pesquisa, para o desenvolvimento de habilidades nos pesquisadores e para a criação de novas tecnologias em benefício da sociedade, deixe de ser priorizada. Esse receio foi percebido em parte das entrevistas com os representantes das universidades, principalmente no que se refere às Redes Temáticas da Petrobras e às contratações diretas de universidades para realizar determinadas pesquisas. O pesquisador não quer se tornar um prestador de serviços dentro da universidade, até porque existem empresas de consultoria e prestação de serviço criadas no mercado para exercer tais atividades. A técnica, a tecnologia, a ciência e a inovação possuem elementos comuns, principalmente: i) sua essência é o conhecimento e o aprendizado - a informação e o conhecimento para solucionar problemas ou combinar recursos e, também, para a utilização de técnicas demandam competências específicas e nem sempre codificáveis; e ii) são produtos sociais no sentido de que são construções oriundas da sociedade. Dessa forma, não se pode separar a sociedade, de um lado, e a ciência e a técnica, de outro. Para Akrich, Callon e Latour (2002a), qualquer tentativa de separar o conhecimento técnico do científico parece artificial. Akrich, Callon e Latour (2002a, p.187) afirmam que é muito fácil explicar os sucessos e fracassos da inovação em retrospectiva. Eles propõem estudar a inovação “in the making”, ou 1 As primeiras missões da universidade seriam o ensino e a pesquisa. 75 seja, ela acontecendo no momento e, não, em retrospectiva. Assim, os autores propõem uma teoria da inovação mais próxima dos atores e de suas experiências, de forma a tornar os mecanismos de fracasso e sucesso inteligíveis e, finalmente, mais gerenciáveis. Aproximar o mercado e a tecnologia, conforme ainda esses autores (2002a, p.189), a partir das invenções e postos de vendas que se transformam em inovações e são, pacientemente, construídos é, mais e mais, resultado de uma atividade coletiva e não mais o monopólio de um inspirado e dedicado indivíduo. As qualidades individuais de insight, intuição, senso de antecipação, reações rápidas devem ser todas reinventadas e reformuladas na linguagem da organização: “Elas não são mais propriedade de um indivíduo, mas se tornam virtudes coletivas durante as quais a arte de governar e gerenciar têm um papel central” (AKRICH; CALLON; LATOUR, 2002a). Segundo esses autores (2002b, p.208), o sucesso de uma inovação pode ser explicado por duas diferentes maneiras, uma enfatizando as qualidades intrínsecas da inovação (que os autores chamam de difusão), e a outra, destacando a capacidade de criar adesão entre os numerosos aliados (usuários, intermediários etc.). No segundo caso, os autores chamam de “modelo de interesse”, no sentido de que a inovação depende da participação ativa de todos os que decidiram desenvolvê-la. O “modelo de interesse” permite-nos entender como uma inovação é adotada, como se movimenta, como progressivamente se espalha para ser transformada em um sucesso (2002b, p.20). As duas abordagens complementam-se. Não há como prever o sucesso da inovação. Isso envolve expectativas do consumidor, compradores e dos departamentos na empresa, as características do produto ou processo, as relações estabelecidas e sua adesão; há, também, problemas para se identificar os consumidores possíveis. Sobre isso, Akrich, Callon e Latour resumem muito bem: “O consumidor é o rei, mas de um império cujos limites, fronteiras, são fracamente definidos e cujas leis são vagas. É uma entidade enigmática” (AKRICH; CALLON; LATOUR, 2002, p.200). A importância da arte de governar é reforçada porque, como atividade coletiva, a inovação “in the making” de Akrich, Callon e Latour (2002a) revela uma multiplicidade de decisões heterogêneas e, frequentemente, confusas, feitas por um número amplo de grupos diferentes e, frequentemente, conflitivos; decisões as quais cada um é incapaz de decidir, a priori, se serão cruciais ou não. Esses autores ressaltam que a inovação, por definição, é 76 criada por instabilidade, por imprevisibilidade, pela qual nenhum método, mesmo refinado, irá gerenciá-la integralmente. O aprendizado (grifo nosso), entendido aqui como parte integrante do processo inovativo, também possui essas características anteriores, envolvendo a construção e a desconstrução de conhecimentos. As pessoas aprendem e as organizações aprendem e, também, esquecem, mas nem sempre no mesmo ritmo, na mesma intensidade. Devemos considerar, no entanto, que o fato de não se poder gerenciar o processo inovativo e o aprendizado integralmente não vai de encontro à definição de se poder construir direcionamentos capazes de estimular o aprendizado e a inovação nas organizações e nos países. Flichy (1995, p.99) ressalta que as atividades científica e técnica possuem uma especificidade, mas estas se desenvolvem em interação permanente com as ferramentas de medida, o diálogo com os pares, o apoio das instituições, a participação dos usuários. Há, então, redes múltiplas que se combinam na atividade científica e técnica. A abordagem de Sistemas de Inovação, que será vista adiante, nasce do reconhecimento da complexidade envolvida no processo de aprendizado e inovação, este já compreendido como um processo essencialmente coletivo. 2.1.1 A abordagem de Sistemas de Inovação A inovação é um processo coletivo/social. Esta acontece nas empresas e em suas relações e estende-se além da P&D formal e, para que ocorra, é necessário um ambiente favorável. A própria utilização do termo “Sistema” de Inovação pressupõe a consideração de que o desempenho da inovação depende das capacidades de inovação das empresas sim, mas, também, em como estas interagem entre si e com os demais atores, por exemplo: universidades, clientes, fornecedores; o governo, de uma forma geral; a legislação de propriedade intelectual, mais especificamente; bancos, centros/institutos de pesquisa e serviços tecnológicos; dentre outros. Isso porque a existência de um “Sistema” é dada pelo conjunto de elementos relacionados que formam uma unidade ou um todo orgânico, ou seja, é maior do que o simples somatório de seus elementos. O desenvolvimento é fruto dos processos inovacionais que são, por seu turno, frutos da co-evolução produtiva e institucional. 77 A abordagem de Sistemas de Inovação, conforme Cimoli e Della Giusta (2003), não pode ser concebida como algo novo; os blocos de construção teórica dos níveis micro e meso, desenhados por uma perspectiva evolucionista, são, em princípio, consistentes com as análises institucionalistas e regulacionistas dos Sistemas Nacionais de Produção, Inovação, Governance e Relações Sócio-Econômicas. O Sistema Nacional de Inovação (SNI) é parte da perspectiva neoschumpeteriana, dado aos princípios e características compartilhados e, conforme esses autores, constitui a abordagem que oferece hoje melhor entendimento do processo de inovação na diversidade existente entre os países e regiões, tendo em vista seus processos históricos e seus desenhos políticos institucionais particulares e o adensamento de suas conexões. A preocupação com o fortalecimento e consolidação de um Sistema Nacional de Inovação parte do princípio de que a globalização não traz a integração das diversas regiões na economia mundial, o chamado tecnoglobalismo. Lastres e Cassiolato (2003) ressaltam que a abordagem de Sistema de Inovação afasta-se da linha da visão tradicional da inovação como um processo de mudança radical na fronteira científica e tecnológica, e reconhece que a inovação se estende além da pesquisa e desenvolvimento (P&D) formal. Assim, devem-se levar em conta: melhorias contínuas em design de produto e qualidade, mudanças nas rotinas da organização e na gestão, criatividade no marketing e modificações nos processos de produção que reduzem custos, aumentam a eficiência e asseguram sustentabilidade ambiental. Tais questões evitam uma ênfase exagerada em P&D no processo de inovação, encorajando os que fazem políticas a considerarem uma perspectiva mais ampla nas oportunidades de aprendizado e inovação. Muitos estudos empíricos de Sistemas de Inovação mostram que sistemas nacionais diferem tanto em termos de modelos de especialização como em termos de estrutura institucional (JOHNSON; LUNDVALL, 2000). Os modelos de especialização e a estrutura institucional são eminentemente nacionais e localizados, bem como refletem fortes raízes históricas da atual especialização da produção e mercado, assim como as características institucionais refletem modelos que foram estabelecidos há várias décadas, se não há um século atrás. Castells (1999, p.73) acrescenta que, em se tratando da inovação tecnológica, esta reflete um determinado estágio de conhecimento, um ambiente institucional e industrial 78 específico; uma certa disponibilidade de talentos para definir um problema técnico e resolvêlo; uma mentalidade econômica para dar a essa aplicação uma boa relação custo/benefício; e uma rede de fabricantes e usuários capazes de comunicarem suas experiências de modo cumulativo e aprenderem usando e fazendo. Não há modelos ideais de Sistemas de Inovação: as dinâmicas nacionais direcionam o desenvolvimento tecnológico e suas trajetórias tecnológicas. Os Sistemas de Inovação são, por natureza, complexos e dinâmicos, e sua mais importante função, segundo Edquist (2001, p.9), é produzir, difundir e usar inovações. De acordo com Lundvall (1992, p.2), os Sistemas Nacionais de Inovação constituem-se de elementos e relações que interagem com a produção, difusão e uso de conhecimentos novos e economicamente úteis e que envolve elementos e relações tanto localizadas dentro, como enraizadas nos limites de um Estado Nação. Em geral, quando se trata de Sistemas de Inovação, leva-se, principalmente, em consideração: i) sua trajetória; ii) suas fronteiras; iii) principais atores (seus componentes: instituições e organizações); iv) suas relações e; v) tipo de mudança técnica, como será visto a seguir. Sobre sua trajetória, é importante dizer que o Sistema de Inovação é construído com seus atores, suas relações e características, e são path dependents. Analisar um Sistema de Inovação é fruto da observação sobre um retrato do sistema num determinado momento e que reflete a trajetória construída por aquele sistema durante os anos, com suas escolhas políticas, econômicas, sociais, dentre outras, que aconteceram em contextos específicos. Sobre suas fronteiras2, que vale observar, não são exclusivamente geográficas, a literatura apresenta diversas formas de abordagem. As mais conhecidas são a de Sistemas Tecnológicos, Sistemas Nacionais, Regionais, Locais e/ou Setoriais de Inovação e Sistemas de Inovação Corporativos (estes, numa empresa). No entanto, não há consenso entre os autores de que esta delimitação sempre seja possível. Amable, Barré e Boyer (1997, p.129), por exemplo, criticam o conceito de Sistemas Nacionais de Inovação, uma vez que a alçada da inovação nem sempre opera sobre uma base exclusivamente nacional. Sistemas locais e regionais sofrem o mesmo tipo de crítica. Dessa forma, esses autores preferem utilizar outros 2 O termo fronteiras é utilizado, ao invés de limites, uma vez que se consideram as interconexões que existem entre os sistemas. O termo limite não caberia numa análise de Sistemas de Inovação. 79 termos, como “Sistemas Sociais de Inovação” e “Sistemas de Inovação e de Produção”. Na verdade, na maioria das vezes, as fronteiras entre os sistemas não são claras, uma vez que os elementos são atrelados uns aos outros. No entanto, aqui, se considera o recorte nacional importante para a análise de aspectos da especialização econômica, essenciais para o processo de inovação e aprendizado, e porque é uma dimensão em que muitos elementos de estratégias e políticas de desenvolvimento são construídos e aplicados. Num Sistema Tecnológico, por exemplo, a fronteira encontra-se na tecnologia, nas suas relações comprador-fornecedor, nas redes de soluções de problemas e nas redes informais – neste sistema, de acordo com Carlsson e outros (2002, p.237), é a rede de solução de problemas que realmente define sua natureza e fronteiras. Há estudiosos que trabalham com o conceito de Sistema de Inovação Corporativo, como Granstrand (2000b) apud Coriat e Dosi (2002). O autor analisa um número de questões de tecnologia e gestão como aquisição de tecnologia e diversificação tecnológica. P&D in-house é gerido junto com um mix de estratégias de aquisição externa de tecnologia, com várias formas contratuais. De acordo com Cimoli e Della Giusta (2003), as especificidades dos Sistemas de Inovação são o resultado conjunto de três níveis de análise: nível da organização - no qual organizações são vistas como repositórios de conhecimento incorporado em suas rotinas operacionais e que este é modificado através do tempo pelas suas regras, no que se refere a comportamento e estratégias; nível meso-econômico de redes de links entre organizações, ambas dentro e fora de seus setores primários de atividades - que aumentam as oportunidades de cada uma melhorar suas competências para solução de problemas; e, finalmente, nível nacional - conjunto de relacionamentos sociais, regras e limites políticos nos quais os comportamentos micro-econômicos estão inseridos. Começando pelo nível de análise macro, o foco é no desempenho econômico (especialização internacional e competitividade), especificidades setoriais em termos de regimes tecnológicos (a exemplo da taxonomia de Pavitt), links entre indústrias e fluxos interindústrias, estrutura macro-econômica, tecnologia estrangeira, matriz institucional do Sistema de Inovação, vetor de competências, bem como difusão de conhecimento entre diferentes atores (modelos de patenteamento e licença, co-patenteamento e co-publicações entre instituições, etc.). 80 As capacitações específicas de cada país determinam sua habilidade de absorver e adaptar as mais avançadas tecnologias desenvolvidas e têm, em suas raízes, um processo de industrialização. A Figura 4, a seguir, apresenta a análise macro: Figura 4 – Sistema macro de inovação Fonte: Cimoli e Della Giusta (2003). Na análise micro, o foco é na identificação do sistema micro inter-empresa, no contexto da análise de distritos industriais, na produção, distribuição e difusão de conhecimento (horizontal e vertical), joint ventures em distritos industriais, mobilidade pessoal e aquisição de tecnologia. Também, o estudo de rotinas organizacionais, habilidades dos indivíduos e competências internas, dentre outros, fazem parte dessa análise. No nível de análise meso-econômico, têm-se os Sistemas Setoriais e os Sistemas Regionais. No nível setorial, o foco de análise é o desempenho econômico setorial com as características tecnológicas do setor, produção de conhecimento, distribuição-difusão de conhecimento, links relevantes para transferência-geração de conhecimento, relacionamentos inter-empresa e seus links horizontais e verticais, relacionamentos fornecedor-produtor, relacionamentos indústria-instituições (relações universidade-empresa, centros de pesquisa ou laboratórios), ligações com instituições técnicas, formulação de produto, empresas especializadas em consultoria, links internacionais, outras instituições afetando o processo de inovação, organizações financeiras, promoção (estímulo) e controle do governo e instituições educacionais. 81 A Figura 5, a seguir, apresenta o foco das análises de Sistemas Setoriais de Inovação: Figura 5 – Sistema Setorial de Inovação Fonte: Cimoli e Della Giusta (2003). Em se tratando de Sistemas Setoriais de Inovação, Carlsson e outros (2002) ressaltam que estes são baseados na idéia de que diferentes setores ou indústrias operam sob diferentes regimes tecnológicos, os quais são caracterizados por combinações particulares de oportunidades e condições de apropriabilidade, e graus de cumulatividade de conhecimentos relevantes. Esses regimes mudam no tempo, por isso tornam a análise inerentemente dinâmica; focam em relações competitivas entre empresas e explicitam o papel considerável do ambiente na seleção. Para Malerba (2003), os sistemas setoriais têm uma base de conhecimento, tecnologias, inputs e uma demanda (potencial ou existente). As principais vantagens de uma visão de sistema setorial é um melhor entendimento da estrutura setorial, limites e transformação de seus agentes e suas interações. Saviotti (2000, p.2) acrescenta que os Sistemas Setoriais de Inovação podem ser esperados quando os limites internos do setor pesam mais do que os que são inerentes ao Estado-Nação. Isso não significa que o Sistema Setorial de Inovação seja completamente independente de seu local, mas que a variabilidade de seu modo de utilização entre outros países é menor do que as diferenças entre Sistemas Setoriais de Inovação diversos. É possível, também, tratar de um Sistema Setorial de Inovação cuja abrangência é nacional. Contudo, para esta tese, considerar a unidade nacional é, ainda, muito amplo para entender os efeitos do processo inovativo em uma área particular, numa região brasileira, que 82 é o foco do estudo. O âmbito regional torna a caracterização do ambiente mais particularizada, o que possibilita uma melhor reflexão sobre questões específicas do setor e que se encontram inseridas num contexto sócio-econômico singular. No caso brasileiro, devido às desigualdades regionais históricas, a fronteira regional é bastante útil para elucidar essas questões, embora esteja inserida num contexto nacional. Pavitt (1984) formulou uma taxonomia que descreve modelos industriais específicos de mudança técnica. Para o autor, não há um modelo único de mudança técnica que descreva as características de todos os setores num país. Ele identifica quatro modelos setoriais: 1) setor dominado pelo fornecedor, 2) intensivo em escala, 3) fornecedores especializados e 4) intensivo em ciência. Cimoli e Della Giusta (2003, p.30) identificam uma evolução nesses modelos, a qual se inicia num setor de manufatura dominado pelo fornecedor; passa pelas indústrias intensivas em escala com esforços na criação de sinergia entre produção e uso de um conjunto de inovações; a adoção de tecnologias associadas com a exploração de economias de escala estáticas e dinâmicas; e, finalmente, o desenvolvimento de P&D complementar ao aprendizado informal. No setor intensivo em ciência, no qual a base de conhecimento é explorada economicamente por meio de esforços formalizados de pesquisa, a P&D é um mecanismo de aprendizado típico. Furtado (1994, p.26) classifica o setor de Óleo e Gás, mais particularmente, a indústria do petróleo, como intensiva em escala, sendo caracterizada por produzir standard materials (materiais padronizados) e basear sua trajetória tecnológica sobre economias de escala e inovações de processo. Há uma demanda muito grande de recursos humanos qualificados. Em tais modelos setoriais de mudança técnica existem links de input-output que levam a uma série ampla de externalidades e interdependências calcadas em bases de conhecimentos comuns, complementaridades e spillovers (transbordamentos) tecnológicos. A educação é fator-chave para o desenvolvimento de todas essas indústrias. Na medida em que a indústria evolui, aumentam as exigências da base de conhecimento necessária para seu desenvolvimento. Os setores intensivos em escala, por exemplo, produzem por meio de processos contínuos e, conforme Cimoli e Della Giusta (2003), encontram suas principais fontes de tecnologia na engenharia de produção, aprendizado de produção, fornecedores e serviços de design. 83 Percebe-se, no entanto, que em alguns campos de estudo no setor de Óleo e Gás - como a exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas - o padrão de mudança técnica já se encontra no patamar de modelo considerado intensivo em ciência, em que esta é a fonte do conhecimento para a inovação; nesse caso, envolve mudança de paradigma. Assim, sobre Sistemas Setoriais de Inovação, acrescenta-se que num mesmo setor podem haver modelos de mudança técnica diferenciados; no geral, podendo predominar um ou outro modelo. Num próximo momento, o padrão pode ser modificado a depender das escolhas realizadas e da trajetória tecnológica percorrida. No nível regional, o foco de análise é no desempenho econômico (competitividade regional e composição em termos de modelos tecnológicos), links entre indústrias, matrizes institucionais - vetor de competências, aquisição de tecnologia estrangeira - links entre indústria e instituições, links formais e informais, bem como empreendedorismo tecnológico. Esse nível de análise pode ser verificado na Figura 6, a seguir. O recorte regional é relevante, principalmente em países cuja desigualdade Norte/Sul é grande, como é o caso do Brasil. Esse ponto é fundamental para compreender as redes Norte/Nordeste e as suas limitações. No presente trabalho, a abordagem utilizada perpassa o Sistema Setorial e Regional, uma vez que trata do setor de Óleo e Gás no Norte/Nordeste do Brasil. Figura 6 – Sistema Regional de Inovação Fonte: Cimoli e Della Giusta (2003). 84 No que se refere aos componentes do Sistema de Inovação (também chamados de atores ou agentes), de acordo com Cassiolato e Lastres (1999, p. 466), estes podem ser classificados segundo seus papéis: (i) reguladores, que participam na definição de objetivos e prioridades, bem como estabelecem as normas e as condições de evolução dos processos de inovação e difusão (política econômica e outras políticas públicas, regime de concorrência, progresso técnico etc.), nestes estão incluídos o mercado (interno e global), além do Estado - o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), Conselhos Estaduais de C&T, Instituições Federais e locais (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)), os Ministérios, as autoridades locais e as relações internacionais, bem como outras instituições normativas (Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), International Organization for Standardization (ISO) etc); (ii) viabilizadores, responsáveis pelo fornecimento dos meios e pela escolha de estratégias para promover inovações e a difusão de tecnologia (sistemas financeiro, educacional e formação profissional, agências de fomento, base técnico-científica, infraestrutura de C&T etc); (iii) executores, empresas nacionais e transnacionais, públicas ou privadas, e outras entidades produtoras de bens e prestadoras de serviços. Numa visão setorial mais ampla, ter-se-ia que, hoje, os elementos executores do Sistema de Inovação em Óleo e Gás seriam a Petrobras e as empresas que ingressaram no mercado a partir da chamada Lei do Petróleo, além, logicamente, das empresas prestadoras de serviço e fornecedoras de equipamentos, universidades, centros de pesquisa, dentre outros. Como reguladora direta, há a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), fora outras instituições como a legislação geral e a específica para o setor. Os elementos viabilizadores seriam, dentre outros, o CNPq, a Finep, o MCT, FNDCT. Vale ressaltar que os sistemas evoluem no tempo e, portanto, este constitui um exemplo a parte da configuração atual. Sobre as relações entre os componentes num Sistema de Inovação, Albuquerque (1999), por exemplo, classifica-os como sistemas maduros, imaturos ou inexistentes, tendo como base uma gradação que leva em conta a infra-estrutura de C&T e as características gerais das relações construídas entre os atores. Para o autor, os sistemas imaturos são aqueles sistemas de inovação frágeis, nos quais as relações entre os seus componentes não geram as chamadas externalidades positivas ou porque há uma falta de coordenação que provoca sobreposições de 85 esforços, duplicidades. Nessa classificação, quanto maior a interação entre os elementos, mais dinâmico e maduro é o sistema. Viotti (2000), acrescentaria à caracterização de um sistema, além da trajetória, fronteiras, componentes e relações, o tipo de mudança técnica predominante. É válido ressaltar, conforme Cimoli e Della Giusta (2003), que a natureza da mudança técnica e tecnológica é fundamentalmente moldada pela natureza do processo de aprendizado das empresas. Viotti (2000) aponta as grandes diferenças entre os processos de mudança técnica de países industrializados e daqueles que tiveram a industrialização tardia. Como o processo de mudança técnica nos países de industrialização tardia é, geralmente, um processo de aprendizagem, aqui entendido como o processo de mudança técnica alcançado pela difusão na perspectiva de absorção de tecnologia e inovação incremental e, não, de inovação propriamente dita, radical -, esse autor critica a utilização indiscriminada do termo “Sistemas Nacionais de Inovação”, vez que se deveria estudar naqueles países seu Sistema Nacional de Aprendizado e não seu Sistema Nacional de Inovação. Ressalta-se que essa característica geral não elimina a existência de setores extremamente inovativos como o de Óleo e Gás. A preocupação de Viotti (2000) é com relação à formulação das políticas de C,T&I que assumem perspectivas específicas em países com fortes características de aprendizado. Viotti (2000) ainda argumenta que os Sistemas de Aprendizado, entendendo aprendizado como absorção de tecnologia, podem ser ativos ou passivos. O Brasil, por exemplo, como será visto adiante, foi caracterizado por este autor como um Sistema Nacional de Aprendizado (passivo), o que denota que o processo de mudança técnica, de forma geral, é basicamente limitado à assimilação da capacidade de produção. Logicamente, que aqui se trata de um padrão geral observado por meio de pesquisas do autor e não revela a realidade de todos os setores no âmbito nacional, como já ressaltado. O sistema de aprendizado ativo, como revela o próprio nome, tem como característica a existência de esforço tecnológico associado ao comprometimento em desenvolver capacidade de melhorias. O autor, também observa que, para superar as limitações do aprendizado passivo pelas empresas, depende de condições externas ou de instituições que fomentem uma estratégia particular. Em outras palavras, depende da natureza do Sistema Nacional de Mudança Técnica. 86 A própria decisão de utilizar a abordagem de Sistema de Inovação traz consigo questões metodológicas implícitas, a exemplo de determinar o nível de análise, ou seja, como definir suas fronteiras, e como delinear o sistema e identificar seus atores. Atentar para as particularidades do Sistema de Inovação, inclusive seu padrão de mudança técnica setorial ou específico, para o processo ou produto, pode levar a evitar uma série de limitações nas políticas públicas com conseqüências em toda a sociedade. Caso as Redes N/NE, por exemplo, estejam funcionando focadas na inovação e tendo seus resultados mensurados com referência a esse tipo de mudança técnica, estes podem ser considerados pífios devido a uma inadequação dos instrumentos de avaliação e análise que se encontram aptos a detectar resultados voltados exclusivamente para a inovação - a da inovação radical -, e não para processos cuja essência é o aprendizado. Na presente tese, a abordagem escolhida é a de Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás, tendo um foco no Norte/Nordeste brasileiros. Desta forma, utiliza-se uma combinação da Abordagem Setorial e Regional para o Sistema de Aprendizado, que é considerado passivo devido às suas limitações comentadas anteriormente. A seguir, discute-se a transposição de conceitos para a melhor compreensão do caso brasileiro. 2.1.1.1 Transposição de conceitos: repensando o Sistema de Inovação para os paises periféricos Na discussão sobre Sistemas de Inovação, também é importante frisar que essa abordagem teve sua origem nos países considerados desenvolvidos - EUA, Inglaterra, França e Escandinávia sendo que muitos elementos combinados dentro do conceito de sistema de inovação vieram da literatura de países periféricos (LUNDVALL et al., 2002, p.216). Dessa forma, é válido analisar a pertinência da utilização de tal abordagem nesses últimos países. Os países ditos periféricos são, historicamente, caracterizados por fraca ou nenhuma inovação e, quando esta ocorre, geralmente, possui perfil incremental. Logicamente que esta é uma caracterização ampla e que reflete a realidade de seu sistema produtivo e institucional como um todo. No entanto, podem conviver setores avançados na questão inovativa, como é o 87 caso do setor de Óleo e Gás, e outros mais atrasados, comparativamente. Este é, por exemplo, o caso do Brasil. A diferença entre os Sistemas de Inovação nos países periféricos e países mais avançados encontra-se, principalmente, nas suas estruturas institucionais (políticas, econômicas e sociais), trajetória, organizações, cultura e nas suas capacidades desenvolvidas de aprendizado e inovação, as quais geram tipos específicos de mudança técnica predominante. De acordo com Lundvall e outros (2002, p.224), o aprendizado pode ou não levar a processos de inovação. As interações provocam o aprendizado, mas, também, o esquecimento e o bloqueio dos processos de aprendizado e inovação (LUNDVALL, 1992, p.2). Alguns Sistemas Nacionais podem, por razões históricas, ser mais bem preparados para o novo contexto que outros. Como já mencionado anteriormente, Viotti (2000) propõe uma caracterização do Sistema de Inovação a partir do tipo de mudança técnica predominante. Nesse sentido, nos países de industrialização tardia, onde o processo de mudança técnica consiste, principalmente, num processo de aprendizagem e não de inovação, teríamos “Sistemas Nacionais de Aprendizado” e não “Sistemas Nacionais de Inovação”. De fato, observa-se que a tentativa de seguir a “onda” da inovação nesses últimos países tem gerado inúmeras distorções; ao invés de se tentar construir e fortalecer as bases necessárias para a inovação, e que estão mais ligadas diretamente ao aprendizado e envolvem, por exemplo, questões de educação básica essenciais, estas são deixadas muitas vezes de lado. As tentativas giram em torno de se atingir a ponta do iceberg sem considerar a necessidade de toda a construção histórica, ou seja, de sua trajetória (representada aqui pela base do iceberg). Se para ocorrer inovação é necessário haver aprendizado, é notória a importância de se conhecer melhor o processo de mudança técnica do país para que, mais próximos da realidade, se possa ter condições de estabelecer as metas e, assim, atingir objetivos concretos e factíveis que permitem a construção e o fortalecimento do sistema. Como a abordagem de Sistema Nacional de Inovação (SNI) tem sido usada, principalmente, ex-post (em análises e comparações dos SNI de países desenvolvidos, sistemas fortes e diversificados, com apoio a atividades inovativas e infraestrutura institucional) e não ex-ante, ou seja, não tem sido utilizada para a construção e promoção de sistemas, o que é o caso dos países de industrialização tardia, Lundvall e outros (2002) 88 recomendam algumas observações para a utilização dessa abordagem nesses países, visando a uma adaptação do conceito, são elas: i) É importante conhecer mais sobre como os processos da globalização afetam as possibilidades para construir Sistemas de Inovação em países periféricos, e sistemas locais são importantes partes disso; ii) Ainda falta o tratamento aos aspectos de poder relativos ao desenvolvimento. O foco no aprendizado interativo pode levar a uma subestimação dos conflitos sobre rendimentos e poder que, também, estão conectados ao processo de inovação. Aprendizado interativo e inovação, imediatamente, parecem como um jogo de soma positiva, nos quais todos ganham; iii) Uma certa estabilidade no ambiente macroeconômico e no financeiro, incluindo bom comportamento e políticas monetárias e fiscais menos conflitantes, são importantes para o aprendizado interativo e inovação. Para Lundvall e outros (2002), há pouco aprendizado sem esquecimento. Habilidades e competências são destruídas e rejeitadas, e muitas pessoas experimentam decréscimo de rendimentos e influência. Crescimentos nas taxas de aprendizado e inovação podem levar não somente a aumento de produtividade e rendimento, mas, também, ao aumento de polarização em termos de rendimentos e emprego. Para esses autores, pode ser mais comum nos países periféricos do que nos países desenvolvidos, que as possibilidades de aprendizado interativo sejam bloqueadas e competências existentes destruídas (ou desaprendidas) por razões políticas relacionadas com a distribuição de poder. No entanto, diferentes tipos de políticas podem contra-atacar essa tendência. Além de considerações sobre o processo de industrialização tardia e dependência tecnológica, questões de poder, de fato, precisam ser levadas em conta no estudo de Sistemas de Aprendizado em países de industrialização tardia, os quais têm sérios problemas quanto a desigualdade de renda e educação, dentre outros. O fator poder, sem dúvida, influencia, sobremaneira, nas decisões que afetam o destino do Sistema como um todo. A Petrobras, como foi visto anteriormente, possui autonomia considerável quando comparada a outros SPE’s; desfruta de poder de barganha, ao mesmo tempo em que serve como instrumento para a implantação de políticas públicas. Suas relações com o governo e a importância estratégica de seus produtos no mercado mundial estimulam, também, as lutas pelo poder e afetam o Sistema. Em relação à importância da estabilidade de que tratam Lundvall e outros (2002), e que tipicamente falta nos países periféricos, tem-se que, no Brasil, esta já não revela ser mais problema desde o Plano Real; mas, ainda, temos diversas dificuldades de interação e 89 articulação no Sistema. As distorções e problemas estruturais ainda geram pressões sobre a agenda governamental. No entanto, grandes empresas, como a Petrobras, e outras organizações transnacionais, exercem um poder significativo no mercado e definem trajetórias tecnológicas, determinando investimentos em pesquisa. Freeman (1991) ressalta que é útil pensar sobre Sistemas de Aprendizado em duas dimensões: a primeira refere-se à estrutura do sistema - o que é produzido no sistema e quais as competências que devem ser desenvolvidas; e a segunda se refere ao arcabouço institucional – como a produção, inovação e o aprendizado acontecem. Acrescentam Johnson e Lundvall (2000) que uma estratégia de desenvolvimento do Estado baseada em uma abordagem de Sistemas Nacionais de Aprendizado teria como ponto de partida uma análise de todas as partes da economia que contribuem para o desenvolvimento de competências e para a inovação. Focalizaria as redes e as sinergias entre as partes que compõem o sistema como um todo e, particularmente, tentaria identificar os pontos nodais e as redes cruciais de estímulo ao aprendizado. Tentaria, também, identificar as redes e interações ausentes, isto é, as interações que, por razões distintas, deixam de ocorrer, reduzindo o desempenho inovativo da economia (JOHNSON; LUNDVALL, 2000). A proposta da presente tese parte da atuação das Redes N/NE escolhidas para estudo na tentativa de identificar se as capacitações, competências formadas e suas dinâmicas estão possibilitando a construção e o fortalecimento do sistema. De uma forma geral, concorda-se com a caracterização de Viotti (2000) referente ao Brasil como um Sistema Nacional de Aprendizado Passivo, devido ao seu perfil predominante de assimilação da capacidade de produção. No entanto, no que se refere ao Sistema Setorial de Aprendizado em Óleo e Gás, tem-se um Sistema Setorial de Aprendizado Ativo, pois o setor no Brasil destaca-se, dentre os demais, por sua posição dinâmica na questão inovativa, com investimentos significativos, como visto anteriormente; e mais, a tendência é que esse investimento ainda possa aumentar com a exploração das reservas do pré-sal. Considerada tecnologicamente madura, a indústria de petróleo dispõe de uma trajetória tecnológica construída em bases sólidas de aprendizado, que se iniciou, como já foi visto neste trabalho, quando da importação de tecnologia estrangeira, no início do funcionamento, passando pela formação de seus quadros técnicos, até a construção de sua capacidade científica e tecnológica atual. Contrariamente, nas regiões Norte/Nordeste esse mesmo Sistema Setorial assume características ainda de um Sistema Passivo, pois detem laços frágeis entre os atores, 90 o que demanda esforços no sentido da geração de conhecimento endógeno para a gestão local. Esta é a definição utilizada neste trabalho. Portanto, aqui, será considerada, prioritariamente, a abordagem de um Sistema Setorial de Aprendizado, em detrimento de um Sistema Setorial de Inovação - considerando-se o conceito de Viotti (2000) - vez que o processo de mudança técnica e tecnológica é fundamentalmente moldado pela natureza do processo de aprendizado das empresas. O Sistema Brasileiro é caracterizado como imaturo, levando-se em conta a infra-estrutura de C,T&I existente, o tipo de mudança técnica predominante e as características gerais das relações construídas entre os atores que, em sua maioria, são frágeis e podem gerar, comparativamente, menos externalidades positivas ou porque há uma falta de coordenação que provoca sobreposições de esforços e duplicidades. Dessa forma, o estudo pretende, também, subsidiar análises e estudos e políticas relacionadas às redes e aos Sistemas de Inovação em países de industrialização tardia. A fragilidade do Sistema Brasileiro revela-se nas relações entre os diversos atores e, também, é evidenciada na forte concentração de recursos e falta de integração. A região Sudeste concentra as três primeiras maiores economias estaduais do país (respectivamente, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), caracterizadas por uma grande diversidade produtiva. A região Nordeste, tratada de uma forma mais geral, teve sua história marcada por surtos de atividades exportadoras de exploração. Após três décadas de implementação do programa de industrialização do Nordeste, de acordo com Rocha Neto (1999), a região começou a apresentar uma modificação no seu perfil industrial, com a diminuição da participação dos bens semiduráveis no valor da transformação industrial e a ampliação da contribuição dos bens intermediários, além de um pequeno aumento dos bens duráveis e de capital, sobretudo devido à expansão da indústria química e metal-mecânica. Conforme estudo de Balanco e Santana (2007), relativo ao período de 1994-2005, a indústria de transformação nordestina - ainda conhecida por apresentar, em termos globais, uma atividade industrial produtora de bens intermediários, intensivos em recursos naturais, e de produção de bens de consumo de baixo conteúdo tecnológico - apresentou desempenho relevante quanto ao emprego, mas acentuou a concentração de suas atividades em apenas três dos nove estados da região (CE, PE e BA), tendo a Bahia apresentado o desempenho industrial mais importante e dinâmico no período. 91 A região Nordeste, segundo Rocha Neto (1999), é caracterizada por fraca conectividade entre os agentes do Sistema de Inovação, baixa capacidade de investimentos de risco, baixa densidade de indivíduos com espírito empreendedor para associar-se a pesquisadores e engenheiros em empreendimentos inovadores, inexistência de aglomerados de grandes empresas de alta tecnologia, baixa utilização do poder de compra do Estado, limitações de quantidade, qualidade e perfil do sistema de ensino superior e, sobretudo, de engenharia, e precária capacidade de gestão das empresas. Apesar dos esforços institucionais que vêm sendo realizados ultimamente, inclusive, por diferentes agentes, a exemplo das agências de fomento, bancos de desenvolvimento, órgãos como Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Nacional da Indústria (Senai), Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro-Empresas (Sebrae), dentre outros, ainda hoje persistem essas características ressaltadas por Rocha Neto, tanto nas regiões Norte como Nordeste. A mudança requer políticas públicas adequadas e envolve, também, transformações de natureza estrutural e político-cultural. As evidências dessa fragilidade do Sistema Brasileiro, verificadas nas desigualdades regionais, fez com que o governo priorizasse, no Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001, as regiões Norte/Nordeste, destinando um percentual significativo dos recursos a essas regiões (como já foi visto, no CT-Petro, 40% dos recursos são destinados às regiões). Para um Sistema funcionar melhor, é preciso que cada parte desenvolva suas competências e que estas estejam interrelacionadas e interdependentes, evitando sobreposição de esforços. O presente trabalho pretende compreender e analisar o funcionamento e a atuação das Redes N/NE no desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas regionais, para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo & Gás. Até aqui foi tratado o histórico do setor de Óleo e Gás e a criação da Petrobras, a construção de sua identidade, histórico e dimensões produtiva, institucional e tecnológica, a trajetória de sua atuação junto à comunidade de C&T brasileira e o momento de desregulamentação do setor. Também foi discutida a Abordagem de Sistemas de Aprendizado, especificando as características do Sistema de Aprendizado brasileiro, próprio de um país de industrialização tardia, ambiente em que se insere a Petrobras e as redes de pesquisa nas quais ela atua. A partir da discussão dessas abordagens foi sendo desenhado o método para a análise pretendida neste trabalho e que será descrito, oportunamente, após a delimitação do objeto de estudo. 92 A melhor compreensão da Abordagem de Sistemas de Inovação passa pelo entendimento de conceitos que são inerentes a tal abordagem, quais sejam, capacidades, competências, rotinas, aprendizado e conhecimento; estes serão vistos no tópico a seguir. 93 2.1.2 Capacidades, competências, rotinas, aprendizado e conhecimento: conceitos-chave para a compreensão dos Sistemas de Inovação Johnson e Lundvall (2000) reconhecem que construir competências no sentido amplo é um fator-chave no desenvolvimento. Os autores propõem a idéia de vetor de capacidades (capabilities) tecnológicas (evoluindo no tempo e no espaço), definido pela competência (que essencialmente se refere à habilidade da empresa em resolver tanto os problemas técnicos como os organizacionais), de um lado, e desempenho (medido por variáveis como competitividade e a contribuição para o crescimento industrial), de outro. Entre essas entidades e moldando suas interações, está o Sistema Nacional de Aprendizado, agindo nos diversos âmbitos, o que inclui o nível nacional e o regional, e possuindo uma natureza inerentemente local. As competências situam-se entre as intenções e os resultados/desempenho e constituem-se o ponto importantíssimo para a construção e o fortalecimento do Sistema em referência. Reunindo as idéias contidas no item anterior deste Capítulo 2, tem-se que o Sistema de Aprendizado é construído e fortalecido a partir, principalmente: da identificação de suas características e vocações e/ou criação de especificidades e seu estímulo; da construção de um ambiente institucional com políticas públicas amplas, cujo intuito seja o do aprendizado e da inovação, da produção do conhecimento, distribuição e sua difusão (isso inclui fortalecer as bases institucionais e educacionais - educação básica -, e o empreendedorismo, inclusive o tecnológico); do desenvolvimento do setor produtivo e sua capacitação (e empresas de apoio, a exemplo de consultorias especializadas e produção de equipamentos); do desenvolvimento de escolas técnicas e universidades, centros de pesquisa, laboratórios, e de sua capacitação científica e tecnológica (incluindo equipamentos de pesquisa e pessoal para compreendê-los e operá-los); 94 da construção de elos e trajetórias de aprendizado entre setor produtivo, instituições de ensino e pesquisa, governo, construindo e fortalecendo as relações fornecedor-produtor, e sistema financeiro por meio de relações de confiança; da geração de dinâmicas próprias que se retroalimentem. É importante frisar que, para haver a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado, é importante realizar o planejamento das necessidades dos diversos atores envolvidos, inclusive a conscientização de seu papel no sistema e da necessidade de autonomia e interdependência em relação aos demais atores, envolvendo políticas públicas, e, também, demandas ambientais. A criação de capacitações e competências locais, tanto no setor produtivo quanto nas universidades, centros de pesquisa e escolas técnicas, deve permitir alavancar projetos em diferentes escalas. Como já ressaltado anteriormente, uma certa estabilidade no ambiente macroeconômico, também, é importante para o aprendizado interativo e inovação. Conforme Lundvall e outros (2002, p.224), a produção de capital intelectual (fruto do aprendizado) é fortemente dependente do capital social. As perspectivas de curtíssimo prazo ditadas pelo capital financeiro e a alta velocidade das mudanças pressionam todos os tipos de relações sociais nas comunidades local, regional e nacional, podendo levar a alocações de recursos deficientes. Poucos recursos podem estar sendo destinados a atender objetivos de longo prazo e à produção de conhecimento, enquanto recursos em demasia podem estar sendo direcionados para acelerar o movimento ao longo de trajetórias conhecidas. Sem esse foco, é possível que os esforços que estão sendo realizados para criar capacidades e competências regionais não surtam os efeitos esperados. Tal fato pode estar acontecendo com as Redes N/NE, e este trabalho tentará perceber, também, como ocorre essa relação. É bom enfatizar que é a capacidade de aprender e as trajetórias de aprendizado que criam as competências e estas são retroalimentadas. A capacidade de aprender a trabalhar em rede e a experiência vivenciada nas redes, por exemplo, ambas criam competências que, conseqüentemente, geram um determinado desempenho. As competências geradas criam, ainda, novas oportunidades de aprendizado e geram efeitos no macro sistema. A característica essencial do Sistema de Inovação é constituída pela interface entre capacidades e desempenho e o papel do Sistema de Aprendizado como o mais amplo 95 representante das instituições (tanto públicas quanto privadas). Conforme Lall (2000, p. 14), a capacidade nacional é mais do que a soma das capacidades das empresas. É o complexo de habilidades, experiência e esforços construídos que capacita as empresas dos países a comprar eficientemente, usar, adaptar, melhorar e criar tecnologias. A atividade central do Sistema em referência é o aprendizado constante, mais do que o conhecimento, uma vez que este pode tornar-se obsoleto. A alta velocidade das mudanças torna o aprendizado ainda mais importante, e este é criado a partir de capacidades nacionais, que são construídas ao longo de sua trajetória. A Figura 7, a seguir, representa, de forma simplificada, a interação entre competências e Sistemas Nacionais de Inovação, no âmbito nacional. Figura 7 – Representação simplificada da interação entre competências e Sistemas Nacionais de Inovação (ou aprendizado3) Fonte: adaptado de Cimoli e Della Giusta (2003). 3 Cimoli e Della Giusta (2003) tratam de Sistemas de Inovação. No entanto, como esta tese refere-se a um estudo de um país periférico, o Brasil, incluímos o termo “aprendizado” para ressaltar que a análise, quando adaptada, também serve aos Sistemas de Aprendizado. 96 No âmbito nacional, para Cimoli e Della Giusta (2003, p.35), as competências relevantes podem ser identificadas como aquelas que pertencem aos seguintes grupos: i) educacionais (taxa de analfabetismo, taxas de matrícula no segundo e terceiro grau, taxa de estudantes de terceiro grau matriculados em matemática, ciência e engenharia); ii) capacidades de P&D (cientistas e engenheiros em P&D, participação de P&D no Produto Nacional Bruto (PNB), taxa de P&D público e privado) e; iii) competências relacionadas com a transferência de tecnologia (estoque de investimentos estrangeiros diretos, importação de bens de capital). Os fatores macro e as políticas determinariam e relacionar-se-iam à matriz institucional do SNI, e esta moldaria os vetores de capacidade. O desempenho seria o resultado da utilização das competências formadas. Logicamente, como os Sistemas de Inovação (ou de Aprendizado) são ambientes complexos, de forma que a interação entre os agentes é determinante e pode estabelecer-se de diversas maneiras, este é um modelo linear e simplificado, e os autores ressaltam essa característica. As interações entre os níveis macro, Sistemas de Inovação - ou Aprendizado (Matriz Institucional), vetores de capacidades, competências e desempenho acontecem na realidade ao mesmo tempo, e não há, necessariamente, uma ordem lógica de interação, causa e conseqüência. Há alguns indicadores do macro-sistema, referentes a políticas, os quais, na opinião dos autores, têm que ser vistos como elementos condicionantes e resultados do desempenho do sistema. A existência de diversas instituições e organizações e suas formas de interação determinam Sistemas Nacionais de Inovação - ou Aprendizado - específicos que, no decorrer do tempo, apresentam algumas características de acordo com as fases em que se encontram, em termos de “sucesso ou fracasso tecnológico”. Em tal modelo, a possibilidade de fracassos institucionais, conforme ainda Cimoli e Della Giusta (2003, p.35), torna-se incorporada numa estrutura mais ampla que é capaz de levar em conta as interações entre os principais agentes no processo de desenvolvimento. A idéia que está por detrás disso é que quanto mais densas e coesas as interações e melhor organizado o sistema, maior a probabilidade de estímulo ao processo inovativo. Naturalmente, a supersimplificação das figuras anteriores é revelada na medida em que o vetor de competências e a matriz do Sistema Nacional de Inovação - ou Aprendizado - nem 97 sempre possuem dimensões compatíveis, bem como quando há problemas na definição e mensuração desses componentes. Além disso, deve-se levar em conta a presença de todos os tipos de relacionamentos informais entre organizações e instituições e de um conjunto de atores que, na literatura, são chamados de “externalidades”. Mais especificamente, no que se refere às competências, figura central dos sistemas de inovação, estas são aqui identificadas, conforme Coriat e Dosi (2002), com o know-how que capacita as organizações a desempenharem suas atividades, sendo que este know-how e os conhecimentos somente adquirem status de competência se forem comunicados e utilizados. O know-how é adquirido pelo processo de aprendizado que, no sistema, busca desenvolver a capacitação produtiva, organizacional e tecnológica. Em princípio, para Coriat e Dosi (2002), capacidades e competências consistem em conceitos distintos. A capacidade (capability) é uma clara unidade de análise de larga escala que tem um propósito reconhecível expresso em termos de resultados significativos que se propõe gerar, e que é, significativamente, moldada por decisão consciente, tanto no seu desenvolvimento quanto na sua distribuição. A capacidade envolve a posse de equipamentos, habilidades individuais, arranjos organizacionais gerados por decisões que implementaram intenções gerais e rotinas, dentre outros. Já as competências, ainda de acordo com esses autores, são “pedaços” compartilhados de conhecimento e rotinas que contribuem para determinar as capacidades gerais da organização e não são meramente um conjunto de habilidades individuais, como se poderia supor. Ainda conforme esses autores, as rotinas são “pedaços” de atividade organizada com caráter repetitivo e nem sempre há pressuposição evidente de um objetivo. São blocos de construção das capacidades; contudo, as rotinas não são os únicos blocos de construção das capacidades. As habilidades individuais, por exemplo, estão entre os blocos de construção das rotinas. Estas são como as “habilidades” organizacionais. Dessa forma, pode-se entender que as rotinas são base para as competências e capacidades organizacionais (ver figura 8, a seguir). O aprendizado e o conhecimento perpassam as rotinas, competências e capacidades. As capacidades podem ser, em princípio, dependentes da existência de equipamentos e de habilidades individuais; em poucas palavras, é o que se pode fazer com os recursos e conhecimentos existentes, resultados que se propõe 98 gerar. Enquanto as competências são o que efetivamente se faz e se está apto a fazer com os conhecimentos existentes, parecendo mais dependentes da experiência concreta. Figura 8 – Relação entre rotinas, competências ,capacidades, aprendizado e conhecimento Fonte: elaboração própria (2009). . A noção de competências, para Coriat e Dosi (2002), dá um significado distinto confinado à escala de observação intermediária entre rotinas simples e capacidades amplas da empresa, capturando “pedaços” das habilidades organizacionais, identificadas em termos de tarefas desempenhadas e bases de conhecimento sobre as quais se desenham. Mesmo sendo conceitos distintos, Coriat e Dosi (2002) fazem uso análogo de capacidades e competências para melhor entendimento dos processos. Ser capaz ou competente em algo é ter uma capacidade real para trazer aquela coisa como resultado de uma ação intencional. As distintas competências e capacidades organizacionais têm sua importância na medida em que moldam o destino das empresas - em termos de, por exemplo, rentabilidade, crescimento, probabilidade de sobrevivência e, também, igualmente importante, os modelos de mudança de amplos agregados, como setores particulares e países inteiros (CORIAT; DOSI, 2002, p.277). Nesta tese, utiliza-se ambos os termos, tendo a competência um caráter mais de domínio de conhecimentos específicos relativos à pesquisa; e capacidade, ao potencial científico e tecnológico dos grupos (considerando investimentos em laboratórios e equipamentos e pessoal, por exemplo). Para Dosi e Coriat (2002, p.278), é na construção das capacidades e competências organizacionais que o papel da intencionalidade é mais fielmente revelado. Analogamente ao exemplo adotado por esses autores em relação ao provimento de serviços telefônicos, tem-se, 99 no ato do frentista que introduz o combustível nos veículos para encher o tanque, um outro exemplo que denota uma ação simples e que parece hoje algo tão comum nos nossos dias, mas que só é factível pela operação de um sistema extraordinariamente complexo que passa pela prospecção do petróleo, pesquisa, exploração, produção, refino, transporte e distribuição. Tal sistema, por sua vez, é produto de um longo e complexo processo de mudança organizacional e tecnológica com investimentos associados em facilidades e treinamento – um processo no qual intenções para melhorá-lo tiveram um papel importante, mas intermitente (não contínuo) e fragmentado. Todo esse sistema e sua estrutura de competências não foi produzido por execução de um plano único, coerente e totalmente compreensivo. Em princípio, as competências não mudam radicalmente em curtos períodos de tempo. Estas encontram-se relacionadas, também, às rotinas organizacionais, aqui entendidas como as regularidades e o que é previsível sobre comportamento na empresa. As rotinas, conforme Egidi (1993, p.3) são quaisquer procedimentos que servem à execução de uma tarefa específica; são, então, procedimentos que solucionam conjuntos de problemas internos à organização. Um procedimento pode ser descrito como um conjunto de instruções que determina as ações que devem ser tomadas quando se tratam de circunstâncias particulares. As rotinas não podem ser descritas totalmente, uma vez que possuem partes não codificáveis. Nas entrevistas, tudo o que foi percebido em termos de mudanças de rotina constituiu uma pista sobre as competências e capacidades geradas por meio das relações criadas em rede. Como a análise do Sistema de Aprendizado ocorre em um país periférico, esta difere da análise realizada em redes de países desenvolvidos, uma vez que nestes, as competências científicas e tecnológicas, em geral, já se encontram formadas. Em conseqüência, conforme Furtado (1984), por exemplo, o número de patentes pedidas ou concedidas é representativo do grau de capacitação tecnológica nos países desenvolvidos. De acordo com o último autor, o conceito de capacitação tecnológica foi criado para refletir, de maneira mais ampla, a mudança técnica que ocorre, principalmente, nos países periféricos. O conceito de competências foi inicialmente discutido com o foco na competência das empresas, em Estratégia Organizacional, com o estudo das Competências Essenciais (Core Competences) de Prahalad e Hammel (1990). Uma Competência Essencial é uma combinação única de tecnologias, conhecimento, habilidades que são possuídas por uma companhia no mercado. Seus ativos intangíveis são invisíveis para observadores externos e difíceis de 100 analisar. Isso beneficia as empresas que as possuem, na medida em que a competência não pode ser copiada facilmente pelos competidores. Uma Core Competence é usualmente a base para uma ampla variedade de produtos finais e serviços. É a razão pela qual as empresas podem, com sucesso, diversificar em mercados diferentes. As Competências Essenciais têm vários atributos como a complexidade (é possuída por grupos de indivíduos usando diversas tecnologias), invisibilidade (difícil de identificar), não imitabilidade (não podem ser imitadas facilmente), durabilidade (duram mais do que meros produtos), apropriabilidade (suas vantagens são melhor aproveitadas pelos proprietários), não-substitutibilidade (não podem ser substituídas por uma competência alternativa) e superioridade (são claramente superiores a competências similares possuídas por outros). Um exemplo é a miniaturização da Sony. Segundo Petts (1997, p.552), “a competência se torna “core” quando está ligada com o que o cliente precisa”. Prahalad e Hamel (1990) ajudaram a popularizar uma nova escola de pensamento econômico, chamada Visão da Empresa baseada nos Recursos (Resource Based View). O artigo “Core Competence of the Corporation”, de acordo com Petts (1997), fez importantes contribuições à literatura em Gerenciamento Estratégico, já que propôs uma abordagem complementar ao Planejamento Estratégico e proveu uma ferramenta conceitual para corporações de múltiplos negócios a atingirem melhores sinergias entre suas várias unidades. Ao invés da análise tradicional das forças competitivas de Porter (1990), cuja abordagem é baseada na matriz SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) - uma análise mais outside-in (de fora para dentro) - o processo advogado por Prahalad e Hamel (1990) é, predominantemente, inside-out, inicia-se com análise interna e depois examina o ambiente externo. É interessante observar, conforme os autores Prahalad e Hamel (1990, p.82), que as Competências Essenciais, por terem sua base no conhecimento, não diminuem com o uso e não deterioram no tempo, como os ativos físicos. Elas são ampliadas na medida em que são aplicadas e compartilhadas. A perspectiva baseada nos recursos enxerga as empresas como sistemas superiores e estruturas que podem ser lucrativas não porque fazem investimentos estratégicos que podem deter entrada e aumento de preços nos custos de longo prazo, mas porque possuem, marcadamente, custos menores ou oferecem melhor qualidade ou melhor desempenho de produto. Para Teece e outros (1997, p.512), o que uma empresa pode fazer 101 não é somente em função das oportunidades com as quais se confronta, mas, também, depende de quais recursos a organização pode reunir. A abordagem das Competências Dinâmicas da Empresa sustentada por Teece e outros (1997) surge de um reconhecimento de que a teoria estratégica, no âmbito da empresa, sustenta e salvaguarda vantagens competitivas, mas não contribui para entender como e porque certas empresas constróem vantagens competitivas especialmente em regimes de mudanças rápidas. A análise de Porter, da década de 80 é um modelo que enfatiza a exploração do poder de mercado. Teece e outros (1997) observam que essa última abordagem não oferece muitos elementos para o estudo do que está por detrás do desempenho das empresas. Nesse caso, os atributos organizacionais nos quais a vantagem competitiva se baseia não podem ser rapidamente replicados. Tal abordagem ignora a competição como um processo que envolve o desenvolvimento, acumulação, combinação e proteção de habilidades e capacidades únicas. A abordagem das capacidades dinâmicas, defendida por Teece e outros (1997, p.512), baseia-se na observação feita pelos autores de que os vencedores no mercado têm sido empresas que podem produzir respostas em tempo e inovação de produto rápidas e flexíveis, em conjunto com capacidade gerencial, para efetivamente coordenar e redistribuir competências internas e externas. O termo capacidade dinâmica se refere à habilidade de se obter novas formas de vantagem competitiva, enfatizando dois aspectos chave que não foram o foco principal de atenção em perspectivas prévias em estratégia. O termo dinâmica refere-se à capacidade de renovar competências assim como alcançar congruência com o ambiente de negócio em constante mudança. Para esses autores: “algumas respostas inovativas são requeridas quando o tempo para o mercado e o timing são críticos, a taxa de mudança tecnológica é rápida e a natureza da competição futura e de mercados é difícil de determinar”. O termo “capacidades” enfatiza o papel chave da gerência estratégica em apropriadamente adaptar, integrar e reconfigurar habilidades organizacionais internas e externas, recursos e competências funcionais, num ambiente em mudança (TEECE et al., 1997, p.515). Ainda de acordo com os mesmos autores, escolhas sobre domínios de competência são influenciadas por escolhas do passado. Num dado ponto no tempo, empresas devem seguir uma certa trajetória ou caminho de desenvolvimento de competência. Esse caminho não somente define que escolhas estão abertas à empresa hoje, mas coloca como seu repertório interno, provavelmente, será no futuro. Empresas, em vários pontos no tempo, assumem 102 compromissos de longo prazo, quase irreversíveis a certos domínios de competência. É a chamada Path dependence. Os autores acreditam que a vantagem competitiva das empresas reside nos seus processos gerenciais e organizacionais (rotinas), moldados pelas posições de seus ativos (específicos) e os caminhos disponíveis para isso. Reconhecer as congruências e complementariedades entre processos e incentivos é essencial para o entendimento das capacidades organizacionais. O conceito de capacidades dinâmicas como um processo coordenado de gerenciamento abre portas para o potencial do aprendizado organizacional. O processo de aprendizagem acontece pela repetição e experimentação, o que leva às tarefas serem desempenhadas melhor e mais rapidamente. Também permite que novas oportunidades de produção sejam identificadas. O aprendizado envolve habilidades individuais e organizacionais. O conhecimento gerado (organizacional) reside em novos padrões de atividade, em rotinas ou uma nova lógica de organização. A capacidade de reconfigurar e transformar a si mesmo (empresa) é uma habilidade organizacional aprendida. Quanto mais praticada, melhor. A mudança é custosa, então, as empresas devem desenvolver processos para minimizar o custo da mudança. A habilidade para calibrar os requisitos da mudança e efetuar os ajustes necessários deve depender da habilidade de observar o ambiente, avaliar os mercados e competidores e, rapidamente, conseguir reconfiguração e transformação. Nordhaug (1998) chama a atenção para a variedade de competências que podem coexistir, desde aquelas ligadas às tarefas mais simples, passando pelas competências ligadas a aspectos organizacionais como processos políticos, cultura organizacional e redes interpessoais que são, por definição, específicas da organização, até aquelas ligadas à indústria. Para o autor, as competências individuais (técnicas, interpessoais, conceituais, políticas...) são constituintes cruciais para as core competences e não são específicas da organização; são, por exemplo, competências desejáveis dos gestores. Há, também, competências ligadas à execução de tarefas específicas da empresa. Ultrapassando o âmbito da organização e entrando em uma dimensão sistêmica, ressalta-se que as competências focadas neste trabalho são as competências específicas para o setor de Óleo e Gás, criadas a partir do desenvolvimento dos projetos da Rede Asfalto e da Rede de Catálise, e desenvolvidas, tanto na empresa (Petrobras) quanto nas universidades pesquisadas. 103 Coriat e Dosi (2002, p.285) afirmam que as competências tecnológicas e organizacionais, claramente, se sobrepõem no mundo empírico. As competências tecnológicas referem-se a pedaços compartilhados de conhecimento científico e tecnológico e rotinas que tratam, essencialmente, da “estrutura da natureza - do conhecimento” e de “como lidar com determinado assunto”, (transformar um pedaço de metal em uma estrutura particular, buscar um novo composto químico com certas características funcionais ou imprimir um circuito num pedaço de silicone são exemplos do gênero). Podem-se chamar competências organizacionais aqueles pedaços de conhecimento e rotinas que tratam da governança da coordenação e das interações sociais dentro da organização e com entidades de fora (mercado, clientes, fornecedores etc.), e que se constituem em dimensões necessárias e complementares. Certamente, modos de acumulação de conhecimentos específicos da tecnologia são prováveis de moldar e limitar as maneiras com que “empresas particulares fazem as coisas”. Combinações entre diferentes competências podem ser específicas do produto e, possivelmente, específicas do setor (CORIAT; DOSI, 2002, p.285). A taxonomia de Pavitt (1984), vista anteriormente, revela modelos tecnológicos específicos de acumulação de conhecimento para setores. O tópico a seguir aprofunda melhor a questão das capacidades e competências e sua relação com o conhecimento e o aprendizado. 2.1.2.1 Conhecimento, aprendizado e rotinas como blocos de construção das capacidades e competências Uma das questões centrais do aprendizado gira em torno da maneira como as capacidades de aprender são construídas em pessoas particulares, e como as capacidades podem ser vistas como organizacionais, no sentido de que indivíduos podem ser substituídos sem erosão da capacidade. A preocupação também está na forma como as capacidades aprendidas são transmitidas e contidas na organização, no caso de operações de franchise (DOSI; CORIAT, 2002). Para esses autores, as companhias modernas são, tipicamente, entidades de múltiplas competências - no sentido de que para fazerem o que fazem geralmente 104 incorporam e combinam diversas competências tecnológicas e organizacionais - e são, frequentemente, multi-produtos e entidades, também, de múltiplas capacidades. Dosi e Coriat (2002), colocam duas questões fundamentais de interpretação da natureza da preocupação das competências e capacidades, quais sejam: 1) o loci onde residem (se na organização ou no indivíduo); 2) em que medida adicionam às habilidades e conhecimento dos membros da organização. Essas questões têm implicações, também, em termos de aprendizagem organizacional. Os autores, para ressaltar algumas questões subjacentes, traçam duas visões alternativas, conforme abaixo: i) visão modular - sustenta que o “conhecimento organizacional” é primeiramente derivado do conhecimento de indivíduos que fazem parte da organização. A organização aprende por meio das pessoas; ii) visão coletiva do conhecimento organizacional, sugere que as competências têm, de fato, uma dimensão que não é facilmente reduzida àquelas do número de indivíduos na organização. Nesse sentido, Nelson e Winter (1982) revelam que são as empresas, e não as pessoas, que sabem fazer automóveis e computadores. Johnson (1992) afirma que o aprendizado - que é um processo geralmente interativo e moldado por instituições - e os Sistemas de Aprendizado trabalham a partir da introdução de conhecimento, particularmente, na economia. Isso requer capacidade de aprender tanto por indivíduos, quanto por organizações e instituições, e essa capacidade constrói capacitações e competências. Para aprender, devem haver instituições que promovam ou propiciem esse aprendizado, inclusive estas mesmas instituições precisam criar condições para poder aprender. Know-how e capacitações na seleção e no uso de informação têm importância crescente na medida em que a informação torna-se mais complexa e abundante. A chamada economia do aprendizado (JOHNSON; LUNDVALL, 2000), vivenciada na atualidade, é caracterizada por intensa competição e mudanças muito rápidas, em que aprender é essencial para o sucesso econômico de indivíduos, empresas, regiões e nações. Essas mudanças, cada vez mais rápidas, exigem, por sua vez, um aprendizado mais ágil. O aprendizado é local e cumulativo. Local significa que a exploração e o desenvolvimento de novas técnicas, provavelmente, ocorrem na vizinhança das técnicas em 105 uso e dentro de uma estrutura institucional específica. Cumulativo significa que o desenvolvimento tecnológico atual - ao menos no nível de unidades de negócio individuais e outras instituições -, frequentemente, é construído sobre experiências passadas de produção e inovação e procede via seqüências de combinações específicas de solução de problemas (CIMOLI; DELLA GIUSTA, 2003). Bell (1984) acrescenta que a discussão do papel do aprendizado tem sido difícil pelo fato do termo ser usado para se referir a um leque um tanto diferente de conceitos. O aprendizado, nesta tese, é abordado no sentido apontado por esse autor, ou seja, como um processo de aquisição de habilidades técnicas adicionais e conhecimento por indivíduos e, a partir deles, por organizações. Mais especificamente, o termo é utilizado, aqui, com referência à aquisição de capacidades e competências científicas e tecnológicas. A literatura apresenta diversos tipos de processos de aprendizado. Bell (1984), por exemplo, destaca dois tipos principais de aprendizado: 1) aqueles baseados no fazer (by doing) e ocorrem sem custo como produto mesmo do fazer, quais sejam: o aprendizado pela produção e o aprendizado pela mudança; e 2) outras formas em que o aprendizado não necessariamente vem da acumulação de experiência, mas depende da alocação de recursos feedback do desempenho do sistema, aprendizado por treinamento, aprendizado por contratação e aprendizado por pesquisa/busca. Bell (1984) afirma que o aprendizado pela produção consiste de uma combinação de estímulos para mudança e aumento do entendimento que permite aos indivíduos aprimorarem sua própria execução de tarefas de produção dadas. Esses indivíduos podem ser operários diretos da produção, supervisores ou gerentes que, implementando alterações pequenas na maneira que executam suas próprias tarefas de operação, geram melhorias no desempenho da organização. Os detalhes desse tipo de aprendizado específico da tarefa, no processo de “aprender fazendo”, são quase inobserváveis, exceto para investigações mais profundas. Há um limite para melhoria do desempenho que pode ser gerado dessa fonte, e esse limite é, frequentemente, alcançado muito rápido. Mesmo em economias industrializadas, os estudos recentes não sugerem que esse tipo de aprendizado tem sido de importante contribuição para o progresso tecnológico. No que se refere ao aprendizado por mudança, de acordo com o mesmo autor, em muitos dos estudos por ele observados, a capacidade tecnológica crescente das organizações 106 foi gerada pela série de mudanças técnicas e aprimoramentos feitos na planta, os quais aumentaram o conhecimento técnico e as habilidades das empresas, e não pelo simples envolvimento na operação técnica. Apesar da importância evidente da experiência em algumas fases da maturação da indústria, esse processo pode não ser completo se o “fazer” for o único mecanismo usado para aumentar a capacidade de mudança (BELL, 1984, p.201). Para Bell (1984), como tratado na maioria das análises econômicas, “aprender fazendo” (learning by doing) tem três propriedades marcantes. Primeiro, acontece quase passivamente e pouca ou nenhuma ação explícita é requerida para capturar o aumento de conhecimento, habilidades e outros fluxos de benefícios dessa aquisição. Segundo, o processo de aprendizado é, virtualmente, automático. Dado um período de “fazer”, algum aprendizado irá acontecer. Terceiro, acontece sem custo. O aprendizado é adquirido, simplesmente, como um produto “sem custo” que vem da produção. Nenhum gasto além daqueles necessários à produção (gastos de produção) é requerido para gerar aumento de conhecimento e habilidade. Ao menos, três tipos de aprendizado parecem ocorrer quando esses tipos de mudanças técnicas “menores” acontecem. Primeiro, maior entendimento de uma forma particular de tecnologia é adquirida. Segundo, melhor conhecimento de princípios mais gerais envolvidos podem ser adquiridos, permitindo uma maior percepção de aplicações possíveis desses princípios ou de alternativas para aplicá-las a situações de produção particulares. Terceiro, um aumento de “confiança” em manipular a tecnologia pode ser ganho. O aprendizado por contratação (learning by hiring), por exemplo, considera que as habilidades e conhecimentos estão disponíveis no mercado e podem ser adquiridos com a contratação das pessoas que incorporam esses recursos. No entanto, em vários casos, a capacidade tecnológica “pronta para uso” pode não produzir, instantaneamente, mudança técnica eficiente para as necessidades específicas da empresa que está contratando. Bell (1984) também trata da necessidade do feedback no sistema para que ocorra aprendizado. Esse tipo de mecanismo pode gerar elementos de conhecimento e compreensão sobre o processo e possibilidades de aprimoramentos e sobre a própria tecnologia. O monitoramento regular do desempenho do sistema pode prover uma base para entender como e porque o desempenho varia e porque certas coisas funcionam e outras não funcionam. Tal aprendizado é fundamental. Esse fluxo de informação não é uma função do tempo ou de 107 resultados cumulativos; ao contrário, depende da alocação de recursos para gerar esse fluxo, com disponibilidade de pessoas para analisar e interpretar a informação gerada. Malerba (1992), particularmente, já amplia o leque das fontes possíveis de aprendizado e destaca seis tipos principais. Cada um deles é ligado a diferentes fontes e tipos de conhecimento (e muitas vezes estes se encontram relacionados uns aos outros): Aprender fazendo - learning by doing - interno à organização e relacionado à atividade de produção; Aprender usando - learning by using - interno à organização e relacionado ao uso de produtos, maquinaria e matérias-primas; Aprendizado oriundo de avanços em C&T - externo à organização e relacionado à absorção de novos desenvolvimentos em C&T; Aprendizado oriundo de spillovers (transbordamentos) inter-indústria - externo à organização e relacionado ao que os competidores e outras organizações na indústria estão fazendo; Aprender interagindo - learning by interacting - externo à organização e relacionado tanto com a interação das fontes de conhecimento upstream e downstream, como com os fornecedores e usuários ou com a cooperação com outras organizações na indústria; Aprender pesquisando - learning by searching - interno à organização e relacionado, principalmente, às atividades formalizadas (como P&D) que objetivam gerar novo conhecimento. Para Malerba (1992), além da variedade de tipos de conhecimento ligados a uma fonte específica de conhecimento produtivo e tecnológico, os processos de aprendizado estão ligados a várias trajetórias de mudança técnica incremental que ocorrem a partir do estoque de conhecimento acumulado das empresas. Dependendo do seu processo de aprendizado e seu estoque de conhecimento e capacitações acumuladas no tempo, uma empresa pode ser caracterizada por diferentes direções da mudança técnica incremental. Os resultados dessa pesquisa, para Malerba (1992), também mostraram que o aprendizado nas empresas não ocorre no vacuum: fontes externas de conhecimento produtivo e tecnológico têm um papel importante na acumulação do estoque de conhecimento das empresas e na geração de 108 trajetórias específicas e avanços técnicos incrementais. A análise, ainda, oferece lições interessantes para políticas públicas quanto ao suporte à inovação e difusão tecnológica. Essa perspectiva implica que os governos que buscam apoiar direções específicas da mudança técnica numa indústria devem selecionar alvos claros de processos de aprendizado que são melhores para o tipo de avanço que querem. Tanto Bell (1984) quanto Malerba (1992) tratam do aprendizado que ocorre particularmente nas empresas. Trazendo o aprendizado para a realidade das redes interorganizacionais pesquisadas e que envolvem atores distintos (universidades, governo e indústria), tem-se que esse é compreendido como qualquer forma de aquisição de capacidades científicas e tecnológicas e que, praticamente, todos os tipos de aprendizado citados anteriormente ocorrem em menor ou maior intensidade. O aprendizado baseado no fazer a pesquisa - incluindo, aí, buscar fontes para referencial teórico, busca de novos temas em conjunto, metodologia, coleta de materiais, teste de produtos, construção de plantas pilotos ou trechos experimentais, resultados, confecção de relatórios, dissertações, teses - está contido no learning by doing, no learning by searching e no aprendizado oriundo de avanços em C&T, os quais permitem maior entendimento sobre o conhecimento e princípios gerais disponíveis, gerando maior confiança em manipulá-los e maior percepção de suas possíveis aplicações. Mais especificamente, na utilização dos novos materiais, produtos e equipamentos adquiridos para pesquisa, ocorre o learning by using. O aprendizado oriundo de spillovers (transbordamentos) inter-indústria - externo à organização e relacionado ao que os competidores e outras organizações na indústria estão fazendo – ocorre, também, e é incorporado na discussão das prioridades dos projetos a serem financiados. O aprender interagindo - learning by interacting - constitui-se a essência de uma rede, pois acontece pela interação com os parceiros e suas distintas competências, havendo a troca de conhecimento e viabilizando o acesso a novas informações, tecnologias e recursos provenientes de parceiros. Nas redes em estudo, a capacitação tecnológica acontece, também, na relação com o setor produtivo, na medida em que os produtos ou processos testados são aplicados na indústria ou o conhecimento gerado com a interação é utilizado para a otimização de produtos e processos existentes ou para a escolha de equipamentos, produtos e processos mais adequados ao processo produtivo, bem como quando há interação com a indústria, produzindo em conjunto equipamentos que são utilizados nas pesquisas. 109 Para que este aprendizado seja melhor incorporado aos processos, é importante, conforme já explicitado, que haja o feedback do sistema. Este consiste em seu monitoramento regular, vez que os dados precisam ser interpretados e relacionados ao contexto em que são gerados. O feedback tem um custo envolvido porque é preciso verificá-lo constantemente, a fim de promover ações de melhorias. Como será visto mais adiante, nas redes, não está havendo uma avaliação mais ampla dos projetos do que estes estão gerando, em termos qualitativos, o que está sendo de fato aplicado, porquê, quais foram os pontos fortes e fracos dos projetos, dificuldades e o que pode ser feito para melhorar. O acompanhamento desses pontos e sua avaliação sistemática podem oferecer informações valiosas para a ampliação da capacidade científica e tecnológica das regiões e apoiar um planejamento de ações futuras. O fato de não haver recursos destinados à gestão dos projetos acaba deixando os envolvidos mais voltados aos seus objetos de pesquisa e sem condições de fazer uma avaliação sistemática de seu aprendizado. Bell (1984) já afirmava que o “aprender fazendo”, por exemplo, leva a certos tipos de prescrição de políticas. Aumento de aprendizado requer aumento de “doing” (fazer), e várias formas de proteção para o “doing” são vistas como apropriadas para estimular o aprendizado. O papel da intervenção política, aí, é limitado, uma vez que a acumulação de experiência é, simplesmente, uma função do tempo ou de resultados totais acumulados. As Redes N/NE estudadas, como será visto adiante, aprendem por todas as fontes possíveis de aprendizado citadas anteriormente. Na prática, muitos desses processos de aprendizado ocorrem concomitantemente e são muito difíceis de classificar e identificar a sua origem, porque são naturalmente relacionados. No trabalho em redes interorganizacionais, ocorre o mesmo. Entendendo o processo de aprendizado como aquisição de capacidade e competência científica, tecnológica e, não necessariamente, como geração de inovação, aquele estará sendo visto como um processo que incorpora novos conhecimentos e habilidades aos atores envolvidos nas redes estudadas. Não importando a origem do aprendizado, tanto os conhecimentos “menores”, relativos aos processos de mudança e ao processo de produção, como os demais são considerados como integrantes, partes constituintes das novas capacidades e competências adquiridas por meio das redes, nas organizações. 110 Como já foi dito anteriormente, as capacitações e competências analisadas nesta tese serão aquelas centradas no processo de aprendizagem científica e tecnológica, no contexto de economias periféricas. De acordo com Bell e Pavitt (1993), a capacidade tecnológica incorpora os recursos necessários para gerar e gerir mudanças tecnológicas. Tais recursos se acumulam e incorporam aos indivíduos (aptidões, conhecimentos e experiência) e aos sistemas organizacionais. Esses autores afirmam que a capacidade tecnológica de uma organização está armazenada, acumulada, em pelo menos, quatro componentes, são eles: sistemas técnicos físicos – referem-se à maquinaria e equipamentos, sistemas baseados em tecnologia de informação, software em geral, plantas de manufatura; conhecimento e qualificação das pessoas – referem-se ao conhecimento tácito, às experiências, habilidades de gerentes, engenheiros, técnicos e operadores que são adquiridos ao longo do tempo; abrangem, também, a qualificação formal (capital humano) e a formação em pesquisa científica (grifo nosso); sistema organizacional – refere-se ao conhecimento acumulado nas rotinas organizacionais e gerenciais das organizações, nos procedimentos, nas instruções, na documentação, na implementação de técnicas de gestão, nos processos e fluxos de produção de produtos e serviços e nos modos de fazer certas atividades nas organizações; produtos e serviços – referem-se à parte mais visível da capacidade tecnológica, refletindo conhecimento tácito das pessoas e da organização e os seus sistemas físicos e organizacionais. Uma vez que Bell e Pavitt (1993) preocupam-se mais com a empresa em si e a formação de capacidade tecnológica interna, essa abordagem precisa ser adaptada à construção de capacidade científica, supondo-se esta ser muito importante para a construção da absorptive capability (capacidade de assimilação) dos países periféricos; esta é reforçada por meio da interação entre universidades e empresas. Como citado anteriormente, de acordo com Rosenberg (1990), a pesquisa básica é um tíquete de entrada para uma rede de informação, permitindo monitorar a evolução do conhecimento. Da mesma forma que a capacidade tecnológica, a capacidade científica encontra-se incorporada nos equipamentos e materiais, softwares de pesquisa e na habilidade dos 111 pesquisadores em utilizá-los; no conhecimento e qualificação das pessoas, nas experiências e conhecimento tácito dos pesquisadores, abrangendo sua formação; no conhecimento acumulado nas rotinas organizacionais e interorganizacionais, na gestão desse conhecimento, nos procedimentos comuns adotados, metodologias; e nos produtos e serviços gerados que, também, referem-se à parte mais visível, nas publicações, dissertações e teses geradas, nos novos produtos e processos criados a partir de projetos alavancados e na prestação de serviços à comunidade. Ainda tratando de capacidades tecnológicas, Bell (1982) faz distinção entre os recursos necessários para “usar” os sistemas de produção existentes e os que são necessários para “mudar” os sistemas de produção. É o que Figueiredo (2001) chama de capacidades rotineiras (para usar ou operar certa tecnologia) e capacitações inovadoras (para adaptar e/ou desenvolver novos processos de produção, sistemas organizacionais, produtos, equipamentos e projetos de engenharia). A ciência, tendo como objetivo ampliar a compreensão dos fenômenos e seu entendimento fundamental, e a tecnologia, sendo o conhecimento sobre as técnicas e sua aplicação, ambas envolvem formas tácitas de conhecimento incorporado em indivíduos e procedimentos com potencial de aprendizado e transformação produtiva. Assim, a partir desse entendimento, é que será verificado o nível de capacitação científica e tecnológica conseguido por meio dos projetos das redes, que representam parte da capacidade gerada. Dantas e Bell (2006), no Quadro 3 que se segue, resumem algumas das dimensões e níveis de capacidades tecnológicas existentes nas organizações e/ou projetos e que podem ter caráter evolutivo ou não. Deve-se dizer que os autores tratam as capacidades tecnológicas como níveis de capacidades (ex. usuário de tecnologia; capacidade de criar tecnologia) e não como tipos de tecnologia (de maior ou menor complexidade). Pelo foco desses autores ser essencialmente a indústria, houve necessidade de realizar algumas adaptações, vez que o presente trabalho trata de redes de pesquisa científica e tecnológica que envolvem distintos atores (indústria, universidades e governo). Dessa forma, deve-se entender o conhecimento operacional basicamente como aquele obtido pela execução das pesquisas e o design como incorporando também as metodologias utilizadas e/ou criadas. 112 O quadro original de Dantas e Bell (2006) foi utilizado pelos autores para examinar a evolução interativa de longo prazo das capacidades e das redes centradas na Petrobras em mais de trinta anos entre 1960-2000 e que funcionaram como entry tickets para novas redes, principalmente, redes de pesquisa tecnológica de classe mundial. Os autores argumentam que o nível de capacidade de uma organização influencia sua habilidade de entrar e desenvolver tipos particulares de redes de conhecimento. Na presente tese, de modo inverso, o quadro foi adaptado e utilizado para caracterizar o nível de capacitação tecnológica desenvolvido, principalmente nas universidades, por meio dos projetos das Redes N/NE, tendo um caráter não necessariamente evolutivo, o qual revela uma fotografia do nível de capacitação adquirido por meio dos projetos. Dimensões/Níveis Assimilativa Adaptativa Generativa Inovadora Atividades tecnológicas/ mudanças implementadas Aquisição, instalação, uso, operação, correção (defeitos) e assimilação de tecnologias e metodologias existentes Adaptação de tecnologias, criação de designs e metodologias próprias, absorção de design e conhecimento em C&T Geração e desenvolvimento de tecnologias próximas à fronteira tecnológica internacional e absorção de conhecimento em novas tecnologias Geração e desenvolvimento de tecnologias originais na fronteira tecnológica internacional, absorção de conhecimento em novas tecnologias Bases de conhecimento Predominantemente conhecimento operacional, o “fazer” a pesquisa Essencialmente conhecimento de design e/ou metodologias P&D derivado de conhecimento em C&T Conhecimento derivado de P&D em campos essenciais e não essenciais que distinguem a companhia dos competidores e permite coordenação de competências distribuídas Modos de aprendizagem/ aquisição de capacidade Fazendo, usando tecnologias, fracassando, descobrindo e corrigindo defeitos Treinando, contratando pessoas experientes, serviços técnicos e designing, estabelecendo e formalizando atividades de P&D Desempenhando atividades de P&D, treinando e contratando Desempenhando atividades de P&D avançadas em um amplo número de campos em tecnologias essenciais (core) e não essenciais. Objetivos de aprendizagem Usar, operar, manter, desenhar tecnologias Adaptar, desenhar (projetar) e entender princípios de C&T Pesquisar e desenvolver novas tecnologias Renovar e redefinir bases de conhecimento e trajetórias em áreas essenciais e não essenciais, para especificar, integrar sistemas e coordenar redes de competências distribuídas Facilidades e recursos Design incipiente e não existente e poucas facilidades e recursos de P&D Criação de design e metodologias; facilidades e recursos de P&D Facilidades e recursos de P&D de classe mundial Contínua renovação (upgrade) de facilidades e recursos de P&D de classe mundial Quadro 3 – Dimensões e níveis de capacitação científica e tecnológica: um resumo Fonte: Adaptado de Dantas e Bell (2006). O Quadro de Dantas e Bell (2006) adaptado, em referência, mostra as dimensões e os níveis de capacitação científica e tecnológica das organizações, tendo como base o tipo de atividade tecnológica realizado e/ou mudanças implementadas, as bases de conhecimento 113 desenvolvidas, o modo de aprendizagem, ou seja, como adquirem capacidade, os objetivos da aprendizagem e as facilidades e recursos disponíveis, todos constituindo-se as variáveis dependentes para a capacitação científica e tecnológica. O quadro revela os diversos níveis de capacitação, desde um nível mais assimilativo, em que se utilizam técnicas e metodologias conhecidas, um nível adaptativo, utilizando-se técnicas e metodologias conhecidas e aplicando-as a casos específicos, em seguida, passando para uma capacitação generativa, criando novas metodologias e técnicas próximas à fronteira científica e tecnológica. Por último, ter-se-ia, no quadro original desses autores, uma capacitação mais estratégica com a geração e o desenvolvimento de tecnologias inéditas, na fronteira tecnológica internacional. Com relação ao último nível de capacitação à direita, o termo “estratégico”, utilizado por Dantas e Bell (2006) em seu quadro original, pode levar a interpretações equivocadas, vez que uma inovação incremental, também, pode ser estratégica, a depender do contexto em que se esteja tratando. Dessa forma, no presente trabalho, prefere-se adotar o termo “inovadora” ao invés de “estratégica” para este nível do Quadro de Dimensões e níveis de capacitação tecnológica de Dantas e Bell (ver Quadro 3 anterior). Como já visto, o desenvolvimento do arcabouço institucional, os atores do Sistema de Aprendizado e sua interação são cruciais para a constituição e o fortalecimento de tal sistema. Para haver laços de interação é importante que haja uma prática e um ambiente que propiciem o aprendizado e que se compreendam seus desafios e benefícios. Caso a prática não exista, precisa ser estimulada pela construção institucional a partir de políticas públicas focadas na construção de competências e aumento da competitividade. No Brasil, mais especificamente, percebe-se que a interação universidade-empresa é uma prática pouco difundida na sociedade. De uma forma geral, como o aprendizado e a inovação são processos coletivos sociais, as redes são consideradas como formatos organizacionais que estimulam a troca de conhecimento, o aprendizado, a construção e o fortalecimento dos processos inovativos. Como a utilização de uma abordagem sistêmica pressupõe o estudo de relações de interdependência entre os vários agentes, organizações, instituições (regras do jogo - formais e informais) e suas interações, tem-se, conforme Saviotti (2000, p.18), que o conceito de redes, mesmo tendo sido introduzido independentemente das teorias evolucionárias, permitenos apresentar um significado mais específico para o conceito de Sistemas de Inovação. Para esse autor, o Sistema Nacional de Inovação é definido como um conjunto de atores institucionais e suas interações, tendo como objetivo último a geração e adoção de inovações. 114 Instituições e organizações moldam as formas de interação inter-individual. Redes, constituídas por um conjunto de atores e por links que os conectam, são uma categoria analítica que nos permite estudar, mais sistematicamente, essas formas de interação. Nesse sentido, as redes particulares que existem num sistema social, num determinado tempo, representam sua estrutura. A exigência do formato organizacional em rede e das características requeridas no Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001, descrito no Capítulo 1, trouxeram a necessidade da interação entre instituições de ensino e pesquisa e empresas para a obtenção dos recursos disponíveis. Essa inovação nas políticas públicas trouxe um novo fôlego ao setor de Óleo e Gás e vem estimulando suas conexões, imprescindíveis para o seu desenvolvimento. As redes constituídas no setor de Óleo e Gás brasileiro representam a estrutura institucional do Sistema e suas relações. O tópico a seguir introduz o tema Redes e sua importância como formato que, a princípio, promove elos entre atores e possibilita a construção de capacitações e competências. 2.2 REDES E A ABORDAGEM DE SISTEMAS DE APRENDIZADO As redes têm sido vistas como um formato organizacional que propicia a interação, o aprendizado, a troca de conhecimento e a inovação, viabilizando o acesso a novas tecnologias e recursos provenientes de parceiros. Em si não se constituem num fenômeno novo, mas têm crescido sua utilização em meio à revolução das tecnologias de informação, processamento e comunicação e à crescente complexidade dos mercados. Como um fenômeno em expansão, vem atraindo a atenção de um número cada vez maior de estudiosos sobre o tema. Powell (1990, p.297) afirma que as empresas estão ultrapassando seus limites estabelecidos e se engajando em formas de colaboração que não parecem nem a alternativa familiar da contratação no mercado, nem o ideal de integração vertical. A revolução tecnológica, centrada nas tecnologias de informação, vem afetando o próprio processo de inovação e sua comercialização, o que apresenta, conforme Castells (1999, p.6), uma clara descontinuidade com a tradição mais prudente do mundo corporativo. 115 As competências para a inovação cada vez mais envolvem conhecimentos interdependentes e arranjos diferenciados; e as redes de pesquisa que incluem não somente empresas, mas também universidades e/ou centros de pesquisa, com suas diferentes capacitações e competências, têm um papel importante na criação e aceleração de processos inovativos. O conceito de rede, conforme Castells (1999) parte de uma definição bastante simples rede é um conjunto de nós interconectados, mas que por sua maleabilidade e flexibilidade oferece uma ferramenta de grande utilidade para dar conta da complexidade da configuração das sociedades contemporâneas, sob o paradigma informacional. De acordo com esse autor: Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação, por exemplo, valores ou objetivos de desempenho. (CASTELLS, 1999, p.499). Trazer o tema das redes é, na realidade, tratar de relações que dependem de pessoas, organizações e instituições. Britto (1999, p.3) afirma que rede é um conceito abstrato que se refere a um conjunto de nós, posições ocupadas por esses nós e às várias relações que os conectam. Dessa forma, a análise de redes tenta descrever a estrutura das relações entre os nós - organizações envolvidas - os fluxos associados a essas relações e a localização do arranjo resultante num ambiente macro, assim como o que está por detrás de seu desenvolvimento e evolução (BRITTO, 2007, p.3). A utilização do conceito de redes como referencial analítico, de acordo com Britto (2002, p. 345-346), de forma mais ou menos explícita, tem auxiliado a investigação de temas bastante diversos, tais como: alianças estratégicas entre empresas e outras formas de cooperação produtiva e tecnológica; programas de cooperação específicos, envolvendo agentes com competências em áreas distintas, que interagem entre si para viabilizar determinada inovação; processos de subcontratação e terceirização realizados por empresas especializadas em determinadas atividades, que dariam origem a redes estruturadas verticalmente no interior de cadeias produtivas; 116 sistemas flexíveis de produção baseados em relações estáveis e cooperativas entre empresas atuantes em determinado ramo de atividades; distritos industriais baseados na aglomeração espacial de empresas e outras instituições que interagem entre si no âmbito de determinada região; Sistemas Nacionais e Regionais de Inovação baseados na especialização e interação de diversos tipos de agentes envolvidos com a realização de atividades de aprendizado ou inovativas (empresas, universidades, outras instituições etc.). Na presente tese, utiliza-se o conceito de redes para a caracterização das Redes N/NE, arranjos de cooperação academia-indústria, incentivados pelo governo, e como formato utilizado para o desenvolvimento de capacitação e competências regionais e que podem, em princípio, atuar na construção e fortalecimento do Sistema de Aprendizado do Setor de Óleo e Gás. Dessa forma, utiliza-se o conceito de redes para investigar o segundo e sexto itens anteriormente mencionados. Ainda conforme Britto (1999), no campo da teoria econômica, a análise de redes tem sido correlacionada com uma perspectiva teórica que enfatiza um ponto negligenciado pela análise neoclássica: a dimensão social das relações inter-empresas. Contrastando com a visão neoclássica, supõe-se que o comportamento dos agentes econômicos pode ser afetado pela estrutura social de relacionamentos em que estão inseridos. Nesse sentido, a análise de redes é desenvolvida a partir de uma crítica sobre a divisão artificial entre o agente econômico e o ambiente externo defendida pela visão neoclássica. Grandori e Soda (1995, p.183) afirmam que as redes inter-empresas estão se tornando cada vez mais importantes na vida econômica devido à sua capacidade de regular interdependências transacionais complexas, assim como interdependências cooperativas entre empresas. Os autores acrescentam que redes inter-empresas são, também, muito importantes, do ponto de vista teórico, porque podem e, de fato, são estudadas por diferentes disciplinas (Economia Industrial, Estudos Organizacionais, Sociologia, Abordagem Psico-Social, dentre outras), oferecendo, assim, um campo precioso de interesse comum e diálogo potencial entre vários ramos das ciências sociais. 117 Tais disciplinas, conforme os mesmos autores, tratam de diversas abordagens para o fenômeno das redes, dentre elas: Dependência de Recursos (Resource Dependence), Abordagem Histórica e Evolucionária, Economia da Organização, Abordagem Neoinstitucional, a chamada Teoria das Redes Sociais, e a Ecologia Organizacional. A abordagem, neste trabalho, parte principalmente das contribuições Neo-institucionais (Economia) e dos Estudos Organizacionais. A abordagem neo-institucional trata a dependência, que inclui o recurso da legitimação, como um conceito central, e considera que a relativa efetividade e facilidade na formação de várias estruturas cooperativas inter-empresas é contingente com as instituições sociais mais amplas, nas quais esses relacionamentos encontram-se inseridos (GRANDORI; SODA, 1995, p.190). A Teoria dos Custos de Transação advoga que redes são criadas quando os custos de governança são suplantados por ganhos provenientes da especialização de atividades, compartilhamento de custos e infra-estruturas, interfaces e indivisibilidades, bem como por vantagens associadas às externalidades tecnológicas criadas entre os atores da rede. Na economia, tanto a pesquisa empírica quanto a teórica têm demonstrado a importância de redes internas e externas de informação e colaboração para a inovação de sucesso. Além disso, têm mostrado que redes externas foram tão importantes para as empresas que tinham sua própria P&D, quanto para aquelas que não tinham nenhuma P&D. Assim, a competência interna em P&D é complementada por links ocasionais ou regulares com universidades, laboratórios governamentais, consultores, associações de pesquisa e com outras empresas (FREEMAN, 1991, p.500). Freeman (1991), ainda, observa que sem controles hierárquicos, mesmo unidos numa rede, cada ator preserva suas características e independências próprias, e os recursos podem ser acessados perpassando os limites organizacionais e podendo ser combinados e distribuídos numa variedade de formas, sinergicamente, o que propicia o surgimento de mais inovações. Como formato organizacional, em princípio, permite uma melhor adequação para lidar com ambientes complexos. Ainda para o mesmo autor (1991, p. 503), relacionamentos pessoais de confiança e segurança (e algumas vezes, de medo e obrigação) são importantes, tanto no âmbito formal quanto informal. Por essa razão, fatores culturais como linguagem, background educacional, 118 lealdades regionais, ideologias compartilhadas e experiências de lazer continuam a ter um papel importante nas redes. Uma apreciação desses fatores sociológicos, tanto em redes formais quanto informais, para Freeman (1991), é necessária para complementar as explicações econômicas mais estreitas e ajudar a entender a importância de redes regionais, proximidade geográfica e Sistemas Nacionais de Aprendizado. Britto (2002) revela que a utilização do conceito de rede como artifício analítico na compreensão de múltiplos fenômenos pode ser correlacionada a alguns elementos morfológicos que são comuns a esse tipo de estrutura, qual sejam: nós, posições, ligações e fluxos, que são partes constituintes das estruturas em rede. Adaptando os elementos estruturais a redes interorganizacionais (entre atores diversos e não somente entre empresas), tem-se, conforme o Quadro 4 a seguir: Elementos Morfológicos Gerais das Redes Nós Posições Ligações Fluxos Elementos Constitutivos das Redes Interorganizacionais Organizações ou atividades Estrutura da divisão de trabalho Relacionamentos entre as organizações (aspectos qualitativos) Fluxos de bens (tangíveis) e de informações (intangíveis) Quadro 4 – Elementos morfológicos e constitutivos das redes interorganizacionais Fonte: adaptado de Britto (2002). Estes elementos morfológicos, mesmo constituindo um exercício de simplificação, serão também identificados em cada Rede Norte/Nordeste, com o intuito de caracterizá-las como um tipo particular de organização, que tem a capacidade de coordenar a realização de atividades econômicas. A consolidação da divisão de trabalho, ainda conforme Britto (2002, p.354), é uma conseqüência natural da diversidade de atividades necessárias à produção de determinado bem, envolvendo a integração de capacidades operacionais e competências organizacionais dos agentes, bem como a compatibilização-integração das tecnologias incorporadas nos diferentes estágios das cadeias produtivas. Nas redes estudadas, identifica-se a divisão de trabalho que acontece em suas fronteiras. Para o autor, é possível também associar as estruturas em rede a determinadas ligações entre seus nós constituintes. Em função da estrutura dessas ligações, é possível distinguir estruturas dispersas - nas quais o número de ligações entre pontos é bastante limitado - de estruturas saturadas - nas quais cada ponto está ligado a praticamente todos os demais pontos 119 que conformam a rede. A identificação da configuração das ligações entre os nós pode ser, também, particularmente importante para a caracterização desse tipo de estrutura. Nesse sentido, é possível caracterizar uma determinada densidade da rede, cujo conceito pode ser associado à relação existente entre o número efetivo de ligações observados na estrutura e o número máximo de ligações que poderiam ocorrer no interior do arranjo em questão. Outro conceito refere-se à definição de uma determinada medida que expresse o grau de centralização da estrutura: o número de ligações que pode ser associado a um ponto particular e o número de pontos que constitui passagem necessária entre as ligações estabelecidas entre dois pontos quaisquer da estrutura. Ao mesmo tempo em que a centralização pode prover maior número de alianças para as empresas centralizadoras, menor parece a possibilidade de que essa rede floresça em novas oportunidades independentes, fortalecendo outros atores e adensando suas conexões. Ou seja, a centralidade, ao mesmo tempo em que pode fortalecer o Sistema de Aprendizado, pode, quando em excesso, inibir o fortalecimento de outros atores e, conseqüentemente, a geração de dinâmicas próprias. A medida closeness (proximidade) revela o quão fortemente conectada a organização é com o resto das organizações na rede, tanto direta como indiretamente. É computada contando-se o número de organizações que uma organização focal tem que se comunicar para alcançar outras organizações na rede (FREEMAN, 1979). Essas medidas de posição compõem a abordagem da Análise de Redes Sociais. Granovetter (1973), em “The strength of weak ties”, trata da importância das relações menos próximas (que ele chama de laços fracos) não somente como um conhecimento meramente trivial, mas como uma ponte crucial ou relações entre dois grupos densos e bem conectados com amigos próximos. Dessa forma, indivíduos com poucas relações “fracas” serão privados de informação de partes distantes do sistema social, bem como confinados a notícias provincianas e a visões de seus amigos próximos. Quando a capilarização de uma rede é importante, maior é a importância dessas relações. De acordo com o Britto (2002, p.335), no caso de redes de empresas, a caracterização dessas ligações deve contemplar um detalhamento dos relacionamentos organizacionais, produtivos e tecnológicos entre os membros da rede, inclusive no que se refere a aspectos qualitativos dos mesmos. Quanto à forma dos relacionamentos, tem-se o grau de formalização do arcabouço contratual que regula as relações entre os agentes. Tal arcabouço deve definir um conjunto de mecanismos de coordenação com vistas a atingir determinados objetivos 120 pelas partes envolvidas. Em segundo lugar, deve contemplar mecanismos de prevenção contra a adoção de posturas oportunistas pelos agentes que estabelecem a relação. Finalmente, em terceiro lugar, o arcabouço deve incluir fornas de incitação à adoção de um comportamento eficiente pelas partes envolvidas. Adaptando às redes inter-organizacionais e ao caso específico das Redes N/NE, os Termos de Cooperação e os convênios específicos observados regem suas relações e estabelecem as “regras do jogo”, com os direitos e obrigações dos atores e sua divisão de tarefas. A caracterização morfológica das redes de empresas requer, também, a identificação do conteúdo de seus relacionamentos internos. Para redes de empresas, podem existir desde ligações sistemáticas entre agentes que se restringem ao plano estritamente mercadológico, passando por ligações que envolvem a integração de etapas sequencialmente articuladas ao longo de determinada cadeia produtiva, até um terceiro tipo de ligação – qualitativamente mais sofisticado – que envolve a integração de conhecimentos e competências retidos pelos agentes de maneira a viabilizar a obtenção de inovações tecnológicas. Nesse caso, as ligações entre agentes extrapolam a mera compatibilização de procedimentos produtivos e envolvem, também, a realização de um esforço tecnológico conjunto e coordenado. Este último tipo de ligação é o que predomina nas Redes Norte/Nordeste, considerando que não são redes interempresas, mas redes inter-organizacionais e que envolvem além da capacitação tecnológica, a capacitação científica. Britto (2002, p.356), ainda, acrescenta que não basta descrever as ligações entre os nós; é necessário identificar a natureza específica dos fluxos que circulam pelos canais de ligação entre aqueles nós. Os fluxos podem ser, essencialmente, tangíveis, baseados em transações recorrentes estabelecidas entre os agentes, por meio dos quais são transferidos insumos e produtos, como o exemplo das operações de compra e venda (ou troca) realizadas entre os agentes integrados à rede. Simultaneamente aos fluxos tangíveis, existem os fluxos intangíveis, que são basicamente fluxos informacionais que conectam os diversos agentes integrados às redes, cuja investigação é mais problemática devido à natureza intangível dos mesmos. Além disso, não existe um arcabouço contratual que regule a transmissão e recepção desses fluxos. Por fim, deve-se considerar que o conteúdo das informações transmitidas pode variar bastante em termos de seu grau de codificação: algumas delas têm caráter tácito, estando baseadas em padrões cognitivos idiossincráticos retidos pelos agentes responsáveis por transmitir e receber as mesmas. 121 Vieira (2004) estudou os fluxos de conhecimento tácito na Rede de Campos Maduros (Recam), uma das Redes N/NE, e investigou se o arranjo interorganizacional da rede de pesquisa é adequado para estimular a geração e o seu compartilhamento. O estudo concluiu que, apesar das inúmeras dificuldades encontradas na Rede, esta é sim um arranjo adequado ao estímulo da geração e do compartilhamento do conhecimento tácito, pois, dentre outros motivos, houve disposição dos atores para cooperar, adequada infra-estrutura física e de recursos humanos, bem como houve aceleração dos processos inovativos, possibilitados pelo compartilhamento de pesquisas complementares. As dimensões mencionadas anteriormente são interligadas e podem contribuir para a compreensão do funcionamento das redes, o que, de certa forma, explicam sua lógica e parte de sua trajetória. A Análise de Redes Sociais tenta quantificar para analisar, utilizando-se de softwares embasados em sociogramas e matrizes, tendo maior potencial de suporte a pesquisas quali-quanti. É sabido que as redes constituem-se em uma forma de cooperação social em prol de um ou mais objetivos compartilhados. No entanto, o conflito também pode se fazer presente nas relações entre os atores. Em estudo de Roese e Gitahy (2003), são ressaltadas características específicas do empresariado brasileiro que costumam causar problemas ao tentar implementar ações de cooperação. Dentre as características apontadas pelos autores estão a falta de informação, o individualismo, imediatismo e o ceticismo. Os autores levantam, também, a questão sobre se é possível criar vínculos relacionais de cooperação em ambientes nos quais estes não existem historicamente. Gulati (1999) introduz o conceito de recursos de rede (network resources), que, diferentemente da visão baseada em recursos materiais, considera os imperativos sociais importantes, já que podem, também, influenciar a criação das redes. Segundo o autor, os recursos de rede (network resources) são gerados pela participação das empresas (aqui, lê-se organizações) em redes interempresas (interorganizacionais). Dessa forma, as vantagens informacionais advindas das redes de laços interempresas (interorganizacionais) podem ser conceitualizadas como um recurso de rede (GULATI, 1999, p.399). No entanto, a inserção das organizações nas redes, que servem como uma base de seus recursos de rede, pode restringir ou alargar o conjunto de oportunidades de alianças disponíveis para tais recursos. 122 As redes são dinâmicas e mudam constantemente no decorrer do tempo. Cada organização é única; e umas têm capacidade desenvolvida para cooperar, enquanto outras não. Conforme Gulati (1999, p.402), participando em redes, as empresas (ou organizações, de uma forma geral) podem desenvolver competências em formar alianças como resultado de um processo histórico de aprendizado. Então, o resultado da parceria em redes e alianças é que as organizações podem desenvolver competências gerenciais associadas com as novas alianças formadas. Essas competências gerenciais são importantes para a constituição e fortalecimento dos laços e, conseqüentemente, o Sistema de Aprendizado. Essa abordagem, no entanto, conforme Ahuja (2000, p.318), não explica o desenvolvimento inicial das relações em rede, quando elas não têm história prévia de relações desse tipo, bem como não examina a influência das capacidades tecnológicas no processo. Nas redes estudadas, percebeu-se que a experiência na gestão das Redes N/NE gerou um aprendizado que foi utilizado pela Petrobras no desenvolvimento das Redes Temáticas, como será visto adiante. É válido ressaltar que nem sempre as redes se constituem em formatos ideais, já que as contingências e oportunidades geradas podem influenciar seu desenvolvimento. Não é o formato organizacional em redes que irá garantir o sucesso de um empreendimento, pelo contrário, muitas vezes as redes podem não obter êxito no alcance de seus objetivos. Grandori e Soda (1995, p.199) apontam a existência dos seguintes formatos organizacionais: Redes Sociais (aquelas que não possuem nenhum tipo de formalização, ou seja, são basicamente informais); Redes Burocráticas (aquelas que são formalizadas em acordos contratuais de troca ou de associações) - ambas podem ser simétricas, assimétricas ou centralizadas; e Redes Proprietárias (ou de Propriedade), uma vez que direitos de propriedade em atividades econômicas são de relevância como incentivos para sustentar alguma forma de cooperação (as Redes Proprietárias constituem-se um tipo especial de Redes Burocráticas). As Redes Norte/Nordeste assemelham-se às Redes Burocráticas, uma vez que possuem formalização e parecem tender para o tipo de acordos conjuntos de P&D, em que as atividades e tarefas dos atores envolvidos são conhecidas e explícitas, e o objetivo é o desenvolvimento de novas funcionalidades e pesquisas em temas previamente selecionados dentro do setor de Óleo e Gás; constituem-se, também, em redes de conhecimento, ou melhor, 123 como já foi dito anteriormente, redes de aprendizado, principalmente pelo caráter de capacitação e formação de competências regionais. As redes podem variar bastante no seu formato, desde formas simples, a exemplo de reuniões que podem ser realizadas, periodicamente, entre os representantes das organizações envolvidas, até formas mais complexas, envolvendo diferentes níveis de decisão, coordenação com apoio operacional e grupos de trabalho relacionados. A abordagem de Redes, por si só, não dá conta do conceito de Sistemas Nacionais de Aprendizado, mvez que este envolve uma diversidade de relações que se desenvolvem entre as inúmeras instituições que existem e que fazem parte de um contexto. Mas, a partir do momento em que se admite que as inovações e o aprendizado não acontecem somente nos departamentos de P&D das empresas, ou seja, em um único elo da cadeia, e que o ambiente favorável é importante para alavancá-las, deduz-se a importância da interação, do capital social, do aprendizado e das redes. O estudo da atuação das duas Redes N/NE pode ser visto, de uma forma geral, como um recorte, e espera-se, a partir dele, obter elementos que ajudem a conhecer os efeitos dinâmicos das redes na construção de capacitações e adensamento dos elos entre os atores. A forma como as empresas, no caso específico aqui, a Petrobras, e os demais atores interagem no sistema, inclusive por meio das redes nas quais participam, reflete a maturidade da cadeia produtiva do Óleo e Gás; esta aqui entendida como um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os seus diversos insumos (KUPFER; HASENCLEVER, 2002, p.37). No contexto atual, não basta capacitar e criar competências; é necessária, também, uma maior agilidade. A alta velocidade da mudança “premia” aqueles que são rápidos aprendizes. Daí a importância dos subsistemas relacionados ao desenvolvimento de recursos humanos, essencial na chamada ‘economia do aprendizado’ que, de acordo com Lundvall e outros (2002, p.224), inclui a educação formal e treinamento, a dinâmica do mercado de trabalho e a organização da criação de conhecimento e aprendizado entre empresas e em redes, e que se traduz em aprendizado constante e criação de competências. Os incentivos de aprendizado podem variar nas diferentes sociedades, pois estes se relacionam com sua história e suas necessidades. De acordo, ainda, com esses autores, as 124 contradições do sistema, que oscila entre a importância cada vez mais assumida pelo capital financeiro na dinâmica da sociedade e a necessidade de aprendizado e construção de competências, contribuem para o enfraquecimento das relações familiares tradicionais, comunidades locais e a estabilidade no trabalho. Isso é importante porque a produção de capital intelectual (aprendizado) é fortemente dependente do capital social. As contradições da economia do aprendizado aumentam a necessidade de uma coordenação de políticas e nos faz refletir sobre a dinâmica do Sistema de Aprendizado e sua inserção complexa, tornando inútil qualquer abordagem simplista para a solução de problemas, particularmente, quando tratamos dos países periféricos. Nesses países, de acordo com Johnson e Lundvall (2000), tais contradições que envolvem o capital financeiro e a necessidade de aprendizado podem representar desafios ainda maiores, uma vez que, freqüentemente, é difícil construir redes adequadas de produção de conhecimento e, mais difícil, ainda, pode ser capturar as economias de rede em virtude da falta de confiança e cooperação. Depois de contextualizado o setor de Óleo e Gás no Brasil, suas dimensões, novas formas de financiamento de pesquisa e desenvolvimento tecnológico e desenvolvido o referencial teórico, explicita-se, a seguir, o método e quadro geral de análise da pesquisa. 125 2.3. MÉTODO DE PESQUISA Diante do desafio de analisar objeto tão dinâmico como as Redes N/NE, utiliza-se a Abordagem de Sistemas de Aprendizado, abordagem teórica que leva em conta a complexidade e dinamismo da inovação, bem como considera esse processo tendo-se em conta a diversidade entre os países, seu processo histórico e desenhos políticos institucionais particulares. Como se está tratando de um Sistema de Aprendizado num país periférico e que possui suas especificidades, uma abordagem que considere essas particularidades é importante. A abordagem de redes respalda o estudo sobre as relações entre os atores envolvidos. No intuito de verificar se as ações das Redes N/NE têm possibilitado a capacitação científica e tecnológica nessas regiões e se levam à construção e fortalecimento de um Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás, foi necessário delimitar o estudo a duas redes, por meio de uma estratégia de estudo de caso múltiplo, vez que seria inviável estudar as 13 Redes N/NE criadas, com o aprofundamento necessário no tempo disponível. A princípio, seriam escolhidas duas Redes N/NE cuja coordenação encontrava-se a cargo de universidades que mais participam de redes, ou seja, uma rede coordenada pela UFPE e outra pela UFBA (ver Tabela 2 no próximo capítulo), inclusive pela importância econômica que têm esses dois estados, Pernambuco e Bahia, na região Nordeste. A UFPE participa de todas as Redes N/NE, exceto a Rede CT-Petro Amazônia, e a UFBA participa de 11 redes, ou seja, está presente em 85% das Redes Norte/Nordeste, excetuando-se a Rede de Modelagem Computacional e a Rede CT-Petro Amazônia, que é mais focada na região Norte. No entanto, tinha-se dúvida de que tal critério fosse adequado ao objetivo deste trabalho, pois não se sabia sobre o funcionamento dessas redes e o seu acesso. Assim, foram realizadas entrevistas exploratórias no Cenpes/Petrobras para perceber quais dentre as redes estavam funcionando bem e já possuíam resultados implantados, inclusive, interagindo com o setor produtivo. Com base nos objetivos da pesquisa, explicitados naquele momento, foram indicadas duas redes para estudo: a Rede Asfalto (Rede 13) e a Rede de Catálise – Recat (Rede 11). Essas redes, na ocasião, de acordo com os entrevistados, eram as mais bem 126 avaliadas, tanto pela Finep quanto pela Petrobras, em termos de organização e resultados apresentados. Na pesquisa empírica, combinou-se a observação não participante - em que, conforme Lakatos (1986), o pesquisador toma contato com a realidade estudada, mas sem integrar-se a ela, ou seja, presencia o fato, mas não participa dele -, com alguns métodos de coleta de dados como a entrevista com roteiro, o uso de dados secundários - materiais já publicados sobre o assunto, inclusive, relatórios internos, quando disponíveis. Para se ter uma percepção mais atual sobre as redes em estudo e dado aos numerosos projetos e coordenadores, optou-se por entrevistar os coordenadores dos projetos mais recentes, nas universidades. Foram entrevistados, também, o Setor Produtivo (Petrobras, e suas unidades envolvidas, e a empresa Armtec); o Governo, representado pela Finep; e as universidades. As capacitações e competências geradas foram compreendidas por meio da análise das entrevistas e de dados secundários recolhidos (relatórios e documentos disponíveis, sites, dentre outros). Todas as entrevistas foram semi-estruturadas, seguindo um roteiro (ver APÊNDICE C) e permitindo a flexibilidade necessária para uma análise essencialmente qualitativa. A análise do material obtido e das entrevistas teve como base os conceitos e abordagens escolhidos, contidos no Quadro 5 - Dimensões, conceitos-chave, indicadores e fontes de pesquisa, deste capítulo. No total, foram realizadas 23 entrevistas, foram elas: Setor Produtivo: Coordenadora da área de Relacionamento com a Comunidade de Ciência e Tecnologia do Cenpes/Petrobras (1); Coordenadores ou interlocutores de projetos da Petrobras (Gerência de Lubrificantes e Produtos Especiais – Cenpes/Petrobras) (2); Diretor da empresa envolvida na fabricação/montagem de equipamentos nacionais (Armtec) (1); Representante da Lubnor (1); Representante da Rlam (1). 127 Governo: Responsáveis da Finep pelo Fundo CT-Petro, participante de seu Comitê Gestor e os interlocutores da Finep das Redes (3); Universidades: Coordenadores da Rede Asfalto e Recat (2); Coordenadores dos projetos em andamento pelas Rede Asfalto e Recat (11); Assessor da Reitoria da UFBA (1). Esta pesquisa é essencialmente qualitativa. Os esforços aplicados em pesquisas científicas e tecnológicas nem sempre geram resultados mensuráveis. Nem sempre o aprendizado resultante desses esforços gera uma nova tecnologia num longo, muito menos, num curto espaço de tempo e, também, nem sempre cria dinâmicas próprias às redes, o que importa muito para a articulação do sistema e criação de interdependência entre eles. A quantidade de pesquisadores em grupos de pesquisa, por exemplo, não mede qualidade de suas relações e dos produtos gerados. Os dados quantitativos obtidos no decorrer do processo foram relacionados a dados qualitativos, para dar-lhes maior consistência. Quanto às entrevistas realizadas nas universidades, é importante ressaltar que, como as redes já haviam gerado um volume considerável de projetos, a Rede Asfalto se encontrava na Fase 3 (3º convênio Finep/ Petrobras) e a Recat na Fase 2 (vez que o convênio para a Fase 3, até novembro de 2008, ainda não havia sido assinado), optou-se, em princípio, como já ressaltado anteriormente, por entrevistar os coordenadores das Fases consideradas em vigor. Dessa forma, não se tem o posicionamento de cada universidade participante, mas dos coordenadores dos projetos mais atuais. Foi observado que nenhuma instituição coordenadora, nem da Rede Asfalto nem da Rede de Catálise, é oriunda da região Norte. No andamento das entrevistas com os coordenadores da Rede Asfalto, percebeu-se a importância do projeto PC02 (Fase 2), mesmo não estando vigente, por isso foi realizada entrevista com o responsável pela empresa Armtec, parceira e fornecedora de equipamentos para essa Rede, e com o representante da Lubnor na parceria. Dentre os coordenadores de projetos, infelizmente, por motivos diversos, não foi possível entrevistar um coordenador de 128 projeto da Rede Asfalto, pertencente à UFPE; e da Rede de Catálise, não puderam ser realizadas quatro entrevistas, uma delas, por questão de saúde. Como o estudo propôs-se a investigar se ações das Redes N/NE têm possibilitado a capacitação científica e tecnológica nessas regiões e se levam à construção e fortalecimento de um Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás, foi construída uma grade de análise que procurou mostrar a importância da formação das redes, seus elementos morfológicos (nós, posições, ligações e fluxos) e seu histórico para o desenvolvimento de competências e capacidades científicas e tecnológicas e para as dinâmicas geradas. As capacidades científicas e tecnológicas, de acordo com Coriat e Dosi (2002), são o que se pode fazer com os recursos e conhecimentos existentes. As competências são o que efetivamente se faz e se está apto a fazer com os conhecimentos existentes, parecendo mais dependentes da experiência concreta. Além da análise das entrevistas, utilizou-se para compreender as competências desenvolvidas, os indicadores de cursos de especialização, mestrado e doutorado, teses e dissertações geradas na rede, publicações (artigos e livros), prêmios conquistados, pedidos de patentes gerados, softwares criados, materiais testados, produtos aplicados (empresas e governo), eventos e reuniões de trabalho e alunos de graduação e pós-graduação envolvidos nos projetos. As áreas de competências das redes também foram destacadas adiante no histórico de cada uma delas. Para captar o nível de capacitação nas redes, utilizou-se o Quadro 3 - Dimensões e níveis de capacitação científica e tecnológica, de Dantas e Bell (2006), que foi originalmente desenhado para capacitação tecnológica industrial e que foi adaptado para redes de pesquisa científica e tecnológica, agora, sem o caráter necessariamente evolutivo. Dessa forma, onde lê-se operacional, entende-se a realização das pesquisas nos laboratórios e design, mais do que de equipamentos, em metodologia. Nesse âmbito foram utilizados os mesmos indicadores/evidências, sobre os quais a capacidade científica e tecnológica é dependente: atividades tecnológicas/mudanças implantadas, bases de conhecimento, modos de aprendizagem/aquisição de capacidade (competência), objetivos de aprendizagem, facilidades e recursos, equipamentos adquiridos, laboratórios criados, infra-estrutura, melhorias realizadas e gestão da rede. No quadro a seguir, as competências e capacidades científicas e tecnológicas encontram-se separadas por uma linha tênue e descontínua, o que caracteriza uma fronteira somente para facilitar a identificação de suas evidências nos casos estudados. Em dinâmicas geradas foram identificados desdobramentos obtidos por meio das Redes, os quais alimentam os processos de construção de capacidades e competências científicas e 129 tecnológicas e o Sistema de Aprendizado. Os principais desdobramentos observados foram a capilaridade que a rede conseguiu desenvolver (parcerias nacionais e internacionais), indícios da trajetória profissional dos pesquisadores e alunos (identificados nas entrevistas), desenvolvimentos (consultorias, prestação de serviços à sociedade, projetos gerados a partir das redes) e novas linhas de pesquisa criadas ou fortalecidas. O roteiro para as entrevistas encontra-se no APÊNDICE C e está em conformidade com o quadro de análise posterior, o qual foi a base para a análise dos dados secundários e das entrevistas. Os gráficos que revelam a fotografia do nível de capacitação científica e tecnológica dos projetos de cada rede foram obtidos, desta forma, por meio da interpretação das entrevistas com base no quadro analítico a seguir. O quadro 5 adiante foi construído tendo como base o conceito de Redes e Sistemas de Aprendizado. As redes e seus elementos morfológicos foram identificados para o entendimento do histórico da formação da rede, estrutura, relação entre os atores e seus fluxos. A compreensão desse histórico é imprescindível para o entendimento da formação das capacidades científicas e tecnológicas, vez que estas são path dependents. Em Sistemas de Aprendizado, analisa-se a formação das competências científicas e tecnológicas, das capacidades científicas e tecnológicas e as dinâmicas geradas pelas redes. 130 Sistema de Aprendizado Redes - Elementos Morfológicos CONCEITOS-CHAVE INDICADORES/EVIDÊNCIAS Nós (perspectiva atores e redes) Posições (natureza dos laços) - Nº e natureza das instituições envolvidas; - Forma de ingresso, motivação (histórico); - Profissionais, competências tecnológicas e formação (área, doutorado, mestrado, especialização) de cada rede; - Objetivos dos atores e da rede; - Investimentos (humano e financeiro) - Estrutura da rede; - Divisão do trabalho Ligações (qualidade dos laços) - Laços de confiança; - Relações U-E e outras instituições no setor produtivo Fluxos laços) - Principais formas e conteúdo de comunicação (conteúdo dos Competências científicas e tecnológicas - Cursos (E, M, D) gerados na rede; - Teses e dissertações geradas na rede; - Publicações (artigos e livros); - Prêmios conquistados; - Pedidos de patentes gerados; - Softwares criados; - Materiais testados; - Produtos aplicados (empresas e governo); - Eventos e reuniões de trabalho; - Alunos de graduação e pós-graduação envolvidos nos projetos; - Áreas de competências. Capacidades científicas e tecnológicas (adaptado de Dantas e Bell, 2006) - Atividades tecnológicas/mudanças implantadas; - Bases de conhecimento; - Modos de aprendizagem/aquisição de capacidade (competência); - Objetivos de aprendizagem; - Facilidades e recursos; - Equipamentos adquiridos; - Laboratórios criados, infra-estrutura, melhorias realizadas; - Gestão da rede Dinâmicas geradas - Capilaridade da rede (parcerias nacionais e internacionais); - Trajetória profissional dos pesquisadores/alunos; - Desenvolvimentos (consultorias, prestação de serviços à sociedade, projetos gerados a partir das redes); - Novas linhas de pesquisa criadas ou fortalecidas Quadro 5 – Dimensões, conceitos-chave, indicadores e fontes de pesquisa Fonte: elaboração própria (2008). . FONTES DE PESQUISA Entrevistas e fontes secundárias. Entrevistas e fontes secundárias. Entrevistas, fontes secundárias e gradação referente ao Quadro 3. Entrevistas e fontes secundárias 131 3 REDES NORTE/NORDESTE: MODELOS DE GESTÃO, CAPACIDADES E COMPETÊNCIAS 3.1 AS REDES NORTE/NORDESTE O Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 teve como objetivo fomentar a constituição e consolidação de Redes Cooperativas de Pesquisas, Inovação e Transferência de Tecnologia, organizadas como centros virtuais de caráter multidisciplinar nas regiões Norte e Nordeste, por meio do apoio a projetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Os temas foram selecionados a partir das áreas estratégicas estabelecidas no Plano de Ação do CT-Petro para 2001 - 2003. O foco em tais regiões é explicitado no artigo 2º do Decreto 2.851/98; e este determina que, do total de recursos aplicados pelo CT-Petro, 40%, no mínimo, devam ser aplicados em programas e projetos nas regiões Norte e Nordeste. A preocupação subjacente vem da idéia de ser necessário um maior equilíbrio de capacitações nas regiões brasileiras, historicamente concentradas nas regiões Sudeste e Sul, muito desiguais no que se refere a competências científicas e tecnológicas. Para que haja projetos de qualidade encaminhados por essas regiões, é necessária capacitação local, ou seja, formação de pessoal e competências, aquisição de equipamentos e sua adequada disposição. O Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001 foi aberto à toda a comunidade de C&T relacionada ao Setor de Óleo e Gás no Norte/Nordeste. As 13 Redes Cooperativas de Pesquisa selecionadas foram criadas a partir da submissão de suas propostas, que precisavam ter a coordenação de uma Instituição de Ensino Superior ou de Pesquisa. O edital compreendeu duas fases, para as quais foram disponibilizados recursos: 1) formação de redes e; 2) estruturação das redes. Após o lançamento do edital, Centros de Pesquisa e empresas articularam-se para formar redes cooperativas de pesquisa. Desse processo associativo, surgiram propostas de formação de 44 redes, as quais foram submetidas à avaliação de técnicos da Finep, CNPq e de consultores ad hoc, que analisaram as propostas com base nos critérios do edital e elaboraram parecer, apresentando-o ao Comitê Técnico. Um workshop foi promovido por esse Comitê, para promover a integração das 37 melhores propostas. Após o evento, o Comitê Técnico autorizou a estruturação de 13 Redes Cooperativas de Pesquisa 132 em temas variados de interesse do Setor de Óleo e Gás e que são correlatos ao Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural. A Petrobras participa de todas elas. As 13 redes Norte/Nordeste encontram-se relacionadas a seguir com seus respectivos temas, objetivos, universidades ou instituições coordenadoras e participantes: 133 Rede Temas Objetivos 1 Risco Exploratório 2 Gás Natural (Recogas) 3 Rede CT-Petro Amazônia 4 Recuperação das áreas contaminadas (Recupetro) 5 Monitoramento das áreas contaminadas (Petromar) 6 Engenharia Campos Maduros (Recam) de 7 Geologia Geofísica Campos Maduros e de Desenvolver métodos e algoritmos computacionais para o processamento e imageamento de dados sísmicos em situações de geologia complexa que representam problemas para a indústria de exploração de petróleo, com ênfase nas regiões Norte/Nordeste. Promover e coordenar atividades de pesquisas científica e tecnológica em gás natural, otimizando a utilização de recursos humanos e materiais para o desenvolvimento econômico e social das regiões N/NE. Visa garantir aos consumidores serviços e produtos seguros, confiáveis e ambientalmente corretos, através de processos de valorização química, geração alternativa de energia e do gerenciamento dos riscos e da logística. Intensificar a troca de informações, conhecimentos, intercâmbio de profissionais, treinamento e capacitação; obtenção e divulgação de novos conhecimentos que permitam identificar, avaliar, eliminar ou minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente, das atividades de prospecção e transporte do gás natural e petróleo na Amazônia Brasileira. Realizar estudos que objetivam diagnosticar situações ambientais e desenvolver processos de recuperação com a aplicação de microorganismos capazes de degradar o petróleo e seus derivados; aprimorar técnicas de estudo de condições físico-químicas, microbiológicas, de biodegradabilidade de resíduos oleosos e aperfeiçoando técnicas de tratamento de efluentes líquidos. Permitir um intercâmbio de informações, conhecimentos e profissionais, treinamento e capacitação acadêmica, investigação científica integrada, obtenção e divulgação de novos conhecimentos, transferência de tecnologias e o fomento a inovações tecnológicas que permitam, de forma contextualizada, identificar, avaliar, eliminar ou minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente, decorrentes das atividades da indústria do petróleo e do gás natural nas regiões Norte e Nordeste. Desenvolver pesquisas em tecnologia/regulação para viabilização de campos maduros e interagir com o setor produtivo; criando e consolidando competências regionais para desenvolver projetos na área de Petróleo e Gás Natural; criando infra-estrutura administrativa para gerir conhecimento obtido nos projetos cooperativos; formando e capacitando recursos humanos na área de Petróleo e Gás Natural; e transferindo tecnologia para universidades e centros de pesquisa do Nordeste. Desenvolver estudos para a revitalização da produção de campos maduros, conhecendo em detalhe a geometria e características estruturais e petrofísicas da rocha-reservatório, de modo a identificar, precisamente, horizontes produtores, tipo e a distribuição da porosidade e permeabilidade, índices de saturação de óleo e água, papel de falhas e fraturas como condutores ou selantes e etc, para otimizar processos de recuperação avançada. Universidade ou Instituição Coordenadora UFBA Participantes UFBA, UFPA, UFRN, UFC, UFAL, UFPE. UFPB UFPB, UFBA, UFPE, UFPA, Unifor, UFC, UFAL, Unifacs. Inpa (AM) INPA, FCAP, UFPA, Embrapa-OR, EmbrapaOC, UTAM, UFAM. UFBA UFBA, Padetec, UFC, UFPE, ITEP, UFPB, UFRN, UFAL. UFRN UFRN, MPEG, UFPA, UEPA, UFC, UFMA, UFBA, UFPB, UFPE, ESAM, Cefet-RN. Unifacs (BA) Unifacs, Unit, UFBA, UFS, UFRN, Unicap. UFRN UFRN, UFBA, UFPE. UFPE, ITEP, 134 Rede Temas Objetivos Aglutinar esforços para a realização de atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação na área de materiais para aplicações especiais, nas regiões N/NE do Brasil. Esse objetivo é desdobrado em diversas ações direcionadas para pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento de produtos e processos e formação de RH. Por meio de um conjunto de disciplinas ou áreas do conhecimento, tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento, realização de aplicações inovadoras e a análise de modelos, métodos e técnicas computacionais necessários em áreas de interesse da indústria de petróleo. Desenvolvimento de projetos para a indústria de petróleo e gás. Na primeira demanda de projetos, está sendo focado o tema “Medição em Petróleo”, conforme demanda da ANP; porém, sem deixar de lado alguns projetos relacionados a outros temas relevantes para a indústria de petróleo e gás natural, para os quais têm competências nessas redes. Universidade ou Instituição Coordenadora UFPE 8 Materiais Avançados 9 Modelagem Computacional 10 Instrumentação e Controle (Redic) 11 Catálise (Recat) Organização das competências na área de catálise nas regiões N/NE através da rede cooperativa, envolvendo universidades e empresas para a melhoria dos processos de produção, qualidade, competitividade e preservação ambiental. Desenvolve trabalhos sobre catalisadores mássicos, suportados, homogêneos, peneiras moleculares, nanoporosos, engenharia das reações, processos de adsorção, foto e eletrocatálise. Unifacs (BA) 12 Combustíveis e Lubrificantes (Recol) Visa o desenvolvimento, o aperfeiçoamento, a padronização e confiabilidade nos métodos analíticos e formulações de combustíveis (álcool, gasolina, diesel e biodiesel) e lubrificantes comercializados no país. UFRN 13 Pesquisa em Asfalto (Rede Asfalto) Fortalecer o setor Asfalto, desenvolvendo pesquisas que resultem em novas tecnologias e produtos, capacitando RH e transferindo os desenvolvimentos realizados para a cadeia produtiva do asfalto. UFC (CE) Quadro 6 – As 13 Redes Norte/Nordeste (Edital CT- Petro/CNPq-Finep 03/2001) Fonte: elaboração própria (2008) a partir de dados extraídos de Relatório... (2005). Participantes UFPE, UFC, UFPA, UFPB, UFBA, UFMA, UFS. UFPE UFPE, UFC, UFPB, UFRN. UFAL, UFRN UFRN, UFBA, UFPA, UFC, Cefet-RN, CefetBA, ETF-SE, Ceped, Cefet-AM, UFPB, UFPE, Unifor, Itep UFAL. Unifacs, UFBA, UFMA, UNEB, UESC, UESB, UFPI, Unibahia, SENAI-BA, INT, UFPE,UFRN, UFPB, UFC, UFPA, UEPB, UNIT, UFAL. UFRN, Unifacs, UFC, UFBA, UFAM, UFPE, UFAL, UFPB, UFMA, UFPA, UFS, UNIR, UFPI. UFC, UFRN, UFCG, UFAM, UEMA, UFPE, UFBA, Unifacs. 135 Como pode ser observado no Quadro 6, as Redes N/NE possuem objetivos de produzir pesquisas, intercambiar informações, desenvolver e aperfeiçoar ferramentas e métodos, gerar projetos para aplicações práticas, treinamento e capacitação, aprimorar técnicas para melhoria de processos, criar novas tecnologias, dentre outros, e, assim, estimular a criação de competências regionais. As redes envolvem distintos atores e competências, cujos objetivos passam pelos fluxos de conhecimento e pela coordenação de aprendizado e inovação. A Recat (Rede 11) e a Rede Asfalto (Rede 13), objetos deste trabalho, encontram-se destacadas, no Quadro 6, em negrito. Como pode ser verificado na Tabela 1, a seguir, organizada por ordem decrescente de valores, a rede que envolve o maior valor aprovado pela Finep, até novembro de 2008, é a Rede de Monitoramento de Áreas Contaminadas (Petromar), com R$ 7.591.952,00. A rede com menor valor aprovado é a Rede de Campos Maduros (Recam), com R$ 2.777.008,27. Dentre as redes escolhidas para estudo, a Rede de Catálise é a que possui maior valor aprovado pela Finep (R$ 6.186.056,53); e a Rede Asfalto teve aprovados R$ 3.860.089,32, até novembro de 2008. Vale ressaltar que esses valores são complementados com a contrapartida da Petrobras, e que os recursos somente são liberados após a assinatura dos convênios. 136 Tabela 1 – Redes e valores aprovados pela Finep até novembro/2008 Ord. Rede Valores aprovados Finep R$ 1 Monitoramento das Áreas Contaminadas (Petromar) 7.591.952,00 2 Instrumentação e Controle (Redic) 6.749.345,17 3 Gás Natural (Recogas) 6.745.389,84 4 Materiais Avançados 6.495.019,88 5 Recuperação das Áreas Contaminadas (Recupetro) 6.333.466,00 6 Rede de Catálise (Recat) 6.186.056,53 7 Risco Exploratório 5.675.072,40 8 Modelagem Computacional 5.653.690,50 9 CT-Petro Amazônia 5.401.772,27 10 Geologia e Geofísica de Campos Maduros 4.732.838,00 11 Rede Asfalto 3.860.089,32 12 Combustíveis e Lubrificantes (Recol) 3.512.705,01 13 Campos Maduros (Recam) 2.777.008,27 TOTAL 71.714.405,19 Fonte: Finep (2008). A Tabela 2, a seguir, construída com base no Quadro 6, mostra que as instituições com maior freqüência nas Redes N/NE são as universidades federais do Nordeste brasileiro, mais especificamente, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), presente em 12 Redes N/NE, Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 11 redes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal do Ceará (UFC), em dez redes cada uma. De fato, é ainda nas universidades públicas brasileiras que se encontra grande parte da competência científica nacional. Observa-se que há relativamente pouca presença de Universidades particulares nas Redes N/NE, à exceção da Universidade Salvador (Unifacs) que possui participação em cinco Redes N/NE. A Universidade Fortaleza (Unifor) e a Universidade Tiradentes (Unit), ambas participam em duas Redes N/NE. A Universidade Bahia (Unibahia) e Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) estão presentes em apenas uma Rede N/NE cada. A pouca participação das universidades privadas nas Redes N/NE pode ser explicada, em parte, pela pouca tradição destas em pesquisa no Brasil. 137 Tabela 2 – Freqüência das instituições nas Redes N/NE UFMA Itep, UFAM, UFS 12 11 10 8 7 5 4 3 Participação de cada instituição nas Redes N/NE % 92% 85% 77% 62% 54% 38% 31% 23% Cefet-RN, UFPI, Unifor, Unit 2 15% 4 UEPA, UFCG, Cefet-AM, Cefet-BA, Ceped, Esam, ETF-SE, FCAP, INT, MPEG, Padetec, Senai-BA, UEMA, UEPB, UESB, UESC, UNEB, Unibahia, Unicap, UNIR, UTAM, Embrapa-OR, Embrapa-OC 1 8% 23 Instituição UFPE UFBA UFRN, UFC UFPB, UFPA UFAL Unifacs Participação (freqüência) de cada instituição nas Redes N/NE Total de instituições No de instituições 1 1 2 2 1 1 1 3 39 Fonte: elaboração própria (2008) a partir dos dados do Quadro 6. Ao analisar a freqüência das instituições nas Redes N/NE na Tabela 2, elaborou-se a Tabela 3, a seguir, quando se constatou que a maioria das instituições presentes, mais especificamente 29 delas, está localizada na região Nordeste1 e apenas dez instituições pertencem à região Norte brasileira2, do total de 39 instituições. Deve-se lembrar que a mobilização dependeu muito do interesse das universidades, da motivação, competências formadas e habilidades de seus representantes e da qualidade de seus projetos e propostas apresentadas nas reuniões que antecederam à formação das redes. 1 2 A região Nordeste brasileira tem nove estados. São eles: AL, BA, CE, MA, PB, PI, PE, RN e SE. A região Norte brasileira tem sete estados. São eles: AC, AP, AM, PA, RO, RR e TO. 138 Tabela 3 – Número de instituições participantes nas Redes N/NE por região o Região N NE Total N de instituições participantes nas Redes N/NE 10 29 39 Fonte: elaboração própria (2008), Deve-se notar que a Rede Asfalto é coordenada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), que possui uma grande participação nas Redes N/NE (participa de dez redes, o que corresponde a 77%); e a Recat, pela Unifacs, instituição particular de ensino, a única universidade particular que coordena Redes N/NE e, também, das universidades particulares, a que tem maior participação nas Redes N/NE (está em cinco delas, conforme pode ser observado na Tabela 1). A Rede Asfalto, como o próprio nome diz, tem o foco num produto (o asfalto) e a Recat, num processo (a catálise), como já visto no capítulo inicial. 3.1.1 Modelo de gestão das Redes N/NE Como um instrumento de políticas públicas para o estímulo ao aprendizado e inovação na cadeia produtiva do setor, por meio de financiamento com recursos do CT-Petro, as Redes N/NE visam à qualificação de recursos humanos e o desenvolvimento de projetos em parceria entre empresas e universidades, instituições de ensino superior ou centros de pesquisa do país, com vistas a criar ou consolidar competências locais para o aumento da produção e produtividade, a redução de custos e preços e a melhoria da qualidade dos produtos. As Redes N/NE incorporam interesses de três atores, são eles: governo (por meio da Finep, empresa pública federal), empresa e as universidades (academia), estas como executoras dos projetos. Um grande desafio das Redes N/NE é coordenar os diferentes interesses para atingir os objetivos estabelecidos. No caso das redes estudadas, a Finep e a Petrobras entram com os recursos financeiros, e as universidades executam os projetos que são negociados com a empresa. 139 Devido ao seu histórico como empresa estatal que exerceu monopólio durante quase cinquenta anos, a estruturação de um Centro de Pesquisas e experiência particular em pesquisa compartilhada (tanto no exterior, como internamente com universidades e centros de pesquisa) e à sua relação de proximidade com o governo, por pertencer ao Setor Produtivo Estatal (SPE), dentre outros, a Petrobras usufruiu, desde o início, dos recursos disponibilizados pelo CT-Petro, o que lhe permitiu ter uma participação maciça, 100% nas Redes N/NE, bem como nos projetos estudados. A Figura 9, a seguir, adaptada Petrobras (2006b) fruto de elaboração conjunta entre Petrobras, Finep e universidades, apresenta a visão revelada de cada um desses atores sobre a sua participação nas Redes N/NE. Figura 9 – Visão da Finep (Estado), universidades e Petrobras nas Redes N/NE Fonte: Adaptado de Petrobras (2006b). 140 O modelo das Redes N/NE assemelha-se ao modelo Triple Helix III3, de Etzkowitz e Leydesdorff (2000), segundo o qual gera-se uma infra-estrutura de conhecimento em termos de sobreposição de esferas institucionais, em que cada uma assume o papel da outra, com organizações híbridas, emergindo nas interfaces. De acordo com esses autores, a maioria dos países e regiões tenta atingir alguma forma da Triple Helix III. O objetivo comum é compreender o ambiente inovativo, consistindo de spin-off firms, iniciativas tri-lateriais para o desenvolvimento econômico baseado no conhecimento e em alianças estratégicas entre empresas (pequenas ou grandes, operam em diferentes áreas e com diferentes níveis de tecnologia), laboratórios governamentais e grupos de pesquisa da academia. Esses arranjos são, frequentemente, encorajados, mas não controlados, pelo governo, por meio de novas regras do jogo, de apoio financeiro direto ou indireto, ou através de leis ou novos atores, como instituições que promovem a inovação; características estas observadas nas Redes N/NE. Quanto à Figura 9, no entanto, deve-se levar em conta sua complexidade, muitas vezes não explícita nas visões propostas. A Petrobras, como já visto no primeiro capítulo, é uma empresa de capital misto e que possui características próprias inerentes à sua condição (interesses privados e vinculação ao SPE) e a Finep é uma empresa pública que atua como Secretaria Executiva do CT-Petro (representando o Estado). Logicamente, dentro do objetivo na pesquisa em si, alinhando-a aos interesses estratégicos da Petrobras, há a visão da empresa em conhecer melhor seu mercado e especificidades regionais e/ou processos disponíveis para ampliar seus negócios, reduzindo custos e riscos; além do que, à medida em que amplia a sua rede de conhecimento e estabelece relações de confiança com as instituições e pesquisadores, pode ampliar, em certa maneira, as barreiras de entrada aos concorrentes. É, também, uma maneira de ampliar a atuação do Cenpes sem o investimento direto em uma estrutura física nessas regiões. Do lado das universidades participantes das Redes N/NE, estas não são homogêneas, contando com a participação tanto de universidades públicas como privadas em diferentes estágios de desenvolvimento de pesquisa. As Redes N/NE são redes interorganizacionais com interesses diversos, científicos e tecnológicos, inclusive políticos. Para o funcionamento de uma rede CT-Petro, é necessário o estabelecimento de regras claras que moldam seu modus operandi; para isso, é celebrado um Termo de Adesão com 3 No Triple Helix I, o Estado envolve a academia e a indústria e direciona as relações entre eles; é, por exemplo, o modelo que predominava na antiga União Soviética. A Triple Helix II revela uma política estilo laissez-faire, hoje em dia advogada como uma “terapia de choque” para reduzir o papel do Estado no Triple Helix I. 141 cada instituição participante, objetivando o desenvolvimento de projetos de pesquisa que compõem cada uma das redes, no qual as instituições se comprometem a cumprir as obrigações previstas no convênio e no Plano de Trabalho. Convênios específicos são criados para a implementação de cada fase da rede, os quais contêm, basicamente: a divisão de tarefas (o que cabe a cada uma das instituições envolvidas - ex. financiamento, execução do projeto); prazo de vigência do convênio (dois anos prorrogáveis por igual período); valores, obrigações dos convenentes; exigência da apresentação de relatórios técnicos periódicos de execução; prestação de contas e; breve resumo dos projetos a serem desenvolvidos. Os bens e materiais adquiridos, produzidos, transformados ou construídos com recursos dos projetos são de propriedade da Fundação convenente (os recursos do CT-Petro somente podem ser direcionados para entidades sem fins de lucro) ou do executor (universidades), conforme for estabelecido. Os direitos de propriedade sobre os resultados dos projetos e a confidencialidade das informações e conhecimentos gerados na execução das atividades nos novos convênios das Redes N/NE são definidos pelas instituições participantes4, conforme orientação da Lei n.10.973 de 2 de dezembro de 2004, mais conhecida como Lei da Inovação. O modelo de gestão de cada uma das Redes N/NE foi pensado para funcionar conforme a Figura 10, a seguir: Figura 10 – Modelo de gestão (funcional) das Redes N/NE Fonte: Petrobras (2006b). O Comitê de Gestão é integrado pelo Coordenador Geral e representantes da Petrobras, Finep, CNPq e outras empresas (caso haja), com as seguintes atribuições: definir estratégias 142 de atuação da rede; aprovar diretrizes e normas de funcionamento; sugerir e aprovar prioridades técnico-científicas e a carteira de projetos; avaliar relatórios e acompanhar os resultados da rede; realizar análise crítica dos indicadores; aprovar o calendário anual de eventos e; propor a inclusão e exclusão de entidades. O Comitê Técnico-Científico é integrado por representantes das instituições de pesquisa pertencentes à rede, da Petrobras e outras empresas convidadas (caso haja), e lhe compete: assessorar o Comitê de Gestão, quando solicitado; avaliar as propostas de projetos submetidas à rede; emitir parecer técnico, bem como relatórios técnicos e físico-financeiros sobre os projetos; sugerir temas para a elaboração de projetos; propor soluções para impasses técnicos; realizar prospecção tecnológica e; avaliar resultados da rede. A Coordenação Geral da rede é exercida na instituição âncora por pesquisador com as atribuições de definir e conduzir projetos com as instituições de pesquisa e integrantes da rede; articular com empresas e agências de fomento (quando for o caso); sugerir a estratégia de atuação da rede; elaborar os relatórios de acompanhamento dos resultados da rede; propor a inclusão e a exclusão de entidades; garantir a execução do calendário anual de eventos; acompanhar a execução técnica e financeira da rede, garantindo o cumprimento dos prazos e custos acordados; avaliar os indicadores operacionais; fazer a interlocução com fornecedores, dentre outros. O Coordenador de Suporte Administrativo fica com as seguintes incumbências: assessorar o Coordenador Geral da rede em questões técnico-administrativas e jurídicas; atuar como ponto focal para a interlocução institucional e administrativa na rede; acompanhar os indicadores de gestão estabelecidos para as redes; operacionalizar as demandas dos integrantes da rede; propor o sistema de informações da rede e; prestar suporte e propor soluções necessárias à tecnologia de informação (TI). Nas duas redes estudadas, o Coordenador de Suporte Administrativo funciona como uma secretaria para tratar de assuntos relacionados ao controle de prestações de contas e a assuntos administrativos gerais relativos à rede, inclusive representa seu ponto de contato com a Fundação. Na Rede Asfalto, consiste de uma pessoa vinculada à Fundação (que recebe e administra os recursos). Cabe à interlocução administrativa atuar como um representante administrativo dos projetos, junto à Petrobras e Finep; apoiar o Coordenador de Suporte Administrativo na 4 A Finep somente precisa ser consultada no caso de transferência, licença ou cessão a terceiros. 143 operacionalização dos projetos e; propor ações de melhoria para as áreas de informação, jurídica, comunicação e gerencial com vistas a aperfeiçoar os procedimentos existentes. Na prática, percebeu-se que essa função é exercida, principalmente, pelo coordenador da Rede e sua secretaria. O Coordenador de Projeto é uma função exercida por pesquisador pertencente a uma das instituições que integra as redes e exerce as seguintes atividades: acompanhamento e avaliação da execução do projeto; assessoramento da coordenação da rede em questões técnico-operacionais; viabilização da execução do projeto de forma integrada aos objetivos estabelecidos para a rede; atuação como interlocutor técnico da equipe do projeto; gerenciamento dos recursos humanos, financeiros e materiais do projeto e; proposição de novas linhas de pesquisa para compor a carteira de projetos da rede. A interlocução técnica dos projetos é de responsabilidade de um técnico da Petrobras que exerce as atividades de acompanhar a realização das atividades técnicas e físicofinanceiras dos projetos; promover a incorporação dos resultados gerados nos projetos na Petrobras e; facilitar a operacionalização das demandas originadas nos projetos junto à Petrobras. Foi observado que contar com um interlocutor ativo é chave para o sucesso e o andamento dos projetos. Nas propostas de Projetos Cooperativos, os coordenadores verificam com cada instituição participante o que será necessário em termos de recursos e equipamentos para desenvolvê-los. A depender da necessidade, define-se os valores dos projetos e quanto deverá ser direcionado para cada instituição. Dessa forma, os recursos não são distribuídos igualmente entre as instituições porque as necessidades de cada uma são distintas. Os projetos são construídos pelas universidades e discutidos com a Petrobras que, como instituição co-financiadora, precisa aprová-los técnica e financeiramente. Depois, os projetos são encaminhados à Finep para aprovação financeira. Sobre o gerenciamento dos recursos financeiros das Redes N/NE, pode-se dizer que existem duas formas principais: i) Descentralizada - os recursos referentes aos projetos de uma rede são direcionados a uma fundação sem fins de lucro (ligada à universidade âncora) e, em seguida, direcionados às fundações das universidades coordenadoras dos projetos, para que estas realizem suas compras conforme as rubricas pré-estabelecidas. Esse é o caso da Rede de Catálise, como será visto mais tarde. As prestações de contas de cada fundação 144 devem ser encaminhadas à fundação da universidade âncora, para que esta elabore um relatório geral para a Petrobras e outro para a Finep; ii) Centralizada - a exemplo da Rede Asfalto, os recursos, também, são direcionados a uma fundação sem fins de lucro (ligada à universidade âncora), no entanto, estes não são repassados; a própria fundação da universidade âncora realiza as compras conforme as rubricas e solicitações dos coordenadores dos projetos. Essas formas de gerenciamento de recursos poderão ser melhor compreendidas nos dois estudos de caso descritos mais adiante (ver figuras 13 e 16). Como forma de medir o desempenho das Redes N/NE, foram definidos alguns indicadores, em conjunto com parceiros Petrobras, Finep e universidades (PETROBRAS, 2006b). Os indicadores foram pensados para lidar com quatro dimensões básicas: i) processos internos; ii) mercado; iii) aprendizado e crescimento e; iv) financeira. O indicador de processos internos verifica o atendimento de prazos tanto dos convênios como dos projetos, incluindo aí a execução do orçamento e o atendimento de requisitos Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) da Petrobras. Refere-se ao atingimento dos objetivos e resultados no tempo, forma e prazo combinados, revelando a efetividade (eficiência e eficácia) dos convênios e projetos. No que se refere à dimensão mercado, revela-se a preocupação desses projetos estarem sendo incorporados no processo produtivo da Petrobras, sinalizando qualidade e inovações geradas a partir dos projetos. Esse indicador, no entanto, não consegue captar os ganhos para a empresa quando o conhecimento e a experiência gerados nos projetos de pesquisa são utilizados, por exemplo, para sugerir equipamentos e materiais mais adequados ao processo produtivo, ganho citado por pesquisadores nas entrevistas de campo, como será visto adiante. Sobre a dimensão do aprendizado e crescimento, há o indicador de patentes, podendo este distorcer os ganhos obtidos na rede, vez que nem sempre patentear é interessante para os parceiros, porque, em muitos casos, utilizar o equipamento ou os novos materiais criados é mais vantajoso do que patenteá-los, como é no caso da catálise. Ou seja, um baixo volume de patentes depositadas pode não revelar muito sobre as redes. Nessa mesma dimensão, tem-se o número de dissertações e teses finalizadas no período - com orientador pertencente à rede. Tal indicador é importante para sinalizar a capacitação científica em temas relacionados às redes; 145 porém, um indicador complementar poderia estar relacionado à quantidade de dissertações e teses que estão sendo incorporadas a processos produtivos. A última dimensão é a financeira, que causa muita discussão; é o indicador da autosustentação, da captação de recursos pela venda de tecnologias de processos e produtos desenvolvidos pela rede e/ou pela prestação de serviços, incluindo cursos de extensão e pós graduação lato-sensu. Nessa dimensão, levanta-se o debate sobre o papel da universidade, do Estado e da empresa na capacitação científica e tecnológica, que será visto no decorrer deste trabalho. A proposta do Manual de Gestão das Redes Norte/Nordeste (Petrobras, 2006b) não está sendo seguida em seu pleno conteúdo quanto ao relacionamento com as redes, mas constituiu um esforço no sentido de melhor organizar a sua gestão, e vem servindo como balizamento para as ações (PRAVIA; LAU, 2008). Mais tarde, verificar-se-á, por exemplo, que os indicadores adotados pela Rede Asfalto diferem, em parte, dos sugeridos pelo referido manual. 146 3.2 A REDE ASFALTO (REDE 13) Utilizada desde a construção das pirâmides do Egito - entre 2600 - 2400 a.C. -, para o transporte de cargas por meio dos chamados trenós, pode-se dizer que a pavimentação é uma preocupação antiga da humanidade. Atualmente, uma pavimentação de qualidade é imprescindível para a sociedade e economia dos países: redução de custos, tempo de viagem, redução de riscos de acidente, redução de desperdícios e perdas de cargas, menores gastos com manutenção dos veículos e combustíveis, dentre outros. A competitividade dos países é diretamente afetada pela infra-estrutura. O pavimento é, de acordo com Bernucci e outros (2007, p.9), uma estrutura de múltiplas camadas de espessuras finitas, construída sobre a superfície final de terraplanagem, destinada técnica e economicamente a resistir aos esforços oriundos do tráfego de veículos e do clima, e a propiciar aos usuários melhoria nas condições de rolamento, com conforto, economia e segurança. O pavimento rodoviário pode ser classificado, tradicionalmente, em dois tipos básicos: i) rígidos - também chamados de pavimentos de concreto de cimento Portland (ou concreto-cimento) - ou; ii) flexíveis5 - pavimentos asfálticos. Os pavimentos asfálticos são aqueles em que o revestimento é composto por uma mistura constituída basicamente de agregados e ligantes asfálticos. De acordo ainda com esses autores, são formados por quatro camadas principais6: revestimento asfáltico, base, sub-base e reforço de subleito. O revestimento asfáltico pode ser composto por camada de rolamento em contato direto com as rodas dos veículos e por camadas intermediárias ou de ligação, por vezes denominada de binder. As camadas da estrutura repousam sobre o subleito, ou seja, a plataforma da estrada após a conclusão dos cortes e aterros. Na maioria dos países no mundo, inclusive o Brasil, a pavimentação asfáltica é a principal forma de revestimento utilizada. 5 Os pavimentos flexíveis são assim denominados porque toda a estrutura do pavimento se deforma (flexiona) sob a ação do carregamento. 6 Dependendo do tráfego e dos materiais disponíveis, pode-se ter ausência de algumas camadas. 147 Figura 11 – Sistema de camadas de um pavimento Fonte: extraída de Bernucci e outros (2007). O asfalto é um produto, uma mistura de hidrocarbonetos derivados do petróleo de forma natural ou por destilação, cujo principal componente é o betume, podendo conter ainda outros materiais, como oxigênio, nitrogênio e enxofre, em pequena proporção. Tem a propriedade de ser um adesivo termoviscoplástico, impermeável à água e pouco reativo. De acordo com Bernucci e outros (2007, p.26), quando o asfalto se enquadra em uma determinada classificação particular, que, em geral, se baseia em propriedades físicas que pretendem assegurar o bom desempenho do material na obra, ele passa a ser denominado cimento asfáltico de petróleo (CAP), seguido de algum outro identificador numérico7. Os óleos crus têm distintas composições a depender de sua origem. Dessa forma, os asfaltos resultantes de cada tipo, também, têm composições químicas distintas. A emulsão asfáltica de petróleo (EAP) é definida como uma dispersão estável de dois líquidos imiscíveis, o asfalto e a água. Para que o CAP possa recobrir de forma conveniente os agregados - a emulsão é utilizada na aplicação do produto - , é necessário que apresente uma viscosidade que só é atingida por aquecimento do ligante e do agregado a temperaturas convenientemente escolhidas para cada tipo de ligante. O emulsionamento do asfalto é um dos processos de preparação para promover mudanças no ligante e evitar o aquecimento do CAP, para se ter viscosidades de trabalho nos serviços de pavimentação. Quase todo o asfalto em uso, atualmente, é obtido pelo processamento do petróleo bruto (ou cru) nas refinarias. Nessas plantas, ocorre um conjunto de processos de separação e/ou 7 O CAP 30/40 é mais rígido e o CAP 50/70 é mais maleável. O que determina isso é a concentração de solvente, de óleo no asfalto. 148 transformação dos constituintes do petróleo. Como os óleos crus têm composições distintas dependendo de sua origem, os asfaltos resultantes de cada tipo, também, terão composições químicas distintas8. No Brasil e em outros países, são raras as plantas de produção de asfalto a partir de um único petróleo, sendo mais comum unidades de refino que produzem asfalto a partir da mistura de diversos petróleos (BERNUCCI et al., 2007, p.27). As três únicas refinarias no Brasil que não têm relação direta com a Petrobras - a Refinaria de Manguinhos (Rio de Janeiro/RJ), a Univen (Itupeva/SP) e a Daxoil (Camaçari/BA) - não produzem asfalto. Compete à Petrobras produzir asfalto no Brasil por meio de nove conjuntos produtores e distribuidores de asfalto localizados nos Estado do Amazonas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo (dois), além de uma unidade de exploração de xisto localizada no Paraná que produz insumos para pavimentação. Possui, ainda, fábricas de emulsões asfálticas, pertencentes à Petrobras Distribuidora, e laboratórios de análise da qualidade do produto, localizados nas refinarias. Conta, também, com um laboratório bem equipado de asfalto no Cenpes, para o desenvolvimento de produtos, acompanhamento da qualidade dos asfaltos comercializados e pesquisas conjuntas com universidades e outras instituições de pesquisa. Vale ressaltar que o desenvolvimento de produtos da Petrobras é centralizado no Cenpes e, salvo em raras exceções (como é o caso das pesquisas em ligantes), é compartilhado com as universidades. As universidades testam seus produtos, realizam novas misturas com agregados alternativos e aplicam-os nos pavimentos. As refinarias que produzem asfalto no Brasil são as seguintes: Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim/MG, Refinaria do Planalto Paulista (Replan), em Paulínia/SP, Refinaria Alberto Pascalini (Refap), em Canoas/RS, Refinaria Presidente Getulio Vargas (Repar), em Araucária/PR, Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos/SP, Refinaria Duque de Caxias (Reduc), em Duque de Caxias/RJ), Refinaria Landulfo Alves (Rlam), em Mataripe/BA, Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor9), em Fortaleza/CE, e Refinaria de Manaus (Reman), em Manaus/AM; todas ligadas à Petrobras. A refinaria de maior capacidade é a Replan, e a menor é a Lubnor. A figura 12, a seguir, ilustra a localização dessas refinarias no país. 8 Embora a composição química possa ser relacionada com as propriedades físicas de vários componentes do CAP, nota-se que asfaltos de composições químicas diferentes podem apresentar características físicas similares, desde que derivados de óleos diferentes (BERNUCCI et al., 2007, p.32). 9 A Lubnor é a antiga Asfor. No final da década de 90, teve sua razão social alterada quando incorporou planta de lubrificantes. 149 Figura 12 – Refinarias da Petrobras que produzem asfalto Fonte: extraído de Bernucci e outros (2007) As refinarias têm colunas ou torres de destilação, divididas em intervalos por faixa de temperatura de obtenção dos vários cortes do petróleo (nafta, querosene, gasóleos) antes de se obter o asfalto. Daí, muitas vezes o asfalto ser denominado “resíduo” do petróleo, embora esse termo não se associe de forma alguma a um material sem características adequadas ao uso, mas, sim, ao processo de refino (BERNUCCI et al., 2007, p.34). O asfalto é um produto complexo, diferentemente do combustível, não é queimado e dispersado no ambiente. Depois de colocado, o asfalto continua no pavimento por muitos anos. O asfalto pode ser bom, mas se a mistura ou a aplicação não seguir os procedimentos 150 recomendados, pode não surtir o efeito esperado de qualidade para o tráfego. Os agregados ainda precisam estar disponíveis a uma pequena distância pelos altos custos envolvidos com o transporte (RELATÓRIO..., 2007), considerando as particularidades de cada região (tipo de solo e disponibilidade de materiais), e necessitam ser utilizados adequadamente, misturandoos a temperatura controlada. As diversas variáveis envolvidas desde a chegada do petróleo bruto na refinaria, seu processamento, estocagem10 e transporte, até a obtenção de um asfalto de qualidade nas estradas, sua aplicação, a preocupação com sua resistência e durabilidade, a disponibilidade dos agregados e a necessidade de manutenção demonstram a complexidade inerente a esse produto. Para se ter uma idéia da importância do produto asfalto no Brasil, deve-se levar em conta que a matriz de transporte brasileira foi desenvolvida em torno da malha rodoviária11, e o asfalto constitui-se, atualmente, o principal pavimento utilizado nas rodovias nacionais. O Sistema Rodoviário Nacional teve seu ápice de crescimento no período de 1960 a 1980, momento em que houve consideráveis investimentos governamentais. Nessa época, conforme Campos (2008), principalmente no período do chamado “Milagre Brasileiro” (década de 70 e até o início da década de 80), o estudo da pavimentação encontrava-se em seu auge nas universidades brasileiras, havendo considerável número de professores e estudantes dedicados ao tema12. Nas décadas de 80 e 90, no entanto, as pesquisas em asfalto foram praticamente esquecidas na universidade, notadamente, no Norte/Nordeste; faltava, também, investimento do Governo nas rodovias. Havia um Centro de Pesquisas em Pavimentos, da Associação Brasileira de Pavimentação (ABPV), que contava com núcleos de pesquisa, mas ficaram sem recursos para dar andamento aos projetos. Apesar desse quadro desfavorável, resistiam pesquisas em pavimentação em algumas universidades brasileiras, como foi o caso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP) e, mais recentes, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Universidade Federal do Ceará (UFC). A partir do final da década de 90, com a retomada do crescimento e a necessidade do país tornar-se mais competitivo, aliado ao 10 O ligante asfáltico tem baixa possibilidade de se incendiar; só em temperaturas muito altas, em torno de 400º C, apresenta autocombustão. Porém, de acordo com Bernucci e outros (2007, p.38), apesar de baixo risco, cuidados especiais devem ser tomados nos tanques de estocagem e no processamento. Também é necessário evitar que o CAP aquecido tenha contato com a água, pois haverá grande aumento de volume, resultando em espumação e até, dependendo da quantidade de água, poderá haver fervura do ligante. 11 De acordo com a Confederação... (2007), o setor rodoviário é responsável por mais de 90% do transporte de passageiros e 61% do transporte de cargas. 151 anúncio da chegada de recursos oriundos do CT-Petro e à capacitação existente, houve um reaquecimento das pesquisas. No entanto, ainda permanece o grande problema da malha rodoviária pavimentada no Brasil. Esta, de acordo com a Pesquisa Rodoviária (CONFEDERAÇÃO..., 2007), possui, em grande parte de sua extensão, pavimento deficiente, o que, em função do tráfego e das intempéries, pode evoluir para situações críticas de segurança, custo de recuperação e desempenho operacional. Além das deficiências de controle de qualidade na aplicação do produto, permanece notória a falta de investimento na manutenção das vias. Números de 2005, conforme dados constantes do Relatório da Rede Asfalto referente ao período de 2002 a 2005 (RELATÓRIO..., 2005), apontam 1.400.000 km de rodovias não pavimentadas (federais, estaduais e municipais) e 196.000km de rodovias pavimentadas, o que corresponde a cerca de 10% das vias existentes. Somente para se ter uma idéia da extensão das vias pavimentadas no Brasil, tem-se que, no mesmo período, nos EUA, havia 50% de vias pavimentadas e na América do Sul, superior a 20%. Esses dados comparativos devem ser interpretados com cautela, uma vez que precisam ser contextualizados com uma análise mais profunda das necessidades de transporte no país e de suas localidades, além de se considerar o equilíbrio entre as demais modalidades (ex. aquaviário, ferroviário, aeroviário) disponíveis e suas potencialidades. Questões ambientais, também, precisam, cada vez mais, ser levadas em conta, já que o asfalto é um pavimento que pode ser considerado inadequado em tempos de aquecimento global, por produzir efeito conhecido como “ilhas de calor”, bem como emitir poluentes, como o metano e o monóxido de carbono, durante a sua aplicação. Além dos usuários, tanto cidadãos como inúmeras empresas e instituições, encontram-se relacionados à pavimentação asfáltica: produtores e distribuidores de asfalto; fábricas de emulsão; fornecedores de agregados (minas e pedreiras, por exemplo); órgãos de infraestrutura e transporte, como o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), vinculado ao Ministério dos Transportes, cujas funções são relativas à construção, manutenção e operação de infra-estrutura de segmentos do Sistema Federal de Viação, sob administração direta da União, nos modais rodoviários, ferroviário e aquaviário; Departamentos de Infra-Estrutura de Transporte dos Estados (ex. Derba, Dert - responsáveis pela gestão do sistema de transporte estadual); empresas de construção pesada, consultores; 12 Na UFBA, por exemplo, naquele período, houve parceria com os Departamentos de Infra-Estrutura de Transporte, o Dnit e o Derba. 152 usinas de asfalto; concessionárias de rodovias; empresas do setor viário; fabricantes de equipamentos; sindicatos (ex. Confederação Nacional do Transporte (CNT), Confederação Nacional da Indústria (CNI)) e associações – a exemplo da Associação Brasileira de Departamentos Estaduais de Estradas de Rodagem (Abder) e Associação Brasileira de Pavimentação (ABPV) - ; a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), dentre outros. Com a utilização de materiais alternativos, como os resíduos de borracha, escória de aciaria, o líquido da casca da castanha de caju (asfalto ecológico), dentre outros, o sistema amplia-se, envolvendo, inclusive o setor agro-industrial e siderúrgico. Esses materiais alternativos podem reduzir o custo do revestimento, e auxiliar na preservação do meio ambiente, tema este notadamente transversal nas redes investigadas, como poderá ser verificado no decorrer deste trabalho. Depois de introduzido o tema asfalto, principal pavimento utilizado no Brasil, os aspectos relacionados à sua pesquisa e problemas da malha rodoviária no país, bem como identificadas algumas instituições e organizações a este relacionadas, parte-se para descrever o histórico da Rede Asfalto, no item a seguir. 3.2.1 Histórico da Rede Asfalto Não há uma data específica que marque o início das relações que foram construídas para a formação da Rede Asfalto. De acordo com Soares (2008a), coordenador da rede, em entrevista, a partir de relações informais, construídas por professores e pesquisadores individuais com a Petrobras (Lubnor), e que depois alavancaram projetos isolados, aos poucos, foi sendo tecida a rede de atores que hoje integra a Rede Asfalto. A primeira ação em conjunto UFC e Petrobras que se tem notícia ocorreu em 1995, e consistiu na construção de uma pista experimental com um CAP mais duro na Av. Washington Soares, que dá acesso ao Litoral Leste de Fortaleza. O professor Ademar da UFC coordenou tal iniciativa, mas não havia um projeto de pesquisa formal e, tampouco, recursos; trabalhava-se basicamente com estudantes voluntários e estagiários. Havia o interesse da Petrobras em testar o asfalto e a oportunidade vislumbrada pelo professor de interagir com a 153 empresa, estimulando o aprendizado de ambas as partes. Na época, havia um engenheiro, o Sr. João Augusto Paiva13, da Lubnor, única refinaria da Petrobras cujo principal produto é o asfalto, que defendia a parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC). De acordo com Soares (2008a), o João Augusto é o marco na história do ponto de vista das relações Petrobras local com a UFC, pois foi, sem dúvida, a pessoa que capitaneou esse acordo, tendo ganho, inclusive, projeção nacional na área de asfalto como um entusiasta da parceria Petrobras/Universidade. De acordo com as entrevistas, incomodava ao Eng. João Augusto o fato de uma empresa produzir asfalto (o ligante asfáltico) e não conhecer tecnologia de pavimentos. Quando o Prof. Jorge Soares retornou à UFC, tendo concluído seu doutorado nos EUA, no fim de 1997, a pista experimental da Av. Washington Soares já estava construída. Foi, então, convidado pelo Prof. Ademar a realizar um levantamento desse projeto, sistematizando o conhecimento, e a assumir a UFC na relação com a Petrobras, na área da pavimentação. Pouco tempo depois de assumir seu cargo na Universidade, o Prof. Jorge Soares iniciou os acordos junto à Petrobras e, mesmo não havendo recursos, dava-se continuidade à construção da parceria por meio da vontade de um jovem doutor e, do lado da empresa, do entusiasmo do Eng. João Augusto Paiva. Como havia muita interação, muita conversa, mas nenhum recurso de fato, o projeto ficou conhecido pelos dois entusiastas como projeto “saliva”. Naquele período, a UFC ainda realizava poucos estudos, não possuía laboratório próprio em pavimentação e utilizava o laboratório do Departamento Nacional de Infra-estrutura e Transporte (Dnit - antigo Departamento de Estradas e Rodagens (DNER)), que tinha o incoveniente de localizar-se distante do campus Pici (onde fica o LMP/UFC), em Fortaleza. A Lei do Petróleo de 1997 trouxe a sinalização da chegada de recursos para as pesquisas em Óleo e Gás e, a partir de 1999, a Finep anunciou a criação do Fundo Setorial CT-Petro. Nesse momento, a UFC já havia publicado trabalhos sobre a pista experimental e a Petrobras estava mais atenta aos desenvolvimentos da pesquisa na UFC, pois passou a existir uma estratégia da empresa de aproximação com as universidades. A Petrobras já tinha um histórico de parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação (Coppe/UFRJ), “berço” da capacitação em pós-graduação em pavimentação no Brasil por meio de projetos contratados, e precisava expandir isso para as outras 13 O Eng. João Augusto Paiva encontrava-se, quando da pesquisa de campo, como gerente da planta de biodiesel em Quixadá/CE. 154 universidades, em função da Lei do Petróleo que iria obrigá-la, por falta de melhor termo, a colocar esses recursos dentro das universidades. Além disso, 40% desses recursos seriam destinados para as regiões N/NE, onde havia somente competências isoladas, o que já sinalizava o grande desafio que seria enfrentado tanto pela Petrobras, em termos de sua organização para lidar com uma quantidade e diversidade de instituições nunca imaginada, quanto pela Finep e pelas universidades; estas, em sua maioria, estavam afastadas do estudo da pavimentação asfáltica e pouco interagiam com o setor produtivo. Ainda entre 1998 e 1999, os materiais para estudo, muitas vezes, toneladas deles, precisavam ser enviados para a UFRJ para serem ensaiados, mas faltavam recursos. Em 1998, na UFC, criou-se uma Especialização em Engenharia Rodoviária, com os professores vindos, principalmente, do Coppe/UFRJ, como a Profa. Dra. Laura Motta, decana da área de pavimentação e madrinha da iniciativa da UFC. Participaram do curso 40 pessoas, dentre engenheiros do Dert e do Dnit. Nesse mesmo ano, foi iniciado o Mestrado Interinstitucional da UFC com o Coppe/UFRJ, realizado integralmente no Ceará. O Mestrado da UFC possui duas áreas principais, Infra-Estrutura e Planejamento, o que Soares (2008a) chama de “da pista para baixo e da pista para cima”. Hoje, a UFC possui professores doutores que foram alunos desse Mestrado. Dessa forma, percebe-se que, naquele período, foram estruturadas as bases de ensino, pesquisa e extensão para a consolidação das competências locais, tanto que, em 2000, já com recursos, foi implantado o Mestrado da UFC, desta vez, sem o envolvimento direto do Coppe/UFRJ. A iniciativa da UFC, somada à qualidade dos trabalhos apresentados em eventos da área, as relações de confiança estabelecidas em relativamente pouco tempo, a formação de recursos humanos qualificados e habilidades de seu coordenador, mesmo com a dificuldade de recursos, impressionaram os técnicos da Petrobras que acompanhavam seu desenvolvimento. Numa conjuntura favorável de disponibilidade de recursos financeiros, como a que ocorreu com o lançamento dos editais do CT-Petro, a Petrobras vislumbrou a possibilildade de desenvolver projetos conjuntos, apostando no grupo de asfalto da UFC. 155 Naquele período, inclusive, a Petrobras estava criando Centros de Excelência14 em diversas áreas. O Centro de Excelência em Asfalto (Ceasf) foi criado em 2000, com caráter virtual, reunindo universidades, entidades governamentais e empresas privadas, com os objetivos de identificar causas de problemas em pavimentações; desenvolver ou estimular a pesquisa sobre novas tecnologias de aplicação dos produtos sobre o asfalto em si ou sobre as formas de sua produção e manuseio, bem como integrar todos os segmentos responsáveis pela qualidade final das estradas, com vistas a aumentar as vias pavimentadas no país, adaptar-se às demandas regionais e, assim, oferecer um complexo sistema operacional capaz de suprir integralmente a demanda nacional. É um centro virtual no qual circulam informações sobre o mercado de asfalto, suas demandas e tecnologias disponíveis, de importância estratégica para a Petrobras. A Universidade Federal do Ceará vislumbrou no espaço criado uma oportunidade de, com os recursos, expandir-se, adquirir equipamentos, atrair bons estudantes e produzir resultados. Dessa forma, em 1999, a UFC fechou com a Petrobras o primeiro projeto, denominado Projeto Estruturante. O recurso somente entrou em 2000, quando a UFC ampliou seu laboratório, instalando alguns equipamentos-chave. Dos equipamentos adquiridos, somente encontravam-se semelhantes, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A partir de 2000, com recursos e infra-estrutura, os alunos começaram a interessar-se pela pavimentação, tema que vinha há um tempo esquecido no Brasil, como visto anteriormente. Nessa época, também o LMP/UFC conseguiu obter recursos do Programa de Recursos Humanos da ANP - PRH3115, com bolsas de estudo cujos valores eram superiores aos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e CNPq, o que acabou atraindo os melhores alunos. A UFC, de acordo com Soares (2008a), tornou-se o 14 Um Centro de Excelência é um conjunto de recursos físicos, humanos, tecnológicos, financeiros, de conhecimentos e de informação, da Petrobras e da sociedade, integrados em rede, que busca a manutenção da supremacia no campo escolhido, a valorização contínua e sustentada do desenvolvimento de elos da rede e a transformação dos recursos em produtos, processos ou serviços de alta qualidade. 15 O PRH-ANP é um programa, implantado em 1999 pela ANP, para incentivar a formação de mão-de-obra especializada, em resposta à expansão da indústria do petróleo e do gás natural, verificada a partir de 1997, após a abertura do setor à iniciativa privada. O programa tem como base a inclusão, no currículo das instituições de ensino, de disciplinas de especialização específicas para atender às necessidades da indústria do petróleo, gás natural e biocombustíveis. O PRH-ANP possui uma vertente voltada para profissionais de nível superior e outra para nível técnico. É executado pelas instituições e conduzido sob a orientação da ANP. O programa funciona por meio do lançamento de editais para as instituições brasileiras apresentarem propostas. O PRH-ANP concede: bolsas de estudos, taxas de bancada (suporte financeiro para gastos específicos do programa) e taxa de custeio para contratação temporária de instrutores e professores. 156 principal grupo de referência da ANP para Petróleo e Gás no Ceará, devendo-se considerar a ausência de engenheiros de petróleo no Estado. Além disso, o Prof. Jorge Soares atraiu grupos de fora do país – de seu conhecimento no doutorado nos EUA -, vislumbrando a possibilidade de estimular os discentes e de oferecerlhes um diferencial na área da engenharia civil; pois, mesmo havendo recursos, estruturafisica e a Petrobras apoiando, a área de pavimentação, naquela época, ainda permanecia esquecida. Na verdade, não havia obras e tampouco o interesse dos alunos em escolher a área da pavimentação, já que inexistia mercado para absorver os estudantes. Acreditando, num futuro próximo, no aquecimento da área de pavimentação no país, a capacitação desses futuros profissionais no exterior constituiria um diferencial para eles, mesmo que não retornassem ao Brasil16. O excelente relacionamento com instituições estrangeiras17, principalmente com as universidades americanas Texas A&M University, Universidade de Nebraska Lincoln (LNL) e University of Illinois, tornou-se um importante diferencial da UFC e que, em termos de possibilidade de intercâmbio científico, com a criação da Rede Asfalto, foi extendido aos parceiros. De acordo com Soares (2008a), faltam alunos para as oportunidades que aparecem de intercâmbio científico nas universidades americanas; o estudante precisa destacar-se para ser encaminhado. Quando foi lançado o Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001, a idéia era criar e/ou consolidar competências nas regiões Norte e Nordeste brasileiras, identificando grupos que desenvolvessem ou pudessem desenvolver projetos nos respectivos setores e buscando articulação com empresas e intercâmbio com centros de reconhecida competência no país e no exterior. A UFC vislumbrou a oportunidade de inserir-se nessa iniciativa e procurou a Petrobras e universidades parceiras, submetendo o projeto da Rede Asfalto ao referido edital. A concorrência pelos recursos foi grande, uma vez que bons pesquisadores em diversos segmentos do Óleo e Gás submeteram suas propostas. Nessa época, a Petrobras conhecia o histórico do trabalho no Laboratório de Mecânica de Pavimentos da UFC, com o qual já havia construído relacionamento baseado na confiança e, a UFC já contava com recursos para bolsas de estudo, infra-estrutura física e pessoal capacitado (turmas de especialização e mestrado). 16 Como a bolsa de estudos é americana, não há exigência de retorno do estudante ao Brasil. 157 Nas regiões Norte e Nordeste, das instituições de ensino e pesquisa conhecidas, apenas a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba, atuavam na área de pavimentação. De acordo ainda com Soares (2008a), a UFCG, contava, dentre outros, com o Prof. Afonso, formado pelo Coppe/UFRJ na área de misturas, e o Prof. Ariosvaldo, que trabalhava com rejeitos de sandálias e solas de sapato. Reunindo esforços, a UFC, na pessoa do Prof. Jorge Soares, teve sua proposta aprovada, conseguindo contar com o apoio inicial de sete instituições de ensino e pesquisa, quais sejam: a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Salvador (Unifacs). Na proposta de 2004, a Rede Asfalto passou a contar também com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). Dessa maneira, a Rede Asfalto, em 2004, contava com a participação de dez universidades, incluindo a própria UFC, em nove estados das regiões Norte e Nordeste. A Rede Asfalto foi criada com o objetivo de fortalecer o segmento de asfalto, desenvolvendo pesquisas que resultem em novas tecnologias e produtos, capacitando recursos humanos e transferindo os desenvolvimentos realizados para a cadeia produtiva do asfalto. Como objetivos específicos, tem-se: desenvolver projetos de pesquisa na área de pavimentação asfáltica, dentro da melhor técnica possível, atendendo a padrões de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) préestabelecidos; fortalecer linhas de pesquisa que resultem na melhoria do desempenho dos pavimentos asfálticos; estabelecer e consolidar parcerias nacionais e internacionais; formar e qualificar recursos humanos na área de pavimentos asfálticos; 17 A Rede Asfalto também construiu relações com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) em Portugal e o Laboratoire Central des Ponts e Chaussés (LCPC) na França, conforme dados obtidos no Relatório Anual da Rede Asfalto 2002-2005. 158 facilitar o funcionamento de Arranjos Produtivos Locais, disseminando os desenvolvimentos da Rede; possibilitar a inserção e a permanência de instituições nas atividades da Rede; desenvolver novas tecnologias e produtos de interesse da indústria do asfalto; transferir os desenvolvimentos para a cadeia produtiva do asfalto. No início, muitos não acreditavam que a iniciativa daria certo, porque havia muito pouco recurso para que a Rede Asfalto pudesse operar. Mesmo assim, os projetos foram levados adiante, pois, de acordo com Soares (2008a), acreditava-se no potencial das pessoas, havia motivação e uma certa demanda “reprimida” de estudos na área de pavimentação. No decorrer dos projetos, muitas relações pré-existentes de pesquisadores das diversas instituições envolvidas foram intensificadas, novos relacionamentos foram construídos, tanto formal quanto informalmente, houve compartilhamento de equipamentos entre os membros da Rede, troca de conhecimento e ampliação da participação da região N/NE nos artigos científicos apresentados em eventos da área de pavimentação, dentre outras novas possibilidades de interação criadas. Inclusive, o aprendizado e o conhecimento gerados nos projetos tornaram-se claros na medida em que muitos deles geraram uma continuidade, com novos projetos que foram submetidos a outros programas e editais. Como as universidades envolvidas encontravam-se em diferentes estágios de desenvolvimento na pesquisa em pavimentação, foram consideradas as necessidades de cada uma para a realização dos projetos propostos. De uma forma geral, para as universidades onde não havia tradição de pesquisa na área de pavimentos, o projeto incluía a aquisição do chamado “enxoval” ou “kit básico”18, que consistia nos equipamentos essenciais num laboratório de pavimentação. Em muitos casos, também, foi necessária uma reforma no laboratório existente. A Universidade Federal de Sergipe (UFS), por exemplo, não possuía tradição em estudos de pavimentos e, tampouco, pessoal formado nessa área. De acordo com Cavalcante (2008), chegado em 2003 da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), havia 18 “kit básico” ou “enxoval”, consistia num compactador macho em que são compactadas diferentes pedras e os ligantes para fazer um cilindro e um equipamento que mede a resistência ou estabilidade deste corpo de prova, depois de pronto. 159 somente uma disciplina de pavimentação na graduação em Engenharia Civil da UFS. As pesquisas existentes eram mais voltadas para a temática de solos, mesmo não havendo muita estrutura no laboratório. A UFS foi convidada pelo Prof. Jorge para participar da Rede Asfalto no final de 2004 para 2005. Na ocasião, chegaram a participar do projeto de misturas asfálticas (PC02 - Fase 1 - ver Quadro 8 mais adiante), que se encontrava em andamento, tendo conseguido um pequeno recurso para começar a reforma do laboratório, estruturando uma ala para contemplar o estudo dos pavimentos. A efetiva participação da UFS se deu na Fase 2 (2005 - 2007), no PC02 - Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial -; foi quando ganhou o kit básico para começar a equipar o laboratório de pavimentos. Sua participação como coordenação de projeto se deu na atual fase da Rede (2007 - 2009), no Projeto PC03 - Estabilização de solos com uso de rejeitos ambientais -, no qual o Prof. Erinaldo assumiu como coordenador. Como era natural para uma universidade que não possuía tradição em pesquisas na área da pavimentação, todo o processo de construção de parcerias com o setor produtivo, outras universidades e órgãos governamentais está sendo realizado aos poucos. Estão pleiteando a implantação de uma pós-graduação em pavimentos pela Capes, mas, para isso, é necessária a existência um grupo de pesquisa consolidado na área, além de publicações. O grupo já começa a ser montado com a contratação recente de um professor que foi aprovado em concurso da universidade. A Universidade Federal do Amazonas (UFAM), hoje, é referência na região Norte em trabalhos em pavimentação; possui laboratórios equipados e pessoal capacitado, tendo conseguido recursos também de outras fontes, fora o CT-Petro. A Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) realizou vários projetos com a Petrobras, mas recentemente, com o afastamento do professor que tocava grande parte desses projetos, para realizar seu doutorado na Poli/USP, as pesquisas foram descontinuadas. A Prof. Dra. Tereza Neuma de Castro Dantas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que participa de projetos na Rede, teve sua formação na Universidade Federal do Ceará (UFC) e hoje trabalha com emulsões asfálticas na Rede. Esses acontecimentos revelam a importância das pessoas, sua reputação e habilidades na motivação do grupo e no andamento dos projetos, e de seus relacionamentos para sua própria capacitação. 160 Na graduação de Engenharia Civil na Universidade Federal da Bahia (UFBA), assim como na UFS, havia uma única disciplina de Pavimentação no Departamento de Transportes. No entanto, desde 1997, está implantado, na UFBA, o Mestrado de Engenharia Ambiental Urbana, em que a pavimentação está incluída na disciplina Geotecnia, e o seu laboratório já é referência em Mecânica de Solos (CAMPOS, 2008). Com o ingresso na Rede Asfalto, a UFBA impulsionou a capacitação de pessoas na área de pavimentos, tendo formado três turmas de pós graduação (Especialização em Pavimentação), cujos participantes, de acordo com Campos (2008), foram funcionários do Derba, da Prefeitura Municipal de Salvador, do Dnit e empreiteiros, dentre outros. Essa capacitação pôde ser verificada no aumento de sua participação nos projetos da Rede. Da participação em um único projeto na Fase 1 (2002 2005), a Rede passou a participar, na Fase 2 (2005 - 2007), de três dos quatro projetos cooperativos existentes (ver Quadro 10, mais adiante). Os laboratórios de Geotecnia e Pavimentação da UFBA começaram a equipar-se após a entrada na Rede Asfalto. O foco inicial foi a compra de equipamentos para pesquisa de campo (equipamentos que são colocados na rodovia para verificar o seu comportamento - ex. Falling Weight Deflectometer - FWD). Vale ressaltar que, como o recurso inicial disponibilizado de aproximadamente R$ 30 mil não era suficiente para equipar seu laboratório, a UFBA entrou em acordo com o Derba, que acabara de renovar seu laboratório, comprando os equipamentos que faltavam, deixando-os em comodato para a utilização comum das duas instituições. A Universidade Salvador (Unifacs), única instituição particular da Rede Asfalto, foi convidada a participar, dentre outros motivos, porque contava, em seu quadro, com a Profa. Dra. Sandra Oda, que havia estudado o asfalto borracha na Universidade Federal de Maringá (PR) e em cuja banca examinadora teve a participação da Petrobras, na pessoa da Profa. Dra. Leni Figueiredo, do Cenpes, especialista em asfalto. A Profa. Sandra foi para a Unifacs, com uma bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), estudar, inicialmente, o uso do rejeito das borrachas das janelas dos carros da Ford no asfalto. No entanto, pouco tempo depois, foi convidada para trabalhar com a Profa. Laura Motta no Coppe/UFRJ, o que, conforme Soares (2008a), inviabilizou a continuidade da Unifacs no projeto da Rede Asfalto. Em 2007, numa parceria com professores - Laura Goretti, Liede Bernucci, Jorge Ceratti e Jorge Soares (respectivamente do Coppe/UFRJ, USP, UFRGS e UFC) -, Petrobras e 161 Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfaltos (Abeda) foi lançado o livro Pavimentação Asfáltica: formação básica para Engenheiros, que vem sendo muito referenciado nos trabalhos em pavimentos e foi, inclusive, referenciado nesta tese. O presente histórico explorou a origem da Rede Asfalto, seus objetivos, a parceria com a Petrobras, a liderança da UFC a partir de informações obtidas em entrevistas e dados secundários referentes às instituições participantes. Para melhor compreensão do funcionamento da Rede, a seguir, descreve-se o seu modelo de gestão. 3.2.2 Gestão da Rede Asfalto A Coordenação Geral da Rede Asfalto é exercida pela UFC, chamada universidade âncora, na pessoa do Prof. Dr. Jorge Soares. Além da manutenção dos projetos operacionais estabelecidos nos convênios, e monitoramento das atividades descritas nos projetos, o Coordenador Geral trata do relacionamento com fornecedores e empresas prestadoras de serviço, lida diretamente com os coordenadores dos projetos cooperativos, com os coordenadores institucionais da Finep e Petrobras (empresas financiadoras) e com o suporte administrativo, que faz o elo com a Associação Técnico-Científica Engenheiro Paulo Frontin (Astef), entidade jurídica de direito privado sem fins lucrativos, vinculada ao Centro de Tecnologia da UFC. A Astef gere os recursos da Rede, realiza suas compras de materiais e equipamentos e presta contas dos recursos à Finep e à Petrobras. Há apoio, também, de uma engenheira que dá o suporte nas definições das compras de equipamentos e materiais permanentes. Esse sistema abrange o acompanhamento técnico-financeiro dos projetos, bem como a comunicação e divulgação das ações da Rede. Os coordenadores dos projetos definem sua equipe e os recursos necessários em termos de valores e equipamentos, o que, depois, é conversado e negociado com o Coordenador da Rede, para discussão de proposta para o convênio. A Finep possui em seus quadros um técnico responsável pela Rede Asfalto. Esse técnico é responsável pelo gerenciamento de projetos e possui outras atividades internas à Finep não relacionadas à Rede. Quando há, por exemplo, necessidades não previstas nas rubricas, o coordenador do projeto solicita a sua alteração à coordenação geral (UFC), que contata esse 162 técnico (quando a rubrica que se quer alterar é vinculada ao recurso da Finep) ou o interlocutor da Petrobras ligado ao projeto (quando o recurso é da Petrobras). O interlocutor da Petrobras é o responsável pelo projeto da Rede Asfalto internamente ao Cenpes. O Comitê Técnico-Científico é composto do grupo de pesquisadores da instituição âncora, em conjunto com os coordenadores de cada universidade. O Ceasf/Petrobras, por meio de seu grupo técnico no Cenpes, conduz esse Comitê, observando a demanda dos atores do segmento asfalto. As empresas mais capacitadas e que vêm atuando de forma mais consistente nas reuniões do Comitê, conforme Relatório... (2007), são as fábricas de emulsão asfáltica, as quais possuem um corpo próprio de P&D, e os órgãos rodoviários, principalmente os da esfera estadual. Esse comitê sugere temas para a elaboração dos projetos da Rede. Uma vez definidos os temas, integrantes do Comitê participam diretamente da construção das propostas, feitas sempre a várias mãos pelos experts correspondentes. Além disso, cabe ao Comitê, a avaliação dos relatórios parciais e finais dos projetos contratados e destaca-se, também, seu papel em ações de prospecção tecnológica. Toda e qualquer ação do Comitê Técnico-Científico é avaliada pelo Comitê Gestor da Rede, formado pelo Coordenador Geral, Petrobras, Finep e CNPq (ver Figura 10 no item “Modelo de Gestão das Redes N/NE”). As propostas são analisadas e sugestões são realizadas à luz do parecer da equipe da Petrobras, representada pelo corpo técnico do Cenpes. Uma vez elaboradas as propostas, estas têm sido discutidas, preliminarmente, com interlocutores das agências de fomento, para apresentar sugestões. Vale ressaltar que a Finep não se envolve diretamente nos aspectos técnicos dos projetos, apenas nas questões financeiras. Um ponto nevrálgico de uma rede é a comunicação, ou seja, como esta é estabelecida entre os diversos atores e parceiros. Desde sua implantação em 2001, a Rede Asfalto tinha como principal meio de comunicação com os participantes a troca de e-mails. Atualmente, esta forma de comunicação ainda é muito utilizada, mas, com o aumento da quantidade e complexidade das informações e da necessidade de dar mais visibilidade aos trabalhos técnicos e de articulação da Rede Asfalto, foi desenvolvido um portal para troca de informações e sua sistematização, constituindo ferramenta para facilitar a gestão. O Portal, publicado com o domínio próprio www.redeasfalto.org.br, contém informações relativas aos projetos cooperativos, notícias (como eventos organizados pela Rede ou relativos aos temas abrangidos), artigos produzidos, contatos dos parceiros e atores da Rede nos Estados, dentre outros. Atualmente, o Portal opera, também, com módulos para alimentar dados e gerar 163 relatórios de acompanhamento técnico e financeiro, com a visualização de cumprimento dos cronogramas estabelecidos nos projetos cooperativos. Há perfis de acesso para os diferentes membros e seus interesses específicos (inclusive Finep e Petrobras). Como meio de comunicação, o messenger (MSN) também, é utilizado para conversas e trocas de informações entre pesquisadores. O telefone é utilizado, mas com menor freqüência. Constantemente, a universidade âncora comunica-se com as demais universidades participantes, seja para atender às variadas demandas de liberação de recurso e aquisição de equipamentos e materiais, seja para discutir os rumos e avanços das pesquisas em desenvolvimento. Esses fluxos constantes de informações ocorrem via email, telefone ou visitas à UFC ou de membros desta às outras instituições participantes. Há encontros formais, anualmente, com os coordenadores dos projetos e com os parceiros, na Reunião Anual da Rede Asfalto (Rara), e uma agenda de reuniões sistemática com a Petrobras, no Rio de Janeiro, envolvendo a equipe do Centro de Excelência em Asfalto (Ceasf). Mensalmente, o Coordenador da Rede se reúne com os coordenadores dos grupos de pavimentação do Coppe/UFRJ, Poli/USP e UFRGS, durante a reunião da Comissão de Asfalto do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) no Rio de Janeiro, momento aproveitado para compartilhar os desenvolvimentos realizados. Muitos contatos da Rede acontecem informalmente nos encontros sobre asfalto, por exemplo, na Reunião da Associação Brasileira de Pavimentação (anual), no Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (Anpet), que promove a congregação da comunidade técnico-científica do setor de transportes, e na participação em bancas examinadoras de defesas de dissertações e teses. Na pesquisa de campo, observou-se que as reuniões internas específicas dos projetos ficam a cargo do coordenador de cada projeto, que deve agendá-las conforme um cronograma estabelecido ou uma necessidade percebida. Essas reuniões dos projetos, também, acontecem informalmente nos eventos sobre asfalto. O modelo de gestão de recursos adotado na Rede Asfalto, conforme já explicado anteriormente, é o modelo centralizado. Dessa forma, os recursos advindos das empresas financiadoras (Finep e Petrobras) devem ingressar, conforme cronograma, na conta da Astef. Esta cobra taxa de administração dos recursos dos projetos, realiza as compras e efetua os pagamentos necessários, conforme solicitações dos coordenadores dos projetos cooperativos. Em geral, os recursos recebidos de um mesmo projeto não são idênticos para as universidades. Os valores são pré-definidos no convênio conforme a necessidade consensuada 164 anteriormente. Cada coordenador de projeto cooperativo, também, controla seu orçamento e decide sua melhor aplicação. Nos casos de necessidade de mudança de rubrica, deve-se solicitar permissão ao órgão financiador correspondente. Figura 13 – Modelo centralizado de gestão de recursos da Rede Asfalto Fonte: elaboração própria (2008) com base na pesquisa de campo. Quando inclui a compra de equipamentos, o recurso é liberado no início do projeto. A Astef presta contas à Finep e Petrobras (são duas prestações de contas por cada projeto). Os recursos da Rede Asfalto saem da Finep e da Petrobras em direção à Astef. Os coordenadores dos projetos enviam a documentação que lhes cabe à Astef e esta confecciona a prestação de contas por convênio (um convênio pode englobar diversos projetos). Atrasos de um coordenador impactam na utilização das próximas parcelas de recursos (que somente podem ser liberadas com a prestação de contas das parcelas anteriores) por todos os membros da Rede. As bolsas para engenheiros ou estagiários ligados aos projetos saem mensalmente pelo CNPq ou ANP. Além de indicadores de acompanhamento, constantes no Manual de Gestão das Redes N/NE, citados anteriormente e que servem de balizamento, a Rede Asfalto trabalha com indicadores próprios de desempenho. Os indicadores existentes até então são descritos no quadro a seguir. 165 Indicadores da Rede Asfalto Artigos completos Teses/dissertações Prêmios conquistados Materiais testados Eventos realizados Alunos de graduação Alunos de pós-graduação Parcerias internacionais Parcerias nacionais Empresas envolvidas Desenvolvimentos Projetos alavancados Conceitos-chave identificados Competências científicas e tecnológicas Dinâmicas geradas e capilaridade da rede Quadro 7 – Indicadores da Rede Asfalto e foco percebido Fonte: adaptado de Relatório... (2007). Os sete primeiros indicadores (artigos completos, teses/dissertações, prêmios conquistados, materiais testados, eventos realizados, alunos de graduação e pós-graduação) referem-se à formação de competências científicas e tecnológicas, com a capacitação de pessoal, geração de conhecimento e sua divulgação. Uma vez publicadas, as teses, dissertações e artigos ficam disponíveis para o acesso de todos. Vale dizer que os eventos realizados pela Rede Asfalto são abertos ao público e divulgam os estudos desenvolvidos. A preocupação com a capacitação de recursos humanos é demonstrada pela quantidade de alunos de graduação e pós-graduação que atuam nos projetos e pelas parcerias com universidades estrangeiras para intercâmbio científico, por meio de programas de doutorado, principalmente. A capilaridade da Rede Asfalto pode ser percebida pelas parcerias nacionais com órgãos governamentais relacionados ao transporte (ex. Dnit e órgãos estaduais), com outras universidades no país e com empresas nacionais (ver Quadro 8) que, freqüentemente, cedem materiais para estudo, bem como, em alguns casos, compartilham seus equipamentos e laboratórios e disponibilizam técnicos. As parcerias internacionais com universidades, também, revelam a capilaridade da Rede. Os indicadores “Empresas envolvidas”, “Desenvolvimentos” e “Projetos Alavancados” revelam dinâmicas geradas a partir das redes, tanto na ampliação de número de parceiros 166 quanto ao utilizar infra-estrutura laboratorial, com os equipamentos e a capacitação construída. Em relação aos indicadores sugeridos no Manual de Gestão das Redes N/NE, descritos anteriormente, percebeu-se que a dimensão “Processos Internos” (atingimento de objetivos e prazos e a execução do orçamento e implantação de procedimentos, seguindo as orientações de Segurança, Meio Ambiente e Saúde) não foi divulgada no seu relatório específico. Outros, como o indicador sugerido pela Petrobras e Finep de “auto-sustentação” e o depósito de patentes em “Aprendizado e Conhecimento” não foram incorporados no rol de indicadores do relatório da Rede Asfalto. Há, no entanto, indicador para artigos completos, prêmios conquistados e eventos realizados. O item “Mercado” foi fortalecido com o indicador “Desenvolvimentos” e “Projetos Alavancados”, que podem fornecer uma visão mais adequada de como a Rede produz e presta serviços à sociedade. Percebe-se que os indicadores existentes voltam-se para aspectos mais quantitativos que qualitativos, sendo complementares, não dando conta da análise proposta para esta tese. A história da formação da Rede Asfalto, descrita anteriormente, e de seus projetos cooperativos mostra que a Rede não foi iniciada quando do lançamento do Edital CT-Petro. Seu surgimento foi resultado de relações construídas ao longo do tempo. Com o desenvolvimento dos projetos das redes, a compra de equipamentos, o estabelecimento das relações de confiança entre os atores, gerou-se motivação nas equipes para o alcance dos resultados e para a continuidade da Rede. No tópico a seguir, são identificados os projetos cooperativos da Rede Asfalto, descrevendo-se, em maior profundidade, aqueles que foram objeto de entrevistas. Em momento posterior, são explicitadas as competências científicas e tecnológicas desenvolvidas. 167 3.2.3 Os Projetos Cooperativos (PC) Num primeiro momento, conforme o Relatório ... (2005), as discussões de macro temas e dos projetos contratados foram realizadas no âmbito do Ceasf/Petrobras, em conjunto com o Coordenador da Rede. Tal fato ocorreu em função da Rede Asfalto ter se caracterizado, em seu início, como uma ação de difusão, dada a inexistência de capacitação laboratorial e de recursos humanos na área de pavimentação, nos diversos Estados do Norte e Nordeste, à exceção do Ceará e da Paraíba. Diante daquela situação, as diretrizes foram definidas observando-se as características, os potenciais e as vocações de cada Estado envolvido. Todo Projeto Cooperativo (PC) é composto por uma ou mais universidade participante da Rede Asfalto, e cada instituição realiza atividades dentro do projeto de pesquisa, que tem duração prevista de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período. Já houve três fases de projetos na Rede Asfalto: Fase 1 (2002 - 2005), Fase 2 (2005 - 2007) e Fase 3 (2007 2009), esta última, ainda, em vigor. É por meio dos projetos (e da assinatura dos convênios a eles relacionados) que são conseguidos os recursos na Rede. A Rede é bem maior do que o somatório dos projetos e das instituições, porque devem ser consideradas as relações construídas, inclusive com os parceiros para a utilização e o estudo de materiais locais; é o conhecimento tácito que é gerado na rede e que precisa ser levado em conta. Observa-se que na maioria dos projetos cooperativos da Rede Asfalto, os parceiros locais ou fornecem materiais para estudo e/ou deixam a Rede compartilhar de seu laboratório, dentre outras possibilidades. A Rede Asfalto estruturou-se em seis competências científicas/tecnológicas que foram definidas ao longo dos anos no decorrer da execução dos projetos. Vale ressaltar que os projetos podem abranger mais de uma competência. A Figura 14, a seguir, as apresenta: 168 Automação dos equipamentos e dispositivos utilizados no campo e em laboratório de pavimentação. Utiliza técnicas de aquisição de dados de sensores e atuadores e métodos preditivos. inteligentes. Propriedades químicas e reológicas do CAP e os efeitos resultantes da modificação dos ligantes por adição de polímeros, borracha de pneu e de calçados. AUTOMAÇÃO LIGANTES GERÊNCIA DE PAVIMENTOS ANÁLISE DE PAVIMENTOS Desenvolvimento, implantação e verificação da funcionalidade de Sistemas de Gerência de Pavimentos utilizando, como parâmetro principal para avaliação de defeitos, a Irregularidade Longitudinal de Pavimentos. Previsão do comportamento de pavimentos asfálticos utilizando modelos computacionais. MISTURAS SOLOS Comportamento de materiais naturais e alternativos que possam ser aplicados nas diversas camadas do pavimento. Efeitos dos diferentes métodos de dosagem nos parâmetros volumétricos e mecânicos das misturas, bem como estudos avançados sobre a caracterização mecânica das misturas por meio de ensaios normalizados e novos ensaios. Figura 14 – Competências científicas/tecnológicas da Rede Asfalto Fonte: elaboração própria (2008) com base em Relatório...(2007). Em solos, a interface solo-revestimento é pesquisada, tendo em vista a necessidade de se projetar e construir pavimentos que tenham revestimentos mais delgados e que possam ser aplicados com sucesso em rodovias de baixo volume de tráfego. Nas misturas, investigam-se ligantes e agregados alternativos (resíduos diversos) e convencionais, granulometrias ainda não exploradas (descontínua, Stone Matrix Asphalt (SMA) etc). Em Análise de Pavimentos, no desenvolvimento de sistemas, é utilizado o método dos elementos finitos e o estudo de fenômenos de fratura e deformação permanente, fazendo uso de áreas como processamento digital de imagens e computação gráfica. Esse projeto lida com tecnologia de ponta, conforme conceituação de Figueiredo (2008), vez que são sistemas que estão sendo desenvolvidos nacionalmente pela Rede e são inovadores. Em Ligantes, competência relacionada à Química, utilizam-se aditivos alternativos como o líquido da castanha de caju (lcc). Na Gerência de Pavimentos, agrega-se, ainda, aos dados obtidos no projeto, as informações de gerência coletadas pelos órgãos rodoviários. Vale observar que na Rede Asfalto há poucas pesquisas ligadas diretamente ao desenvolvimento do produto asfalto (essa é centralizada no Cenpes), pois seu foco principal é na aplicação. 169 Conforme consta no Relatório Final da Rede Asfalto N/NE (2007), cada uma das seis áreas de competência possui, na universidade âncora (UFC), um pesquisador doutor com formação correspondente. Tais áreas, foram criadas por possibilitarem uma compreensão aprofundada sobre os diferentes aspectos da pavimentação asfáltica e por haver, no setor produtivo, demandas específicas de conhecimento em cada uma delas. Juntamente com o Coordenador da Rede Asfalto, esses pesquisadores são responsáveis, em suas respectivas áreas, pelo recrutamento e treinamento de pessoal nos diversos níveis, pela produção científica, pelo desenvolvimento de projetos técnicos e científicos, pela manutenção dos equipamentos e pela interlocução com o setor produtivo e com as universidades da Rede e outros parceiros acadêmicos nacionais e internacionais. São responsáveis, ainda, pelo funcionamento eficiente da respectiva área de competência no âmbito das dez universidades da Rede Asfalto, identificando aquelas com maior potencial de se desenvolver. A seguir, constam os projetos que vêm sendo realizados na Rede Asfalto, com o período, o grande tema, universidades participantes, objetivo geral, resultados alcançados (geral) e outros parceiros. No intuito de ressaltar os projetos que foram investigados na Rede Asfalto, quais sejam, três projetos da fase mais atual (Fase 3) e um projeto da Fase 2 (PC02) pela importância percebida, estes foram destacados em negrito no Quadro 8. A obtenção dos dados referentes aos resultados dos projetos não investigados diretamente, somente foi possível porque foi concedido acesso aos relatórios da Rede Asfalto, o que ofereceu suporte à pesquisa. 170 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Resultados Alcançados (Geral) Outros Parceiros PC01 - Emulsões para pré-misturados a frio (PMF) densos e critérios de aplicabilidade 2002 2005 (FASE 1) Ligantes UFRN e UFC - maior conhecimento dos agregados locais e compatibilidade com diversos tipos de emulsões asfálticas produzidas nesses estados. Empresas PC02 - Caracterização mecânica de misturas asfálticas com agregados regionais e asfaltos produzidos por refinarias das regiões N/NE 2002 2005 (FASE 1) Misturas UEMA, UFAM, UFBA, UFC, UFCG, UFPE e Unifacs Verificar a eficiência da emulsão asfáltica na técnica de produção de PMF denso. Investigar o comportamento mecânico em laboratório e o desempenho em campo dessas misturas dentro de critérios definidos. Caracterização mecânica de misturas asfálticas das regiões N/NE e de asfaltos produzidos pelas refinarias locais (Lubnor, Reman e Rlam), para o conhecimento das potencialidades e limitações dessas misturas à luz da mecânica dos pavimentos . Dnit e órgãos do governo estadual, empresas de engenharia, construtoras, pedreiras, Lubnor (Petrobras) PC03 - Preparo de copolímeros de SBS funcionalizado e aproveitamento de resíduos de borracha como modificadores de asfaltos oriundos de petróleos brasileiros 2002 2005 (FASE 1) Ligantes UFC, UFPE, Unifacs e UFCG - 90% dos recursos para capacitação laboratorial (80% equipamentos, 10% obras e instalações); - consolidação de relacionamentos locais; - inserção de instituições das regiões N/NE em atividades de P&D em asfalto; - maior conhecimento das potencialidades locais, misturas asfálticas alternativas, agregados; - construção de trechos experimentais; - compartilhamento de equipamentos da LMP/UFC. - maior conhecimento das propriedades mecânicas de misturas asfálticas com incorporação de borracha triturada de pneus. Utilização de materiais locais. - construção de trechos experimentais (CE, BA (Salvador), - compartilhamento de equipamentos da LMP/UFC - aquisição de equipamentos e reagentes. Desenvolver análise de propriedades mecânicas de misturas asfálticas com incorporação de borracha triturada de pneus. Empresas, órgãos rodoviários locais e nacionais, Prefeituras municipais, dentre outros PC01 - Asfaltos Nordeste, Ipiranga Asfaltos, M. M. Moreira (fornecimento emulsão, disponibilidade instalações e acompanhamento de corpo técnico). PC02 - (MA) Dnit, Sinfra, Semsur, Granorte, CVRD, Cbemi, Geocret, Geomec, GPSSUL, ENGESK, MCEngenharia, Proenge, Contraforte, Capital, DMConstrutora, Labmatcon e Labgeo; (PE) Lidermac, Pedreira Lider, Lubnor, Areal Muribeca, Beccal, Emlurb; (PB) Novatec Ltda, Lubnor; (BA) Prefeitura de Salvador, Rlam, Associação Brasileira de Distribuidores de Asfalto (Abeda), Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Associação Baiana das Empresas de Obras Rodoviárias (Abeor), Sibra, Teenco. PC03 - (CE) Pedreira Itaitinga, Lubnor. As amostras de borracha foram coletadas de várias renovadoras de Fortaleza. Prefeitura Municipal de Fortaleza, Departamento de Edifícios, Rodovias e Transportes (DERT), Lubnor e BR Distribuidora; (CG/PB) Regap, Recuperadora de Pneus Borborema Ltda, São Paulo Alpargatas, Vetec – Química Fina Ltda; D’altomare. 171 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Resultados Alcançados (Geral) Outros Parceiros PC01 Desenvolvimento de tecnologias para o uso de revestimentos asfálticos em rodovias vicinais de agropólos do Nordeste PC02 Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial 2005 2007 (FASE 2) Solos UEMA, UFC e UFBA Conhecer a realidade da pavimentação das rodovias vicinais de três estados do Nordeste (clima e especificidades regionais). Empresas, órgãos rodoviários locais 2005 2007 (FASE 2) Misturas e Automação Conta com 100% das instituições da Rede Asfalto (UFAM, UFPA, UEMA, UFC, UFRN, UFCG, UFPE, UFBA, Unifacs e UFS) Estudo e caracterização de misturas asfálticas das regiões Norte e Nordeste e do desenvolvimento de um simulador de tráfego SISTRAN (acompanhado de mesa compactadora), para a avaliação da resistência às deformações permanentes das misturas asfálticas investigadas. - formação de RH em pavimentos de baixo custo; - dissertações de mestrado, trabalhos de iniciação científica, projetos de graduação e publicação de artigos; - forte interação com órgãos rodoviários e uso dos resultados dos projetos; - construção de trechos experimentais. - caracterização dos agregados, ligantes e dosagem das misturas asfálticas; - conhecimento dos materiais locais e dosagens de misturas; - emprego de materiais alternativos em misturas asfálticas; - confecção de misturas asfálticas a baixas temperaturas com zeólitas; - emprego de técnicas de Processamento Digital de Imagens (PDI) para a determinação de propriedades dos agregados e análise de sua estrutura; - contribuição para empresas locais; - análise de desempenho dos agregados em misturas asfálticas, sob vários meios de compactação. Integração da universidade com o setor produtivo, inclusive empresa local cearense PC01 - (MA) Ipiranga Asfaltos, BR Distribuidora, Prefeitura Municipal de São Luis; (BA) Não especificado no projeto; (CE) Lubnor, DERT/CE (fornecimento de informações), CVRD, CFN, empresas produtoras de cal, Carbomil, e de emulsões tais como a Lubnor e a Ipiranga Asfaltos que forneceram emulsões RM-1C, Química Ltda; (BA) Fapesb (trecho experimental em Salvador), Prefeitura Municipal de Salvador, Rlam, Fábrica de Emulsões Asfálticas do Vale do Paraíba (FASFVAP), Pedreira Valéria, Pedreira Omacio, Calcário Confiança, Usina de Asfalto da empresa Lustoza, Construtora Barra’s e Lustoza. PC 02 – (MA) Pedreira Redimix e Rosário, Ipiranga Asfaltos e Asfaltos Nordeste, Dnit; (AM) Laboratório Lakefield Geosol (Belo Horizonte – MG), UnB, Secretaria Municipal de Obras, Saneamento Básico e Habitação (Semosbh), Prefeitura Municipal de Manaus e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – Fapeam ; (BA) Derba e Prefeitura de Salvador, Lubnor e Rlam, Departamento de Química da UFBA. (CE) Lubnor; Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN); Queiroz Galvão; Engenharia HSZ; Prefeitura Municipal de Maracanaú; Ipiranga Asfaltos, Armtec, Sindbritas, DERT, PMF, Dnit, Gerdau, Sobremetal, Carbomil, EIT, Embrapa e Insttale; (PA) Secretaria Executiva de Transporte (Setran), Companhia Brasileira de Asfalto da Amazônia (CBAA); (RN) Lubnor(CAP) e a Miracema-Nuodex (aditivos); (SE) Empresa Municipal de Obras e Urbanização de Aracaju (Emurb), Jazida Aldeia – Cajaíba e Jazida “M&M” – Cajaíba, DER-SE, Departamento de Química da UFS; (Unifacs/BA) Fapesb, Rlam, Petrobras Distribuidora S/A, Prefeitura Municipal de Salvador, PMS, Superintendência de Manutenção e Conservação da Cidade (Sumac), Superintendência de Urbanização da Capital (Surcap) e Secretaria Municipal dos Transportes e Infra-Estrutur (Setin). 172 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Resultados Alcançados (Geral) Outros Parceiros PC03 - Análise de pavimentos asfálticos 2005 2007 (FASE 2) Análise UFC e UFPE 2005 2007 (FASE 2) Gerência de Pavimentos UFBA e UFC Programa CAP3D foi desenvolvido. Realiza análises bi e tridimensionais de pavimentos, utilizando modelos elástico lineares e nãolineares. Há interface gráfica integrada com o CAP3D. Dessa forma, todas as etapas necessárias à realização de uma análise numérica tridimensional de uma estrutura de pavimento podem ser realizadas utilizando um único sistema. - a UFC implantou SGP, sendo a pioneira no Nordeste na utilização do Perfilômetro a Laser, e ainda adotou metodologias para determinação do Índice de Irregularidade Longitudinal (IRI); - dos 5.755,1 km de rodovias estaduais pavimentadas do estado do Ceará, em 1.161,4 km de rodovias, foram efetuados levantamentos nesse projeto; - utilização do software HDM 4 para avaliação econômica das estratégias de manutenção propostas, usando a taxa interna de retorno e o valor presente líquido como parâmetros; - levantamento visual contínuo, efetuado nos trechos desta pesquisa realizado em apenas uma das faixas de tráfego, sendo escolhida para ser inventariada a de pior condição. - PC04 - Implantação de um sistema de gerência de pavimentos (SGP41) na Rede Asfalto N/NE Implementar um sistema computacional integrado para modelagem, análise e visualização de pavimentos asfálticos (usado no cálculo de tensões, deformações e deslocamentos que são utilizados pelos métodos mecanísticos para dimensionar pavimentos. Implantação de um SGP com metodologia, utilizando como parâmetro principal, para avaliação de defeitos, a Irregularidade Longitudinal de Pavimentos, agregando-se, ainda, aos dados obtidos no projeto informações de gerência já coletadas pelos órgãos rodoviários dos estados que compõem a rede (envolve a criação de um banco de dados com as principais características do trecho do pavimento, como tipo e estrutura, tráfego, condições estruturais, de superfície e de rolamento, bem como dados de localização e geometria). 41 Órgãos rodoviários locais e empresa O Sistema de Gerência de Pavimentos (SGP) é um conjunto de ferramentas que serve para auxiliar os tomadores de decisão na busca de estratégias para avaliar, prover e manter os pavimentos em boas condições durante um determinado período de tempo. Seu objetivo principal é a utilização de um maior número possível de informações confiáveis e critérios de decisão que possibilitem o estabelecimento de um programa de construção, manutenção e reabilitação de pavimentos. O objetivo fundamental dos procedimentos para avaliação de pavimentos e para realização de ensaios de laboratório é fornecer dados para projetos de reabilitação e de manutenção e para o Sistema de Gerência de Pavimentos. 173 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Resultados Alcançados (Geral) Outros Parceiros PC01 - Química e reologia de ligantes asfáticos 2007 2009 (FASE 3) Ligantes UFS, Unifacs e UFC Verificar a propriedade dos fluxos dos ligantes dos asfaltos visto que em todo o processo de pavimentação existe uma adequação das características da viscosidade (uma propriedade do fluxo) dos ligantes para fazer o processamento na usina e na compactação. - foi realizado um curso de reologia geral no Rio de Janeiro. Participaram a UFC, USP e UFS; - maior intercâmbio com o Cenpes: ressonância em ligantes; - prestação de serviços em parceria com o LMP/UFC, para o TCU, para controle do material asfáltico em estradas (sugestões de procedimentos mais adequados, utilização de melhores combinações de materiais e que tipo de material utilizar). - PC02 - Definição de metodologias de dosagens e ensaio de misturas asfálticas e da viabilidade do emprego de rejeitos ambientais como materiais para pavimentação 2007 2009 (FASE 3) Misturas Conta com 100% das instituições da Rede Asfalto UFAM, UFPA, UEMA, UFC, UFRN, UFCG, UFPE, UFBA, Unifacs e UFS Definição de metodologias de dosagem e o estudo dos métodos de ensaio utilizados para a caracterização mecânica das misturas asfálticas. A idéia é possibilitar uma investigação sobre metodologias diversas de dosagens e ensaios mecânicos, verificando suas respectivas pertinências aos materiais e tipos de misturas asfálticas normalmente empregadas no Brasil e, especialmente, nas regiões N/NE. - esse projeto está na terceira etapa, é derivado dos outros dois já realizados, quais sejam PC02 (fase 1) e PC02 (fase 2); - ampliação do conhecimento sobre os materiais asfálticos; - capacitação e reciclagem de pessoas por meio de três turmas de especialização em pavimentação com a Rede Asfalto; - maior interação com o setor produtivo; - divulgação da Rede Asfalto e dos equipamentos e serviços disponíveis para órgãos do Estado como TCU e TCE, que fiscalizam as estradas; - intercâmbios de estudantes entre as universidades da Rede e a UFC, Coppe/UFRJ e USP, para capacitação. (BA) Rlam, Caraíba Metais, Ferbasa e Gerdau (fornecimento da escória de aciaria), empreiteiros, Derba, Dnit e Prefeitura Municipal de Salvador 174 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Resultados Alcançados (Geral) Outros Parceiros PC03 - Estabilização de solos com o uso de rejeitos ambientais para aplicação em pavimentos asfálticos 2007 2009 (FASE 3) Solos UFS, UFBA, UEMA, UFC e UFAM Utilizar rejeitos ambientais diversos para a estabilização de solos e aplicação em pavimentos asfálticos, conforme as regionalidades. aquisição e restauração de equipamentos; - reforma e ampliação de laboratórios, incorporando a área de pavimentação; - preparação do projeto de pósgraduação da UFS; - capacitação dos alunos e técnicos, inclusive, nos novos equipamentos; - implantação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na UFS, em 2007, e sugestão de temas relacionados à Rede; - o PC03 já gerou outro na Rede Temática, envolvendo a UN-BA Taquipe, a UFS, a Coppe/UFRJ e o Cenpes. - formação de laços de amizade; - maior interação com o setor produtivo (ainda informal). (SE) Emurb, Dnit e órgão estadual Quadro 8 – Projetos cooperativos da Rede Asfalto Fonte: elaboração própria (2008) com base em Relatório...(2005;2007) e em entrevistas. 175 Ao longo dos primeiros projetos contratados no período de 2001 - 2003, formou-se a capacitação básica de oito universidades em sete estados, para trabalharem em apenas dois temas gerais da pavimentação asfáltica, quais sejam, (i) Ligantes (PC01 e PC03) e (ii) Misturas (PC02). Esses projetos iniciais podem ser chamados de projetos estruturantes, no sentido de que formaram a estrutura necessária para o desenvolvimento dos demais projetos. O PC02 da primeira fase, qual seja, “Caracterização mecânica de misturas asfálticas com agregados regionais e asfaltos produzidos por refinarias das regiões N/NE”, por exemplo, envolveu quase 100% das universidades participantes da Rede Asfalto à época. Conforme Relatório...(2005), as universidades não possuíam os equipamentos para se fazer o mínimo, ou seja, uma dosagem de mistura betuminosa - saber misturar as pedras, os agregados de diferentes tamanhos e o ligante. Foi um projeto no qual 90% dos recursos foram destinados para capacitação laboratorial (a maioria para aquisição de equipamentos e o restante para obras e instalações). As universidades que estavam iniciando na pavimentação receberam o “kit básico”. Para aquelas universidades que já possuíam o kit, o projeto incluiu a compra de equipamentos mais sofisticados para medir, por exemplo, a propriedade mecânica de misturas e equipamentos de carga repetida. Nas universidades que se iniciavam na área, houve uma ampliação de esforços préexistentes, em geral, na área de Geotecnia ou de Engenharia de Materiais, que passaram a incorporar, também, aspectos da área de Pavimentação. As universidades participantes dos primeiros projetos começaram a desenvolver ou, no caso daquelas onde já existia alguma competência, reforçar a interlocução com os respectivos atores locais da cadeia produtiva do asfalto. No período de 2001 a 2003, o grupo da UFC foi ampliado com o ingresso de mais pesquisadores, o que possibilitou o aumento do espectro da atuação da Rede na área de pavimentos. A ampliação possibilitou a descoberta de novos interlocutores no segmento asfalto. Os projetos contratados e desenvolvidos no período de 2005 - 2007 foram elaborados a partir desse grupo ampliado da UFC, em conjunto com o Ceasf/Petrobras, e já observadas as vocações das universidades envolvidas na Rede, as quais ficaram evidenciadas nos projetos anteriores. Nessa segunda fase, duas novas universidades, sem experiência prévia na área de pavimentação, foram incorporados à Rede. Com essas universidades (UFS e UFPA) foi repetida a fase de iniciação realizada com as outras instituições, no período anterior. 176 No decorrer das entrevistas realizadas com o coordenador da Rede Asfalto, foram destacadas as ações do PC02, da Fase 2, qual seja, “Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial”. Nesse projeto, houve a parceria com a Armtec, empresa local cearense, para a confecção de um equipamento a ser utilizado nas pesquisas. Por esse motivo, foi entrevistado o Eng. Roberto Macedo, diretor da empresa. O histórico de tal projeto, que contribuiu, juntamente com a criação do Laboratório de Automação e Robótica da UFC, para a inclusão da área de automação nas competências da Rede Asfalto, revela que, mais do que competências, a Rede vem estimulando a capacitação científica e tecnológica regional, como será visto no tópico a seguir: 3.2.3.1 PC02 (Fase 2) - Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial A Armtec, jovem empresa cearense, fundada em julho de 2004, é uma fabricante e montadora de equipamentos e atua com tecnologia nas áreas de segurança pública, Óleo e Gás, dentre outras. Tendo conquistado alguns prêmios, dentre eles o Prêmio Finep, e, também por fazer parte da Rede de Fornecedores da Petrobras (Redepetro), foi indicada a participar de um processo licitatório internacional, promovido pela Associação Técnico-Científica Engenheiro Paulo Frontin (Astef), para a Rede Asfalto, com vistas a aquisição de dois equipamentos no âmbito do PC02 (Fase 2). A Armtec foi empresa incubada na Universidade Fortaleza (Unifor), criada a partir de um trabalho de conclusão de curso de Engenharia de Sr. Roberto Macedo, seu Diretor, que gerou o Robô Sistema de Apoio de Combate a Incêndios (Robô Saci), patenteado pela Armtec. O pai do Eng. Roberto, de mesmo nome e, também, engenheiro, havia trabalhado durante muitos anos na Petrobras e apoiou o filho na iniciativa do robô e na criação da empresa42. No referido processo licitatório, concorreu uma empresa francesa que fabricava o equipamento e detinha a propriedade da tecnologia. A Armtec apresentou o melhor preço e 42 Essa informação torna-se importante, vez que revela, em parte, o retorno dos investimentos em capacitação na Petrobras, que acabaram retroalimentando ao sistema (feedback) por meio dessa iniciativa. 177 técnica. Um marco importante da entrada da Rede Asfalto na área de automação foi a sua decisão, apoiada pelo Ceasf, de assumir o desafio de, ao invés de adquirir um dos equipamentos previstos no PC02 de 2004 (mesa compactadora/simulador laboratorial) com o detentor da tecnologia, realizar o desenvolvimento e fabricação internamente na UFC, em parceira com a empresa local (Armtec). Contribuiu para essa decisão a grande dificuldade da Rede com os custos da manutenção dos equipamentos até então adquiridos no âmbito dos projetos contratados. O resultado de tal ação foi a construção do equipamento. Mais importante, possibilitou a formação de uma capacitação física e de recursos humanos para o desenvolvimento de outros equipamentos, como o de carga repetida, já desenvolvido pelo arranjo local UFC/empresa. Para o gestor da Armtec, a Rede Asfalto foi um marco na história da empresa, e representava, na época da entrevista, 100% do faturamento na área de asfalto. Esse processo contou, além da empresa local, com a participação de alunos de graduação e pós-graduação da universidade âncora. Os equipamentos estão sendo comercializados por valores inferiores aos de mercado e com inovações como o controle de temperatura das amostras e manutenção modular43, volume reduzido e aumento da capacidade, dentre outros. A Armtec produz equipamentos com um índice de nacionalização de 80 e 90% (a Petrobras exige acima de 65%) e é empresa parceira da Rede Asfalto. Na parceria Armtec/UFC, a Rede Asfalto presta consultoria e avalia os equipamentos produzidos pela Armtec, e estes, estando em conformidade, recebem o Certificado de Qualidade Rede Asfalto, que é representado por um selo estampado nos equipamentos. A idéia é que, com isso, 5% do faturamento bruto de cada venda dos equipamentos retorne para a Rede (sob a forma de royalties)44. A Armtec fica com o direito exclusivo de industrialização e comercialização. A Armtec possui várias formas de relacionamento com a Rede Asfalto, são elas: fornecedor de equipamentos para os projetos da Rede Asfalto; projetos em comum, em que a Armtec é a executora e a UFC interveniente, sendo que o projeto de pesquisa é feito em conjunto; 43 Manutenção modular significa que se houver um problema no equipamento, identifica-se o local, retira-se o módulo correspondente e este é substituído por outro igual. São equipamentos de fácil operação e manutenção. Esse sistema evita o vínculo de manutenção exigido por outros fabricantes de equipamentos. 44 A Universidade ainda está aguardando pronunciamento final da Petrobras sobre tal possibilidade. 178 parceria em que a Armtec produz o equipamento e gera royalties de retorno para a Rede Asfalto; contratação da UFC pela Armtec dentro de projetos seus. A parceria para a fabricação de equipamentos destinados à Rede constitui-se em uma inovação da gestão na Rede Asfalto, e o desenvolvimento do equipamento, uma inovação de produto. A partir da engenharia reversa45 do equipamento fabricado pela empresa que detinha a tecnologia no mundo, desenvolveu-se um novo equipamento com tecnologia igual ou superior aos concorrentes com preços e volumes menores, baixo consumo de combustível e de material necessário para a sua produção. Além disso, todas as peças do equipamento são rastreáveis e sua manutenção é modular, como já explicitado. Os preços são muito menores do que o equipamento estrangeiro. Para se ter uma idéia, conforme o fabricante nacional, com o valor de um equipamento estrangeiro se compra em média dois equipamentos nacionais. O Projeto Cooperativo PC02 (Fase 2) destacou-se pela geração e desenvolvimento de tecnologia próxima à fronteira tecnológica internacional e pela absorção de conhecimento em novas tecnologias. Conforme Macedo (2008), Diretor da empresa local, foi realizada engenharia reversa de equipamento francês: [...] a tecnologia, só a França tinha o domínio. Em um ano, a Armtec gerou um novo equipamento e fez um estudo de toda a tecnologia existente; conhecemos o equipamento em SP, na USP. Eu precisava saber o que? O que gerava patente para aquele equipamento. Simplesmente, a nossa equipe fez o seguinte: isso aqui eu tenho que gerar uma nova solução tecnológica, isso aqui também e tivemos que agregar outras coisas para gerar uma nova patente. (MACEDO, 2008). Além disso, como não havia competência instalada em pavimentação na Armtec, esta foi conseguida por meio da Rede Asfalto: a P&D foi gerada a partir de conhecimento em ciência e tecnologia, desencadeando numa série de novos projetos em conjunto, e que capacitou a empresa para atuar em outras áreas e mercados, como revela o depoimento abaixo: 45 A engenharia reversa consiste em usar a criatividade para, a partir de uma solução pronta, retirar todos os possíveis conceitos novos ali empregados. É o processo de análise de um artefato (no caso, um equipamento) e dos detalhes de seu funcionamento, geralmente com a intenção de construir um novo aparelho ou programa que faça a mesma coisa, sem realmente copiar alguma coisa do original. 179 Nós entramos na área de ultrassom e processamento de imagem por causa da Rede Asfalto. No projeto do robô de avaliação de pavimentos asfálticos (robô Rapas), semi-autônomo, nós entramos por causa da Rede Asfalto. Competência em hidráulica e pneumática, a empresa ganhou por causa dos projetos da Rede Asfalto. Competência em desenvolvimento de software para interface homem-máquina e na área de grandes estruturas, foi por causa dos projetos da Rede Asfalto. Muitas das competências na Armtec foram ganhas ou com vendas de equipamentos e/ou projetos em parceria com a Rede. Nossa área de competência em cooperação internacional também começou com a Rede. Nossa primeira prospecção nos EUA ocorreu por causa da Rede Asfalto. Esta Rede teve papel decisivo no crescimento de negócios e competência tecnológica da empresa, quer seja por treinamento, quer seja por demanda. [...] Dentro da Rede Asfalto, somos o braço de automação; temos competência em equipamentos. Eles têm competência em química, ligantes, misturas e etc... (MACEDO, 2008). No que se refere aos objetivos de aprendizagem, é clara, no PC02, a estratégia de desenvolver equipamentos similares aos estrangeiros e com preços mais acessíveis: Nós somos uma ferramenta de inserção tecnológica social. Geramos tecnologia igual ou superior ao mercado com preços menores. Conseqüentemente, mais gente pode ter acesso à tecnologia. Antes, com o valor que uma universidade podia comprar um equipamento tipo o Siembs, hoje pode comprar dois. É uma diferença (de preço) muito grande. [...]. Antes, você só conseguia comprar equipamento para um ensaio, hoje você já pode comprar um equipamento como o nosso que serve para realizar três tipos de ensaio. E você já faz seu ensaio com controle de temperatura automático, frio ou quente, o que, com os outros você não consegue fazer. Então, implantamos uma série de melhorias; e tudo automático. (MACEDO, 2008). Sobre o modo de aprendizagem e aquisição de capacidade tecnológica, esta acontece no desempenho da própria atividade de P&D, no treinamento, que muitas vezes, acontece em parceria com os pesquisadores da Rede Asfalto, como já citado, e, também, a partir da contratação. Interessante o depoimento do Diretor da Armtec sobre as formas de relacionamento com a Rede Asfalto; e uma delas é a contratação da UFC dentro de projetos seus: Temos agora um contrato com a UFC de R$ 50.000 para desenvolvimento de capacidade tecnológica (esse projeto foi alavancado pela Rede). No projeto com o Pappe, da nova mini-usina, o valor total do projeto é de R$ 500.000; a Armtec investe R$ 70.000 e há os recursos do Governo Federal. Dentro deste Projeto, a gente contrata a UFC. E vamos gerar quatro equipamentos que ficarão dentro da universidade por seis meses. Então, vai existir uma rede interlaboratorial entre três universidades, que vão estar utilizando equipamentos, realizando análises e podendo utilizá-los economicamente. Agora, ao invés de fazer um corpo de prova a cada quinze minutos, você pode fazer quarenta corpos de prova homogêneos por hora. Por isso que o Misturador Técnico Brasileiro (MTB) é interessante. A nova 180 usina vai ter controle de capacidade muito superior e um controle de processo extraordinário. Nós fomos atrás, fizemos os projetos e levamos para a Rede Asfalto. (MACEDO, 2008). De acordo com Macedo (2008), a Armtec tem acesso à bases de dados internacionais e possui competência em robótica, dentre outras. De acordo com o seu Diretor, a Armtec utiliza a capacidade ociosa dos fabricantes de peças do Estado, que estava em 15% na época da entrevista, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Ceará. O projeto é desmembrado em várias partes, entrega-se planta, especificação e o que for mais necessário, aos vários fornecedores, e, com cada um, faz-se um acordo de confidencialidade. A Armtec faz a montagem final, o software e algumas peças especiais. Os equipamentos e sistemas até então produzidos para pavimentação na Armtec foram: Equipamento Laboratorial de Simulação de Tráfego (Sistran) - possui dois módulos: um compactador e um simulador. Permite testar diferentes tipos de pavimentos asfálticos, de modo a estabelecer se o pavimento testado está ou não de acordo com o tráfego específico da área a ser pavimentada; consegue detectar envelhecimento do pavimento asfáltico. Ganhou Prêmio Finep 2007 na categoria de melhor produto; Sistema Integrado de Ensaios para Misturas Betuminosas e Solos (Siembs) - é composto por dois módulos: módulo de ensaio e de controle (no qual ocorre o controle, monitoramento e coleta dos dados dos ensaios). Possui plataforma universal com elevação automática - podendo um mesmo operador fazer todos os ensaios. Há controle de temperatura e pode-se fazer três ensaios distintos; Misturador Técnico Brasileiro (MTB) - produz 30 a 40 corpos de prova homogeneizados, com mesmo processo, mesma temperatura. Consegue ter controle de qualidade superior e mais rápido do que seus concorrentes; Sistema de Levantamento Visual Contínuo (SLVC) - sistema capaz de apoiar a realização de inspeção visual em trechos pavimentados; Robô de Avaliação de Pavimentos Asfálticos (Rapas) - faz avaliação do asfalto com tecnologia de ultrassom e processamento de imagem para controle de qualidade nas estradas. 181 Esses equipamentos, de acordo com Macedo (2008), foram adquiridos por algumas universidades, a exemplo do Coppe/UFRJ, UFC e UFS. Como clientes potenciais foram citados a UFBA, UFAM, Betumel (empresa de construção), Nova Dutra Concessionária (CCR), UEMA, IPT e uma outra empreiteira em Recife. Além dos quatro projetos da Fase 2, houve um quinto projeto contratado intitulado “Caracterização química e reológica de cimento asfáltico a base de petróleo brasileiro”, relacionado ao tema Ligantes, no âmbito do Edital Transversal da Finep (2005 - 2007), também com contrapartida da Petrobras. Esse último projeto relaciona-se às temáticas da Rede Asfalto, e é resultado de suas pesquisas; no entanto, não é propriamente um projeto cooperativo da Rede Asfalto, pois, por questões operacionais, não foi submetido ao edital das Redes N/NE. O objetivo geral deste projeto foi estudar a química e a reologia do ligante asfáltico de petróleo brasileiro para uma melhor compreensão dos processos envolvidos, desde a preparação da mistura asfáltica até a sua aplicação, considerando as diversas técnicas utilizadas atualmente em pavimentação. Mais quatro Projetos Cooperativos encontravam-se em andamento à época das entrevistas, relativos à Fase 3 (2007 - 2009), quais sejam: PC01 que trata de Química e reologia de ligantes asfálticos (continuação do projeto citado anteriormente e realizado no âmbito do Edital Transversal da Finep (2005 - 2007)); PC02 - Definição de metodologias de dosagens e ensaio de misturas asfálticas e da viabilidade do emprego de rejeitos ambientais como materiais para pavimentação, PC03 – Estabilização de solos com uso de rejeitos e; PC04. Infelizmente, não foi possível a entrevista com o coordenador do PC04, coordenado pela UFPE, por motivos de agenda. A seguir são apresentados os projetos investigados referentes à Fase 3 da Rede Asfalto. 3.2.3.2 PC01 (Fase 3) - Química e reologia de ligantes asfáticos O Projeto Cooperativo PC01 (Fase 3) - Química e reologia de ligantes asfáticos, coordenado pela UFC, visa verificar a propriedade dos fluxos dos ligantes dos asfaltos, visto que em todo o processo de pavimentação existe uma adequação das características da viscosidade (uma propriedade do fluxo) dos ligantes para fazer o processamento na usina e na compactação. Prepara-se e caracteriza-se o ligante e é verificado, também, o seu 182 envelhecimento a curto, médio e longo prazos, observando a evolução dos grupos químicos e sua oxidação. Esse projeto é derivado do Projeto submetido ao Edital Transversal Finep/CNPq. Participam do PC01 (Fase 3) a UFC (Instituto de Química, Engenharia e Física), Unifacs e a UFS. No entanto, a Unifacs precisou desligar-se do projeto, pois sua pesquisadora, a Profa. Dra. Sandra Oda, foi transferida para o Coppe/UFRJ. Essas universidades começaram a participar de projetos em comum a partir da Rede Asfalto. O Instituto de Física da UFC participa, informalmente, do projeto, ao disponibilizar seu microscópio para uso nas pesquisas. Pela UFC, participam desse projeto o grupo da área de Ligantes: quatro professores doutores, uma pesquisadora bolsista do Proset/CNPq, quatro estudantes de doutorado, dois de Mestrado e quatro alunos da graduação. Pela UFS, participam uma professora doutora e um bolsista. Esse grupo também trabalha, além do projeto PC01 da Rede Asfalto, em outros projetos CNPq/CT-Petro/Proset, MCT/CNPq/Universal e outro submetido diretamente ao CNPq. Ambas as universidades participantes, atualmente, UFS e UFC, têm o equipamento chamado reômetro, que foi adquirido pelo Edital Transversal Finep/CNPq, e possuem, em princípio, competências similares. A maior parte dos equipamentos essenciais à pesquisa é de origem estrangeira. O PC01 envolve tanto a pesquisa básica quanto a aplicada (aplicação nos ligantes). Conforme a Coordenadora do Projeto: “Esses parâmetros reológicos é que vão dar uma indicação de que ele é bom, adequado ou não, para acabar nos pavimentos asfálticos”. (SOARES, 2008b). Em relação às bases de conhecimento envolvidas no projeto, facilidades e recursos, que incluem o acesso de todos ao Portal da Rede Asfalto com material bibliográfico, artigos, teses e dissertações geradas na Rede, o depoimento abaixo ainda da Coordenadora de Projeto esclarece: A gente busca na literatura científica mundial[..] tem um portal aqui que eu posso acessar trabalhos dos pesquisadores do mundo inteiro e as universidades têm acesso a isso. [...] Isso é uma base de conhecimento; a gente inova, cria, trabalha, estuda, tudo isso dentro do embasamento que a gente propõe. Até porque quando a gente vai fazer um projeto tem que saber o que já existe [...]. (SOARES, 2008b). 183 As universidades participantes do projeto adquirem capacidade e aprendem, principalmente, por meio do treinamento dos pesquisadores e alunos e do estudo, interagindo com universidades que já estão mais avançadas no tema em referência e com o próprio Cenpes: Nós tivemos um curso de Reologia no Cenpes, no Rio de Janeiro, com a Profa. Rosário e nós levamos alguns alunos para lá, o pessoal da UFS, da USP, um grupo maior. Foi um curso de reologia geral, não especificamente de ligantes. Existe, também, a possibilidade de nossos alunos irem treinar nos novos equipamentos que nós vamos receber; temos agora aqui um equipamento de ressonância magnética nuclear, e Prof. Edilberto é o coordenador do laboratório. Nós estamos acostumados a trabalhar com ressonância magnética nuclear com polímeros, polissacarídeos, e começamos também a trabalhar com ligantes asfálticos. E para melhorar esse conhecimento, eu achei interessante que um de nossos alunos fosse visitar o Cenpes para ver o que o pessoal que trabalha lá com ressonância faz com os ligantes. Essa possibilidade existe e a interação acontece. Acho que foi uma proposta que partiu da Leni (Cenpes) de uma rede de treinamento em reologia, e nós fazemos isso, eles nos recebem. É muito boa essa parceria. Não somente para a universidade. (SOARES, 2008b). Como objetivos de aprendizagem, têm-se a pesquisa e a compreensão das propriedades dos fluxos dos ligantes existentes, utilizando os equipamentos e tecnologias disponíveis, e o desenvolvimento de novos ligantes com características adequadas, para que seja verificada sua adaptação, como no caso do líquido da castanha de caju (lcc) e da utilização da glicerina nas misturas asfálticas. A intenção dos pesquisadores é no futuro patentear esses novos ligantes, conforme a Coordenadora do Projeto: “[..] a intenção é patentear, mas ainda estamos iniciando, comprando os equipamentos” (SOARES, 2008b). Como resultados gerais do PC 01 (Fase 3), têm-se: capacitação por meio do curso de reologia geral, no Rio de Janeiro; um maior intercâmbio com o Cenpes; prestação de serviços, em parceria com o LMP/UFC, ao Tribunal de Contas da União (TCU), para verificação e controle do material asfáltico utilizado em estradas, sugerindo procedimentos mais adequados, como, por exemplo, quais tipos de materiais utilizar e como melhorar a combinação destes. 184 3.2.3.3 PC02 (Fase 3) - Definição de metodologias de dosagens e ensaio de misturas asfálticas e da viabilidade do emprego de rejeitos ambientais como materiais para pavimentação O Projeto Cooperativo PC02 (Fase 3) é coordenado pela UFBA e está em sua terceira etapa, sendo derivado dos outros dois já realizados, quais sejam: PC02 (Fase 1) - Caracterização mecânica de misturas asfálticas com agregados regionais e asfaltos produzidos por refinarias das regiões N/NE e; PC02 (Fase 2) - Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial. A Fase 3 teve investimentos por parte da Rede Asfalto, em torno de R$ 350.000,00 e da Rede Temática (Fase 1), em torno de R$ 500.000,00. Participam do projeto todas as universidades membro da rede: UFAM, UFPA, UEMA, UFC, UFRN, UFCG, UFPE, UFBA, Unifacs e UFS. Não havia parceria formal anterior entre a UFBA e essas universidades, sendo a Rede Asfalto uma iniciativa que reuniu tais instituições nesses projetos em comum. Da UFBA, participam dois professores, sendo que um está cursando Doutorado em São Carlos (SP), bolsistas contratados para o projeto e um funcionário do Derba. Há um grupo de engenheiros de vasta experiência no mercado que, voluntariamente, uma vez por mês, se reúne com a UFBA para traçar diretrizes, verificar como estão os projetos e apresentar sugestões. Nesse projeto, o tema e as atividades são os mesmos para as universidades participantes; a metodologia, também, deve ser a mesma; a diferença entre as atividades é o tipo de material escolhido para o trabalho e, conforme os equipamentos disponíveis e a capacitação das pessoas, as análises que podem ser realizadas. Como o Projeto PC 02 (Fase 3), sobre agregados, é derivado de dois anteriores, conforme citado anteriormente, a experiência fez com que a base de conhecimento já não fosse mais puramente operacional (como operar os equipamentos existentes), mas se passou a ter uma preocupação com a qualidade e uma metodologia que garantisse a confiabilidade e a comparabilidade aos resultados. O objetivo de aprendizagem do projeto PC02 (Fase 3) é melhorar os ensaios básicos em termos de qualidade de processo, adaptação ou criação de metodologia mais adequada, ou seja, é o que Dantas e Bell (2006) chamam de “adaptação de tecnologias, criação de designs próprios e absorção de design e conhecimento em C&T”. 185 Como afirma um Coordenador de Projeto da Rede Asfalto: “[..] fazer um programa de misturas asfálticas que tenha padrão de qualidade”. (CAMPOS, 2008). Em relação às atividades tecnológicas e mudanças implementadas, tem-se que uma parte dos equipamentos disponíveis na área é estrangeira: “O Falling Weight Deflectometer (FWD) e o Ground Penetrating Radar (GPR) são americanos. O perfilômetro a laser é nacional. Este mede o conforto para o usuário, verifica se a estrada está ondulando muito ou não [...]”. (CAMPOS, 2008). A UFBA resolveu não adquirir os equipamentos da Armtec, nacionais. Para a realização das pesquisas, o projeto está tentando adaptar uma metodologia única para todas as universidades: No PC02, como é um processo que a gente está treinando e montando um laboratório de pavimentação, todos fazem a mesma atividade. Neste caso específico, usam material alternativo, mas o procedimento é igual para todas as universidades. Inclusive, a gente está fazendo agora um programa interlaboratorial. A UFC está preparando um material para mandar para todas as universidades fazerem os ensaios; aí, a gente vai poder comparar as dispersões que estão tendo nos diversos laboratórios. No programa interlaboratorial, vai ser o mesmo material para todas. (CAMPOS, 2008). O modo de aprendizagem, como adquirem capacidade, acontece por meio dos cursos de especialização que foram criados (os quais serão vistos adiante), da troca de experiência entre as universidades que estão mais avançadas na pesquisa, como a UFC, do próprio aprender fazendo a pesquisa e, também, utilizando-se da experiência de voluntários do setor que se reunem todas as sextas-feiras com o grupo do PC02 (Fase 3). Conforme o depoimento do seu Coordenador: Temos o Anibal, que trabalha no Derba e na UFBA e faz uma ponte (com o governo); ele tem muita experiência com pavimentação. Temos a Angélica que trabalha no projeto da Caraíba Metais e cujo tema é correlato à dissertação dela; temos o Alexandre que está no laboratório e fez mestrado e a gente está pretendendo que ele junte material para o doutorado dele. Temos mais um grupo de pessoas que são assessores nossos, engenheiros com vasta experiência no mercado, que uma vez por mês reúnem-se conosco para traçar diretrizes e verificar como estão os projetos da Rede Asfalto e dão uma linha [...] Esses consultores são voluntários. (CAMPOS, 2008). Quanto às facilidades e aos recursos disponíveis, estes são resultado do fato de a UFBA ter um bom relacionamento com os órgãos governamentais locais, a Rlam, a Caraíba Metais, dentre outros, além de possuir base de conhecimento de artigos internacionais e permitir a troca que ocorre frequentemente com os diversos atores da rede, o que amplia o estoque de conhecimento e exercita o aprendizado. 186 Como resultados gerais do PC 02 (Fase 3), têm-se: ampliação do conhecimento sobre os materiais asfálticos; capacitação e reciclagem de recursos humanos para a área de pavimentação, por meio da realização de três turmas de especialização na UFBA; maior interação com o setor produtivo - Rlam, Caraíba Metais, Ferbasa, Gerdau (fornecimento da escória de aciaria), empreiteiros, Derba, Dnit e Prefeitura Municipal de Salvador; divulgação da Rede Asfalto e dos equipamentos e serviços disponíveis para órgãos do Estado, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e Tribunal de Contas do Estado (TCE), que fiscalizam obras e; intercâmbio de estudantes entre as universidades da Rede e a UFC, Coppe/UFRJ e USP, para capacitação, bem como troca de experiências em seminários da Rede Asfalto. 3.2.3.4 PC03 (Fase 3) - Estabilização de solos com o uso de rejeitos ambientais para aplicação em pavimentos asfálticos O Projeto Cooperativo PC03 (Fase 3) é coordenado pela UFS e, também, é uma continuação do PC02 inicial, qual seja “Caracterização mecânica de misturas asfálticas com agregados regionais e asfaltos produzidos por refinarias das regiões N/NE”. Teve como investimento o valor de R$ 500.000,00, incluindo o primeiro projeto, até a data da entrevista. Participam desse projeto a UFS, UFBA, UEMA, UFC e UFAM. Devido ao fato de não possuir tradição na área de pavimentação, a UFS não tinha relacionamento formalizado com universidades, que lhe foi permitido a partir de seu ingresso na Rede Asfalto. Da UFS, participam três professores, dentre mestres e doutores, dois alunos de Iniciação Científica e um aluno de Mestrado em Engenharia. O professor que coordena esse projeto da Rede Asfalto é responsável, também, por uma Rede Temática de Asfalto e o Programa de Integração Tecnológica (Prointec), voltado à prestação de serviços junto à comunidade. Há poucas pessoas disponíveis para tocarem os projetos. No PC03 (Fase 3), as universidades desenvolvem as mesmas atividades (estudando problemas comuns em diferentes localidades) e utilizam a mesma metodologia para as diferentes universidades participantes do projeto. O que as difere é que nem todas as instituições têm os mesmos equipamentos e utilizam materiais alternativos diversos. 187 Como uma continuação do PC02 inicial, o PC03 (Fase 3), de uma base de conhecimento puramente operacional, passou-se, nesse segundo momento, ao conhecimento de design (metodológico), uma vez que, conforme depoimento do Coordenador do Projeto: Como nesse projeto todas as universidades realizam as mesmas atividades de pesquisa, em princípio, deveria ser usada a mesma metodologia. No entanto, estava havendo falta de sintonia; por exemplo, faz-se a mistura solo com emulsão, que é um dos materiais para estabilizar bases e sub-bases. Depois dessa mistura, quanto tempo devemos esperar para moldar o corpo de prova? Alguns deixavam dez minutos. Outros misturavam, já compactavam, faziam a amostra e já iam romper. Outros deixavam uma hora e sete dias curando e depois iam romper. Então, isso não estava padronizado [...] e nós detectamos essa falha numa reunião recente. Avaliamos esta situação, que não dava para comparar. É importante que todos sigamos a mesma metodologia. [...] Então, a gente faz um levantamento do que já foi feito nesse tema e tenta ajustar essa metodologia em função de resultados obtidos previamente. (CAVALCANTE, 2008). Dessa forma, o projeto adapta tecnologias, metodologias, cria designs próprios e absorve designs e conhecimento em C&T, a partir da literatura existente e da prática dos ensaios: A idéia é tanto adaptar como criar. Se puder criar, melhor ainda, porque pode gerar patente. Se puder adaptar, também. O que a gente tem feito é usar materiais de pavimentação locais [...] nas diversas instituições da Rede. Estudar este material de forma tecnicamente adequada, para que apresentemos para a cadeia produtiva quais são as melhores maneiras de utilização. Em seguida, estudar as alternativas, digamos, por exemplo, que lá no Amazonas não tenha brita granítica, que é utilizada convencionalmente em revestimentos asfálticos.[...] A idéia é usar fontes de materiais locais, com tecnologias adequadas, e aí gerar novos produtos para o setor utilizar. (CAVALCANTE, 2008). Adquire-se capacidade por meio do treinamento, da realização dos ensaios e da troca de experiências, do compartilhamento de equipamentos com as demais universidades, conforme explicitado a seguir pelo Coordenador deste Projeto da Rede Asfalto: Quando entrei em 2004, quando o Jorge me convidou, fiquei meio “pé atrás”, porque minha base de formação é geotecnia pura e eu entrei numa Rede Asfalto. Eu não fiz doutorado em pavimentação, e pensei: terei que me adaptar. Entretanto, não há pavimento sem as camadas de base e subbase, que é solo, ou brita e outras coisas. Se eu entrar vou me capacitar, capacitar meus técnicos e formar uma estrutura para isso [...]. A gente instalou o Siembs, equipamento produzido pela Armtec. A UFBA ainda não tem, a UFC já tem [...]. E os outros parceiros que não têm? Aí é que vem a importância de uma rede de pesquisa: se eu não tenho o equipamento aqui, eu posso passar para um parceiro que tem e eu mando para ele fazer o teste para mim. (CAVALCANTE, 2008). 188 Na medida, também, em que uma nova metodologia é adaptada e desenvolvida, o aprendizado é adquirido e incorporado às capacidades e competências da Rede Asfalto. Em relação às facilidades e recursos de Dantas e Bell (2006), tem-se que o compartilhamento de informações e equipamentos, a constante troca entre os atores e a experiência de cada um, aliada ao acesso às bases científicas e ao contato com os parceiros locais, dão suporte à criação de design (no caso, mais metodológicos) e aos recursos de P&D. Há, também, problemas que a cadeia produtiva enfrenta, conforme depoimento a seguir: Por que a gente está tentando estabilizar esses solos com rejeito ambiental? Porque já está faltando aqui no Estado de Sergipe material para base e subbase de pavimentos de boa qualidade, principalmente para a base. E existem diversas jazidas de solos, que, com uma metodologia adequada de estabilização, podem ser aplicadas no material de base. Isso que a gente está fazendo aqui no projeto é para que a gente desenvolva um projeto de pesquisa que mostre que é viável, que este material pode ser aplicado na prática, desde que se use metodologia adequada, produzida em laboratório, claro, com acompanhamento de campo. A idéia é que a gente tenha um trecho experimental após a etapa de laboratório, em parceria com os órgãos, e comprove no campo o que a gente testa em laboratório. É outro passo que precisa ser dado. (CAVALCANTE, 2008). A interação com o setor produtivo é uma das metas da Rede, e sob esse aspecto, conforme o Coordenador do Projeto PC03, há dificuldades: Ainda falta muito. Podemos prestar consultoria utilizando o equipamento. A gente não está conseguindo atingir este nível. Em Sergipe eu fico preocupado, porque ainda não consegui trazer esses parceiros para cá [...]. Eu sinto desconfiança, como se nós não pudéssemos resolver os problemas deles. Porque nós vivemos aqui muito tempo sem ter interação e, a partir do momento, que a gente começa a ter isso, a criar a cultura, para mobilizar essas pessoas..a gente está tentando fazer, a gente tem condições de fazer. [...] Eles acham que a gente é muito teórico. (CAVALCANTE, 2008). Como resultados gerais deste projeto têm-se: restauração de equipamentos que estavam abandonados nos laboratórios e a compra de novos; reforma do laboratório da UFS e ampliação; estímulo à criação do projeto da pós-graduação; capacitação dos alunos e técnicos, inclusive nos novos equipamentos; estudo de novos produtos, novas metodologias, novas técnicas em engenharia de pavimentos, novas formas de utilização do asfalto e do material produzido pela indústria do asfalto; implantação do trabalho de conclusão de curso (TCC) em 2007 na UFC; geração de um projeto na Rede Temática com a UN-BA Taquipe, UFS, Coppe/UFRJ e o Cenpes, com o objetivo de estudar os resíduos gerados em Taquipe, para com estes verificar a viabilidade de aplicá-los em solos, fazer um trecho experimental nesse 189 local e estudar o material em laboratório, experimentando-o em certo tempo - o projeto está em avaliação pelo Cenpes - ; formação de laços de amizade; e criação de parcerias, ainda, informais, com o governo e setor produtivo. 190 3.2.4 Rede Asfalto: capacidades e competências científicas e tecnológicas A chegada dos recursos do CT-Petro para o estudo da pavimentação foi muito bem vinda depois da falta de investimento de quase duas décadas, conforme relatado por Campos (2008). Para os que ainda trabalhavam na temática, principalmente fora do eixo RJ-SP, faltavam equipamentos para o desenvolvimento de estudos, pessoal capacitado, bolsas, alunos interessados, recursos para manutenção de equipamentos antigos e envio de material para análise nos grandes centros. Mesmo diante desse cenário, foram envidados esforços pela UFC, muita dedicação, além da continuidade e do fortalecimento de uma parceria com o setor produtivo (Lubnor). O Prof. Jorge Soares da UFC foi e continua sendo uma liderança presente e dinâmica que possui alta capacidade de articulação e que vem mantendo um relacionamento de confiança e parceria com os diversos atores. De acordo com o representante da Lubnor: “Jorge Soares, o grande mentor intelectual da Rede Asfalto, é um gigante, um ponto fora da curva. Impressionante, uma máquina para trabalho”. (GURGEL, 2008). O entusiasmo e a confiança inspirados pelo Prof. Jorge Soares refletem-se na motivação das equipes, no desenvolvimento de novas parcerias com o setor produtivo e governamental, nos resultados obtidos e no crescimento das áreas de atuação da Rede, que passaram de duas (ligantes e misturas), na Fase 1, para seis áreas de atuação (ligantes, misturas, automação, análise de pavimentos, gerência de pavimentos e solos) nas demais fases. Na área da pavimentação, o Cenpes/Petrobras trabalhava muito com universidades e centros de pesquisa do Sudeste, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), mas não havia capacitação nem competência no Norte/Nordeste, conforme depoimento de Representante da Coordenação da Rede Asfalto pela Petrobras: Então, na época, tínhamos contrato com a USP, UFRJ e IPT. [...]. Com o anúncio da chegada de recursos, o Prof. Jorge Soares, recém-chegado do doutorado no Texas [...] viu a chance de se colocar, até porque no CT-Petro, 40% dos recursos estava direcionado ao N/NE. Então, a Lubnor (o Eng. João Augusto), junto com o professor viram a oportunidade [...] e, como na nossa área não tínhamos nenhum contrato com universidades desta região, até porque o Nordeste não tinha condição, naquela época, nem capacitação, nem equipamentos, nós conseguimos verba para capacitá-los. O Prof. Jorge Soares iniciou contato conosco em 1998/1999, a UFC ainda não era rede. Diferentemente das universidades do Sudeste e Sul do Brasil, que já tinham contrato conosco, ele participou para que a UFC recebesse recursos e fosse 191 capacitada. Ele comprou equipamentos, alguns modernos. [...] e como o Prof. Jorge trabalha muito bem, e naquela época, as bolsas da ANP já estavam presentes para sustentar o desenvolvimento do Nordeste [...] então, muitos alunos (da Química, Engenharia Química, Engenharia Civil e Engenharia de Transporte), estimulados pelo entusiamo do Prof. Jorge e pelos recursos disponibilizados, foram para a área da pavimentação, que cresceu e gerou frutos [...]. (FIGUEIREDO, 2008). Com muito trabalho, divulgação dos resultados e relacionamentos de confiança, construídos no decorrer do tempo, foi conseguido um espaço importante para desenvolver pesquisa. O desenvolvimento da capacitação da UFC ocorreu mesmo antes da criação da Rede Asfalto, a qual contribuiu, mais tarde, potencializando seu próprio crescimento e também dos parceiros, cujo relacionamento iniciou-se a partir do zero; não havia histórico de parcerias com outras universidades do Norte/Nordeste, conforme depoimento a seguir: Então, foi tudo progredindo, e, em 2001, quando vieram as Redes N/NE, o Camerini (Gestor do Cenpes na época) ficou bastante impressionado com o que a UFC conseguiu fazer em tão pouco tempo e aprovou uma rede pequena, mas aprovou, no Nordeste. E ele [o Prof. Jorge Soares] começou, sem conhecer ninguém, começou do zero, não conhecia os professores das outras universidades. Em 1999, ele era recém-chegado de uma universidade do exterior. (FIGUEIREDO, 2008) Houve muito apoio do Coppe/UFRJ, no início, para a realização de ensaios e para a realização do curso de Especialização em Engenharia Rodoviária, em 1998. Este foi um curso para 40 pessoas, entre engenheiros do Dert e do Dnit, do Mestrado Interinstitucional e, também, do Doutorado. Construiu-se um relacionamento de confiança. A Profa. Laura Motta (Coppe/UFRJ) é considerada a “madrinha” da iniciativa da UFC, por todo o apoio oferecido para o desenvolvimento da capacitação dessa universidade na área de pavimentos. Conforme o Coordenador da Rede Asfalto: “Prof. Laura Motta, decana da área de pavimentação, [...] por quem nutro um respeito enorme e sempre gosto de mencionar. A Laura apoiou muito a iniciativa no Ceará”. (SOARES, 2008a). Nas demais universidades, foi, principalmente, a partir da entrada na Rede Asfalto que se estimulou a criação de cursos de capacitação (Especialização, Mestrado e Doutorado) em pavimentação ou, caso já existissem, a inserção do tema numa linha de pesquisa. A UFBA, por exemplo, com a entrada na Rede, criou um Curso de Especialização em Pavimentação (CEP) que já formou três turmas e serviu tanto para a reciclagem de pessoas que atuavam na 192 área como práticos, quanto para a formação de novos profissionais na UFBA e seus parceiros locais: Antes não havia nada em pavimentação aqui. Aqui na UFBA somente tínhamos uma disciplina de Pavimentação no Departamento de Transportes. E, com essa movimentação que a UFC gerou, a gente achou que era uma área interessante de entrar e começamos a fazer parte da Rede.[...] Nós não tínhamos competência nem capacidade instalada para pesquisa em pavimentação. Então, fizemos um curso. Trouxe o que havia de melhor no país para cá, os maiores especialistas, e hoje já temos competência na UFBA para não precisar trazer mais ninguém de fora. Temos um programa interinstitucional e os contatos pessoais [...]. No primeiro curso, tivemos boa parte dos alunos vindos do Derba e da Prefeitura de Salvador; no segundo, muitos empreiteiros e no terceiro, foram mais empreiteiros e o Dnit. Então, nossos parceiros (da Rede Asfalto) estiveram envolvidos na especialização. (CAMPOS, 2008). No que se refere à capacitação de laboratório, a UFBA desenvolveu uma parceria, em particular, com o Derba, conforme depoimento a seguir: A UFBA está entrando com capacitação de laboratório, que naquela época não havia. O laboratório da UFBA é de referência em mecânica dos solos. A parte de geotecnia e pavimentação está se equipando agora. A gente está equipando, neste momento, muito mais a parte de campo do que laboratório, que será um segundo momento neste outro projeto [...] Como o recurso inicial que conseguimos de cerca de R$ 30.000 não era suficiente para montar o laboratório, fizemos uma parceira com o Derba e compramos alguns equipamentos. O Derba tinha acabado de renovar o laboratório deles, faltavam alguns equipamentos e nós compramos aqueles necessários para completá-lo, fazendo uma parceria em que nós emprestaríamos em comodato os equipamentos e utilizaríamos o laboratório deles como se fosse nosso. (CAMPOS, 2008). A UFBA tem um programa de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana criado em 1997, portanto, anterior à Rede Asfalto, e a pavimentação inclui-se na Geotecnia, uma das linhas de estudo reforçada com o ingresso na Rede. Empresas entram como parceiras, fornecendo material, inclusive alternativo, para ser utilizado nas pesquisas, e os resultados de algumas teses estão sendo utilizados como subsídio para decisões no âmbito governamental, como será visto no depoimento a seguir. Percebe-se, também, que a preocupação com o meio ambiente vem sendo transversal nos projetos da Rede Asfalto: Tivemos até uma dissertação de Mestrado [..] utilizando escória de aciaria. Foi o primeiro projeto que avaliou a utilização do traço da Prefeitura de Salvador. A conclusão do trabalho [...] foi que o material era muito caro e que não havia estudos suficientes para dar embasamento para utilização da escória. A Prefeitura até deixou de utilizar a escória em função desse trabalho que merecia ter continuidade. A gente quer dar continuidade agora 193 [...] Este trabalho versava sobre a Rio Doce Manganês (RDM), antiga Sibra. Estamos utilizando, atualmente, no PC02 e PC03 (Fase 3), a escória da Caraíba Metais, Gerdau e Ferbasa; eles procuraram a Rede. Estamos em processo bem adiantado com a Caraiba Metais e a Gerdau. A Caraiba já mandou o material. Estamos num estudo primeiro de caracterização do material, eles já têm algumas caracterizações, mas estamos fazendo novas. [...] Junto com o solo e agregado, solo no PC03 e agregado, no PC02, depois do traço (a quantidade dos materiais) definido da otimização, a gente vai fazer testes ambientais para saber se tem possibilidade de contaminação do meio ambiente. (CAMPOS, 2008) Com a entrada na Rede, verifica-se que as linhas de pesquisas relacionadas ao tema mantiveram-se ativas e fortalecidas, por meio de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado e outros projetos de pesquisa com órgãos financiadores diversos. O depoimento de uma coordenadora de projeto revela esse fato e, também, a preocupação com o meio ambiente: Aqui na Química da UFC nós temos Mestrado e Doutorado. Atualmente, como temos mais projetos além do PC01 (Fase 3) e temos sempre projetos relacionados [...], desde que o aluno tenha interesse em trabalhar com ligantes asfálticos, a gente tem feito projetos que se relacionam com isso [...] o foco é na Reologia, ver como funcionam as propriedades de fluxo [...] é uma linha de pesquisa da Rede Asfalto [...] Agora a gente vai começar um pouco com emulsões asfálticas, é um projeto novo. E a área de Química Ambiental, que basicamente é a busca da avaliação das emissões dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, que são os vilões aí na história, alguns deles são cancerígenos. A gente primeiro trabalhou em quais estariam contidos nos ligantes, quantificamos e vamos partir para utilizar alguns aditivos para ver se minimizamos essa emissão. (SOARES, 2008b). O processo da pesquisa e suas interações é bastante dinâmico e envolve relações entre pesquisadores, divulgação dos trabalhos e seu conhecimento por uma diversidade de atores e parceiros, o que faz surgir novas relações e novos projetos de pesquisa. Como temos Mestrado e Doutorado, para este, principalmente, a gente tem que buscar coisas novas, trabalhar com aditivos, funcionalizar, trabalhar com reações químicas, para preparar materiais. [...] Tem o PC01, esse outro que foi ganho, o Proset, o Universal que está começando com emulsificantes preparados a partir da glicerina do biodiesel, que a Profa. Najla coordena, tem o de preparação de nanocompósitos, que a gente estaria usando argilas aqui, foi um projeto que eu submeti para fazer intercâmbio com pesquisadores da Itália. O CNPq colocou este edital e [...] o meu orientador da Itália que me inscreveu, perguntou se eu queria participar [...] e eu trouxe essa participação para ligantes asfáticos, eu poderia ter colocado qualquer linha de pesquisa daqui. Existem alguns trabalhos anteriores que indicam que as argilas nos asfaltos seriam boas para estabilidade de estocagem e para reduzir temperaturas de compactação e usinagem. (SOARES, 2008b). 194 Como a Rede Asfalto é composta por instituições que estão em diferentes estágios de evolução na área de pesquisa, há universidades mais avançadas e outras, menos. No caso da UFS, seu ingresso na Rede só ocorreu na Fase 2, quando foi convidada a participar pelo coordenador, Prof. Jorge Soares. O coordenador do projeto PC03 (Fase3), formado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na qual também é professor da pós- graduação, chegou à UFS em 2003: O Departamento de Engenharia Civil da UFS ainda não tem pós-graduação. Temos alunos de outras instituições envolvidos no projeto da Rede. Eu oriento hoje dois alunos de mestrado. Sendo um daqui, do nosso laboratório, mas ele faz mestrado na UFCG - também sou professor do grupo de pósgraduação de lá. A nossa participação na Rede se dá, como instituição do projeto PC03 - Estabilização de solos com uso de rejeitos ambientais para aplicação em pavimentos asfálticos e também do PC02 que é sobre misturas asfálticas, coordenado pela UFBA [...]. Com a minha chegada aqui na UFS, em 2003, a gente começou a pensar em reestruturar o laboratório. Há cinco anos atras, a gente não tinha estrutura nem para trabalhar em solos, quanto mais para pensar, também, em pavimentos. Começamos a reorganizar a casa, redisciplinar toda a estrutura do laboratório e pensar, também, em pavimentos, porque solos e pavimentos estão muito ligados. Quando se pensa em pavimento, é somente a capa. O asfalto, ali embaixo tem a camada de solos, que tem que dar suporte suficiente para que este revestimento, que é a maquiagem, funcione adequadamente. A partir do convite que recebemos do prof. Jorge Soares, para participar da Rede Asfalto, partimos para a área de pavimentos, começamos a estruturar uma ala no laboratório, inicialmente pesquisas de iniciação científica com material de pavimentação, também restauramos equipamentos que estavam abandonados. Hoje, a realidade é um pouco diferente. (CAVALCANTE, 2008). A participação na Rede Asfalto é um grande estímulo para o estabelecimento de uma pós-graduação na UFS, para a compra de equipamentos, para o aprendizado, a própria pesquisa, a interação com o setor produtivo e para capacitar pessoas que trabalhem nos projetos da Rede. Conforme o mesmo Coordenador de Projeto da Rede Asfalto na UFS: Por não termos pós-graduação, o fato de haver uma Rede atuando dentro do departamento, é um fator motivador para que se pense em evoluir para uma pós-graduação. Aliás, já mandamos nossa proposta de pós-graduação duas vezes para a Capes no ano passado e no ano anterior. Saiu agora o resultado, nós [...] não conseguimos aprovar. Já estamos reestruturando para enviarmos novamente para 2009. A nossa graduação está excelente, fomos conceito A no Provão, conceito máximo. Mas para pós-graduação, tem que ter publicação, grupo de pesquisa consolidado e a gente está amadurecendo ainda pelo fato do departamento ter ficado seus 28 anos de criação sem desenvolver pesquisa. Um ou outro colega fazia pesquisa isoladamente e a gente está lutando para formar um grupo forte em pesquisa na área de solos, pavimentos, estruturas, materiais de construção. [...] Com a participação na 195 Rede, conseguimos alavancar recursos para melhorar a infra-estrutura, para produzir ciência e interagir com o setor produtivo e, com isso, desenvolver os alunos e capacitar profissionais. Os nossos técnicos não sabiam moldar um corpo de prova, hoje sabem. Um aprendizado para todos nós. (CAVALCANTE, 2008). No que se refere ao impacto na ciência e aos benefícios à sociedade e à geração de produtos ou processos inovadores, percebe-se um avanço no conhecimento e já um passo na direção de inovações no Instituto de Química da UFC (PC01 Fase 3); além disso, é ressaltado que os recursos para as pesquisas vêm, também, de outras fontes e não somente da Petrobras, conforme depoimento de uma Coordenadora de Projeto da Rede Asfalto: A Universidade está muito equipada e, mesmo com toda essa contribuição da Petrobras agora nas universidades, muitos dos equipamentos não vêm do financiamento deles; aqui a gente tem muitos outros equipamentos que já existiam e foram comprados com outros projetos [...] Temos algumas misturas inovadoras. O líquido da castanha do caju (lcc) como aditivo, e temos algumas coisas que nem é vista na literatura, mas por causa da característica química dele, a gente imagina, que tem uma característica como anti-oxidante, é material sulfactante - ajuda na miscibilidade de coisas que não são muito compatíveis – então, a gente começou a introduzir o lcc, e isso é uma inovação. Uma outra inovação é a preparação de emulsões a partir de derivados da glicerina, que é um descarte do biodiesel. Vamos pegar a glicerina gerada e beneficiá-la, preparar tensoativos a partir dela, preparar polímeros; isso é uma inovação. (SOARES, 2008). Já na UFBA, que retomou suas atividades em pavimentação com o ingresso na Rede Asfalto, não se considera, ainda, ter havido inovação, mas um avanço em capacitação e aquisição de equipamentos, como denota o depoimento a seguir: [...] A gente gostaria de criar mais do que estamos criando, mas para a gente é uma área nova. A gente quer desenvolver tecnologia local. [...] Nas universidades mais adiantadas, o avanço já é maior. Naquelas que retornaram ao estudo da pavimentação recentemente, a entrada na Rede está servindo para capacitar pessoas para a melhor compreensão do comportamento da pavimentação, e também para a aquisição de equipamentos. (CAMPOS, 2008). Na área de ensaios, no entanto, já é notado um avanço maior na UFBA, porque já havia um grupo consolidado, contudo as pesquisas ainda estão em desenvolvimento, conforme o mesmo Coordenador de Projeto da Rede Asfalto: O nosso estudo ainda não impacta o estado da arte porque ainda estamos equipando os laboratórios e capacitando as pessoas. Acho que isso é mais para frente. Não em ensaios, porque temos um grupo forte aqui que está 196 trabalhando para ajudar na gestão da pavimentação. Estamos preparando todos os equipamentos de campo, georeferenciando os dados para que possamos alimentar um sistema de gerência de pavimentos nos órgãos rodoviários. Então, a gente está desenvolvendo esse conhecimento que não havia aqui. E se tem isso no mercado, é muito caro. A gente está desenvolvendo coisas que sejam possíveis de aplicar, como é o caso de um software que vai relacionar todos os dados [...] e depois vai ser aplicado pelo Derba e Dnit. Construir uma plataforma que interligue os dados deles e que se possa realmente gerenciar. O Derba e o Denit não têm os inputs para gerência..O que a gente pretende com eles é dar este input.. Por exemplo, vai ter um mapa das estradas, estamos com problema na estrada X, ou Y [...] então, vamos priorizar um ou outro.. o software vai ajudar nisso. (CAMPOS, 2008). Na UFS, havia ainda muito pouco sobre pavimentação, um laboratório recém ampliado e uma deficiência muito grande de profissionais, no entanto, hoje é visível o seu crescimento, a partir de sua participação nos projetos da Rede Asfalto; começou por um projeto, na segunda fase, e, na terceira, já assumiu uma coordenação, além de fazer parte de mais dois dos projetos investigados. Conforme relata o Coordenador de Projeto da Rede Asfalto: [...] Nosso convênio, nossa entrada como coordenação foi em 2005, mas, ainda, não houve condição de gerar novo produto porque a gente direcionou logo para a infra-estrutura, montagem de laboratório. Porque exceto a UFC, todos os demais parceiros não tinham a estrutura que têm hoje. A UFC, atualmente, é referência no Norte e Nordeste. Em algumas universidades não houve melhoria de infra-estrutura, mas construção mesmo de laboratórios. (CAVALCANTE, 2008). O depoimento a seguir revela alguns resultados pontuais em termos de produtos aplicados nas empresas e utilidade das teses e dissertações produzidas na Rede, pela UFC: Um empreiteiro confessou-me que o trabalho de mestrado da Verônica46 (aluna da pós-graduação da UFC) que hoje está em doutoramento nos EUA, ajudou-o a economizar muito nas obras que fez e queria saber uma maneira de recompensá-la. Respondi-lhe que seria conversando com ela, porque ela está voltando este ano do doutorado nos EUA. Outro mestrando que tem uma empresa de consultoria disse-me que agora somente contrata mestres para seus serviços porque eles já vêm capacitados. (SOARES, 2008a). A UFBA, conforme já colocado, também teve o resultado de seu trabalho aproveitado em benefício de órgãos governamentais, como a Prefeitura Municipal de Salvador. Os resultados e metologias criadas em teses e dissertações, também, são aplicados no âmbito dos próprios projetos da Rede Asfalto, retroalimentando-os, conforme um Coordenador de Projeto da Rede Asfalto: 46 Refere-se à dissertação de Verônica Teixeira Franco Castelo Branco, intitulada “Caracterização Mecânica de Misturas Asfálticas com utilização de escória de aciaria como agregado”, defendida em 2004. 197 Algumas instituições já conseguiram produzir artigos, até porque o projeto está mais ou menos na metade. Pesquisa científica não se faz do dia para a noite. Precisa ter amadurecimento, seqüência de ensaios. [...] a gente acabou de fechar uma metodologia igual para todas as universidades envolvidas no projeto. Acabou de ser defendida uma dissertação de mestrado, uma aluna da UFC sobre solo emulsão, tema do nosso PC03. Então, grande parte do que ela adotou na metodologia, vamos usar nesse procedimento da Rede. A UFC estava mais ou menos alinhada com a metodologia, mas os outros colegas, inclusive nós, não estávamos alinhados. (CAVALCANTE, 2008). Além do que já foi implicitamente revelado sobre mudança de rotina com o ingresso na Rede Asfalto, os entrevistados reforçaram a fragilidade da infra-estrutura laboratorial existente no momento anterior à formação da rede. Na UFC, o laboratório, por exemplo, não era suficientemente equipado, eram grandes os transtornos e altos os custos envolvidos para realizar ensaios, como revela o depoimento a seguir: Os testes antes eram enviados e realizados no Coppe/UFRJ, pouca coisa era feita no Cenpes. Então, 1998 e 1999 foram anos interessantes. A gente devia ter, com certeza, umas 20 ou 30 toneladas de material que eu mandei daqui para o Rio de Janeiro para ser ensaiado. Então, a gente fazia o estudo aqui e não tinha como ensaiar e era pedindo “pelo amor de Deus”, consegue R$ 300 ou R$ 400 para que uma transportadora possa enviar esse material para o Rio de Janeiro [...] porque não havia equipamentos para isso na Universidade. (SOARES, 2008a). Outra mudança de rotina se referiu à realização de projetos em conjunto com empresas, o que não era comum antes do ingresso na Rede. Esse fato é revelado no depoimento de uma Coordenadora de Projeto da Rede Asfalto: Como trabalhamos em parceria com a empresa, para que o projetos sejam incluídos na Rede, tem que haver o interesse da Petrobras.[...] Mas não tem ninguém com uma rédea dizendo “não pode”, mas a gente sabe dos interesses deles na Química, e sabe que o interesse é a reologia. Então, a gente procura, mesmo com projetos com algumas variações, focar na reologia. (SOARES, 2008b). Outro Coordenador de Projeto ressalta uma mudança específica, resultado da interação da universidade com novos parceiros. Também, com o ingresso na Rede, novas frentes de pesquisa foram abertas: [...] a gente já tinha rotina fixa na geotecnia, agora agregamos a parte de asfalto. Não houve mudança significativa a não ser o contato com novos parceiros diferentes dos anteriores. Nós tinhamos muitos parceiros em geotecnia como um todo, na área de barragens, túneis, mas não em estradas. Em termos de rotina (de pesquisa) não houve mudança. Isso pode existir naquelas universidades que não tinham nada, não havia tradição nenhuma. No nosso caso, a gente já tinha respaldo grande do laboratório, porque já 198 desenvolvíamos pesquisa. Anteriormente, tivemos projetos na época do PADCT, mas eram pequenos e eram diretos com a Finep, não envolviam outras instituições [...]. Os testes em pavimentação, a gente não fazia. Antes da Rede, a gente não trabalhava com pavimentos. Somente viemos a trabalhar com esse tema depois da Rede. (CAMPOS, 2008). O Coordenador de Projeto da UFS, universidade em que não havia tradição na pesquisa em pavimentos, ressalta a inexistência anterior de rotina de pesquisa em pavimentação e as dificuldades enfrentadas para a aproximação universidade-empresa: Na nossa rotina mudou muita coisa. Na verdade, não havia rotina de pesquisa nessa área aqui. Foi implantada e a gente está intensificando, tentando envolver os parceiros locais. Porque perde o sentido a gente trabalhar, pesquisar, produzir resultados, metodologias, produtos tecnológicos e isso não chegar na cadeia produtiva. O primeiro passo nosso é capacitação, montagem de infra-estrutura e desenvolvimento de pesquisas com materiais focados nos problemas locais, que tentamos captar com os parceiros. Nosso próximo passo, que a gente já está tentando fazer, é trazer os parceiros aqui para dentro da universidade. É sempre uma cobrança que a Coordenação Geral faz. Mas não podemos trazê-los a pulso. (CAVALCANTE, 2008). Como dificuldades apontadas pelos entrevistados, tem-se, por exemplo, o excesso de trâmites burocráticos para resolver mudanças de rubrica, como revela o depoimento a seguir: A dificuldade é que, às vezes, demora [para a fundação] atender uma solicitação, mas tudo que está previsto já ocorre mais facilmente, o tempo é menor. Agora, se tiver mudança de rubrica, ou uma solicitação posterior, é mais complicado, vai para a Finep e vai e volta. Isso com o projeto transversal a gente teve mais problemas porque foi o primeiro projeto grande que eu me envolvi, houve umas mudanças de rubrica e não teve uma agilidade muito grande. Mas isso tudo a gente solicita, não somos nós que fazemos. (SOARES, 2008b). Como são vários projetos num mesmo convênio (que corresponde a uma fase), assinado com a Finep e a Petrobras, só são liberadas as parcelas posteriores quando é prestado conta de tudo o que foi feito em todos os projetos daquela fase, conforme cronograma; isso foi uma grande mudança de rotina porque antes da Rede Asfalto, trabalhava-se projeto a projeto e havia um único órgão financiador, o que tornava a prestação de contas mais simples. Quanto maior a rede, maior a dificuldade. Conforme o depoimento do Coordenador da Rede Asfalto: “O recurso só é enviado quando prestamos contas de tudo que foi feito de todos os projetos. No nosso caso, é melhor porque somos os executores de todos os projetos, o que gera um 199 controle mais fácil. Prestamos contas à Finep relativo à Rede e seus gastos”. (SOARES, 2008a). Recursos humanos qualificados constituem fator crítico para as redes de pesquisa, conforme ressalta, também, o Coordenador da Rede Asfalto: Temos também o problema de retenção de recursos humanos qualificados. Os nossos alunos, por causa da descontinuidade dos recursos, acabam indo para o setor produtivo e nós temos que treinar outros, aí vai e volta. É bom porque fazemos nosso trabalho de professores e eles vão para o mercado, mas é ruim porque ficamos desfalcados. Não temos como garantir bolsas e recursos quando o projeto acaba.. até conseguirmos um outro projeto. (SOARES, 2008a). Sobre tal dificuldade de recursos humanos, acrescenta outra Coordenadora de Projeto: Vai ter o Centro (de Asfalto) agora, será que nós vamos poder contratar todo mundo que terminou mestrado e doutorado? Como contratar? A grande dificuldade que eu sinto para daqui há alguns anos é como conseguir que o pessoal que trabalhou, que se formou e se especializou nessa área possa continuar no laboratório. É complicado. É se contentar que eles vão estar contribuindo em outra área. É a nossa função como professor capacitar o aluno, mas em termos de desenvolvimento dessa pesquisa em si.. a questão é como segurar esses alunos no laboratório depois. Vão se formar todos bem, muitas publicações. Provavelmente, muitos alunos não ficarão, porque não haverá bolsas de estudo e contratos de trabalho suficientes para todos, e essas pessoas vão seguir para outras áreas [...] é algo que já começa a preocupar. Não somente com a Rede, mas com questão de pesquisa. A gente perde muito aluno aqui de polímeros, de polisacarídeos. No caso da química, o salário oferecido no mercado não é alto. Ele tem que sobreviver e vai em busca de um emprego, não somente na petroquímica, mas em outras áreas. A universidade não tem como absorver todos. (SOARES, 2008b). A UFS também reforça a dificuldade com pessoal, que ameaça a continuidade dos projetos: A principal dificuldade, hoje, ainda é pessoal. A gente está montando laboratórios, eu posso considerar excelentes, pela condição que tínhamos antes, entretanto, a gente esbarra na questão dos profissionais, fazendo aqueles equipamentos funcionarem e produzirem. A maioria dos colegas que está na rede, no PC03, está nessa mesma situação. [...] Precisamos de mais pessoas. (CAVALCANTE, 2008). Há dificuldades com manutenção de equipamentos, que têm um alto custo e não há recursos destinados especificamente para isso, conforme o Coordenador da Rede Asfalto: Se o equipamento precisa de manutenção e esta custa R$ 14.000, por exemplo, eu não tenho recurso. Sabe o que aconteceu? Cortaram minha “gordura”. O equipamento vai ficar parado até a próxima rodada de projeto 200 [...] Eu digo [para a Petrobras] que um gestor sem “gordura” é um mau gestor. A “gordura” é para contingência; eu não sei o que vai acontecer. Isso é para reserva, até tem isso 10% para contingência, nas rubricas diversas. A Petrobras diz que com a aplicação financeira você faz isso [a manutenção]. A contingência que a gente tem é aplicação financeira; o problema é que ela serve também para outras coisas [...] a aplicação financeira serve para descontinuidade ou serve para contingência? Ou serve para os dois? Aí começa a complicar. Tudo para a aplicação financeira, não dá para pagar isso. (SOARES, 2008a). O Coordenador da Rede Asfalto sugere que haja um recurso destinado à gestão, para se saber os impactos dos projetos ou da Rede na economia, até para divulgar melhor os trabalhos e obter-se mais recursos. Ele também aponta que deve haver um repensar do papel da universidade: A Petrobras vive dizendo que não devemos depender somente dos recursos deles, que devemos prestar outros serviços. Mas temos o receio de virarmos prestadores de serviços, que, pelo menos na área de asfalto, qualquer consultor faz; e como ficaria a pesquisa básica, para ampliação do conhecimento? (SOARES, 2008a). De uma forma geral, pode-se dizer que na Rede Asfalto houve aprendizado significativo com as mudanças de rotinas que geraram capacitação de pessoal (por meio cursos realizados, da interação, tanto com universidades quanto com empresas), abertura de novas linhas de pesquisa, publicação de artigos, teses e dissertações, prêmios conquistados, alunos e empresas envolvidos, desenvolvimentos, materiais testados, projetos alavancados e parcerias construídas. Isso pode ser observado por meio dos depoimentos anteriores e da verificação do Gráfico 1, a seguir, que apresenta os resultados quantitativos mensurados por meio dos indicadores implantados na gestão da Rede referentes às Fases 1 e 2. Vale ressaltar que no Relatório da Fase 2 foram introduzidos novos indicadores, quais sejam: i) desenvolvimentos e ii) materiais testados. Como os indicadores não foram conceituados, para poder coletar esses dados da Fase 1 e compará-los aos dados da Fase 2, foi necessário, primeiramente, delimitá-los, conforme consta a seguir: i) desenvolvimentos – nº de novos processos, metodologias e produtos gerados nos projetos; ii) materiais testados – nº de materiais utilizados e testados nas misturas elaboradas nos projetos (ex. asfalto borracha, ligante asfáltico, líquido da castanha do caju e etc). 201 Com base na delimitação anterior, fez-se a contagem dos dados relativos a esses indicadores na Fase 1 e elaborou-se o Gráfico 1 seguinte. Os resultados referentes à Fase 3 (fase vigente na Rede Asfalto) ainda não se encontram disponíveis, vez que o prazo para seu fechamento é final de 2009. Em quatro anos, foram produzidos na Rede Asfalto 248 artigos completos, 45 teses e dissertações, foram ganhos quatro prêmios e realizados 38 eventos, incluindo cursos e treinamentos. Participaram dos projetos 244 alunos, incluindo aqueles da graduação e pósgraduação (Mestrado e Doutorado). No total, foram envolvidas 56 empresas parceiras da cadeia produtiva do asfalto e realizados nove desenvolvimentos de novos produtos e processos (que inclui metodologias). Foram testados 316 materiais, alavancados 47 projetos e formadas mais de 25 parcerias nacionais com universidades e sete parcerias com instituições de ensino e pesquisa no exterior. 250 237 200 156 150 100 92 84 76 79 56 48 50 33 12 27 0 4 36 34 11 1 8 21 26 25 26 5 7 A rti go s co Te m se pl et s/ os D i P ss rê e m rta io çõ s es co nq ui E st ve ad nt os os re al A iz lu ad no os s A g lu r ad no ua s pó çã o sgr E ad m pr ua es çã as o en vo D lv es id en as vo l v M im at en er to ia s is P te ro st je ad to s os al av P an ar ca ce do ria P s ar s ce na ria ci on s ai in s te rn ac io na is 0 Fase 1 (2002-2005) Gráfico 1 – Evolução da Rede Asfalto (Fase 1 – Fase 2) Fonte: Adaptação de Relatório...(2005;2007). Fase 2 (2005-2007) 202 Dos eventos realizados, vale mencionar as reuniões de acompanhamento da Rede Asfalto, o Curso de Especialização em Pavimentos na UFBA (três turmas), o Curso de utilização de escória de aciaria na UFC, em fevereiro de 2003. Como exemplo de empresas envolvidas nos projetos têm-se: a Compania Vale do Rio Doce (CVRD), Construtora Queiroz Galvão S.A, Gerdau, São Paulo Alpargatas, Petrobras Distribuidora, Ferbasa, Caraíba Metais, dentre outras (para maiores detalhes, consultar Quadro 8). Em desenvolvimentos, destaca-se o equipamento Sistema Integrado de Simulação de Tráfego Normatizado (Sistran), desenvolvido no PC 02 (Fase 2), pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com a empresa Armtec, e que conquistou o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2007, na Categoria Produto (Ver Figura 15 a seguir). Figura 15 – Foto do Sistran Fonte: Relatório... (2007). Em materiais testados, tem-se o asfalto borracha, escória de aciaria, ligante asfáltico da Lubnor, resíduos de borracha de pneus inservíveis, o líquido da castanha de caju (lcc), dentre outros. No que se refere a projetos alavancados, tem-se a construção de trechos experimentais (ex. de dois trechos com asfalto borracha no Ceará na Av. Abolição, entre a Av. Desembargador Moreira e a Rua Joaquim Nabuco, sentido leste-oeste e a CE-350, entre os municípios de Itaitinga e Pacatuba - estaca 595 a 603). Além de projetos como o de aproveitamento de solos contaminados com óleo bruto em pavimentação (UFBA e Rlam) e o projeto de assessoria técnica para a recuperação da estrada de Taquipe/Petrobras. 203 De parcerias (científicas) nacionais, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação (Coppe/UFRJ) e as demais universidades do Norte e Nordeste ligadas à Rede. Com relação às parcerias internacionais, destacam-se as universidades americanas de Illinois, Texas A&M University e Universidade de Nebraska Lincoln, já mencionadas. Observando-se a Tabela 4, a seguir, verifica-se que o Projeto PC02 (Fase 2), qual seja, “Caracterização de materiais de pavimentação, incluindo agregados alternativos e granulometrias não convencionais, com o desenvolvimento nacional de um simulador de tráfego laboratorial”, em negrito, e já citado anteriormente, foi o projeto que mais gerou resultados na Fase 2 da Rede Asfalto. Esse projeto mobilizou 100% das universidades integrantes da Rede e teve um desempenho que se pode considerar excepcional, se comparado aos demais projetos. Tabela 4 – Resultados dos indicadores da Rede Asfalto (Fase 2) Projetos Cooperativos (PC's da Fase 2) PC01 PC02 PC03 Indicador Artigos completos 21 118 11 Teses/Dissertações 2 26 3 Prêmios conquistados 0 3 1 Eventos realizados 8 14 2 Alunos graduação 21 47 4 Alunos pós-graduação 7 71 4 Empresas envolvidas 7 47 0 Desenvolvimentos 1 5 0 Materiais testados 9 228 0 Projetos alavancados 3 19 1 Parcerias nacionais 3 17 4 PC04 6 2 0 3 4 2 2 2 0 3 2 Total 156 33 4 27 76 84 56 8 237 26 26 Fonte: Relatório... (2007). Com base nos depoimentos anteriores, nas fontes secundárias de pequisas e observações da própria autora, pode-se afirmar que, mesmo com as dificuldades apontadas, a Rede Asfalto tem cumprido com os seus objetivos já explicitados anteriormente, quais sejam: desenvolver projetos de pesquisa na área de pavimentação asfáltica, dentro da melhor técnica possível; fortalecer linhas de pesquisa que resultem na melhoria do desempenho dos pavimentos asfálticos; estabelecer e consolidar parcerias nacionais e internacionais; 204 formar e qualificar recursos humanos na área de pavimentos asfálticos; facilitar o funcionamento de Arranjos Produtivos Locais, disseminando os desenvolvimentos da Rede; possibilitar a inserção e a permanência de instituições nas atividades da Rede; desenvolver novas tecnologias e produtos de interesse da indústria do asfalto; transferir os desenvolvimentos para a cadeia produtiva do asfalto. Pode-se dizer, também, que capacitações científicas e tecnológicas estão sendo formadas e/ou fortalecidas, por meio das Redes N/NE. As principais evidências da formação dessas capacitações e competências foram relacionadas a seguir: abertura de cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) e/ou inserção de linhas de pesquisa ou disciplinas correlatas à Rede Asfalto; ampliação, reforma ou adaptação de laboratórios para abrigar os equipamentos e pesquisas da Rede; aquisição de equipamentos e seu compartilhamento com outras instituições; capacitação de pesquisadores, alunos e técnicos nos cursos promovidos e na utilização dos equipamentos comprados; estabelecimento de rotinas de pesquisa onde esta não existia, inclusive com universidades iniciantes na temática de pavimentação, que assumiram a coordenação de projetos (ex. UFBA e UFS); estabelecimento de relações de confiança e sua ampliação e intercâmbios nacionais (universidades, centros de pesquisa e empresas) e internacionais (universidades), criando possibilidades de aprendizado e capacitação diversificada; aprendizado na interação, levando em conta os interesses da empresa, universidades e de outros parceiros e membros; continuidade dos projetos e das instituições nas demais fases das Redes N/NE; iniciativas de construção e/ou fortalecimento de relações com o setor produtivo (parceiros); formação de pessoal especializado para o mercado (os alunos estão saindo das pesquisas já empregados em empreiteiras, na Petrobras, empresas de consultoria, dentre 205 outros. Há casos em que permanecem na pós-graduação e passam em concursos públicos para docentes); prestação de serviços e consultoria a órgãos do Estado (Dnit e órgãos estaduais), Tribunal de Contas da União (TCU) e empreiteiras; geração de competências científicas e tecnológicas em asfalto e sua ampliação onde já existia alguma competência; geração de teses, dissertações, monografias e artigos sobre temas correlatos à Rede; resultados de teses e dissertações aplicados no setor produtivo e, também, no âmbito dos próprios projetos da Rede Asfalto, retroalimentando-os, a exemplo de metodologias que foram criadas. Mesmo considerando a linha tênue, a fronteira entre as capacitações e competências científicas e tecnológicas, tentou-se apreender suas dimensões e níveis na Rede Asfalto, com base na adaptação do Quadro 3, de Dantas e Bell (2006), e que compõe a grade analítica desta tese, referindo-se ao Sistema de Aprendizado. A Figura 16, a seguir, foi elaborada com base nas entrevistas realizadas com os coordenadores de projetos da Rede Asfalto e na comparação com os referidos quadros: Figura 16 – Níveis de capacitação tecnológica na Rede Asfalto - projetos investigados Fonte: elaboração própria (2008) com base em Dantas e Bell (2006). Tendo como referência o quadro de Dantas e Bell (2006), tem-se a fotografia dos projetos investigados da Rede Asfalto. Estes encontram-se, em sua maioria, na fronteira da fase “Assimilativa” e “Adaptativa”, em que a base de conhecimento é essencialmente de design, com o objetivo de adaptar, desenhar (projetar), entender princípios de C&T. Dessa forma, ocorre adaptação de tecnologias, criação de designs próprios, conhecimento em C&T e 206 sua absorção e adquire-se capacidade por meio de treinamento, contratação de pessoas experientes, estabelecendo e formalizando atividades de P&D. O Projeto PC01 (Fase 3) Química e Reologia de Ligantes Asfálticos, parece encontrar-se num meio termo, entre um nível adaptativo e generativo, com o desenvolvimento de ligantes alternativos, como o líquido da castanha de caju e o derivado da glicerina. O projeto PC02 (Fase 3) - Definição de metodologias de dosagens e ensaio de misturas asfálticas e da viabilidade do emprego de rejeitos ambientais como materiais para pavimentação envolve 100% das universidades participantes da Rede Asfalto, contando com a maior heterogeneidade de instituições e, portanto, de maior complexidade na interação. Esse projeto, coordenado pela UFBA, já é uma evolução do mesmo projeto PC02 (Fase 2) - Estabilização de solos com o uso de rejeitos ambientais para aplicação em pavimentos asfálticos, quando foram verificadas características essencialmente adaptativas. Apesar de projetos diferentes, o mesmo nível de capacitação tecnológica foi observado para o PC03 (Fase 3) - Estabilização de solos com o uso de rejeitos ambientais para aplicação em pavimentos asfálticos Destaca-se, no entanto, o Projeto Cooperativo PC02 (Fase 2), no qual houve criação de capacitação tecnológica por meio da construção de um equipamento, o Siembs, em parceria com a Armtec. Esse projeto ultrapassou as fronteiras da Rede, criando um nível de capacitação predominantemente “Generativo”, com condições de aproximação ao último nível de capacitação proposto por Dantas e Bell (2006), o qual, foi denominado de “Inovador”, ao invés de “Estratégico”, como explicado anteriormente. O item a seguir trata da Rede de Catálise (Recat), seguindo os mesmos tópicos da apresentação da Rede Asfalto, para melhor compreensão. 207 3.3 A REDE DE CATÁLISE – RECAT (REDE 11) Os catalisadores são materiais que facilitam a ocorrência de reações, acelerando-as, sem que pareçam participar dessas mesmas reações; eles não se alteram no processo. Essa velocidade de reação é que assegura a fabricação em escala e competitividade dos produtos. A catálise como processo fez enormes contribuições para as indústrias químicas, petroquímicas e farmacêuticas, principalmente. O termo catálise foi cunhado em 1836, por Berzelius. Conforme Van Santen e outros (1999), Berzelius concluiu que ao lado da “afinidade”, que era conhecida na época como a força condutora da química, havia uma nova força operativa, a “força catalítica”. A catálise industrial é uma prática antiga e sempre foi usada na produção de vinho e cerveja. Aqui será tratada, mais especificamente, a catálise na indústria petroquímica. Conforme Van Santen e outros (1999), a maioria de nossos combustíveis líquidos e algo em torno de 80% de nossos produtos químicos são produzidos com a ajuda de conversões catalíticas. A produção do combustível de um barril de óleo cru, o aumento contínuo da qualidade dos polímeros, a diminuição do custo de produção da química fina, podem ser atribuídos, em grande medida, a melhorias de sistemas catalíticos. Estes pesquisadores já prevêem, para um futuro próximo, que a maioria dos gases emitidos pelos automóveis será limpa por um catalisador. O desafio para uma vida melhor com o aumento da população no mundo, deverá continuar demandando mais eficiência e preocupação ambiental nos processos. A tendência é essas indústrias procurarem, cada vez mais, novas tecnologias catalíticas para superar esses desafios. A indústria utiliza os três ramos principais da catálise, quais sejam, a catálise homogênea, heterogênea e a biocatálise. De acordo com Kim (2000), a comunicação entre esses ramos é difícil por causa dos diferentes backgrounds das pessoas que trabalham nessas diferentes áreas. Na catálise homogênea, o entendimento dos mecanismos da reação é melhor do que na catálise heterogênea; no entanto, sua falha está no problema de reaproveitamento do catalisador que, quando utilizado, precisa ser recuperado. Por isso, na indústria, há diversas pesquisas em heterogeneização de catálises homogêneas. A catálise é um campo multidisciplinar e envolve diversas áreas, tais como materiais, cinética química, organometálicos, química de coordenação, química de sólidos e de superfícies, química supramolecular, modelagem e química teórica, nanotecnologia, 208 biotecnologia etc. Conforme Santos e Lago (2007, p. 1480), o catalisador é, em muitos casos, o ponto-chave na proteção intelectual de processos químicos, envolvendo sigilo industrial. Apesar de ser uma área de pesquisa já consolidada, a importância da catálise se renova constantemente na indústria e na academia, e tal fato fica evidenciado pela concessão dos Prêmios Nobel em Química de 2001 e de 200547. Catalisadores como os metais de transição, os mais utilizados na indústria devido à sua reatividade especial, apresentam alta toxidade. Como o catalisador, geralmente, desativa-se com o tempo, é preciso reativá-lo ou descartá-lo no meio ambiente. Por isso, há uma busca nas pesquisas existentes por processos que dispensem os metais de transição ou utilizem metais menos tóxicos. De acordo com Santos e Lago (2007, p.1480), a área de catálise irá sem dúvida, contribuir para os novos desafios, tais como a obtenção de combustíveis limpos e de fontes renováveis, a síntese de produtos naturais, a obtenção de novos fármacos e defensivos agrícolas. A catálise tem contribuído, significativamente, nos processos que visam ao desenvolvimento sustentável e à proteção ambiental, dentro do conceito de química verde (green chemistry). Catalisadores com seletividades próximas a 100% serão cada vez mais importantes, pois aumentam a eficiência dos processos, eliminando a geração de contaminantes e subprodutos. Nesse contexto, o conhecimento, em nível molecular, do fenômeno catalítico será cada vez mais relevante para o melhor controle da reação. O catalisador ideal seria aquele que permanecesse ativo por longo tempo, com rendimento de 100% e que não fosse poluente. A seletividade, conforme Somorjai e McCrea (2001, p.1), para gerar o produto desejado sem a formação de subprodutos é um grande desafio da pesquisa em catálise. Além da seletividade, o sucesso de um processo industrial depende da atividade e estabilidade do 47 O Prêmio Nobel de Química de 2001 foi dividido entre três químicos: Willian S. Kowles (Monsanto Company, St. Louis, Missouri/USA), Ryoji Noyori (Nagoya University, Chikusa, Nagoya/Japan) e K. Barry Sharpless (The Srcipps Research Institute, La Jolla, California/USA). A Royal Swedish Academy of Sciences premiou estes cientistas por seus avanços e desenvolvimentos na síntese catalítica assimétrica. As descobertas destes químicos tiveram um grande impacto, tanto na pesquisa acadêmica como na indústria farmacêutica. O desenvolvimento de uma reação que revolucionou a síntese de compostos orgânicos rendeu ao francês Yves Chauvin e aos norte-americanos Robert H. Grubbs e Richard R. Schrock o Nobel de Química de 2005. Seus trabalhos foram fundamentais para compreender e aprimorar um procedimento que permite produzir em laboratório novos medicamentos e outros compostos de grande interesse industrial. A reação química desenvolvida pelos premiados é conhecida como metátese - termo de origem grega que significa ‘mudança de posição’. Em escala molecular, átomos ou grupos de átomos ‘trocam de lugar’, de maneira a gerar novos compostos. 209 catalisador, sendo muito importante o conhecimento de sua estrutura, formulação e propriedades físico-químicas. O petróleo, como mistura de moléculas de hidrocarbonetos, contém muitas impurezas, como enxofre, hidrogênio, metais etc. A catálise tem um papel crucial nesses processos uma vez que é necessário separar tais materiais e gerar produtos de alto valor agregado para a indústria. Para cada processo, há catalisadores específicos que podem ser regenerados, existindo mecanismos para verificar o estado do catalisador. As refinarias de petróleo são plantas complexas em que ocorrem, além de processos físicos como destilação e extração, um grande número de processos de conversões químicas. As mais importantes são, conforme Van Santen e outros (1999): i) reforma catalítica, ii) hidrotratamento, iii) craqueamento catalítico fluido (FCC) e iv) alquilação (alkylation). De acordo com os mesmos autores, depois da destilação, quando o óleo cru é separado em frações, a fração de nafta tem o ponto de ebulição certo para a gasolina, mas não tem uma performance aceitável. A octanagem48 é baixa e precisa ser aumentada. O propósito da reforma catalítica é converter moléculas com baixa octanagem em moléculas com alta octanagem. O hidrotratamento refere-se à classe de conversões que envolvem reações com hidrogênio. Nessas reações, em contraste com o hidrocraqueamento, no qual a redução do tamanho da molécula é o objetivo, o tamanho molecular não é drasticamente alterado. Os principais objetivos do hidrotratamento são: proteção dos catalisadores, melhorias da gasolina (odor, cor, estabilidade, corrosão) e proteção do meio ambiente. Por causa da proteção ambiental, o hidrotratamento está ganhando crescente interesse. O propósito do craqueamento catalítico é aumentar a fração de gasolina, que possui melhor valor agregado. Inicialmente, realizado via térmica, hoje, prevalece o craqueamento na presença de um catalisador. O craqueamento catalítico é uma das maiores aplicações da catálise. 48 A octanagem é uma medida convencional do comportamento antidetonante de um combustível de motor de combustão interna. É uma propriedade da gasolina que indica a qual limite máximo a mistura vapor de combustível-ar pode ser comprimida dentro da câmara de combustão antes da centelha da vela de ignição (mede a resistência de um combustível a inflamar-se espontaneamente). Quanto maior o índice de octanagem da gasolina, melhor a sua qualidade e rendimento no motor. 210 Por último, a alquilação é um processo usado na produção de gasolina com alto índice de octanas, a partir do isobutano e olefinas formadas, principalmente no FCC e/ou no coqueamento retardado. A alquilação produz componentes da gasolina de alto valor agregado. O estudo da catálise no Brasil foi-se desenvolvendo aos poucos. Nos anos 60, conforme Schmal (2004), a catálise no Brasil era fragmentada, pontual e restrita. Iniciou-se na Universidade de São Paulo (USP), com o Prof. Remulo Ciola que, também, trabalhava na primeira indústria de refino de petróleo no país, em Capuava/SP (onde existia um centro de pesquisa), empresa originalmente privada. O catalisador era um segredo totalmente desconhecido pelos técnicos e seguia-se as recomendações dos fabricantes, havendo poucos questionamentos a seu respeito, sua procedência e desempenho. A criação do Cenpes e a decisão da Petroquisa de concentrar suas pesquisas nesse centro levou à desmontagem do laboratório em Capuava. As pesquisas voltavam-se ao apoio aos pólos petroquímicos. Atualmente, o Cenpes é o maior centro de pesquisas em catálise no Brasil e possui a melhor infra-estrutura em equipamentos e pessoal qualificado. Nos anos 70, de acordo ainda com Schmal (2004), um grupo originário do Instituto Militar de Engenharia (IME) fez doutorado na França e iniciou atividades de pesquisa em catálise, principalmente, em caracterização e processos de hidrogenação. Havia recursos do Ministério do Exército e da Finep para compra de equipamentos de grande porte, que nenhuma outra universidade possuía na época. No Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, também nessa década, houve apoio da Finep para a construção de laboratórios de pesquisa nas indústrias, a exemplo da Ciquine, Polialden, Copene, Nitrocarbono e Nitrofértil, para o estudo da catálise e de processos catalíticos, inclusive para infra-estrutura de pesquisa e plantaspiloto. Boa parte dessas pesquisas foi realizada em colaboração com o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Ceped) na Bahia, Cenpes e universidades como a UFRJ (Coppe), Unicamp, UFBA, UFRGS e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Esses grupos também participam das ações do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). O Coppe/UFRJ, de acordo com Schmal (2004), iniciou o Programa de Engenharia Química concentrando-se em cinética e reatores. Àquela época, já havia grande interação com as indústrias Ciquine, Copene, Nitrofértil, Nitrocarbono e a Petrobras. No início dos anos 80, o governo criou um Programa Nacional de Química (Pronaq) que visava ao desenvolvimento da química no país, por meio de programas separados, a exemplo da Alcoolquímica, 211 Xistoquímica e a Catálise. O Programa Nacional de Química tinha como grande desafio formar grupos de catálise no Brasil - além dos já existentes IME e Coppe, bem como estimular a formação de projetos. De acordo ainda com Schmal (2004), houve uma série de dificuldades na execução do programa, dentre outros, devido a atrasos e à inflação que desvalorizava os recursos; a verba, assim, acabava e dificultava completar a montagem da unidade de teste catalítico. Mesmo depois de encerrado o programa, a Finep, considerando a importância da catálise, renomeou o programa para Pronac e apoiou-o por mais quatro anos. Segundo o autor, esse programa foi importante, pois, dentre outros, criou competências nas diferentes regiões brasileiras, principalmente no Sul e Sudeste e na Bahia. Na década de 80, também, foram montadas duas importantes fábricas de catalisadores no Brasil: a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC)49 e a Newtechnos, ambas com tecnologia estrangeira. A Oxiteno montou uma fábrica para a produção de catalisadores, como óxido de zinco e óxido de prata, para consumo próprio e para venda, também possuindo laboratório em suas instalações. No início dos anos 90, no Governo de Fernando Collor de Mello, conforme ainda Schmal (2004), muitos projetos de pesquisa nas indústrias do país foram interrompidos. A Petroquisa foi fechada e, com ela, os laboratórios das indústrias. As pesquisas industriais e acadêmicas foram interrompidas e sucateadas. A Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC), a Newtechnos e a Oxiteno permaneceram, mas com muitos prejuízos. Dessa forma, também fecharam as empresas de projetos, e o país, de acordo com esse autor, regrediu para sua pior fase industrial e acadêmica. Nesse período, praticamente, foi destruída toda a formação de pessoal qualificado nesta e em outras áreas. Não houve apoio para a pesquisa científica nas universidades e, conseqüentemente, sofreram todos os cursos de pós-graduação. De acordo com Santos e Lago (2007, p.1480), embora a pesquisa em catálise seja relativamente recente no Brasil, a área pode ser considerada consolidada. Atualmente, existem vários grupos acadêmicos de pesquisa de nível internacional, em uma distribuição geográfica relativamente diversificada no país. Um fator decisivo para a agremiação dos profissionais envolvidos na área foi a realização continuada do “Seminário Brasileiro de Catálise”, um encontro bienal que se realiza desde 1981 e que teve seu nome alterado para “Congresso Brasileiro de Catálise”, na sua 11ª versão. Considerando já haver massa crítica e pujança 49 De acordo com Santos e Lago (2007, p.1480), a FCC é líder na produção de catalisadores para craqueamento de petróleo na América do Sul. A Oxiteno, Umicore e Degussa são exemplos de empresas que produzem, atualmente, catalisadores em território nacional. 212 suficientes para ter sua própria sociedade, em 1997, foi criada a Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat), hoje consolidada e membro de várias associações internacionais de catálise. Em 1995, foi criada a divisão de Catálise na Sociedade Brasileira de Química (SBQ), o que veio fortalecer ainda mais as pesquisas no Brasil. O Encontro Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Catálise (Encat), no âmbito regional, acontece intercalado com o Congresso Brasileiro de Catálise (CBCat): nos anos pares acontece o Encat, e nos ímpares, o CBCat. O Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) possui, assim como para o asfalto, uma Comissão de Catálise, cujos membros incluem, também, pesquisadores e representantes das empresas. As comissões do IBP coordenam estudos, debates, cursos e eventos sobre o tema e estão inseridas na missão do Instituto de promover o desenvolvimento do setor nacional de petróleo e gás. Os recursos do Fundo Setorial CT-Petro, operacionalizado a partir de 2001, vieram trazer um novo fôlego para a área de Óleo e Gás, em termos financeiros, inclusive para a catálise. 3.3.1 Histórico da Recat A Universidade Salvador (Unifacs) é uma instituição de ensino superior particular fundada em 1972 com o nome de Escola de Administração de Empresas da Bahia. O seu credenciamento como universidade ocorreu em 1997. A Unifacs está sediada na cidade de Salvador/BA, com diversos campus espalhados pela cidade. O curso de Engenharia foi autorizado pelo Ministério de Educação (MEC) para início em 1998 e, atualmente, possui sete cursos de graduação nessa área. Entre 1998 e 2001, a Unifacs já possuía convênios de cooperação assinados com a maioria das universidades federais do Nordeste. Com as universidades estaduais, ainda não havia sido formalizada nenhuma cooperação na área de catálise. Como universidade, a Unifacs precisava formar grupos e linhas de pesquisa em engenharia que envolvessem seus docentes. Para tal, no entanto, era necessário buscar interessados e fontes de recursos complementares para os projetos. Como houve a sinalização, pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), de que haveria disponibilidade de recursos para pesquisa e desenvolvimento na área de petróleo e gás, pelo Fundo Setorial CT-Petro, sob a liderança do Prof. Dr. Luis Pontes, engenheiro químico que já havia anteriormente 213 trabalhado na Copene, hoje, Braskem - e que possuía visão das possibilidades da interação universidade-empresa - começou a ser tecida a Rede de Catálise. Quando foi lançado o Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001, que, como já foi visto, propunha criar e/ou consolidar competências nas regiões Norte e Nordeste brasileiras identificando grupos que desenvolvessem ou pudessem desenvolver projetos, buscando articulação com empresas e intercâmbio com centros de reconhecida competência no país e no exterior -, foi vislumbrada a oportunidade da Unifacs inserir-se em novos projetos de pesquisa. Articulada com a Petrobras e universidades do Norte e Nordeste, a Unifacs enviou propostas de formação de redes. Na área de catálise, o Prof. Luis Pontes conversou com os possíveis parceiros e explicou o objetivo da Finep na iniciativa; foi um trabalho árduo na fase de formação da Rede de Catálise e houve recurso do edital para cumprir tal etapa. Os contatos já existentes, no momento anterior à Rede, eram, em sua maioria, informais com alguns professores e pesquisadores de outras universidades, de encontros em congressos e participação em bancas, principalmente. A Rede de Catálise, então, capitaneada pelo Prof. Luis Pontes, eleito coordenador, foi uma das propostas de redes enviadas à Finep e aprovada. A concorrência pelos recursos foi grande. A Rede de Catálise (Recat) foi aprovada em 2001, e os recursos somente chegaram em 2002. A Rede, atualmente, conta com 18 instituições, universidades do Nordeste, fora as parcerias que existem com universidades do Sul e Sudeste do país e empresas. É a maior rede de todas as 13 Redes N/NE aprovadas, em termos de quantidade de instituições participantes. De acordo com seu coordenador, Prof. Luis Pontes, a principal diferenciação tecnológica dos processos químicos voltados para a indústria de petróleo e gás natural reside no catalisador e em sua ação na transformação das matérias-primas em produtos. O reator químico é o “coração” do processo, no qual se encontra o gargalo tecnológico e a dependência brasileira em tecnologias estrangeiras. Daí, se percebe a importância da catálise para a indústria, bem como da necessidade de sigilo sobre as descobertas. No início dos projetos, por parte de algumas universidades, ainda havia certa desconfiança, pois o trabalho em rede, formato proposto pelo governo, era algo muito recente. Na medida em que as pesquisas foram evoluindo, os recursos foram, também, chegando, junto com os materiais e equipamentos, pesquisadores e bolsistas. Nos projetos, as relações entre as universidades participantes, a Petrobras e a Finep foram sendo construídas e fortalecidas, o que fez com que a Rede passasse, então, a funcionar plenamente. Mesmo com dificuldades, 214 mais tarde, quanto aos recursos, os projetos continuaram, pois, em geral, já havia pessoas capacitadas e uma infra-estrutura mínima que podia ser compartilhada entre as instituições e pessoas capacitadas. Na Recat pretende-se obter, como parte dos resultados, estudos detalhados sobre a síntese (formulação e métodos de preparação) e caracterização (propriedades físico-químicas) de diferentes tipos de catalisadores e de materiais adsorventes - embora não necessariamente sejam catálise, o fato de haver um contaminante pode interferir no desempenho de um catalisador que vai processar aquela carga. Espera-se, também, o aperfeiçoamento da formulação de catalisadores já conhecidos, visando melhorias na atividade e seletividade com conseqüente aumento de produção. Pretende-se, ainda, desenvolver programas de avaliação e comparação dos catalisadores já utilizados pela indústria com aqueles disponíveis no mercado e com os desenvolvidos pelo grupo de pesquisadores da Rede; é a chamada avaliação catalítica. Também espera-se a confecção de projetos de reatores catalíticos. Com a crescente preocupação ambiental e a necessidade de se garantir o suprimento de energia, por meio de tecnologias de conversão de energias mais limpas e mais eficientes, as células combustíveis surgem como uma das alternativas mais promissoras. Os objetivos específicos da Recat são: produzir, proteger e disseminar o conhecimento em processos catalíticos e de adsorção para a indústria de petróleo e gás natural, a melhoria ambiental e a geração de energia de fontes alternativas; formar recursos humanos para o desenvolvimento e otimização de processos catalíticos e de adsorção para a indústria de petróleo e gás natural, a melhoria ambiental e a geração de energia de fontes alternativas; estabelecer competências e infra-estrutura locais para o desenvolvimento e otimização de processos catalíticos e de adsorção para a indústria de petróleo e gás natural, a melhoria ambiental e a geração de energia de fontes alternativas. A consecução desses objetivos será vista no decorrer do estudo. O presente histórico explora a origem da Rede de Catálise, seus objetivos, a parceria com a Petrobras e a liderança da Unifacs, a partir de informações obtidas em entrevistas e dados secundários referentes às instituições participantes da Rede. Para melhor compreensão da Recat, a seguir, descreve-se o seu modelo de gestão. 215 3.3.2 Gestão da Recat A Coordenação Geral da Rede de Catálise é exercida pela Universidade Salvador (Unifacs), universidade privada, denominada instituição âncora, na pessoa do Prof. Dr. Luis Pontes que, também, exerce a função de Pró-Reitor de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão dessa instituição. Assim como nas demais Redes N/NE, além da manutenção dos projetos operacionais, quanto aos preços e prazos contratados, e monitoramento das atividades descritas nos projetos, o Coordenador Geral lida com fornecedores, empresas prestadoras de serviço, coordenadores dos projetos cooperativos, coordenadores institucionais, Finep, Petrobras (instituições financiadoras) e suporte administrativo. Uma pessoa de suporte administrativo faz o elo com a Fundação Facs. A Fundação Facs é uma entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, vinculada à Unifacs. Essa associação recebe os recursos destinados à Rede e os distribui entre as fundações ligadas às demais universidades coordenadoras de projetos, e essas últimas realizam as compras de materiais e equipamentos, conforme solicitações, bem como a prestação de contas dos recursos à Finep e à Petrobras. Tal sistema abrange o acompanhamento técnico-financeiro dos projetos e pode ser melhor compreendido na Figura 17. Da mesma forma que na Rede Asfalto, vista há pouco, a Finep possui em seus quadros um técnico responsável pela Rede de Catálise. Esse técnico é responsável pelo gerenciamento de projetos e possui outras atividades internas à Finep não relacionadas à Rede. Quando há, por exemplo, necessidades não previstas nas rubricas, o co-executor (universidade participante) solicita autorização ao coordenador do projeto, e este envia email ou ofício para a Fundação executora autorizar a alteração. A Fundação faz a intermediação da universidade com a Finep ou Petrobras, a depender da origem do recurso que se quer alterar a rubrica. Caso o recurso seja Petrobras, deve-se contactar o interlocutor dessa empresa, que é o responsável pelo projeto da Rede de Catálise internamente ao Cenpes. A agilidade para esse atendimento depende muito do técnico que vai receber a solicitação. O Comitê Técnico-Científico é composto pelo grupo de pesquisadores da instituição âncora, em conjunto com os coordenadores de projetos de cada universidade. O comitê sugere temas para a elaboração dos projetos da Rede. Uma vez definidos os temas, integrantes do Comitê participam diretamente da construção das propostas, feitas sempre em conjunto. O Comitê também avalia os relatórios parciais e finais dos projetos contratados. 216 Toda e qualquer ação do Comitê Técnico-Científico é avaliada pelo Comitê Gestor da rede, formado pelo Coordenador Geral, Petrobras, Finep e CNPq (ver Figura 10 no item “Modelo de Gestão das Redes N/NE”). As propostas são analisadas e as sugestões realizadas à luz do parecer da equipe da Petrobras - representada pelo corpo técnico do Cenpes. Uma vez elaboradas as propostas, estas têm sido discutidas, preliminarmente, com interlocutores das agências de fomento e com a Petrobras para sugestões. Vale ressaltar que a Finep não se envolve diretamente nos aspectos técnicos dos projetos Desde sua implantação em 2001, a Rede de Catálise tinha como principal meio de comunicação com os participantes a troca de e-mails. O messenger (MSN), também, é utilizado para algumas conversas entre pesquisadores; já o uso de telefone é menos freqüente, devido ao custo que acarreta. Constantemente, a universidade âncora comunica-se com as demais universidades participantes para discutir os rumos e avanços das pesquisas em desenvolvimento. Além dessas formas de comunicação, com o aumento da quantidade e complexidade das informações e da necessidade de dar mais visibilidade aos trabalhos técnicos e de articulação da Rede de Catálise, foi desenvolvido na página da Recat (www.recat.org.br) uma ferramenta na qual os coordenadores podem inserir seus resultados, preenchendo formulários - um relatório a cada quatro meses deve ser colocado na rede. Há perfis de acesso para os diferentes membros e seus interesses específicos (inclusive Finep e Petrobras). Por uma questão prática, as reuniões anuais da Recat são programadas para o mesmo período do Encontro Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Catálise (Encat). Conversas, reuniões informais entre pesquisadores ocorrem frequentemente em bancas e participação em outros congressos, além da troca de emails, messenger (MSN) e telefonemas. Na pesquisa de campo, observou-se que, da mesma forma que na Rede Asfalto, as reuniões internas específicas dos projetos ficam a cargo do coordenador de cada projeto que deve agendá-las conforme um cronograma estabelecido, ou a necessidade percebida. Em relação à comunicação com o meio externo, a Rede de Catálise não possui atualmente pessoas designadas especificamente para atividades de comunicação e divulgação de suas ações. Além dessas formas mais frequentes de comunicação, quando é lançado um edital da Rede N/NE ou temas correlatos à Rede de Catálise, o coordenador Prof. Luis Pontes convoca uma reunião com todos os integrantes, esclarecendo o edital. Lá, geralmente, as propostas são colocadas pelos pesquisadores, que se reunem com as universidades afins ao tema e ao 217 projeto, definindo-se um coordenador. Após essa etapa, entra-se em contato com a Petrobras, encaminham-se os projetos e são definidos quais destes lhe interessa financiar. Uma vez que não foi permitido o acesso aos Relatórios da Rede de Catálise, devido à necessidade de sigilo (Pontes, 2008), supõe-se que os indicadores de acompanhamento desenhados pelos parceiros sob a coordenação da Petrobras e da Finep, comuns às Redes N/NE e já explicitados anteriormente no tópico intitulado “Modelo de Gestão das Redes N/NE”, foram os mesmos indicadores adotados pela Recat. O modelo de gestão de recursos adotado na Rede de Catálise é o modelo descentralizado. Dessa forma, os recursos advindos das empresas financiadoras (Finep e Petrobras) devem ingressar, conforme cronograma, na conta da fundação vinculada à Unifacs, que encaminha os recursos dos projetos às fundações ligadas às universidades coordenadoras, para que estas realizem as compras e efetuem os pagamentos necessários, conforme solicitações das instituições participantes dos projetos cooperativos. Cada coordenador de projeto cooperativo também controla seu orçamento e decide sua melhor aplicação. Cada fundação ligada à universidade coordenadora de projeto realiza a prestação de contas correspondente e encaminha para a fundação da universidade coordenadora da Rede (Fundação vinculada à Unifacs); as fundações obedecem à Lei 8.666. Nos casos de necessidade de mudança de rubrica, deve-se solicitar permissão ao órgão financiador correspondente. A figura 17, a seguir, ilustra o modelo descentralizado de gestão de recursos da Rede de Catálise. 218 Figura 17 – Modelo descentralizado de gestão de recursos da Recat Fonte: elaboração própria (2008) com base na pesquisa de campo. À época das entrevistas, no início de novembro de 2008, a Rede de Catálise vinha passando por dificuldades financeiras para dar continuidade ao desenvolvimento de seus projetos. De acordo com Pontes (2008), a Fase 1 (2001 - 2004) e a Fase 2 (2005 - 2007) vinham transcorrendo bem. Na Fase 3, no entanto, começaram a aparecer problemas. O edital para a Recat Fase 3 foi lançado em 2006 e o recurso seria depositado até o início de 2007; no entanto, o recurso não foi liberado naquele ano. A Fase 4 foi lançada sem terem sido disponibilizados os recursos da Fase 3. Então, na Fase 4, o recurso estava programado para ser recebido em dezembro de 2007, mas foi justamente neste mês e ano que a Unifacs deixou de ser entidade privada sem fins de lucro e passou a ter fins lucrativos. Nesse momento, os convênios já estavam prontos para assinatura, mas a Unifacs não podia mais ser convenente devido à sua natureza lucrativa. Além disso, foram alteradas as normas do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão relativas às transferências de recursos da União mediante convênio e contratos de repasse. O Decreto n. 6.170 de 25/07/07 passou a exigir o preenchimento do Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Sinconv), o que atrasou mais o processo. Ainda de acordo com Pontes (2008), a Unifacs reativou sua Fundação até abril de 2008, mas até novembro de 2008, a situação na Finep ainda não estava resolvida. 219 Pelos motivos citados anteriormente, foram inicialmente definidos para investigação os projetos da Fase 2 da Recat, que se encontravam em andamento. A seguir, introduz-se as principais competências científicas e tecnológicas formadas na Rede, o rol de seus projetos cooperativos e a descrição daqueles que foram investigados. 3.3.3 Os Projetos Cooperativos (PC) Todo Projeto Cooperativo (PC) é composto por uma ou mais universidades participantes da Rede de Catálise, e cada instituição realiza uma ou mais atividades dentro do projeto de pesquisa. Os Projetos Cooperativos na Recat, também, têm a duração prevista de dois anos, prorrogáveis para igual período. Já houve duas fases de Projetos Cooperativos correspondentes aos períodos de 2001 - 2004 e 2005 - 2007. É por meio dos projetos (e da assinatura dos convênios a eles relacionados) que são conseguidos os recursos para a Rede. Deve-se levar em conta que a rede é bem maior do que o somatório dos projetos e das instituições, pois devem ser consideradas as relações construídas, é o conhecimento tácito que ultrapassa a fronteira dos projetos e da própria Rede. Uma vez que não foi concedido acesso aos relatórios da Rede de Catálise, surgiram dificuldades que foram, parte delas, superadas com base em outras fontes secundárias disponíveis e nas entrevistas realizadas. A definição das competências científicas e tecnológicas na Figura 18, a seguir, por exemplo, foi obtida a partir da análise do conteúdo dos projetos, tomando como referência as áreas temáticas do VII Encat (evento incorporado à Rede de Catálise) e relacionando-as, também, aos temas dos trabalhos apresentados pelos professores entrevistados (coordenadores dos projetos cooperativos) nesse evento. Pelo mesmo motivo, no Quadro 9, não constam dados sobre os resultados gerais alcançados pelos diversos projetos da Recat. As principais áreas temáticas dos projetos desenvolvidos na Recat foram identificadas conforme a figura, a seguir: 220 Figura 18 – Principais competências científicas/tecnológicas da Rede de Catálise Fonte: elaboração própria (2008), com base na análise dos projetos da Recat e áreas temáticas do VII Encat. Em Catálise ambiental, estuda-se o processo da catálise com o foco na prevenção e controle de poluentes ao meio ambiente; como exemplos, têm-se o controle da contaminação, a redução de agentes contaminantes, a combustão catalítica, a melhoria dos processos, a chamada “química verde” e a fotocatálise. Em Produção de combustíveis e energia, a análise volta-se ao refino e à petroquímica, à produção e a utilização do hidrogênio; células combustíveis e eletrocatálise; processos de conversão de metano e gás natural; combustíveis limpos e biocombustíveis e conversão de energia de fontes alternativas. A área de Desenvolvimento de catalisadores, dedica-se à preparação e a estrutura molecular de catalisadores; novos materiais; desenvolvimento de técnicas de caracterização; e métodos e análises de propriedades físico-químicas. Em Superfícies e reatividade superficial, estuda-se os mecanismos da reação, também a cinética e modelagem e análise computacional; mecanismos de superfície e; o processo de adsorção na catálise. 221 A seguir, apresentam-se os projetos que vêm sendo realizados na Rede de Catálise, com período, grande tema, universidades participantes, objetivo geral e outros parceiros. Os projetos destacados em negrito no quadro seguinte foram aqueles escolhidos para investigação. O critério inicial utilizado foi investigar os projetos que ainda estavam em desenvolvimento no período das entrevistas. Vê-se que a Fase 2 iniciou-se em 2005 e foi até 2007; no entanto, por atraso das prestações de contas, os convênios precisaram ser aditados e, por isso, ainda estavam em andamento em outubro e novembro de 2008, momento da pesquisa de campo. Três entrevistados, no entanto, preferiram tratar dos seus projetos da Fase 1 (2001 - 2004), pelo motivo de terem sido os mais desafiadores para uma rede em formação, o que foi acatado pela pesquisadora. 222 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Outros Parceiros PC01 - Projeto âncora Rede de Catálise N/NE 2001 2004 (FASE 1) Gestão Unifacs Proposta de planejamento da gestão da rede, para viabilizar o estudo desde a síntese e a caracterização de novos catalisadores até a otimização da formulação de catalisadores já conhecidos. PC02 - Desenvolvimento de pilha a combustível 2001 2004 (FASE 1) UFBA e Unifacs Desenvolver células combustíveis estáveis e eficientes que utilizem gás natural ou hidrogênio como combustível. A proposta engloba também o projeto, montagem e operação de unidades de células combustíveis. PC03 - Aditivos para catalisadores de FCC 2001 2004 (FASE 1) Catálise na produção de combustíveis e energia Desenvolvimento de catalisadores UFSCar, USP, Coppe/ UFRJ e Unicamp - PC04 - Remoção de enxofre em combustíveis através de processos de adsorção 2001 2004 (FASE 1) Superfícies e reatividade superficial Desenvolver novos materiais que possam ser usados como aditivos para catalisadores de FCC, basicamente, óxidos mistos, para oxidação de SOx e materiais tipo AIMCM-41 e para redução do coque formado no catalisador. Desenvolver materiais adsorventes, para remoção de enxofre de combustíveis. PC05 - Dessulfurização oxidativa de frações de petróleo 2001 2004 (FASE 1) Catálise ambiental UFRN, UFC, UFMA, UFBA e Unifacs UFPA, UFRN, UFPE,UEPB, UFC, UFBA, Unifacs UFBA, UFRN, UFMA, UFPE, Unifacs PC06 - Estudo sobre preparação de catalisadores de Low Temperature Shift PC07 - Desenvolvimento de catalisadores para isomerizaçào de Nparafinas visando à melhoria de qualidade 2001 2004 (FASE 1) Desenvolvimento de catalisadores Unit, UFBA, UFC, Unifacs 2001 2004 (FASE 1) Desenvolvimento de catalisadores UFPB, UEPB, UFRN, UFBA, Unifacs Desenvolver processos de oxidação de compostos sulfurados em frações do petróleo, para atender às novas especificações legais do teor de enxofre no diesel e na gasolina. Formar grupo de especialistas capacitados para uso de tecnologias alternativas e para dessulfurização de cargas orgânicas. Realizar estudos sobre preparação e avaliação do catalisador Cu/ZnO/Al2O3 com baixa produção de metanol utilizado no Processo Indústria de Geração de Hidrogênio a partir do Gás Síntese. No hidrotratamento, a perda de octanagem de correntes combustíveis das unidades de FCC é devida, principalmente, à hidrogenação e compostos olefínicos que levam as parafinas. Avaliam-se novos catalisadores zeolíticos, com tioresistência, visando à isomerização dessas parafinas e conseqüente aumento da octanagem das correntes que podem ser usadas na formulação de combustíveis. - - UFRJ Cenpes e Oxiteno Cenpes, Oxiteno e Copene 223 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Outros Parceiros PC08 - Hidrogenação de aromáticos em diesel, na presença de contaminantes sulfurados 2001 2004 (FASE 1) UFBA, UFAL, UFC, UFRN, Unifacs Desenvolver catalisadores ativos, seletivos e resistentes e contaminantes sulfurados e nitrogenados, para a eliminação de compostos aromáticos e poliaromáticos presentes no diesel, elevando, assim, a qualidade deste combustível, principalmente no tocante à emissão de particulados. UFSCar PC09 - Desenvolvimento de catalisadores para redução da emissão de poluentes gasosos de fontes estacionárias PC10 - Desenvolvimento de modelo para otimização do processo de reforma a vapor a partir do gás natural PC11 - Desenvolvimento de catalisadores para a geração e melhoria da qualidade de combustível PC01 - Remoção de Acidez Naftênica com Utilização de Novos Materiais 2001 2004 (FASE 1) UFBA, Unit, UFAL, UFPB, Desenvolver catalisadores para redução dos teores de emissão de poluentes de fontes estacionárias da indústria de petróleo (NOx, SOx, H2S, COVs) a níveis aceitáveis pela legislação, utilizando o método de precursores poliméricos Pechini e métodos tradicionais. EQ/UFRJ e INT 2001 2004 (FASE 1) Desenvolvimentos de catalisadores/ Catálise ambiental Desenvolvimento de catalisadores/ Catálise ambiental Superfícies e reatividade superficial Unifacs, UFBA, UFC Desenvolver modelo híbrido (fenomenológico e empírico), para a descrição do processo de reforma a vapor a partir do gás natural. Fafen-BA 2001 2004 (FASE 1) Desenvolvimento de catalisadores UFBA, UESC, UFPA, UNEB e Unifacs - 2005 2007 (FASE 2) Superfícies e reatividade superficial Unifacs e UFRN Obter catalisadores destinados à geração e à melhoria da qualidade de combustíveis. Formação de especialistas aptos a resolver problemas técnicos em processos de indústrias brasileiras e processos alternativos de viabilidade econômica de aplicação industrial. Sintetizar, caracterizar, selecionar e testar novos adsorventes, para remoção de acidez naftênica em querosene PC02 - Modificações de Zeólita Beta para composição de catalisadores para FCC 2005 2007 (FASE 2) Desenvolvimento de catalisadores Unifacs, UFBA, UFRN e UFPE Estudar o potencial de aplicações da zeólita Beta na composição de catalisadores, para o craqueamento catalítico, visando direcionar o processo e, assim, minimizar a formação de aromáticos. - - 224 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Outros Parceiros PC03 - Estudo Experimental da Separação de CO2 de correntes gasosas utilizando adsorção por variação de pressão PC04 - Síntese e Caracterização de componentes eletroquímicos para células a combustível PC05 - Caracterização de catalisadores adsorventes por XPSEspectroscopia Fotolítica 2005 2007 (FASE 2) Catálise ambiental Unifacs, UFRN e UFPE Estudar a captura do CO2 de emissões gasosas industriais, visando à sua injeção em campos maduros, para recuperação avançada de petróleo, ao mesmo tempo em que reduz o impacto ambiental provocado por essas emissões. - 2005 2007 (FASE 2) Produção de combustíveis e Energia UFPE, Unifacs e UFRN Desenvolver e caracterizar os eletrocatalisadores para ânodos e membrana condutora de prótons, para uso em célula a combustível alimentadas a etanol. - 2005 2007 (FASE 2) Superfícies e reatividade superficial UFBA Caracterizar a superfície dos sólidos, catalisadores e adsorventes, aplicados em reações e sistemas de absorção, por ESCA-XPS, espectroscopia fotoeletrônica de raios-X. - PC06 - Gestão da Tecnologia em Redes de Catálise 2005 2007 (FASE 2) Gestão Unifacs Organizar os esforços da rede por intermédio de práticas de gestão da tecnologia, para obter sinergia e diminuição dos custos dos projetos, para atingir os resultados esperados. - PC07 Desenvolvimento de Catalisadores para a Geração de Hidrogênio pela reforma autotérmica do metano. 2005 2007 (FASE 2) Desenvolvimento de catalisadores/ Produção de combustíveis e energia UFBA, UFRN e Unifacs Estudar catalisadores níquel suportados em sílica e MCM-41 e promovidos com alcalinos terrosos na geração de hidrogênio, por meio da reforma autotérmica do metano. - PC08 - Síntese e caracterização de catalisadores para reações de watershift em altas temperaturas. 2005 2007 (FASE 2) Desenvolvimento de catalisadores Unifacs e UFBA Estudar a síntese e caracterização de catalisadores que sejam ativos, estáveis e seletivos para a reação de watershift em altas temperaturas, conhecida como reação de HTS (CO reage com vapor de água para formar CO2 e H2). Pretende-se a produção e avaliação do catalisador em escala semi-piloto. - 225 Projeto Cooperativo Período Grande Tema Universidades Participantes Objetivo Geral Outros Parceiros PC09 - Isomerização de N-Parafinas presentes em correntes de refino 2005 2007 (FASE 2) Catálise ambiental UFRN, UFCG, Unifacs e UEFS - PC10 - Oxidação do Monóxido de carbono em hidrogênio 2005 2007 (FASE 2) UFBA e UEFS PC11 - Síntese e seleção de perovsquitas para reforma a vapor PC12 - Degradação fotocatalítica de derivados em águas superficiais 2005 2007 (FASE 2) 2005 2007 (FASE 2) Desenvolvimento de catalisadores/ Produção de combustíveis e energia Desenvolvimento de catalisadores Catálise ambiental Estudar a síntese de catalisadores de platina suportados nas zeólitas HZSM-12 e HBETA com diferentes razões Si/Al para utilização na reação de hidro-isomerização de n-heptano e n-octano, visando à produção de combustíveis da maior octanagem e valor agregado e com menor efeito sobre o ambiente e a saúde humana. Selecionar formulação e estabelecer o protocolo de preparação para a produção de um catalisador alternativo para a oxidação seletiva de monóxido de carbono em correntes ricas de hidrogênio, de modo a atender os requisitos de alta pureza para uso nas células a combustível: temperatura de operação abaixo de 100º C e teores finais de CO inferiores a 100ppm. Sintetizar, caracterizar, selecionar e testar perovsquitas nano-estruturadas para reforma catalítica a vapor. - PC13 - Separação de NParafinas (C10-C13) de correntes precursoras de querosene de aviação através da adsorção sobre peneiras moleculares microporosas. 2005 2007 (FASE 2) Estudar a degradação fotocatalítica, utilizando os catalisadores: TiO2 puro, suportado em alumina e suportado em quitosana fotoativados por radiação UV, para mineralização de compostos aromáticos provenientes de ambientes contaminados com vazamento de petróleo Estudar a síntese, caracterização e avaliação de adsorventes e do processo de separação de n-parafinas, na faixa de C10 a C13, de correntes precursoras de querosene, por meio de adsorção sobre materiais microporosos com diferentes composições (zeólitas, ALPO’s e SAPO’s), contendo poros com abertura formada por anéis de 8 tetraedros. As nparafinas são produzidas na Rlam, têm maior valor agregado que os combustíveis e são utilizadas na produção de linear alquibenzeno (LAB) Superfícies e reatividade superficial UFRN, UFBA e UFPE ITP (Unit), UFBA e UFRN Unifacs, UFRN, UFCG, UEPB e UEFS Quadro 9 – Projetos cooperativos da Rede de Catálise Fonte: Adaptado de www.recat.org.br. Acesso em: 03 nov. 2007. - - - 226 A seguir, constam os projetos investigados, com objetivo, investimento, instituições participantes, pessoal, resultados e uma percepção geral de sua capacitação científica e tecnológica. 3.3.3.1 PC01 (Fase 1) - Projeto âncora Rede de Catálise N/NE (Gestão) O Projeto Cooperativo PC01 (Fase 1), coordenado pela Unifacs, foi o primeiro projeto de gestão executado pela Recat e teve como objetivo definir um planejamento estratégico para a atuação da Rede. O projeto nasceu da percepção da carência em gestão interna das universidades e da necessidade de traçar uma possibilidade de modelo de gestão para a Rede de Catálise, que pudesse ser aplicada. De acordo com seu coordenador, a estratégia baseou-se em cinco pontos-chave, quais sejam: i) Estratégia; ii) Fontes de Tecnologia; iii) Gestão do Conhecimento; iv) Inovação de produtos e processos; e v) Resultados. A estratégia foi traçada para definir os objetivos da Rede e como atingí-los. As fontes de tecnologia foram mapeadas para definir quais tecnologias seriam desenvolvidas e quais delas seriam adquiridas prontas no mercado. Quanto à Gestão do Conhecimento, sua função é organizar o conhecimento gerado na Rede de forma a deixá-lo disponível a todos os membros e parceiros; nesse projeto, foram apontados mecanismos possíveis para tal fim. No que se refere à inovação de produtos e processos e que envolve a rotina da pesquisa em catálise, refletiu-se sobre como é gerado um catalisador e como se deveria proceder no caso de criação desse novo produto, o que envolve, também, questões sobre propriedade intelectual. Para medir resultados, de acordo com Uchoa (2008), foram sugeridos no projeto indicadores para monitorar o desempenho da Recat, que, no entanto, não foram disponibilizados para esta pesquisa. Esse projeto de gestão da Rede recebeu um recurso inicial, mas, conforme seu coordenador: “No fundo, foi um trabalho mais conceitual do que prático [...] e teria que evoluir mais, detalhar mais, para pôr isso na prática. Não sei se isso ganhou sustentação”. (UCHOA, 2008). Apesar de constar no Quadro 9, já visto, o PC06 - Gestão da Tecnologia em Redes de Catálise, conforme o mesmo coordenador, esse projeto não teve continuidade, uma vez que não foram disponibilizados mais recursos para fins de gestão. 227 3.3.3.2 PC03 (Fase 1) - Aditivos para catalisadores de Fluid Catalytic Cracking (FCC) O Projeto Cooperativo PC03 (Fase 1) é coordenado pela UFRN e seu objetivo é desenvolver novos materiais que possam ser usados como aditivos para catalisadores de Fluid Catalytic Cracking (FCC), basicamente, óxidos mistos para oxidação de SOx e materiais tipo AIMCM-41, para redução do coque formado no catalisador. O investimento total desse projeto ficou em torno de R$ 500.000,00. Participaram desse projeto a UFRN, UFC, UFMA, UFBA e Unifacs. Das instituições participantes, somente a UFC e a Unifacs, haviam, anteriormente, estabelecido parceria, em projetos do CNPq por meio de intercâmbio entre seus estudantes. Conforme informações coletadas, no total, trabalharam cinco pessoas nesse projeto, sendo que dois professores e três bolsistas que já se formaram. O estudo passa pela preparação, caracterização e avaliação dos aditivos para catalisadores. As tarefas subdividemse entre os atores da rede : i) preparação e caracterização, ii) adsorção e iii) testes catalíticos. Foi informado que, quando disponíveis no mercado, procura-se utilizar matéria-prima nacional, por exemplo, para a preparação do material. Caso não exista, é necessário importar. De acordo com Souza (2008), um reator catalítico pode ser importado, comprado pronto, no entanto, seu preço é o custo de um projeto inteiro. Dessa maneira, na maioria das vezes, monta-se o reator no laboratório, tornando-o nacional. O laboratório está equipado com cromatógrafo e reator catalítico; a maioria dos equipamentos é importada. De acordo com seu Coordenador, o que tem mais ocorrido como resultado do projeto é um maior conhecimento (princípios de C&T) sobre os catalisadores e aditivos, o que vem oferecendo oportunidade de contribuições ao setor produtivo: [...] de posse de um resultado, você já pode tentar trabalhar na otimização de um processo que esteja com dificuldade operacional. Até mesmo, na hora em que a gente desenvolve um produto, pode ser até que não coloque em prática imediatamente, mas, se a empresa quer comprar um catalisador novo, o projeto auxilia a empresa a decidir qual o melhor material para ser comprado (SOUZA, 2008). Nesse sentido, a base de conhecimento encontra-se na pesquisa científica e tecnológica, principalmente, na prática do laboratório e nos testes de bancada, que em alguns casos, chega à operação na indústria. 228 A aquisição de capacidade acontece no ato de pesquisar, nos testes, na própria capacitação de pessoal, na troca de conhecimento entre os pesquisadores, nas participações em bancas e eventos como o Encat: Eu queria frisar uma reunião importante que é o Encontro de Catálise (Encat). Esse é o forum de discussão a cada dois anos em que nós nos reunimos, é o encontro regional e onde acontece também a reunião oficial da Recat. Nesta reunião são apresentados os resultados dos projetos e são convidadas a Finep e a Petrobras. Eles avaliam e fazem o relatório. [...] nos anos ímpares, acontece o Encontro Nacional, o CBCat, e nos anos pares, os Regionais (SOUZA, 2008). Como resultados gerais identificados do PC 03 (Fase 1) têm-se: i) dos três alunos que participavam do projeto, todos passaram em concurso público para professor em Universidade Federal (UFS, UFAL e UFCG) e, recentemente, aprovaram projetos na Petrobras e na Universidade; ii) o projeto gerou continuidade na Fase 2 da Recat (PC02 Fase 2) Modificações de Zeólita Beta para composição de catalisadores para FCC. Neste, estão trabalhando dois professores e dois alunos; iii) pela participação da UFRN nas Redes N/NE, essa universidade criou um novo curso de pós-graduação intitulado “Ciência e Engenharia de Petróleo” e vem formando recursos humanos para a Petrobras; iv) A UFRN já possuía curso de Mestrado e Doutorado em Química e Engenharia, que tinham, respectivamente, conceito três e quatro; com o ingresso nas Redes N/NE e com o fortalecimento da linha de pesquisa em catálise, já existentes em período anterior, ambos os cursos passaram para conceito cinco da Capes. Como conhecimento tácito importante gerado pelos projetos, têm-se que a pesquisa e seus resultados operacionais estão criando competências para a otimização de processos e produtos. Mesmo que o produto criado não seja colocado em prática de forma imediata, a posse desse conhecimento contribui no apoio à decisão, por exemplo, para a compra de um catalisador mais adequado às necessidades da indústria. De acordo com o Coordenador do projeto, ainda é cedo para vislumbrar um impacto no estado da arte, mas, o trabalho caminha para a criação, adaptação e utilização de tecnologias. 229 3.3.3.3 PC04 (Fase 1) - Remoção de enxofre em combustíveis por meio de processos de adsorção O Projeto Cooperativo PC04 (Fase 1) é coordenado pela UFPE e visa desenvolver materiais adsorventes para remoção de enxofre de combustíveis. Participaram desse projeto a UFPA, UFC, UFRN, UFCG, UFPB, UEPB, Unifacs e UFBA. Das instituições participantes, somente com a UFPA não havia relacionamento anterior. Vale lembrar que os contatos existentes anteriormente à Rede de Catálise eram muito mais pessoais do que institucionais. Trabalham nove pessoas no projeto, dentre estudantes de pós-graduação, alunos de iniciação científica, técnicos e professores. Um dos técnicos inseridos no projeto chegou a fazer mestrado e doutorado e, hoje, é responsável pelas análises no laboratório. Os equipamentos essenciais à pesquisa, como os cromatógrafos, e o material utilizado para caracterização e os reagentes que precisam ter qualidade superior, são importados. Percebeu-se que o processo de aprendizagem do PC04 (Fase 1) ocorre na prática diária da pesquisa, ou seja, na utilização dos equipamentos disponíveis, na resolução dos problemas detectados ou na criação de algo novo. Conforme sua coordenadora: “Na UFPE agora mesmo teve um aluno que defendeu a dissertação de Mestrado, o Prof. Antonio Souza (UFRN) participou até da banca, e esse material está sendo analisado para provável depósito de patente [...]”. (BARBOSA, 2008). A aprendizagem acontece, ainda, na troca de informações entre pesquisadores, no treinamento e na capacitação de pessoas. Um exemplo disso é revelado pela mesma coordenadora: No laboratório de catálise, a gente tinha uma técnica que somente ministrava aulas na universidade e não participava em nada mais. Quando preparamos o laboratório, aos poucos conseguimos que ela se engajasse. Ela entrou no Mestrado, depois, no Doutorado, e, atualmente, é responsável pelas análises no laboratório. Era uma pessoa completamente apática, nós a inserimos no projeto, definimos responsabilidades, e hoje quem lida com o equipamento é ela, [...] está motivada, é o antes e o depois. (BARBOSA, 2008). A base de conhecimento vem da ciência, da aplicação prática e dos resultados, frutos do conhecimento operacional nas rotinas de pesquisa no laboratório que têm potencial de auxílio à indústria. Os pesquisadores aprendem, também, interagindo com outras redes, conforme depoimento da coordenadora a seguir: 230 Vários professores da UFPE participam de outras redes, não só da Rede de Catálise, mas da Rede Asfalto, de Combustíveis, etc.. Nas 13 redes nós temos pesquisadores da UFPE; então, o resultado disso é que cada vez mais o nível e a quantidade de projetos contratados aumentam e isso aconteceu a partir do momento em que a Petrobras começou a investir em infra-estrutura dos laboratórios. (BARBOSA, 2008). Como resultados gerais identificados no PC04 (Fase 1), têm-se: i) dos três alunos que participavam do projeto, dois passaram no concurso da Petrobras e outro foi contratado por uma empresa privada; ii) desenvolveu-se competência quanto à preparação de catalisadores e adsorventes, estudo de novos catalisadores; à sua caracterização; à avaliação, interpretação de resultados e estudos de adsorção (ex. remoção de enxofre); e a assuntos relacionados ao meio ambiente; iii) a UFPE presta serviços a órgãos do estado, por exemplo, para o controle de meio ambiente; os parceiros recolhem as amostras do material a ser analisado e solicitam o apoio da UFPE; e iv) no Mestrado em Engenharia Química da UFPE, foi desenvolvida a linha de pesquisa Catálise e Adsorção, que reforçou a pós-graduação. Em 2007, foi implantado o Doutorado, fruto da Rede de Catálise, mas também das outras 12 redes em que a UFPE participa. De acordo com sua coordenadora, ainda é cedo para impactar o estado da arte, mas o projeto tem criado capacitação para resolver os problemas detectados. 3.3.3.4 PC05 (Fase 2) - Caracterização de catalisadores adsorventes por Espectroscopia Fotolítica (XPS) O Projeto Cooperativo PC05 (Fase 2) é coordenado pela UFBA e visa caracterizar a superfície dos sólidos, catalisadores e adsorventes, aplicados em reações e sistemas de absorção, por espectroscopia fotolítica de raios-X (XPS). Somente a UFBA participa desse projeto. Não houve informação sobre o valor investido. O equipamento Espectroscopia Fotolítica (XPS) fica localizado nas instalações da UFBA e realiza análise química de superfície; é um aparelho que pode aprofundar o conhecimento em catálise. Sua fabricação é inglesa, e foi doado pela Universidade Paris VII, na qual a coordenadora do projeto cursou o Doutorado. Como o equipamento estava com defeito, este precisou ser levado à Bélgica para avaliação, o que foi possível devido ao financiamento conseguido pela Coordenação da Recat junto à Fundação de Amparo à 231 Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). Trabalham no PC05 (Fase 2) um técnico francês especializado no uso do equipamento, e uma professora, que é a própria coordenadora do projeto. As atividades tecnológicas são predominantemente de uso, operação do XPS, correção de defeitos e assimilação de conhecimentos existentes. A base de conhecimento do projeto é, basicamente, operacional e científica, tanto na utilização do equipamento quanto na sua interpretação e nos resultados gerados: Apesar de não ter sido o objetivo inicial, o projeto tem trabalhado praticamente como um “prestador de serviços” para outros projetos Recat. O projeto tem feito parte de várias teses, em que foram analisados os resultados [...] O equipamento não é utilizado diretamente pelos alunos, e, sim, indiretamente. Isso por causa dos problemas que o mau uso do aparelho pode acarretar, de imprecisão e de custos de reposição. (ROCHA, 2008). A aquisição de capacidades foi realizada com a contratação do técnico francês e com a utilização do equipamento e interpretação dos resultados. Essa capacitação irá ampliar-se num futuro próximo, já que, conforme sua coordenadora: Um dos projetos com a Petrobras é formar pessoas para tratar os dados. Dessa forma, vamos poder difundir mais o uso da técnica. Esse projeto está sendo realizado por contratação direta. (ROCHA, 2008). Como resultados gerais identificados para o PC05 (Fase 2), têm-se: i) o projeto está funcionando, na prática, como um prestador de serviços para projetos da Recat, bem como para instituições fora da Rede; ii) os resultados têm sido utilizados em teses de doutorado; e iii) há um novo projeto que foi encaminhado para a Petrobras para a compra de um equipamento de última geração que, no momento da entrevista, estava na ANP para análise e, provavelmente, será viabilizado com recursos das Redes Temáticas. 3.3.3.5 PC07 (Fase 2) - Desenvolvimento de Catalisadores para reforma auto-térmica do metano. O Projeto Cooperativo PC07 (Fase 2) é coordenado pela UFBA e tem como objetivo desenvolver catalisadores para reforma auto-térmica do metano - é a reação que visa à 232 geração do hidrogênio. O investimento do projeto, incluindo a Recat (Fase 2) e, agora, a Fase 4, está em torno de R$ 265.000,00. Participam do PC07 a UFBA, UFRN e a Unifacs. O projeto envolve, de acordo com sua coordenadora, 20 pessoas, dentre técnicos, professores permanentes, estudantes e bolsistas. Os equipamentos de grande porte são estrangeiros, e os de pequeno porte são nacionais, a exemplo dos agitadores, estufas e capelas. Os melhores reagentes, de acordo com Brandão (2008), ainda, são de marcas internacionais, mas já existem nacionais. Nesse projeto, a Recat adquiriu um equipamento considerado importante, o Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), bem como uma sonda e um metalizador, pois os catalisadores precisam ser metalizados quando não são condutores. Um outro equipamento importante está sendo comprado para a UFRN, para fazer caracterização por microscopia eletrônica de transmissão. Esse equipamento tem uma precisão maior para coletar mais informações sobre o catalisador. O objetivo de aprendizagem deste projeto é pesquisar, compreender e desenvolver princípios da catálise. Conforme a coordenadora do projeto: “Desenvolver catalisadores que sejam ativos, seletivos, para converter o metano, o gás natural, na realidade, em hidrogênio que é um combustível de extrema importância por não ser poluente”. (BRANDÃO, 2008). A aquisição de capacidade acontece no aprender fazendo, testando, fracassando, interagindo com outros pesquisadores e alunos. No momento da entrevista, o projeto estava, ainda, numa fase mais assimilativa, com aquisição de equipamentos e reagentes e pesquisa mais de suporte, aprendendo e assimilando tecnologias já existentes: “Na realidade, o que a gente tem gerado é publicação. Até agora, nós não temos patentes.[...] A grande contribuição mesmo é formação de pessoas, mais do que qualquer avanço tecnológico ou científico”. (BRANDÃO, 2008). Os testes realizados ainda são de escala de bancada50, não se passou para piloto. Os catalisadores estudados têm dado resultado em termos de seletividade; funcionam para o processo, mas ainda não foram direcionados para a indústria. Como resultados gerais alcançados a partir do projeto têm-se: i) a participação na Rede de Catálise e em outras redes, como a Rede de Hidrogênio, a Rede de Células a Combustíveis (redes nacionais com aporte do MCT), o Programa de Células Combustíveis (Procac), Rede 50 Os testes em P&D passam pela bancada (laboratório), planta piloto e unidade industrial (scale up). Quando essas etapas são vencidas, projeta-se a Engenharia Básica, em seguida, o projeto de detalhamento e, por fim, a construção e montagem. 233 Nacional de Combustão e Rede de Materiais, vem alavancando cada vez mais novos projetos; ii) absorção pelo mercado dos alunos que participavam do projeto: dois foram contratados pela Braskem e pela Ford e outros dois passaram em concurso para a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) e a UFBA; iii) estabelecimento de parcerias entre a UFBA e a Unifacs para o Doutorado em Engenharia Química, cujos professores são participantes da Rede de Catálise; iv) a apresentação de trabalhos em eventos e a participação em bancas potencializaram as possibilidades de novas relações e projetos; e v) compartilhamento do laboratório e seus equipamentos com outras instituições que não necessariamente participam como membros da Rede, a exemplo da área forense, e até mesmo com unidades de ensino dentro da própria universidade, como o curso de Odontologia que utiliza o Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). Dessa forma, ampliam-se as conexões da Rede e maximizam-se a utilização dos recursos disponíveis. 3.3.3.6 PC08 (Fase 2) - Síntese e caracterização de catalisadores para reações de watershift em altas temperaturas O Projeto Cooperativo PC08 (Fase 2) é coordenado pela Unifacs e tem como objetivo estudar a síntese e caracterização de catalisadores que sejam ativos, estáveis e seletivos para a reação de watershift em altas temperaturas, conhecida como reação de HTS (CO reage com vapor de água para formar CO2 e H2). Pretende-se a produção e avaliação do catalisador em escala semi-piloto. O investimento para esse projeto não foi explicitado. O projeto envolve um total de cinco pessoas, incluindo professores e alunos da Unifacs e da UFBA. Não existia um laboratório para o projeto, na Unifacs. Este foi construído, principalmente, por causa da Recat, mas houve o apoio de outros projetos. A linha cromatográfica foi montada no laboratório da Unifacs; comprou-se a linha cromatográfica em separado, ou seja, cromatógrafo, computador, estabilizador, controlador e bomba, e, assim, foi montada a linha. Em seguida, o sistema foi colocado para funcionar com os primeiros testes de material. A UFBA ficou responsável pelo desenvolvimento dos catalisadores. Os equipamentos mais simples como estufas e fornos de calcinação, dentre outros, são nacionais. Os equipamentos mais sofisticados como cromatógrafos e o Micro CG (deste, somente há dois no Nordeste, um na Rlam e outro na Unifacs) são importados. O projeto 234 utiliza material importado, considerado de melhor qualidade, o que elimina fatores que possam interferir nos resultados da pesquisa de forma negativa. O objetivo de aprendizagem desse projeto está na pesquisa e no desenvolvimento e avaliação do catalisador em escala semi-piloto, utilizando equipamentos e tecnologia, em princípio, já existentes. Devido aos problemas de atrasos na análise, pela Finep, das prestações de contas encaminhadas, o projeto ficou sem recursos para continuar, o que comprometeu seus resultados, como revela a Coordenadora do projeto: O nosso objetivo final é produzir um catalisador. A gente não tem como dizer quando, porque primeiro a gente não tem financiamento, porque ainda falta uma parcela. E acho que a Petrobras não está muito mais interessada, pelo tempo já decorrido. [...] esse projeto não terminou e já vai começar o outro. Depende de muitas coisas, é complicado.[...] A gente tem aquele catalisador que já conseguimos igualar ao material importado. (MONTOYA, 2008). Pelas dificuldades decorrentes do atraso na chegada de recursos, o projeto teve um caráter mais assimilativo, com a aquisição de equipamentos, seu uso, manutenção, realização de ensaios, e por conseguirem produzir um catalisador de mesma qualidade do importado em escala semi-piloto. Como modo de aprendizagem, verifica-se a prática mesmo da pesquisa, o uso da tecnologia disponível e a troca entre pesquisadores e alunos. A base de conhecimento utilizada é basicamente científica e operacional. Como resultados gerais do projeto têm-se: i) construção do relacionamento com a Petrobras; ii) fortalecimento da linha de pesquisa em catálise do Mestrado em Regulação de Energia da Unifacs, e da ênfase “Petróleo e Gás” na Graduação em Engenharia; e iii) equalização dos catalisadores nacionais ao material importado, permitindo maior confiabilidade nos resultados da pesquisa. 3.3.3.7 PC10 (Fase 2) - Oxidação do monóxido de carbono em hidrogênio O PC10 (Fase 2) é coordenado pela UFBA e tem como objetivo formular e estabelecer o protocolo de preparação para a produção de um catalisador alternativo para a oxidação seletiva de monóxido de carbono em correntes ricas de hidrogênio, de modo a atender os 235 requisitos de alta pureza para uso nas células a combustível: temperatura de operação abaixo de 100º C e teores finais de CO inferiores a 100ppm. O projeto conta com a participação da UFBA e da UEFS. Nesse projeto, a UFBA já tinha contato e havia cooperação informal com professores da UEFS em momento anterior à Rede. Nesse projeto, a UFBA ficou responsável pela preparação, caracterização e avaliação dos catalisadores. Já a UEFS tem um laboratório menor e não faz avaliação, mas tem equipamentos de caracterização que a UFBA não possui, como a Microscopia Eletrônica de Varredura. As universidades complementam-se. O investimento desse projeto foi de R$ 151.543,13. Como nos outros projetos da Rede de Catálise, os equipamentos de grande porte são estrangeiros. Nacionais, somente os equipamentos de pequeno porte. Esse projeto destaca-se pela sua proposta de geração de conhecimento, mais do que um produto ou um processo específico. Conforme sua coordenadora: Dentro dessa rede, não geramos patentes. As nossas propostas da Recat que eu coordenei têm um caráter muito acadêmico, no sentido de formação de pessoal para a atividade técnica de pesquisa em catálise, mais geração de conhecimento e potencial aplicação industrial. É de interesse industrial, tem aplicação prática, mas o foco principal é gerar conhecimento e não produto. Quando eu faço meu contrato direto com a Petrobras, nem sempre eu crio um produto que gera a melhoria de um processo e será patenteado. O objetivo de formar pessoal foi uma das principais razões das redes, fomentar o desenvolvimento de competências na região. (ANDRADE, 2008). A base de conhecimento desse projeto é a pesquisa e o desenvolvimento derivado da ciência e tecnologia. O propósito é gerar conhecimento que possa ser, mais tarde, utilizado na indústria. Aprende-se fazendo pesquisa, interagindo com outros pesquisadores e com o mercado, absorvendo novas tecnologias, adaptando e criando novas metodologias. Conforme a coordenadora: O que a gente mais faz é desenvolver metodologia. A partir de uma técnica já existente, a gente desenvolve uma metodologia. Na nossa área, a gente não desenvolve equipamento, mas metodologia de processos. Na verdade, a gente estuda muito processo, otimização mesmo. (ANDRADE, 2008). Como resultados gerais do projeto, têm-se: i) elaboração de dissertações de mestrado e teses de doutorado; ii) absorção dos alunos que trabalharam em projetos da Recat pelo mercado ou pela academia: os alunos saem empregados ou permanecem na pós-graduação; iii) submissão de novos projetos - a Recat chega a sair do âmbito da Rede para buscar recursos, tornando-se uma instituição; iv) ampliação da interlocução com o setor produtivo; v) 236 desenvolvimento de metodologias e sua otimização; e vi) divulgação dos resultados em congressos e eventos da área. 3.3.3.8 PC12 (Fase 2) - Degradação fotocatalítica de derivados em águas superficiais O PC12 (Fase 2) é coordenado pela Universidade Tiradentes (Unit) e visa a purificar a água contaminada quando há vazamento, perda de petróleo. O petróleo não é solúvel em água, mas há substâncias dele que são cancerígenas e solúveis em água, como o benzeno e o tolueno. O projeto processa uma metodologia para remover esses poluentes altamente cancerígenos. Começaram investigando postos de gasolina e possíveis vazamentos dos tanques, mas os donos de postos não se interessaram porque ficaram preocupados com os possíveis resultados das pesquisas. Desta forma, como o processo é simples, o projeto compra a gasolina e faz a simulação do vazamento em laboratório. É o único projeto da Recat que trabalha com fotocatálise. O projeto conta com a participação da UFBA, Unit e UFRN, e teve um investimento de R$ 150.000,00 por parte da Recat, R$ 60.000,00 do Banco do Nordeste (BNB) e R$ 230.000,00 do CNPq. Mais de 15 pessoas trabalham no projeto, incluindo professores, bolsistas, alunos de graduação, mestrado e técnicos de laboratório (dois na UFBA e três UFRN). Nesse projeto, a Unit prepara catalisadores com a UFRN, a UFBA caracteriza e faz o estudo para ver se a composição está correta e a Unit faz os testes de decomposição dos poluentes. O laboratório do ITP (Unit) foi montado com financiamento, a fundo perdido, do Banco do Nordeste (BNB). Com esse recurso, compraram, principalmente, o cromatógrafo e os computadores. Com a Recat, o laboratório pôde equipar-se ainda mais. O projeto tinha o propósito de ser mais generativo, conforme a classificação de Dantas e Bell (2006), ou seja, gerar e desenvolver tecnologias próximas da fronteira tecnológica internacional, no entanto, devido a problemas no repasse dos recursos, conforme seu coordenador: Para você ter uma idéia, quando fomos convidados a participar deste projeto, este catalisador ainda não existia comercialmente no mundo todo. Demorou tanto.. Depois de dois anos é que fomos receber o recurso, uma parcela minguada, e o catalisador já estava sendo comercializado fora do Brasil, 237 então, não dá para acompanhar. A indústria já tinha produzido o que a gente ia produzir. (TAVARES, 2008). Dessa forma, dado o atraso no repasse dos recursos, o projeto perdeu seu potencial generativo e passou a um nível mais assimilativo com adaptação de tecnologias. Como resultados gerais do PC12 (Fase 2), de acordo com Tavares (2008), têm-se: i) a criação de uma disciplina de Catálise aplicada no Mestrado em Engenharia de Processos Catálise, em fevereiro de 2005; ii) fortalecimento das linhas de pesquisa do Mestrado e absorção de alunos do Curso de Engenharia Ambiental, criado em 2001; iii) melhoria da infra-estrutura do laboratório existente na Unit; e iv) formação de pessoal. 3.3.4 Rede de Catálise: capacidades e competências científicas e tecnológicas Conforme relatado por Schmal (2004), anteriormente, no governo Fernando Collor de Mello, as pesquisas industriais e acadêmicas foram interrompidas. Como a formação de pessoal qualificado, principalmente fora do eixo RJ-SP, na área da catálise, foi praticamente destruída, retomar essa capacitação não seria tarefa simples. Devido à falta de investimentos, havia carência muito grande de equipamentos e laboratórios adequados para o aprimoramento das pesquisas. Como na pesquisa em pavimentação, no Brasil, o estudo da catálise distribui-se desigualmente entre as regiões: E o que é muito importante falar é que o grau de desenvolvimento, as inovações, no Brasil, o estado do desenvolvimento não é equilibrado. Na nossa área (catálise) o que há de mais desenvolvido encontra-se no Rio de Janeiro e São Paulo; nas demais áreas está incipiente. (PRAVIA; LAU, 2008). O recurso para a formação inicial das redes, no Edital CT-Petro/CNPq-Finep 03/2001, foi essencial para o resgate dos contatos e do interesse para vislumbrar novos estudos na área para as regiões N/NE. Foi o Prof. Luis Pontes, da Unifacs, quem capitaneou a Rede de Catálise e quem recebeu os recursos iniciais do edital para a formação das redes. De acordo com o Coordenador da Recat: “Na verdade, a Universidade Salvador é a líder da Rede. A proposta da Rede de Catálise foi minha. Então, nós entramos por causa disso e porque a gente tinha um grupo multi-competência aqui com seis doutores na área. Nós ficamos entre as 13 redes”. (PONTES, 2008). 238 Muitas instituições que ingressaram na Rede já atuavam na área da catálise, apesar das dificuldades de recursos, como mostra o depoimento a seguir: Antes da Recat, sei que a UFRN, UFBA e Unifacs já atuavam na área de catálise. Na Rede, quase todos os membros são pessoas da área de catálise. Que eu saiba, somente tem uma pessoa da Federal de Campina Grande, que é da área de materiais, e que começou a preparar catalisadores por conta da Rede. Ela veio de São Carlos, nós não a conhecíamos. Os outros da Recat Fase 1 e 2 são pessoas que tinham doutorado na área de catálise, professores que entraram recentemente nas universidades, e que tinham dificuldade em consolidar infra-estrutura, porque precisamos de equipamentos caros, reagentes, bolsas para estudantes; daí tiveram, realmente, um input com o aporte que foi feito pela Finep e Petrobras. (BRANDÃO, 2008). Em relação à formação da Recat, quando perguntado sobre a existência de relacionamentos anteriores entre os membros, é revelado que o contato com pesquisadores da área já existia, mas o formato que envolve as instituições formais aos quais pertencem e os projetos em conjunto, são novos: Pesquisadores, individualmente, neste caso, eu só não conhecia as pessoas da Paraíba. Então, a gente tem uma cooperação informal com todos da área. Em alguns casos, por exemplo, com a Unit, a gente tinha cooperação formal, porque um deles foi aluno meu. Aí, neste sentido houve bastante contato científico pesquisador-pesquisador. Agora, em termos contratuais, foi tudo novo. Formal, foi o primeiro convênio que a gente assinou, estavam o nosso reitor, o reitor da Paraíba.. e aí vai. (ANDRADE, 2008). O ingresso na Recat vem contribuindo para o exercício do tripé Pesquisa, Ensino e Extensão, num ambiente em que faltavam recursos: Para a UFBA, o ingresso na Rede foi uma forma de conseguir fazer pesquisa na Universidade. [...] Quando eu cheguei aqui, há 13 anos atrás, não tinha nada, mal conseguia um laboratório vazio. E para você fazer pesquisa em determinadas áreas tecnológicas, você tem que ter muita verba para compra de equipamentos (em grande parte, importados), dos mais simples até os mais sofisticados; a própria infra-estrutura do laboratório, as bancadas, capela, toda a questão envolvida, reagentes; tudo é muito caro. Tem uns (reagentes) em que um frasco custa R$ 1.000, R$ 2.000, com uma grama somente, dependendo se envolve material nobre, gás. A manutenção desses equipamentos é cara, e também a questão de bolsas, porque se a gente não tem bolsas, hoje em dia, é dificil. Tem toda uma política de iniciação científica da UFBA, a gente consegue, às vezes, captar algumas bolsas, mas são poucas, a cota que vem não é suficiente. Então, a gente tem que suplementar isso, por meio desses projetos, conseguimos bolsas e o fomento da pesquisa na universidade. (BRANDÃO, 2008). De acordo com uma outra Coordenadora de projeto, também da UFBA, a existência da Recat trouxe o setor produtivo para uma relação mais próxima com as universidades: 239 Ampliar a interlocução com o setor produtivo, que estava meio esquecida. As pesquisas têm agora maior propósito de aplicação, mesmo sendo pesquisa acadêmica, fundamental. Trouxe um elo de realidade para aquela imagem horrorosa da “Torre de Marfim”. Trouxe a universidade para o mundo real, para a produção, tecnologia. A questão ambiental não mais poética, romântica, mas vinculada à prática. Porque a gente não pode abrir mão da tecnologia. Então, vamos usar competência para desenvolver tecnologia para melhorar o meio ambiente coexistindo com a tecnologia de produção. Essa consciência foi ampliada. É mais uma competência de visão. Em termos técnicos, melhorou muito, porque uma vez que entra o recurso, melhora muito. (ANDRADE, 2008). Além disso, de acordo com Andrade (2008), o surgimento da Recat foi importante para o desenvolvimento da catálise no Norte/Nordeste: “A Recat alavancou a pesquisa em catálise no Norte/Nordeste [...] A catálise na região teve um desenvolvimento importante, eu diria até impressionante a partir da Recat”. E, mesmo havendo problemas nas fases posteriores, em relação à entrada de recursos, relata a mesma coordenadora: “Eu considero que a Recat foi a porta de entrada. Quando eu digo que eu vou ser sempre Recat, mesmo que eu não tenha um financiamento através da Recat, foi a partir da Recat que a gente firmou parceria com a Petrobras". (ANDRADE, 2008). Conforme os dados obtidos no site da Recat e que constam no Quadro 9 anterior, a Oxiteno chegou a participar do projeto PC06 (Fase 1) - Estudo da preparação de catalisadores de Low Temperature Shift, essa empresa, em conjunto com a Copene (atual Braskem) participaram do PC07 (Fase1) - Desenvolvimento de catalisadores para isomerização de Nparafinas, visando a melhoria da qualidade. No entanto, de acordo com Pravia e Lum (2008): “A Braskem participou no início de um projeto de refoma, mas depois ficou de fora. A Oxiteno não chegou a participar”. Isso revela que, apesar dos esforços da coordenação e de seus participantes em envolver empresas privadas, e do interesse de algumas delas, há ainda muitas dificuldades na interação. Além disso, foi observado que as empresas preferem não compartilhar dos mesmos projetos, como relata o Coordenador da Recat: Normalmente, a Petrobras não entra no projeto quando a Oxiteno ou a Braskem participam. A Bahiagás está interessada agora. O CT-Gás pediu inscrição - é uma empresa da Petrobras, é um Centro de Tecnologia de Gás, do RN. Ela pediu para entrar, para participar, mas não houve mais projetos depois. (PONTES, 2008). Como não foi concedido acesso aos Relatórios da Rede de Catálise, sob a alegação de necessidade de sigilo, o relato do Coordenador da Recat (Petrobras/Cenpes) e a revelação de interesse de empresas na participação, mas sem citar se os projetos foram concretizados, 240 pressupõe-se que os projetos da Recat, atualmente, vêm sendo mesmo financiados com contrapartida exclusiva da Petrobras. Nas entrevistas realizadas, percebeu-se que com a entrada na Rede de Catálise, foi estimulada a criação de cursos de mestrado e doutorado ou a inserção e/ou fortalecimento de linhas de pesquisa em catálise, conforme o depoimento a seguir, relativo à UFBA e aos demais que seguem: O Doutorado Acadêmico em Engenharia Química, a pós-graduação, de certa forma, tem relação com a Recat. O prof. Luis Pontes também faz parte desse programa, que tem parceria com a Unifacs e do qual eu também participei da elaboração do projeto que o criou há uns dois anos atrás. O Doutorado está com conceito quatro da Capes e a gente está batalhando para que ele passe para nível cinco. [...] De certa forma, as pessoas que estão atuando nesta linha no doutorado de Engenharia Química são da Recat. O Mestrado, tanto o da Química quanto o de Engenharia Química já existiam antes da Rede. Porém, a área de catálise recebeu um input maior em Engenharia Química, porque na Química já havia vários professores credenciados, que já orientavam diversas dissertações e teses em catálise. Mas, na Engenharia Química, eles tinham uma linha mais forte em Termodinâmica, em Fenômenos de Transportes e algo na área de Reatores, mas catálise propriamente dita não. A tendência é a gente cada vez mais trabalhos de mestrado e doutorado em catálise. De especialização, nós tínhamos a de Tecnologias Limpas (Teclim), mas hoje já se tornou mestrado profissional [...] nosso maior interesse é em mestrado e doutorado. (BRANDÃO, 2008). O desenvolvimento de dissertações de mestrado e doutorado em catálise, com o ingresso na Recat, é enfatizado por outra Coordenadora de Projeto da Rede: O nosso programa de pós-graduação (Química) é o mais antigo da UFBA. Nós somos veteranos. Não temos pós-graduação em catálise. A catálise é uma linha de pesquisa dentro do Programa de Pós-Graduação. Temos mestrado e doutorado. No âmbito dos projetos da Recat foram desenvolvidas muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado. (ANDRADE, 2008). Na UFPE, a existência da Recat também fortaleceu linhas de pesquisa e contribuiu, juntamente com as outras redes em que a UFPE participa, para a constituição do Doutorado, como pode ser observado a seguir: Na UFPE, já existia o curso de pós-graduação, o Mestrado. A existência da Recat, com toda a certeza, foi importante para a implantação do curso de Doutorado. A gente tinha Mestrado em Engenharia Química. A linha de Pesquisa Catálise e Adsorção foi desenvolvida posteriormente. Isso reforçou a pós-graduação, o mestrado, e incentivou, no ano passado, a implantarmos o Doutorado, que não foi fruto somente da Rede de Catálise, mas das outras redes que a gente também faz parte. Então, houve um fortalecimento do grupo como um todo. O Luis Pontes até falou agora na reunião, surgiram 241 vários cursos de especialização, extensão (curso de conceitos básicos da catálise), frutos da Rede. (BARBOSA, 2008). Na UFRN, ocorreu o mesmo. Nota-se a imbricação que acontece na prática entre as Redes N/NE e as Redes Temáticas da Petrobras. Foi criado, também, um curso com o apoio da Petrobras, chamado “Ciência e Engenharia de Petróleo”, conforme depoimento de um Coordenador de Projeto da Recat: No nosso caso, a gente tem algo que foi resultado das Redes N/NE e das Redes Temáticas. Foi a criação de um curso novo, de Ciência e Engenharia de Petróleo, pós-graduação. Antes não existia este curso. Nós temos Mestrado e Doutorado em Química e Engenharia, que era conceito três ou quatro e, com as Redes, passamos para conceito cinco. Os dois já tinham linha de pesquisa em Catálise, mas ficou mais forte com as redes. Tanto a Petrobras quanto a Finep viram a possibilidade de formar recursos humanos na área de pós graduação em Ciência e Engenharia de Petróleo e foi criado o curso com apoio fortíssimo da Petrobras e com as redes da Finep por detrás. Hoje é um curso muito bom o de Ciência e Engenharia de Petróleo. (SOUZA, 2008). A UEFS, de acordo com a Coordenadora de Projetos da Recat, reforçou seu laboratório e já está iniciando a implementação de uma pós-graduação: A UEFS não tem pós graduação em catálise, mas já está implementando. É uma das coisas que a Rede fomentou. O bom é isso, a Recat alavancou outras instituições a criarem seus laboratórios. Uma vez esses laboratórios reforçados, eles já estariam aptos a ter uma pós-graduação. (ANDRADE, 2008). Com a Recat, conforme relata o coordenador de projeto pela UFRN, houve maior interação com a Petrobras, porque eles precisam qualificar seu pessoal e a Rede facilitou essa aproximação, inclusive com o aumento do número de teses e dissertações defendidas por estudantes vinculados àquela empresa: Hoje a Petrobras até envia alunos para a UFRN para fazerem pós-graduação e isso não existia no passado. Eu tenho hoje duas teses de doutorado orientadas com alunos da Petrobras que vêm para Natal fazer doutorado. Hoje, eu tenho muitos alunos da Petrobras que estão esperando a liberação, mas estão preparando projeto, são profissionais da Petrobras, que provavelmente, devem entrar na pós-graduação sob a nossa orientação. (SOUZA, 2008). Já na Unit, a Recat auxiliou a manter uma linha de pesquisa no Mestrado em Engenharia, conforme segue: O Mestrado em Engenharia foi criado em 2005, foi a primeira turma. A gente colocou uma disciplina de catálise porque uma das pessoas que estava 242 no projeto trabalhava em catálise, daí entrou uma linha de pesquisa e uma disciplina de catálise. A Recat ajudou a manter essa linha de pesquisa. [...] O laboratório já existia engatinhando, havia poucos equipamentos. Quem deu o passo inicial foi o Banco do Nordeste (a fundo perdido), a gente comprou um cromatógrafo e computadores. (TAVARES, 2008). Os projetos de infra-estrutura laboratorial foram reforçados por projetos concomitantes encaminhados às Redes Temáticas que vêm contribuindo para a formação de infra-estrutura e capacitação de pessoas nas universidades. As Redes Temáticas, que foram operacionalizadas a partir de 2006, acabaram vindo suprir uma demanda de agilidade que nem sempre as Redes N/NE dispõem: Eu tenho experiência com trabalhos com empresas, com a própria Fapex, e tenho muito mais agilidade. Meu contrato direto com a Petrobras é muito mais ágil. E olha que eu estou agora com um projeto dentro do Estado da Bahia. Os atores são praticamente os mesmos, mas o formato Finep, que é muito pesado. Um convênio com o CNPq, que é diretamente com o pesquisador, é muito mais ágil [...] As Redes N/NE têm toda a burocracia da Finep envolvida. Perde a agilidade que a empresa normalmente tem. (ANDRADE, 2008). Pontes (2008), Coordenador da Recat, reforça o peso do formato da Rede e relata que houve diversos problemas, citados anteriormente, principalmente quanto a recursos financeiros e a atrasos da gestão desse sistema complexo. Dentre os problemas, podem-se citar o contingenciamento de recursos do CT-Petro, atraso na Finep e que acarretaram demora na chegada dos recursos, exigência de adequação à nova Lei dos Convênios (na Fase 3 da Recat) e transformação da finalidade da Unifacs (sem fins de lucro para finalidade lucrativa). Conforme ainda ele, a Rede está conseguindo sobreviver, atualmente, devido aos projetos com as Redes Temáticas da Petrobras: Retiraram os recursos do CT-Petro em mais de 90%, é um absurdo! É um contingenciamento que não tem sentido. E hoje, a Rede de Catálise está sem dinheiro para continuar operando. Houve algumas dificuldades na Rede de Catálise que foram causadas pela Unifacs, mas foram resolvidas em quatro meses [...] a partir de julho saiu a nova lei dos convênios[...] e para você fazer um convênio, agora você tem que estar cadastrado no Sistema de Convênios (Sinconv); agora já estamos cadastrados, mas de junho para cá, nós estamos em novembro, eu estou correndo atrás da Finep porque cada hora ela me pede algo e os convênios não saíram ainda. [...] O CT-Petro precisa mudar, senão essas redes não vão continuar. Porque, quando você fala de 18 instituições, né? Nós estamos hoje muito mais vivendo as Redes Temáticas da Petrobras do que a da CT-Petro. (PONTES, 2008). Para superar esses problemas, a Recat como instituição, busca alternativas, saindo do próprio âmbito da Rede para buscar recursos, como mostra o depoimento a seguir: 243 Com a possibilidade surgida com as Redes Temáticas, a Petrobras recebeu através da Recat, não através da UFBA ou outra universidade participante, um conjunto de projetos que visava reforçar a infra-estrutura dos laboratórios da Rede. [...] É isso que eu chamo a atenção, porque às vezes a gente fica preocupada com o impacto específico da Rede ou do projeto, mas é muito abrangente. O impacto da rede é muito maior do que os resultados dos projetos individuais em termos de mobilização e de formação de RH e de instalação de infra-estrutura. Porque a partir da Recat outros projetos foram submetidos. Este projeto de infra-estrutura não teve edital. O Luis, como coordenador tomou a iniciativa, chamou os coordenadores, informou sobre a Rede Temática de Catálise e que nós, como Rede N/NE, poderíamos preparar um projeto com justificativa e mostrar o que interessa em termos de infra-estrutura. Então, foram grandes máquinas de interesse regional. Para aqueles grupos que estão começando, aí sim, entrou o enxoval, quer dizer, uma bancada de teste, uma máquina multipropósito [...]. Então, a Recat chega a sair do âmbito da rede, para buscar recursos (grifo nosso). [...] Qual é a estratégia que eu vejo da Recat? Ela como rede opera em outras instâncias para trazer recursos. Ela é mais importante do que um projeto individual e acaba virando uma instituição. A Petrobras e Finep financiam, a Recat articula. (ANDRADE, 2008). Outra alternativa mais efetiva de financiamento às pesquisas que tem “concorrido” com os recursos das Redes N/NE é a contratação direta, na qual a Petrobras contrata o pesquisador de uma Fundação para realizar determinada pesquisa. O depoimento de uma Coordenadora de Projeto da Recat revela o aprendizado que vem ocorrendo na Rede e sua importância como “porta de entrada” e, também, como é essencial um interlocutor ativo para os projetos: Para você ver, no meu caso, meu projeto da Fase 1, já acabou, e antes que eu submetesse à Fase 3, meu interlocutor Petrobras recomendou fazermos a contratação direta a partir da Rede Temática da Petrobras. Então, eu continuo trabalhando no meu tema do primeiro projeto da Recat. Agora eu estou tendo todo o financiamento fora da Recat, direto pela Petrobras. Eles solicitaram um trabalho específico, que é uma consequência do que foi feito na Recat. E isso eu acho um aspecto fundamental e meritório da Recat. Porque a gente começou a fazer um trabalho exploratório de interesse, digamos assim, em princípio, acadêmico, e depois a Petrobras identifica um potencial tecnológico específico e vai lá e contrata. Eu já faço isso e tenho trabalhado com a Petrobras a partir da Recat há quatro anos. Foi a porta de entrada (grifo nosso). Quando eu digo que eu vou ser sempre Recat, mesmo que eu não tenha um financiamento através da Recat; foi a partir da Recat que a gente firmou parceria com a Petrobras. (ANDRADE, 2008). A dificuldade de conseguir recursos é grande, mas estão aparecendo diversas oportunidades para submeter projetos, várias redes coexistem e permitem a participação dos pesquisadores. E a participação numa rede leva à participação numa outra pelo conhecimento tácito envolvido, os relacionamentos que são formados. A deficiência de recursos para pesquisa na universidade leva a uma busca incessante de recursos em outros âmbitos, o que 244 acarreta, muitas vezes, um efeito perverso, como a sobrecarga do pesquisador para manter os projetos em andamento: Eu participo de várias redes. E realmente, o que tem suprido a gente hoje em dia são os projetos com as redes. Estamos atuando na Rede de Hidrogênio, na Rede de Células a Combustível; são Redes Nacionais, que têm aporte do MCT e programas, tem o Procac, que é um programa de Células Combustíveis. E dentro desse projeto, que eu saiba, tem duas redes grandes. Eu participo de uma delas, que é a Rede Nacional de Hidrogênio. Tem a Rede de Células a Combustível também, que está dentro do Procac e dentro dessa rede, inclusive, o CNPq faz editais específicos para bolsas de pósgraduação, mestrado e doutorado. É bem interessante, até porque eu tenho uma pesquisa que tem a ver, a Rede Nacional de Combustão, que eu trabalho com combustão catalítica também, Rede de Materiais, de Nanotecnologia, Catálise, Petroquímica. Essas que eu falei são MCT, essa de Petroquímica já começa a ser Rede Temática da Petrobras. Tem a de Combustão e de Gaseificação que eu também entrei, é uma outra rede. Há muitas oportunidades e isso é bom. Eu tenho a sorte de que a pesquisa que eu sempre desenvolvi e me formei, e tenho interesse tem essas possibilidades. Quem não tem fica dependendo só de projetos com o CNPq. A Fapesb também tem editais, mas são poucos. (BRANDÃO, 2008). Apesar dos benefícios das redes, uma coordenadora ressalta: Aumentou muito minha carga de trabalho, mas eu ainda acho que a Rede trouxe a Petrobras para dentro da universidade, é uma aproximação muito grande e a Petrobras representa o setor produtivo que dá certo e isso, para o estudante, é um estímulo fantástico. (ANDRADE, 2008). Em termos de aplicação dos resultados das pesquisas nas empresas e geração de patentes, os representantes da Recat (Petrobras/Cenpes) revelam: “os resultados da Recat ainda não estão indo para ao meio industrial, isso ainda é exceção. Agora estão mais montando infra-estrutura e realizando pesquisa para responder perguntas mais básicas para geração de conhecimento”. (PRAVIA; LAU, 2008). Na visão do Coordenador da Recat: Houve bons resultados, por exemplo, de melhoria de processo, inclusive com agradecimento por escrito da Rlam, não houve patente em si, porque na área de catálise, quem faz patente hoje é alguém que fatura mais de U$ 10 bilhões. Eu sou contra fazer patente em catálise. Eu fiz uma patente, há muito tempo atrás [...] não vale mais a pena. Eu vou fazer um catalisador? É Oxiteno, é Petrobras. Nem a Braskem tem patente em catálise. (PONTES, 2008). Os resultados das redes não podem ser vistos somente como produtos dos projetos em si, mas em seus desdobramentos; trata-se de um processo. Os Encontros de Catálise geram troca de informações, ampliam o conhecimento e relacionamentos entre os participantes da 245 rede e pessoas de fora. A realização dos projetos gera conhecimento que pode não ser um produto ou processo, mas um diferencial para a escolha de um melhor catalisador para a indústria, como reforça o depoimento de uma Coordenadora de Projeto: Não necessariamente um produto que a gente entregue, seja utilizado para eles (setor produtivo), mas serve como uma luz para eles comprarem um que já está pronto no mercado. Se a gente desenvolveu, por exemplo, um material que foi muito bom no exame, ele pode, através daquele material que a gente passou, ver o que já tem um pronto no mercado e ele diz que quer aquele produto. (BARBOSA, 2008). Além do que já foi implicitamente revelado sobre mudanças de rotinas ocorridas com o ingresso na Rede de Catálise, uma Coordenadora de Projeto, conforme depoimento a seguir, trata da dificuldade na gestão, das vantagens e desvantagens de lidar com uma Fundação e da criação de competências de gestão no decorrer do processo, em meio ao exercício das atividades de pesquisa, ensino, busca de recursos, dentre outras inúmeras atividades hoje atribuídas ao pesquisador que precisa obter financiamento para as pesquisas, até de uma cultura que precisa ser criada dentro dos grupos de pesquisa: Olha, é a coisa da gestão [...], praticamente, você tem que fazer tudo, gerenciar seu projeto, pesquisar. A gente tem o benefício de ter recursos para pesquisa, mas, às vezes, somos penalizados porque não temos a formação da administração [...]. Quando é CNPq, você tem que pagar um contador para te ajudar. [...]. A gente deveria ter um quadro maior na instituição. Na Rede, a gente tem a Fundação, que, a princípio, ajuda a gerenciar o projeto. Pelo menos, você não lida diretamente com o dinheiro, mas por outro lado, você perde, quando a Fundação atrasa o repasse. E se a fundação estiver envolvida em algum tipo de problema, você está lá, o dinheiro também e você perde. Então, eu acho que você tem que aprender a gerenciar de alguma forma, aprender a lidar com esses parceiros, essas várias fundações. E dentro de seu grupo de pesquisa, criar uma cultura; a gente criou regras em função de compra de material, implantação de bolsas. É meio complicado, não é o ideal. [...] Aqui eu tenho que pagar 5% à Fapex para comprar para mim e, às vezes, vem o reagente errado e fica por isso mesmo. Para evitar problemas, também criamos um protocolo interno. Acho que deixa a desejar um apoio maior ao pesquisador, apesar da gente ter que se organizar. [...] A secretária do Prof. Luis Pontes é envolvida, quando há problemas com as fundações ligadas à âncora; ela também cobra os relatórios. (BRANDÃO, 2008). Em relação aos controles financeiros e ao excesso de justificativas, relata uma Coordenadora de Projeto: Já era bastante controlado. Hoje está piorando. A carga de tempo gasto com justificativas é grande até para usar receita financeira. Hoje temos que pedir autorização da Finep. Antes, desde que houvesse rubrica prévia, poderia usar o recurso da receita financeira. (ROCHA, 2008). 246 De acordo com um Coordenador de Projeto da Recat, algo que mudou bastante foi o envolvimento das instituições do Norte e Nordeste com o setor produtivo, mais especificamente, com a Petrobras; e o que ele chama de “Efeito multiplicador” na formação dos alunos. Este, para ele, foi a principal mudança de rotina, conforme seu depoimento que segue: A maior parte dos recursos era concentrada no eixo Sul-Sudeste. Com as Redes, a Finep criou uma alternativa de beneficiar o Norte e o Nordeste. Como? Com a criação de redes. E pensaram que para não repetir equipamentos, deveriam concentrar em temas de catálise espalhados pelas competências. Na formação de recursos humanos, por exemplo, pode envolver treinamento em um ou outro laboratório, participando daquele projeto e intercâmbio com as universidades. Mas o principal ponto que eu vejo é o Efeito multiplicador (grifo nosso), e hoje nossos alunos formados, que eram bolsistas, estão aprovando projetos também, ou na universidade ou na Petrobras. Então, eu falo com muito orgulho que tenho uma aluna que foi beneficiada diretamente pela Rede; fez doutorado depois e está concluindo projeto. Hoje é professora da universidade e aprovou projeto na Rede. Um projeto muito bom esse, de R$ 1milhão. (SOUZA, 2008). Outra mudança de rotina percebida é o trabalho em conjunto, com divisão de tarefas, conforme revela o mesmo Coordenador de Projeto: Porque dentro da rede, a âncora fica responsável pela preparação, a outra universidade fica com o teste e avaliação, ela já pega pronto. Pega preparadinho. Não tem projeto que todos façam a mesma atividade. Aí não seria rede. Na Rede, cada um faz uma parte para chegar ao produto final. Prepara, caracteriza, faz a avaliação e a gente se reúne e discute as propriedades e os resultados. Quando a gente manda o projeto, as atividades são pré-determinadas. (SOUZA, 2008). Com relação às dificuldades, apresentam-se, a seguir, alguns depoimentos. Uma Coordenadora de Projeto da Recat revela que a grande dificuldade que existe nas redes é a gestão: Na primeira fase da Recat, era muito difícil que meus co-executores me passassem os dados, os resultados. A composição dos relatórios era muito difícil. Eu tinha que ficar cobrando. Internamente, eu fazia reuniões semestrais da equipe da Recat 1. Nunca se conseguia reunir a equipe inteira. Uma equipe era mais deslocada, um coordenador, por uma razão ou pela outra, se desinteressou pelo projeto, aí não andou no mesmo ritmo; isso causou uma certa dificuldade, mas, felizmente, tudo foi resolvido no final do projeto; mas mostra para a gente que não é uma gestão fácil. Então, eu diria que a gente teve mais dificuldade com a gestão do que com a execução do projeto. (BRANDÃO, 2008). A gestão financeira também é um processo complicado e longo: 247 O recurso é direcionado à Fapex (no caso da UFBA) e, de acordo com o cronograma e a prestação de contas, é repassado para as diversas instituições. Se uma instituição co-executora precisa de algum item, ela me passa a solicitação, eu autorizo e a Fapex executa a compra e manda entregar. A Fapex faz a compra até de material de consumo. O co-executor não recebe mais em sua fundação o recurso. O dinheiro que é para ser utilizado na UEFS está aqui na Fapex. A Professora solicita um pequeno equipamento que está previsto, eu autorizo, solicito à Fapex, e ela compra e envia para a UEFS. Quando ela receber a nota fiscal e o material, ela dá baixa que recebeu, manda para mim e eu envio para a Fapex. Para você ver que é um processo longo. [...] A gestão, a administração é chocante; no projeto atual mesmo, eu pedi diárias para o meu doutorando fazer apresentação do trabalho dele, que está dentro da rede, num congresso importante. Pedimos dia 14 de outubro e até hoje as diárias não foram liberadas, e ele vai viajar neste final da semana. (ANDRADE, 2008). De acordo com outra Coordenadora de Projeto: Eu tenho que negociar com fornecedor, escrever justificativa para remanejamento. Para pequenas e grandes compras, as exigências são iguais. dizem que o problema é o Tribunal de Contas da União (TCU). Temos projeto, dinheiro, o problema é gerenciar. Para eu comprar uma peça de reposição, preciso de resposta de um técnico da Petrobras, autorização da área de Relacionamento com a Comunidade de C&T da Petrobras (RCT). Comecei em julho e até outubro eu não tive resposta. Não tenho também liberdade de aceitar um produto diferente do que foi pedido. Cada vez está mais complicado e isso desmotiva. Eu acho que está havendo um controle exagerado, inviabilizando os projetos. (ROCHA, 2008). A dificuldade de gestão de recursos é reforçada por mais uma Coordenadora de Projeto: Trabalhar com a Lei 8.666 (com as fundações) é complicado porque chegam os recursos, e a gente não consegue comprar, tem as cotações (ou a Fundação faz ou a gente faz), mas como a gente conhece os fornecedores, eu sei qual reagente é melhor para mim [...] geralmente a gente pede as cotações e envia para a Fundação com justificativa técnica. Quando chega lá, ainda tem parecer jurídico deles que, às vezes, dá negativo. [...] Um exemplo que aconteceu agora, o professor comprou um reator há alguns anos atrás e agora ele precisava de um sensor. Isso não é equipamento, o sensor é pequeno, é um acessório para o equipamento; foram três meses na fundação, com o advogado, voltou porque contraria a Lei 8.666, tem que ter licitação. Então, a gente tem que ir lá, justificar, mostrar que não é equipamento, é acessório, nós temos isso que complica muito, é um entrave. Algumas coisas demoraram tanto que, agora, com o dólar alto, o valor nem vai dar mais para comprar. (BARBOSA, 2008). Outra Coordenadora de Projeto reforça a opinião anterior: A dificuldade na gestão de recursos das Redes N/NE é tão grande que a Petrobras está vindo contratar diretamente. Então, nesse sentido a Recat se esvaziou. Antes a gente tinha editais específicos para as redes cooperativas, e já não saem mais. E se sai, a própria Petrobras não tem interesse de entrar 248 com contrapartida, porque se ela tem interesse, ela contrata diretamente. Então, tem que haver um repensar das atribuições da Rede de Catálise, mas acho que ela não pode deixar de existir, porque ela tem um papel agregador e de motivação muito importante. Não digo, financeiro. (ANDRADE, 2008). Outra dificuldade é a sobrecarga de trabalho que está ocorrendo, não exclusivamente por conta da Rede N/NE, mas devido à necessidade de recursos para manter as pesquisas, a descontinuidade destes e aos atrasos no seu recebimento. Por esses motivos, os pesquisadores envolvem-se em muitas atividades: [...] eu sou uma “máquina de fazer projeto de pesquisa”. Esses projetos que eu estou fazendo, não recebo nada. São da Finep, CNPq, que eu faço para manter o equipamento, para ter bolsa, para ter o reagente. Minha preocupação é que tudo é muito caro. Este ano, só com manutenção de equipamento de grande porte foram R$ 20.000. E a UFBA não dá nenhum centavo. E serve a várias pessoas, de várias instituições, da Rede, da UFBA, gente que chega aqui e diz “Pelo amor de Deus, pode ajudar na minha tese?”. Algumas oferecem um recurso em troca, pagam uma análise, compram um cilindro de gás. A gente deixa porque já passou por esta situação. Além disso, o repasse dos recursos é caótico. Para ter repasse da Petrobras, da Finep, até chegar à Fundação, demora, às vezes, mais de um ano. Depois que assina o convênio com a Fundação [...] repassa para as outras instituições [...] e pode acontecer o que ocorreu com a Unifacs, uma circunstância e cadê o dinheiro? Você espera dois anos para esse dinheiro se materializar. Por isso que não dá para depender de uma só coisa; tem que diversificar. Um projeto que tem uma certa regularidade que a gente pode contar é o do CNPq. No momento em que é aprovado, no máximo em três, quatro meses você começa a dispor do recurso. A Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesb) agora está mais organizada, já tive dois projetos, um agora e um projeto grande de tecnologia em combustão catalítica; vai ser assinado um convênio na semana que vem. A Fapesb está evitando interferência da Fundação [...] porque já teve problema [...]. (BRANDÃO, 2008). Assim, como na Rede Asfalto, foi ressaltado o problema com a manutenção de equipamentos, conforme revela o depoimento a seguir: A gente teve muita interação com universidade e é impossível ter um laboratório completo. Além do recurso financeiro, tem a manutenção. A gente quer consertar um equipamento e aí tem que vir um camarada de São Paulo. No mínimo é R$ 7.000. Passagem aérea, alimentação, hospedagem, assistência técnica. E se tiver alguma peça para trocar pode ficar mais caro. No mínimo, para ele chegar aqui em Aracaju, é R$ 5.000. (TAVARES, 2008). Fora a manutenção, há problemas na infra-estrutura física da universidade para absorver novos equipamentos: Eu gostaria de destinar parte do recursos para ter um laboratório decente e instalar melhor os equipamentos. O microscópio da Rede não está instalado 249 da melhor forma possível. Ele poderia dar resultados, micrografias com melhor resolução, definição. Às vezes, a gente está tendo interferência do campo magnético de outro equipamento que está ligado em outro laboratório e a técnica não consegue trabalhar e ter imagens de qualidade. E isso deixa a gente um pouco chateado porque queremos fazer uma coisa direita, mas o laboratório é muito pequeno e você quer trocar a bancada por granito, mas fica esperando para gastar este dinheiro em algo mais útil. A gente chama o laboratório de “cafofo”, é todo apertadinho. Quando está todo o mundo aí, cinco, seis pesssoas, não cabem todos. O outro laboratório, onde ficam os equipamentos, ficam dois técnicos e as pessoas vêm acompanhar as análises, eventualmente. Hoje, está menos ruim, mas ainda não é ideal. Os equipamentos estão muito próximos uns dos outros, tem a questão de vibração, do estabilizador, acesso aos equipamentos, isso que realmente precisa. (BRANDÃO, 2008). Com base nos depoimentos anteriores e sua análise, nas fontes secundárias de pequisas e observações da própria autora, pode-se afirmar que a Rede de Catálise, apesar de todas as dificuldades apontadas pelos entrevistados, tem cumprido com os seus objetivos, quais sejam: produzir e disseminar o conhecimento em processos catalíticos e de adsorção para a indústria de petróleo e gás natural, a melhoria ambiental e a geração de energia de fontes alternativas; formar recursos humanos para o desenvolvimento e otimização de processos catalíticos e de adsorção para a indústria de petróleo e gás natural, a melhoria ambiental e a geração de energia de fontes alternativas; estabelecer competências e infra-estrutura locais para o desenvolvimento e otimização de processos catalíticos e de adsorção para a indústria de petróleo e gás natural, a melhoria ambiental e a geração de energia de fontes alternativas. Dentro de seus objetivos, têm-se que as competências e capacitações, tanto científicas como tecnológicas, estas imbricadas, estão sendo formadas ou fortalecidas, sim, por meio não somente das Redes N/NE, mas por todos os projetos, inclusive das Redes Temáticas, dentre outros financiamentos. As principais evidências da formação dessas competências, capacitações e dinâmicas foram relacionadas, a seguir, no intuito de sistematizar o conhecimento, são elas: abertura de cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) e/ou inserção, e fortalecimento de linhas de pesquisa ou disciplinas correlatas à Rede de Catálise; o que contribui para melhoria do conceito Capes dos cursos das universidades; aquisição de equipamentos e seu compartilhamento com as demais instituições; 250 compartilhamento de laboratórios com estudantes de outras unidades da própria universidade (foram citadas, por exemplo, a Odontologia e a Área Forense), com os participantes da Rede e de outras redes não relacionadas; capacitação de pesquisadores, alunos e técnicos, a partir dos cursos promovidos e da utilização dos equipamentos comprados; participação maciça de trabalhos de estudantes nos Encontros Regionais de Catálise (observação in loco), o que permite troca de informação e conhecimento; aprendizado na interação, levando em consideração os interesses da empresa, universidades e de outros parceiros e membros; continuidade dos projetos e das universidades nas demais fases das Redes N/NE; iniciativas de construção e/ou fortalecimento de relações com o setor produtivo (parceiros); a aproximação com o setor produtivo. Mesmo acontecendo a pesquisa básica, que é fundamental, tem-se, ao final, o propósito de aplicá-la. Como exemplo, indicaram-se catalisadores mais adequados à indústria; oferecendo oportunidades de melhorias ao setor produtivo; desenvolvimento de metodologia e otimização de processos para o setor produtivo, a exemplo do processo produtivo da Rlam que foi otimizado. A Recat, por isso, de acordo com Pontes (2008), recebeu um agradecimento por escrito da Rlam/Petrobras; formação de pessoal especializado para o mercado. Com o mercado aquecido, os alunos saem empregados (Braskem, Petrobras, Ford, dentre outros) ou permanecem na pós-graduação, passam em concursos públicos nas universidades e encaminham projetos para financiamento; ampliação do leque de competências em catálise nas universidades participantes; prestação de serviços a órgãos do Estado, por exemplo, para o controle do meio ambiente; e 251 geração de teses, dissertações, monografias e artigos sobre temas correlatos à Rede; Além dessas competências, foi percebido que vêm sendo adquirida e fortalecida, por meio da participação na rede, competência para construção de projetos em conjunto, para captar recursos e para gerir projetos de pesquisa, mesmo com todas as dificuldades relatadas. Mesmo considerando a linha tênue, a fronteira entre as capacitações e competências científicas e tecnológicas, tentou-se apreender suas dimensões e níveis nos projetos da Rede de Catálise, com base no Quadro 3 de Dantas e Bell (2006) e que se encontra referenciado no quadro de análise desta tese (Ver Quadro 5). A Figura, a seguir, retrata o nível de capacitação científica e tecnológica dos projetos da Rede de Catálise, conforme observações da autora: Figura 19 – Níveis de capacitação tecnológica na Rede de Catálise: projetos investigados Fonte: Elaboração própria (2008) com base em Dantas e Bell (2006) Tendo como referência o quadro de Dantas e Bell (2006), tem-se que os projetos investigados encontram-se, em sua maioria, fronteiriços entre as fases “Assimilativa” e “Adaptativa”, em que a base de conhecimento é essencialmente de design, com o objetivo de adaptar, desenhar (projetar), entender princípios de C&T. Dessa forma, ocorre adaptação de tecnologias, criação de designs próprios e absorção de design e conhecimento em C&T, bem 252 como se adquire capacidade por meio de treinamento e contratação de pessoas experientes, estabelecendo e formalizando atividades de P&D. O Projeto de Oxidação do monóxido de carbono (PC10 Fase 2) destaca-se por se encontrar na fronteira entre o nível “Adaptativo” e o “Generativo”. Na medida em que se entende o quadro de Dantas e Bell (2006) como níveis de capacitação científica e tecnológica, tem-se a preocupação de gerar conhecimento para que este seja utilizado na indústria, mesmo que para um futuro próximo, assimilando, adaptando e gerando novos conhecimentos e novas tecnologias. O fato desse projeto estar gerando uma contratação direta, sinaliza que este está produzindo resultados interessantes à Petrobras. Os projetos PC03 (Fase 1) – Aditivos para catalisadores de FCC - e o PC04 (Fase 1) Remoção de enxofre em combustíveis através de processos de adsorção -, talvez, por se tratarem de projetos da primeira fase, na qual grande parte dos recursos foi destinada à compra de equipamentos, encontram-se num nível mais “Assimilativo”; no entanto, como foram aprovados projetos derivados destes para a Fase 2, é um sinal de que a tendência é uma maior capacitação. O PC05 (Fase 2) - Caracterização de catalisadores adsorventes por Espectroscopia Fotolítica (XPS) tornou-se um “prestador de serviços” da Recat por meio desse equipamento. Dessa forma, o projeto encontra-se no nível “Assimilativo”, o que não impede dos projetos que se utilizaram de seus resultados terem chegado a níveis mais elevados de capacitação. No PC07 (Fase 2) - Desenvolvimento de Catalisadores para reforma auto-térmica do metano -, o estágio posiciona-se entre “Assimilativo” e “Adaptativo”, vez que os catalisadores estudados têm dado resultados em termos de seletividade e gerado publicações. O PC08 (Fase 2) - Síntese e caracterização de catalisadores para reações de watershif em altas temperaturas -, apesar de não ter conseguido, ainda, desenvolver um catalisador, conforme previa o projeto, conseguiu-se igualá-lo a um catalisador importado, o que reporta ao nível “Assimilativo” na capacitação científica e tecnológica. O PC12 (Fase 2) – Degradação fotocatalítica de derivados em águas superificiais tinha um propósito mais “Generativo”, com a criação de um catalisador que ainda não existia comercialmente; porém, com o atraso dos recursos, o projeto deixou de ser gerador e quase inovador, para se tornar entre “Assimilativo” e “Adaptativo”. Uma vez que foi percebida, por meio das entrevistas, a estreita relação existente entre as Redes N/NE e as Redes Temáticas, mesmo tratando-se de instrumentos de financiamento 253 diferenciados (o CT-Petro envolvendo Finep, empresa e universidades, e as Redes Temáticas, somente a Petrobras e as universidades), na prática, atualmente, quando se trata das regiões Norte e Nordeste, e das redes e projetos particularmente estudados, estão ocorrendo pontos de intersecção, em que os recursos complementam-se em prol da capacitação e competências científicas e tecnológicas regionais. Dessa forma, mesmo sendo o objeto da presente tese as Redes N/NE, serão realizadas, a seguir, considerações sobre suas fronteiras com as Redes Temáticas. O aprendizado gerado nas Redes N/NE, tanto em termos de gestão como em capacidades e competências científicas e tecnológicas, refletiram-se na organização das Redes Temáticas e na introdução de novas instituições dessas regiões, no rol de parceiros da Petrobras. 3.4 REDES TEMÁTICAS PETROBRAS E NÚCLEOS REGIONAIS DE COMPETÊNCIA: FRONTEIRAS Conforme mencionado na introdução deste trabalho, o volume de recursos disponíveis para C&T no setor de Óleo e Gás vem sendo ampliado a partir da criação do CT-Petro, mas, principalmente, pela exigência, a partir de 2005, da Cláusula de Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, constante dos Contratos de Concessão para Exploração, Desenvolvimento e Produção de Petróleo e/ou Gás Natural, estabelecidos entre a ANP e as concessionárias51. Essa cláusula impõe que as concessionárias devem investir em P&D, no Brasil, o valor correspondente a 1% da receita bruta da produção de cada campo, quando a participação especial52 seja devida. Do valor total obrigatório calculado quando da participação especial, pelo menos, 50% devem consistir-se de despesas realizadas para a contratação de projetos/programas em universidades e institutos de pesquisa e desenvolvimento localizados no país, previamente 51 As concessionárias que se enquadram nessa exigência são a Petrobras, Shell Brasil Ltda. e Repsol YPF do Brasil. De acordo com dados encontrados no site da ANP (www. anp.gov.br, acesso em 10 mai. 2009), a Shell Brasil Ltda. Possuía, em 29.01.2009, um saldo devedor acumulado de R$ 11.908.460, 85, valor bem inferior ao da Petrobras. Não foram conseguidos os dados referentes ao saldo devedor acumulado da Repsol YPF do Brasil. Também, não foram encontrados dados relativos às universidades em que tais recursos estão sendo aplicados. 52 Decreto 2.705/98 - Artigo 21 - A participação especial constitui compensação financeira extraordinária devida pelas concessionárias de exploração e produção de petróleo ou gás natural, nos casos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade, e será paga, com relação a cada campo de uma dada área de concessão, a partir do trimestre em que ocorrer a data de início da respectiva produção. 254 credenciados pela ANP para este fim, doravante denominadas de Instituições Credenciadas, conforme definidas no Regulamento. Foi estabelecido que enquanto não fosse realizado o credenciamento, seriam aceitas despesas realizadas com instituições que receberam recursos financeiros do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia para o Setor de Petróleo e Gás – CTPetro. Como o Regulamento Técnico referente à Cláusula de Investimento em Pesquisa e Investimento foi publicado em 2005, nesse momento, a ANP passou a poder exigir a prestação de contas de investimentos em P&D das empresas concessionárias, retroativamente. Nessa época, então, já havia um passivo da Petrobras, maior operadora no Brasil, junto à ANP de valores referentes ao período de 1998 a 2005, os quais representam uma diferença acumulada de R$ 412.515.603,25 – diferença entre o valor de investimento obrigatório e o investimento realizado com P&D externo (fora das instalações da Petrobras) no período. Ou seja, para cumprir a legislação, a Petrobras precisaria investir mais R$ 412.515.603,25 em P&D nas universidades e instituições de pesquisa no país (ver Tabela 5), um salto que representa uma duplicação do seu investimento. Tabela 5 – Investimentos da Petrobras em instituições de P&D Nacionais 1998-2005 (R$) Ano Obrigatório 1998 3.463.043,23 1999 23.957.014,02 2000 47.013.412,44 2001 64.139.253,86 2002 132.919.915,32 2003 163.758.425,96 2004 196.213.591,43 2005 300.000.000,00 TOTAL 931.464.656,25 Diferença Acumulada Fonte: Brasil (2005b). Investimentos com P&D externo 11.014.169,58 11.362.358,73 21.111.000,45 29.999.333,65 85.643.517,31 112.553.103,63 107.265.569,65 140.000.000,00 518.949.053,00 412.515.603,25 Esse novo cenário trouxe uma série de transformações ao setor e apontou a necessidade da criação de novos projetos de Pesquisa e Desenvolvimento e a ampliação dos já existentes pelas concessionárias. A Petrobras, ainda a concessionária mais atuante no país, precisou adequar-se a essa nova realidade e viu-se obrigada a dar um grande salto em seu patamar de investimentos em P&D, que a levou a uma atuação ainda mais pró-ativa em redes, no intuito de contar com competências que não são encontradas internamente e alavancar os investimentos. 255 De acordo com Tavares e Santos (2006, p.5), no início, utilizou-se o Fundo Setorial CTPetro, gerido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, que, em alguns de seus editais, permite que as empresas apresentem projetos de pesquisa juntamente com as universidades, obtendo recursos não reembolsáveis, que cobrem de 30 a 50% do custo total do projeto. Naquele período, 560 projetos foram contratados por essa modalidade de financiamento, com contrapartida da Petrobras de US$ 79 milhões. De acordo ainda com os autores, esse novo sistema de investimento não conseguiu cobrir toda a obrigação da Petrobras junto à ANP, e quando em outubro de 2005, a Regulamentação dos Investimentos em P&D foi publicada pela agência, a Petrobras se viu diante de um enorme desafio. Embora a Petrobras tenha investido US$ 472 milhões, entre os anos de 1998 e 2005, na Comunidade Brasileira de C&T, ainda existia um déficit de US$ 187 milhões. Conforme esses autores, não havia nas universidades brasileiras infra-estrutura capaz de absorver essa nova demanda por projetos de pesquisa. Para adequação a este novo ambiente, a Petrobras promoveu uma série de mudanças organizacionais na forma de gestão tecnológica e nos modelos de atuação junto à Comunidade de C&T. Embora concentradas no Cenpes, conforme, ainda, Tavares e Santos (2006, p.5), as atividades de P&D estavam disseminadas na Petrobras. O Cenpes e os demais órgãos da Petrobras possuíam total liberdade para contratarem projetos junto à Comunidade de C&T; fato este que mais adiante veio a causar problemas de coordenação e sistematização das informações pertinentes. A Petrobras, através do Cenpes, teve, então, que buscar uma solução no sentido de atender às suas necessidades, ao mesmo tempo em que fizesse cumprir a obrigação contratual junto à ANP, zerando o déficit do passado e atendendo aos compromissos futuros; estes tendem a aumentar, tendo em vista, principalmente, o crescimento da produção de óleo nacional. Para coordenar tais atividades, criou, junto à Gerência Geral de Gestão Tecnológica, a Gerência de Relacionamento com a Comunidade de C&T. Assim, adotaram-se, efetivamente, em 2006, duas formas de relacionamento com essa comunidade: as Redes Temáticas e os Núcleos Regionais de Competência. São 38 redes e sete núcleos, englobando 76 instituições de pesquisa, em 17 estados. O investimento total da estatal representa R$ 1,4 bilhão em pesquisa e desenvolvimento e R$ 1 bilhão em Redes Temáticas em três anos (NOTÍCIAS..., 2006). 256 A principal diferença entre esse modelos de relacionamento é que as Redes Temáticas possuem, cada uma, um foco, uma tecnologia estratégica. Um exemplo é a Rede Temática em Catálise, que estuda o processo catalítico. As instituições podem compartilhar recursos, como seus equipamentos, para atingir os objetivos das redes e seus projetos. Já os Núcleos Regionais funcionam com sete universidades ou centros de pesquisa, localizados em todo o Brasil que, por suas características e qualificações, atenderão aos problemas das unidades operacionais da Petrobras localizadas em sua área geográfica. Três desses núcleos ficam no Rio de Janeiro (PUC-RJ, UENF e CTEx), um no Espírito Santo (UFES), um na Bahia (UFBA), um em Sergipe (UFS) e um no Rio Grande do Norte (UFRN). As redes e os Núcleos de Competência são formalizados através de Termos de Cooperação, e os projetos de cunho tecnológico, através de Convênios específicos. O Núcleo Regional da UFBA, por exemplo, atenderá às demandas da Fafen (Fábrica de Fertilizantes), Rlam (Refinaria Landulfo Alves) e UN-BA (Unidade de Exploração e Produção da Bahia), como pode ser observado no Quadro 10, a seguir: Núcleos Regionais PUC-Rio UENF Ctex UFES UFBA UFS UFRN Unidade de Negócio UN-Rio UN-BC e UN-Rio Abast- REF UN-ES UN-BA, Rlam e Fafen(BA) UN-Seal e Fafen(SE) UN-RNCE Estado Região RJ SE ES BA SE RN SE NE NE NE Quadro 10 – Núcleos Regionais, Unidades de Negócio da Petrobras, Estado e Região Fonte: elaboração própria (2008) com base em pesquisa de campo. As Redes Temáticas, acabaram beneficiando-se muito da experiência das Redes N/NE em termos de competências científicas e tecnológicas, como foi observado nas entrevistas realizadas. Como pode-se verificar também na Tabela 4, alguns temas das Redes N/NE permaneceram como foco das Redes Temáticas e algumas instituições continuaram participando dos mesmos temas na Rede Temática, o que pode revelar que o efeito das Redes N/NE no sistema tem causado aprendizado e um maior entrosamento das instituições do N/NE com a Petrobras. Esta, tradicionalmente, possuía parcerias apenas com instituições do Sul/Sudeste. Nas Redes Temáticas, não há envolvimento da Finep, a Petrobras é o único financiador e a ANP é responsável pela aprovação dos projetos. 257 As Redes N/NE e Redes Temáticas e Núcleos de Competência, embora tenham fontes de recursos e modos de gestão diferenciados - as primeiras, Finep e Petrobras (a partir de 2001) e, as duas últimas, somente Petrobras (a partir de 2006, portanto, mais recentes), com aprovação da ANP -, na prática, seus projetos, hoje, ocorrem simultaneamente e convergem para a capacitação de professores e pesquisadores, para a tentativa de aplicação de resultado e para a compra de equipamentos, coincidindo, muitas vezes, os recursos para as mesmas instituições, quando do Norte/Nordeste, complementando laboratórios e capacitação. Ao contrário das Redes N/NE, que incluem, formalmente, as instituições das regiões Norte e Nordeste (embora instituições do Sul e Sudeste contribuam, muitas vezes, de maneira informal, para os projetos), as Redes Temáticas funcionam no âmbito nacional e envolvem, formalmente, tanto instituições do Sul e Sudeste quanto do Norte e Nordeste. A diferença do montante de recursos Rede N/NE e Redes Temáticas é grande. De acordo com informações fornecidas pela Finep, o valor liberado para as Redes N/NE, particularmente, para o CT-Petro, até outubro de 2008, foi de R$ 57.512.728,10. Os recursos a serem desembolsados pela exigência da Cláusula de Investimento em P&D, somente pela Petrobras, sem considerar as outras duas concessionárias, nas quais incide a participação especial, era de R$ 412.515.603,25. Conforme Tavares e Santos (2006, p.6), nas Redes Temáticas são 38 grandes temas tecnológicos na indústria do petróleo e energia em cinco áreas, como revela o Quadro 11, a seguir: 258 Áreas Temas Exploração 1.Geofísica UFBA, Unicamp, UFPA, USP, UENF, PUC-Rio, UFF, UFRJ, UFRN, UFPR, ON, Impa, Inpe 2.Geoquímica UFRJ, Unicamp, UFRGS, UERJ, UFF, Cetem, UFPA, UENF UFRGS, UNESP, UnB, UERJ, UFRN, Unisinos, USP, UFRJ, PUC-Rio, UFPE USP, UnB, UFRN, Unesp, UFOP, Unicamp, Inpe, UERJ, UFRJ, UFPR, UFRGS, UFF, UFMG, ON 3.Sedimentologia e Estatigrafia 4.Geotectônica Produção 5.Computação e Visualização 6.Gerenciamento de Águas 7.Construção Naval 8.Materiais e Controle de Corrosão Participantes UFRJ, PUC-Rio, USP, UFAL, ITA, UFSC, Unicamp UFRJ, Unicamp, UFRN, UFF, UENF, PUC-Rio, UFBA IPT, USP, UFRJ, UFPE, FURG, UFF UFRJ, IPT, UFRGS, USP, UFU, INT, UFSC 9.Revitalização de Campos Maduros UFPE, UFRN, Unifacs, UFBA, UFS, UFC, Unicamp, UNIT, UFCG, UERJ, Uenf,UFES Abastecimento 10.Tecnologia em Dutos CTDut, PUC-Rio, UFES, UFF, UFRGS, UFRJ, INT 11.Óleos Pesados UFES, PUC-Rio, Unicamp, UFRN, UFC 12.Gerenciamento e Simulação de Reservatórios 13.Modelagem e Observação Oceanográfica 14.Estruturas Submarinas Unicamp, UFSC, UFPE, UENF, UFRN, UFRJ 15.Monitoração, Controle e Automação de Poços 16.Asfalto USP, UFRJ, UFBA, FURG, IEAPM UFRJ, Unicamp, UFRGS, USP, Cefet-Campos. 17.Fluidodinâmica computacional PUC-Rio, UFRJ, UFRN, UFBA, Unicamp, Inpe, Inmetro, UFPE UFRJ, USP, UFRGS, UFC, UFS, UFAM, UFPA, UEMA, UFCG, UFRN, UFBA, Unifacs, UFPE,UFMG, UFSC, UFJF, IME, UFPR UFSC, Unicamp, UFRJ, UFMG, UFU, PUC-Rio 18.Concretos e Refratários UFRJ, UFSCar, UFMG, UFPB, IME, UFRN 19.Instrumentação, Automação, Controle e Otimização de Processos UFRJ, UFRGS, USP, UFCG, UFRN, UFPA, UFC, UFPB, UFPE, Unifor, UFAL, Cefet-RN, Cefet-Ba, UERJ, Cefet-AM, IME, PUC-Rio, Unicamp, UFMG, UFBA UERJ, UFF, UFMG, UFC, UFSCar 20.Combustíveis Limpos 21.Produtos e Processos para o Refino UFRN, UFS, UFPE, UFCG, UFPB 22.Catálise 23.Desenvolvimento Veicular UFRJ, UFRRJ, Unifacs, UFRN, UFRGS, UFPA, UFMA, UFPI, UFC, UFPB, UFCG, UEPB, UFPE, UFAL, UNIT, UFBA, UESC, UNEB, Unibahia, UESB PUC-Rio, UFMG, Lactec, IPT, UFRJ, Unifacs 24.Materiais Aplicados ao Refino UFSCar, UFRGS, Abtlus, Cetem, IME 25.Cadeia de Suprimento UFRJ, PUC-Rio, UFSC, Unisinos, UFC 26.Metrologia Inmetro, PUC-Rio, IPT, UFBA, UFSC 259 Áreas Gás, Energia Desenvolvimento Sustentável Gestão e Inovação Temas e 27.Nanocatálise Participantes UFRJ, USP, Unicamp, UFMG, UFBA, UFRGS, UFSCar 28.Hidrôgenio: Produção uso e Unicamp, UFRJ, INT, Inpe, Ipen, UFRGS, IPT, armazenagem UFBA, UFSCar, Unifei, UFSC 29.Bioprodutos UFRJ, Unicamp, USP, UFAM, IPT, Fiocruz, INT, UFRN, UFC, UnB 30.Tecnologias do Gás Natural UFRJ, USP, ITA, PUC-Rio, UFRGS, UFSC, INT, Unifei 31.Mudanças Climáticas Unifacs, PUC-RS, UFPR, INPE, INPA/LBA, UFRJ, USP, FURG 32.Monitoramento Ambiental UFRJ, USP, UFPE, FURG, UFPA, UFPR, UFF, Marinho UFBA, Inpe, PUC- Rio, UFES, UFRN, UFC, UEPA, MPEG, Fundação Pró-Tamar, Fundação Baleia Jubarte 33.Conservação e Recuperação de UFRJ, UFSC, UFBA, INPA, UFRRJ, USP, UFPE, Ecossistemas e Remediação de Áreas UFC, UFRN, Unicamp, UFSCar, Unesp, UFRGS, Impactadas UEL, UFPR, UnB, MPEG e Cetem 34.Prospecção Tecnológica Unicamp, USP, UFRJ, UFMG, UFBA 35.Integração C&T – Indústria UFRJ, UFRN, UERJ, UFSC, UFRGS, Redetec 36.Gestão da Inovação Tecnológica UFRJ, USP, PUC-Rio, UFMG, UFBA, UFRGS 37.Planejamento, Gestão e Regulação USP, UFRJ, Unifei, Unicamp, Lactec, UFBA 38.Tecnologias Convergentes UFRJ, Unicamp, UFRGS, USP, ITA Quadro 11 – Redes Temáticas, respectivas áreas, temas e participantes Fonte: elaboração própria a partir de Tavares e Santos (2006) Vale ressaltar que nem todas as Redes Temáticas referenciadas no quadro anterior, na época da pesquisa, funcionavam. Alguns projetos encontravam-se na ANP em análise. Comparando-se as instituições participantes das Redes N/NE com as das Redes Temáticas para os temas Asfalto e Catálise, como se pode observar na Tabela 6, a seguir, temse um dado interessante. No caso do asfalto, todas as instituições da Rede Asfalto, criada em 2001, constam como participantes da Rede Temática em Asfalto (criada em 2006). Da Recat, somente o Senai-BA e o INT, integrantes da Rede N/NE, não constam na Rede Temática em Catálise. Deve-se observar que, como as Redes Temáticas são nacionais, constam, também, instituições do Sudeste e Sul do país. Levando-se em consideração que, conforme entrevistas, havia pouquíssima interação da Petrobras com intituições de ensino e pesquisa e Centros Tecnológicos das regiões Norte e Nordeste, pode-se considerar que as Redes N/NE trouxeram uma maior participação dessas instituições em pesquisa cooperativa com essa empresa, o que criou maiores possibilidades para estas regiões. 260 No tema da catálise, foi criada uma outra Rede Temática, a de Nanocatálise, Rede 27, conforme Quadro 11 anterior. Das instituições participantes das Redes N/NE, somente a UFBA está presente na Rede Temática da Nanocatálise. Tabela 6 – Comparativo das instituições Redes N/NE e Redes Temáticas Temas Redes N/NE (criadas em 2001) Redes Temáticas (criadas em 2006) % de Participação instituições das Redes N/NE nas Redes Temáticas Asfalto REDE ASFALTO: UFC, UFRN, UFCG, UFAM, UEMA, UFPE, UFBA, Unifacs (UFS e UFPA – posteriormente) 100% Catálise RECAT: Unifacs, UFBA, UFMA, UNEB, UESC, UESB, UFPI, Unibahia, Senai-BA, INT, UFPE, UFRN, UFPB, UFC, UFPA, UEPB, Unit, UFAL. UFRJ, USP, UFRGS, UFC, UFS, UFAM, UFPA, UEMA, UFCG, UFRN, UFBA, Unifacs, UFPE, UFMG, UFSC, UFJF, IME, UFPR UFRJ, UFRRJ, Unifacs, UFRN, UFRGS, UFPA, UFMA, UFPI, UFC, UFPB, UFCG, UEPB, UFPE, UFAL, Unit, UFBA, UESC, UNEB, Unibahia, UESB 88,88% Fonte: elaboração própria (2009). Importante notar que, quando se trata de Redes Temáticas, a coordenação passa a ser exercida por representante da Petrobras e não mais pelas universidades. Cada Rede Temática conta com um Comitê Técnico-Científico composto por cinco universidades brasileiras. Existe também a figura do Coordenador Executivo, profissional contratado para a gestão dos recursos humanos e financeiros da rede. Da mesma forma que nas Redes N/NE, conta-se com os coordenadores de projetos e interlocução técnica na Petrobras. Observando a Tabela 7, a seguir, nota-se que a grande maioria das instituições participantes são das regiões Sudeste e Sul do país, no entanto, das 38 Redes Temáticas, 28 envolvem universidades das regiões Norte e Nordeste De acordo com Pontes (2008), como algumas instituições da Rede de Catálise, não teriam muita chance de ingressar nas Redes Temáticas por, ainda, estarem começando, foi proposto à Petrobras que a Recat entrasse, institucionalmente, como membro da Rede Temática; isso fez com que, ao menos, 88,88% delas permanecessem nas novas redes. A Tabela 7 a seguir, derivada do Quadro 11 anterior, mostra a freqüência das instituições nas Redes Temáticas. Analisando os dados constantes nessa tabela, constatou-se 261 que as instituições mais freqüentes são as universidades federais e estaduais das regiões Sudeste e Sul brasileiras. Tabela 7 – Freqüência das instituições nas Redes Temáticas Instituição UFRJ USP Unicamp UFRGS, UFRN UFBA PUC-Rio UFPE, UFSC UFC, UFMG UFF UERJ Inpe, IPT, UFPA, UFPR, UFSCar INT, UENF, UFCG, Unifacs FURG, IME, UFES, UFPB, UnB Cetem, Embrapa, ITA, UFAL, UFS, Unesp, Unifei CT-GAS, FGV, INMETRO, INPA, Lactec, MPEG, UFAM, UFRRJ, UFU, Unisinos, Unit, ON Cefet-AM, Cefet-BA, Cefet-Campos, Cefet-RN, CTDUT, Fiocruz, Fundação Baleia Jubarte, Fundação Pró-Tamar, IEAPM, Impa, IPEN, LBA, LNLS, PUCRS, Redetec, UEL, UEMA, UEPA, UEPB, UESB, UESC, UFJF, UFMA, UFOP, UFPI, UNEB, Unibahia, Unifor Total de instituições 32 20 19 17 16 15 11 10 8 7 6 5 4 Participação de cada instituição nas Redes Temáticas % 84% 53% 50% 45% 42% 39% 29% 26% 21% 18% 16% 13% 11% 3 8% 7 2 5% 12 1 3% 28 74 Participação (Freqüência) de cada instituição nas Redes Temáticas No de instituições 1 1 1 2 1 1 2 2 1 1 5 4 5 Fonte: elaboração própria (2008). Como se pode perceber, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a universidade que mais participa das Redes Temáticas, com 84% de freqüência. De fato, a UFRJ, por meio do Coppe, historicamente, possui grande participação em projetos de pesquisa com a Petrobras. Logo em seguida, a Universidade de São Paulo (USP), com 53% de freqüência e a Universidade de Campinas (Unicamp) - ambas estaduais, com 50%. Todas universidades da Região Sudeste. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - têm a mesma freqüência nas redes, 45%. A Universidade Federal da Bahia (UFBA) - tem 42% de participação e a Pontifícia 262 Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) - universidade particular, 39%. A UFRN e a UFBA, como pode ser visto na Tabela 7, são as Universidades Federais do Nordeste mais frequentes nas Redes Temáticas. Das 74 instituições envolvidas nas Redes Temáticas, conforme Tabela 8 a seguir, a maioria pertence à Região Sudeste (com 35 instituições participantes), seguida da Região Nordeste (com 22 instituições). Tabela 8 – No de Instituições participantes nas Redes Temáticas por região. Região SE NE S N CO Total No de instituições participantes nas Redes Temáticas 35 22 9 7 1 74 Fonte: elaboração própria (2008). Conforme já observado, na prática, a estrutura e as competências formadas por meio das Redes N/NE e Redes Temáticas nessas regiões são compartilhadas pelos atores, projetos, Núcleos de Competência, potencializando a utilização de equipamentos e do conhecimento. Isso torna desnecessária qualquer tentativa de separação das capacitações e competências formadas nas instituições beneficiadas por meio dessas redes. No entanto, como as Redes N/NE foram as pioneiras nesse processo, possuem fontes de recursos e modos de gestão diferenciados e que precisam ser compreendidos na complexidade de suas relações e inserções nos diversos projetos. 263 4 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredita-se, numa visão neoschumpeteriana, que a inovação é o motor do desenvolvimento, este entendido como crescimento econômico - e que as características relacionadas a um setor, sua história, condições, forças políticas e trajetória científica e tecnológica construídas ao longo do tempo importam nas capacitações formadas. Dessa maneira, como a origem do setor de Óleo e Gás no Brasil confunde-se, praticamente, com a criação da Petrobras, em 1954, empresa que deteve o monopólio estatal na pesquisa, lavra, refino e transporte do petróleo e seus derivados por quase cinquenta anos, para se compreender a capacitação científica e tecnológica desse setor, no Brasil, foi necessário resgatar a história dessa empresa e, também, a construção de suas capacidades, que explicam, entre outros, sua participação maciça nas Redes N/NE. Da mesma forma, precisaram-se contextualizar, historicamente, bem como caracterizar as redes em estudo, o que ofereceu indícios de que as capacidades são path dependents. A disponibilidade de recursos, a participação da Petrobras desde o início no CT-Petro, o caráter inovador e a complexidade envolvida na gestão de redes, tanto pelo formato como pela diversidade de instituições participantes, foram questões que despertaram o interesse por este estudo; tendo gerado inquietações no que se refere à adequação de seu formato e a possíveis contribuições para a capacitação, nos âmbitos setorial e regional. Para dar conta dessas questões, adotou-se a abordagem de Sistemas de Inovação, por se reconhecer que a inovação é um processo coletivo que acontece nas empresas e se estende além da pesquisa e desenvolvimento (P&D) formal, em suas relações e nem sempre possui caráter radical. Como se trata da análise de casos em um país periférico, considerou-se mais adequada a utilização de uma adaptação desse conceito, concebida por Viotti (2000), que, preocupado com a seleção e formulação de políticas de C, T & I nesses países, considera-os como sistemas de aprendizado, já que, em geral, ocorre mais o aprendizado propriamente dito do que a inovação radical. Assim, o objetivo geral deste trabalho foi compreender as Redes N/NE e analisar sua atuação no desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas regionais, verificando se favorecem a interação entre os atores e contribuem para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo & Gás. 264 Dada a impossibilidade de investigar as 13 Redes N/NE, criadas por meio do Edital CTPetro/CNPq-Finep 03/2001, com o aprofundamento necessário e no tempo disponível, optouse pelo estudo da Rede Asfalto e da Rede de Catálise; ambas correspondiam, à época do estudo exploratório, às redes melhor avaliadas pela Finep em termos de organização e resultados obtidos. Para compreendê-las, foram necessárias pesquisas em fontes secundárias e a realização de entrevistas com seus membros e principais parceiros. No intuito de perceber a atuação dessas redes no desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas, buscou-se identificar seus resultados, dimensões e níveis de capacidades encontrados nos projetos cooperativos investigados, tendo como base a abordagem neoschumpeteriana, principalmemte, a adaptação do conceito de Sistemas de Inovação em países periféricos e as contribuições do quadro conceitual de Dantas e Bell (2006). A fragilidade das relações encontradas entre o setor produtivo, governo e universidades, a carência de infra-estrutura e capacitação, no âmbito das Redes N/NE analisadas, reforça o pressuposto de que o Setor de Óleo e Gás nas Regiões Norte e Nordeste revela-se um Sistema de Aprendizado Passivo, conforme conceituação de Viotti (2000), estando posicionado num processo muito mais de construção do Sistema do que de seu fortalecimento (estágio mais avançado). Além da retomada dos investimentos em pesquisa nas universidades e centros de pesquisa no Brasil, em grande parte prejudicados entre os anos 80 e 90, conforme descrito por Schmal (2004), a Finep inovou ao estimular a interação Universidade-Empresa por meio de redes, incentivando a criação de laços, uma maior cumplicidade entre os atores e a capilaridade no sistema. Os Fundos Setoriais, idealizados nos debates sobre a privatização e desregulamentação, para o financiamento em P&D, o qual necessitava de fontes mais estáveis de recursos, bem como para o destino das capacidades formadas nos centros de pesquisa estatais, introduziram um novo paradigma; ou seja, articularam-se diversos atores e instituições envolvidas na implementação de políticas, inovando numa gestão compartilhada e estratégica, principalmente no âmbito setorial, gerando desafios para todos os envolvidos. Apesar das dificuldades verificadas em sua gestão, pôde-se observar que as Redes N/NE estudadas têm favorecido a interação entre os atores, revelando-se adequadas ao compartilhamento de informações, ao desenvolvimento de relações de confiança, ao 265 aprendizado, à inovação, à troca de conhecimento e experiências, viabilizando o acesso a novas tecnologias, metodologias e recursos provenientes de parceiros. As Redes N/NE trouxeram muitas transformações, principalmente devido ao fato de, nessas regiões, a interação entre as universidades e seus pares, a Finep (representando o governo) e o setor produtivo, em sua maioria, constituir-se em rara exceção; envolvendo, inclusive, desconfianças históricas do mercado em relação à agilidade e eficácia de soluções vindas da universidade. Além dessas mudanças, a complexidade revela-se na reunião de um número de relacionamentos nunca antes visto com instituições de ensino e pesquisa heterogêneas, em diferentes níveis de capacidades, competências e infra-estrutura, em prol de objetivos estabelecidos em conjunto. A Petrobras, mesmo após passados 12 anos da desregulamentação do setor de Óleo e Gás, considerando sua história, continua como a maior operadora no país, e é a empresa que participa de todas as Redes N/NE. Nas redes estudadas, somente na Rede de Catálise verificou-se a participação de duas outras empresas financiadoras, quais sejam, a Oxiteno e a Braskem; no entanto, ambas as participações resumiram-se a dois projetos da Fase 1. Nos demais projetos estudados, somente a Petrobras participa com contrapartida financeira. A participação da Petrobras nas Redes N/NE revela seu papel como ator complexo, player internacional e intermediador dos interesses do Estado no desenvolvimento nacional. O interesse na pesquisa e em seus resultados, alinhando-os aos seus objetivos estratégicos e suas ações na rede, levam a Petrobras a conhecer melhor seu mercado e especificidades regionais e/ou processos disponíveis para seus negócios (o que amplia suas competências), potencializando sua rede de conhecimento, reduzindo custos e riscos e divulgando sua marca (imagem). Essas últimas, como já foi visto, constituem-se nas fontes de poder menos sujeitas a intempéries políticas, estando além da inovação e da sobrevivência em si, mas em sua própria autonomia como empresa. No caso do asfalto, que é produzido unicamente pela Petrobras, no Brasil, a participação na rede amplia seu conhecimento sobre o mercado e suas especificidades locais (solos e tipos de agregados disponíveis, respectivas características e seu comportamento nas misturas), ao testar a durabilidade e resistência das misturas asfálticas, o que também pode gerar inovações a partir da observação das necessidades locais, adequando seu produto, inclusive, às cada vez maiores exigências ambientais. No caso da catálise, desenvolve, principalmente, um maior conhecimento dos catalisadores, seu funcionamento, especificidades e seu potencial de aplicação para a melhoria da produtividade das refinarias, seletividade e redução da emissão de poluentes. 266 Diferentemente das relações construídas ao longo de sua trajetória com instituições do Sudeste e Sul do país e no âmbito internacional, em que busca a associação, principalmente, pela competência reconhecida dos parceiros, nesse novo modelo com as Redes N/NE, a Petrobras passou a construir parcerias com Universidades das regiões Norte e Nordeste, muitas delas sem tradição em pesquisa na área e com carências de infra-estrutura e capacitação, as quais demandam uma visão de longo prazo até que se obtenha resultados concretos de melhorias e aumento de sua produtividade como empresa. Nas redes analisadas, observou-se que, num primeiro momento, os recursos foram destinados à capacitação e aquisição de equipamentos e ampliação e reforma de laboratórios, num movimento predominante de seleção e difusão de tecnologias, principalmente naquelas instituições que possuíam pouca ou nenhuma competência relacionada ao tema central da rede. Mesmo com problemas de atraso na compra de equipamentos, principalmente importados, montou-se nas instituições participantes das redes uma infra-estrutura mínima necessária para o andamento dos projetos. Nas instituições menos avançadas, foi adquirido o chamado “enxoval” ou “kit básico” e, nas mais avançadas, os equipamentos necessários para ampliar o escopo e a profundidade de algumas pesquisas. Na segunda fase das Redes (a partir do segundo convênio de cada rede), os projetos começaram a ganhar mais fôlego com os cursos criados e/ou fortalecimento das linhas de pesquisa existentes e a consequente reciclagem ou capacitação de novos técnicos, pesquisadores e alunos, bem como a formação da cultura de compartilhar equipamentos na Rede, o que se constitui numa forma de reduzir custos e adensar as relações de confiança e trocas necessárias em projetos de pesquisa cooperativos. Na terceira fase, a Rede Asfalto submeteu alguns projetos para apreciação, dando continuidade às Fases 1 e 2, e, também introduziu novos estudos como o de Análise e o de Gerência de Pavimentos. Nesse mesmo momento, na Rede de Catálise, no entanto, os convênios da Fase 3 não haviam sido assinados ainda devido a atrasos gerados na Finep, à transformação da finalidade da Unifacs (sem fins de lucro para finalidade lucrativa) e à exigência de adequação à nova Lei dos Convênios, como visto anteriormente. Isso gerou uma busca, por parte da coordenação da Rede, de fontes de recursos alternativas para dar continuidade aos projetos. Toda a dinâmica gerada pela introdução das Redes N/NE têm construído capacitações nas instituições envolvidas, aumentado a participação das regiões Norte e Nordeste nos 267 trabalhos apresentados em eventos das respectivas áreas e fomentado discussões. A partir das relações de confiança construídas nas Redes N/NE, a Petrobras passou a contar com a participação de instituições de ensino e pesquisa dessas regiões em outros projetos seus, contratando-as por meio das Redes Temáticas, ou diretamente, tornando-as suas parceiras constantes. Daí, se pode afirmar que as Redes N/NE, no âmbito setorial, trouxeram uma possibilidade de expansão das competências científicas e tecnológicas, antes excessivamente concentradas no eixo Sul-Sudeste. Foi observado que a interação com o setor produtivo tem contribuído, conforme entrevistas realizadas, para o maior interesse dos alunos, pesquisadores e para a própria empresa, que absorve os profissionais já especializados. Além dos membros formais das redes, os parceiros também são beneficiados. Particularmente no caso da Rede Asfalto, empreiteiras conseguiram redução de custos a partir da utilização de materiais alternativos na construção civil, sugeridos por estudos da Rede. Prefeituras criaram parcerias para a construção de trechos experimentais, também para a redução do custo do asfaltamento nas estradas, ruas e avenidas, adaptando-os às características do solo, clima, tráfego, podendo ser introduzidos materiais mais adequados ao preço, prazo e qualidade necessários. Órgãos do Estado e Governo Federal envolveram-se nos projetos e beneficiaram-se por meio da prestação de serviços e consultoria das universidades. Na Rede de Catálise, diferentemente, por ser uma área que envolve sigilo industrial, os relacionamentos construídos com a indústria local giraram em torno da Petrobras. A Oxiteno e a Braskem tiveram participações em pouquíssimos projetos, como já foi observado. A Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC), empresa que tem participação da Petrobras, somente foi citada como interessada num projeto, no intuito de produzir o catalisador que poderia ser gerado. Dessa forma, nesta temática, as parcerias têm sido mais restritas à universidade e empresa, sem o envolvimento de outros parceiros. Os resultados dos estudos da catálise podem gerar ganhos consideráveis na indústria, muitas vezes tornando-se desinteressante patenteá-los. Pode haver ganhos de “monopólio”, aumento da competitividade e gerar produtos de maior valor agregado e de menor emissão de poluentes, o que tem sido, cada vez mais, cobrado, particularmente, da indústria do petróleo, pelos órgãos ambientais. Os equipamentos e materiais utilizados nas pesquisas ainda são, em sua maioria, estrangeiros, e não se verificou estímulo ao empreendedorismo local nessa rede. . 268 O Sistema de Inovação, conforme já observado, não acontece pela soma de seus elementos, mas como interagem entre si, formando um todo orgânico que se estende além da P&D formal. A estrutura institucional e os modelos de especialização são nacionais, localizados e refletem escolhas passadas. Observa-se, de uma forma geral, que as Redes N/NE estão construindo capacitação e infra-estrutura nas universidades e estimulando as interações formais e informais entre os atores do Sistema Setorial nas regiões Norte e Nordeste - isso foi mais visto na Rede Asfalto - a interação entre as indústrias e instituições, bem como a aquisição de tecnologia - quando não disponível nacional, a estrangeira. Observa-se que a aplicação dos resultados no processo industrial, ainda, é pontual, e tendo os seus projetos apresentado um caráter mais assimilativo e adaptativo, conforme caracterização de Dantas e Bell (2006). Mais especificamente, na Rede Asfalto, foram construídos relacionamentos com a indústria local, principalmente naquelas instituições mais avançadas em pesquisa, como a UFC. Mantiveram-se relações de parceria com empreiteiras, produtores e distribuidores de asfalto, fábricas de emulsão, fornecedores de agregados (minas e pedreiras, por exemplo), empresas de construção pesada, uma pequena indústria, consultores, usinas de asfalto, concessionárias de rodovias, empresas do setor viário, fabricantes de equipamentos, sindicatos e associações. No que se refere a instituições, contactaram-se com órgãos de infra-estrutura e transporte nacional e estaduais, além de se obter um melhor conhecimento da legislação, dentre outros benefícios. Com a utilização de materiais alternativos, como os resíduos de borracha, escória de aciaria, o líquido da casca da castanha de caju (o chamado asfalto ecológico), dentre outros, o sistema amplia-se, envolvendo, inclusive o setor agro-industrial e siderúrgico. Também na Rede Asfalto, houve o incentivo ao empreendedorismo, com o desenvolvimento de capacitação tecnológica, na construção de equipamentos para a pesquisa, em conjunto com a Armtec, uma indústria local no Ceará que utiliza a capacidade ociosa das indústrias do Estado para a fabricação de suas peças. Como única produtora de asfalto no Brasil e tendo sua P&D no Cenpes, para desenvolvimento desse produto, fora a pesquisa em reologia e ligantes, os demais projetos da Petrobras voltam-se ao estudo da aplicação do asfalto, solos e misturas, além da análise e gestão de pavimento; é a aplicação “na ponta”, ou a melhor utilização do asfalto, inclusive usando materiais alternativos em trechos experimentais e adequados às especificidades de cada região. 269 A partir de 2005, com a exigência da Cláusula de Investimento em P&D dos Contratos de Concessão para Exploração, Desenvolvimento e Produção de Petróleo e/ou Gás Natural, estabelecidos no momento pós-regulamentação do setor, as concessionárias deveriam investir, no Brasil, o valor correspondente a 1% da receita bruta da produção de um determinado campo, na realização de despesas qualificadas com P&D, quando a participação especial fosse devida para tal campo em qualquer trimestre do ano calendário. No momento da investigação, somente a Petrobras, a Shell Brasil Ltda. e a Repsol YPF do Brasil estavam enquadradas nessa cláusula por possuirem poços cuja participação especial é devida. Vale lembrar que os recursos referentes à exigência da Cláusula de Investimento em P&D, como já observado, são superiores aos valores já liberados pelo CT-Petro para as Redes N/NE. A partir do momento em que já existiam relações mais próximas entre a Petrobras e as universidades brasileiras e, estrategicamente, aquela já possuía um mapeamento das competências existentes em cada uma delas, e, pressionados pela necessidade de cumprir a exigência contratual, a Petrobras lançou o que foi chamado de “Redes Temáticas e Núcleos Regionais de Competência”, e passou a investir nas instituições parceiras em que havia sido construído relacionamento de confiança anterior. A maioria das instituições das regiões Norte e Nordeste que se beneficiaram desses recursos, como já foi visto, começaram a relação com a Petrobras a partir das Redes N/NE. No contexto atual, como ressaltam Lundvall e outros (2002), não basta capacitar e criar competências; é necessária, também, uma maior agilidade para aprender. Nesse quesito, as Redes N/NE deixam muito a desejar, pois, apesar do formato em rede ser contemporâneo e adequado ao propósito do aprendizado, persiste a estrutura pesada das instituições que fazem parte do arranjo. Por causa das ineficiências verificadas nas Redes N/NE, as Redes Temáticas e contratações diretas acabaram “preenchendo as lacunas” com um financiamento e modo de gestão mais ágeis. Nesse modelo, o relacionamento se dá, diretamente entre a Petrobras (com 100% dos recursos financeiros) e universidades, e a ANP analisa e aprova os projetos. Os problemas ocorridos na Fase 3 da Recat, o que inviabilizou a disponibilidade dos recursos para a continuidade dos projetos dessa rede, por exemplo, foram atenuados com recursos vindos das Redes Temáticas Petrobras. Dessa forma, as Redes Temáticas e as contratações diretas conseguem agilizar projetos que demorariam meses e até anos para serem viabilizados pelo CT-Petro. Contudo, nesse novo formato, “sai de cena” a Finep e a relação passa a ser exclusiva universidade-empresa, 270 fato este que preocupa alguns pesquisadores, vez que precisam preservar também os interesses das universidades nas pesquisas. Os técnicos da Finep também, à época das entrevistas, informaram que o CT-Petro precisaria ser repensado, inclusive porque os valores destinados às Redes Temáticas da Petrobras estavam suplantando os recursos disponibilizados pela Finep para o CT-Petro. Convênios foram firmados entre a Petrobras e algumas universidades federais, como a UFBA, UFC e UFPE, para a construção de prédios em área federal. Na UFBA, são três prédios no Pavilhão de Aulas da Federação, no campus de Ondina, sendo que um deles referese a um comodato, onde, desde abril de 2009, funcionam cursos da Universidade Petrobras (área de serviços dessa empresa, responsável pelo treinamento e desenvolvimento de seus funcionários). Os dois outros prédios irão abrigar os equipamentos comprados para os projetos com a Petrobras e os pesquisadores a eles relacionados. Diante dos vultosos investimentos que estão sendo direcionados às universidades, principalmente, federais, por uma única empresa, a Petrobras, e dos indubitáveis benefícios advindos dessa parceria, não cabe, tendo em vista o papel da universidade como instituição pluridisciplinar de formação de profissionais de nível superior, pesquisa e extensão e, a quem cabe a prospecção e à produção de conhecimento, uma especialização voltada aos interesses de uma única empresa. Há a necessidade de reflexão e monitoramento da relação universidade-empresa, para que não haja uma especialização das capacidades formadas nas universidades. A capacitação depende da construção de bases de conhecimento crítico para atender interesse regionais diversos; a capacitação e a especialização são processos distintos. Constata-se, entretanto, que, por meio das Redes N/NE estudadas, o CT-Petro tem atingido muitos de seus objetivos como: i) a modernização e ampliação da infra-estrutura de C&T; ii) promoção de maior sinergia entre universidades, centros de pesquisa e setor produtivo; iii) estímulo à articulação entre ciência e desenvolvimento tecnológico, com a redução das desigualdades regionais e a interação entre universidades e empresas; e iv) incentivo à geração de conhecimento e inovações que contribuam para a solução dos grandes problemas nacionais. Falta, no entanto, uma atitude governamental no sentido do fortalecimento da educação básica e de todos os elementos que constituem o processo de aprendizado e que envolvem a cultura, a criação de novos incentivos ao investimento privado em C&T e políticas públicas mais integradas e transversais. 271 O aprendizado nas redes tem acontecido de diversas maneiras: no aprender fazendo (learning by doing), no aprender usando (learning by using), oriundo dos avanços em C&T, no aprender interagindo (learning by interacting) e no aprender pesquisando (learning by searching). O aprendizado acontece na aquisição e uso dos novos equipamentos, na adaptação e geração de novas metodologias, na troca de informações e conhecimento com o setor produtivo, em proposições de melhoria de processo e, até, no desenvolvimento de novos produtos (como no caso das pesquisas em reologia e ligantes e no equipamento Sistran). A ciência e a tecnologia estão estreitamente relacionadas a esse processo de aprendizado, que acontece a todo o momento. No entanto, para que seja potencializado o aprendizado, é importante que haja, além de um planejamento mais integrado, o feedback para gerar elementos de conhecimento e compreensão sobre o processo e possibilidades de melhorias. Percebeu-se que projetos sobre gestão nas redes estudadas não são priorizados e há uma necessidade de avaliação mais ampla dos seus processos e resultados, ou seja, um sistema de avaliação permanente e dinâmico que avalie o que é gerado, em termos qualitativos, o que é aplicado, porquê, quais foram os pontos fortes e fracos dos projetos, dificuldades e o que pode ser feito para melhorar. A avaliação realizada pela Finep tem um propósito distinto, para seu próprio controle, e não abrange todas essas questões; apesar dos critérios serem objetivos, não há uniformidade no entendimento do seu conteúdo, o que gera distorções na sua interpretação. Um processo de gestão que envolva o acompanhamento desses pontos e sua avaliação sistemática podem oferecer informações importantes para a ampliação da capacidade científica e tecnológica das regiões e apoiar um planejamento de ações futuras. O fato de não haver recursos especificamente destinados à gestão dos projetos e pessoas, para analisar e interpretar a informação gerada, acaba deixando os envolvidos mais voltados para suas questões de pesquisa e sem condições de monitorar, compreender a natureza do processo e fazer uma avaliação mais sistemática de seu aprendizado. É importante haver recursos e instrumentos de gestão; e os coordenadores, tanto das redes como dos projetos, podem receber treinamento em gestão, pois esta é uma dimensão, um elemento importante para o melhor funcionamento das redes e para a ampliação das capacidades regionais. Considerando que cada uma das Redes N/NE estudadas possui características e funcionamento próprios, e que tem importância sua história e trajetórias nos resultados e/ou inserções diferenciadas, ambas as Redes vêm possibilitando a capacitação científica e 272 tecnológica no âmbito setorial, por meio da aquisição de equipamentos, materiais, estímulo à criação de cursos de especialização, mestrado e doutorado, capacitação de recursos humanos, interações dentro e fora da universidade com o meio acadêmico e o setor produtivo, intercâmbio de estudantes, desenvolvimento de teses, dissertações e publicações relacionadas aos projetos, dentre outros. Enfim, mesmo havendo dificuldades na gestão das redes, estas podem se constituir numa ferramenta importante para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo e Gás. No entanto, as relações criadas a partir das redes, ainda, são pontuais e geram capacitações e competências pouco difusas pelo potencial que têm, e sua atuação é limitada no que se refere ao Sistema de Aprendizado, visto que este depende de fatores estruturais e institucionais, decisões políticas e estratégias de governo integradas, conforme afirma Lundvall (2000): “a Economia do Aprendizado chama para novas tentativas de reunir análises assim como estratégias políticas, e suas contradições aumentam a necessidade de coordenação de políticas nos seus vários âmbitos”. As redes podem auxiliar a construir essas estruturas, contudo, não são suficientes para dar conta dessas outras dimensões. Mesmo com o desenvolvimento de capacitação científica e tecnológica e os avanços gerados, de uma maneira geral, o direcionamento das pesquisas para questões de uma única empresa - sem levar em conta demandas de seus pares, a pouca articulação entre as políticas governamentais e as deficiências na gestão dos Fundos Setoriais e das redes, embora tenham uma contribuição importante, dados os conhecimentos e relações construídas (no sentido de melhor sistematização e análise de seus resultados) - denota que as Redes N/NE contribuem, apenas pontualmente, para a construção e o fortalecimento do Sistema de Aprendizado em Óleo & Gás. Caso tais ações tenham continuidade, será muito favorável ao sistema brasileiro. No que se refere ao Sistema de Aprendizado no âmbito regional, a contribuição parece ainda ser mais limitada. Falta a constituição de um ambiente institucional com políticas públicas amplas, cujo intuito seja o do aprendizado e da inovação, da produção do conhecimento, distribuição e sua difusão - isso inclui fortalecer as bases institucionais e educacionais (educação básica), e o empreendedorismo -, este ligado à identificação das características e vocações e/ou criação de especificidades regionais e seu estímulo. Falta, ainda, desenvolver o setor produtivo promovendo a capacitação de empresas de apoio, a exemplo de consultorias especializadas e produção de equipamentos; desenvolver escolas técnicas e universidades, centros de pesquisa, laboratórios e sua capacitação científica e tecnológica (incluindo equipamentos de pesquisa e pessoal para compreendê-los e operá-los); 273 promover a construção de elos e trajetórias de aprendizado entre setor produtivo, instituições de ensino e pesquisa e governo, para construir e fortalecer as relações fornecedor-produtor; e organizar um sistema financeiro por meio de relações de confiança e geração de dinâmicas próprias. Este trabalho procurou trazer um estudo empírico realmente novo que trata das redes, a trajetória das relações construídas, o desenvolvimento de capacidades e competências científicas e tecnológicas e a construção e fortalecimento de um Sistema de Aprendizado, com uma análise por meio de um modelo complexo. Agregou conhecimento sobre as Redes N/NE, identificando suas principais características, seus resultados, competências científicas e tecnológicas criadas e uma tentativa de mapeamento de dinâmicas geradas. Trouxe, ainda, a discussão e crítica da aplicação do conceito de Sistemas de Inovação e sua metodologia, ao oferecer suporte à análise, concepção e definição de políticas de C&T em países periféricos; uma abordagem mista de sistema de aprendizado setorial e regional, avançando na determinação de níveis de capacidade científica e tecnológica por meio de redes e uma avaliação das reais implicações da construção e do funcionamento de um mecanismo de apoio financeiro para o desenvolvimento de capacidade científica e tecnológica, no país, e ao identificar possíveis espaços nos quais a política pública pode interferir para ampliar efeitos positivos no sistema. Chegou-se à conclusão que o Setor de Óleo e Gás brasileiro, em geral, é um sistema ativo, mas que, particularmente, nas regiões Norte e Nordeste, assume características passivas, e que as Redes N/NE constituem-se em desenhos organizacionais úteis para o desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas, no entanto, precisam ser aprimoradas com uma maior capacitação em processos de gestão e conhecimento da complexidade das dinâmicas envolvidas no processo de inovação, maior incentivo à participação de empresas da cadeia de óleo e gás nos projetos e maior articulação entre as diversas escalas de políticas governamentais, nos diferentes âmbitos (municipal, estadual e federal), envolvendo, inclusive, outros setores, para ampliar seu potencial de contribuição às regiões. Nesse processo, a pesquisa básica deve ser mantida como fonte importante do conhecimento crítico e a universidade precisa manter-se alinhada para que não haja uma especialização das capacidades formadas e uma distorção de seus reais objetivos. Como proposição para novos estudos, sugere-se: aprofundar a discussão sobre a especificidade da gestão das redes e dos instrumentos que podem ser utilizados para auxiliá-la, verificando-se a possibilidade de 274 enumerar elementos gerais para a criação de uma metodologia que seja útil aos envolvidos; aprofundar o tema deste trabalho, por meio da análise das outras Redes N/NE e de seus projetos; realizar um estudo dos projetos e funcionamento das Redes Temáticas Petrobras, nos seus diversos temas; analisar os demais Fundos Setoriais, para identificar como são desenvolvidos seus projetos, quais empresas estão envolvidas, e como as universidades estão inseridas; investigar as políticas públicas, no Brasil, que perpassam a C&T, comparandoa com outros países; revisar estudos de avaliação de projetos para o desenvolvimento tecnológico no Brasil e no exterior; promover estudos comparativos de interação universidade-empresa e experiências internacionais, tanto de países periféricos, como de países desenvolvidos; e discutir esse trabalho com os atores envolvidos, com a finalidade de se obter um feedback destes, e, assim, haver um melhor aproveitamento dos resultados para a prática das redes e para sugestão de políticas públicas adequadas. 275 REFERÊNCIAS AHUJA, G. 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Tabela A – Posição no ranking, investimento em P&D e percentual de vendas e variação das vendas (2006/2007) Fonte: The R&D Scoreboard 2007. 290 APÊNDICE B - Infra-Estrutura laboratorial e equipamentos adquiridos na Rede Asfalto por instituição 291 Universidade Infra-Estrutura Laboratorial UEMA O Laboratório de Mecânica dos Solos e Pavimentação (LSP), conta com uma área de, aproximadamente, 100m2, onde estão dispostos equipamentos para ensaios, microcomputadores, mesas de professores e bancadas para aulas práticas. Existe uma área em expansão já construída de, aproximadamente, 50m2, para reforma. UFAM O Laboratório de Mecânica dos Solos está instalado no Bloco Rio Xingu da Faculdade de Tecnologia da UFAM. É constituído por três salões climatizados, onde estão instalados os equipamentos de Mecânica dos Solos, Fundações e Pavimentação, além de uma câmara úmida, um almoxarifado, uma sala da Chefia do Laboratório, uma sala do Técnico e uma sala de aula. Além de desenvolver pesquisas sobre questões geotécnicas da região e atividades no ensino da graduação e pós-graduação, presta serviços às empresas de engenharia, como a realização de ensaios laboratoriais, e à Prefeitura local, com a realização do controle tecnológico da massa asfáltica utilizada nas vias de Manaus. Lista de Equipamentos adquiridos pela Rede Asfalto Agitador de Peneiras Aparelho de Ponto de Fulgor Aparelho GPS etrex-vista Balança Eletrônica 8kg Balança Eletrônica cap 5000g sens 0,01 g Banho Maria Bomba de vácuo Câmara triaxial para ensaios de Módulo de Resiliência Câmera fotográfica digital Cannon 310 Compactador Mecânico Marshall Compressor de Ar Equipamento Completo para ensaio MCT Estufa elétrica Estufa para CP's de asfalto Extrator de amostras hidráulico, man. Impressora HP Laserjet 1010 Impressora Jato de Tinta HP 3550 Jogo de Peneiras (10) Medidores de PH de bancada e portátil Microcomputador 800MHz, 1200MHz e 1800MHz(3) Misturador/recip/aquec. Mistura Asfáltica Molde Cilíndrico Marshall (12) No-break Notebook 2400MHz Penetrômetro de cone sul-africano Permeâmetros de carga constante e variável Pórtico para equipamento de Módulo de Resiliência Prensa Marshall Mecânica Programa AQDados e placa amplificadora de sinais Scanner HP 2400 Suporte ensaio de Módulo de Resiliência em CP's de mistura asfáltica Termômetro Digital Viga Benkelman com extens. Digital Abrasão "Los Angeles" Banho Maria Compactador automático Marshall Computadores desktop (3) Estufa Extrator de amostras hidráulico Extrator de betume Impressora Jato de Tinta Jogo de peneiras Molde cilíndrico Marshall Prensa Marshall Retro-projetor Termômetro digital -70 graus a 1200 graus Viscosímetro Saybolt/Furol 292 Universidade Infra-Estrutura Laboratorial UFBA A UFBA utiliza o laboratório do Derba, cuja área é de 411,64m2. O laboratório de Geotecnia da UFBA tem uma área de 452,27m2. O laboratório móvel, no qual funcionam em conjunto o GPR e o Perfilômetro a laser com a mesma referência geográfica, utiliza GPS e avaliação visual com câmeras instaladas. UFC No Laboratório de Mecânica dos Pavimentos (LMP), há dois espaços físicos bem definidos: a sala de ensaios de cargas repetidas e a sala de misturas asfálticas. Na sala de ensaios de cargas repetidas são realizados os ensaios de fadiga, módulo de resiliência, e creep nas misturas confeccionadas tanto no LMP, quanto nas instituições de ensino ligadas à Rede Asfalto. Na sala de misturas asfálticas são desenvolvidas todas as atividades referentes à caracterização dos agregados, dosagem e confecção das misturas asfálticas estudadas nas pesquisas. A área de modelagem computacional possui sala própria, onde os bolsistas desenvolvem suas atividades. UFCG O Laboratório de Solos possui uma área de 531m2 e destina-se à realização de ensaios de solos e agregados. O Laboratório de Engenharia de Pavimentos possui uma área de 326m2 e o Laboratório de Infra-Estrutura conta com uma área de 450m2 onde são realizados os ensaios de infraestrutura, de solos, de CAPs e de misturas asfálticas. UFPA Não há laboratório de pavimento e técnico especialista em asfalto na UFPA. O laboratório do Secretaria Executiva de Transportes do Pará (SetranPA), onde são realizados os ensaios, distam 6km da UFPA. Lista de Equipamentos adquiridos pela Rede Asfalto Aparelho para determinação do Ponto de Amolecimento - Anel e bola Balança cap 5000g awa 0,01g c/ comp. Hidros. Balança eletrônica cap 200g sens 0,001g Balança eletrônica cap 5000g sens 0,01g Conjunto de viscosidade absoluta e relativa Estufa para CP de asfalto Estufa para efeito do calor e do ar Falling Weight Deflectometer (FWD) Ground Penetration Radar (GPR) Penetrômetro automático para uso em asfalto Perfilômetro a laser Vaso aberto Cleveland para determinação do Ponto de fulgor Vaso aberto tag para ponto de fulgor Anel bola Base magnética Capela Carga de partícula Células de carga de 500 e 5000kgf (pti) Computador 800mhz, monitor de 15" Computador 800mhz, monitor de 17" Dispositivo centralizador de CP's Ensaio de sedimentação Estufa grande digital (Marconi) Estufa ventilada para umidade ( Marconi) Extrator de corpo-de-prova com gerador Ignition oven Laptop 800mhz Lvdt - curso de 6 mm-78mv/v/mm ou mais Lvdt curso de 1"(sensotec vl7a -by 122 hp) Micrômetro de profundidade curso de 1"(Mitutoyo) Osciloscópio digital para micro Paquímetro de profundidade curso de 180mm (Mitutoyo) Peneiramento Penetrômetro Perfilômetro inercial a lalser Ciberlaser Ph Ruptura Sistema de aquisição de dados (linx -aqdados) Viscosidade cinemática Viscosímetro Saybolt-Furol Agitador mecânico Aparelho de resiliência e penetração Compactador automático Marshall Equipamento para verificar resistência à fadiga para misturas asfálticas e solos Impressora Jato de Tinta Medidor de recuperação elástica de asfalto Notebook Reator tipo kettle cap. 3000ml com tampa Scanner de mesa Viga benkelman automatizada Viscosímetro Brookfield Balança eletrônica, cap 500g, sens 0,01 g - hidrostática Compactador mecânico Estufa para CP de asfalto Extrator de corpos de prova Jogo de peneiras Molde cilíndrico Marshall Prensa mecânica Termômetro digital 293 Universidade Infra-Estrutura Laboratorial UFPE Laboratório de Geotecnia Ambiental e Laboratório de Solos e Instrumentação (Engenharia Civil). UFRN Foram reativados os Laboratórios de Asfalto (na Engenharia Civil e Engenharia Química). O laboratório da Engenharia Civil possui uma área de 49m2, onde são realizados os ensaios básicos (Marshall) e o Laboratório de Engenharia Química, cuja área é de 47,30m2, os trabalhos com emulsões. O laboratório de Geotecnia e Pavimentação da UFS 2 UFS possui área total de 160m distribuída em três áreas: 2 2 1) 86m para ensaios de solos; 2) 24m para os dois 2 técnicos, 3) 50m para ensaios de pavimentação Unifacs Os laboratórios de Pavimentação, Materiais e o de Mecânica de Solos estão localizados no Anexo do Prédio de Aulas 1, ocupando uma área de 200m 2 Lista de Equipamentos adquiridos pela Rede Asfalto Balança eletrônica cap 5000g sens 0,01g Banho Maria Compactador automático Marshall Computador 1ghz, 256 mb ram, placa de vídeo 32mb, monitor 17" Estufa até 200 graus Jogo de Peneiras Molde cilíndrico Marshall Prensa Marshall mecânica Termômetro digital - 70 graus a 1200 graus Agitador de peneiras Aparelho de Ponto de Fulgor Aparelho de resiliência e penetração Aparelho para determinação do Ponto de Amolecimento - Anel e bola Ductilômetro Equipamento para teste de carga da partícula Jogo de peneiras Medidor de ângulo de contato Moinho piloto Penetrômetro Universal (Pavitest) Tensiômetro Teste de separabilidade de água (Koehler - K 39396) Aparelho extrator de betume Soxhlet Aparelho para determinação do Ponto de Amolecimento - Anel e bola Destilador de águar - capac. 5 litros por hora (110 V) Equipamentos para ensaios de Mini-MCV e Mini-CBR Soquete Eletro-mecânico Marshall Termômetro Digital -sem sonda Vaso aberto Cleveland para determinação do Ponto de fulgor Compactador mecânico Marshall Extrator de amostras hidráulico Molde cilíndrico Marshall Prensa Marshall mecânica Quadro 12 - Infra-Estrutura laboratorial e equipamentos adquiridos na Rede Asfalto por instituição Fonte: elaboração própria (2009) a partir do Relatório... (2007) 294 APÊNDICE C – Modelo básico dos questionários organizado por objetivos 295 Objetivos 1. Caracterizar a Recat e a Rede Asfalto en ternos de: a) Aspectos internos à Rede – histórico, atores, objetivos, organização (estrutura, formalização, divisão do trabalho e recursos envolvidos), modo de gestão e projetos cooperativos ConceitosChave Nós (perspectiva atores e redes) Posições (Natureza dos laços) Indicadores -No e natureza das instituições envolvidas; -Forma de ingresso, motivação; -Profissionais, competências tecnológicas e formação (área, doutorado, mestrado, especialização) de cada rede; -Objetivos dos atores e da rede; -Investimentos (humano e financeiro) - Estrutura da rede; - Divisão do trabalho Fontes de pesquisa Entrevistas e fontes secundárias Questões Questão 1 - O que motivou a entrada da instituição na rede? Questão 2 - Como foi formada a Rede? Como foi o processo para a sua instituição ingressar nesta rede? Questão 3 - Qual a importância desta rede para a sua instituição e para a consecução da estratégia da organização, suas metas e objetivos? Questão 4 - Há quanto tempo existe o Núcleo de Pesquisa ou grupo que o senhor participa na instituição? Questão 5 - Evolução do no de professores e alunos (profissionais) envolvidos na rede por projeto, qualificação/área de especialização e nomes; Questão 6 - Investimentos financeiros (contrapartidas): quais instituições e qual foi o aporte total de recursos até hoje? Questão 7 - Existe convênio ou termo de compromisso padrão ou há algum modelo diferente para atender a esta rede? Há formalização especial para cada projeto? Questão 8 - Como foi a escolha da Coordenação da Rede? Qual foi o critério? Como as outras organizações foram escolhidas? Questão 9 - Como acontece o repasse dos recursos? Alguma dificuldade? Questão 10 - Como são tomadas as decisões na Rede? Quais são os instrumentos de coordenação e como ela é exercida? Todos os atores têm o mesmo grau de participação? As decisões somente são tomadas com a coordenação? Qual é a rotina? Há regimento interno? Questão 11 - Qual é o papel da Coordenação Petrobras na Rede? E da Coordenação da Universidade? Como percebe a Coordenação da Rede? E a Coordenação dos projetos? Questão 12 - Qual é a importância e o papel de cada instituição na Rede e suas principais competências? Como você considera o papel da Petrobras em termos de coordenação, controle e decisões? Ela somente repassa os recursos? Há construção de laços de cooperação/capacitação? Questão 13 - Quem decide sobre a necessidade de capacitação e treinamento na Rede? Os atores planejam suas necessidades em conjunto? Questão 14 - Como são estabelecidas as prioridades da Rede? Qual(quais) ator(es) estabelece(m) as prioridades na Rede? Questão 15 - Qual é a instituição que define ou que tem maior poder de barganha na Rede? 296 Objetivos ConceitosChave b) Aspectos relacionais – confiança observada, relações universidadeempresa (integração com o setor produtivo) e principais formas e conteúdo da comunicação Ligações (qualidade dos laços) Indicadores Fontes de pesquisa -Laços de confiança; -Relações U-E e outras instituições no setor produtivo Entrevistas e fontes secundárias Fluxos (conteúdo dos laços) -Principais formas e conteúdo de comunicação Questões Questão 16 - Como funcionam os projetos? Instituições coordenadoras e co-executoras? Explique. Questão 17 - Como percebem o papel do governo através da Finep? Questão 18 - Como percebem o papel da ANP? Questão 19 - É possível que a Rede preste serviços para outras organizações? Questão 20 - Com quais instituições das Redes já havia relacionamento anterior? Antes desta Rede N/Ne, a sua instituição já havia participado de outra rede ou parceria para projetos em Óleo e Gás? Qual(is)? Com quais instituições? Questão 21 - Quais membros da Rede o Senhor chamaria para um novo projeto? Por que? Questão 22 - Como você percebe o grau de envolvimento da Petrobras na Rede em que você participa por projeto? Por quê? Questão 23 - Como você percebe/avalia o grau de envolvimento da sua instituição nesta Rede? Por quê? E os demais atores? Questão 24 - Existem reuniões periódicas da Rede? Questão 25 - Quais são os mecanismos formais de troca? Quais são os instrumentos de comunicação na Rede? O que predomina mais: os contatos formais ou informais? Questão 26 - Como é feito para entrar em contato com as demais instituições da Rede? Direta ou alguma organização/instituição faz a intermediação? Com qual organização(ões) você mantém mais contato? Por que? Questão 27 - Há procedimentos internos à Rede? São formalizados? Algum procedimento para atingir objetivos? Questão 28 – Como acontece a Rede? Virtual (site) ou presencial? Questão 29 – Há liberdade para relacionar-se com possíveis parceiros e projetos/consultorias que a Rede possa pretender? Como uma nova organização pode associar-se à Rede? Alguma instituição já precisou ou pediu para sair da Rede? Como foi o processo? 297 Objetivos c) Desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas (resultados que reletem esse desenvolvimento) ConceitosChave Competências científicas, e tecnológicas Capacidades científicas e tecnológicas (adaptado de Dantas e Bell, 2006) Dinâmicas geradas Indicadores -Cursos (especialização, mestrado e doutorado) criados; -Teses e dissertações criadas; -Publicações (artigos e livros); -Prêmios conquistados; -Pedidos de patentes gerados; -Softwares criados; -Materiais testados; -Produtos aplicados (empresas e governo); -Eventos e reuniões/ -Alunos de graduação e pósgraduação nos projetos -Atividades tecnológicas/ mudanças implantadas; -Bases de conhecimento; -Modos de aprendizagem/ aquisição de capacidade; -Objetivos de aprendizagem; -Facilidades e recursos; -Equipamentos adquiridos; -Laboratórios criados, infraestrutura, melhorias realizadas; -Gestão da rede -Capilaridade da rede (parcerias nacionais e internacionais); -Trajetória profissional dos pesquisadores/alunos; -Desenvolvimentos (consultorias, prestação de serviços à sociedade, projetos gerados a partir das redes); -Novas linhas de pesquisa criadas ou fortalecidas Quadro 13 - Modelo básico dos questionários organizado por objetivos Fonte: elaboração própria (2007) Fontes de pesquisa Questões Questão 30 - O que mudou na sua rotina de pesquisa, de trabalho, de comunicação com a entrada nas Redes N/Ne?; Entrevistas e Questão 31 - Há estímulo na Rede à produção científica e tecnológica? fontes Questão 32 - Quais são as principais competências necessárias na secundárias pesquisa da área? Questão 33 - Existem indicadores de avaliação de resultados das Redes? E na sua Rede específica? Caso existam, quais são? Qual é a periodicidade de medição? Existe mensuração de aprendizado? O que vocês entendem como aprendizado? Entrevistas, fontes secundárias e gradação referente ao Quadro 3 Entrevistas e fontes secundárias Questão 34 - Que tipo de conhecimento é gerado pelos projetos? Pertence a quem? Questão 35 - Quais eram as competências científicas e tecnológicas da sua instituição antes da entrada na Rede? Questão 36 - E hoje, quais são as competências? Foram criadas competências através dos projetos nas Redes N/Ne? Relate o que desenvolveram e o que estes produto(s)/resultado(s) impacta(m) a área da ciência, o “Estado da Arte” e quais outros setores beneficiam-se desses resultados? Questão 37 - Quais são as principais dificuldades hoje? Questão 38 - Foi criada alguma nova relação com universidades, centros de pesquisa e empresas) a partir das Redes? Com qual(is) instituições? Alguma delas, é instituição internacional? Questão 39 - Quantas consultorias e projetos foram gerados e para qual(is) firma(s) ou instituição(ões)? Quantos novos parceiros foram obtidos por meio da participação nesta Rede? Questão 40 - Alguma nova linha de pesquisa na universidade foi criada a partir desta Rede? Quantas e quais? Algum novo Núcleo ou Centro? Questão 41 - Alguma empresa fornecedora ou indústria está se beneficiando dos resultados desta Rede? Qual(is)? Questão 42- Os equipamentos adquiridos ficam com qual instituição? Questão 43 - Como você vê o futuro da Rede com as Redes Temáticas? 298